TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
APRENDIZAJE SOBRE INTERVALOS DE CONFIANZA CON EL SOFTWARE
R
Resumen: Este trabajo ha consistido en estudiar la viabilidad de la implementación de un
método de enseñanza que, en la asignatura de Matemática Computacional, involucra a
los estudiantes y profesores a través del uso del software estadístico R para el desarrollo
de un trabajo práctico como fortalecimiento de las clases tradicionales. La inferencia
estadística, es decir, la determinación de los intervalos de confianza, fue el contenido
seleccionado para esta experiencia. Se pretendía mostrar, en primer lugar, que es posible
promover, a través de la metodología propuesta, la adquisición de las competencias
básicas de inferencia estadística y promover las relaciones positivas entre maestros y
estudiantes. También se presenta un estudio comparativo entre las metodologías
utilizadas y sus resultados cuantitativos y cualitativos en dos años escolares consecutivos,
involucrando varios indicadores. Los datos utilizados en el estudio fueron obtenidos a
partir de 1) las respuestas de los estudiantes a las preguntas del examen en los años
2010/2011 y 2011/2012, 2) la realización de un grupo de trabajo en 2011/2012 y 3) a
través de las respuestas a un cuestionario (opcional y anónimo) que también aplicó en
2011/2012. En términos de resultados, se destaca el mejor rendimiento de los estudiantes
en las preguntas de examen en 2011/2012, que fue el curso en el que los estudiantes
utilizaron el software R, y la perspectiva muy favorable de los estudiantes sobre el uso de
software R.
Palabras clave: Enseñanza y Aprendizaje; Inferencia Estadística; Intervalos de confianza;
Software R; Educación Superior.
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
430
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
A APRENDIZAGEM SOBRE INTERVALOS DE CONFIANÇA COM RECURSO
AO SOFTWARE R
Resumo: Este trabalho consistiu no estudo da viabilidade da implementação de uma
metodologia de ensino, na unidade curricular Matemática Computacional, envolvendo
alunos e docentes através da utilização do software de estatística R na realização de um
trabalho prático, como reforço do ensino tradicional. A inferência estatística,
nomeadamente a determinação de intervalos de confiança foi o conteúdo selecionado para
esta experiência. Pretendeu-se, por um lado, mostrar que é possível favorecer, por
intermédio da referida metodologia, a aquisição das competências fundamentais na
inferência estatística e, por outro lado, promover sinergias entre docentes e alunos.
Apresenta-se também um estudo comparativo entre as metodologias utilizadas e
respectivos resultados quantitativos e qualitativos em dois anos letivos consecutivos,
relativamente a vários indicadores. Os dados usados no estudo foram obtidos através das
respostas dos alunos às questões dos exames de 2010/2011 e 2011/2012, da realização de
um trabalho de grupo em 2011/2012 e das respostas a um questionário (facultativo e
anónimo) também aplicado em 2011/2012. Em termos de resultados, salienta-se um
melhor desempenho dos alunos nas questões de exame em 2011/2012, ano que os alunos
usaram o software R, e uma perspetiva muito favorável dos alunos sobre a utilização do
software R.
Palavras chave: Ensino e Aprendizagem da Estatística; Inferência; Intervalos de
Confiança; Software R; Ensino Superior.
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
431
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
LEARNING ABOUT CONFIDENCE INTERVALS WITH SOFTWARE R
Abstract: This work was to study the feasibility of implementing a teaching method that
employs software, in a Computational Mathematics course, involving students and
teachers through the use of the statistical software R in carrying out practical work, such
as strengthening the traditional teaching. The statistical inference, namely the
determination of confidence intervals, was the content selected for this experience. It was
intended show, first of all, that it is possible to promote, through the proposal
methodology, the acquisition of basic skills in statistical inference and to promote the
positive relationships between teachers and students. It presents also a comparative study
between the methodologies used and their quantitative and qualitative results on two
consecutive school years, in several indicators. The data used in the study were obtained
from the students to the exam questions in the years 2010/2011 and 2011/2012, from the
achievement of a working group in 2011/2012 and via the responses to a questionnaire
(optional and anonymous) also applied in 2011 / 2012. In terms of results, we emphasize
a better performance of students in the examination questions in 2011/2012, the year that
students used the software R, and a very favorable student’s perspective about the use of
software R.
Key words: Teaching and Learning Statistics; Inference; Confidence Intervals; Software
R; Higher Education.
