96
8 Conceição Silva
(1938)
Sabendo que a vida é uma arte, vou
continuando... pintando tudo que surge de bom
no nosso dia a dia.
Conceição Silva
97
Ilustração 8.1. Noite Feliz. Acrílico sobre tela. 30x60.
98
Ilustração 8.2. Folia de Reis. Óleo sobre tela (2000)
99
Ilustração 8.3. A colheita de Milho. Óleo sobre tela
(2005)
Ilustração 8.4. Desejo e Carro de Boi. 40x60. Acervo da Galeria Jacques Ardies
(2007)
100
Ilustração 8.5. Promessa das Baianas. 40x60. Óleo sobre tela. Acervo
da Galeria Jacques Ardies (2007)
Ilustração 8.6. Danças Livres– Umbigada. Óleo sobre tela.
70x50.Acervo da Galeria Jacques Ardies (2007)
101
Ilustração 8.7. Bumba meu Boi. Acrílico sobre madeira. 40x60.
Ano do Brasil na França (2005)
Ilustração 8.8. Sem título. Acrílico sobre madeira. 40x60. Ano do
Brasil na França (2005)
102
Ilustração 8.9. Convite de Casamento.(do seu filho Rogério).
Óleo sobre tela (2006)
103
Conceição Aparecida dos Santos. Nome
Conceição Silva.
Artístico:
Entre os dez primeiros filhos de Dna Maria, nasci eu,
Conceição Aparecida Santos.
Na viagem que trouxe a família para São Paulo, eu
tinha apenas quatro anos, por isso muito das minhas
recordações desse período vem das histórias que sempre
fizeram parte das conversas de nossa família. Aos nove anos
de idade morávamos no bairro do Limão, em uma casa
branca velha numa antiga olaria perto da Lagoa onde meu
pai e meus irmãos pescavam um peixe chamado cará. Além
104
disso, havia horta, criação de porcos e galinhas, esses
elementos faziam parte do nosso sustento.
Gostava de ouvir meu pai tocar sua sanfona de oito
baixos, nós cantávamos e dançávamos muito ao som de
meu pai. A música era constante, pois minha mãe cantava e
assobiava várias canções que me lembro até hoje, como por
exemplo a vizinha conta seus patos:
"A vizinha conta seus patos para ver se falta algum,
lá em casa tem muita pena, mas pato não tem
nenhum,logo aprontei o pato e fui convidar a vizinha
fechei a porta por dentro e comi o pato sozinha"
dentre outras também, como Saudade de Matão.
Do bairro do Limão lembro-me que a casa era
assombrada, nos morávamos lá porque “o português” havia
nos emprestado; nós sentíamos à noite as pessoas batendo
na porta, e não havia ninguém. Além disso, a comida do
meu pai estava constantemente estragada enquanto a do
restante da família estava sempre bem.
Meu pai em uma cerimônia de mesa branca, descobriu
que quem batia na porta era uma família que havia morrido
na olaria e ia buscar água.Também me disse que não
gostavam de uma garota que chorava muito: eu !
Para passar o tempo, por causa do medo, eu, Maria
Auxiliadora, e Efigênia, desenhávamos muito, e essa era nossa
diversão pois, não tínhamos bonecas; a não ser umas que
fazíamos com uma planta chamada "cana-de-índio".
Estudei por pouco tempo na escola Visconde de Taunay, de
onde eu me lembro com o maior carinho. Minha mãe me mandou
então para a Liga das Senhoras Católicas onde fui escolhida para
morar em uma casa com a promessa de que receberia meu
salário ao completar 18 anos, coisa que não aconteceu ate hoje...
Ao invés do salário recebia castigos, apanhava inclusive...
Em uma das ocasiões, na casa tinha uma caixa de soldadinhos de
chumbo, e eu nunca havia tido brinquedo, me encantava brincar
com aquilo. Era da filha da senhora da casa. Quando a senhora
chegou da costureira não gostou nada e me bateu com uma
vassoura de tal modo que eu comecei a sangrar, depois me
colocou de castigo numa parede. Eu morria de medo do marido
dessa senhora que era um militar.
Durante muito tempo eu não podia tomar banho e sofri,
porém para esconder da minha mãe, me enviaram para uma outra
família onde eu era bem tratada (Sr. Mário e Sra Ernestina), para
tratar do ferimento da cabeça Eles cuidaram de mim ate que
melhorou e eu tive que voltara para aquela vida de sofrimento.
