A POESIA LÍRICA
A maioria das formas líricas têm origem ou na Antiguidade
Clássica ou no período Renascentista; mas este facto não implica que estas sejam as únicas formas possíveis. Todos os povos
desenvolveram formas líricas, ou poéticas, ditas tradicionais ou
populares que, apesar de nascidas na oralidade do povo, vêem
os seus ritmos serem adoptados por grandes poetas. Estas formas poéticas vivem de uma sonoridade e um ritmo muito ligados à sonoridade e ao ritmo da própria língua em que são compostos. Portanto, é normal diferentes povos e diferentes línguas
desenvolverem formas poéticas diferentes entre si.
Um exemplo é a poesia da actualidade portuguesa e a poesia
da antiguidade latina. Quando perguntados sobre quais são as
características básicas da poesia, quase todos referirão, antes
de mais, uma estrutura de versos e estrofes e, embora já não
seja obrigatória em todas as produções poéticas, a rima. Por
isso, ao olharmos para as poesias de outras sociedades e tempos, esperamos encontrar a mesma preocupação com a organização em versos e estrofes e com a utilização de rima. No
entanto, e pegando no exemplo latino, os poetas de então não
procuravam a rima. O que eles procuravam, de facto, era a criação de versos onde o jogo entre vogais longas e curtas,
sílabas tónicas e átonas, criasse um ritmo pré-definido. Hoje,
esse ritmo é ainda utilizado na poesia, mantendo alguma
importância, mas não é de modo nenhum um aspecto de
importância primordial como o era para os poetas latinos.
Portanto, uma sociedade (ou conjunto de sociedades que partilhem uma mesma estética literária) irá definir a importância com
que os diferentes aspectos versificatórios se revestem para a
sua poesia de acordo com vários aspectos. A próxima questão
é quais são esses factores que dão maior relevância a este ou
aquele aspecto versificatório. Uma excelente questão, de facto.
Recordo, uma vez mais, que a lírica nasceu da oralidade, pelo
que a língua tem um papel primordial na sua definição.
O Latim era uma língua que utilizava vogais longas e curtas, tal
como a língua chinesa utiliza diversos tons para cada vogal.
Assim, a distribuição dessas vogais, longas ou curtas, era indispensável à criação de um ritmo poético. A língua portuguesa
não possui essa diferenciação entre vogais, pelo que outro
aspecto versificatório ganhou proeminência.
O conteúdo dos textos líricos também varia de acordo com as
sociedades e épocas, sendo um espelho não só das preocupações estéticas como das mentalidades e preocupações sociais, culturais e religiosas entre outras. Por esta razão, os sonetos foram uma forma lírica que caiu em desuso tão frequentemente quanto voltou à moda. É por isto que se aconselha aos
construtores de mundos que, se estão interessados em construir uma literatura para um seu povo, definam primeiro alguns
aspectos básicos da língua e da mentalidade desse povo, para
que depois poderem delimitar os conteúdos a ser abordados e
moldar a forma que a sua lírica irá apresentar.
Eis, agora, os vários elementos que constituem as regras da
versificação e que dão corpo aos diferentes géneros que a lírica inclui, os quais abordaremos mais adiante:
- o verso
- a estrofe
- as sílabas e a métrica
- a rima
- o esquema rimático
GÉNEROS LÍRICOS
Os textos líricos podem ser agrupados em diferentes géneros, de acordo com o seu tema, assunto e forma. Eis alguns dos géneros mais representativos:
- Balada
* De origem medieval, era um poema acompanhado por música, cantado durante os bailes e festas.
* A sua forma evoluiu de formas muito diversas de região para região.
* Actualmente, refere um poema simples, lírico, que pode ser acompanhado musicalmente.
- Canção
* De origem medieval: destinado ao canto, era um poema de tom lírico e erudito na época trovadoresca.
* Na época Renascentista, adopta novas normas de versificação e é
usada preferencialmente para temas amorosos.
* Depois do século XV, torna-se um poema simples, usado igual
mente para temas morais e heróicos.
* Normalmente, a canção é composta por:
- introdução - apresenta o espaço e o tempo em torno do sujeito
lírico
- texto - desenvolvimento do assunto
- cabo ou finda - conclusão e dedicação da canção a uma personalidade
* De acordo com o assunto, pode ser chamada:
- canção amorosa (ou cantiga de amigo e cantiga de amor)
- canção filosófica
- canção patriótica
- canção satírica (ou cantiga de escárnio e maldizer)
- Cantata - quando a canção se debruça sobre um assunto elevado
- Madrigal - quando a canção exprime um galanteio
- Écloga
* Poema sobre a vida dos pastores e sobre o campo, tendo como
cenário uma Natureza idealizada. É um género originário da
Antiguidade Clássica.
- Elegia
* Poema que exprime sentimentos tristes, normalmente causados por
acontecimentos como a morte, a prisão, o exílio ou a guerra.
- Esparsa
* Pequeno poema medieval de tom melancólico e enigmático. Desenvolve directamente o assunto abordado.
- Hino
* Celebra uma divindade, uma nação, uma personalidade ou acontecimento extraordinários, ou um ideal religioso, cívico ou patriótico.
* Geralmente, é cantado, não recitado.
