Livros Obrigatórios FUVEST 2015
Vidas Secas – Graciliano Ramos
AUTOR
Graciliano Ramos (1892–1953) viveu os primeiros anos em diversas cidades do Nordeste brasileiro.
Terminando o segundo grau em Maceió, seguiu para o Rio de Janeiro, onde passou um tempo trabalhando como
jornalista. Voltou para o Nordeste em setembro de 1915, casou-se com Maria Augusta de Barros, que morreu em
1920, deixando-lhe quatro filhos.
Entre 1930 e 1936 viveu em Maceió, trabalhando como diretor da Imprensa Oficial, professor e diretor da
Instrução Pública do estado. Em 1934 havia publicado São Bernardo, e quando se preparava para publicar o próximo
livro, foi preso em decorrência do pânico insuflado por Getúlio Vargas após a Intentona Comunista de 1935. Com
ajuda de amigos, entre os quais José Lins do Rego, consegue publicar Angústia (1936), considerada por muitos
críticos como sua melhor obra. Em 1938 publicou Vidas Secas. Em seguida estabeleceu-se no Rio de Janeiro, como
inspetor federal de ensino. Em 1945, publicou Infância, relato autobiográfico. Adoeceu gravemente em 1952. No
começo de 1953 foi internado, mas acabou falecendo em 20 de março de 1953, aos 60 anos, vítima de câncer do
pulmão.
O estilo formal de escrita e a caracterização do eu em constante conflito com o mundo, a opressão e a dor
são marcas de sua literatura.
MOVIMENTO LITERÁRIO (Modernismo)
Estendendo-se de 1930 a 1945, a segunda fase do Modernismo foi rica na produção poética e, também, na
prosa. O universo temático amplia-se com a preocupação dos artistas com o destino do Homem e no estar-no-mundo.
A prosa alargava a sua área de interesse ao incluir preocupações novas de ordem política, social, econômica, humana
e espiritual. A piada foi sucedida pela gravidade de espírito, a seriedade da alma, propósitos e meios. Essa geração
foi grave, assumindo uma postura séria em relação ao mundo, por cujas dores, considerava-se responsável. Também
caracterizou o romance dessa época, o encontro do autor com seu povo, havendo uma busca do homem brasileiro em
diversas regiões, tornando o regionalismo importante.
A Bagaceira, de José Américo de Almeida, foi o primeiro romance nordestino. Rachel de Queiroz, Jorge
Amado, José Lins do Rego, Érico Verissimo, Graciliano Ramos e outros escritores criaram um estilo novo,
completamente moderno, totalmente liberto da linguagem tradicional, nos quais puderam incorporar a real linguagem
regional, as gírias locais. A consciência crítica estava presente, e mais do que tudo, os escritores da segunda geração
consolidaram em suas obras questões sociais bastante graves: a desigualdade social, a vida cruel dos retirantes, os
resquícios de escravidão, o coronelismo, apoiado na posse das terras - todos problemas sociopolíticos que se
sobreporiam ao lado pitoresco das várias regiões retratadas.
CARACTERÍSTICAS DA OBRA
Lançado originalmente em 1938, é o romance em que Graciliano — tão meticuloso que chegava a
comparecer à gráfica no momento em que o livro entrava no prelo, para checar se a revisão não haveria interferido
em seu texto — alcança o máximo da expressão que vinha buscando em sua prosa.
O livro, narrado em terceira pessoa, aborda uma família de retirantes do sertão brasileiro condicionada a sua
vida subumana, diante de problemas sociais como a seca, a pobreza, e a fome, e, consecutivamente, no caleidoscópio
de sentimentos e emoções que essa sua condição lhe obriga a viver e a procurar meios de sobrevivência, criando,
assim, uma ligação ainda muito forte com a situação social do Brasil hoje.
Por conta da consciência social que existe no conteúdo do livro, moldada através de uma estrutura dramática,
o enredo tem sido analisado pelos críticos por meio da relação do homem com os meios naturais e sociais. De acordo
com alguns especialistas, em Vidas Secas Graciliano contornou alguns estilos literários de sua época, o que lhe
proporcionou pontos positivos no livro. Graciliano foi cauteloso nas tradicionais ingerências do narrador opiniático
e evitou o protesto ou o panfletarismo, o que certos críticos caracterizam como um "estilo seco, reduzido ao mínimo
de palavras".
PERSONAGENS
Fabiano - A consciência de sua inferioridade em relação aos outros homens, sobretudo seu Tomás da
bolandeira, parece ser o traço marcante da personalidade de Fabiano. Tal inferioridade se explica pelas dificuldades
de comunicação e por sua consciência de “bicho”, já que vivia “longe dos homens” e “só se dava bem com os
animais”. Sempre se dirigindo às pessoas com a mesma língua com que se dirigia aos brutos, Fabiano falava pouco
e, apesar de admirar “as palavras compridas e difíceis da gente da cidade”, sabia que, no sertão, elas “eram inúteis e
talvez perigosas”.
Sinha Vitória - mulher forte do vaqueiro Fabiano, possui uma superioridade visível em relação ao marido e
mantém um desejo recorrente de uma “cama real”, igual à do seu Tomás da bolandeira. Sempre toma as decisões
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mais importantes para a família. É mais “letrada” que o marido, tanto que é ela que descobre erros nas contas do
patrão.
Menino mais novo - O menino mais novo tem como maior, e talvez único, desejo a vontade de ser igual ao
pai. Quando fosse grande “saltaria no lombo de um cavalo brabo e voaria na catinga”.
Menino mais velho - tem como objetivo maior compreender o significado da palavra “inferno”. Para ele era
duro de acreditar que essa palavra pudesse “designar coisa ruim”. Talvez, isso se deva ao fato de que ele, na sua
inocência, não percebesse que o inferno era o próprio sertão.
Baleia - A cachorra Baleia ocupa um lugar de destaque no interior de Vidas Secas, pois, dotada de
sentimentos próprios, ela sente e age em vários momentos como se fosse “humana”. Esse fato denuncia um processo
contínuo que, mediado pela aspereza do ambiente, provoca de tal forma um nivelamento entre homens e animais que
enquanto Baleia, dotada de uma interioridade própria, “humaniza-se”, as pessoas, por sua vez, “animalizam-se”.
Soldado Amarelo e Patrão - Há em Vidas Secas alguns personagens secundários que complementam a sua
trama: o soldado amarelo, personificação de um Estado injusto, e o patrão representam, de certa forma, o lado
arbitrário que rege as relações humanas no sertão.
Seu Tomás da bolandeira - apesar de ser um homem dotado de cultura e por isso admirado por Fabiano,
não consegue sobreviver aos rigores da seca.
