3º Simposio Iberoamericano de Ingeniería de Residuos
2º Seminário da Região Nordeste sobre Resíduos Sólidos
AVALIAÇÃO DOS BENEFÍCIOS SOCIAIS E AMBIENTAIS DA UTILIZAÇÃO
DE PNEUS INSERVÉIS NO COPROCESSAMENTO: ESTUDO DE CASO NA
CIDADE DE JOÃO PESSOA – PB/BRASIL.
Sidcléa Sousa de Freitas(1). Química Industrial pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Especialista em
Gestão e Análise Ambiental pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). Técnica Ambiental em Indústria
Cimenteira. Mestranda em Engenharia Urbana e Ambiental pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Claudia Coutinho Nóbrega. Engenheira Civil pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Doutora em
Recursos Naturais pela Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Professora do Departamento de
Engenharia Civil e Ambiental da UFPB. Coordenadora do curso de graduação em Engenharia Ambiental da
UFPB. Presidente da ABES/PB.
Endereço(1): Rua Caetano de Figueiredo,1417 - Cristo Redentor - João Pessoa-PB CEP: 58071-220 - Brasil Tel: +55 (83) 88693665 - Fax: +55 (83) 21068059 - e-mail: [email protected]
RESUMO
O pneu inservível é um resíduo que deve ser gerido corretamente até sua disposição final, devem ser coletados
e armazenados adequadamente, pois quando dispostos inadequadamente tanto podem provocar incêndio,
quanto podem ser criadouros de vetores responsáveis pela transmissão de doenças. Desta maneira, ações em
prol desta correta disposição vem sendo tomadas através de iniciativas privadas em conjunto com o poder
público em forma de Programas. Em João Pessoa-PB/Brasil foi iniciado em março/2005 o Programa Nordeste
Rodando Limpo através da parceria entre a CIMPOR e BS Colway pneus, que consiste na realização de coleta
e destinação final nos pneus inservíveis para utilização nos fornos de fabricação de clínquer. O pneu
inservível ganhou valor no mercado de resíduos, pois, para cada pneu de automóvel é pago o valor de R$
0,40, para o pneu de caminhonete é pago R$ 0,80 e o de caminhão tem o valor de R$ 2,00. A fábrica da
CIMPOR recebeu no período de março/2005 a dezembro/2009, um total de 26.568,90 toneladas de pneus
inservíveis, o que equivale à distribuição de R$ 2.097.712,00 (U$ 1.171.906,14) em renda para os catadores
que realizam a coleta, aumentado, assim, o rendimento mensal dos mesmos. Neste mesmo período verificouse ganhos ambientais através da redução do consumo de combustíveis fósseis com a utilização de 18.624,29
toneladas de pneus, resultando numa economia de 19.767,45 toneladas de coque de petróleo em termos de
calor no forno de clínquer. Além da redução de 26,62% de enxofre nos pneus inservíveis quando comparados
com o coque de petróleo, uma vez que, a redução das emissões de SO2, é verificada através da redução da
concentração de enxofre presente nos combustíveis fósseis, pois praticamente todo enxofre existente no nesse
tipo de combustível se oxida para SO2.
PALAVRAS-CHAVE: Coprocessamento, resíduos, pneus inservíveis, sustentabilidade.
INTRODUÇÃO
Um passivo ambiental é o resultado da produção industrial sem considerar as conseqüências de sua atividade
para com o ambiente ou da disposição descontrolada de seus produtos. Desta forma o pneu é considerado um
dos maiores passivos ambientais existentes, devendo controlar seu armazenamento no fim da vida útil, e sua
destinação final. Mesmo classificado como sendo resíduo classe II B (não perigoso) pela Norma Brasileira NBR 10004, da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) não possuir metais pesados em sua
composição, e não ser solúvel em água, não sofrendo lixiviação, sua disposição requer um gerenciamento
diferenciado. O descarte dos mesmos inteiros é proibido por lei em aterros sanitários e quando dispostos
inadequadamente em logradouros públicos ou terrenos baldios requerem uma atenção especial, pois exercem
risco à saúde pública, podendo servir de criadouros para micro e macro vetores, os quais são responsáveis pela
transmissão de inúmeras doenças entre elas a dengue. Também é comum os pneus serem queimados a céu
aberto, liberando grande quantidade de carbono, dióxido de enxofre e outros poluentes atmosféricos
(D'ALMEIDA & SENA, 2000; MELO, 1998; COSTA et al, 2000).
