A
L.etixãeAríes
Domingo,
8-2-1953
A MAN
FUNDADOR: JORGE LACERDA
ANO 7.°
DIRETOK ALMEIDA FISCHER
,
"Passeios
SÈU
na
Ilha", Carlos Drummond
NOde Andrade,
a propósito
de um livro de Manuel Bandeira — "Maiuá do Mulungo" —,
escreve estas palavras que me
parecem
significativas:
"Versos demuito
circunstância, intitula-os o poeta. Mas que é circunstãncia, neste particular de
versos? Se se incorpora à poesia, deixa de ser circunstância.
Arte de transfigurar as circunstâncias, poderíamos rotular a
poesia. A circunstância é sempre poetizável, e isso nos foi
mostrado até ao cansaço pelos
grandes poetas de todos os
tempos, sempre que um preconceito discriminatório não lhes
travou o surto lírico". Inteiramente de acordo com o poeta
de "Claro Enigma", também eu
penso que toda a poesia nasce
de uma circunstância c que a
poesia é por condição e natureza "arte de transfigurar as
circunstâncias". Acontece, porém, que nem todos os poetas
"transfiguram as
eircunstâncias" numa mesma intenção.
üir-sc-á que uns as transfiguram para apagar o traço concreto e real que elas deixaram
na sua vida, outros que o fazcm como que para perpetuar
o que de concreto e real houve
nessas circunstâncias.
Carlos
Drummond de Andrade pareceme ter pertencido ao numero
destes poetas antes da fase de
"Claro Enigma". Agora,
em
"Claro Enigma", ou
a
partir
de "Claro Enigma", vejo-o
aproximar-se do número daqueles. A "circunstância" que se
transfigurava no sentido
de
uma "vivificaeão", digamos, dos
seus elementos propriamente
circunstanciais, agora transfigura-sc em sentido inverso. O
poeta de "Claro Enigma" aplica o seu gênio poético a tornar
"enigmático" o
que é "claro".
a tornar "ineircunstanciado" o
que é "circunstancial".
Observa-se na poesia moderna do Brasil uma tendência geral para superar o concreto, para apagar o "circunstancial".
Enquanto em Manuel Bandeira, em Jorge de Lima — o Jorge de Lima
anterior à fase de
que a "Invenção de Orfeu" é
o mais alto expoente — em Ribeiro Couto, entre outros, a
"circunstância"
permanece, ainda mesmo quando é "transfigurada", enquanto permanece e
se afirma ostensivamente "vivifiçada" no Carlos Drummond
de Andrade que precede o "Ciaro Enigma", em poetas como
Cassiann Rieardo. Ledo
Ivo.
Cecília Meireles, João Cabral de
Melo Neto, Thiago de Melo,
agora no Carlos Drummond de
Andrade desta
nova fase, a
•circunstância"
ê anulada,
apagada, suprimida, em benefício de uma linguagem que aspira a ser como que a projeção
abstrata e Intemporal do que
tem lugar no mundo da realidade demasiado humana. Assistimos, de fato, a uma progres- '
siva "desumanização" da poesia brasileira.
I
Em que medida é que a palavra representa o objeto que
significa?
Serão as palavras
completamente
independentes
das coisas a que dão nome? Àssim pensam
alguns filólogos.
Nao creio que o poeta pense da
mesma maneira. Para o poeta,
a palavra faz parte Integrante
da coisa, do objeto, da idéia ou
da sensação. Ou não fosse <s
poeta uma mentalidade de sigmo primitivo.
Para o lM>mem
«• mentalidade primitiva, a palavra 6 a própria coisa, dar nom« às coisas é tomai; posso
I
i
I
«¦¦»¦»•*¦¦* *M**"*^***^*^'^^^^^^^^^P*ii^^^*M^r^*^M*?^^3t^BJ^B
«»w»™«^j^^|^^^^>_j^^*j**JJ|^^^^^^^^^^^^^^^^^^*^^^^^^|^*^^^p^^pJS3^^K^^^^S^b^^^^B^^^^^^^^^CS^SSS!S^SmS*»
mm
^^^mu
—»f•
&* *õr|C"^BJ \Ww~ BB
m^~ ^Wmw
Bfit
WWW *£mJj wm*\
^S*^B
Uw
^mt
ivA
\ví*
m^L\
m&
mn
^mw^ FTWt5PJI MPPiEtjJ^L
\mww0L+*\
WEmmzwm%mm\cBemEmt^ mW/f,'w^*"
BfcBBFBg^B 51BB 3fe ^lu/A"',m/t'
&%£**&,
N.° 279
Im
/ *Q|
^R^^^r > ¦ Il^^^l H^^L
^y^í^Hc^M
Brf^B ^fc^^K
fi
i ^kwc^i irTil /2S8
s8BK^BltHí^M»8M^B5sJSM JÍm\
mmSmmf *«jrtu^-''-^^i^^^S^^^é^^MmdnffiXnr
^MJwfA^^m\*mÈmW^^mm%m\\\
^^B^vB^^B^Bt^C vVhE^i \\Vv
.±wm\ ***mfJ^!mW
* ^j*^C*^^T—^*^
^•^*^^*^J*JI^^^^ ^F^^^^^^y ^5^^^_Wvv^1j»
^fc^*M
BIEvs^^^J*>*MB
^£^m
Á
^^ft,
^^k
Xilogravura de CEORGES TCHERKESSOFF
CARLOS DRUMMOND DE
ANDRADE E A POESIA
DE CIRCUNSTANCIA
¦-'¦•»
JOÃO GASPAR SIMÕES
delas. Eis como se me afigura
"cirqua o poeta para quem a
representa uma
cunstãncia"
realidade a anular de certo modo se faz poeta contrariando a
tendência natural da
poesia.
ai
As palavras abstratas são
que mais longinquamente evoeaai a realidade do objeto a
que dão nome. Na medida em
que a poesia se fax abstração,
assim a poesia deixa de ter domínio sobre as coisas e os sentimentos,
as
sensações e as
emoções que "transfigura".
Segundo o filólogo Saussitre,
citado por Damaso Alonso,
o
signo lingüístico não une uma
coisa e um nome, mas um cot*ceito e uma imagem acústica.
A imagem acústica não é, sematerial,
gundo êle, um som
seu
puramente físico, mas o
rasto psíquico, a representação
que dele nos dá a testemunho
dos nossos sentidos. E* Isto
que explica que não precise-
1V3SX
->k.v.
r.'jq
mos de mover os lábios para re*
citar uma poesia. Signo lingufc*
tico, que é então? A combinai
ção do "conceito" c da "imai
gem acústica". Mas como a pin
lavra signo na linguagem cor*rente serve, igualmente,
par*
designar a própria Imagem*
acústica, o autor do "Cours d«
linguistlque générale" — Sauav
sure ~- decide chamar "slgnlff*
cante" à imagem acústica <
"significado" ao conceito.
r-í}
da associação do "-dgniflcante?
do "significado" oue resulM
o -signo".
De acordo com Dâmaso Alom
so, podemos chegai' à conclusãi
de que há duas linguagens «4
— a "forma exterior" n
poesia
a "forma interior". A primei
ra é o resultado da relação ei
"signií
tre "significante" e
cadoM na perspectiva do "slg
nlfleante" para o ". significado"
a segunda, o resultado da mi
ma relação na perspectiva
versa: do "significado" para
"slgnlficante".
Tendo em vista a '^ransfq
gntração'* da "circunstância"'-?
considerando a "eircunstàm
cia" como um "significado" -*
podemos dòser que a forma ..
poesia segundo a qual se pr<
oura anular a própria, "circur
tftncia" é "forma interior".
Ô "forma exterior" a forma
poesia em que a "eircunstân^
cia* prevalece em todo o seii
"significado". Será assim? Te«
remos nós que recusar o non*4
de poeta ao poeta que se enfy
"eireunxtância"
trega à
eni
da
sua " transiigura*
prcjulxo
çáo", uma vez que, cm verdade
a única forma legítima em poe»
sia 6 a 'forma interior?"
Não. E é fácil observar com*
não são os poetas
brasilelroi
mais presos ao "significanle*
que dispõem de uma forma poéfc
tica mais exterior. líá no Jor*
ge de Lima da "Invenção d*}
Orfeu" maiM exteriorirlade <l*
forma do que no Jorge de Lfy
ma dos "Poemas negros".
H
por que? Porque o poeta qu#
se empenha em transfigurar *
circunstância no
sentido
d*
abstração, sendo, por naturezei
mais eircunsttincial que abstrai
ta, fiea mais sujeito à "forma;
exterior" que o poeta todo etw
tregue à própria circunstancial
Digamos que a circunstância!
controla a forma, obrigando f
poeta a uma sobriedade impoao,
sívei desde que êle perde p<«|
completo o sentimento da re*M
lidade. A tendência "barroca^,
da poesia de língua portugu«ír<
sa exaspera-se,
refina-se, r«K
quinta-se, na medida em que «
disciplín»
poeta se liberta dá
da realidade, do freio da "cir*
ounstância".
Quando há tempos me ocup&fc
da poesia de Jorge de Lima, 114
do seu admirável poe*.
prefácio
ma "Invenção de Orfeu", tf**
oportunidade de abordar o pra-v
blema do barroco em arte. Dti
fehtre todos os escritores
<h*%
têm abordado este mesmo problema, só oe espanhóis parece*»
persuadidos de que o barroquisc;<
mo é uma manifestação estéüev.
de sentido romântico. Ora, rsniauttsmo, quando tomamos m
seu sentido mai«
pala\*ra no
fundo, é, precisamente o eon-r
trárlo de barroco, uma ver. qu«f
se considera romântico o morfmento do espirito em que et
Interior s*a impõe ao exterior,
em que a expressão se nubordina à emoção, em que • ele**
mento psíquico domina d ele-«,
Efetivamente.'
mente formai.
aqueles que estudam o barroca
de um ponto de vista mais oi» jetíro verificam que é barroc*^
(Conclui na 9.* pág.)
'LETRAS
Página
E
Domingo, 8-2-1953
ARTES
OS POEMAS DE DEOLINDO TAVARES
uma palsagcm interior, o poema
ESTILIZANDO
tanto mais vale, quanto
'- svTta cm nós o
prazer poéti« j. Vede bem que não digo
prazer èstétleb, o que seria outia coisa, muito embora saibamos que, entre os dois prazeres,
'
se ajusta um nexo que os con• h
KOPKE
BURLAMAQUI
C/1RL0S
«Ma para a realização do j>oeputa. Essa parlloulai i/ação
de
iambos, todavia, se faz ncccssábração intima dos seres e das
ria, porque existem poetas que ternas, c um ciclo completo que e cuspia no sereno vale onde coisas,
quando os juízos de va[moravam os simples,
»os induzem a ela, visto suas vai do princípio ao fim por uma
lor,
de uns o de outros,
acerca
«riações trazerem a ascenden- série de momentos de criação, onde morriam os simples.
devessem
criar
o traumatismo
dos quais o mais elementar já Da base, incontáveis olhos con«Ia de um prazer sobre o oudo
pensamento
poético — queé especificamente de artista",
[tcmplavam a sua beleza,
iro. Na Inglaterra, Edith Sitro
crer
tenha
o único desido
indiferença;
jio-Io diz o crítico e esteta por- a sua força c a sua
•reli, decana da poesia inglesa;
sejo
desse
nada
o
pernambucano
para
comovia,
lugués, Adolfo Casais Monteiro mas
tem Portugal, Sá Carneiro, são
foi
a
uma
sempre
súbito
nascimento
quem
poesia
o
nem
mesmo
("De pés fincados na terra",
exemplos de como pode haver
necessidade
vital.
Em
estrela,
uma
poucos
[de
«o artista a» conjugação desses p. 20-21).
Séries de momentos de cria- nem mesmo a plumagem dos poetas moços foi-me dado en(prazeres, ambos subsistindo com
[condores contrar, como em Deolindo, pacão,
como se nos apresentam os
a mesma intensidade de valo
Tavares, que esvoaçavam em torno da lavras que, não obstante cotires íntimos c expressivos. Aqui, poemas de Deolindo
dianas*, em pleno estado ctimo[sua coroa.
poemas que a generosidade de
'*Lnz
jno Brasil, Raul de Leoni, em Gilberto
e
nu
triste,
lógico, tenham raízes na autenmiseramente
Um
dia,
Frcyre, Murilo Mendes
Mediterrânea",
Cecília
ticidade de uma Vida e de um
vale
onde
"Meireles, em "Viagem", Périe Manuel Bandeira conseguiu êle desceu ao sereno
Em poucos poetas mocaráter.
os
simples,
livro!
O
recolher c ordenar cm
[moravam
«eles Eugênio da Silva Ramos,
"Lamentação
repito:
num Domingos Caros
morriam,
simples.
em
morto
onde
ços,
em
poeta pernambucano,
Floral", co"pari
da
num Afránio Zuvalho
o
alto,
Silva,
olhando
servir
E
vem
mocidade,
pamimgam,
para
plena
passu", nesse
reinava*
Bucno
de Rivera e
colloto,
num
em
seu
lugar
de
viu
tese
ilustrar
a
ra
pode
que
que
fluasc
fundamental
problema
"da
[um homem em alguns mais... Pois, na leiconjugação de tais prazeres, haver disjunção entre prazer
«a qual o estado de contemplapoético e prazer estético. Seus que tinba na fronte e no flieito tura dos poemas de Deolindo, o
humano dos seus
«ção encontra seu pleno triunfo
[uma estréia movimento
poemas plasmam cm nós um
no
e
era
um
estado receptivo,
poeta". ("Poema ao juízos, das suas revoltas, das
qual proDna medida cm que o poeta dosuas adesões não perde sequer
curamos retraitf-nos às suges- homem de muita glória").
iniría as dificuldades técnicas.
formal,
um elo de homogeneidade intedo
quase
toes
Certos poetas, como é o caso do
processo
Como se vê, a simplicidade, rior, marcando até um sentido
iltosso Vinícius de Morais, apre- ausente. A simplicidade, cm aidêsse
sentam uni destino amadureci- guns desses poemas, chega a aí, é tangível. E tangível, tam- precoce nas concepções
ser primária, mas, se atentar- bém, o prazer poético que se artista. Nenhum cerebralismo
do, porque ajustam aos seus csmos em que ela se acha presen- evoia do poema, no qual os valados contemplativos uma forperturba a unidade dos temas,
claros pensa- lores expressivos já estão con- o fio condutor que leva o arma duradoura e luminosa, que te para tornar
(enfrenta os arremessos das esmentos e conflitos de vida, ve- tidos no pensamento que, à tista a ser uno consigo mesmo.
>*éijV.!<5 inovadoras, e as sobreremos que o poeta, cm lhe dan- primeira vista, parece cursívo,
Somente ecos de Inquietude em
enobrece
todavia
se
senão
fez
não
do
prosaico,
tais
preferência,
a>as-?:'.
poemas, mas de uma inimagens
e
do
das
ao
das
sugestões
o
prapoético
prazer
preferir
quietude serena, de onde resO que se requer ao poeta é
com
o
de
conceptívo
esquema
o
desejo
.Talvez
zer
que
estético.
a consciência do homem
salta
atividade e fixação verbal, <>
o
mundo.
volta
aluse
a
ordem
de
c
clareza,
para
nesse artista:
houve
que
poeta
que
é"
o
mesmo
que
que se dizer:
fizesse Essa economia léxica, essá audimos
anteriormente,
um", síntese de espiritualidade
"A beleza nasceu com o sofrisemânticos da
* d? materialidade. Assim, o parte do processo de Deolindo sência denãoplanos
desmerecem os poepoeta per- palavra
[mento em teu rosto
Hprazer estético, em tais poetas, Tavares. O jovem
Deolindo,
antes
lhe
mas
de
dão
nesse
nambucano,
frase musical
uma
como
particular,
festa sempre relacionado, funmatiz
humildade,
certo
de
cerimpor,
como
é
não
em
solo estranho.
preoeuquis
perdida
«ioiialmcntc, com a personalíIdade de quem o cria. Quando pação de todo poeta novo, no ta delicadeza, certa serenidade Metade do mundo que te olha
no dizer de Edwin nas quais os estados internos nele sente a grande indiferença
|0| poeta concretiza uma proje- momento,
idioma
Muir,
um
universal. Mas do poeta e sua alma essencial[de Deus.
íÇão íntima num valor expressi¦vo, veia-se nessa elaboração, empregou a perfeita simplicida- mente edificante aparecem des- Às vezes, quando despertas
mcrâ'.iica ou volitiva, o senso de na qual a poesia se engof- pojados da anuência de um fal- e corres a te mirar no cinzento
fa, abrindo caminho entre os so hermetismo, o mesmo falso
[espelho de tua parede,
estoico da matéria, pela imdo
hermetísmo
temas
circunstanciais
tem
tornado
nele
floresta virgem,
vês
uma
poeta:
que
ppr.íància
que o artista dá à
irrisória
da
misterioso
ou inquieto
grande
parte
poesia
vc-:¦! 'íuie apreendida. Uma linjardim
"No cimo do monte êle era rei dos nossos dias. Perceber a vi[mar.
adequada
às
visões
guaíem
do
artista é o que se pede a este,
multo embora, consoante o que pit,i. "t...!!"**z*"i«it**irT,iz*"'***********-----"-- ~!**"**l'.'-*""'''" *"•"*—***^'"~~*T!,**rz*!r'r*!rz._,ííí««¦ sszss««.znzsss.1
¦'.'¦¦¦«."'E
ex:\^imos acima, nem todos os
artistas dispõem desse poder ou
de:; ^ consciência estética.