RESUMO DA OBRA (por capítulo)
Capítulo I: Mudança
Os sertanejos Fabiano, o pai, Sinha Vitória, a mãe, os dois meninos, acompanhados pela cachorra Baleia e o
papagaio de estimação atravessavam a Caatinga pernambucana.
Desalentados pela seca, pelo sol forte, pela fome, pela sede, pelo cansaço de existirem seguem arrastando
seus mulambos por dentro dos leitos dos rios esturricados. Procuram lugar, o menino mais novo acaba desmaiando
diante das tamanhas imposições da vida. Fabiano aperta-lhe com a espingarda, com o facão, com as ameaças guturais,
mas o excomungado não se mexe. Fabiano, então se compadecem do filho ao ver os urubus fazendo seus giros entre
o sol e o chão esturricado. Carregou-o nas costas, como um pacote; e seguiam. Agora mais vagarosamente, porém
ele tinha que seguir viagem. Era sua perseverança. Ele não sabia para onde ir, mas tinha de prosseguir. A morte do
papagaio, aquela noite, trouxe a todos uma mistura de alegria trágica e tristeza esperançosa. Afinal, era sempre assim,
andavam sempre divididos. Divididos entre a perda e a necessidade. Num dia de sorte, a cachorra baleia caçou um
preá dos bons. Aquela caça dava o tom da emoção e da salvação desses viventes. Sinha Vitória, como se beijasse,
lambia o sangue do preá que escorria pelas ventas da cachorra.
Capítulo II: Fabiano
Os infelizes chegaram, então, a uma fazenda abandonada e seca, em que pouco vivo restava. Restos
suficientes para alegrar a todos, sobretudo, Fabiano, que, agora, sentia-se relaxado, sentia-se homem. Ou melhor, um
bicho. Sim, um bicho. Orgulhava-se, afinal que importava?! Eles estavam vivos. E somente bichos poderiam
sobreviver àquelas circunstâncias. Fabiano orgulhava-se de ser um bicho. Um cabra. Cabra vivendo em terra alheia,
cuidando de coisas alheias; ele entendia-se bem com a natureza. Sua vida seca e difícil o reduzira à condição natural:
era um bicho, grunhia como bicho, relacionava-se com a família como um bicho e era feliz assim. Recordava-se de
seu antigo patrão: seu Tomás da bolandeira, homem culto, inteligente, só não sabia mandar. Imaginem, em vez de
mandar, pedia. Era um absurdo. Pedir?! Isso lá era jeito de tratar empregado. Fabiano admirava seu Tomás, tentava
imitá-lo no jeito de falar, tentava imitar palavras difíceis de modo enrolado e incompreensível, de qualquer maneira,
pois eram muito melhores que seus poucos bocejos.
Capítulo III: Cadeia
O dono da fazenda finalmente apareceu. Ainda bem, pois a fazenda estava “cuidadinha”. Deu a Fabiano o
cargo de capataz. Agora iriam viver. Teriam até dinheiro.
Fabiano foi então à vila para fazer feira com o dinheiro emprestado e para vender um porco que matara.
Porém, o fiscal do governo exigiu-lhe imposto e o impediu de vender a carne.
Na mercearia do seu Inácio, Fabiano acaba se envolvendo em um jogo de cartas com o soldado amarelo.
Perdeu o dinheiro. Sentindo-se desolado diante da situação, retirou-se bruscamente do jogo. Como iria explicar à
família aquilo?!
O soldado amarelo considerou aquilo uma ofensa, prendeu Fabiano, surrou-o humilhantemente na cadeia.
Durante a noite inteira, sua mente não se acerta, fica confusa, uma mistura de revolta e desalento.
Capítulo IV: Sinha Vitória
Sinha Vitória está desiludida, a situação do dia-a-dia piora cada vez mais. Seu sonho de ter uma cama de
couro, como a do antigo patrão, Seu Tomás, fica cada vez mais distante. Como consegui-la? Gasta tempo tentando
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dar alguma esperança ao sonho, mas a vida é mais forte. A miséria impõe-se cada vez mais fortemente, já anda
perdendo a paciência com os meninos, com a Baleia, com o Fabiano. Tenta a todo custo manter o sonho, o sonho de
que um dia viverá com o mínimo de dignidade. Essa possibilidade de que um dia tudo seria diferente já fazia a
diferença. Por muitas vezes ela sentia-se quase feliz.
Capítulo V: O menino mais novo
O menino mais novo sentia realmente afeto pelo pai. Queria, quando adulto, ser vaqueiro como o pai. Não
tinha nome, mas isso não tem importância, pois bicho não precisa de nome mesmo. Ficava imaginando o dia em que
poderia montar uma égua alazã e guiar o gado, ao lado do pai, fazendo inveja para todos, até para o irmão mais velho.
Resolveu exibir a sua vocação: saiu montado em um bode cavalgando, e lá se foi para o fundo do barranco todo
machucado, para as risadas do irmão mais velho, para a repreensão no olhar da Baleia.
Capítulo VI: O menino mais velho
O menino mais velho vivia observando o trabalho da mãe na cozinha. Sinha Vitória vivia reclamando da
vida: ê inferno, sempre dizia. Inferno: a palavra parecia tão carregada, cheia de sentido; o menino precisava saber o
seu significado. Perguntava à mãe, foi insistente, perturbador, pois deixou a mãe numa situação muito difícil. A mãe
não sabia explicar-lhe. Sentiu-se limitada e indignada acabou descontando seu desgosto no filho, que saiu humilhado
e foi se consolar com sua fiel amiga Baleia, que, no entanto, estava concentrada na cozinha, onde Sinha Vitória
preparava o osso com medula e até nacos de carne. Ele estava só, impedido de saber, de ter alguém para dividir as
suas angústias.
Capítulo VII: Inverno
Com o inverno chegaram as chuvas no sertão. Sentada ao redor do fogo, a família se aquecia à noite.
Conversavam continuamente sobre suas miragens: um nordeste sem seca, a caatinga verde, rapadura para comer, o
gado gordo. Fabiano regatava-se. Mas mesmo a época de prosperidade não afastava as preocupações de Sinha Vitória.
Preocupava-se, pois, junto com as chuvas poderiam vir também as enchentes.
Capítulo VIII: Festa
Fabiano e sua família foram passar o natal na cidade. O aperto das roupas e o desconforto causado pelos
sapatos que eram estreados, juntamente com a sensação de ridículo que sentiam por estarem dentro de roupas que
não eram de uso comum para eles comprometia a felicidade daquele momento. Felicidade que chegaram a sentir com
a sensação de serem pessoas normais.
Na hora da missa, Sinha Vitória tentava adquirir um vínculo positivo com a situação, tentava participar da
cerimônia já os meninos estavam tomados pelo medo. Desolados viam os pais menores do que os santos, menores e
mais insignificantes do que já eram, tão menores que aquela gente da cidade, e era tanta gente, tantas coisas novas.