Nas visitas da minha mãe não deixava eu conversar com ela e
contava mentiras a meu respeito, como se eu roubasse doces de
sua cristaleira, mas isso eu nunca fiz! Nunca roubei nada de
ninguém!
Quando eu tomava banho minha pele ficava muito linda e ela
dizia que eu roubava o pó de arroz dela. Fiquei lá por muitos anos
105
e sempre que minha mãe me visitava ela dizia "se você sair daqui
nunca vai ser nada, será uma prostituta..."
Ate que minha mãe um dia chegou para me buscar,
enquanto eu saia da casa comecei a contar a minha mãe o que
acontecia, ela ficou furiosa, mas naquela época negro e pobre não
podiam falar nada...
O que me faz mais feliz é lembrar do tempo que ficávamos
desenhando na parede do lado do fogão de lenha, minha mãe nos
ensinando a bordar, a fazer bolos, as histórias das festas,
procissões e tantas outras coisas que se transformaram nos
quadros que faço, pois nunca estudei para ser artista plástica. Mas
a vida nos fez artistas, dom natural de nossa Família Silva,
pintamos por prazer, jamais tivemos noção do valor da arte que
fazíamos.
Um dia meu irmão Vicente Paulo foi até o Embu e conheceu
Raquel e Solano, com quem viveu alguns anos. Vicente chegou
com a notícia que os "gringos" compravam até esboços dos
pintores e que por isso, a partir de então deveríamos assinar,
datar nossos quadros e participar de exposições.
A primeira a expor na Praça da Republica, na época dos
hippies, foi Maria Auxiliadora.
A Maria Auxiliadora sempre me dava tintas, sempre me
incentivou muito.
Fiz o teste para expor na Praça da Republica, fiz a minha
primeira reportagem com Jos Luyten,e fui convidada a mostrar
meus trabalhos na televisão no programa de Clarice Amaral e
assim já participei de vários lugares.
Eu também fazia escultura em madeira, aprendi com
a minha mãe, mas eu forçava muito os meus braços.
Nós, os irmãos, fomos seguindo, apesar das críticas de quem
não entende nada de arte primitiva. O importante é a valorização
de muitos mestres que seguimos até hoje neste trabalho que para
mim é muito mais do que trabalho, é terapia de vida.
A minha juventude foi muito boa. Apesar de minha mãe não
deixar, eu participava dos bailes de carnaval, "das matinés", onde
participavam as virgens.
Conheci meu marido num baile, Salão de Dança Som de
Cristal Claudionor Carvalho dos Santos, o Baiano Santos, que
trabalhou como seringueiro na Bahia e aqui em São Paulo como
cozinheiro. Me casei, mas não gostei muito de deixar os bailes.
Mas fui abençoada na minha vida com cinco filhos e oito
netos e mais um aguardado para março de 2008.1.
Sabendo que a vida é uma arte vou continuando, pintando
tudo que surge de bom no nosso dia a dia.2
1
Conceição Silva tem cinco filhos, a mais velha tem 43 anos: Rosângela Roseli Silva Carvalho dos
Santos, tem uma filha Laryssa Santos Silva de 13 anos; a Rosângela também pinta como hobby.
Rosana Carvalho dos Santos, 38 anos, pintora, tem 3 filhos: Taciane Camila Barbosa de 17 ano;
Davi Antonio Santos Barbosa, 6 anos; Ana Beatriz Santos Barbosa, 2 anos.Rogério Carvalho dos
Santos, 36 anos não tem filhos e é pintor.Roberto Carvalho dos Santos 35 anos não pinta e tem 3
filhos: Lucas Gregório dos Santos, 15 anos; Bruna Gregório dos Santos, 13 anos; Vitória Gregório
dos Santos, 4 anos; Moisés Gregório dos Santos, falecido. Roselene Carvalho dos Santos, 28 anos;
já pintou. Tem uma filha de 12 anos: Fabiana Alves dos Santos;
106
Conceição Silva – Cronologia
1938 Nasce em Campo Belo (M.G.), aos 27 de Setembro, porém foi registrada
como se tivesse nascido aos 07 de outubro de 19383.
