SERVIÇO
DICAS
DICAS
O
médico Hoel Sette Junior, autor de uma
pesquisa sobre as hepatites virais B e C,
considera a doença como o problema mais
sério de saúde pública. “Somados todos os contaminados pelos diferentes vírus, a doença atinge
mais de 2 bilhões de pessoas no mundo”, conta.
“A do tipo B tem a vantagem de ter uma vacina eficaz, mas que deveria ser objeto de campanhas de vacinação em massa, além do público
hoje abrangido.” A vacina é distribuída pelo SUS
nos postos de saúde para recém-nascidos até
jovens com 19 anos. “A do tipo C é a maior causa
dos transplantes de fígado”, explica o doutor.
Segundo sua pesquisa, realizada na década de
1990, 30% dos contaminados não sabiam como
contraíram a doença. “Mais do que a hipocrisia
do governo, que empurra para cima dos planos
de saúde sua falta de dinheiro, há um lobby das
seguradoras, que não querem enfrentar os custos
do tamanho desse problema sanitário.”
De acordo com a assessoria de imprensa do
Ministério da Saúde, estima-se que a cada 100
mil habitantes do país, surjam 130 novos casos
de hepatite A por ano. Mais de 90% da população maior de 20 anos é exposta ao vírus, e por
isso o Brasil é classificado pela Organização
Mundial de Saúde (OMS) como um país de alta
endemicidade.
TRANSPÁTICA
FILA DE 7 MIL PESSOAS
Erwin Moretti tem 53 anos e é presidente da
Transpática, ONG que defende os pacientes candidatos a transplantes de
fígado. É engenheiro e trabalha na prefeitura de Santo
André, Grande São Paulo.
“O Plano Nacional de Hepatites Virais do Ministério da
Saúde não caminha bem.
Faltam remédios e testes
garantidos pelo SUS, porque são caros”, explica. Para
ele, não é verdade que a população se nega a doar órgãos para transplantes. “Os
hospitais não notificam as
mortes encefálicas e ficam
no imediatismo do tratamento pelo tratamento, ou
Erwin Moretti, da ONG Transpática
do lucro pelo lucro. Falta o
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Revista do Idec | Maio 2007
funcionamento das comissões intra-hospitalares
de captação de órgãos. Fora outras questões
como os apagões aéreos e a recente queda de um
helicóptero no Ceará que transportava um órgão
para transplante.”
Desde os 7 anos, Moretti convive com a hepatite B. Contaminou-se por transfusão de sangue
e, assim como Moisés, citado no começo da
matéria, tem cirrose compensada e um número
de Meld abaixo de 15, que o coloca fora da lista
de transplantes. “A fila dos hepatos crônicos com
a única esperança no transplante tem 7 mil pessoas em todo o Brasil. A metade está em São
Paulo e sofre, além da hepatite, de cirrose e
tumores hepáticos”, explica. O engenheiro ainda
denuncia o que chama de “segunda porta dos
hospitais públicos”. Recentemente, Moretti tentou marcar pelo SUS uma consulta que demoraria três meses para acontecer. “Mas com meu
plano de saúde, que também previa atendimento
pelo Hospital das Clínicas, consegui marcar a
consulta para o dia seguinte.”
Panela pra toda obra
O consumidor deve ter cuidado na hora de cozinhar, já que o alumínio e o antiaderente
podem ser prejudiciais; o tipo de panela deve variar de acordo com o tipo de alimento
GILBERTO MARQUES
Dificuldades para transplante
Prevenir é a melhor forma
de combater a epidemia
● As hepatites A e E têm como medidas de prevenção os cuidados com a higiene pessoal, como lavar
as mãos após ir ao banheiro, ao preparar alimentos e
antes das refeições, além de beber água tratada (filtrada ou fervida) e lavar e desinfetar alimentos como
frutas e verduras, antes de serem consumidos crus.