- Ode
* Oriunda da Grécia, começou por referir qualquer tipo de canto, alegre ou triste. Por volta do século VII a.C., passou a designar uma
composição subjectiva, que cantava os sentimentos do sujeito lírico.
Píndaro, no século VI a.C., usou a Ode para cantar as vitórias atléticas dos festivais, as quais serviam de motivo para o verdadeiro objectivo: exaltar os valores morais, os valores da poesia, etc.
* Escrita em estilo elevado, é utilizada para temas como:
- louvor de cidadãos ou eventos públicos
- prazeres da vida ou encantos da vida rústica
- reflexões morais e filosóficas
- Tipicamente, é composta por: estrofe, antístrofe e epodo
- Quadra Popular
* É a forma lírica mais comum entre o povo; foi também utilizada por
poetas de renome.
* Composta por 4 versos de sete sílabas (redondilha maior), a rima
surge geralmente no 2º verso e 4º versos, sendo os outros dois versos brancos (sem rima).
* A quadra popular pode ser composta por uma única estrofe ou por
várias.
- Sextina
* De origem medieval (trovadoresca), possui uma forma complexa de
seis estrofes de seis versos e com a repetição de determinadas
palavras de estrofe para estrofe.
- Soneto
* De origem italiana, na época Renascentista, desenvolveu duas formas distintas:
- Soneto Italiano - composto por 14 versos (decassilábicos) distribuídos por duas quadras e dois tercetos.
- Soneto Inglês - composto por 14 versos distribuídos por três
quadras e um dístico.
- Vilancete
* É uma forma poética própria para canto, sendo constituído por:
- mote - dois ou mais versos que serviam de tema para a com
posição do poema. Muitas vezes não pertencia ao autor.
- voltas - estrofes que constituem o corpo, ou desenvolvimento,
do poema.
A Poesia lírica - características
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LEITURA METÓDICA DE UM POEMA
Embora a simples leitura despreocupada de uma poesia
seja já em si um momento de descontração e prazer, é
possível mergulhar ainda mais fundo nas intenções do
poema se nos dispusermos a fazer uma leitura metódica.
Por outro lado, um construtor de mundos que deseje criar
textos líricos para o seu povo, terá todas as vantagens em
analisar de facto algumas poesias mais próximas daquilo
que deseja desenvolver. Eis então os passos essenciais:
* Leitura atenta do poema
- uma ou duas leituras do texto
- identificação de palavras-chave
- verificar num dicionário o significado de palavras
desconhecidas ou pouco familiares
- ler de novo o texto
- identificar o assunto e o tema
* Análise formal do poema
- verificar o número de versos e de estrofes
- escandir os versos
- análise da rima
* Fazer o levantamento de palavras e recursos
estilísticos que se destaquem
- repetição de uma mesma palavra
- repetição de palavras diferentes mas do mesmo
campo semântico
- presença de palavras de campos semânticos opostos
- tempos verbais utilizados
- palavras associadas ao eu lírico
- recursos estilísticos:
- pontuação, rima, ritmo
- tipos de frases
- classes gramaticais e sua frequência
- graus dos nomes, adjectivos e/ou advérbios
- conotação e denotação
- figuras de estilo:
- a nível fónico (aliteração, assonância...)
- a nível morfossintáctico (enumeração...)
- a nível semântico (metáfora, ironia...)
* Tirar conclusões dos levantamentos realizados
- estabelecer uma possível divisão em partes
- reflectir sobre a expressividade da forma do poema e
dos recursos estilísticos e o modo como reforçam a
mensagem do poema
* Nova leitura do poema
ELEMENTOS DA POESIA
Quem não conhece um poema? Ou quem já não tentou
rimar algumas palavras e apresentá-las como poesia? Ou
ainda, quantos, não encontrando a rima em determinada
poesia, a classificam de menos importante, quando não
dizem que isso não é poesia?
O Caboverdeano é tão afeito à poesia que é difícil encontrar alguém que já não tenha tentado rabiscar algumas
linhas e dedicá-las à amada, ou que já não tenha escrito
algumas "quadras soltas", ou que já não tenha tentado
musicar alguns versos e sentir o inusitado prazer de ter
"feito uma morna".
Iremos agora mostrar alguns elementos usados na confecção de uma poesia e assim tentar enriquecer a criação
poética daqueles que se interessam por esta arte.
A Composição Poética
A composição poética é de natureza essencialmente
solitária, onde o poeta tenta exteriorizar os seus sentimentos mais íntimos eternizando em preto e branco os
seus pensamentos sobre diversos sectores da vida quotidiana.
Na poesia as palavras são cuidadosamente estudadas,
escolhidas e arrumadas de uma certa forma, de maneira
a soarem bem ao ouvido humano, de maneira a conterem
uma certa mensagem, de maneira a despertarem no leitor
expectativas contidas e libertarem vontades veladas e
desejos contidos que, por vias normais, não tiveram oportunidade de serem veiculadas.
Em suma, na composição poética o leitor tenta identificarse com a linha de pensamento do poeta, fazendo seus
esses mesmos pensamentos.
O poeta usa palavras para criar imagens ou cenas na
mente do leitor. Os adjectivos, advérbios, verbos e substantivos são escolhidos a dedo para tentar transmitir, com
maior fidelidade possível, as ideias do autor ou as imagens que se agitam na sua mente.
