Análise de estrutura administrativa e Métodos de gerenciamento de frota: Estudo de caso Por: Thiago Canavarro Abdalla Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da UFRJ, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Engenheiro Naval. Aprovado por: ____________________________________ Eduardo Gonçalves Serra ____________________________________ Luiz Antonio Vaz Pinto ____________________________________ Claudio Luiz Baraúna Vieira RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL MAIO DE 2009 Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Universidade Federal do Rio de Janeiro Curso de Engenharia Naval e Oceânica Projeto Final de Curso de Graduação Análise de estrutura administrativa e Métodos de gerenciamento de frota: Estudo de caso Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de Engenharia Naval e Oceânica da UFRJ, como parte dos requisitos para obtenção do Título de Engenheiro Naval. Por: Thiago Canavarro Abdalla Professor-Orientador: Eduardo Gonçalves Serra Rio de Janeiro Maio de 2009 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . i . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Agradecimentos: Agradeço primeiramente a meus pais, Assimen Abdalla e Maria Luiza Canavarro Abdalla, e minha irmã, Thaís C. Abdalla. Em nenhum momento deixaram meu lado ao longo de todas as horas difíceis, servindo como exemplos profissionais e de caráter, oferecendo apoio, incentivo e sempre torcendo por minha realização como profissional e ser humano. Aos grandes amigos Carlos Magno e Fernando Almeida, pela sincera amizade e companheirismo, assim como pela grande paciência e suporte, sem os quais o curso de Engenharia Naval e este trabalho não teriam sido possíveis. Ao Mestre e Fleet Superintendent, Carlos Alberto Carloni, por seu exemplo em campo e orientação – como chefe e colega – além da incansável disposição para transmitir seus conhecimentos e experiência profissional. A todos os amigos e colegas que contribuíram para a realização deste projeto – e conclusão das longas disciplinas do curso – em especial: Mariana Coelho, Robledo Gonzalez, Giano Correia, Mariana Gomes, Daniel Quintão, Denilson Fontoura, Eduardo Rodrigues e João Felipe Lopes. Ao Professor Eduardo Serra por sua orientação e auxílio na organização e composição deste trabalho. A todos os professores da graduação da Engenharia Naval que contribuíram com suas aulas e distintas filosofias pessoais, influenciando em minha formação como engenheiro e ser humano. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . ii . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla “O navio é uma das estruturas mais complexas já construídas pelo homem, já que seu projeto envolve profissionais dos vários segmentos da engenharia e milhares de atividades são realizadas até a embarcação adquirir boas condições de navegabilidade” Allmendinger 1983 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . iii . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Resumo Abstract Este trabalho de graduação tem por This academic paper has as its main finalidade pesquisar e apresentar os objective to research and present the principais elementos componentes key elements compounding a em um Plano de Manutenção de Maintenance Plan of a merchant fleet empresa de gerenciamento de frota management company, elaborating de navios mercantes, discorrendo on the foundations needed for a sobre alicerces necessários para successful commercial (and operação comercial (e técnica) bem technical) operation. sucedida. Through a case study of a Por meio de um estudo de caso de Navigation Company a analysis is Empresa de Navegação é feita análise done of methods, observations and de métodos, de observações e das solutions commonly used in the soluções utilizadas no meio marítimo maritime management business. de gerenciamento. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . iv . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Lista de Abreviaturas e Siglas … ABS American Bureau of Shipping … AD Água Doce … AIS Automatic Identification System / Sistema de Identificação Automática … AS Água Salgada … AWES Association of West European Shipbuilders / Associação dos Construtores Navais da Europa Ocidental CIABA … CIAGA Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar Centro de Instrução Almirante Graça Aranha CIF Cost, Insurance and Freight / Custo, Seguro e Frete COA Contract of Affreightment / Contrato de Afretamento DNV Det Norske Veritas DWT Deadweight / Peso Bruto … EPIRB Emergency Position Indicating Radio Beacon / Sinal de Rádio Indicador de Localização de Emergência … EPI FOB Equipamentos de Proteção Individual Free On Board / Livre a Bordo … FSC Flag State Control / Controle do Estado de Bandeira … GT Gross Tonnage / Arqueação Bruta … GMDSS Global Maritime Distress Safety System / Sistema de Segurança Global para Socorro … HAWB HVAC House Airway Bill / Contrato para Transporte Aéreo Heating, Ventilating and Air-Conditioning / Aquecimento, Ventilação e Ar-Condicionado … IAPP Certificate International Air Pollution Prevention Certificate / Certificado Internacional de Prevenção à Poluição do Ar … ICGB International Bureau of Cargo Gear / Escritório Internacional de Equipamentos de Carga … ICLL International Convention on Load Lines UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . v . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla … ILO International Labour Organization / Organização Mundial do Trabalho … IMO International Maritime Organization … IMPA International Marine Purchasing Association / Associação Internacional de Compradores Marítimos … IOPP Certificate International Oil Pollution Prevention Certificate / Certificado Internacional de Prevenção à Poluição por Óleo … ISO International Organization for Standardization … ISPS Code International Ship and Port Security Code / Código Internacional de Segurança de Navio e Porto … ISM Code International Safety Management Code / Código Internacional de Gerenciamento da Segurança … JIT KPI … Just In Time Key Performance Indicator / Indicador-Chave de Desempenho LR Lloyd’s Register … MCP Motor de Combustão Principal … MCA Motor de Combustão Auxiliar … NOR Notice of Readyness / Aviso de Prontidão … OC Óleo Combustível … OD Óleo Diesel … OECD Organization for Economic Co-Operation and Development / Organização para Cooperação Econômica e Desenvolvimento … OL Óleo Lubrificante … P&Y Protect & Indemnity / Proteção & Indenização … PMS Planned Maintenance System / Sistema de Manutenção Planejada … PSC Port State Control / Controle do Estado do Porto … QSMS Qualidade, Segurança, Meio-Ambiente e Saúde UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . vi . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla … SOLAS Safety Of Life At Sea … STCW Certificate Standards of Training, Certification and Watchkeeping Certificate / Certificado de Padrões de Treinamento, … Certificação e Serviço de Quarto SWOT Strenghts, Weakness, Opportunities and Threats / Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças … TC Time Charter … TEU Twenty feet Equivalent Unit … TI Tecnologia de Informação … ULCC Ultra Large Crude Carrier … VC Voyage Charter … VLCC Very Large Crude Carrier … WTO World Trade Organization / Organização Mundial do … Comércio … … UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . vii . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Lista de Figuras Figura 1. Evolução da arqueação bruta da frota mercante mundial Pág. 04 Figura 2. Evolução do market share das principais regiões Pág. 06 construtoras de navios Figura 3. Evolução do market share por tipo de navio Pág. 07 Figura 4. Evolução da frota de Porta-Containers mundial Pág. 09 Figura 5. Acidentes reportados entre 1996 a 2005 Pág. 12 Figura 6. O tempo de fundeio e filas do line up diminuiu desde a Pág. 15 implantação de hub ports mas em rotas de tráfego intenso o problema persiste, gerando acordos comerciais entre terminais e operadores Figura 7. A composição e dimensão das frotas é um dos fatores que Pág. 16 definem o tipo de abordagem a ser empregada para garantir uma coordenação técnica eficiente Figura 8. Os tipos de embarcação operando sob o gerenciamento da Pág. 20 mesma empresa (não necessariamente de mesmo armador) afeta significativamente decisões organizacionais e técnicas Figura 9. Estando a condução da embarcação e execução das Pág. 23 atividades no Plano de Manutenção a cargo da tripulação, a seleção de bons oficiais é essencial para garantir gerenciamento a bordo Figura 10. A equipe de compras lida com especificações/cotações Pág. 25 para itens completos como radares ou luzes de navegação até a compra de suas partes componentes para permitir reparos e intervenções Figura 11. Um almoxarifado bem administrado e em sincronia com o Pág. 28 setor técnico é o grande centro de distribuição e provedor interno dos insumos para o Plano de Manutenção da empresa Figura 12. A tecnologia de comunicação resultou em maior segurança Pág. 29 para o tráfego das embarcações e maior eficiência na coordenação de atendimentos para reparos e intervenções em equipamentos Figura 13. Organograma de empresa típica verticalizada Pág. 32 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . viii . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 14. O Hull Management Software, ABS, oferece checagem Pág. 46 automática de regras para substituição de aço baseado no banco de dados de última UTMs – sem previsão futura para a taxa de decaimento como o C4D Pág. 47 Figura 15. O Nauticus Hull Integrity, DNV, oferece integração com software de FEM para análises estruturais locais ou extensivas, no caso de grandes modificações ou conversões Pág. 60 Figura 16. Camisas de cilindros são um exemplo de materiais de difícil envio para bordo – assim como volume e peso consideráveis, que demandam local apropriado para acomodação, tornando seu armazenamento a bordo necessário porém mantido no mínimo possível Pág. 63 Figura 17. Navio graneleiro de 26.000 TPBs Pág. 64 Figura 18. Conjunto barcaça+empurrador Pág. 65 Figura 19. Todas as barcaças possuem bow-thrusters instalados, com seu controle acionado pelo empurrador acoplado quando em manobra Pág. 73 Figura 20. O inspetor técnico designado para o navio acumula diversas responsabilidades, sendo necessário seu conhecimento de cada item pendente no Plano de Manutenção executado, assim como intimidade com particularidades e itens de projeto da embarcação Pág. 74 Figura 21. CCM e QEP são algumas das unidades que requerem supervisão constante de seus sistemas eletrônicos e elétricos Pág. 74 Figura 22. Calibração de amarras e serviços de casco são algumas das atividades apenas presentes em docagem, conforme mencionadas no capítulo 6.6.4, sob responsabilidade deste grupo de inspeção Figura 23. Módulos presentes no Star IPS Pág. 79 Figura 24. Flutuação cambial nos últimos cinco anos (fonte: Invertia) Pág. 83 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . ix . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Sumário Agradecimentos ii Epígrafe iii Resumo iv Lista de Abreviaturas e Siglas v viii Lista de Figuras x Sumário 1. Inspiração para o Projeto Pág. 01 2. Introdução Pág. 03 3. Sobre frota mercante mundial Pág. 09 4. Considerações Comerciais Pág. 13 5. Gerenciamento de Frota Pág. 16 5.1 . Definição Pág. 16 5.2 . Objetivos Pág. 17 5.3 . Operação Pág. 18 5.4 . Estrutura de empresa de gerenciamento Pág. 31 6. Manutenção Pág. 37 6.1 . Definição Pág. 37 6.2 . Objetivos Pág. 37 6.3 . Focos da atividade de manutenção Pág. 41 6.4 . O Plano de Manutenção (PMM) Pág. 43 6.5 . Responsabilidades de bordo Pág. 47 6.5.1 . Convés (Deck) Pág. 48 6.5.2 . Máquinas (Machinery) Pág. 49 6.5.3 . Passadiço (Bridge) Pág. 50 6.6 . Tipos de manutenção Pág. 51 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . x . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 6.6.1 . Preventiva Pág. 52 6.6.2 . Preditiva Pág. 53 6.6.3 . Corretiva Pág. 54 6.6.4 . Docagem Pág. 55 6.7 . Controle de Suprimentos/Estoques Pág. 58 6.7.1 . Estoques à Bordo Pág. 59 6.7.2 . Estoques em Terra Pág. 60 7. Estudo de Caso Pág. 62 7.1 . Sobre a Frota Pág. 62 7.2 . Organização da Empresa Pág. 66 7.3 . Planned Maintenance System Pág. 75 7.4 . Composição de Custos Pág. 80 8. Conclusão e Considerações Finais Pág. 90 9. Bibliografia Pág. 92 10. Pág. 94 Anexos 10.1 . Custos de Operação Pág. 94 10.2 . Custo de Operação ‘06 Pág. 95 10.3 . Custo de Operação ‘07 Pág. 96 10.4 . Custo de Operação ‘08 Pág. 97 10.5 . Custo de Operação [06’-‘08] Pág. 98 10.6 . Custo de Manutenção e Reparo ‘06 Pág. 99 10.7 . Custo de Manutenção e Reparo ‘07 Pág.100 10.8 . Custo de Manutenção e Reparo ‘08 Pág.101 10.9 . Custo de Manutenção e Reparo [’06-‘08] Pág.102 10.10 . Serviços para Manut. e Reparos [’06-‘08] Pág.103 10.11 . Materiais para Manut. e Reparos [’06-‘08] Pág.104 10.12 . Serviços e Materiais de MCAs & MCP [’06-‘08] Pág.105 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . xi . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 10.13 . Custo de Operação [’06-‘08] Pág.106 10.14 . Custo de Manut. e Reparo [’06-‘08] Pág.107 10.15 . Serviços para Manut. e Reparos [’06-‘08] Pág.108 10.16 . Materiais para Manut. e Reparos [’06-‘08] Pág.109 10.17 . Serviços e Materiais de MCAs & MCP [’06-‘08] Pág.110 10.18 . Interface IPS Pág.111 10.19 . Módulos IPS Pág.112 10.20 . Estrutura de organização técnica Pág.113 10.21 . Controle de documentação e catálogos Pág.114 10.22 . API de agendamento para o PMM Pág.115 10.23 . KPI Charts (1) Pág.116 10.24 . KPI Charts (2) Pág.117 10.25 . KPI Charts (3) Pág.118 10.26 . Utilização de equipamento Pág.119 10.27 . Certificates Pág.120 10.28 . Corrective Actions Pág.121 10.29 . Recommendations Pág. 122 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica . xii . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 1 Inspiração para o Projeto Com a criação do Programa de Modernização e Expansão da Frota, o governo federal brasileiro criou oportunidades para a revitalização de armadores e o renascimento do setor nacional de operação de navios– i.e.: não afretados a casco nu ou operados por armador estrangeiro. O programa de modernização engloba subsídios para construção de novos cascos e facilidades de crédito e fiscais, mas para a criação de um ambiente competitivo além do curto e médio prazo, é necessário que os níveis operacionais e de manutenção dos navios estejam compatíveis com os apresentados no cenário mundial. Pesquisas apontaram que desde 2005 anunciava-se o início do renascimento da indústria de grandes navios no Brasil, com encomendas em quantidade representativa. Para se ter uma idéia, nosso país já ocupou - na década de 70 - o segundo lugar no ranking mundial. Depois de um processo de estagnação, houve novo crescimento (ainda que tímido) a partir de 2000-2001, com a produção de navios de apoio offshore. Surgia, assim, uma mudança de paradigma da indústria de grandes navios, que há vinte anos não realizava encomendas. Tendo em mente essa necessidade, este trabalho tem por objetivo estudar a estrutura de gerenciamento técnico responsável pela operação de frota de navios mercantes, registrando pontos-chave e identificando itens a serem modificados/retrabalhados visando ao melhor desempenho econômico. Os dados e informações relacionadas foram coletados em extensa pesquisa principalmente junto a armadores, empresas de gerenciamento, sociedades classificadoras e órgãos regulamentadores internacionais. Essas entidades/organizações compõem a rede primária envolvida na operação e qualificação do navio como um bem econômico, habilitando seu funcionamento dentro de balizamento mínimo de qualidade, segurança e meio-ambiente. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 1 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Outras fontes de conhecimento importantes foram as empresas de representação marítima (o ‘agente’ marítimo) e as companhias especializadas na realização de serviços de manutenção naval. Os agentes ofereceram uma visão da evolução histórica e tecnológica que a atividade de gerenciamento de navios percorreu, e as empresas de manutenção e reparo naval, um ponto de vista diferenciado no que se refere às mudanças de rotinas e políticas de manutenção preventiva empregadas por empresas de gerenciamento e armadores distintos. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 2 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 2 Introdução O transporte marítimo tem sido considerado como a mola-mestra da economia global. Mais de 90% do comércio mundial são conduzidos pelo mar e, em algumas estimativas, a operação de navios mercantes contribui anualmente com aproximadamente US$ 380 bilhões em taxas de frete dentro desse setor econômico, equivalente a algo em torno de 5% do comércio internacional. A common currency para avaliar suprimento e demanda é a tonelada-milha, pois o transporte marítimo é sensível tanto à distância, quanto ao tempo (e, em alguns casos, volume). Em termos simples, um contrato anual de afretamento para 5.000.000 toneladas de óleo cru produzido na África Ocidental e entregue para Rotterdam gera 22.000 milhões de toneladas-milhas de demanda, enquanto a produção equivalente do Golfo Pérsico gera em torno de 62.500 milhões de toneladas-milhas em demanda. No lado de suprimento da equação, um tanker aframax (o maior que pode atracar em portos da África Ocidental) de 130.000 DWT, operando com uma velocidade média de 14 nós e completando 4,5 viagens por ano, provê uma capacidade de 6.271 milhões de toneladas-milhas. Um VLCC de 286.000 DWT, negociando ao redor da África, pode prover 16.875 milhões de toneladasmilhas de capacidade de transporte de carga em um único ano. Colocando de outra forma, 3,27 aframaxes são requeridos para cobrir um COA (Contract of Affreightment) de 5 milhões de toneladas da África Ocidental. Com aproximadamente o dobro da capacidade de carga, 3,70 VLCCs são necessários para transportar uma quantidade similar de óleo cru do Golfo Pérsico. Apesar de o VLCC ser muito maior, seu custo capital não é o dobro do aframax, como também seu número de tripulantes – as economias de escala aparecem claramente nas principais rotas e esta tendência se reflete, atualmente, no crescente tamanho dos contentores que atendem alguns poucos nodal ports. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 3 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Para o sucesso do planejamento estratégico é primordial uma habilidade para análise rápida do mercado em evolução e a comparação dos dados com a capacidade atual da frota mundial em toneladas-milhas. Em 2003, por exemplo, a indústria movimentou aproximadamente 6,1 milhões de toneladas por 4 milhões de milhas – um impressionante volume de 25 milhares de toneladas-milhas em transações. Isto representa um aumento estimado de 300% sobre as últimas quatro décadas. Sessenta por cento do consumo anual de óleo de 3,6 bilhões de toneladas é feito por transporte marítimo (dos quais 99,9997% são entregues em segurança). Figura 1. Evolução da arqueação bruta da frota mercante mundial Em 2005, a frota de transporte mundial era composta de 46.222 navios com o total de 597.709.000 GTs. Categorias liderando estes números eram: • Carga Geral: 18.150 • Tankers: 11.356 • Bulk Carriers: 6.139 • Navios de Passageiros: 5.679 • Porta-Containers: 3.165 • Outros tipos: 1.733 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 4 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Houve, então, uma grande mudança no mercado. Desde maio de 2007 mais de 120 novos contentores de capacidade 1.200 TEU e acima foram encomendados. Por exemplo, a empresa MOL-Management afirma desejar uma frota de 1.200 embarcações de valor 21 Bn USD no final de 2012. Em 2007, a frota era composta de aproximadamente 800 embarcações. Por volta da década de 60, uma grande quantidade de navios, tanto em tramping quanto em rotas fixas, eram adquiridos e operados por empresas que podem ser descritas como companhias verticalmente integradas. Em outras palavras, a administração do ativo, comercial e gerenciamento técnico, incluindo crucialmente o manning dos navios, estavam sob responsabilidade de uma única entidade, fosse ela um ‘shipowner’ independente ou uma divisão de um grupo ainda maior (como companhias de petróleo). Essa estrutura vertical apresentava pontos importantes para o setor, tanto que , ainda hoje, o modelo é adotado por bem-sucedidos operadores de navios e pode estar experimentando um renascimento. Se for aplicada uma análise ‘SWOT’ (Strenghts, Weaknesses, Opportunities and Threats) a uma típica companhia de navegação Européia dos anos 60, alguns dos pontos chave que se destacam são: • Strenghts 1. Valores sólidos da empresa e uma estrutura organizacional bem definida; 2. Continuidade de emprego (especialmente para quadro de funcionários marítimos) e um programa forte de treinamento que leva a profissionalismo e lealdade; 3. Fortes laços comerciais suportados pela proximidade dos grandes transportadores internacionais; 4. Suporte técnico, legal, administrativo e comercial provido por fontes internas e, 5. Manutenção da expertise dentro da companhia. • 1. Weaknesses Uma tendência a basear negócios futuros, em um cenário mundial fluido, em enfoques tradicionais. 2. Uma interface comercial pobre entre a equipe de bordo e de terra. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 5 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 3. Mais inércia contra mudanças afetando pessoal, localizações de atividades e familiarização com procedimentos e práticas. • 1. Opportunities A possibilidade de prever mudanças em tecnologia e padrões do cenário de comércio mundial. 2. Acesso às finanças, importante para auxiliar em tomadas de decisões críticas. • 1. Threats Mudanças no equilíbrio do comércio mundial e um nacionalismo crescente no Terceiro Mundo. 2. Uma crescente oferta de mão-de-obra do Terceiro Mundo. 3. Uma liberação de capital de fronteiras nacionais. 