Publicação da associação brasileira de distribuidores volkswagen
Ano 33 • n• 291
ABRIL 2O11
Boas ideias,
a terceira
maior
indústria do
mundo
U
A Economia do Conhecimento
ma das transformações socioeconômicas mais facilmente percebidas no mundo
contemporâneo é a valorização do trabalho criativo. Não tem data antiga a mudança que
fez “valer” igualmente um produtivo da indústria e um artesão. A percepção de que para o
desenvolvimento da sociedade a geração de riqueza a partir do pensamento humano, criada pelo
cérebro, pode ser tão valiosa quanto a que vem das máquinas, oriunda do capital financeiro, foi
definida em 1994 na Austrália por conta do projeto Creative Nation, que defendia justamente
a importância do trabalho criativo e sua contribuição para a economia daquele jovem país.
Poucos anos mais tarde, em 1997, o conceituado primeiro-ministro inglês, Tony Blair, identificou
na Inglaterra 13 setores econômicos que teriam origem na criatividade, habilidade e talentos
individuais e que apresentavam potencial para criação de riqueza. A música, a propaganda, o
design, a moda, as artes do espetáculo e o mercado de antiguidades, só para citar alguns entre
os 18, foram relacionados. E estes segmentos não são considerados uma unanimidade entre os
especialistas em Economia Criativa, porque criatividade pressupõe diversidade e vantagens
naturais de cada sociedade ou país, assim, também podem vir a ser considerados o folclore, a
gastronomia e o turismo.
Hoje já é possível dimensionar a riqueza gerada por essas atividades oriundas essencialmente
da criatividade e do talento dos indivíduos. Segundo as autoridades ouvidas nesta edição, a
Economia que depende de boas ideias é a terceira maior do mundo, ficando atrás apenas da
indústria do petróleo e de armamentos. No Brasil, a chamada Economia Criativa fatura
380 bilhões de reais por ano ou o equivalente a 16,4% do PIB em áreas como arquitetura, cinema,
moda, design, cultura popular, turismo e artesanato. Atento a este número, o Ministério da
Cultura criou recentemente a Secretaria da Economia Criativa, mas o Brasil ainda está longe
de saber como aproveitar a criatividade de seus cidadãos. “Nós ainda não temos processos e
instrumentos claros de gestão. É como ter o hardware sem o software”, diz a consultora Lala
Deheinzelin, explicando que enquanto a China já incluiu em seu último plano quinquenal a
Economia Criativa e a Economia Verde como áreas fundamentais da atividade econômica, o
Brasil ainda está engatinhando nessa área. Falta o que já dissemos repetidamente neste espaço:
investimento em infraestrutura tecnológica e formação profissional. Uma vez superado este
obstáculo, a identidade e a cultura brasileiras têm tudo para transformar-se em agentes do
desenvolvimento da criatividade, com vocação ainda para a exportação de modelos diversificados
e autossuficientes. É semear hoje para colher amanhã.
Boa leitura.
SHOWROOM
Conselho Editorial
3
GENTE
GENTE
A PASSEIO
CAPA
3 Recado
A mensagem do Conselho Editorial.
5 Cartas
O que dizem sobre Showroom.
6 Quem Passou
Por Aqui
Amigos e personalidades que visitaram a
Assobrav e as empresas do Grupo Disal.
Desde o início dos tempos a criatividade, a
capacidade de criar o novo, de reinventar,
de diluir padrões tradicionais e encontrar
soluções para novos e velhos problemas, é
vista como motor da inovação. Isso nunca
mudou. O que mudou, desde meados dos
anos 1990, é que não só a criatividade, mas
as ideias, a imaginação e a inovação, enfim,
o capital humano, são os principais insumos
da economia do conhecimento.
24 TecMania
8 Gente
Laurentino Gomes, jornalista e escritor.
Ganhador do Prêmio Jabuti em duas
categorias – “Melhor Livro-Reportagem” e
“Melhor Livro do Ano de Não-Ficção” (Câmara
Brasileira do Livro) e do prêmio da Academia
Brasileira de Letras – “Melhor Ensaio de 2008”,
permaneceu três anos consecutivos na lista
dos mais vendidos do Brasil e de Portugal
com a obra “1808 – Como uma rainha louca,
um príncipe medroso e uma corte corrupta
enganaram Napoleão e mudaram a história de
Portugal e do Brasil.”
O motivo que faz o leitor devorar seus livros
como “pãozinho quente na padaria pela
manhã” é que ele escreve História de um modo
simples e cativante, capaz de alcançar um
número impensável de leitores no Brasil, um
país que ainda tem analfabetos.
16 RH
4
18 Capa
A reflexão do colunista Armando
Correa de Siqueira Neto sobre o
comportamento humano.
Os testes em laboratórios e em pistas
de provas da indústria automobilística,
segundo o jornalista Fernando Calmon.
26 Mundo Verde
O recado sobre a preservação do meio
ambiente e suas implicações legais.
28 A Passeio
Alasca, um dos poucos lugares onde se pode
chegar bem perto das geleiras. E se você
é fã do filme “A Era do Gelo” vai se sentir
em casa. As geleiras da Idade do Gelo são
impressionantes, para dizer o mínimo.
Algumas das paisagens mais incríveis
dos Estados Unidos estão no Alasca,
imortalizadas pelo gelo. A expressão
ecoturismo cabe como uma luva.
O organizado Alasca proporciona a
possibilidade de explorar sem atingir o meio
ambiente, nem prejudicar a população local.
Cultura, natureza e deserto estão ao alcance
da mão, por caminhos já traçados, com
várias orientações sobre “como não deixar
rastros” que vão prejudicar a natureza e as suas
criaturas.
36 Freio Solto
A opinião, a crítica e a ironia do jornalista Joel
Leite.
38 E se...
A ficção de Maria Regina Cyrino Corrêa sobre
como seria a nossa vida se os principais fatos
celebrados em abril não tivessem acontecido.
39 Quando a Bola Rola...
O comentário de Marcelo Allendes sobre o que
acontece nos gramados, quadras, piscinas...e em
outros espaços também.
40 Novidades
O que há de novo em eletrônicos, periféricos de
informática e outras utilidades.
41 Livros & Afins
Nossas dicas para a sua biblioteca, cedeteca,
devedeteca e pinacoteca.
42 Vinhos & Videiras
A opinião abalizada de Arthur Azevedo, diretor
executivo da ABS – Associação Brasileira de
Sommeliers – SP e editor da revista WineStyle e
do site www.artwine.com.br
[email protected] / twitter: @artwine77
42 Mesa Posta
Receitas, segredos e informações sobre a história
da gastronomia com o chef Gustavo Corrêa.
Felicidade, como pôr
em prática?
Foi ótima a matéria sobre felicidade publicada
por vocês no número anterior. Ao mesmo tempo em
que desmistifica a felicidade como algo que precisa ser
conquistado a qualquer preço, o texto mostra, com estatísticas,
os componentes que pelo menos nos ajudam a chegar mais perto dela.
Sem demagogia e falsas ideias, a matéria cumpriu o objetivo de informar,
entretendo o leitor. Bernardo de Souza
Mundo Verde
Parabéns pela coluna “Mundo Verde”. Achei fantástico o foco da
sustentabilidade da gestão ambiental. É mais do que momento de
colocarmos em prática a nossa responsabilidade socioambiental, pois é mais
que um compromisso no nosso negócio, é um compromisso com o futuro.
Os resultados são evidentes quando implantamos o processo dentro da
concessionária, tanto que nossa experiência na VW Saga tem sido referência
para outras autorizadas no Estado de Goiás.
Parabéns pela iniciativa. Eliene Souza e Silva, Coordenadora Ambiental Sagaverde
VW Saga (GO)
Ivaldo Bertazzo
Foi um prazer ler a entrevista
com o Professor Bertazzo nesta
revista (Edição 290 – Março
2011). Vocês ampliaram o foco,
revelando, além do seu talento
como bailarino e coreógrafo, o
quanto ele entende do corpo
humano. Parabéns.
Maria Joaquina
“Nossa confusão,
nossa essência”
Queria parabenizar a cronista
Maria Regina Cyrino Corrêa por
seu último artigo “E se tudo o
que os horóscopos dizem fosse verdade?” (Edição 290
– Março 2011). Ela fala com humor e sensibilidade em doses perfeitas. Adorei
a mensagem final “Nossa confusão é nossa essência. Nosso céu e nosso
inferno. E é dela que devemos tirara força pra seguir em frente.”
É isso aí! Valderene Machado
Tendências
Li a matéria “Tendências para breve” em um número anterior de Showroom
(288 – Janeiro 2010) e gostei muito. Acabei utilizando o texto para um
trabalho na Faculdade. Faço Marketing, estou ainda no começo, mas me
interesso bastante. Por isso gostaria de receber a revista em minha casa já
que, acredito, seja um tema recorrente nas edições.
Publicação mensal da
Ano 33 – Edição 291– abril de 2011
Conselho Editorial
Antonio Francischinelli Jr. , Evaldo Ouriques,
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Imperatori e Silvia Teresa Bella Ramunno.
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Conselho de Ex-Presidentes
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Cláudio Pentagna Guimarães, Rômulo D.
Queiroz Monteiro Filho, Orlando S. Álvares de
Moura, Amaury Rodrigues de Amorim, Carlos
Roberto Franco de Mattos,
Roberto Torres Neves Osório,
Elmano Moisés Nigri e
Rui Flávio Chúfalo Guião.
N.R.: Recordamos que para receber Showroom mensalmente os interessados
devem enviar um e-mail à Redação ([email protected]) informando o
seu endereço e solicitando o envio da publicação. Os pedidos serão atendidos
por ordem de chegada e conforme a disponibilidade de exemplares.
SHOWROOM
José Antonio Bollo
5
Joelmir Betting, jornalista
econômico e um dos âncoras
da Rede Bandeirantes de
Comunicação, para falar,
sempre divertido e de
facilíssima comunicação,
aos empresários da Região I,
São Paulo, sobre o futuro do
setor e da economia....
Andrea Ornellas Zhouri,
superintendente de
Frotistas/Vendas
Corporativas da VW
Itacuã, de Ribeirão
Preto, comprovando
a competência e a
eficiência feminina em
assuntos anteriormente
ditos “de homens”...
O querido Augustin Soliva, diretor-presidente da VW Guará
Motor, de Guaratinguetá e região, pioneiro nas lutas da
Assobrav, para ser homenageado por seus pares pelos 40
anos, sólidos e prósperos, da empresa...
A expressão sisuda
não condiz com a
extrema simpatia e o
carinho que recebe de
todos. Paulo Oliveira,
executivo do Banco
Volkswagen - Escritório
Regional de Campinas
(SP), para receber os
aplausos, merecidos,
por seu trabalho...
6
Tanto é verdade
que Regina
Helena S
Invernizzi Lopes,
da VW Santa
Emília, também
de Ribeirão Preto,
é responsável
pela mesma
área com igual
desenvoltura...
Parceiro de longa
data, Massuo
Uemura, sóciodiretor da Prediction
Consultoria, para
acompanhar e
parabenizar o
trabalho da recém
criada e já grande
“Tecnologia da Rede
Volkswagen”, uma
empresa do Grupo
Disal...
Márcio Ribeiro
Werner, titular
da VW Camvel,
do Balneário
Camboriu (SC),
deixando aquela
praia para trocar
experiências,
em uma sala
fechada, com
os colegas do
Projeto Sinal
Vermelho...
Marcelo Olival, gerente de Vendas de Comerciais Leves da
Volkswagen, sempre de bem com a vida, para apresentar
as mais recentes estratégias da área à Rede VW...
E para uma reunião com a diretoria
técnica da Assobrav, Luciano Miguel
Groch, diretor Comercial e de
Marketing da Assurant Solutions...
SHOWROOM
Cibelle Rodrigues,
jovem gerente
de Produto do
Bradesco Vida
e Previdência,
para uma visita
formal e cortês à
Disal Corretora de
Seguros...
