Recebido em: 15/3/2010
Emitido parece em: 9/4/2010
Artigo original
DANO MUSCULAR PROVOCADO POR TREINAMENTO RESISTIDO COM DIFERENTES
TEMPOS DE FASE EXCÊNTRICA E INTERVALOS ENTRE AS SÉRIES
Gabriel Câmara de Oliveira e Silva, Leandro Silva e Cavalcante, Walkíria Valeriano da Silva,
Lucas Dantas Maia Forte, Alexandre Sérgio Silva
RESUMO
Exercícios resistidos com cargas elevadas e com maior tempo de fase excêntrica são considerados os
mais indicados para promover hipertrofia, devido ao potencial para produzir microlesões musculares
através de um estresse tensional sobre os músculos. Entretanto, nos últimos anos alguns pesquisadores
têm demonstrado que exercícios com cargas menores também têm potencial para hipertrofia, desde que
com intervalos pequenos, para gerar um estresse metabólico. O objetivo deste estudo foi comparar o dano
muscular obtido em exercícios resistidos com cargas elevadas e ênfase sobre a fase excêntrica versus
cargas leves e intervalos curtos. Dez sujeitos (23,6 ± 2,8 anos), sendo cinco homens, realizaram duas
sessões de exercícios resistidos com 10 exercícios para membros superiores e inferiores, sendo uma com
predominância de estresse tensional (TEN), cargas de 80% de 1 repetição máxima (RM) e intervalo de 1,5
minuto entre as séries e outra com predominância de estresse metabólico (MET), cargas de 50% de 1RM e
intervalos de apenas 30 segundos entre as séries. Uma sessão controle (CON), com cargas de 50% de
1RM e intervalos de 1,5 minutos completou o protocolo experimental. Coletas sanguíneas foram feitas
antes, 30 minutos após e 24 horas após cada sessão de treinamento para determinação de marcadores de
dano muscular: lactatodesidrogenase (LDH) e creatinoquinase (CK). Os protocolos MET e TEN resultaram
em elevação similar de LDH, sendo estas, significativamente maior que o ocorrido em CON (38,9%, 29,2%
e 12,1% de elevação para MET, TEN e CON respectivamente. Por outro lado, a elevação de CK no
protocolo TEN (194,5%) foi significativamente maior que os demais protocolos. Entretanto, a elevação
desta mesma enzima em MET (75,1%), foi significativamente maior que no protocolo CON (42,9%).
Concluímos intervalos curtos entre as séries é suficiente para promover dano muscular em exercícios
resistidos com cargas tão pequenas quanto 50% de 1RM.
Palavras-chave: Exercício resistido, dano muscular, creatinoquinase, lactatodesidrogenase.
MUSCLE DAMAGE CAUSED BY RESISTANCE TRAINING WITH DIFFERENT TIMES
DURING THE ECCENTRIC PHASE AND INTERVALS BETWEEN THE WORKOUTS
ABSTRACT
Resistance exercises with high loads and longer eccentric phase are considered the most indicated to
provoke hypertrophy due to their potential to produce muscle damage through a tensional stress on the
muscles. However, in recent years, some researchers have demonstrated that exercises with lower loads
also have potential for hypertrophy, since with small intervals, to generate a metabolic stress. The objective
of this study was to compare the muscle damage resulted from resistance exercises with high loads and
emphasis on the eccentric phase versus light loads and short intervals. Ten subjects (23,6 ± 2,8 years), five
of them male, performed two sessions of resistance exercises with 10 exercises for both superior and
inferior members, being one session with predominance of tensional stress (TEN), loads of 80% of 1
repetition maximum (RM) and 1.5 minute interval between the sets and the other session with
predominance of metabolic stress (MET), loads of 50% of 1RM and only 30 second intervals between the
sets. A control session (CON), with loads of 50% 1RM and 1.5 minute intervals completed the experimental
protocol. Blood collections were done before, 30 minutes after and 24 hours after each session of training to
determine of muscle damage markers: lactatodesidrogenase, (LDH) and creatinoquinase (CK). Protocols
MET and TEN resulted in similar increase of LDH, being this increase significantly higher than the one in
CON (38.9%, 29.2% and 12.1% of increase for MET, TEN and CON, respectively.) On the other hand, the
increase of CK in protocol TEN (194.5%) was significantly higher than in the other protocols. However, the
increase of this same enzyme in MET (75.1%) was significantly higher than in protocol CON (42.9%). We
conclude that the reduction of the interval between setsis enough to provoke muscular damage in
resistance exercises with loads as low as 50% 1RM.
