Faculdade de Ciências e Tecnologia
Departamento de Engenharia Civil
DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
CAPITULO 5 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
Prof. Carlos Nunes da Costa
2006/2007
DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
Cap.6 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
INDICE
1. INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 2
2. A ÁGUA NOS MACIÇOS TERROSOS E ROCHOSOS ..................................................... 8
3. PARÂMETROS FUNDAMENTAIS ..................................................................................... 9
3.1 Porosidade ..................................................................................................................... 9
3.2 Permeabilidade ............................................................................................................ 11
3.2.1 Lei de Darcy .......................................................................................................... 11
3.2.2 Âmbito de validade da Lei de Darcy...................................................................... 12
3.2.3 Determinação do coeficiente de permeabilidade (K)............................................. 13
3.2.4 Cálculo da permeabilidade por métodos semi-empíricos...................................... 14
4. ARMAZENAMENTO E CIRCULAÇÃO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA EM FORMAÇÕES
GEOLÓGICAS ...................................................................................................................... 16
FONTES DE INFORMAÇÃO E MAIS LEITURAS EM: ........................................................ 17
VI-1
DISCIPLINA DE FUNDAMENTOS DE GEOTECNIA
Cap.6 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
A ÁGUA NOS MACIÇOS
SUMÁRIO
Introdução. Carácter “dual” da água subterrânea, enquanto factor positivo para o desenvolvimento de
uma região e factor negativo no comportamento geotécnico dos terrenos. Alguns exemplos.
A água nos maciços terrosos e rochosos. Parâmetros fundamentais. Porosidade. Variação da
porosidade com o arranjo das partículas. Variação da porosidade nos materiais naturais. Porosidade
eficaz. Lei de Darcy. Âmbito de validade da lei de Darcy. Determinação do coeficiente de
permeabilidade. Ensaios laboratoriais e in situ. Métodos semi-empíricos.
Armazenamento e circulação das águas subterrâneas em formações geológicas. Classificação de
aquíferos.
1. INTRODUÇÃO
A presença de água no interior dos terrenos, isto é, de água subterrânea (em inglês,
groundwater), é, em regra, vista como um factor positivo para o desenvolvimento de uma
região. Contudo, pelo menos para um ramo da engenharia civil – a Geotecnia – a água
subterrânea é tido como um factor negativo no comportamento geotécnico dos maciços
terrosos e rochosos.
Com efeito, se, por um lado, o desenvolvimento das regiões depende da existência de
recursos hídricos subterrâneos em quantidade e qualidade e da forma como ocorre a sua
distribuição geográfica, por outro a presença de água nos maciços geológicos põe
problemas de vária ordem:
ƒ
De escoamento: o que obriga à previsão de caudais
ƒ
De estabilidade: devido às acções da água exercidas sobre a fase sólida
Eis alguns exemplos de obras onde podem ocorrer problemas geotécnicos criados pela
presença de água subterrânea nos maciços:
ƒ
Execução e estabilidade de fundações (correntes e especiais)
ƒ
Desenvolvimento de escavações profundas
ƒ
Estabilidade de taludes (naturais, de escavação e de aterro)
ƒ
Subpressões em estruturas
ƒ
Fundações de barragens
ƒ
Enchimento de albufeiras
VI-2
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Cap.6 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
Alguns dos problemas geotécnicos que podem ocorrer nestas e noutras situações são os
seguintes:
ƒ
Modificação das propriedades físicas e mecânicas
ƒ
Influência do comportamento à ruptura
ƒ
Diminuição da resistência
ƒ
Erosão interna
ƒ
Arrastamento de finos
ƒ
Sismicidade induzida
Pelas razões expostas são grandes as diferenças no estudo da água subterrânea quando
considerada como factor positivo ou negativo para a problemática em apreço:
Enquanto factor positivo o estudo privilegia:
•
A avaliação e protecção dos recursos hídricos, nomeadamente em termos regionais,
definidos a partir das grandes unidades hidrogeológicas e alcançando grandes
profundidades;
•
A qualidade da água, procurando identificar os eventuais vectores da contaminação e a
vulnerabilidade de aquíferos e captações;
Enquanto factor negativo o estudo tem como objectivo:
•
A identificação da sua influência no comportamento geotécnico, avaliando o escoamento
da água através do maciço e acções exercidas sobre a fase sólida;
•
Uma análise local, em áreas restritas e considerando formações hidrogeológicas
superficiais (excepto em obras subterrâneas).