Cochichavam as tantas descobertas. Sentiam-se como selvagens, bichos do mato. Sentiam-se como Fabiano
se sentia, preso, igual a quando estivera na cadeia. Resolveu então ir à bodega do Seu Inácio. Lá, bebeu, procurou
briga, desafiou todos, sem obter resposta. Nem ele nem suas intrigas importavam para os outros. Humilhado, voltou
para perto da família para aguentar aquele desconsolo de festa.
Capítulo IX: Baleia
Baleia ficou doente. Seus pelos caíram, as costelas apareciam na pele rósea, onde manchas escuras
convertiam-se em pus e sangravam. As chagas cobriam-lhe a boca de inchaço.
Fabiano resolveu matá-la, Sinha Vitória achou precipitado, afinal, não estava louca. Fabiano achava que era
hidrofobia, por isso não havia escolha.
Os meninos foram levados para dentro. Fabiano chamava a cachorra. Os meninos se desesperaram: vão bulir
com a Baleia, não é mãe?!
Fabiano alcançou a cachorra perto do alpendre, estava irritado com a situação. Atirou. A carga atingiu a pata
traseira de Baleia. A cachorra saiu de pernas tortas, arrastando-se em três delas para detrás de uma moita de espinhos.
Sua consciência sumia-lhe. Era tarde. Precisava descansar.
Com um enorme esforço, tentava vencer o nevoeiro que tomava conta dela. A muito custo abriu os olhos e
viu em sua frente Fabiano segurando um objeto ameaçador. Pensou em mordê-lo, mas como podia, depois de ter
passado a vida toda na obediência, juntando o gado a um só sinal de seu dono. Ela pertencia a ele. Sabia disso.
Foi então que reparou em todos aqueles bichos soltos. Já era de noite, já era alucinação. Estranhou a ausência dos
meninos. Tudo era uma noite de inverno, fria, gelada, nevoenta.
Ela queria dormir ali entre a cozinha e o alpendre, na pedra quente do fogão. Amanhecendo, acordaria feliz,
lambendo a mão de um Fabiano enorme, as crianças rolariam com ela em um pátio imenso, o mundo ficaria cheio de
preás, gordos, grandes, o nordeste seria um campo verdejante, cheio de árvores e bichos. Tudo seria diferente.
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Capítulo X: Contas
Fabiano foi até a casa do patrão para receber seu pagamento. O patrão apresentou-lhe cálculos que eram
muito distintos daqueles que Sinha Vitória havia preparado. Era tão pouco e injusto. Fabiano, de impulso, reclamou,
proferiu com blasfêmias. O patrão tentou justificar-se dizendo que contavam-se ali os juros pelos empréstimos
antecipados. Provavelmente, os cálculos estavam certos.
Fabiano aceita a explicação, gente como o patrão não ia ter motivos para prejudicá-lo. Ele sempre fora
respeitador e honesto, o patrão devia de ser também.
Porém, o sonho de se firmar naquela fazenda destorcia-se. A ideia de permanecer ali era abalada por uma
ameaça, seria demitido?
Fabiano revolta-se. Por que tinha de ser sempre aquilo?!
Capítulo XI: O soldado Amarelo
Passado um ano de sua injusta prisão, Fabiano reencontra-se com o soldado amarelo perdido pela caatinga.
Tinha nas mãos a chance de se vingar. Uma facada e ele mandava aquele sujeito para outro mundo. Aquilo era um
covarde, aproveitava-se da farda e da autoridade. Fabiano respeitava a lei. Por isso deixou aquele mulambo ir embora
vivo. Fabiano possuía princípios.
Capítulo XII: O Mundo Coberto de Penas
A presença das aves de arribação representava a aproximação da nova seca. Fabiano tentava espantá-las
atirando, porém, em vão. Era a luta contra o destino, contra sua natureza cruel. Sua sina só era comparável à sina de
Baleia. Uma desgraça total. Ao pensar no dono da fazenda e no soldado amarelo, Fabiano ficava à beira da loucura.
Ele era um homem, ou antes um cabra safado. Se não fosse teria entrado para o cangaço. Tinha feito miséria. Tinha
matado aquele fazendeiro injusto e aquele soldado desumano. Mas ele era um cabra safado. Voltou então para casa
impotente e fraco.
Capítulo XIII: Fuga
Com a nova seca, Fabiano juntou todas as coisas, a sua família e seguiu caminho. Mais uma vez estavam de
mudança. Retirantes. Como as aves de arribação. Como bichos. Não tinham escolha. Recordavam-se da Baleia.
Desconsolados, fugiam de madrugada. Era bom evitar o confronto com o patrão. Aquilo não era humano. No caminho
o passo tinha de ser intenso. Seguiam: Fabiano, Sinha Vitória, o menino mais velho, o menino mais novo. Para onde?
Eles não sabiam. Sabiam que tinham que prosseguir. Estava escrito.
TRECHOS DA OBRA
Início da obra
NA PLANÍCIE avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes tinham caminhado
o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam pouco, mas como haviam repousado bastante
na areia do rio seco, a viagem progredira bem três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem
dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, Sinha Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto e o baú de folha
na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada numa correia presa ao cinturão, a
espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho e a cachorra Baleia iam atrás. Os juazeiros aproximaramse, recuaram, sumiram-se. O menino mais velho pôs-se a chorar, sentou-se no chão.
- Anda, condenado do diabo, gritou-lhe o pai.
Não obtendo resultado, fustigou-o com a bainha da faca de ponta. Mas o pequeno esperneou acuado, depois
sossegou, deitou-se, fechou os olhos. Fabiano ainda lhe deu algumas pancadas e esperou que ele se levantasse.
Como isto não acontecesse, espiou os quatro cantos, zangado, praguejando baixo.
Trecho Capítulo II
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E,
pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho,
queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais
alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiua, murmurando: - Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades. Chegara naquela
situação medonha - e ali estava, forte, até gordo, fumando o seu cigarro de palha.
- Um bicho, Fabiano.
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Era. Apossara-se da casa porque não tinha onde cair morto, passara uns dias mastigando raiz de imbu e
sementes de mucunã. Viera a trovoada.
Trecho Capítulo III
- Vossemecê não tem direito de provocar os que estão quietos.
- Desafasta, bradou o polícia.
E insultou Fabiano, porque ele tinha deixado a bodega sem se despedir.
- Lorota, gaguejou o matuto. Eu tenho culpa de vossemecê esbagaçar os seus possuídos no jogo?
Engasgou-se. A autoridade rondou por ali um instante, desejosa de puxar questão. Não achando pretexto,
avizinhou-se e plantou o salto da reiúna em cima da alpercata do vaqueiro.
- Isso não se faz, moço, protestou Fabiano. Estou quieto.