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Keywords: Resistance exercises, muscle damage, creatinoquinase, lactatodesidrogenase.
INTRODUÇÃO
Até há alguns anos atrás, acreditava-se que o dano muscular relacionado ao treino de caráter
tensional (carga elevadas), era o único responsável pela hipertrofia. No entanto, estudos recentes têm
demonstrado que, para o ganho de massa muscular, estão envolvidos outros fatores, como é o caso da
hipóxia muscular e da participação das respostas hormonais (TAKARADA et al. 2000; GENTIL, 2008).
Alguns estudos têm demonstrado que o treino de força com oclusão vascular aumenta a resposta
hormonal de hormônio do crescimento (GH) e as concentrações de lactato (REEVES, et al. 2006). A
oclusão vascular dificulta o fluxo sanguíneo e, consequentemente, a chegada de oxigênio às fibras
musculares, levando à queda de pH, que se reflete em acúmulo de lactato. Esta oclusão vascular mostrase útil quando associada com cargas baixas (aproximadamente 50% de uma repetição máxima (1RM) que
resulta em hipertrofia muscular similar ao que se obtém com treinamentos com cargas mais altas (80% de
1RM) (TAKARADA et al., 2000).
Por isto, vários pesquisadores e profissionais de educação física têm enfocado o treinamento de
força sob duas abordagens: tensional e metabólica. O estímulo tensional ou mecânico se caracteriza pela
utilização de cargas elevadas (expressa em unidades de massa) e amplitudes de movimento altas durante
o exercício, particularmente com tempos de fase excêntrica maior que o de fase concêntrica para
potencializar as microlesoes induzidas pelo treinamento (BOTTAS et al, 2004). Acredita–se que este seja
um dos fatores determinantes mais importantes das adaptações do treinamento de força (FOLLAND et al.,
2001). Enquanto isso, a abordagem metabólica traz às células musculares um maior estresse bioquímico.
O treinamento sob esta abordagem é feito com utilização de cargas mais baixas (em torno de 50% de
1RM), maior tempo de execução de uma série e, principalmente com um intervalo reduzido entre as séries
(BURGOMASTER, 2003). Estas duas abordagens tem se mostrado úteis na aquisição de hipertrofia
muscular (GENTIL, 2008).
As respostas hormonais e moleculares induzidas pelo treinamento, bem como as microlesões
constituem-se no mecanismo que explicam a hipertrofia (BOSCO et al., 2000). A magnitude da participação
destes fatores depende do tipo de treinamento realizado. Devido ao maior estresse mecânico que
promove, o treinamento com abordagem tensional tem grande potencial pra induzir microlesões. Por outro
lado, existem alguns indícios de que a hipóxia muscular promovida por intervalos curtos ou pela limitação
do fluxo sanguíneo aos músculos exercitados também podem influenciar de maneira importante o dano
muscular, mesmo considerando que as cargas não são tão altas quanto as que caracterizam os treinos
com caráter tensional. No entanto, estudos para confirmar esta premissa ainda são escassos.
Assim, o objetivo deste estudo é investigar a participação do tempo de fase excêntrica em treinos
com cargas elevadas (estresse tensional) bem como os efeitos de um protocolo de treinamento com
cargas leves, mas pequeno intervalo de recuperação (estresse metabólico) no dano muscular em sujeitos
jovens saudáveis previamente praticantes de exercícios resistidos.
METODOLOGIA
Sujeitos do estudo: O estudo foi desenvolvido com dez praticantes de exercícios resistidos,
aparentemente saudáveis, sem histórico de hipertriglicemia ou hiperbillirrubinemia, com idade média de
23,6 ± 2,8 anos, peso de 65,1 ± 14,1, estatura 166 ± 8,9. Eles tinham pelo menos seis meses de prática de
exercícios resistidos com objetivo de hipertrofia. Todos os sujeitos foram solicitados a assinar o Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, conforme resolução 196 /96 do Conselho Nacional de Saúde.
Desenho do estudo: Os sujeitos realizaram três sessões de musculação com ordem definida
aleatoriamente, sendo 10 exercícios alternados por segmento em três sessões: uma sessão com
predominância tensional; a segunda com predominância metabólica, e por ultimo, uma sessão controle.
Coletas de sangue venoso foram feitas antes a após as sessões para análise de marcadores de dano
muscular: creatinoquinase (CK) e lactatodesidrogenase (LDH).
