Extração e beneficiamento da bentonita no distrito de Pradoso- Ba: Uma análise
socioambiental.
Roberta Batista de Jesus1
Mestranda em Geografia- UFBA
[email protected]
Resumo
O objetivo desse trabalho foi analisar a extração e o beneficiamento da bentonita no Distrito de
Pradoso, localizado no município de Vitória da Conquista-Ba, sob uma visão socioambiental. Para
o desenvolvimento da pesquisa, foram entrevistados funcionários da Companhia Brasileira de
Bentonita (CBB) e feito registros de imagens no local. Houve ainda o levantamento de dados em
órgão públicos. Após a análise dos dados, pode-se verificar que apesar de recente a exploração
da bentonita já provocou mudanças socioambientais na região. A CBB realiza os processos de
exploração e beneficiamento do produto que em sua maioria é escoado para região sudeste do
país. O advento da indústria movimenta a economia local, promovendo mudanças sociais para a
região. Por outro lado, a atividade mineradora já causa impactos ambientais que podem
comprometer a qualidade de vida dos moradores. Nesse sentido faz-se necessário um
acompanhamento dos órgãos públicos de fiscalização ambiental para que se cumpram as
exigências de recuperação das áreas degradadas pela exploração, além de manter a qualidade
de vida dos funcionários e moradores da região do Pradoso.
Palavras-chave: bentonita, análise socioambiental, impactos ambientais
Introdução
A concepção de meio ambiente, não pode excluir a sociedade, deve sim,
compreender que sociedade, economia, política e cultura fazem parte de processos
relativos à problemática ambiental contemporânea - sociedade como componente e como
sujeito dessa problemática. A análise ambiental diz respeito às formas como o homem em
sociedade apropria-se da natureza, ou seja, a apropriação da natureza pelo indivíduo está
sempre inserida numa determinada forma social.
A ciência geográfica tem papel fundamental nessa abordagem, uma vez que tem
como objeto de estudo a sociedade e sua forma de organização no espaço geográfico.
1
Bolsista da CAPES do Programa de Pós- graduação em Geografia- UFBA. Orientador: Prof. Dr. Marco
Antonio Tomasoni.
Face ao exposto a adoção da abordagem socioambiental é válida para
compreender as transformações resultantes das relações entre o homem e ambiente, ou
sociedade /natureza é assim conhecer as circunstâncias que lhes são geradas e tentar
entender o total envolvimento dos impactos socioambientais modificadores da paisagem
nos estudos dos ambientes.
É nesse sentido que essa pesquisa foi desenvolvida com o objetivo de analisar
sob uma visão socioambiental a extração e o beneficiamento da bentonita no Distrito de
Pradoso, localizado no município de Vitória da Conquista-Ba.
A escolha dessa localidade se deu pela sua importância no cenário municipal e até
mesmo nacional devido à exploração do minério bentonita em seu território, fato que tem
promovido novas dinâmicas espaciais para o distrito, atraindo grandes empreendimentos
que exploram e beneficiam esse mineral.
Desta forma, algumas questões foram norteadoras para o resultado desse
trabalho, tais como: De que forma se deu o processo de descoberta da bentonita no
Pradoso? Como estão organizadas as atividades de exploração e beneficiamento do
mineral? Qual o quadro socioambiental resultante dessa atividade mineradora?
Espera-se com a pesquisa dirimir tais questões na busca de resultados que
possam fornecer dados para o planejamento municipal, suprindo na medida do possível, a
falta de estudos que se propõem a uma análise sobre as questões socioambientais locais,
disponibilizando materiais que subsidiem pesquisas futuras e/ou processos decisórios que
tenham como objetivo os interesses coletivos da sociedade.
Visando alcançar os objetivos propostos, foram feitos levantamentos bibliográficos
com base em teóricos ligados ao tema, coletas de dados em órgão públicos tais como
prefeitura Municipal de Vitória da Conquista, Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento
Rural, Secretaria do Meio Ambiente.
