O Uso e as Sensações da Madeira no Espaço Interno
The Use and the Sensations of Wood in the Internal Space
Peixe, Marco Aurélio; Arquiteto e Urbanista; Universidade Tecnológica Federal do Paraná
[email protected]
Licheski, Laís C.; Drª; Universidade Tecnológica Federal do Paraná
[email protected]
Resumo
Este artigo refere-se à utilização da madeira no espaço interno e a análise da apreensão deste
material pelo usuário. Foram estudadas e levantadas as propriedades desse material que
propiciam a estimulação sensorial, e realizada a análise de quatro residências contemporâneas.
Após, aplicou-se um questionário na tentativa de validar os conceitos abordados. O trabalho
procura auxiliar o designer de interiores na identificação do conjunto adequado de meios
práticos, estéticos e simbólicos relativos à percepção da madeira na configuração de efeitos
sensoriais desejados para o espaço interno construído.
Palavras-Chaves: madeira; sensações; design de interiores.
Abstract
This paper refers to the use of wood in the inner space and analysis of the seizure of this
material by the user. Were studied and raised the properties of the material that provides
sensory stimulation and performed the analysis of four contemporary houses. Afterwards, a
questionnaire was applied in an attempt to validate the covered concepts. The work aims to
help the interior designer in identifying the appropriate range of practical, aesthetic and
symbolic ways for the perception of wood in the desired configuration of sensory effects in the
internal space built.
Key-words: wood; perception; interiors design.
O Uso e as Sensações da Madeira no Espaço Interno
Introdução
A madeira é vista por muitos profissionais como um dos mais belos e aconchegantes
materiais utilizados na arquitetura de interiores para revestimentos de pisos, paredes e tetos.
Ela provou ser notavelmente imune a mudanças de tendências, sendo abundantemente
utilizada em praticamente todos os períodos da civilização humana e é igualmente encontrada
tanto em residências luxuosas como em modestas construções vernaculares.
Este artigo reporta-se à pesquisa sobre a madeira e suas propriedades que estimulam os
sentidos humanos. Procura examinar como se dá a apreensão do material pelo usuário, quando
utilizada como elemento de revestimento nos ambientes internos. Neste aspecto, busca
classificar as esferas em que se dá a percepção da madeira: a prática, a estética e a simbólica.
Valer-se de um material que possui séculos de história na moradia humana, que é correto
do ponto de vista ambiental, que possui uma gama praticamente infinita de formas, cores,
padrões e texturas e que pode proporcionar sensações agradáveis, conforto e bem-estar ao
usuário, configura-se em objeto essencial e de conhecimento imprescindível a qualquer
profissional de design de interiores.
Metodologia
Para realização deste artigo, fez-se inicialmente um levantamento de características da
madeira e efeitos que ela pode proporcionar ao usuário, a fim de obter dados para análise.
Através do estudo de periódicos e livros que fazem o estudo crítico de obras
arquitetônicas, pretendeu-se reunir as principais características apontadas pelos autores no uso
da madeira como um material capaz de ser funcional, de ampliar o prazer estético e ainda
trazer valores simbólicos para o usuário. Com os Estudos de Caso de quatro obras
arquitetônicas, que estabelecem um contraponto na utilização da madeira no design de
interiores - projetos que apresentam características rústicas ou modernas, naturais ou
cenográficas, entre outras - buscou-se registrar características sensoriais que ajudam a definir
o caráter do ambiente, organizadas na forma de gráficos.
A partir disso, foi realizada uma apresentação para alunos do quarto ano do curso de
Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Paraná. Nela, foram abordados os
conceitos desenvolvidos na pesquisa, mostradas as obras analisadas no estudo de caso e
apresentadas amostras de material, com o intuito de verificar eventuais disparidades que se
estabeleçam na percepção tátil e visual da madeira como material de revestimento na
arquitetura de interiores.
Visando dar uma dimensão prática para os dados coletados, um instrumento de pesquisa
na forma de questionário foi desenvolvido, testado e posteriormente aplicado aos estudantes.
Nele foram analisados e interpretados os aspectos perceptivos que podem ser compreendidos,
pretendidos ou proporcionados pelo uso de determinado tipo de madeira.
