Textos ficcionais e práticas culturais de portugueses com relação a Santiago de Compostela:
contrastes e homologias
M. Felisa Rodríguez Prado
Grupo Galabra – Universidade de Santiago de Compostela
Resumo
A partir de um corpus limitado de três obras ficcionais de Portugal nas quais surge (o Caminho de)
Santiago e de setenta e nove entrevistas feitas a visitantes portugueses em Compostela, trata-se de
apontar possibilidades de abordagem analítica de corpora extensos e de natureza diversa para
identificar as imagens e as práticas culturais relacionadas com Santiago de Compostela contidas
neles. Tentar-se-á, também, comprovar se (e em que medida) a literatura surge neste caso como
elemento mediatizador da realidade, permitindo estabelecer vínculos ou homologias entre as
representações que nela aparecem e os comportamentos sociais.
Palavras-chave: imagens, textos ficcionais, práticas culturais, Portugal, Santiago de Compostela.
Fictional Texts and Cultural Practices by the Portuguese about Santiago de Compostela: Contrasts
and Homologies
Abstract
Using a selected corpus of three Portuguese fictions about (the Way of) Santiago and another one
composed of seventy-nine interviews to Portuguese visitors to Compostela, this paper focuses on
the possibilities of an analytical approach to a large and varied corpora so as to identify images and
cultural practices related to Santiago de Compostela. Our study intends to decipher whether (and to
what extent) reality is mediated by literary works, in this case, by identifying connections and
homologies among representations and social behaviours.
Keywords: images, fictional texts, cultural practices, Portugal, Santiago de Compostela.
1. Introdução
Este trabalho, realizado no seio do grupo Galabra1 da Universidade de Santiago de Compostela,
enquadra-se no projeto de pesquisa “Discursos, imagens e práticas culturais sobre Santiago de
Compostela como meta dos Caminhos”2, situando-se como um pequeno contributo –em forma de
teste ou primeira aproximação– para o início da fase de estabelecimento de um diálogo contrastivo
entre aquilo que se encontra e é transmitido tanto nos textos literários relacionados com Compostela
como nos depoimentos dos visitantes à cidade, em termos de discursos, imagens e práticas culturais
(sejam estas possíveis ou efetivadas).
O universo de trabalho para o projeto ficou definido à volta de quatro âmbitos geo-culturais, isto é a
Galiza, Espanha, Portugal e Brasil, principais focos emissores (regional, estatal, comunitário e
extracomunitário, respetivamente) de visitantes para Compostela, conforme os dados do Centro de
Estudos Turísticos (CETUR, 2014), e é materialmente alimentado por dous elementos basilares, o
catalogador e o observatório à cidade, que se apresentam a seguir.
O denominado observatório à cidade consiste na elaboração de um corpus de inquéritos (e
1
2
Trata-se de um grupo de pesquisa nos Sistemas Culturais Galego, Luso, Africanos de Língua Portuguesa e
Brasileiro, cuja descrição e trabalhos estão acessíveis em http://www.grupogalabra.com.
Mais informações sobre o projeto, subsidiado pelo Ministerio de Economía y Competitividad da Espanha
(referência FFI2012-35521) e pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER) 2007-2013, encontramse disponíveis em http://www.grupogalabra.com/investigacaoprojetos/99-discursos-imagens-e-praticas-culturaissobre-santiago-de-compostela-comometa-dos-caminhos.html.
entrevistas qualitativas) realizadas tanto a pessoas que visitam a cidade como a comerciantes e a
moradores compostelanos. Focaremos aqui apenas o relativo ao primeiro grupo, isto é, o que diz
respeito aos inquéritos a visitantes3 procedentes dos quatro âmbitos referidos acima, onde têm a sua
residência. Foram feitos ao longo de um ano, todos os dias (inclusive sábados, domingos e
feriados), com uma frequência variável segundo a relevância da data e a configuração dos
calendários galego, espanhol, português e brasileiro. As pessoas foram contatadas na área mais
urbanizada da cidade, sem se limitar exclusivamente ao entorno mais imediato da Catedral, por
membros da equipa treinados na realização de entrevistas e responsáveis pela fixação escrita – cujo
preenchimento demora entre 15 e 20 minutos – das respostas obtidas às perguntas do inquérito,
organizadas nos seguintes grandes blocos: processo de decisão da viagem, imaginário a respeito de
Santiago e da Galiza, usos da cidade de Santiago, meios de informação usados durante a visita,
aspectos ligados à gestão e à organização da viagem e, finalmente, caraterísticas sociodemográficas
do entrevistado. Com o objetivo de minimizar os efeitos de um hipotético conflito intercultural e
lingüístico na recolha de dados, entre as pessoas que fizeram este trabalho de campo encontrava-se
pessoal nativo português e brasileiro.
O catalogador é uma base de dados relacional complexa elaborada ad hoc no seio do projeto e
destinada a recensear, arrumar e disponibilizar os materiais relativos ao corpus documental que vai
ser manejado no decurso da pesquisa, incluindo (1) livros, (2) produtos audiovisuais e (3) páginas
web dos âmbitos de estudo relacionados com Santiago de Compostela e/ou os Caminhos de
Santiago e produzidos desde o ano 2008 até à atualidade4. Neste momento, o recenseamento, já
completo (embora estejam contempladas atualizações) e feito de acordo com procuras
protocolarizadas para cada um dos produtos, através de palavras-chave comuns para os diferentes
âmbitos –“Santiago de Compostela”, “Caminho de Santiago”, “Compostela” e “Galiza”–, ultrapassa
1000 referências. No entanto, a disponibilização de materiais (que tenciona ser completa) encontrase num estádio intermédio, dada a dificuldade de acesso a uma parte deles, por um lado, e
considerando que é preciso tratá-los informaticamente conforme às necessidades de exploração, por
outro lado. Por exemplo, os livros em suporte papel precisam ser submetidos à digitalização para
serem passíveis de tratamento electrónico.
Esta comunicação, que visa estabelecer um diálogo entre materiais portugueses procedentes tanto
do catalogador (nomeadamente, textos literários) como do observatório à cidade (respostas dos
visitantes aos inquéritos), apresenta-se como um teste que, realizando a análise de produtos
específicos do corpus e alimentando-se da reflexão teórico-metodológica do grupo Galabra
vinculada com o estudo dos processos culturais, permita avançar na pesquisa por meio da aplicação
de diversos métodos de tratamento da informação, entre os quais cabe aqui destacar o
Processamento de Linguagem Natural (PLN), técnica de análise textual automática para a
exploração do corpus.