Escrever poesias pode ser uma actividade totalmente
natural para certas pessoas, enquanto que para outras a
vontade poética é maior do que a potencialidade literária.
Elementos de uma poesia
Assim como toda a obra literária, a poesia tem os seus
componentes e os seus aspectos particulares, que
devem ser observados e levados em conta.
Qualquer um consegue identificar as quatro sílabas que compõem esta palavra: te-le-vi-são. Estas
são as sílabas gramaticais. Mas como é pronunciada a palavra? Em português, será alguma coisa
como "te-le-vi-são", o que de facto coincide com as quatro sílabas gramaticais. Mas o mais comum
é dizer "tle-vi-são". Assim, por muito que a palavra "televisão" tenha quatro sílabas, a palavra pronunciada "tlevisão" tem apenas três. E aqui se vê a importância de distinguir entre sílabas gramaticais e sílabas métricas, ou seja, as sílabas que de facto pronunciamos ao falar. Uma vez mais se
recorda que a poesia é escrita não para ficar bonita no papel, mas para atingir um ritmo agradável,
que é apreciado quando se recita o texto poético. Por esta razão, a lírica não avalia o número de
sílabas gramaticais do poema, mas sim o número de sílabas métricas, aquelas que são pronunciadas e que, por isso, criam o ritmo dos versos.
A Poesia lírica - características
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Agora que já vimos a importância das sílabas métricas para a poesia, continuemos com a experiência. Olhemos
para as duas frases que se seguem:
A Ana chegou tarde à escola.
A Lena chegou tarde à cantina.
Analisemos o número de sílabas gramaticais presentes:
A / A/na / che/gou / tar/de / à / es/co/la. = 11 sílabas gramaticais
A / Le/na / che/gou / tar/de / à / can/ti/na. = 11 sílabas gramaticais
Resta agora ler as frases e contar as sílabas métricas que encontrarmos:
A_A/na / che/gou / tar/de_à_es/co/(la). = 7 sílabas métricas
A / Le/na / che/gou / tar/de_à / can/ti/(na). = 9 sílabas métricas
Repara como as vogais de duas palavras diferentes se unem quando estão lado a lado, tornando-se numa única
sílaba métrica. E, se disseres as frases em voz alta, hás-de reparar que, na última palavra de cada frase, as sílabas
átonas finais quase que desaparecem. Por isso, elas não são contabilizadas quando fazemos a contagem de
sílabas métricas.
À contagem do número de sílabas métricas de um verso chamamos escansão (não confundir com escanção, que é
a prova dos vinhos), que possui algumas regras que convém ter presentes:
* A contagem das sílabas métricas realiza-se até à última sílaba acentuada do verso, ocorra ela na última, penúltima
ou antepenúltima sílaba gramatical da palavra (Ex.: mi/nhas / lá/(grimas); meu / de/se/(jo); meu / co/ra/ção).
* Contracção da última vogal de uma palavra com a primeira vogal da palavra seguinte.
- Sinalefa - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra se transforma numa semi-vogal,
formando um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte:
Atrasado, ele... = a/tra/sa/du / e/le > a/tra/sa/dwe/le
- Elisão - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é completamente assimilada pela
vogal que inicia a palavra seguinte, que desaparece: Ela ouviu... = e/la / ou/viu > e/lou/viu
- Crase - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é igual à vogal que inicia a palavra
seguinte, pelo que elas se fundem numa só:
A casa amarela... = a / ca/sa / a/ma/re/la > a / ca/sa/ma/re/la
- Ectlipse - nome dado à contracção quando a vogal do fim da palavra é nasal, perdendo a sua
nasalidade para formar um ditongo com a vogal que inicia a palavra seguinte:
com as colegas... = cõ / as / co/le/gas > cuas / co/le/gas
* Hiato - quando duas vogais tónicas estão lado a lado, não pode haver contracção das duas, pelo que ocorre um
hiato, ou seja, mantêm-se em sílabas independentes mesmo que uma das sílabas tónicas enfraqueça. O hiato diminui
a fluidez do verso, razão porque os autores se esforçam por o evitar (Tu ontem... = tu / on/tem).
* Diérese - Separação de duas vogais seguidas dentro de uma mesma palavra, de modo a que constituam duas
sílabas diferentes (Ex.: sa/u/da/de).
* Sinérese - União de duas vogais, no interior de uma mesma palavra, que originalmente não formavam ditongo, de
modo a que constituam uma única sílaba (Ex.: pie/da/de).
Tal como acontece com as estrofes, também os versos recebem um nome específico de acordo com o número de
sílabas métricas que os constituem:
-
monossílabo - uma sílaba
dissílabo - duas sílabas
trissílabo - três sílabas
tetrassílabo - quatro sílabas
pentassílabo ou verso de redondilha menor - cinco sílabas
hexassílabo - seis sílabas
heptassílabo ou verso de redondilha maior - sete sílabas
octossílabo - oito sílabas
eneassílabo - nove sílabas
decassílabo - dez sílabas
hendecassílabo - onze sílabas
dodecassílabo ou verso alexandrino - doze sílabas
A Poesia lírica - características
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Podemos ainda mencionar o verso livre, que surgiu com os poetas modernistas do início do século XX. Este tipo de
verso não está sujeito a regras métricas, o que significa que cada verso pode apresentar uma métrica independente
da dos outros versos da estrofe e do poema. No entanto, o verso livre continua a possuir um ritmo interior.
