Aula 38
Creio na Igreja Católica - 14
1 - Juntas, a Ressurreição de Cristo e a Nossa (992-996)
O Catecismo da Igreja nos ensina que a crença na ressurreição é consequência da crença que Deus
criou o homem inteiro, corpo e alma.
Então, a esperança de uma vida além do túmulo precisa abranger o ser humano na sua inteireza.
No pensamento judaico, a ideia da ressurreição é bem tardia, ou seja, não longe do tempo de
Jesus. Nosso Catecismo cita o Segundo Livro dos Macabeus, que deve ter sido escrito uns 110 ou
115 anos antes de Cristo.
“A ressurreição dos mortos foi revelada progressivamente por Deus a seu povo. A esperança na
ressurreição corporal dos mortos foi se impondo como uma consequência intrínseca da fé em um
Deus criador do homem inteiro, alma e corpo... ‘O Rei do mundo nos fará ressurgir para uma vida
eterna, a nós que morremos por suas leis (2Mc 7,9). É desejável passar para outra vida pelas mãos
dos homens, tendo da parte de Deus as esperanças de ser um dia ressuscitado por ele”’(2Mc
7,14).
Nos dias de Jesus, os fariseus e muitos outros acreditavam na ressurreição dos mortos. Mas os
saduceus não acreditavam. A este Jesus, pergunta: “Não é por isso que errais, desconhecendo
tanto a Escritura como o poder de Deus?” (Mc12,24). Para Jesus, crer em Deus como Ele O
conhece, traz como consequência a aceitação da ressurreição. Se não fosse assim, a morte
destruiria os planos divinos. Jesus termina suas palavras aos saduceus assim: “Vós estais
completamente errados”(Mc 12,27).
Na verdade Jesus nos ensina uma novidade original nas Escrituras. Ele liga a ressurreição à própria
pessoa Dele: “Eu sou a ressurreição e a vida”(Jo11,25). Além disso, Ele promete que nossa
ressurreição será obra Dele. Condição para isso acontecer conosco é estarmos em união com Ele
pela Fé, desde o Batismo e termo-nos alimentado Dele pela Eucaristia. “Aquele que come minha
carne e bebe meu sangue tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo 6,44).
Nas minhas meditações sobre textos do NT para compreender a vida da Igreja, a vida divina que
todos os seus membros experimentam (=graça), bem como as funções da Igreja neste mundo,
tudo, afinal, fica mais claro e fácil de compreender se assimilarmos a imagem da Igreja como
Corpo de Cristo com sua diversidade de membros, mantendo, contudo, a unidade do conjunto.
Esta chave de leitura tem um segundo elemento que não podemos esquecer. Jesus tem uma
particularidade bem pessoal: partilhar tudo o que é Seu com seus seguidores, chamados por Ele de
amigos e irmãos. Ele partilha tudo, até seu poder e sua própria Natureza Divina (cf. Jo15,11-17).
Todo triunfo Dele sobre o Mal e sobre a morte, Ele quer que seja também nosso. A natureza
imortal Dele Ele a quer para nós. Faz agora parte de nossa natureza. A glorificação Dele Ele a
partilha conosco. Por isso somos “novas criaturas” em Cristo (Cl 3,9-11).
2 - Algumas perguntas do Catecismo Católico (997)
● O que significa ressuscitar? (997)
É um conceito que a maioria do povo cristão praticante tem presente e parece que todos pensam
basicamente o mesmo a seu respeito. Acredito na ressurreição da alma e do corpo glorificado. As
narrações das aparições de Jesus ressuscitado ajudam muito. Nossa Fé nos diz que Jesus quer o
mesmo para nós, ou seja, ressuscitar como Ele.
● Quem vai ressuscitar? (998)
Todos irão ressuscitar. “Os que fizeram o bem (saíram) para uma ressurreição de vida; os que
tiveram praticado o mal, para uma ressurreição de julgamento” (Jo5,29).
● De que maneira? (999)
Como Cristo ressuscitou com seu próprio corpo, nós também ressuscitaremos com nosso próprio
corpo.