No nosso trabalho queremos mostrar as possibilidades que o PLN oferece para, com o recurso a
sistemas de extração de informação (Gamallo e García, 2012) operados computacionalmente, e
mais exatamente através do trabalho com “palavras chave”, por um lado, e com “expressões
multipalavra”5, por outro, reduzir o volume de corpus extensos de modo a torná-los apreensíveis
através de mecanismos objetivos e objetiváveis. O processo implica a passagem do texto –no caso
das obras literárias, previamente digitalizado e submetido ao reconhecimento óptico de caracteres–,
em formato txt, através de um etiquetador, que o analisa com etiquetas morfossintácticas, para
depois ser submetido à extração, consistente na realização de três tarefas sequenciais: seleção,
filtragem e arrumação.
3
4
5
Importa referir que ficou definido como visitante qualquer pessoa que visita Compostela com uma periodicidade
não inferior a 7 dias, por motivos de lazer ou outros, e independentemente de que se aloje (ou não) na cidade.
Para mais especificações, veja-se o contributo de Roberto Samartim para este XI Congresso da AIL.
Devemos agradecer, neste ponto, a preciosa colaboração dada pelo colega Pablo Gamallo, docente e investigador
da USC, integrante do Grupo para o Processamento da Linguagem Natural.
A tarefa de seleção, quando se extraem palavras chave, é feita por lemas, dentre todas aquelas
formas etiquetadas como N=nome, A=adjetivo e V=verbo, quer dizer, formas com conteúdo
essencialmente lexical (de tal modo que ficam postas de parte as formas com conteúdo
fundamentalmente gramatical, isto é, preposições, determinantes, advérbios e conjunções), cabendo
destacar que o sistema seleciona os nomes próprios, mesmo aqueles constituídos por mais de uma
forma (p.ex. “Caminho de Santiago”). No caso das expressões multipalavra, o sistema considera
candidatos a serem termo multipalavra todas aquelas expressões que aparecem em vários padrões
de etiquetas morfossintácticas (p.ex. N-A, A-N, N-N, N-Preposição-N).
A tarefa de filtragem consiste na seleção, por parte do sistema, daqueles lemas e daquelas
expressões que ocorrem no corpus com frequência superior a um dado patamar (freq=1, por
omissão).
Finalmente, a tarefa de arrumação consiste na organização das respetivas listagens por meio de
procedimentos estatísticos e em contraste com um corpus de referência6.
Assim, usando os resultados devolvidos pelo sistema após o tratamento para obtenção das palavras
chave e das expressões multipalavras, procederemos a comparar um corpus documental e um outro
de entrevistas, a fim de detetar em que medida e de que formas podem ligar-se os discursos
culturais com os reais, identificando as possíveis (des)coincidências entre as ideias e as práticas que
aparecem nos textos e as expressas pelas pessoas inquiridas durante a sua visita à cidade de
Compostela.
2. Corpus ficcional português
O levantamento do corpus de livros foi feito de acordo com as balizas cronológicas do projeto,
estabelecidas entre 2008 e a atualidade a fim de abranger um período ao mesmo tempo recente, para
observar tendências atuais, e suficiente, para determinar o (não) impacto da ocorrência do Ano
Santo Compostelano 2010. No caso das obras portuguesas, consistiu na procura daquilo que foi
(re)editado em Portugal e em português, desde o ano 2008, incluindo tematicamente o Caminho de
Santiago e/ou Santiago de Compostela. Foi feito seguindo um protocolo que marcava, para todos os
âmbitos, a pesquisa de “Santiago de Compostela”, “Caminho de Santiago”, “Compostela” e
“Galiza” por palavra-chave e por palavra no título nas bases de dados das bibliotecas nacionais – no
caso, a Biblioteca Nacional de Portugal; depois era complementada pela procura feita noutras
bibliotecas subsidiárias – tendo-se usado a Porbase, que é o catálogo colectivo em linha das
bibliotecas portuguesas, e a biblioteca do Congresso dos EEUU – e, ainda, na base de dados de
Worldcat; finalmente, a mesma pesquisa foi realizada em diversas livrarias portuguesas em linha
(nomeadamente, Bertrand, Wook, Leya, Fnac, Culturminho e Apolo 70). O processo de
levantamento foi inicialmente feito em folhas de cálculo e fechado em 26 de março de 2014,
aquando da exportação dos registos para um catalogador especificamente desenhado em função das
necessidades da pesquisa, tendo como resultado, na secção de livros do âmbito português, mais de
quarenta referências, quer no formato tradicional de papel (a maioria), quer em forma de e-book (5).
Para esta comunicação, enquanto primeira aproximação ao corpus documental lusitano, optou-se
por fazer uma abordagem nao exaustiva, mas sim representativa, do produto livro. Assim,
selecionaram-se as obras de ficção, entendendo que o contraste entre os discursos contidos nelas e
6
De acordo com Gamallo (2014), para as palavras chave, os lemas são filtrados mediante uma estatística chiquadrado entre os dados observados no corpus e os dados estimados num corpus de referência, o que resulta numa
listagem de lemas de maior a menor peso (para cujo cálculo foram utilizados os valores obtidos a partir da
comparação estatística entre os dados do corpus analisado -isto é, ocorrências observadas- e um corpus de
referência – quer dizer, ocorrências estimadas). Tratando-se das expressões multipalavra, o sistema procede a fazer
uma organização da listagem de maior a menor utilizando uma medida de associação estatística, à escolha entre
cinco possíveis: simples coocorrências (cooc), loglike (log), chi-quadrado (chi), informação mútua (mi) e SCP
(scp).
os dos visitantes reais podia oferecer mais possibilidades do que com os guias de viagem ou as
obras de história e de espiritualidade. Dentro da ficção, considerando prioritário confrontar
discursos produzidos por portugueses, retiraram-se as quatro edições diferentes que teve, no período
em apreço e em Portugal, o Diário de um mago do brasileiro Paulo Coelho, bem como as traduções
para português do romance de sucesso Tarnished beauty (2008) da americana Cecilia Samartin
(cabe sublinhar que se trata da mesma obra e idêntica editora, Vogais, mas aparece com dous títulos
e capas diferentes: em 2010 como Don Peregrino e em 2012 como Beleza atormentada) e dos
romances El ángel perdido y La huella del hereje dos autores de best-sellers espanhóis Javier Sierra
e Susana Fortes, ambos thrillers de 2011, editados no ano a seguir em Portugal (O anjo perdido,
com a chancela de Planeta Manuscrito e A marca do herege, com a da Porto Editora).
Posteriormente, procedemos a identificar aqueles relatos de viagens e de aventura que, enquanto
diários de experiência(s), marcados pela auto-referencialidade, pelo fragmento autobiográfico e por
uma estreita relação entre ficcionalidade e referencialidade, constituem um “género difuso, híbrido,
escurridizo, cuya misma naturaleza invita a una aproximación desde una diversidad de
perspectivas” (Albuquerque-García, 2011), podendo mesmo ser considerados como “não ficção”.
