Geografia da Indústria,
Comércio e Serviços
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
1
SOMESB
Geografia da
Sociedade Mantenedora de Educação Superior da Bahia S/C Ltda.
Indústria, Comércio
e Serviços
Presidente ♦ Gervásio Meneses de Oliveira
Vice-Presidente ♦ William Oliveira
Superintendente Administrativo e
Financeiro ♦ Samuel Soares
Superintendente de Ensino, Pesquisa e Extensão ♦ Germano Tabacof
Superintendente de Desenvolvimento e>>
Planejamento Acadêmico ♦ Pedro Daltro Gusmão da Silva
FTC - EaD
Faculdade de Tecnologia e Ciências - Ensino a Distância
Diretor Geral
Diretor Acadêmico
Diretor de Tecnologia
Gerente Acadêmico
Gerente de Ensino
Gerente de Suporte Tecnológico
Coord. de Softwares e Sistemas
Coord. de Telecomunicações e Hardware
Coord. de Produção de Material Didático
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♦
♦
♦
♦
♦
♦
♦
♦
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Roberto Frederico Merhy
Jean Carlo Nerone
Ronaldo Costa
Jane Freire
Luis Carlos Nogueira Abbehusen
Romulo Augusto Merhy
Osmane Chaves
João Jacomel
EQUIPE DE ELABORAÇÃO/PRODUÇÃO DE MATERIAL DIDÁTICO:
♦ PRODUÇÃO
ACADÊMICA ♦
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Coordenação de Curso ♦ Gisele das Chagas
Autor (a) ♦ Camila Xavier Nunes
Supervisão ♦ Ana Paula Amorim
♦PRODUÇÃO
TÉCNICA
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Coordenação ♦ João Jacomel
Equipe ♦ Alexandre Ribeiro, Angélica de Fátima, Cefas
Gomes, Clauder Filho, Delmara Brito, Diego Doria Aragão,
Diego Maia, Fabio Gonçalves, Francisco França Júnior,
Hermínio Vieira, Israel Dantas, Lucas do Vale, Marcio Serafim,
Mariucha Ponte, Ruberval da Fonseca e Tatiana Coutinho.
Editoração ♦ Mariucha Silveira Ponte
Imagens ♦ Corbis/Image100/Imagemsource
Ilustrações ♦ Mariucha Silveira Ponte e Ruberval da Fonseca
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SUMÁRIO
INDÚSTRIA, TECNOLOGIA E
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
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GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA: CONCEITOS, ESTRUTURA
ORGANIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS
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Introdução à Geografia da Indústria
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A industrialização e suas repercussões
Classificação das indústrias
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A fragmentação do processo produtivo
A expansão do setor terciário
Atividade complementar
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Transição do capitalismo industrial para o capitalismo
financeiro e informacional
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Evolução tecnológica da indústria e as relações de trabalho
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EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS INDÚSTRIAS E DO SETOR
TERCIÁRIO NO CONTEXTO DA ENCONOMIA GLOBAL
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Fatores locacionais e teorias de localização
Atividade complementar
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INDÚSTRIA, ORGANIZAÇÃO ESPACIAL,
SOCIEDADE E AMBIENTE
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3
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
INDÚSTRIA E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL
Organização e distribuição da indústria no mundo
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Estrutura industrial brasileira
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Distribuição espacial da indústria brasileira
A industrialização na Bahia
Atividade complementar
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Glossário
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Referências Bibliográficas
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Sociedade e ambiente: o papel transformador da escola
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Sociedade, ambiente e temas educacionais
Atividade Orientada
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Qualidade de vida e evolução técnico-industrial
Atividade complementar
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Problemas ambientais impulsionados pela
industrialização
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INDÚSTRIA, QUALIDADE DE VIDA, AMBIENTE E EDUCAÇÃO
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Apresentação da Disciplina
Prezado aluno!
Esta disciplina tem como objetivo conduzi-lo à construção de bases
teóricas referentes ao processo de industrialização nas mais diversas escalas
e suas repercussões sócio-espaciais, assim como demonstrar a importância
da Geografia como instrumento de investigação desse fenômeno que
reestruturou a organização do espaço e da sociedade como um todo.
A análise de conceitos e teorias, pertinentes à Geografia da Indústria,
bem como a compreensão dos fatores de localização industrial, da estrutura
do espaço industrial e da relação com os recursos naturais, permitirá entender
porque a Geografia da Indústria está intimamente relacionada com o estudo
dos comportamentos do consumo. Por fim, a discussão será conduzida a
partir da interface dos conteúdos abordados até então e a prática pedagógica
que propõe a análise e o entendimento dos diferentes impactos (sociais,
econômicos, ambientais e/ou culturais) resultantes do fenômeno industrial.
Bons estudos!
Camila Xavier Nunes
5
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
6
INDÚSTRIA, TECNOLOGIA E
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
O primeiro bloco busca apresentar a Geografia da Indústria a partir de alguns
conceitos e do processo de desenvolvimento do fenômeno industrial, nas diversas escalas,
da mundial à local. As diferentes fases da industrialização que acentuaram as disparidades
regionais, a indústria como setor importante na economia, mesmo em tempos de aceleração
do capitalismo financeiro, serão temáticas também discutidas.
GEOGRAFIA DA INDÚSTRIA: CONCEITOS, ESTRUTURA,
ORGANIZAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DAS INDÚSTRIAS
Nesse primeiro tema você estará em contato com informações introdutórias acerca
da Geografia da Indústria a partir de alguns conceitos e fatores explicativos sobre o
desenvolvimento do processo de industrialização, bem como suas repercussões sócioespaciais e a classificação e localização do fenômeno industrial.
Introdução à Geografia da Indústria
A disciplina de Geografia da Indústria está muito associada a diversas outras
disciplinas, como Geografia Econômica, Geografia Política e Geografia da População,
devido o fenômeno industrial ter reestruturado não somente a economia mundial, mas também
toda uma configuração espacial. A maneira que essa disciplina se organiza tem como objetivo
tornar o conteúdo melhor assimilado e compreendido no que tange às especificidades do
fenômeno industrial e das repercussões sociais e espaciais nas mais diversas escalas;
todavia, sem perder a noção do todo.
A indústria pode ser conceituada como o conjunto de atividades produtivas que se
caracteriza pela transformação de matérias primas de modo manual ou com auxílio de máquinas e ferramentas para a fabricação de mercadorias. A indústria moderna surgiu com a
Revolução Industrial (séculos XVIII-XIX) como resultado de um longo processo que iniciou
com o artesanato medieval; passando pela produção manufatureira (primeiro momento da
organização fabril) e posteriormente, pela inserção de novas tecnologias.
A indústria contemporânea caracteriza-se pela produção em massa nas fábricas,
pela intensa mecanização e automação do processo produtivo e a denominada racionalização do trabalho (produtividade ao máximo). A atividade industrial pode se materializar
em diferentes espaços, desde uma empresa de pequeno porte, até uma fábrica de qualquer
tamanho inserida num parque industrial, que trabalhe com atividade de transformação, que
usem maquinários, que tenham como objetivo criar um terceiro produto, pode ser considerada
indústria. Interessante salientar que a indústria não está somente na cidade, ultimamente a
indústria também está no campo, através das denominadas agroindústrias.
A humanidade, historicamente, necessita transformar os elementos da natureza para
poder utilizá-los e a indústria é o setor da economia que congrega esse processo de transformação dos recursos em matéria-prima e em vários tipos de bens. A atividade industrial
continua sendo o motor da economia apesar de todo o desenvolvimento dos outros setores.
7
Por isso, não é exagero afirmar que a industrialização foi responsável por
profundas transformações espaciais em extensas áreas do planeta.
A indústria deve ser entendida como atividade integrante da cultura do
homem e que esta última é tão antiga quanto o surgimento do homo sapiens.
Geografia da
O modo de vida atual é, direta ou indiretamente, fruto das transformações
Indústria, Comércio
trazidas pela tecnologia industrial.
e Serviços
A Industrialização e suas Repercussões
O processo de industrialização foi responsável por grandes transformações no espaço
da cidade. Se essas transformações caracterizavam-se por suas atividades comerciais, a
atividade industrial inseria-se com grande velocidade e intensidade que gerava mudanças
significativas na organização e estruturação das cidades, sendo o fator que mais acelerou
o processo de urbanização. Pode-se afirmar que um fator está intrinsecamente associado
ao outro. A mecanização da agricultura e a elevação da produtividade agrícola provocaram
o êxodo rural e novos hábitos de consumo, produziram também uma nova relação sociedade/
natureza e criou novas profissões no mercado de trabalho.
A produção industrial cria novos produtos e acaba atingindo também, os hábitos, os
padrões culturais e de consumo, criando sucessivamente, novas necessidades de consumo.
Isso viria mudar radicalmente a organização social, onde consumir não é apenas uma
atividade necessária de sobrevivência, mas sim também de status social, muito se discute
acerca de estarmos vivendo na denominada sociedade do consumo (assunto que ainda
será abordado mais detalhadamente).
A produção industrial está altamente associada à multiplicação de diversos ramos de
serviços que caracterizam a denominada cidade moderna e diretamente associada ao
desenvolvimento tecnológico dos meios de transporte e comunicação, que, nas mais diversas
escalas interligam as regiões, por isso as repercussões do fenômeno industrial são tão amplas
que não atingem somente o lugar onde se localizam, pois estão presentes em todos os processos produtivos e nos produtos consumidos pela população nas mais diversas escalas.
A Revolução Industrial
As origens da Revolução Industrial podem ser encontradas nos séculos XVI e XVII,
com a política de incentivo ao comércio, política essa utilizada pelos países absolutistas.
Assim, a acumulação de capitais nas mãos dos comerciantes burgueses e a abertura dos
mercados (devido a expansão marítima) incitaram o crescimento da produção - maior
produtividade e preços mais baixos.
Gradativamente, passou-se do artesanato disperso para a produção em oficinas e
destas para a produção mecanizada nas fábricas. A mecanização da produção criou o
proletariado rural e urbano, composto de homens, mulheres e crianças, submetidos a um
8
trabalho diário exaustivo, no campo ou nas fábricas. Importante lembrar que com a Revolução
Industrial, consolidou-se o sistema capitalista, baseado no capital e no trabalho assalariado.
O desenvolvimento da Revolução Industrial está dividido em três grandes fases:
Revolução Industrial: novas relações de trabalho
•
A primeira fase da Revolução Industrial
(1760-1860)
Essa fase acontece na Inglaterra, o pioneirismo se deve a
vários fatores, como o acúmulo de capitais e grandes reservas de
carvão. O país com seu poderio naval abre mercados na África,
Índia e nas Américas para exportar produtos industrializados e
importar matérias-primas.
•
A segunda fase da Revolução
(de 1860 a 1900)
Ocorre a difusão dos princípios de industrialização na França, Alemanha, Itália,
Bélgica, Holanda, Estados Unidos e Japão. Do mesmo modo cresce a concorrência e a indústria de bens de produção. Nessa fase as principais mudanças no processo produtivo
são a utilização de novas formas de energia (elétrica e derivada de petróleo), o aparecimento
de novos produtos químicos e a substituição do ferro pelo aço.
•
A terceira fase da Revolução Industrial
(de 1900 até os dias atuais)
Caracteriza-se pelo surgimento de grandes complexos industriais e empresas multinacionais e pela automação da produção. Desenvolvem-se a indústria química e a eletrônica.
Os avanços da robótica e da engenharia genética também são incorporados ao processo
produtivo, que depende cada vez menos de mão-de-obra e mais de alta tecnologia. Nos
países de economia mais desenvolvida surge o desemprego estrutural, o mercado se globaliza apoiado na expansão dos meios de comunicação e de transporte, o que Santos (2002)
denomina de período técnico-científico-informacional.
Classificação das Indústrias
As indústrias podem ser classificadas com bases em vários critérios, sendo que o mais
utilizado é o que leva em consideração o tipo e destino do bem produzido:
Indústrias de base: são aquelas que trabalham com matéria-prima bruta, transformando-a em matéria-prima para outros tipos de indústria, tem-se como exemplo a indústria
siderúrgica e a indústria petroquímica. A siderurgia dedica-se à fabricação e ao tratamento
do aço, importante destacar que a metalurgia é o conjunto de técnicas que o homem adquiriu
com o decorrer do tempo que lhe permitiu extrair e manipular metais e gerar ligas metálicas.
Já a indústria petroquímica é a fonte da maior parte dos artigos de consumo disponíveis no mundo moderno: como o plástico, em todas as suas variações, os tecidos e fibras
sintéticas, como a microfibra, são produzidos com matérias-primas petroquímicas. A química
fina, base para medicamentos e insumos agrícolas, também vem da petroquímica, por
substituir matérias-primas de origem animal (couro, lã, marfim). A indústria petroquímica
possibilita maior acesso a bens de consumo ao baixar o valor dos produtos, antes constituídos por vidro, madeira, algodão, celulose e metais.
9
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
A indústria petroquímica brasileira tem suas
origens no Governo Militar, quando foram
construídos no país o Pólo Petroquímico de São
Paulo em 1972, posteriormente o Pólo de
Industrial de Camaçari (BA) em 1978 e logo em
seguida, já na década de 80, foi construído o Pólo
Petroquímico do Sul (Triunfo - RS) em 1982.
• Indústrias de bens de capital ou intermediárias: produzem equipamentos
necessários para o funcionamento de outras indústrias, como as de máquinas;
• Indústrias de bens de consumo: são aquelas que produzem produtos voltados
ao grande mercado consumidor (população em geral). Como, por exemplo, a indústria têxtil,
que tem como objetivo a transformação de fibras em fios, e de fios em tecidos para abastecer
as confecções (vestuário em geral). EX: Fábricas de lãs, tecidos, etc. A indústria alimentícia
também faz parte desse tipo de indústria, que preparam ingredientes ou alimentos para
serem comercializados e consumidos. Os bens variam tanto de alimentos frescos como
carnes (abatedouros) e vegetais, conservas, temperos para outros alimentos a aqueles
prontos para o consumo (pizzas, lasanhas, tortas).
Subdividem-se em:
• Bens duráveis: as que produzem bens para consumo a longo prazo, como
automóveis;
• Bens não duráveis: as que produzem bens para consumo em geral imediato,
como as de alimentos.
Todavia, outros critérios podem ser levados em consideração, como:
Maneira de produzir:
• Indústrias extrativas;
• Indústrias de processamento ou beneficiamento;
• Indústrias de construção;
• Indústrias de transformação ou manufatureira.
Quantidade de matérias-primas e energias utilizadas:
• Indústrias leves;
• Indústrias pesadas.
Tecnologia empregada:
• Indústrias tradicionais;
• Indústrias dinâmicas.
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Setores da Indústria:
• Setor primário: compõe atividades econômicas que produzem matérias-primas,
geralmente na transformação de recursos naturais em produtos primários para transformálo em produtos industrializados. O setor é composto de seis atividades econômicas: agricultura; pecuária; extrativismo vegetal; caça; pesca e mineração.
• Setor secundário: transforma produtos naturais produzidos pelo setor primário
em produtos de consumo ou então, em maquinário. Nesse setor, a matéria-prima é transformada em um produto manufaturado;
• Setor terciário: constitui a comercialização de produtos em geral, e o oferecimento de
serviços comerciais, pessoais ou comunitários,
a terceiros. É o setor que mais cresce, quase que
desordenadamente. É a principal fonte de renda
dos países desenvolvidos. Atualmente, o setor
terciário encontra-se extremamente diversificado
devido à intensa industrialização que vem
ocorrendo, praticamente no mundo inteiro, nos
últimos dois séculos.
Fatores Locacionais e Teorias de Localização
Uma série de fatores pode favorecer o desenvolvimento industrial de uma região, tais como:
• Capital;
• Energia;
• Mão-de-obra;
• Matéria-prima;
• Mercado consumidor;
• Meios de transportes.
A análise da disponibilidade e estrutura de cada um desses fatores é que orienta a
instalação das indústrias em determinados lugares e outros não. Atualmente, além dos fatores
já citados acima, o incentivos fiscais oferecidos por alguns governos também são grandes
atrativos para a instalação de indústrias em regiões economicamente frágeis.
Teorias de Localização Industrial
Dentre as bases teóricas comumente utilizadas na Geografia e na Economia para
determinar fatores locacionais, destacam-se as seguintes teorias de localização industrial:
•
•
•
•
Teoria Clássica da Localização Industrial, de Alfred Weber (1909);
Teoria das Localidades Centrais, de Walter Cristaller (1930);
Teoria do Equilíbrio Espacial Geral, de August Lösch (1940);
Teoria de Pólos de Desenvolvimento e Crescimento, de François Perroux (1955).
11
A Teoria Clássica da Localização Industrial
de Alfred Weber
Esta teoria define fatores locacionais imprescindíveis para a localização
de indústrias. Para Weber é primordial saber onde se situa um determinado
Indústria, Comércio
empreendimento, dando ênfase à relação entre os custos de transporte, fontes
e Serviços
de matérias-primas, a distância aos insumos e ao mercado. O autor divide
esses fatores em específicos e gerais, os específicos dizem respeito a economias de custos que podem ser alcançadas por um número pequeno de indústrias, já os
gerais podem ser alcançados por qualquer indústria e podem ser subdivididos em regionais
(que influenciam a escolha de uma região) e aglomerativos ou desaglomerativos (provocam
concentração ou dispersão em uma região). Weber destaca entre os fatores locacionais: o
transporte (regional), a mão-de-obra (regional) e as ofertas de serviços (como energia elétrica
e água, por exemplo).
Fatores que refletem o desenvolvimento urbano e social de uma determinada região
também devem ser levados em consideração. Deve-se atentar para o aumento do valor
agregado industrial, a elevação do nível de emprego e redistribuição da população (diminuindo, dessa forma, as diferenças entre regiões), na utilização dos recursos locais, na
criação de uma estrutura industrial diversificada e com capacidade de crescimento autosustentado e, por fim, visar o aumento da competitividade e da quantidade de exportações
da empresa e da região, impulsionando ainda mais o desenvolvimento local.
Geografia da
A Teoria das Localidades Centrais
de Walter Cristaller
Trata especificamente do nível de hierarquização das cidades, que varia em função
do tipo de serviço oferecido e do grau de importância econômica das mesmas. Desse
modo, pode-se tornar extremamente vantajosa e lucrativa a instalação da empresa em
determinado lugar. A teoria foi desenvolvida por Cristaller e mais especificada por Lösch.
Baseia-se numa extensão simples da análise de áreas de mercado, essas que variam de
uma indústria para a outra, dependendo de economias de escala e demanda per capita.
Desse modo, cada indústria tem um padrão de localização diferente. A teoria das
localidades centrais mostra como esses padrões de localização de diferentes indústrias
surgem para formar um sistema regional de cidades.
A Teoria do Equilíbrio Espacial Geral
de August Lösch
Acerca de referências sobre a localização industrial pode-se incluir August Lösch,
um nome de destaque na literatura sobre o tema. A teoria de Lösch apresenta grande importância por considerar a hierarquia das cidades, as barreiras alfandegárias, os efeitos dos
preços e sua variação em função da localização das fontes de matérias-primas e das áreas
de mercado. A sua principal preocupação era desenvolver um modelo de equilíbrio geral do
espaço que servisse tanto para a análise de projetos empresariais como públicos. Seu
primeiro instrumento de análise para problemas de localização industrial foi desenvolvido
na Itália, no começo da década de 70, com o objetivo de enquadrar, num mesmo cenário,
as necessidades dos investidores, que procuravam a localização ideal para seus empreendimentos e dos administradores públicos, que visavam obter um melhor aproveitamento do
território administrativo e desenvolver uma política industrial que refletisse o que as regiões
pudessem oferecer.
12
A Teoria de Pólos de Crescimento e Pólos de Desenvolvimento
de François Perroux
Através de sua teoria Perroux procurou distinguir as várias noções de espaços e suas
implicações. Segundo suas idéias, as atividades econômicas não são localizáveis com
precisão, por isso o espaço não podia ter um sentido meramente físico, também não poderia
ser definido como um território delimitado pelos acidentes geográficos ou pelo livre arbítrio do
homem, ao contrário, considerava as divisões vulgares e sem valor analítico para a economia.
Perroux defendia a idéia que os espaços são conjuntos abstratos, constituídos de
relações econômicas realizadas por agentes econômicos, conceitua o espaço econômico
em duas perspectivas: inicialmente, examinando e descrevendo o relacionamento e a distribuição das atividades econômicas no espaço geográfico, atividades que podem ser
localizadas através de suas coordenadas ou mapeamento; posteriormente, analisando o
espaço econômico que corresponde as relações conceituais mais amplas – por exemplo,
uma empresa, uma indústria, ou um grupo delas, pode localizar sua produção em uma
determinada área, porém seu mercado de insumos, ou de produto, pode estar localizada
dentro ou fora do mesmo espaço geográfico.
O autor parte do pressuposto que o crescimento não surge em todos os lugares ao
mesmo tempo, manifestando-se com intensidades variáveis, em pontos ou pólos de crescimento (pontos ou áreas que exercem influência sobre uma região).
Revisando...
Os fatores locacionais devem ser entendidos como as vantagens que um determinado
local pode oferecer para a instalação de uma indústria, dentre esses destacam-se:
•
•
•
•
•
•
•
•
Matéria prima abundante e barata;
Mão de obra abundante e barata;
Energia abundante e barata;
Mercados consumidores;
Infra-estrutura;
Vias de transporte e comunicações;
Incentivos fiscais;
Legislações fiscais, tributárias e ambientais amenas.