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
432
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
A APRENDIZAGEM SOBRE INTERVALOS DE CONFIANÇA COM RECURSO
AO SOFTWARE R
Fecha de recepción: 08/01/2013; fecha de aceptación: 15/05/2013; fecha de publicación: 30/07/2013
Gariela Gonçalves
[email protected]
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Luís Afonso
[email protected]
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Marta Ferreira
[email protected]
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Teresa Ferro
[email protected]
Instituto Superior de Engenharia do Porto
Maria M. Nascimento
[email protected]
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
1.- INTRODUÇÃO
A estatística é, nos dias de hoje, uma ferramenta indispensável para qualquer profissional
que necessite de analisar informação para a tomada de decisão (Batanero, 2000). É
importante decidir bem, mas a rapidez com que se toma a decisão também é um factor
relevante. Mais informação pode beneficiar a qualidade da decisão, mas pode prejudicar
a rapidez com que se toma. Para evitar isso, é necessário o recurso a meios tecnológicos
para poder tomar decisões, envolvendo grandes volumes de informação. O ensino da
estatística tem que evoluir também nesse sentido, tornando-se imperioso que os alunos
utilizem meios tecnológicos durante a aprendizagem. A prática do ensino ao nível da
Educação Estatística (literacia, pensamento e raciocínio estatístico) no ensino superior
tem evidenciado dificuldades decorrentes da difícil compreensão desses conceitos por
parte dos alunos.
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
433
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
1.1.- Intervalos de Confiança: antecedentes
O tema dos intervalos de confiança tem um papel importante nas disciplinas de
Estatística, tanto no ensino secundário (Ministério da Educação, 2001) como no ensino
universitário. Trata-se de um procedimento geral da inferência estatística que se pode
aplicar a diversos problemas tais como, o estudo de várias amostras, análise de correlação
e regressão, etc.(Olivo,2008).
Clark (2004) considera que uma das vantagens da utilização dos intervalos de confiança
tem haver com o facto de revelar ao investigador a margem de erro dos seus resultados
e a amplitude da amostra observada.
Cumming e Finch (2001) salientam que os intervalos de confiança facilitam o pensamento
meta-analítico que é um atributo essencial na análise dos dados estatísticos numa âmbito
de uma investigação.
No entanto, segundo Shaughnessy (2007) trata-se de um conceito de difícil compreensão
para os alunos. Apesar dos alunos construírem o intervalo de confiança utilizando
fórmulas e realizando cálculos, é difícil para eles compreenderem o conceito uma vez que
não lhe atribuem significado. Assim, é fundamental que os alunos aprendam conceitos
estatísticos de uma forma que tenham significado para eles.
Associação Americana de Psicologia (APA) declarou acerca da importância dos
intervalos de confiança (2001, citado em Olivo, 2008): Devido aos intervalos de
confiança combinarem informação sobre a localização e precisão e muitas vezes
poderem ser diretamente usados para inferir níveis de significância, eles são, em geral,
a melhor estratégia a usar. O uso dos intervalos de confiança é então fortemente
recomendado (p.19).
Em geral, os intervalos de confiança traduzem uma das formas informativas de apresentar
os resultados quantitativos de um estudo.
Em abordagens mais recentes, Henriques (2011) afirma que se deve “continuar a realizar
estudos comparativos e longitudinais sobre a compreensão dos alunos acerca dos
diferentes conceitos envolvidos na inferencia estatística e das causas das suas possiveis
dificuldades” (n.p.).
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
434
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
1.2.- Problemas detetados
Conceitos importantes em estudos estatísticos, incluindo intervalos de confiança, são
referenciados como de difícil compreensão pelos alunos (Callaert, 2007). A prática no
ensino desta temática por diversos docentes desta instituição confirma positivamente essa
afirmação. Na realidade, em termos históricos, tem-se verificado que os alunos
conseguem obter melhores resultados na teoria de probabilidades e suas extensões do que
na estatística inferencial, especialmente na área das aplicações. A prática do ensino da
estimação intervalar tem revelado os seguintes problemas: a) dificuldade na
aprendizagem dos conceitos estatísticos relativos aos IC, designadamente na
caracterização das varáveis aleatórias e no erro de estimação; b) fraca motivação; e c)
défice de sinergias entre alunos e docentes.