Para a identificação destas obras e dado que se trata de textos bastante recentes, perante a escasseza
ou ausência de catalogações bibliotecárias e a falta de contato direto com uma parte dos títulos,
ficou estabelecido o recurso às informações editoriais acessíveis, quer em forma de sinopse
(divulgada pela própria editora ou através das livrarias em linha) quer através de quaisquer outros
elementos presentes na publicitação das obras (p.ex. classificação genérica ou temática, lemas
publicitários, considerações críticas, textos incluídos nas badanas, teasers ou book-trailers). Assim
sendo, pelo caráter ensaístico que amiúde lhes é atribuído e pela consideração que merecem de
reportagem, diário ou guia, a afastarem os textos do ficcional, foram desconsideradas as seguintes
obras:
- Eu, português impuro – No Caminho Francês de Santiago (2008) de Joaquim Figueiredo,
editorialmente classificado como ensaio e apresentado como “o testemunho que instrui e distrai,
descrevendo sem fantasia, mas com bom ritmo e sedução, as boas e as más experiências do autor e
do casal brasileiro que o acompanhou no percurso, também conhecido por Caminho das Estrelas” e
destacando, ainda, que nela constam elementos que “muitas outras obras sobre o percurso
pretensiosamente ignoram”, de tal modo que o relato se torna “um autêntico conselheiro e guia
prático para quem deseja peregrinar a Santiago de Compostela”;
- Ultreya, nos caminhos de Santiago (2009), assinada por João Ferreirar – na verdade, João Ribeiro
–, é uma edição de autor, classificada como crónicas ligadas ao catolicismo, cuja apresentação
destaca o caráter de testemunho da peregrinação: “Fazer o caminho de Santiago é uma experiência
única que nos abre à felicidade. Na viajem [sic] deste livro não se chega a Santiago, antes a uma
etapa intermédia, Burgos, com a firme esperança de retomar o Caminho até ao objectivo final”;
- Alguma dor cura a alma (2012), do jornalista Carlos Ferreira, que aparece com o rótulo de
biografia – portanto, ensaio – atribuído pela editora, ligando o Caminho Português para Santiago e o
Caminho de Fátima como vias de peregrinação para os dous principais santuários peninsulares (e,
ao mesmo tempo, como geradores de negócios), é apresentado enquanto “livro-reportagem” que
conta “a história dos caminheiros e de um jornalista que palmilhou os seus destinos”;
- Diário dos caminhos de Santiago (2013), incluído no catálogo de prosa da editora, remete, através
do próprio título, para uma forma convencional de fixação escrita das vivências, de tal modo que o
destaque editorial vai para o que consideram particularidade da obra: “Num registo invulgar, de
uma forma leve, bem humorada e repleta de pormenores de requinte, o autor Abílio Machado relata
as suas experiências nos caminhos: Português, Aragonês, Inglês, de Finisterra, de Navarra e
Prisciliano”;
- O Caminho português (2013) é apresentado como o relato da “fascinante história de Marjori
Lotufo em sua peregrinação a Santiago de Compostela”, onde a “vivência dos históricos caminhos”
surge imbricada com “as experiências espirituais”, que compartilha publicamente “abrindo seu
diário”;
- O recentemente lançado Bom Caminho (2014), de Fausta Cardoso Pereira, aparece caraterizado
como “diário de bordo”, enquanto narrativa pessoal de uma peregrina que percorreu o Caminho
Português tanto de bicicleta como a pé, e contou com um convite editorial para o lançamento da
obra feito nestes termos: “Bom Caminho – Um relato na primeira pessoa da experiência
transformadora do Caminho Português de Santiago”7.
Acabaram, portanto, por ser selecionadas para efetuar o trabalho que agora apresentamos as únicas
três obras que aparecem editorialmente identificadas como ficcionais e se encontram diretamente
relacionadas com Santiago, Compostela e o Caminho de Santiago (que abreviaremos CS), através
do título e/ou da sinopse. Arrumadas cronologicamente, elas são:
- a novela A caminho de Santiago (2010) de Ana Saldanha (Porto, 1959 - ), que apareceu em
formato papel e e-book fazendo parte do catálogo da Editora Caminho, do grande grupo editorial
lusitano Leya8. Trata-se do terceiro número da coleção “Vamos viajar” numa segunda edição,
revista e alterada a respeito da primeira, datada de 19959, contando com um novo ilustrador (Pedro
Brito) e em cuja capa surge a protagonista adolescente tocando uma gaita de foles. Está destinada a
um público juvenil – “leitores medianos”, conforme rótulo da Casa da Leitura, que a coloca na área
Temática “Aventuras, Viagem, Geografia, Mistério, Amizade, Humor”10. Foi uma das primeiras
obras publicadas pela autora, que com mais de trinta livros infanto-juvenis editados se tornou uma
produtora portuguesa especializada e de grande sucesso neste tipo de narrativas, “uma das vozes
mais seguras e promissoras do panorama português contemporâneo”. Vários dos seus títulos são
considerados best-sellers e muitos encontram-se incluídos nas listagem de obras recomendadas do
projeto Ler+ para o âmbito escolar desenvolvido pelo governo português através do Plano Nacional
de Leitura. O motor diegético da história é a viagem, neste caso a Santiago de Compostela, de um
grupo de oito pessoas no qual se incluem três gerações de uma familia, vários amigos adolescentes
e um cão. A obra, de 90 páginas, conta com ingredientes (como o humor, o registo coloquial e os
diálogos vivos) e com um esquema narrativo (de acção pontuada de mistério e suspense)
semelhantes aos outros volumes da coleção, alguns dos quais são por vezes referidos. Parece
provável que a iniciativa de retomar editorialmente em 2010 A caminho de Santiago (em diante
ACS), que apresenta um roteiro de visita à capital galega não seja casual, mas esteja ligada à data,
momento de celebração do mais recente Ano Santo.
- O segredo de Compostela (2013) de Alberto S. Santos (Paço de Sousa - Penafiel, 1967 - )
lançado pela Porto Editora no mês de maio e tendo ocupado logo o sexto lugar no topo de vendas
portuguesas11, é, com perto de 500 páginas, o terceiro romance de um conhecido político, homem
de cultura e produtor lusitano que desde a sua estreia, em 2008, com A escrava de Córdova (já na
quinta edição, com mais de 20.000 exemplares vendidos12) ganhou um grande sucesso. O êxito,
confirmado com A profecia de Istambul (2010), levou-o a ultrapassar de longe vendas de 50.000
exemplares, situando-o como um dos atuais fabricadores de best-sellers nacionais, graças ao cultivo
7
http://www.planeta.pt/agenda/lancamento-de-bom-caminho-de-fausta-cardoso-pereira (13.03.2014).
A obra também se encontra, em edição digital de formato ePub, entre os produtos de Leya Brasil, conforme pode
comprovar-se em http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4889805?PAC_ID=127108 (13.03.2014).
9
Foi editada, na altura, pelo selo Campo das Letras e contava com abundantes ilustrações de Fernando Oliveira.
10
http://195.23.38.178/casadaleitura/portalbeta/bo/portal.pl?pag=sol_lm_fichaLivro&id=2435 (13.03.2014).