Você
Sabia?
Os modelos de localização industrial atuais aproveitam-se do desenvolvimento tecnológico avançado e utilizam ferramentas de geoprocessamento para obter informações das mais variadas sobre um determinado local.
A utilização destes sistemas produz informações que permitem tomar decisões para colocar em pratica ações, os mesmos se aplicam a qualquer tema
que manipule dados ou informações vinculadas a um determinado lugar no
espaço, e cujos elementos possam ser representados em um mapa, como
casas, escolas, hospitais, etc.
CONTINUA
13
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
CONTINUAÇÃO
Levantadas as características do território em estudo, devese realizar também um estudo do empreendimento a ser lançado,
levando-se em consideração características como a identificação
das atividades realizadas naquele determinado local, informações
quanto a planta, produtos, processos, matéria-prima e insumos,
equipamentos, recursos humanos, tecnologia e escala de produção e uma seleção dos fatores de localização que serão determinantes no processo de escolha, como infra-estrutura básica, transportes, serviços e insumos; características físico-geográficas;
aspectos sócio-econômicos; restrições ambientais e legais e diretrizes e políticas de incentivo implantadas em determinadas regiões.
Atividades
1.
Complementares
Afirma-se que estamos vivendo uma Terceira Revolução Industrial. Manifeste sua
opinião acerca desta questão.
2.
Alguns fatores são imprescindíveis para a instalação de uma indústria, aponte quais
são esses fatores e faça uma hierarquização dos mesmos, começando pelo qual você
considera mais importante.
3.
O critério mais utilizado para a classificação das indústrias é em relação ao tipo de
produto produzido, porém, quais outros tipos de classificação podem ser empregados?
14
4.
No que se baseia a Teoria das Localidades Centrais de Walter Cristaller?
5.
François Perroux defendia a idéia que os espaços são conjuntos abstratos, constituídos
de relações econômicas realizadas por agentes econômicos e conceitua o espaço
econômico em duas perspectivas, quais são elas? Justifique-as.
EVOLUÇÃO DOS SISTEMAS INDUSTRIAS E DO SETOR
TERCIÁRIO NO CONTEXTO DA ENCONOMIA GLOBAL
Este tema aborda as constantes mutações que o processo produtivo sofreu ao longo
da história, principalmente, por meio do desenvolvimento tecnológico que possibilitou
transformações significativas no modo-de-produção e nos produtos desenvolvidos, devido
a transição do capitalismo industrial para o capitalismo financeiro, num período denominado
de tecnico- científico-informacional, em que as mudanças são tão voláteis quanto o consumo
da produção e a conseqüente fragmentação do processo produtivo.
Evolução Tecnológica da Indústria e as Relações de Trabalho
Revolução Industrial e as Mudanças Tecnológicas
A evolução progressiva do homem como ser social mostra que, quanto mais ele
evolui tecnicamente, menos se submete às imposições da natureza, desse modo, se, por
um lado, o homem como animal é parte integrante da natureza e necessita dela para continuar
sobrevivendo, por outro, como ser social, cada dia mais sofistica os mecanismos de extrair
da natureza recursos que, ao serem aproveitados, podem alterar de modo profundo os
ambientes naturais.
Ao passar de simples coletor de frutos e caçador para agricultor, criador de rebanhos
e construtor de abrigos e de equipamentos cada vez mais complexos, o ser humano passou
a alterar o equilíbrio e a funcionalidade dos ambientes naturais, privilegiando a expansão
de um pequeno número de espécies animais e vegetais e eliminando uma grande quantidade
de outras, que não eram de interesse imediato para satisfazer às suas necessidades.
15
A mudança de simples agricultores e criadores de subsistência para
um estágio de agricultores-criadores com finalidades comerciais implementou
uma significativa alteração de comportamento das sociedades humanas na
relação com a natureza. A partir do momento em que os animais criados, os
Geografia da
cereais cultivados e os vegetais coletados no campo ou nas florestas são
Indústria, Comércio
explorados para a comercialização, deixam de ser simplesmente alimentos
e Serviços
para se transformarem em mercadorias que levam à riqueza de alguns e à
pobreza de outros.
As necessidades de sobrevivência e a grande criatividade humana têm possibilitado
aos homens aproveitar cada vez mais os recursos disponíveis na natureza. A intensificação
comercial, com o acúmulo de reservas monetárias, fez surgir a ideologia do capital, ou seja,
da concentração de riquezas através do ganho pela troca de mercadorias e moedas entre
diferentes sociedades humanas.
O Desenvolvimento Técnico
A Revolução Industrial ao desenvolver novas tecnologias revolucionou o modo produtivo
e as relações de trabalho. A invenção mais considerável do começo da revolução foi obra do
operário inglês James Watt. Em 1768 ele criou a primeira máquina a vapor realmente eficaz
(não criou a máquina a vapor e sim a aprimorou). A idéia básica era colocar o carvão em
brasa pra aquecer a água até que ela produzisse muito vapor, a máquina girava por causa da
expansão e da contração do vapor posto dentro de um cilindro de metal.
As primeiras máquinas a vapor foram construídas na Inglaterra durante o século XVIII
e, graças a essas máquinas a produção de mercadorias aumentou muito, a Inglaterra se
tornou a maior exportadora mundial de tecidos. Os lucros dos burgueses donos de fábricas
cresceram na mesma proporção, por isso, os empresários ingleses começaram a investir
na instalação de indústrias. As fábricas se espalharam rapidamente pela Inglaterra e
provocaram mudanças muito profundas no modo de vida de milhões de pessoas.
Nas primeiras décadas do século XIX, as máquinas a vapor equiparam navios e
locomotivas; países como a Inglaterra, a França, a Alemanha e os EUA instalaram milhares
de quilômetros de ferrovias e desenvolveram espetacularmente as indústrias de ferro e de
máquinas. Assim sendo, a evolução dos meios de transporte está diretamente associado
ao desenvolvimento da industrialização e vice-versa.
Principais Avanços da Maquinofatura
• 1733 – John Kay inventa a lançadeira volante;
• 1740 – Benjamin Huntsman desenvolve o processo de produzir aço tipo “crucible”;
• 1767 – James Hargreaves inventa a spinning jenny, que permitia a um só artesão fiar 80
fios de uma única vez;
• 1768 – James Watt inventa a máquina a vapor;
• 1769 – Richard Arkwright inventa a water frame;
• 1779 – Samuel Crompton inventa a mule, uma combinação da water frame com a spinning
jenny” com fios finos e resistentes;
• 1785 – Edmond Cartwright inventa o tear mecânico.
O Motor a Explosão e o Uso do Petróleo
A máquina a vapor mostra-se limitada quanto ao uso, potência e, principalmente, ao
rendimento. A descoberta do motor a explosão (a energia é liberada pela combustão da
gasolina - ou álcool, diesel, querosene, gás, etc.) e da eletricidade fizeram ampliar a capa16
cidade dos maquinários e novas fontes de energias puderam ser utilizadas na produção
industrial, a exemplo do petróleo, que gradativamente foi substituindo o carvão mineral.
Embora fosse conhecido desde a Antiguidade, o petróleo só foi obtido pela primeira vez
através de perfuração de poços em 1859. É hoje um dos responsáveis pela movimentação
de motores de explosão devido às características de seus derivados. O petróleo, no século
XX, passou a alimentar o sistema industrial e alguns modos de transporte, entretanto, por
constituir-se de energia fóssil não renovável (assim como o gás natural e o carvão mineral),
as limitações começaram a surgir.
Conflitos de caráter político, econômico e social marcaram países em que o petróleo
era importante elemento econômico, algumas guerras foram travadas, a exemplo da Guerra
do Golfo (1991).
Fontes de Energia Utilizadas na Indústria
• O carvão mineral
O carvão mineral foi fundamental para a primeira Revolução Industrial, ocorrida na
Grã-Bretanha no século XVIII, representando a fonte de energia básica para o desenvolvimento de dois setores industriais importantes: o siderúrgico e o têxtil.
De todos os combustíveis fósseis, o carvão é, sem dúvida, o com maior reserva no
mundo. Se o nível de exploração mundial continuar como atualmente, as reservas são suficientes para durar aproximadamente 250 anos.
É importante ressaltar que o carvão já foi usado como forma de energia durante
anos, o mesmo não só forneceu a energia que abasteceu toda a Revolução Industrial no
século XIX como também impulsionou toda a era da eletricidade no século XX. Atualmente
aproximadamente 40% da eletricidade gerada mundialmente é produzida através do carvão.
Alguns desses países que dependem da energia elétrica gerada pelo carvão são: Dinamarca,
China, Grécia, Alemanha e Estados Unidos. A indústria de ferro e aço mundial também é
fortemente dependente do uso do carvão.
• Gás natural
O gás natural é freqüentemente encontrado associado ao petróleo, pois forma-se do
mesmo modo e acumula-se no mesmo tipo de terreno. O gás natural oferece algumas
vantagens em relação ao petróleo: é menos poluente, as reservas conhecidas podem durar
cerca de 60 anos e estão distribuídas em diversos continentes. Apesar de existência de
consideráveis reservas de gás natural, o Brasil importa gás da Bolívia.
Você
Sabia?
A idéia de construir um gasoduto entre Bolívia e Brasil tem sido objeto
de discussão por quase meio século; contudo, por várias razões, os diversos
projetos não se apresentaram viáveis no passado. Por isso, durante este
período de negociações, a Bolívia passou a exportar gás para a Argentina.
Mas, no final dos anos 70, a Argentina tornou-se auto-suficiente em gás,
podendo prescindir do gás boliviano. A partir daí as negociações entre Brasil
e Bolívia começaram a tomar novo rumo com o final do contrato de importação
de gás boliviano por parte da Argentina em 1992. A Bolívia é fortemente
dependente da exportação de gás natural e o Brasil aparece, naturalmente,
como o principal mercado consumidor para o gás boliviano.
,
CONTINUA
17
•
A energia nuclear: urânio
O beneficiamento do urânio passa a ser difundido após o final da Segunda
Guerra Mundial, pretensamente como substituto às fontes não-renováveis.
Geografia da
O urânio tem amplas aplicações no campo da medicina, agricultura,
Indústria, Comércio
proteção ao meio ambiente e indústria em geral. Na medicina ele propicia
e Serviços
utilização de técnicas avançadas de diagnóstico e de tratamento de inúmeras
doenças; já na agricultura ela é utilizada na irradiação de alimentos, permitindo
que os mesmos durem por mais tempo.
Na indústria são utilizadas técnicas de verificação da qualidade de equipamentos,
esterilização de materiais médicos e cirúrgicos; técnicas nucleares são utilizadas também
para monitorar poluentes e identificar recursos aqüíferos. No entanto, problemas decorrentes
dessa fonte de “energia do futuro”, como proliferação de armas, problemas ambientais, a
questão do lixo atômico e os riscos de acidentes.
Para refletir!
A região de Angra dos Reis, no sul Rio de
Janeiro, foi escolhida para a ins-talação do complexo
nuclear brasileiro (Angra 1 e 2) pela proximidade dos
grandes centros consumidores, a Usina fica (em linha
reta) a 220km de São Paulo, 130 km do Rio e 350 km
de Belo Horizonte, que são grandes consumidores de
energia elétrica. A implantação da Usina é mais um
resultado da confusa e contraditória política nuclear
brasileira, que se inicia na década de 1940. Nessa
política, misturam-se os mais diversos interesses de
militares, políticos, grandes potências, empresários e
cientistas. Na maior parte das vezes as razões
energéticas foram meras justificativas para esconder
estratégias militares ou interesses econômicos.
Intensificação das Diferenças Regionais
Nesse processo acelerado de tecnificação das sociedades humanas,
algumas regiões do planeta foram palco de
maiores alterações. Para produzir mercadorias e equipamento foi necessário instalar
extensos complexos industriais e, para
alimentá-los, foi exigida a extração de
matérias-primas e a exploração de fontes
energéticas do mundo todo.
A evolução das técnicas na indústria
significou novas formas de relações entre os
homens e destes com o território. A batalha
pelo domínio da técnica e sua apropriação
18
pelas empresas e Estados, em alguns momentos com interesses convergentes, em outros
divergentes, acabou gerando sérios conflitos tanto em nível nacional quanto internacional.
A luta pelo controle da energia nuclear, do carvão e do petróleo está na origem da maioria
das grandes guerras e de toda dominação externa. Podendo-se afirmar que o desenvolvimento
das técnicas e as mudanças na conjuntura econômica internacional intensificaram as formas
de apropriação dos recursos naturais dentro e fora dos territórios nacionais.
A posição de alguns países desenvolvidos - mesmo possuindo abundância de
recursos em seus territórios - foi a de explorá-los em regiões do mundo subdesenvolvido. O
avanço técnico e científico e o crescente processo de industrialização, seja nos países ricos
ou nos pobres, nos capitalistas ou nos socialistas, vêm progressivamente interferindo,
agredindo e alterando a natureza, em benefício dos interesses imediatos dos homens.
Profundas Transformações Sociais
O principal desdobramento da Revolução Industrial, na esfera social, foi a transformação das condições de vida nos países industriais em relação aos outros países da época,
havendo, pois, uma mudança progressiva das necessidades de consumo da população
conforme novas mercadorias foram sendo produzidas.
As condições de vida do trabalhador braçal foram fortemente modificadas provocando inicialmente um intenso deslocamento da população rural para as cidades1. Durante
o início da Revolução Industrial os operários viviam em condições muito ruins - se comparadas às condições dos trabalhadores do século seguinte – trabalhavam muitas horas
por semana2, o salário era medíocre e tanto mulheres como crianças também recebiam
um salário ainda menor.
A produção em larga escala e dividida em
etapas iria distanciar cada vez mais o trabalhador
do produto final - já que cada grupo de trabalhadores
passava a dominar apenas uma etapa da produção
- entretanto, sua produtividade ficava maior.
Algumas melhorias só vieram à medida que
os trabalhadores pressionaram os seus patrões
para tal, ou seja, se o salário e as condições de vida
melhoraram com o tempo, foi por meio dos movimentos organizados pelos trabalhadores.
Dentre esses movimentos, podemos destacar como os mais significativos:
Movimento Catequista (1811-12)
Reclamações contras as máquinas inventadas após a revolução para poupar a mãode-obra já eram normais. Mas foi em 1811 que o estopim estourou e surgiu o movimento
também conhecido como ludita3. Chamaram muita atenção pelos seus atos e sua forma mais
1
Londres, por exemplo, cresceu de 800 000 habitantes em 1780 para mais de 5 milhões em 1880.
Os trabalhadores adultos da indústria têxtil trabalharam cerca de 80 horas por semana em 1870, 67
horas em 1820 e 53 horas em 1860.
3
O nome do movimento deriva de Ned Ludd, um dos líderes. Os denominados luditas
2
19
Geografia da
radical de protesto (ficaram lembrados como “os quebradores de máquinas”).
Os manifestantes sofreram uma violenta repressão, foram condenados à prisão,
à deportação e até à forca. Posteriormente, operários ingleses mais experientes
adotaram métodos mais eficientes de luta, como a greve.
Indústria, Comércio
e Serviços
Movimento Cartista (1837-1848)
Considerado o primeiro movimento independente da classe trabalhadora britânica, exerceu forte influência sobre o pensamento político - o nome do movimento
teve origem na Carta do Povo, principal documento de reivindicação dos operários. Esse
movimento se destacou por sua organização, e por sua forma de atuação, pela via política,
chegando a conquistar diversos direitos políticos para os trabalhadores. A estratégia utilizada
pelos cartistas girava em torno, principalmente, da coleta de assinaturas, realizadas nas
oficinas, nas fábricas e em reuniões públicas, através de uma série de Petições Nacionais
enviadas à Câmara dos Comuns, que reivindicavam:
•
•
•
•
•
Limitação de 10 horas (diárias) da jornada de trabalho;
Regulamentação do trabalho feminino;
Extinção do trabalho infantil;
Folga semanal;
Salário mínimo.
As Trade-Unions
Na segunda metade do século XIX, as Trade Unions evoluíram para os sindicatos,
forma de organização dos trabalhadores com um considerável nível de ideologização e
organização e obtiveram conquistas, embora lentas, de suas reivindicações. O século XIX
foi uma época bastante promissora para a luta da classe operária, seja para obtenção de
conquistas na relação com o capitalismo, seja na organização de movimentos revolucionários.
As Conseqüências da Revolução Industrial
A Revolução Industrial alterou completamente a maneira de viver das populações
dos países que se industrializaram. As cidades atraíram os camponeses e artesãos, e se
tornaram cada vez maiores e mais importantes. Na Inglaterra, por volta de 1850, pela primeira
vez em um grande país, havia mais pessoas vivendo em cidades do que no campo.
Nas cidades, as pessoas mais pobres se aglomeravam em subúrbios de casas velhas
e desconfortáveis, se comparadas com as habitações dos países industrializados hoje em
dia. Conviviam com a falta de água encanada, com os ratos, o esgoto formando riachos nas
ruas esburacadas.
O trabalho do operário era muito diferente do trabalho do camponês: tarefas monótonas e repetitivas. A vida na cidade moderna significava mudanças incessantes, a cada
instante. Surgiam novas máquinas, novos produtos, novos gostos, novas modas; surge a
denominada sociedade do consumo.
A ciência, no estágio atual, está estreitamente ligada à atividade industrial e às
outras atividades econômicas: agricultura, pecuária, serviços. É um componente
fundamental, pois, para as empresas, o desenvolvimento científico e tecnológico é revertido
em novos produtos e em redução de custos, permitindo a elas maior capacidade de
competição num mercado cada vez mais disputado. As grandes multinacionais possuem
seus próprios centros de pesquisa e o investimento científico, em relação ao conjunto da
atividade produtiva, tem sido crescente.
20
Transição do Capitalismo Industrial Para o Capitalismo
Financeiro e Informacional
O Capitalismo
A inserção do sistema capitalista na economia mundial por meio do intensivo processo
de industrialização faz com que se definam as relações assalariadas de produção, trazendo
a nítida separação entre os detentores dos meios de produção e do capital e os que só
possuem a força de trabalho. Averiguar como o capitalismo inseriu-se na economia mundial
e quais as mudanças decorrentes desse processo, bem como as mudanças socais e
tecnológicas também ocorridas faz-se necessário nesse contexto. De sua origem até os
dias atuais o capitalismo apresentou-se de diferentes formas: o investimento em atividades
de comércio deu vida ao Capitalismo Comercial, a Revolução Industrial impôs o Capitalismo
Industrial e por fim, o Capitalismo Financeiro se insere através do comércio de ações e da
globalização econômica.
Podemos decompor o capitalismo nas seguintes fases:
•Pré-capitalismo: período caracterizado pela economia mercantil, onde a produção se
destina as trocas e não apenas a uso imediato. Não se generalizou o trabalho assalariado;
trabalhadores independentes que vendiam o produto de seu trabalho, ou seja, os artesãos
eram donos de suas oficias, ferramentas e matéria-prima;
•Capitalismo Comercial: apesar de predominar o produtor independente (artesão), generaliza-se o trabalho assalariado. A maior parte do lucro concentrava-se na mão dos comerciantes, intermediários, não nas mãos dos produtores. Lucrava mais quem comprava
e vendia a mercadoria, não quem produzia;
•Capitalismo Industrial: O trabalho assalariado se instala, em prejuízo dos artesãos, separando claramente os possuidores de meios de produção e o exército de trabalhadores;
•Capitalismo Financeiro ou Monopolista: contexto atual, onde sistema bancário e grandes
corporações financeiras tornam-se dominantes e passam a controlar as demais atividades.
Origem do pré-capitalismo
A emergência do capitalismo relaciona-se à crise do Feudalismo, que deu sinais de
esgotamento, basicamente, do descompasso entre as necessidades crescentes da nobreza
feudal e a estrutura de produção, assentada no trabalho servil. O impacto sobre o feudalismo
foi fulminante, já que o sistema tinha potencialidade mercantil, isto é, a possibilidade de
desenvolvimento do comércio em seus limites. As feiras medievais ganharam novo dinamismo, foram perdendo o caráter temporário, estabilizaram-se, transformaram-se em centros
permanentes, as cidades mercantis.
Surge, a partir das primeiras fortunas entre os burgueses de Idade Média, um novo
sistema econômico e social baseado na iniciativa particular, na propriedade privada dos
meios de produção, e gosto pelo investimento de capitais com fins lucrativos.
21
O Capitalismo Comercial
O projeto de alcançar uma passagem para o Índico que possibilitasse o
controle das riquezas existentes nas costa oeste/leste da África, passou a ser
Geografia da um problema geral dos países europeus. Com isso, inicia-se a chamada
Indústria, Comércio
Revolução Comercial; Espanha e Portugal tiveram amplo e imediato proveito
e Serviços
do pacto colonial sujeitando as populações coloniais aos preços e as condições
de negócios que lhes eram impostos. Os países ibéricos ao lado da riqueza
obtida com a venda de vários produtos, (a exemplo do açúcar brasileiro) passaram a ter
posse de enormes quantidades de metais preciosos (prata e ouro) acumulados pelas culturas
indígenas do novo mundo (incas, maias e ascetas que foram exterminados). Já a França, a
Inglaterra e a Holanda forçam sua aceitação nas matas atlânticas, buscando oportunidade
para fendas coloniais inclusive atacando-as e promovendo piratarias.