A
angústia do poeta, relativa
à
apreensão do sentido dos seres
« cias coisas; a angústia do poejta que não se vê, intcgralmenpfce, no objeto contemplado — eis
a problemática que se levanta
par;-, a psicologia do artista, o
qual .sente a efemeridade ou a
jetes nkiade de sua obra, confor«me o que essa angústia pode re"momentaneamente
fVelav-. O
da
que nos fala Middlcpino",
*on Murry, ao qual nos transformamos, ao toque da cxperSência poética, tem origem «csm angústia ou, propriamente,
fá-la derivar-se de si mesmo,
com o fim de marcar o essenciai destino da natureza ão bomem que há no artista e a gètiese psicológica de sua expressão. Entretanto, convenhamos
iem que, a par desses artistas
que partem à aventura, e constroem as suas fórmulas correspondentes, subsistem os que se
aventura,
japiicam, apenas, à
conquanto neles permaneça líin
desejo de ordem e de clareza.
O exclusivamente poético é o
«me lhes interessa, ou faz revêSarem a íorça lírica que acumudentro de si mesmos. Há
Iam "Residência
em,
en ia tierra"
«m verso do chileno Neruda que
intuí, evoca c expressa o valor
representativo
dessa força líri*a: "Ay, que Io que soy siga
jexistiendo, y cesanclo de exisWr", pois a existência do poeta
arrosta, em seu interior, toda
«ma série de determinantes, tòida uma permanente vigília em
tomo da natureza das coisas.
A existência do poeta é como o
tidos platônico: forma bela em
Si mesma c causa da beleza nas
«coisas, ou melhor: contém, ao
gtiesmo tempo, o êxtase espiriitual da pluralidade ienomênica
le as projeções existenciais do
iartista. "A ação do artista, cm
ârelaeão ao mundo, à vida, a tô"Rubanjat",
£das as realidades internas e es-
Ilustração para o
de Ornar
Khayyari
—
EDMUND
SÚLLI.VAN
Acredita que somente os mere[cidOS sofrimentos.
as feridas mais profundas,
e o pranto cm teus olhos
por onde escorrem lágrimas ver[molhas
te ensinarão que neste inferno
[de mundo
nada subsiste,
que tudo se destruiu em prin[cíplo
que tudo ressurgiu da própria
[destruição
também assim desaparecerá um
[dia
a beleza que nasceu com o so[frimento em teu rosto
como uma brevíssima frase muperdida cm solo estranho".
("O poema da misteriosa face").
4
São, ao todo, 69 poemas cujo
movimento temático é circunstancial, no conceito goethiano da
expressão. A maior parte: enraizados num recolhimento me- Mfc
ditativo. Procura, então, o poeta vencer suas limitações humanas com o próprio potencial
de vida que sente nos seres e
nas coisas. Daí a razão do eicio de Willi Pompou (12 poemas), em que campeia um humor sem fel ou retratação. Viria, agora, a bom talho, uma
referência ao humor de Dcolindo, latente ou
manifesto em
grande parte de seus poemas,
principalmente em "TestamentoM. Assim, a atividade artística do poeta pernambucano or£gínou-se-Ihe na compleição afetiva, pois, por intermédio dos
seus temas, é que vemos como
se fez submergir, generosamente, na alma das coisas. Nestas,
como uma caixa de ressonância,
está todo o espírito do artista.
Se relacionarmos i o caráter do
homem com o caráter de suas
criações, sentiremos fluir entre
esses poemas, amargos mas insuspeitos tíe exibicionismo, uma
linfa que, muitas vezes, pode
oferecer-nos uma golfada
de
céu. Nas ocasiões., em que sua
poesia tenta mais energicamente entrar cm nós, ou tenta achar
as linhas enganadoras da vida,
lemos, para nosso consolo e autenticidade, o poema,
abaixo
transcrito,
que expressa um
tempo sem memória, poema no
qual encontramos, verdadeiraJk
mente, o sentido da poesia de
Deolindo Tavares;
'¦ Atravessarei o tempo, vencerei
[a distância
minhas
mãos
voltem a
para que
[repousar nas tuas
e minha cabeça descanse no teu
a
[seio
onde minhas dores depositarei.
As palavras de tuas preces
serão um ímã que me fará re[gressar a íí.
Verás então como os dias e as
[noites
se impregnaram nas minhas
[faces
e como meu espírito não se 15[bertou da angústia secular;
saberás pelas minhas palavras,
as palavras que pronunciei para
[outros ouvidos
semnre presente em teu espírito
pela mágica de meu pensamento.
E nas pupilas de meus olhos,
encontrarás paisagens e pers[pectivas multiformes;
e na poeira de meus sapatosos caminhos tortuosos que yen[ceram os < meus pés.
Tuas lágrimas serão a minha
[remissão,
a remissão dos meus erros e de
meus desvios;
e teus lábios pronunciando pa[lavras de júbilo,
e tua voz soando na minha vou;,
e meu corpo, meu espirito e
[meus sentidos
se reintegrarão neste instante
[na tua memória para a éter[nldade.
E seremos dois astros gêmeos
aproximando faces esquecidas
li percorrendo trajetórias infl-
Enitas*.
Tf
Domingo,
\
r
L i: T R A S
8-2-1953
A RIOS PontW pertença
a uma família de espíritos
(^
-¦>" não mui(o comuns, entre
nós: v dos freqüentadores da BibliotflCO Nacional, dos velhos livro. dos apaixonados da pesquiso histórica G erudita. £ uma otividade tão ingrata quanto sedutorc; c sedutora, principalmente,
nc medida do desinteresso que a
norteia. Depois de realizar certos
pesquisas, cm que se achavo vivãmente empenhado, Capistrano
muitas
abandonava,
dc Abreu
com
obtidas
veios, os notas
gronrlc esforço c fadiga sem utio
que
lixá-las num estudo. E'
de
a
volúpia
direi,
prazer, quase
haver esclarecido um ponto conrroverso c atingir o verdade, basíava para satisfazê-lo o dar-lhe
aor bem pago o trabalho.
deva
Nào me parece que se
:hegar a tanto; mas num ambi;nte como o nosso, em que a
pesquisa erudita dispõe dc um
púbüco tão reduzido, capaz de
em
valorizá-la, como aplicar-se
sendo
iniciativas desse gênero,
animadas de uma paixão que as
leve a bastar-sc a si mesmas?
de
Carlos
Diante deste livro
"Motivos
e AproximaPontes,
ora
publicado, fico a penções",
jar na soma dc trabalho, de leiruro, dc coleções de jornais re/olvidas, de manuscritos monuteodos, que se encontra por dctrás de cada ensaio de quatro ou
cinco paginas, muitos vezes. Não
desinteresse
fera a chama do
decerto
cultural a insuflá-lo e
a tão
se
entregaria
nunca
d autor
exaustiva tarefa.
Mas há um momento que pa— c digo isto,
3a toda a pena
:om experiência própria, porque
smboía humilde, sou o oficial do
mesmo ofício — é aquele em
que íocamos no ponto ainda não
rocedo por ninguem. e podemos
distinguir, afinal, o que ninguem
distinguiu, resolvendo as dúvidas
selecionando o problema. A sabastar-nos,
hisfação moral deve
em
menos
parte, porque o
pelo
resultado material que nos pode
advir da conquista é gerolmente
bem mesquinho.
Quantas vezes um artigo, fruto de tão demoradas pesquisas,
meio
possa despercebido, num
E -¦ rA R T E S
Página
UMA ATIVIDADE INGRATA K AFAIXONANTE
(SOBRE O LIVRO "MOTIVOS E APROXIMAÇÕES,
BRITO
como o nosso em que quase ninguém lê, principalmente, coisas
serias! Não fora a
compensação
moral, esse prazer visto quase como uma ingenuidade pelos que
estão dc fora. c decerto ninguem
se abalançaria o trabalhos
do
"Motivos
dc
Aproximoc
gênero
ções".
Cumpre assinalar, no entanto,
£' indiscutiuma circunstância.
vel que, muitas vezes, o pouco
interesse do nosso público pelos
ensaios dc pesquisa e erudição
resulta da má apresentação dada
Infelizmente,
a esses trabalhos.
uma boa parte dos ouc entre nós
se dedicam a semelhante atividade, não sabe utilizar-se com incolhido;
teligencia do material
numa palavra, são pesquisadores
mas não escritores. O que emprestava, por exemplo, o maior
interesse à obra dc erudição dc
João Ribeiro era a graça, a ciogáncia, a clareia com que êle
so valia de elementos respigados
cocm livros que pouco gente
nhecia; para realizar uma retificação histórica, um exercício dc
uma
literatura comparada ou
simples vulgarização de conhecimentos. As mesmas
qualidades
possuía um Medeiros e Albuquerque; este, sem o caráter de pesquisador, antes como um leitor
capaz de servir-ie odmiravclmcnte do que lia: bem menos culto
e, porém mais escritor do
que
João Ribeiro.
Carlos Pontes é dos que sabem
fabricar os tijolos e com a mesma perícia construir a casa. Nos
havia
seus ensaios (como
já
acontecido na bíogrofca de Tavares Bastos) encontramos a marca do escritor preciso e escorreito, que sem fazer cencessões ao
DE
CARLOS
PONTES)
HROCA
pitoresco, ao sosto do romanecado, hoje tão em voga, recorre a
uma formo agradável, não propriamente leve, mas lambem noda áspera ou pesada
Ensaios dc pesquisa, poderiam
ser classificados com exatidão os
desse livro
Não se trata no caso
dc debater idéias ou princípios,
.dc realizar uma aventura intelecrual, como se dá com outros generos dc ensaios. Aqui a arte
toda está na maneira de expor o
resultado dc uma investigação,
tirando dela algumas conclusões,
erro,
que venham corrigir um
oferecer sugestões ou esclarecimentos para a melhor compreensão dc pontos da história política, sociológica ou literária. E' o
"peque os franceses chamem de
tite Mstoirc", aqueta que
não
cogitj dos largos afrescos. das
grandes sínteses, das vastas panoromizações, preferindo trabalhar nos detalhes, na busca dos
"dessous",
dos pequenos elementos, -sem os quois não se pode.
entretanto, dar a última demão
às grandes telas. Não precisarei
lembrar os nomes dos que, durante algum tempo,
usaram,
deformaram
o
abusaram c
geneda
ro, entre nós, praticando-o
maneira mais atabalhoada, superficiol e leviana. . Carlos Pontes distancio-se muito deles, na
integridade do seu trabalho probo e honesto.
"motivos" de história
São os
que
político,
geralmente, os
mais a atraem. No prefacio, Hermes Lima indica o autor, como
uma das pessoas mais qualificadas para escrever a nossa histoEstamos
de
ria republicana.
de
acordo eom o alvitre, certo
"Tavares Basaue o biografo de
>.'
f
tos" se vier a realizar esse trabalho. pelo qual todos ansiámos,
não se deixará levar pela superestimação do fotor poiítico, como
aconteceu
com os historiadores
do Impcrio.
Entre os capítulos mais interessantes de "Motivos e Aproxiinações" destacarei o que denun"fontes
cia os
c as incertezas" do
admirável ensaio de Euclides da
"Da
Cunha
Independência à República". Um dos meus amigos,
homem de talento, mas um tanto arrebatado nos
julgamentos,
dizia de Euclides da Cunha que
se tratava de um analfabeto de
gênio. Os fanáticos do autor dc
"Os
Sertões" ficariam indignados.
Mas se houve lamentável oxcesso no julgamento, a verdade c
que Euclides da Cunha não realixava o tipo do erudito, do que
vai diretamente às fontes, rejeitando conhecimentos de segunda mão. Sabe-se o papel desempenhado pelo seu grande amigo
Francisco Escobar na elaboração
"Os
de
Sertões". Foi
Escobar
forneceu
os livros de que
quem
Euclides necessitava,
acresecnfando-lhe possivelmente esclarecimentos sobre roteiros a seguir,
êle que lhe traduziu o latim da
"Flora"
de Martins, eontribuindo assim para o arcabouço, do
grande livro. Mesmo o temperamento dc Euclides me parece demasiado emotivo e inquieto para ter podido comportar longos
Era êle
trabalhos de pesquisa.
"mágico"
do que promais um
E
que
priamente um lógico.
"mágico?" Nos temas de historia
e sociologia agiria antes pela infuição — poderosa e alerta —«
crítica
do artista do que pela
FerGugliermo
erudita. Quando
rero aqui esteve em 1907, pro»
ferindo conferências no Monroo,
Euclides, cm carto a um amigo,
confcssa-se, verdadeiramente docepcionado
com o autor
do
"Ciandcto
o Decadência dos Romanos"; mos nòo se pode sabor
'tor
so foi por lhe
conhocimon«
tos históricor . bem aprecialo, ou porqu
talando para um
público em pbrto mundano (essas
conferências constituíram grande
oxito social) Fcrrcro se colocasso
num certo nivcl dc supcrficiali'*
dade copaz dc causar má impres*
não a um espírito como o dc Eu*
clld.es.
Outro capitulo curioso c o que
se refere aos erros do
Jacques
Brasil
no livro
Banvillc sobre o
"Les Dictatours". Aliás, trota-sa
de uma das obras mais fracas
"His«
"Nopoleón"
e
do autor de
toira dc France", na qual êle fec
vulgarização/
mais trabalho dc
espírito intcrprctattvo
o
som
apaixonado, c apesar dc tudo, tão
inteligente dos livros anteriores.
O
Infelizmente, os erros sobre
Brasil têm constituído até hoje
quase uma regra cm historiada*
res franceses. O próprio Seigno»
bos, tão meticuloso, neles inci-*
diu.
"O
Confcitciro e O
No estudo
Leiloeiro", alude Carlos Pontes a
uma dos passagens mais inferessantes do romance dc Machado
"Esau
e Jaeob", no qual
de Assis,
vemos um negociante, atrapalhado com a mudança do letreiro de
sua confeitaria, ante a proclama*
disção da República. Já se quis
tínguir nesse episódio admirável
de humorismo, uma crítica fero*
à falta de convicções políticos do
brasileiro. O problema angustioso do personagem dc Machado
de Assis é a necessidade ác ficar bem com quem estiver de eicoma
ma e procede êlo assim,
bom negociante fiel òs convenioncias do seu negocio.
"Um discurso db
Na capítulo
Luis Delfino", Carlos Pontes nos
teriam
mostra os motivos que
concorrido para que Silvio Rome»
arrastado
ro, depois de haver
amar*
da
rua
Delfino
Luis
pela
cm
depois,
viesse
gurci cm 1885,
1900, considerá-lo o maior poe*
(Conclui na 10.a pág.)
o NETO
' E MEU FARO DE CAO PERDE O TEU RASTO.
VOU-ME ESTIRAR NO PÓ, VOU-ME ESQUECER
SOB O BORRIFO SEDANTE DA MADORNA
DÊSfE MALOGRO EMPÓS FURTIVA CAÇA
É TROTE A NOITE COM SEUS CASCOS NEGROS
E RODE O TEMPO O SEU SALOBRE RIO
SOBRE O MEU FUTURO CORPO INACORDADO,
MAS. SEM TORNAR SEQUER O ROSTO INVISO
QUE, DECERTO, ESCARNECE DO MEU FADO,
NA CAMPINA TE SOMES EXTRAVIADA
O
S w À
L
D
NO
i
i.
¦•¦:'¦*
Vânheta d© SANTA ROSA
Ô VIDA BREVE! A T! ESTENDO OS BRAÇOS
E SIGO, O LÁBIO TRÊMULO, PEDINCHANDO
UM SOBEJO DE TI. FIAPO MÍSERO
DO LEVE PANO QUE TE ESCOLTA O PASSO.
1
.-
1
tü5
3
MARQUES
-¦
w
¦*.;;.'
fe#.
:>
ir--.-".;-
4 •;:;:'
:r ..'•
minha fraque— ou coreIntulcional
sa
mesma —
na
CONIESSO
bral, que dá
para decifrar o código de oerIas poesias secretas e sentir rltmos, sonoridade ou mera sugeslio de palavras onde, para mim,
antes havia qulctude, cacofatons
musicais e ambigüidades adapmais
laveis a temperamentos
Sou
por
m menos exaltados.
redeficiência
essa
dlaer que
«alta, primeiramente, da rir«anstôncia de nunca ter conaeguido "armar" um evrso e,
em segundo lugar, do condidonnmento, que sofri, de BHac,
Vicente de Carvalho e Raymundo Corrêa,, traves-mestras da
em
poesia nacional ao tempo
«ne ainda não se emprestava
rapilal Importância ao futebol.
Fura minha vergonha, confesso
;«als que, em matéria de moem
Üernismo, fiquei parado
"Vamos
«Martim Cererêr e em
Daí para
«açar papagaios".
só«
por um
frente, temo que
trabalho lento de readaptação
poderia encontrar, novamente,
» grandioso Cassiano Ricardo.
Acontece, porém, que já estou
bem velhinho para tal experiléncia. E' por isto, de certo, que
apreciável da atual
¦ni monte"poética
me passa em
produção
branco exatamente como os
enigmas pitorescos, coisa para a
disposição,
l«al nunca senti
deuses
que é
os
faro por todos
a#enas incapacidade para sen43.
tempo
Tanto
quanto viSETEMBRO,
ve um homem há semum veneno que nfto
elimina jamais. Qualquer
rnele
seja a morte, todos os hoEteeus morrem envenenados.
O cristão, o homem religio*
a despeito das aparência^
menos
capaz de meditar sobre
r,
morte
física. Muitas noçõea
j*
m interpõem entre o «eu pen-,
lamento e o "não ser". Fava
v Cristão meditar sobre a. moré pensar naquilo que não é
te"'^rte.
%:
V
&
{0t preciso ter da religião e
jHthecimento que o peixe tem
.Ho oeeano. Nestes últimos dias
w a venho -considerando das
'«wgens. Mergulhar nela.
Uautubro de 43.
banhado por
ffiftla dourado,
toso luz que, o gênio humano
Naou (Ver Meer; Claude Lorain
Corot). Como Deus está sepatado dos acontecimentos.