Nesses órgãos foram levantadas questões referentes aos aspectos políticos e
sócio-econômicos do distrito. Foram entrevistados funcionários da Companhia Brasileira
de Bentonita (CBB) e feito registros de imagens no local para que fosse possível
compreender como ocorre a exploração e beneficiamento da bentonita.
Área de estudo
O Distrito de Pradoso (figura 01) está localizado no extremo oeste do Município de
Vitória da Conquista, na Região Centro Sul Baiana do Estado da Bahia. Seu acesso se dá
por rodovia pavimentada, a BA 262, no Km 12 em direção ao município de Brumado. A
altitude da sede é de 950 m e está situado entre as latitudes 14º 41’ S e 14º 55’S e entre
as longitudes 40º 55’ W e 41º 10’ W.
José Gonçalves
São Sebastião
Bate Pé
Pradoso
Vitória da Conquista
Iguá
Dantilândia
Cabeceira da Jibóia
São João da
Vitória
Veredinha
Inhobim
Legenda
Distrito pesquisado
Cercadinh
o
Cercadinho
DIVISÃO DISTRITAL
2000
0
2
4
6
8 10 Km
Figura 01: Localização do distrito de Pradoso
Fonte: Laboratório de Cartografia UESB
O Distrito de Pradoso possui clima predominante semi-árido, possui temperaturas
médias anuais de 19,6 ºC, com máxima em torno de 23,5ºC e mínima de 15,1ºC. O
período chuvoso da região se concentra nos meses de novembro a janeiro, com índice
pluviométrico de 717mm, máximas de 1246mm e mínima de 301mm. Esta região é uma
das poucas do país em que existe a Mata de Cipó, tipo de floresta decidual, relativamente
alta que possui grande diversidade de fauna e flora.
Encontra-se em uma área de transição entre a Caatinga e a Mata Atlântica devido
a esta característica, na Mata de Cipó pode ser encontrado um misto de espécies dos
dois biomas, além de espécies endêmicas pouco conhecidas. O distrito abriga uma
importante rede hidrográfica, a principal nascente do riacho Quati está em seu território,
passando por comunidades como Quatis dos Fernandes, Tesoureiro, Iguá e Quatis do
Fumaça. Deságua no Riacho do Jibóia que é afluente do Rio Pardo, uma bacia
hidrográfica federal.
1 O capitalismo e suas técnicas na apropriação da natureza
Segundo Casseti (1995) o agravamento dos problemas ambientais nasce com as
relações de propriedade privada e o antagonismo de classes. Ele sintetiza que os
impactos ambientais têm-se agravado em função do maior desenvolvimento anárquico
das forças produtivas que estruturam o modo de produção capitalista, enquanto as
relações de produção são relações de domínio e submissão.
É dessa relação que se constata o grau de dilapidação da capacidade produtiva da
terra, com crescente degradação da natureza, determinada por um aproveitamento
generalizado e mais intenso dos recursos naturais, sobretudo, através do processo de
industrialização, urbanização e agricultura predatória. Leff (2007) aprofunda a discussão
abordando que:
A problemática ambiental não é ideologicamente neutra nem é alheia a
interesses econômicos e sociais. Sua gênese dá-se num processo histórico
dominado pela expansão do modo de produção capitalista, pelos padrões
tecnológicos gerados por uma racionalidade econômica guiada pelo propósito de
maximizar lucros e os excedentes econômicos a curto prazo, numa ordem
econômica mundial marcada pela desigualdade de nações de classes sociais
( LEFF, 2007, p. 64).
Godard (1990) reconhece que a dinâmica histórica dos recursos naturais exerce
uma influência sobre as formas econômica de produção ou sobre o desenvolvimento de
certos modelos de relações sociais, que estão associados às técnicas, assim a
disponibilidade dos recursos naturais num dado momento tende a favorecer certas
formas sociais de produção e certos modos de organização social, mencionando ainda as
lutas e conflitos que a apropriação desses recursos provoca.