O Capitalismo Industrial
A constante expansão dos negócios mantém em crescimento a procura de produtos
industrializados e, com ela, o progresso das atividades industriais e desenvolvimentos
técnico. Observa-se radical transformação na indústria graças ao rápido incremento da
mecanização alicerçado pelo uso generalizado do ferro, carvão e força de expansão do
vapor. A Inglaterra na metade do século XVIII contava com um poderoso capital a disposição
e controlavam o amplo mercado representado pelo seu imenso domínio colonial. Instaurase nessa nação um regime de acentuada liberdade econômica. O sucesso financeiro das
primeiras atividades industriais mecanizadas e as facilidades surgidas pela fabricação e a
operação de máquinas levaram a mecanização de diversos ramos da indústria, gerando a
denominada Revolução Industrial.
O Capitalismo Financeiro ou Monopolista
O desenvolvimento do capitalismo industrial aumenta significativamente o número
de bancos comerciais e surgem os bancos de investimento voltado para o financiamento
da produção. A sociedade anônima além de facilitar a obtenção de capitais e, a ampliação
dos investimentos, possibilita o jogo financeiro puro através do comércio de ações. A procura
de sempre maiores lucros e a da crença na livre concorrência levou a formação grupos
monopolistas, através de trustes que controlam todas as etapas da produção desde a
retirada da matéria-prima da natureza passando pela transformação em produtos, até a
distribuição das mercadorias. Também se criam os cartéis, resultantes de livre associação
de concorrentes, que fazem acordo entre si, estabelecendo preços comuns, dividindo os
mercados, mas sem perda da autonomia particular.
Neoliberalismo
Os neoliberais acreditam que o Estado cresceu muito e que, portanto, deve diminuir
sua participação na economia. As diretrizes básicas que orientam os caminhos das
privatizações e da desregulamentação econômica. Privatizar, naturalmente, significa vender
as empresas estatais como siderúrgicas, hidrelétricas, companhias de transporte, minas e
companhias telefônicas, e passá-las ao controle de empresas particulares. Além disso, o
neoliberalismo prevê a diminuição de impostos, para que os empresários tenham mais
recursos para investir, a liberação das importações e a abertura ao capital estrangeiro.
Às associações econômicas regionais com diminuição ou eliminação dos protecionismos e atração de investimentos internacionais, acrescentou-se a limitação dos gastos
22
governamentais, com a prevalência da economia de mercado e a busca de um “Estado
mínimo”, redirecionando sua atuação e tamanho, especialmente com as privatizações. Se
por um lado o neoliberalismo modernizou a economia, também é verdade que ele ampliou
problemas sociais como a fome, o desemprego e a pobreza. Aliados a esses fatores,
percebe-se um conseqüente aumento no mercado informal e na criminalidade.
A tão propalada globalização econômica e a Nova Ordem Mundial (a queda do
bloco socialista e ampliação da integração entre as economias anteriormente isoladas do
mundo ocidental) são difusoras dos interesses da única potência existente, e, sem dúvida,
aceleraram esse processo de implantação das teorias neoliberais, impulsionadas pela
derrubada do obstáculo socialista, estimularam a formação de blocos econômicos,
associações regionais de livre mercado que derrubaram antigas barreiras protecionistas.
A Fragmentação Do Processo Produtivo
É de extrema importância analisar também as técnicas do processo produtivo. Atualmente, os computadores são capazes de orientar e avaliar a qualidade dos produtos no interior
das linhas de produção, assim como em alguns setores, os robôs estão substituindo a força
de trabalho dos homens. Tendências na evolução das técnicas associadas à cultura do consumo tornam-se importantes fatores na análise do processo de distribuição espacial de indústria
pelo mundo, na produção de bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis, etc.).
O artesão além de possuir os meios de produção, participava de todo o processo produtivo,
assim como os trabalhadores manufatureiros (apesar de não possuírem os meios de produção,
mas somente sua força de trabalho). Contudo, mudanças profundas na divisão e nas relações de
trabalho ocorrem com o surgimento do taylorismo, fordismo e toyotismo (just-in-time).
Taylorismo
No início do século XX, o engenheiro industrial norte-americano Frederick Winslow
Taylor desenvolveu um sistema para aumentar a produtividade, instituindo uma maior divisão
de tarefas no interior das fábricas, os trabalhadores deixaram de confeccionar o produto
inteiro e cada operário passou a exercer apenas algumas tarefas específicas.
Taylor acreditava que oferecendo instruções sistemáticas e adequadas aos trabalhadores, haveria possibilidade de fazê-los produzir mais e com melhor qualidade, que achava
que todo e qualquer trabalho necessita, preliminarmente, de um estudo para que seja determinada uma metodologia própria visando sempre o seu máximo desenvolvimento, cujo
resultado refletiria em menores custos, salários mais elevados e, principalmente, em aumentos
de níveis de produtividade.
Com o objetivo de que o trabalho fosse executado de acordo com uma seqüência e
um tempo pré-programados, de modo a não haver desperdício operacional, inseriu a supervisão funcional, estabelecendo que todas as fases de um trabalho deviam ser acompanhadas
de modo a verificar se as operações estão sendo desenvolvidas em conformidades com
as instruções programadas. Finalmente, apontou que estas instruções programadas devem,
sistematicamente, ser transmitidas a todos os empregados.
Fordismo
Henry Ford, outro engenheiro industrial dos Estados Unidos, aplicou uma nova maneira
de organizar o trabalho na sua fábrica de automóveis, criou a denominada linha de montagem:
em vez dos trabalhadores se deslocarem pela fábrica, cada um realizava uma única tarefa
repetidas vezes: um encaixava o motor, outro parafusava o motor na carroceria, outro encai23
xava os bancos, e assim por diante. As mudanças implantadas permitiram
reduzir o esforço humano na montagem, aumentar a produtividade e diminuir
os custos proporcionalmente à elevação do volume produzido e facilidade de
operação e manutenção. O conceito-chave da produção em massa não é a
Geografia da
idéia de linha contínua, mas sim a completa e consistente comunicação de
Indústria, Comércio
partes e a simplicidade de montagem.
e Serviços
Esta combinação de vantagens competitivas elevou a Ford à condição
de maior indústria automobilística do mundo e virtualmente sepultou a produção
manual. Entretanto, o contraste com o que ocorria no sistema de produção manual, o
trabalhador da linha de montagem tinha apenas uma tarefa, o mesmo não comandava
componentes, não preparava ou reparava equipamentos, nem inspecionava a qualidade,
nem mesmo entendia o que o seu vizinho fazia. Com o fordismo, o trabalho se tornou repetitivo
e monótono e os operários perderam o controle sobre o ritmo e os resultados de seu trabalho.
O Toyotismo (just-in-time)
É um modo de organização da produção capitalista que se desenvolveu a partir da
globalização do capitalismo na década de 19804, também conhecido como modelo japonês.
O país foi o berço da automação flexível, pois, apresentava um cenário diferente, possuía
um pequeno mercado consumidor, capital e matéria-prima escassos, e grande disponibilidade de mão-de-obra não-especializada. A solução veio por meio da fabricação de
pequenas quantidades de numerosos modelos de produtos, voltados para o mercado externo,
de modo a gerar divisas tanto para a obtenção de matérias-primas e alimentos, quanto
para importar os equipamentos e bens de capital necessários para a sua reconstrução
pós-guerra e para o desenvolvimento da própria industrialização. Esse sistema pode ser
teoricamente caracterizado por quatro aspectos:
• mecanização flexível;
• processo de multifuncionalização de sua mão-de-obra;
• Implantação de sistemas de controle de qualidade total;
• Sistema just in time (menores estoques e maior diversidade produtos).
A partir de meados da década de 1970, as empresas toyotistas assumiriam a supremacia produtiva e econômica, principalmente pela sua sistemática produtiva que consistia
em produzir bens pequenos, que consumissem pouca energia e matéria-prima, ao contrário
do padrão norte-americano. Com o choque do petróleo e a consequente queda no padrão de
consumo, os países passaram a demandar uma série de produtos que não tinham capacidade,
e, a princípio, nem interesse em produzir, o que favoreceu o cenário para as empresas japonesas toyotistas. A razão para esse fato é que devido à crise, o aumento da produtividade,
embora continuasse importante, perdeu espaço para fatores tais como a qualidade e a diversidade de produtos para melhor atendimento dos consumidores.
4
Surgiu no Japão após a II Guerra Mundial, porém, só a partir da crise capitalista da década de 1970
ele foi amplamente aplicado.
24
A Automatização da Produção
A automação dos processos produtivos na indústria e nos serviços é uma mudança
definitiva na forma de produzir bens e prestar serviços das sociedades modernas. Entendese por automação industrial o conjunto de tecnologias relacionadas com a aplicação de
equipamentos (sejam eles mecânicos, eletrônicos ou informacionais) em sistemas industriais
de produção visando o aumento da produtividade e menores custos de produção, o que na
maioria das vezes significa redução de custos de pessoal.
A automatização permite um melhor planejamento e controle da produção, todavia,
além de exigir um quadro reduzido de trabalhadores, torna também necessário a demanda
de mão-de-obra especializada, produzindo o que chamamos de desemprego estrutural.
Esse tipo de desemprego acontece em função de mudanças definitivas na própria estrutura
da sociedade tornando necessário a constante requalificação do trabalhador para poder
estar inserido no mercado de trabalho. Se até então, a luta era pelo aumento dos salários,
hoje a grande reivindicação dos trabalhadores passou a ser um emprego.
Algumas características permeiam a automação industrial:
• A redução de custos de pessoal;
• Redução de custos do estoque
(intermédios e terminais);
• Aumento da qualidade dos produtos;
• Maior disponibilidade dos produtos;
• Ágil desenvolvimento tecnológico;
• Aumento da flexibilidade da produção:
A Expansão Do Setor Terciário
Eliminação de Empregos nos Setores Primário e Secundário
A crescente automatização do processo produtivo, redução dos custos de mão-deobra e a flexibilização da economia acarretou o aumento do desemprego no setor secundário. O setor terciário procura absorver parte desse contingente de desempregados. O
setor secundário, que foi talvez o grande empregador de mão-de-obra durante a maior
parte do século XX, encontra-se atualmente num processo de eliminação de força de trabalho
humana, num ritmo até mesmo mais acelerado que o setor primário.
Todo país bastante industrializado possui, ou chegou a possuir, um mínimo de 30%
de sua população economicamente ativa no setor secundário. Todavia, a maior parte das
economias já industrializadas — especialmente os líderes da Terceira Revolução Industrial:
Estados Unidos, Japão, Alemanha e outros — vem apresentando, desde os anos 1970,
uma rápida diminuição do número de operários. O único setor em que atualmente há um
sensível crescimento de empregos e de novas atividades é o terciário, que, estima-se, será
o grande empregador, pois os outros dois setores irão ocupar juntos, no máximo, 20% da
força de trabalho nos países industrializados. Em virtude da mecanização do campo e da
urbanização, a percentagem da população ocupada no setor primário tende a diminuir no
mundo inteiro, até atingir uma média de 5% a 6% da população ativa.
25
A Diversificação do Setor Terciário
O fato de agregar uma gama muito ampla de atividades, muitas delas
derivadas do setor produtivo, faz com que a característica predominante do
Geografia da
setor de serviços seja a heterogeneidade. Tal característica transcende o
Indústria, Comércio
aspecto relativo ao número e variação das atividades, aplicando-se também
e Serviços
ao modo como elas surgem e interagem com as atividades pertinentes aos
demais setores; não só do ponto de vista econômico, mas também do ponto
de vista social e cultural.
O setor terciário é muito amplo e diversificado, de maneira que alguns autores até
propõem dividi-lo: o comércio em geral seria o setor terciário e os serviços passariam a
constituir um novo setor, o quaternário. Mas, por enquanto, essa nova classificação ainda
não é utilizada pela imensa maioria dos institutos de pesquisas e estatísticas e, dessa
forma, continuamos a colocar o comércio e os serviços juntos no setor terciário.
Novos Empregos e o Desemprego no Setor Terciário
Pelo fato de muitas de suas atividades exigirem aptidões típicas dos seres humanos e difíceis de serem mecanizadas -tais como criatividade, liderança, iniciativa, resolução
de situações imprevistas, inteligência emocional, etc. -, uma
parte significativa do setor terciário não tende a esvaziar-se
com a automação e robotização, tal como vem ocorrendo com
os ou-]tros dois setores. Pelo contrário, graças aos avanços
recentes na globalização e na revolução técnico-científica, uma
série de novas atividades ou empregos está surgindo no setor
terciário: novos tipos de comércio, expansão do turismo, da
informática, das telecomunicações, das pesquisas científicas
e tecnológicas, etc.
Esse crescimento, no entanto, não ocorre em todas as atividades do setor terciário,
mas somente em algumas delas, pois, existem inúmeros empregos desse setor que também
estão sendo esvaziados pela automatização das tarefas: uma parte dos bancários,
funcionários de escritório, datilógrafos, arquivistas, recepcionistas, etc.
Pode-se perceber que dos três setores de atividades e no transcorrer das duas
últimas décadas, o terciário é o setor que mais vem crescendo. Nos países mais industrializados e urbanizados, ele cresce bem mais, porém, até mesmo nas sociedades
predominantemente agrárias e pouco urbanizadas ele também vem se expandindo, mesmo
que, às vezes, a um ritmo ainda lento.
Atenção !
Nota-se que é muito importante estabelecer uma distinção entre um
setor terciário mais avançado ou moderno, formado por serviços especializados - seguros, assessorias, educação e pesquisa, firmas que
desenvolvem softwares para computadores, bancos, comércio mais bem
equipado, etc. -, e um setor terciário tradicional - camelôs ou comércio
ambulante, serviços domésticos ou de consertos, oficinas de fundo de quintal,
guardadores de carros nas ruas, etc. —, que predomina nos países e regiões
menos desenvolvidos.
26
O Mercado Informal e Subemprego no Setor Terciário
A OIT (Organização Internacional do Trabalho) considera trabalhadores
informais aqueles que exercem atividades econômicas à margem da lei e desprovidas
de proteção ou regulamentação pública, e cuja produção acontece em pequena escala.
O aumento do setor terciário e dos serviços nos países subdesenvolvidos intensificou
o que se denomina de mercado informal. Em países, como o Brasil, a informalidade cresce
devido ao alto índice de desemprego, a miséria e a desigualdade social.
Para a OIT - Organização Internacional do Trabalho - o trabalho informal também se
caracteriza pela ausência das relações contratuais. Essa crescente categoria de trabalhadores constitui uma rede de pessoas envolvidas, composta por fornecedores, intermediários, distribuidores, fiscais da prefeitura, vigia de rua, etc.
A constante reorganização do mercado de trabalho faz com que novas formas de
divisão do trabalho apareçam. Se anteriormente, o trabalhador desenvolvia sua tarefa de
forma reduzida em uma empresa, ao se inserir, por exemplo, no comércio ambulante terá
de planejar sua atividade, quanto à escolha dos produtos que irá oferecer, como negociará
com os fornecedores, como irá atrair uma clientela que garantirá o seu negócio.
Aparentemente a distância entre o planejamento e execução do trabalho, proveniente
da divisão do trabalho é acirrada pelos modelos de organização de Taylor e Ford é reduzida
quando o trabalhador atua como camelô podendo desconhecer completamente todo o
processo produtivo pelo qual passou o produto e qual sua origem.
Os trabalhadores informais dividem-se entre aqueles que trabalham por conta própria
e estão empregados, porém sem carteira assinada; empregam até cinco pessoas ou trabalham
sem remuneração. Aí está o problema da excessiva terceirização das atividades, a falta de
perspectiva de emprego formal, a baixa remuneração e as péssimas condições de trabalho.
Para refletir!
A educação está sendo vista como uma importante atividade terciária,
através dos seus mais variados níveis: fundamental, médio, superior, técnico
ou profissionalizante e o de reciclagem ou atualização profissional, transformando-se em negócio lucrativo e de grande procura face ao sucateamento
e o descaso com que o ensino é tratado pelo poder público.
Qual sua opinião acerca disso?
Atividades
1.
Complementares
O processo produtivo passou por mudanças significativas desde o século XIX. Quais
as principais características do fordismo e quais as “herdadas” do taylorismo?
27
2.
O capitalismo pode ser dividido basicamente em três fases; comente
as características mais marcantes de cada uma delas.
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
3.
Quais as principais características da automatização industrial e as repercussões
nas relações de trabalho?
4.
O setor terciário é o que mais cresce na economia; quais as principais causas dessa
hipertrofia? Quais as consequências disso nos países subdesenvolvidos?
5.
A Bolívia é fortemente dependente da exportação de gás natural, e o Brasil aparece,
naturalmente, como o principal mercado consumidor para o gás boliviano. Dê sua opinião
acerca dos últimos acontecimentos envolvendo as negociações do gás natural com a Bolívia.
28
INDÚSTRIA, ORGANIZAÇÃO ESPACIAL,
SOCIEDADE E AMBIENTE
Este bloco aborda as conseqüências sócio-espaciais do fenômeno industrial nos
mais diversos aspectos: urbanização, qualidade de vida, impactos ambientais e papel
integrador da educação.
INDÚSTRIA E ORGANIZAÇÃO ESPACIAL
A dispersão da indústria no mundo, as grandes mudanças na organização espacial,
a intensificação do processo de urbanização, assim como a estrutura industrial brasileira e
a industrialização e suas repercussões no Estado da Bahia, constituem-se em temáticas a
serem estudadas nesse tema.
Organização e Distribuição da Indústria no Mundo
A Industrialização do Espaço Mundial
As origens do processo de industrialização remontam ao século XVlll, quando na
sua segunda metade, emergem na Inglaterra, grande potência daquele período, uma série
de transformações de ordem econômica, política, social e técnica, que convencionou-se
chamar de Revolução Industrial.
A Industrialização na Europa:
A industrialização começou no continente europeu por volta de 1815. A Inglaterra até
1850, continuou dominando o primeiro lugar entre os países industrializados. Outros países
já contavam com suas fábricas e equipamentos modernos, porém, esses eram considerados
uma “miniatura de Inglaterra”, a exemplo, os vales de Ruhr e Wupper na Alemanha, que
eram bem desenvolvidos, porém não possuíam a tecnologia das fábricas inglesas.
Na Europa, os maiores centros de desenvolvimento industrial, na época, eram as
regiões mineradoras de carvão, lugares como o norte da França, nos vales do Rio Sambre
e Meuse, na Alemanha, no vale de Ruhr, e também em algumas regiões da Bélgica.
A Expansão da Industrialização pelo Mundo
Após 1850, a produção industrial se descentralizou da Inglaterra e se expandiu
rapidamente pelo mundo, principalmente para o noroeste europeu, e para o leste dos Estados
Unidos. Porém, cada país se desenvolveu em um ritmo diferente baseado nas condições
econômicas, sociais e culturais de cada lugar. A seguir, os exemplos mais significativos:
• Alemanha – como resultado da Guerra Franco-prussiana, em 1870, houve a
Unificação Alemã, que, liderada por Bismarck, impulsionou a Revolução Industrial no país
que já estava ocorrendo desde 1815 (foi a partir dessa época que a produção de ferro
fundido começou a aumentar de forma exponencial).
29
• Itália – a unificação política realizada em 1870, à semelhança do que ocorreu na Alemanha, impulsionou, mesmo que atrasada, a industrialização do país.
Essa que só atingiu ao norte da Itália, pois o sul continuou basicamente agrário.
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
• Rússia – começou o processo de industrialização muito mais tarde,
nas últimas décadas do século XIX. Os principais fatores para que ela acontecesse foi a grande disponibilidade de mão-de-obra, intervenção governamental
na economia através de subsídios e investimentos estrangeiros à indústria.
• EUA – a industrialização relativamente tardia em relação a Inglaterra pode ser
explicada pelo fato de que nos EUA existia muita terra per capita e assim, uma vantagem
comparativa na agricultura em relação a Inglaterra e em virtude disso, demorou bastante
tempo para que a indústria ficasse mais importante que a agricultura. Outro fator é que os
Estados do Sul eram escravagistas, o que retardava a acumulação de capital, como tinham
muita terra, eram essencialmente agrários, impedindo a total industrialização do país que
até a segunda metade do século XIX era constituído só pelos Estados da faixa leste do
atual Estados Unidos.
• Japão – a modernização data do início da era Meiji, em 1867, quando a superação do feudalismo unificou o país. A propriedade privada foi estabelecida, a autoridade
política foi centralizada, possibilitando a intervenção estatal do governo central na economia,
o que resultou no subsídio à indústria. E como a mão-de-obra ficou livre dos senhores feudais,
ocorreu assimilação da tecnologia ocidental e o Japão passou de um dos países mais
atrasados do mundo a um país industrializado.
A Industrialização nos Países Subdesenvolvidos
A partir do século XX, especialmente após a 2ª Guerra Mundial, países subdesenvolvidos - também chamados de países em desenvolvimento - passaram por processos de
industrialização. Nesses países foi muito marcante a presença do Estado nacional no
processo de industrialização, e das empresas multinacionais (empresas estrangeiras), que
impulsionaram esse processo, e fizeram com que alguns países da periferia do mundo hoje
fossem potências industriais.