Funções prática, estética e simbólica da madeira
A dimensão subjetiva que leva uma pessoa a escolher um determinado tipo de material
está associada a fatores como cultura, gostos e experiências individuais, que muitas vezes não
se manifestam conscientemente. Esse conjunto de fatores corresponde ao que Löbach (2001)
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classificou como funções estéticas e simbólicas, complementares às funções práticas que os
objetos possuem.
Para o homem, é natural associar a madeira a funções práticas, cotidianas. De acordo
com Löbach (2001, p. 58), “são funções práticas de produtos todos os aspectos fisiológicos do
uso”.
Na condição de material de revestimento, as madeiras incorporam todo um conjunto de
características técnicas e econômicas que dificilmente se encontram em outro material.
Apresenta boas condições naturais de isolamento térmico e absorção acústica, é leve em peso
e tem grande resistência mecânica, capaz de resistir tanto a esforços de compressão como de
tração e não estilhaçar quando golpeada (BAUER, 2001, p. 437).
Material acessível e de fácil manuseio, pode ser trabalhada com ferramentas simples.
Não exige dificuldades ou grandes esforços para o seu transporte, e pode ser reempregado
diversas vezes na construção civil.
Outra facilidade que ela proporciona são as várias formas de encaixe e conexões entre as
peças, possibilitando para o design de interiores uma grande variedade de usos possíveis.
Pode ser produzida em peças de grandes dimensões que podem ser desdobradas em peças
pequenas e delicadas (SEIDEL, 2008, p. 11).
Critérios econômicos desempenham importante função prática, já que a madeira
apresenta um excelente custo-benefício. O custo inicial de aquisição e instalação é um pouco
mais elevado, porém diminui ao longo da vida útil do material. Uma casa toda construída em
madeira garante um canteiro de obras limpo e a construção é rápida (BAUER, 2001).
O revestimento de pisos provavelmente é a área para a qual grande parte do emprego da
madeira é especificada. Um dos principais aspectos que contribuem para o seu uso é o
conforto térmico que a madeira proporciona. O conforto dos pés está diretamente relacionado
com o grau de elasticidade que um material de piso apresenta e, em menor grau, com o seu
calor, o que confere à madeira uma condição de uso extremamente favorável (CHING, 2006).
Ainda conforme Löbach (2001, p. 60), “a função estética dos produtos é um aspecto
psicológico da percepção sensorial durante o seu uso.” Essa função da madeira utilizada na
arquitetura de interiores se estabelece nos processos sensoriais do usuário, promovendo uma
sensação de bem-estar e contribuindo na sua identificação com o ambiente.
A madeira possui um apelo estético intenso para o usuário principalmente por lhe ser um
material familiar. O uso sensorial de determinado objeto depende das experiências anteriores
com as suas características estéticas e da percepção consciente das mesmas, tais como forma,
cor e superfície (LÖBACH, 2001).
Outra característica estética determinante da madeira é a sua textura. De acordo com
Schmid (2005) há dois tipos básicos de textura: a tátil, que é sentida através do contato direto
com determinada superfície; e a visual, que é percebida pelos olhos. As madeiras, que
naturalmente já apresentam uma infinidade de texturas e são ainda complementadas pela
formas de acabamento dadas às suas superfícies, transformam-se em importante ferramenta de
projeto ao gerar imagens mentais, emoções e sentimentos, através dos estímulos físicos
captados pela pele.
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A composição das peças também pode ressaltar a percepção tátil do conjunto. É possível
compor uma superfície com diferentes espessuras de madeira, criando texturas e sensações
através do jogo de sombras e variações da luz natural ou artificial que pode incidir no local.
A perspectiva também afeta a percepção de um padrão no ambiente interno. Assim, “um
padrão em pequena escala muitas vezes pode ser visto como uma textura fina ou um tom
misto e não como uma composição de elementos individuais de projeto” (CHING, 2006, p.
284).
As madeiras variam de cor de espécie para espécie, de peça para peça. A intensidade da
coloração varia do bege claro ao marrom escuro, quase preto. Existem ainda madeiras
amarelas, avermelhadas e alaranjadas. A cor tende a alterar-se com o passar do tempo,
escurecendo devido à oxidação causada principalmente pela luz. Também pode mudar com o
tipo de acabamento dado à superfície da madeira (GIBBS, 2005).