A criação de novas técnicas e novos modos de exploração torna possível uma
transformação da organização social da produção e das relações sociais.
As técnicas desenvolvidas não têm como prioridade os princípios básicos de
respeito à natureza, e mesmo àquelas que procuram agir de forma responsável não são
democratizadas, ou seja, não favorecem a todos, ao contrário segue interesses
segmentados daqueles que as criaram e detêm os meios de produzi-las, geralmente são
técnicas de alto custo, por conseguintes cada vez mais distantes da comunidade
desprovida.
Na visão de Porto-Gonçalves (1990) as técnicas desenvolvidas pelo homem são
dependentes de um determinado contexto social, político e cultural, são as mediações
entre o social e o natural. Não é apenas por uma razão técnica que a sociedade se
desenvolve e se modifica. Isso porque nenhuma técnica tem razão em si mesma, o
desenvolvimento e as modificações verificadas no meio social devem-se a um fator de
ordem política, evidenciado na tentativa de obter cada vez mais um controle sobre a
natureza.
Portanto, para o referido autor a solução dos problemas ambientais não é
simplesmente de natureza técnica, mas política e cultural, pois para ele a técnica deve
servir à sociedade e não esta ficar subordinada àquela.
2 Caracterização e empregabilidade da bentonita
Pouco conhecida do grande público, a bentonita é um mineral utilizado em áreas
tão distintas quanto a siderurgia e a higiene de animais domésticos. A Bentonita foi assim
batizada pela descoberta de uma jazida em Fort Benton (Estados Unidos). É o nome
genérico da argila composta predominantemente pelo argilomineral montmorilonita, do
grupo das esmectitas, independentemente de sua origem ou ocorrência. Pode apresentar
cor branca, ligeiramente esverdeada ou amarelada. As esmectitas possuem como
características principais o alto poder de inchamento, até 20 vezes seu volume inicial.
Estas características conferem à bentonita propriedades bastante específicas, que têm
justificado uma vasta gama de aplicações nos mais diversos segmentos como informa o
quadro 01:
Tipo de produto
Aplicabilidade da Bentonita
Cerâmica
Age como plastificante, conferindo um
aumento da resistência mecânica.
Siderúrgica
Pelotização de minério de ferro
Granulados sanitários
Absorção de urina e eliminação de odores
dos dejetos de animais domésticos.
Tintas
Evita o escorrimento da tinta após a
aplicação.
Material de limpeza
Aditivo para detergentes, sabonetes e
sabões.
Cosméticos
Aditivo para formulas de cosméticos
Ração animal
Traz benefícios econômicos e para a saúde
do animal.
Alimentos
Empregada na filtragem de azeites, óleos e
vinhos.
Poços de sondagem
Refrigera a broca da perfuração, mantém a
estabilidade das paredes do furo de
sondagem.
Geotecnia ambiental
Utilizada na impermeabilização de solos.
Construção civil
Fundações, estaqueamentos e paredes de
diafragma.
Fundição
Fornece ao molde de areia resistência
durante o vazamento do metal.
Quadro 01: Emprego da bentonita na indústria
Fonte: Companhia Brasileira de Bentonita- CBB
A expressiva abundância das reservas mundiais de bentonita (figura 02) dificulta a
efetivação da estimativa desses recursos em um contexto global. No Brasil, as reservas
de bentonita totalizaram aproximadamente 83 milhões de toneladas, das quais 51,4% são
relativas às reservas medidas, distribuídas no Estado do Paraná, Município de Quatro
Barras, representando 39,0% das reservas lavráveis nacionais; no Estado de São Paulo,
nos Municípios de Pindamonhangaba, Taubaté e Tremembé, com 23,4%; no Estado da
Paraíba, no Município de Boa Vista com 22,0% e, no Estado do Piauí, no Município
Guadalupe com 15,6%.