● A hepatite B tem como principal medida de prevenção a vacinação, que garante imunidade para 95%
dos indivíduos jovens que recebem corretamente as três
doses necessárias; o uso de preservativos nas relações
sexuais. Também são muito importantes as seguintes
medidas: o uso das normas adequadas de segurança
para procedimentos cirúrgicos e odontológicos; o não
compartilhamento de objetos de uso pessoal (escovas
de dente, lâminas de barbear, alicates de unha) e dos
materiais utilizados para o uso de drogas injetáveis e
inaladas (canudo, cachimbo, seringas).
● A hepatite C tem como medidas de prevenção os
mesmos cuidados da hepatite B, porém não existe até
o momento uma vacina contra o vírus C.
● As medidas de prevenção da hepatite D são as
mesmas da B, já que esse vírus é adquirido apenas
por pessoas que têm a hepatite B.
* Fonte: Ministério da Saúde
N
as cozinhas dos lares do Brasil, as panelas de
alumínio estão entre as mais usadas no
preparo das refeições. Mas hoje em dia,
dependendo da cidade ou região, há lojas de utensílios domésticos em que elas nem existem mais.
Por onde o consumidor olha, só vê panelas revestidas com um material antiaderente, o politetrafluoretileno, popularmente chamado de Teflon – na
verdade, uma marca da DuPont. A indústria não
revela números, mas é notável como a panela com
antiaderente ocupa hoje um grande espaço na
preferência de donas e donos de casa.
Entretanto, essas não são as panelas mais recomendadas do ponto de vista da saúde do consumidor.
Tanto os subprodutos do antiaderente como o
próprio alumínio, liberados durante o preparo dos
alimentos, podem ser prejudiciais, de acordo com
vários estudos já realizados. Eles não comprovam
que os componentes necessariamente provocarão
câncer ou outras doenças. Mas tampouco está garantido que sejam completamente seguros.
Embora o alumínio seja encontrado também na
água potável e em alguns medicamentos, não é saudável ingeri-lo. Há pesquisas que sugerem sua relação
com a incidência de anemia em algumas populações,
e também com o desenvolvimento do Alzheimer.
Já o material antiaderente, ao interagir com o alimento sob temperaturas elevadas, pode originar a
formação de substâncias da família dos PFCs (compostos perfluorados). Embora esse subproduto não
tenha exclusivamente essa origem, talvez as pessoas
prefiram não comê-lo no almoço. Principalmente
ao saber que há riscos de desenvolver hipotireoidismo, obesidade, diabetes e câncer. Além disso, o
produto não se degrada, e por isso se acumula no
organismo dos seres vivos e no meio ambiente (veja
tabela na página 31).
“O meu conselho é não comprar um jogo”, afirma
Késia Diego Quintaes, doutora em nutrição e autora do livro Por dentro das panelas. “É melhor comprar panelas variadas, para usar de acordo com o
alimento e a necessidade nutricional.” No caso das
mulheres, que precisam ingerir mais ferro devido
ao funcionamento de seu organismo, comparandoRevista do Idec | Maio 2007
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DICAS
DICAS
Nunca use abrasivos para limpá-las. Aí estão incluídos a palha de aço,
o lado verde da bucha e até o limão.
● Ferva as de aço inox três vezes com água antes de usá-las pela
primeira vez.
● Deixe-as de molho e use um pouco de vinagre com uma esponja na
hora de limpar.
● Ferver água pode ajudar a retirar gordura.
● Não retire as manchas escuras que aparecem nas de alumínio. As
panelas duram mais, e a mancha impede a liberação do alumínio no alimento.
● Não as utilize para guardar alimentos.
● Nunca as deixe vazias sobre a chama.
● Para frituras, prefira as panelas de ferro.
●
o ao de uma criança ou de uma pessoa idosa,
pode ser interessante preparar alguns alimentos
em panelas de ferro. Ao mesmo tempo, há que se
ter algum cuidado, pois o consumo excessivo da
substância tampouco é recomendável.