7
Fotos: Divulgação
Laurentino
Gomes
“Sou um
repórter
que escreve
sobre a
História do
Brasil”
Por S. Arruda e Silvia Bella
8
le passou a ser uma celebridade da
noite para o dia, embora não goste do termo.
“Tenho uma certa aversão ao culto obsessivo
que a sociedade contemporânea dedica
às celebridades”, diz, mas admite que ter
vendido 700 mil exemplares do seu livro
de estreia (“1808”, depois escreveu “1822”,
com igual sucesso) no Brasil e em Portugal o
coloca hoje entre as principais personalidades
de língua lusa. Calmo, sensato, solícito, bompapo, Laurentino Gomes também é avesso ao
estrelismo. Quem o conheceu nas redações
dos principais jornais e revistas do País, em
boa parte delas chefiando outros jornalistas,
garante: “ele sempre foi assim, bem-educado,
atencioso e disponível com todo mundo.”
E é por isso que todo mundo gosta do
Laurentino. Como pessoa, como jornalista
que construiu uma carreira sólida e exemplar,
e agora como escritor. Seus admiradores não
param de crescer e já são numerosos no alémmar, mérito que poucos autores brasileiros, à
exceção dos consagrados e obrigatórios para o
vestibular, têm.
Ganhador do Prêmio Jabuti em duas
categorias – “Melhor Livro-Reportagem”
e “Melhor Livro do Ano de Não-Ficção”
(Câmara Brasileira do Livro) e do prêmio
da Academia Brasileira de Letras – “Melhor
Ensaio de 2008”, Laurentino Gomes
permaneceu três anos consecutivos na lista
dos mais vendidos do Brasil e de Portugal. O
diferencial, o charme, a graça, o motivo que
faz o leitor devorar seus livros – e ele já vai
para o terceiro (“1889”) – foi bem resumido
pela jornalista portuguesa Rita Ferro, que o
entrevistou recentemente: “Laurentino escreve
história de um modo cativante”. É isso, na
verdade ele consegue “ensinar” história de
uma maneira tão simples e tão atraente que
é capaz de chegar a um número impensável
de leitores no Brasil, um país que ainda tem
analfabetos.
Este senhor distinto, que sabe cozinhar (se
assume um grande pizzaiolo), cuidar do
jardim e do cachorro, que adora dar longas
caminhadas e ler muito, muito mesmo,
sempre encontra tempo para paparicar a
mulher e os quatro filhos, já adultos, em
prazerosas reuniões em sua casa em Itu, uma
das cidades mais ensolaradas de São Paulo.
Lá é onde encontra energia para escrever e de
onde organiza sua vida profissional, dividia
Showroom: Em que momento você
resolveu que ia escrever um livro?
Laurentino Gomes: Duas coincidências
da vida. Eu trabalhava na Veja, era editor
executivo em 1997 e a revista tinha
um projeto de escrever uma série de
especiais sobre a história do Brasil para
distribuir de brinde aos leitores. Meu
editor era o Tales Alvarenga, já falecido.
E eu fiquei encarregado de coordenar
uma equipe que ia fazer o especial sobre
a chegada da Corte Portuguesa ao Rio
de Janeiro. Procurei a orientação de
uma historiadora importante em São
Paulo, chamada Maria Odila Leite da
Silva Dias, que me passou a bibliografia
básica. Mas depois de algum tempo, o
projeto foi cancelado. Aconteceu o que
no jargão das redações chamamos de
“a pauta caiu”. Eu fiquei chateado, mas
mantive a ideia de que na comemoração
dos 200 anos da chegada da Corte ao
Brasil, em 2008, haveria a oportunidade
de um livro-reportagem sobre o assunto.
Então, fui complementando a pesquisa
aos poucos, porque, no começo, me
deu uma preguiça muito grande de
escrever esse livro...(risos), mas acabei
me animando, escrevi, e aí aconteceu
a grande surpresa: o livro virou um
best-seller de uma hora para outra. Meu
editor me ligou e disse: “o seu livro
está vendendo como pãozinho quente
na padaria de manhã!”. E aí começou
uma grande transformação na minha
vida. Acabei largando o emprego como
jornalista de redação, revista e de jornal.
Mudei de cidade. Passei a andar pelo
Brasil dando aula, dando palestra,
participando de feiras literárias, sessões
de autógrafo e me animei a fazer outro
livro. Acho que foi uma oportunidade
que passou diante de mim e soube
aproveitá-la.
Você é paranaense, não? Fale um pouco
sobre a sua infância, a sua família...
Meu pai e minha mãe eram agricultores. Eu
nasci numa família muito pobre no interior
do Paraná. Eles eram cafeicultores numa
cidadezinha de três mil habitantes, chamada
Água Boa, distrito de Maringá, hoje do
Município de Paissandu. Eles estudaram muito
pouco. Meu pai fez só até o quinto ano primário
– admissão, como era antigamente. Minha mãe
só o primeiro ano primário. Mas tem uma faceta
curiosa na minha infância: apesar de a gente
viver a 120 km da biblioteca mais próxima,
que era em Londrina, meu pai era um leitor
voraz. Por ser congregado mariano, conseguia
emprestados os livros do pároco local. E ele lia
livros de história! Eu lembro que, aos seis, sete
anos, quando levava o almoço para ele na roça,
ele ficava me contando histórias do Império
Romano, do Imperador Constantino, histórias
da Igreja... Eu acho que vem daí esse meu
interesse pelo jornalismo e pela história. É coisa
antiga na minha vida...
Bem, de qualquer maneira, a considerar a
sua infância, você é um grande vencedor...
Eu sou muito grato a eles, porque, veja, todas
as coisas conspiravam para eu fosse hoje um
agricultor pobre, talvez participando do MST
no interior de Rondônia (risos). Porque era isso
que o futuro sinalizava. A gente morava longe
de tudo, de escola, de biblioteca, não tinha nada
em casa. Às vezes não tinha nada industrializado
além de sal, açúcar, querosene e óleo, mas os
meus pais perceberam que precisariam mudar
para a cidade para educar os filhos. E foi o que
fizeram. Foram para Maringá com o objetivo
de que todos os quatro filhos fizessem uma
faculdade, e realmente nós fizemos, somos um
jornalista, dois engenheiros e um advogado.
Enveredar pelo jornalismo, naquela época,
não era nada glamoroso...
Não, não era não. Engenheiro e advogado, ok.
Faltava um médico. Inclusive, minha mãe, no
começo, queria que eu fosse fazer concurso para o
Banco do Brasil. Ela achava que era a via segura.
E como você detectou o gene do jornalismo?
Foi meio por acaso. Durante o segundo grau –
científico, no meu tempo - comecei a participar
de um grupo de teatro amador em Maringá. Nós
ensaiávamos numa sala cedida pela Universidade
Estadual de Maringá até as 3, 4 horas da manhã.
Na época minha intenção era cursar psicologia,
aliás, uma área que me encanta até hoje, mas dois
colegas do teatro estavam decididos
a fazer jornalismo e acho que me
influenciaram. O curioso é que eu
segui a carreira e eles dois não.
Hoje fazem outra coisa na vida.
SHOWROOM
E
entre palestras, participar de feiras
literárias e dar aulas em escolas, hoje, seu
ofício preferido: “Meus livros estão sendo
adotados no paradidático e isso me dá
muita satisfação, além de possibilitar
um encontro com os estudantes, como
o de agora há pouco. Acabo de sair do
Parque da Água Branca (São Paulo) onde
me reuni com estudantes e professores
de uma escola da zona leste. Foi muito
bacana. Isso não resulta na venda de
um único exemplar, mas eu saio desses
encontros cheio de mim, porque tenho a
certeza de que estou mexendo
com a vida das pessoas, aliás, missão
inerente ao exercício do jornalismo”,
disse Laurentino, logo ao sentar-se na
mesa da padaria onde conversou com
Showroom por duas horas e meia.
9
tinha ficado rico. Era o equivalente a ter
ganhado muitas vezes na loteria esportiva,
que era a grande loteria da época. Fiquei
uma semana em Serra Pelada sem esse
cara me atender, até que um dia descobri
onde ele estaria e armamos uma tocaia,
o fotógrafo e eu. Com uma teleobjetiva,
o fotógrafo conseguiu tirar as fotos, e
eu me aproximei. Ele me disse: “Sei que
você está à minha procura, entra na
caminhonete que eu vou conversar com
você.” Ai me levou para o aeroporto.
“Eu vou te dar um conselho, e você leve
muito a sério: pegue esse avião que vai
sair agora e nunca mais volte aqui.” Eu já
tinha fotos, tinha apurado tudo, já tinha
a matéria. Na semana seguinte, o Tales,
meu chefe, me falou: “Eu não quero lhe
assustar, mas ligaram da Serra Pelada
dizendo que o garimpeiro contratou um
pistoleiro para matar você. O que você
quer que a gente faça?” Eu disse: “não sei,
vou para Rondônia fazer uma matéria,
Depois você veio para a Revista Veja?
quem sabe esse sujeito me esquece.” E
Isso, fui para a Veja, na sucursal de Curitiba.
de fato nunca aconteceu nada comigo.
Depois fui correspondente em Belém, cobrindo Alguns anos depois eu estava no Recife
toda a região amazônica. Eu cobria 57% do
e me ligou um advogado, dizendo: “Nós
território nacional sozinho. Foi um período
fomos contratados por uma mulher aqui
muito interessante, porque o Chico Mendes
de Curitiba para procurar o marido dela.”
estava em atividade, Carajás estava sendo
A história é a seguinte, esse garimpeiro
inaugurada, Serra Pelada estava no auge. Tudo era um cobrador de ônibus, pobre, que
aquilo eu testemunhei, o formigueiro humano... morava em uma favela em Curitiba.
Em seguida fui trabalhar no Nordeste. Morei
Um dia sumiu, desapareceu. E a família
dois anos no Recife. Vi a eleição do Arrais,
nunca mais soube dele, até que um dia
a primeira eleição depois que ele voltou do
essa mulher pegou um número antigo
exílio. Depois voltei para Curitiba, para chefiar da Veja e viu a matéria do cara que tinha
a sucursal da Veja. Acompanhei a Constituinte, “bamburrado” (enriquecido) em Serra
Ulisses Guimarães, governo Sarney e aí vim
Pelada. Foi aí que entendi por que ele
para São Paulo, trabalhar no Estadão e no JT,
não queria dar entrevista. A mulher tinha
cobrindo política. Eu sempre fiquei entre as
contratado o advogado para dividir a
editorias de Geral e Política, principalmente
fortuna. Curiosamente, esse garimpeiro
em Geral. Fui editor de Geral do Estadão,
se envolveu no massacre de posseiros no
de Política do JT e de Cidades do JT. Depois
interior do Pará, matou três posseiros
voltei para a Abril, para fazer um projeto de
e estava foragido da Justiça. São essas
regionalização. Editei 11 Vejinhas regionais. E coisas que me marcam como repórter. No
essa é a minha história na Veja. Fiquei bastante jornalismo, às vezes, você tem sorte para
tempo lá. Até 2001.
descobrir informações novas com as quais
você não esperava trombar, mas também,
Qual foi a matéria, reportagem, que você
às vezes, precisa se livrar do perigo. Pode
fez que ficou marcada?
ser uma profissão muito perigosa, às vezes.
Eu fiz algumas coisas interessantes. Por
exemplo, tem um evento que eu nunca É uma experiência e tanto...
contei em público, mas que foi muito Na minha carreira jornalística tem um
marcante na minha vida. Quando era aspecto importantíssimo para o que eu
correspondente em Belém fui fazer
sou hoje. Eu tive a oportunidade de morar
uma matéria sobre um garimpeiro que em todas as cinco regiões do Brasil. Isso
E o primeiro trabalho?
Sai de Maringá e fui estudar na Universidade
Federal do Paraná, em Curitiba. Morava
sozinho. Trabalhava à noite, no Serpro, das
19h00 a 1h00 da manhã, digitando declarações
de imposto de renda e estudava das 7h00 às
17h00, quer dizer, quando conseguia dormir
mais ou menos era das 18h00 à meia noite. No
segundo ano de faculdade, eu virei estagiário
no jornal que estava sendo criado, o Correio
de Notícias. Foi um alumbramento na minha
vida! A primeira vez que entrei no jornal e
o sujeito falou que além de eu ser jornalista
eu iria ganhar salário, achei um exagero!