4. Com respeito ao exemplo Norte Europeu, mudança dos centros de construção naval, operação de navios e reparos para longe da Europa – e em direção ao sudeste asiático. Figura 2. Evolução do market share das principais regiões construtoras de navios UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 6 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 3. Evolução do market share por tipo de navio Outra contribuição para a mudança dos valores de segurança foi o relacionamento entre o Flag State nacional e a empresa de navegação baseada nacionalmente. Padrões de segurança bem definidos e níveis de treinamento relativamente UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 7 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla altos foram os benefícios apresentados por essa nova estrutura. Uma desvantagem foi a relutância de algumas autoridades nacionais em se manter no mesmo ritmo em que ocorriam as mudanças tecnológicas, além de pressões comerciais que contribuíram para o aumento de ‘bandeiras de conveniência’ e a proliferação de operações de navegação horizontalmente integradas. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 8 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 3 A frota mercante mundial Quais foram então, as principais influências que mudaram a composição da frota mercante ao longo das últimas quatro décadas? Internamente, a tecnologia dentro e fora da indústria, foi um fator marcante. Externamente, a fabricação de aviões como o Jumbo 747 – precursor da era das grandes aeronaves – interferiu bastante no mercado de transporte de massa no momento em que passou a absorver a preferência dos clientes, reduzindo assim a procura por viagens marítimas. Ao mesmo tempo, o serviço de correio internacional transferiu-se do mar para o ar e desferiu um novo golpe para o tráfego marítimo de rota e programação fixas. A resposta foi o advento da containeirização. Em alguns anos, portacontainers de até 1.000 TEU (‘Twenty feet Equivalent Unit’) estavam substituindo cinco ou seis navios convencionais de carga geral nas principais rotas fixas. Foram então alteradas as capacidades das embarcações. Daí o crescimento da capacidade em direção a 10.000 TEU em navios com velocidade de 25 nós (em contraste com 16-18 nós de navios ‘liners’ em 1960-70s). Figura 4. Evolução da frota de Porta‐Containers mundial UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 9 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla A economia de escala também afetou as classes de tramp e bulk, pois a dinâmica da economia mundial foi alavancada por um suprimento abundante de óleo cru, no mercado (o preço do combustível foi reduzido, consideravelmente). Economistas traçaram curvas do crescimento previsto para o comércio global, que com otimismo desapareciam no vértice superior direito do gráfico. Construtores e armadores responderam durante o final dos anos 60 com o VLCC (Very Large Crude Carrier de 250.000 toneladas de deadweight ou mais) e um crescente número de dry bulks classe Panamax (aproximadamente 70.000 DWT) e Capesizes (cerca de 150.000 DWT). O fechamento do Canal de Suez em 1967 deu maior alento às encomendas de VLCC (e ULCC). Sua reabertura, porém, combinada com a percepção dos produtores de petróleo que exerciam influência na elevação do preço do óleo, resultou em grande mudança na indústria marítima. A sobre-capacidade apresentada pelos estaleiros em virtude da excessiva demanda de navios somente então foi processada pelo sistema. Houve um progresso a partir de então, pois a indústria, utilizando-se da alta tecnologia, respondeu positivamente produzindo navios capazes de carregar cargas cada vez mais especializadas. Produtos de petróleo em tanques protegidos e químicos em tanques de aço inoxidável com sistemas de ventilação fechados são bons exemplos disso. Podemos citar também embarcações do tipo Pure Car Carrier. O turismo também teve sua parcela de contribuição. Mais recentemente, as Ferrys de alta velocidade e os cruzeiros liners são outros exemplos. A indústria de ‘super iates’, combinando prazer e utilização comercial, está crescendo e por necessidade e lei, empregando marítimos adequadamente qualificados. Além das mudanças nos padrões do transporte (ou demanda) que estavam direcionando alterações em projetos de embarcações, ocorreram outras que afetaram profundamente a indústria marítima. O capital estava ultrapassando as fronteiras nacionais e se tornando disponível internacionalmente. Isto levou organizações financeiras de base internacional a investir em shipping mais por razões de ganhos de capital que por comércio. Estas organizações não estavam restritas por nenhum alinhamento à bandeira e procuravam avidamente por UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 10 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla paraísos fiscais nos quais localizar seus investimentos, aumentando a tonelagem registrada sob bandeiras de conveniência. Estas organizações também precisavam encontrar companhias com as habilidades necessárias para assumir as operações técnicas – e algumas vezes comerciais – dessa tonelagem. Em conseqüência, houve o crescimento da demanda de profissionais do gerenciamento de navios. Equipes gerenciais de navios, alguns integrantes novos e outros veteranos das companhias de tramp e liners competiram por negócios através de promessas de reduzir os custos operacionais dos navios sob sua supervisão. Como parte desse processo, ship managers e owners (com raras exceções), procuraram por ‘suprimentos’ de mão-de-obra mais barata, inicialmente buscando baixas taxas e, mais tarde, por oficiais com menores salários, criando a figura do gerente de tripulação independente. Contadores e vários supervisores financeiros de frotas consideraram os argumentos de tarifas reduzidas e sem custos sociais mais persuasivos que os ‘não-comprovados’ dos tradicionalistas, que seriam manutenção e níveis de segurança. Contra esse cenário, as estatísticas de perdas coletadas para navios a cada ano (baseadas nos números emitidos pela London Underwriter’s Association) indicam o efeito combinado destas influências nos padrões de segurança. • 1950-59 – Abaixo de 0,30% • 1960-69 – Aumento para 0,40% ao final de 1969 • 1970-79 – Aumento para 0,56% ao final de 1979 • 1980-89 – Queda lenta no período, com baixa acentuada para 0,20% em 1989 • 1990-96 – Em 0,40% em 1991, caindo para 0,13% ao final de 1996 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 11 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 5. Acidentes reportados entre 1996 a 2005 De acordo com o Lloyd’s Register e, adicionalmente, da LR-Fairplay, mais de 300 navios foram perdidos anualmente entre os anos de 1966 e 1985, sendo 1978 e 1979 os piores anos, quando houve 938 perdas, aproximadamente 0,67% da frota mundial. Em 1959, entretanto, quando a IMO (International Maritime Organization) foi criada, a percentagem de perdas era de 0,5%. A partir de 1980 a percentagem das perdas diminuiu continuamente. Em 1980 o número era 0,24%, caindo para 0,19%., no final do ano 2000 e para, aproximadamente, 0,1% em 2004. Nesse mesmo ano, o Royal Institute of Naval Architects apresentou à IMO evidências de que 20% da frota mercante mundial era constituída de navios de carga geral, sendo que este setor apresentava 40% das perdas e 40% das fatalidades ocorridas. Isto corresponde a 90 navios e 170 vidas anualmente. Um resultado da reestruturação da indústria neste sentido é que a IMO assumiu um papel mais proeminente em redigir convenções relacionadas à segurança (que são então, ou deveriam ser, incluídas por Flag States em legislações nacionais). Dois resultados diretos da modificação dos padrões de segurança, e talvez da integração horizontal, são a introdução do International Safety Management (ISM) Code e do Port State Control (PSC). UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 12 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 4 Considerações Comerciais Uma frota – assim como uma embarcação individual – pode operar em diversos regimes de transporte (que afetam a abordagem ou programação para as atividades de manutenção e operação). Os mais comuns são: • Operação no Spot Market Nesse tipo de comercialização não há comprometimento de longo-termo contínuo. Para compensar, apresenta taxas de frete maiores que as do Time Charter. As operações de troca de água de lastro são muito comuns para os charters de spot market, junto com vários lay days enquanto aguardam fechamento de novos contratos de transporte. Numa organização verticalizada, isso representa possibilidade de programação de atividades de manutenção mais longas, tanto em casco quanto em máquinas – o que é mais difícil em organizações horizontais, onde a divulgação da programação comercial da embarcação pode ser mais restrita ou ter um atraso significativo. • Operação no Charter Market Um charter é um contrato de comprometimento para o navio e pode tomar a forma de um ‘bareboat’ charter (afretamento a casco nu), voyage charter ou time charter, sendo estes últimos os tipos contatuais mais utilizados No caso de Bareboat Charter, a tripulação é fornecida pelos charterers, conforme determina o contrato. Essa forma de contratação (leasing) é geralmente utilizada por owners que não desejam operar um navio por si só, como bancos ou empresas de financiamento. O bareboat charter pode também estar relacionado a uma opção de compra após o leasing expirar ou durante o período de aluguel. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 13 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Um Voyage Charter concorda em deixar o navio disponível ao charterer para uma viagem específica por um valor pré-determinado (a taxa de frete), que deve ser calculada de forma a cobrir todas as despesas relativas à operação do navio, incluindo bunkers. O charterer contrata efetivamente a capacidade de carga do navio e não o navio em si. O Voyage Charter é essencialmente um contrato de transporte seguro da carga. O owner concorda em entregar os bens nas mesmas condições nas quais eles foram carregados. O charterer pode possuir a carga ou pode estar transportando a carga representando uma terceira parte. Algumas vezes a carga pode ser comprada e vendida diversas vezes durante a viagem. Time Charters são contratos estabelecendo preços fixos cobrados pela duração da viagem, figurando cláusulas relacionadas à ‘entrega’ do navio ao charterer e ‘reentrega’ aos owners ou superintendentes. Não existem penalidades na forma de laytime ou demurrage pagáveis sob os termos de um time charter; o não-pagamento das taxas de embarque, entretanto, dá aos ship managers o direito de retirar o navio do contrato. A equipe gerencial terá, portanto, a responsabilidade em manter o navio em condições satisfatórias de navegação e certificado, para cumprir as obrigações de charter sem incorrer em penalidades contra os owners ou a própria gerência por atrasos ou quebras. Nota-se aí um aspecto muito importante, pois claramente o owner perderá dinheiro se o navio não estiver apto a: • Completar a viagem no tempo combinado. • Carregar e descarregar a carga no tempo determinado no contrato de charter (o ‘laytime’). O tempo de viagem termina e o laytime começa quando o navio é declarado um ‘arrived ship’ no porto de descarga e após o momento no qual o Notice of Readiness (NOR) foi entregue. Isso é observado cuidadosamente e o navio pode ser contratado até o porto ou até o berço. No passado, navios podiam esperar por semanas, fundeados ao largo do porto de descarga. Nesse caso, o owner teria motivo legítimo para reclamar, pois o navio já UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 14 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla deveria ter sido liberado e estaria obtendo receita com um próximo contrato. Sob estas circunstâncias, o owner tem direito a reivindicar a perda de receita (demurrage). Figura 6. O tempo de fundeio e filas do line up diminuiu desde a implantação de hub ports mas em rotas de tráfego intenso o problema persiste, gerando acordos comerciais entre terminais e operadores Para os propósitos do chartering, as embarcações podem ser todas propriedades de um único grupo ou chartered para subsidiárias separadas ou companhias associadas a um grupo (pool) de empresas. Um outsourcing extensivo das atividades de gerenciamento pode ser necessário para satisfazer os requerimentos de negociação de alguns navios ou da frota inteira. Companhias de gerenciamento independentes e algumas vezes concorrentes podem prover tanto o manning quanto serviços financeiros. A companhia de gerenciamento é responsável pela parte comercial das subsidiárias do shipowning, incluindo chartering e seguros. As embarcações podem, também neste caso, ser registradas sob diferentes bandeiras. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 15 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 5 Gerenciamentos de Frota 5.1 Definição Gerenciamento é definir e coordenar as atividades necessárias para a realização de um empreendimento – e a obtenção de seu bom desempenho. Esta definição, apesar de simples, torna transparente a necessidade do conhecimento e domínio de cada uma das atividades envolvidas na concretização de um objetivo. Ou seja, o exercício do poder de decisão deve, obrigatoriamente, estar balizado pelo conhecimento do caminho operacional ou produtivo. Ao controle de um ou mais navios e à transformação destes ativos em bens econômicos produtivos podemos chamar de gerenciamento da frota – quer seja este controle exercido diretamente pelo proprietário do navio (armador ou owner) ou por empresa especializada neste tipo de operação. Figura 7. A composição e dimensão das frotas é um dos fatores que definem o tipo de abordagem a ser empregada para garantir uma coordenação técnica eficiente A competição entre as indústrias de construção naval acirra a concorrência entre os estaleiros, fazendo com que busquem maneiras de se diferenciar no mercado UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 16 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla através de redução de custos e adoção de tecnologia. Para manter o navio em boas condições durante o seu tempo de vida útil, é importante utilizar-se de um gerenciamento eficiente, o que acarretará melhor resultado financeiro. A atividade de gerenciamento pode ser exercida pelo próprio armador ou por empresa especializada contratada para essa finalidade. 5.2 Objetivos Note-se, entretanto, que, para empresas em diferentes áreas, a forma e o escopo de seus respectivos gerenciamentos são distintos – levando-se em conta que dentro de uma mesma empresa podem ser encontradas diversas camadas de exercício deste gerenciamento. Na maioria das situações estas camadas podem ser relacionadas diretamente com a hierarquia e organograma da empresa, mas, com certa freqüência, também se referem às distintas áreas de informação quanto às atividades produtivas desempenhadas. No caso de navios mercantes, sua aquisição visa à rentabilidade por longo período, tendo em vista o tempo de vida útil de meios de transporte dessa natureza. Neste contexto, é compreensível entender que para se obter excelência nos resultados, somente um gerenciamento adequado da frota permitirá o efetivo controle de todos os setores que integram o sistema, mantendo o navio em perfeitas condições de navegabilidade e certificação. Orientados para diminuição dos custos e obtenção de máxima rentabilidade, os objetivos imediatos principais da coordenação de gerenciamento operacional (i.e., aqueles necessário para o trânsito do navio) são, como se seguem: • Projeto de construção funcional e inteligente do ponto de vista da manutenção dos sistemas de bordo (em geral enfocado quando o próprio armador se ocupará da operação do navio). • Manutenção técnica de sistemas instalados do navio, em todos os seus detalhes (incluindo estrutura e aço em si). UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 17 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla • Recursos humanos de qualidade adequada – tripulação e equipes de intervenção para manutenções. • Coordenação inteligente de suprimento de estoques para sistemas e intervenções – impedindo paralisações do navio por motivos de máquina, por exemplo. • Segurança para tripulação e/ou passageiros. • Otimização do programa de manutenção e modificações/reparos baseado na rota comercial a ser percorrida pelo navio • Preservação do meio ambiente, seguindo regulamentações de poluição e contaminação biológicas. • Cumprimento dos contratos comerciais, inclusive com fornecedores e prestadores de serviço. • Coordenação e acionamento adequado de seguros diversos, utilizando a rede de cobertura para minimizar gastos diretos da empresa. • Controle de água de lastro conforme regras internacionais. • Cumprimento dos dispositivos legais, respeitando as normas de cada país (ou região) por onde navegar – tanto para sistemas e documentação técnica do navio quanto para treinamento adequado da tripulação. 5.3 Operação A operação de uma frota de navios depende da conjunção de elementos cujas áreas de conhecimento, apesar de contribuírem para o resultado econômico final em diferentes proporções, por vezes têm pouca relação direta entre si. Estes elementos, alguns imediatamente sob a esfera de influência e decisão dos setores/diretorias para gerenciamento na empresa, são: ¾ Roteamento/Acordos comerciais: A rota assumida pelo navio é uma decisão basicamente econômica, mas detalhes específicos sobre a condição dos navios da frota – como itens pendentes de inspeções PSC, FSC, ISM, ICGB – devem sempre estar em pauta junto ao setor comercial UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 18 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla para permitir contratos adequados e que, por vezes, dêem preferência a um determinado navio da frota em detrimento de outro que não esteja regulamentado para a rota desejada. Em contrapartida, a informação de programação comercial da frota deve ser disponibilizada o mais rapidamente possível para permitir o planejamento de atendimentos de manutenção e inspeções de classe – isto pode ser um problema com frotas em que o setor comercial é gerenciado por uma empresa (ou o próprio owner) e o setor técnico, por outra. Um navio pode estar sujeito a operar em um grande contrato de linha fixa ou em diferentes rotas – de longo curso ou cabotagem. No caso de um navio operando sob contrato em uma rota fixa (tanto para uma tonelagem anual quanto para 3 ou 4 viagens já contratadas), a programação de intervenções de manutenção, inspeções e vistorias a bordo fica facilitada não só pelo conhecimento prévio de line-ups como pelo contato mais estreito com o agente e autoridades portuárias locais. Em contrapartida um navio operando primariamente sob regime sem viagens fixas pode se beneficiar se tiver oportunidade de operar com certa freqüência em portos convenientes para a empresa – do ponto de vista de embarque de material pesado, técnicos e inspeções de classe. Isto, é claro, só será um benefício real com um contato estreito entre o setor comercial/tráfego e o setor técnico/gerenciamento. ¾ Composição da Frota: A composição da frota influi diretamente na escolha da melhor abordagem para a definição de níveis de estoque e organização da equipe de manutenção. Por composição, compreende-se o conjunto de embarcações em operação da empresa – que podem ter diferentes funções ou particularidades. Elementos que podem reconhecidamente qualificar uma frota como heterogênea ou homogênea para fins de gerenciamento técnico são: • Tipo da Embarcação – as embarcações de uma mesma empresa podem ser de classes diferentes, como porta-containers, graneleiros, petroleiros, gaseiros, transporte de produtos químicos, Ro-Ro etc. No caso de uma frota dita heterogênea (isto é, composta por diferentes tipos de navios), a UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 19 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla operação e legislação aplicável a cada classe tornam-se um complicador para o acompanhamento técnico do navio, exigindo uma equipe profissional/técnica maior e possivelmente com especializações distintas. A alocação de tripulação para a frota fica sujeita à familiarização com os diferentes navios – isto é, o tripulante da empresa embarcado em um navio graneleiro exigirá um maior tempo de familiarização ao embarcar em outra classe de navio. Da mesma forma, seguir corretamente as atividades de operação, monitoramento e manutenção – conforme estipuladas no Plano de Manutenção do navio – necessitará de uma atenção maior a bordo (principalmente por parte dos oficiais). Figura 8. Os tipos de embarcação operando sob o gerenciamento da mesma empresa (não necessariamente de mesmo armador) afeta significativamente decisões organizacionais e técnicas • Dimensões da Embarcação – ainda que composta por embarcações de apenas um ou dois tipos/classes, cada navio pode apresentar porte significativamente diferente. Por exemplo, numa frota composta unicamente por graneleiros, os portes podem variar entre panamax, aframax, suezmax, handymax etc. Esta grande variação afeta oportunidades comerciais, indiretamente implicando que certos navios estarão restritos à UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 20 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla determinados tráfegos e rotas, o que pode exigir maior movimentação dos recursos da empresa. • Fabricantes dos maquinários de propulsão e geração de energia auxiliar – embora a tecnologia e princípios de funcionamento dos MCPs e MCAs seja basicamente a mesma, cada marca terá suas peculiaridades. Ainda que uma frota seja composta por navios de tipos/portes diferentes, caso todos ou grande parte tenham o mesmo motores de mesma origem, isto simplificará a elaboração de um Plano de Manutenção e a execução deste plano pelos tripulantes designados. Para intervenções de cunho mais técnico é justificável formar uma equipe técnica especializada da própria empresa. Sendo os equipamentos demasiadamente heterogêneos, isto pode impedir que esta equipe técnica realize diagnósticos ou intervenções mais sofisticados. Em contraste, uma frota com