Universidade Federal de Santa Catarina Centro de Ciências Agrárias Departamento de Aquicultura Southern Oceans Education and Development Project (Canadian International Development Agency – University of Victoria, Canadá) Relatório sobre o curso “Qualidade da água no cultivo de camarões marinhos” (03 a 08 de outubro de 2011 na Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras de Quelimane, Zambézia, Moçambique) Luis Alejandro Vinatea Arana, Dr. Outubro de 2011 1 1.
Introdução Com o patrocínio do Southern Oceans Education and Development Project (CIDA, University of Victoria, Canadá), foi celebrado um curso concentrado sobre qualidade da água no cultivo de camarões marinhos na Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras de Quelimane (Zambézia), ligada à Universidade Eduardo Mondlane, de 03 a 08 de outubro de 2011. O referido curso contou com a participação de quem subscreve, docente do Departamento de Aquicultura da Universidade Federal de Santa Catarina, e da acadêmica do curso de Engenharia de Aquicultura da mesma universidade, Scheila Anelise Pereira, em qualidade de monitora. 2.
Deslocamento A viagem de Florianópolis a São Paulo foi realizada no dia sábado 01/10 às 14:45 h, e a mesma transcorreu dentro do esperado, sem nenhum atraso por parte da companhia aérea. Uma vez em São Paulo, a empresa South Africa Airways recomendou que o certificado de vacinação da febre amarela da Scheila fosse transformado para o modelo internacional, o qual pôde ser feito sem contratempos na ANVISA (Agencia Nacional de Vigilância Sanitária) do aeroporto de Guarulhos. A aeronave partiu pontualmente, sendo que no domingo 02/10, as 07:30 h, pousamos no aeroporto O. R. Tambo da cidade de Johanesburgo, na África do Sul, onde pegamos a conexão para Maputo, capital de Moçambique. Chegamos a Maputo por volta da 11:00 h, mas não pudemos embarcar para Quelimane no horário previsto, às 12:45 h, devido a que a aeronave da LAM se encontrava com cinco horas de atraso. Este intervalo foi aproveitado para conhecer um pouco mais a bela cidade de Maputo. Perto das 18:00 h partimos em companhia da Dra. Helena Gonçalves, técnica do INAQUA (Instituto Nacional de Desenvolvimento da Aquicultura), que se apresentou no aeroporto de Maputo manifestando que iria participar do curso. Chegamos a Quelimane após uma hora e meia de vôo, para então sermos recebidos pela Dra. Ana Cristina, quem nos levou até o hotel Flamingo, localizado no centro da cidade. 3.
Aulas As aulas começaram na segunda feira 03 de outubro as 08:30 h, contando com a ajuda do Sr. Simão Zacarias, que também assistiu ao curso. Tivemos ao redor de 35 participantes, sendo a maioria deles alunos e docentes da própria Escola. Houve, também, a participação de membros do INAQUA e de técnicos das fazendas Aquapesca e Aquacquel. 3.1 Conteúdo O curso esteve composto por sete unidades, a saber: a água e o seu uso pelo homem; o camarão marinho (Biologia); a qualidade da água no cultivo de camarões; fatores físicos, químicos e biológicos; manejo do ambiente de cultivo; boas práticas de manejo; e, cultivos 2 super intensivos, além de uma breve aula sobre o sistema imune do camarão, ministrada pela monitora Scheila. 3.2 Dinâmica do curso O curso foi dividido em aulas teóricas e práticas. Nos dias 03, 05, 06 e 08 de outubro aconteceram as aulas teóricas, de manhã e de tarde; já na sexta feira 07 foi realizada a aula prática (o dia todo). Cabe mencionar que a terça feira 04 não houve aulas por ser feriado nacional (Dia da Paz). No período da manhã, as aulas começaram sempre às 08:30 h e terminaram as 12:30 h, reservando um breve período de 15 minutos a media manhã para o café. Depois do almoço, que aconteceu na própria Escola, às 14:00 h as aulas eram retomadas e iam até as 17:00 h, concedendo neste período também um intervalo de 15 minutos para o café. No inicio das aulas os participantes se mostraram muito tímidos e sem a manifestação de perguntas ou inquietudes referentes ao conteúdo ministrado. Entretanto, uma vez que a monitora Scheila começou a intervir no reforço de certos conceitos, os alunos ficaram desinibidos e as aulas se tornaram interativas, com um volumoso e desejável fluxo de informações docente‐discente (Figura 1). Figura 1. Dinâmica das aulas teóricas e participação dos alunos Nos intervalos, curiosamente, os alunos aproveitavam de tirar as suas dúvidas com a monitora, tal vez pela idade semelhante ou pela familiaridade com o português (a língua materna de quem subscreve é o espanhol). Foi observada grande dificuldade por parte dos alunos com todo o referente aos cálculos matemáticos e químicos. Durante os exercícios de transformação de unidades e 3 determinação da eficiência dos aeradores, a monitora desempenhou um papel fundamental no reforço destes conhecimentos. Devemos confessar que muitos dos artifícios matemáticos usados por ela, que facilitaram o entendimento, eram desconhecidos da maioria (inclusive do ministrante). A certa altura, a demanda pela explanação de certos conhecimentos básicos relativos à Biologia, Química e Matemáticas fez com que o desenvolvimento do conteúdo do curso ficasse comprometido. Foi necessário reformular os tópicos a fim de que o principal fosse transmitido. Pela falta de tempo, dois tópicos importantes não puderam ser atendidos: o vírus da mancha branca e aqüicultura sustentável. 3.3 Aula prática Conforme mencionado acima, a aula prática foi realizada na sexta feira 07 de outubro durante o dia todo (Figura 2). Os tanques de tilápia adjacentes à Escola foram utilizados como estudo de caso. Nestes foram verificadas a transparência da água, temperatura, pH, salinidade, alcalinidade relativa, respiração do fundo e da coluna de água, fotossíntese e concentração de clorofila “a”. Figura 2. Diferentes momentos da aula prática (campo e laboratório) Devido à falta de um aerador mecânico foi feita uma simulação em volume pequeno de água, sobre como seria uma teste in situ para determinar a Taxa Padrão de Transferência de Oxigênio (SOTR, Kg/L), usando‐se para tal fim dois reagentes químicos: metabisulfito de sódio (doado pela empresa Aquapesca) e cloreto de cobalto (doado pela UFSC). Na parte laboratorial foram determinadas a reatividade e o poder neutralizante do carbonato de sódio. Para o primeiro teste, peneiras de aço inox (adquiridas no Brasil com recursos do SOED) foram usadas e deixadas na Escola para futuros testes. Para a prova do 4 poder neutralizante do calcário foram usados equipamentos e reagentes existentes na própria Escola. Com relação à alcalinidade relativa, parâmetro fundamental da qualidade da água, foi usado um kit de análise da Alfa Tecnoquímica (Florianópolis, Brasil) adquirido também no Brasil com recursos do SOED. O mesmo ficou igualmente a disposição da Escola. No último dia (sábado 08 de outubro) os alunos receberam um certificado de participação e um CD com todo o conteúdo das aulas, incluso os dois capítulos que não conseguimos desenvolver pela falta de tempo. 4.