(risos) Era uma coisa maravilhosa. Tudo o
que eu queria era ser jornalista. Fui repórter
de política, cobrindo a câmara municipal de
Curitiba e depois a Assembleia Legislativa. Mais
tarde fui contratado para ser correspondente do
Estadão em Curitiba. Trabalhei quatro anos, vi a
inauguração de Itaipu...
10
me deu uma visão de Brasil que poucos
colegas têm. O jornalista geralmente fica
no eixo Rio – São Paulo - Brasília ou na
sua região de origem. Então, hoje, quando
eu faço uma matéria, um capítulo sobre a
Confederação do Equador em Pernambuco,
eu sei onde fica o Forte das Cinco
Pontas e onde foi fuzilado o Frei Caneca.
Quando falo da Revolução Farroupilha sei
exatamente onde aconteceu. Isso me ajuda
a ter uma dimensão de Brasil.
Você acabou de cometer um ato
falho, disse: “quando eu escrevo uma
matéria” ou um capítulo. Hoje você é
um jornalista-escritor ou um escritorjornalista?
Isso é uma coisa que me perguntam
com muita frequência - ”Você mudou de
profissão?”
O que mudou foi o formato. Eu continuo
sendo jornalista como sempre fui. Antes
eu era repórter e editor de jornal e revista.
Hoje escrevo livro-reportagem, mas sou
jornalista. Eu não sou historiador, eu
não sou doutor, aliás, eu relutaria em me
identificar como escritor, porque todo
jornalista é, por natureza, um escritor, ele
tem que escrever. Eu sou na essência um
repórter, quer dizer, eu olho a história do
Brasil com os olhos de um repórter. Então,
eu só mudei de formato, mudei minha
rotina de trabalho. Agora não vou mais à
redação, agora acabou aquele negócio de
ter o convívio dos colegas, mas eu sou um
repórter, escrevendo sobre a história do
Brasil.
Quando você lançou o “1808” já tinha
saído da Abril?
Não, ainda não. Essa foi uma das decisões
mais difíceis que eu tomei na minha vida,
porque eu pesquisei e escrevi o “1808”
sendo executivo da Editora Abril, portanto,
era um negócio que me dava muito
trabalho, tinha muita responsabilidade.
Eu escrevia de fim de semana, nas férias,
à noite. Foram 10 anos trabalhando. Aí
eu lancei o livro e aconteceu a surpresa
do “1808” se transformar em um bestseller. Naquele momento fui confrontado
com uma decisão que era inevitável. Ou
eu abandonava o livro e continuava como
editor da Veja e via um sonho passar na
minha frente, ou me dedicava ao livro e
abria mão do emprego, com salário e carro
da empresa. Vivi um conflito de interesses,
porque para divulgar um livro é preciso ter
uma assessoria de imprensa que vá à Folha,
ao Estadão, à Época, e sendo executivo da
Abril seria constrangedor dar entrevista
para um veículo concorrente. Da mesma
Quanto tempo durou esse conflito?
Eu lancei o livro em Setembro e sai em Maio.
Foram oito meses. A Abril foi muito generosa
comigo. Me ajudou a tomar a decisão,
inclusive, conversei muito lá dentro. Eu saí
bem, mas no começo foi muito difícil. Meu
plano A era continuar como executivo da
Abril, me aposentar lá e depois fazer um livro
de história, que era meu plano B. Só que o
plano B, de repente, virou o plano A.
O que fez “1808” explodir?
Vários fatores combinados. Em primeiro,
a pesquisa bem feita, a reportagem bem
apurada, o uso de fórmulas de edição que
aprendi ao longo de 30 anos nas redações.
Fazer um título provocativo de capa, como
“a Rainha Louca, uma corte corrupta...”,
para provocar o leitor. Ser muito acessível
na linguagem. Estruturar um texto para que
não seja muito maçante e nem muito banal.
Fazer legendas e diagramação bem feitas. Ter
um projeto gráfico atraente. Isso tudo ajuda.
Em segundo lugar, me envolver no trabalho
de divulgação do livro, que é uma coisa que
nem todos os escritores fazem. Eu botei o pé
na estrada. Nesses últimos quatro anos eu
participei de mais de 250 eventos, palestras,
aulas, feiras literárias, bate-papo com leitores.
Visitei mais de 100 cidades, e faço isso o
tempo todo. Acho que o principal garotopropaganda do livro é seu próprio autor. O
leitor gosta de conversar com o autor.
E o tema história também é atraente...
Sem dúvida, a história é um assunto que
está cativando as pessoas cada vez mais
porque na sociedade pasteurizada, onde
todos se vestem igual, comem as mesmas
coisas e vêem os mesmos canais de TV, seja
no Brasil, na Índia, na China, na Inglaterra,
as pessoas estão sentindo falta de âncoras,
de referências profundas, e duas coisas
vão se tornar cada vez mais importantes:
religião e espiritualidade, e história. E é o que
acontece hoje no mercado editorial. Quando
se olha nas listas dos mais vendidos vê-se o
padre Marcelo Rossi ou o esoterismo, que
é um tipo de espiritualidade disfarçada. E
história virou o grande assunto do momento,
você vai a uma banca de jornal e há vários
títulos de história. E no Brasil tem um fator
complementar: as pessoas estão em busca de
explicações para o Brasil do presente. Depois
da redemocratização, com o fim da ditadura,
do regime militar, o brasileiro alimentou a
falsa ilusão de que era muito fácil resolver os
problemas do País. Fazer uma Constituinte,
eleger um presidente populista e adotar uma
medida provisória seriam suficientes para o
Brasil virar um país de primeiro mundo. As
pessoas estão chocadas com a persistência
da corrupção, da desigualdade social, da
ineficiência do Estado, da criminalidade,
e agora questionam por que é tão difícil
construir o Brasil. Então, a história entra com
caráter instrumental, olha para o passado e
consegue entender o Brasil de hoje. Vejo isso
nas minhas palestras, falo sobre eventos de
200 anos atrás e na hora das perguntas voltase para o Brasil de hoje. As pessoas querem
saber de onde veio a corrupção, se a herança
portuguesa foi boa ou não...
Hoje você vive de literatura?
Sim, vivo da literatura. Existia o mito de que
era impossível viver de livros no Brasil, mas
acho que se o escritor for profissional, levar
a sério, escrever direito, numa linguagem
que as pessoas entendam, abordar um
assunto relevante, escolher uma boa editora,
dá para viver e viver muito bem de livro
no Brasil. Claro que aos 51 anos de idade,
que foi quando tomei a decisão de viver de
literatura, fica mais fácil do que aos 20. Eu
já tinha os filhos criados, uma casa paga, um
certo pé de meia... Agora, se o escritor quiser
atingir toda a sociedade mesmo, precisa ter
uma estratégia multimídia, então, eu tenho
site, estou no Twitter, estou no Facebook,
estou no Orkut. O escritor de hoje precisa
aprender a desenvolver conteúdo para esses
formatos, como é o caso do áudio livro e
e-book. O Twitter tem 140 toques, é outra
linguagem, o que era um título é a mensagem
inteira agora, mas para atrair o leitor jovem,
que já não lê tanto no papel, é preciso estar
na internet.
E a pirataria? Muita gente pode baixar os
seus livros de graça...
Não me assusto com a pirataria. As novas
tecnologias oferecem mais oportunidades
do que ameaças, desde que se esteja aberto
a elas. Por exemplo, a pirataria é horrível,
mas ela pode até estimular a leitura de uma
pessoa que em princípio não compraria o livro.
Se alguém pirateou o “1808” e comprou o
“1822” porque gostou do meu estilo, já é lucro.
Além do mais, acho que a pirataria é uma coisa
passageira e não ameaça ninguém, a não ser a
indústria da música, até porque a indústria da
música não soube aproveitar as oportunidades
digitais, mas na indústria editorial é diferente.
Veja o áudiolivro, é de simples produção,
queima-se um CD e pronto. É ótimo para os
cegos, ao contrário do braile que é caro, e
também para um novo leitor, que é o cidadão
que passa três ou quatro horas no trânsito. Nos
Estados Unidos esse mercado é enorme já que
são muitas as pessoas que se deslocam de suas
cidades para trabalhar em grandes centros.
Essas pessoas vão ouvindo um livro em vez de
ouvir uma emissora de esporte, de música. Eu
próprio gosto de baixar o livro e ouvir no iPod,
andando com o cachorro ou no avião. Dirijo
uma hora para ir e outra para voltar de São
Paulo toda semana, de forma que leio um livro
no carro a cada três semanas mais ou menos.
No começo é meio desconfortável, precisa mais
atenção, mas depois a gente se acostuma e fica
ótimo.
Você saiu de São Paulo?
Moro em Itú, em um condomínio com minha
mulher Carmen, e uma labradora, Lua. É um
lugar muito bom para fazer pesquisa, bom
para escrever. Tem mato, lago, passarinho...É
uma volta às raízes de menino de roça. Mas
ao mesmo tempo, estou a 30 minutos do
Aeroporto de Viracopos, sem um único sinal
de trânsito pelo caminho, o que é importante
para quem viaja muito. Num dia estou no
Piauí, no outro em Brasília, no seguinte em
São Paulo. Viajo para dar palestra, para falar
o que já fiz e pesquisar sobre o que vou fazer.
Mas trabalho mesmo em casa, já que a internet
facilitou a vida, disponibilizando aquela
quantidade de fontes. Imagine, para fazer o
“1808” tive que ir à biblioteca do José Mindlin,
no Brooklin, em São Paulo. Agora aquela
biblioteca está sendo toda digitalizada, e eu, de
casa, já consigo acessar a biblioteca Mindlin.
Quantos livros você leu para escrever o
“1808”?
Às vezes não é preciso ler o livro inteiro, mas
foram mais de 100 fontes de referência no
primeiro livro, mais de 150 fontes no segundo
e no terceiro serão mais ainda, porque na
medida em que se avança no tempo, a história
vai ficando mais complexa. Por exemplo,
no começo do século XIX o mundo era
relativamente simples: navegação
à vela, as pessoas andavam a
cavalo, a comunicação era por
carta. No final do século XIX
já entra em cena o telégrafo,
o telefone, o automóvel, a luz
elétrica, a cura para um monte
SHOWROOM
forma seria constrangedor ser capa da Vejinha
trabalhando lá... Eu decidi sair e me dedicar
totalmente ao livro. E acho que foi a grande
decisão que tomei na vida. Hoje eu estou
realmente muito feliz.
11
de doenças. Aparecem Darwin, Freud,
Marx...É uma coisa impressionante a
mudança, e também aumenta o número
de nossas personagens - Joaquim
Nabuco, a Princesa Isabel, o Marechal
Deodoro, o Marechal Floriano...
Você conta com mais gente para essa
fase de pesquisa?
Não, faço tudo sozinho e há uma
razão: delegar esse tipo de coisa torna
o resultado final muito impessoal. E o
interlocutor percebe isso. Por exemplo,
eu poderia contratar alguém para fazer
o perfil do José Bonifácio (de Andrada
e Silva), mas, às vezes, tem uma pepita
de ouro escondida dentro de um
parágrafo que muda toda a história, e
que só você percebe. Dá mais trabalho,
mas surpreende o leitor. Então, falar
que o José Bonifácio usava um rabicho
no cabelo que escondia embaixo da
casaca em cerimônias é uma informação
que muda o perfil do Patriarca da
Independência. Ele passa a ser mais
humano, mais pitoresco. É uma coisa
que o jornalista aprende depois de
muitos anos de experiência, uma mistura
de números, datas e coisas divertidas.
É como na alta gastronomia: os
ingredientes estão todos aí, à disposição
de qualquer um, mas somente um grande
chef experiente consegue fazer um prato
de alta gastronomia.
Há alguma pepita de ouro especial
que você tenha encontrado em suas
pesquisas?