Independentemente do número de sílabas, os versos de uma composição poética podem ainda ser classificados de
acordo com a sua homogeneidade métrica:
- versos isométricos - quando os versos de uma estrofe ou de um poema apresentam o mesmo número de
sílabas métricas.
- versos heterométricos - quando os versos de uma estrofe ou de um poema não apresentam o mesmo número
de sílabas métricas.
Contagem silábica na poesia
Os versos devem ser contados até a última sílaba tónica. Portanto há três espécies de verso:
a) agudos, terminados em palavra oxítona (em que a sílaba tónica é a última). Exemplo:
"onde canta o sabiá" (Gonçalves Dias)
b) graves, terminados em palavra paroxítona (em que a sílaba tónica é a penúltima). Exemplo:
"Quando junto de mim Teresa dorme" (Álvares de Azevedo)
O verso grave é o mais comum na língua portuguesa, uma vez que a maioria das palavras é paroxítona.
c) esdrúxulos, terminados em palavra proparoxítona (em que a sílaba tónica é a antepenúltima). Exemplo:
"Por entre anémonas,
nadadeiras trémulas" (Cecília Meireles)
O verso esdrúxulo é mais raro na poesia de língua portuguesa, por razão inversa à da preponderância do verso
grave.
Contagem de sílabas no verso
Para a contagem das sílabas num verso usam-se muitas vezes critérios que não os estritamente gramaticais. Em poesia, portanto, leva-se em conta mais o que se ouve do que o que se vê ou lê. Ou seja, importa mais como ouvimos as
vogais do que sua expressão escrita. Basicamente, existem dois preceitos básicos:
1) Primeiro preceito:
Como na fala, em poesia fundem-se ou juntam-se numa única sílaba a terminação vocálica átona (a última vogal átona
de uma palavra) e o início vocálico (a primeira vogal) da palavra imediata. Assim, por exemplo, o verso "chorando
como uma criança" deve ser lido da seguinte forma:
Chorando com'uma criança
(Cecília Meireles)
Dizemos que houve "elisão" ou "absorção" da vogal o. Na verdade, mais do que um fenómeno poético, trata-se de um
fenómeno típico da língua falada. Dificilmente falamos sem absorver ou suprimir vogais.
Sob esse critério (elisão ou junção de vogais), podemos agrupar dois tipos de fenómenos:
a) Crase
Observe:
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"Cho-ra-rei -to-da a-noi-te, en-quan-(to)
per-pas-sa o -tu-mul-to -nos -a-(res)"
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6
7
(Cecília Meireles)
8
Nestes versos ocorre o encontro de vogais átonas. Na quinta sílaba do primeiro verso, a sílaba da (de to-da) e o a do
artigo fundiram-se numa só sílaba: da. O mesmo se deu na sétima: o e da sílaba te (noi-te) fundiu-se com o e da sílaba seguinte en (enquanto), do que resultou apenas uma sílaba métrica: ten. Chamamos esse fenómeno de crase, pois
ocorreu entre vogais idênticas.
b) Sinalefa
Se esse encontro acontecesse entre vogais diferentes, então teríamos o fenómeno da sinalefa:
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"A- noi-te- to-da -se a-tor-do-(a)"
(Cecília Meireles)
O encontro de e+a, na sexta sílaba, produz o ditongo "ia" (tal como é pronunciado), sendo ambos os elementos pronunciados com nitidez. Não ocorre aqui elisão ou crase, mas junção de vogais.
2) Segundo Preceito
Os hiatos (encontro de vogais pronunciadas separadamente) podem ser lidos como ditongos (encontro de vogais
pronunciadas como uma unidade sonora). E ditongos, por sua vez, podem ser lidos como hiatos.
A Poesia lírica - características
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Sob esse segundo critério, podemos identificar basicamente dois fenómenos:
a) Chamamos diérese a transformação de um ditongo em hiato. Trata-se, no entanto, de um recurso pouco
usado. Os poetas, especialmente os de períodos em que a convenção poética tende a ser mais obedecida (como
no Parnasianismo), costumam evitar o hiato.
De todo modo, há autores, mesmo parnasianos, que fizeram uso desse recurso:
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"A A-ve-Ma-ri-a, as-sim,- no a-zul- pa-re-(ce)”
A palavra Maria, que, na contagem silábica gramatical, possui três sílabas, apresenta-se nos poemas muitas vezes
como tendo apenas duas sílabas (Ma-ria). No entanto, o autor dos versos acima preferiu considerar três sílabas
(Ma-ri-a).
b) Sinérese é a transformação de um hiato em ditongo. A palavra "juízo", por exemplo, é normalmente pronunciada com três sílabas (ju-í-zo). Em poesia, no entanto, pode aparecer com ditongo (juí-zo).
A RIMA
A Rima diz respeito à repetição, integral ou parcial, de sons no final de dois ou mais versos, sendo contabilizada a partir da vogal tónica da última palavra do verso. A rima pode ser classificada de acordo com diferentes aspectos.