Doação de equipamentos Deve ser mencionado que em esta oportunidade a UFSC dou três equipamentos, a saber: um oxímetro digital Hanna, um pH‐metro digital Hanna e uma salinómetro ótico (refratômetro) da marca Aquafauna. 5.
Livros Com recursos do SOED, foram adquiridos no Brasil três livros em português e elevados para a Escola: Aquicultura, meio ambiente e legislação; Fisiologia de peixes aplicada à piscicultura; e Dinâmicas de desenvolvimento da piscicultura. Visita técnica à localidade de Chilembene 6.
No domingo 09 de outubro, a convite da Dra. Helena Gonçalves, e com a colaboração da Dra. Isabel Omar, diretora do INAQUA, fizemos uma visita à localidade de Chilembene (Gaza), onde nos foi possível percorrer dois projetos de piscicultura: “Centro de Conhecimento e Desenvolvimento Samora Machel” e “Vila de Milênio de Lionde”. No primeiro centro fomos recebidos pelo Dr. Cláudio Bonga, técnico do INAQUA, quem nos mostrou os viveiros de cultivo de Oreochromis niloticus. Nesta visita foi possível atender várias dúvidas que os técnicos deste projeto tinham em relação à qualidade da água, qualidade da ração e a própria piscicultura. Em termos gerais, nos foi possível constatar que o manejo era adequado e que os parâmetros de qualidade da água dos tanques estavam dentro do normal (Figura 3). Já no segundo centro, a “Vila de Milênio de Lionde”, constatamos erros básicos em relação ao manejo da qualidade da água, a saber: proliferação de plantas aquáticas de fundo, transparência excessiva da água (com ausência quase total de fitoplâncton), entrada de predadores e uso inadequado do alimento artificial (Figura 4). Na ocasião, foram feitas umas quantas recomendações no intuito de tentar neutralizar os problemas mais urgentes, como a instalação de pesos nas hapas (para que não flutuassem), a fim de evitar o sobre aquecimento da água, a retirada da vegetação de fundo e a imediata fertilização da água com uréia e superfosfato. 5 Figura 3. Visita às instalações do “Centro de Conhecimento e Desenvolvimento Samora Machel” Figura 4. Visita a “Vila de Milênio de Lionde”. Nas fotos inferiores: transparência excessiva e uso de ração de má qualidade. 6 7. Recomendações Foi‐nos possível constatar a necessidade que a Escola Superior de Ciências Marinhas e Costeiras de Quelimane tem em relação a um curso de capacitação referente à Química Analítica (relativa aos principais parâmetros de qualidade da água) e manejo e manutenção de laboratórios, no qual estejam incluídos tópicos relativos à segurança pessoal, conservação de equipamentos e de reagentes químicos. Nesse sentido, a nossa recomendação é realizarmos um curso, principalmente prático, com duração de cinco dias, sobre estes tópicos. Na experiência de Chilemebele constatamos que há muita carência em relação a informações relativas á qualidade da água para piscicultura. Embora em 2010 tenha sido oferecido um curso de um dia e meio sobre Aquicultura e Meio Ambiente para os técnicos do INAQUA, o mesmo foi extremamente curto e sem a realização de aulas práticas, as quais são consideradas fundamentais para a sedimentação de conhecimentos. A nossa recomendação e realizarmos um curso teórico‐prático sobre qualidade da água em piscicultura de água doce, com duração de cinco dias e preferencialmente na cidade de Maputo, tentando captar a maior quantidade possível de técnicos e piscicultores da região. Por questões de tempo e economia de recursos, sugerimos que os próximos cursos de Quelimane e de Maputo aqui recomendados sejam feitos na seqüência. Uma boa data para a realização destes seria final de junho e inícios de julho, período em que a UFSC entra em recesso escolar, o que facilitaria a ausência prolongada do Brasil de quem subscreve. Prof. Dr. Luis Alejandro Vinatea Arana Departamento de Aquicultura Universidade Federal de Santa Catarina, Brasil 7 
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Curso Quelimane Out - University of Victoria