11
Conforme consta da listagem de “Os mais vendidos de 20 a 26 de maio” publicada pelo jornal Expresso.
04.06.2013. Disponível em http://expresso.sapo.pt/os-mais-vendidos-de-20-a-26-demaio=f811777#ixzz2zLrg9xXm (13.03.2014).
12
Para isto terá contribuído, sem dúvida, o fato de se ter convertido em livro recomendado no Plano Nacional LER+
para os 10º, 11º e 12º anos.
8
do romance histórico. Na mesma trilha, O segredo de Compostela (em diante, OSC), disponível
também como e-book e já reeditado em 2014, representa o desafio às histórias oficiais, ao situar os
restos Prisciliano no túmulo de Compostela e interrogar-se a respeito do sentido atual das
peregrinações, tendo sido objeto de forte campanha publicitária, cujo impato pode medir-se pela
destacada presença nos media: desde a escolha, através de uma votação no Facebook, da capa, até
às diversas entrevistas televisivas ao autor (só entre meados de maio e de junho no Porto Canal, na
SIC, na TVI, na RTP1 e na RTP2), passando pelas numerosas resenhas de que foi objeto.
- Entre o silêncio das pedras (2013) de Luís Ferreira (Barreiro, 1970 - ) veio a lume com a
chancela da modesta Esfera do Caos e é a primeira obra de ficção do autor. No texto editorial fica
destacada, publicitariamente, a sua dupla vertente, de romance que nos leva a percorrer “o lendário
Caminho de Santiago” e de “lição de vida”, “mensagem de fé” e “incitamento à descoberta do
melhor que há em nós”. Ao longo de 340 páginas, a narrativa é construída em torno a duas
personagens principais, uma masculina e outra feminina, cujos percursos paralelos vão encontrar-se,
entrecruzando-se até ao envolvimento sentimental, enquanto trilham o Caminho Português, numa
experiência decisiva para (a mudança d)as suas vidas. Também definido como “um livro de
histórias dentro da história”, foi apresentado por vez primeira em Alcochete – local no qual reside o
autor e, coincidentemente, o protagonista – em novembro de 2013 e, depois de um dilatado percurso
por espaços portugueses13, chegou a ter um lançamento em Compostela no dia 1 de março de 2014,
agendado numa clássica livraria da cidade, no centro histórico, em plena Praça de Cervantes, onde
se anunciou a comercialização da obra, para breve, através de uma editora brasileira. No ato
participou um reconhecido escultor compostelano, conforme ficou registado pela imprensa, que
noticiava deste modo: “Luis Manuel Ferreira presentó en la librería Couceiro su libro Entre o
silencio das pedras, con el Camino de Santiago como escenario de emociones, vida y
descubrimiento personal. Representantes de Esfera do Caos Editores y el escultor Cándido Pazos
acompañaron a Ferreira en el evento literario”14, sem apontar as ligações de Pazos com o brasileiro
Paulo Coelho15.
Para a abordagem das obras selecionadas, aplicou-se PLN submetendo o(s) texto(s) ao programa de
software livre PERL para obter as palavras-chave, devolvidas automaticamente numa listagem
organizada em função da frequência e relevância das mesmas, dentro do próprio texto e em relação
com um corpus de contraste constituído pela Wikipédia em português.
Procedeu-se, primeiro, à extração de informação das respetivas sinopses, que pela reduzida
extensão apenas se prestam à obtenção de palavras chave; no caso, extraíram-se 20 relativas a cada
obra, sendo que no conjunto destaca avultadamente “Santiago”, conforme se vê graficamente infra.
13
14
15
Dele dá conta Luís Ferreira através de https://www.facebook.com/events/441755282601687/ (11.04.2014).
La Voz de Galicia. 02.03.2014.
“Cándido Pazos trabaja en un proyecto con Paulo Coelho”. Faro de Vigo. 05.07.2013. Disponível em
http://www.farodevigo.es/portada-deza-tabeiros-montes/2013/07/05/candido-pazos-trabaja-proyectopaulo/840697.html (03.03.2014).
Palavras chave das sinopses dos 3 textos ficcionais
Numa observação diferenciada, o uso analítico das cinco primeiras (do total de 20) ocorrências
permite-nos identificar logo focalizações diversas nos diferentes textos. Assim, em ACS
identificamos a primazia da cidade de Santiago, o destaque da narradora-protagonista adolescente e
os elementos de mistério introduzidos na viagem, caraterizada, não pacificamente, como de
peregrinação; já para o romance histórico OSC colocam-nos perante o protagonismo de Prisciliano,
a ligação dele com o lugar de Compostela e a abundância de elementos históricos e relativos à
religião cristã; no caso de ESP é o CS, enquanto prática contemporânea, que ocupa
significativamente o primeiro lugar, seguido de “Idade_Média”, a remeter para o peso atribuído aos
apontamentos históricos neste romance, e o nome do protagonista, ainda com “redescoberto,
trilhar” que tanto se referem ao percurso real das personagens pelo CS como ao conhecimento (ou
mesmo auto-conhecimento) que por essa via vão ganhando.
ACS
Santiago
Cláudia
Misterioso
Soar
Peregrinação
OSC
Prisciliano
Compostela
História
Santiago_de_Compostela
Cristandade
ESP
Caminho_de_Santiago
Idade_Média
Pedro_Marques
Redescoberto
Trilhar
Palavras-chave (primeiras 5) de cada uma das sinopses dos textos ficcionais
A seguir, foram processados os textos completos, para deles se retirarem tanto as palavras chave
(100) como as expressões multipalavra (200). Atendendo às limitações de tempo e de espaço,
apresentaremos apenas o relacionado com as primeiras, a começar pelo devido destaque, em
primeiro lugar, para o menor número de ocorrências de “Santiago”, que perde a centralidade em
favor de termos relacionados com a religião, a peregrinação e mesmo com Portugal.
Palavras chave dos 3 textos ficcionais completos
Singularizando as palavras chave por obras, cabe dizer que em ACS pode identificar-se, para além
de Santiago de Compostela (à par com Jerusalém, em relação com peregrinação e Igreja Católica) e
a Galiza, a presença de abundantes localidades portuguesas (com destaque para o Porto, Barcelos,
Braga, Ponte de Lima, Valença) que se correspondem, basicamente, com os lugares de passagem e
paragem no percurso feito de carro, referências que remetem para o passado (p.ex. dom, História,
Idade Média), mas também elementos relacionados com a alimentação, particularmente doces
(sobretudo chocolate), com a música e/ou a fala galegas (Milladoiro, celta, música, gaita; Xelmirez,
xelado, Quedache, pantalóns) e, ainda, os armazéns “El Corte Inglés” de Vigo, espaço para compras
de roupas, e o “Guia” ou “Caminhos Portugueses” de peregrinação a Santiago, leitura (in)formativa
que surge em diversos momentos e lugares da viagem.