No entanto existem muitos aspectos de interacção que deveriam obrigar ao estudo
integrado da utilização/interferência na água subterrânea, de forma a proteger o uso
enquanto recurso e simultaneamente prevenir os seus efeitos enquanto factor negativo no
comportamento geotécnico dos terrenos.
Tomando o exemplo corrente da expansão urbana e industrial e da sua repercussão na
quantidade / qualidade da água subterrânea, listam-se, em seguida, algumas acções e
consequências da primeira sobre a segunda:
•
Aumento da área construída → Diminuição da infiltração → Diminuição da recarga do
aquífero
VI-3
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Cap.6 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
Todos os anos se perdem em todo o mundo uma média de 3.000 km2 de terreno natural devido à construção. Ao
aumento da área construída corresponde, em regra, uma diminuição drástica da infiltração de água nos terrenos.
Onde antes afloravam formações permeáveis passam a existir edifícios, pavimentos… barreira artificial
impermeável que impede a água das chuvas de atingir o subsolo…a infiltração original transforma-se em
escoamento superficial suplementar.
As áreas impermeáveis oscilam desde 10 a 60% em zonas de densidade residencial baixa a elevada, até 80 a
100% em zonas centrais e comerciais de aglomerados urbanos.
A taxa de infiltração de água no solo depende, entre outros factores: da porosidade dos terrenos, cobertura
vegetal, declives e tipo (intensidade) de chuva.
Quando a construção se exerce sobre áreas de recarga de aquíferos, em particular em áreas de infiltração
máxima, pode ocorrer uma redução drástica quer da quantidade, quer da qualidade dos recursos hídricos
subterrâneos.
•
Impermeabilização dos solos → Aumento da escorrência superficial → Problemas de
drenagem
A crescente expansão urbana tem levado a profundas alterações no ciclo hidrológico pondo em risco o
desenvolvimento equilibrado das cidades, com relevo para o risco de inundação.
Estas alterações resultam de muitos factores, como seja: aumento das áreas impermeabilizadas, criação de
barreiras à drenagem natural e canalização de cursos de água
De todas as acções negativas sobressaem a construção em leito de cheia e a artificialização de linhas de água
naturais, pelos efeitos que produzem: na diminuição da infiltração, no aumento do escoamento superficial e,
consequentemente, no aumento do risco de inundação, e por isso devem merecer a maior atenção no contexto
da gestão de água pluviais.
O controlo de águas pluviais pode ser efectuado mediante soluções técnicas a implementar a montante do
sistema de colectores, de forma a: interferir ao nível da bacia de drenagem, melhorar a infiltração das águas
pluviais e assim reduzir a sua afluência aos sistemas de colectores, frequentemente sem capacidade de
resposta em períodos “de ponta”.
Em alternativa à abordagem tradicional - que consiste em recolher as águas pluviais, transportá-las em
colectores enterrados, e descarregá-las no meio receptor - constituem exemplos de soluções de controlo na
origem: poços absorventes, trincheiras e bacias de infiltração, filtros de areia enterrados, reservatórios ou bacias
de retenção e sistemas de pavimentos porosos.
VI-4
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•
Cap.6 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
Exploração de areeiros → afectação da capacidade de armazenamento dos aquíferos
As águas subterrâneas que contribuem para as disponibilidades hídricas de uma região encontram-se em
formações geológicas com capacidade para as armazenar e deixar circular – os aquíferos.
Grande parte dos aquíferos ocorre em areias. Quando essas formações são, em simultâneo, aquíferos e
recursos minerais a exploração dos areeiros pode afectar a sua capacidade de armazenamento e diminuir as
disponibilidades hídricas regionais.
A extracção de inertes (areias, seixos) para filtros ou agregados para betão em depósitos de terraço ou de
aluvião pode provocar importantes alterações no regime hídrico e na própria capacidade de armazenamento dos
aquíferos aí instalados.
Mas também podem ocorrer problemas de sinal contrário:
ƒ
Sobreexploração de aquíferos → Consolidação e assentamento de terrenos.