Insistir no como pode ser complicado e vai para além de nossa imaginação. É obra de Deus.
● Quando? (1001)
A Igreja sempre disse “no último dia”, pensando no evangelista João (cf.6,39-40.44.54;11,24). Na
vinda gloriosa do Cordeiro de Deus - estamos pensando no Apocalipse - todos, bons e maus,
ressuscitarão.
3 - Ressuscitados com Cristo (1002-1004)
“Se é verdade que Cristo nos ressuscitará ‘no último dia’, também é verdade que, de certo modo,
já ressuscitamos com Cristo. Pois, graças ao ES, a vida cristã é, já agora na Terra, uma participação
na morte e ressurreição de Cristo” (CIC 1002).
Nunca podemos esquecer que o Cristo com o qual convivemos, o Cristo com o qual nos unimos na
Eucaristia, o Cristo que está presente onde “dois ou três se reúnem em meu nome” é o Cristo
ressuscitado. De alguma forma já vivemos como ressuscitados.
4 - Morrer em Cristo Jesus (CIC 1005-1014)
4.1 - O que é?
Poderíamos começar falando em morrer com Cristo ou por Cristo. Mas a Igreja preferiu dizer
morrer em Cristo. Para quem tem uma fé esclarecida é claro. Tudo torna-se mais claro se, mais
uma vez, recorrermos à imagem da Igreja como Corpo de Cristo. Todos os seus membros estão em
constante união com o Cristo-Cabeça. A vitalidade de Cristo atinge todos os membros. Então todos
os membros da Igreja são vistos como que mergulhados em Cristo. Daí viver ou morrer em Cristo.
Quem vive em união com Cristo, comparável à união e comunhão que existem entre membros de
um corpo sadio, só pode nascer, viver e morrer em Cristo.
Mais uma vez insisto que é essencial para a vida cristã a gente treinar a focalização da atenção
consciente sobre pontos importantes de nossa fé. Hoje insisto no conteúdo da mais bela
conclusão de orações jamais elaborada. Trata-se da conclusão invariável das diversas orações
eucarísticas. “Por Cristo, com Cristo e em Cristo, a Vós Deus Pai ...”.
Para São Paulo, todo cristão que vive conscientemente sua Fé, desde o Batismo, ele insiste, vive e
atua sempre em, por e com Cristo. Nesta condição dá-se também o nosso morrer. Imagino que o
Cristo ao morrer na cruz, de braços abertos, recebe todos os nossos moribundos. Aí, a
identificação de Deus encarnado com o ser humano é mais total e tocante. Mas, como Ele não
podia ficar nos braços da morte, triunfou sobre ela e ressuscitou. Dessa forma podemos entender
que a morte nos liberta a todos, pois é passagem para a vida.
4.2 - A Morte e o Pecado (1008-1009)
Este é um tema de compreensão difícil. Nosso Catecismo afirma que “embora o homem tivesse
uma natureza mortal, Deus o destinava a não morrer. A morte foi, portanto, contrária aos
desígnios de Deus criador, e entrou no mundo como consequência do pecado” (1008) e nos
remete à Sabedoria 2, 23-24. Este texto bíblico diz com todas as letras que a morte entrou no
mundo “pela inveja de Satã”.
Acredito que muitos cristãos refletem bastante sobre a realidade da morte, se ela é ou não é
castigo, ou se é natural para qualquer ser terrestre.
Uma coisa é certa. Originariamente só Deus é eterno e Senhor da vida. Ele quis que sua criatura
terrena, o ser humano, pudesse alcançar a imortalidade para poder estar com Ele eternamente.
Isso é Graça, é Amor; é vontade de Deus e conquista de Jesus Cristo. Acredito que isto é suficiente
para alimentar nossa vida durante a peregrinação sobre esta Terra, e encher nossa existência de
sentido e esperança.
Já avançamos no tema seguinte.