1942 Veio para São Paulo com a Família.
4
1964 Começa a expor na Praça da República em São Paulo, (SP) em companhia
da mãe, Maria Trindade de Almeida, Maria Auxiliadora , Vicente de Paulo e
João Cândido da Silva.
1969 Mostra permanente, Teatro Popular de Solano Trindade. Embu das
Artes,SP.
1970 I Exposição de Arte de São Miguel Paulista. Associação de Artes
Plásticas Cândido Portinari. São Miguel Paulista, SP.
5
1972 Mostra Coletiva de Arte Primitiva. Limeira, SP
1973
Exposição Afro-Brasileira de Artes Plásticas. MASP - Museu de Artes
de São Paulo. Mostra Coletiva. São Paulo, SP. 6
2
3
SILVA, Conceição Aparecida. Autobiografia. São Paulo, 19 de julho de 2007.
Depoimento cedido aos 15 de Junho de 2007.
Informação de João Cândido da Silva, em depoimento de 16 de maio de 2007.
5
Diploma de Honra ao Mérito, firmado por Geraldo Antonio de Oliveira, Presidente da
Associação de Artes Plásticas Cândido Portinari; Ivone Simões da Graça Biscaia,
Secretaria, e Encarnação M. Deliberato, Departamento Social.
4
107
1974 Mostra Coletiva por ocasião da inauguração do Espaço do Brasil no Museu
de América em Madrid. Espanha.
1974 VI Encontro de Artes Plásticas de Atibaia. Museu Municipal João
Batista Conti. 7Atibaia, SP. Mostra Coletiva.Atibaia, SP
1975 Mostra Coletiva de Artistas Imigrantes.Saguão da Bienal de São
Paulo. São Paulo, SP.
1975 Menção Honrosa. Mostra Coletiva, Secretaria Municipal de Turismo.
Movimento Cultural da Lapa.São Paulo, SP. Menção Honrosa.
1978 VI Salão Oficial de Artes Plásticas. Associação Autônoma de Artistas Plásticos
da Praça da República. 8São Paulo, SP. Mostra Coletiva.
1979 I Encontro de Artes de Osasco. ‘Atelier de Deus’. De 04 a 27 de maio
de 1979. Osasco, SP. 9Mostra Coletiva.
1979 I Mostra de Arte Primitiva. Prefeitura Municipal de Araraquara.
Araraquara, SP.
1980 Mostra Coletiva de Naifs, Pinacoteca do Centro Cultural da Prefeitura de
São Bernardo do Campo, SP.
1980 XVII Salão de Artes Plásticas de
Embu.Prefeitura do Embu, SP. Medalha de
Prata.
1981 Os Silvas na Cultura Negra. Mostra realizada em São Bernardo do
Campo, em maio /junho de 1981. A apresentação no catálogo foi feita por
Jos Luyten. Membro da Associação Paulista de Belas Artes e Professor da
ECA-USP, aos 11 de maio de 1981. Participaram da Mostra as obras de:
Maria Auxiliadora da Silva (in memoriam), Maria Almeida , Vicente de
Paulo (in memoriam), Sebastião Cândido, João Cândido , Conceição Silva,
6
‘Diário de São Paulo’. 09 de maio de 1973; Jornal ‘Popular da Tarde’, 05 de maio de
1973; Noticias Populares, 09 de Maio de 1973; Folha da Tarde, 08 de Maio de 1973;
Diário da Noite, 09 de maio de 1973; Noticias Populares, 09 de maio de 1973.
7
Diploma de Participação datado de Julho de 1974, firmado pelo Prefeito Municipal e
Diretor do Museu.
8
Diploma de Participação datado de 30 de setembro de 1978.
9
Diploma de Participação firmado por Waldomiro de Deus, organizador.
108
Gina, e Benedito da Silva (Benê).
10
1981 Arte Negra/ Raízes. Paço das Artes. Maio
de 1981. São Paulo, SP.
Coletiva.
11
Mostra
1982 “Mito e Magia del Colore”, Salão Nobre do Palácio João Ramalho. Paco
Municipal da Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo”12 Coletiva
de näifs brasileiros. Itália maio-julho (em Nápoles), e no Brasil em
Dezembro de 09 a 16. Organização de Walter José Demarchi e outros.
São Bernardo do Campo, SP. Mostra Coletiva13
10
Catálogo da Mostra ‘Os Silva na Cultura Negra’. Apresentação de Jos Luyten. São
Bernardo do Campo, 1981.