Palavras chave de ACS
Relativamente a OSC, as primeiras ocorrências identificam a dupla (religiosa e também amorosa)
protagonista, Prisciliano e Egéria – à qual se vão somando até uma vintena de personagens,
históricas ou inventadas –, enquanto a seguir abundam referências próprias do século IV a diversos
aspetos da organização política e social (p.ex. ministro, imperador, governo, villa, corte, templo,
mercado) nos territórios representados através dos topónimos latinos, entre os quais Hispânia,
Galécia ou Aseconia (este último dizendo respeito à atual Compostela); cabe apontar, ainda, a
presença de termos ligados à religião, com particular destaque, conforme ilustra a seguir a nuvem
de palavras, para Deus.
Palavras chave de OSC
Em ESP os primeiros resultados remetem para o “peregrino” e a sua prática (p.ex. caminho,
caminhar, peregrinação, pausa), mas também para os elementos do seu quotidiano (albergue,
mochila, vieira, fonte, carimbo, seta, direção, credencial). Santiago, Caminho de Santiago e
Compostela surgem, do mesmo modo que –nesta ordem– a localidade galega de Tui e as
portuguesas Lisboa, Ponte de Lima, Valença e Alcochete; há escassas ocorrências a referir a
alimentação e algumas relativas à natureza (p.ex. sol, brisa, céu) mas cabe destacar o peso dos
termos a marcar o relacionamento com as pessoas e os objetos através da acção, nomeadamente o
olhar.
Palavras chave de ESP
Observa-se, portanto, como os resultados procedentes das sinopses, com Santiago e/ou CS em
destaque, se complementam, graças ao processamento dos textos completos, no caso das ficções
ambientadas na contemporaneidade, com referências portuguesas –fundamentalmente topónimos
que marcam a procedência ou o percurso de deslocação das personagens, em ambos os casos em
direção Sul-Norte ou Portugal-Galiza–, alargando-se depois, de modo coincidente, com alguns
elementos gastronómicos –embora diversos– e, de modo divergente, com elementos que
representam a cultura galega em ACS e a cultura do Caminho em ESP.
3. Corpus de inquéritos a visitantes portugueses
A recolha de dados através do inquérito a visitantes, no quadro do Observatório, com duração de um
ano e ininterrupta, teve como resultado, para o âmbito português, a realização de 384 inquéritos a
pessoas residentes em Portugal, que é, dentre os países comunitários, aquele que contribui com o
número mais elevado de visitantes a Santiago16. No entanto, para a aproximação que agora
propomos e porque uma das necessidades de avanço na pesquisa é fazer a sondagem do material
com o qual trabalhamos em fases consecutivas, foi selecionado o trimestre que decorreu entre os
dias 23 de abril e 26 de julho de 2013, do qual se trabalharam um total de 79 entrevistas
correspondentes ao âmbito português.
As respostas oferecidas pelos entrevistados foram primeiro recolhidas em suporte papel e depois
convenientemente codificadas, em folhas de cálculo. Mais tarde, foram colocadas em formato txt
para serem submetidas a diversos métodos de tratamento de dados –com o fim de se proceder ao
trabalho de análise–, o primeiro dos quais consistiu em reunir todas as respostas de cada um dos
quatro âmbitos isoladamente para a extração de palavras e expressões através do PLN. A seguir
colocam-se, a título ilustrativo, os primeiros vinte resultados do processamento conjunto dos 79
inquéritos respondidos por visitantes portugueses:
PALAVRAS-CHAVE
Catedral
Não_Responde
Não_Sabe
Santiago_de_Compostela
Não_Procede
Praça_do_Obradoiro
Santo
Portugal
Ponte_Vedra
Santiago
Peregrino
Caminho
Vigo
Passear
Tui
Catedral
The_Way
Padrão
Pulpo+
Igreja
EXPRESSõES MULTIPALAVRA
Centro histórico
Volta de Catedral
Posto de turismo
Fim de rota
Prato de dia
Zona velha
Gaita de foles
Licor café
Missa de peregrino
Encontro de coros
Paz de espírito
Galegas fim
Parte velha
Estação de autocarros
Localidades galegas
Casco+ histórico
Cultura portuguesa
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Boa qualidade
Cidade religiosa
Resultados (20 primeiros) do inquérito a 79 visitantes portugueses
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Conforme os dados do CETUR (2014), esta afirmação é válida para os anos 2008 (representando 5'3% do total),
2010 (subindo, por ocasião do Ano Santo, até 9,3%) e 2011 (6'8%), mas não se cumpre em 2009 nem em 2012, em
que a Alemanha (com 5,3% e 9,5%, respetivamente) se tornou o principal foco emissor europeu de visitantes para
Compostela, coincidindo com momentos de quebra da procura portuguesa (3'8% e 4,1%).
Cabe apontar, logo à partida, que as primeiras ocorrências tanto de palavras como de expressões
servem para confirmar a identificação (e o uso) que os portugueses fazem da cidade com o ícone
que é a Catedral –ainda referida como Igreja e Basílica de Santiago– e com as áreas adjacentes. A
dimensão do fenómeno aparece reveladoramente na gráfica a seguir, onde se visualizam as
respostas dos portugueses entrevistados a respeito dos lugares que visita(ra)m em Compostela:
Lugares visitados em Santiago por 79 portugueses
Nas palavras chave o primeiro resultado, a Catedral, surge logo acompanhado pela Praça do
Obradoiro, a que depois se unem outros lugares de Santiago (Alameda, Rua do Franco, Av. João
XXIII, Cidade da Cultura, Rua de S. Francisco, Praça da Quintana, Rua do Vilar e Monte do Gozo)
que nos situam no entorno imediato da catedral, por um lado, no acesso à cidade dos peregrinos
vindos do oeste, por outro, e, ainda, dá o destaque para a mais nova referência – arquitetónica e não
só – situada no Monte Gaiás, a Cidade da Cultura. Na sequência, destacam as citações de lugares da
Galiza, lideradas por Santiago de Compostela e incluindo seis das sete cidades galegas (apenas falta
Lugo), bem como lugares significativos de passagem do CS Português (de Sul a Norte, Tui, na
fronteira, Redondela e Padrão, onde costuma iniciar-se a última etapa) e referências costeiras
ligadas com o turismo de sol e praia (Samil, São Genjo e Oleiros). O terceiro bloco significativo de
ocorrências é o relacionado com os peregrinos, o Caminho (também Caminho de Santiago e
Caminhos ou, singularizados, Caminho Francês e Caminho Português) e os objetos e atividades
caraterísticas (p.ex. o filme The Way, a “Oficina” do Peregrino, vieira, a Compostela). Em quarto
lugar, agrupam-se os elementos que dizem respeito à gastronomia, desde pulpo e mexilhão até
bocadillo, com resultados que remetem fundamentalmente para produtos que podem ser
identificados com a Galiza, de modo geral (p.ex. os mariscos, o vinho Alvarinho, o caldo galego, o
queijo de tetilla ou o licor-café) ou pela sua procedência específica (os pimentos de Padrão, a torta
de amêndoa de Santiago), ao lado de outros que coincidem com modos, produtos ou práticas
comuns no conjunto da Espanha (p.ex. tapas, paelha, tortilha, cañas).