Eu
Jrivo no centro de uma amea-'
9a vaga, sufocante. E^ssa nuvem
de que não se sabe se sairá o
[falo. Estas épocas da história
*r» que. precisamos não deitar
*n nosso leito.
Lembro-me com delicia daem
jueles dias de angustia,
bairros
«ue eu errava pelos
desconhecidos de Paris,
<• que «fe resta da vida é con-*
jMgrado ao combate espiritual.
/JViver em presença da morte,
inão da morte cristã, que não
me preocupa —¦ mas do desaipareclmento, da extinção daquiSo em que aplico tão desajeitatolamente o pensamento. Tomar
fesse tempo de vida às escondi{fias, como um retiro preparatóTio paia a morte, a mais nua, ai
suais desconhecida, tanto quanto para uma velhice apaixoÚ3L.
' Ignoro se nossa angustia em
yS943 difere muito daquela do
chamem das cavernas. Em cada
E
LET R'AS
Página — 4
rART ES
Domingo, 8-2-1953
PAULO CÉSAR, POETA
HEREDITÁRIO
DAVID
w-la, ou talvez idiossincrasia da
idade por certos avanços que se
pretende fazer em nome de uma
renovação que talvez até se processe com toda normalidade —¦
assim, pelo menos, parecerá às
gerações futuras —¦ porém que,
no momento, me desacomqda
de velhos hábitos. Não se trata de reação. Tanto assim é que
serei Incapaz de negar utilidade a esse movimento subversivo
de revitalização de uma arte em
decadência. Demais, em todas
as épocas existiram revoltosos
da forma estática. Uma espécie
de Mario de Andrade, no século
XVI, foi Theophile de Vlan, que
berrava a plenos pulmões: "II
E
faut écrire à Ia moderne"
mais isto aqui: "La règlc me
déplait". E também conheço a
Gaspar
interrogação de João
Simões no proêmio à metafísica
"Invenção de Orfeu": "Que seria da poesia, contudo, se a poeiria desistisse dessa espécie de
ambigüidade fundamental que
á torna como que um véu lan-
'ANTUNES
para êle. O que Importa acv
tuar é que a leitura dos seus
poemas não demanda esforço,
do
assim como a penetração
seu significado prescinde bem
de qualquer ginástica mental ou
de imaginação supranormal.
extraídos . do
Muitos parecem
nosso Inconsciente pela magia
do próprio autor, tão à hora
manifestam sentimentos até aí
encobertos, incertos ou nebulosos. Mas bastou o toque do arOs
tista para nô-los aelarar.
das
lampejos
pensamento,
impressões e —s reminiscênoias,
nem sempre nítidas, no homem
comum, reclamam do poeta, homem incomum, a fixidez de
Nós
imagens condensadoras.
sentimos coisas inexprimíveis.
O poeta é aquele que logra detê-las numa forma estável.
Paulo César, esse poeta hereditário — filho de Júlio César
da Silva e sobrinho de Franclsca JuIIb, para eitar apenas dois
nemes esculpidos em alto relêto nas páginas mais expressivas
çado sobre as formas demasiado
mundo?" Agora
claros deste
o vulgo enconque
percebo por
tra na poesia tanta analogia
com o idiotlsmo e vê no poeta
apenas um homem que age e
pensa de trás para diante. Está
certo o crítico. Mas custaria
muito aos continuadores dos corlfeus de ZZ fabricarem um véu
mais diáfano?
' Conhecendo Paulo César da
Silva pelo direito e pelo avesso,
eu poderia dizer que lhe senti a
mensagem poética mais do que
outro qualquer poeta. K, comodamente, lhe teria feito o elo"Senhora do
gio completo de
Mar". Seria dizer pouco, porque outros já o disseram, que
os seus versos revelam um fino
temperamento, que os seus versos são muito sentidos e pessoais, que nos seus versos há
ternura, música e profundeza.
Demais, sendo amigo do poeta,
qualquer elogio levará o selo da
das
suspeição, inconveniência
maiores, para mim tanto como
e duradouras da literatura paulista — herdou toda a angústia
ancestral, que decorre da próprla condição criada pela arte,
convci tendo-a em matéria prima da sua poesia. Há, em PauIo César, um vácuo permanente,
a que êle dá o nome de "instabilldade do espírito*' e que len(V.
ta inutilmente preencher
"Noturno", por ex.) O vácuo
é aquele desespero em que o
"eu" sente o próprio nada, mera parasita, que é do tempo,
quando o poeta aspira ao temnorai •
Com vida Interior muito intensa, Paulo sofreu e sofre muito. O .sofrimento parece deixar
sempre na sua alma uma segunda Impressão, como duplicata
em carbono, para as reminiseências dolorosas que renova em
solidão, melancolia, amargura e
saudade.
A tortura humana está disseminada em todo o livro. Existe, de fato, uma eoroa de espinho no coração de Paulo César.
As veies, quer disfarçar, mas
disfarça mal, os sentimentos
com uns longes de mordacidade
que nunca dobram a primeira
esquina da memória; morrem de
canseira antes de tempo. Que
obsessão é essa pelo mar? O mar
simboliza o Infinito. Mas, nos
seus assomos de auto-defesa,
Paulo César se confessa ateu.
Que há, que há? Talvez uma
(Conclui na 10.* pág.)
<#,
¦f í-
M
esses
antigos e impensáveis
mistérios. Entre todas as promessas de eternidade recebidas
do Cristo, evitemos de por o
acento naquela que concerne ao
nosso desespero. O inferno é o
desespero eterno.
FRAGMENTOS DE UM
"DIÁRIO.-DA OCUPAÇÃO"
Dezembro, 43.
ERANÇOIS
metafísico
nesse
O risco
mundo mortífero de 1843, tenho por vezes a ilusão que não
existe mais; não se pedem conhumanidade erucifcas á uma"Não,
mas a ti que
ficada...
não estás crucificado — a ti,
apesar do teu desespero monstruosamente feliz, aconteça o
que acontecer ao resto dot
mundo.
MAURIAC*
Entre 1943 e 44, durante a ocupação alemã, fruiiçois Mauriac receando a
ação da Gestapo, na região de Vemars, onde ele se encontrava, chegou a permanecer oculto em pleno campo, durante muito tempo, numa cabana, onde a esposa
ia diariamente levar-lhe alimento. As paginas que abaixo seguem são fragmentos de um diário que Mauriac mantinha justamente nesse período de angustias
e aflições.
encruzilhada a mesma morte
nos espreita, a mesma morte
que o ameaçava. No plano me-
,i;
tafísico, nossa, vida não é mais
regulada, como a sua
pelas
fases da lua; não ligamos mais
^pÒÍv.'";
¦:'.''v;;v'(^Vv:
Fevereiro, 44
• nosso destino aos astros.
Mas, para nós cristãos o proMema dav salvação substituiu
¦.:y'f:-:':'t'"'.l
' ¦:iT.'-'^'
^
'<írj
*&-^~**' mr -w
> CAL SANDBURG NO SEU
75.° ANIVERSÁRIO
volume já foram publicados! OS VENCEDORES DO
em vários periódicos de cultu- CONCURSO ANUAL DA
ra, entre eles "The Southern ELLERY QUEEN'S
O famoso biógrafo de Lin- Review", "The New England MYSTERY MAGAZINE
"Yale Review",
coln foi agora homenageado '.Quarterly*',
Os vencedores do oitavo
"Kenyon
inúmeras
por
Review", etc.. Num concurso anual da Ellery
personalidades
literárias e artísticas nortedos seus artigos, diz P. O. Queen's Mystery Magazine foamericanas, por ocasião da Matthiessen, em "The Res- ram agora divulgados em Nopassagem de seu septuagési- ponsabilities of the Critic":
va Iorque. Dos cinqüenta e
"Continuo acreditando
mo quinto aniversário. Car])
que cinco laureados, treze são esSandburg é um dos escritores "a review" é simplesmente
. critores até agora inéditos. Os
mais importantes dos Estados uma pequena parte "of eri- prêmios totalizam quinze mil
Unidos, sendo sua extensa ticism", e que sua qualidade dólares, sendo o primeiro de
obra admh-ada também em está em relação
a seu autor dois mil,
eoube a Steve
outras partes do mundo, on- Isto eqüivale a uma declara- Fraaee —- que
sua história,
pela
de seu nome desfruta de igual ção de guerra a todos os aden- "My Brother Down There".
repercussão. Como parte daa dos literários noe quais não se Os segundos eolocados, com
comemorações que assinala- possa distinguir o que é erí- quinhentos dólares, foram:
ram seu 75.° aniversário, Carl tica e o que é propaganda". Stanley Ellin, com "The Be"Alwaye
Sandburg publicou
trayers"; Roy Vickers, com
"Miss Paisley's Cat"; A. H.
the young strangers", uma A VIDA DE SARMIENTO
autobiografia. Acredita-se, noj
Z. Carr. com "If a Body", e
entanto, que estas memórias1
A Prineeton University Press! Lilliam de Ia Torre, eom "The
serão desenvolvidas em ou- publicou uma biografia, em Stroke of Thirteen".
tros volumes.
inglês, do célebre lider argen- DOIS NOVOS
tino Domingo Faustino Sar- LANÇAMENTOS
AS RESPONSABILIDADES
"The Power Within",
miento (1811-1888).
de
DA CRÍTICA
O autor deste livro, William Alexander Cannon. Neste liBunkley, ex-proíessor
vro o autor reexamina certos
Com este título a Oxford) tente da Universidade aseisde
conceitos
psicológicos e filoUniversity Press lançou o li- Prineeton, examinou cerca de sófícos,
à
vro de P. o. Matthiessen, se= 15.000 cartas inéditas de Sar- investigaçõesluz das recentes
e descobertas.
lecionado por John Rackliffe. miento como contribuição a "Death
of
and
Intruder", de
Os ensaios aparecidos neste» esse estudo.
Nedra Tyre, Conto. — S. C.
íi.jihLL:.U;.i;tíVj::d;iiViVi'iUu!j!»í.í l.l.í.illliliii.
Morte de Jean Giraudoux.
Profunda emoção. Quase não
mas
tínhamos ligações;
há
trinta e cinco anos que os hoção se vêm viver uns aoít outros, o gráfico de cada destino
mens de uma mesma geração se vêem viver uns aos outros.
Outrora, por mais que fossemos sensíveis à conformidade
dou sofrimentos do Cristo com
as nossas penas particulares,
desesperávamos de nada sentir
que delas se aproximasse mesmo de longe. Hoje, muitos dentre nós limpam
esse escarro
a
face,
em
sobre
que a mão de
um policial deixou u'a marca
sangrenta. E seriamos mesmo
SeIsto,
tentados a dizer:
nhor, não chegastes a sofrei%
À vossa Paixão visível acrescentastes aquela a que nos submetemos hoje. Pois como róis
o Cordeiro de Deus,
pusestes
numa só agonia todas as lágrimas e todo o sangue que os
nossos irmãos vertem há, cineo anos.
Esse silêncio do Pai, que vos
arrancou o "Por que me abandonaste?", que neste mundo,
votado à morte, ainda repercate, vós o sabieis antecipadamente que a humanidade sofreria um dia, hão somente no
segredo dos destinos partículares, mas esmagando ele as naçõese raças inteiras, fi a prova das provas este vazio cavado pela vossa ausência aparen-i
íe neste .universo çrimjjiQso,,. JL
.tJilUÜiii.ii
~s«8
li
.Hliüiil
0't:'\
vM.-uv
t**»$F'-*a>&'&**í>
:JÂ
LETRAS
I Domingo, 8-2-1953
renasDRAMATURGO
John Lyly, que
D centlsta
mio passou à posteridade
'*
com seus dramas mitológicos, é
ho$e lembrado por um substantivo que se tornou universalmente conhecido na literatura
afetado
por designar um estilo
oide escrever, qual o que ao Meu—
o
tado autor atribuem
fuismo". Provém o vocábulo do
título de dois livros que publicou, o EUPHUES, ou ANATOe
MIA DO ESPIRITO (1579)
EUPHUES E SUA INGLATERRA (1580) em que Eupheus, a
figura central, toma o nome da
palavra grega que quer dizer
"de bom gosto", o que desde
logo empresta ao herói uma aura de espiritualidade * de refinamento denunciadora de um
sibaritismo fastidioso em desacôrdo ocm as experiências humanas que o autor lhe destina.
Posto que o termo esteja hoje
indissoluvelmente ligado ao tea^trólogo inglês, não é de sua invcnção, pois tomou-a de outro
autor contemporâneo, Ascham.
Nem mesmo o afetado estilo, de
que lhe dão paternidade histórica, é de sua criagão pois, segundo alguns escolásticòs já vinha sido empregado anteriormente. Lyly se propôs a fazer
do herói um paradigma de boas
maneiras, de moral ilibada e de
colocado
cultivado
intelecto
num plano de vida real e apon-
m
E
Página — 5
ARTES
VI
O "ENFUISMO" DE JOHN LYLY
A.
tar assim as experiências a que
êle se devia superpor, os preoalços que devia' dominar paia
atingir à perfeição colimada.
Um livro, ou melhor, livros de
preceito e teoria, escrito em ese
tilo original, mas pomposo
afetado em extremo em que os
devaneios da ficção entram para entreter e ilustrar um didados
tlcismo "magister dixit"
Em
escritores renascentistas.
que pese a gloria de Lyly'com
a arquitetura empolada do seu
"eufuismo", a originalidade na
obra que lhe valeu a fama repousa no fato de se ter devotado exclusivamente a agradar
as mulheres. Para colunar a
esse fim, meteu mãos à obra
de criar um estilo superfino, delicado e ao mesmo tempo sibilino que encantou a mundanidade feminina da época e caiu
em voga de tal maneira quo
"novo
passou a ser designado o
de
literatura
inglese". Essa
"boudoir" longe de edificar ou
instruir, atraia poderosamente
as mulheres por meio de engenhoso estilo de grande artificialismo e graça que lhes dava
a impressão de estarem sendo
cortejadas por um admirador
i*ll^ v liilllillllillllil
b
nuiH
lllllllH
P
«ffijW n i* i
CASÈMÍRÕ
DA
SILVA.
entusiasta. O "cufuisino" ou
"novo inglês" foi a coqueluche
da corte de EUzabeth e das elegantes renascentistas. A propria raihha foi fervorosa adepta da novidade, o que lhe valeu
historiador
ser apontada pelo
inglês K. Richard Green (18371888) "a mais afetada c de testavel das eufuistas". Um poeta francês contemporâneo chamou a Lyly o "raffincur" da
fala inglesa e outro panegirista compara-o a Cícero pela maneira com repeliu seu idioma.
Para atingir essa finalidade
Lyly procurou ser o mais afetado e exótico possível, usando de recursos até então desconhecidos em livros de ficção
ou outros como por exemplo o
emprego de símiles rebuscados
na zoologia mitolofica e na heraldica. A súmula da historia
dá Eupheus como um jovem
grego que vai correr mundo e é
posto à prova em experiências
de varia Natureza e retorna ao
lar triste, mas esclarecido e sabio. Ao autor não lhe importava o sediço da efabulação,
era-lhe capital o estilo pedante e original que lhe deu ura
nicho no coração das mulhe-
fl___B___H___.
^^ JW.
S ^sb^x
res. Para uns, os livros são um
simples pretexto para raorali*
zação e a seqüência da narrativa nada tem que atraia a
atenção do leitor como desdobramento de episódios novelescos encadeados; seus caracteres não palpitam de vida, mais
parecem autômatos, cujas reações não despertam nem simpatia nem apelam ao nosso senso
de humor. Nas suas extcrloridog/ações são sentenciosas,
máticas como convém a obras
desse teor, composta de dialogos, soliióquios C epístolas, onde o autor lhes dá contornos do
dureza didática, muito dlstante da maleabilidade c ligeireza
de água corrente dos romances medievais do período francês. Para outros o "eufuismo"
é um vadc-mecum do belo espinto, das boas maneiras, comespaparavel ao gongorismo
nhol. De resto, os críticos ingleses insistem no fato de se
ter inspirado Lyly nas epistoIas traduzidas para o inglês sob
o título de Golden Letters, do
de
monge espanhol Antônio
Gue vara- Si Lyly não foi bem
M
sucedido na modelagem de se«ff
caracteres, se suas jaçócs c lu*
cidentes pecam pela desariiculaçáo e não oferecem absorvêneia de interesse, si o esboço
de analise de sentimento não
sai da flor da pele embora fosse uma novidade na época, contudo êle reclama para os anais
da ficção inglesa o ter escrito
*
a primeira novela dirigida
mulher e inaugurada a literata*
ra de sala devisitas eom os re»
quisitos que éle lhe instilou do
favor finíssimo de um estilo
original que lhe franqueou ai
portas da posteridade. E por
ter assim inventado um estilo
novo de linguagem, que esteve
cm grande voga por mais de
cinqüenta anos, Lyly teve inumeros seguidores menores quo
souberam perpetuar sua maneira bizarra de escrever, que ins «•
pirou, pelos esculos afora, muitos Hedonistas com inclinação
para o sibilinísmo literário. K
o que me causa espanto é que
sendo o escritor um pioniero no
torneio da fraseologia calcada»
em figuras de retórica e s**
miles absurdos, pudesse, como
comentadores,,
os
asseveram
xa
criar um tal furor entre
mulheres elizabeteanas, de voa
que se supõe a cultura não tetr
sido uma das prendas doméítioas mais apreciadas na épo»
ca. Mas não é licito duviçU?
dos alfarrábios.
^^^HHII^^^^
-^v
.^^
UUU
wa
93
„:"5B;
-Ni
Vinheta de SANTA ROSA
um
numero
Composição
I
DO SANTO REZANDO
EM CRUCIFIXO
E AMOR,
O TEMPO SOLTA
O DERRADEIRO GRITO
DAS FLORES EMUDECIDAS.,
A FIGURA, RETORCIDA,
DESPEJA " *
O SEU ÓDIO NO MAR.,
E A PAISAGEM FALSA
RENOVA A PERSPECTIVA
DAS COISAS
(SEM NENHUMA FALSA
PERCEPÇÃO DE DEUSb
VAZIO POR FORA
O VASO PENETROU
NA ESTANTE PONTÜDA,
A VIRGEM ESVAZIOU .
