Construção de indicadores para avaliação
da sustentabilidade das áreas agrícolas em
Barão Geraldo
Daniela Barbosa da Silva Lins RA: 023475 Rosa Aparecida Caraça RA: 017315
Faz muito tempo,
ó o que o povo conta,
A lenda do Boi
Falô
Autor : Sargento
José Constantino
era Sexta-Feira Santa,
era o Dia da Paixão
o o proto escravo,
por ordem do capataz bravo,
atrelou o boi ao arado,
para preparar o chão.
Foi em Barão Geraldo, em uma bela
fazenda,
que esta história que hoje é lenda,
veio acontecer.
Hoje, não existe mais o escravo;
veio a Abolição
e fica no pensamento
a dúvida para esclarecer,
formando a nossa opinião.
Hoje, não é dia de trabalho
esta frase, ele escutou,
estava próximo de uma árvore
e para seus galhos olhou.
Como nada avistasse,
não houve quem o parasse
e o negro desembestou.
Gritando, chegou ao patrão
e ofegante falou : “o boi falô, .... o boi falô”!
Teria o negro escravo ouvido,
realmente, o boi falar?
o que nos diria a ciência?
ou será que era o grito contido
que não deu mais prá segurar?
de toda uma raça, prá despertar nossa
consciência?
Cada qual, tire sua conclusão
e aproveite a lição
de tudo que ocorreu, aqui em nosso
Barão!
Barão Geraldo do “Boi Falô”
No final do século XVIII, Luís
Antônio de Souza recebeu uma
sesmaria na região.
Na metade do século XIX, esta
sesmaria foi dividida nas
fazendas Santa Genebra, deixada
como herança a Geraldo Ribeiro
de Souza Rezende, o Barão
Geraldo, e Rio das Pedras, de
propriedade de Albino José
Barbosa de Oliveira.
Chegada dos imigrantes
No fim do século XIX, as primeiras famílias de imigrantes
estabeleceram-se na região das fazendas, em substituição à mão-deobra escrava. Vários desses imigrantes (vênetos, portugueses,
libaneses) compraram glebas rurais desmembradas da fazenda Rio
das Pedras, formando os bairros da Vila Independência e Real Parque.
“Os italianos eram chamados ‘pés vermelhos’,
porque para plantar as sementes faziam buraco
na terra e fechavam com os pés. Os italianos
falavam ‘terra rossa’ e os brasileiros entendiam
‘terra roxa’, quando na verdade ‘rossa’ é
vermelho em italiano” (BURATTO, 2005)
Agricultura de subsistência
Os imigrantes logo substituíram
o cultivo do café pelo de
legumes, frutas e hortaliças,
passando também a criar gado
e suínos .
O contato com o recém formado
mercado de Campinas era
esporádico.
“Aqui em Barão geava, a gente
tinha que botar fogo no meio
dos pé de café para a geada não
acabar com tudo.”Mara
Crescimento das cidades com a prosperidade da cafeicultura
Surgimento do bairro rural denominado Barão Geraldo que se
desenvolveu ao redor da capela Santa Isabel, da Estação Funilense e
do campo de futebol.
“Até meados do século XX, Barão Geraldo não passava de um vilarejo,
distante de tudo, sem outro meio de transporte que levasse seus
habitantes à área urbana da cidade de Campinas, além dos trens da
Carril Funilense” (RIBEIRO, 2000).
Barão “pólo tecnológico”
•década de 40: início do desenvolvimento industrial de
Campinas, com a chegada das empresas Dako,
Antarctica e Macarthy.
•1942: instalação da Rodhia.
•1953: elevação de Barão Geraldo à distrito.
•década de 60: busca de Barão pela emancipação de
Campinas.
As alterações trazidas ao distrito pelo “progresso" desencadearam
nos seus moradores um processo de negação da sua face rural.
UNICAMP
Um dos meios pelo qual os moradores acreditavam que haveria possibilidade
de chegar a este objetivo seria pela instalação da Unicamp, que, depois de
muitos anos de negociação, foi instalada, em um terreno doado pelo Barão
Geraldo de Rezende em 1966 (RIBEIRO, 2000).