12
Em “1822” escrevi o capitulo “Batalha
do Jenipapo”, um episódio incrível
acontecido no sertão do Piauí durante
a Guerra da Independência. Um bando
de gente enlouquecida - vaqueiros, um
juiz, vereadores, velhos e adolescentes
- enfrenta uma tropa portuguesa,
resultando em um massacre: morreram
cerca de 400 pessoas contra apenas 19
portugueses e ninguém, nunca, havia
ouvido falar disso fora do Piauí. Mas no
Piauí, obviamente, se orgulham muito
deste episódio. A comemoração de 188
anos da Batalha foi agora, na segunda
quinzena de março, e por ter dedicado
um capítulo a ela fui recebido como um
herói! Fui convidado a falar no Senado
em sessão solene. E o senador que me
convidou me disse uma coisa muito
interessante: “você não faz ideia do
que você mexeu com o Estado. Nós
éramos o mais pobre da Federação
até recentemente, depositário de
todos os preconceitos do centro-sul,
e nós estamos aqui tentando atrair
investimentos e melhorar a educação,
mas a prioridade é recuperar a
autoestima dessas pessoas, e você,
no seu livro, promoveu a nossa
autoestima.” Se um historiador
piauiense contasse a “Batalha do
Jenipapo” não teria menos importância,
mas um cara de fora, do sul, escrever
esse capítulo, muda tudo, é uma
contribuição para uma transformação
regional importante.
A propósito de historiadores,
como você recebe a crítica deles?
O que me incomoda é a critica
corporativista. Às vezes um historiador
acadêmico reage a priori, dizendo: “é
jornalista, não deveria escrever sobre
história do Brasil.” Isso me deixa
maluco! Quer me criticar, leia o meu
livro e aponte os erros, e aí, sim, eu
aceito. Nem entro em discussão, essa
reação cartorial, corporativista, de
que história é terreno exclusivo de
historiador e não de jornalista. Se
assim fosse, economia é terreno de
economista, futebol é só de técnicos
de futebol e o jornalismo deixaria de
existir. O importante, o foco, tem que
ser o leitor. Se ele está gostando, se
está reagindo, se está mudando a vida
dele, tudo bem. Claro que preciso de
uma validação da Academia, mas ela
precisa entender que estou fazendo um
trabalho de divulgação científica. Não
sou um pesquisador primário, sou um
jornalista escrevendo sobre história
do Brasil, mas poderia escrever sobre
astronomia sem ser astrônomo ou sobre
cardiologia sem ser cardiologista.
E a crítica da imprensa?
Inevitavelmente, na hora em que se
deixa de ser jornalista e se vira fonte, a
gente se surpreende com algumas coisas.
E na hora que vemos uma matéria que
não retrata bem aquilo que dissemos,
que a informação está meio distorcida,
aquilo que a gente ouvia das nossas
fontes acontece mesmo. Mas nunca
reclamo, jornalista tem total liberdade
para escrever o que quiser. Depois, para
aquele jornalista especificamente não
dou mais entrevista, mas não mando
carta, não peço correção, nada disso. É
assim, a imprensa é de uma natureza
muito diversa, então tem excelentes
jornalistas e outros ruins, é assim
mesmo, e tem que se conviver com isso.
Qual é o seu projeto atual?
Agora vou fechar uma trilogia... Essa
coisa é como um novelo de lã, se puxa
uma ponta e vêm coisas que não se
imaginava que viriam, então fiz o “1808”
num tipo de acaso, uma coincidência
que puxou o “1822”, e para fechar
a história da Corte Portuguesa no
Brasil então é preciso contar o que
foi a consequência, a Independência.
Preciso contar a história de “1889”,
preciso explicar por que o Brasil
continuou esta flor exótica na América
do Sul, uma Monarquia cercada por
Repúblicas durante 67 anos, e por que
virou República depois. São três datas
ícones do século XIX que explicam
a construção do Estado brasileiro: a
vinda da Corte, a Independência e a
ruptura no processo político, que foi
a República. Agora estou na fase de
pesquisa, mas pretendo lançar até 2013.
Vamos rever o tema
agressão?
Antes mesmo de apontar vítimas e
culpados sobre o caso australiano
Zangief Kid, que envolveu
diretamente duas crianças em
atos agressivos e violentos, é
fundamental que se estabeleça
a reflexão que permita analisar
honestamente, e com maior
alcance, alguns aspectos presentes
na agressividade existente no
ser humano, o Homo sapiens
modernizado, mas em formação
social que requer mais avanços
evolutivos apesar do que já
conquistou até então.
P
16
Por Armando Correa
de Siqueira Neto
ara tanto, vale a pena recorrer aos
estudos realizados nas últimas
décadas, os quais apontam o
homem como um ser ainda dotado
de estruturas cerebrais primitivas,
cujas funções estão relacionadas
à sua sobrevivência. Ou seja, quer
se goste ou não, não somos o
“bom selvagem” poetizado por
Jean-Jacques Rousseau no Século
XVIII, vítima apenas da sociedade
que corrompe sem qualquer
escrúpulo. A nossa natureza nos
predispõe ao desencadeamento
de comportamentos agressivos,
por vezes impensados, diante
de uma combinação de
fatores.
Não somos meramente
bichos descontrolados, é claro
que não. Apenas não se pode
defender a tese de que somos
anjos mal resolvidos. Tampouco
se defende aqui a permissividade
da agressão natural apenas
pela compreensão inevitável de
que as informações genéticas
milenares estão entranhadas em
nós em tom determinista.
O psicólogo evolucionista
estadunidense Steven Pinker,
por exemplo, vem estudando
a violência humana há
considerável tempo e alega
que a maior dificuldade de
compreensão a seu respeito é
que há significativa resistência
por trás das muitas trincheiras
sociais cuja crença no homem
puramente bom, porém
desvirtuado na sua trajetória
natural, impede que se
pense de modo mais crítico,
levando o mito ao seu infeliz
fortalecimento. Assim, emplacase continuamente a ideia de
que as causas da violência a
serem combatidas encerramse apenas nos sistemas sociais
e nos projetos de educação,
sentenciando, pois, a crucificação
de muitos pais (vários são
exemplarmente bons!) em
relação aos seus filhos.
É evidente que o sistema
inadequado contribui ao
desencadear certas informações
contidas nos genes. Somem-se
à receita os disparos fisiológicos
decorrentes e o impulso
agressivo emerge em vários
formatos. Mas eis que o DNA
se mostra qual um importante
protagonista na novela da
convivência que ainda requer
altruísmo e bom senso. Ainda,
acrescente-se o fato de estarmos
experimentando transformações
individuais e coletivas cada
vez mais rapidamente frente
aos avanços tecnológicos,
enxurradas de informações
e aumento populacional de
quase 7 bilhões de habitantes
ao redor do globo competindo
por uma vaga de trabalho, sem
falar nos que disputam por itens
básicos como água e comida
cotidianamente, uma perigosa
combinação que pode levar
a inadaptações, resistências
e toda sorte de efeitos que
variam enormemente. Não há
uma resposta pronta, existem
ponderações a respeito (fontes
científicas oferecem mais
sustentação e minimizam a
margem de erro).
Então, sem atirar a pedra da
pretensa “justiça” no garoto
Richard Gale, nem depositar
a capa do heroísmo no jovem
Casey Heynes, as intervenções
sociais deveriam repensar a
forma de controle contra tais
abusos de forma objetiva e eficaz,
é óbvio. E por outro lado, valendose do poder da educação, muitas
escolas poderiam direcionar aos
seus alunos o conhecimento
acerca da sua real natureza,
na tentativa de estimulá-los à
reflexão da própria condição em
que se encontram (reduzindo
o autoengano a respeito da
santidade terrena), ponto de
partida para mudanças internas
fundamentais, capazes de, um
tanto que seja, acompanhar
outras conquistas obtidas.
Armando Correa de Siqueira Neto é
psicólogo (CRP 06/69637), palestrante,
professor e mestre em Liderança. Coautor
dos livros Gigantes da Motivação, Gigantes
da Liderança e Educação 2006. E-mail:
[email protected]
Criatividade,
habilidade
e talento
individuais,
condições para criar
riqueza Por Rosângela Lotfi
18
Desde o início dos tempos a criatividade, isto é, a capacidade
de criar o novo, de reinventar, de diluir padrões tradicionais
e encontrar soluções para novos e velhos problemas, é vista
como motor da inovação. Isso nunca mudou. O que mudou,
desde meados dos anos 1990, é que não só a criatividade, mas as
ideias, a imaginação e a inovação, enfim, o capital humano, são
os principais insumos da economia do conhecimento que, aliás,
vai muito bem.
ssim como criatividade é uma
palavra com múltiplas definições,
economia criativa ou do conhecimento
também engloba múltiplos conceitos.
O termo originou-se na Austrália, em
1994, inspirou-se no projeto Creative
Nation, que defendia a importância do
trabalho criativo e a contribuição deste
para a economia australiana. Em 1997,
a geração de riqueza e de negócios a
partir do pensamento humano, que
produz através do cérebro, ao invés
de fabricar com máquinas, diferente,
portanto, daquela oriunda do capital
financeiro (indústrias e serviços),
ganhou maior relevância no governo
do ex-primeiro-ministro britânico Tony
Blair.
Diante dos desafios da globalização,
da competição acirrada, Blair criou
uma força tarefa multissetorial para
analisar as tendências de mercado e
as vantagens competitivas nacionais.
A Grã-Bretanha identificou 13 setores
que têm sua origem na criatividade,
habilidade e talento individuais e que
Secretaria da Economia
Criativa
Independente das definições, a
economia que depende de boas
ideias é a terceira maior indústria do
mundo, atrás somente de petróleo e de
armamentos. Segundo a consultoria
PricewaterhouseCoopers, movimenta
anualmente US$ 1,8 trilhão no mundo.
No Brasil, fatura por ano R$ 380 bilhões,
de acordo com a Firjan (Federação
das Indústrias do Estado do Rio de
Janeiro) ou 16,4 % do PIB em áreas como
arquitetura, cinema, moda, design,
“Artesanato gera
menos PIB, mas
gera qualidade de
vida e emprego
com impacto
social, cultural,
econômico e
ambiental”
SHOWROOM
A
apresentavam potencial para a criação
de riqueza. São eles: propaganda,
arquitetura, mercados de arte e
antiguidades, artesanato, design, moda,
cinema e vídeo, software de lazer,
música, artes do espetáculo, edição,
serviços de computação e software,
rádio e TV. Mesmo esses setores não
são unanimidade porque a economia
criativa pressupõe a diversidade e as
vantagens comparativas de cada país.
Além dos já citados, entram na lista
turismo, gastronomia, folclore, joalheria
e outros.
19
turismo cultural, música, cultura
popular, artesanato, gastronomia,
jogos eletrônicos etc.
Lala Deheinzelin,
especialista
internacional em
economia criativa
O reconhecimento da
economia criativa
chega 17 anos
atrasado
Recentemente uma novidade
animou os defensores brasileiros da
economia do conhecimento: a nova
gestão do Ministério da Cultura
criou uma secretaria da Economia
Criativa. A julgar pelos números e
por iniciativas como estas, vamos
bem neste assunto no Brasil? “Não”,
diz o professor Gilson Schwartz,
líder do grupo de pesquisa Cidade
do Conhecimento da Universidade
de São Paulo (USP). “O Brasil está
muito atrasado no investimento
em infraestrutura tecnológica e
formação profissionalizante voltadas
para a emancipação digital, a
inclusão digital que gera riqueza,
identidade e conhecimento, não
apenas oportunidade de consumo de
máquinas ou serviços de massa.” O
reconhecimento da economia criativa
chega 17 anos atrasado, mas, como
afirma Schwartz: “mudança cultural e
prática ocorre aos poucos e, sempre é
bom lembrar, com recuos, fracassos e
desvios.”