Figura 02: Bentonita bruta
Fonte: Mineral Commodity Summaries, 2004.
Segundo dados da publicação Mineral Commodity Summaries 2004, elaborada
pelo United States Geological Survey – USGS, a produção mundial preliminar de
bentonita no exercício de 2003 foi de aproximadamente 10,1 milhões de toneladas,
destacando-se as produções dos Estados Unidos (3,97 milhões de toneladas/ano); Grécia
(1,2 milhões de toneladas/ano); Comunidade dos Estados Independentes (750 mil
toneladas/ano) e Turquia (600 mil toneladas/ano).
Não obstante o Brasil figurar entre os dez principais produtores, a produção
nacional, nesse período, foi bastante discreta (199 mil toneladas/ano, representando
cerca de 2,0% da produção mundial).
2.1 A descoberta da bentonita no distrito de Pradoso
A ocorrência da bentonita na região sudoeste da Bahia foi detectada pelos técnicos
da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM) em meados dos anos 80, quando
procuravam cianita no solo da localidade. No entanto, foram encontrados 3 milhões de
toneladas de um mineral esverdeado, a bentonita. Segundo o então Secretário de
Agricultura do município de Vitória da Conquista, o Sr. Valdomiro da Conceição, essa
jazida ficou esquecida pelo Governo do Estado durante muito tempo, sem razões
aparentes, ainda que o Estado tenha comprado 50 ha da família que era proprietária da
reserva inicial.
Essa terra foi adquirida por um valor inferior ao que realmente valia, considerando
a presença da bentonita. De acordo informações dos moradores do distrito, os
descendentes da família atualmente vivem em condições precárias. Há cerca de 4 anos, o
governo abre licitação para a exploração do mineral no Distrito de Pradoso, período em
que aumenta a demanda de bentonita e a necessidade de importação.
Para o entrevistado é interessante o fato de que, até o momento da abertura da
licitação do estado, a existência da bentonita era desconhecida pela população, mesmo
que na publicação Oportunidades Agroindústrias da Bahia já era citado o volume da
jazida, a qualidade da bentonita, as vantagens competitivas da jazida, ou seja, há quase
10 anos atrás houve a divulgação da área e apenas seis anos depois o governo
demonstra interesse em explorá-la.
Quanto a licitação, poucas empresas concorrem, sendo vencedora a Geosol,
empresa brasileira do estado de Minas Gerais que trabalha com prospecção de
sondagem geológica, que era grande consumidora do mineral extraído na região da
Paraíba (cerca de 500 t/mês), tendo interesse na exploração pela estratégia de mercado,
já que a própria empresa passaria a explorar e beneficiar a bentonita que consome.
Nessa licitação, o Estado é o dono da jazida e a empresa vencedora, Geosol,
explora pagando ao Estado a concessão de lavra. Para o secretário é um motivo de
satisfação saber que a empresa possui capital nacional e proprietários brasileiros e que
os recursos estão sendo explorados por uma empresa local.
Vencida e licitação, a Geosol começa o trabalho de prospecção para confirmação
da área em outubro de 2003. A fase de avaliação da viabilidade econômica foi concluída e
se descobriu que as reservas do mineral são muito maiores do que as estimadas
inicialmente. Inicia-se o processo de compra de propriedades no local.
Essas propriedades foram compradas por valores comerciais razoavelmente
elevados em relação às primeiras adquiridas pelo Estado, as indenizações correspondiam
de três a quatro vezes o valor da propriedade. Ainda segundo o entrevistado, houve
reuniões com a Secretaria de Agricultura e os moradores do distrito no intuito de orientálos em relação à venda de suas propriedades, para que não as negociassem por um
preço inferior ao que realmente valiam. A própria empresa ao comprar uma propriedade
se encarregava de adquirir outra e equipá-la para o morador, na região do Pradoso ou em
outra localidade se este preferir. Através da pesquisa de campo pode-se constatar que a
grande maioria das famílias optou por adquirir suas novas propriedades em outras
localidades.