equipamentos mais homogêneos pode diminuir significativamente o custo com contratação de serviços especializados – pois os mesmos poderiam com tempo e treinamento serem executados in house. • Idade dos navios – mesmo operando com navios de mesmo tipo e porte, é comum uma frota ter navios das mais diferentes idades, sendo a vida útil de um navio mercante algo em torno de 30 anos. No entanto, é necessário lembrar que quanto mais antigo o navio, mais restritas suas alternativas comerciais e mais minuciosas/próximas suas inspeções por classificadoras etc – além da obrigatoriedade de se adequar à novas regras não previstas em seu projeto original, por vezes ocasionando modificações significativas. Além é claro, da embarcação estar mais suscetível a apresentar falhas ou performance abaixo do padrão. Caso a frota tenha embarcações de idade bem próxima, isto pode favorecer seu gerenciamento técnico no acompanhamento da legislação e regulamentação aplicável, bem como a elaboração de um Plano de Manutenção amplo – assim como observações e soluções de um navio podem porventura ser aplicadas em outro, especialmente em se tratando de navios antigos (acima de 20 anos). UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 21 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Como visto acima, a composição da frota afeta as decisões e custos relacionados à operação dos navios de diversas maneiras. Um ponto não mencionado é que em se tratando de uma frota demasiada heterogênea quanto ao porte e tipos de navios sofre de uma complicação logística para contratos de transporte de longo prazo. Geralmente estes contratos são firmados baseados em toneladas entregues ao longo de certo período de tempo. No entanto, o navio pode precisar sair do tráfego por tempo limitado para fins de manutenção ou classificação – situação na qual o armador provavelmente precisará substituir a embarcação para garantir que o contrato assumido seja cumprido. Não existindo um navio da própria companhia que possa continuar na rota, será necessário afretar um navio (no caso, o armador será o afretador) para alguns Voyage charters de modo a garantir a continuidade do transporte previsto pelo contrato de longo prazo. Isto representa um custo adicional para o armador que pode reduzir significativamente sua receita financeira com o contrato, bem como exigir foco no desenrolar deste cenário. ¾ Manning/Seleção de tripulação: A disponibilização de tripulação adequada e a previsão de treinamento contínuo para a mesma é importante para a manutenção de um tráfego saudável do navio. A responsabilidade de operação das máquinas e sistemas a bordo recai sobre a tripulação e apenas ela tem a capacidade de informar adequadamente falhas, observações ou mesmo propor melhorias a bordo da embarcação. Esta seleção e alocação de tripulantes podem ser feitas internamente ou externamente, por empresa especializada em manning. Na Europa e Mediterrâneo é extremamente comum empresas especializarem-se em guarnecer frotas inteiras de navios, preocupando-se estas com o treinamento e certificação dos funcionários marítimos. Apesar de conveniente isto faz com que a qualidade de condução do navio no geral seja mantida, mas retira a identidade do tripulante como um membro contribuinte para o futuro do armador e sacrifica o plano de manutenção – que exigirá sempre período de familiarização ou deverá ser – enganosamente – curto (comportamento conhecido como ‘I’m here to sail the ship’ por parte da tripulação). UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 22 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 9. Estando a condução da embarcação e execução das atividades no Plano de Manutenção a cargo da tripulação, a seleção de bons oficiais é essencial para garantir gerenciamento a bordo Prover a embarcação com bons oficiais – Chefe de Máquinas, Imediato, Comandante – que exerçam suas funções com liderança e responsabilidade é essencial para garantir um fluxo de informações adequado e sincronia entre as ações de terra e de bordo, permitindo que o conhecimento do que está se passando a bordo seja transmitido sem enganos até o canal técnico de engenharia da empresa, em um feedback confiável. Outros oficiais de máquinas (e sub-oficiais como o Contramestre da embarcação) também são importantes para garantir um bom funcionamento da política de manutenção e QSMS da empresa – mas lembrando que sem figuras competentes na posição de Comte, Imto e CheMaq o principal repositório técnico de bordo e canal com a empresa estarão prejudicados. Guarnecer o navio com tripulantes experientes à primeira vista pode parecer simples, mas levando-se em consideração concorrência do setor offshore, exigências da ILO, somadas a legislação trabalhista para marítimos da bandeira do navio, bem como necessidade de novos treinamentos/reciclagem da tripulação (tanto obrigatórios para cumprir com regras de STCW, ISPS, ISM etc quanto para crescimento profissional) faz com que o rodízio de tripulantes seja intenso – sendo difícil manter o mesmo nível qualitativo da embarcação por longos períodos de tempo. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 23 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Em um exemplo, na bandeira brasileira a maioria dos armadores oferece à tripulação o sistema de 3 meses embarcado por 1 mês em repouso – sem contar as férias garantidas pela CLT. Levando-se em consideração um navio com tripulação de 20 pessoas (que não embarcaram todas no mesmo momento ou com o mesmo tempo de embarque) é fácil observar que ao retirar-se oficiais ou tripulantes para fazerem cursos (dado por empresa privada ou CIAGA / CIABA) e somar-se a isto o rodízio natural de embarque descrito acima, o quadro de tripulantes de um mesmo navio só será o mesmo novamente após 5 meses, o que implica em ter-se de providenciar bons tripulantes neste meio tempo para permitir que a qualidade de operação não seja sacrificada. Mais adiante abordaremos novamente a tripulação como instrumento de manutenção de navio, dentro do plano de manutenção e alternativas disponíveis no melhor interesse da utilização deste importante recurso humano. ¾ Setor de Compras: O navio exige peças de renovação constantes, tanto em equipamentos eletrônicos relativamente pequenos até itens como reatores completos de geradores de MCAs – passando por radares, purificadores, válvulas, placas eletrônicas e peças do MCP. Itens estruturais ou de tubulação também precisam ser comprados em acordo com especificações, e entregues a bordo em base regular para prover o insumo necessário para reparos e manutenções corriqueiras, segundo plano de manutenção vigente. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 24 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 10. A equipe de compras lida com especificações/cotações para itens completos como radares ou luzes de navegação até a compra de suas partes componentes para permitir reparos e intervenções Importante deixar claro que as ‘compras’ aqui mencionadas se referem aos materiais de máquinas ou convés anteriormente mencionados, não abrangendo itens menores e produtos químicos – considerados ‘consumíveis’ – como EPIs, tintas, gases, óleos e solventes especiais, vedações e juntas variadas etc. Um setor de compras eficiente na procura e retorno de cotação competitiva – internacionalmente – assim como na logística de remessa e consolidação de diferentes materiais para entrega a bordo do navio, não importando onde este esteja, é essencial para garantir que o setor técnico tenha o amparo de equipamentos necessário no menor tempo possível – ou uma previsão confiável quanto à disponibilização do mesmo. Idealmente, a parte jurídica e comercial do trânsito de peças (importadas ou não) irá ser coordenada pela mesma gerência de compras (também podendo ser encarada como gerência de materiais), apesar destas atividades de trâmite alfandegário não ficarem completamente a cargo da equipe, claro. É possível ter diferentes configurações para a equipe de compras, podendo a mesma servir toda a frota ou ser dividida de modo a atender navios específicos (ou seus UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 25 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla inspetores) – ou ainda por especializações, tendo alguns especializados em cotações e compras de peças de maquinário pesado, outros em partes elétrica/eletrônicas etc. Em uma empresa verticalizada este setor pode ser tolhido – ou mais cobrado – quanto à prestação de contas para o orçamento anual programado para permitir uma avaliação do setor gerencial técnico da frota. Dada a alta demanda cotidiana, a aquisição de equipamentos e materiais, bem como as cotações para comparação de diferentes fornecedores é algo que pode ser um desafio em se tratando de cotação no mercado internacional, ou mesmo nacional. No cenário nacional, a dificuldade se encontra na especificação do item, o qual pode gerar dúvidas se estiver pouco completa – por outro lado uma especificação demasiadamente detalhada pode reduzir o universo de fornecedores disponíveis. Isto se deve ao fato da grande maioria dos equipamentos marítimos serem importados e apesar de alguns destes terem representações ou similares nacionais, as opções ainda são restritas. Visando facilitar a comunicação entre compradores e fornecedores, podem ser utilizados guias e catálogos especializados que abrangem a maior parte dos materiais e equipamentos de prateleira utilizados a bordo. Estes catálogos em sua maioria simplesmente codificam o equipamento em um padrão alfa-numérico segundo sua especificação – a codificação pode levar em conta também o setor de utilização do equipamento, finalidade etc. Um destes catálogos é o Marine Stores Guide (Guia de Lojas Marítimas), editado e publicado pelo IMPA (International Marine Purchasing Association), que codifica materiais em seis dígitos para permitir a busca e cotação com facilidade pelos diversos fornecedores internacionais. Conhecido e utilizado mundialmente, permite a comunicação rápida justamente por transcender idiomas – apenas importando a especificação, representada pelo código correspondente. Atualmente, estaleiros no Oriente Médio e Ásia despontam como alternativas competitivas para docagem, em contraste com locais com grandes filas ou de custo elevado (como Estados Unidos e Europa). Estas alternativas são especialmente atraentes para navios de bandeira nacional operando no Brasil, onde a opção de estaleiros locais é UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 26 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla demasiado pequena ou pouco competitiva. Levando isto em consideração, a utilização de um recurso como o ‘IMPA Code’ é muito importante para garantir aquisição expedita de novos equipamentos e materiais próximos aos locais de entrega (no caso o estaleiro da docagem), diminuindo o custo com transporte dos mesmos. ¾ Setor de Estoque / Almoxarifado: A parte de suprimentos é composta por equipes de compra (citada acima) e equipe de controle de almoxarifado e estoque. Esta diferenciação faz-se necessária devido ao caráter industrial do almoxarifado, composto por itens muito diversos e em tão grande quantidade quanto maior for a frota – e a diversidade de navios (i.e. não haverá tanta intercambialidade entre itens componentes de grandes equipamentos ou sistemas). Para uma melhor performance econômica de aquisições de spare parts e racionalização do custo/m² do local de estoque das peças e equipamentos é necessário realizar um estudo que permita definir níveis ideais de estoque, bem como taxa de reposição e gasto de material ‘consumível’ (gases, EPIs, equipamentos portáteis, conforme definidos anteriormente). Entretanto, mesmo realizada esta análise é essencial que a atividade de atualização dos dados do estoque, inspeção de materiais armazenados e equipamentos retornados de reparos em oficinas de terra seja feita continuamente, em base diária – o que pode envolver um contingente razoável de pessoas dependendo do tamanho da frota. Podem ser necessários múltiplos locais de armazenagem, dependendo da composição da frota ou compromissos comerciais de longo prazo – ou mesmo orientação da empresa para expansão em novos mercados ou áreas. Frisando que múltiplos estoques envolvem o custo fixo do espaço físico e representação jurídica, bem como da equipe de operação para gerenciar o mesmo. Não é incomum utilizar-se dos serviços de agentes marítimos para permitir locais de armazenagem de grandes peças e equipamentos a serem embarcados ou utilizados em reparos – o que é conveniente para portos/regiões visitados com freqüência. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 27 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 11. Um almoxarifado bem administrado e em sincronia com o setor técnico é o grande centro de distribuição e provedor interno dos insumos para o Plano de Manutenção da empresa Em qualquer circunstância, a notificação para novas compras e reposição de estoque deve vir do almoxarifado – ou este prover relatórios e notificações que permitam o setor técnico requisitar o material necessário. Da mesma importância são relatórios de itens/equipamentos entregues ou não entregues na data prevista, visando permitir acionamento de fornecedores ou oficinas prestando serviço de reparo à equipamentos. ¾ Sistema de Comunicação / TI: No passado, a equipe responsável pelo gerenciamento de bordo estava isolada de grande parte das atividades comerciais da companhia principal. O envio de informação estava restrito à mensagens de telex ou radio, também sendo utilizado o correio para algumas outras comunicações. O que significava que o navio estava relativamente isolado quando no mar. Nas últimas duas décadas, a comunicação navio – terra está melhorando, email e telefones são normais a bordo e isto transformou a quantidade de informação que é possível transmitir de bordo instantaneamente. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 28 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 12. A tecnologia de comunicação resultou em maior segurança para o tráfego das embarcações e maior eficiência na coordenação de atendimentos para reparos e intervenções em equipamentos Com o pessoal de bordo tendo seu próprio email, o resultado é a redução de custos de postagem e despesas com taxas de agentes – além da possibilidade de feedback instantâneo em emergências ou situações adversas. Decisões e soluções de engenharia apresentadas para problemas nos mais diversos cenários passaram assim a ter embasamento muito maior, tornando mais seguro o planejamento de soluções e acompanhamento das mesmas por técnicos especializados – o que elevou a qualidade geral e confiabilidade de diagnósticos/reparos em máquinas. Este sistema de comunicação / TI a bordo – que envolve especificação, instalação e suporte de hardware/software para os sistemas essenciais e programas integrados de manutenção digital (a serem discutidos posteriormente) – exige profissionais da própria companhia com conhecimento da tecnologia empregada e contato estreito com os fornecedores dos serviços de comunicação e/ou softwares desenvolvidos. O outsourcing total desta atividade de suporte à comunicação / TI não é utilizado por ser necessária atenção integral para este sistema – o que torna necessária uma equipe ou gerência acumulando estas atividades, ainda que independente da gerência técnica da frota. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 29 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Além dos elementos citados acima, outro aspecto importante para o armador é a transparência financeira da operação, isto é: administração dos custos e investimentos sendo feitos, seja no cotidiano ou em projetos/estratégias de médio e longo prazo. Os custos de operação (e por extensão de gerenciamento) de um navio incluem cada elemento gerador de despesa para que o mesmo fique em condições comerciais. A organização destes custos em grupos é importante para o armador também por tornar possível identificar e focar em itens/grupos cuja performance esteja abaixo do esperado – i.e. onde o custo do item esteja elevado quando comparado com períodos anteriores. Neste intuito, alguns dos grupos correntemente utilizados internamente por empresas de navegação são: • Despesas com tripulação – sob este item são agrupadas todas as despesas relativas à tripulação do navio, incluindo folha de pagamento, despesas no porto, transporte, víveres etc. • Despesas com seguro – o custo dos seguros patrimonial e comercial do navio encontra-se neste grupo. • Despesas com manutenções regulares – todos os custos associados a execução do Plano de Manutenção do navio, seja as manutenções de natureza preventiva ou preditiva. Neste caso, são contabilizados custos de transporte, técnicos especializados, equipes de atendimento da própria empresa etc. • Despesas com avarias – custos relacionados a avarias e acidentes envolvendo a embarcação, com ou sem cobertura de sinistros. • Despesas com reparos – verbas destinadas à manutenções corretivas, sendo os materiais adquiridos com esta finalidade exclusiva. O custo destes materiais é formado na maior parte pelas despesas com aquisição de peças sobressalentes e de substituição. Alguns materiais constituem itens para trocas preventivas de peça ou reposição de estoques e também são alocados neste grupo. • Despesas com docagem – são os custos associados a docagem do navio, com os serviços e facilidades providas pelo estaleiro ou firmas contratadas. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 30 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Observa-se que durante uma docagem, alguns serviços podem recair neste grupo ou serem qualificados como despesas com reparos – o julgamento e decisão sendo do departamento técnico. • Despesas com suprimentos e materiais diversos – verba utilizada na aquisição de pequenos equipamentos, material de uso comum a bordo, tintas, produtos químicos diversos. • Custos de óleos lubrificantes – despesas com óleos lubrificantes e óleos hidráulicos. • Custos de óleos combustíveis – verba utilizada para aquisição de bunker e óleo diesel. • Custos administrativos – despesas associadas à administração da empresa. Incluem RH, impostos diversos, representações, serviços jurídicos e contábeis e similares. • Despesas com vistorias e classificação – custos relacionados à inspeções e vistorias dos órgãos governamentais, de classe, empresas de ensaios nãodestrutivos e serviços similares, cujo objetivo seja obter certificação, classificação e seguro. Vistorias para obtenção de seguro são enquadradas neste grupo. • Despesas com modificações – modificações ou novas instalações (como novos guindastes ou grandes equipamentos) tem seus custos alocados neste grupo. 5.4 Estrutura de empresa de gerenciamento Tendo já definido os elementos componentes responsáveis por pautar a formação e operação – do ponto de vista comercial/organizacional – em uma frota de navios mercantes, faz-se necessário entrar no aspecto técnico da viabilização comercial do navio durante seu período de vida, isto é, o desenrolar da atividade de manutenção. No setor de transporte marítimo, a gama de elementos envolvidos em uma operação comum de um navio liner visando seu bom desempenho econômico vai desde treinamento adequado para profissionais a bordo do navio até o conhecimento profundo da UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 31 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla evolução de novas exigências implementadas quanto à Port State Control nos portos de atracação. É importante visualizar como as diversas ‘sub-atividades’ referentes a este gerenciamento são distribuídas pelos diferentes setores de uma empresa, com cada setor tendo relativa autonomia para a decisão de cada elemento recaindo sob sua esfera de influência. Usando uma companhia verticalizada como exemplo, pode-se observar o seguinte organograma típico: 1 2 5 6 3 4 7 Figura 13. Organograma de empresa típica verticalizada As responsabilidades e atividades de cada departamento/posição técnica estão detalhadas a seguir – estando o Chief Executive excluído por ter a participação mais indireta nas atividades de gerenciamento nas quais estamos interessados: 1. Managing Director (‘Diretor Operacional’) Trata do gerenciamento controlador, acompanhando os resultados obtidos, comparando-os com a estratégia traçada na ocasião do planejamento. Suas análises de resultados permitem estabelecer novos padrões de procedimento, adotando medidas corretivas, visando melhorias do desempenho das atividades. A partir daí poderá ser definida a política de segurança e outros fatores que favoreçam a boa saúde da empresa. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 32 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 2. Techinical Director (Diretor Técnico) Como líder diário do departamento técnico, supervisiona tanto gerência sênior, como outros setores técnicos, sendo responsável por orçamentos e operações desse departamento. Prepara e efetua programas de manutenção efetivo, inventário de sobressalentes e sistema de compras e relatórios. Efetua planejamento de longo-prazo que, objetivando aumentar a eficiência e a confiabilidade da companhia. Prepara contratos com fornecedores, providencia reparos e manter atualizado o estoque de óleo. Suas decisões são fundamentais em projetos de new-building, grandes conversões, recuperação/salvatagem ou grandes reparos. 3. Financial Director (‘Diretor Financeiro’) Define as metas, objetivos e orçamento financeiros, através do monitoramento de investimentos de fundos e gerenciamento dos riscos associados. Efetua atividades de gerenciamento do caixa e traça estratégias para levantamento de capital e financiamentos. Com responsabilidade geral para comprar e vender títulos promissórios, exerce a função de procurador na administração de fundos a fim de agilizar desembaraço de compromissos com fornecedores, satisfazer todas as obrigações financeiras da companhia, incluindo hipotecas, empréstimos, seguros, tributos e pagamento de encargos de bordo e de terra. É de sua responsabilidade o controle do patrimônio da empresa e prestação de contas junto ao Conselho Administrativo. 