“Ter um hardware
sem software”
A ex-atriz Lala Deheinzelin, hoje
especialista internacional em
economia criativa, sustentabilidade
20
e futuros, também comemora
a criação de uma secretaria
só para cuidar do assunto,
mas lamenta que ela não seja
multissetorial. Lala, que já
foi à China oito vezes como
consultora de apoio do governo
chinês para a inserção da
indústria criativa na pauta
econômica, salienta o atraso do
Brasil. “A China, por exemplo,
já incluiu no seu último plano
quinquenal a economia criativa
e a economia verde como pernas
da atividade econômica. Nós
ainda não temos processos e
instrumentos claros de gestão.
É como ter um hardware sem
software. E a Copa é um exemplo
claro. Vamos construir estádios
(hardwares), mas quem vai
gerenciá-los? E depois da Copa?
E antes, quem vai treinar os
motoristas de táxi para falar
com os turistas.”
Lala Deheinzelin afirma que
o Brasil perde dinheiro e
desenvolvimento por não
cuidar da economia criativa. “É
impressionante como não vemos
quanto isso é estratégico. O
custo do emprego na economia
criativa é muito menor do que
em outros setores. O custo do
emprego na área petroquímica
é de US$ 210 mil, segundo dados
globais de 2000. No segmento
automobilístico, US$ 90 mil, em
artesanato, US$ 75. Artesanato
gera menos PIB, mas gera
qualidade de vida e emprego
com impacto social, cultural,
econômico e ambiental.”
“O que agrega
valor é
inteligência”
O mundo mudou. As empresas
mudaram. E a moeda dos
negócios passa a ser cada vez
mais o compartilhamento,
explica o professor Gilson
Schwartz, ao dizer que ao
longo da história, as mudanças
econômicas sempre foram
associadas a transformações,
por meio dos quais nos
relacionamos com a natureza
(agricultura, exploração de
fontes energéticas como
água, tração animal, vapor
ou combustíveis fósseis),
ou com outras pessoas
(servidão, escravidão, trabalho
assalariado).
“Pela primeira vez na história
a mudança econômica
não está relacionada com
instrumentos para manipular
o material natural ou humano.
O que agrega valor, o que abre
mercados, o que gera riqueza é o
uso competente de tecnologias
“O Brasil, um país culturalmente criativo, será
uma plataforma para modelos diversificados e
autossuficientes na indústria criativa”
da inteligência, ou seja, tecnologias de
informação e comunicação, as chamadas
TICs, que se tornam o principal motor do
desenvolvimento econômico, político e
cultural. A economia do conhecimento
existe quando criar valor depende da
inteligência coletiva mediada por redes
digitais.”
O capitalismo se
reinventa
Mesmo atada aos modelos de consumo
de massa do século XIX, não quer
dizer que o novo capitalismo do
século XXI, como Schwartz chama a
economia criativa, não chegou. “Os
meios de registrar nossas memórias,
conhecimentos e atividades evoluíram
animados por uma redução radical
nos custos de coordenação numa
Tecnologias de informação
e comunicação, as chamadas
TICs, são o principal motor do
desenvolvimento econômico,
político e cultural
SHOWROOM
Gilson Schwartz, líder do grupo de
pesquisa Cidade do Conhecimento da
Universidade de São Paulo (USP)
variedade impressionante de atividades humanas.
A colaboração no mercado chegará a níveis
inéditos, privilegiando o acesso compartilhado
em detrimento da propriedade pura e simples. O
capitalismo se reinventa, valorizando uma nova
forma de coletivismo.”
“Ao valorizar a singularidade, o simbólico e o
intangível, três pilares da economia criativa,
surge uma oportunidade de resgatar o cidadão
(inserindo-o socialmente) e o consumidor
(incluindo-o economicamente), através de ativos
que lhe são próprios como formação, cultura e
raízes. Esse quadro de coexistência entre o universo
simbólico e o mundo concreto é o que transmuta
a criatividade em catalisador de valor econômico”,
comenta Ana Carla Fonseca Reis, da consultoria
Garimpo de Soluções, que atua com economia,
cultura e entretenimento. No futuro, diz ela, a
identidade e a cultura locais serão ferramentas
preciosas para o desenvolvimento da criatividade.
“O Brasil, um país culturalmente criativo, será
uma plataforma para modelos diversificados e
autossuficientes na indústria criativa, que ao focar
em criatividade, imaginação e inovação não se
restringe a produtos, serviços e tecnologias, engloba
também processos, modelos de negócios e de
gestão.”
21
Luzes da
ribalta
E
24
Por Fernando Calmon
mbora apenas 20% das viagens rodoviárias
ocorram à noite, esse período responde por 40%
dos acidentes fatais.
Graças ao avanço da eletrônica de bordo, desde
2005 o Mercedes-Benz Classe S traz o assistente
de visão noturna capaz de detectar pessoas
além da distância de alcance dos faróis. Raios
infravermelhos avaliam a emissão de calor
de humanos e projetam a silhueta em um
mostrador no quadro de instrumentos. No final
do ano passado, foi anunciada a evolução desse
sistema, que chegará aos mercados em meados
deste ano como dispositivo adicional de série.
Trata-se de um facho de luz específico,
semelhante ao de canhões de luzes nos
espetáculos artísticos, capaz de iluminar o
pedestre com a dupla função de melhorar a
visibilidade do motorista e advertir ao próprio
pedestre sobre a aproximação do veículo.
Estudos mostraram que esse tipo de sinalização
é perfeitamente entendido e diminui os riscos
de atropelamento noturno.
Para desenvolver esse recurso extra de
segurança utilizou-se uma complexa
combinação de recursos tecnológicos e de
programas de coordenação a bordo. Emissor de
raios infravermelhos invisíveis, colocado juntos
aos faróis do automóvel, pode sentir a presença
de uma pessoa até a 80 metros de distância.
A câmera colocada no alto do para-brisa
capta precisamente o que está acontecendo à
frente. A projeção da imagem feita no quadro
de instrumentos permite ao motorista ver
pedestres, ciclistas ou obstáculos.
Uma das situações mais
estressantes para quem dirige
de noite em estradas é não
enxergar em tempo um pedestre
no acostamento ou mesmo na
beira da estrada. O risco de
atropelamento é muito maior
de noite do que de dia. Estudos no
exterior, como o do Instituto de
Pesquisas de Rodovias Federais
Alemãs, apontam: cinco vezes
mais pedestres morrem à noite
do que durante o dia.
Uma segunda câmera, já existente para
controle automático de distância e de faixas na
estrada, capta se o carro está sendo dirigido à
noite, numa estrada ou na cidade, e se algum
veículo se aproxima em sentido contrário. Uma
unidade de monitoração e controle decide se
é possível advertir o pedestre por meio de um
facho específico, sem causar qualquer tipo de
ofuscamento a outros usuários da estrada. Os
cálculos executados em frações de segundo são
a garantia de que nada irá perturbar o fluxo
de trânsito ou comprometer a visibilidade dos
demais motoristas.
O sistema permite emitir até quatro sinais
de advertência dentro do cone de iluminação
projetado pelos faróis. Existe um gerenciamento
inteligente, pois o farol esquerdo pode se manter
com facho alto, enquanto o direito muda para
facho baixo a fim de evitar o ofuscamento do
pedestre. Se este desaparece do alcance da
câmera por ter se afastado da borda da estrada
ou porque o carro já o ultrapassou, o facho
alto volta automaticamente depois de cinco
segundos. Dessa forma o motorista pode ter
sua visão e iluminação máximas da estrada
restabelecida de forma rápida e segura.
Este novo recurso de segurança ativa faz parte
da evolução no sistema de iluminação dos
automóveis, que se acelerou no começo dos anos
1990, com o advento das lâmpadas de xenônio,
inicialmente apenas para o facho alto dos faróis.
Fernando Calmon ([email protected]) é jornalista
especializado desde 1967, engenheiro, palestrante e consultor
em assuntos técnicos e de mercado nas áreas automobilística
e de comunicação. Sua coluna Alta Roda começou em 1999. É
reproduzida em uma rede nacional de 65 publicações entre jornais,
revistas e sites. É, ainda, correspondente para a América do Sul do
site just-auto (Inglaterra).
Programação
O primeiro evento ocorreu em novembro
do ano passado, com a presença de
representantes da UNIGRAN.
Para o próximo mês de abril, os “workshops”,
que terão início sempre às 13:30 horas,
obedecerão a seguinte programação:
11/4/10 – UNISUL / Porto Alegre;
12/4/10 – UNICAR / Florianópolis;
13/4/10 - UNIPAR / Curitiba;
18/4/10 - UNILESTE, UNINOROESTE E
UNISUDOESTE / Campinas.
O compromisso
da alta direção
Nos dias atuais há uma tendência de intensificação
da atuação das autoridades da área ambiental,
com o aumento do número de autuações, especial
por parte dos órgãos municipais, estando algumas
concessionárias submetidas a licenciamento
ambiental.
C
26
Por Ricardo Carvalho
omo vem sendo noticiado, a
Assobrav, com o apoio da Volkswagen do
Brasil, está promovendo o Programa de Gestão
Ambiental, com o propósito de contribuir para o
aprimoramento da gestão dos temas ambientais
na rede de Concessionários da marca Volkswagen.
O princípio da “sustentabilidade” é um dos pilares
do mapa estratégico da Volkswagen, sendo o
Programa de Gestão Ambiental reconhecido como
dos pontos importantes para o cumprimento
dessa meta estabelecida pela montadora.
O programa está direcionado aos “top managers”,
titulares da concessão e primeiros responsáveis
pela implantação e consolidação de um sistema
de gestão ambiental em suas empresas,
pois sem o compromisso da alta direção, a
questão ambiental não será adequadamente
incorporada no sistema de gestão empresarial da
concessionária.
Por recomendação da Volkswagen, o convite é
extensivo aos Coordenadores de Desenvolvimento
(COD), responsáveis pela disseminação das
orientações da montadora na concessionária.
A Assobrav e a Volkswagen promoverão
a convocação dos representantes das
concessionárias das regiões, detalhando os
locais onde serão realizados os eventos.
As palestras serão diversificadas, tendo o
“workshop” uma duração média de 4 horas,
com a presença de representantes da Assobrav
e da Volkswagen. As apresentações ficarão
a cargo da CEMA - Consultoria em Meio
Ambiente S/C Ltda.-, uma das mais antigas
e conceituadas empresas no Brasil na área
ambiental, do escritório Pires Castanho
Advogados, escritório de advocacia de renome,
especializado nas questões do meio ambiente,
do CESVI BRASIL – Centro de Experimentação
e Segurança Viária, importante centro de
pesquisa no segmento automotivo do País
e na América Latina; da Concessionária
Discautol Carandá, de Campo Grande,
MS, concessionária inovadora em temas
ambientais e da SPRINT DO BRASIL, exemplo de
mudança de paradigma em pequenos reparos
de veículos.
Na oportunidade haverá a distribuição de
manuais temáticos, com foco nas operações
das concessionárias, tendo como base a
legislação aplicável de proteção do meio
ambiente, visto que nos dias atuais há uma
tendência de intensificação da atuação
das autoridades da área ambiental, com o
aumento do número de autuações, especial
por parte dos órgãos municipais, estando
algumas concessionárias submetidas a
licenciamento ambiental.
Com foco no melhor desempenho nas
questões ambientais, esta é uma oportunidade
única para se constatar que a adoção de
um sistema de gestão ambiental, despido
de complexidade, resultará não só em uma
ferramenta para prevenir riscos em relação
ao meio ambiente, com conscientização do
corpo funcional, mas, também, em economia,
face aos resultados positivos para o caixa da
concessionária, com a redução de custos em
suas operações do dia a dia.
Ricardo L. S. Carvalho, advogado.
Alaska
Grande Terra
28
D
Por Carolina Gonçalves
escobrir o Alasca é mais que uma
aventura. Algumas das paisagens
mais incríveis dos Estados Unidos
estão lá, imortalizadas pelo gelo. Você
pode passar o dia num passeio guiado
e voltar para dormir numa cama
quentinha no seu hotel. Tem todo tipo
de paisagem para ver, geleiras, deserto,
passeios de barco bem calmos, ou
corredeiras de tirar o fôlego.