Durante a entrevista ficou claro que não houve estímulo por parte da Prefeitura
para a instalação da empresa na região. No entanto, há interesse desse órgão na
exploração da bentonita no distrito de Pradoso pela possibilidade de desenvolvimento do
meio rural que essa atividade proporciona, como, por exemplo, gerando mais de cem
empregos diretos e duzentos empregos indiretos e possibilitando um dinamismo
econômico em toda região.
Uma política interna da empresa é que os funcionários sejam moradores do distrito,
como forma de retribuir a região pela exploração local. A maioria dos funcionários da mina
e até mesmo do escritório, é constituída por membros da comunidade do Pradoso e
regiões vizinhas. Segundo dados da prefeitura, o distrito está vivenciando um momento
de crescimento econômico, com construção de novas casas e estabelecimentos
comerciais. Outras vantagens que podem surgir no distrito é uma melhora de infraestrutura por parte do Estado como construção de estradas.
A Geosol, em posse do direito de explorar a jazida de bentonita na região do
Pradoso, criou a CBB - Companhia Brasileira de Bentonita, empresa que foi instalada
para, além de explorar, beneficiar o produto. Antes do processo de exploração ser
iniciado, a CBB funcionava provisoriamente na sede do distrito. Em agosto de 2007, com
o início da atividade, foi transferida de forma definitiva para a Estrada Santa Helena, na
fazenda Samambaia, Serra do Vital (figura 03), local onde se encontra a mina. Para o
projeto foram investidos 30 milhões de reais, uma parte desse capital foi financiada pelo
Banco do Nordeste - BNB.
Figura 03: Área externa da CBB
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
As atividades da empresas iniciaram-se em agosto de 2007. O processo começa
pela extração do mineral, a mina então é escavada através do desmonte mecânico, sem o
emprego de explosivos (figura 04).
Figura 04: Mina de bentonita na região do Pradoso
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Em seguida a bentonita é levada para aparelhagem localizada na parte externa
da indústria, onde é pesada e triturada. (figura 05). Dessa forma ela está pronta para ser
transportada para parte interna onde receberá um banho com produtos químicos que irá
aditivá-la. Logo após ocorre o processo de secagem. Para isso é necessário uma semana
em temperatura ambiente. A empresa vem buscando meios de tornar o processo de
secagem mais eficiente, utilizando estufas que mantêm a temperatura superior à externa,
no entanto esse método ainda não vem sendo utilizado em toda produção por estar em
fase de aprimoramento. A bentonita aditivada, depois da secagem, passa pelo moinho
pendolar, é embalada e acondicionada nos carros que irão transportá-la. A maior parte da
bentonita beneficiada na CBB é escoada para a região Sudeste.
Figura 05: Processo de beneficiamento da bentonita
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Para Sérgio Lanza, então gerente de produção da CBB, a descoberta dessa jazida
trará benefícios para o Brasil, já que o país ainda importa bentonita da Argentina e dos
Estados Unidos. Outro benefício é o desenvolvimento de tecnologia nacional a partir de
novas aplicabilidades do produto no mercado. O entrevistado informou ainda que o
próprio município de Vitória da Conquista terá benefícios com a atividade que gera
empregos diretos e indiretos, e também o seu reconhecimento internacional, dada a
importância que a bentonita possui no cenário mundial, sendo uma argila muito
pesquisada no meio científico.
2.2 A problemática socioambiental das atividades de mineração
A mineração é uma atividade em curto prazo, mas com efeitos em longo prazo. A
atividade mineira inclui diversas fases, cada uma provocando diferentes impactos
ambientais.
De
modo
geral,
segundo
informações
do
site
www.wrm.org.uy/boletim/71/minera.html , essas fases são: prospecção e exploração das
jazidas, desenvolvimento e preparação das minas, exploração das minas e tratamento
dos minerais achados nas respectivas instalações, visando a obtenção de produtos
comercializáveis.