1.3.- Resposta aos problemas: Objetivos a atingir
O objetivo deste projecto consistiu na implementação de um método para a melhoria da
aprendizagem da estimação intervalar de parâmetros ‒ intervalos de confiança. Para tal,
divisou-se um novo método de ensino que passou pela utilização do software R de
estatística, em conjunção com a realização de um trabalho prático, em equipa, procurando
criar sinergias entre os alunos e os docentes e, desta forma, melhorar a aquisição dos
conceitos.
Procurou-se também avaliar o impacto do uso desse software, como recurso pedagógico,
introduzido nas aulas teórico-práticas, no âmbito da aprendizagem dos conceitos
estatísticos relativos a intervalos de confiança.
Essa avaliação envolveu o novo método de ensino usando o software R. Além disso,
avaliou-se o grau de motivação dos alunos nos intervalos de confiança neste ano letivo
de 2011/2012.
Nesse contexto, propusemo-nos fazer uma primeira abordagem à seguinte questão: O
ensino deste tema com recurso ao software livre R promoverá uma melhor aprendizagem
dos alunos nestes conceitos comparativamente com um ensino analítico?
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
435
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
2.- METODOLOGIA
Para atingir os objetivos propostos realizou-se uma experiência pedagógica na unidade
curricular de Matemática Computacional, do primeiro ano da Licenciatura em Engenharia
Informática do Instituto Superior de Engenharia do Porto, com cerca de 200 alunos
inscritos no ano letivo de 2011/12. Na figura seguinte (Figura 1) apresenta-se o modelo
usado para a implementação dos processos de avaliação e comparação de resultados
obtidos em dois anos letivos consecutivos, respetivamente 2010/2011 e 2011/2012, com
recurso ao método convencional de ensino assente unicamente na resolução analítica e ao
novo método proposto cujo impacto se pretende avaliar.
Metodologia adoptada
Figura 1. Metodologia adoptada
O conceito teórico de intervalo de confiança foi abordado em 2 aulas teóricas (2 h) e,
posteriormente, aplicado em 3 aulas teórico-práticas (4,5 h), adotando um método de
ensino que combinou o método de papel e lápis com o uso do software livre R (The R
Project, http://www.r-project.org/).
O ambiente computacional R constitui um sistema livre especialmente vocacionado para
o desenvolvimento de cálculos estatísticos, sendo largamente utilizado entre a
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
436
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
comunidade de utilizadores de estatística. Devido à sua especificidade e estrutura, este
software permite:
 Uma rápida aprendizagem, especialmente para os alunos que já têm contacto com
linguagens de programação;
 Uma forma rápida e económica na realização de cálculos estatísticos;
 O uso pelos alunos fora do ambiente escolar (por não necessitar de licença).
No sentido de estudar a adesão dos alunos ao software e a sua interligação com conceitos
teóricos foi proposto um trabalho, a realizar pelos alunos, que consistia na resolução de
um conjunto de problemas, que deveriam ser resolvidos tal como foi feito nas aulas
teórico-práticas, respetivamente, de forma tradicional (papel e lápis) e usando o software
R, tendo ainda os alunos de analisar, comparar e comentar os resultados obtidos.
A avaliação do impacto da utilização do Software R como recurso de aprendizagem dos
alunos do conceito de intervalo de confiança foi realizada sob duas perspetivas, que
passaremos a analisar.
2.1.- Avaliação pedagógica
Foi proposto aos alunos a realização de um trabalho prático, com dados reais, sobre o
tema intervalos de confiança composto por duas questões abordando os parâmetros média
e proporção. Nestas questões foram avaliadas a resolução analítica (papel e lápis) e a
resolução computacional com recurso ao software R. A tarefa apresenta-se na Figura 2,
que inclui as indicações dadas aos alunos (ver questão 2) para a elaboração do relatório.
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
437
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
Trabalho de MATCP
Numa empresa de informática pretende-se avaliar a eficácia de dois programas de formação.
Um grupo de 60 alunos, recém-licenciados, é aleatoriamente indicado para os dois
programas, de modo que existam 30 sujeitos em cada programa. No final do período de
formação, cuja duração foi um mês, é aplicado um exame aos 60 alunos. Os resultados,
numa escala de 0 a 20 pontos, são apresentados na tabela seguinte.