São conhecidos os efeitos negativos da sobre-exploração de aquíferos no esgotamento das reservas hídricas
subterrâneas e na degradação da sua qualidade potável, designadamente por infiltração de poluentes industriais
ou por salinização em ambientes costeiros. Menos conhecidos são os seus efeitos geotécnicos, ao provocar a
consolidação e o assentamento de terrenos por rebaixamento dos níveis freáticos, devido à acção que a água
exerce sobre a fase sólida.
Com o rebaixamento do nível freático o solo deixa de estar saturado: produz-se um re-arranjo das partículas
sólidas no sentido do adensamento. As propriedades dos solos, tais como a sua resistência e compressibilidade,
são afectadas quando se produzem modificações no seu estado físico. Se a esses níveis ocorrem fundações de
estruturas pode dar-se o seu assentamento ou mesmo a ruptura.
Talvez o caso mais notável de assentamento de terrenos de fundação seja o que afectou a Torre de Pisa. A sua
fundação é um solo arenoso muito solto. Rebaixamentos do nível freático em captações locais, durante os anos
70 agravaram ainda mais a sua instabilidade.
Em seguida apresenta-se de forma mais detalhada um exemplo de interacção água
subterrânea – obra geotécnica de forma a melhor ilustrar a problemática com que se depara
quando a caracterização hidrogeológica do espaço interessado for deficiente.
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Exemplo: Aproveitamento do espaço subterrâneo na construção de edifícios e caves
Problemas com que a obra deparou
•
Níveis freáticos elevados (não determinados na fase de projecto)
•
Afluxo de água ultrapassa previsões
•
Capacidade de bombagem instalada insuficiente
Consequências imediatas
•
Degradação das características de resistência e deformabilidade dos terrenos
•
Instalação de subpressões
•
Aumento das dificuldades construtivas e da insegurança
Em continuação
•
Colapso dos taludes da escavação
•
Danos em estruturas vizinhas
•
Perdas financeiras (tempo, materiais…) e humanas (?)
O que poderia ter sido feito (em vez de…)
•
Prospecção hidrogeológica adequada com vista ao:
•
Dimensionamento e instalação do sistema de rebaixamento
•
Realização da obra a seco
•
Eventual recuperação de caudais para rega, uso industrial, outros usos públicos e privados
Organização de uma nova obra partindo da experiência anterior
Partir do conhecimento
•
Das características geotécnicas do terreno
•
Do projecto da obra
a) Fazer a caracterização hidrogeológica
•
•
Estudo da estrutura do maciço
o
Rochoso: fracturas (abertura, percolação, caudais…)
o
Terroso: constituição do solo (estrutura, textura, porosidade…)
Caracterização hidráulica, hidrogeoquímica…
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b) Seleccionar o método de controlo da água
•
Estimar o caudal a extrair
•
Configurar a superfície piezométrica
c) Mobilizar equipamentos
•
Instalação
•
Controlo
•
Monitorização
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Cap.6 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
2. A ÁGUA NOS MACIÇOS TERROSOS E ROCHOSOS
O estudo da percolação da água tem diferentes abordagens consoante se realize para
maciços terrosos ou rochosos, isto é, consoante o meio atravessado seja solo ou rocha,
conforme se apresenta no Quadro 1:
Quadro 1 – Estudo da percolação
Maciços terrosos
Fase sólida
Partículas (esqueleto sólido)
Poros (espaços
partículas)
Vazios
Maciços rochosos
entre
Material-rocha
as
Poros, espaços de dissolução
microfracturas e descontinuidades
(espaços entre blocos de rocha)
Preenchidos com ar (fase gasosa) e/ou água (fase líquida)
poroso
Meio
poroso e/ou fissurado
Parcialmente saturado (vazios preenchidos com ar e água)
Totalmente saturado (vazios preenchidos com água)
Percolação
Através
dos
poros: Essencialmente através das fissuras
“Permeabilidade em pequeno” e fracturas: “Permeabilidade em
ou “por porosidade”
grande” ou “por fissuração”
Maciço rochoso muito alterado ou homogeneamente fracturado: comportamento
assimilável a um maciço terroso: meio poroso.