O SEXO NO BOLSO
A
DO HOMEM FESTIVO.
A FACA PERMANECEU
SOBRE A MESA DESPÍDA
DE TODO PODER,
II
ENQUANTO O UVRO
CONTINUA FECHADO,
SEM OPORMENOR
Y
N A L D O
B
A
I
R
m
¦; i
¦..
Ã
O
*,
.*fl>^^
1ET R'AS
PáglAi — 6
A SECRETA
MENTIRA
HDALM1R
DA
CUNHA
devei' precipuo que se
TRADUÇÃO de "Wines- Esse
burg, Oliio", de Sher- impôs a si mesmo Sherwood
A
de estudar pessoas-,
wood Anderson, feita por Anderson,
"ver
a superfície das
sob
werde
Moacir
Jamet, Amado «
Olovistas",
neck de Castro (Editora
pode-se admitir que
. bo - 1950) • incluída na "Cole- representa a chave mágica en
"A contrada pelo artista,
para
ção Nobel" sob o titulo de
Secreta Mentira", coloca o lei- abrir o caminho da perfeição e
tor brasileiro em contato com tentar percorrê-lo com êxito,
um dos mais representativos Nessa capacidade de extroverescritores da literatura norte- ter-se, de saltar fora de si mesamericana contemporânea. mo para trilhar os sinuosos
faleceu e obscuros caminhos do íntimo
Sherwood Anderson
em 1941. Após a aua morte, das pessoas, está, possivelmenMrs. Anderson, dizem, leu, dia- te, a explicação para a densa
que se observa em
riamente, durante um ano, uma unidade
"Winesburg,
Ohio". Não é pos- carta
esposo.
diferente
do
dessa
conseqüência
em
sivel,
Sherwood Anderson
escrevera
.mtencomposição^e
de
unidade
365 cartas nos últimos anos de
sua existência, especialmente sidade substancial, ap^1™
dirigidas à esposai quando S°letftn^^.^!"10L
r^nnto
«Regram *° c™£*
pressentiu
que nãó duraria ?»»
muito temjx) e estava disposto d° * Y™.J*» * ™T< nurHe?
a aguardar a vMta da morte «¦ *^fS,deA£2? dnaU3Jf
com a mesma tranquüidade gflgdí T leftutf de Stos
wuicBours» *-""u
esperou-a, aoroveitamento do macomo a um amante que a liber- • °" _. A^ot«™ ^p rrfprerer
taria. Escrever cai-tas, contam xuno Çgitg 8ggg
aqueles que se tem ocupado da JTOsgg|6-±_íSS deT^volu
personalidade de Anderson, era te a e^™ ^Kf*. commoum dos imi hábitos insiibsti- me
capaciaa-extraordmaiia oS
tufvpüi Pxninrflvn «hiampnfa» var a SLJJSfJSíS.
todosfe^^ofbuef^SSK?' de de **** *» inter-relacionai',
d^S^So^ístoli^Sr^ habilmente, as histórias, dando
"£
ligência e, seguramente nesse »° ^AggJSgpyS
'í»r na Vlda • "*
™
mister, logrou acumular consi- <*«e
deravel
soma de observações Fande c;dad*V uni <madro ausobre a« pessoa» e a sua hu- tentlC0. dos caminhos cruzados
decriamana
condição,
oonseguindo ?« maisdeumavintona
'• . .Ia petaem
Winesburg
mesmo através de cartas, cons- turas
driUp ^S22J
truir a sua filosofia da com- * vJlte S&Mgjg;
de Piene
no
evidentemen- West-..",
posição artística, 'como
jhzer *
***serve
que
te bem pessoal,
o prova, Brodm,
do
contos
°"
™°s
Para
à sacie d a de,
W^esburg! foud
Ohio", qued^de a sua apa- hV££re5endendo e enriquecendo
nçao em 1919, constitui um £cnica do conto contemporegular ponto de Interesse pa- *âne i Anderson
confere mera todos que prezam a litera- n
descritivo
ao
importância
tura contemporânea dos Estaaprofundar-se
exterior,
para
dos Unidos
verticalidade,
máxima
a
com
Os traços
do 1M)
sw,redo
biográficos
do hodo
homem
d°
n^meií'
segIlS?,
Sherwood Anderson, um escrit°™
UtS_?"
dPinf
mem
tor pouco* conhecido no Brasil,
^5^?!
tiajetoconfirmam, sem dificuldade, a! reconhecendo-lhe «ma
e
buscando
melancólica
*»
existência de resquícios auto«Winesborg, naquela gente e nas coisas que
em
biográficos
¦
Ohio". A percepção do fato po- começavam a sentir os efeitos,
de ser corroborada por opiniões d0 mdustriahsmo em larga es-C_
de Anderson sAhre a arte de Gala> tudo ^ue ainda l'estava de
escrever, quando teve oportu- vida simples e poesia, poesia
nidade de advertir jovens es- concira e^ deliciosa, cujos inscritores para que dedicassem tantes' sao comunicados com
"seu tempo a estudai- pessoas austera compostura, inclusive
e não a fazer experiências e nos momentos idílicos, quer deforça
imaginar tramas"
Os contos monstram a inequívoca
"Surgir
norteescritor
desse
lírica
da vida real do
devem
"algo
Há
de fala) e fin- americano. Incluso no quadro
povo".
de seu
gido em fazer movimentar.-se dos escritores realistas Dickmrealistas
dos
que
pessoas imaginadas" Eis tudo Pa*s,
classifica no. período poste-^
que teria feito o jovem Andei-- son
a guerra de 14, Anderson
ric-r
son, muito antes de lançar-se
é
portador de um realismo mà tarefa de escrever, na sua eiterior
que difere do realismo
dade natal, participando viscede outros escritores do.
objetivo
ralmente da vida do lugar e
da dos seus habitantes/a ponto mesmo período de vários da
de sentirmos, em "Winesburg, posterior geração da. revolta,
Não há, no fato, um propósito
Ohio", os resultados da sua
incursão no mistério de Wines- de fuga. Anderson e um escri
burg e de sua curiosa gente, tor bem próximo do seu povo
incursão que possibilitou a sua e realizar um poderoso mural
integração, com o realismo li- da realidade, norte-americana,
terário, na sua melhor forma Os homens e mulheres, de todas
de transformação e transposi- as idades, que desfilam na paição do real para o plano artís- sagem de Winesburg, não são
tico, em oposição ao idealirmo fruto exclusivo da' rua imagidos
romântico ou ao realismo foto- nação. O comportamento
suas
asas
seus
personagens,
gráfico. O seu George "AWillard,
Águia pirações e reações, a sua atituo moço repórter de
nada conse- de em face do industrialismo
de Winesburg",
guiu, quando pretendeu fazer- da grande cidade què está disáubmetendo-se a tante mai se projeta no destino
se escritor
uma premeditada paixão por de Winesburg, são reflexos dp
Helen White, a desejada filha realidade
que decerto foi indo banqueiro, que lhe propor- tensamente sentida por Anderwonaría os elementos emocio- son, nos seus vários postos de
da£
de fazê-lo urdir observação do homem a
nais capazes
histórias revestidas de inconliterários. (Conclui n* 18.* pág.)
méritos
téstáveis
li<VWVV^VVW*A<>AA<yVVV>A<VVVV^WkA^A^^
Domingo, 8-2-1953 Domingo,
ARTES
IRMÃOS Mann e Jacob Wassermann são os
OStrês grandes romancista!!
alemães do período que vai de
1880 a 1914, os únieds que nesse período conseguiram uma
Thomas
européia.
reputação
Mann, depois de um livro de
novelas, com que se estreou,
seu grande romance
publicou
"Buddenbroks",
da
historia
de uma família
decadência
burguesa de Lubeck, no decurso de quatro gerações. Sobre
o arcabouço de uma velha cronica soube ele bordar um quadro amplo e vivo da vida burguesa nos meados do século
19, das causas de decadência
que se introduziram na prósperidade familiar e comercial
dos Buddenbrok, grandes negociantes de cereais quando os
contra golpes de acontecimentos políticos e exteriores (Revolução de 1848) se acrescentaram a casamentos imprudentes ou infelizes e uma espécie
de desencantamento intimo que
acompanha o refinamento da
cultura , a leitura de Shopenhauer e a influência dissolvente da, musica. O romance
muito longo, tem uma infinitraz
dade' de personagens e
da
leitor
do
presa a atenção
Hoprimeira á última pagina.
mens e mulheres, grandes- patrôes e crianças, vivem numa
serie de quadros de intenso colorido, tornando-se inesqueciveis para o leitor.
O mesmo se pode dizer da
maior parte das novelas do
Thomas Mahn, nas quais se.
a
encontra um tema único:
oposição entre a saúde burgueM e a decadência artística; a
aspiração do burguês solidana vida
mente estabelecido
material e a vida do pensamento, a embriaguez da arte; a
fragilidade do artista em cono vigor são mais
traste com
um tanto obtuso do grande
burguês.
Os
personagem
principais
doe romances e das novelas de
Thomas Mann pertencem ou a
um desses tipos ou a um tipo
hibrido e infelizz.
Assim acontece com os primeiros e os últimos Budden"Tonio Kroeger",
se
brok,
"Tristão". A
de
personagens
"Montanha
Mágica", gira ainda em torno do problema da
burguesia, cuja decadência se
manifesta inevitável e cuja desagregação libera um tipo superior, mas frágil de artista.
Mas nesse romance longo e
macisso o dom da vida, tão
frisanle em obras anteriores,
parece ter baixado algum tanto. O que se passa entre os hosna
pedes de um sanatório
e
vida
montanha, é menos
ação do que uma certa atividade discensiva, expressa em
intermináveis discussões.
Não há um problema da vida contemporânea — educação,
religião, política, questões soesporte,
ciência,
ciais, arte,
medicina, vida passional, etc.
— que não encontre seu lugar
nas palestras desses infatigáveis discursadores. Os personagens são vivos, mas inativos, a
paisagem por vezes impressionante, ma3 a necessidade de dizer tudo e de tudo explicai-, ou
antes, do autor se explicar sobre tudo, faz com que a forma
romanesca seja prejudicada. A
filosofia do autor transborda
dos quadros do romance, a
presença da morte torna-se ai
uma verdadeira obcessão.
"A
Outras novelas, como
Morte em Veneza" revelam aspestos mais amáveis do talenta
de Thomas Mann sem senti«-.
mmwmÊÊÊÊÊÊÊ&mm^mmm
HfwüJ
i
mmmmmwK^mÊ9^K^l^mmmÊ
I PÊllIIÍlf' *M
Bfv^Hl^^Hií[^_l
mmWÊ$9mmmmr mmmm
WÈÊÊÊÊÊKKÊÊmÈmmÊ
wrt**3
^^R*HB™"BMBi
\ ^__..
*^^^**"^*
I
li ri 1 W-a-w^ffHllwWBMlW
III lf\ U.'ajMtl!Mlwli_li_g-_lÍaBlHCT-Bta^
I I I Ii H7n
ImmTEmflf BM BrW
1,1 M iT_^^BaB^E-fôMffi_ÍH^HBre!3E^B^BgB
ssprTTTTTi
'Bi
í í LI
ffg|s«y[/|^-— —"^S^lvl
:
*^ÊÊ^=ÊSl|==£==iBÍ
Wsmmmm^mlmTÊZÍL
Kmh
^.^if^
"^^~^r^^^z._
^^^T^V
'¦
eevmann são de interesse mais
arqueológico e histórico, como
"Oristovam Colombo",
e "Alexandre na Babilônia". Não são
os melhores. Og melhores serão
naturalmente os romances psieológicos que se desenrolam quo
têm por pano de fundo um
quadro social, opondo a "rêverie" idealista e apaixonada
do indivíduo de elite, sua necessidade de expansão e liberdade 5 apatia, à intolerância e
ao materialismo obtuso dá socledade contemporânea. Numa
serie de quatro romances que
se desenrolam
entre 1870 e
1920, Wasserman quis abranger quase todos os problemas
de "préedepost-guerra". Seus
dois últimos romances "O processo Mauricius" e "Etzel Andergast" são talvez suas obras
a atividade desinteprimas:
ressada de um justiceiro jovem, esse combate acirrado
de um adolescente contra todo
o aparelho das leis e dos tribunais, sua vitoria final, e depois a inanidade desse vitoria,
a irremediável mediocridade da
vitima libertada, que não encontra outro emprego para a
liberdade do que ir atirar-se no
rio: tudo isso é de uma vida
pungente, de um encanto extremo e de um profundo amargor.
SlnSWl
mratfflff?
ji fQ»f M B_BM__^^__g_^j^5^^__^__BS^_a_SESMBSSBBBBag^^-B^B»B^
HGrto^
y^pMBHBl|BH^^B^^Bp^^^BspBBa^^HB|^^ '&v ^_^^^
aRTES
¦mmWMWWWÍMP?" 1__MM|__BagaMaMaaB^^^^H^^BaHa^^H^^_^B^^^_^^^^_B_«|_^^B«^^^^Ba
^¦
fmK^wfn^TWffliWifffnf^
l^^_
re;» ífcrastados do labor matea, e da intelegéncia invent-W continuidade da tradição
t.(
idade de inovação.
i Irmão Helnrich Mann,
m{
artista e mais versátil,
venus" servis, seus chefes ambiciosos e seu proletariado míseravel. Quando ele quer repousar da atividade de paníletário consola-se em pintar aigum ídilio sensual no mundo
cosmopolita da Cote d'Àzur ou
a vida de todos os dias de uifca
cidade italiana. Ou bem esne
escritor fecundo e hábil escreve
uma tragédia popular ou bem
nos
dá um romance calmo da
__Bp';/i- 7&&<^^^r*'5^m^ÊÍBm^mmm^mlA^m\
burguesia do século 19.
Bom
europeu, republicano da primeira e da ultima hora, autor de ensaios políticos muito
explícitos. Helnrich Mann estáva designado para ag perseguições do 3.° Reich què o baniu e acabou privando-o dos
direitos do cidadão.
Jacob Wassermann é um
grande romancista judeu e alemão. Tem ele a consciência de
sua dupla nacionalidade e aos
problemas especiais que ela estabelece. O problema
central
dos seus romances
é, quase
sempre, o conflito da justiça e
interesse,
juatiça e dessa
j do
"preguiça do dacoração"
que deixa perpretar-se a injustiça por
indolência è covardia. Sensível,
desde a sua primeira obra, eite
idealismo essencialmente judeu
obliterado
na historia
parece
de "Renata Puchs", romance
de emancipação feminina, do
"musíc-hall" e
do circo.
"Maloch"
Em
aparece pela
primeira vez com o personagem
THOMAS INil
do justiceiro fanático, que reaparecerá freqüentemente na
|ou por fazer alternar rosua obra ulterior. Foi porque
dia numa sei-ie de^ ensaios que
es de formulas matériaSeu
não houve no caminho do mispreenchem vários volumes.
"José
no
terioso menino mudo de Nuj|com pinturas voluptuopenúltimo romance
orilados da vida italia,remberg um coração heróico e
Egito", romance bíblico c arforte para tomar-lhe a defesa
queologico indica o desejo de 1 jft recc hesitar então ena e d'Anunzio, entre a . e reivindicar-lhe o direito que
tirar os olhos do presente e
ha de Guilherme II
retornar a um passado mitico,
a historia de Gaspar Hauser
evolução;
eternas
acabou
num obscuro assassinaa questões
"l^sel s professores pedandesis cortezãos e seus "parto. Alguns romances de Wasdas famílias e das raças, valo»
....
E
WASSERMANN
H
do da alma infantil e da vida
Procurou sempre ele
animal.
esclarecer, primeiro para Bi
mesmo, depois paia os leitores
seus pontos de vista sobre a
filosofia da vida ò a política do
B^BBBMWlWwWjMpWfflB^ffMPwWBWMWI^WI^W^
i
_T^^|^^^M^B
¦_¦
89?__E
mr
;
WM
BB
_Ja_._^_Mr
.§•:
8
m; o b
MANN
IRMÃOS
OS
tETRAS
8-2-1953
romancistas
Uma trindade
MIRANDA
mm? mmm% $P &»$*
E
j
^_U}* ¦ ¦ t "" T TíJl!
Bi£
R9
^^M^^Z~^—^^S^^^^^^Bm\
^JilltfHffinJrTttíE—'=-L -—-^^^^^^^^^BJ
—IÍIB--JJ^«-IB'il,f'TyJBFTFr^'rT~T~il111-1 —¦-—-»—-a-»-»
m'
ri
Vinheta
de LUIZ ABRAVA
f
—o
¦
í bsbbs ^^^^^^<w_^^7^^_^'^_^_5lLP%_^^'MãfPl
mmmmmmmmm
n n nn
POEMA DEI COETHE
"FREUDVOLL
ÜND
LEIDVOLL a
ALEGRE
E
TRISTE
»
FREUDVOLL
UND LEIDVOLL,
GEDANKENVOLL SEIN.
LANGEN
ÜND BANGEN
IN SGHWEBENDER PEIN
KIMMELHOCH JAUCHZEND,
ZUM TODE BETRUBT —
— GLÜCKLICH ALLEIN
IST DE SEELE, DIE LIEBT.
Tradução
.