Veja que mole e quente é pé de gente.
O outro continuou a pisar com força. Fabiano impacientou-se e xingou a mãe dele. Aí o amarelo apitou, e
em poucos minutos o destacamento da cidade rodeava o jatobá.
- Toca pra frente, berrou o cabo.
Fabiano marchou desorientado, entrou na cadeia, ouviu sem compreender uma acusação medonha e não se
defendeu.
- Está certo, disse o cabo. Faça lombo, paisano.
Fabiano caiu de joelhos, repetidamente uma lâmina de facão bateu-lhe no peito, outra nas costas. Em
seguida abriram uma porta, deram-lhe um safanão que o arremessou para as trevas do cárcere. A chave tilintou na
fechadura, e Fabiano ergueu-se atordoado, cambaleou, sentou-se num canto, rosnando - Hum! hum!
Trecho Capítulo VIII
De repente Baleia apareceu. Trepou-se na calçada, mergulhou entre as saias das mulheres, passou por cima
de Fabiano e chegou-se aos amigos, manifestando com a língua e com o rabo um vivo contentamento. O menino
mais velho agarrou-a. Estava segura. Tentaram explicar-lhe que tinham tido susto enorme por causa dela, mas
Baleia não ligou importância à explicação. Achava é que perdiam tempo num lugar esquisito, cheio de odores
desconhecidos. Quis latir, expressar oposição a tudo aquilo, mas percebeu que não convenceria ninguém e encolheuse, baixou a cauda, resignou-se ao capricho dos seus donos.
(…) Baleia cochilava, de quando em quando balançava a cabeça e franzia o focinho. A cidade se enchera
de suores que a desconcertavam.
Sinha Vitória enxergava, através das barracas, a cama de seu Tomás da bolandeira, uma cama de verdade.
Fabiano roncava de papo para cima, as abas do chapéu cobrindo-lhe os olhos, o quengo sobre as botinas
de vaqueta. Sonhava, agoniado, e Baleia percebia nele um cheiro que o tornava irreconhecível. Fabiano se agitava,
soprando. Muitos soldados amarelos tinham aparecido, pisavam-lhe os pés com enormes reiúnas e ameaçavam-no
com facões terríveis.
Trecho Capítulo IX
A tremura subia, deixava a barriga e chegava ao peito de Baleia. Do peito para trás era tudo insensibilidade
e esquecimento. Mas o resto do corpo se arrepiava, espinhos de mandacaru penetravam na carne meio comida pela
doença.
Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente Sinha Vitória tinha deixado
o fogo apagar-se muito cedo.
Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um
Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme.
O mundo ficaria todo cheio de preás, gordos, enormes.
Trecho Capítulo X
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra
à-toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá
puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher,
provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto,
sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra.
O amo abrandou, e Fabiano saiu de costas, o chapéu varrendo o tijolo. Na porta, virando-se, enganchou as
rosetas das esporas, afastou-se tropeçando, os sapatões de couro cru batendo no chão como cascos.
Foi até a esquina, parou, tomou fôlego. Não deviam tratá-lo assim. Dirigiu-se ao quadro lentamente. Diante
da bodega de seu Inácio virou o rosto e fez uma curva larga. Depois que acontecera aquela miséria, temia passar
ali. Sentou-se numa calçada, tirou do bolso o dinheiro, examinou-o, procurando adivinhar quanto lhe tinham
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furtado. Não podia dizer em voz alta que aquilo era um furto, mas era. Tomavam-lhe o gado quase de graça e ainda
inventavam juro. Que juro! O que havia era safadeza.
- Ladroeira.
Nem lhe permitiam queixas. Porque reclamara, achara a coisa uma exorbitância, o branco se levantara
furioso, com quatro pedras na mão. Para que tanto espalhafato?
- Hum! Hum!
Final da obra
Pouco a pouco uma vida nova, ainda confusa, se foi esboçando. Acomodar-se-iam num sítio pequeno, o que
parecia difícil a Fabiano, criado solto no mato. Cultivariam um pedaço de terra. Mudar-se-iam depois para uma
cidade, e os meninos frequentariam escolas, seriam diferentes deles. Sinha Vitória esquentava-se. Fabiano ria, tinha
desejo de esfregar as mãos agarradas a boca do saco e à coronha da espingarda de pederneira.
Não sentia a espingarda, o saco, as pedras miúdas que lhe entravam nas alpercatas, o cheiro de carniças
que empestavam o caminho. As palavras de Sinha Vitória encantavam-no. Iriam para diante, alcançariam uma terra
desconhecida. Fabiano estava contente e acreditava nessa terra, porque não sabia como ela era nem onde era.
Repetia docilmente as palavras de Sinha Vitória, as palavras que Sinha Vitória murmurava porque tinha confiança
nele. E andavam para o sul, metidos naquele sonho. Uma cidade grande, cheia de pessoas fortes. Os meninos em
escolas, aprendendo coisas difíceis e necessárias. Eles dois velhinhos, acabando-se como uns cachorros, inúteis,
acabando-se como Baleia. Que iriam fazer? Retardaram-se, temerosos. Chegariam a uma terra desconhecida e
civilizada, ficariam presos nela. E o sertão continuaria a mandar gente para lá. O sertão mandaria para a cidade
homens fortes, brutos, como Fabiano, Sinha Vitória e os dois meninos.
EXERCÍCIOS
1. (PUC-SP - 2012) De Vidas Secas, obra de Graciliano Ramos, NÃO é possível afirmar que é
A) obra que relata o fenômeno da seca e, por isso, mostra-se inteiramente desprovida de estado de poesia.
B) romance de introspecção, constituído quase todo de monólogos interiores.
C) obra de substância realizada com perfeita unidade e harmonia interior, de tal forma que o drama do primeiro
capítulo repete-se no último.
D) texto que contém o maior sentimento da terra nordestina e é considerado o mais brasileiro dos livros do autor.
E) novela construída em quadros, apresenta capítulos independentes, cada um deles como peça autônoma, vivendo
por si mesmos.
2. (PUC-SP - 2011) "Era vaqueiro, via-se mais como bicho do que como homem, as pernas faziam dois arcos, os
braços moviam-se desengonçados. Parecia um macaco. (...) Vermelho, queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os
cabelos ruivos, vivia em terra alheia e cuidava de animais alheios."
O texto anterior, da obra Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é uma caracterização de Fabiano, personagem
da novela. Indique, nas alternativas a seguir, aquela que também o caracteriza de forma correta.
A) Era bruto, nunca havia aprendido, não sabia explicar-se. Violento, não respeitava o governo e odiava Seu Tomás
da Bolandeira, homem que falava bem, lia livros e sabia onde tinha as ventas.