A expressão ecoturismo cabe aqui
como uma luva. O organizado Alasca
proporciona a possibilidade de
explorar sem atingir o meio ambiente,
nem prejudicar a população local.
Cultura, natureza e deserto estão
lá, ao alcance da mão, por caminhos
já traçados, com várias orientações
sobre “como não deixar rastros” que
vão prejudicar a natureza e as suas
criaturas.
Se você é fã do filme “A Era do Gelo”
vai se sentir em casa. As geleiras da
Idade do Gelo são impressionantes,
para dizer o mínimo. O Alasca é um dos
poucos lugares onde se pode chegar
bem perto das geleiras. Os passeios
de um dia são feitos em barcos muito
confortáveis, com especialistas a
bordo, que podem explicar a paisagem
tão inusitada. O litoral do Alasca é
uma aventura inesquecível.
Ao lado das geleiras
Nada se compara a ficar aos pés de
uma geleira monumental gerando
icebergs para o mar. Em Glacier Bay,
por exemplo, você fica de frente para
uma das mais ativas geleiras de todas.
É uma experiência e tanto ver um
enorme pedaço de gelo despencar de
lá de cima, fazendo muito barulho e
deslocando muita água. Sua única
reação é torcer para acontecer de novo.
Além dos icebergs, em Glacier Bay
você ainda pode ver baleias voltando
do Havaí, orcas, leões marinhos
descansando e focas com seus filhotes.
Em College Fjord, você encontra um
dos cenários mais intensos do Alasca.
Você fica bem ao lado das geleiras.
A visão é inesquecível. Ali, o poder
da natureza revela-se em uma de
suas mais belas e impressionantes
faces. A maior de todas as geleiras,
chamada Harvard, tem 225 metros de
altura, e estende-se abaixo da linha
do mar até cerca de 120m. De Havard
desprendem-se toneladas de gelo a
cada dia.
Tracy Arm é um dos cenários mais
estonteantes. Um fiorde estreito, de
26 km de extensão. Do convés do
navio você verá a exuberante floresta,
e na vazante entra num canyon de
rocha nua, com montanhas de mais
de 7.000m. As escarpas verticais já
são uma paisagem exuberante, mas
ainda há inúmeras cachoeiras. No
final, surgem as geleiras Twin Sawyer.
O lugar é mágico e você está tão perto,
que se sente parte do cenário.
Hubbard Glacier é um gigante de gelo
azul brilhante que se estende por
quilômetros. Começa nas encostas
SHOWROOM
O nome vem do idioma aleúte,
falado por esquimós-aleútes
e significa “grande terra”. Pois
a grande terra foi comprada à
Rússia, em 1867, por 7,2 milhões de
dólares. A ideia foi do Secretário
de Estado americano William
Henry Seward, muito criticado
por querer comprar uma região
coberta por gelo e povoada
por ursos. Mas seus críticos
tiveram que admitir que estavam
errados. Grandes reservas de
recursos naturais foram sendo
descobertas e atraíram milhares
de pessoas à região. Em janeiro de
1959 o território tornou-se o 49º
Estado Americano.
29
do Monte Logan e estendese por mais de 60 m. Até
mesmo os maiores navios
parecem pequenos diante
dele. Hubbard é chamado de
galopante, porque move-se
muito rápido. Enquanto o
barco navega ao longo do
Hubbard, dá para ouvir o
alto e profundo barulho do
gelo rompendo, e enormes
icebergs são lançados ao mar.
Pescar salmão
30
Depois de maravilhar-se com
as geleiras, entregue-se a
outros prazeres. Afinal, você
foi até o Alasca e ainda há
muito por fazer. Vá descer
um rio caudaloso numa
balsa. Ou pescar salmão
ou alabote. No Alasca os
peixes são de primeira
linha! A pesca é levada
muito a sério. São mais de
627 espécies habitando suas
águas. Considerando-se
que são milhares de lagos,
rios e riachos, o desafio
não é pescar, mas decidir
onde vai pescar. Você pode
até mesmo alugar um
hidroavião que vai levar
você até um ponto isolado,
para pescar num buraco no
gelo. Há alojamentos para
pescadores em todo o Estado,
indo do mais rústico ao mais
requintado. Você define
que tipo de pescador quer
ser. Quer ficar a céu aberto,
assando o peixe que pegou
numa fogueira? Ou prefere sentar
confortavelmente, tomando um
vinhozinho, enquanto alguém
prepara seu prato?
Há também trilhas fantásticas
para ser percorridas de bicicleta,
ou a pé, andando ou correndo.
A cultura única dos nativos está
por toda parte, preservada. Há
esculturas em totens, dança
nativa, música tradicional,
artesanato e festivais. E também
museus históricos e culturais,
centros de tradição. A cultura
russa soma-se à nativa, desde
o século XVIII, quando os
caçadores de peles russos vieram
estabelecer-se no Alasca. Com eles
vieram tradições e missionários
ortodoxos. Hoje, o Cristianismo
Ortodoxo tem papel importante
Inverno, a melhor
estação
Diferentes dos ursos, o povo do
Alasca não hiberna no inverno.
Ao contrário, eles ficam bem
acordados para aproveitar a
sua melhor estação. Você pode
aderir e aproveitar! Não importa
se você está em busca da solidão
do branco intenso da neve, ou
de agito. Tem de tudo, de vida
selvagem à vida noturna. O
inverno no Alaska não é nem tão
frio, nem tão escuro quanto se
pode esperar. Os dias têm de 6 a
13 horas de luz, dependendo de
onde você está, com longos
crepúsculos e madrugadas
sem fim. As temperaturas
médias ficam em torno de
6º C negativos. Se você gosta
de inverno, sabe que é bem
confortável. A melhor época
do inverno para ir é o fim de
fevereiro e março, quando
acontecem festivais e eventos.
O Alasca aproveita o inverno
com muitas aventuras ao
ar livre e eventos culturais
e artísticos. Você pode ver
as luzes do norte, praticar
snowboard, snowshoeing,
esqui, andar de trenó puxado
por cães, de snowmobil.
Depois de toda essa atividade,
boa comida, cerveja artesanal
e um inverno fantástico...
Cidades
Hora de ir explorar a vida
cosmopolita. Comece por
Anchorage, cidade das luzes e
flores, a maior do Alasca e a mais
setentrional dos EUA. Tem perto
de 300 mil habitantes e concentra
em torno de 40% da população do
Estado.
A cidade é cercada por seis cadeias
de montanhas e tem clima
marítimo. Animada o ano todo,
tem um calendário intenso de
atividades de aventura, esportes,
artes e festas. No verão, as flores
tomam conta da cidade, enfeitando
as casas e fachadas de lojas. São
exposições deslumbrantes. Há
música ao vivo por toda parte.
Já no inverno, a cidade fica
iluminada por milhares de
SHOWROOM
na vida dos nativos. Pode-se
visitar lindas igrejas e suas obras
de arte e até participar dos
ofícios.
31
Compras sem taxas
luzes. Vibrante e moderna, não fica atrás de grandes
capitais. Tem vida agitada, com bons hotéis e
restaurantes. E tudo muito perto da natureza e da
aventura.
Gastronomia
Se você gosta de frutos do mar, esta é a sua cidade.
Ostras, caranguejos, salmão, tudo transformado em
ótimos pratos por hábeis chefs. Mas o forte mesmo
são os cafés. São uma febre na cidade. Oferecem
seleções de cafés e chás que atendem aos mais
sofisticados paladares. E se o assunto for chocolate,
existem lounges especializados na bebida quente,
além de trufas feitas à mão.
Já as cervejarias locais são maravilhosas. Uma boa
pedida é visitar The Midnight Sun Brewing Co. , que
produz a cerveja mais famosa da região. Fundada
em 1995, fabrica cervejas premiadas como Kodiak
Brown Ale, Mammoth Extra Stout entre outras.
Lojas exclusivas, galerias de arte,
grandes lojas de departamento
são beneficiadas pela ausência de
taxas, tornando as compras uma
excelente opção. Isso sem falar
nas coisas que você só encontra
no Alasca, como a “ulu”, uma faca
inventada pelos nativos há séculos
e que serve para praticamente
tudo! Ulus tradicionais eram feitas
de osso ou de ardósia, com um
lado afiado para cortar ou esculpir.
As alças de marfim ou de osso
traziam esculpidas imagens de
animais ou cenas do cotidiano. Até
os anos 70 do século passado, só
os nativos tinham acesso às ulus.
Mas em 1973 foi inaugurada uma
fábrica em Anchorage e hoje todo
mundo pode ter uma ulu, feita de
aço inox. São perfeitas para cortar
peixes, legumes, carnes, castanhas,
queijos e até pizza. É possível visitar
a fábrica e aprender como usar.
Você não vai resistir e vai comprar
uma. Não se esqueça de colocar
na bagagem despachada, para
não perder sua ulu na revista do
aeroporto.
Exclusividades
32
Outro produto que você só encontra
lá é o “qiviut” (diz-se quiviute),
uma lã do boi almiscarado, tecida à
mão para fazer peças de vestuário
que aquecem os nativos. Oito
vezes mais quente que a lã, mas
extraordinariamente leve, é uma
das melhores fibras naturais
conhecidas pelo homem. Vale a
pena conhecer a Oomingmak Musk
Ox Producers Cooperative, criada
em 1969. A cooperativa pertence
a 250 mulheres indígenas, vindas
das aldeias litorâneas. Elas tecem
a lã segundo seus costumes. Cada
aldeia tem um padrão diferente,
originado das tradições esquimós.
Os produtos da cooperativa são
100% qiviut e na cor natural. Os
concertos que tiram todo mundo
dos escritórios para as ruas.
Depois de um almoço, ao ar livre,
programe um passeio para ver
obras de arte. O Alasca foi pioneiro
na lei do 1% para a arte, que
determina que 1% de todos os
orçamentos para obras públicas
seja usado em obras de arte
incorporadas ao projeto. Já são
mais de 400 obras de arte públicas,
no valor de mais de 11 milhões de
dólares. São pinturas, esculturas,
vitrais, pisos e azulejos, mobiliário
e paisagismo.
Museus e baladas
Prefere um museu? Vá ao Museu
de Anchorage. Começe pela
fachada de vidro, projetada para
refletir a beleza natural do Alasca.
Lá dentro, arte, história, ciência
guiam para uma viagem ao
conhecimento e compreensão da
experiência humana.
Anchorage tem Orquestra
Sinfônica e Ópera. A Cyrano’s Off
Center Playhouse leva uma nova
peça todo mês.
À noite, aproveite. Vá dançar, ver
um show, jantar e relaxar! São
muitos pubs, bares e salões de
dança para ficar até mais tarde.
O Alasca é uma experiência e
tanto. A majestade da natureza
impondo sua beleza e perenidade
leva a repensar sobre a vida.
Dá pra voltar completamente
renovado de uma viagem destas.
Brasileiros precisam de visto para
visitar os Estados Unidos.
Carolina Gonçalves
[email protected]
SHOWROOM
gorros e cachecóis são confortáveis,
não pinicam, nem encolhem. Podem
ser lavados a mão e duram uma vida.
Sábados e domingos são dias de
feira! Em clima de festival, no centro
da cidade, na 3rd Avenue, pode-se
comprar de tudo que os fazendeiros
e artesãos oferecem.
Todo mês, a primeira sexta-feira é
dedicada às artes. As galerias ficam
abertas até mais tarde. A melhor
maneira de visitar tudo, sem perder
nenhuma novidade, é checar no
Anchorage Press, que publica na
véspera o roteiro completo.
Você também pode voltar à infância,
visitando a fábrica de chocolates
e doces no 5225 Juneau Street. Lá
você vai ver uma verdadeira cascata
de chocolate e provar deliciosos
docinhos com frutas silvestres.
No verão, ao meio-dia, acontecem
33
37
Quero ser
cachorro
V
36
Por JOEL LEITE
inte anos depois a declaração
não teria o mesmo impacto.
Nesse período o cão ganhou um
espaço na sociedade nunca antes
visto e supera, em atenção e
gastos individuais, pelo menos 2,7
bilhões de pessoas no mundo, que
sobrevivem com menos de
US$ 2,00 por dia. O seu cão
sobreviveria com menos do que isso?