Preparação para o estudo: Há 72 horas do inicio do procedimento experimental, foram realizados
testes de avaliação direta de uma repetição máxima (1RM) em cada um dos 10 exercícios, seguindo o
protocolo de Fleck e Kraemer (2006). Em seguida, os sujeitos foram orientados a não executarem qualquer
outro treinamento físico sistematizado até o final das sessões experimentais, evitarem atividades cotidianas
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que alterem o padrão normal de horas de sono, não ingerir qualquer suplemento esportivo, assim como
não ingerir bebidas alcoólicas. Neste período eles deveriam manter seus padrões alimentares normais.
Protocolo de treinamento: As sessões foram realizadas sempre entre 14h e 18h. Um intervalo
mínimo de 72 horas foi dado entre os três protocolos. Estes protocolos foram definidos aleatoriamente.
Assim, a primeira sessão teve característica predominantemente tensional, com 3 séries de 10 a 12
repetições a 80% da carga máxima, cadencia 4020 (quatro segundos de fase excêntrica e dois de fase
concêntrica, sem tempo de transição) e intervalos de um minuto. A segunda sessão teve predominância
metabólica, sendo realizada com 3 séries de 15 a 20 repetições com 50% da carga máxima com cadência
2020 e intervalo de 30 segundos entre as séries. Por fim, foi feito uma sessão controle, que teve
característica de resistência muscular localizada (RML), com 3 séries de 15 a 20 repetições com 50% da
carga máxima e intervalo de um minuto e trinta segundos entre as séries. Para assegurar a correção na
cadência dos exercícios, os sujeitos foram adaptados ao sinal sonoro de um metrônomo digital
especialmente gravado para este fim. Antes de cada exercício, os sujeitos realizaram um aquecimento
constituído por 20 a 25 repetições no aparelho que iria ser usado. Foi neste momento que eles foram
adaptados ao sinal sonoro.
As sessões de treinamento foram compostas por cinco exercícios para membros superiores e
cinco para membros inferiores como descrito a seguir, conforme nomenclatura adotada por Delavier
(2006): supino ou bech press; tríceps com polia alta, mãos em pronação; puxada na frente com polia alta;
flexão dos antebraços com barra, mãos em supinação; desenvolvimento pela frente com barra - para
superior; e para inferior – agachamento; leg press inclinado; flexão dos joelhos com aparelho especifico ou
leg curl; extensão dos pés no leg press horizontal; adutores com aparelho específico. O tempo total das
sessões variou de 40 a 60 minutos. No dia dos experimentos, a academia foi reservada apenas para este
procedimento, para assegurar uma logística que garantisse a precisão dos intervalos propostos para cada
procedimento.
Coletas sanguíneas e análise de CK e LDH: Coletas de 5 ml de sangue venoso foram feitas 10
minutos antes das três sessões, 30 minutos após o termino dos exercícios e 24 horas após as sessões
para análise de CK e LDH. As coletas foram realizadas por enfermeiras devidamente treinadas e
experientes. O sangue foi imediatamente colocado em tubos sem nenhum anticoagulante. Esperou-se
entre 20 minutos e as amostras foram centrifugadas a 3000 RPM por 15 minutos. O sobrenadante foi então
transferido para tubos ependorfs. Todas as análises foram realizadas no mesmo dia ou 24 horas após a
coleta sanguínea.
Para análise de CK foi utilizado um kit comercial Labtest (Minas Gerais, Brasil). Um volume de 20
ml de plasma foi adicionado a 1 ml do reagente de trabalho, conforme instruções do fabricante, e a leitura
foi feita em um espectrofotômetro, a um comprimento de onda de 340 nm. A atividade sérica da enzima
LDH foi mensurada por meio do kit comercial Labtest (Minas Gerais, Brasil). As amostras foram mantidas
entre 15 e 25° ate a análise. Um volume de 20 ml de plasma foi adicionado a 1 ml do reagente de trabalho,
conforme instruções do fabricante, e a leitura foi feita em um espectrofotômetro, a um comprimento de
onda de 340 nm.
Análise estatística: Os dados estão apresentados como média e erro padrão da média. Os
valores de LDH e CK foram comparados de forma intra grupos e entre grupos. Para isto, foi utilizada a
ANOVA de um caminho, adotando-se nível de confiança de 5%. Estes procedimentos foram realizados no
software estatístico Instat, versão 3.06 (GraphPAd software, inc. San Diego, USA).
RESULTADOS
Os valores basais de LDH foram estatisticamente similares para os três protocolos de treinamento
realizados. Nenhum destes protocolos foi capaz de promover aumentos significativos na atividade sérica de
LDH nem aos 30 minutos pós exercício, nem 24 horas depois de encerrado o treinamento. Estes dados
estão sumarizados na tabela 1.