,
*3
de
O
p*Bg_s_a
ER ALEGRE
RISTE
i
PENSATIVO, "
ER SAUDADE
TER MEDO
V
'ULTANDO
[UM DÚBIO TORMENTO/ V
DE ALEGRIA ATÉ O CÉU
AO MESMO TEMPO TRISTE COMO A MORTE
WZ E SOMENTE
ALMA QUE AMA
A
C
C
I
O
L
I
¦•
•
•
Página — 7
PREPARAÇÃO A
GRACILIANO RAMOS
\
*
HAROLDO
BRUNO
ideológica- cidade imaginativa
do
mente a obra de Dickens, çamento especulativo,queou a penadoSITUANDO
um crítico inglês se re- Ção da crítica estética defenfere à circunstância de ter ela dida contemporáneamente com
servido, sem distinção, às cor- mais ardor por André Gide e
rentes fundamentais do
que, para muitos, se confunde
mento filosófico dos fins pensado sé- com o impressionismo, em virculo XIX aos nossos dias. Pois tude da sua gratuidade. Mas
"Davíd Copper- esse impressionismo através do
o autor de
field" homem naturalmente de qual se logra captar a duração
convicções próprias e posição íntima da obra de arte é o que
definida, soube, porém, comuniinforma, quando vem compencar aos seus romances um ili- sado por uma maior agudeza
mitado conteúdo humano, den- intelectual, a verdadeira crítica
tro de uma perspectiva social interpretativa, nem professoral,
vasta, em que se harmonizam nem
irresponsavelmente dileou simplesmente perfilam-se tante; ao mesmo tempo analitradições, costumes e aspirações tica e reveladora. E para o seu
de uma época ..fixada com ai-- exercício parece imprescindível
dente espírito de universalismo, que o ferítico chegue à obra,
Embora quase tudo, e muito elegida sem giande resistência
especialmente esse universalis- e aparato mental, entregando- >
mo romântico de que resultava se a ela para gozá-la com a ^
em boa parte o sentido ingê- espoutaiiaidâde do leitor, e manuamente otimista do romance nife 'indo os juízos ou idéias
dickensiano, separe dele a obra apenas tendo em vista sua
de Graciliano Ramos, construi- consciência artística, seu senso
da sob a inspiração mais rigo- inato de observação, sua experosa do realismo objetivo, esse riência acumulada
anteriorromancista brasileiro faz invo- mente. Afinal de contas, será
car, por um aspecto, a mesma mesmo essa experiência o que
controvérsia de interpretação, vai distinguir sua concepção do
que é o clima natural dos gran- simples impressionismo, e dandes criadores.
^ aos
prinoípios racionais do
em°uSSa^mo8 SSTwS **»»»*>
uraa
""«"-*
mais, são assim: múltiplos e até caPaz de apreender a transição
mesmo contraditórios. Na obra mais sutil, serve para atenuar
quen)os excessos individualistas da
88iS_fS asjá«houvç
tificando
incongruências Jufde ...... ,
uma exposição histórica de pro- sensibilidade,
porções imprevistas,
pensasse Implicando o ensaio, do ponque elas são inevitáveis para to de vista crítico, além de aíesustentar a luiidade geral, pro- .d valores>
,
resultado ae
de
° resuitado
fu$da e orgânica. Na obra de ÇM ae
arte, os elementos aparente- um impulso para reproduzir o
mente
desconexos se fundem supremo instante criador, não é
n« afirmação do poder de síntese, que só existe em função justo que se transforme a anáda pluralidade, do conflito das lise das obras de Graciliano
emoções e das formas, caracte- Ramos uma pesquisa
metirística marcante do romance de culosa. A arte tem seu mistéGraciliano Ramos. A concepção
da vida, o\sentimento do mundo rio — há quem diga, com evineste romancista comporta ex- dente exagero, que ela é só mispressões diversas e opostas. tério — que foge aos critérios
Análises menos preconcebidas da verdade exata. Neste
caso,
por certo colocarão sua visão faz-se necessário
o
apelo
à inde criador mais além do pessimismo e do otimismo elementa- tuição, ao livre recriamento dares, individuais, gratuitos.
o escritor, por limiquilo
Todo o esforço honesto para tação que
pessoal ou deficiência
compreender Graciliano Ramos
comunicativa
- que subsiste no
deve cifrar-se na tentativa de
conciliar duas atitudes habi- fundo de certa criação, nem
tuais e extremas da crítica: sempre exprimiu com lucidez
uma que, com vistas em Machado de Assis, só observa no interna ou precisão vocabular.
autor de "Vidas secas" o lado É o seu tributo à imaginação
necessariamente
negativo
que, por uma outra utilização
posto que êle trata com um do temperamento literário, o temundo negativo — s outra que
oculta, digamos, um sentido de ria talvez levado igualmente à
reparação moral e que, para poesia. Contudo, a obra não
compensar o retrato impiedoso, chega não raro a esboçar um existe apenas em si mesma;
comovido humanitarista. quan- tampouco o fim da crítica é fido não um escritor intencional. xar sua essência um tanto evaSe um dia escrevermos sóbre nescente. Torna-se preciso tamGraciliano Ramos, nosso ensaio
qualificá-la em face do
não obedecerá a nenhum pia- bém
no. Não partirá de um pressu- tempo e do espaço, investigar
posto — o que na crítica inter- as condições sob as quais foi
pretativa tem parecido sempre concebida e os imperativos
que
incorrigível.
uma
estreiteza
Nem, elaborado com certa li- compeliram o autor a decidirberdade, virá depois de escrito se por determinados processos
a subordinar-se a uma conclu^ ou soluções. E aqui é onde o
são geral. O método a ser seguido, como em nossas crôni- crítico cumpre integralmente ;i.
cas de jornal, consistirá em missão da inteligência, sem q<
apresentar o desenho crítico à entretanto, esteja traindo so'
proporção, e no momento mes- ideais reprimidos de artista ¦
mo, em que se forma ao contato com seu objeto, ou me- criador. Sem dúvida, tal pio
lhor: realizar-se-á a sondagem cura da fisionomia exterior <
crítica simultaneamente com a obra e de suas relações in> •
emoção viva da leitura, feita
Por veis com o autor, ela tamb _;
descobrimento renovado.
*
meio do que se pode atingir é criação. O que importa, <>íi
dois resultados consideráveis: a fim. é que êsses limites não \ •
adoção de um critério arbitra- nham a diminuir o equilíb'
rio, subjetivo,
expressionibta,
responsável por um tipo de en- de uma obra julgada até co.
saio que deriva antes da capa- traditória»
t !0£*£Sô*yift»í>d4*'^^
X
J.
¦¦¦¦£',¦¦
¦
.:.¦.«.
•¦
LETRAS
Página — 8
*r-l—V^T^»
•
E
PANO DE FUNDO
C
MA o sol a pique Bôb.o oe
telhados íalscontes da etdado. Maio corria quente, o
oforocondo-uc «oneroaoimonte em cor o em lu*. trouxera mata
cedo a alegria do verão. Mhb, pura
José Afonto, a palavra alegria nao
tinha significado. Er.utu, sim, quatro sílabas plenas de vagas remi'
ts, morna do esperteza. E como
nlsccnclas, mas vazias de presente
ir/.ul-cinza, avcluflado pela nebna voz autoritária da ra^aiiga o
—
linda,
Quo
e Incertas de íuturo.
mar.
na vinda do
Irritara sempre!
muculana clura
Com 21 onoa, um corpo
'Tera sua cldauo. tão calrni "aquilo",
*lo
Tinham-so conhecido na
do
tez
a
atleta,
de
queimada
Como
do
melo dial
luz
tulla", num ballorlco. Depola de
lodo da pula, e uns olhos quf
nU meamo, podia ter acontecido'...
bela
oua
dois tangos à medla-luz, catavam
a
mesmo
ionuluo
quando
sorriam,
Olhou o ruióglo no
intlmoe. E conforme os seus prlnboca, sensual o terna, se mnntibuBto. Aproximava-se a hora, e
tinha projetado passar com
se
chaclplos,
ora
o
êle
manha serena,
que
subia nele uma revolta surda,
ela umas tarde*, nem mais conma: um bonito rapaz Sabia que
ró alta do incompreensão que lhe
seqüências. Logo nessa nMte, oo
atrair
o «ra, e contava de antemão
doía, contra a" Indiferença cia vida
acompanhá-la a casa através do
— e conservar 1 — todas as pi»que continuava, alheia » êle, contiCampo Grande, soubera que
eiveis, atenções femininas. Tinha
tra os carros elétricos apmhadoa
um
pseudo-noivo, ia
nha havido"
a Idade dourada dos príncipes dos
de faces fechadas, o policia sina— Um
da
província.
confins
nos
contos, Idade de Ilusões quase trálelro, os dois cães que se mornão
liUS
eu
tu,
malandrAo, vês
gleas quando cs jovens se crêem
dlam sobre a relva. — Ralo de
olhos
de
estava
fazia,
o
sabia
que
convlctamente-o centro da aociehistória, valha-me Deus'
fechados 1...
dade. o íuloro do mundo, mais do
rapariga quo dobrava o anUma
compreendeu sem mais. A boquo leso, havia momentos em que
dum canteiro florido, açorguio
desculpa, a explicar o que,
aparecia
lorenta
como
todo o universo lhe
dou-o nas especulações de pensosi
próprxo, está explicado...
mera pertença sua. E a vida, ora.
por
mento que o amarfanhavam. Era
velada e um convite.
onde
oferta
Üma
a vida era apenas um Jogo
ela e antes mesmo de a reconheresponsabilidade não
a
Enfim,
é excitante arriscar!...
cer, aentira-o pelo sobressalto de
temera dele, parvo lhe chamariam oa
Sondo um sentimental por
todos os nervos. Quase a odiava,
r.paium
era
clima,
ou três se não aproveitasse. Aproe
peramento
estender quilômetros de
queria
de
mi-s
. distancia entre êle e aquela muvcltou. E meses depois, nascera
xonado. não duma muihtr,
afioE
Amor.
dia negro, quando lhe ouaquele
do
todas,
próprio
vez mais perto, Ia
cada
lher
que,
vira as palavras que o tianain abaraudo ao do leve todos os problclevá-lo a cometer um crime. —
os
nunca
eem
lado mais do que uma pancada
existência,
mas da
"Crime"?! Apagou depressa a panumdo
vlta
em cheio no rosto. — Agora —
em
girava
traço
penetrar,
lavra que lhe riscara ura
nele
do
sabendo
que
concluirá ela — o que resolves?
do real, nada
doloroso na corisclencla. — Pois
"Tudo", menos casar! — ossense passava.
ia
"solt
o que fosse! O que não
fosse
aventuras,
suas
Do todas as
tou José Afonso. Mesmo ali, tio José Afonso-o esagora, era êle,
decidido desfazer-se da crian"malta",
nha
dlsant" amorosas; apenas lhe ílcadeixar-se venperto da
de ouúo aquidesvencilhar-se
vam núme.cs, pequenos, evocatiça,
cer pelo sentimentalismo piegas!
lhe
aparecer.
mais
nunca
Io,
vo3 e corridente.? números, a asNunca amara a insignificante
manhã da
indiferente
E
nesta
eentar na agenda de algíbelra, a
através
criaturlnha que avançava
Sentia
momento.
o
chegara
relcmbr-ar na glorlozinha barata
maio,
do ..Jardim, num passo medido de
um
boca
na
na
nó
de os desfiar ante oo amigos, em
um
garganta,
ínlutas
sem emoções nem
pessoa
café
do
a
conscíênredonda
saber
a
mesa
da
amargo
travor
volta
timas. Fora uma aventura entre
pasmavam das
do bairro. E todos
cia, mas tentou chamar a si o
mais
número
um
aventuras,
outras
"gala
do
oficial"
"heróido
facilidades
que êle apelidava o *eu espírito
a assentar na sua agenda
duma
só um
íntimo
no
lú
picados
preciso
desportivo. Era
grupo,
dizer toda a verdade,
Para
ca".
devia
cinqüenta
aquilo
certa inveja, em que
pouco de coragem,
até nem gostava dos frios olhos
conarficava
era,
caso
Jurar,
o
cento
instante,
posso
um
eer
por
claras dela, de expressão calcullstida admiração.
Eh Pá, mas como é que tu
<*m levas"?
José Afonso, extrovertido por natureza e doente de petulância, entr» ura gole de café e dois sorrisos
intencionais, piscava um olho e
confidenciava:
_ Isto vai tudo do arranque
"**% ViV
i^L
L9ÈXVvA«^^
¦7IJ^VI
Inicial! Se a miúda ó gira, vou"na
cola". Na primeira oporlhe
uma
sempre
tuuldade, que há
—
voa
era
aqui,
e
oportunidade
gúia-se-lhe uma oitava acima, em
tom enfático de chefe experlmentario — passo-lho o meu cartão,
nome e número do telefone, claroi
H' esta a altura de empregar o
olhar n,° 3, especial, etiquetado:
Oh!
supllcante o prometedor...
"é limplnho 6
aquilo
meninos,
Não se passa oito dias e Já levo
» garota a ver os arredores...
Os outros em volta da mesa,
engorínrn; em seco e. mentalmen»
te, tomavam notas. Sim, que lá
resultados o método dava, disso
ninguém podia duvidar! E. José
í Afonso continuava, com todo v
juiíHtórlo suspenso e a mão morena espalmada no peito:
— Eu cá, oh! genjt.es, tenho o
meu "Manual do Perfeito conqulatador som Mestre, em 30 lições".
Logo depois do prólogo, esparramei
a minha primeira máxima: Ser
cruel, audacioso e vestir bem.
—•3 «Do—
de dlmelo-ambientè
Fora a«3Êt«
hiiç-ão, de amores fácelB .logo esquecidos, de rapaziadas sem conseqüências e materiali3mo bruto,
»c» deaculpável pelas exigências fi«lcas da idade, que se tinham apaos seus últimos anos. Balgado»
•toricos depois das aulas, noites
pordldas n*o cinema e na pândega,
fins de semana na r)rtiia e... más
notas ao terminarem -is períodos
letivos* Vinha então à época inijrata em que o pai o chamava
•ao escritório da Companhia, e lhe
padl/áa algumas duras e amarga*
'reps'
Invras. Entre o repostelfo de
verde que fechava a porta e o
mundo exterior, e n face austera
do pai, o rapaz pensava: — Bem,
que to, o pai tem razãoí Tenhotenho...
E
tn?x caminho, lá isso
ihe
ev.apo-.
se
dia
outro
logo ao
poravam as boas intençõss. Não "terdia resistir que a miúda do
ceiro" tinha arranjado dcilã bllhetes para «-"matliiíe" do Capltólio...
alguma tal
Fora sem que coisa
"aquilo" aconfi-esse prever que
tecera. Sentla-se, agora, longe de
curtindo
profundas
ei próprio,
«audades da perdida despreocupaçÜO •
— Acontece cada "uma" a ura
homem!... Ou ter-.ie-ia esquecido de algumas das regras do Marmai da sua autoria?...
E ali estava, caído num banco
do Jardim, lado a lado com um
triste velhinho que se aquecia an
sol — Que a êle, ó que não havia
sol que o aquecesse! —¦ vensou.
Era frente, para além do gradeamehto de ferro, descia a cl«
OKI..*»
dado ate ao largo rio. Na outra
em
margem, o eerr» esbawa-se
Conto
de
MARIA
MAFALDA
jf'v'"C I
I;
¦
-¦
¦¦
Domingo, 8-2-1953
ARTES
N.
-*¦ mn
.
rumado c«quo boa lição ttnh»
lido!
— Bom dlal — B parando junro
ao banco a rapariga magra, nem
frescura, mais velha do que êle,
(como tudo Isto lhe saltava agora
aos olhosl) acrescentou:
multo
há
«— Estos á espero
'•¦_
tempo?
?
è
y-,
Não, ho uns dez minutos, s*
tantx>. Telefonaste A mulher;*
Elo ossentlu, num gesto breve da
cabeça alourada.
Então, vamos lá!
Desceram o rompo íngreme, lado
o lado, sem se falarem, como se
dois estranhos fossem. Em <ronte
do casa de fachada antiga, de aitas Janelas de guilhotina, pararam, olhando instintivamente era
sua voltu. Ninguém os notava e
a sombra do pátio lageado, plngando humanidade, acolheu-os numa transição brusca da brilhante
,
.
luz da rua.
Subiram a escada de pedra de
dois lances, procurando no escuro
os degraus incertos, muito gastos
no cent.o. No patamar, cia puxou
cem deliberada resolução c cordei ensebado da campainha. A
porta rangeu ao abrlr-so, deixando
entrever uma mulher sem Idade,
metida num sujo roupão de raSem falar,
magens desbotadas.
espera. Jode
sallta
entraram na
então
que a
reparou
Afonso
só
baços,
cabelos
tinha os
mulher
baraqueimados pela permanente
ta, as unhas curtas, orladas de
—
I>eve ter estado uo
preto.
Oriente — considerou para si me3mo, olhando em redor. A um canto, erguia-se um biombo de laça
fronte a um
I à i .sua
fazendo
esfolaáft.
o qual •¦-¦2# kl 54*7 niú
sobro
canoaüísslmo piano
l'+M rolo*!
um lequo aberto mostrava o 6or-mmriso ^-ateieottpado de duas Japon<? tm Wlkxwpo
quarto, cobortrt
>
zltas. No melo do"crochet"
1
I fciiv-»>
mau
de
de poeira e dum
as, r
exibia
ir"
baixa
mosa
*f
^A
uma
.1. íüBe es
gosto,
horrível dente de oleíento.
scândíi
«. Ora vamos saber — arengou
"pronorninii
a criatura — a menina está
e
faz-me
etras
aqui,
ta? E' entrar paro
"om aç&o"
loca.
I
tudo
tenho
Jft
favor.
o
'poetas
um ai...
e Isto não duro"sala
de operações"
Paiwamm á
se veril
Ero ente um compartimento pamoços i
•tiio.s â
queno, mal arejado, onde ae adtvinhava uma velha mesa cirúrgica,
vros, qi
escondida sob um lençol de um
r mais
branco duvidoso. Num balde de
aeriiim
esmalte, bolavam algodões usados.