Poder-se-ia dizer (usar mesóclise é
ridículo), parafraseando Elio Petri “La Classe Operaia Va in Paradiso”,
que “A classe Canina chega ao
Paraíso”.
A expressão “Vida de Cachorro”
perdeu o sentido. O cão faz parte da
família, muitas vezes tratado com
mais atenção do que um membro
humano. Ele entra até na formação
da família em desenhos nas traseiras
dos carros.
Quem já esteve nos
supermercados de cachorro
sabe do que eu estou falando.
E quem considera o seu
cachorro como membro
da família deve estar
Rogério Magri, então ministro
do Trabalho de Fernando Collor
de Melo (1990 -1992) chocou a
opinião pública ao afirmar que
“cachorro também é gente”,
quando foi acusado de dispor
o carro oficial para levar
seu cão passear.
considerando essa conversa “o óbvio”.
A relação que o homem construiu
com o cachorro está longe de ser algo
saudável. O bicho tem tudo o que
ele não poderia imaginar: além da
alimentação balanceada, vacinação
preventiva, atendimento veterinário,
todo tipo de medicação, as lojas
oferecem um sem número de itens
que podem tornar a vida do dono e do
cachorro mais feliz. De brinquedinhos
a guloseimas, biscoitos, chocolates,
ossinhos com diversidades de sabores,
salgadinhos, passando pelas últimas
novidades, como sorvete canino. Ele
também tem spa, hotel, padaria,
hospital, atendimento psicológico, UTI,
centro de hemodiálise.
Antigamente dava-se o nome do seu
desafeto ao cachorro, era uma forma
de ofensa. Hoje o nome do cachorro é
uma homenagem a quem você gosta:
um artista, um famoso, um amigo,
um parente.
Você, alguma vez, já recebeu o
telefonema do médico perguntando
se fez os exames pedidos? Ou
perguntando se o remédio prescrito
fez efeito, se está tudo bem com você?
Mas esse procedimento é comum com
o seu cão. Observe e comprove que o
veterinário do seu cão está muito mais
atento a ele do que o seu médico com
você.
O ex controlador do Banco Santos,
Edemar Cid Ferreira, condenado a 21
anos de prisão, disse que sente mais
falta “do cachorro, da mulher e dos
filhos” (nessa ordem).
A prefeitura de uma cidade do
interior paulista dispõe de um site
- SOS Animais - para divulgar os
cãezinhos que estão à procura de
um lar. Não tenho conhecimento
de que o poder público tenha site
semelhante para atender crianças
para serem adotadas.
Pesquisei a vida de cachorro do
século XXI para entender o desejo do
pequeno Matheus, sete anos, filho da
caseira lá do sítio.
Um dia ele desferiu:
“Tio, quero ser cachorro”.
Depois disso é que percebi que nós
dávamos mais atenção à Juliet, a
nossa cadela Golden Retriver, do que
ao pequeno Matheus. Ela recebia
carinho, comida na boquinha, pelos
escovados todos os dias, a melhor
ração da praça, lugar quentinho para
deitar, banho regular com xampu
e produtos de primeira. E bastava
surgir um probleminha de saúde que
o veterinário era acionado (Matheus
nunca viu um médico ir até a sua
casa).
Com todas essas mordomias, quem
é que não quer levar uma vida de
cachorro?
Matheus ficou de quatro, latiu, mas
nem assim atraiu a atenção dos
adultos. Mas uma coisa é certa. O
desajustado, nesse caso, não é o
menino.
Joel Leite é jornalista, formado pela
Fundação Cásper Líbero, com pósgraduação em Semiótica, Comunicação
Visual e Meio Ambiente. Diretor da
Agência AutoInforme, assina colunas
em jornais, revistas, rádio,TV e internet.
Não tem nenhum livro editado e
nunca ganhou nenhum prêmio de
jornalismo. Nem se inscreveu.
Comemorar ou
não?
Por Maria Regina
Cyrino Corrêa
E
38
Abril vai chegando de mansinho e com ele o meu
aniversário. Pela primeira vez na vida não tenho
planos. Nem viagem, nem festa… Minha amiga de
muitos anos não acredita: “como assim, VOCÊ não
tem planos pro SEU aniversário?” A pergunta dela
me intriga. É assim tão óbvio que eu sempre adorei
aniversário? Isso dá um baita “e se...”.
se eu finalmente mudei? E se
eu virei uma pessoa sem graça que
não liga pra aniversário?
Dizem que a maturidade faz a
gente ficar mais equilibrado, mais
sério, mais … chato!
E se eu for dormir “eu” e acordar
uma chata madura?
Abril não é um mês pra ser
chato! Tem o famoso Primeiro
de Abril! Nada pode ser sério
quando começa com mentiras
e pegadinhas… Depois tem a
delícia da Páscoa, com montanhas
de chocolates e doces. E coelhos
ariscos que a gente não vê, mas
que trazem ovos! Quando eu
era criança, minha mãe me
ajudava a escrever bilhetes
pro coelho, prometendo
comer bastante. Confesso
que depois de adulta
houve épocas em que cumpri a
promessa!
Abril trouxe as caravelas que
cruzaram o mar de Portugal para
descobrir as Índias. Não as Índias
das especiarias, mas as nossas,
Tupis e Guaranis e outros nomes
tão sonoros como Potiguaras,
Tupinambás, Tabajaras.
Abril não aceita chatice. Até o
Roberto Carlos faz aniversário,
bem no Dia do Índio. Outra data
bacana. Os índios brasileiros são
tudo de bom. Nos livraram do
péssimo hábito de não tomar
banho que teríamos herdado...
Viviam dentro d’água.
Enfim, e se em abril eu mudasse
muito e ficasse uma pessoa sem
tempo pra organizar uma festa de
aniversário? Porque eu organizo
mesmo, faço listas em excel e vou
pintando os nomes das pessoas.
Verdinho pra quem confirma,
amarelo pra quem declina...
Você deve estar se perguntando:
por que amarelo e não
vermelho? Porque eu sempre
tenho esperança que, na última
hora, a pessoa ainda mude
de ideia e venha me dar um
beijo e comer um bolinho... Eu
guardo todas as listas. Sempre
sei quem veio no ano passado.
Quem aderiu na repescagem
– pinto de rosa-choque os que
só responderam no segundo
e-mail. Rosa-choque porque
é uma das cores do amor e a
gente precisa de muita energia
amorosa pra ficar insistindo
com um amigo pra ele estar com
a gente no nosso dia.
Acho que um bom “e se...” pra
mim em abril seria questionar
“e se eu não fosse tããão
organizada?” E se eu decidisse
fazer uma festa na última hora?
E se eu ligasse só pra aqueles
que eu me lembrasse na hora?
Talvez isso me desse um pouco
mais de leveza... Talvez eu ficasse
menos triste com as ausências...
E se eu realmente seguisse
esse meu impulso de 2011 e
não desse a mínima pro meu
aniversário? Acordasse de
manhã como sempre, fosse
pra academia, almoço pelo
bairro, fizesse as unhas e me
preparasse pra uma longa noite
em frente à TV, como em outros
muitos sábados?
Não sei a resposta. Muito
provavelmente na semana
do aniversário eu vou sacar
minha planilha de excel, vou
disparar e-mails engraçadinhos,
carregados de ansiedade.
Alguns virão, outros não. E terá
passado mais um aniversário.
Sem que eu desista deles...
Maria Regina Cyrino Correa
Jornalista, publicitária e ariana.
Ansiosa por natureza e por ofício,
provavelmente não vai resistir e
vai fazer uma festinha.... Se for
convidado, por favor, não falte!
[email protected]
http://felllikeaqueen.blogspot.com/
www.2showcomunicacao.com.br
O vazio das
redes sociais
C
Por Marcelo Allendes
onfesso que sou e estou pouco
familiarizado com as redes sociais na
internet. Tema de filme vencedor de prêmios e
passatempo de muitas pessoas, esses meios de
relacionamento já fazem parte do dia a dia de
quase todos. Bem... ainda não do meu cotidiano...
mas juro que tenho tentado.
Comecei com um grau de curiosidade no Orkut.
Preenchi meu perfil, baixei fotos, adicionei
amigos e fui adicionado por eles e por amigos
desses amigos, que não conhecia e nunca
conheci. Além disso, fucei a vida dos outros e
acabei não descobrindo nada do outro mundo.
Por fim, segui comunidades como “Futebol de
Kichute”, “Taco no meio da rua” ou “Gol a Gol”.
E por aí terminei. Abandonei o Orkut quando
percebi que meus únicos amigos on-line eram
os amigos que eu encontrava pessoalmente
quase todo dia. Então, não fazia muito sentido
continuar. Apaguei minha história virtual e
cancelei a conta.
Numa viajem a minha terral natal ouvi falar
do Facebook. E isso já tem alguns anos. Primos,
tias e sobrinhos estavam conectados
e convivendo pacificamente, coisa que
em uma família isso não acontece com
frequência quando o contato é físico.
Assim que retornei ao Brasil resolvi
compartilhar o espaço com eles. No início,
mantinha contatos diários, troca de
fotografias, vídeos e arquivos. Fiquei uma
semana sem entrar. Depois outra. E mais
uma.
Agora tenho o Facebook no meu celular.
Sempre que o mundo virtual se mexe – os
chamados feeds – sou informado. E me
decepciono com as mensagens públicas
que meus amigos deixam no mundo
virtual. Afinal, quem insiste em perder
tempo escrevendo coisas profundas
e interessantes como “Boooom dia...
acordei”; “Hoje o elevador do meu prédio
quebrou. Subi cinco andares pela escada”;
“Estou com sono. Vou dormir”; “Aaaiiiii,
alguém já olhou para o céu hoje?”; “Gente,
este macarrão está uma delícia!!!!”?
Bem... se há pessoas escrevendo, imagino
que há outras lendo. Prefiro seguir o
conselho da mensagem que recebi esta
manhã: “Desligue o computador. Vá ler
um livro”. Profundo. Vou nessa.
Marcelo Allendes é jornalista e colaborador
do Banco Volkswagen. Seja amigo dele no
Facebook. Email: [email protected]
SHOWROOM
O problema não é o meio. Mas sim o
conteúdo. As redes sociais aceitam até
suspiro como expressão do cotidiano.
39
Novos notebooks LG
O simpático Hurry
Chegam ao Brasil as novas linhas de notebooks da LG, as famílias A510 e
A410. Desenvolvidos para o uso de aplicativos pesados, os modelos são
equipados com leitor de impressões digitais, recurso de segurança de
dados que evita o acesso indevido a documentos e dados confidenciais.
As famílias contam com nove diferentes modelos cada uma e com
uma ampla gama de configurações, o que permite à LG Electronics
atingir diversos públicos. Na família A510 o destaque é modelo A510
– 6000 que reproduz conteúdos 3D. São máquinas robustas, mas o
design e os acabamentos sofisticados não foram esquecidos. Os A510
estão disponíveis nas cores preta e champagne, acabamento interno
metálico e tampa texturizada. Têm ainda tela LED LCD HD de 15,6
polegadas no formato widescreen (16:9).
Já na linha A410, todos os modelos estão disponíveis na cor branca.
São máquinas que combinam alto padrão tecnológico, design e preço
mais acessível, ideal para as necessidades do dia a dia. O acabamento
interno faz referência ao alumínio escovado, além de ter bordas
arredondadas e curvas suaves. A linha possui tela LED LCD HD de 14
polegadas no formato widescreen (16:9), saída HDMI e áudio SRS HD.
Diversão garantida para adultos e
crianças, o simpático patinete triciclo
Hurry, da Luxor, funciona com um motor
elétrico de corrente contínua e alcança
a velocidade 20 km/h. A bateria de
chumbo ácido/lítio é recarregável e
O preço médio sugerido das linhas A510 e A410 varia entre R$ 1.649,00 e R$ 5.149,00
dura de quatro a seis horas, ou 25 km
Onde
encontrar: www.loja.canon.com.br
percorridos. Prático e funcional, pode ser
usado em locais com grandes distâncias,
como condomínios, clubes, campos
de golfe, fábricas e outros, inclusive
em locais com desníveis como ruas de
Estreando a tecnologia inovadora que
paralelepípedos. As únicas restrições ao
dispensa a utilização de óculos para visualizar o
uso, isto é, com consequência de perda de
conteúdo 3D, chega ao mercado brasileiro a TV de
desempenho e autonomia, são ladeiras
20 polegadas da linha Glassesless.