11
Arte Negra/Raízes.Catálogo.São Paulo: Secretaria de Estado da Cultura, 1981.
Apresentação do Deputado Cunha Bueno, então Secretario de Estado da Cultura de São
Paulo.
12
Tem o seu encerramento no Consulado Geral da Itália, Circolo Italiano San Paolo. São
Paulo, SP. O Instituto Ítalo-Brasileiro realizou o coquetel de encerramento e
confraternização dos 60 artistas participantes brasileiros no evento itinerante BrasilItália.
13
Participaram da Mostra: Aécio; Alcides Pinto da Fonseca; Climério Cordeiro; Conceição
Silva; Crisaldo Morais; Dirceu Carvalho; D. Vanni; Edgar; Edna de Araraquara; Ivonaldo;
Januário; João Cândido da Silva; José Tiago; Josinaldo; Madalena; Malu Delibio; Maria
Almeida Silva; Maricha; M.V. Mello; Miriam Nelson Porto; Neuton; Neuza Leodora;
Otacília; Olimpio Bezerra; Paulo Vladimir; Rinaldo de Santi; Silvia; Tavarez; Telles;
109
1982 Mostra e Lançamento do livro-catálogo
da Mostra realizada no Castel Dell’
Ovo. Nápoles, denominado
‘XI Rassegna del Mezzogiorno.
Mito e Magia del Colore Pittura
neo-primitiva del Brasile’. Napole,
Itália.
1983 Mostra Coletiva, II Salão de Artes Plásticas“Jean Baptiste
Debret”.UNAP.União Nacional dos Artistas Plásticos. São Paulo, SP.
1983 Exposição na Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo. São Paulo, SP.
14
Organizador: Secretário da Saúde, Dr. João Yunes.
da Família Silva.
15
Mostra Coletiva
Thereza; Tio Tjay; Vilma Ramos; Yrani Calheiro; Waldeci de Deus; Walde Mar;
Waldomiro de Deus; Walter Senna; Zé Cordeiro; e Zica Bergami.
14
Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo ,Avenida Dr Arnaldo, 351. São Paulo, SP.
15
Os Silva, Profissão: Artistas. Folha da Tarde, de 21 de dezembro de 1983. A
matéria informa que “participam todos os irmãos e a mãe”.
110
1983 Mostra Coletiva, II Salão Brasileiro Pintura Ingênua no Centro
Cultural São Paulo16,São Paulo, SP.
1983 Mostra Coletiva Retrato Naif do Brasil com Família Trindade e Família
Silva. Sesi Amoreiras. Campinas, SP.
?
1984
I Mostra do Artista Negro - Mostra Coletiva na Secretaria Municipal de
Educação e Cultura. Poá, SP17
1986 Participação na Mostra Coletiva ‘Caminhos na Arte Brasileira. Espaço
Cultural Caminho. São Paulo, SP. Participaram Astrid Salles, Camilo
Eduardo Tavares, C. Nogueira, Conceição Silva, Décio Ferreira, Dna
Maria Almeida Silva, D’Paula, Edi Escariao, Edith Wagner, Felipe Carlos
Dechen, Gina da Silva, Ivelto de Melo Souza, João Cândido da Silva,
Jose Maria Bernardelli, Jotabarros, Nerival Rodrigues, Rosana e Roseli
Silva (filhas de Conceição Silva) e Sebastião Cândido da Silva.18
(grifamos os nomes dos membros da Família Silva.).
1987 Mostra Coletiva, Casa de Arte Brasileira. Campinas, SP.
1988 Mostra Coletiva, Arte Popular Brasileira no Teatro Cacilda Becker, São
Bernardo do Campo, SP.
1989 Mostra Coletiva. Clube da Associação dos Médicos. Mairiporã, SP.
16
Certificado datado 29 de julho de 1983, firmado por Mário Garcia Guillen - Diretor.
Certificado de participação datado 12 de dezembro de 1984, firmado por Benedito
Carlos de Souza – Secretário Municipal da Educação e Cultura e Miguel Rodrigues
Comitre, Prefeito.
18
Convite. Espaço Cultural Caminho. Situado na Avenida Pompéia, 1494.São Paulo,
SP.
17
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8 Conceição Silva (1938)