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No ano de 2009, a indústria brasileira de pneus produziu um total de 61,3 milhões de unidades, avaliada em
R$ 9 bilhões, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Sendo que as oito
empresas associadas à Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos – ANIP, produziram 53,8 milhões de
unidades, representando o montante de 87% da produção total brasileira, com um total de 61,3 milhões de
pneus (ANIP, 2010).
Ao fim da vida útil dos pneus, deve-se garantir a correta destinação final pelos fabricantes. Para isto é
necessário coletar, armazenar e transportar os pneus de forma adequada, sendo que destas etapas, a coleta, ou
o acesso ao pneu inservível é dificultado devido à grande quantidade nos mais variados lugares. Desta forma
para garantir que estas etapas sejam realizadas de forma correta, é inevitável que os fabricantes de pneus
desenvolvam ações em conjunto com empresas privadas e o poder público.
DESTINAÇÃO DOS PNEUS INSERVIVEIS
Antes de se tornarem inservíveis, os pneus usados devem ser reformados para que sua vida útil como
equipamento automotivo seja prolongado por mais alguns anos. No Brasil, a prática é permitida por lei desde
que seja realizada com componentes que foram utilizados em território nacional e podem ser de três tipos: a
recapagem, quando somente a banda de rodagem é substituída, a recauchutagem que inclui a troca de um
pedaço da lateral do pneu, e a remoldagem, quando todo componente ganha nova cobertura.
A publicação da Resolução do Conselho Nacional de Meio Ambiente - CONAMA N.º 258/99, determina
responsabilidades, prazos e quantidades para a coleta, reciclagem e destino final para os pneus inservíveis
existentes no território nacional. A medida foi tomada como uma tentativa de controlar o passivo ambiental
representado pelo acúmulo de pneus no meio ambiente. Esta resolução se aplica a pneus novos de todos os
tipos, dos de bicicleta aos de avião, fabricados no Brasil ou importados, inclusive aqueles que acompanham os
veículos importados. Com isto, deu-se impulso a vários projetos de reciclagem de pneus, cujos resíduos são
aproveitados como matéria-prima, fonte de energia, na pavimentação de ruas, na construção civil, na produção
de combustíveis, etc. Os pneus inservíveis existentes no território nacional deverão ser coletados e
direcionados a depósitos temporários onde aguardarão uma destinação final ambientalmente adequada através
de processos de reciclagem. A legislação brasileira impôs, a partir de 2002, a obrigatoriedade de destinar
corretamente um pneu inservível para cada quatro novos produzidos, importados e reformados. A cada ano, a
obrigatoriedade foi crescendo até chegar a cinco pneus para cada quatro pneus reformados a partir de 2005
(CONAMA, 1999).
No ano de 2009 a publicação da Resolução Nº 416/2009 do CONAMA, revogou as Resoluções Nº 258, de 26
de agosto de 1999, e Nº 301, de 21 de março de 2002, que dispõe sobre a prevenção à degradação ambiental
causada por pneus inservíveis e sua destinação ambientalmente adequada. Caracteriza a destinação
ambientalmente adequada de pneus inservíveis: procedimentos técnicos em que os pneus são
descaracterizados de sua forma inicial e que seus elementos constituintes são reaproveitados, reciclados ou
processados por outra técnica admitida pelos órgãos ambientais competentes, de modo a evitar danos ou riscos
à saúde pública e à segurança e, a minimizar os impactos ambientais adversos. Prevê também que os
fabricantes e os importadores de pneus novos deverão implantar, nos municípios acima de 100.000 (cem mil)
habitantes, pelo menos um ponto de coleta. A Resolução supracitada determina que para cada pneu novo
comercializado para o mercado de reposição, as empresas fabricantes ou importadoras deverão dar destinação
adequada a um pneu inservível.
A Associação Nacional da Indústria de Pneumáticos - ANIP - implantou em 1999 o Programa Nacional de
Coleta e Destinação de Pneus Inservíveis em todo território nacional. Em 2007, foi aperfeiçoado e passou a
ser realizado através da Reciclanip, que é uma entidade voltada, exclusivamente, para a coleta e destinação de
pneus no Brasil. Através de parcerias com distribuidores, revendedores e prefeituras foram possíveis a
implantação de centros de recepção de pneus inservíveis, os chamados Ecopontos (ANIP, 2010). Atualmente,
no Brasil, existem 457 pontos mantidos pela Reciplanip para coleta de pneus inservíveis, porém quando o
número é comparado aos 5564 municípios existentes no país, torna-se desprezível.