66
59
97
63
88
72
75
64
71
65
Programa A
74
51
62
73
87
78
65
56
77
63
82
74
78
74
79
91
56
67
78
68
61
76
55
80
53
63
60
65
91
67
Programa B
60
61
84
81
70
69
54
71
61
72
57
58
71
62
50
80
51
71
57
55
Admitindo que a distribuição das pontuações é normal:
1.
a) Construa um IC a 95% para a pontuação média de um aluno que se submeta ao
programa A.
b)
Calcule um IC a 95% para a % de alunos que obtém mais de 70 pontos.
2. Cada grupo deverá elaborar um relatório em computador que não ultrapasse 5 folhas onde
conste
a) Identificação dos elementos: nome, número e turma
b)
Enunciado
c)
Respostas às alíneas propostas:
i)
Na forma analítica de acordo com as aulas TP.
ii)
Na forma computacional com o recurso ao R.
Figura 2: Enunciado da tarefa
Pretendeu-se com a realização do trabalho em grupo promover uma melhor aprendizagem
dos intervalos de confiança. Num total de 193 alunos, organizaram-se 79 grupos (com 2
ou 3 alunos por grupo) e 5 alunos trabalharam individualmente (por impossibilidade de
trabalharem em grupo). Este trabalho tinha um peso de 10% na nota final da avaliação.
Além disso, os alunos puderam tirar dúvidas com os seus professores nas horas tutoriais.
Para comparar os resultados obtidos analisaram-se as questões de exame do ano letivo
2010/2011 que envolviam intervalos de confiança (nos 186 testes realizados) e a mesma
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
438
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
questão nas provas de exame do ano letivo seguinte de 2011/2012 (nos 188 testes
realizados). No ano letivo 2010/2011 o ensino foi ministrado pelo mesmo grupo de
docentes com a mesma tipologia de aulas, mas usando apenas o método tradicional de
papel e lápis.
2.2.- Motivação
Para avaliar esta componente foi realizado um questionário (anónimo e facultativo) com
o objetivo de recolher a opinião dos alunos sob o trabalho realizado, contemplando: a
funcionalidade do R; e o incentivo ao estudo e aprendizagem dos conceitos. Este
questionário é apresentado no anexo A. O questionário foi colocado no “Google docs”,
simultâneamente foi enviado um email aos alunos, no sentido de os informar da
disponibilidade do mesmo e de que teriam 15 dias para responder, e foi ainda esclarecido
o modo de preenchimento na própria plataforma. O questionário foi aplicado no final do
semestre e antes do exame, para que os resultados deste não influenciassem as respostas
dos alunos.
3.- ANÁLISE DE RESULTADOS
Nesta secção procede-se a uma primeira análise da viabilidade e interesse da
implementação desta prática pedagógica, incluindo o recurso ao software R.
3.1.- Análise Comparativa
Os resultados obtidos nos anos letivos 2010/2011 e 2011/2012 (ano em que se introduziu
o software R) estão expressos na Tabela 1. Destacamos, destes resultados, que o número
de respostas excelentes duplicou a sua proporção com a introdução da nova metodologia.
Também a proporção de respostas que cumpriram mais de metade dos objectivos
pretendidos nas questões sobre intervalos de confiança (nomeadamente nos aspetos que
envolvem a definição de variáveis aleatórias, a compreensão e cálculo do erro de
estimação, a relação entre o erro de estimação e o intervalo de confiança e a interpretação
do significado do intervalo de confiança no contexto do problema em estudo) teve um
crescimento substancial passando de 43% para 62,2%. No sentido inverso, a proporção
de respostas incorrectas decresceu para cerca de metade.
Ano letivo 2010/11
Questões
Nº respostas
% de respostas
Respostas de
excelência
11
5,9
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
439
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
Ano letivo 2011/12
Semicorretas
69
37,1
Incorretas
72
38,7
Sem resposta
34
18,3
Total
186
100
Respostas de
Excelência
23
12,2
Semi-corretas
94
50,0
Incorretas
36
19,1
Sem resposta
35
18,6
Total
188
100
Tabela 1. Resultados comparativos de dois anos letivos.
Na Figura 3 apresenta-se a distribuição dos diferentes tipos de respostas dos alunos nos
dois anos letivos consecutivos, no último dos quais foi implementado o novo método.