Além de proporcionar uma infinidade de variações de tons e colorações, texturas e
densidade, ainda pode haver uma grande variedade de formas. As dimensões físicas de
comprimento, largura e profundidade da madeira utilizada determinam qual será a proporção
que o material assumirá no ambiente em que será colocado (WILHIDE, 1997).
Outra importante característica estética que o uso da madeira proporciona ao ambiente
interno é o aspecto cenográfico que o material traz, pela própria riqueza de significados que já
lhe é inerente.
A utilização da madeira na arquitetura de interiores possibilita a esta também uma vasta
gama de significados simbólicos. “A realidade que é representada por um símbolo está
presente no espírito humano pela presença deste símbolo.” (LÖBACH, 2001, p. 64).
A madeira é um material orgânico, caloroso, e sua utilização pode criar ambientes
acolhedores, que refletem o caráter de lar. Um espaço no qual predomina o uso do material
em geral é convidativo à permanência.
É através dos elementos estéticos, como forma, cor e tratamento de superfície, que a
função simbólica se manifesta. Com a aplicação da madeira em seu aspecto rústico ou até
mesmo na sua forma natural, pode-se dar um efeito simbólico ao ambiente que remete aos
valores da vida no campo, da vida de pessoas simples (BELL e RAND, 2006). Mas um
ambiente também pode remeter a valores aristocráticos, de status, de tradição, através da
exploração do caráter de material nobre que a madeira apresenta.
Assim também, peças de madeira podem alterar o caráter de um ambiente. Peças finas e
leves podem passar a sensação de uma obra efêmera, provisória, sujeita às ações do tempo. Já
peças maciças, de grandes dimensões e secções, remetem a uma condição de robustez e de
durabilidade (SEIDEL, 2008, p. 11).
Provavelmente, uma das características simbólicas mais facilmente associada ao uso da
madeira é a tentativa da aproximação do homem e da arquitetura com o ambiente natural,
mimetizando as características que são comuns ao seu universo. Já num contexto urbano, o
seu uso pode ajudar a fazer do espaço interno um contraponto ao caos da metrópole urbana
externa, criando naquele ambiente um simulacro que remete a valores naturais não comuns à
realidade cotidiana.
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A percepção da madeira está sujeita a múltiplas associações, pelo simples fato de ela ter
sido fartamente utilizada pelo homem. Cabe ao designer de interiores traçar uma imagem do
estilo de vida dos futuros usuários do local para os quais irá elaborar determinado projeto e
procurar refletir os valores pessoais e sociais e representar o tipo de vida dessas pessoas.
Estudos de caso
A primeira residência analisada foi a Casa Cinza, em São Paulo, projetada pelo arquiteto
Isay Weinfeld em 2003. A orientação da aplicação da madeira nesse ambiente é claramente de
ordem estética, revelando as intenções do arquiteto de criar artifícios cenográficos que
impressionem o usuário, conduzindo-o por uma seqüência específica de experiências táteis,
visuais e espaciais.
Uma característica marcante são as sensações que a textura da madeira proporciona. O
arquiteto utilizou tábuas de madeira de tombamento para revestir o volume da cozinha
(Figuras 1 e 2). A função estética deste volume contribui para a convidativa sensação de
aconchego.
Quanto aos aspectos funcionais, o uso da madeira, auxiliado também pelo fato de não
haver insolação incidente e bastante ventilação natural, ajuda a transformar o ambiente em um
espaço agradável e convidativo à permanência, propiciando o conforto do usuário. O pédireito, apesar de bastante elevado, é proporcional à escala do ambiente.
Quanto ao aspecto simbólico, nota-se na construção desse espaço a valorização do
abrigo. A combinação de objetos, formas, volumes e texturas parece remeter ao caráter de
exclusividade.
A função estética parece prevalecer na análise desta residência.