Assim como para a LDH, a atividade sérica dos sujeitos se encontrava similar nos momentos antes
dos três protocolos de treinamento utilizados. Porém, diferentemente do que ocorreu para a LDH, os
protocolos de treinamento com abordagem metabólica e tensional promoveram aumentos significativos da
atividade sérica de CK 24h após a realização destes exercícios em relação aos valores basais. Enquanto
isso, o protocolo controle não alterou a atividade desta enzima em nenhum dos dois momentos pós
exercício em relação aos valores basais.
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Tabela 1. Valores absolutos da atividade de Lactatodesidrogenase sérica antes (pré), 30 minutos
após o exercício (30min pós) e 24 horas depois de encerrado o exercício (24h pós).
Lactatodesidrogenase (U/l)
Pré
30 min. pós
24h pós
Metabólico
345,9 ± 193
374,8 ± 181
480,6 ± 240
Tensional
391,5 ± 168
425,0 ± 223
505,9 ± 257
Controle
438,5 ± 298
404,8 ± 286
491,5 ± 348
Os dados são media e desvio padrão da média. Não foram encontradas diferenças
estatísticas entre os protocolos de treinamento. Entre os momentos pré e pós treino, a
elevação na concentração de LDH também foi significativa.
Na figura 1 estão apresentadas as variações percentuais para o aumento da LDH (painel A) e da
CK (Painel B). Os protocolos de treinamento promoveram aumentos apenas discretos (entre 12 e 39%) na
atividade sérica de LDH do repouso para 24 horas após os treinamentos. Os protocolos de treinamentos
metabólico e tensional promoveram aumentos que não diferiram entre si, mas os dois foram
significativamente maiores que o obtido pelo protocolo controle.
Figura 1. Percentual de aumento das atividades séricas da lactatodesidrogenase (LDH. Painel A) e
creatinoquinase (CK, painel B), nas 24 horas após os protocolos de treinamento em
relação aos valores basais.
MET = protocolo experimental metabólico: TEN = protocolo experimental tensional; CON = protocolo
controle. * indica diferença estatística de CON em relação aos protocolos experimentais MET e TEN; #
indica diferença entre os protocolos MET e TEN.
Tabela 2. Valores absolutos da atividade de creatinoquinase sérica antes (pré), 30 minutos após o
exercício (30min pós) e 24 horas depois de encerrado o exercício (24h pós).
Creatinoquinasenase (U/l)
Pré
30 min. pós
24h pós
Metabólico
207,3 ± 98
382,9 ± 113
439,7 ± 150 *
Tensional
144,6 ± 206
199,2 ± 206
425,8 ± 326 *
Controle
113,7 ± 73
184,3 ± 110
162,5 ± 71
Os dados são media e desvio padrão da média. * indica diferença estatística entre os valores
pré e 24h pós.
Enquanto isso, os aumentos observados na atividade sérica de CK 24 horas após os protocolos
metabólico e tensional foram bem mais elevados, sendo que o protocolo de treinamento tensional
promoveu um aumento da atividade desta enzima significativamente maior que o obtido para o protocolo
metabólico. O aumento da atividade de CK em resposta ao protocolo controle foi apenas discreto em
relação aos protocolos experimentais.
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DISCUSSÃO
Os dados de nosso estudo indicam que tanto a atividade da enzima lactatodesidrogenase quanto
da creatinoquinase são úteis para avaliar o dano muscular induzido por treinamento físico. O maior
aumento da atividade da creatinoquinase mostra que esta enzima é mais sensível para a quantificação de
dano muscular induzido por treinamento físico. Considerando estas questões, podemos afirmar que o
treinamento tensional é o mais eficaz em promover microlesões musculares. Entretanto, apesar ser
praticado com cargas tão leves quanto de apenas 50% de 1RM, o pequeno intervalo do protocolo
metabólico também se mostrou capaz de promover um significativo dano muscular comparado com um
treinamento com a mesma carga e intervalos entre as séries maiores (protocolo controle).
As atividades séricas da lactatodesidrogenase e da creatinoquinase têm sido consideradas
ferramentas úteis na detecção de microlesões musculares induzidas por treinamento físico (HARTMANN e
MESTER, 2000). A maior sensibilidade da creatinoquinase corrobora com vários outros estudos que
colocam a atividade sérica desta enzima como um dos principais marcadores de dano muscular e de
overtraining em atletas (THOMAS et al, 2000; LAC E MASO, 2004; SELLWOOD et al. 2007). O
treinamento com exercício resistido é um dos que apresentam maior potencial para promover microlesões
musculares (ANTONIO E GONEYA, 1993; FLECK e KRAEMER, 2006) Assim, estas ferramentas que
monitoram dano muscular se mostram bastantes compatíveis com estudos na área dos exercícios
resistidos.