Figura 3. Distribuição percentual comparativa relativamente ao tipo de resposta
Para averiguar se o aumento na proporção de alunos que cumpriram mais de metade dos
objetivos, pela introdução da nova estratégia de ensino, é confirmada em termos de
significância estatística e pode ser extrapolada para a população em estudo, l evamos a
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440
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
cabo um teste da diferença de proporções. Os resultados do teste permitem rejeitar a
hipótese nula de que não existe diferença (valor de prova p = 0.0001, que indica um risco
de erro do tipo I muito baixo), sendo possível concluir que os resultados são
estatisticamente significativos e podem ser considerados para a população a que o estudo
se refere.
Relativamente às respostas de excelência, que revelam cuidado com a escrita e
justificações teóricas, efetuamos o mesmo teste e o resultado do mesmo (valor de prova
p= 0.0001) permite retirar conclusões semelhantes, isto é, os resultados amostrais são
estatisticamente significativos.
Todavia, verificamos que a percentagem de alunos que não responderam às questões de
estimação intervalar não sofreu variação significativa. Atribuímos este fenómeno como
sendo característico da existência de uma percentagem de alunos que antecipadamente
coloca de parte a matéria de inferência. Em termos históricos, tem-se verificado que esta
percentagem se tem mantido constante nos últimos anos, sendo o seu valor de cerca de
20%.
3.2.- Análise dos trabalhos
Dos grupos de alunos que participaram nesta experiência de 2011/2012 sobre intervalos
de confiança, 90% obtiveram notas positivas (9,5 a 20 valores). Dos alunos que tiveram
notas positivas, 76% cumpriram mais de 60% dos objetivos pretendidos com este traba lho nos aspetos de resolução das questões (tal como foram apresentados nas questões de
exame em 3.1). Dos alunos que obtiveram notas negativas, pode considerar-se que 49%
cumpriram parcialmente esses aspetos, verificando-se mesmo assim que, como primeira
análise desta proposta de trabalho para os intervalos de confiança, os alunos deste ano
letivo já revelaram ter aprendido os conceitos deste conteúdo.
Em seguida, na Figura 4, apresentam-se, a título de exemplo, uma resolução retirada dos
relatórios sobre a utilização do R e no Anexo B a correspondente resolução analítica.
Verificamos assim que existem evidências de que os alunos, para além de terem
aprendido a usar o R, conseguiram usá-lo para confirmar as suas resoluções com papel e
lápis.
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
441
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
Figura 4. Exemplo de resolução do problema proposto utilizando o R
3.3.- Análise dos questionários
Os resultados globais (Figura 5) dos questionários anónimos e facultativos, realizados por
106 dos 193 alunos de 2011/2012, revelam que 64% dos alunos recomenda o R como
recurso pedagógico, notando-se que apenas 25% não tem opinião formada. Relativamente
à assimilação dos conceitos apenas 19% dos alunos considera que não houve melhorias
na aprendizagem dos conceitos e apenas 9% dos alunos discordam que a utilização do R
não é intuitiva.
G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
442
TESI, 14(2), 2013, pp. 430-451
Figura 5. Gráfico das respostas dos alunos sobre a aprendizagem com o R
A maioria dos alunos que achou a utilização do R intuitiva gostaria de usar este software
no futuro. De facto, na Tabela 2, observa-se que dos 62 alunos que concordam que o R é
intuitivo, 45 também consideram que gostariam de o usar no futuro (cerca de 73%).
Situação análoga se verifica para os alunos que discordam de ambos os itens, agora uma
minoria de cerca 18%.
Gostava de voltar a utilizar o R
noutra disciplina da mesma área Total
1
Achei a utilização do R 2
intuitiva
3
4
5
1
2
3
4
5
2
3
1
2
0
1
0
1
0
0
10
1
1
0
5
2
0
19
14
0
7
27
10
2
5
3
34
62
106
Total
17
34
55
1 ‒ Discordo Plenamente; 2 ‒ Discordo; 3 ‒ Nem discordo nem concordo; 4 ‒
Concordo; 5 ‒ Concordo plenamente.
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443
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Tabela 2. Respostas utilização intuitiva versus voltar a utilizar o R noutra disciplina da
mesma área
Relativamente à relação entre a utilização intuitiva e a contribuição para a melhoria da
aprendizagem dos conceitos (Tabela 3), verificou-se que a maioria dos alunos achou a
utilização do R intuitiva e que promoveu a melhoria da aquisição dos conceitos.