“Barão se transformou em 1966, quando o Castelo Branco [então presidente do
país] veio colocar a pedra fundamental da Unicamp. Eu lembro que no dia eu
tava caçando codorna, com uma doze e uma cachorra. Prendi a cachorra num
poste e fui lá ver o Castelo Branco. Barão se transformou naquele dia. Foi o
primeiro passo para virar o que é hoje” (VITACHI apud MOURA, 2005).
Descaracterização do rural
Negação da face rural - agricultores viram na valorização de
suas terras a possibilidade de sair das margens e irem para o
centro de Barão Geraldo ou para outras cidades
Loteamento das terras de Barão
Sonho de Ícaro!
Os baronenses logo perceberam que este dito “progresso”
trazia conseqüências negativas, principalmente ao ambiente,
refletindo-se na qualidade de vida tão buscada nestas terras .
Crise da pequena agricultura
Pequenos produtores - processo de ausência de reconhecimento da
multidimensionalidade da agricultura. Sua importância como
mantenedores de ecossistemas e qualidade ambiental, além de
fornecedores estratégicos de alimentos em nível regional, é
praticamente ignorada nos âmbitos sociais e econômicos.
A grande parte dos agricultores foi sujeita às alterações tecnológicas da
Revolução Verde, por meio do modelo industrial-produtivista de apropriação
da natureza, que tem acelerado a degradação ambiental e social do espaço
rural tornando-o insustentável (Ferraz, 2003).
A agricultura intensiva moderna envolve um grande fluxo de combustível
e maquinaria elétrica para produzir todos os bens e serviços, assim como
para o processamento e transporte de produtos (ODUM et al., 1987) .
No entanto, na última década, por exemplo, todos os países nos quais
práticas de Revolução Verde foram adotadas em larga escala
experimentaram declínios na taxa de crescimento anual do setor agrícola
(Gliessman, ano?????).
Insustentabilidade X Agroecologia
“Uma abordagem agroecológica incentiva os pesquisadores a
penetrar no conhecimento e nas técnicas dos agricultores e a
desenvolver agroecossistemas com uma dependência mínima de
insumos agroquímicos e energéticos externos” (Altieri, 1987).
Insustentabilidade X Agroecologia
“Há um interesse geral em reintegrar uma racionalidade ecológica à produção agrícola, e
em fazer ajustes mais abrangentes na agricultura convencional, para torná-la ambiental,
social e economicamente viável e compatível” (Altieri, 2000).
Construção de indicadores para avaliação da
sustentabilidade das áreas agrícolas em Barão Geraldo
Em busca da sustentabilidade....
Este trabalho insere-se na
perspectiva de buscar
uma caracterização e
análise da
sustentabilidade de
sistemas de produção
agrícola em Barão
Geraldo.
“Dar voz, não. Antes ouvir a voz
que eles já têm, dentro deles...”
Qual a importância deste trabalho?
O objetivo é mobilizar
comunidades para definir
problemas prioritários e
oportunidades,
preparando planos
específicos de
intervenção nos locais
escolhidos (Altieri, 2000).
Metodologia
•Caracterização da área rural na região de Barão Geraldo,
buscando as produções agrícolas. Subdivisão em três regiões :
região central, região noroeste e região nordeste.
•Levantamento de dados : processo participativo.
•Formatação de indicadores - englobando as dimensões
Ambientais, Sociais, Econômicas - elaborados a partir da
informações qualitativas e quantitativas das entrevistas.
•Cálculo dos indicadores e índices.
•Plotagem do gráfico de radar.
•Apresentação dos resultados para a população local.
Indicadores de sustentabilidade
“indicare” - apontar
INDICADORES são instrumentos que permitem mensurar as modificações
nas características de um sistema- e que permitem avaliar a sustentabilidade
nos diferentes sistemas.