Comecemos por avaliar e classificar os próximos versos quanto aos elementos vocálicos e consonânticos das terminações.
Naquele pique-nique de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Neste excerto de um poema de Cesário Verde, é de notar como tanto as vogais como as consoantes rimam em "ezas"
(note-se que o "s" em burguesas tem valor de "z") e "elas". Este tipo de rima diz-se que é consoante, porque inclui
as consoantes, soante ou perfeita, por incluir todos os sons a partir da vogal tónica.
Ai flores, ai flores do verde pino
se sabedes novas do meu amigo
ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo
se sabedes novas do meu amado
ai Deus, e u é?
Por outro lado, no excerto desta cantiga de amigo de D. Dinis, apenas as vogais rimam, em "i-o" e "a-o". Este tipo de
rima diz-se, por isso, que é vocálica, assoante ou imperfeita.
Outra forma de classificar a rima é quanto à acentuação da última palavra do verso:
Quer'eu en maneira de proençal
fazer agora un cantar d'amor
D. Dinis
minha sina e engano
padecer com tal tirano
Al-Kumait Al-Garbi
No ar lento fumam gomas aromáticas
Brilham as navetas, brilham as dalmácias
António Gedeão
Rima Aguda ou Rima Masculina
quando o acento tónico recai na última sílaba.
Rima Grave ou Rima Feminina
quando o acento tónico recai na penúltima sílaba.
Rima Esdrúxula
quando o acento tónico recai na antepenúltima sílaba.
Pode-se ainda analisar a rima quanto à classe gramatical da palavra da terminação ou quanto à frequência do seu
uso:
* Rima Rica
- quando recorre a palavras de diferentes categorias gramaticais: dizes - felizes (verbo - nome);
perdida - Vida (adjectivo - nome)...
* Rima Pobre
- quando repete uma mesma palavra com frequência
- quando recorre a palavras da mesma categoria gramatical: iria -faria (verbo - verbo);
desejos - beijos (nome - nome)...
Independentemente destas três formas de classificar a rima, pode-se ainda avaliar a estrofe ou poema no que toca
à homogeneidade da rima:
* Verso monórrimo - quando todos os versos de uma estrofe ou de um poema apresentam a mesma rima.
A Poesia lírica - características
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* Verso polírrimo - quando todos os versos de uma
estrofe ou de um poema não apresentam a mesma
rima.
Analisemos agora algumas estrofes para compreender
não só como se utiliza o esquema rimático, mas também
a designação que cada esquema recebe:
Naquele pique-nique de burguesas, - A
Houve uma coisa simplesmente bela, - B
E que, sem ter história nem grandezas, - A
Em todo o caso dava uma aguarela. - B
Nesta estrofe de um poema de Cesário Verde, os versos
rimam alternadamente, seguindo o esquema ABAB. Esta
é a chamada rima cruzada ou alternada, que será, talvez,
o tipo de rima mais comum.
Ai flores, ai flores do verde pino - A
se sabedes novas do meu amigo - A
ai Deus, e u é? - refrão
Ai flores, ai flores do verde ramo - B
se sabedes novas do meu amado - B
ai Deus, e u é? - refrão
Sendo uma cantiga de amigo, uma das mais famosas
escritas por D. Dinis, o excerto deste poema apresenta
uma estrutura própria. Tipicamente, as cantigas de amigo
são constituídas por dísticos e monósticos, sendo que
estes últimos constituem o refrão. No excerto apresentado, os dísticos apresentam um esquema AABB. Esta é a
rima emparelhada, uma palavra que designa dois versos
organizados como uma parelha, ou seja, agrupados aos
pares.
Saudade! Olhar de minha mãe rezando - A
E o pranto lento deslizando em fio... - B
Saudade! Amor da minha terra... O rio - B
Cantigas de águas claras soluçando - A
Neste poema de Da Costa e Silva estamos perante uma
forma da chamada rima interpolada ou oposta. Neste
exemplo, temos dois versos que rimam separados por
outros dois versos que rimam, num esquema ABBA. No
entanto, o termo também se aplica quando dois versos
que rimam estão separados por dois ou mais versos que
não rimam entre si, num esquema ABCDA.
Sei de uma criatura antiga e formidável, - A
Que a si mesma devora os membros e as entranhas - B
Com a sofreguidão da fome insaciável. - A
Dorme que eu velo, sedutora imagem,
grata miragem que no ermo vi;
Dorme - impossível - que encontrei na vida,
dorme, querida, que eu descanso aqui.
Eis dois casos diferentes da chamada rima encadeada.
No primeiro excerto, de um poema de Machado de Assis,
estamos perante a forma mais comum deste tipo de rima,
que surge quando dois versos que rimam estão separados por um verso, num esquema ABA. Mas também se
utiliza o termo de rima encadeada quando se fala de um
tipo de rima interna, como ocorre no excerto de uma composição poética de Tomás Ribeiro, quando a palavra final
de um verso rima com uma palavra que está no meio do
verso seguinte.
Café coado na hora
adoçado a rapadura bem escura,
Este excerto de um poema de Drummond de Andrade
ilustra a rima leonina, um tipo de rima interior onde uma
palavra no meio de um verso rima com a última palavra
desse mesmo verso.