De maneira avessa a ocorrida nos países do mundo desenvolvido, a industrialização
não resultou necessariamente na melhoria de vida das populações, ou no desenvolvimento
do país, pelo contrário; esse processo nos países subdesenvolvidos se deu de forma
dependente de capitais internacionais, o que gerou um aprofundamento da dependência
externa, perpetuando essa relação até a atualidade.
As indústrias que se instalaram
nesses países já vieram com sua
estrutura praticamente organizada
não gerando o número de empregos
neces-sários para absorver a mão de
obra cada vez mais numerosa que
vinha do campo para as cidades,
provocando um processo de urbanização desordenado, sem a devida
infra-estrutura e oferta de empregos
necessária para absorver essa mãode-obra.
30
Estrutura Industrial Brasileira
Após analisar como a industrialização se expandiu pelo mundo, agora é o momento
de nos determos, mais especificamente, na industrialização brasileira. Primeiramente, antes
de adentrar pela estrutura da indústria brasileira, é importante conhecer a industrialização
em nosso país, a partir das seguintes fases:
1a fase: 1822 a 1930
Esse período caracteriza-se por uma reduzida atividade industrial, devido a
característica agrário-exportadora do país. Nessa fase, no entanto, ocorrem dois fatos que
facilitam a industrialização futura: a Abolição da Escravatura e a entrada de imigrantes, que
vão servir e mão-de-obra.
2a fase: 1830 a 1956
Muitos autores consideram o ano de 1930 como o ano da “Revolução Industrial” no
Brasil, ele marca o início do processo de industrialização no país. A crise do café determinada
por uma crise maior, a Crise de 1929, fez com que na região Sudeste o capital fosse
transferido para a indústria e se concentrasse mais especificamente em São Paulo. Nessa
fase, existiu quase a exclusividade de indústrias de bens de consumo não duráveis
(denominado período de “Substituição de importações”), todavia, o Governo de Getúlio
Vargas investiu na criação de empresas estatais do setor de base como a CSN - Companhia
de Siderurgia Nacional - siderurgia, PETROBRÁS (extração e refino de petróleo e a CVRD
– Companhia Vale do Rio Doce - mineração.
3a fase: 1956 a 1989
Constitui o período de maior crescimento industrial do país em todos os tipos de
indústria, tendo como base a aliança entre o capital estatal e o capital estrangeiro. O governo
Juscelino Kubitschek dá início a chamada “Internacionalização da Economia”, com a entrada
de empresas transnacionais, notadamente do setor automotivo. O processo iniciado por
J.K. teve continuidade durante a Ditadura Militar (1964 a 1985), destacando-se o Governo
Médici, período do “Milagre Brasileiro”, que determinou crescimento econômico, mas
também aumento da dívida externa e concentração de renda.
4a fase: 1989 à atualidade
Fase iniciada no Governo Collor com continuidade até o Governo atual, marca o
avanço do Neoliberalismo no país, com sérias repercussões no setor secundário da
economia, devido a grande flexibilização da mesma. O modelo econômico adotado
determinou a privatização de quase todas as empresas estatais, tanto no setor produtivo,
como as siderúrgicas e a CVRD, quanto no setor da infra-estrutura e serviços, como o caso
do sistema Telebrás.
Além disso, os últimos anos marcaram a abertura do mercado brasileiro, com
expressivas reduções na alíquota de importação. Por outro lado, houve brutal aumento do
desemprego, devido a falência de empresas e as inovações tecnológicas adotadas, com a
utilização de máquinas e equipamentos industriais de última geração, necessários para
aumentar a competitividade e resistir à concorrência internacional.
31
Compreendendo a industrialização brasileira
A industrialização no Brasil, inicialmente, esbarrava no caráter essencialmente agrário da economia e da política adotada no país. A economia era
Geografia da
dominada pela antiga classe de latifundiários, assim como toda a política do
Indústria, Comércio
país se via sob forte controle desta classe. Deste modo, todas as leis aproe Serviços
vadas sempre terminavam por favorecer a ampliação e perpetuação da classe
de latifundiários no poder e a predominância das atividades agrárias enquanto
principal eixo econômico.
A partir do século XIX em meio à política econômica predominantemente agrária
(sobressaindo-se a agricultura do café) e após a revogação da lei que proibia a implantação
de manufaturas no país, a implantação da Tarifa Alves Branco (ano de 1844), a tentativa de
implantação de um desenvolvimento industrial através de uma política protecionista, que
estabelecia mediante o aumento das tarifas alfandegárias, foi favorecida.
As iniciativas do Barão de Mauá
Foi o caso das tentativas de implantação de uma infra-estrutura para o desenvolvimento
da indústria realizada por Irineu Evangelista de Souza, mais conhecido como Barão de
Mauá: este foi o responsável pela fundação do segundo Banco do Brasil (a falência do
primeiro Banco do Brasil ocorreu no ano de 1829) além do Banco Mauá. O Barão de Mauá
também construiu estradas de ferro (Mauá construiu a primeira ferrovia do Brasil,
estabelecendo comunicação viária entre as cidades do Rio de Janeiro e Petrópolis) e
implantou a iluminação urbana a gás também na cidade do Rio.
No ano de 1846, Mauá instalou o Estaleiro da Ponta da Areia, inaugurando assim a
indústria naval brasileira. Porém, suas tentativas falharam justamente ao serem bloqueadas
pela própria orientação econômica do país naquele período, pois Mauá não recebeu apoio
das elites agrárias, e ainda pela grande concorrência com as empresas estrangeiras.
Os empreendimentos de Mauá foram à total falência, porém as atividades industriais
no Segundo Reinado tiveram assim seu primeiro impulso: os bens de consumo no país
eram predominantemente importados, porém a incipiente indústria no Brasil se orientava
inicialmente para a tentativa de substituição de alguns produtos importados pelos similares
nacionais. A concorrência entre os produtos nacionais e importados foi amenizada com o
estabelecimento da Tarifa Alves Branco, porém a indústria de bens de produção praticamente
inexistia no Brasil deste período, sendo que todos os insumos e maquinarias industriais
ainda eram importados.
Governo Getúlio Vargas e a Implantação da Indústria de Base
Damos agora um grande salto no tempo chegando ao governo de Getúlio Vargas, pois
o mesmo foi imprescindível para a implantação de uma indústria de base nacional que passou a ser empreendida a partir da grande crise mundial de 1929 e após a Revolução de 30.
32
Vargas avançou no controle estatal das atividades ligadas ao petróleo e ao combustível por meio da criação do Conselho Nacional do Petróleo, em 1938, criando a Petrobras
- Petróleo Brasileiro S/A (1953). Estimulou a indústria de base com a fundação da Companhia
Siderúrgica Nacional (CSN) de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, em 1941, e obteve
financiamento norte-americano para instalação da Fábrica Nacional de Motores, no Rio de
Janeiro, em 1943.
Inaugurou, também, a Companhia do Vale do Rio Doce, com o fito de explorar
minérios. A fim de contribuir com a formação de mão-de-obra especializada para o setor
industrial, instalou o Serviço Nacional da Indústria (Senai), em 1942, e o Serviço Social da
Indústria (Sesi), em 1943.
Com o intuito de fiscalizar o sindicalismo
operário, foram ampliados os serviços estatais de
aposentadoria, criados em 1940, o imposto sindical
e o salário mínimo, e posta em vigor a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. Ao
lado dessa política de concessões aos trabalhadores - auxílio-natalidade, salário-família, licença
para gestante, estabilidade no emprego (após 10
anos), descanso semanal remunerado - extinguiuse o direito de greve e a independência dos sindicatos, os quais passaram a ser dirigidos por “pelegos”, falsos líderes sindicais ancorados no governo.
O Governo Juscelino Kubitschek: “Cinqüenta anos em cinco”
A administração de Juscelino Kubischek foi marcada por um cunho modernizador e
desenvolvimentista, apoiado no famoso slogan “Cinqüenta anos em cinco”. Implantou o Plano
Nacional de Desenvolvimento (conhecido como “Plano de Metas”) estimulou o crescimento
e a diversificação da economia e abrangia vários setores de atuação:
•
•
•
•
•
•
Energia;
Transporte;
Alimentação;
Educação;
Implantação de indústria automobilística;
Incentivos à industrialização.
O governo passou a investir na indústria de base, na agricultura, nos transportes e no
fornecimento de energia. Através do planejamento estatal instalou empresas nas áreas
automobilísticas, eletrodomésticas e siderúrgicas. Como resultado, a produção industrial
aumentou em 80% e no final do seu mandato como Presidente, o Brasil apresentava pela
primeira vez um PIB (Produto Interno Bruto) industrial maior do que o PIB agrícola. Em seu
período presidencial, o Brasil viveu um forte crescimento econômico, mas também um
significativo aumento da dívida pública, interna e externa.
33
Governo Militar e o “Milagre Econômico”
Durante o Governo Militar, o Brasil entra numa fase de grande
crescimento
em todos os setores econômicos, ao lado da grande concentração
Geografia da
Indústria, Comércio de bens nas mãos de uma classe privilegiada. Esse período é chamado de
e Serviços “milagre econômico” por muitos historiadores e economistas, compreende
os anos de 1967-1973, em que as taxas do PNB (Produto Nacional Bruto)
cresceram vertiginosamente. Grande quantidade de capital estrangeiro era
aplicada no país, ao passo que as exportações brasileiras, ao serem grandemente
amplificadas, possibilitaram a entrada de capitais para o investimento em máquinas. No
entanto, as desigualdades sociais também foram acentuadas a partir deste período e,
passados estes anos do “Milagre”, o Brasil entraria em uma de suas mais graves crises de
sua história. Na década de oitenta a crise traduziu-se nas mais altas inflações da história do
país, gerando grande estagnação no setor industrial. Este período de estagnação tem
conseqüências até os dias de hoje, sendo que a indústria brasileira não apresentou
crescimento significativo.
Política Neoliberal e o Contexto Atual
Torna-se importante compreender a posição do Brasil nessa nova ordem, suas
implicações com as distorções verificadas na estruturação do seu território, ou seja, seus
desequilíbrios regionais assim como suas mudanças consoante ao meio cultural.
Torna-se importante buscar, ao mesmo tempo, a compreensão de como ocorreu a
associação entre a tecnologia estrangeira e a nacional, apesar da defasagem entre o Brasil
e os países estrangeiros no tocante às técnicas. Deve-se salientar que os últimos não
trouxeram todas as técnicas para o Brasil, pois, ao penetrarem no mercado brasileiro, eles
acabaram apropriando-se do desenvolvimento que, a duras penas, a tecnologia nacional
vinha produzindo.
A Concentração Industrial no Sudeste
No processo de desenvolvimento da indústria brasileira antes da chegada das
multinacionais, aquelas pequenas indústrias, já vinham experimentando um significativo
desenvolvimento técnico, como ocorria com as indústrias de reposição de peças para
automóveis importados e com uma importante indústria têxtil. A preferência foi pelo Sudeste
brasileiro, tendo em vista suas condições mais avançadas em relação às demais regiões
brasileiras. Tal fato pode ser considerado uma “nova colonização”.
Essa seletividade em relação ao território parte do princípio de que as empresas,
para se desenvolver, necessitam das chamadas economias externas. Estas podem ser
assim explicadas: não tendo condições ou interesse econômico para produzir tudo o que
necessita para funcionar, uma empresa procura no mercado bens e serviços para viabilizar
sua produção. Entre estes podemos colocar os seguintes: energia, insumos, transportes,
serviços bancários e de comunicação, mão-de-obra, assim como reparos e manutenção
de equipamentos.
34
O Contexto Atual da Indústria no Brasil
A atividade industrial no Brasil é responsável por cerca de 25% do PIB, sendo que os
setores - responsáveis por mais de 80% do produto industrial do país - predominantes são:
•
•
•
•
•
•
•
•
•
Siderurgia/ metalurgia/ mecânica;
Elétrico;
Químico e petroquímico;
Automobilístico;
Alimentício e bebidas,
Têxtil;
Confecção;
Calçadista;
Papel e celulose.
Porém, observa-se um crescimento no investimento em indústrias ligadas às novas
tecnologias, como robótica, aeronáutica, eletrônica, telecomunicações, mecânica de
precisão e biotecnologia.
35
A economia brasileira sempre esteve fortemente atrelada à exportação
de seus produtos, tanto em virtude de sua forte característica agrária quanto
das políticas econômicas adotadas. Entre os aspectos positivos da dinâmica
atual da indústria brasileira, pode-se salientar o grande potencial de expansão
Geografia da
no mercado interno, o aumento no volume absoluto e relativo nas exportações
Indústria, Comércio
de produtos industrializados, o aumento na produtividade, a melhora da
e Serviços
qualidade dos produtos e uma maior dispersão espacial dos estabelecimentos
industriais em regiões historic-amente marginalizadas.
A indústria ainda enfrenta vários problemas que aumentam os custos e dificultam
uma maior participação no mercado externo:
36
•
•
•
•
Deficiências e altos preços nos transportes;
Baixos investimentos públicos e privados em desenvolvimento tecnológico;
Baixa qualificação da força de trabalho;
Barreiras tarifárias e não-tarifárias impostas por outros países à importação de produtos
brasileiros
Atenção !
Abertura da economia brasileira nos anos 90 – pela inserção da
política neoliberal - facilitou a entrada de muitos produtos importados,
forçando as empresas nacionais a se modernizarem e a incorporarem novas
tecnologias ao processo produtivo para concorrerem com as empresas
estrangeiras.
Em função de fatores históricos e de novos investimentos em infra-estrutura de energia
e transportes, entre outros, o parque industrial brasileiro vem se desconcentrando, como
estudaremos a seguir.
A industrialização no país tem sua origem no capital obtido pela cultura do café, que
se desenvolveu na região Sudeste – ciclo do café. Até então, a organização das atividades
econômicas se configurava de maneira dispersa, embora desde o início do século XX, o
eixo São Paulo/ Rio de Janeiro fosse responsável por mais de metade do valor da produção
industrial brasileira.
A crise do café culminou com o início da industrialização, assim, a oligarquia agrária
do setor cafeeiro deslocou investimentos para o setor industrial, implantando, principalmente
em São Paulo, fábricas modernas para os padrões da época.
A Procedência da Atividade Industrial Brasileira
As atividades econômicas regionais progrediam de forma quase totalmente
autônoma, as indústrias de bens de consumo - a maioria ligada aos setores alimentício e
têxtil - escoavam a maior parte da sua produção apenas em escala regional. Apenas um
pequeno volume era destinado a outras regiões, não havendo significativa competição entre
as indústrias instaladas nas diferentes regiões do país.
O presidente Getúlio Vargas promoveu transformações significativas durante seu
governo, como a instalação de um sistema de transportes integrando os as economias
regionais. Além de terem se iniciado com mais força no Sudeste, as atividades industriais
tenderam a concentrar-se nessa região por causa de dois fatores básicos: a complementaridade industrial — as indústrias de autopeças tendem a se localizar próximo às
automobilísticas, as petroquímicas, próximo às refinarias etc. — e a concentração de
investimentos públicos no setor de infra-estrutura industrial — pressionados pelos detentores
do poder econômico, os governantes costumam atender às suas reivindicações.
37
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
Atenção !
Importante lembrar...
Ocorre uma verdadeira invasão de produtos industriais do Sudeste
nas demais regiões do país, ocasionando a falência, principalmente, de
fábricas nordestinas. Isso a partir da justificativa que o governo gastaria
menos concentrando investimentos em determinada região em vez de
espalhá-los pelo território nacional, sobretudo no início do processo de
industrialização, quando os recursos eram mais escassos.
Essa concentração das atividades econômicas permaneceu até o final da década
de 1970 e início da década de 1980, quando começou a ser inauguradas as primeiras
usinas hidrelétricas nas regiões Norte e Nordeste — Tucuruí, no Rio Tocantins; Sobradinho,
no Rio São Francisco; Boa Esperança, no Rio Parnaíba.
Passa-se a perceber a necessidade de atender ao menos parte das necessidades
de infra-estrutura das regiões historicamente marginalizadas - como as regiões norte e
nordeste - um processo de dispersão do parque industrial pelo território começa em escala
regional e nacional.
Além da alocação de infra-estrutura, ao longo da década de 1990, as indústrias
passaram a se dispersar em busca de mão-de-obra barata e politicamente desorganizada,
provocando a intensificação da guerra fiscal entre estados e municípios que reduzem
impostos e oferecem outras vantagens, como doação de terrenos, para atrair as empresas.
Essa temática será melhor analisada no conteúdo a seguir, quando trataremos da distribuição
espacial da indústria no Brasil.
Distribuição Espacial Da Indústria Brasileira
O Pólo da Industrialização Brasileira: Sudeste
Vimos que a industrialização no Brasil começa no Sudeste, mais especificamente,
no Estado de São Paulo, por meio de capital gerado pelos produtores cafeeiros. A
aceleração do processo de substituição das importações, verificada no Brasil a partir da
Segunda Guerra Mundial, revelou que as economias externas do Sudeste já apresentavam
condições para produzir aqui um grande número de bens de consumo duráveis que até
então eram importados, tais como automóveis e eletrodomésticos.
38
Você
Sabia?
A Industrialização por Substituição de Importações (ISI) é quando
ocorre um crescimento da produção industrial com expansão da demanda
interna, simultaneamente a uma redução das importações da indústria.
No caso brasileiro, a ISI dinamizou o crescimento da produção interna,
principalmente, no início da década de 1930 e no final da década de 1970.
Assim, a expressão indústria de substituição de importações designa o processo
que se vinha desenvolvendo no interior da sociedade agro-exportadora e que se acelerou
de forma mais contínua. O crescimento resultou também das dificuldades nas importações
por motivos internacionais, financeiros ou políticos, como a desvalorização da moeda nacional
e também as guerras. Esses fatos criaram estímulos para investimentos nas atividades
industriais em nosso país.
Durante a grande crise nas exportações do café, ligada ao colapso do sistema
financeiro internacional em 1929, verificou-se uma forte tendência a desviar os investimentos
desse produto para outros, permitindo a diversificação da produção agrícola e atraindo
capitais para os setores industriais.
Esse período pode ser considerado o grande momento histórico do Sudeste, sobretudo, para São Paulo, pois nele se pode perceber a vitalidade da região para reverter a
situação de crise da produção agrária, promovendo a intensificação da indústria de
substituição de importações.
A Criação das Primeiras Indústrias de Base
Uma importante indústria no Sudeste foi criada no ano de 1941: a Companhia
Siderúrgica Nacional em Volta Redonda (RJ) com financiamento do Estado brasileiro. Sua
criação fez parte de uma estratégia de dotar o Brasil de uma importante indústria de base,
pois sem ela seria difícil a industrialização de outros bens de consumo duráveis. A política
nacionalista da época estimulou também a criação da Fábrica Nacional de Motores5, da
Companhia Vale do Rio Doce (fundada em 1942 pelo Governo Federal e privatizada em
1997) e da Companhia de Álcalis (Fundada em 1943 e privatizada em 1992); assim também
tiveram crescimento as indústrias de laminados, cimento, papel, tecidos e pneumáticos.
Entre 1933 e 1939, a produção nacional da indústria cresceu na base de 7,2% ao ano.
Quando comparamos esse dado com o do período do “milagre brasileiro”, no final dos anos
60 e início dos anos 70, em torno de 11%, pode-se avaliar a importância daquela fase da
década de 30 para a economia nacional.
Durante os quinze anos que marcaram a política nacionalista de Getúlio Vargas,
(1930/1945), o país viveu um momento em que o aparelho político do Estado ampliou suas
bases para estimular a industrialização, criando vários órgãos públicos, como o(s):
5
A Fábrica Nacional de Motores nasceu dos acordos firmados entre o Brasil e os Estados Unidos,
segundo os quais o Brasil permitia a instalação de bases militares norte-americanas no Nordeste em troca
de créditos e assistência técnica para a implantação da Companhia Siderúrgica Nacional e de outras indústrias
39
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
• Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio (1931);
• Ministério da Educação (1933);
• Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (1938);
• Institutos do Álcool, Café, Mate, Sal, Pinho, Cacau, etc. (entre 1932 e 1941).
Assim, podemos afirmar que o crescimento do processo de substituição
de importações esteve, na época, sob uma forte presença do Estado e que a obtenção de
produtos primários, também resultou de sua intervenção, ao menos em partes.
A política industrial brasileira deparava-se com um impasse com a deposição de
Getúlio Vargas: de um lado estavam aqueles que desejavam uma facilitação das importações
de bens de consumo, do outro aqueles que defendiam o protecionismo dos mercados.
Durante o período de 1945 e os primeiros anos do segundo governo de Getúlio
Vargas a classe média brasileira passa a pressionar, como também o Congresso brasileiro
e os representantes das oligarquias rurais. A maior parte das divisas cambiais obtidas
durante os anos de guerra foi gasta com importações desses bens, entre os quais os
automóveis tiveram grande peso. Do outro lado estavam os políticos nacionalistas e parte
significativa de empresários nacionais6, bem como os operários que defendiam a continua
industrialização brasileira com a presença do protecionismo do Estado brasileiro.
Nesse impasse, prevaleceu uma política de industrialização associada ao capital
estrangeiro: o governo protegia a indústria nacional aumentando as taxas de importação de
bens de consumo duráveis e facilitava a entrada de máquinas e equipamentos.