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NORDESTE RODANDO LIMPO
A saída para o problema dos pneus inservíveis, que se torna muitas vezes uma questão de saúde-pública, nasce
de iniciativas empresariais bem sucedidas e, de experiências positivas no dia-a-dia, que começam a surtir
pequenos efeitos, mesmo sendo casos isolados.
Em 2002, foi lançado no Paraná o Programa Paraná Rodando Limpo sendo uma evolução do Curitiba
Rodando Limpo, lançado em Curitiba no ano de 2001, com objetivo coletar e destruir pneus inservíveis
existentes em Curitiba e Região Metropolitana, a fim de combater a dengue, em conjunto com uma série de
programas complementares desenvolvidos pelas Secretarias de Saúde, do Meio Ambiente e da Educação
(RIBEIRO, 2005). Após 15 meses de execução, o programa coletou e reciclou mais de 400 mil pneus,
conseguindo erradicar a dengue no Paraná. Durante o encontro promovido pela Organização das Nações
Unidas (ONU) ações sobre o desenvolvimento sustentável, o programa foi indicado a ser desenvolvido nos
países membros. Para o sucesso do Programa foi necessária a união de esforços entre as Secretarias de Saúde
Pública, as Secretarias de Meio Ambiente, as Prefeituras do Paraná, a BS Colway Pneus e a Petrobrás, tendo
como objetivo contribuir junto a Fundação Nacional de Saúde - FUNASA no combate da dengue.
O programa foi estendido para o Nordeste, mas especificamente para o Estado da Paraíba através de parceria
entre a CIMPOR e BS Colway Pneus, sendo denominado de Nordeste Rodando Limpo que consiste em
valorizar o pneu inservível como item de coleta para os catadores de resíduos e como substituinte de
combustível no forno de fabricação de clínquer.
O marco inicial do programa foi em março de 2005, sob a gestão da CIMPOR e BS Colway pneus, que reuniu
cerca de 200 pessoas na Fazenda da Graça localizada no município de João Pessoa para firmar convênio com
Prefeitura Municipal de João Pessoa e Governo Estadual da Paraíba. O programa abrange a Grande João
Pessoa e alguns municípios da Paraíba.
A coleta dos pneus inservíveis é realizada por catadores, que encaminham os mesmos a Fábrica da CIMPOR,
localizada no bairro da Ilha do Bispo no município de João Pessoa. A BS Colway pneus orienta as associações
de bairros, cooperativas e sindicatos na tarefa de coletar os pneus inservíveis na região, mas não se
responsabilizando pela logística dos pneus coletados até a empresa. Para cada pneu de automóvel que chega a
CIMPOR é pago o valor de R$ 0,40, para o pneu de caminhonete é pago R$ 0,80 e o de caminhão tem o valor
de R$ 2,00. Do início do Programa até o ano de 2009, foram coletadas 26.568,90 toneladas de pneus
inservíveis e distribuída a renda de R$ 2.097.712 (U$ 1.171.906,14 ), conforme Quadro 01.
Quadro 01: Quantidade de pneus coletados pelo Nordeste Rodando Limpo
ANO
QUANTIDADE DE PNEUS (t)
RENDA (R$)
RENDA (U$)
2005
3093,03
247.442,40
138.235,75
2006
5.624,87
449.989,60
251.390,83
2007
5.416,00
433.280,00
247.642,45
2008
8.519,00
681.000,00
380.446,92
2009
3.916,00
286.000,00
159.776,53
TOTAL
26.568,90
2.097.712,00
1.171.906,14
Fonte: CIMPOR (2010)
COPROCESSAMENTO DE RESÍDUOS
A técnica do coprocessamento é o processo de oxidação térmica de resíduos nos fornos de fabricação de
clínquer, principal composto na fabricação do cimento. A atividade é realizada no interior de um forno que
possui em média de 60m de comprimento e 4m de diâmetro, alcançando temperatura da ordem de 1.400 ºC na
zona de clinquerização e um tempo de residência para os gases de até 10 segundos. Em virtude da longa
extensão do mesmo, assegura a completa destruição dos resíduos.
No Brasil as atividades de coprocessamento de resíduos industriais foram iniciadas na década de 1990, no
Estado de São Paulo, estendendo-se posteriormente para os Estados do Rio de Janeiro, Paraná, Rio Grande do
Sul e Minas Gerais.