Donzela bela, que me inspira a lira,
Um canto santo de fremente amor
Ao bardo o cardo da tremenda senda
Estanca, arranca-lhe a terrível dor.
Com esta quadra de Castro Alves, eis-nos perante mais
uma rima interior, desta feita a rima com eco.
Falta agora mencionar um outro tipo de rima (ou ausência de) que se vulgarizou com os poetas românticos do
século XIX: o verso branco ou verso solto, referindo as
produções poéticas que não estão sujeitas a rima.
Todas as línguas têm um ritmo próprio que deriva da
acentuação de cada palavra e das próprias frases, de
acordo com as suas funções (exclamação, interrogação...). Mas, olhando em especial para as palavras,
como é que elas são acentuadas? De um modo muito
simples, as palavras dividem-se em sílabas, que podem
ser fortes (ditas sílabas tónicas) ou fracas (ditas sílabas
átonas). O resultado do jogo entre as sílabas fracas e
fortes é uma cadência que se quer harmoniosa, um
pouco como acontece com o jogo entre as notas de uma
melodia.
É desta forma que se cria o ritmo dos versos que formam
um poema. O ritmo do verso é marcado pelo número de
sílabas presentes, pela cadência harmoniosa entre as
sílabas tónicas e átonas e pela presença e localização de
pausas e cesuras.
Olhemos mais atentamente o modo como o número de
sílabas influi no ritmo de um verso. Menos sílabas significa versos mais curtos e, portanto, um ritmo mais rápido e
leve, pelo que são os preferidos para composições populares. Basta reparar nas típicas quadras populares! Eis
uma de Fernando Pessoa com sete sílabas métricas:
Tenho um livrinho onde escrevo
Quando me esqueço de ti.
É um livro de capa negra
Onde inda nada escrevi.
Por outro lado, versos mais longos são mais lentos e
solenes. Um bom exemplo é o caso dos versos de dez
sílabas métricas de Os Lusíadas de Camões:
As armas e os barões assinalados
Que, da Ocidental Praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Mas os acentos variam dentro do próprio verso, independentemente do número de sílabas métricas. Os versos de
dez sílabas métricas, por exemplo, podem ser caracterizados como heróicos ou sáficos de acordo com o local
onde surgem as sílabas tónicas. Os versos heróicos são
utilizados em poemas épicos e em sonetos, onde as
sílabas tónicas ocorrem sempre na sexta e na
A Poesia lírica - características
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décima sílaba métrica. Vejamos o próximo verso, de
Camões:
Começa-se a travar a incerta guerra
Os versos sáficos, por outro lado, apresentam três
sílabas acentuadas, na quarta, na oitava e na décima
sílaba métrica. Eis um verso de Antero de Quental:
Sonho que sou um cavaleiro andante
Não podemos esquecer ainda as pausas e as cesuras.
A pausa é uma interrupção mais ou menos breve que
marca o final do verso ou da estrofe. A cesura é uma
pausa que surge no interior dos versos, e tem como
objectivo criar uma divisão entre um grupo de sílabas
métricas que evita que o grupo se torne demasiado longo.
GLOSSÁRIO
Ambiguidade: Apresenta dois sentidos. Em crítica literária, consiste em toda a "nuance" verbal, ainda que ligeira, que dê lugar
a diferentes reacções ao mesmo fragmento de linguagem.
Anagrama: É a transposição de letras. É usado para encobrir a
identidade de personagens reais. Diz-se do vocábulo, nomes
próprios.
Arte pela arte: A arte visa exclusivamente a proporcionar prazer estético, ou seja, desconhece fins utilitários, como a moral,
a política, a educação. Essa expressão remonta a Aristóteles,
que recusa admitir propósitos didácticos para o fenómeno
estético.
Alexandrino: O verso alexandrino é composto de doze sílabas.
Em geral, o verso mais longo, em estrofes isométricas, é o
alexandrino. É raramente empregado na poesia moderna.
Balada: Esse termo tem sentido poético e apareceu no século
XIII. É a mais primitiva manifestação poética. Acredita-se que a
balada na Idade Média não seria acompanhada de movimentos
coreográficos. É uma forma literária mista, pois reúne elementos de poesia dramática e lírica bem como narrativa.
Cantiga: Eram os poemas contados e acompanhados de instrumentos musicais e dança.
Tipos de cantigas:
- Género lírico: cantigas de amigo e de amor;
- Género satírico: cantigas de escárnio e cantigas de maldizer;
- Cantiga de amigo: possui raízes na península Ibérica, sendo o
seu tema mais frequente o lamento amoroso da rapariga cujo
namorado partiu para a guerra contra os árabes;
- Cantiga de amor: possui raízes na poesia provençal (de
Provença, região do sul da França), nos ambientes finos e
aristocráticos das cortes francesas, estando portanto presa a
certas convenções de linguagem e de sentimentos;
- Cantiga de escárnio e de maldizer: foi a primeira experiência
da literatura portuguesa na sátira. Não eram tão presas às convenções como as cantigas de amor e amigo e buscaram um
caminho poético próprio, explorando diferentes recursos
expressivos. Voltaram-se para a crítica de costumes, tendo
como alvo diferentes representantes da sociedade medieval
portuguesa.
Cesura: Limite rítmico no interior de um verso, teoricamente
seguido de um descanso.