Na fase de prospecção, algumas das atividades com impacto ambiental são:
preparação das rotas de acesso, levantamento topográfico e geológico, estabelecimento
de acampamentos e instalações auxiliares, trabalhos geofísicos, pesquisa em
hidrogeologia, abertura de fossas e poços de reconhecimento, colheita de amostras.
Na fase de exploração, os impactos dependem do método empregado. Nas áreas
de mata, o simples desmatamento do solo, com a conseqüente eliminação da vegetação mais vasto no caso das minas a céu aberto -, traz impactos a curto, médio e longo prazo.
O desmatamento não só altera o habitat de centenas de espécies endêmicas, mas
também, impossibilita um fluxo constante de água das florestas para os demais
ecossistemas e centros urbanos. O desmatamento de florestas primárias provoca um
rápido e fluido escoamento da água de chuva, agravando as enchentes no período de
chuva, pois o solo não consegue conter a água da mesma forma que quando ele tem
cobertura florestal. Além da área perturbada pela escavação, os danos causados pelas
minas na superfície, pela erosão e sedimentação do leito dos cursos de água, se tornam
mais graves ainda, devido ao monte de restos de rocha sem valor econômico (chamados
de produto estéril) que costumam formar enormes montanhas, às vezes maiores do que a
área sacrificada para a escavação.
O enorme consumo de água exigido pela atividade mineira geralmente reduz o
lençol freático no local, podendo secar poços de água e mananciais. Normalmente, a
água acaba sendo poluída pela drenagem ácida, isto é, a exposição ao ar e à água dos
ácidos formados em certos tipos de minério - em particular, os sulfúricos - como resultado
da atividade mineira, os quais, por sua vez, reagem com outros minerais expostos.
Pequenas partículas de metais pesados, que, com o tempo, se separam dos resíduos,
são espalhadas pelo vento, se depositando no solo e no leito dos cursos de água e se
introduzindo aos poucos no tecido de organismos vivos, como, por exemplo, os peixes.
Ainda segundo o site Boletim Mineral, substâncias químicas perigosas usadas nas
diversas fases do processamento dos metais, como o cianeto, ácidos concentrados e
compostos alcalinos, embora aparentemente controladas, é comum que acabem, de uma
forma ou de outra, no sistema de drenagem. A alteração e contaminação do ciclo
hidrológico têm efeitos colaterais muito graves sobre os ecossistemas em volta - piores,
no caso das florestas - e sobre as pessoas.
A poluição do ar pode resultar do pó gerado pela mineração, uma séria causa de
doença, geralmente transtornos respiratórios nas pessoas e asfixia em plantas e árvores.
Além disso, a atividade mineira consome enormes quantidades de madeira para a
construção - no caso das minas subterrâneas - e, também, como fonte de energia, no
caso das minas com fornos de fundição alimentados com carvão vegetal. Tanto o barulho
do maquinário utilizado na mineração quanto as detonações também caracterizam um
grande impacto, pois geram condições que podem ser insuportáveis para a população
local e a fauna das florestas.
A mineração chega a um lugar com a promessa de geração de riquezas e
emprego, mas a grande maioria deixa enormes prejuízos como a apropriação das terras
das comunidades locais, impactos na saúde, alterações nas relações sociais, destruição
das formas de sustento e de vida das comunidades, desintegração social, mudanças
radicais e abruptas nas culturas regionais, deslocamento de outras atividades econômicas
locais, atuais e/ou futuras, inclusive as condições de trabalho perigosas e insalubres
desse tipo de atividade. Pode-se argumentar que muitas comunidades hoje afetadas
deram o seu consentimento. Porém, dificilmente as empresas mineradoras esclarecem
para a população local as etapas do processo e os prejuízos que podem causar, pois
enfatizam somente os benefícios econômicos.