A centralização do dinamismo industrial no Sudeste e o gradativo crescimento dos
mercados internos brasileiros, com o aumento e a diversificação na produção de matériasprimas e com a urbanização, resultaram na criação de alguns novos pólos, com a
transferência de capitais e de indústrias desta para outras regiões do país.
O Estado brasileiro exerceu uma grande influência no alargamento
dos mercados nacionais, que, aos poucos, foram-se tornando cativos do
poder hegemônico de São Paulo e do Sudeste, surgindo o denominado
A,B,C,D paulista, que de acordo com Wikipédia , Enciclopédia Livre é:
É uma região industrial formada por sete municípios da Região
Metropo-litana de São Paulo: Santo André (A); São Bernardo do Campo (B);
São Caetano do Sul (C); Diadema (D); Mauá ; Ribeirão Pires e Rio Grande da
Serra. Sendo que em Santo André estão localizados os distritos de: Utinga e
Paranapiacaba, em São Bernardo do Campo os distritos de: Riacho Grande
e Rudge Ramos, em Diadema: Piraporinha, em Ribeirão Pires: Ouro Fino
Paulista e Santa Luzia.
São Caetano do Sul é o município com menor área territorial do
Grande ABC, possui cerca de 20 km². São Bernardo do Campo possui a
maior população residente e maior área. Santo André possui a maior
6
Entre os trabalhadores brasileiros e os empresários nacionais existiam aqueles que defendiam essa
industrialização associada ao capital e empresas estrangeiras, com o intuito de usufruir dos privilégios no
mercado internacional e garantir o aumento da oferta de empregos.
40
população rotativa, cerca de três milhões de pessoas circulam na cidade
todos os dias.
O acesso a essa região é feito principalmente pelas rodovias Anchieta
e Imigrantes, pelas avenidas Cupecê, dos Bandeirantes, do Estado e Maria
Maluf, pelos corredores de Trólebus e pelos trens da CPTM.
O ABC é marcado historicamente por ser o centro da indústria automobilística nacional. Sedes de diversas montadoras, como Mercedes-Benz, Ford,
Volkswagen e General Motors, entre outras, estão sediadas lá. A presença de
indústrias desse porte fez com que a região fosse o berço do movimento
sindical no Brasil. As greves dos operários foram fortes na década de 80 e
daí que nasceu o então líder sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, hoje
presidente da República.
Retirado de:
http://pt.wikipedia.org/wiki/regi%C3%A3o_do_Grande_ABC
Pode-se assegurar que
se criou um verdadeiro “colonialismo interno” no Brasil, com a
conquista pelas multinacionais
de uma base territorial na
dinâmica região Sudeste. Isto
lembra muito a antiga relação
metrópole-colônia, com o Sudeste fazendo as vezes de metrópole e as regiões onde ainda
prevalecem formas de sociedades agro-exportadoras desempenhando o papel de colônia.
A Desaceleração da Economia Brasileira
Desde o governo de Getúlio Vargas (criação da indústria de base), principalmente
na sua retomada ao poder, o governo de Juscelino Kubitschek (crescimento econômico a
partir de capital estrangeiro) até o governo militar (“milagre econômico”) o país passou por
grande crescimento da economia.
Todavia, os anos 80 significaram para o Brasil um acentuado processo de desaceleração no crescimento da sua economia, fato que vem se prolongando pelos anos 90 e
o contexto atual distanciando-se bastante da época do “milagre” verificado entre 1968 e
1978, quando o país presenciou um crescimento médio ao redor de 10,9% ao ano. Nos
dois primeiros anos da década de 90 o crescimento apresentou-se negativo.
A industrialização brasileira, ocorrida logo após os anos 50 e mais fortemente no período
do “milagre”, deu-se em função da entrada de muito capital e de tecnologia provenientes das
grandes empresas multinacionais. Os anos 80 e o início da década de 90, como apontado
anteriormente, foram e continuaram sendo marcados por uma situação muito difícil. Durante
esse período, a dívida externa vem representando uma média de 30% do PIB brasileiro, o
que compromete a possibilidade de o país voltar a crescer .
41
A “Década Perdida”
Os anos 80 ficaram conhecidos como a década perdida, não só em
escala
nacional, mas também mundial. A nova ordem mundial, com a queda
Geografia da
Indústria, Comércio do muro de Berlim e do socialismo e de algumas políticas ditatoriais provocou
e Serviços mudanças bruscas na economia: grande abertura ao capital estrangeiro,
disseminação da produção flexível, mudanças nas relações de trabalho
(desemprego estrutural), automação do processo produtivo. Naqueles anos o
Brasil se depararia com uma crescente inflação, fazendo com que os índices econômicos
positivos conquistados nas épocas anteriores ficassem estacionários.
No começo dos anos 80, o parque industrial estava finalmente instalado. Contudo, esgotara-se o processo de substituição de importações como fonte de dinamismo para a economia. Foi nesse contexto que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico - BNDE se
tornava Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social – BNDES que adotou a
prática de planejamento estratégico, com elaboração de cenários prospectivos da economia.
Você
Sabia?
O BNDES foi pioneiro no aproveitamento da técnica de cenários no
processo de planejamento estratégico devido as grandes incertezas que
assolavam a economia brasileira no início dos anos 80. O Banco introduziu um
mecanismo para especular de que forma essas incertezas poderiam influir
sobre os rumos do país e, também, seu papel como banco de desenvolvimento.
A retração dos empréstimos por parte dos grandes bancos mundiais, a elevação das
taxas de juros sobre a dívida externa e a primeira crise do petróleo verificada em 1973 levaram
a essa situação difícil para a economia brasileira. Vale lembrar que a política desenfreada em
favor da indústria automobilística havia repercutido bastante no aumento das importações de
petróleo e matéria-prima para as indústrias petroquímicas no período do “milagre”.
42
A situação criada pela dívida externa forçou a implantação de uma política ostensiva
de incremento das exportações e de redução das importações. Tal política visava tanto obter
divisas para o pagamento da dívida como resolver o problema do estreitamento do mercado
interno brasileiro, em conseqüência da crise econômica que se acentuou. Foi quando o Brasil
passou a estimular suas exportações de bens de consumo duráveis para o exterior, essa
política de exportação elevou bastante a exploração dos nossos recursos naturais.
O Processo Gradativo de Desconcentração da Indústria Brasileira
Analisando numa perspectiva regional a evolução da economia brasileira, os anos
70 e 80 foram marcados por um processo de descentralização espacial da industrialização.
Tudo indica que ainda hoje essa tendência vem ocorrendo, dada a necessidade que o país
tem de fortalecer sua economia interna como uma das saídas para resolver o problema da
dependência em relação aos mercados internacionais.
A região Sudeste, em 1970 , representava 80,7% da produção industrial nacional,
desde então, houve um significativo investimento em outras regiões. A Superintendência do
Desenvolvimento do Nordeste - Sudene7 criou atrativos para que tais investimentos
ocorressem em direção ao Nordeste; em 2001 a Sudene passar a ser substituída pela
Agência de Desenvolvimento do Nordeste – Adene.
Maiores detalhes sobre a Adene e o Plano de Desenvolvimento do
Nordeste podem ser encontrados nos sítios:
www.adene.gov.br
www.integração.gov.br/fundos/fundos_fiscais/legislacao/mp_2156_5.htm
Além do estímulo para investimentos no Nordeste, houve a expansão de empresas nacionais e multinacionais para a Amazônia, através de atividades extrativas e da implantação de
grandes usinas hidrelétricas, como as de Balbina, no Estado do Amazonas, e Tucuruí, no Pará.
A Superintendência da Zona Franca de Manaus - Suframa, autarquia, foi criada em
1967, e vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, com sede
na cidade de Manaus. A Suframa atua como agência promotora de investimentos, com o
objetivo de identificar alternativas econômicas e atrair empreendimentos para a região, garantir
a geração de emprego e renda e a melhoria da qualidade de vida das populações locais.
Para refletir!
Examinando o contexto do Norte, especialmente do Estado do Amazonas, pode-se perguntar até que ponto a implantação de um parque industrial de bens de consumo duráveis (aparelhos eletroeletrônicos) é compatível
com a natureza econômica de uma região que ainda vive numa economia
caracteristicamente extrativista?
7
Órgão brasileiro criado com o objetivo de combater a seca da região. Criada pela Lei 3.692 de 1959.
43
O crescimento da industrialização do Centro-Oeste está também
relacionado com a expansão das empresas sediadas no Sudeste (essa
expansão resultou de formas ordenadas da exploração do cerrado). Essa
desconcentração verifica-se não somente no plano inter-regional, mas também
Geografia da
no intra-regional; estados considerados industrializados cedem lugar a outros
Indústria, Comércio
no interior das suas regiões, como é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro
e Serviços
em relação a Minas Gerais. Assim, também acontece com o Rio Grande do
Sul, que perde para espaço para Santa Catarina e Paraná.
Todavia, a crescente queda do crescimento industrial nesses denominados
tradicionais centros brasileiros não significa, a perda de sua importância no comando da
industrialização brasileira, por isso muitos pesquisadores insistem em afirmar que o que
está ocorrendo no país é uma desconcentração da indústria e não uma descentralização,
porque nesses grandes centros ainda estão sediadas as maiores concentrações de bens
de capitais e é onde se produzem mais intensamente as tecnologias nacionais.
Para que essa desconcentração ocorresse o Estado teve que intervir, entre 1974 e
1978 foram criados importantes órgãos governamentais, como o Conselho de
Desenvolvimento Econômico (CDE), com programas de industrialização para o Nordeste,
e outros, também voltados para o desenvolvimento regional que assim declara:
A ação da política descentralizadora levada a efeito pelo Estado brasileiro foi, sem dúvida, motivada por uma preocupação estratégica de conter
a excessiva centralização geográfica do crescimento econômico, causadora
dos movimentos migratórios para os grandes centros industriais e do aumento das tensões sociais nesses centros.
www2.uerj.br/proealc/Brasil%20lnd%2001.jpg
Entretanto, devido a estrutura da economia brasileira, isso significa manter essas
legiões ligadas a indústrias de beneficiamento de produtos naturais e com isso alimentando
a tradicional produção de produtos primários para os mercados exportadores, isto é, a
tradicional divisão internacional que caracterizou toda a história da economia brasileira,
porque o modo como se deu a ampliação do mercado interno não foi o suficiente para a
superação das disparidades espaciais na distribuição da renda. As estruturas sociais do
país evidenciam a sobrevivência de uma sociedade agro-exportadora, com renda altamente
concentrada e, regiões agro-exportadoras dividem espaço com um Brasil já industrializado.
A Industrialização Na Bahia
Após a análise da industrialização no país e como se desenvolveu diferentemente
em cada região, nesse tópico nos deteremos, mais especificamente, a indústria na Bahia.
A Evolução Recente da Indústria Baiana
A industrialização no Estado da Bahia, começa efetivamente, na década de 1950.
Anteriormente haviam ocorrido algumas tentativas, mas nada muito significativo; o intuito
44
era ultrapassar o modelo agrário-exportador do qual o Estado fazia parte, principalmente,
pela cultura do cacau; o desenvolvimento industrial no Estado ocorreu mais precisamente
entre os anos de 1950 e 1980 e foi resultado de uma dinâmica externa e quase que
involuntária. A industrialização do Estado foi fortemente apoiada em intervenções federais
planejadas e na vinda de capitais externos e por investimentos concentrados no tempo.
O desenvolvimento da indústria foi marcado pelo que pode ser denominado de blocos
de investimentos:
• O primeiro: data os anos 50 e começa com a implantação da Petrobrás na instalação da refinaria Landulfo Alves-RLAM, após a descoberta de óleo e gás nos campos do
recôncavo baiano. Tal iniciativa, associada às demandas da indústria petrolífera, foi seguida
na década seguinte pela política de desenvolvimento implementada pelo regime militar, em
cujo núcleo os incentivos fiscais passaram a ocupar um lugar relevante;
• O segundo: derivou da criação do CIA – Centro Industrial de Aratu, implantando
na Bahia um parque metal-mecânico constituído por fornecedores de equipamentos e por
alguns produtores de bens leves de consumo, por meio da política federal de desconcentração industrial na década de 60;
• O terceiro: constitui-se da criação do Complexo Petroquímico de Camaçarí COPEC no âmbito do II Plano Nacional de Desenvolvimento – II PND.
No que se refere às últimas décadas, avaliando o comportamento do PIB, Menezes
(2006) argumenta que a evolução recente da economia baiana apresenta três fases distintas:
A primeira fase compreende a segunda metade da década de 1980 caracterizou-se
uma por uma perda de participação da economia do Estado na economia nacional. A
desaceleração e a perda de participação da Bahia na economia brasileira foram motivadas
tanto pelo desmonte das políticas de desenvolvimento regional do Governo Federal como
também pela estagnação do setor industrial do Estado, devido à maturação dos investimentos
do pólo petroquímico de Camaçari e pelo início da crise nos segmentos tradicionais da
agricultura baiana, especialmente cacau, sisal, fumo, mamona, algodão e café.
Na segunda fase que abrange a primeira metade dos anos 90, a economia do Estado
também perdeu participação na economia brasileira. Nesse período, além dos problemas
que o Estado já vinha enfrentando na década anterior, no plano externo, os movimentos da
globalização, da abertura da economia brasileira e da constituição do Mercosul criaram
dificuldades adicionais, mas também algumas oportunidades para a economia do Estado.
Vale ainda ressaltar que, nos primeiros anos da década de 90, devido à elevada concentração
de sua economia em commodities petroquímicas8, a Bahia sentiu mais fortemente os efeitos
das transformações estruturais da economia brasileira daquele período.
Entretanto, cabe destacar que, segundo Uderman e Menezes (2006), nos primeiros
anos da década de 90, durante o terceiro governo de Antônio Carlos Magalhães (19911994), foram gerados alguns fatores que viriam a cumprir papel importante no início da
recuperação da economia do Estado na segunda metade dessa década.
8
Pode dizer que Commodities são produtos “in natura”, cultivados ou de extração mineral, que podem
ser estocados por certo tempo sem perda sensível de suas qualidade, como suco de laranja congelado, soja,
trigo, bauxita, prata ou ouro. As Commodities são uma forma de investimento, uma opção entre as tantas
opções de investimento no mercado, como poupança ou Fundos de Investimento (www.economiabr.net).
45
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
Inicia-se, por um lado, um processo de modernização do aparelho
estatal e o pagamento das finanças públicas e por outro lado, retomam-se os
investimentos em infra-estrutura através de um estímulo à competitividade da
indústria instalada.
Após períodos de grande instabilidade econômica, na década de 1980
e início dos anos 90, ocorre certa estabilização da economia e o controle da
inflação no País, a partir da implantação do Plano Real e a retomada de
investimentos privados na economia brasileira, a economia baiana começa a
inverter o movimento de declínio dos anos anteriores.
No entanto, para muitos estudiosos essa recuperação recente não se deve apenas
as políticas adotadas em escala nacional, mas também pela atuação agressiva do governo
baiano travando uma verdadeira “guerra fiscal”, ou seja, quando um ente tributante (nesse
caso o Estado) concede benefícios e vantagens de natureza fiscais no intuito de atrair
empresas que se encontrem estabelecidas no território de outro estado.
Em um primeiro momento, a guerra fiscal funcionou como mecanismo de diminuição
das desigualdades regionais, visto que, por ter sido inicialmente adotada apenas por Estados
menos desenvolvidos, teve por conseqüência produzir uma descentralização industrial no
país, com conseqüência direta de criação de empregos, demanda e oferta de mão-de-obra
especializada, bem como aumento de renda per capita nos Estados que a adotaram.
Todavia, em um segundo momento, os Estados mais desenvolvidos, tendo por
principal objetivo não a atração de novas empresas, mas simplesmente a manutenção, em
seu território, do parque industrial nele instalado, também aderiram à guerra fiscal e os
efeitos da desconcentração industrial começaram a arrefecer.
A Instalação da Ford na Bahia
Ao conjunto de investimentos destaca-se a instalação da fábrica da montadora
americana Ford Motor Company, resultado de uma “guerra fiscal” travada com o Estado do
Rio Grande do Sul.
As negociações entre o Estado do Rio Grande do Sul e a Ford do Brasil ocorreram
em 1999, mas devido às dificuldades financeiras do Estado, várias propostas foram
apresentadas no que concerne à infra-estrutura que seria oferecida, assim como os incentivos
fiscais. A Ford retirou-se das negociações sem apresentar uma contraproposta e começou
a cogitar a transferência para o Estado da Bahia:
A Ford divulgou, então, seu projeto para a Bahia:
• Investimento total de 1,3 bilhões de dólares;
• Produção de 250 mil carros por ano;
• Geração de cinco mil empregos diretos e 50 mil indiretos;
46
A contrapartida do Governo Federal para que as empresas optassem pela implantação
de indústrias automotivas nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, eram as seguintes:
• Isenção do Imposto de Importação na compra de máquinas e equipamentos;
• Redução de 90% do Imposto de Importação de matérias-primas, peças,
componentes e pneus;
• Redução de até 50% do Imposto de Importação de veículos;
• Isenção do Imposto sobre Produtos industrializados (IPI) na compra de máquinas
e equipamentos;
• Redução de 45% do IPI sobre a compra de matérias-primas;
• Isenção do adicional ao frete para a renovação da Marinha Mercante;
• Isenção do Imposto sobre Operações financeiras (IOF) nas operações de câmbio
para pagamento de bens importados;
• Isenção do Imposto de Renda sobre lucro do empreendimento.
O Estado da Bahia oferecia os seguintes incentivos:
• Terreno a preço simbólico;
• Adiamento de pagamento do ICMS para o ato de venda do produto e crédito
presumido de 75% do valor do imposto, no momento da venda do produto;
• Financiamento de até 75% do ICMS devido, durante dez anos, com carência de
cinco anos para pagamento.
Prefeitura de Camaçari - município escolhido para a instalação da montadora oferecia isenção por dez anos do (a):
•
•
•
Imposto sobre Serviços (ISS);
Imposto Territorial Urbano (IPTU),
Imposto inter vivos9 e das taxas municipais, em geral.
Analisando o caso da Ford, verifica-se nitidamente que o processo de globalização
da economia facilita a instalação de multinacionais nos países subdesenvolvidos, através
da guerra fiscal travada entre os Estados, cada qual oferecendo mais vantagens e incentivos
para a instalação da fábrica em seu território. Sabe-se que apesar fragilidade das economias
desses países (como o crescente desemprego), os governos não poupam esforços para
cobrir qualquer proposta para a instalação dessas empresas, oferecendo, muitas vezes,
vantagens que podem desestruturar a economia do poder público ou ainda, aumentar as
desigualdades e a concentração de renda.
9
Imposto de transmissão inter vivos é que é cobrado pelos Municípios e Distrito Federal sobre vendas
de imóveis.
47
Para refletir!
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
• O próprio BNDES (FSP, 03 dez. 2000, B.9), mostra que o
setor de montadoras é o 38º colocado, em ranking formado por
41 empresas, no quesito potencial de geração de empregos.
• Os operários da Ford de São Paulo recebiam em março
de 2003 um salário equivalente as R$1.200,00, enquanto que os
operários da Ford baiana R$ 530,00, esse desnível salarial
provocou uma greve na fábrica de Camaçari, no mesmo ano.
Sendo que em 2004, houve outra paralisação desta vez visando
a redução da jornada de trabalho de 40 para 36 horas.
A Ford não pode ser vista como um caso isolado, de fato, a política de atração de
indústrias do Estado evoluiu e se aprimorou com o aprendizado ocorrido ao longo de sua
implementação nos anos 90. Para tentar compreender melhor a evolução da política industrial
da Bahia do início da década de 90 até os dias de hoje, faz-se necessário que sejam
consideradas também algumas peculiaridades do cenário político da Bahia das últimas
décadas, bem como seu papel na formação das elites burocráticas da administração pública
estadual.
Nosso país possui 15 centros indústrias, isto é, cidades ou regiões onde se
concentram várias indústrias de um mesmo segmento e, até mesmo, de setores diferentes,
esses centros são chamados de Aglomerações Espaciais Industriais – AIES. O Nordeste
possui quatro AIEs: Salvador, Fortaleza, Recife e Natal, com apenas 6% do produto industrial
das firmas do país (enquanto a Região Norte não possui qualquer AIE, mesmo com a presença
da Zona Franca de Manaus).
A aglomeração de Salvador é a mais relevante tanto em termos do fator escala quanto
de sua distribuição espacial. A segunda maior aglomeração é a de Fortaleza, com uma
escala industrial e extensão geográfica bem inferior a Salvador.
Evolução Industrial na Bahia entre 1960 e 1990
A política de desenvolvimento nacional conduzida a partir de meados da década de
1960 tinha como finalidade o aprofundamento da integração do mercado interno do país,
objetivando uma nova divisão nacional do trabalho e, simultaneamente, a constituição de
uma determinada desconcentração industrial. A criação do primeiro distrito industrial, o Centro
Industrial de Aratu - CIA, localizado em Simões Filho o (município da Região Metropolitana
de Salvador - RMS), representava a criação do primeiro distrito industrial das atividades da
indústria metal-mecânica.
Com a instalação da indústria petroquímica, a partir dos anos 70, é introduzido o
outro grande pilar da industrialização baiana, a criação do Complexo Petroquímico de
Camaçari - COPEC10, também na RMS.