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Atualmente, existem no Brasil trinta e cinco (35) fábricas com fornos licenciados pelos órgãos ambientais para
coprocessar resíduos, possuindo uma capacidade potencial de destruição de 2,5 milhões de toneladas. Só em
2008, a indústria cimenteira nacional deu destinação a cerca de um milhão de toneladas de resíduos (incluindo
aproximadamente 33 milhões de pneus inservíveis), conforme Figura 1. A utilização desses resíduos como
combustível alternativo já representa hoje uma substituição de 15% de combustíveis fósseis não-renováveis
(SNIC, 2010).
Figura 1: Evolução do coprocessamento no Brasil
Fonte: SNIC (2010)
PNEUS INSERVÍVEIS
O pneu inservível devido ao seu elevado poder calorífico é utilizado como combustível alternativo ao coque
de petróleo e carvão mineral. A grande vantagem da utilização de pneus em fornos de cimento é sua total
destruição, em função das elevadas temperaturas, e retenção de cinzas na matriz do clínquer, pois todo
processo ocorre num sistema fechado (MARQUES, 1999).
As características encontradas nos pneus são propícias a sua utilização nos fornos de clínquer, seja por seu
elevado poder calorífico ou menor quantidade de enxofre em sua composição química, quando comparado
com o coque, principal combustível utilizado na fabricação de clínquer, conforme apresentado no Quadro 02.
Uma vez que, a concentração de enxofre resultante do gás nos produtos de combustão é uma função da
porcentagem de enxofre contida no combustível e da razão ar/combustível.
A recuperação de energia contida nos resíduos contribui adicionalmente para a conservação de combustíveis
fósseis não-renováveis, como carvão e óleo, reduzindo os custos de fabricação, pois os combustíveis
provenientes de resíduos energéticos são mais baratos que qualquer combustível fóssil tradicional, o que
incentivaria esse potencial de energia.
Quadro 02: Composição química dos combustíveis utilizados no forno de clínquer
Carvão
Pneu
Composição química
Coque
mineral
inservível
Enxofre
(S)
%
6,46
0,95
1,72
Carbono
(C)
%
84,74
67,38
76,77
Hidrogênio
(H)
%
1,99
3,28
6,50
Nitrogênio
(N)
%
1,51
1,25
0,82
Umidade Total
(U)
%
4,76
5,88
5,50
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Cinzas
(Z)
%
0,92
15,26
8,63
Materiais Voláteis
(MV)
%
10,38
27,32
64,29
Kcal
34,05
26,96
36,14
Kcal
33,62
26,27
34,76
Poder Calorífico Superior
Poder Calorífico Inferior
(PCS
)
(PCI)
Fonte: CIMPOR (2010)
PERFIL SOCIAL DOS CATADORES
Em novembro de 2009 foi realizada entrevista através de questionário específico, com o intuito de verificar o
perfil social dos catadores de pneus. Após análise dos resultados com vinte e um (21) entrevistados, verificouse que 52% têm faixa etária entre 41 e 50 anos e 43% possuem o ensino fundamental incompleto. Um total de
43% dos entrevistados é proveniente do município de João Pessoa, e 24% de Bayeux, que são respectivamente
os locais mais próximos ao ponto de entrega dos pneus. Para 33 % dos entrevistados a atividade de coleta de
pneus é a principal fonte de renda, os outros 67% desempenham outras atividades, sendo que a maioria
trabalha com “fretes”. Verificou-se que a remuneração média encontrada em 52% dos entrevistados é entre 1 e
3 salários mínimos, e que 24% declararam ter remuneração mensal menor que 1 salário mínimo, demonstrado
que o pneu inservível vem a somar na renda destes catadores. Quando perguntado quantos pneus são
entregues mensalmente, a maioria (67%) respondeu que mais de 200 pneus. Noventa e cinco por cento (95%)
realizam a entrega dos pneus através de veículo motorizado e apenas 5% através de carroça de mão.
Outra constatação é que 62% dos pneus são coletados diretamente em borracharias, 24% em empresas e
apenas 14% diretamente da rua, demonstrando que ao valorizar o pneu inservível, foi estabelecido um
mecanismo de coleta por meio da sociedade, retirando-o das ruas e minimizando os possíveis impactos que o
seu acondicionamento inadequado pode acarretar.