Figura 1 - vista externa
Figura 2 - vista interna
FONTE: BARRENECHE, 2008
FONTE: BARRENECHE, 2008
A segunda residência analisada é a Milhouse, em Schonen, no sul da Suécia, projetada
pelo grupo Wingardh Arkitektkontor e incorpora o programa de uma casa e de uma sauna,
edificada como anexo numa propriedade rural destinada às férias da família.
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O projeto nasce do diálogo entre a arquitetura contemporânea e a excelência da
carpintaria nórdica. Os arquitetos inspiraram-se nas características da madeira para projetar
um refúgio do cotidiano para os usuários, estabelecendo um contato estreito com a natureza
local (Figura 3).
A função estética se destaca através do uso dos materiais em estado quase natural, sem
acabamento superficial marcante. O rigor na execução das peças confere elegância à
construção. Seidel (2008) salienta a pormenorização perfeita, o uso de acabamentos de
primeira qualidade e a combinação de materiais na execução da residência (Figura 4).
Quanto aos aspectos funcionais, o uso da madeira nos ambientes parece cumprir bem seu
propósito. De tendência minimalista, os espaços desvelam somente o necessário, sem
elementos em demasia para o cumprimento de suas funções.
A escala da edificação é reduzida, traduzindo-se em aconchego. Os ambientes são
distribuídos em diferentes níveis para o convívio, propiciando ao usuário um local de conforto
e prazer, e também para aproximá-lo da natureza. A simbologia dessa edificação se apresenta
de forma bastante clara: um local que busca aproximar o homem da natureza, seja pelos
materiais utilizados, seja pelo contato visual com o espaço externo.
O resultado geral da análise aponta para um grande equilíbrio na percepção do espaço,
sem que haja alguma função predominante.
Figura 3 - vista externa
Figura 4 - vista interna
FONTE: BARRENECHE, 2008
FONTE: BARRENECHE, 2008
A terceira residência analisada é o Refúgio de Montanha, em Punta Del Este, Uruguai,
projetada pelo escritório Martín Gomez Arquitectos como uma residência de férias e estadias
curtas para um jovem casal. Encontra-se em um bosque de pinheiros-bravos, a poucos metros
da praia.
Compreende duas edificações: a casa principal, com dois pisos e em forma de torre e
uma casa de hóspedes de um piso só. A ligação entre as duas construções é feita por um
terraço parcialmente coberto por uma pérgula que, nos meses de verão, torna-se a sala de estar
da casa (Figuras 5 e 6).
Devido à limitações de orçamento, os arquitetos utilizaram o pinheiro-bravo, espécie de
pinheiro de madeira, clara, com abundantes nós, bastante durável, pesada e pouco flexível,
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recurso natural existente na região, o que facilitou o transporte de material. A madeira clara
também maximiza a iluminação natural no interior da casa.
Quanto à estética, a evidência dos nós da madeira revela um aspecto heterogêneo e
natural, marcado pelo ciclo de vida dá árvore que originou o material. O conjunto cria uma
interessante textura visual, capaz de transmitir aos ambientes uma sensação de conforto e
aconchego.
A função simbólica é representada pelo diálogo com o ambiente circundante, já que o
material utilizado para erigir a obra é proveniente das mesmas árvores que compõem o seu
entorno. Assim, cria-se a sensação da edificação como elemento pertencente ao local, em
harmonia com o espaço natural. Outra característica simbólica é o aspecto rústico, que remete
aos valores de um estilo de vida mais simples.
Na análise desta residência a função prática parece prevalecer.
Figura 5 –vista externa
Figura 6 – vista interna
FONTE: BARRENECHE, 2008
FONTE: BARRENECHE, 2008
A quarta e última residência analisada é a Casa do Riacho, em Petrópolis, projetada pelo
arquiteto James Lawrence Vianna e destaca-se pelo emprego de forma quase natural da
madeira. A edificação está implantada na porção mais alta de um terreno cortado por um
pequeno riacho, com a mata nativa como pano de fundo. O projeto está diretamente ligado a
uma vertente da arquitetura brasileira que busca aliar tradição e modernidade, empregando
técnicas vernaculares de construção com soluções de interiores que combinam leveza e
cuidado nos detalhes (Figuras 7 e 8).