íngremes e pessoas acima 100 quilos.
O conceito do “3D sem óculos” é o mesmo que o do
Desenvolvido com o objetivo de
“3D com óculos” - preparar uma imagem diferente
segurança e estabilidade do
para cada olho. No modelo “3D sem óculos”, estes são
condutor, não há limitações para
substituídos por uma película especial na frente do
o uso do Hurry, mas recomendapainel LCD, que faz a separação das imagens destinadas
se usar capacete e joelheira
a cada olho, através de painéis e processadores especiais,
similares aos utilizados para
aplicados para maior resolução e realismo de imagem. Esta
andar de bicicleta ou skate.
tecnologia original da Toshiba reproduz nove imagens para
Onde encontrar: na Tools & Toys,
cada pixel, quatro vezes mais pixels gerados do que uma TV
no Shopping Cidade Jardim/
convencional Full HD, disponível no mercado. Mas se o “barato”
SP. Preço não divulgado.
do 3D forem os óculos, também da Semp Toshiba, uma nova linha de TVs LED
3D composta por três modelos de 46, 55 e 65 polegadas. Os aparelhos exibem imagens de alta
definição em 3D e trazem um elegante design ultrafino de apenas 1,5 cm de espessura. As novas TVs
podem converter imagens de 2D para 3D e incorporam novos recursos, como acesso à Internet, às
redes sociais e conexão sem fio à rede doméstica (WiFi/dlna).
Outras características de destaque incluem o sintonizador digital integrado, que permite a gravação
digital de programas da TV Digital aberta em HD (disco rígido) externo; media player, que permite a
exibição de fotos, vídeos e músicas por meio das entradas USB 2.0.
3D com ou sem óculos
40
Preço não divulgado.
Ficção quase real
Com estreia quase simultânea (uma semana de diferença) no Brasil e
nos EUA, “Sem limites” alcançou o topo das bilheterias norte-americanas,
faturando US$ 19 milhões nos três primeiros dias em cartaz, nas 2.500 salas
de exibição. Faz todo sentido. Esse thriller de ação e suspense aborda uma
aspiração usual na sociedade contemporânea e medicalizada; na década em que
as smart pills estão na moda.
Baseado no romance “The Dark Fields”, escrito por Alan Glynn, o mote do filme é
De um dos pais do new journalism norteintrigante: se houvesse uma droga que permitisse ao usuário usar 100% da sua
americano, dono de um texto primoroso,
“cabeça animal”, ao invés dos 10% usados habitualmente, você a tomaria? Uma
sai no Brasil “Honra teu pai”, de Gay Talese.
pílula que melhoraria em poucos segundos a memória, a função cognitiva e os
É um livro-reportagem sobre a mitologia
reflexos. Que permitiria aprender idiomas estrangeiros sem esforço, a ler música
fascinante da máfia estadunidense que
e a aprender a tocar um instrumento em um dia, lembrar de tudo o que já leu,
rende frutos primorosos, principalmente
viu ou ouviu, compreender equações complexas, fazer cálculos e cativar todos
no cinema, com filmes como a trilogia “O
que encontra, com charme e inteligência? A resposta é um retumbante sim, para
poderoso chefão”, “Os bons companheiros”
grande parte das pessoas nesta Era da Informação, em que um fluxo infinito de
e tantos outros, incluindo a recente série
dados passa por nós num ritmo alucinante.
televisiva “Família Soprano”. Escrito
Sim foi a resposta de Eddie Morra, personagem de Bradley Cooper em “Sem
quando Talese era repórter do New York
limites”. Eddie é um aspirante a escritor, que por causa de um bloqueio
Times e acompanhava o julgamento de
criativo não consegue escrever uma linha há meses. O aluguel do “muquifo”
Salvatore “Bill” Bonanno, filho Joseph
onde mora está atrasado e ele perde a namorada. Tudo muda em segundos,
“Joe Bananas” Bonanno, que aos 26 anos
após um encontro casual com o ex-cunhado que lhe oferece o NZT, a droga
já controlava uma das chamadas Cinco
revolucionária que permite a ele usar 100% do seu cérebro e se transformar
Famílias de Nova York.
numa torrente irrefreável de ideias e realizações.
Centrado na história dessa “famiglia”,
Em poucas semanas ele vira o rei de Wall Street, chamando a atenção do
Talese faz um relato objetivo e despido de
megaempresário Carl Van Loon (Robert De Niro) que o contrata para fechar
romantismo sobre a máfia. A narração parte
um dos maiores negócios da história.
do sequestro de Joseph em 1964, remota à
Lógico, com ou sem pílulas de inteligência, não existe almoço de graça
origem do clã, descreve a ascensão do capo e
e Eddie tem que enfrentar forças sombrias, perseguidores misteriosos,
detalha a sangrenta guerra entre mafiosos após o
pessoas dispostas a fazer qualquer coisa para pôr as mãos no estoque
sequestro, além do controle da própria família por
de NZT, a polícia, um gângster cruel, além de sofrer os efeitos
Bill.
colaterais da droga. Ao deixar de tomar a pílula por um único dia,
Para conseguir a confiança da família mafiosa, Talese
começa uma rápida deterioração corporal e mental que pode
gastou dois anos em insistências e, depois do “sim”,
levar à morte.
esperou outros dois até poder iniciar a escrita do que
Um filme ágil, provocador, com uma premissa perigosa que
viria a ser um de seus melhores livros. É, de fato, um dos
beira à ficção científica, mas que provavelmente não está
melhores livros de Gay Talese, inclusive na opinião do próprio.
tão distante da realidade.
Um árduo e minucioso trabalho de apuração, sem sequer uma
“Sem limites” [do original Limitless]
linha ficcional no texto, o que confere à obra, 40 anos depois da
dirigido Neil Burger, com Robert De
publicação original, frescor e renovado interesse.
Niro, Bradley Cooper e Abbie
“Honra teu pai” de Gay Talese, Companhia das Letras com tradução de Donaldson M.
Garschagen.
Cornish.
SHOWROOM
Livro-reportagem
fascinante
41
Os benefícios do
consumo regular e
moderado de vinho
Dieta do
mediterrâneo,
eternamente na
Por Gustavo
moda
Corrêa
A trilogia azeite, pão e vinho são os pilares
da Dieta do Mediterrâneo, considerada
como “Patrimônio Cultural Não Material da
Humanidade”. Por quê? Certamente porque se
constatou que é a mais saudável e, claro, apesar
de simples, muito saborosa.
A ligação do vinho com a medicina é conhecida há
alguns milênios, fato comprovado pelo uso do vinho
em receitas dos egípcios e sumérios, por volta de
2200 aC. Hipócrates, considerado o pai da medicina,
em 450 aC já preconizava o uso de vinho como
desinfetante, veículo para medicamentos e como
parte da dieta saudável.
Por Arthur Azevedo
Nos dias de hoje, existem inúmeros trabalhos científicos mostrando
os benefícios do consumo moderado e regular de vinho. O primeiro
trabalho a tornar claros os benefícios para o sistema cardiovascular
foi publicado na conceituada revista Lancet em 1990, realizado
por Serge Reunaud, e se tornou mundialmente conhecido como
“Paradoxo Francês”. No trabalho, ficou demonstrado que os franceses,
mesmo tendo hábitos pouco saudáveis como o consumo de tabaco
e alimentação extremamente gordurosa, apresentavam 2,5 vezes
menos mortes por doenças cardiovasculares que os norte-americanos,
nas mesmas condições. Tal diferença foi explicada pelo consumo
moderado e regular de vinho.
Antes de falar mais detalhadamente sobre os reais benefícios do
vinho, vale a pena quantificar o que é consumo moderado de vinho.
O consenso mundial diz que o limite de consumo é de 375 ml (1/2
garrafa de vinho) para os homens e a metade disso para as mulheres,
ingeridos diariamente, durante as refeições principais. Com essa
quantidade se evita os malefícios amplamente reconhecidos do
uso exagerado do álcool, dos quais a cirrose hepática é um dos mais
frequentes e temidos.
Nas quantidades corretas, estão comprovados benefícios para o
sistema cardiovascular (redução dos riscos de infarto do miocárdio e
trombose, aumento do “bom colesterol” e redução da adesividade das
plaquetas, que são elementos importantes na coagulação do sangue);
para o sistema neurológico (redução do ritmo de envelhecimento
das células do cérebro, redução do risco de demência e melhora da
circulação cerebral); para os ossos (melhora da densidade óssea
e redução do risco de osteoporose) e para o sangue (melhora da
absorção do ferro pelo intestino).
Por fim vale o alerta para as grávidas (que não podem ingerir
nenhuma quantidade de álcool durante a gravidez), para os diabéticos
e hipertensos, que podem ter sua condição agravada pelo uso de
bebidas alcoólicas.
Bebido com moderação, o vinho é um poderoso auxiliar
para uma vida mais saudável e longeva. Saúde!
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Arthur Azevedo é diretor da Associação Brasileira de Sommeliers
–SP, editor da revista Wine Style (www.winestyle.com.br) e
consultor da Artwine (www.artwine.com.br) twitter: @artwine77
A Dieta do Mediterrâneo se fundamenta em um conjunto
de tradições alimentares de países da região do Mar
Mediterrâneo, dos quais os principais são Espanha,
Portugal, Itália, Grécia e França. Seu padrão alimentar
destaca-se essencialmente pelo pão, massas, verduras,
saladas, legumes, frutas e frutas secas, destacando o
azeite de oliva como principal fonte de gordura, porém,
consumido moderadamente devido ao seu alto teor
calórico.
As nozes e outros frutos secos entram na Dieta
Mediterrânea como suplentes protéicos da carne, pescado
ou ovos, ricos em proteínas, em fibra vegetal e gorduras
insaturadas, além de possuírem elevados níveis de ácidos
gordos essenciais, minerais e vitaminas, especialmente as
vitaminas E, A, B1 e B2. Determinados frutos secos, como
as nozes, são ricos em ácido linoléico, um ácido gordo do
tipo ômega 3, com benefícios para o coração.
A fruta fresca é a sobremesa natural da Dieta
Mediterrânea e o seu consumo é fundamental por ser um
alimento muito nutritivo e por atender perfeitamente às
necessidades dos lanches entre as refeições, no meio da
manhã ou à tarde. Na Dieta Mediterrânea, a ingestão de
doces é limitada a pouquíssimas vezes na semana.
Quanto à ingestão de líquidos, se recomenda o
vinho, especialmente o tinto, como diz com absoluta
propriedade Arthur Azevedo na crônica ao lado.
Já a água é a bebida por excelência do Mediterrâneo! É
um bem precioso: além de fazer parte da composição de
quase todos os alimentos, a água é fundamental na dieta,
sendo recomendável o consumo de pelo menos seis copos
diários.
Naturalmente, adotar a Dieta do Mediterrâneo é simples
quando existe o hábito alimentar de consumir frutas e
verduras em abundância, limitando o consumo de carne
vermelha e adotando o peixe como proteína durante a
semana, desde que evitando o peixe frito ou repleto de
manteiga ou molhos densos. Utilizar gorduras saudáveis
com moderação como o azeite e o óleo de canola ao
cozinhar e reduzir – ou, melhor ainda, - eliminar as
gorduras saturadas e gorduras trans (também conhecida
como hidrogenada ou óleos parcialmente hidrogenados)
da dieta é o caminho mais rápido para promover uma
alimentação saudável.
Gustavo Corrêa é chef formado pelo SENAC Águas de São Pedro.
Trabalhou em várias regiões brasileiras, em restaurantes renomados
internacionalmente. Sua especialidade e prazer são os jantares
temáticos.
[email protected]