B) Tinha vindo ao mundo para amansar brabo, curar feridas com rezas, consertar cercas de inverno a verão, cortar
mandacaru e ensebar látegos, características que o engrandeciam e faziam dele um herói admirado.
C) Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais, tinha um vocabulário pequeno e falava uma língua
cantada, monossilábica e gutural.
D) Era de personalidade bem moldada, forte e determinado a vencer o fenômeno da seca, já que dominava o meio e
se valia da força comunicativa da linguagem bem articulada.
E) Revoltava-se contra as contas do patrão, tinha de aceitá-las para não perder o emprego mas vingou-se das
frustrações no soldado amarelo, quando o reencontrou em plena caatinga.
3. (UFBA - 2011) “Pôs-se a berrar, imitando as cabras, chamando o irmão e a cachorra. Não obtendo resultado,
indignou-se. Ia mostrar aos dois uma proeza, voltariam para casa espantados.
Aí o bode se avizinhou e meteu o focinho na água. O menino despenhou-se da ribanceira, escanchou-se no
espinhaço dele. Mergulhou no pelame fofo, escorregou, tentou em vão segurar-se com os calcanhares, foi atirado
para a frente, voltou, achou-se montado na garupa do animal, que saltava demais e provavelmente se distanciava
do bebedouro. Inclinou-se para um lado, mas, fortemente sacudido, retomou a posição vertical, entrou a dançar
desengonçado, as pernas abertas, os braços inúteis. Outra vez impelido para a frente, deu um salto mortal, passou
por cima da cabeça do bode, aumentou o rasgão da camisa numa das pontas e estirou-se na areia. Ficou ali
estatelado, quietinho, um zunzum nos ouvidos, percebendo vagamente que escapara sem honra da aventura.
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[...]
Olhou com raiva o irmão e a cachorra. Deviam tê-lo prevenido. Não descobriu neles nenhum sinal de
solidariedade: o irmão ria como um doido, Baleia, séria, desaprovava tudo aquilo. Achou-se abandonado e
mesquinho, exposto a quedas, coices e marradas.
[...]
Lembrou-se de Fabiano e procurou esquecê-lo. Com certeza Fabiano e Sinha Vitória iam castigá-lo por
causa do acidente. [...]
[...]
Retirou-se. A humilhação atenuou-se pouco a pouco e morreu. Precisava entrar em casa, jantar, dormir. E
precisava crescer, ficar tão grande como Fabiano, matar cabras a mão de pilão, trazer uma faca de ponta à cintura.
Ia crescer, espichar-se numa cama de varas, fumar cigarros de palha, calçar sapatos de couro cru.
Subiu a ladeira, chegou-se a casa devagar, entortando as pernas, banzeiro. Quando fosse homem, caminharia assim,
pesado, cambaio, importante, as rosetas das esporas tilintando. Saltaria no lombo de um cavalo brabo e voaria na
catinga como pé-de-vento, levantando poeira. Ao regressar, apear-se-ia num pulo e andaria no pátio assim torto,
de perneiras, gibão, guarda-peito e chapéu de couro com barbicacho. O menino mais velho e Baleia ficariam
admirados.”
Sobre o fragmento, contextualizado na obra, é verdadeiro o que se afirma em
01. A narrativa apresenta uma linguagem de carga semântica negativa, ligada à agressividade e à violência
praticadas entre as personagens.
02. O projeto de autorrealização do menino ocorre no futuro, como compensação da frustração experimentada no
presente.
04. O menino apresenta um padrão de conduta que se assemelha ao de Sinha Vitória, no que se refere às suas
atitudes e ações.
08. O menino da narrativa necessita de testemunhas, de público: ele quer comprovação de suas façanhas, de sua
coragem.
16. O sentido inusitado da situação mostrada no fragmento ocorre porque o animal percebe o insucesso da ação
praticada pelo menino, enquanto o irmão zomba dele.
32. O processo de aprendizagem da criança restringe-se à imitação de animais integrantes do cenário nordestino.
4. (UFES - 2011) "Vivia longe dos homens, só se dava bem com animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e
não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem
cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. A pé, não se aguentava bem. Pendia para um lado,
para o outro lado, cambaio, torto e feio. Às vezes utilizava nas relações com as pessoas a mesma língua com que se
dirigia aos brutos – exclamações, onomatopeias. Na verdade falava pouco. Admirava as palavras compridas e
difíceis da gente da cidade, tentava reproduzir algumas, em vão, mas sabia que elas eram inúteis e talvez perigosas."
Indique, do ponto de vista linguístico, duas características da fala do personagem do romance Vidas Secas e
crie, para cada uma dessas características, uma frase que lhe sirva de exemplo.
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5. (UFPA - 2011) Considere os fragmentos extraídos do romance Vidas secas, de Graciliano Ramos. A passagem em
que o narrador do romance descreve a aridez do espaço, e faz menção clara ao tempo decorrido entre as ações do
personagem, está transcrita em:
A) A família estava reunida em torno do fogo, Fabiano sentado no pilão caído, [...] esfregou as mãos satisfeito e
empurrou os tições com a ponta da alpercata.
B) Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e apenas
se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não chegava
a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito.
C) Fabiano tinha ido à feira da cidade comprar mantimentos. Precisava de sal, farinha, feijão e rapaduras. Sinha
Vitória pedira além disso uma garrafa de querosene e um corte de chita vermelha. Mas o querosene de seu Inácio
estava misturado com água, e a chita da amostra era cara demais.
D) Fabiano curou no rasto a bicheira da novilha raposa. Levava no aió um frasco de creolina, e se houvesse achado
o animal, teria feito o curativo ordinário. Mas supôs distinguir as pisadas dele na areia, baixou-se, cruzou dois
gravetos no chão e rezou. Se o bicho não estivesse morto, voltaria para o curral, que a oração era forte.
E) Fabiano meteu-se na vereda que ia desembocar na lagoa seca, torrada, coberta de catingueiras e capões do mato.
[...] Andara cerca de cem braças quando o cabresto de cabelo que trazia no ombro se enganchou num pé de quipá.
Desembaraçou o cabresto, puxou o facão, pôs-se a cortar os quipás e as palmatórias que interrompiam a passagem.
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Tinha feito um estrago feio, a terra se cobria de palmas espinhosas. Deteve-se percebendo rumor de garranchos,
voltou-se e deu de cara com o soldado amarelo que, um ano antes, o levara à cadeia, onde ele aguentara uma surra e
passara a noite.
6. (UFSC - 2011) Considerando a leitura do texto e do romance Vidas secas, bem como o contexto em que a obra foi
produzida, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
01. Sinha Vitória era mais inteligente que Fabiano, mas enganava-se nas contas, por desconhecer o conceito
de juros; assim, a cada vez que Fabiano acertava as contas com o patrão, este precisava explicar-lhe pacientemente
porque os resultados diferiam.