De modo mais visual, o acima afirmado pode conferir-se nesta gráfica que integra os resultados da
extração das palavras chave e das expressões multipalavra:
Palavras chave (100) e expressões multipalavra (200) do inquérito a 79 visitantes portugueses
No caso das expressões multipalavra, o protagonismo é, em primeiro lugar, para os elementos da
parte central e mais antiga da cidade, agregados coletivamente através de diversas denominações
(p.ex. cidade velha, casco histórico), e desagregados em “rua de lojas”, “ruelas estreitas” ou “ruas
principais”, que são aquelas que constroem a imagem de “ambiente medieval” e “cidade pequena”,
mas também o cenário para a “vida noturna” e a “animação noturna”, onde se encontram os “locais
de tapeo”. As práticas e os produtos relacionados com a alimentação têm presença significativa,
quer em forma de “prato do dia”, “menu do peregrino” ou “buffet livre”, quer através da citação do
licor café, o caldo galego, os pimentos de Padrão, o bolo de amêndoa, o polvo à galega, o cozido
galego e “variedade de mariscos”, avaliados positivamente (“boa qualidade”, “boa comida”).
Embora menos numerosas, também ocupam lugar de destaque as práticas correspondentes à “cidade
religiosa”, como a missa do peregrino, o abraço ao Santo, a imagem do Santo ou a aquisição de
lembranças religiosas, bem como as referências exatas a locais de serviços aos quais os visitantes
recorreram, como o posto de turismo, a estação de autocarros, o estacionamento de autocarros, o
“posto do peregrino” ou a estação de comboios. Cabe ainda referir a ocorrência, enquanto vias de
acesso à informação, de “coisas youtube”, “guia turístico” e “guia de excursão”. O que resulta mais
novidoso, com respeito aos resultados obtidos nas palavras chave, é a presença bastante destacada
de elementos lusitanos, explicitados em “cultura portuguesa”, “norte de Portugal”, “rota do
Caminho Português da Costa”, “proximidade com Portugal”, “semelhanças com Viseu” e
implícitos, por comparação, em “semelhanças com cultura”, “proximidade linguística”,
“proximidade cultural”, “cidades semelhantes”, a contemplar e a avaliar relacionalmente Santiago
de Compostela (considerada “bom resumo” e “resumo da Galiza”), com algum tipo de
continuidade/contiguidade galego-portuguesa17. Também, e talvez conetada com o anterior, surge a
valorização da população local, em forma de “simpatia de pessoas” e “simpatia de gente” ou de
“povo direto” e “povo frontal”.
Outra possibilidade de exploração do corpus de entrevistas, para o que nos ocupa, vem dada pelo
fato de o inquérito, de caráter quantitativo (embora com um elevado número de perguntas abertas),
conter perguntas específicas a respeito do consumo de produtos culturais relacionados com Santiago
17
Este aspeto é explorado pela colega Raquel Bello Vázquez no seu contributo para este Congresso.
de Compostela, seja ele prévio à visita ou feito durante a mesma. As respostas recolhidas aparecem
como especialmente adequadas para atender um dos objetivos marcados no projeto, que é
estabelecer a relação entre a produção literária e cultural e as imagens que transmitem aos
consumidores. Assim, interrogadas a respeito de se leram algum livro ou viram algum filme sobre o
CS ou Santiago de Compostela, as pessoas portuguesas que responderam positivamente referiram
de modo maioritário o consumo de textos, entre os quais destacava Diário de um mago que,
conforme mostrou Torres Feijó (2011), elaborou um dos três discursos de alcance internacional
sobre Santiago de Compostela e o CS, o místico-esotérico, ao qual se somam o fundamentalmente
religioso da Igreja Católica e o eminentemente cultural(ista) fixado por organizações internacionais
como a UNESCO e o Conselho de Europa. Também, e mesmo com número mais elevado de
citações, aparece o filme The way, mas importa referir que tanto num caso como no outro é elevada
a percentagem de visitantes portugueses que mostra a ausência de coincidência entre a imagem de
Santiago que se apresenta nestes produtos e a que eles próprios têm (fundamentalmente, pelo
caráter místico, num caso, e pela escassa presença da cidade ou pela apresentação exclusiva do
Caminho Francês, no outro).
4. Discussão
À hora de procurar contrastes e homologias dos resultados obtidos através do PLN e para identificar
os possíveis desvios e coincidências a respeito das imagens e das práticas nos corpora, aplicaremos
uma classificação elaborada a partir do artigo de Torres Feijó (2012) “Interesses culturais e âmbitos
receptivos em dous romances sobre o Caminho de Santiago: Frechas de Ouro e O Enigma de
Compostela”, na qual foram definidos os que, no âmbito do projeto, denominamos “parâmetros da
cultura”, fixados como instrumento analítico para o grande bloco material da pesquisa contido no
catalogador, composto por materiais textuais, audiovisuais e virtuais sobre Santiago ou o CS. Estes
parâmetros da cultura são: espaço e paisagem (incluindo paisagem humana, natureza, clima),
lugares da Galiza, CS, Santiago de Compostela e lugares da cidade (em singularizações
particularmente rendíveis para os objetivos visados), história (onde se contemplam tanto história e
tradições como património material, política e história contemporânea), hábitos e costumes
(reunindo idiossincrasia, modos de vida, gastronomia, economia), identidade (em forma de vínculos
interterritoriais ou de identidade diferencial), língua (sem subparametrização), afetividade (em
forma de raízes e origens ou de relações pessoais), espiritualidade (contendo religião,
espiritualidade, esoterismo, mistério).
Cabe sublinhar, assim, que os resultados “Santiago” e “CS”, em destaque evidente, se
complementam em ambos os corpora com referências portuguesas, mas de modo diverso: nos
textos de ficção estas surgem entre as palavras chave e são sobretudo topónimos (portanto,
incluídos no segundo dos parâmetros) relacionados com a procedência ou os trajetos das
personagens, em boa parte coincidentes com localidades de passagem no CS; nos inquéritos, porém,
aparecem de modo mais volumoso nas expressões multipalavra e em forma de vínculos
interterritoriais, dentro do parâmetro da identidade.