2.3 A CBB no contexto socioambiental
Diante das informações expostas fica evidente que a atividades mineradoras da
CBB podem provocar os mencionados impactos socioambientais na região do Pradoso,
que ainda não são visíveis já que a exploração é recente. A SEMA, representada pelo Sr.
Júlio César Brazão, o então gerente de defesa e fiscalização, informou que as licenças
ambientais da empresa foram emitidas pelo Centro de Recursos Ambientais - CRA, um
órgão estadual. A primeira, uma licença simplificada com validade em 09 de junho de
2008 e a segunda, uma licença para implantação com validade em 04 de janeiro de 2011.
É importante salientar que os requisitos para que a licença seja concedida são:
apresentar ao CRA o Plano de Recuperação de áreas degradas - PRAD, apresentar
propostas de localização de uma rede de monitoração da qualidade do ar e planos de
gerenciamento de recursos hídricos, dentre outras exigências que se referem a normas
específicas de mineração.
No dia da visita à SEMA para a obtenção dessas informações, o Sr. Júlio Brazão
informou que o PRAD não foi emitido ao órgão municipal, apenas cópias das licenças
ambientais mencionadas. Quando questionado quanto à relação entre a secretaria e a
CBB, o entrevistado informou que cabe a SEMA fiscalizar a aplicação do PRAD. Ele
explicou que por se tratar de uma área de grande extensão a ser minerada, o plano de
recuperação deverá ser executado paralelo a extração.
O órgão é encarregado de acompanhar as atividades da empresa para garantir a
recuperação das áreas degradas, sem causar passivos ambientais, que segundo o
entrevistado são comuns em Vitória da Conquista devido a não fiscalização da atividade
no passado como as de mineração na Serra do Periperi.
A empresa reconhece os impactos ambientais gerados pela atividade mineradora,
a CBB informou que vem trabalhando para a aplicabilidade do PRAD e para atenuar a
insalubridade do local, como a diminuição da emissão de pó no processo de
beneficiamento da bentonita, que ainda não é satisfatório para a qualidade do ambiente. A
empresa mantém um viveiro com mudas nativas para a reposição da mata após o
processo de exploração (figura 06), visto que a CBB zela pela preservação ambiental.
Figura 06: Viveiro de mudas nativas mantido pela CBB.
Fonte: Pesquisa de campo, 2008.
Nesse
sentido, espera-se que os órgãos públicos efetivamente fiscalizem as
ações da CBB para que as leis ambientais sejam cumpridas rigorosamente, zelando pela
qualidade ambiental e qualidade de vida dos trabalhadores e comunidade em geral. Tal
ação é extremamente importante, já que no Brasil são contabilizados muitos casos de
empresas que exploraram recursos naturais de determinadas regiões deixando para trás
um quadro de depredação ambiental e mal estar da população, principalmente das
pessoas que foram empregadas nessas atividades. Um exemplo na Bahia, os municípios
de Poções e Bom Jesus da Serra que foram palco de décadas da exploração de amianto.
A multinacional oriunda da França que se instalou na região deixou impactos
visíveis ainda na atualidade, uma abertura de 1 km no solo foi feita na época da extração,
além de contaminação de outros recursos naturais. Dezenas de famílias sofrem com as
conseqüências da exploração, com doenças no aparelho respiratório entre outras.
Após o término das atividades da empresa nenhuma ação foi tomada no sentido de
minimizar os impactos causados, fruto da falta de acompanhamento dos órgãos
competentes para cobrar da multinacional exploradora ações de recuperação das áreas
degradas e melhorias nas condições de vida da população atingida, já que também não
existiam medidas de segurança no trabalho dos operários.
Para que o exemplo acima mencionado não ocorra com a extração da bentonita na
região do Pradoso, é indispensável que as ações de recuperação das áreas mineradas
sejam simultâneas a extração. Além disso, devem ocorrer constantes visitas técnicas das
instituições responsáveis pela segurança e saúde dos trabalhadores que estão envolvidos
em todas etapas do processo de exploração e beneficiamento, garantindo-lhes qualidade
de vida.
