NÃO TROPECE NA LÍNGUA nº 026
3ª Edição
por Maria Tereza de Queiroz Piacentini *
INDEPENDENTE OU INDEPENDENTEMENTE
Discussão que já deu panos pra manga: pode-se empregar independente como se fosse
independentemente? Da mesma forma, é possível usar breve por brevemente? Paralelo por
paralelamente? Primeiro, é preciso ver como falamos todos os dias:
Saiu rápido.
A senhora pode levar o pano que dá folgado.
Caminhou tão lento...
Falou bonito.
A mais cara tecnologia antienchente foi utilizada pela Teka, que resolveu investir
pesado contra as intempéries.
Breve estarei aí com vocês.
Os motoristas que estacionarem em qualquer Zona Azul sem cartão serão multados
direto.
As palavras grifadas são adjetivos que estão sendo usados como advérbios de modo (modificando
verbos). Isso é normal em português. Na nota nº 28 da Réplica, o então senador Rui Barbosa já
defendia o uso de “independente” – que o gramático Dr. Ernesto Carneiro Ribeiro, em 1902, lhe
havia aconselhado substituir por “independentemente” na redação do Projeto do Código Civil –
“porquanto é muito da nossa língua evitar os largos advérbios em mente, substituindo-os pelos
adjetivos adverbialmente empregados”. E Rui dá exemplos extraídos de “Obras” de Filinto Elysio:
“Fácil se vê. Comeu fino, bebeu largo. Direito se encaminha. Brando o atalha. Sem pranto um
avarento raro acaba. Folgado dançariam nelas quatrocentas pessoas” e também do clássico “Nova
Floresta” do Pe. Bernardes: “procedia mais discreto, portando-se impertinente, pouco nacional
procede, quis portar-se fiel”.
É preciso aceitar que há frequentes casos, remanescentes do latim popular e do próprio latim
clássico, em que o adjetivo – e não o advérbio – é utilizado para exprimir o modo, como por
exemplo: não fale alto; pagou caro; vendeu barato; ande direito; a esperança que corre tão ligeiro.
Observe-se ainda que, quando é usado adverbialmente, o adjetivo fica sempre no gênero neutro,
ou seja, no masculino. Sendo puramente adjetivo, aí, é claro, ele flexiona: saias caras, indivíduos
* Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros “Só Vírgula”, “Só Palavras Compostas”
e “Língua Brasil – Crase, Pronomes & Curiosidades” - www.linguabrasil.com.br
NÃO TROPECE NA LÍNGUA nº 026
3ª Edição
por Maria Tereza de Queiroz Piacentini *
altos, mão direita etc. Desta forma, cabe-nos a escolha entre um e outro modo de expressão nos
seguintes casos:
Ela olhou diretamente/ direto para mim.
Independentemente/ independente de qualquer oferta, pedirei demissão.
A lição foi boa – aprendi fácil/ facilmente.
Desceu solene/ solenemente a rampa do Palácio.
Marina falou pausado/ pausadamente.
Estás enxergando claro/ claramente?
Já no caso de paralelo e diferente, é recomendável o uso, no português escrito formal, da
variação em -mente quando eles introduzem um adjunto adverbial significando “de modo paralelo/
diferente”:
Paralelamente ao debate haverá uma exposição multimídia.
[Ou opte por escrever "Haverá exposição paralela ao debate".]
Diferentemente dos seus avós, o ilhéu agora gosta de ser chamado de "mané".
[Apesar de podermos dizer "Diferente dos seus avós, o ilhéu agora..."]
* Diretora do Instituto Euclides da Cunha e autora dos livros “Só Vírgula”, “Só Palavras Compostas”
e “Língua Brasil – Crase, Pronomes & Curiosidades” - www.linguabrasil.com.br
Download

PDF - Língua Brasil