Por outro lado, os elementos gastronómicos, incluídos no parâmetro de hábitos e costumes, têm
grande peso nos resultados do corpus de inquéritos, com importante presença do que são
consideradas especialidades locais compostelanas – como a torta de amêndoa – e galegas – p.ex.
mariscos – mas, também, de peculiaridades que de forma alargada ficam associadas à Espanha, quer
seja enquanto práticas diferenciadas – do tipo das tapas ou cañas –, quer seja pela ocorrência da
designação em língua castelhana – p.ex. bocadillo (isto é, sandes). O mesmo já não acontece, nem
em número de elementos nem na relevância deles, no caso dos resultados obtidos do corpus
ficcional, embora nos textos de que partimos haja importantes diferenças, tanto do ponto de vista
quantitativo como qualitativo, na presença de aspetos relacionados com a alimentação: desde as
escassíssimas ocorrências, em parte justificadas pelo rigor ascético das práticas priscialinistas, de
OSC, até à referência a uma “peregrinação gastronómica”, em palavras do diário da adolescente que
reflete a viagem de ACS, passando pelas pormenorizadas descrições ou abundantes referências que
se identificam em ESP.
Abundam os aspectos de conexão e possível diálogo entre os corpora que não vieram à superfície
pelo procedimento aplicado ou cuja dimensão mal pode ser avaliada através dos resultados
devolvidos pelo PLN, alguns dos quais passamos a referir:
- ter visitado Santiago em mais de uma ocasião (ou tencionar uma nova visita), representando a
prática de uma percentagem destacada dos visitantes reais e nem sempre ligada a uma finalidade
religiosa ou de peregrinação, está também presente tanto na novela juvenil como no romance que se
ambienta no CS, obras nas quais se revela um conhecimento relativo quer da cidade quer da Galiza;
- também cabe assinalar que os espaços compostelanos referenciados literariamente no corpus
selecionado são bem mais reduzidos do que os citados pelos visitantes reais, quer pelo número, quer
pela concentração na catedral e no entorno imediato: em ACS um hotel sem identificar, a Praça das
Pratarias e as “ruas das lojas” e em ESP a “Oficina do peregrino” e a rua na qual se encontra (sem o
nome exato, Rua do Vilar), bem como a Praça do Obradoiro e a estação de autocarros, e em ambos
os casos surgem referências à visita à catedral, com certo pormenor, e ao uso de locais para petiscar
(sem singularizar nomes); já no best-seller histórico OSC, no qual apenas os capítulos inicial e final
se ambientam numa Compostela dos finais do séc. XIX, aparecem figuras históricas reais e outras
ficcionais movimentando-se entre a Sede episcopal, a Praça do Obradoiro e a Catedral;
- têm elevado interesse aquelas respostas em que as pessoas portuguesas inquiridas emitem, de uma
forma direta ou explícita, uma relação do seu país com a Galiza, uma singularização ou uma
diferenciação da Galiza, dado que estes são aspetos que ocupam um espaço não idêntico nem
homogêneo, mas sim significativo nos textos ficcionais visados. Em ACS isso acontece de modo
mais marcado através da história passada comum, mediante a apresentação figuras históricas e
mesmo elementos da tradição literária galaico-portuguesa (nomeadamente uma cantiga de amigo), e
por meio de uma ênfase especial nos aspetos (socio)linguísticos que tanto aproximam como afastam
a prática galega da portuguesa (e, ainda, da espanhola ou castelhana); mas também não faltam
ocorrências que classificamos dentro do parâmetro da afetividade, encenando um diálogo de
proximidade entre jovens portugueses e galegos que estabelecem relacionamentos de amizade e de
troca cultural. OSC, apesar de alinhar na combinação de vários dos elementos fortes do repertório
(doses de esoterismo, procura espiritual, mistério, ocultação e magia) no sucesso de outros bestsellers contemporâneos internacionais – que, conforme assinala Torres Feijó (2014), informam de
gostos dominantes e podem, potencialmente, condicionar a receção de textos ou a interpretação de
fenómenos históricos –, apresenta, ao mesmo tempo, a vontade do autor, explicitada de forma
estratégica nas duas páginas finais da obra, sob o rótulo de “Agradecimentos”, de “contar histórias
que tocam ângulos menos conhecidos da nossa identidade” (Santos, 2013), onde o possessivo
remete diretamente para Portugal mas indiretamente para o noroeste peninsular, que aí mesmo
convoca para colocar a hipótese de ainda hoje a espiritualidade (comum e peculiar) dessa área se
encontrar marcada pelo priscilianismo; assim sendo, a ambientação centrada na Galécia romana,
que em tempos reunia a atual Galiza e o Norte de Portugal, e o protagonismo conjunto dado a duas
figuras excecionais e esquecidas (ou apagadas), Prisciliano e Egéria, servem para encenar raízes
históricas de aspetos identitários definidos não apenas por uma posição geográfica ou um certo
continuum da natureza, mas também pelos fluxos de comunicação.
Enfrentamo-nos a corpora diferentes, mas mais do que o seu caráter formal diferente é a
disparidade no grau de afinamento de ambos (isto é, a dispersão do corpus ficcional e a
concentração do corpus de inquéritos) que coloca mais problemas ou limitações à abordagem
testada neste trabalho. O fato de, no caso do inquérito, se terem elaborado perguntas para a
obtenção – quer direta, quer indireta – de informações focalizadas para Santiago de Compostela (e a
Galiza) alia-se com/ao caráter sintético das respostas e ao alto grau de concreção nas referências
obtidas dos visitantes portugueses à cidade. No extremo oposto, o trabalho desenvolvido a partir dos
textos ficcionais completos, embora resulte útil e aponte possibilidades de análise objetiva quanto à
deteção do peso e do destaque relativo dos elementos relacionados com Compostela, revela certas
insuficiências para a aproximação mais exata às imagens e às práticas culturais portuguesas na
cidade; isto, porque são relativamente escassos os elementos específicos devolvidos por uma
filtragem indiferenciada (ou única) da totalidade do texto. Deste modo, parece conveniente que, tal
como o corpus de inquéritos reúne as respostas dos visitantes lusitanos, o corpus ficcional seja
reduzido, para um novo tratamento, àquelas partes que efetivamente possam responder às perguntas
constantes do inquérito; será a forma mais direta e precisa de se proceder à comparação destes
aspetos focalizados no projeto.