BENFÍCIOS SOCIAIS E AMBIENTAIS
A inserção dos pneus inservíveis como item de coleta para os catadores de resíduos significa um ganho
importantíssimo no que diz respeito ao aumento da sua renda mensal, uma vez que a receita de mais de 2
milhões de reais foram repassados aos catadores no período de março de 2005 a dezembro de 2009,
ocasionando a retirada de 26.568,90 toneladas de pneus inservíveis de ruas, terrenos baldios, depósitos
improvisados e residências do Estado da Paraíba. Os Estados de Pernambuco e do Rio Grande do Norte,
posteriormente, aderiram ao programa quando vislumbraram a possibilidade de destinar de maneira
ambientalmente correta seus pneus inservíveis.
A economia de recursos não-renováveis foi verificada na redução do consumo de coque de petróleo com a
substituição dos pneus inservíveis. Como o Poder Calorífico Superior (PCS) de ambos é conhecido, (Quadro
03), é possível relacionar os dois combustíveis, da seguinte forma: 1,00 tonelada de pneus inservíveis equivale
a 1,06 toneladas de coque de petróleo, ou seja, para se obter o mesmo PCS deve-se utilizar uma maior
quantidade de coque de petróleo no formo de clínquer. No período de março/2005 a dezembro/2009 foram
utilizadas 18.624,29 toneladas de pneus no forno de clínquer, representando uma redução de 19.767,45
toneladas de coque de petróleo.
Quadro 03: Características dos combustíveis
Item
Coque
Pneu inservível
PCS (Kcal)
34,05
36,14
Percentual de S (%)
6,46
1,72
Preço de compra (R$/t)
170,00
80,00
Fonte: CIMPOR (2010)
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A redução das emissões de SO2 pode ser verificada através da concentração de enxofre presente nos dois
combustíveis. No coque de petróleo encontra-se 6,46% de enxofre, enquanto o pneu inservível apresenta
apenas 1,72% em sua composição, representando uma queda de 26,62% de Enxofre nas emissões de SO2, pois
praticamente todo enxofre existente no combustível se oxida para SO2.
CONCLUSÃO
A questão dos pneus inservíveis é um problema que está inserido diretamente na sociedade, podendo trazer
graves conseqüências ambientais e de saúde pública. Uma das formas de solucionar esse problema é a criação
de parcerias entre o Poder Público e empresas privadas. Como visto neste trabalho, o coprocessamento de
resíduos em fornos de clínquer possibilita uma ótima solução para a utilização dos pneus inservíveis como
alternativa na substituição de combustíveis fósseis, seja pelo seu elevado poder calorífico, ou devido ao baixo
de teor de enxofre, minimizando as emissões de SO2. Devido à coleta ser uma das fases mais complexas para a
destinação final dos pneus, deve-se garantir que esta etapa seja realizada de forma correta, por isso é
inevitável que os fabricantes de pneus desenvolvam ações em conjunto com empresas privadas e o poder
público. Desta forma foi criado, em 2005, o programa Nordeste Rodando Limpo que além de gerar renda aos
catadores de resíduos, possibilitou a retirada de 26.568,90 toneladas de pneus inservíveis que estavam
depositados no estado da Paraíba e, conseqüentemente, em estados vizinhos. Pode-se vislumbrar que ao ser
inserido na coleta de resíduos, é criado automaticamente um mecanismo de coleta pela sociedade, retirando os
pneus das ruas e possibilitando ganhos econômicos aos catadores, melhorando sua qualidade de vida.
Demonstrando assim, que ações conjuntas podem resolver graves problemas ambientais.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS: NBR 10004:2004. Resíduos SólidosClassificação, ABNT, Brasil.
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CONAMA. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=258 Acesso em
15 de março de 2010.
CIMPOR. Disponível no Departamento de Estatística de Produção Acesso em 20 de abril de 2010.
D'ALMEIDA, M.L.O & SENA, L.B.R. Reciclagem de Outras Matérias. Manual de Gerenciamento
Integrado, IPT, Instituto de Pesquisas Tecnológicas / CEMPRE, Compromisso Empresarial para
Reciclagem, 2ª ed. São Paulo/SP, Publicação IPT 2.622- ISBN 85-09-00113-8. 2000.
MARQUES, M. Coprocessamento em Fornos de Cimento, Revista Gerenciamento Ambiental, São Paulo.
n. 6, mar/abr. 1999.
RIBEIRO, C.M.C. Gerenciamento dos pneus inservíveis: Coleta e Destinação Final. São Paulo, 2005.
Dissertação de mestrado-Centro Universitário, São Paulo, 2005.
SNIC. Disponível em: http://www.snic.org.br/ Acesso em 03 de março de 2010.
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XXVII Congresso Interamericano de Engenharia Sanitária