Quando questionado sobre quais benefícios a empresa traria a região do Pradoso,
a CBB mencionou os empregos que a atividade proporcionará para famílias da região e
algumas práticas de educação ambiental voltadas para a escola local. No entanto, sabese que a atuação CBB não poderia se limitar a isso. Como se trata de uma grande
estrutura, a empresa deveria se envolver em ações que beneficiasse a comunidade como
um todo, uma forma de compensar a região pela exploração.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de a bentonita ter sido detectada a cerca de uma década no solo da região
do Pradoso, a sua extração e beneficiamento é recente na região. A CBB explora e
beneficia o mineral que em sua maioria é escoado para região sudeste do país.
O advento da indústria movimenta a economia local, promovendo mudanças
sociais para a região do Pradoso. Por outro lado, a atividade mineradora já causa
impactos ambientais que podem comprometer a qualidade de vida dos moradores,
modificando a paisagem natural da região. Nesse sentido faz-se necessário um
acompanhamento dos órgãos públicos de fiscalização ambiental para que se cumpra as
exigências de recuperação das áreas degradadas pela exploração, além de manter a
qualidade de vida dos funcionários e moradores da região do Pradoso.
Vale ressaltar que em diversas fases da história da humanidade, os recursos
naturais foram explorados de forma irracional e indiscriminada, como exemplo do Brasil
no período colonial que teve suas riquezas naturais dilapidadas pelos colonizadores.
Ainda hoje a agressão à natureza é uma realidade, e apesar de algumas iniciativas do
Poder Público e Privado para a preservação do meio ambiente, muito ainda há para ser
feito.
À medida que o sistema capitalista avança novas necessidades de consumo são
impostas à sociedade. Os impactos ambientais têm-se agravado em função do maior
desenvolvimento anárquico das forças produtivas que estruturam o modo de produção
capitalista, enquanto as relações de produção são relações de domínio e submissão.
E como conseqüência da amplitude desse sistema econômico, verifica-se o grau
de dilapidação da capacidade produtiva da terra, com crescente degradação da natureza,
determinada por um aproveitamento generalizado e mais intenso dos recursos naturais,
sobretudo através do processo de industrialização, urbanização e agricultura e mineração
predatória.
Cabe a sociedade ver-se como parte integrante da natureza, e não um simples
agente transformador. A sociedade ao sentir os efeitos da degradação ao meio natural
deve procurar formas de suprir suas necessidades essenciais de maneira sustentável,
conservando o meio ambiente ao mesmo tempo.
REFERÊNCIAS
CASSETI, Valter. Ambiente e apropriação do relevo. 2ª edição. São Paulo:
Contexto,1995.
COMPANHIA BRASILEIRA DE BENTONITA. Material informativo. Vitória da Conquista:
2007.
GODARD, Olivier. A gestão integrada dos recursos naturais e do meio ambiente:
Conceitos, instituições e desafios de legitimação .In: VIEIRA, Paulo Freire (org.) et al.
Gestão de recursos naturais renováveis e desenvolvimento- novos desafios para a
pesquisa ambiental. São Paulo: Cortez, 1997.
GONÇALVES, Carlos W. P. Os (des) caminhos do Meio Ambiente. 2ª edição. São
Paulo: Contexto, 1990.
IMPACTOS ambientais e sociais da mineração. Boletim WRM nº 71, junho de 2003.
Disponível em: <www.wrm.org.uy/boletim/71/minera.html>. Acesso em 12/02/08.
LEFF, Enrique. Epistemologia ambiental. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2007.
PRODUÇÃO mundial da bentonita. Mineral Commodity Summaries. United States
Geological Survey,2004. Disponível em
<minerals.usgs.gov/minerals/pubs/mcs/2004/mcs2004.pdf> Acesso em 13/02/08.
Download

Extração e beneficiamento da bentonita no distrito de Pradoso