«cnlant
José Afonso estremeceu e desviou
poesia i
o olhar, ao ver no chão uma man-^y.
so cl<
cha &6ca, cor de ferrugem. «*
cio ]
Vou paro o Janela e delxi?"
ampos
correr!
seus liv
Afastou a cortina e olhou a rua
sentia
Vagamente,
deserta.
rossel"
4uase
dentro do si como uma náusea, o
respecti
vi;
desejo selvagem de esmurrar a —
Iugí
draça e fugir. Tudo aquilo
$fitores
sórdido, repugnante.
0, oi
Um primeiro gemido fê-lo
roldo
exa
lábios
nos
terrar os dentes
tica.
gues. E foi então que velo a
rairam
da mulher:
otivo
"Cale a boca! Aqui não se
ua linl
grita!"... Tapou os ouvidos com
riginali
as ú'r** m6os, mos a rapariga grly nn cer
tou mais forte. Sentiu que as
pernas lhe fraquejavam, teve que
o que
encostar-se ao peltoril da Janela.
ão
do
E perdeu o olhar na rua, numa
ária
a
inconsciente procura de socorro...
os da
cabeça
de
Um garotlnho gordo,
emuré
anelada, bem firme nas pernas rooldo à
na
sadns e curtas, estava parado
Enão, cor
frente.
em
morítra da leitarla
enérgica
antes
mão
ti
a
com
quanto que
dedo
o
com
mãe,
uarda.
da
a
caia
puxava
c Cam
Indicador da outra, muito espetade, apontava qualquer coisa exara aq
u livn
posta quo o tentava.
_ Se calhar, quer um chupa0,s () n
chupa!
or algi
Lembrou-se que também ele, em
onsider
mae
a
tostões
petlz, apanhava uns
ortahté
à hora de sair a correr para a esra cn
cola, e comprava na mercearia da
¦m eram d
uma
rua
grande
sua
da
esquina
uc sòn
chupêta de morango. A mãe, da
ênio dí
janela, fazia-lhe um último aceno cheio de carinho com a sua
Gera
muito branca. E ele
linda mão, "galope",
illiet
metido nos
largava a
ncia d
calções curtos, a mala presa aa
sim, n
costas, as botas cardadas de vlteéricles
tere
Ia branca, orgulho próprio
rêmio
ror de todos os outros futebolts-Io cc
fcas de palmo e meio. — Que êle
eta, a
era um valentão, dava cada pontarapazi,-^
um
era
senhor,
Sim
stre, i
péí
nho forte, um filho dele havia ao
ica dií
ser col3a que- se visse... Talvez,
tico-pc
até tivesse oa seus olhos verdes,
ampos.
as pestanas grandes que as irmãs
lhe envejavam, os punhos vigoro- >•»
Public:
sos. Era mais do que certo quçj
?vo!un
. jogariam, êle e o herdeiro, às ma- >.4
tvra de
os seus pequenhuo de domingo, "box"
cente
caseiro...
nos desafios de
ias
ti
outro
,.
Arrancou-o ao devaneio
o
de
fundo.
.
mais
gemido, "aquilo"
^
~ E
und:
que não acabava! T Wr
"andres,
Ò miúdo em frente já vinho a
hat meí
, sair da leitarla/ todo sorrisos.
; Empunhava um rebuçado com»
prido embrulhado era papel vistoso. Veio-lhe à memória que a
irmãzita _ mais pequena, a Génlnha, lhe pedira um rebuçado assim. Havia de lho levar.
O petiz e o mãe desapareceram
entre a gente que passava. Agor«
rou-se, num último apelo, ao cia-:
rão logo apagado dos lindos cara— "Em menino eu
cóls loiros.
Ura filho meu.»'
loira!
era
também
|
seria... também..."
-— Pare com isôo! Pare e Jâl -ri
gritou. •
* Segurou a mulher atônita, pu*
xando-lhe com violência pelo braço. Expeotador de si mesmo, como
se se visse mover num pesadelo,
acercou-se da mesa, ajudou com
mãos trementes a erguer-se e a
eompor-se a criatura pálida que
o fitava sem ainda compreender.
E fôl a sua voz, uma pobre voa
• . destroçada de emoção que êle ouviu balbuclar:
— Vamos embora! Caso contigo.
éf
9^\
I
1
I I
y
Só multo mais tarde, nessa notte, José Afonso compreendeu que
estragara toda a sua vida| l» casar com uma mulher que nunca
amara, dar o seu nome a alguém
indigno de o usar.
com um sorriso
Recordou-se,
triste, da sua divisa: "ser cruel,
audacioso e vestir bem"... Men- .,; ¦ti'i'
talmente, rasgou o Manual. Ben*zeu-se, no gesto simples que »
zaãe lhe ensinara quando em me'ilno, enfiado na comprida caml^
: to bronca, de dormir, ojoelhavffj|
lunto » camlfe de grades. E vi- \
rando a cabeça na almofada, chorou as primeiras lágrimas dos seu»
vinte e um anos.
.,* «^
José'Afonso — nem êle mesmo
o sabia — além do "Manual do
Perfeito Conquistador sem Mestre,
em 30 Uções", tinha também uma
...
Alaiac.
I
I
Ia*.
'»
-%
Domingo,
8-2-1953
LETRAS
I fÂ
K
t.
<<9
TUAXMENTB
podemcwi
distinguir duas categorias de poetas: os que
iiof.MMiii uma página literária
ftasua disposição para o elosto mútuo, um critico par» a
apulo^ia de seus livros, o um
Um\%Wpo (le comentaristas
m para os elogios
fáceis.
íás, no momento assistimos a
r..,v espetáculo, com um certo
tscândalo, ao contemplarmos
lominicalmente a página do
etras e artes de um jornal carloca. E a outra categoria de
fpoetas é onde esse fenômeno
se verifica ao contrário, isto é,
moços de talento, apenas arre«lios à vida literária, com 11vros, que fosse menos parcial
e mais honesta a nossa crítica,
seriam eles considerados representantes
primeiros de nossa
ocsia de vanguarda. Esse é o
iso de Augusto de Campos,
solo Pignalari e Haroldo de
em
_'ampos. Os dois últimos,
seus livros de estréia, "O Carrossel" e "Auto do Fossesso",
respectivamente,
conseguiram
m lugar de destaque entre os
tutores
aparecidos por volta de
~"0, obtendo,
principalmente
roldo, louvores unânimes da
itica. Sobre Décio Pignatari
rairam algumas criticas, mais
nolivo de incompreensão de
>ua linha estética (onde há a
iriginalidade da expressão e
iim certo prcciosismo formal)
Io que propriamente de negaão do seu talento. Mas, basária a honestidade dos "doíos da literatura"
para que
iempre elevassem Décio e Ha¦oido à sua verdadeira
situasão, como máximos represenantes de nossa poesia de vanuarda. Já o caso de Augusto
le Campos é mais melancólico
tara aqueles que conhecem o
eu livro de estréia "O rei metos o reino", de 1951. Senr> fabr algum essa obra pode ser
onsiderada como a mais imfòrtahte para a nossa literaura entre aquelas que apareleram de 10 anos para cá. Creio
lue somente um Péricles Euda Silva Ramos, «m Jofênio
';
(Geraldo Vieira, um Sérgio
I M
BIliet perceberam a imporncia desse livro; mas, mesmo
sim, não se perdoa ao próprio
; 'éricles
de, no julgamento do
Prêmio
Fábio Prado" de 1951,
"-Io concedido
a um outro
¦eta, aliás poetisa, não menos
jstre, mas um tanto acadê«ca
diante das realizações es#tico-poéticas de Augusto d«
Tampos.
Publicam agora os três
Kl j^volume, "Noigandres" em um
(pafrra de sentido Ignorado, per"ucciite
ao vocabulário
dos
etas trovadorescos), título tiAo de um verso de Ezra
Jund: "noigandres, the noilandres, now what DEFFIL can
— poeta esse que,
pat mean!"
ii
E
ARTES
Página
O SOL POR NATURAL
PIMENTÉL
ÇYRÕ
•*»m Eliot, exerce forte InNuéncia sobre o* três.
É um livro difícil para o comenlansta e para os
críticos,
porque são tantos os elementos de rctorciraento léxico-sem&ntico, que precisaria um cstudo à parto antes de se
mentar propriamente a sua coesfiencia lírica.
Não sei quais os motivos que
levaram os poetas da
geração
de 48, ou novíssima, a produzir
uma poesia pessimista, cétloa.
desesperada, angustiosa, sem a
graça de Deus, paga. Alguns ge
refugiaram em si mesmos, outros no amor, outros em sonhos,
outros no inefável, outros
cidades estranhas, outros em
na
morte espiritual e outros no lento suicídio interior. Não sei ate
onde o meio e atmosfera dos
nossos dias de após-guerra teriam influenciado para que essa
geração nos transmitisse essa
mensagem que revela um sofrimento ; já quase incompreensível — geração essa que há tão
pouco saida da adolescência já
entra no juventude com sorrisos sombrios *e os olhos negros
de esperança. A maturidade espiritua), a consciência do seu
destino e um misticismo mais
pagão do que cristão envolvem
também os jovens da geração
mais nova. Aliás, pode-se
fazer uma distinção entre os outros, os menos jovens da geração de 45 — da idade de trintaquarenta anos — e os da geração de 48 — os de vinte e trinanos, os novos e os novíssimos.
Gabam-se os do grupo de 45
que a sua característica prín-
Campos. Ela, desde "O rei menos o reino", sempre foi seca,
áspera, com a grandeza dos
temperamentos solitários, sai«ástica, quase sem amor por ei
mesmo ou pelas criaturas. Ma»
agora com este "O sol por natura!" Augusto debruça-se sóbre a presença de Solangc Sohl,
mito eterno de mulher. E a sua
ternura por essa criatura aparecendo com um canto belo, de
sereia, desapareceu diante dos
homens como surpreendentemente surgiu, como uma estreIa cadente, cintilante em seu
curto destino:
ripai é o apuro formal de seus
Certamente esse aspoemas.
pecto EXTERIOR do poema
revela a ausência, ou quase auscnela do elemento INTERIOR.
E pela leitura dos principais
representantes da geração de
45 existe esse deserto Interior
onde resido a sua vida. E é ao
contrário o que acontece com
os poetas de 48. Há mais vivência interior, e principalmente
isso. E a parte formal constitui
não o cerne de seus poemas, mas
uma seqüência subsidiária, um
fenômeno intuitivo na elaboração dos versos. Assim, a geraÇão de 45 não tem problemas
de angústia íntima, é uma geração feliz, e por isso essa paixao pela FORMA constitui uma
auto-acusação, isto é, fotografa
o deserto interior de seus poetas.
Augusto de Campos está incluido entre aqueles para quem
a vida é uma procissão de miséria e de solidão. Morto em
vida apenas o espetáculo melancólico dos homens presos em
sua religião, ou a farsa daqueIes_ que procuram
somente a
vaidade da presença do ridículo da condição humana, fazem-no mais triste em seu
abandono:
"A Deus, o
grande ateu,
Não descubro e nem visto.
Adeus c apenas isto
Dçixo-lhe: o que me dey.
— nocr, noer o tino
TJmbclical qut vem da
palavra lida h lenda.
O tema daqueles que íh. .*•vem do» suplementos literários
deu motivo a Augusto para uma
quadra sarcástica:
Nisso não cogitastes,
Heróis de suplemento:
Vossas letras e artes
Apodrecem no Tempo.
Solange
existe? Ê
[uma só?
Ou é um grupo de vidros com[binados? Uma lenda
Medieval que vestes de neurose?
[Por certo
Esta armadura não te queda
[mal,
O meu Beltenebroso sem corcel.
Forçoso é acrescentares uma
[rosa á mão.
E mais, desenterrares o antigo
[arrabll.
A vós, tempus tacendi.
Deixo aquilo que tende:
Deixo-vos as luvas
Da Vaidade. DeixoVos as sanguessuga;
Gordas do sucesso.
Esses versos indicam a atitude de um grupo, fc um documento de protesto à política literária dos nossos dias. onde os
verdadeiros autores de talento
são sabotados
estupidamento
pela clã medíocre, ávida do sucesso temporal.
A ausência e a solidão cobrem-lhe a vida e a interrogação dramática surge sem resposta:
Solange Sohl, leoa sobre-humana
Encarcerada em uma jaula de
[ouro.
Solange Sohl, doutora c si[lencíosa
Sob o peso dos cilios.
Solange Sohl,
fontana
sub[nirr.su.
Solange Sohl, senhora silan[deira
Com o sonho tecido em seu
„
[regaço.
Solange
Sohl, Solange Sohl.
[Solange Sohl,
Solange
Sohl, como
prata
[soando.
Solange Sohl? A tua mesma
[sombra. Que roda
A velha ronda solar em tornu
[do teu corpo.
Agora ai te deixo como um cão
[de diamente
Tornado e mudo.
Como um imenso ouvido que se
ír alto
j.
No
de uma [abre
árvore.
Como uma estátua que se des[morona.
"Deusohdeus onde estou?
Em que lenda? Em que homem
Estou, Deus, desusado?
Já cansei o meu nome.
Os versos da segunda parte
do livro: "O sol por natural",
agora tirado de um soneto de
Sá de Miranda: "Quem tirou
nunca o sol por natural?",
constituem o ponto alto da linha
poética de Augusto
de
Não deixo
Senão este desfecho
De ouro ou pranto férreo:
O sono duro mister e o
Nosso magro destino:
CARLOS DRUMOND DE ANDRADE E A POESIA
DE CIRCUNSTÂNCIA
(Conclusão da 1.» pág.)
a arte em que prepondera a
"forma
exterior". Entregues
a um abstracionismo que permitiu a Gôngora criar sobre a
realidade uma sôbre-realidade
verbal que é o mundo barroco
das suas "Soledades" — os escritores barrocos por excelência
anulam por completo a circunstâncía determinante da poesia,
quedando-se, ineontrolados, com
o mundo de palavras de que se
servem para suprir o demasiado real, o demasiado humano
da circunstância originária. E
é assim que o poeta liberto da
realidade, em vez de se confinar na linguagem interior necessaria a toda a poesia, se
abandona à libertinagem da
"forma exterior".
Em "Claro Enigma", Carlos
Drununond de
Andrade está
longe ainda de ter morto o circunstancial. E' a circunstância
que alimenta as suas melhores
poesias, mas o vocabulário, que
nas suas obras anteriores era
predominantemente
concreto,
parece volatilizar-se: começa a
fazer-se abstrato. Vai
Carlos
Drununond de Andrade a eaminhó do barroco, nota característica da mais moderna poesia
brasileira? Talvez não. Mas o
que acontece aos poetas que em
nossa língua levam longe
de
mais o anulamento da circunstância em benefício da abstra-
ção, quando neles nao surge,
compensadora, a hipertrofia da
linguagem, o gigantismo
"forma exterior", o delírio da
do
ornato barroco — é poderem
cair no defeito contrário: numa
secura, numa magreza, numa
falta de humanidade que é, ou
como queria Ortega y
pode ser, "desumanizaeão".
Gasset,
Não
creio que Carlos Drununond de
Andrade, dos mais humanos, senão o mais humano, dentre os
modernos poetas do Brasil, possa vir a matar a "cfrcunstância" que deu à sua poesia da
fase anterior a "Claro Enigma"
a mais alta vibração do seu estro de poeta.
Não sei ainda qual será a
•ição de Augusto de Campos pona
poesia brasileira! Só o futuro
poderá dar perspectiva neces«ária. No momento é uma daa
personalidades mais autênticas;
com o destino do grande poeta,
pois os seus dois livros, em que
pese o silêncio de certa critica,
comprovam as suas reais possibilidades para a conquista de
um posto de primeira grandeza
«ou nossa poesia contemporâneo.
* * *
No próximo artigo comentaremos: "Rumo a Nausicaa", de
Décio Pignatari, e "Thalassa
Thalassa", de Haroldo de Carapos.
Vinheta de SANTA ROSA
y'
A ESGRIMIR PALAVRAS
NA TURVA HORA
DO IMPOR-SE LÁTEGO
DE LUZ, ESPUMA
A SONHAR-SE PÁTRIA
DE PRAIAS DO ESQUECE*.
O CANTO INCENDE
PURO CUMPRIR-SE
DE MANHAS EM NOITfc
SEM MISTÉRIOS,
ÚLTIMA POSSE
QUE SE DISFARÇA
URICAMENTE SOL
EM JARDINS ABERTOS
— sinuosas panteras
que o domar nos custa
erguer-me tento
a céus de ausência,
serena pluma
a se extinguir
ardendo em mãoí
&e amor repletas,
que as pauvras vencem
O TEMPO E AS COISASRÁPIDA FLECHA
A ULTRAPASSAR
TETO DE PÁSSAROS.
e
|: 1 i; i J i ü i ,*i j. j ti n Vi ti i'i T, i,
i. 11.
R
E
e
R
I
H
AS INQUIETAS PUPILAS
ESPREITANDO EMOÇÕES.
E CANTÁ-LAS
(AS PALAVRAS FELINAS
SEM ATENTAR
NA SEMPRE MORTE
QUE AS ACOMPANHA,
t ALTO JÚBILO
BEBENDO A SEIVA
Di TANTA VIDA,
O AGRESSIVO
DE TANTO AMOR,
H
E
l
R
Sohl
O
&
^!^MW*W«*W^**'-
,'¦»•''
p^1^
^..
-
--
«:«
¦
:
i
*(]W'**W11
.v,,--.
'LETRAS
Página — 10
— Via Scandtnávlan Airlines — "BottePAUIS
ghc Oscure" é urmi revlata lltetarla que aparece semcfllralraente era Homn. cm
quatro língua»: francês, IUliam». Inglês e americano. Está ela em vias de ocupar o
primeiro lugar no domínio dat
revistas. Uma grande parle ü(
suas página» é consagrada às*
novelas. Ao lado disso se encontram numerosos poemas. O
conjunto tem um ar de roupa
lavada e suspensa «na janela;
emparelham-se aí os mais inacrcdUúvois contrastes, os mais
as
temperamentos.
diversos
dispares;
mais
preocupações
mas o conjunto dá uma boa
idéia da literatura européia do
momento.