A construção consiste em três blocos de alvenaria com estrutura e fechamento com peças
roliças de eucalipto tratado. O conjunto assume um aspecto artesanal devido à técnica
construtiva e ao emprego de materiais naturais. Esta aproximação do homem com o espaço
habitável destaca a função simbólica frente às demais. A obra tem um aspecto de robustez,
passando a sensação de algo perene.
As características funcionais da edificação são eficientemente atendidas, apresentando
ambientes agradáveis de casa de campo. Porém, o consumo de material é bastante elevado,
visto a grande dimensão das secções das peças de madeira utilizadas.
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O projeto possui uma volumetria complexa, o que dificulta sua legibilidade para o
usuário. Porém o arquiteto revela grande controle de formas e riqueza de elementos,
combinando uma série de componentes da arquitetura moderna com elementos presentes na
arquitetura tradicional.
A função simbólica parece se destacar nesta residência.
Figura 7 – vista externa
Figura 8 – vista interna
FONTE: BARRENECHE, 2008
FONTE: BARRENECHE, 2008
Pesquisa de campo
Para investigar a percepção da madeira no espaço interno, analisou-se a percepção visual
e tátil percebida por uma amostra de trinta e seis estudantes de arquitetura. Para tanto, foi
elaborado um instrumento de pesquisa.
Num primeiro momento foram apresentados aos participantes os estudos de casos, por
meio fotográfico. Solicitou-se, ao término da exposição de cada estudo, o preenchimento de
uma matriz de avaliação de diferencial semântico (tabela 1) com o objetivo indicar
características da madeira que possuem maior peso para a determinação do caráter de cada
residência. A matriz trabalha com dicotomias claras, na tentativa de atingir de forma direta a
memória visual de cada respondente, e os descritores foram formulados com base nas
informações levantadas pela pesquisa bibliográfica
Tabela 1 - Modelo questão 1
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A seguir, os entrevistados realizaram um gráfico de funções para cada estudo de caso
mostrado através de imagens. Cada marcador do gráfico corresponde aos valores 1, 2 e 3,
sendo 3 o maior valor possível (Figura 9). A área formada pelo triângulo resultante
corresponde ao estímulo sensorial provocado pela obra em sua totalidade.
Essa etapa teve o intuito de atingir os valores, experiências, interesses e o imaginário do
público.
Figura 9 - Modelo questão 2
Um segundo momento consistiu na experimentação de seis amostras de madeira Itaúba,
permitindo o contato direto dos participantes com o material (Figura 10). Assim, procurou-se
verificar se as amostras poderiam ser facilmente correlacionadas com os exemplos
arquitetônicos apresentados, com uso da visão e do tato.
01: madeira serrada
02: lixada com selador
03: semi brilho
04: jateada
05: escovada natural
06: escovada branca
Figura 10 – Mostruário de madeiras para pesquisa de campo
FONTE: O autor (2009)
O grupo de respondentes atribuiu 3 palavras para descrever as sensações proporcionadas
por cada amostra.
Na última etapa da pesquisa, solicitou-se aos participantes que, para cada amostra
apresentada, fosse marcada a opção com a característica sensorial mais marcante. Foram
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colocadas duas opções referentes às qualidades táteis que o material possui, duas para a
aparência que ele poderá assumir no espaço interno e outras duas relacionadas com o próprio
caráter que representa (tabela 2).
Tabela 2 - Modelo questão 4
Através do cruzamento dos dados de todas as questões, procurou-se estabelecer as
características e os descritores sensoriais apontados na questão número três que melhor
definem as funções práticas, estéticas e simbólicas da madeira.
Análise da percepção visual
Na primeira residência, a madeira foi percebida como um material quente, áspero e
rugoso, heterogêneo, moderno, prevalecendo o caráter cenográfico. Houve equilíbrio na
distribuição dos votos entre as opções apresentadas. Certamente, a composição do ambiente e
a forma como a madeira foi trabalhada influenciaram a percepção dos participantes. A função
estética prevaleceu sobre as demais, atingindo a média de 2,86 pontos nas respostas dos
participantes, a mais alta entre os estudos de caso apresentados. As funções prática e
simbólica alcançaram as médias de 1,5 e 1,64 pontos, respectivamente. O estímulo sensorial
provocado pela residência nos respondentes alcançou a pontuação de 4,95, a mais baixa
dentre todas as residências, o que pode indicar que as construções que se norteiam pelo
aspecto mínimo na composição de seus ambientes podem encontrar mais dificuldades para
provocar os sentidos dos usuários. Porém, o extremo cuidado estético nesta edificação foi
reconhecido pelos observadores (Figura 11). As respostas indicam que o contexto no qual o
material está inserido aproxima-o da artificialidade, embora suas características naturais
estejam evidentes no tratamento da superfície da madeira.