Características importantes para os indicadores :
• ser significativo para avaliação do sistema;
• ter validade, objetividade e consistência;
• ter coerência e ser sensível à mudança no tempo e no sistema;
• ser centrado em aspectos práticos;
• permitir enfoque integrador - vários aspectos do sistema;
• ser de fácil mensuração;
• permitir ampla participação dos atores envolvidos em sua definição;
• permitir a relação com outros indicadores, facilitando a interação entre eles.
DUPONTI 2002
Cálculo de indicadores
“O conhecimento local dos agricultores sobre o ambiente, plantas,
solos e processos ecológicos possui uma grande importância nesse
novo paradigma agroecológico” (Altieri e Yurievich, 1991).
Calcula-se para cada observação um indicador de
cada critério estabelecido em cada dimensão. Ou
seja, n indicadores para cada observação, onde todos
variam de zero, situação limite de insustentabilidade,
a um, situação de plena sustentabilidade.
Os indicadores escolhidos para a análise proposta situam-se em quatro
diferentes perspectivas da sustentabilidade, estando agrupados e
dispostos em quadrantes, conforme o esquema mostrado na figura acima.
De forma geral, assume-se que quanto maior o
equilíbrio entre as diferentes perspectivas,
melhor o nível de sustentabilidade do sistema ou
cultivo/atividade considerada.
Exemplo de gráfico de radar
As 3 Regiões de análise em Barão
Região Nordeste
O“corredor” formado pela Rodovia Estadual SP 340 (Governador Ademar de
Barros, conhecida popularmente como Campinas – Moji-Mirim) e a Estrada
da Rhodia.
Efeitos da especulação imobiliária - com o atrativo de ser um “rural”,
Manchas de propriedades agrícolas - horticultura, produção de flores,
fruticultura e granjas.
Pluriatividade no campo : pesqueiros, chácaras de aluguel, criação de
cavalos, - “novo rural”.
A região nordeste de Barão Geraldo em 1996 já contava com sete pesqueiros.
“No futuro, estes empreendimentos podem trazer sérios problemas ambientais
em função de possíveis manejos incorretos dos solos hidromórficos na
construção de tanques e do grande fluxo de pessoas, inclusive pela existência de
bares e lanchonetes sem infra-estrutura básica. Tudo isto pode colocar em risco
remanescentes locais da fauna e flora” (Plano Local de Gestão Urbana).
Região Central
Agricultores envolvidos na produção de hortifrutigranjeiros e flores,
em pequenas áreas localizadas às margens do Ribeirão das
Pedras e próximas ao Jardim do Sol.
Áreas de experimentação da FEAGRI/UNICAMP.
Cultivos de cana-de-açúcar.
Hortaliças marginais à estrada da Rhodia.
“Na região central de Barão Geraldo, a maior parte de Terra Roxa
está ocupada com atividades não agrícolas” (SEPLAMA, 1996). O uso
inadequado dos solos são atribuições do crescimento urbano
arbitrário e a desvalorização das atividades agrícolas.
Região Noroeste
Área delimitada pela Rodovia D. Pedro I e Estrada de Paulínia.
Cultivo de cana-de-açúcar e horticultura (cultivo de pequeno porte).
Horticultores: papel fundamental no abastecimento alimentar da
população.
Avanço urbano e imobiliário no entorno das áreas agrícolas.
Problemas de disponibilidade de água e falta de segurança.
A despeito da Revolução Verde e do pacote tecnológico
implementado na agricultura, a grande maioria dos agricultores
dessa região apresentam papel social menos premente, por menor
utilização de mão-de-obra e por se voltarem à produção
mecanizada, deflagrando o quadro de insustentabilidade nos
agroecossistemas.
Mata de Santa Genebra
O Parque Ecológico
Professor Hermógenes
de Freitas Leitão Filho,
em Barão Geraldo,
recebe cerca de 18
litros de esgoto por
segundo da Unicamp.
De acordo com a
Sanasa, o problema
acontece desde 1997.
Anhumas
“...manutenção de atividades rurais ,
e a preservação das áreas de
qualidade paisagística e ambiental
existentes nas grandes fazendas
contíguas ao perímetro urbano”
(SEPLAMA, 1996).