O dano muscular é o mais clássico mecanismo envolvido na hipertrofia muscular induzida pelo
treinamento resistido. Exercícios com cargas elevadas (entre 70 e 80 % de 1RM e com 6 a 12 repetições
são os mais efetivos para hipertrofia, precisamente por promover maiores danos musculares (FLECK e
KRAEMER, 2006). Isto ocorre porque cargas elevadas induzem um estresse tensional sobre o tecido
muscular, de modo que durante o exercício acontecem microlesões devido ao fato de várias repetições
serem feitas com uma carga acima do que o tecido suportaria de forma ilesa (GENTIL, 2008). Existem
ainda várias evidências de que o contração muscular de natureza excêntrica está relacionada com maior
desgaste físico – mecânico do tecido muscular em relação à contrações concêntricas ou isométricas
(FLECK E KRAEMER, 2006). Então a literatura recente propõe que treinamentos com cargas elevadas e
explorando a fase excêntrica (realizando o movimento nesta fase com o dobro de tempo em relação à
concêntrica) característica um treino com predominância tensional (GENTIL, 2008). Nossos dados
corroboram com estas premissas ao confirmarem que um protocolo de treinamento com estas
características é hábil em promover microlesões musculares, o que foi evidenciado pela elevação de quase
200% da CK em resposta ao protocolo de treinamento tensional.
Entretanto, o dano muscular não é o único mecanismo pelo qual se obtém hipertrofia muscular.
Vários estudos nos últimos anos demonstraram que alguns hormônios com propriedades anabólica
muscular têm suas secreções aumentadas em resposta sessões de exercícios resistidos (GOTO et al,
2005; TAKARADA et al. 2000). De fato, mesmo que um treinamento seja feito com cargas leves (em torno
de 50% de 1RM), procedimentos realizados com vistas a aumentar a concentração de metabólitos no
músculo geram um estresse metabólico sobre as células musculares. Estes procedimentos podem ser a
oclusão vascular ou então uma redução nos intervalos entre as séries para tempos tão breves quanto
apenas 30 segundos (TAKARADA e ISHI, 2002; TAKARADA et al, 2000). Isto reduz o tempo de remoção
de metabólitos entre uma série e outro, promovendo um estresse metabólico à medida que séries e
repetições vão se acumulando. Estes autores demonstraram níveis de hipertrofia significativos com este
tipo de treinamento. Demonstraram ainda que os níveis de hipertrofia são comparáveis aos que se obtêm
com os protocolos clássicos usados na prescrição de exercícios com objetivos de hipertrofia (com cargas
mais elevadas, entre 70% e 90% de 1RM que caracterizam os treinamentos com predominância
metabólica).
Neste estudo, nós testamos a hipótese de que, alem de induzir maior estresse metabólico,
treinamentos com caráter metabólico poderiam também induzir microlesoes musculares. De fato, os dados
da atividade sérica de creatinoquinase confirmaram nossa hipótese. Comparado com o procedimento
controle, onde foram utilizadas cargas também de 50% de 1RM, mas com intervalos longos (1,5 minuto), o
protocolo experimental com treinamento de predominância metabólica induziu um aumento da atividade de
creatinoquinase em torno de quase três vezes maior que o protocolo controle. Nossos dados corroboram
com os dados de Antonio e Goneya (1993), que também já indicavam que o tecido muscular responde à
hipóxia com algum grau de microlesão.
Assim, o principal achado deste estudo é que, a adoção de intervalos curtos entre as séries de
treinamentos com exercícios resistidos se constitui em uma efetiva alternativa para se induzir a
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microlesões, e consequentemente hipertrofia muscular, mesmo que se utilize cargas que seriam
equivalentes a um treinamento de RML A relevância destas informações está no fato de que profissionais
que trabalham em academias contam com mais uma alternativa na prescrição de treinamento de
exercícios resistidos. Isto se reflete em mais subsídios que profissionais de Educação Física dispõem para
manipular os parâmetros do treinamento com mais ampla variedade.
CONCLUSÃO
Os dados deste estudo nos permitem concluir que uma sessão de exercícios resistidos com cargas
típicas de RML, mas com intervalos reduzidos, promovem uma magnitude significativa de microlesões
musculares. Este dado reforça algumas indicações prévias de que o treinamento que gera estresse
metabólico é eficaz no sentido de induzir hipertrofia também por meio do dano muscular.
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