[A cesura corta um verso alexandrino em dois hemistíquios:
"Nada é tão belo quanto a verdade, só a verdade é amável."
(Boileau)]
Carpe Diem: Colher, gozar o dia. Horácio aconselhou Leucónoe
a gozar o momento presente, visto ser incerto o dia de amanhã.
Transposto para o lirismo amoroso, o motivo adquiriu conotação
especial: o "eu" poético adverte a bem amada de que a vida
corre ligeira na direcção da morte, e sugere que ambos usufruam do amor enquanto é tempo.
Dissonância: Som ou conjunto de sons desagradáveis ao ouvido, é a junção de sílabas ou palavras que soam mal.
Écloga: Difere do idílio por nele intervirem os diálogos. São
poemas dialogados nos quais o poeta cede a palavra a interlocutores.
Elegia: Pequeno poema lírico sobre um tema frequentemente
terno e melancólico. Na Antiguidade, era uma peça em verso
composta por hexâmetros e pentâmetros alternados.
Enjambement: É a passagem para o verso seguinte, de uma
ou de várias palavras que completam o sentido do precedente.
(diz-se também encavalgamento)
Escansão: É o processo de divisão dos versos em sílabas
poéticas.
Estribilho (ou refrão): É um conjunto de versos repetidos em
forma de estrofes ou integrando as estrofes de um poema.
Estrofe ou estância: É um agrupamento de versos. O número
de versos agrupados em cada estrofe pode ser variável.
Idílio: É uma composição em monólogo, que celebra os encantos da vida bucólica, impregnada quase sempre de sentimento
amoroso. É uma espécie literária muito ao gosto dos poemas
arcádicos.
Lira e Lírica: A palavra lírica tem origem na lira, um instrumento musical muito utilizado pelos gregos a partir do século VII a.C.
Chamava-se lírica a canção que se entoava ao som da lira.
Havia, portanto, entre o som e a palavra uma junção que perdurou até o século XV, quando os poemas se distanciaram da
música e passaram a ser lidos ou declamados.
Madrigal: É uma espécie lírica italiana bem antiga. A princípio
apresentava uma forma fixa (verso decassílabo, com dois ou
três tercetos, acompanhados de um ou dois dísticos; e ainda,
tercetos com versos heróicos seguidos de um verso isolado, tal
como na "terzarinha") mas, já no século XVI se encontra o
madrigal mais simplificado, constituído apenas por uma estrofe
curta, não ultrapassando, em geral, o número de dez versos, e
empregando de preferência a redondilha ou a decassílabo alternado com o heróico quebrado. O madrigal exprime pensamentos graciosos, numa discreta e galante confissão de amor.
Métrica: É a medida dos versos, isto é, o número de sílabas
poéticas que apresentam.
Ode: Em grego significa "canto". Era um cântico composto de
estrofes simétricas, próprio para ser entoado com música e
coros. O ode marca o terceiro período da literatura grega.
Pé: São os restos quantitativos puros. Pé é a menor partícula
estrutural do verso. Chamam-se versos de pé quebrado aos
que possuem uma métrice errada ou irregular.
Refrão: Frase vocal ou instrumental de tamanho e forma determinados, que se repete a intervalos regulares nas canções e
composições estróficas.
Rondó: É um poema que apresenta apenas quadras ou
quadras combinadas com oitavas (estrofe com oito versos).
Soneto: É um poema de forma fixa, isto é, apresenta a mesma
estrutura de construção: duas quadras (estrofe com quatro versos) e dois tercetos (estrofe com três versos)
Tropo: São palavras e expressões que se apresentam em sentido figurado e não próprio. Entre os tropos estão:
1) Alegoria
2) Antonomásia
3) Catacrese
4) Imagens
5) Metáfora
6) Metonímia
7) Símbolo
8) Sinédoque
Metáfora: É uma comparação elíptica, ou "um símile comprido"
(Murry)
"A vida é combate." (Gonçalves Dias)
O verso acima seria comparação se apresentasse o nexo ou
conectivo indicador da similaridade: - A vida é como um combate.]
A Poesia lírica - características
7
Alegoria: É uma sequência de metáforas, que pode ser pura e
se confunde com o enigma, ou mista quando permite a identificação do que foi figurado com o significado real. Em literatura,
a alegoria integra determinadas espécies genéricas como a
fábula, o apólogo e a parábola.
"A vida é uma ópera e uma grande ópera." Machado de Assis
Aliteração: É a repetição constante de um mesmo fonema consonântico.
Ex.: Brancos bacantes bêbadas o beijam.
(Aliteração em b) Augusto dos Anjos
Assonância: É a repetição constante de um mesmo fonema
vocálico e de sílabas semelhantes, mas não idênticas.
Ex.: Ó Formas alvas, brancas, formas claras
(assonância do fonema vocálico |a|) Cruz e Sousa
Anáfora: É a repetição da mesma palavra ou expressão no início de frases, períodos ou versos.
"Qual do cavalo voa, que não desce;
Qual, co'o cavalo em terra dando, geme;
Qual vermelhas as armas faz de brancas;
Qual co'os penachos do elmo açoita as ancas."
Camões
Anástrofe: É o hipérbato atenuado em que a inversão se dá
entre as palavras relacionadas entre si.