Na segunda residência, percebeu-se a madeira como um material quente e liso, de
superfície suave e composição homogênea, de aparência moderna e caráter mais natural do
que cenográfico. A função estética destaca-se, obtendo o valor de 2,44 pontos; a função
prática obteve uma média de 1,92; e a simbólica 2,0 pontos. A proximidade na proporção das
respostas indica que o espaço é bastante equilibrado, e a avaliação do grupo gerou o valor de
5,8 pontos para os estímulos sensoriais provocados pela obra (Figura 12).
Na terceira residência, predominaram características da madeira que reforçam o caráter
natural, percebida como um material quente, de superfície áspera e rugosa, de aparência
rústica. Há igualdade na proporção da percepção da madeira como sendo heterogênea ou
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homogênea. Isto pode indicar que, apesar das peças do material isoladamente serem bastante
distintas, a composição geral é homogênea. Prevaleceu a função prática, com 2,33 pontos,
seguida pela simbólica, com 2,08 e pela estética, com 1,78 de média. A triangulação das
respostas assumiu o valor de 5,5 pontos de estimulação sensorial (Figura 13).
Na quarta residência, destaca-se o caráter natural, totalizando 80,55% das respostas. A
madeira foi percebida no espaço interno como um material quente, de superfície áspera e
rugosa e aparência rústica. A homogeneidade leva pequena vantagem sobre a característica
oposta. A função prática obteve a média de 1,92 pontos. Os participantes apontaram o
predomínio da função estética, com 2,56 pontos. A função simbólica também se destaca (2,39
pontos). O resultado parece indicar que as referências e experiências do usuário facilitam a
identificação naquele material das semelhanças com o ambiente natural. A resultante foi a
melhor média geral, com 6,76 pontos (Figura 14).
Figura 11 – Casa 01
Figura 12 – Casa 02
FONTE: O autor (2009)
FONTE: O autor (2009)
Figura 13 – Casa 03
Figura 14 – Casa 04
FONTE: O autor (2009)
FONTE: O autor (2009)
Análise da percepção tátil
Os resultados obtidos pela aplicação da Questão 3 permitiram identificar os descritores
recorrentes em cada amostra. A madeira foi citada como um material agradável em todos os
casos e percebida como um material quente.
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Quando sua superfície se apresenta áspera e rugosa, a madeira é também citada como um
material rústico. Entretanto, na amostra 4, a característica “moderno” aparece mais vezes,
assim como “contemporâneo”, provavelmente em virtude de seu acabamento. Esta amostra
também foi descrita mais vezes pelos estudantes como “bela”.
Nas amostras de número 3 e 6, a “artificialidade” citada por mais da metade dos
participantes parece indicar a influência do acabamento do material. Nessas amostras, o
aspecto natural da madeira não foi comentado. Na amostra 3, os descritores de superfície
“lisa” e “brilhante” foram bastante citados. A amostra 6 também é a madeira considerada mais
cenográfica dentre todas as apresentadas.
De acordo com as respostas dadas, a percepção da madeira como um material natural
diminui de acordo com o aumento do acabamento superfícial.
A amostra 6 apresentou o maior número de características negativas, descrita como um
material desagradável, irregular, sujo, feio, cansativo, confuso, esquisito, estranho, falso,
incômodo e pobre.
Na questão 4 (Tabela 3), a amostra 1 novamente desperta a percepção da aparência
rústica e o caráter natural do material, abrangendo quase a totalidade dos participantes. Na
amostra 2, mais de 80% dos respondentes escolheram características que remetem a função
prática. Na amostra 3, os votos ficaram divididos entre as características práticas e a aparência
moderna do material.