As inversões industriais na Bahia, durante aquele período, concentraram-se no setor
metalúrgico e químico, e, geograficamente, na área de abrangência da capital do estado em
função de determinadas vantagens comparativas presentes naquela amplitude espacial. Além
da concentração espacial e setorial da produção industrial causada pela forte vinculação das
atividades aos centros industriais do país assumindo o papel de fornecedora de insumos
10
48
O investimento compunha o grupo de projetos inseridos no II PND.
para a indústria de bens do Centro-Sul, a ausência de uma dinâmica econômica endógena
tornou o estado dependente dos fluxos de investimentos externos (o fim do Modelo de
Substituição de Importações diminuiu as fontes de financiamento externo na década de 1980).
A dívida externa aumentou com o crescimento vertiginoso dos compromissos com o
pagamento de juros, reduziu em muito a importância das políticas regionais, o que acabou
contribuindo para a redução das taxas de crescimento do PIB naquela década. Entretanto,
na primeira metade da década de 1980 a indústria baiana manteve suas taxas de crescimento
superiores ao resto do país, em boa medida pelo desempenho da indústria química (devido
à crise na indústria paulista) que consegue direcionar parte da sua produção para o exterior,
pois, ainda desfrutava de investimentos no COPEC ainda referentes ao II PND.
No ambiente perverso dos anos 80 há que se destacar também a aceleração
inflacionária. Este foi um fator que contribuiu bastante para a inibição dos investimentos
privados quando o Estado desenvolvimentista iniciou seu processo de retirada, perfil que
se acentuaria a partir dos anos 1990, com a implantação das políticas neoliberais.
A Nova Orientação Industrial Baiana
No final dos anos 80, as denominadas reformas começaram a ser introduzidas
(embora tardiamente) no Brasil. Entre as mudanças econômicas mais significativas temos:
• Abertura comercial;
• Liberalização financeira;
• Privatização de empresas estatais;
• Desregulamentação dos mercados.
A abertura induziu as empresas a se modernizarem e a buscarem ganhos de eficiência
no comércio internacional, ou seja, as exigências de modernização e automatização industrial
aumentaram, provocando uma queda abrupta do emprego industrial e, apesar do Plano
Real, a economia brasileira mostra instabilidade.
O papel do governo federal muda, suas ações passam a voltar-se para a administração de crises recorrentes na busca de uma almejada estabilidade.
Os anos 1990 põem fim ao processo de desconcentração industrial que fora
presenciado entre as regiões brasileiras no período 1975-1985, o qual favoreceu o avanço
da industrialização das regiões mais atrasadas, em particular o Nordeste. Deste modo,
outros segmentos perseguem critérios espaciais de modalidades distintas, como, por
exemplo, mão-de-obra mais barata, incentivos fiscais, proximidade do mercado consumidor
e fontes de matéria-prima, estes são aqueles que apresentavam uma tendência de migração
para as regiões Norte e Nordeste. Uma nova territorialidade industrial brasileira surge ditada
pela concorrência globalizada, mas sujeita às particularidades de cada setor.
Ao seguir as orientações das agências internacionais e adotar o modelo de “Estadomínimo” (fim da política protecionista e do Estado de bem estar social), buscou-se o equilíbrio
fiscal e realizaram-se investimentos em infra-estrutura. O Estado da Bahia consegue um
lugar de relativo destaque na chamada guerra fiscal. As prioridades foram dirigidas para a
interiorização da indústria e a diversificação produtiva - principalmente através da
implantação de indústrias de bens de consumo, e o adensamento das cadeias produtivas
do estado, estimulando uma dinâmica econômica endógena, menos suscetível às crises de
demanda de outras regiões.
Por outro lado, quando se observa mais detidamente a distribuição dos empreendimentos aprovados para a Região Metropolitana de Salvador, verifica-se uma concentração
da atividade industrial na mesma.
49
Por mais contraditória que pareça esse direcionamento, a convergência
dos investimentos naquela direção é proveniente de vantagens comparativas
prévias, pois os principais municípios da RMS dispunham de uma base
Geografia da constituída de indústrias, serviços e infra-estrutura montada durante as
Indústria, Comércio décadas de 60 e 70, fator que acaba pesando decisivamente na alocação
e Serviços dos investimentos e neutralizando, até certo ponto, a decisão oficial anunciada.
Criado em 1991, o Programa de Promoção de Desenvolvimento da
Bahia – PROBAHIA, destina ao financiamento, principalmente, com os recursos do ICMS
pela empresa, de empreendimentos de implantação e ampliação de indústrias,
agroindústrias, mineração, turismo e geração de energia elétrica. Em 1998, o Programa
Estratégico de Desenvolvimento Industrial do estado da Bahia veio a confirmar os objetivos
traçados no PROBAHIA, principalmente no que tange à desconcentração industrial e ao
adensamento de cadeias produtivas. Além disso, destaca-se a iniciativa do governo de
estimular a criação de indústrias de bens finais, entre as quais os segmentos calçadista e
têxtil, beneficiados por um tratamento especial do governo e pela expansão do mercado
consumidor local.
Nesse tópico, pode-se perceber como a política industrial baiana está fortemente
arraigada às políticas adotadas em escala federal, que por sua fragilidade necessita de
intervenção estatal, mesmo quando esta intervenção está direcionada para uma maior
liberalização da economia.
Atividades
1.
Complementares
O Governo de Getúlio Vargas estimulou a instalação da indústria de base no país e
criou a CLT com o intuito de fiscalizar o sindicalismo operário. Explique a frase anterior.
2.
50
Quais fatores foram responsáveis para a concentração industrial no Sudeste do país?
3.
Muitos afirmam que houve um processo de desconcentração e não de descentralização da indústria brasileira, em virtude da Região Sudeste ainda ser um importante pólo
industrial e as indústrias do Nordeste ter papel de fornecedoras de matéria-prima para a
mesma.Comente o parágrafo acima.
4.
Mencione vantagens e desvantagens decorrentes da instalação da Ford na Bahia.
5.
Apesar da tentativa de desconcentração industrial em escala regional percebe-se
que houve uma concentração da indústria baiana na Região Metropolitana de Salvador.
Quais fatores contribuíram para essa situação?
INDÚSTRIA, QUALIDADE DE VIDA, AMBIENTE E EDUCAÇÃO
Esse tema trabalha os aspectos mais sócio-ambientais da industrialização através
dos impactos ambientais advindos desse processo, das novas tecnologias e dos novos
padrões de consumo, bem como do papel da educação nesse contexto, formadora de
cidadãos críticos e participantes da realidade que os cerca.
Problemas Ambientais Impulsionados Pela Industrialização
A evolução tecnológica e o crescente processo de industrialização, seja nos países
desenvolvidos ou subdesenvolvidos, vêm de maneira progressiva, alterando e impactando
o ambiente natural. De acordo com Ross (2003) a crescente industrialização que se
concentrou nas cidades, a mecanização da agricultura em sistemas de monocultura, a
intensa exploração das fontes de energia, como o carvão mineral e o petróleo, a extração
51
de recursos minerais e inúmeras outras atividades alteraram de modo
bastante significativo a terra, o ar e a água do planeta, chegando algumas
degradações ser consideradas irreversíveis.
Pode-se afirmar que a sociedade industrial interferiu profundamente na
Geografia da
natureza. Para produzir mercadorias e equipamentos foi indispensável instaIndústria, Comércio
lar extensos complexos industriais e para mantê-los foi necessária à extração
e Serviços
de matérias-primas e a exploração de fontes energéticas do mundo todo.
Venham nos Poluir!?
Durante o Governo Militar, quando o investimento do capital externo dinamizava a
economia nacional, houve uma espécie de campanha para a instalação intensiva tanto que
nos anos 70 chegaram a colocar anúncios em publicações estrangeiras com o convite bem
sugestivo: Venham nos poluir! Visavam atrair indústrias dos países desenvolvidos que
emitissem diferentes poluentes.
Vários são os casos de poluição e acidentes que acarretaram graves impactos
ambientais e conseqüências na saúde da população. O que mais despertou críticas foi a
contaminação do Distrito Industrial de Cubatão (SP).
De todos, o que despertou críticas mais
exaltadas foi a prolongada contaminação do
entorno do distrito industrial de Cubatão (SP).
Nos anos 80, foram constatadas 320 fontes de
emissão (relacionadas a 116 unidades
industriais) e as conseqüências para a saúde
humana foram dramáticas, foram registrados os
mais altos índices de anencefalia (crianças
nascidas sem cérebro) do hemisfério (um caso
para cada 250 nascimentos).
O Caso Cubatão
A inexistência de uma legislação específica, o desconhecimento do impacto dos
resíduos industriais sobre o meio ambiente, a falta de tecnologia no que diz respeito ao
controle de fontes de poluição foram alguns fatores que levaram Cubatão a uma situação
crítica em meados dos anos 70.
O país despertou para as necessidades ambientais e o Estado de São Paulo criou a
Cetesb - Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental - e essa situação complexa
começou a mudar. Com o apoio das indústrias do pólo de Cubatão foi feito um inventário
das fontes poluidoras e na década de 1980, os técnicos da Cetesb já dispunham de um
diagnóstico confiável sobre Cubatão. Em 1982 foi lançado o Programa Ambiental de
Cubatão. O BIRD – Banco Interamericano de Desenvolvimento – financiou as 25 indústrias
do pólo no controle de suas 320 fontes primárias de poluição. Hoje, Cubatão é considerada
um exemplo mundial no controle de poluição; quase a totalidade das fontes primárias das
indústrias está controlada.
O município é, permanentemente, diagnosticado e monitorado; é hoje o pioneiro em
sistemas de prevenção de acidentes maiores. As indústrias do pólo realizam, periodicamente, simulações de riscos; os programas de reciclagem do lixo industrial também avançam e
padrões ambientais mais restritivos vêm sendo introduzidos, conciliando as possibilidades
tecnológicas e econômicas com a renovação da licença de funcionamento das indústrias.
www.apec.gov.br
52
Necessidade do Controle da Poluição
Uma das conseqüências desse relativo descaso com a questão ambiental é a ausência de estatísticas sobre emissões de poluentes, o que dificulta uma análise mais sistemática
do desempenho ambiental da indústria. Contudo, pode-se ao menos medir a expansão dos
setores de maior potencial de emissão em relação ao restante da indústria, como fazem
indicadores especialmente construídos pelo Departamento de Indústria do IBGE. Esses
indicadores mostram que o crescimento das indústrias de alto potencial poluidor no período
1981-99 foi nitidamente superior ao da média geral da indústria, sugerindo uma especialização relativa em atividades potencialmente “sujas”.
Uma série de razões pode ser apontada para explicar a intensificação das atividades
poluentes na composição setorial do produto industrial. Em primeiro lugar, o atraso no
estabelecimento de normas ambientais e agências especializadas no controle da poluição
industrial demonstram que, de fato, a questão ambiental não configurava entre as
prioridades de política pública – apenas na segunda metade dos anos setenta foi criado
o primeiro órgão especificamente para esse fim (Fundação Estadual de Engenharia do
Meio Ambiente - FEEMA/RJ).
Em segundo lugar, a estratégia de crescimento associada à industrialização por
substituição de importações (ISI) no Brasil privilegiou setores intensivos em emissão.
Pautava-se que o crescimento de uma economia periférica não poderia ser apenas
sustentada em produtos diretamente baseados em recursos naturais (extração mineral,
agricultura, ou outras formas de aproveitamento de vantagens comparativas absolutas
definidas a partir da dotação de recursos naturais). Embora o Brasil tenha avançado na
consolidação de uma base industrial diversificada, esse avanço esteve calcado no uso
indireto de recursos naturais (energia e matérias primas baratas), ao invés de expandir-se
através do incremento na capacidade de gerar ou absorver progresso técnico.
A concentração em atividades intensivas em emissão aumentou ainda mais a partir
da consolidação dos investimentos do II PND, expandindo o campo indústrias de grande
potencial poluidor – especialmente dos complexos metalúrgico e químico/petroquímico –
sem o devido acompanhamento de tratamento dessas emissões, agravados pelo ideário
de que o controle ambiental é uma barreira ao desenvolvimento industrial, ignorando-se seu
potencial para a geração de progresso técnico.
Um outro fator que contribuiu para o incremento de atividades industriais poluidoras
foi a tendência de especialização do setor exportador em atividades potencialmente
poluentes. Essa tendência foi acentuada a partir da década de oitenta, com a já referida
expansão da capacidade produtiva ligada aos investimentos do II PND, mas não foi alterada
com a liberalização comercial da primeira metade dos anos noventa.
Por exemplo, as significativas diferenças entre os valores dos parâmetros comuns
às indústrias indicam existir grande discrepância entre os padrões de emissão da indústria
dos EUA em 1987 e a indústria paulista em 1996 (com exceção de SO2 - Dióxido de
Enxofre), o desempenho norte-americano é sempre melhor, com menor emissão por
unidade de produção).
Usando a terminologia desenvolvida pela Comissão Econômica para a América Latina
e o Caribe - CEPAL (1990), a expansão de atividades industriais nesses países não seria
conseqüência dos esforços de transformação produtiva e competitividade “autêntica” de
suas empresas, mas sim uma nova forma de países periféricos serem incluídos na divisão
internacional do trabalho a partir de vantagens competitivas desiguais.
Os países do centro especializam-se na produção em mercados dinâmicos (alto
valor agregado, tecnologia de ponta, grande diferenciação de produto), onde o fluxo contínuo
de inovações permite a permanente apreciação dos preços dos produtos de ponta (geralmente produtos “limpos”), enquanto a periferia passa a produzir, além das commodities
53
Geografia da
tradicionais (matérias-primas de origem natural), produtos industrializados de
mercados maduros, onde a capacidade de inovação (e, consequentemente,
a possibilidade de “fazer preços”) é bastante limitada, e que se caracterizam
por alta intensidade no consumo de energia e outros recursos naturais.
Indústria, Comércio
e Serviços
RIO-92 (ECO)
A Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (RIO- 92) aconteceu na cidade do Rio de Janeiro e foi a maior reunião
já realizada em todo o mundo para discutir a questão ambiental: reuniu mais de 120 Chefes
de Estado e representantes no total de mais de 170 países.
Na RIO-92 foram elaborados cinco documentos, assinados pelos chefes de estado
e representantes:
• Declaração do Rio;
• Agenda 21;
• Convenção sobre diversidade biológica;
• Convenção sobre mudança do clima;
• Declaração de princípios da floresta.
Agenda 21
É um programa de ações para o qual contribuíram governos e instituições da sociedade civil de 179 países, que procura promover, em escala planetária, um novo padrão
de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica.
A Agenda 21 aprovada pelos países tem a função de servir como base para que
cada um desses países elabore e programe sua própria Agenda 21 Nacional, compromisso
assumido por todos os signatários durante a ECO-92.
RIO-02
Após dez anos da RIO-92 promove-se a Conferência Internacional sobre
Mudanças Climáticas e Fontes Renováveis - RIO 02, também na cidade do Rio de
Janeiro). A Conferência RIO 02 reuniu especialistas de 20 países com o objetivo de avaliar
a situação ambiental do planeta e apresentar propostas para a próxima Conferência Mundial
sobre Mudanças Climáticas.
As delegações internacionais participantes do RIO 02, após 4 dias de debates
acordaram sobre os seguintes pontos:
• Que as nações e seus governantes adotem políticas de produção, distribuição e
financiamento energético, nos próximos 50 anos, e que encorajem a completa migração
daquelas oriundas de combustíveis fósseis para renováveis, fontes não-poluentes, especialmente eólica, solar e biomassa.
• Que os governos estabeleçam ações políticas que assegurem que todas as novas
instalações e veículos sejam adaptados para o uso de combustíveis renováveis e equipamentos de redução avançada de poluição; e que a legislação e regulamentação adequadas
sejam providenciadas dentro de um prazo máximo de três anos.
Durante a conferência, os participantes conheceram exemplos de políticas governamentais exitosas que promoveram o uso de energia renovável na Europa em condições
técnica e economicamente viáveis.
54
Todos os participantes concordaram que políticas similares podem ser adotadas
pelo mundo afora. Os benefícios sociais, econômicos e ambientais da adoção de fontes
renováveis de energia são tão evidentes e amplos que os participantes da Conferência
acreditam que a evolução deste tipo de geração de energia deve se transformar na maior
das prioridades para grande parte das nações e seus governantes.
Fonte: Revista ECO-21 http://www.eco21.com.br/textos/textos.asp?ID=239
Para refletir!
Desde a convenção de Kyoto11, verifica-se que as preocupações
como o meio ambiente tornaram-se econômicas. O valor econômico da
proteção ao meio ambiente surgiu quando os países se comprometeram a
cortar, em média, 5,2% de emissões de dióxido de carbono sobre os valores
registrados em 1990, com prazo até o ano passado (2005). A tributação foi
a primeira idéia para a formalização do controle econômico sobre a poluição,
mas isto afetaria a relação do custo/benefício no setor de produção ou elevaria o custo final ao consumidor. Assim, para que fossem alcançados os
parâmetros globais de poluição, surgiu outro conceito, ou seja, os países
poderiam negociar direitos de poluição entre si. Um país com altos níveis
de emissão de gases na atmosfera poderia pagar a outro país que estivesse
com os níveis de poluição abaixo do limite comprometido.
A transferência de capitais poderia levar a uma redistribuição da renda mundial em
favor daqueles que estivessem dispostos a poluir mais em troca de maior crescimento
econômico no curto prazo, levando a que cada país “exercesse melhor suas preferências”.
Desse modo a migração de indústrias poluentes para o Terceiro Mundo aumentaria o bemestar mundial, pois os países desenvolvidos aceitariam perdas econômicas para obter um
meio ambiente mais saudável.
É interessante notar que tal raciocínio supõe implicitamente a qualidade ambiental
como um “bem de luxo”, por isso os mais afetados por danos ambientais são justamente as
classes e regiões mais desfavorecidas, que têm menor poder político e econômico de
pressão e, portanto, menor chance de exigir uma vida mais saudável.
Meio Ambiente e Competitividade
As questões relacionadas à competitividade e meio ambiente ganharam importância
crescente no final dos anos 80. Com a intensificação do processo de globalização da
economia mundial e o conseqüente aumento dos fluxos de comércio internacional, as
barreiras tarifárias foram paulatinamente substituídas por barreiras não-tarifárias. Os países
desenvolvidos passam a impor barreiras não-tarifárias ambientais – “barreiras verdes” –,
alegando que os países em desenvolvimento possuem leis ambientais menos rigorosas
que as suas; o que resultaria em custos mais baixos – também chamados de dumping
ecológico – e, conseqüentemente, menores preços praticados no mercado internacional.
11
Constitui-se no protocolo de um tratado internacional com compromissos mais rígidos para a redução
da emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria das investigações
científicas, como causa do aquecimento global. Fonte: www.wikipedia.org
55
A maneira pela qual a imposição de normas ambientais afeta a
competitividade das empresas e setores industriais é percebida de forma
distinta. Por um lado, a imposição de normas ambientais restritivas pelos
países desenvolvidos pode ser uma forma camuflada de protecionismo de
Geografia da
determinados setores industriais nacionais, que concorrem diretamente com
Indústria, Comércio
as exportações dos países em desenvolvimento. Por outro lado, essas
e Serviços
mesmas normas estariam prejudicando a competitividade das empresas
nacionais, pois implicariam em custos adicionais ao processo produtivo,
elevando os preços dos produtos e resultando na possível perda de
competitividade no mercado internacional.
Por isso, a relação entre competitividade e preservação do meio ambiente passou a
ser objeto de intenso debate, que se polarizou em duas vertentes de análise: a primeira
acredita na existência dos benefícios sociais relativos a uma maior preservação ambiental,
resultante de padrões e regulamentações mais rígidos; de outro lado, tais regulamentações
levariam a um aumento dos custos privados do setor industrial, elevando preços e reduzindo
a competitividade das empresas. As regulamentações são necessárias para melhorar a
qualidade ambiental, mas são igualmente responsáveis pela elevação de custos e perda
de competitividade da indústria.
Todavia existem pesquisadores que afirmam que quando as empresas são capazes
de ver as regulamentações ambientais como um desafio, passam a desenvolver soluções
inovadoras e, portanto, melhoram a sua competitividade. Ou seja, além das melhorias
ambientais, as regulamentações ambientais também reforçariam as condições de
competitividade iniciais das empresas ou setores industriais. Assim, a preservação ambiental
está associada ao aumento da produtividade dos recursos utilizados na produção e,
consequentemente, ao aumento da competitividade da empresa.
O aumento da produtividade dos recursos é possível porque a poluição é, muitas
vezes, um desperdício econômico: resíduos industriais sejam sólidos, líquidos ou gasosos,
podem ser reaproveitados em diversos casos, utilizando-os para a co-geração de energia,
extraindo substâncias que serão reutilizadas e reciclando materiais. Ao analisar o ciclo de
vida do produto, há também outros desperdícios, como o excesso de embalagens e o
descarte de produtos que requerem uma disposição final de alto custo. Tanto o desperdício
dos resíduos industriais quanto os desperdícios ao longo da vida do produto estão embutidos
nos preços dos produtos, fazendo com que os consumidores paguem, sem perceber, pela
má utilização dos recursos.
Você
Sabia?