Foi mais fácil assimilar os
conceitos envolvidos na disciplina
com a utilização do R
1
2
3
4
5
Achei a utilização do
R intuitiva
Total
Total
1
3
0
0
0
0
2
3
2
2
0
0
3
0
6
22
6
0
34
4
0
6
17
21
5
61
5
0
0
3
5
4
20
44
41
10
105
1 ‒ Discordo Plenamente; 2 ‒ Discordo; 3 ‒ Nem discordo nem concordo; 4 ‒
Concordo; 5 ‒ Concordo plenamente.
Tabela 3. Respostas utilização intuitiva versus melhoria da assimilação dos conceitos
Foram também analisadas as opiniões dos alunos acerca das vantagens e desvantagens da
utilização do software na sala de aula. Os resultados desta análise, expressos na Figura 6,
permitem constatar que a principal desvantagem, encontrada pelos alunos, consistiu no
investimento inicial de tempo necessário para a aprendizagem do R. No que concerne às
vantagens na utilização do software, os alunos enfatizam a simplificação do processo de
aprendizagem, o estímulo ao estudo e o trabalho em equipa.
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444
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Figura 6. Vantagens e desvantagens do uso do software R
4.- CONCLUSÕES
A análise dos resultados das questões dos exames realizadas pelos alunos mostrou que foi
maior a percentagem de alunos com respostas corretas em 2011/12, ano letivo em que foi
combinado o uso do papel e lápis com o software R. Esta constatação sugere que, de um
modo geral, neste ano letivo a utilização do sofware R permitiu que os alunos
compreendessem melhor o conceito de intervalo de confiança. Apesar de alguns autores
terem verificado nos seus estudos que os alunos revelam dificuldades conceptuais,
procedimentais e interpretativas em relação a este conceito (Callaert, 2007; Olivo &
Batanero, 2007), os resultados sugerem que estas dificuldades podem ser
progressivamente superadas com o recurso a ferramentas computacionais.
Face aos resultados comparativos obtidos nas questões de exames e aos resultados obtidos
na realização do trabalho prático, é nossa opinião que o uso do software R motivou os
alunos para uma melhor aprendizagem de conceitos de intervalos de confiança.
Possivelmente, o facto de estes alunos serem de Engenharia Informática tornou-os mais
sensíveis à aprendizagem usando softwares, nomeadamente o R.
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445
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Por um lado, advogando que “É no interior do processo educativo que podemos encontrar
algumas das respostas para as questões que surgem a partir do uso do computador e que
remetem à transformação da prática do educador” (Valente, 1999); e, por outro lado,
considerando a importância do intervalo de confiança e a necessidade do seu uso na
investigação (Olivo & Batanero, 2007), recomendamos que em futuras investigações se
explore mais a utilização de softwares estatísticos para a aprendizagem de conceitos
relacionados com a inferência estatística. Todavia, os resultados obtidos confirmam que
a percentagem de alunos que não responderam às questões de estimação intervalar se tem
mantido constante. Um futuro desafio será perceber quais as causas que estão associadas
e procurar medidas que motivem esses alunos para o estudo da estimação intervalar.
5.- BIBLIOGRAFIA
American Psychological Association (2001). Publicational manual of the American
Psychology Association, 5. Washing: DC.
Batanero, C. (2000). Controversies around significance tests. Journal of Mathematics
Thaching and Learning, 2(1&2), 75-98.
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Clark, L. (2004). Los valores p y los intervalos de confianza. En qué confiar? Revista
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Henriques, A. (2011). Dificuldades na Compreensão de Intervalos de Confiança: um
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Cumming, G. & Finch, S. (2001). A primer understanding, use, and calculation of
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Olivo E. (2008). Significado de los intervalos de confianza para los estudantes de
ingeniería en México. Tese de doutoramento, Universidad de Granada, Granada,
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G.Gonçalves, L. Afonso, M. Ferreira, T. Ferro y M. Nascimento
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6.- ANEXO A - Questionário
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6.- ANEXO B - Resolução analítica (parcialmente correta) efetuada por um grupo
de alunos
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Para citar el presente artículo puede utilizar la siguiente referencia:
Gonçalves, G., Afonso, L., Ferreira, M., Ferro, T., Nascimento, M. M. (2013). A
aprendizagem sobre intervalos de confiança com recurso ao software r. Revista Teoría de
la Educación: Educación y Cultura en la Sociedad de la Información. 14(2), 430-450
[Fecha de consulta: dd/mm/aaaa].
http://campus.usal.es/~revistas_trabajo/index.php/revistatesi/article/view/10240/10672
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