"Casa d^ltri", de Sílvio d*
Arzio, é a história de um padre perdido nas brumas da
montanha durante seis metscs
do ano; a monotonia de sua
existência quotidiana é contada pelo autor com um senso da
tragédia inegável. O padre torna-se obsecado por uma velha
da aldeia que'não possui outra coisa no mundo senão uma
cabra. Ela parece querer pedlr-lhc alguma coisa, mas depois dc uma tentativa abordada, renuncia. Dias ele insiste,
interroga-a c obtém afinfal a
confissão: a velha queria libertar-sc da viria com o consentimento da igreja.
'•"La formica argentina", de
ítalo Calvino é uma novela
impregnada pela atmosfera de
Kafka: a história simples de
um jovem par que vai habitar uma casa infectada de inselos, tornando-se dura e lenta a sua adaptação nesse amMente. Há muito simbolismo
messa história, mas não bastante para empanar-lhc o frescor c a verossimilhança. O desespero dos heróis diante dos
detalhes de natureza, grotesea produzem i\m efeito comico aprceiáycl.
Ao lado disso, novelas dc
André Dhotel c de Giorgio
Bassíani, cheios de humanidade, de senso do individual, de
conheci mento do ser humano.
A poesia é mais fraca. Pondo
de parte os versos de René
Char aí encontramos mais
—„,—,..¦. iíiiIiiiiii'-**
ideo, como o "Hanilct"
íurrauit acrweentii que gou»
e cada ver. menos do gênero
O MOVIMENTO LITER ARIO NA EUROPA
UMA
REVISTA
- |OSÉ RECIO EM PARIS
RAULT E CIONO
ITALIANA
louis
de Jacob, rei. feliz, que abanversos veraforismos
dona a rainha para consagrarv
dadeiros.
se a conquistas territoriais o
XXX
depois abandona também estas
Notemos o aparecimento de
de Deus.
para cuidar da almao eanjo
uma nova revista de poesia
c Jaentre
diálogos
"Exils", em que se encontram
Os
cob são belos, solenes, masa
os nomes de Cingrla, St. John
muito teatrais. Na verdade
Perse, Michaux, Frenand, Arda
Mas
peça sofre terrivelmente
Leisch.
Mac
chibald
o
dramática;
ação
de
ausência
novos, naquanto aos poetas
mec
discute
"front".
se
mais
nela
que
da de novo no
tafísica c, aliás, os personagens
muito
são
psicologicamente
UMA PECA DE JOSÉ EEGIO,
tudo,
dc
antes
frágeis. São,
EM PARIS
sangue.
e
carne
símbolos sem
Fala-se muito nos jornais paTem-se mais a impressão de
ReJosé
de
da
risienses
"Jacob etpeça
um ensaio dialogado do que de
1'Ange" que esgio
uma peça de teatro. E o mais
tá sendo representada no Teagrave de tudo é que os atores
tro Studio Champs Elysées".
são maus. Acontece com José
Considerado uma das figuras
Rcgio o que aconteceu .com
mais marcantes das letras porGuilherme Figueiredo: todos
tuguesas atualmente, Rcgio vios dois trouxeram para Paris
cidade de
ve numa pequena
peças interessantes, comporcostumes austeros: Portalegre.
tando defeitos e qualidades,
Sua obra vasta e profunda
mas interpretadas tão mal que
da
poetraz para os domínios
chegaram a
sia, do romance e do ensaio " os críticosse o não
fracasso
proveio
concluir
inspiração exuma rique«a de"Jacob
maneira
da
pela
ou
Au1
das
et
pecas
traordinária.
Pacm
apresentaram
as
qual
ge" foi interditada pelade cenuni
fizeram
ris. Regio e Jeener
três
sura de Lisboa ao cabo
adaptações.
de
trabalho
belo
representações, E' a história
A
-
JEAN-UOUIS
BAR
para
mas não encontro nada CharJacques
dc
dizer a favor
sao
pin c Françoist Adam que mecapa/cs de estragar peças
lhores ainda.
JEAN-LOUIS BARRAULT Dfc
VOLTA DA AMÉRICA
Jan-Louls Barrault e sua
companhia acabam de regressar dos Estados Unidos, onde
fizeram uma temporada triunfal. Devia ele dirigir-se agora
ao Egito, mas o contrato foi
denunciado no Cairo por motivos políticos. Pude encontrar
Barrault com outros jornalistas, respondendo ele a todos
um questionário comum cm
inque explica seus projetos e uma
tencões. Primeiramente,
temporada na Alemanha. De-a
Paris
pois deverá montar em Williams
Tenqssec
dc
peça
"Summer and smoke". Sobre a
fórmula do teatro circular que
está tendo nos Estados Unidos
sucesso, Barrault
um grande
no que
apreciável
ela
diz ser
às peças de sensação
se refere J'G0ds
little acre", de
como o
seria posnão
Caldweli. Mas
drama
psicolosívél para um
MENTIRA
SECRETA
lo -menos um simples extra em
Hollywood ou um gerente de
Anderson
fábrica. Sherwood
de
inutilidade
a
compreendeu
tudo isro. A seu modo, quase
num sussurro, .revoltou-se, sem
fazer- muito ruído, talvea com
receio de que a sua voz fosse
confundida com os gritos demagócicos de quaisquer, políticos
republicanos ou democratas em
vilegiatura eleitoral. Andetson
odiou o padronizado, a máqui-
'
na, o indur-trlalismo, certo de
auque essa nova mentalidade
tomática iria subverter os mais
caros valores humanos e culturais de sua pátria. E, diante
dessa realidade que gerava uma
foi
melancólica
inquietação
dehomem
verdadeiramente, o
Jolas:
Eugéne
finido
por
"Sherwood Atiderson est le
poèt. dc Tinquiéfcude aniericaine _ un visionnaire tfuie eroil
au rêve'V
grande ator íratteeMfvera
sllar o Brasil em 1964. .^r.
O ÚLTIMO Í.IVKO »E ^j
JB/wr.ioNO
/wno
i
novo
um
dc
oublicaçáo
A
^,
sefc£
mancéde Jeau Giono foi
SúX um dos acmiteeimen^
O ultimo
literários de janeiro.
"Le
dc
Moulüi
livro dc (üono
o
sobre
Puegne" laz refletir o os po- i
sentido da crueldade
«hderes do romance. Coste, aiter.
pelas
rói, caracteriza-se violento que
|»
„ Uvas de humor
u
bondade
da
o iaz passar
de Cos- t
crueldade. A dinastia
Madanie
e
le, com Joseph
Ilorlense, tem qualquer cois.)
um
stendhaliano e segue des^
de
destino alucinante. Giono eMj^/;•
creve as lutas internas
des ^ ,
ternas dc quatro gerações
impiecasa família, com uma
que *
de sangrenta; Os crimes »^ij^
fariam
~íF
aí são cometidos "Ubu-Itoi
%
novo
sar num
Giono
pretendesse
Jarry. se
zer rir. Mas longe delete
intenção. Retomando a o*™
ca goiana. Giono faz
que
mv do drama um autor
mese!e
ser
bem
pode rauíto
considera a
mo Giono não
objetividade como unia virtii
dc do romancista. Quer eu;e
transpor os acontecimentos
os sentimentos, sem 1K«M£
Em w
a nrcseiica da vida. as
persmouliu de Pologne"
ao»
fogem
não
fíociais
pectivas
se
mie
drama
nossos olhos: o
hetoís^desdos
trava em torno
se liwo enrjfàüece o donnmo da
mostra-se
imaginação Giono
um
orimitivo, um instintivo,
monstruoso ao mesmo tempo
Para terque srande escritor. Unhas
em
breves
núnar pstas
<* ,1
torto*
sob
Hvro
torno desse
aspccifts poderoso, o melhor
algonias frases c-ssenserá citar
"O
essência! não e vj- »j
ciais:
ver, mas encontrar uma razão
nma j.;|
para viver... Comer não é viver,
raxSo sufieienlc na»:a
||
nois mie a fome nodemos sa- |
tisfaaê-la. E' pr<wso encontrar ||
uma razão n,ue não se satisfaça ;||
e que se renove Eis o segredo disso que os esoíritot min-!*to indulíreníes chamam de no!|^. #
h crueldaflív
m
í
PAULO CÉSAR, POETA HEREDITÁRIO
as
fio
reúne
que
por um único
sem,
rosário,
todas como num
faltar a cruz que a completa: o
pavor da morte, de que êle, porfiadamente, intenta desfazer-se
em versos. Paulo César, que eu
conheço, é um homem complitado, que se condensa e simpíifica cm "Senhora do Mar". O
seu coração inteirinho se contem nos dezessete poemas do
livro. E todo o honor à morte
se evola de cada verso.
Paulo César da Silva ainda
Sofreu
não se achou, porém.
sempre,
influências, perniciosas
que o detiveram na busca de si
próprio. Ou por outra, achou
só urna parte de si, felizmente
a* maior. A outra eoniinua dormindo no fundo do mar..„
St*
(Conclusão da 4.a pág.)
réstea de sol escondida sob a
descrença do poeta... E* que,
o misàs vezes, quase desvenda "Mariaem
tério da vida, como
Lúcia, minha filha", o. climax
de "Senhora do Mar". Ali
como que se dissimula o reconhecimento de que á consciência é apenas o substratum do
medo. E aponta o horror que
a Humanidade tem ao Real em
Os mortos aguardarão ansiosos
[as tuas tentativas
das coisas deiinterpretação
de
[xadas herméticas.
Mas a grande angústia verdadeira, subdividida em varias anmantém
gústias distintas, se
ANIQÜILAMENTO
O «"Boletim de Informações",
OS HOMZONTES CAÍDOS
mimeograedição
em
CORTARAM O PASSO
publicado
da S DO HOMEM.
íada pelo Setor Cultural
Embaixada do Brasil em Buenos Aires,., divulga extenso noSEU CAMINHO
ticiário sobre os festejos come(RASTRO INTERROMPIDO)
morativos do IV Centenário de
ESBARROU-SE
São
Fundação da Cidade de
NA NEGATIVA SILENCIOSA
Paulo, incluindo o regulamento
DAS COISAS MUDAS.
da'll Bienal do Museu de Arte
Moderna e os respectivos prêNÃO ENCONTROU
mios. Além de outras noticias " O ALÉM
sobre assuntos culturais brasi-. PERDIDO
leiros, publica o Boletim, que
EM SI PRÓPRIO,
obedece à direção do cônsul
Paránhos do Rio Branco, um.
conto de Xnvter Marques "n
Vila do Homem".
F*S ..«t»r ** <g°g 1 ¦ I
\\*Jj
wizMrry.iiR
do que
(Conclusão da G.a pág.)
'ida, como jornaleiro, trabalhador rural, operário fabril, solum
dado ou jornalista. Foi
capazes
homens-antena,
desses
angústia
de captar a secreta
de um povo que não possuía .
meios para apreender o significado das coisas e estava prestes a entregar-se, como ocor*«u posteriormente, à fúria da
áquina, a sua filosofia vazia,
infantil e otimista da vida, ao
ÉRICO VERÍSSIMO E O "líve and let live'\ a uma literatura sedativo que proporBECO'1 DS RENARD Q.
cionasse a fuga e desse a sen-a
PEREZ
sacão de que tudo ia bem e
vida era ótima. Assistiu à priO romancista Êrico Verissi"O
meira guerra mundial, à revomo- pronunciando-se sobre
lução russa com a sua poderoBeco", escreveu ao seu jovem
sa influência sobre 03 desttautor, o contista Renard Q. Penos políticos e sociais de outros
rez:
"Se eu fosse um crítico, estapovos, ao desenvolvimento asdo capitalismo que
complias
mais
sustador
ria a procurar
ãizer
razões
goscuãas
que
para
tomava forams desumanas, ao
tei ãe sen "O Beco". Ê uma
avanço do imperialismo de sua
história, tem gente ãentro e sú
pátria e compreendeu, amarga-o
me interessei pela sorte dessa
mente, que se desmoronava
gente. Pode um autor ãesejar
seu sonho americano. Não era
mais ão leitor? O que o romanum sonho de fuga, mas a crencista tem a fazer- antes ãe mais
ça numa vida que se n&o.gasnaãa, ê contar uma história
tasse superfluamente, em íunHoje em dia existe entre os do
cão das especulações na bolsa,
seu e ão meu oficio a vergonha
elétrico
do excessivo conforto "skyscraãe contar uma história. Muito
mandado
da imponência dos
obrigadoi
''O Beco".porS me ter pelo liaa
parabéns
pers", da rotina burocrática, até
vroi
padronização, das formulas
para fazer amigos e amar, da
Êrico Veríssimo".
sede de lucro, da esperança de
sempre Inútil de vir & ser pe-
"BOLETIM DE IHFORMÃÍÕES"
H. 3, DA
Domingo, 8-2-1953
E ARTES
A LUTA
DO BEM E DO MAL
ARRASTOU-O
PARA OS OCASOS PARADOS
E NUVENS IMPRECISAS
ESMAGARAM-NO
CONTRA AS ROCHAS
OS HORIZONTES CAÍDOS
CORTARAM O PASSO ,
DO HOMEM.
RUBENS
PERYÁ
...
(Conclusão da 3.a página) ,|
ta do país. Esses retratações t
nunc^
Silvio não eram raras;
motivos
porém determinadas por
subalternos e quase sempre por
influencias emotivas. O ataque
conto
primitivo a tuis Delfino
também a Ktechado dç quem na
mesma ocasião Silvio disse horrores (retificados em parte, móis
tarde, embora continuasse severo
na crítica) proveio da hostilidade
encontrada . pelo escritor sergipono, recém-chegado ao Rio, no
qrupo da "Semana", liderado por
Valentim Magalhães <Silvio víngou-se desancando injustamente,
com uma virulência incrível, as
endeusadas
por
figuras mais
"capelinha".
aquela
• Assinalarei ainda « pagina "A
última sesão do Velho Senado"
que nos revela mais uma vez, «
de maneira eloqüente, o quanto
se
os homens 6<t monarquia
realidade
ò
mantiveram alheios
Nesse
novembro.
do 15 de
absurdo se manti*
alheamento
e toda a Ia
Imperador
a
veram
mifia imperial, com exceção do
Conde d'Eu, o único a encarou
«
desde o primeira momento,
gravidade da situação, propondo
medidas, que se fossem tomados
o tempo, ioUez desviassem, ü»;r
curso dos acontecimentos.
E fico por aqui no come^
desse livro substoncioso,
oufro»
serio, que se não tivesse"deixa:;
méritos, valeria paio?
que oferece 90S estudiosos do bo<»
vontade:
¦*
¦/-;
3a
M
w.WTJ-
íA
m
t
• .
I
omíngo,
RÉF
'!
/
LETRAS
8-2-1953
Sérgio Milllot, cuja atividade llterftrla vem tsendo realmento notável,
acaba de publicar mula uw livro. In-'
titula-to "Fanorama da moderna poe*
ela brasileira" e íol editado pelo Serviço do Documentação do Ministério
•ja Educação. £ um ensaio histórico
da nossa poesia desdo a Semana de
Arto Moderna aos dias atuais. Um
trabalho inteligente, feito cofan ciaresa, mótodo e espirito de síntese. Tfio
precioso pelo interesse critico que
ipreaenta quanto pelo valor lníorinativo. Nos novos, na geração de 45,
detem-se particularSérgio Milliet
mente.
A Editora da Casa do Estudante do Brasil publicou,
"O
janeiro próximo passado, os seguintes livros:
paromance de Mario Sette, em segunda
|qulm dourado',
"Como.
os trustes exploram o Brasil", de A.
f&o, e
rigues Monteiro.
Comemorou-se no dia 28 de Janeiro último ocenteíárlo de José Marti, o herói e precursor da independênIa de Cuba. Marti íói também uma das figuras mate
potáveis da literatura hispano-americana, autor de panjletos de extraordinário vigor e poesias patrióticas altanente inspiradas, nas quais lamentava a eorte de sua
átria sob o Jugo espanhol e incitava, ao mesmo tempo,
s cubanos à guerra santa pela independência.
!i
sobrevivente
dos irmãos
Será o artista um enfermo?
A "Folha da Manhã", de Sâo Paulo, esta realizando,
jitre psiquiatras, pintores, escritores, médicos, juristas,
betas, escultores, etc, uma "enquete" em torno da tese
ofendida pelo escritor Dçivid Antunes, em seu ensaio,
Foco Trágica da Arte", a ser lançado este mês pela
iitora "Letras da Província", a tese em apreço sustenta
lie o artista é um enfermo que encontra na arte uma
Ilvúla de equilíbrio para a sua predisposição para a
fucura, o suicídio ou o crime.
Romance sobre a fundação de São Paulo
8
¦-"".*
A escritora Dinali Silveira de Queiroz, a consagrada
ulora de "Margarida La Rocque" e "Floradas na Serestá trabalhando no momento em um novo romande fundo histórico, sobre a fundação dá capital paua, com o qual pretende concorrer a um dos% prêmios
IV Centenário de São Paulo.
nce
de Ruy
Santos
A Livraria José Olympio Editora lançou, recentemen-•
fflfie; o romance "Água. Barrenta", que assinala a estréia li-,
*l ifrária do deputado baiano Ruy Santos. Romance bèmtüri? v *^Udo e melhor escrito, "Água Barrenta",
que mereceu lúIo e penetrante artigo do deputado Ernani Sátyro, pupiado em nosso número pasfiado, revela um íiecionismo
le já se apresenta dominando os elementos dá arte romãisca.
ti
«aca~
• os três últimos números
Recebemos
"Acaiaca" — e 41,agradecemos
42 e 43 — correspondentes aos meáes
agosto, setembro e outubro dq ano próximo passado.
saiaca", revista de cultura de Belo Horizonte, obedece
fireção do escritor e poeta Celso Brant.