Selo Verde
O Selo Verde é um rótulo colocado em produtos comerciais, que indica
que sua produção foi feita atendendo a um conjunto de normas préestabelecidas pela instituição que emitiu o selo. Atesta, por meio de uma
marca colocada voluntariamente pelo fabricante, que determinados
produtos são adequados ao uso e apresentam menor impacto ambiental
em relação a outros similares. A diferença de rotulagem ambiental para a
Certificação de Sistema de Gestão Ambiental (ISO 14000) é que o que está
sendo certificado é o produto, e não o seu processo produtivo.
56
Uso de Tecnologias Limpas
A adoção de tecnologias mais limpas, melhoria na eficiência produtiva através de
gestão inovadora, redução da geração de resíduos e reciclagem de subprodutos do processo
produtivo que eram considerados resíduos, são algumas soluções para diminuir o caráter
poluidor de alguns tipos de indústria. A necessidade de mudanças nas tecnologias adotadas
e nas formas de gestão empresarial, sendo soluções mais definitivas, que reduzem
efetivamente a quantidade de emissões e resíduos, aumentando a produtividade dos
recursos – ocorre simultaneamente uma redução do impacto ambiental e uma melhoria do
produto e/ou processo produtivo.
A influência das regulamentações governamentais para a expansão do mercado de
tecnologias ambientais é bastante significativa.
Como observado, devido ao alto potencial poluidor da produção industrial brasileira,
as exportações brasileiras são passíveis de restrições comerciais de caráter ambiental. Os
efeitos de tais medidas sobre a competitividade têm dois aspectos. O primeiro, de curto
prazo, torna a competitividade sensível ao aumento de custos. Na medida em que um
percentual significativo da pauta de exportações é composto de commodities. Os
exportadores são tomadores de preço e um aumento de custos devido às imposições de
padrões ambientais mais rígidos pode representar redução nos lucros dos exportadores,
pois a possibilidade para competição via diferenciação de produtos é bastante reduzida.
Entretanto, numa perspectiva dinâmica e de longo prazo, as medidas comerciais
com finalidade de preservação ambiental podem aumentar a competitividade das empresas,
isto é, empresas passam a eliminar desperdícios, viabilizam economicamente um subproduto
considerado rejeito industrial e ficam mais sensíveis às inovações, aumentando a
produtividade, reduzindo custos, melhorando seus produtos e tornando-se mais competitivas.
É Possível uma Indústria mais “Limpa”?
A questão ambiental começou, portanto, a fazer parte da gestão empresarial,
principalmente das empresas de inserção internacional – seja por meio de exportações, de
participação acionária estrangeira, de filiais de multinacionais ou da dependência de
financiamentos de bancos internacionais, que condicionam os empréstimos a relatórios de
impacto ambiental (RIMA).
As empresas que estão mais expostas à concorrência internacional, passaram de
uma posição respeitosa às normas somente em virtude da fiscalização para um
posicionamento mais “ecologicamente correto”.
As empresas com controle parcial ou total do capital estrangeiro foram as que mais
investiram em mudança de processo (40,8%) quando comparadas com as empresas
nacionais (18,2%). Confirma-se, portanto, a hipótese de que as empresas com participação
do capital estrangeiro são as que mais adotam inovações ambientais, apesar das empresas
nacionais também considerarem o meio ambiente como um fator indutor de inovações. Ao
considerar as médias de exportação das empresas que investiram, ou não, na mudança de
processo produtivo com fins de reduzir os problemas ambientais, percebe-se que as que
realizaram investimentos por motivos ambientais são de maior média de exportação.
Uma hipótese levantada pela literatura é que as firmas inovadoras seriam as que
investem mais em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), ou seja, as firmas que realizam
atividades de P&D estariam mais capacitadas para gerarem e adotarem inovações, inclusive
as ambientais.
Percebe-se que as empresas brasileiras, principalmente as de inserção internacional,
estão tomando consciência da importância da variável ambiental sobre sua competitividade.
Há outros motivos para as empresas adotarem uma postura mais ecológica em relação ao
57
meio ambiente, como a melhoria da imagem da empresa perante os seus
clientes e a comunidade, a adaptação às exigências dos importadores, a
redução de conflitos com órgãos de fiscalização ambiental e a diferenciação
em relação aos concorrentes.
Geografia da
Começam a surgir evidências da importância da variável ambiental paIndústria, Comércio
ra
reforçar
a competitividade das empresas reconhecidamente competitivas.
e Serviços
Você
Sabia?
Em 1999, disputando as encomendas da Crossair, subsidiária regional da Swissair, a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) venceu a
canadense Bombardier e a alemã Fairchild-Dornier - esta última uma fornecedora tradicional.
Um dos critérios decisivos na escolha dos jatinhos da Embraer foi
de caráter ambiental: os modelos brasileiros apresentaram níveis de
poluição e barulho correspondentes à metade do nível mínimo exigido pelas
leis européias (Gazeta Mercantil, 15/06/99 e Jornal do Brasil, 16/06/99).
A certificação voluntária das empresas brasileiras, através das normas da série
ISO 1400016, é outro indicador de que elas estão mais atentas para as questões
ambientais, seja por pressões do mercado externo ou pela legislação ambiental, apesar
da quantidade de empresas certificadas ser muito menor que nos países desenvolvidos.
O Estado que mais possui certificações é São Paulo, seguido de Minas Gerais, Rio Grande
do Sul e Rio de Janeiro.
A Natura, conhecida empresa de cosméticos demonstra o seguinte posicionamento
e reconhece os impactos ambientais relativos ao seu processo produtivo:
Ao assumir a política de meio ambiente como uma das três vertentes de
seu compromisso com a sustentabilidade, a Natura visa também a ecoeficiência
ao longo de sua cadeia de geração de valor; e, ao buscar a ecoeficiência,
favorece a valorização da biodiversidade e de sua responsabilidade social.
As diretrizes para o meio ambiente da Natura contemplam:
• A responsabilidade para com as gerações futuras;
• A educação ambiental;
• O gerenciamento do impacto do meio ambiente e do ciclo de vida de produtos
e serviços;
• A minimização de entradas e saídas de materiais.
fonte: www2.natura.net
58
Por outro lado, quando se analisa o comportamento de parte das empresas brasileiras
em termos de seu comportamento ambiental, verifica-se que as mais preocupadas com a
questão ambiental e que têm investido em processos produtivos mais eficientes ambientalmente são também as de maior inserção internacional. Confirma-se, portanto, a hipótese
de que a abertura ao exterior, tanto de fluxos de comércio quanto de capital, traz consigo
elementos que favorecem a adoção de práticas e produtos ambientalmente mais adequados.
Os dados apresentados parecem confirmar que as empresas que realizam atividades
de P&D estariam mais capacitadas para gerarem e adotarem inovações, inclusive as
ambientais. Tanto as inovações de processo para reduzir danos ambientais, quanto a
estratégia de preservação do meio ambiente como fator indutor da inovação, estão mais
claramente presentes nas empresas que atribuem um grau importante ou superior ao seu
departamento interno de P&D.
Apesar do comportamento ambiental das empresas paulistas – responsáveis por
cerca de 60% do PIB brasileiro – ser um bom indicativo do comportamento das empresas
brasileiras, certamente existem diferenças regionais importantes, além do viés que toda
pesquisa de campo pode apresentar. Muitas questões permanecem em aberto: se a
tecnologia limpa é a mais desejável tanto para a empresa quanto para a comunidade, por
que ela não é adotada em larga escala? Quais as políticas públicas que favorecem sua
geração e difusão?
Deve-se ter claro essa limitação: nem sempre a melhoria da qualidade ambiental
poderá ser redutora de custos. O papel do formulador de política (tanto do governo quanto
das associações industriais) será exatamente identificar tais situações onde a perda de
competitividade é potencial, a fim de apresentar medidas compensatórias. O estudo da
competitividade sob uma perspectiva de preservação ambiental pode contribuir para a
construção de uma política industrial compatível com normas internacionais de proteção ao
meio ambiente, ajudando na elaboração de uma política ambiental. Tal estudo pode, também,
estimular a adoção voluntária, por parte das empresas, de processos e produtos
ecologicamente corretos, isto é, incentivá-las a tornarem-se pró-ativas, adotando a estratégia
de ganho, onde convergem eficiência econômica e consciência ecológica.
O Discurso do Desenvolvimento Sustentável
Desenvolvimento sustentável é também definido no Relatório Brundtland12 como
“aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as
gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades”, visando promover uma relação
mais harmônica entre sociedade e ambiente, a partir da discussão de dois pontos: o
conceito de necessidade e as limitações que a tecnologia e a organização social impuseram
ao meio ambiente.
As referências mais explícitas à noção de desenvolvimento sustentável estão
sistematizadas nos trabalhos do economista Ignacy Sachs, que desenvolveu a noção de
ecodesenvolvimento, e nas propostas da Comissão Brundtland que projetaram mundialmente o termo “desenvolvimento sustentável” e o conteúdo da nova estratégia oficial
de desenvolvimento.
De outra perspectiva, pode-se observar que o discurso da sustentabilidade surgiu
como um substituto ao discurso do desenvolvimento econômico, produzido e difundido pelos
países centrais do capitalismo – sobretudo os Estados Unidos – para o resto do mundo no
contexto da Guerra Fria. A partir dos anos 70 do século passado, o discurso desenvol12
O Relatório Brundtland (1987) foi elaborado pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, criada pelas Nações Unidas e presidida pela então Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlen
Brundtland – faz parte de uma série de iniciativas, anteriores à Agenda 21
59
vimentista revelou seus limites através de uma crise, que embora tivesse maior
visibilidade econômica, era também social, ambiental e ético-cultural.
Nesse sentido, a questão ambiental introduziu um ingrediente novo que
ampliava a crítica social na direção de uma revisão mais abrangente do modelo
Geografia da
de civilização ocidental e da necessidade de incorporar ao debate os múltiplos
Indústria, Comércio
aspectos que constituem as relações entre a sociedade e seu ambiente.
e Serviços
Vale também lembrar que toda essa reorientação da idéia de desenvolvimento se deu no contexto de crise do próprio capitalismo e de
consolidação de uma hegemonia do pensamento e de políticas neoliberais,
postas em prática a partir dos anos 80, como parte da estratégia global de
reestruturação sistêmica.
Qualidade de Vida e Evolução Técnico-Industrial
As cidades são áreas onde vive a grande maioria dos homens nos países ou regiões
que se industrializaram e mecanizaram as atividades agrícolas. A existência de cidades
remonta aos primórdios da civilização, entretanto a intensificação da urbanização veio com
a revolução técnico-científico-industrial, mais significativa a partir do século XIX e, sobretudo
no século XX.
O desenvolvimento permanente dos meios de produção industrial, os avanços
tecnológicos, a ampliação da sociedade de consumo, os atrativos do conforto e do lazer, a
elevação do nível de renda que as cidades em geral oferecem e a liberação de mão-deobra rural, tudo isso fez com que nos países industrializados mais de 80% da população se
tornasse urbana.
Nos países de economia mais desenvolvida e de crescimento industrial mais
harmônico, acompanhado de acentuada redução do crescimento demográfico e elevação
do nível cultural e de renda, como os Estados Unidos, o Japão e grande parte da Europa, os
problemas ambientais urbanos existem, porém são menos agressivos.
Nas regiões que, em curto espaço de tempo, se transformaram em áreas
industrializadas através da importação de tecnologias e capital e a instalação maciça de
empresas transnacionais, como ocorreu na América Latina, na Ásia e na África, os problemas
ambientais urbanos são mais sérios e agravados pelos problemas sociais. Essa
transferência intensa para as cidades foi fruto de uma política desenvolvimentista
implementada a partir da década de 1950.
A entrada de tecnologia e capital estrangeiro imprimiu um novo ritmo à economia
brasileira, e progressivamente a população foi-se transferindo para as cidades. O setor
agrário da economia, sobretudo a partir da década de 70, mecanizou-se, liberou mão-deobra e as cidades sofreram um crescimento demográfico repentino.
Como as atividades tradicionalmente urbanas (indústria, comércio, serviços) não
tiveram meios de absorver grande parte dos migrantes rurais, despreparados para as
funções das cidades, gerou-se uma massa de desempregados e subempregados crônicos,
formando populações marginalizadas social e economicamente. Famílias analfabetas ou
60
semi-analfabetas, geralmente com grande número de filhos, sem nenhuma formação
profissional para os serviços urbanos, aumentaram a classe social de baixa renda e vivem
hoje em barracos de favelas, cortiços e habitações precárias nas periferias das cidades.
O Meio Ambiente na Saúde Pública
Os impactos da Revolução Industrial sobre as condições de vida e saúde das populações, entre meados e o final do século XIX são bastante intensos, principalmente nos
países europeus, onde houve maior desenvolvimento nas relações industriais de produção
(Inglaterra, França e Alemanha). Ocorreu também uma maior organização das classes
trabalhadoras, com o aumento da sua participação política. Os temas relativos à saúde são
incorporados na pauta das reivindicações dos movimentos sociais e surgem propostas de
compreensão da crise sanitária como fundamentalmente um processo político e social,
recebendo a denominação de medicina social. Ao contrário do higienismo para o qual o
ambiente era um objeto medicalizável através de um conjunto de normatizações e preceitos
a serem seguidos e aplicados no âmbito individual, a participação política é concebida
como principal estratégia de transformação da realidade de saúde (Paim & Almeida Filho,
1998). Desbaratado no plano político, o movimento da medicina social estrutura-se da
seguinte forma.
No que se refere aos problemas ambientais, o saneamento e o controle de vetores
constituíram a principal estratégia desse movimento, direcionada para o controle de doenças
relacionadas às precárias condições sanitárias (Gochefeld & Goldstein, 1999). O advento
do paradigma microbiano nas ciências básicas da saúde representou um grande reforço a
este movimento que, tornado hegemônico e batizado de saúde pública, reorienta as diretrizes
dos discursos e das práticas ocidentais no campo da saúde social (Paim & Almeida Filho,
1998). Com o paradigma microbiano, o ambiente de foco dos discursos e das práticas da
saúde pública é o doméstico, que deve ser purificado, limpo e areado, sendo então
considerado vital para a saúde dos seus habitantes, particularmente as crianças (Petersen
& Lupton, 1996).
A ampliação da compreensão dos problemas ambientais como não somente restritos
aos aspectos de saneamento e controle de vetores, bem como a recuperação da dimensão
política e social dos mesmos pode, em grande parte, ser atribuída às questões que passaram
a ser colocadas pelo movimento ambientalista, que, definido como tal, tem sua existência
identificada desde os anos 50, passando a ganhar força somente nos anos 60 e 70. As
ameaças e os perigos ambientais para a saúde pública, provocadas principalmente pela
poluição química e radioativa, são compreendidas como de maior escala, tendo se
multiplicado e estendido no espaço – indo além dos ambientes locais da casa, da vila ou da
cidade – e no tempo – com o alcance dos efeitos futuros sobre a saúde e a vida no planeta.
A partir do último quartel do século 20, a preocupação com os problemas ambientais
tornou-se proeminente em muitos países e resultou em duas grandes conferências mundiais
sobre o tema, organizadas pela Organização das Nações Unidas (ONU), a de Estocolmo
em 1972 e a do Rio em 1992. Em paralelo, emerge uma Nova Saúde Pública (NSP) que
tem como estratégia mudar o foco das práticas centradas principalmente nos aspectos
biomédicos da atenção para uma compreensão preventiva do estado de saúde, passando
a direcionar muito de sua atenção para as dimensões ambientais da saúde (Petersen &
Lupton, 1996). Emblemáticos deste processo são: Relatório Lalonde em 1974, que define
as bases para o movimento de Promoção da Saúde e em que são incorporadas questões
como a criação de ambientes favoráveis à saúde; o Projeto Cidades Saudáveis lançado
em 1986 pela Organização Mundial da Saúde; a definição na Agenda 21 da saúde ambiental
como prioridade social para a promoção da saúde.
61
A Poluição e a Vida Contemporânea
O conceito de poluição tem variado no tempo assim como as tecnologias criadas e empregadas pela sociedade. Substâncias tidas, até pouco
Geografia da
tempo atrás, como inofensivas são hoje reconhecidas como causadoras de
Indústria, Comércio
e Serviços câncer. Cabe salientar que o problema do controle da poluição não é apenas
de caráter técnico, mas também de ordem sócio-cultural e política.
• Poluição Atmosférica
Ao nível da saúde humana a poluição atmosférica pode afetar o sistema respiratório
podendo agravar ou mesmo provocar diversas doenças crônicas tais como asma, bronquite
crônica, infecções nos pulmões, enfisema pulmonar, doenças do coração e cancro do pulmão.
62
• Poluição da Água
A poluição das águas é gerada por:
Efluentes domésticos
(poluentes orgânicos biodegradáveis,
nutrientes e bactérias);
Efluentes industriais
(poluentes orgânicos e inorgânicos,
dependendo da atividade industrial);
Carga difusa urbana e agrícola
(poluentes advindos da drenagem
destas áreas: fertilizantes, defensivos
agrícolas, fezes de animais e material
em suspensão).
Algumas doenças causadas pela poluição da água :
Amebíase ou desinteria amebiana, ascaradíase ou lombriga, ancilostomose, cólera,
desinteria bacilar, esquistossomose, febre amarela, febre paratifóide, febre tifóide, hepatite
A, malária, peste bubônica, poliomelite, salmonelose, teníase ou solitária. Todas essas
doenças são causadas pela falta de saneamento básico.
A poluição de águas nos países ricos é resultado da maneira como a sociedade
consumista está organizada para produzir e desfrutar de sua riqueza, do progresso material,
em busca do bem-estar. Já nos países pobres, a poluição é resultado da pobreza e da
ausência de educação de seus habitantes, que, assim, não têm base para exigir os seus
direitos de cidadãos, o que só tende a prejudicá-los, pois esta omissão na reivindicação de
seus direitos leva à impunidade às indústrias, que poluem cada vez mais, e aos governantes
que fecham os olhos para a questão, como se tal poluição não atingisse também a eles.
• Poluição do Solo
O solo é um corpo vivo, de grande complexidade e dinâmica. Tem como componentes
principais a fase sólida (matéria mineral e matéria orgânica) e, a água e o ar na designada
componente “não sólida”. O solo deve ser encarado como uma interface entre o ar e a água
(entre a atmosfera e a hidrosfera), sendo imprescindível à produção de biomassa. Por isso,
o solo não é inerte, sempre que lhe adicionamos qualquer substância estranha, estamos a
poluir o solo e, direta ou indiretamente, a água e o ar.
Geralmente, sob a denominação de resíduos industriais se enquadram sólidos, lamas e materiais pastosos oriundos do processo industrial e
que não guardam interesse imediato
pelo gerador que deseja, de alguma
forma, se desfazer deles. A contaminação do solo tem-se tornado uma das
preocupações ambientais, uma vez
que, geralmente, a contaminação
interfere no ambiente global da área
afetada (solo, águas superficiais e
subterrâneas, ar, fauna e vegetação),
podendo mesmo estar na origem de
problemas de saúde pública.
63
• Poluição Sonora
Esse tipo de poluição não tem muito destaque, porém pode causar
muitos danos ao organismo, porque nós não nos preocupamos com ela. Os
Geografia da
causadores da poluição sonora são:
Indústria, Comércio
• os veículos que fazem ruídos e a sua buzina;
e Serviços
• as indústrias;
• as construções que utilizam máquinas barulhentas;
• casas noturnas que deixam o volume do som muito alto.
Os ruídos são mensurados por uma medida chamada decibel
O som muito alto em walkman ou discman também prejudica a audição. Esses
equipamentos sempre trazem um aviso quanto o volume, mas nem todos fazem o certo.
Atenção !
As pessoas podem ficar surdas a partir do momento em que ouvirem algum som acima de 115 decibéis durante 7 minutos seguidos.
Com relação aos ruídos das cidades, poderiam ser adotadas as seguintes medidas:
• redução no uso das buzinas de veículos;
• multas contra lojas que fazem propagandas barulhentas;
• recolhimento de veículos sem silenciadores;
• redução de publicidade por auto falantes.
• Poluição Vsual
Paredes pichadas, ruas cheias de placas de propaganda, “camadas” de cartazes, umas por cima das
outras, faixas nos postes, tudo isso é responsável pela
poluição visual. Um tipo particular de poluição visual é a
luminosa. À primeira vista não parece, mas ela existe e,
em excesso, causa diversos prejuízos.
A iluminação dos grandes centros urbanos é feita
de qualquer maneira e com desperdício de energia.
Esse tipo de iluminação diminui a transparência da
atmosfera, prejudicando a visão do céu noturno.
64
Recomendação de vídeo educativo
» Curta: ILHA DAS FLORES, 1989. Direção de Jorge Furtado
Importante retrato da mecânica da sociedade de consumo acompanha
a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora. O
curta-metragem retrata de maneira crítica o processo de geração de riqueza e
as desigualdades que surgem no meio do caminho.
» Disciplinas/Temas transversais: Biologia, Ciências, Ciências Sociais,
Geografia, Ética, Filosofia, Língua Portuguesa, Meio ambiente
» Faixa Etária: Todas as idades
» Nível de Ensino: Ensino Fundamental e Ensino Médio
disponível em:
www.portacurtas.com.br
Sociedade, Ambiente e Temas Educacionais
A relação sociedade e ambiente tornou-se tão complexa ao ponto de afirmarmos
que uma nova natureza foi criada. A primeira natureza aquela intocada, a natureza pura,
“natural”, não existe. Santos (2002) afirma que existe a segunda natureza, essa que é
determinada socialmente, ou seja, as sociedades humanas produziram uma segunda
natureza por meio das transformações ambientais oriundas do processo de trabalho. O
conceito de meio ambiente, do ponto de vista ecológico, envolve o espaço de reprodução
das espécies e a fonte de recursos para essa reprodução.