"Que importa do nauta o berço."
Castro Alves
Anacoluto: É a rotura sintáctica entre as partes do período.
"Eu, não me importa a desonra do mundo." Camilo Castelo
Branco
Antítese: Ocorre quando aparecem dois termos na frase que
se opõe mas são do mesmo campo semântico.
"Desceu os pântanos com os tapires, subiu os Andes com
os condores." (Castro Alves)
Antonomásia: É um caso especial de metonímia. Consiste na
substituição de um nome próprio por uma circunstância ou qualidade que a ele se refere intrinsicamente como um epíteto.
"O genovês salta os mares..." (Castro Alves)
genovês=Colombo
Apóstrofe: É a interrupção que faz o orador para dirigir-se a
algo ou alguém.
"Deus, oh Deus, onde estás que não respondes?"
Assíndeto: É a omissão das conjunções ou conectivos aditivos.
"E homem, há de morrer como viveu: sozinho!
Sem ar! sem luz! sem Deus! sem fé! sem pão! sem lar!"
Olavo Bilac
Catacrese: É o emprego abusivo ou indevido de um termo. É
pela catacrese que se justificam expressões como: embarcar
num comboio, sabatina (para qualquer dia da semana), enfiar
uma agulha no dedo, etc.
Eco: Sucessão de vocábulos com final semelhante, são as
rimas coroadas.
"Na messe, que enlourece, estremece a quermesse..."
(Eugénio de Castro)
Elipse: É a supressão de um termo que o contexto permite identificar.
"Tristeza não tem fim, felicidade sim."
Vinícius de Moraes
Eufemismo: São palavras que atenuam outras que comunicariam uma ideia triste.
"Sino da paixão, pelos que lá vão."
Manuel Bandeira
Gradação: Pode ser chamada de clímax. É a acumulação progressiva de uma ideia, pensamento ou tema.
"Vive só para mim, só para a minha vida.
Só para o meu amor!"
Olavo Billac
Hipérbato: É a inversão da ordem directa (sujeito, verbo e complementos)
"Que os tribunais não podem rever os actos políticos, não
contestei, não contesto." Rui Barbosa
Hipérbole: É a figura que engrandece ou diminui exageradamente a verdade.
"Vida que, eterna, ainda que seja pouca!"
Alphonsus Guimaraens
Ironia: É a expressão que sugere o contrário do que significa.
"A excelente D. Inácia era mestre na arte de judiar de
crianças." Monteiro Lobato
Metonímia: Relação de contiguidade (e não de semelhança)
entre o termo próprio e o termo figurado.
O Williams andou muito rápido no Estoril. (Willians pode
ser o carro ou o piloto do carro)
Onomatopeia: "Uuááááá", tenta reproduzir o som de choro de
alguém. Em textos literários, a onomatopeia pode ser bastante
expressiva.
Ex.: "Ó rodas, ó engrenagens, R-R-R-R-R eterno!"
(Fernando Pessoa)
Paranomásia: É a aproximação de palavras com significados
diferentes.
"Os magnetos atraem o ferro, e os magnatas o oiro."
Padre António Vieira
Perífrase: O objecto não é nomeado, mas é facilmente identificado uma vez que o contexto é conhecido.
O milionário da informática. (Bill Gates)
Personificação: Também chamado de prosopopeia, atribui características humanas a seres irracionais ou inanimados.
"Sinos do Bonfim, por que choras assim?"
Manuel Bandeira
Pleonasmo: Redundância de termos para dar mais força à
mesma ideia.
"e aí dançaram tanta dança,
que a vizinhança toda despertou."
Chico Buarque
Polissíndeto: Uso reiterado de elementos conectivos em coordenação.
"Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!"
Olavo Bilac
Quiasmo: Processo estilístico que consiste em formar um
antítese, dispondo em ordem inversa e cruzada os elementos
que a constituem.
Ex.: Há pessoas que não comem para viver, mas vivem para
comer.
Silepse: Dá-se na concordância. Consiste em fazer a concordância de uma palavra ou expressão não directamente com
outra expressa, mas com a ideia que esta sugere. É também
chamada concordância semiótica ou figurada.
Ex.: género - "Conheci uma criança... mimos e castigos
pouco podiam com ele".(Garret)
Símbolo: É a imagem que vale por um sinal, ou conforme Hugh
Walpole, "uma palavra usada referencialmente".
Ex.: Mitologia grega: Hércules (em referência à força); Narciso
(à vaidade); Baco (ao vinho).
Símile: Ou comparação é o confronto de dois ou mais objectos
em que depreendemos algum ponto de contacto.
ex.: "E à tarde, quando o sol - condor sangrento No ocidente se aninha sonolento
Como a abelha na flor..."
(Castro Alves)
Sinestesia: É a evocação de impressões sensoriais pela
palavra.
Ex.: "Tarde de olhos azuis e de seios morenos.
Ó tarde linda, ó tarde doce que se admira,
Como uma tone de pérolas e safira.
Ó tarde como quem tocasse um violino..."
(Emiliano Perneta)
Zeugma: É um tipo de supressão de palavras, que ocorre
porque esta palavra já foi empregada anteriormente.
Ex.: "Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores."
(Gonçalves Dias, Canção do Exílio)
A Poesia lírica - características
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