Segundo Késia, o utensílio deve ser escolhido
principalmente de acordo com o tipo de alimento que será preparado. A nutricionista não chega
a recomendar que não se usem as panelas antiaderentes. Mas, sim, que elas sejam evitadas no
preparo de frituras ou alimentos ricos em proteínas, os quais contribuiriam mais para a geração
de substâncias perigosas. Outra dica importante
é não usar colheres de metal para manipular o
alimento, mas apenas utensílios de madeira ou
plástico. Também nunca se deve usar esponja
de aço na limpeza.
Já o chef de cozinha Oliver Krause só utiliza panelas de aço inox, ferro esmaltado e
barro. “É claro que devemos atentar para
algumas regras”, diz, “não cozinhando em
panelas de aço inox alimentos ricos em enxofre, como espinafre, couve, brócolis e
mostarda, por exemplo”. Essa combinação pode
gerar subprodutos tóxicos, segundo Krause. “Já
os alimentos ácidos, como tomates e geléias,
aumentam a liberação de ferro em panelas
desse material.”
O tipo de panela mais seguro “quanto à
transferência de metais”, segundo ele, é o de
cerâmica. “Mas são panelas frágeis, e seu preço
alto afasta o consumidor. Além disso, exigem
cuidado na hora do preparo, pois podem
queimar os alimentos com mais facilidade que
outros materiais.”
SEM GRUDE
A razão para o crescimento do uso das panelas
antiaderentes está, muito provavelmente, na facilidade que o produto agregou à vida de cozinheiros, aliada a um preço relativamente acessível.
Não é preciso usar óleo para preparar comida na
panela com antiaderente, e o alimento não gruda
no material. Portanto, na hora de lavar, é tudo
bem mais fácil.
Os fabricantes, por sua vez, contestam que haja
riscos. “Existe uma completa desinformação sobre esse revestimento”, afirmou a assessoria de
imprensa da Tramontina. Líder no mercado de
panelas, a empresa produziu no ano passado 70
milhões de peças revestidas com antiaderente.
Segundo a assessoria, o perigo do material estaria
relacionado “somente” à sua “formulação”. “O
antiaderente, depois de aplicado e completamente inerte, não ocasiona qualquer risco à
saúde de quem, eventual e acidentalmente, vier a
ingeri-lo”, informou por e-mail.
Já outro grande fabricante, a Panex, informa
em seu site que o antiaderente não é transferido
para os alimentos. Ao mesmo tempo, a empresa
afirma que o material sofre desgaste com o uso.
De acordo com sua assessoria de imprensa, esse
desgaste só acontece quando o produto é “mal
usado” – por exemplo, quando o usuário utiliza
uma colher de metal para misturar o alimento.
Assim, disse a assessoria, o antiaderente pode
começar a se desgastar, e, conseqüentemente,
parte dele será transferida para o alimento. Seu
volume, no entanto, seria “muito pequeno”.