4.3 - O Sentido da Morte Cristã (1110-1114)
É exatamente o que acabo de dizer. Creio que uma das coisas mais tranquilizadoras e geradoras de
paz em nossa vida, é conseguir ver a morte com os olhos da Fé cristã de São Paulo, de Santo Inácio
de Antioquia e São Francisco de Assis.
Mas antes ainda quero lembrar-me de Cristo pensando sobre Sua própria morte. Ele dizia: “se o
grão de trigo ao cair na terra não morrer, fica só. Mas se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12-24).
Fala-se muito em preparar-se e pedir uma boa morte. Contudo, creio que qualquer pessoa que
viva em união com Cristo está sempre pronta para a “boa morte”. Mas, temos de admitir que
qualquer pessoa ao chegar à hora final de sua existência terrestre, consciente que chegou sua
chance de unir-se profundamente com Cristo na cruz, conseguiu uma graça única. A hora da sua
morte pode ser de paz e alegria interior. Em tais circunstâncias nossos momentos finais serão
plenos de sentido, pois serão redentores e purificadores para nós e nossos irmãos. É uma
comunhão redentora com o Cristo Redentor.(Nota: para que ainda imaginar purgatório depois
disso?)
Desejar e pedir para morrer desta forma pode ser um dos melhores desejos da vida. Assim fica
mais fácil ouvir Paulo, “para mim, a vida é Cristo, e morrer é lucro” (Fl 1,21). Podemos também
ouvi-lo ao escrever a Timóteo. “Fiel a esta palavra: se com Ele morremos, com Ele viveremos. Se
com Ele sofremos, com Ele reinaremos” (2Tm 2,11-12).
Paulo merece um breve comentário. Ele fala muito em “morrer com Cristo pelo batismo”. Sempre
entendemos que viver o batismo em Jesus Cristo leva-nos, necessariamente, a renunciar a muitas
coisas e oportunidades más. São as renúncias declaradas na hora do batismo. Isso nos lembra a
imagem da videira podada. Os ramos cortados morrem, secam, são queimados ou viram adubo.
Renunciar é entendido como morte, só que esta morte é redentora e purificadora. Eis o que é
morrer com Cristo pelo Batismo.
“A novidade essencial da morte cristã está nisto: pelo Batismo, o cristão já está sacramentalmente
‘morto com Cristo’, para viver de uma vida nova; e se morrermos na graça de Cristo, a morte física
realiza este ‘morrer com Cristo’ e completa assim a nossa incorporação a Ele no seu ato redentor”
(CIC 1009).
A seguir, o Catecismo nos remete a Santo Inácio de Antioquia. Eis o texto.
“É bom para mim morrer em (‘eis’) Cristo Jesus, melhor do que reinar até as extremidades da
Terra. É a Ele que procuro, Ele que morreu por nós: é Ele que quero, Ele que ressuscitou por nós.
Meu nascimento aproxima-se. (...) Deixai-me receber a pura luz; quando tiver chegado lá, serei
homem”( Rom 6, 1-2).
Como foi a vivência, a experiência de Santo Inácio nos instantes de sua morte? Deve ter sido
semelhante a estas e muitas outras palavras que ele, ancião de mais de oitenta anos, falou.
Temos ainda uma questão: Deus marca a hora de cada vivente morrer? Não acredito. A morte é
um fenômeno natural que vem por esgotamento dos recursos vitais ou, circunstancialmente, por
acidente.
Mas, na morte, Deus chama o homem para Si” ( 1011). O papel de Deus é receber quem mergulha
na morte. A Igreja diz isto com outras palavras no Prefácio da missa dos defuntos. “Senhor, para os
que creem em Vós, a vida não é tirada, mas transformada. E desfeito o nosso corpo mortal, nos é
dado, nos céus, um corpo imperecível”.
Preparar-nos para a morte? Sim. Já respondi esta questão no início deste ponto 4.3.
Se chegarmos a ver na morte uma irmã, fica tudo mais fácil. “Louvado sejas, meu Senhor, por
nossa irmã, a morte corporal...” (Cântico das Criaturas).
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