A água pode ocorrer nas seguintes formas:
a) água adsorvida - água retida por atracção eléctrica (películas < 1µm de espessura),
classificável em:
o
água higroscópica – separável na forma de vapor
o
água pelicular – separável por centrifugação
b) água suspensa - água retida por forças capilares devido à tensão superficial (água
capilar)
c) água gravítica – água não retida pelo terreno ou água livre; abaixo do nível freático
ocorre a zona saturada; acima a zona vadosa.
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Cap.6 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
3. PARÂMETROS FUNDAMENTAIS
3.1 Porosidade
Define-se porosidade como a relação entre o volume de vazios e o volume total
n=
Vv
Vt
Sendo o índice de vazios
e=
Vv
Vs
=
n
1− n
Variação da porosidade com o arranjo das partículas
Para uma granulometria uniforme (equigranular) a porosidade varia de acordo com o arranjo
das partículas, conforme o Quadro 2:
Quadro 2 – Porosidade: variação com o arranjo das partículas
Arranjo
cúbico
ortorrômbico
romboédrico
n (%)
47,6
39,5
26
Variação da porosidade nos materiais naturais
Nos materiais naturais as granulometrias não são uniformes e existem várias condições (de
sedimentação, diagenéticas e supergénicas) que podem ditar grandes variações na
porosidade, como se ilustra na figura 1:
a
b
c
d
e
f
Figura 1 - a) granulometria extensa, elevado índice de vazios; b) granulometria uniforme,
elevado grau de cimentação; c) granulometria extensa, elevado grau de cimentação;
d) granulometria extensa, elevado índice de vazios, graus porosos; e) porosidade por
fissuração; f) porosidade por dissolução
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Porosidade eficaz
A porosidade eficaz, ou porosidade útil, ou cedência específica (ne) é expressa por:
ne = nt − ns
Em que ns é a retenção específica
A porosidade eficaz é, portanto, igual ao volume de água livre no meio considerado:
ne =
Ve
x100
Vt
À medida que o coeficiente de uniformidade (Cu) aumenta a porosidade eficaz diminui.
Valores típicos:
Cu < 5
30% < ne < 40%
Cu > 5
20% < ne < 30%
No Quadro 3 apresenta-se uma lista de porosidades totais e eficazes para alguns dos solos
e rochas mais comuns:
Quadro 3 – Porosidades totais e eficazes em alguns solos e rochas
Granitos
Calcários compactos
Calcários detríticos
Basaltos densos
Basaltos vacuolares
Arenitos
Xistos baixo grau metam.
Xistos alto grau metam.
Pomitos/escórias
Dunas
Aluviões
Loess (silte)
Argilas
Solos de cobertura
n (%)
ne (%)
0,2 - 4
0,5 - 15
1,5 - 30
0,1 - 2
5 - 30
3 - 25
2 - 15
0,2 - 15
10 - 90
30 - 40
20 - 40
40 - 55
40 - 60
30 - 60
0 – 0,5
< 0,5 - 1
0,5 - 20
0,1 - 2
1 - 10
0 - 20
0 -5
0 -2
10 - 50
10 -30
5 - 35
0,1 - 1
0 - 10
1 - 20
Obs.
W3-4 > 10%
Dissolução > 20%
Varia c/ grau de cimentação
Elevadas retenções
específicas
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3.2 Permeabilidade
Com a água em repouso a energia potencial é constante em todos os pontos, não se dando
o escoamento. Quando aquela condição não se verifica, a água circula através do maciço
terroso e a pressão intersticial em qualquer ponto depende das trajectórias que as partículas
seguem ao passarem para uma zona de pressão mais baixa.
Os solos naturais contêm partículas com formas muito diversas e, dum modo geral, com
dimensões pouco uniformes. É, portanto, difícil, senão impossível, definir os canais porosos
por onde se processa o escoamento. Porém, o escoamento em meios porosos pode, de um
modo geral, ser tratado sem haver necessidade de estudar o escoamento através dos
canais porosos individuais. O escoamento macroscópico, ou seja, através da secção total de
escoamento que intersecta uma multiplicidade de canais, pode ser considerado como
uniforme em contraste com a distribuição de velocidades quase parabólica através de um
simples poro.