02. Da mesma forma que José Lins do Rego, Jorge Amado e outros prosadores da segunda fase do
Modernismo brasileiro, Graciliano Ramos faz, no romance, uma denúncia de desigualdade social.
04. O discurso indireto livre, utilizado no segundo e no quarto parágrafos do texto, visa mostrar ao leitor o
que Fabiano pensa, mas que não chega a verbalizar, tal o seu temor pelo patrão.
08. Pela oposição entre os instrumentos auxiliares da matemática – o papel e as sementes – Graciliano deixa
evidente que, apesar de o patrão e de Fabiano pertencerem a universos culturais diversos, constrói-se entre eles uma
relação de igualdade de forças.
16. Entre o patrão e Fabiano, em vez de acordo profissional estabelecido em condições de equilíbrio de poder,
parece existir uma relação de senhor e escravo, sugerida nos termos “branco”, “negro”, “carta de alforria” e “amo”.
32. Na linha 15, a expressão “baixou a pancada” sugere que Fabiano deseja agredir o patrão e o faz na
imaginação, mas acaba descarregando sua agressividade contida na mulher, culpando-a pela divergência nas contas.
64. No parágrafo final, a imagem de Fabiano deixando a sala é de submissão completa, na qual transparece
importante elemento do romance, a animalização, representada aqui pela comparação dos sapatos do vaqueiro a
cascos.
7. (Unama - 2011) “A vida na fazenda se tornara difícil. Sinhá Vitória benzia-se tremendo, manejava o rosário,
mexia os beiços rezando rezas desesperadas. [...] Pouco a pouco os bichos se finavam, devorados pelo carrapato. E
Fabiano resistia, pedindo a Deus um milagre.
Mas quando a fazenda se despovoou, viu que tudo estava perdido, combinou a viagem com a mulher, matou
o bezerro morrinhento que possuíam, salgou a carne, largou-se com a família, sem se despedir do amo.”
Considerando a interrelação entre a literatura e a religião como sistema cultural, o trecho revela que
A) Fabiano resiste às adversidades e recorre à ajuda divina para pedir chuva que, entretanto, não vem.
B) as adversidades vividas pelos personagens são superadas mediante a intervenção divina.
C) é evidente a presença do milagre divino, descrito em linguagem carregada de lirismo.
D) a religiosidade é representada por meio da reza, quando os personagens recorrem à ajuda de Deus, acreditando
que ela virá naquele momento, o que realmente ocorre.
8. (Unama - 2011) No texto, a realidade da dura seca, evidenciada pelo despovoamento da fazenda, quebra a
resistência de Fabiano a ficar na fazenda, “pedindo a Deus um milagre”. Essa atitude de Fabiano é evidenciada na
linguagem do autor pelo uso de um conector adversativo presente em
A) Pouco a pouco os bichos se finavam...
B) E Fabiano resistia...
C) Mas quando a fazenda se despovoou...
D) ...sem se despedir do amo...
9. (Unesp - 2011) Leia o trecho abaixo e responda.
Contas
Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos. Mas como não tinha roça e
apenas se limitava a semear na vazante uns punhados de feijão e milho, comia da feira, desfazia-se dos animais, não
chegava a ferrar um bezerro ou assinar a orelha de um cabrito.
Se pudesse economizar durante alguns meses, levantaria a cabeça. Forjara planos. Tolice, quem é do chão
não se trepa. Consumidos os legumes, roídas as espigas de milho, recorria à gaveta do amo, cedia por preço baixo
o produto das sortes. Resmungava, rezingava, numa aflição, tentando espichar os recursos minguados, engasgavase, engolia em seco. Transigindo com outro, não seria roubado tão descaradamente. Mas receava ser expulso da
fazenda. E rendia-se. Aceitava o cobre e ouvia conselhos. Era bom pensar no futuro, criar juízo. Ficava de boca
aberta, vermelho, o pescoço inchando. De repente estourava:
– Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer. Quem é do chão não se trepa.
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Pouco a pouco o ferro do proprietário queimava os bichos de Fabiano. E quando não tinha mais nada para
vender, o sertanejo endividava-se. Ao chegar a partilha, estava encalacrado, e na hora das contas davam-lhe uma
ninharia.
Ora, daquela vez, como das outras, Fabiano ajustou o gado, arrependeu-se, enfim deixou a transação meio
apalavrada e foi consultar a mulher. Sinha Vitória mandou os meninos para o barreiro, sentou-se na cozinha,
concentrou-se, distribuiu no chão sementes de várias espécies, realizou somas e diminuições. No dia seguinte
Fabiano voltou à cidade, mas ao fechar o negócio notou que as operações de Sinha Vitória, como de costume,
diferiam das do patrão. Reclamou e obteve a explicação habitual: a diferença era proveniente de juros.
Não se conformou: devia haver engano. Ele era bruto, sim senhor, via-se perfeitamente que era bruto, mas
a mulher tinha miolo. Com certeza havia um erro no papel do branco. Não se descobriu o erro, e Fabiano perdeu
os estribos. Passar a vida inteira assim no toco, entregando o que era dele de mão beijada! Estava direito aquilo?
Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
O patrão zangou-se, repeliu a insolência, achou bom que o vaqueiro fosse procurar serviço noutra fazenda.
Aí Fabiano baixou a pancada e amunhecou. Bem, bem. Não era preciso barulho não. Se havia dito palavra
à toa, pedia desculpa. Era bruto, não fora ensinado. Atrevimento não tinha, conhecia o seu lugar. Um cabra. Ia lá
puxar questão com gente rica? Bruto, sim senhor, mas sabia respeitar os homens. Devia ser ignorância da mulher,
provavelmente devia ser ignorância da mulher. Até estranhara as contas dela. Enfim, como não sabia ler (um bruto,
sim senhor), acreditara na sua velha. Mas pedia desculpa e jurava não cair noutra.
Identifique, entre os quatro exemplos extraídos do texto, aqueles que se apresentam em discurso indireto livre:
I. Fabiano recebia na partilha a quarta parte dos bezerros e a terça dos cabritos.
II. – Conversa. Dinheiro anda num cavalo e ninguém pode viver sem comer.
III. Estava direito aquilo? Trabalhar como negro e nunca arranjar carta de alforria!
IV. Não era preciso barulho não.
A) I e II.
B) II e III.
C) III e IV.
D) I, II e III. E) II, III e IV.
10. (Unesp - 2011) Lendo atentamente o fragmento de Vidas secas, percebe-se que o foco principal é o das transações
entre Fabiano e o proprietário da fazenda. Aponte a alternativa que não corresponde ao que é efetivamente exposto
pelo texto.
A) O proprietário era, na verdade, um benfeitor para Fabiano.
B) Fabiano declarava-se “um bruto” ao proprietário.
C) O proprietário levava sempre vantagem na partilha do gado.