Do lado oposto, a organização não-governamental americana EWG (Grupo de Trabalho
sobre Meio Ambiente, na sigla em inglês), que
investiga essas panelas desde o começo dos anos
2000, recomenda que o consumidor evite a qualquer custo o uso dos utensílios. Nesse período, o
grupo desenvolveu estudos que comprovariam
que a substância gera subprodutos cancerígenos
PHOTOS.COM
Para conservar as panelas e prevenir riscos à saúde
Escolha sua panela
Material
Vantagens
Desvantagens
Alumínio
Leveza, rápido aquecimento, preço,
facilidade de manipulação
Libera alumínio (que, suspeita-se, está ligado a doenças como
o Alzheimer), aderência, pode alterar sua forma com o tempo
Aço inox
Fácil limpeza, durabilidade, mantém o calor do alimento
Preço, libera níquel nas primeiras vezes em que é usada,
aquecimento lento, risca e escurece com o tempo
Pedra-sabão
Naturalmente antiaderente, libera cálcio, magnésio, ferro e
manganês, mantém o aquecimento, cozinha lentamente, preço
Peso, fragilidade, dificuldade de ser encontrada, in natura libera
níquel, aquecimento lento, requer tratamento de cura
Vidro
Atóxico, rápido aquecimento
Preço, peso, fragilidade, aderência, requer habilidade no preparo
para não queimar o alimento
Cerâmica
Fácil limpeza, mantém o alimento aquecido
Libera chumbo e cádmio se antigas (1980), fragilidade, requer
habilidade no preparo para não queimar o alimento, preço pode ser alto
Barro
Preço, mantém o alimento aquecido,
vai ao forno e na chama do fogão
Peso, requer cura para impermeabilizar, aquecimento lento,
facilidade de adesão de sujeira
Ferro
Libera ferro, durabilidade, preço baixo, mantém
o calor do alimento, facilidade na limpeza
Peso, interfere na cor e no sabor dos alimentos,
aquecimento lento, requer cuidado na hora de secar e guardar
Antiaderente
politetrafluoretileno
(Teflon)
Rápido aquecimento, mantém o aquecimento, fácil
limpeza, possibilita menor uso de gordura, preço
Com o tempo o antiaderente se desgasta, pode promover
a formação de substâncias pouco seguras, não deve ser
usada para preparar alimentos protéicos
Esmaltado
Peso, fácil limpeza, mantém o aquecimento,
rápido aquecimento
Preço alto, as antigas não devem ser usadas (1985),
requer habilidade no preparo para não queimar o alimento
Fonte: Por dentro das panelas, Késia Diego Quintaes, Livraria Varela Editora (2005)
ao ser aquecida a determinadas temperaturas.
Em 2003, lançou a pesquisa “Canários na cozinha – a intoxicação por Teflon é mortal para
pássaros de estimação. Nós corremos riscos?” (no
original: “Canaries in the kitchen – Teflon toxicosis is deadly to pet birds. Are we at risk?”).
Entre suas conclusões estava o fato de que as
panelas com antiaderente tornam-se tóxicas em
poucos minutos sobre a chama do fogão, e já
foram responsáveis pela morte de centenas de
pássaros de estimação e por causarem também
problemas de saúde aos seres humanos.
Nos últimos 50 anos, a DuPont, fabricante da
marca Teflon, sempre alegou que seu antiaderente não emite substâncias perigosas, quando utilizado normalmente. Entretanto, em um comunicado da época do estudo da EWG, a empresa
declarou que o antiaderente pode sofrer uma
“decomposição significativa (...) somente quando
a temperatura exceder aproximadamente 340oC”.
Só que, em um dos experimentos da EWG, essa
temperatura foi ultrapassada em apenas 5 minutos. A organização recomenda somente o uso de
panelas de aço inox ou ferro.
A REVISTA DO IDEC entrou em contato com os
fabricantes Tramontina, Nigro e Rochedo/Penedo/Panex para saber se fornecem algum tipo de
orientação aos consumidores a respeito de pro-
blemas que as panelas podem apresentar, como a
liberação de substâncias tóxicas. Segundo a Tramontina, a empresa orienta com relação à manutenção e limpeza, por meio das etiquetas que
acompanham os produtos. Só que isso nem sempre acontece, já que a reportagem adquiriu algumas panelas sem nenhum tipo de embalagem ou
orientação. Nesse caso, de acordo com a assessoria do fabricante, é possível que o revendedor
tenha retirado a etiqueta.
A Nigro respondeu apenas que possui um SAC
(Serviço de Atendimento ao Consumidor) “direcionado para atender a todas as dúvidas de seus
consumidores”. Já a assessoria do grupo Rochedo/Penedo/Panex preferiu não responder à
questão.
A conclusão é que não existe a panela ideal
para uso contínuo e para o preparo de todos os
tipos de alimentos. Se puder, tenha panelas variadas para cada tipo de preparo.
Saiba mais
● Por dentro das panelas, Késia Diego Quintaes, Livraria
Varela Editora (2005).
● Sítio (em inglês) da organização não-governamental
Environmental Working Group, www.ewg.org
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