3.2.1 Lei de Darcy
Darcy (1856) verificou que o caudal Q que passa através de um meio poroso de área A e
comprimento L é directamente proporcional à área A e à perda de carga ∆h e inversamente
proporcional ao comprimento L.
Ou seja,
Q = kA
∆h
L
Q
∆h
=v =k
A
L
;
Isto é, a velocidade de escoamento é directamente proporcional ao gradiente hidráulico:
v = ki
ou
Q = kiA
em que:
v é a velocidade aparente de escoamento;
k é o coeficiente de permeabilidade;
Q é o caudal através de uma secção de área A do solo;
i é o gradiente hidráulico (representa a taxa de dissipação de energia por unidade
peso do fluido).
de
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A permeabilidade de um meio poroso pode então ser definida como:
A quantidade de água que atravessa a superfície unitária desse meio poroso sob acção de
um gradiente unitário (isto é quando o gradiente hidraúlico baixa uma unidade)
Note-se que esta velocidade de escoamento é aparente, dado que a água não preenche
completamente a secção devido à presença do solo. A velocidade real é a da água que
passa apenas por uma fracção da área A, igual a nA, sendo n a porosidade. Assim, a
velocidade real é a da água que passa através da área ocupada pelos poros:
vr =
Q
v
=
n. A n
3.2.2 Âmbito de validade da Lei de Darcy
A Lei de Darcy é válida na condição em que o fluxo se verifique em regime laminar, isto é, em
velocidades pequenas, compatíveis com o equilíbrio entre as forças de inércia e as forças de
viscosidade. Essa relação é dada pelo Nº de Reynolds:
NR =
vdρ
µ
em que:
v é a velocidade de fluxo;
d = d50 para materiais granulares; 2e para materiais fissurados ;
ρ - densidade;
µ – viscosidade dinâmica
Os regimes de fluxo podem ser classificados de acordo com o Nº de Reynolds da seguinte forma:
4
Laminar
Lei de Darcy
v = ki
60
Misto
v = ai + c
(180)
Turbulento
Lei de Chezy
i
v = c
i
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3.2.3 Determinação do coeficiente de permeabilidade (K)
O coeficiente de permeabilidade k é definido como o caudal que atravessa a unidade de área de
um solo sob a acção de um gradiente hidráulico. Tem as dimensões de uma velocidade e é
expresso geralmente em m/s. Representa a velocidade que daria origem ao mesmo caudal se a
água atravessasse toda a área em vez de passar só nos poros.
O coeficiente de permeabilidade é um parâmetro que exibe grande variabilidade de valores para
os solos correntes. No Quadro 4 indicam-se ordens de grandeza de k para os principais tipos de
solos.
Quadro 4 - Coeficiente de permeabilidade dos principais tipos de solos
TIPO DE SOLO
Seixos limpos
Areia grossa
Areia média
Areia fina
Areia siltosa
Siltes
Argilas
k (m/s)
>10-2
10-2 a 10-3
10-3 a 10-4
10-4 a 10-5
10-5 a 10-6
10-6 a 10-8
10-8 a 10-10
Os métodos gerais de medição da permeabilidade dos solos são os seguintes.
1) Métodos laboratoriais:
- permeâmetros de carga constante (k>10-5 m/s);
- permeâmetros de carga variável (10-8<k<10-5 m/s);
- medição indirecta a partir dos ensaios edométricos (k<10-8 m/s).
2) Ensaios “in situ”:
- ensaios de bombagem;
3) Métodos semi-empíricos:
-
a partir de características dos solos (curva granulométrica, porosidade, etc).
A maioria dos solos apresenta anisotropia e heterogeneidade considerável em relação à
permeabilidade. Para se obterem valores representativos da permeabilidade é necessário, mas
nem sempre possível, executar os ensaios sobre amostras, tanto quanto possível intactas, tendo
em conta o efeito direccional.
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A grande dificuldade em obter amostras intactas de solos incoerentes, principalmente quando
imersas, faz com que se utilizem amostras remexidas tendo índices de vazios diferentes e a
estimar k a partir do índice de vazios médio do solo “in situ”. Por outro lado, se o material
incoerente contém elementos finos, é muito difícil, se não mesmo impossível, reproduzir em
laboratório a repartição inicial do seus constituintes e portanto a permeabilidade direccional do
conjunto.