4. Personnel Manager (‘Gerente de Pessoal’) Também denominado ‘Gerente de Recursos Humanos’ com responsabilidades de recrutar a equipe de bordo e de terra. Freqüentemente, terceiriza a seleção de funcionários para trabalho a bordo, utilizando-se de agência especializada para essa finalidade (manning). O Personel Manager é responsável pela manutenção e padrão de treinamento dos empregados e suas certificações necessárias. Pesquisas demonstram que, atualmente, o comércio internacional conta com 400.000 oficiais e 850.000 marítimos na ativa. Países da OECD (América do Norte, Europa Ocidental, Japão, etc) sempre foram as maiores origens de oficiais; entretanto, UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 33 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla trabalhadores oriundos do Extremo Oriente e da Europa Oriental, já estão, em grande número, integrando esse setor de mão-de-obra. Os países em desenvolvimento, em especial, do Extremo Oriente, são as maiores fontes de marinheiros recrutados. As Filipinas enviam em torno de 20% da força de trabalho marítima mundial, com China e Índia também como fontes significativas. Grande percentual desse setor é empregado por empresas internacionais de shipping em navios de bandeira estrangeira. 5. Operations Manager (‘Gerente Operacional’) Supervisionar as operações diárias para deslocamento do navio, a movimentação de carga e passageiros, auxiliar na decisão entre as opções comerciais para roteamento, atento a itens como tempo de manobra e trim. 6. Technical Manager (‘Gerente Técnico’) O gerente técnico é o responsável pelo atendimento às autoridades fiscais e às empresas classificadoras, organizando e fornecendo todas as informações necessárias às vistorias e fiscalizações nacionais e internacionais. Para tanto, manter as embarcações dentro dos padrões, com todas as classificações necessárias válidas, é uma de suas funções. Coordena os superintendentes, acompanhando o plano de manutenção de todos os equipamentos de bordo e casco, efetuando os devidos reparos e as especificações de docagem; conserva, também, atualizados os registros necessários às contratações de seguro. É,também, de sua responsabilidade, dar suporte à equipe de gerenciamento, fornecendo back-up técnico para os superintendentes quando necessário, exercendo liderança nos projetos em serviços de docagens, conversões e grandes reparos. É subordinado direto do diretor técnico. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 34 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 7. Superintendents (‘Superintendentes’ ou ‘Inspetores’) Na estrutura convencional de companhias de navegação, a superintendência era dividida em duas áreas distintas de responsabilidade, sendo elas: • Engineering Superintendent • Marine Superintendent O último era geralmente recrutado como um oficial de navegação altamente qualificado e experiente. Ambos se reportam diretamente ao gerente técnico. Filosofias modernas combinam estes dois papéis dentro da companhia de navegação. Muitas companhias estão agora operando Planos de Manutenção Programada (Planned Maintenance Systems – PMS), que podem ser computadorizados com links para transmissão de / para as embarcações. Responsabilidade por gerenciamento e supervisão destes sistemas do pessoal de terra deve ser claramente identificada – usualmente no nível do Superintendente. Estes sistemas podem se dividir em DECK e MACHINERY (abordados mais adiante no capítulo sobre manutenção) ou podem abranger de uma só vez todos os sistemas da embarcação – estrutura, acabamentos, equipamentos, maquinário, navegação, etc. Alguns destes sistemas computadorizados podem ser convenientemente compatíveis com notações internacionais utilizadas por sociedades classificadoras. 7.1 Marine Superintendent (‘Superintendente Marítimo’) O Superintendente Naval tem a capacidade e encargo pelo cuidado e manutenção dos navios e tripulação do departamento de convés. Ele também é responsável pela chegada ou saída da docagem de um navio e supervisiona a carga e descarga. – assim como os arranjos para as vistorias de salvatagem e náutica para certificação e classe. Prepara as previsões e registros de orçamento x custos com a assistência dos oficiais do navio, implementa o programa de manutenção à bordo, realiza o controle de sobressalentes e sistemas de compras e relatórios. Elabora também a escala de tripulação, especificações para docagem e reivindicações de seguro – tudo para o ‘departamento de convés’. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 35 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 7.2 Engineering Superintendent (‘Superintendente de Engenharia’) O Superintendente de Engenharia tem o dever principal de controlar o embarque, serviços e desembarque de toda a equipe de engenharia, em terra e em bordo. A manutenção, inspeções de vistoria, reparos de todo o maquinário e supervisão de relatórios enviados por Chefes de Máquinas. Isto inclui arranjos para vistorias de motores, plantas de vapor e auxiliares. Ele prepara especificações de reparos e docagens, supervisiona e coordena os serviços de todas as docagens, assim como verifica e prepara todas as ordens de compra para sobressalentes e reposição de estoques. Mantém também toda a documentação atualizada para as autoridades de classe e portuárias, além de manter controle sobre o consumo de óleo combustível e lubrificante, o consumo de sobressalentes ou outros materiais e outros custos de operação. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 36 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 6 Manutenção 6.1 Definição Podemos definir ‘MANUTENÇÃO’ como algo que envolve execução e coordenação das atividades necessárias para garantirmos que todos os sistemas componentes do navio continuem a operar em perfeito estado durante sua vida útil. Simplificando, manutenção é todo o conjunto de ações de controle e monitoramento dos equipamentos (incluindo elementos estruturais). Observando que a manutenção não aumenta a confiabilidade, apenas leva o equipamento a operar sempre próximo às condições originais de entrega. Observa-se entretanto que a forma como é compreendida a manutenção dentro do âmbito de uma frota – ou mesmo de um único navio – é distinta da concepção tradicional em outros campos/modais de atividade econômica de transportes, devido em grande parte ao fato da complexidade envolvida em uma embarcação de médio ou grande porte. Mas antes de abordarmos problemas mais específicos dentro do campo de Gerenciamento de Frota e suas soluções, precisamos definir melhor os objetivos a serem alcançados, o escopo e tipos de manutenção praticados – e posteriormente as atribuições de responsabilidade para as atividades requeridas. 6.2 Objetivos Assim, uma analogia direta em termos de paradas de manutenção seria em lugar de comparar o navio a um elo mais comum de cadeia logística (o modo rodoviária, por exemplo), compará-lo diretamente a uma indústria de produção de energia. Afinal, UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 37 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla uma empresa envolvida em geração e distribuição energética é um campo industrial cuja produtividade e desempenho financeiro é diretamente proporcional ao seu tempo de operação, onde as paradas (previstas e imprevistas) para manutenção ou reparos têm influência enorme dentro de sua receita, despesas e orçamentos mensais, trimestrais e anuais. Prosseguindo nesta analogia, supondo sermos acionistas ou sócios em uma empresa deste setor (energético) quais atitudes seriam esperadas para obtermos máximo lucro? Podemos citar as mais óbvias com certeza: 1 - Que não interrompa seus serviços ao longo do ano por fatores inesperados ou, sendo imprescindível a interrupção por motivos já planejados, que sejam as mais breves possíveis; 2 - Que o gasto com reparos ou manutenções com equipamentos seja o mínimo possível, tanto a mão-de-obra necessária quanto a peças de reposição; 3 - Que o gasto com insumos para a operação seja o mínimo possível, oferecendo a melhor razão receita/custo para suas necessidades operacionais. Estes três paradigmas, razoavelmente simples, pautam as decisões estratégicas e operacionais da empresa dentro do contexto do mercado onde atua. E mesmo sendo um mercado doméstico, devido à internacionalização da maioria dos componentes de equipamentos industriais, seu grande porte e porventura longos prazos para entregas em estoque, esta indústria precisa submeter sempre seu planejamento técnico e estratégico a fatores por vezes puramente financeiros, como operações cambiais e trâmites alfandegários de importação. Adiciona-se a isto a preocupação com normas nacionais de segurança, saúde, meio-ambiente e trabalho, sobre as quais a empresa é auditada e tem certificações emitidas regularmente. Sendo um ambiente industrial existe a responsabilidade da empresa sobre o risco à vidas e quanto a poluição, o qual precisa ser levado em conta quando da definição sobre priorização de itens críticos a sofrerem manutenção e sua programação dentro da janela devida. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 38 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Transportando-se isto para o campo da navegação de cabotagem, temos um cenário ainda mais amplo onde o navio partilha grande parte dos reveses e desconfortos de um plano de manutenção industrial com agravantes como: • Falta de uma localização específica, isto é: sua movimentação constante para diferentes portos e dependendo do tipo de operação do navio, como vimos antes, sem uma definição de destino ou estadia além de alguns dias. • Necessidade de conformidade com normas internacionais (não só as ratificadas nacionalmente) devido à suas características únicas de operação; • Estando o navio em trânsito, falta de possibilidade de pronto-atendimento em caso de acidentes a bordo ou necessidade emergenciais. O plano de manutenção elaborado para uma frota de navios mercantes tem como ‘macro’ objetivos principais para o armador/operador do navio: • Obter certificação de classe e equipamentos junto a Sociedades Classificadoras, para obter cobertura de proteção do patrimônio e empreitada comercial junto a seguradoras, P&Y Clubs etc. • Manter o navio em conformidade com as exigências estatutárias e regulamentações necessárias (IMO, ICLL, SOLAS, ILO, IOPP, IAPP etc) para sua operação legalizada dentro das águas navegadas e portos de destino. • Conservar as instalações e estruturas do navio em boas condições de navegabilidade e segurança no manuseio da carga, incluindo equipamentos específicos para manipulação de carga (ICGB), mesmo que nem sempre utilizados – refletindo na performance do navio quando em tráfego normal. Dos padrões e inspeções/vistorias realizada por órgãos externos mencionadas acima, algumas das mais importantes são as de PSC e FSC, detalhadas abaixo com objetivo de exemplificar o mecanismo regulatório atuante – bem como ressaltar as implicações para o armador/ empresa de gerenciamento de um gerenciamento falho. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 39 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla PSC (Port State Control), ou ‘Controle do Estado do Porto’, é o controle e inspeção das embarcações de bandeira estrangeira que aportam em determinado terminal nacional (qualquer país outro que não o de bandeira). Quando se trata de embarcação sendo inspecionada no próprio país de registro, chama-se a isto Flag State Control (FSC), ou Controle do Estado da Bandeira. Esta inspeção é controlada através de órgão oficial ou empresa credenciada, designados competentes – no caso do Brasil, a DPC (Diretoria de Portos e Costas), tendo representação executiva em cada localidade pela Capitania dos Portos apropriada. Ainda no caso do Brasil, cada Capitania conta com seu próprio corpo de inspetores navais para levar a cabo estas atividades. A inspeção de ambos os tipos – Flag State e Port State – é extensiva e visa garantir que e embarcação esteja operando com segurança para a tripulação, meioambiente e terminal de carga/descarga. Para tanto, é necessário o enfoque nos seguintes itens: • Certificados de Classe; • Certificados Estatutários; • Certificado da Vistoria de Condição; • Itens diversos de máquinas e equipamentos – principalmente os relacionados à geração de poluição, energia do navio (quando no terminal), salvatagem, comunicações. Apesar de existir periodicidade máxima definida por regulamentação específica – navios estrangeiros pela primeira vez no país, navios com mais de três meses desde última vistoria etc – não existe periodicidade mínima, o que implica na possibilidade da embarcação ser submetida a este controle em quaisquer dos portos que atracar. Caso algum item ou equipamento inspecionado esteja fora do padrão, este terá de ser reparado ou a situação atendida em prazo considerado adequado pela Capitania – prazo este estipulado de acordo com a gravidade do problema ou importância do equipamento/item. Na eventualidade da não-conformidade identificada pelo inspetor naval UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 40 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla ter efeitos muito importantes na navegação do navio, meio-ambiente ou segurança da tripulação, a Capitania pode definir o prazo para solução da pendência como ‘antes da saída’ ou AS (BS – before sail). Na situação descrita acima (‘pendência AS’), é necessário que a empresa de navegação ou de gerenciamento responsável pela embarcação providencie as medidas adequadas e expeditas para prevenir que isto a afete financeiramente – tanto em questão de atrasos com compromissos comerciais já assumidos, perda de receita pelo navio parado quanto em multas portuárias por ocupação do berço. Estas medidas podem incluir substituição de equipamentos ou suporte por técnicos especializados, o que possivelmente demandará tempo e gastos significativos de movimentação. Conclui-se então que as inspeções navais de PSC (para navios estrangeiros) e de FSC (navios nacionais) podem proporcionar surpresas bem desagradáveis ao armador. O acompanhamento das condições da embarcação no atendimento à legislação em vigor é a melhor ferramenta na melhoria da operacionalidade e na redução do custo da frota. No entanto, o monitoramento de novas resoluções emitidas e aprovadas pela IMO, cujos países trafegados são signatários – e legislações navais específicas destes países – pode tornar-se complexo devido à prazos de implantação e a interpretações diversas do texto das resoluções. Feito in-house, pela empresa de navegação (ou de gerenciamento), este acompanhamento demanda experiência e consultas freqüentes à órgãos nacionais e internacionais – sendo uma atividade que exige atenção significativa A alternativa é utilizar empresas de consultoria naval especializadas em prover visitas técnicas nas embarcações, simulando inspeções e/ou orientando a tripulação para o cumprimento das exigências atuais, além de preparar material didático na implementação de treinamento. 6.3 Focos da atividade de manutenção Os sistemas a bordo e abrangidos pelo escopo do plano de manutenção podem ser separados por diferentes critérios funcionais, por exemplo: UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 41 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 1. Casco e seus elementos estruturais: compreende o aço utilizado na estrutura do navio, e em seus elementos solidários a resistência estrutural primária, secundária e terciária do navio, aos seus carregamentos estáticos e dinâmicos quando em navegação. Outras estruturas e montagens de aço como a superestrutura e conveses expostos (weather decks) também se enquadram nesta categoria. Estão incluídos: • Chapeamento externo do casco e seus reforços (inclusive apêndices externos como bolinas ou caixas de mar); • Anteparas de tanques e compartimentos (e seus reforços); • Chapeamentos na superestrutura (conveses e anteparas) e seus reforços; • Braçolas de porões (em caso de navios com convés aberto); 2. Equipamentos e sistemas para propulsão e geração de energia: compreende o motor principal e unidades de geração auxiliar de energia, bem como aquelas acopladas diretamente ao motor principal. Outros equipamentos periféricos porém cruciais para o funcionamento dos sistemas como bombas diversas (como de OC, OD, AD, AS e OL), compressores e turbinas compõe este grupo – assim como tubulações e válvulas do próprio sistema de transferência e alimentação. 3. Equipamentos e sistemas para controle de lastro e esgoto: os equipamentos envolvidos na movimentação de água de lastro, redes de incêndio e esgoto do navio (incluindo tankwashing em navios tanque), assim como suas respectivas tubulações. 4. Equipamentos e sistemas para suporte de vida humana a bordo: a tripulação a bordo depende de diversos sistemas como HVAC, Hydrofor, aquecedores e sistemas domésticos nas acomodações (ou iluminação nos porões em caso de navios de carga geral ou containers). 5. Equipamentos e sistemas para carga: cada tipo de navio terá seu sistema envolvendo a manutenção e transporte da carga, citando alguns deles: • Em navios tanque: sistemas de aquecimento dos tanques de carga, sistemas de bombeamento, carregamento e descarga da carga. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 42 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla • Em navios graneleiros e cargueiros: sistemas de tampas de escotilha, abertura e fechamento – bem como guindaste e semelhantes. • Em navios porta-containers: tampas de escotilha e cargo gear em geral, com adição de elementos como cell guides, spreaders e tomadas de alimentação de energia para containers refrigerados (reefers). 6. Equipamentos e sistemas para salvatagem e combate a poluição: engloba todo o aparato para segurança da tripulação e de combate à poluição do meio-ambiente, como baleeiras, balsas, bomba de incêndio de emergência, materiais para contenção de vazamento de óleo, aparelhos como EPIRB e GMDSS. Isto inclui bandejas e telas para suspiros em conveses e outros detalhes semelhantes. 7. Estruturas, equipamentos e sistemas para amarração e manobrabilidade: os sistemas para amarração, DP, leme podem ser englobados aqui – inclusive as próprias amarras e âncoras e estruturas/compartimentos associados como os chain lockers e escovéns. 8. Equipamentos e sistemas para controle e automação da embarcação: o navio é composto por diversos sistemas elétricos e de repetição de alarmes, sinalizações, rádio – bem como sistemas para navegação como radares, antenas e sensores instalados em seu casco/mastros. Também aqui figuram aparelhos de registro interno e computadores/softwares para estabilidade, carregamento etc. 6.4 O Plano de Manutenção (PMM) Identificados os elementos funcionais com seus sistemas e equipamentos, é necessário elaborar um manual para cada navio da frota, visando programar as manutenções preventivas – assim como os testes e monitoramentos periódicos para permitir a execução de intervenções preditivas também. Este manual é particular de cada navio, tanto devido aos diferentes modelos de equipamentos (em conseqüência diferentes recomendações dos fabricantes) quanto ao UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 43 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla calendário das atividades de manutenção variar conforme variam rotas, horas de uso de maquinário e datas de certificação. A este documento chama-se ‘Plano de Manutenção’, e à supervisão das atividades nele delineadas, Planned Maintenance Management (PMM). O mesmo pode ser elaborado in house pelo armador ou por consultoria de empresa de gerenciamento – no entanto, como o mesmo deverá ser constantemente revisado e retrabalhado, o ideal é que sua versão inicial seja elaborada pelo mesmo setor que irá referenciá-lo no cotidiano operacional. A política e documentação de PMM da companhia busca sempre seguir padrões de qualidade internacionais conforme requeridos por normas, e balizar-se por certificações como a ISO9000, QS9000 e outras similares originadas pela ISO/TC-176, referentes à gestão de qualidade – o que fundamentalmente é a busca do setor de gerenciamento, tanto internamente (na condução de suas atividades) quanto no padrão perseguido para a operação do navio. Em adição ao PMM, ferramentas computacionais são utilizadas para auxiliar no desempenho das atividades e decisões gerenciais/técnicas ao longo do ciclo de vida do navio. Os aspectos abordados por estes softwares variam bastante, indo desde ‘simplesmente’ uma interface direta de compras e cotações de partes/materiais até suítes completas para acompanhamento de toda a documentação do navio e comunicação bordoterra. Alguns destes softwares abordam principalmente a questão de decaimento estrutural do navio, o qual é um assunto em pauta para o armador ao longo de toda a vida útil da embarcação – por se tratar de uma das maiores preocupações para classificação e operação segura. Além disso, o sistema estrutural é um grande gerador de custo concentrado, visto que a docagem de um navio em dique seco (requerida para renovação de classe) é o único momento quando é possível realizar trocas de chapas e alterações estruturais significativas – dada a dificuldade em conduzir estes serviços com o navio em tráfego. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 44 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla A maioria dos softwares com este enfoque opera de modo bastante similar, por vezes oferecendo ferramentas internas distintas, mas com o mesmo princípio básico. No caso, o paradigma básico é: servir de repositório para as medições de espessuras e checagens no casco ao longo de toda a vida útil da embarcação. Deste modo, um banco de dados é montado com as informações sobre as condições dos elementos estruturais, indexadas tridimensionalmente (i.e. localização na embarcação) e temporalmente (i.e. data da coleta de dados). Este banco de dados preferencialmente deve permitir ainda a visualização rápida e de fácil compreensão destas informações, alimentando um modelo tridimensional do navio. Isto permite a identificação de zonas no chapeamento cujo decaimento (corrosão, presença de trincas, deformações etc) está anormalmente acelerado, o que poderá exigir uma investigação mais profunda e talvez alterações na configuração da estrutura local. Outro ponto estratégico para a utilização deste banco de dados tridimensional/temporal é a possibilidade de estimar com mais precisão a quantidade de aço a ser trocada a cada docagem, o que não só possibilita uma maior controle orçamentário e da programação como também reduz a possibilidade de surpresas durante inspeções de classe. Abaixo alguns exemplos de softwares com este enfoque: • C4D: Como definido acima, um dos principais objetivos deste programa é ser um repositório de informações das medições de espessuras realizadas ao longo da vida do navio. O software permite uma visualização de todo o navio em detalhes, com acréscimo de fotos para evidências objetivas de não-conformidades estruturais. Outra característica interessante deste sistema é que o mesmo oferece modelos de predição para a taxa de decaimento estrutural em diferentes regiões, baseando-se nas informações contidas no banco de dados. Uma ressalva no entanto é que como esta taxa de decaimento está sujeita à variáveis como pH da água, salinidade, fauna marinha, tipo de tinta utilizada na estrutura e condições de navegação. Sendo assim, um navio sujeito à mesma rota por anos de operação poderá ter uma taxa de decaimento razoavelmente balizada, enquanto um navio sujeito a operação em diferentes rotas, climas e condições gerais (no caso, UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 45 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla navegação fluvial ou marítima) terá, para dada região do casco, uma taxa/curva de decaimento em função do tempo bastante complexa. • Hull Management Software: Oferecido pela Sociedade Classificadora ABS (American Bureau of Shipping), além de permitir o mesmo modelo 3D que o software anterior, também serve como uma ferramenta automática de auditoria do casco quanto à normas de classificação. Ou seja, com o modelo gerado dentro do sistema e os dados de UTMs recentes, o programa retorna quais as regiões próximas ao limite mínimo para espessura e segurança estrutural. Observa-se, entretanto que o software não oferece sugestões ou indica problemas crônicos, estando esta análise a cargo da equipe de gerenciamento do navio. Figura 14. O Hull Management Software, ABS, oferece checagem automática de regras para substituição de aço baseado no banco de dados de última UTMs – sem previsão futura no entanto, como o C4D • Nauticus Hull Integrity: Oferecido pela Sociedade Classificadora DNV (Det Norske Veritas), comporta-se como o software ‘Hull Management Software’ descrito acima, com a diferença que apesar de ter sistemas a bordo ou em terra para permitir atualização de dados e do modelo; possui uma interface de consulta via internet, o que permite a disponibilização das informações mais rapidamente. Se for necessário, uma empresa de gerenciamento responsável por amplas frotas pode simplesmente terceirizar a atualização do banco de dados (por exemplo, ao invés do mesmo ser atualizado in house, a empresa de medição de espessura ou classificadora podem se encarregar deste serviço) e concentrar-se na análise dos dados e UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 46 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla definição de soluções. Outro ponto de destaque é a integração com um modelo FEM de porões/tanques de carga, armazenado dentro do próprio programa – o que é uma vantagem para analisar in-house grandes reparos, modificações ou conversões. Figura 15. O Nauticus Hull Integrity, DNV, oferece integração com software de FEM para análises estruturais locais ou extensivas, no caso de grandes modificações ou conversões Outro campo enfocado por softwares de gerenciamento marítimo é o circuito de compras e cotações para sobressalentes e equipamentos marítimos. A organização e cotação em fornecedores internacionais, com um retorno rápido de cotações e ofertas, é algo de extrema importância – com já estabelecido anteriormente, no capítulo 5.3. No capitulo 7 será analisado um software específico dentro do estudo de caso realizado. 6.5 Responsabilidades de bordo Definido acima, o Plano de Manutenção da empresa é elaborado e supervisionado por profissionais de terra, com conhecimento técnico para oferecer novas soluções ou especificações – assim como realizar a interface necessária com outros aspectos da operação, já descritos anteriormente. Entretanto, a execução efetiva da maioria das atividades de conservação e manutenção do navio fica a cargo da tripulação embarcada. Sendo assim, segundo já convencionado no meio marítimo, também no plano de manutenção é usual identificar tarefas correspondentes aos setores de bordo, agrupando UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 47 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla as por equipamentos ou sistemas. Esta segregação é interessante para identificar responsáveis pela execução de cada parte do plano, além de tornar tarefas diárias de conservação e operação dos equipamentos/sistemas mais expeditas. Em geral, os setores são divididos em convés, máquinas e passadiço – podendo a divisão ser maior para casos como navios de passageiros ou de operação offshore onde o componente alvo da operação (respectivamente acomodações/instalações e sistemas específicos offshore). 6.5.1 Convés (Deck) Abrange equipamentos e instalações em conveses fora da Praça de Máquinas, assim como a recuperação e cuidado constante com itens de caldeiraria (estrutural ou não). Este setor está em geral sob controle do imediato e pode ou não requerer atenção particular da equipe de técnica de terra, tendo porventura um superintendente designado especificamente para a supervisão de seu plano de manutenção – o que em navios de passageiros é comum devido à quantidade de itens desta natureza que exigem inspeção e acompanhamento constante. Alguns dos itens englobados por este setor podem ser: • Equipamentos de amarração e fundeio – molinetes, cabrestantes, guinchos, paiol de amarras, amarras, cabos de amarração, cabeços, buzinas e similares. • Esteiras de carga, guindastes e guinchos para manuseio de carga. • Tampas de escotilha e seus sistemas (se houver) – sistemas hidráulicos ou elétricos de controle das tampas, vedações, atracadores e sistemas de afixação de carga. • Ventiladores/exaustores e suas saídas de ventilação. • Monovias e guinchos de elevação para auxílio em manobras de bordo. • Redes sobre o convés principal e dentro de porões de carga (no caso de carga seca). UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 48 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla • Sistemas eletrônicos para unidades hidráulicas e iluminação. • Equipamentos de salvatagem e combate a incêndio - baleeiras, coletes, lança-retinida, instalações externas de EPIRBs e AISs. • Distribuição de controle de força nos conveses internos e externos. • Antenas de radares e equipamentos de comunicação. • Bow thrusters, azipods e outros equipamentos para controle do navio. Uma subdivisão pode ser feita para os itens de salvatagem e combate a incêndio que, com a implantação do ISM Code, abrangem uma quantidade significativa de itens que requerem atenção especial por se tratarem da salvaguarda da vida humana. Itens referentes à conservação estrutural como calderaria leve em bandejas de óleos, suspiros de convés e condição geral estrutural em tanques, porões e conveses expostos também são agregados sob a responsabilidade deste setor. Frisa-se que a discriminação acima de grupos de sistemas e os equipamentos atribuídos a cada grupo não é universal e apesar de utilizar funcionalidade e finalidade como métodos para associação, outros critérios podem ser utilizados como, por exemplo, diferenciação entre equipamentos mecânicos e elétricos, tipos de fluido interno (no caso de tubulações). O importante é que a identificação de cada ‘grupo’ abrangido por um Vessel Maintenance Plan permite uma primeira abordagem quanto ao tratamento e priorização nas atividades de rotina de manutenção – assim como identificação de recursos alocados à cada grupo de equipamentos, o que é muito útil. 6.5.2 Máquinas (Machinery) Abrange todos os equipamentos e sistemas da praça de máquinas, assim como itens ao longo da linha de carga do navio – dependendo da natureza da embarcação, por exemplo um tanker pode ter sua linha de aquecimento e movimentação de carga designados sob este setor de máquinas. A supervisão dos equipamentos visa também subsistemas como automação, supervisão e regulagens de sistema de segurança, UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 49 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla instrumentação, controles pressurizados, com indicações remotas e comunicações e alarmes internos. Alguns dos itens sob este sistema são: • Motor principal (ou motores) e seus equipamentos diretamente acoplados – MCP, turbocarregadores, alarmes, detector de névoa, turbinas auxiliares etc • Motores auxiliares e geradores de eixo e seus equipamentos • Caldeiras / incineradores; • Unidades de tratamento / separadores de água e óleo; • Graviner; • Comandos eletroeletrônicos de viscosímetros e salinômetros; • Painéis de motores-bombas; • Quadro elétrico principal; • Máquina do leme; • Compressores de ar; • Central de ar condicionado / frigorífica doméstica; • Ponte rolante / ventiladores; • Geradores; e • Elevadores de cargas e sociais. 6.5.3 Passadiço (Bridge) Central de governo, controle de alarme e segurança para navegação, sinalização e sistemas com interface ou repetição na Praça de Máquinas, tais como: • Alarme geral; • Sistema de alarme de incêndio iônico ou óptico; • Sistema eletrônico de luzes de navegação; • Vigias rotativa / limpadores de pára-brisa; • Iluminação de emergência; e • Coluna do leme. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 50 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 6.6 Tipos de manutenção O principal objetivo da manutenção é evitar ou diminuir as conseqüências da falha do equipamento. Isto pode ser conseguido em se prevenindo a falha antes que ela realmente ocorra, com a ajuda de manutenção preventiva e manutenção baseada em condições operacionais. É projetada para preservar e restaurar a confiabilidade do equipamento substituindo componentes desgastados antes que eles realmente falhem. Atividades de manutenção preventiva incluem inspeções parciais ou completas de tempos em tempos, trocas de óleo, lubrificação, etc.. Ademais, os operadores podem registrar a deterioração do equipamento de modo que eles saibam quando substituir ou reparar partes desgastadas antes que elas causem a falha do sistema. O programa de manutenção preventiva ideal deveria prevenir todas as falhas do equipamento antes que elas ocorram. Outra diferenciação para o conceito de manutenção é o tipo ou natureza da manutenção. Na literatura e prática, encontramos três abordagens específicas para o tratamento da manutenção de equipamentos, relacionados em três classes de atividades, de acordo com o contexto ou natureza da intervenção e sua programação – assim como sua importância dentro da elaboração de uma política de segurança: • Manutenção Preventiva (Preventive Maintenance) • Manutenção Preditiva (Predictive Maintenance) • Manutenção Corretiva (Corrective Maintenance) Observa-se ainda que os dois primeiros tipos – preventiva e preditiva – são os únicos presentes em um planejamento de manutenção do navio (no caso, no PMS), visto que a manutenção corretiva deve ser levada em conta como um overhead operacional dentro de uma visão de gerenciamento, pois infelizmente não é capaz de ser incluída como algo programado (por motivos óbvios) – e devido à complexidade do elemento navio, sua exposição à intempéries e condições adversas de operação, a manutenção corretiva é de fato algo tido como inevitável no longo prazo. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 51 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Outra classe de manutenções específicas para navios são aquelas realizadas em docagem – o evento de docagem merece atenção especial e será detalhado como sendo tipo particular de docagem dentro do contexto de gerenciamento de frota, mais abaixo. 6.6.1 Manutenção Preventiva É o cuidado e o reparo/ajuste por pessoal treinado com o propósito de manter os equipamentos e instalações em condições de operação satisfatórias, provendo inspeção sistemática, detecção e correção de falhas insipientes, tanto antes que elas ocorram ou antes de terem se desenvolvido em defeitos maiores. As intervenções podem incluir testes, medições, ajustes e substituição de partes, realizados especificamente para prevenir a ocorrência de falhas. Ou seja, pode ser compreendida como toda ação de controle, conservação e restauração com o objetivo de manter o equipamento dentro de parâmetros operativos e desempenho especificados, desempenhada com regularidade não-definida por coleta de dados durante operação – isto é: uma intervenção com planejamento primariamente temporal e não qualitativo, no que se diferencia de uma manutenção preditiva (a ser descrita abaixo). Importante atentar que, enquanto a manutenção preventiva é normalmente considerada vantajosa, existem riscos tais como falha de equipamento ou erro humano envolvido quando se realiza a manutenção preventiva, bem como em qualquer outra operação de manutenção. A manutenção preventiva, agendada para troca de peças ou inspeção em geral consiste em uma das três políticas proativas disponíveis para o engenheiro de manutenção. Métodos comuns para se determinar quando uma política de controle de falhas deve ser aplicada incluem: especificações do fabricante, regras de sociedades normativas e legislação aplicável, opinião de especialistas ou o tipo de manutenção que já é aplicado em equipamento similar. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 52 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 6.6.2 Manutenção Preditiva É o acompanhamento periódico dos equipamentos, baseado na análise de dados coletados através de instrumentos de monitoração online ou inspeções em campo. Pode fazer parte de um conceito maior de ‘manutenção centrada em confiabilidade’ - contudo, a Manutenção Centrada em Confiabilidade provê os métodos mais rigorosos para se determinar as políticas de manutenção aplicáveis para controle de falhas efetivo para um equipamento ou sistema, e isto inclui a manutenção preventiva. Esta natureza da manutenção é mais adequada a itens com possibilidade de obtenção de base de dados sólida e confiável, tal qual MCPs, MCAs, Caldeiras e outros equipamentos que permitam a instalação de sensores ou inspeções visuais periódicas. Itens como redes de tubulações, presença de corrosão em estuturas ou equipamentos ‘pequenos’ como bombas e motores elétricos muitas vezes não compensam a coleta de dados periódica para estimar-se a janela de intervenção, pois estão sujeitos à múltiplas variáveis e as ações necessárias para suas respectivas conservações serem relativamente simples – do ponto de vista técnico/logístico, ainda que por vezes tomem tempo de execução significativo. O Plano de Manutenção da empresa deve então estipular mecanismos para monitoramento e acompanhamento do funcionamento de determinados equipamentos. Estes mecanismos podem se mostrar sob a forma de registros periódicos dos dados de operação coletados, os quais são enviados para a equipe técnica da empresa e analisados – ajustes operacionais sendo tomados para melhor desempenho ou intervenções preventivas programadas. Os dados operacionais a serem monitorados podem vir por diversos meios, como por exemplo: • Sensores instalados nos grandes equipamentos com seus mostradores próximos aos equipamentos ou na sala de controle de máquinas – termômetros, manômetros, tacômetros etc. A coleta destes dados pode UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 53 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla auxiliar na montagem de um diagrama de pirometria dos diversos equipamentos, especialmente MCPs e MCAs. • Sensores instalados ao longo de linhas alimentando estes equipamentos, como linhas de AS, AD, OC, OD e OL. Estes dados são vitais para a detecção de fuga de pressão ou isolamento baixo ao longo das linhas de fluidos, evitando que o problema prolongado afete o equipamento relacionado. • Testes periódicos em sistemas fechados, como a água de linha de vapor ou sistema de ar-condicionado. A análise dos testes, feitos por elementos reativos, pode indicar contaminação entre câmaras da caldeira/economizador ou presença de elementos corrosivos/abrasivos para as paredes internas da tubulação. • Testes periódicos com motores elétricos – o teste do isolamento destes pode revelar perda de corrente elétrica e desgaste do motor, o que pode prejudicar o funcionamento do equipamento associado. • Medição de vibração e deflexão axial de linhas de eixo e acoplamentos. Importante observar que os sensores e testes só terão efeito se os responsáveis pelo registro dos dados e resultados dos mesmos os registrarem na periodicidade e formato exigidos pelo plano de manutenção da empresa. Igualmente, é necessário que os mesmos responsáveis estejam atentos a falhas nos sensores e providenciar substituição dos mesmos (o que implica em manter peças de reposição rápida a bordo). O mesmo se aplica no caso de testes em amostras de água ou óleo de sistemas, pois os mesmos requerem kits e aparelhos e substâncias para reação ou controle de amostras. 6.6.3 Manutenção Corretiva É a manutenção decorrente de defeitos ou falhas nos equipamentos, é indesejada e representa alto custo para a empresa. Não existe plano para esse tipo de manutenção, pois é conduzida no caso de funcionamento ou estado inadequado de sistemas ou equipamentos, de modo a devolvê-los as suas condições adequadas. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 54 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Observa-se que qualquer intervenção que não conste do Plano de Manutenção do navio pode ser classificada como uma Manutenção Corretiva, mas não necessariamente a mesma envolve reparos em equipamentos. Por vezes, ajustes operacionais ou o adiantamento da próxima manutenção preventiva prevista no plano podem constituir uma intervenção dita corretiva. Caso um reparo seja inevitável, é responsabilidade da empresa garantir que o mesmo seja feito quando o problema ainda não se configurou em breakdown ou perda significativa de capacidades/segurança da embarcação. 6.6.4 Docagem Uma docagem representa a saída do navio de operação por períodos suficientes para a realização de atividades que só podem ser realizadas com a embarcação fora d’água ou completamente fora de funcionamento – alguns (poucos) serviços em equipamentos necessitam de longo tempo para serem completados apropriadamente. Alguns destes serviços são: • Limpeza e pintura do casco externo – O casco acumula resíduos biológicos e perde tinta de proteção, expondo o aço a corrosão geral mais acentuada e pitting nas áreas com maior perda. Além de combater este decaimento estrutural, a limpeza e pintura de todo o casco afeta bastante a economia de combustível. • Retirada e inspeção da linha de eixo e hélice – Requeridas para classificação, é necessário realizar ENDs e alinhamento da linha de eixo principal do navio (todas as linhas de eixo principais em caso de múltiplos propulsores). • Ajuste e inspeção do leme e madre do leme – Requeridas para renovação de classe, é importante também para garantir que o sistema de governo não esteja sobrecarregado ou descalibrado, onerando o maquinário da máquina do leme e afetando a navegação segura. • Inspeção de rotores de bow thrusters e similares. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 55 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla • Inspeção e substituição de chapeamento do casco – Requerida para classificação, a inspeção externa e UTM de todo o casco (em pontos prédefinidos como representativos ou críticos) é um processo extenso e necessário para evidenciar locais onde chapas precisam ser trocadas ou mesmo problemas ‘crônicos’ que exigem modificações estruturais. • Substituição de sensores de fundo como ecobatímetros e odômetros de fundo – Estes tipos de sensores só podem ser acessados com o casco em dique seco, pois suas instalações exigem penetrações no casco da embarcação. • Troca de anodos de sacrifício e/ou sistemas de corrente impressa – Os anodos de sacrifício são importantes para diminuir a taxa de corrosão do casco, assim como os sistemas de corrente impressa. Soldados/instalados em obras vivas, ambos só podem ser substituídos ou acessados com o casco fora da água por motivos óbvios. • Limpeza e inspeção de caixas de mar (e seus filtros) e válvulas de fundo/costado – Caixas de mar também são alvos de vistorias para classificação (assim como seus anodos precisam ser substituídos) e sendo os pontos de aspiração de água do mar/fluvial do navio, convém estarem com seus filtros limpos para garantir que as bombas tenham vazão e carga adequada. Na ocasião da docagem é o único momento quando as válvulas de fundo e costado podem ser desmontadas para inspeção/reparo/troca pois são as primeiras válvulas presentes em penetrações do casco. É imprescindível que sejam um dos focos principais durante a docagem pois caso estas válvulas apresentem problemas durante a operação do navio (impedindo a vedação por exemplo) será impossível reparar ou trocar os troncos de tubulação diretamente associados a elas. Uma visão de docagem pode ser como uma definição de periodicidade para uma dada atividade de manutenção – por exemplo, enquanto algumas intervenções são mensais, outras são semanais e outras ainda, ‘durante docagem’. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 56 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla No entanto, a opção pelo momento exato da realização de uma docagem exige um planejamento próprio, que leva em consideração principalmente quatro elementos: 1 Prazos impostos pela classificadora. Para os tipos mais comuns de navios mercantes, é exigida uma renovação de classe para o navio a cada 05 anos – a qual abrange as inspeções de casco e serviços de linha de eixo descritos acima, que só podem ser feitos em dique seco. A docagem intermediária – realizada na metade do intervalo de certificação (i.e. 2 ½ anos após renovação de classe) – também precisa ser feita fora da água para navios com idade acima de 15 anos. Ambas (renovação e intermediária) possuem janelas para sua execução que permitem ao armador programar-se para evitar que o navio fique muito tempo off-hire – no caso da renovação, esta janela começa 06 meses antes da data limite (que é o aniversário de classificação); para a intermediária, é possível fazer a mesma 3 meses antes ou 3 meses depois da data exata de 2 ½ anos após a renovação de classe (i.e. entre 27 e 33 meses a partir da renovação de classe). 2 Momento comercial da empresa. De acordo com o mercado de frete ou compromissos assumidos, pode ser vantajoso agendar uma docagem para o começo de sua janela (definida acima) visando retirar o navio de linha temporariamente, ou para o final de sua janela para obter maiores margens de receita. 3 Escolha do estaleiro. Resumidamente, a escolha do estaleiro para docagem depende do retorno de cotações de diferentes instalações, constando preços dos diversos serviços prestados, prazos/janelas disponíveis para chegada da embarcação e localização. Existindo uma alternativa comercial/tecnicamente atraente, a janela disponibiliza por este estaleiro pode ser um balizamento para a realização da docagem. 4 Conclusão da preparação para docagem. Preparativos para um drydocking incluem aquisição de materiais de MCP e MCA, maquinários diversos, fornecimento e entrega de tintas, agendamento de consultoria com empresas internacionais especializadas etc. Para garantir um tempo UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 57 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla mínimo de off-hire do navio, é vital que todos os preparativos estejam feitos e que prazos de entrega para o local de docagem coincidam ou antecedam a data de chegada ao estaleiro. Assim, mais que uma periodicidade para atividades constantes no Plano de Manutenção, uma docagem é um grande ‘evento’ para manutenção/certificação que, ao retirar a embarcação de tráfego, exige máxima coordenação do setor ou empresa de gerenciamento visando cumprir o maior número possível de atividades no menor tempo possível – com qualidade adequada e lidando com alterações de escopo de serviços em prazos quase instantâneos (por exemplo, troca de chapeamento adicional definida por classificadora durante inspeção de docagem). 6.7 Suprimentos/Estoque Todas as atividades de manutenção descritas anteriormente dependem de materiais e peças sobressalentes para serem conduzidas. Deste modo, é necessário e vital haver um nível adequado de estoque, com reconhecimento do nível crítico para cada item. Algumas considerações são necessárias quanto à definição do nível máximo e crítico para cada item no estoque, primariamente: • Quanto maior o estoque, mais capital imobilizado e impedido de ser aplicado em outros ativos ou projetos. Isto é especialmente verdade para aqueles itens que só são usados para manutenções corretivas; por exemplo itens para MCPs ou MCAs, cuja importância e necessidade de presença em quantidade suficiente no estoque – aumetando tendência para ser armazenado em grandes quantidades – precisa ser balanceada pela confiabilidade do equipamento. • Os prazos de procura e entrega de partes e equipamentos precisam ser levados em consideração. Em especial, sobressalentes para MCPs e MCAs são importados (para armador nacional ao menos) e algumas peças maiores têm um longo prazo para envio. Outro fator é a idade dos navios – por UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 58 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla conseqüência, MCPs e MCAs – pois para modelos mais antigos pode ser difícil a busca e cotação por peças – em alguns casos mesmo os fabricantes não as tem mais em estoque, sendo necessário recorrer à outros armadores, representantes ou estaleiros. • Características de composição da frota também precisam ser estudadas. Caso a frota possua vários navios equipados com MCPs e MCAs de mesmo modelo, é possível que a confiabilidade destes equipamentos permita a empresa não manter um nível ‘padrão’ de estoque duplicado, contabilizando a parte/equipamento sobressalente como disponível simultaneamente para diversos navios. Com a ressalva de que o nível crítico de estoque (para o qual é acionado o processo de reposição) deve sim ser duplicado, uma vez que este é relativo tanto à confiabilidade quanto ao prazo para busca/entrega. Estas considerações também são válidas para maquinário de mesmo fabricante mas modelos diferentes, já que vários sistemas básicos permanecem semelhantes em projetos diferentes do mesmo fabricante. Algo a ser ressaltado é que o estoque total disponível para a empresa de gerenciamento compõe-se de duas posições distintas: • Estoque conservado a bordo do navio. • Estoque conservado em almoxarifados de terra. 6.7.1 Estoques à Bordo A bordo do navio devem ser mantidos itens essenciais ao funcionamento do mesmo – em grande quantidade quando pouco volumosos ou em quantidades unitárias quando a peça representar peso e espaço consideráveis. Entretanto, dado o número de equipamentos instalados a bordo, é impossível manter sobressalentes para todos os equipamentos, então a prioridade é para itens cujo envio seria de difícil logística (caso de peças e partes significativamente grandes, como UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 59 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla camisas de cilindro de MCPs e MCAs) e para itens relativamente pequenos mas referentes a equipamentos de importância extrema para segurança ou operação (como sensores de alarmes, componentes do QEP e certo tipos de válvulas). Figura 16. Camisas de cilindros são um exemplo de materiais de difícil envio para bordo – assim como volume e peso consideráveis, que demandam local apropriado para acomodação, tornando seu armazenamento a bordo necessário porém mantido no mínimo possível Materiais considerados ‘consumíveis’ (vedações, manômetros e termômetros para máquinas e outros equipamentos menores) ou de uso cotidiano também são controlados a bordo, com seu controle e emissão de pedido de reposição sendo feito exclusivamente por administração de bordo. 6.7.2 Estoques em Terra O almoxarifado (ou almoxarifados, caso seja justificável devido à rotas navegadas) de terra armazena todo o resto que o navio não puder comportar, no caso da frota representando um grande CD (Centro de Distribuição), consolidando entregas e pedidos, recebendo de fornecedores e despachando para as diferentes embarcações conforme determinado por pedido de própria ou do setor de gerenciamento técnico. Uma observação importante é que o controle de saída e entrada do almoxarifado – bem como o que está presente em cada navio – precisa ser gerenciado pela equipe de terra e submetida à supervisão do setor de compras, pois este é a interface entre o pedido por aquisição de material e o recebimento do mesmo pelo almoxarifado. Apenas s itens reconhecidos como ‘consumíveis’ no Estoque de Bordo estão dispensados de UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 60 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla reconhecimento mais rigoroso e se encontram sob responsabilidade da equipe de oficiais comandantes a bordo. Todo o resto do material, esteja ele em terra ou a bordo, precisa ter seu paradeiro identificado, contabilizado e seu status definido (‘new’, ‘repaired’, ‘waiting repairs’ etc). Isto permite uma visualização ao setor de gerenciamento dos recursos disponíveis e uma aplicação efetiva dos conceitos de níveis padrão e crítico de estoque. Sem a possibilidade deste inventário atualizado em tempo real e acessível pelos envolvidos no atendimento técnico (responsáveis pela emissão de pedidos de reposição de estoque quando reconhecido um nível crítico ou nova necessidade) o custo para o desenrolar do Plano de Manutenção e intervenções corretivas será significativamente maior, as despesas de envio e aquisições maiores que o estritamente necessário. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 61 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 7 Estudo de Caso A fim de permitir observar as práticas atuais aplicadas ao controle operacional de uma frota de navios, foi produzido um estudo de caso baseado em experiência e acompanhamento das atividades de um armador brasileiro: Cia de Navegação Norsul. O propósito deste estudo é apresentar as soluções assumidas pela empresa para o dia-a-dia gerencial operacional e técnico da frota, analisando vantagens e desvantagens das ferramentas e métodos utilizados. 7.1 Sobre a Frota A empresa é uma armador (owner), isto é: proprietária de navios. Também é responsável pela operação técnica e comercial dos mesmos, não delegando estas tarefas para companhias especializadas. A frota da Norsul pode ser dividida em dois grupos distintos que co-existem dentro da companhia, e apesar do setor comercial ser único para ambos, existe uma distinção quanto à parte técnica – cada flotilha tem uma gerência e diretoria técnica própria. Estas flotilhas/setores são: 1. Navios graneleiros 2. Navios especializados (conjuntos barcaça + empurrador) 1 – O primeiro grupo é composto por um total de sete navios de granel, apresentando as seguintes características principais: UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 62 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 17. Navio graneleiro de 26.000 TPBs • Seis embarcações próprias, sendo: o Três navios com porte bruto médio de 43.000 TPBs, dois com porte de 26.000 TPBs e um navio com porte de 63.000 TPBs (Panamax). o Dois navios com idade entre 10-15 anos, dois entre 20-24 e dois com idade entre 25-30 anos. • Um navio afretado a casco nu, com porte médio de 44.000 TPBs e idade entre 10-15 anos. • Três navios possuem guindastes de convés (deck cranes) para carga/descarga, os outros quatro não possuindo capacidade de movimentação de carga própria. • Seis navios possuem cinco porões – a embarcação restante (porte panamax) tem sete porões. • Dois dos navios são sister vessels (navios ‘gêmeos’). A capacidade total fica acima de 290.000 TPBs. Todas as embarcações atuam sob bandeira brasileira e são operadas integralmente pela companhia, no regime de navegação interna, de cabotagem ou longo curso. As condições de afretamento em geral são de Voyage Charter ou por contrato de transporte de toneladas-milha anuais. 2 – O segundo grupo é composto por um total de cinco empurradores e onze barcaças oceânicas, operando em conjunto. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 63 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 18. Conjunto barcaça+empurrador Esta flotilha apresenta as seguintes características principais: • Todos os empurradores têm potência de 4.800 kW e idade entre 0-5 anos. • Os cinco empurradores podem ser reconhecidos em três sub-grupos: o Dois compartilham o mesmo projeto entre si (sister vessels). o Outros dois também possuem esta mesma característica (sister vessels). o O empurrador restante não tem nenhum casco semelhante ao seu. • As barcaças, que na realidade se assemelham à navios sem propulsão com sistema especial para acoplamento de empurrador, também se dividem em três sub-grupos, conforme os projetos utilizados na construção – isto é, cada ‘sub flotilha’ de sister vessels compõe um sub-grupo, com suas peculiaridades: o Quatro delas têm espaço de carga descoberto (porão exposto) e apresentam portas laterais para a movimentação da carga. Estas portas não são rampas e sim portas ‘guilhotinas’. O porte neste grupo é de aproximadamente 6.500 TPBs por embarcação. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 64 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla o Outras três se diferenciam do sub-grupo anterior por terem espaço de carga coberto e não apresentarem as portas laterais. O porte neste grupo é de aproximadamente 7.500 TPBs por embarcação. o As quatro restantes tem espaço de carga coberto e uma rampa levadiça para permitir a movimentação de carga (como um Ro-Ro). Neste grupo, o porte de cada barcaça é de 10.000 TPBs. • Todas as barcaças possuem dois bow thrusters instalados para auxiliar em sua manobrabilidade e têm idade entre 0-5 anos. Figura 19. Todas as barcaças possuem bow‐thrusters instalados, com seu controle acionado pelo empurrador acoplado quando em manobra Como sua capacidade total fica acima de 89.700 TPBs (sendo que menos da metade disto – 41.200 TPB – pode ser movimentada simultaneamente, devido à quantidade de empurradores), esta flotilha tem uma logística e operação bastante particular e pioneira no Brasil. Os conjuntos de barcaças-empurradores são utilizados no transporte de carga paletizada, com cada grupo de barcaças podendo atender certos tipos de carga – tanto devido à requisitos de transporte quanto por sistemas de fixação de carga (fastening). Estes comboios estão aptos a atenderem rotas oceânicas de cabotagem e navegação interna, com seus sistemas de conexão entre empurrador/barcaça e acessos para movimentação de carga representando trunfos sobre comboios convencionais. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 65 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla A Cia de Navegação Norsul apresenta então uma tonelagem bruta de aproximadamente 383.000 TPBs, com duas flotilhas de operação/tipos distintos a serem gerenciados. 7.2 Organização da Empresa Os principais setores – diretamente responsáveis pela boa operação do navio – são descritos em detalhes abaixo: ¾ Recursos Humanos (RH): O setor de recursos humanos, além de responsável pela administração do quadro de funcionários de terra da empresa, também gerencia a seleção, treinamento e alocação da tripulação de toda a frota – empurradores e graneleiros. Isto é, a atividade de manning é executada in house, deste modo evidenciando uma característica verticalizada da companhia. No total, em torno de 300 profissionais marítimos são empregados e movimentados pela empresa (pouco mais que 200 para a flotilha de graneleiros e acima de 50 para os empurradores). Os treinamentos e reciclagens mandatórios para certificação (ISM, ISPS, STCW por exemplo) são providenciados pela companhia, assim como cursos especiais visando o desenvolvimento de seus profissionais ‘gerenciais’ intermediários, como é o caso de posições como Imediato, Oficiais de Náutica e Oficiais de Máquinas. Algo a ser ressaltado é que todos os comandantes (Masters) dos navios graneleiros são Capitães de Longo Curso (CLC), o que além de adicionar experiência e maior qualificação para a empresa permite que todos os navios estejam aptos a realizar viagens de longo curso contratadas sem antecipação que permita uma troca de comandante (caso necessário se os capitães detivessem apenas cartas de cabotagem). Outro ponto importante é que com a criação de um vínculo direto com os tripulantes – no caso funcionários da Cia de Navegação Norsul – e o acúmulo de experiência dos mesmos com a frota (e com os navios aos quais são designados) UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 66 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla asseguram-se a qualidade da condução e operação dos navios, que poderiam ser sacrificadas com a utilização de empresa de manning – no caso, uma possível economia é trocada pela garantia de uma tripulação tecnicamente mais qualificada. Em suma, o manning dos navios é encarado como um core process e tratado como tal pela empresa. ¾ Tráfego/Comercial: O aspecto comercial da operação (definição de próximas viagens, alocação dos navios em diferentes rotas) é gerenciado pelo setor de ‘tráfego’. Responsável por emitir as orientações para os navios da frota (graneleiros e empurradores) referentes a portos de carga e descarga, datas e quantidades para abastecimento de bunker, informações sobre laydays e instruções de viagem; resumidamente, é a interface da empresa com o charterer e o agente marítimo, no referente à atividade de transporte propriamente dita. Deste modo, ao não recorrer à uma empresa de chartering (o que seria uma horizontalização significativa), a Norsul é um armador/proprietário de navios que realiza a busca e investigação de oportunidades para sua própria frota, levando em consideração aspectos como despesas portuárias, características técnicas dos portos e terminais e o status operacional de cada navio da frota – onde o contato estreito com o setor gerencial (a ser detalhado mais adiante) é extremamente importante. ¾ Gerência de Materiais (Compras): A decisão da empresa foi pela composição de um único setor de compras, elaborada de modo a atender as necessidades de toda a frota – tanto empurradores quanto graneleiros. No entanto, optou-se por segmentação clara quanto a especializações de grupos de compradores, gerando sub-grupos dentro do próprio setor de compras, organizados da seguinte forma: • Grupo especializado para procura e aquisição de materiais de MCP e MCA. As peças sobressalentes e equipamentos integrados para MCP e MCA em geral necessitam de cotações internacionais (o que significa comparar UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 67 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla cotações em diferentes moedas com tarifação distintas) e acompanhamento logístico específico para permitir o recebimento sem muita demora dos itens – bem como desembaraço alfandegário e transporte dos mesmos. Outro ponto importante é que MCPs e MCAs são os principais equipamentos do navio, o que faz com que as partes para seu funcionamento correto estejam entre as mais importantes e custosas, justificando um controle rigoroso sobre prazos de entrega e a busca/cotação de certos itens pode ser bastante difícil em se tratando de modelos com maior idade (a frota tem , afinal, 02 navios com idade acima de 25 anos). • Grupo especializado em maquinário de menor porte, como purificadores, bombas, válvulas e similares. Outros equipamentos e materiais utilizados a bordo são responsabilidade deste mesmo grupo, como tintas, produtos químicos e ferramentas diversas/equipamentos de oficinas. Materiais como chapas, cantoneiras e outros elementos de aço – bem como eletrodos ou máquinas para caldeiraria e solda – também recaem primariamente sob responsabilidade deste grupo. • Grupo especializado em materiais ditos ‘consumíveis’ ou de uso cotidiano, como produtos de limpeza, material de expediente, EPIs, produtos de papelaria, farmacêuticos e outros itens administrativos de bordo. • Grupo especializado em compra de óleos lubrificantes e hidráulicos, o que exige estudo/composição do plano de lubrificação do navio. Para um bom controle deste fornecimento é necessário contato próximo com fornecedores dos mesmos, assim como confirmação de equivalência de propriedades entre diferentes tipos de óleo (de diferentes fornecedores) – sendo o prazo estipulado e local de entrega de grande importância, pois a programação para tal fornecimento é somente durante estadia em porto e é impossível estocar a bordo grandes quantidades. Os óleos consumidos nos maquinários e equipamentos passam por testagem periódica prevista no Plano de Manutenção, cujos resultados são centralizados e distribuídos para o setor técnico e navios (caso haja não-conformidades com a amostra) por este grupo do setor de compras. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 68 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Importante observar que os sub-grupos descritos acima são apenas linhas gerais de especialização do departamento, ditadas por cursos e familiaridade com o assunto decorrente da experiência. Se necessário, as tarefas de cada um dos grupos podem ser assumidas pelos outros em caso de aumento de demanda, com a figura do gerente de materiais servindo de apoio e repositório técnico/logístico para permitir que a velocidade de atendimento à frota seja mantida e evitar lacunas na linha de suprimento. Ainda sobre a organização de compras, a empresa opta por utilizar uma metodologia de portal online para comunicação de seus pedidos de cotação e recebimento de propostas. Trata-se na realidade de um serviço web, voltado para o mercado de suprimentos marítimos, utilizado pela maioria das empresas de navegação internacionais. Os fornecedores se cadastram no portal, assim como a empresa de navegação, para ter acesso em tempo real aos pedidos por cotação de diferentes produtos e equipamentos. Ao ser notificado da existência de um pedido por cotação de item do qual seja representante, o fornecedor retorna sua proposta para o portal – à qual apenas ele e a empresa interessada têm acesso. Cada pedido de cotação é registrado em um histórico e o aceite de proposta para fornecimento também ocorre online, a partir deste ponto a empresa de navegação e fornecedor entrando em contato para detalhes da compra. Essencialmente o portal funciona como nada mais que um ponto de acesso online para concentrar todas (ou a maioria) das compras da empresa. O custo pela manutenção do serviço é absorvido (e compensado) pela facilidade/velocidade oferecida (especialmente para cotações internacionais de partes de MCPs/MCAs) e a possibilidade de rápido acesso a cotações/propostas anteriores para negociação de preços e condições. ¾ QSMS (Qualidade, Segurança, Saúde e Meio-Ambiente): A empresa conta com setor de qualidade – QSMS, Qualidade Segurança Meioambiente e Saúde – que, além de realizar as atividades pertinentes à qualidade interna e metodologia/certificação ISO na sede da empresa, é responsável pelas mesmas atribuições a bordo dos navios, com foco especial em segurança. Quanto ao gerenciamento dos navios, entre suas principais atividades estão: UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 69 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla • Realização de auditorias internas de ISM Code, ISPS Code e outros treinamentos para certificações. • Gerenciamento das certificações referentes a equipamento de combate a incêndio e salvatagem. Planos de Segurança, quantidade e tipos de equipamentos para salvatagem/firefighting estão neste escopo – assim como as certificações relacionadas para permitir classificação e adequação do navio às normas de segurança. • Registro e acompanhamento de acidentes e não-conformidades relatadas a bordo, identificando causas-raiz e lições aprendidas. ¾ Departamento/Gerência Técnica: Finalmente, o item central a ser observado é a organização do setor de gerenciamento da empresa. Para compreender-se a motivação da organização adotada, é necessário primeiramente reconhecer-se a diferença entre ambos os conjuntos distintos de operação que compõe o cotidiano da empresa (graneleiros e empurradores/barcaças). A diferença entre estes grupos pode ser visualizada abaixo: Navios Graneleiros • Empurradores e Barcaças 7 navios com média de 25 tripulantes • 11 cada. empurradores barcaças não tripuladas com média e 5 de 6 tripulantes cada. • Possibilidade de viagens mais longas • Viagens tendem a ser mais curtas e com (maior tempo de mar) devido à maior mais autonomia. (atracação/desatracação/movimentação tempo em manobras de carga) ou navegação por hidrovias. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 70 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla • Possibilidade de levar desde cinco até • Sem possibilidade de levar pessoas quinze pessoas adicionais além da adicionais além da tripulação devido à tripulação – dependendo do permitido falta de acomodações. por limite seguro e disponibilidade de acomodações. • Os navios estão sujeitos a regulamentos • Os e certificações mais abrangentes por se aplicados às barcaças são diferentes dos tratarem de embarcações tripuladas e aplicados aos navios, por se tratarem de acima de determinado TPB. embarcações não tripuladas. No caso regulamentos e certificação dos empurradores, o mesmo se dá devido ao tipo e ao porte da embarcação. • Os navios contam com sistemas de • Os movimentação de carga/descarga (deck descarregados por meios do terminal. comboios precisam ser cranes). • Os navios contam com tempo de • Dependendo do regime de operação, na atracação para carga/descarga, o qual grande maioria das vezes o empurrador pode variar dependendo da carga, desacopla da barcaça assim que a capacidades do porto etc. mesma atraca no terminal, reduzindo seu tempo ‘parado’. Isto é, idealmente o empurrador não possui lay-days. • Frota com idade média de 20 anos, o • Empurradores com idade média de 04 mais novo com 12 anos e o mais antigo anos e barcaças com idade média de 05 com 27. anos, a embarcação mais nova com 03 anos e a mais antiga com 07 anos. Nota-se que ambas as flotilhas são bastante diferentes e, além de submetidas a normas e certificações particulares, seus escopos de operação comercial distintos faz com UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 71 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla que a abordagem quanto ao Plano de Manutenção e acompanhamento/supervisão do mesmo seja necessariamente exclusiva para cada tipo de operação. A empresa organiza-se então com uma gerência técnica para barcaças/empurradores e outra separada para os navios graneleiros – a última sendo o foco a ser estudado neste trabalho e detalhada abaixo. Lembrando, no entanto, que os setores anteriormente citados – RH, Compras/Materiais, Tráfego e QSMS – são únicos, atendendo ambas as flotilhas. Conforme o modelo delineado no capítulo 5.4 deste trabalho, estão presentes as figuras dos diretores e gerentes técnicos, profissionais experientes e com qualificação abrangente, em posição de oferecer apoio com conhecimento técnico e gerenciar os grupos de inspetores descritos abaixo: • Grupo de inspetores técnicos de navios. Composto por engenheiros com diferentes formações, é responsável pelo atendimento cotidiano do navio e supervisão das atividades periódicas do Plano de Manutenção – assim como por reparos e modificações realizadas. Funcionam como o contato direto entre o navio e o setor técnico, auxiliando na resolução de não-conformidades encontradas em equipamentos. Entre suas atribuições está providenciar o atendimento por empresas de reparos navais quando necessário, garantindo que um funcionamento sub standard não se degenere em breakdown de algum equipamento – o que além de afetar a segurança do navio poderá impedir a continuidade de sua operação. Para tanto, o feedback rápido e fidedigno de bordo é essencial, assim como habilidades do inspetor para planejamento tanto quanto conhecimento dos diferentes sistemas a bordo. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 72 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 20. O inspetor técnico designado para o navio acumula diversas responsabilidades, sendo necessário seu conhecimento de cada item pendente no Plano de Manutenção executado, assim como intimidade com particularidades e itens de projeto da embarcação Como o bom desempenho desta atividade está relacionada com a experiência e ‘intimidade’ do profissional com o histórico de falhas e peculiaridades da embarcação, é comum uma média de 01 inspetor para cada 02 navios. A distribuição de navios entre os inspetores é outro fator a ser levado em conta, sendo os principais fatores a experiência do profissional e a idade do navio (navios acima de quinze anos estão mais expostos a apresentar problemas crônicos, exigindo possíveis mudanças de sistemas e modificações). • Grupo de inspetores especializados em equipamentos eletrônicos/elétricos. Formado por engenheiros especializados em maquinário elétrico e eletrônico, não possui foco especifico em um navio, se movimentando por toda a frota conforme demanda. A existência deste grupo origina-se de uma demanda constante por diagnósticos e intervenções em equipamentos elétricos que não pode ser absorvida pela tripulação – que embora possua excelentes profissionais e mecânicos de máquinas, não oferece suporte técnico para diagnóstico de problemas com equipamentos sofisticados. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 73 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 21. CCM e QEP são algumas das unidades que requerem supervisão constante de seus sistemas eletrônicos e elétricos • Grupo de inspetores designados ou especializados em docagem. Atua no delineamento e cotação para escopo de docagens, assim como na preparação do navio e acompanhamento das atividades relacionadas durante a docagem. Durante cada drydocking dos navios, auxilia na supervisão de reparos e modificações (além de serviços de casco como pintura, tratamento, troca de chapeamento etc) junto com o inspetor técnico do navio – deste modo, diminuindo a chance de atrasos ou serviços fora de padrão. Figura 22. Calibração de amarras e serviços de casco são algumas das atividades apenas presentes em docagem, conforme mencionadas no capítulo 6.6.4, sob responsabilidade deste grupo de inspeção UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 74 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 7.3 Planned Maintenance System Como estabelecido nos capítulos anteriores, as atividades necessárias para garantir a operação de um navio são muitas – de forma semelhante, o custo relacionado à estas atividades precisa ser observado e administrado cuidadosamente, de forma a identificar pontos onde possam ser aplicadas melhorias e garantir a competitividade da embarcação. Isto é, no capítulo 5.3 foi levantada a importância de identificar as despesas e custos associados à operação da frota; enquanto no capítulo 5.4, foram identificados os elementos funcionais componentes da embarcação – elementos/itens a serem abordados no Plano de Manutenção (cuja função envolve também certificação – mesmo capítulo). No capítulo 6.5 observou-se a importância para uma comunicação direta e objetiva entre equipes a bordo e equipes de terra – assim como a existência do registro destes relatórios/comunicação, acessível para os setores técnicos na empresa (compondo uma biblioteca de status técnics da frota). Para o setor de compras, da mesma maneira é importante não apenas a comunicação interna (com a frota), mas também externa (com fornecedores), ser feita da melhor maneira possível – sem gargalos. Considerando-se as observações acima sobre as necessidades de gestão do conhecimento e do fluxo de atividades, compreende-se porque está se tornando prática comum entre as empresas de gerenciamento internacionais (ou armadores) a utilização de grandes suítes de softwares abrangentes – que contemplem o máximo possível de aspectos operacionais. O foco maior destes softwares pode ser assumido como o monitoramento das atividades executadas no desenrolar do tráfego de cada embarcação componente da frota. A Cia de Navegação Norsul, após criteriosa seleção, implantou recentemente um sistema desta natureza, cujas funcionalidades e contribuições serão detalhadas a seguir. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 75 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla O sistema adotado pela Norsul foi a suíte de aplicativos desenvolvida pela empresa norueguesa SIS Marine, o ‘Star Information & Planning System’ (IPS). O sistema foi projetado e desenvolvido para permitir/auxiliar a execução das seguintes tarefas: • Acompanhamento de manutenções planejadas e corretivas • Propor orçamentos e controle de custos • Alocação de tripulação e despesas relacionadas • Emitir requisições e compras diretas com fornecedores • Manter & lidar com estoques • Controle do inventário por bordo • Avaliar equipamentos a bordo quanto à criticalidade e condições • Planejar serviços e reportar conclusão dos mesmos • Controlar e distribuir documentação como formulários, relatórios etc • Administrar, controlar e distribuir procedimentos para Controle de Qualidade (CQ) – assim como reportar e acompanhas auditorias, acidentes e não-conformidades • Acompanhar agendamento e resultados de vistorias para certificações, assim como datas limites e janelas para realização das mesmas • Reportar e acompanhar eventos e lições aprendidas • Organizar docagens e vistorias relacionadas • Sincronizar dados e informações entre navio e terra • Comparar desempenho operacional entre embarcações da frota Conforme já estabelecido anteriormente (capítulo 6.4) o núcleo deste programa é um banco de dados único (apesar de não centralizado), alimentado por diferentes módulos do sistema, que são integrados sob uma interface/API que permite ao usuário controle sobre configurações estabelecidas, hierarquias relacionadas ao organograma da empresa e automatização de emissão de relatórios estatísticos baseados neste banco de dados. Seus principais módulos são: UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 76 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 1. Messaging o Permite aos usuários se comunicarem por email dentro do sistema. Entre suas possibilidades estão criar boletins internos e distribuir informações para bordo de forma mais rápida, com controle hierárquico para acesso (boletins apenas para CheMaqs, Imtos etc) e gerenciamento de grupos de usuários. Pode permitir comunicação entre duas embarcações, mas idealmente abre canal de comunicação apenas terraÙnavio. 2. Work Planning … Todas as atividades relacionadas à manutenção, reparos, vistorias, treinamento e relatórios correspondentes podem ser programadas e sua realização/feedback cadastrada no programa. O Plano de Manutenção (capitulo 6.4) é inserido na íntegra neste módulo, suas tarefas e responsabilidades bem definidas e identificadas conforme critérios que melhor atendam à empresa (conforme abordado no capítulo 6): tipos de manutenção, responsabilidade pela execução, equipamento/sistema a qual se refere etc. O acompanhamento e suporte à execução adequada do Plano de Manutenção por profissionais de terra obtiveram qualidade e velocidade adicionais com esta ferramenta – a dimensão deste impacto nos custos totais ainda não pôde ser mensurada, mas a redução pontual de determinadas despesas foi significativa. Exemplos podem ser vistos em anexo (Anexo 20, Anexo 22 e Anexo 29) 3. Project … De forma similar ao módulo acima, permite programar e manipular atividades para grandes reparos, modificações ou docagens – com a adição da funcionalidade de controle de custos e cotações presente no módulo ‘Purchasing’. 4. Safety … Auxilia oficiais, pessoas designadas e gerência a registrar acidentes e não- conformidades e garantir que as ações corretivas necessárias sejam tomadas – assegurando registro histórico para consultas futuras expeditas (Anexo 28). UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 77 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 5. Material and services … Controle de inventário de todo o material relacionado a embarcação, atuando em integração com o sistema central de compras, logística e comércio eletrônico. 6. Purchasing … Aspecto comercial e logístico complementar ao módulo acima, centraliza pedidos de material, cotações, compras e documentos fiscais, bem como banco de cadastro de fornecedores. 7. Insurance … Gerencia informação a políticas de seguro da empresa e abertura/acompanhamento de sinistros. Mantém histórico de pagamentos para prêmios e indenizações, também organizando e servindo como repositório para informação associada a estas operações. 8. Crew … Controle de bordo e terra de folha de pagamentos, alocação de tripulantes pela frota, dados de saúde e certificações/documentação individual. Auxilia com sucesso a melhor movimentação e designação de tripulantes para os navios da frota. 9. Documents … Biblioteca e central de distribuição de documentos para a frota, possui notificação automatizadas para usuários (específicos ou determinados por grupos) sobre criação ou atualização de documentos. Permite controle de revisão de documentos e validade de certificações (Anexo 27). 10. Reports … Relatórios podem ser montados/customizados conforme a necessidade da empresa e extraídos sobre virtualmente qualquer série de informações que componham o UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 78 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla banco de dado. Isto possibilita o acompanhamento de índices de desempenho/utilização de equipamentos (Anexo 26), reports sobre histórico de serviços/despesas relacionadas e uma gama quase infinita de demonstrativos, com o cruzamento de informações por meio de gráficos e tabelas ou exibição simples textual (como um relatório convencional). A automatização de emissão e envio de relatórios torna a emissão periódica de KPIs (Anexo 23, Anexo 24 e Anexo 25) um processo interno ao sistema e sem intervenção humana – fora a montagem e configuração do padrão para o documento, claro. 11. Budgets … O orçamento é apresentado como uma matriz de contabilidade entre as naturezas financeiras e técnicas. O sistema é integrado com controle externo de orçamento e ferramentas de controle/manipulação de custos, possuindo interação com outros sistemas independentes para integração com o setor contábil da companhia. Figura 23. Módulos presentes no Star IPS UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 79 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Detalhes adicionais sobre o software – como telas de operação e calendários para manutenção – podem ser vistos em anexo a este trabalho (Anexo 18, Anexo 19, Anexo 20, Anexo 21 e Anexo 22). Com o acúmulo gradual de dados e informações durante a implantação do sistema na companhia, foi possível utilizá-los como insumo para gerar relatórios demonstrativos e identificar/gerar gráficos relacionados que auxiliassem na interpretação destes relatórios. Observações e considerações pertinentes são elaboradas a seguir: 7.4 Composição de Custos Utilizando-se o programa descrito anteriormente, foi feito o levantamento detalhado dos custos operacionais (diários, US$) nos últimos três anos para três navios graneleiros da frota – com diferentes idades e características – com a intenção de identificar o comportamento e composição destes custos. Os navios têm as seguintes características principais: • Ship ‘A’: ~ 40.000 DWT, sem guindastes, aprox. 11 anos • Ship ‘B’: ~ 40.000 DWT, com guindastes de convés, aprox. 22 anos • Ship ‘C’: ~ 25.000 DWT, com guindastes de convés, aprox. 22 anos Utilizando-se a embarcação ‘A’ como base para comparação, observa-se imediatamente um custo de operação aproximadamente 40% maior no navio ‘B’ – enquanto que o navio ‘C’ fica apenas 4% acima do navio-base (Anexo 1 – Custos de Operação). Esta disparidade se explica pelo navio ‘B’ ter realizado duas docagens no intervalo considerado (em contraste a apenas uma docagem de ‘C’), e tendo porte duas vezes maior que o ‘C’, suas despesas de docagem são significativamente maiores (entre despesas diretas com estaleiro e serviços de casco/troca de aço). Ainda devido à diferença de porte, contribuem para o gasto elevado do navio ‘B’ o maior consumo de óleos (exceto o combustível, responsabilidade do charterer), despesas maiores com sistemas de tubulação e material para pintura. Assim, as embarcações ‘A’ e ‘B’ apresentando mais afinidade, serão as enfocadas em detalhes para UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 80 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla este estudo de composição de custo – a embarcação ‘C’ foi aproveitada neste primeiro momento a como demonstração (e apreciação quantitativa) da influência do porte no custo total de operação. Analisaremos então a composição do custo diário para o navio ‘A’ ao longo de 3 anos, de modo a compreendermos melhor o peso de cada item no custo total de operação – Anexo 2, Anexo 3 e Anexo 4). Utilizando-se a média trianual (Anexo 5) observa-se a separação de custos nas principais naturezas (capítulo 5.3) e seus respectivos pesos: • Despesas com Tripulação – 48% • Despesas com Seguros – 6% • Despesas com Manutenção e Reparos – 19% • Despesas com Suprimentos/Equipamentos Diversos – 6% • Despesas com Lubrificantes/Óleos – 6% • Despesas Administrativas – 9% • Outros Custos – 6% Das categorias utilizadas como identificação dos custos, aquelas a serem consideradas como mais claramente afetadas pela abordagem para gerenciamento técnico da frota serão ‘Despesas com Manutenção e Reparos’ e ‘Despesas com Lubrificantes/Óleos’. Destas, o foco para este trabalho será a primeira, uma vez que a segunda está diretamente associada à ela – melhor condução de atividades de manutenção diminui perdas ou ‘sobre-consumos’ dos diversos gêneros de óleo a bordo. As demais categorias serão consideradas como ‘fixas’ ou cuja variação independe do desempenho da empresa de gerenciamento técnico – no caso, com o gerenciamento feito in-house pelo próprio armador. Para condução deste estudo foram analisados os mesmos três últimos anos da natureza ‘Despesas com Manutenção e Reparos’, seus componentes discriminados (Anexo 6, Anexo 7 e Anexo 8): UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 81 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 2006 2007 2008 Manutenção Preventiva 02% 05% 03% Serviços Terceirizados 20% 35% 32% Serviços In-House 21% 19% 12% Materiais de Reparo 57% 41% 53% Destacam-se a tendência de variação na composição de serviços (in-house x terceirizados) e a flutuação/inconsistência das despesas com ‘Materiais de Reparo’ ao longo dos anos. No primeiro caso, verifica-se tendência para menor utilização de mão-de-obra dos quadros da empresa, em detrimento de maior outsourcing de serviços junto a empresas externas/especializadas. Sendo uma comparação puramente relativa, isto não representa necessariamente uma diminuição dos custos de manutenção atribuídos à funcionários da própria empresa – simplesmente despesas com contratação de terceiros aumentaram em ritmo muito superior à com funcionários internos. Esta tendência e suas implicações serão comentadas posteriormente, quando da comparação de mesma análise para a embarcação ‘C’. No segundo caso, a flutuação de custos atribuídos à aquisição de Materiais de Reparo (na realidade materiais para quaisquer equipamentos de maquinário pesado, independente do tipo de manutenção) é diretamente influenciada pela programação de docagem (2007 e 2009) e flutuação cambial do período, sendo assim enganosa em um primeiro momento. Explicando: a moeda-base para a composição destes pesos é o dólar americano, cuja média flutuou bastante ao longo dos anos considerados. Pode-se tomar como aproximação para seus patamares de valor comercial médio: R$ 2,18, R$ 1,97 e R$ 2,05 nos anos de 2006, 2007 e 2008 (com seu valor no segundo semestre com média de R$2,20), respectivamente. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 82 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Figura 24. Flutuação cambial nos últimos cinco anos (fonte: Invertia) Das naturezas discriminadas, ‘Materiais de Reparo’ tem grande parte de seu valor feito diretamente em Dólar, enquanto as demais, em contraste, têm a maior porção de seus valores pagos em Reais. Com a desvalorização do Dólar frente ao Real no ano de 2007, as despesas assumidas em Real – após indexadas para US$ - aumentaram seu peso relativo frente a ‘Materiais de Reparo’. Adicionalmente, o navio ‘A’ realizou no 2º semestre de 2008 aquisição de significativo volume de material para preparação para docagem a ser realizada em 2009 – cuja movimentação financeira efetiva foi efetuada no último trimestre do ano, período de maior valorização da moeda americana. De modo a diminuir a influência cambial, tendências para outsourcing e despesas pontuais sobre a cesta de custos, novamente a média do triênio foi apreciada (Anexo 9), com os valores: • Manutenção Preventiva – 3% • Serviços Terceirizados – 30% • Serviços In-House – 16% • Materiais de Reparo – 51% Como simplificação, os custos das categorias ‘Manutenção Preventiva’ e ‘Serviços In-House’ (em termos absolutos e não em porcentagem) serão considerados como não-vinculados diretamente a eficiência (ou falta da mesma) na gestão técnica da empresa. A primeira devido a sua natureza regular e programada, permitindo um provisionamento de recursos; e a segunda por caracterizar-se como relação de trabalho convencional do quadro técnico da empresa (com pouca variação em seu tamanho), sob UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 83 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla CLT ou equivalente, o que significa despesa perene e não relacionada à maior ou menor demanda por serviços na frota. Assim, receberão enfoque maior neste estudo as categorias de ‘Serviços Terceirizados’ e ‘Materiais de Reparo’, cujo valor total chega a 81% do total das ‘Despesas com Manutenção e Reparo’ – que por sua vez compõe 19% do custo de operação do navio ‘A’. Logo, estas duas sub-categorias correspondem a um peso acima de 15% no custo total operacional. Conforme assumido, esta parcela de 15% responde diretamente a melhorias no planejamento e gestão de recursos da empresa. De acordo com o gráfico discriminando os tipos de serviço realizados por terceiros a bordo (Anexo 10), os principais responsáveis por despesas entre os diversos sistemas são: • Eletric/Autom/Eletron (Maquinas) – 19% • Mec. MCP – 14% • Mec. MCAs – 10% • Sistemas diversos de circulação – 10% • Reparos Estruturais – 6% • Equip. de Navegação/Comuni – 7% Observa-se que o custo com serviços específicos de MCA e MCP compõe 24% dos serviços terceirizados – o que é relativamente baixo considerando-se a quantidade de intervenções anuais (com valores de alguns serviços especializados de linha de eixo bastante elevados) e o alto valor de peças empregadas (em geral importadas). Isto é possível graças à atuação da equipe de técnicos ‘in-house’, composta por mecânicos experientes e profissionais de caldeiraria (soldadores, maçariqueiros etc). Ou seja, boa parte de serviços mais especializados (os mais comuns sendo feitos pela própria tripulação) é feita pela equipe ‘in-house’ com supervisão do inspetor do navio, diminuindo a demanda por profissionais externos – cujo preço de HH, transporte e estadia são elevados. A mesma situação acontece em relação a reparos estruturais e em sistemas diversos de circulação de fluidos (capítulo 6.3), com a equipe ‘in-house’ absorvendo boa UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 84 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla parte dos custos – que do contrário teriam participação maior que 16% nos serviços terceirizados. Analogamente, o significativo peso da parcela referente à parte elétrica do navio justifica a existência de um inspetor especializado em supervisionar atividades de cunho elétrico/eletrônico, conforme previsto na organização da empresa (capítulo 7.2). Pequena parte deste custo deve-se a atendimentos de técnicos especializados em determinados equipamentos, no entanto a maior parte destina-se a serviços relativamente simples executados por técnicos eletricistas experientes, mas sem especialização definida. Assim, uma alternativa a ser considerada é a expansão da equipe ‘in-house’ para englobar em seus quadros, técnicos eletricistas com alguma experiência – recurso a ser utilizado da mesma forma que a equipe mecânica já existente. Importante observar que o custo com eletricistas terceirizados pode ser obtido facilmente (tanto o HH quanto por serviço), enquanto calcular o custo para a empresa de um funcionário CLT (com impostos e contribuições oficiais) pode ser um pouco mais complexo. Por fim, os equipamentos para navegação e comunicação têm custo de serviço associado elevado devido ao caráter emergencial dos atendimentos – não só no custo do profissional como em despesas periféricas, compondo a ‘taxa de urgência’. Uma análise semelhante da composição de custo dos materiais utilizados em manutenção e reparo (Anexo 11) permite identificar onde se encontram as maiores despesas – isto é, serviços onde as alterações de gasto serão mais representativas. Como o foco é material/sobressalentes, a otimização do controle do nível de estoque terá reflexo direto na redução destas despesas. Gastos com HAWBs, por exemplo, poderiam ser evitados; assim como decisões de compras desprezando-se um menor preço em detrimento do lead time ou prazo de entrega. Outra vantagem da manutenção de um nível de estoque adequado (acima do nível crítico) para os sobressalentes mais representativos (ou denominados ‘críticos’ para a operação da embarcação) é programar compras internacionais de forma a não ser forçado a incorrer em despesas durante picos cambiais. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 85 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Convém que MCAs e MCP, os maquinários de maior porte a bordo, cujas peças são em geral importadas, tenham seus custos de serviços/materiais identificados em separado dos demais equipamentos (Anexo 12). Isto permite o provisionamento descrito acima. Para permitir uma comparação macro da análise conduzida acima, o mesmo procedimento foi adotado para o navio ‘B’, com suas características de composição de custo estudadas abaixo: ¾ Custo de Operação: A valor absoluto do custo total de operação (média trianual) para ‘B’ é 38,34% maior que ‘A’ (Anexo 1). Apesar da diferença de idade (acima de dez anos) figurar como principal causa para este custo elevado, outro fator que contribui para esta diferença é a existência de 3 guindastes de convés (~30 ton cada) no navio ‘B’, que apesar de gerarem custos adicionais (a serem detalhados posteriormente), permitem maior receita. A alteração primária nos pesos das parcelas componentes de custo total para o navio fica por conta da categoria ‘Manutenção e Reparos’ (Anexo 13) – 19% em ‘A’ e 33% em ‘B’. Como o valor absoluto de outros custos flutua para mais ou para menos – ou permanece constante, caso da tripulação – pode ser inferido que esta categoria é a grande responsável pelo aumento geral de custo operacional. ¾ Custo de Manutenção e Reparos: Considerando-se apenas esta parcela, a variação do valor absoluto das despesas em relação à ‘A’ chega a aproximadamente 150% (Anexo 1). Novamente, é necessário lembrar que o período contemplado pela análise em questão abrange duas docagens do navio ‘B’, contra uma docagem do navio ‘A’ – além uma avaria grossa sofrida no período. Discriminando-se os componentes dentro da categoria (Anexo 14), verifica-se um contraste em relação à embarcação-base ‘A’, com as seguinte mudanças nas parcelas: UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 86 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Ship ‘A’ Ship ‘B’ Manutenção Preventiva 2% 11% Serviços Terceirizados 20% 40% Serviços in-house 21% 16% Materiais de Reparos 57% 33% Tratando-se de uma comparação de composição interna, a variação absoluta não está levada em consideração na tabela acima. Sabe-se com segurança que despesas com Materiais de Reparos aumentaram em ~60% (Anexo 1) – no entanto a participação desta no custo total de Manutenção e Reparos reduziu-se para 33%. Isto se deve a um aumento mais agressivo nas parcelas de Serviços Terceirizados e in-house, cuja diferença em relação à ‘A’ fica acima de 100%. ¾ Serviços para Manutenção e Reparos (Anexo 15): Novamente os itens de MCA e MCP respondem pela maior parte dos serviços realizados por terceirizados – onde a atuação da equipe in-house contribui para reduzir este valor. Com 11%, instalações elétricas/eletrônicas de máquinas representam uma parcela ainda significativa dos serviços executados a bordo – onde a alternativa para uma equipe in-house elétrica sob supervisão do inspetor de especialização afim volta a ser uma possibilidade para redução de custos. Por fim, observa-se o item referente a guindastes para manuseio de carga (‘Guindastes/Grabs’) com a significativa contribuição de 14% (o dobro da relevância de MCAs). Impossível de ser confrontado com o navio ‘A’ (que não apresenta estes equipamentos), entretanto é útil perceber que este único item de serviço corresponde a mais de 5,6% do custo total de manutenção e reparos. Para comparar, serviços realizados por terceirizados no MCP montam uma proporção de 6,8%. Este custo elevado para os guindastes deve-se primeiramente à necessidade que a manutenção e reparos dos mesmos sejam efetuados por profissionais experientes com o equipamento, o que demanda especialização diversa da encontrada em mecânicos gerais. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 87 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Acrescenta-se a isto a existência de poucos fabricantes de guindastes com representação no Brasil – no caso presente, apenas duas empresas em território nacional provêem mão-deobra especializada para estes equipamentos. Assim, o custo de HH/serviços associados a guindastes é alto tanto pelo valor do profissional empregado (pelos motivos descritos acima) quanto pela tempo de utilização gasto no serviço – a maioria dos atendimentos se dá durante falhas na descarga, o que exige atenção urgente, imediata e constante (não é incomum o acompanhamento de técnicos/mecânicos durante todo o trabalho de descarga). Da mesma forma que no conjunto elétrico, existe a alternativa da montagem de equipe especializada em guindastes, para conduzir manutenções preventivas (não realizados pela tripulação por estar fora do alcance de conhecimento da mesma) e corretivas nos momentos apropriados – assim como o acompanhamento da descarga se necessário. Uma avaliação do custo de utilização de profissionais outsourced x in-house é necessária – quase certamente a criticalidade destes equipamentos para cumprimento de compromissos comerciais do navio justificaria a montagem desta equipe in-house para guindastes. ¾ Materiais para Manutenção e Reparos (Anexo 16): Novamente MCP e MCA correspondem somados a maior parte do custo de aquisição de materiais – 33% para ‘B’ enquanto na embarcação ‘A’ a parcela é de 34%. Uma inversão na representação de custos de materiais para MCP x MCA apresenta-se, no entanto: Ship ‘A’ Ship ‘B’ MCAs 24% 8% MCP 10% 25% Esta ‘migração’ da representatividade associada a cada um dos tipos de equipamentos se deve em grande parte à diferença de idade dos navios. Explicando: a disponibilidade de peças sobressalentes de modelos antigos no mercado é maior para MCAs antigos que para MCPs e o custo associado ao transporte/entrega do material para UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 88 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla MCP usualmente é bem mais elevado em comparação (devido a peso, volume e, freqüentemente, a localidade do fornecedor). Outro fator é o maior índice de ocorrência de falhas e não-conformidades operacionais relacionadas ao MCP do navio – quando comparado com o índice de não-conformidades em seus MCAs, cuja operação se dá em condições mais controláveis. ¾ Serviços e Materiais de MCAs & MCP (Anexo 17): De forma similar a embarcação ‘A’, a discriminação dos serviços e materiais associados à manutenção em operação perfeita o MCP e MCAs serve a finalidade de auxiliar na identificação de sub-sistemas com elevadas despesas, onde uma abordagem de controle e otimização de estoque poderia surtir o efeito desejado de reduzir custos. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 89 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 8 Conclusão e Considerações Finais A proposta do trabalho, conforme definida no capítulo 1, foi estudar a estrutura de gerenciamento técnico responsável pela operação de frota de navios mercantes, registrando pontos-chaves e identificando elementos cuja modificação poderia trazer vantagens no desempenho econômico da empresa. A contextualização e detalhamento das condições/práticas usuais empregadas por empresas de gerenciamento – ou os próprios armadores – desenvolvida nos primeiros capítulos deste texto foi conduzida após extensa pesquisa sobre companhias atuando nesse campo, com informações sobre práticas de manutenção obtidas em entrevistas informais com os profissionais responsáveis por conduzi-las – além de experiência profissional pessoal acumulada. No desenvolvimento do estudo de caso feito nos capítulos finais, à companhia enfocada teve estas práticas destacadas – detalhadas na motivação de sua utilização – e seus resultados obtidos foram apreciados em termos relativos, no âmbito da própria frota. Primeiramente, delineado o sistema de gestão computacional implantado recentemente na companhia – ressaltando-se seus pontos fortes e capacidades, apontando as melhorias esperadas (a médio e longo prazo) dentro da empresa com a adoção da suíte de softwares. Em seguida, para evitar lidarmos com valores absolutos – dado que além de estratégico para a empresa pode ser enganoso àqueles não experientes com a atividade – foi desenvolvida análise (resultado de operação do software descrito anteriormente) relativa à composição de custos para dois navios da frota, os quais foram escolhidos a fim de maximizar a quantidade de observações e conclusões traçadas, demonstrando os cuidados necessários para interpretar corretamente dados desta natureza. Dentro deste escopo algumas alternativas foram sugeridas como solução para diminuição de custos, alternativas estas não-radicais, levando em consideração o perfil UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 90 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla organizacional e de operação da própria empresa – descartando-se assim soluções que modificassem dramaticamente sua já estabelecida operação. Duas destas propostas merecem destaque: ¾ O aumento de equipes in-house de atendimento técnico (no caso, para guindastes e instalações elétricas pouco especializadas). Necessário levantamento de custos inerentes a CLT ou contratos de longo prazo assumidos com profissionais da própria empresa, em comparação com as despesas atualmente realizadas no pagamento de firmas externas, por serviços e/ou fornecimento de mão-de-obra baseada em HH. Vantagens incluem a construção da experiência do profissional junto à frota da própria companhia e retenção do conhecimento interno, ambas aumentando a qualidade de intervenções técnicas no médio e longo prazo - o que se traduz como melhor desempenho operacional da embarcação. ¾ A definição/manutenção de nível de estoque adequado para os equipamentos sujeitos ao trinômio: sobressalentes importados, sobressalentes com prazos de entrega longos e aqueles cujo nível de criticalidade para a operação do navio seja elevado. Imediatamente MCP e MCAs são identificados como apresentando todas estas características, a análise de sua representatividade de custos e consumo de sobressalentes podendo ser utilizada para a definição de patamar/nível adequado de estoque para sobressalentes de cada natureza (como Injeção, Área de Fogo, Carter, Turbina etc). Os benefícios incluiriam redução com overhead e taxa de urgência, bem como protegeriam este ramo de aquisições de flutuações cambiais mais severas. Apesar do estudo sobre gerenciamento apresentado ter alcançado resultados esperados, não significa que outras considerações não possam ser feitas sobre os mesmos dados ou atividades descritas, assim como o enfoque em outras áreas do gerenciamento técnico de uma frota pode ser necessário para abordar outros aspectos econômicos ou técnicos /tecnológicos da operação de navios mercantes. As informações aqui contidas podem auxiliar no desenvolvimento de futuros trabalhos sobre o tema, com novas linhas de raciocínio e agregando mais dados àqueles levantados por outros – em um processo de acúmulo gradual de dados sobre o assunto (como foi com este próprio estudo, aliás). UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 91 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla 9 Bibliografia [1] American Bureau of Shipping, ‘Hull Integrity Management Program’, ABS. [2] Aliança, http://www.aliança.com.br [3]APL, http://www.apl.com [4] Assis, L. F., ‘Custos do Transporte Marítimo’, UFRJ. 2001. [5] Assis, L. F., ‘Evolução das Características Físicas e Operacionais dos Principais Tipos de Navios Mercantes’, UFRJ. 1997. [6] ASP Ship Management Group, http://www.aspships.com/ [7] Cia de Navegação Norsul, http://www.norsul.com [8] Gladish, C. e Russell, P., ‘Ship Superintendency – The Role of the Ship Superintendent’, Lloyd’s Maritime Academy. 2008. [9] Hamburg Süd, http://www.hamburg-sued.com [10] Hawker, S., ‘Ship Superintendency – Maritime Law’, Lloyd’s Maritime Academy. 2008. [11] Hicks, M. D., ‘Ship Superintendency – Basic Marine Engineering’, Lloyd’s Maritime Academy. 2008. [12] International Association of Classification Society, ‘Bulk Carriers – Guidelines for Surveys, Assessment and Repair of Hull Structures’, Witherby & Co. 2008. [13] Intercargo ‘2004-2005 Review: 25th Anniversary issue’, International Association of Dry Cargo Shipowners. 2006. [14] Invertia, http://www.invertia.com.br [15] Lacerda, S. M., ‘Evolução Recente do Transporte Hidroviário de Cargas’, BNDES. 2004. [16] Lacerda, S. M., ‘Oportunidades e Desafios da Construção Naval’, Revista do BNDES, v. 10, n. 20, p. 41-78. 2003. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 92 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla [17] Lacerda, S. M., ‘Transporte Marítimo de Longo Curso no Brasil e no Mundo’, Revista do BNDES, v.11, n. 21, p. 209-232. 2004. [18] Log. In., http://www.loginlogistica.com.br/ [19] MacDonald, R., ‘Ship Superintendency – Operating Guidelines’, Lloyd’s Maritime Academy. 2008. [20] Maersk, http://www.maersk.com [21] McGeorge, H.D., ‘Ship Superintendecy – Marine Engineering’, Lloyd’s Maritime Academy. 2008. [22] Neptune Orient Lines, http://www.nol.com.sg/ [23] Office of Data and Economic Analysis, ‘World Merchant Fleet 2007’, U.S. Department of Transportation – Maritime Administration. 2008. [24] Revista Portos e Navios, ‘É Proibido Parar’, Revista Portos e Navios, n. 492. 2002. [25] Serra, E. G. ‘Notas de Aula – Economia’, UFRJ. 2006. [26] Serra, E. G., ‘Notas de Aula – PCP’, UFRJ. 2004. [27] Soundtanker Chartering, ‘Corporate Capabilities’, http://www.soundtanker.com [28] Star Central Purchasing System v3.2, SIS Marine. 2008. [29] Star Information & Planning System v3.2, SIS Marine. 2008. [30] Tallack, R., ‘Ship Superintendency – The World of Shipping’, Lloyd’s Maritime Academy. 2008. [31] Transpetro, http://www.transpetro.com.br [32] United Nations Conference on Trade and Development ‘Review of Maritime Transport, 2007’, UNCTD. 2007. [33] World Trade Association ‘Annual Report 2007’, WTO. 2008. UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 93 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 1 – Custos de Operação UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 94 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 2 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 95 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 3 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 96 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 4 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 97 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 5 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 98 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 6 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 99 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 7 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 100 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 8 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 101 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 9 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 102 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 10 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 103 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 11 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 104 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 12 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 105 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 13 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 106 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 14 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 107 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 15 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 108 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 16 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 109 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 17 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 110 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 18 – Interface IPS UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 111 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 19 – Módulos IPS UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 112 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 20 – Estrutura de organização técnica UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 113 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 21 – Controle de documentação e catálogos UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 114 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 22 – API de agendamento para o PMM UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 115 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 23 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 116 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 24 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 117 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 25 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 118 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 26 – Utilização de equipamento UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 119 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 27 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 120 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 28 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 121 . Universidade Federal do Rio de Janeiro Projeto Final de Curso de Graduação Thiago Canavarro Abdalla Anexo 29 UFRJ – Engenharia Naval e Oceânica Página . 122 .