Uma carta de Maupassant
'ÁWM' 3?
| conhecido romancista americano
>onn Steinbeck possui uma carta inéiita de Guy de Maupassant, na qua$
se pode ler o vguinte trecho: "Se a
mulher e a tinta são as duas únicas
coisas que importam para o escritor,
são também aquelas que êle mais.de<?q procurar separar uma da outra".
Steinbéclc, pouca gente o saberá,; é
.un apaixonado colecionador de auto^rafos, e quando vai a Paris, passa
grande, parte do tempo percorrendo
3s alfarrabistas da "rive gacho" em
ouse. de raridades.
UMA ESTRÉIA
De São Paulo nos chega o
|olume de versos "Rosas" Verlelhas", que assinala a estréia
livro da poetisa Gida RinalGirastelli. O volume, que )nalguns poemas de boa íatum jui e alta inspiração,
traz nota
apresentação do sr, Antônio
aares Amora, seu professor
curso universitário qualíer. Quem, sendo tão jovem,
aliza versos como os reunidos
stó livro, não necessita de ne9$*fta "generosa" apresenta-
"Isabel,
íL£;iaDÇas úos cursos Psé-pri-
íA
il
¦_ ¦¦
V- *
.*5 ' ¦
.'¦'_"¦>'
V**
Alceu Amoroso Lima, doutor "honoris causa
Alceu Amoroso Lima
(Tristão de
Atnide), que há cerca de dois anos
.<o encontra nes Batadea unidos servindo como diretor do Dcpartameiito Cultural da Organização doj Estados Americanos, devera regressar ao
Brasil, cm abril próximo. Antes, porom, segundo s_ anuncia, reccb.r.t ü,í
0 titulo de doutor "honoris causa",
p-las Universidades Rutgers c do San
Francisco da Califórnia. Nn Rutgers
L-ssa honra lhe será atrDulda no mosmo dia em que devem ser contempiados com o referido título Pôster
Dulles o Padllha NOOVO, do México
a de bom
gosto"
Sob o título "Isabel, a do bom gesto", o proí. José
Carlos Lisboa acaba de publicar nos Cadernos de Cultura
(Serviço de Documentação do Ministério da Ecucação)
um interessante ensaio sobre a rainha Isabel,
foi
sem dúvida uma dae maiores figuras da história que
da Espanha. José Carlos Lisboa, professor de literatura eapanhola em duas faculdades de filosofia, a do Rio e a
de Belo Horizonte, é elo próprio um escritor de bom
Bosto, quo sabe unir a erudição ao cunho literário. Já
anteriormente nos havia dado ele, na mesma coleção,
um trabalho sobre o teatro de Cervantes. O ensaio ora
publicado, dada a maneira originai por que ó focalizado
o tema, deverá despertar o maior interesse.
Completas
de
João
Novo livro de Êlcio Xavier
Deverá aparecer durante todo o corrente mês em edição de "Revista Branca", novo livro de versos' de Elcio
Xavier, intitulado "Rosaquarium". o
poeta, quo ostreou em nossas letras com "O Véu daJovem
Manhã", volume de
poemas da melhor fatura poética e da mais alta inspiração
compôs e imprimiu, êlo próprio, os trabalhos de i;*!U novo
livro.
Ribeiro
Fábio Lucas no Rio
A A cademia Brasileira de Letras está publicando as
Obras Completas de João Ribeiro, organizadas pelo académico Muclo Leão. Segundo estamoB informados, a produçáo do grande João Ribeiro, nos mais diversos generos literários, reunida carinhosamente por Mucio Leão está
dividida em cerca de sessenta volumes.
Esteve nésía capital, em dias da semana passada o
«scritor Fábio Lucas, colaborador dêste suplemento
e um
dos valores mais expressivos da nova gerarão de lntolcrtuals mineiros.
Boletim Bibliográfico da Biblioteca Municipal
- /
Entrevista com
Henry
Miller
.>
A Biblioteca Municipal inaugurou, a 5 dò corrente mês
un programa de informações de caráter cultural e blbltográfico, a ser irradiado às quintas-feiras, às 20,45 na Radio Roquette Pinto, o programa Inaugurai constou de:
apresentação, pelo professor Roquette Pinto, escolhido paia
sou patrono; divulgaçfto de informações bibliográficas; leitura de uma página inédita, pelo acadêmico Olc(;árlo Marlano. A Biblioteca Municipal solicita a colaboração u-í
intelectuais, poetas e prosic!crs, qi.s d :i';jam contribui?
para "A Página da Semana", que consistira da leitura de
uma poesia, ou de üm trecho em prosa, preférenteiherite
pelo próprio autor.
Henry Miller, IncontestáVelmente, um dos
escritores norte-americanos de nosso tempo, cujagrandes
obra
tem exercido muita influencia sobre as novas gerações
européias, vem de conceder importante entrevista a Louie
Wiznitzer, correspondente de "LETRAS E ARTES" no Velho Mundo. Dentre os seus livros destacam-se "Printemps
Nolr" e "Tropique du Câncer". A entrevista em apreço
será publicada no próximo número dêste suplemento.
'Aula
de Solidão", de Stefan Baciu
Poema de José Escobar Faria
Em edição impressa na prensa manual do Artesanato
Cristo Operário, vem de ser lançado, integrando os Cademos Mira Celi, o livrinho de poemas "Aula de Solidão", de atitoria do escritor e poeta rumeno, radicado
entre nós, Stefan Baciu. O livrinho em apreço, que ostenta capa de Santa Rosa, assinala a estréia, como poeta
de língua portuguesa, de Stefan Baciu. É pode-se dizer
que constituiu uma boa estréia.
"Letras
Está circulando o oitavo numero de "Letras Flumlnenses", bem feito mensário de cultura e arte que se
edita em Niterói, sob a direção de Luiz Magalhães. Como
matéria de atração dêste número assinalamos o lançamento de um concurso de contos patrocinado pela Prefeitura da capital fluminense e pelo SEN AC regional,
com prêmios de três mil, dois mil e mil cruzeiros. Colafooram no número em apreço, entre outros. Geir Campos,
Aurélio Zaluar, Renato de Lacerda, Luiz Palmler.
Volume de versos de Craveiro Leite
As Edições Região, de Pernambuco, dirigidas pelo contista Mauritonio Mc ira e pelo poeta Edmir Régis, vão lançar, nos próximos meseB, o livro de estréia do poeta CraVeiro Leite,,"O Relógio".
Uma
O.poeta paulista Joaé Escobar Parla vai publicar novo
poema, sob o título de "II Canção de Exílio!*, O poema '
ím apreço foi divulgado era primeira mão por "LETRAS E
ARTES".
Geografia
antologia da poesia brasileira
na Espanha
Livro premiado
?
Foi publicado-o volume de contos "O Pecado dos Outros", de autoria de Enoi Renée Navarro Swain, premiado
pelo Centro de Letras do Paraná. A coletânea reúne quatorae contos.
Novela de Carlos David
Carlos David, jovem escritor que tem aparecido; corri
certa freqüência, em nossos suplementos literários, asslnando artigos e ensaies literários, vai estrear próximamente em livro com uma novela, a que deu o titulo úz
"Minuano", cujo enredo se desenvolve
no Rio Ormiúp
do Buli
Para os ginasianos
editada
Apareceu na Espanha, através de "Edlcioncs Cultura
Hispânica", de Madrid, uma Antologia
"seguintes da poesia brasileira
poetas: Gonçalves
que reúne, entre outros,- os
Dias, João Cabral de Melo Neto, Alvares de Azevedo, Henliqueta Lisboa, Francisco Otaviano, Ledo Ivo, Machado
de
'de Morais,
Assis, Pedro Nava, Fagundes Varela, Vinícius
Junqueira Freire, Mario Quintana, Rosalina Coelho Lisboa, Casimiro de Abreu, Raul Bopp, Alberto de Oliveira,
Augusto Frederico Schmidt, Olavo Bilac, Murilo Mendes,
Raimundo Correia, Cruz e Souza, Cassiano Ricardo, Alphonsus de Guimaraens, Carlos Drummond de Andrade,
Augusto dos Anjos, Emilio Moura, Raul de Leonl, Adaigisa Nery, Mario de Andrade, Manuel Bandeira, Julieto
Bárbara, Joaquim Cardozo, Odorico Tavares, Guilherme
de Almeida, Cecília Meireles, Pedro Dantas. Jorge de Lima, Matheos de Lima, Ribeiro Couto, Castro Alves, Tasso
da Silveira, Ronald de Carvalho, Dante Milano,. Augusto
Meyer, etc. O organizador da referida antologia foi o d:plomata brasileiro Sr. Renato de Mendonça.
Mais um livro didático, elaborado com multa ciareza, vem de ser lançado pelas Edições Melhoramentos:
"O latim nos
ginásios", do autoria de João Camilo do
Almeidr.
Machado de Assis nos Estados
O jornal "The Crisiii'' de Nova lorque, publicou ,há pouco, sob o titulo
Grcat Negro Author KeciiKcovercd",
im importante artigo do escritor Wiliam Grossmann sobre Machado do
\ssis. Grossmann foi quem traduziu
jara o inglês as "Memórias póstuma»
.ie Braz Cubas", obra oue refletiu ialluências inglesas, não poderá de -ser
particularmente apreciada pelo púbhco anglo-saxão. Mas o que se con clui de tudo isso é que, aos poucos,
Machado de Assis vai tendo a repercussão universal que merece.
iliiiii
ANDRÉ LKOTE E O BRASIL
£ André Lhote começou & trabalhar numa
série de quadros, todos eles sobre croquis feitos no Brasil. Será uma vasta documentação
sobre a paisagem e os costumes do nosso país,
que o pintor nelas apresentará.
6 As edições Kropf, de Nova Iorque, vão publicar "Et nunc manet inte", de André Gide
—obra póstima que causou tanto rumor quando apareceu — com o título de Madeleine".
A Correspondência de Gide-Claudel também
será lançada por estes dias, nos Estados Unidos.
MORREU
ABEL
Geral
Destinada à primeira série ginaslal, acaba de ap;,recer, através das Edições Melhoramentos. "Gco;vrafIa G'>
ral", de autoria de Moisés Glcovate. O volume traz numerosas ilustrações.
Fluminenses" n.° S
CEDE NOS ESTADOS UNIDOS
luito útil o livrinho "Meu
>kj cj>m ilustrações coloridas,
lioiicado
Edições Melho,%nentos. pelas
Destina-se o mesmo
aprendizado do alfabeto pe-
-•
Na Califórnia, com 74 anos de idade, faleceu
"scrttor Walter B. Pitklng quo so tornou conhecido0
por
um Uvro popularlsulmo "A vido oomeça nos
Obra que se acha traduzido em vária» línguas, quarenta"
inclusive
«*n portuguôs. Pltking era educador e o seu famoso
livro
n&o tinha outro sentido sonflo o de ser Um instrumento
do educação popular.
Tharand
Há cerca de alguns meses faleceu o escritor Jean
Ihàrand, que fazia da dupla Jeipme et Jean Tharand,
Bis irmãos que, a exemplo dos Goncourst sempre íizeLm suas obras de colaboraç&o. Agora, 6 Jeróme .quem
fcaba de falecer com 76 anos de idade.
»
Morreu o autor de "A vida começa aos
quarenta"
•
"Obras
O centenário de José Marti
o
Página —
PANORAMA LLTERARIÍ
adições da Casa do Estudante
Correu
ARTES
¦
"P^ama da moderna
poesia brasileira"
4ILi'bi
E
LEFRANC
$ Faleceu com maip de noventa anos o escritor Abel Lefranc, grande erudito, que consumiu grande-parte da existência em estudar
a obra de Shakespeare, chegando à conclusão
de que esta era da autoria de Lord Derby, segundo procurou provar em mais de um volume.
UM CURSO SOBRE STENDHAL
0 Henri Martineau, um dos maiores especialistas em Stendhal, realiza atualmente em
Bruxelas um curso sobre "Stendhal turista"
e a gênese da "Chartreuse de Parme", curso esse que deverá depois aparecer em Urro.
if^MN^WVWN^y^^^A^^^^/>A/\AAAA^A^>A/N^^^^^WWV^VWV
D. LANA — Conselheiro Lafaiete (E. de Minas Gerais) —
Seu poema "Luz e Sombra",
já que nos pede uma opinião,
não é bom. Todavia, também
não é mau, revelando, pelo menos, certa vocação para o gênero.
v ,
GILBERTO CHAVES — Santa Bárbara d'Oeste (E. de Sao
Paulo) — O meio mais prático
de contar com todos os mimeros
do
suplemento é tornar
uma assinatura dominical de
A MANHA. O livro cm apreço
sairá dentro de alguns meses,
integrando a coleção Os Cademos, de Cultura, editada peIo Serviço de Documentação da
Ministério da Educação e Saúde.
e/nfes
Letras eArti
DOMINGO, 8 DE FEVEREIRO DE 1953
•r.*
Do
________II_________________________^____________H^
;**''''¦'¦'¦;'•'¦x-'''>^'^H[^^B^^B__MHBBw^BfloB_HBfe0fty.*JJi-i*i^
5p__fffl_T'*¦'*¦'
'"v^Bf'*''^^i*• .^P.*i*'*''8^^BB
^
^—^ft^—j^-j^—tt—_!_________—__*•'>*
. J|
f
~rí_fo:£'
>'^:-:.'y::_M
Btllfev
K:'-^: .':¦¦¦ :t::K_Mi
i>.">w-yg ''o:*'. .• :»Ç'-_-i
BPRi
Wjfflll]« U:: :¦
yXvill-i lilULi-
'
-¦•::-:-^_
.¦¦j:£í_i _Px^ : _
o" ¦ i-i B - ¦¦. _ ¦____
-.J •¦^B
__L
__L^I
¦_*
_M___'Á—Mfc __—8— - *• SJB»
¦ ___» B _fe.Lv «_HE
____^___I__P7-'* _________________________
yV¦
B-
DiUy
• ?/'lifrff/- .'
'''t/f/M < . '' ¦¦/!//»///>/•
í •*
W ro a
Ck drcs
¦**
: :£
-: M
EmÁ_£' ¦ '¦•':
Wm*^^ W.
8:-';
iíp.^i i w^n«^^*——«'*^"*BflHKa_M___
B_____^^^
:
___»
^5*^':,:;-Pvtv^''"'¦¦¦
_¦
muc
aten
íogia
n|,
[9
i>rití
:¦?..:,¦¦"•:
'V::':'-;;''
Sryfp
•.
.-.; HV
*¦¦¦'
• ••:•: -.-: •:¦•.... ••¦:••
X'K«W«.:•:•;.•••
./<<:••:¦:»•:¦;•:•:••:•:•:•:•:••.:• :-;:•••:¦ .¦¦••••:•:¦::•: .
r_ f:^..t.M-:.:¦:_•—¦>:_..-:-^.;:f¦>¦.¦¦¦ ¦...¦.¦y.fr-,.: ;¦_¦'¦.aaftafeÉiBteaadSaW
'¦
'¦'¦
¦;,
...
^t^*'.v':vv'+¦:¦¦¦"•
':.
¦
¦"•
~>
Ilustração
...
v
.....
í
a
^
de SANTA ROSA
j
fé cc
M ARIANA
I hoso
'Mro
li
| diâri
/•V" tâni<
'1
¦ fc i <;ão
ESTÁ CHOVENDO SOBRE O MUNDO, MARIANA
TODAS AS PORTAS SE FECHARAM.
*'
TODAS AS LUZES SE APAGARAM.,
¦
"¦»< '
*r;-"
ÍÔDAS AS VIDAS SE ABISMARAM.
ESTÁ CHOVENDO SOBRE O MUNDO.
*
•
ESTOU SÓ, SEM DESTINO E SEM ABRIGO.
r
'
|
*
,
S5
I
1 secre
¦&
..VEJO A NOITE DESCER/CADA VEZ MAIS NEGRA SOBRE A MINHA CABEÇA
__
gO
V—I
#
^
< o
<C
, .•- xar
l^ entr<
angl
I glatt
g part
caca
gene
cspé<
" _i cia (
_¦ ginai
guar
vezef
«sen
vi
sepu
râ c
que
do q
¦ mani
a nu
Cl
SINTO A ÁGUA CORRER, CADA VEZ MAIS FRIA, AO LONGO DO MEU CORPO.,
' COMO ESTÁ CHOVENDO SOBRE O MUNDO! ,
o
-Kl
%* *-«
CÜ
ONDE ESTÁS? ONDE ESTÁS, MARIANA?
e-í
o
o
QUERO TE VER, QUERO TE ACHAR,
d
s-,
®
—< -**l TJ
-3
o>
CQ •¦ fie
. ¦—.< J> •
cq <
a
-1
QUERO TE
CONHECER,
criaç
tant<
ana.
rém,
par
atrib
j-egis
Jj cons«
|
I
•¦.'§
f;i
.vi
;^J
ünflu
de e
ftimo
entr<
ncos
exist
íla
I
I
|
cia i
Ness
ftime
Tia <
IHf uma
s* l
í%iiI uma
QUERO QUE ESTEJAS PERTO DE MIM, MARIANA,
|J: uma
|« anais
QUANDO. A LUZ SURGIR DE
E O PRIMEIRO SOL NASCER
NOVO,
QUANDO AMANHECER,
#^
, timo
R^
J^cerdi
SOBRE O DILÚVIO.
J O A
Q U
I
t: A
R
D
w
li
T^T afasf
E Pau!.
#iJfâiFissá<
i É "¦ cia í
'
I «li&rj
Na
Uh
•*__
Download

Domingo, 8-2-1953 - BIBLIOTECA NACIONAL