Falando do corpus documental, importa destacar que através da pesquisa no catálogo da Biblioteca
Nacional de Portugal se detetou, em termos editoriais, que ao longo do século XX e mesmo nos
anos anteriores a 2008 existia uma elaboração portuguesa bastante limitada de materiais originais
relativos a Santiago de Compostela e sobre o Caminho. Do mesmo modo, visualizou-se, para as
décadas passadas, o peso da importação – frequentemente por meio de tradução (embora haja que
pôr de parte o fenómeno de Paulo Coelho, já apontado). Por isso mesmo, resulta bastante
significativa a relativa proliferação deste tipo de materiais a que assistimos na atualidade, com
especial incidência a partir de 2010, o mais recente Ano Jacobeu. Será preciso observar em que
sentido se opera e explorar o que parecem tendências que se derivam da observação dos títulos e
das sinopses: a multiplicação dos chamados diários de bordo enquanto guias do CS, a aparição
bastante recente de textos ficcionais ligados de modos diversos com o CS ou a passagem da
focalização do Caminho Francês para a do Caminho (Central) Português, por exemplo. Caberá ver
em que medida o envolvimento das autoridades regionais e locais portuguesas ou de diversos
agentes não governamentais lusitanos no traçado e no apoio aos percursos do CS pelo país vizinho –
que contemplam vários roteiros, em três eixos fundamentais: o Central, o da Costa e o Interior – é
acompanhado pela produção de mais ou de novos materiais editados ao calor de interesses nacionais
ou de certa moda internacional e estudar se se está a adatar discurso português ou a adotar imagens
produzidas fora mas com alargado sucesso. Será conveniente, também, prestar atenção ao que
podemos chamar intercâmbio do olhar brasileiro e português (isto é, à circulação das imagens de
Santiago e da Galiza mediadas, através da língua portuguesa, pelas comunidades brasileira e
lusitana), já não apenas no sentido Brasil – Portugal, dado que, conforme ficou indicado, ACS se
encontra comercializado no país americano, nem limitado exclusivamente à elaboração de Coelho,
visto o lançamento português da obra de Marjori Lotufo.
Por enquanto, aquilo que se deduz deste corpus ficcional português é que a presença de Santiago de
Compostela está longe de se ligar direta, exclusiva e univocamente ao CS e, ainda menos, ao
Caminho Francês, como ocorre no caso do corpus equivalente do Brasil18. Isto acontece mesmo
detetando-se um importante paralelismo entre os títulos lusos e brasileiros (segredo e enigma de
Compostela; caminho e descaminho de Santiago; ausência de referência direta em ESP e Diário de
um mago) e de, também, aparentemente, coincidirem modos de construção destas ficções, seja
como diários, seja como visões críticas ou alternativas a respeito do CS ou das suas origens.
Contrariamente ao que se encontra nas três obras do Brasil, nas quais todas as personagens
principais fazem o CS e é em virtude do Caminho que advém a cidade de Compostela, as
motivações lusitanas surgem como sendo diversas (ou mesmo divergentes); no corpus selecionado,
na verdade, apenas a dupla protagonista de ESP peregrina a pé até à cidade, seguindo o Caminho
(Central) Português e cumprindo os vários rituais associados à peregrinação (que, no caso de Pedro,
também narrador em primeira pessoa, se estende até Fisterra).
18
Encontra-se explorado, em abordagem paralela a esta, na comunicação da colega M. Carmen Villarino Pardo a este
mesmo congresso.
Relativamente às obras ficcionais aqui trabalhadas, pode concluir-se que, apesar de contarem com
presença da intriga, do mistério e de um certo suspense, nos três textos parece haver predomínio do
interesse pelo conhecimento, embora seja certo que em ESP os elementos históricos são usados com
alguma frequência para alimentar o tom de mistério e de irrealidade com o qual se envolve o
Caminho. História e lendas, particularmente presentes nas narrativas selecionadas, podem ser
interpretados como discursos que convivem no imaginário cultural, “curto-circuitando” a possível
imposição de uma versão única a respeito de Santiago e do CS, privilegiada noutros tempos por
interesses políticos e/ou religiosos. No best-seller português invalida-se a tradicional narrativa
mítico-religiosa ligada ao CS, oferecendo uma leitura plural que coincide com aquilo que Fernández
Rodríguez (2012: 68) apontou para algumas obras do corpus galego e espanhol: encena-se uma
percepção crítica do conhecimento e da cultura, tirando proveito de um tema de atualidade no
momento e de um fenómeno com o qual o público destinatário português pode sentir-se facilmente
identificado, ao se tratar de uma realidade compartilhada, próxima e relativamente conhecida, à qual
se faz referência direta e explícita no “Preâmbulo” e nos “Agradecimentos”. No caso do texto para
adolescentes, ganha uma importante dimensão a lição da viagem a respeito da importância do
convívio e das trocas que o contato com outras (novas) pessoas oferece, sublinhando-se o discurso
da experiência e da aprendizagem – isto é, do caminho em si próprio – mais do que a consecução de
uma meta qualquer; na obra encontra-se apoio ao saber enciclopédico que a instituição escolar tenta
transmitir, considerando que se trata de um saber útil (e utilitário), transmitindo com didatismo
conhecimentos geográficos e históricos, próximos dos interesses e da identidade portugueses e que
fazem com que nele ganhem importância os elementos que representam a cultura galega e o
passado comum lusogalaico. No romance ESP, o único ambientado no CS e o mais recente do
conjunto, apresenta-se mais a realidade do Caminho, formulada em termos de como são os lugares
que se atravessam, a paisagem, a gastronomia, o contato com os habitantes, as condições que
oferecem os albergues, o convívio com outros peregrinos, etc. sem se limitar o aspecto cultural ao
discurso europeísta da marca de Itinerário estabelecida pela UNESCO, através de referências a
monumentos e a elementos destacados da arquitetura de cada área, desenhando uma cartografia
monumental-paisagística unificada no percurso.
Campalto (2006), trabalhando com a hipótese de que existe uma ligação entre a literatura e o
processo de decisão dos turistas à hora de escolher o destino, tenta definir o papel que a literatura
cumpre na oferta turística. De acordo com Heelan (2004), tal papel, desempenhado desde longa
data, revigorou-se nos inícios do século XXI graças à publicação e ao sucesso de obras como The
Da Vinci Code e Harry Potter, a partir das quais se geraram viagens. No caso que tratamos, antes
parece que estejamos a assistir mais bem ao fenómeno inverso, no qual a (moda de uma certa)
experiência da viagem gera textos literários que podem ocultar mais do que mostrar e prejudicar
mais do que beneficiar o destino, pois, conforme aponta Mendes (2009), a peregrinação surge como
um período liminar e de communitas, durante o qual se constrói uma comunidade desestruturada,
onde todos os membros são iguais, e existe a oposição ao modo como se vive quotidianamente em
sociedade.
Nesse sentido, julgamos significativo que aquele dos três textos ficcioniais lusitanos em que
Santiago surge explícitamente como meta do CS seja, ao mesmo tempo, onde menos se encena uma
cultura ou identidade galega em certo diálogo ou continuidade com Portugal (perfeitamente
detetada e detetável, com algum destaque, no observatório à cidade através das respostas dos
visitantes portugueses).
O fato de a “cultura do Caminho (de Santiago)” não se relacionar com nenhuma cultura
especificamente e de não pertencer a nenhuma sociedade concreta, apenas existindo na medida em
que se participa n/dela, pode ajudar a compreender que não é por a catedral que funciona como
meta ficar na cidade de Compostela, capital da Galiza, que a cultura compostelana e galega ganham
protagonismo nos textos e nas práticas relacionadas com o CS. Longe de se apropriarem do
produto, Compostela e a Galiza correm o risco de serem por ele invisibilizadas cada vez mais,
conforme cresce, paradoxalmente, a visibilidade (em termos de marketing) do Caminho como
destino turístico.
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