D) Fabiano sabia que era enganado nas contas, mas não conseguia provar.
E) Fabiano aceitava a situação e se resignava, por medo de ficar sem trabalho.
11. (Unicamp - 2011) Leia os seguintes trechos de O cortiço e Vidas secas:
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes
dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. (...). Sentia-se naquela fermentação sanguínea,
naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulhavam os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o
prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.
(Aluísio Azevedo, O cortiço)
Fabiano ia satisfeito. Sim senhor, arrumara-se. Chegara naquele estado, com a família morrendo de fome,
comendo raízes. Caíra no fim do pátio, debaixo de um juazeiro, depois tomara conta da casa deserta. Ele, a mulher
e os filhos tinham-se habituado à camarinha escura, pareciam ratos – e a lembrança dos sofrimentos passados
esmorecera. (...)
– Fabiano, você é um homem, exclamou em voz alta.
Conteve-se, notou que os meninos estavam perto, com certeza iam admirar-se ouvindo-o falar só. E,
pensando bem, ele não era homem: era apenas um cabra ocupado em guardar coisas dos outros. Vermelho,
queimado, tinha os olhos azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como vivia em terra alheia, cuidava de animais
alheios, descobria-se, encolhia-se na presença dos brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os meninos, alguém tivesse percebido a frase imprudente. Corrigiua, murmurando:
– Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor, um bicho, capaz de vencer dificuldades.
Chegara naquela situação medonha – e ali estava, forte, até gordo, fumando seu cigarro de palha.
– Um bicho, Fabiano. (...)
Agora Fabiano era vaqueiro, e ninguém o tiraria dali. Aparecera como um bicho, entocara-se como um
bicho, mas criara raízes, estava plantado.
(Graciliano Ramos, Vidas secas)
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a) Ambos os trechos são narrados em terceira pessoa. Apesar disso, há uma diferença de pontos de vista na
aproximação das personagens com o mundo animal e vegetal. Que diferença é essa?
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b) Explique como essa diferença se associa à visão de mundo expressa em cada romance.
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12. (Unicamp - 2011) Leia os seguintes trechos de Memórias de um sargento de milícias e Vidas secas, que descrevem
o estado de ânimo das personagens ao final de uma festa:
Acabado o fogo, tudo se pôs em andamento, levantaram-se as esteiras, espalhou-se o povo. D. Maria e sua
gente puseram-se também em marcha para casa, guardando a mesma disposição com que tinham vindo. Desta vez
porém Luisinha e Leonardo, não é dizer que vieram de braço, como este último tinha querido quando foram para o
Campo, foram mais adiante do que isso, vieram de mãos dadas muito familiar e ingenuamente. Este ingenuamente
não sabemos se se poderá com razão aplicar ao Leonardo. Conversaram por todo o caminho como se fossem dois
conhecidos muito antigos, dois irmãos de infância, e tão distraídos iam que passaram à porta da casa sem parar, e
já estavam muito adiante quando os sios de D. Maria os fizeram voltar. A despedida foi alegre para todos e
tristíssima para os dois.
(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)
Baleia cochilava, de quando em quando balançava a cabeça e franzia o focinho. A cidade se enchera de
suores que a desconcertavam.
Sinha Vitória enxergava, através das barracas, a cama de seu Tomás da bolandeira, uma cama de verdade.
Fabiano roncava de papo para cima, as abas do chapéu cobrindo-lhe os olhos, o quengo sobre as botinas
de vaqueta.
Sonhava, agoniado, e Baleia percebia nele um cheiro que o tornava irreconhecível. Fabiano se agitava,
soprando. Muitos soldados amarelos tinham aparecido, pisavam-lhe os pés com enormes reiunas e ameaçavam-no
com facões terríveis. (Graciliano Ramos, Vidas secas)
a) Explique as diferenças do estado de ânimo das personagens ao final dos dois episódios.
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b) A partir dessa diferença, explique o significado que as duas festas têm em cada um dos romances.
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13. (Unicamp 2012) Ocupavam-se em descobrir uma enorme quantidade de objetos. Comunicaram baixinho um ao
outro as surpresas que os enchiam. Impossível imaginar tantas maravilhas juntas. O menino mais novo teve uma
dúvida e apresentou-a timidamente ao irmão. Seria que aquilo tinha sido feito por gente? O menino mais velho
hesitou, espiou as lojas, as toldas iluminadas, as moças bem-vestidas. Encolheu os ombros. Talvez aquilo tivesse
sido feito por gente. Nova dificuldade chegou-lhe ao espírito, soprou-a no ouvido do irmão. Provavelmente aquelas
coisas tinham nomes. O menino mais novo interrogou-o com os olhos. Sim, com certeza as preciosidades que se
exibiam nos altares da igreja e nas prateleiras das lojas tinham nomes. Puseram-se a discutir a questão intricada.
Como podiam os homens guardar tantas palavras? Era impossível, ninguém conservaria tão grande soma de
conhecimentos. Livres dos nomes, as coisas ficavam distantes, misteriosas. Não tinham sido feitas por gente. E os
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indivíduos que mexiam nelas cometiam imprudência. Vistas de longe, eram bonitas. Admirados e medrosos, falavam
baixo para não desencadear as forças estranhas que elas porventura encerrassem. (Graciliano Ramos, Vidas secas. Rio
de Janeiro: Record, 2012, p.82.)
Sinha Vitória precisava falar. Se ficasse calada, seria como um pé de mandacaru, secando, morrendo.
Queria enganar-se, gritar, dizer que era forte, e a quentura medonha, as árvores transformadas em garranchos, a
imobilidade e o silêncio não valiam nada. Chegou-se a Fabiano, amparou-o e amparou-se, esqueceu os objetos
próximos, os espinhos, as arribações, os urubus que farejavam carniça. Falou no passado, confundiu-se com o
futuro. Não poderiam voltar a ser o que já tinham sido? (Idem, p.120.)
a) O contraste entre as preciosidades dos altares da igreja e das prateleiras das lojas, no primeiro excerto, e as árvores
transformadas em garranchos, no segundo, caracteriza o conflito que perpassa toda a narrativa de Vidas secas. Em
que consiste este conflito?
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b) No primeiro excerto, encontra-se posta uma questão recorrente em Vidas secas: a relação entre linguagem e
mundo. Explique em que consiste esta relação na passagem acima.
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14. (Unicamp 2015) Leia os excertos a seguir.
Um dia... Sim, quando as secas desaparecessem e tudo andasse direito... Seria que as secas iriam
desaparecer e tudo andar certo? Não sabia. RAMOS, Graciliano, Vidas secas. 118ª ed., Rio de Janeiro: Record,
2012, p. 25.
Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos seus lugares. O demônio
daquela história entrava-lhe na cabeça e saía. Era para um cristão endoidecer. Se lhe tivessem dado ensino,
encontraria meio de entendê-la. Impossível, só sabia lidar com bichos. RAMOS, Graciliano, Vidas secas. 118ª ed.,
Rio de Janeiro: Record, 2012, p. 35.
a) Nos excertos citados, a seca e a falta de educação formal afetam a existência das personagens. Levando em conta
o caráter crítico e político do romance, relacione o problema da seca com a questão da escolarização no que diz
respeito à personagem Fabiano.
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b) “Nunca vira uma escola. Por isso não conseguia defender-se, botar as coisas nos seus lugares.” Descreva uma
passagem do romance em que, por não saber ler e escrever, Fabiano é prejudicado e não consegue se defender.
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GABARITO
1.A
2.C
3. 26 (02 + 08 + 16 = 26)
4. O próprio trecho já indica algumas características linguísticas da fala de Fabiano. São elas:
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– Fala monossilábica (com uma palavra só): "Arreda!", "Estourado!"
– Onomatopeias: "Ecô! Ecô!"
Os exemplos evidenciam a precariedade dos diálogos na narrativa. Eles são marcados pela economia vocabular, que
almeja caracterizar os personagens como brutos e, de certo modo, “animalizados” em decorrência do contexto em que se inserem.
5. E
6.82 (02 + 16 + 64 = 82) 7.A
8.C
9.C
10.A
11. Em O cortiço a narração em terceira pessoa se mantém objetiva e a aproximação das personagens com o mundo animal e
vegetal expressa apenas a visão do narrador, marcadamente negativa (“gula viçosa de plantas rasteiras”; “prazer animal de
existir”). Em Vidas secas, o uso do discurso indireto livre nos coloca diante dos pensamentos de Fabiano. Ao contrário do que
ocorre em O cortiço, a visão não é necessária ou exclusivamente a do narrador, e sim a da personagem, e não tem o mesmo grau
de objetividade e univocidade (há oscilação entre positivo e negativo: “Você é um bicho, Fabiano. Isto para ele era motivo de
orgulho. Sim, senhor um bicho...”). Em O cortiço esse ponto de vista objetivo está de acordo com a visão determinista do
naturalismo, ao qual o romance se filia, que considera que as personagens são o que são em função do meio e dos fatores
biológicos. Em Vidas secas, representante do romance social dos anos 30, a visão de mundo não se caracteriza por essa lógica
determinista inexorável. A degradação da personagem equiparada a um animal é vista como resultante de condições sociais
específicas, marcadas pela injustiça.
12. No romance de Manuel Antônio de Almeida, o momento alegre que vivem as personagens está em consonância com a alegria
geral que representava o reencontro amoroso dos protagonistas. Na festa descrita em Vidas secas, as personagens não estão em
consonância, pois em nenhum momento se afastam dos problemas que as ocupam obsessivamente durante todo o romance. Há
uma dissociação total entre o evento social e o estado de ânimo das personagens. Nas Memórias, a descrição de uma festa popular
do século XIX está de acordo com o caráter de romance romântico de costumes da obra. Em Vidas secas, a ênfase não é no
caráter tradicional dessa festa, e sim no deslocamento das personagens, que continuam à margem, de acordo com o caráter de
crítica social do romance.
13.
a) Os trechos do enunciado apresentam, entre outros, o caleidoscópio de sentimentos e emoções da família de Fabiano
enquanto observam as festividades de Natal na cidade. No primeiro excerto, os meninos maravilham-se com tantas luzes e gente
e assustam-se com o ambiente da igreja e das lojas que desconheciam. No segundo, Sinha Vitória está aflita com a situação de
Fabiano que se tinha embriagado e ficara deitado no chão, dormindo pesadamente. Em ambos os excertos, está presente o conflito
de quem vive em absoluta situação de precariedade e rudeza e estranha o mundo dos mais afortunados que têm acesso ao “luxo”
e à abastança.
b) O mundo retratado na obra “Vidas secas” é revelador do sofrimento dos que vivem em condições sub-humanas no
sertão nordestino, submetidos aos rigores do clima e ao isolamento social, o que lhes embota o raciocínio e provoca o
ressecamento do ser. Assim, num espaço em que impera o silêncio apenas entrecortado pelos gritos dos animais, os personagens
adquirem as mesmas características, tornando-se cada vez mais “bichos” e menos “gente”. No excerto 2, Sinha Vitória procura
demarcar-se do meio que a cerca (“Se ficasse calada, seria como um pé de mandacaru, secando, morrendo”), mas a pobreza e a
falta de instrução fazem com que a distância que a separa das outras pessoas aumente cada dia mais. Assim, mais do que a seca
e a miséria, a linguagem é que se configura como essência do que nos faz humanos: a capacidade de comunicação.
14.
a) Em Vidas Secas, Graciliano Ramos pretende mostrar que a secura climática é estendida aos mais diversos aspectos
da vida do sertanejo nordestino: as relações humanas são secas, assim como as sociais, políticas e econômicas.
No primeiro trecho, Fabiano pondera a respeito do fim da seca e a alteração da ordem social lá estabelecida; ele não
sabe o que aconteceria, porém o autor leva o leitor a concluir que nada seria mudado. Em seguida, Fabiano reflete a respeito do
papel da escola: uma vez que não pôde frequentá-la, está restrito a lidar com animais.
Isto posto, percebe-se que a seca é um problema além de climático: ela se estende pelas instituições sociais, impedindo
que o indivíduo seja capacitado a alterar a própria vida, a ser protagonista do seu viver.
b) No Capítulo Contas, Fabiano novamente passa por uma situação em que a falta de escolarização interfere
negativamente em seu viver.
Ao prestar contas ao dono da fazenda a respeito da venda dos animais que criava, o resultado não coincidiu com o
calculado por Sinhá Vitória; sem conseguir argumentar ou se defender, o vaqueiro optou por culpar a esposa, situação preferível
a perder a parca situação em que vivia.
Fabiano resignou-se em aceitar os cálculos de seu patrão, permanecendo endividado. Trata-se de um momento de
humilhação, em que o vaqueiro conclui que “quem é do chão não se trepa”.
SITES UTILIZADOS
http://pt.wikipedia.org/wiki/Graciliano_Ramos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Vidas_Secas
http://pt.wikipedia.org/wiki/Modernismo_no_Brasil#Segunda_gera.C3.A7.C3.A3o_.281930-1945.29
http://www.graciliano.com.br
http://www.jayrus.art.br/Apostilas/LiteraturaBrasileira/Modernismo30/Prosa_de_30/Graciliano_Ramos
http://www.cursinhodoxi.com.br/vidas_secas.pdf
http://www.superprofessorweb.com.br/app/mod_app/index.php
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Resumo do livro Vidas Secas - Graciliano Ramos