A falta de segurança leva os agricultores
ao abandono das terras; a
supervalorização e a pressão de
investidores imobiliários os levam ao
desejo de lotear a propriedade; cria-se
uma “favelização rural” (SAVIGNAMO,
2004) sendo crescente o índice de furtos e
roubos.
Bibliografia consultada
Barão Geraldo: 27 anos. Correio Popular, Campinas, 31 dez. 1980.
Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural de Campinas. Plano Municipal de Desenvolvimento Rural de
Campinas. Campinas, SP. 2000.
Ferraz, J. M. G. As dimensões da sustentabilidade e seus indicadores. In: Marques, J. F.; Skorupa, L. A.;
Ferraz, J. M. G. (Ed.). Indicadores de Sustentabilidade em Agroecossitemas. Jaguariúna, SP: EMBRAPA
Meio Ambiente, 2003. 281p.
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Gadioli, M. F.. Da cana a referência científica, a história de Barão Geraldo: região começou a ser povoada no
final do século 18 com sesmaria. Correio Popular, Campinas, 10 nov. 2002.
Lima, R. Militância ambientalista tenta impedir projeto imobiliário: empreendimento em Barão geraldo é
tema de manifesto assinado por petistas notáveis. Correio Popular, Campinas, 26 dez. 2003.
Lima, R. Empresa desiste de fazer megacondomínio: Vera Cruz Empreendimentos atribuiu medida à
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Campinas, 05 mar. 2004.
Lopes, S. B.; Almeida, J. Metodologia para análise comparativa de sustentabilidade em sistemas
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www.ufrgs.br/pgdr/textosabertos/Artigo%20Revista%20Sober%20integral16.pdf . Acesso em 19 de maio
de 2005, às 22:01 horas.
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Martin, N. B. et al. Subsídios para elaboração de plano diretor agrícola municipal. Informações Econômicas,
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2005.
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Rodrigues, M. A. Subsídios para avaliação da qualidade ambiental de campi universitários. 2002. 176f.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de
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Odum, H. T. Ecología e Sociedade. Texto didático sobre Ciencia, tecnología e Sociedade que integra
conhecimentos das Ciências Básicas, Ecologia, Avaliação Energética, Economia, Programação de
Computadores e Políticas Públicas. Programa de economia Ecológica, Phelps Lab, Universidade da
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Quirino, T. R.; Irias, L. J. M.; Wright, J. T. Impacto Agroambiental : perspectivas,
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SAVIGNANO, V., “Roubo na roça”; MOURA, C.E. “Distrito com cara de cidade”. Semana 3. Campinas,
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SEPLAMA – Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Campinas, 1996.
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PMC
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Prefeitura
Municipal
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Campinas.
Leis
de
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Disponível
em:
http://www.pmc.sp.gov.br/bibjuri/codobra.htm. Acesso em 19 de maio de 2005, às 22:01 horas.
Fotos, figuras, desenhos e pinturas
http://www.semana3.com.br/
netescrita.blogspot.com/
www.boifalo.com.br/
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Quadros de Portinari
aol.klickeducacao.com.br/ Conteudo/Referencia/...
Foto da mão www.leoneltedesco.com.br/ Efeitos/images/mao.htm
Importância do trabalho www.insitu.org.pe/ webinsitu/biodiversidad.htm
www.livronet.com.br/.../ pintores/GOC01205.jpg
Agradecimentos
• Doutora Giovanna Garcia Fagundes, Laboratório de Entomologia Aplicada IB/UNICAMP
• SEPLAMA – Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente da Prefeitura Municipal de Campinas
• Sub-prefeitura de Barão Geraldo
• Professor Nilson Antônio Modesto Arraes, FEAGRI/UNICAMP
• Professora Rozely Ferreira dos Santos, FEC/UNICAMP
•Wanderley Buratto, da escola Barão de Rezende
• Mara, da Floricultura Barão
•Agricultores e moradores da região central: seu José Franco, Fátima, Paulo Sérgio e Osvaldo da
Bio Mudas, Celso.
• a todos os que, de maneira direta ou indireta, têm contribuído para que nosso trabalho se
realize.
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