Nenhuma característica se sobressaiu nas amostras 4 e 5. Na última amostra, grande
parcela do grupo optou pelo caráter cenográfico do material, reforçando o que já havia sido
apontado pela tabela de descritores sensoriais da madeira.
Tabela 3 - Resultados questão 4
Em linhas gerais, verificou-se que a percepção tátil das amostras de madeira relaciona-se
à percepção visual dos exemplos arquitetônicos apresentados aos entrevistados. Constatou-se
que a madeira é tida como um material agradável e quente, propriedades que se traduzem no
gosto por este insumo e em sua grande aplicação na história da construção.
Percebeu-se que quanto maior o grau de acabamento dado à sua superfície, maior é a
percepção de artificialidade que ela recebe. Assim, uma mesma espécie de madeira pode
apresentar qualidades distintas, de acordo com o tipo de acabamento das peças.
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Considerações Finais
Entende-se que a tarefa do designer de interiores é criar espaços de vivência,
propiciando conforto e harmonia para o ser humano. O designer deve compreender quais são
as necessidades do cliente, seu estilo de vida, costumes e valores, o que demanda que cada
trabalho seja de alguma forma único.
O bom projeto deve atender a preceitos funcionais. Deve também ter anseios estéticos
que contribuam no surgimento das emoções através do que é considerado belo. E são aqueles
que alcançam a dimensão do simbólico que realmente se destacam, propiciando uma
experimentação única.
Dessa forma, examinar a percepção sensorial da madeira no espaço interno mostrou-se
uma experiência tanto útil quanto gratificante. É um material belo por natureza, agradável,
que propicia conforto térmico, acústico, visual, físico e psicológico. O acabamento em
madeira é praticamente atemporal. Se bem empregada, pode ser destinada a uma grande
diversidade de tipologias de projetos e clientes.
É relevante observar que a percepção do espaço é sinestésica e que a análise por meio de
imagens é limitada. Deve-se também registrar que a experimentação tátil do material através
de amostras pequenas não reflete as sensações que seriam vivenciadas no espaço arquitetônico
construído. Porém, considerou-se que o prazer sensorial dialoga sensivelmente com a
memória do usuário, e realizar a pesquisa com um material já assimilado, assim como com
um público com conhecimento prévio sobre o assunto pode ter contribuído para que os
resultados não se afastassem demasiadamente dos obtidos em ambiente real.
Apesar das limitações apontadas, a análise das entrevistas realizadas sob a luz da base
teórica indicou a possibilidade de se ampliar o prazer sensorial através de intenções projetuais
corretas, aumentando a relação afetiva do usuário com o espaço interno.
Referências
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Vol.2. 5. ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos Editora S.A., 2001.
BAXTER, Mike. Projeto de produto: guia prático para o design de novos produtos. 2. ed.
Tradução: Itiro Iida. São Paulo: Edgard Blücher, 1998.
BELL, Victoria Ballard; RAND, Patrick. Materials: for architectural design. London:
Laurence King Publishing Ltd, 2006.
CHING, Francis D.K. Arquitetura de Interiores Ilustrada. 2. ed. Tradução: Alexandre
Ferreira da Silva Salvaterra. Porto Alegre: Bookman, 2006.
EDITORIAL BLUME. La madera. Barcelona: Editorial Blume, 1986.
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GIBBS, Nick. Guia essencial da madeira: um manual ilustrado de 100 madeiras decorativas
e suas aplicações. Lisboa: LISMA – Edição e Distribuição de Livros Lda, 2005.
LÖBACH, Bernd. Design industrial: bases para a configuração dos produtos industriais.
Tradução: Freddy Van Camp. Rio de Janeiro: Edgar Blücher Ltda, 2001.
SCHMID, Aloísio Leoni. A idéia de conforto: reflexões sobre o ambiente construído.
Curitiba: Pacto Ambiental, 2005.
SEIDEL, Florian. Architecture materials: madera, legno, madeira. Tradução: Bárbara
Santos. Barcelona: LocTeam, 2008.
WILHIDE, Elizabeth. Floors: a design source book. Londres: Ryland Peters & Small, 1997.
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