É pois da maior conveniência proceder a ensaios “in situ” de permeabilidade. A aparelhagem
deve, no entanto, ser concebida de forma a que as forças de percolação não produzam variações
de volume sensíveis, destruição da estrutura inicial do solo ou arraste de materiais finos.
3.2.4 Cálculo da permeabilidade por métodos semi-empíricos
a) Fórmula de Hazen
K0=cd102 x (0,7+0,03t)
Em que,
t – temperatura a 20ºC
c=150 x (m/0,45)6
sendo m – porosidade,
ou c= cte = 46,8 para areias argilosas e
142 para areias
tomando c=100
k=100 d102 (em cm)
b) Fórmula de Slichter
K0=cd102 nm
Em que,
n – porosidade
c, m – constantes função da porosidade
c) Fórmula de Bakhmateff
K0=cd102 n4/3
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Em que,
n – porosidade
c = 710
d) Fórmulas de Scheneebeli
K= 0,85√d10
e
K= 600√(d10-n3)/(1-n)
e) Fórmula de Kozeny modificada
K0=Ad102 x n3/(1-n)2
Em que,
A=c x (v/s)2 sendo c – correcção da porosidade e (v/s)2 inverso da superfície
específica; em regra adopta-se A= 1/200
f)
Fórmula de Terzaghi
K= λ x ((n-0,13)/ 3√(1-n))2 x d102
Em que,
λ = 800 para partículas arredondadas
460 para partículas irregulares
Classificação de terrenos segundo a permeabilidade. Exemplos
Impermeáveis
Pouco
permeáveis
Semi Permeáveis
Permeáveis
Muito permeáveis
Argilas
Xistos
Granitos sãos
Siltes
Areias com finos
Calcários
Areias limpas
Seixo limpo
Calcários cársicos
10-8
10-6
10-4
10-2
(m/s)
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4. ARMAZENAMENTO E CIRCULAÇÃO DA ÁGUA SUBTERRÂNEA EM FORMAÇÕES GEOLÓGICAS
As formações geológicas são classificadas quanto à sua capacidade de armazenar e deixar
circular a água subterrânea da forma que se apresenta no Quadro 5:
Quadro 5 - Classificação hidrogeológica das formações geológicas
Aquífero
Aquífugo
Aquicludo
Armazena e deixa circular
Não armazena; deixa circular
Não armazena nem deixa circular
Aquitardo
Circulação muito lenta
Ex: arenitos
Ex: quartzitos fracturados
Ex: Argilitos
Define-se com relação a
um aquífero subjacente ou
sobrejacente
Por sua vez os aquíferos são classificados nos seguintes tipos (Quadro 6):
Quadro 6 - Tipos de aquíferos
Aquífero livre, não
confinado ou
freático
Aquífero cativo,
confinado ou em
pressão
Aquífero
semiconfinado
Aquele em que a superfície livre da água está em contacto
com o ar, ou seja, à pressão atmosférica
Aquele em que a água está, em qualquer parte, submetida
a pressão superior à atmosférica e ocupa a totalidade dos
poros da formação geológica, saturando-a totalmente
Aquele em que o tecto ou o muro é constituído por um
aquitardo.
A Figura 2 ilustra os vários tipos de aquíferos.
Figura 2 – Ilustração dos vários tipos de aquíferos (in
http://www.georoteiros.pt/georoteiros/Apagina/multimedia.aspx?TEMA_objecto=diagramas/es
quemas )
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Cap.6 – A ÁGUA NOS MACIÇOS
Os vários tipos de aquíferos podem então ser assim caracterizados (Quadro 7):
Quadro 7 - Caracterização de aquíferos
Aquífero
Camada
aquífera
Parcialmente
saturado
Livre
Confinado
Àgua/Meio
Permeável
Saturado
Semiconfinado
Limites
Superior
Inferior
Superfície
freática
Camada
impermeável
Camada
impermeável
Camada impermeável ou pouco
permeável
FONTES DE INFORMAÇÃO E MAIS LEITURAS EM:
Custódio & Lamas (1976) – Hidrologia subterrânea. Omega. Barcelona.
VI-17
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