O ideário da inesgotabilidade dos recursos naturais é forjado pelo sistema econômico
capitalista, que tem como premissa básica a capacidade infinita da tecnologia de transformar
os bens da natureza em recursos, e a da ciência de resolver os problemas que possam
surgir dessa apropriação. Tais recursos passam a representar uma terceira natureza,
denominada de “natureza” tecnológica, que difere da natureza propriamente dita e da
“natureza” humana.
Enquanto metodologia cabe à Educação Ambiental buscar identificar as visões de
mundo inerentes e constituintes dos valores, das representações e dos comportamentos no
mundo vivido. Os indivíduos, enquanto agentes sociais são definidores e construtores de
ações e de realidades novas. Assim cabe a educação desamarrar-se da idéia de
fragmentação do saber e destituir o dualismo – primeira característica - que faz evoluir o
pensamento a partir da formação de campos de oposição fechados, estáticos e inertes.
A segunda característica a ser desconstruída é o humanismo individualista que gera
procedimentos “egoístas e autoritários”. O terceiro sintoma é o tecnicismo, isto é a ciência
dirigida para a invenção de meios instrumentais para o aumento da produção; a quarta
seria o economicismo, ou seja, a predominância e autonomia do campo econômico em
detrimento e sobre o social e o político. A quinta característica determinante é o patriarcalismo
e suas práticas autoritárias e dependentes, incapazes de instituir a liberdade, a criatividade
e a autonomia dos indivíduos e dos grupos sociais.
65
Práticas Ambientais: Legislação e Educação Ambiental
• A Legislação Ambiental e seu Caráter Punitivo
Geografia da
Embora os grandes encontros internacionais promovidos pela ONU,
em 1972 a “I Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente
Humano”, e em 1997 em Tbilisi, a “Conferência Intergovernamental de
Educação Ambiental”, terem indicado como pressupostos fundamentais para
a implantação de programas de Educação Ambiental, a complexidade dos meios biofísicos
e socioculturais, o governo brasileiro editou em 31 de agosto de 1981 a lei 6.938
(www.planalto.gov.br/CCIVIL/leis/L6938.htm) que estabeleceu a “Política Nacional do Meio
Ambiente”, na qual define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis,
influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e
rege a vida em todas as suas formas” (Art. 3, inciso I).
Demonstrando assim, que o entendimento privilegiado que o Meio Ambiente é a ordem
física, química e biológica, despreza a constituição, a organização, a concepção de mundo e
os métodos que os grupos sociais aplicam nos procedimentos eco-nômicos e políticos.
Através da interpretação de que somente as normas positivas expressas é que geram
atitudes, o poder do governo brasileiro, formalizou a capacidade institucional jurídica
coercitiva e punitiva através da lei 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (www.pr.gov.br/
meioambiente/pdf/lei_9605_1998.pdf) que sanciona a “Lei de Crimes Ambientais”. Na
mesma há uma nítida separação entre o mundo da cultura e o biológico, reproduzindo um
dualismo que há muito tempo se procura superar. Isto é, existe uma objetiva dificuldade dos
princípios e pressupostos do meio ambiente serem transpostos e traduzidos em ações
governamentais e em programas públicos que manifestam e traduzam a interação entre a
dimensão cultural e a biológica.
Indústria, Comércio
e Serviços
• Educação Conscientizadora
Os princípios lançados para efetivação da Educação Ambiental, reconhecem a
totalidade constituinte do meio ambiente, em seus aspectos naturais (físicos, biológicos e
químicos) e fenômenos culturais (políticos, econômicos, éticos, estéticos e sociais), trazem
à discussão o caráter abrangente, transformador, integrador e participativo das características
constituidoras da Educação Ambiental.
Neste sentido, a questão ambiental, é um orientador que conduz a perceber e a
conceber as contradições históricas construídas pelos homens no modo de produção
excludente identificados no modelo capitalista.
Em 1998, a Coordenação de Educação Ambiental do Ministério da Educação e do
Desporto, lança o livro: “A Implantação da Educação Ambiental no Brasil”, que possui como
característica importante a construção de um referencial que enquadra os princípios
fundadores da Educação Ambiental, além de sugestionar práticas educativas para
procedimentos ativos, participativos e prospectivos da Educação Ambiental. A obra salienta
a necessidade de uma educação que possibilitaria a conscientização dos homens e das
mulheres para o exercício da cidadania nos espaços das estruturas e das dinâmicas
sociais e naturais constituídas e constituintes.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais- PCN, o meio ambiente é abordado,
enquanto princípio metodológico, como tema transversal, caracterizando-se pela
sua relevância, enquanto questão social. Fonte de reflexão e de ações pedagógicas
e políticas, que tenha como horizonte a possibilidade da geração, através de relações
de ensino-aprendizagem, de novos conhecimentos e atitudes que rompam com as
66
percepções dicotômicas, inaugurando um saber-fazer que se embasa em relações
éticas participativas, prospectivas e em valores que construam a solidariedade e a
equidade social.
• Transversalidade, Transdiciplinariedade, Interdisciplinaridade
A transversalidade se propõe a superar as especialidades das disciplinas, tornandose desta forma o Meio Ambiente, uma questão sem fronteiras explícitas na área do conhecimento. Neste sentido vai ao encontro com a transdiciplinariedade e a interdisciplinariedade. A transversalidade e interdisciplinariedade possuem pontos semelhantes e
pontos diferenciadores. Ambas apontam a complexidade do real e a necessidade de se
considerar a teia de relações entre os seus diferentes e contraditórios aspectos, mas diferem
uma da outra no sentido conceitual uma vez que a interdisciplinariedade refere-se a uma
abordagem epistemológica dos objetos de conhecimento, enquanto a transversalidade diz
respeito principalmente à dimensão didática.
O grande desafio é ultrapassar referenciais que continuem a reproduzir esse modelo
dicotomizador sociedade/ambiente, mostrando que um está contido no outro. Produzir assim,
referenciais teóricos e práticos da compreensão da multiplicidade do meio ambiente e da
diversidade humana.
No desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem é fundamental a consideração
dessa tríade dimensional: as dimensões humanas, técnica e político-social. Nesta
perspectiva de uma multidimensionalidade que articula organicamente as diferentes
dimensões do processo ensino-aprendizagem. A transdisciplinaridade é uma das grandes
buscas do conhecimento em nossa atualidade, ao ponto de ser discutida internacionalmente.
Carta de Transdisciplinaridade
(adotada no Primeiro Congresso Mundial da Transdisciplinaridade,
Convento de Arrábida, Portugal, 2-6 novembro 1994)
Preâmbulo
Considerando que a proliferação atual das disciplinas acadêmicas
conduz a um crescimento exponencial do saber que torna impossível qualquer olhar global do ser humano;
Considerando que somente uma inteligência que se dá conta da
dimensão planetária dos conflitos atuais poderá fazer frente à complexidade
de nosso mundo e ao desafio contemporâneo de autodestruição material e
espiritual de nossa espécie;
Considerando que a vida está fortemente ameaçada por uma tecnociência triunfante que obedece apenas à lógica assustadora da eficácia
pela eficácia;
Considerando que a ruptura contemporânea entre um saber cada vez
mais acumulativo e um ser interior cada vez mais empobrecido leva à ascensão de um novo obscurantismo, cujas conseqüências sobre o plano
individual e social são incalculáveis;
Considerando que o crescimento do saber, sem precedentes na história, aumenta a desigualdade entre seus detentores e os que são desprovidos dele, engendrando assim desigualdades crescentes no seio dos
povos e entre as nações do planeta;
67
Considerando simultaneamente que todos os desafios
enunciados possuem sua contrapartida de esperança e que o
crescimento extraordinário do saber pode conduzir a uma mutação
Geografia da
comparável à evolução dos humanóides à espécie humana;
Indústria, Comércio
Considerando o que precede, os participantes do Primeiro
e Serviços
Congresso Mundial de Transdisciplinaridade (Convento de
Arrábida, Portugal 2 - 7 de novembro de 1994) adotaram o
presente Protocolo entendido como um conjunto de princípios
fundamentais da comunidade de espíritos transdisciplinares, constituindo um
contrato moral que todo signatário deste Protocolo faz consigo mesmo, sem
qualquer pressão jurídica e institucional.
Artigo 1: Qualquer tentativa de reduzir o ser humano a uma mera definição
e de dissolvê-lo nas estruturas formais, sejam elas quais forem, é incompatível
com a visão transdisciplinar.
Artigo 2: O reconhecimento da existência de diferentes níveis de
realidade, regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar.
Qualquer tentativa de reduzir a realidade a um único nível regido por uma única
lógica não se situa no campo da transdisciplinaridade.
Artigo 3: A transdisciplinaridade é complementar à aproximação
disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as
articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A
transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas,
mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.
Artigo 4: O ponto de sustentação da transdisciplinaridade reside na
unificação semântica e operativa das acepções através e além das disciplinas.
Ela pressupõe uma racionalidade aberta por um novo olhar, sobre a relatividade
definição e das noções de “”definição”e “objetividade”. O formalismo
excessivo, a rigidez das definições e o absolutismo da objetividade
comportando a exclusão do sujeito levam ao empobrecimento”.
Artigo 5: A visão transdisciplinar está resolutamente aberta na medida
em que ela ultrapassa o domínio das ciências exatas por seu diálogo e sua
reconciliação não somente com as ciências humanas mas também com a arte,
a literatura, a poesia e a experiência espiritual.
Artigo 6: Com relação à interdisciplinaridade e à multidisciplinaridade, a
transdisciplinaridade é multidimensional. Levando em conta as concepções
do tempo e da história, a transdisciplinaridade não exclui a existência de um
horizonte trans-histórico.
Artigo 7: A transdisciplinaridade não constitui uma nova religião, uma
nova filosofia, uma nova metafísica ou uma ciência das ciências.
Artigo 8: A dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e
planetária. O surgimento do ser humano sobre a Terra é uma das etapas da
história do Universo. O reconhecimento da Terra como pátria é um dos
imperativos da transdisciplinaridade. Todo ser humano tem direito a uma
nacionalidade, mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser
transnacional. O reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer
duplo - a uma nação e à Terra - constitui uma das metas da pesquisa
transdisciplinar.
68
Artigo 9: A transdisciplinaridade conduz a uma atitude aberta com
respeito aos mitos, às religiões e àqueles que os respeitam em um espírito
transdisciplinar.
Artigo 10: Não existe um lugar cultural privilegiado de onde se possam
julgar as outras culturas. O movimento transdisciplinar é em si transcultural.
Artigo 11: Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no
conhecimento. Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A
educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, da imaginação, da
sensibilidade e do corpo na transmissão dos conhecimentos.
Artigo 12: A elaboração de uma economia transdisciplinar é fundada
sobre o postulado de que a economia deve estar a serviço do ser humano e
não o inverso.
Artigo 13: A ética transdisciplinar recusa toda atitude que recusa o
diálogo e a discussão, seja qual for sua origem - de ordem ideológica,
científica, religiosa, econômica, política ou filosófica. O saber compartilhado
deverá conduzir a uma compreensão compartilhada baseada no respeito
absoluto das diferenças entre os seres, unidos pela vida comum sobre uma
única e mesma Terra.
Artigo 14: Rigor, abertura e tolerância são características fundamentais
da atitude e da visão transdisciplinar. O rigor na argumentação, que leva em
conta todos os dados, é a barreira às possíveis distorções. A abertura comporta
a aceitação do desconhecido, do inesperado e do imprevisível. A tolerância é
o reconhecimento do direito às idéias e verdades contrárias às nossas.
Artigo final: A presente Carta Transdisciplinar foi adotada pelos
participantes do Primeiro Congresso Mundial de Transdisciplinaridade, que
visam apenas à autoridade de seu trabalho e de sua atividade.
Segundo os processos a serem definidos de acordo com os espíritos
transdisciplinares de todos os países, o Protocolo permanecerá aberto à
assinatura de todo ser humano interessado em medidas progressistas de
ordem nacional, internacional para aplicação de seus artigos na vida.
Convento de Arrábida, 6 de novembro de 1994.
Comitê de Redação Lima de Freitas, Edgar Morin e Basarab Nicolescu.
Fonte: Educação e Transdisciplinaridade. V. II São Paulo: Triom, 2002
Retirado do site:
•
www.suigeneris.pro.br/edvariedade_cartrans.htm
Multiplicidade e Diversidade Humana
A dimensão humana é a compreensão dos valores éticos, das crenças religiosas,
da afetividade, da racionalidade. O humano é compreendido como um ser complexo que é
configurado por múltiplos fenômenos, um ser cultural, que se expressa e que está localizado
em espaços e tempos históricos.
A dimensão político-social é o espaço da organização, da mobilização, da
participação e da configuração do poder, é o lugar do público, das vontades coletivizadas.
A dimensão técnica se dá por meio das habilidades, dos princípios e dos conhecimentos
69
desenvolvidos. Contudo, essas dimensões não podem ser pensadas
isoladamente, o ser humano é uno e ao mesmo tempo múltiplo, há unidade no
múltiplo e multiplicidade no uno, por isso é preciso estabelecer a integração e
a comunicação entre as dimensões, formalizando a constituição de uma
Geografia da
totalidade múltipla para a concretização de um modelo educacional que
Indústria, Comércio
abarque as multiplicidades.
e Serviços
Se as linguagens centrais do universo social são os cenários de morte
(guerra, fome, violência, desflorestamento, poluição), os sujeitos sociais se
marcarão psicologicamente e socialmente pelos signos fundadores das relações
catastróficas e mortíferas. Ao contrário deve ocorrer, constituindo o meio social e histórico
de manifestações comportamentos em promoção e defesa da vida, da solidariedade e da
equidade social. Internalizando, assim, idéias positivas e de liberdade de pensamento para
romper com idéias puramente economicistas que permeiam a sociedade em sua atualidade.
Desta orientação metodológica podemos apreender que os agentes sociais, ou
indivíduos em ação, ao estarem localizados num contexto histórico e social, estão
embricados dos significados formadores do contexto, isto é, reestruturadores da realidade
vivida. Os alunos não devem ser vistos enquanto agentes que não recebem e nem
internalizam de forma passiva e estática seu cotidiano e seu contato com o conhecimento,
pois estabelecem uma relação interativa com os aspectos culturais e naturais, inventando
linguagens e instrumentos, isto é, o direcionamento do pensamento e da ação para situações
e contextos históricos e sociais reinventados.
A multiplicidade de vozes estabelece relações de liberdade e de criticidade para a
apreensão da totalidade. O dialogismo13 é condição necessária para a desconstrução e a
superação da linearidade histórica inerentes nos pensamentos dualistas, economicistas,
constituintes do pensamento moderno. O diálogo é a manifestação do demonstrativo
das relações complexas formadoras das consciências, das representações, das
linguagens, das visões de mundo, das práticas e dos valores dos agentes e dos
grupos sociais.
Para refletir!
Tudo se reduz ao diálogo, à contraposição dialógica enquanto centro.
Tudo é meio, o diálogo é o fim. Uma só voz nada termina, nada resolve.
Duas vozes são o mínimo de vida”. (Mikhail Bakhtin)
Neste sentido, a Educação Ambiental passa a se constituir como um processo transformador dos reducionismos do pensamento moderno, porém, com a necessidade de incorporação de metodologias, teorias e práticas que estejam estruturados a partir de organizações e de
relações da totalidade das interações entre conjuntos dos fenômenos naturais e culturais.
Pode-se concluir que a Educação Ambiental representa, dessa maneira, uma nova
condução do pensamento, da linguagem e do comportamento para a implantação práticas que
superem as idéias simplistas e reducionistas caminhando em direção de um referencial
estruturante do contexto histórico, incorporadores das complexidades relacionais das totalidades construídas histórica e socialmente, através da análise das relações sociedade/ambiente.
13
Segundo Mikhail Bakhtin o dialogismo é o princípio constitutivo da linguagem, o que quer dizer que
toda a vida da linguagem, em qualquer campo, está impregnada de relações dialógicas. A concepção dialógica
contém a idéia de relatividade da autoria individual e conseqüentemente o destaque do caráter coletivo,
social da produção de idéias e textos.
70
•
A Percepção e a Educação Ambiental no Processo de Gestão Ambiental
Para que problemas ambientais possam ser minimizados e para que ocorra uma
melhoria na qualidade ambiental e de vida, importante, se não fundamental, é a mudança
de comportamento dos indivíduos e da sociedade como um todo, tanto em suas atividades
como em todos os aspectos de suas vidas. É, essencialmente, uma questão que implica
em um processo educativo e de conscientização ambiental.
Para reconhecer qual é o conhecimento e o que condiciona os comportamentos de
um indivíduo ou um grupo em relação ao meio ambiente, é fundamental o estudo da
percepção ambiental.
A percepção ambiental é o entendimento os seres humanos possuem do meio em
que vivem, por meio da influência dos fatores sociais e culturais. De acordo com Tuan (1983),
não são simples sensações, mas que são significados atribuídos ao ato de perceber.
Segundo o Programa MAB (UNESCO, 1973), um dos objetivos importantes das
pesquisas baseadas na percepção ambiental consiste em obter uma compreensão
sistemática e científica do ponto de vista obtido a partir do indivíduo ou do grupo, com vistas
a completar a pesquisa científica tradicional, abordada no exterior do ser humano.
O ponto de vista interior é caracterizado pelo hábito e por uma longa experiência
(conhecimento popular) associados frequentemente a um estranhamento no que se relaciona
as intensas transformações do mundo contemporâneo; é algo bastante subjetivo. Do contrário, o ponto de vista exterior é associado ao desenvolvimento, à ação, e à objetividade,
face à tradição interior e à resistência à mudança.
O comportamento ambiental e as respostas ao meio ambiente variam de acordo
com as escalas de percepção e de valor. O aspecto mais importante não é a sua percepção
ou o seu significado, mas sim, a sua tomada de consciência, considerando-se a tomada
de consciência não como uma simples informação dada pela percepção, mas essencialmente uma conceituação. Esta tomada de consciência ocorre quando o indivíduo procura
decompor a situação ou o acontecimento em níveis conceituais, ao invés de meramente
registrarem-se modificações.
Portanto, pode-se afirmar que é preciso que as pessoas desenvolvam um conhecimento sobre o assunto. Na gestão ambiental a participação de todos os indivíduos é primordial; ela que assegurará as profundas transformações que se estão gerenciando. Contudo,
essa participação não se dá de forma totalmente espontânea, ela é aprendida, e ai que a
educação entra em cena: é necessário que um programa de educação ambiental acompanhe
todo o processo de implantação e execução do sistema, visando inclusive a sua continuidade,
com respeito ao meio ambiente e a utilização racional dos recursos.
•
•
•
•
São objetivos fundamentais da educação ambiental:
Despertar a consciência e sensibilizar frente às questões pertinentes à relação sociedademeio ambiente;
Conhecimentos sobre as questões ambientais;
Estimular a mudança de comportamentos e explicitar as maneiras como isso pode ser
realizado;
Desenvolver habilidades através da apresentação de programas de educação ambiental.
71
• Fundamentos da Educação Ambiental
Há uma grande dificuldade em se definir indicadores para ações de
natureza tão qualitativa e subjetiva quanto as ações educativas. Não é possível
Geografia da
aplicar “testes de conhecimentos”, aferindo-se então notas ou conceitos. Para
Indústria, Comércio
verificar se as ações educativas estão atingindo seus objetivos, torna-se
e Serviços
necessário avaliar especialmente as mudanças de opinião e as mudanças
de comportamento, que podem ser medidas em termos de resultados
quantitativos, por exemplo, no consumo de energia e água, na diminuição de dejetos gerados,
no aumento de resíduos recicláveis e no aumento da reutilização de materiais (esse exercício
pode ser feito com os alunos do ensino fundamental e médio).
Os indicadores de desempenho das ações14 de educação ambiental devem,
fundamentalmente, ter como parâmetros os fundamentos gerais da educação ambiental,
que também devem orientar a definição das próprias ações educativas.
Estes fundamentos são:
Sensibilização/conscientização; Conhecimento/compreensão; Habilidades;
Participação/ação; Mudança de valores e comportamentos.
1. Sensibilização e Conscientização: Trata-se, em grande parte, da divulgação
dos programas e das atividades, bem como dos conceitos ambientais. É uma ação de
envolvimento e motivação dos alunos. Estes conhecimentos visam despertar o interesse das
pessoas, levando-as a se sensibilizarem pelos programas ambientais e a se conscientizarem
da necessidade de mudarem seus comportamentos e valores.
2. Conhecimento e Compreensão: entende-se como conhecimento específico,
ge-ralmente para um público-alvo ou para um aspecto ambiental especial. Estes
conhecimentos são elaborados por técnicos das áreas específicas abordadas.
3. Habilidades: entendem-se como as aptidões específicas adquiridas através das
aulas, necessariamente, iguais para todos os alunos.
4. Participação e Ação: aqui se compreende o engajamento das pessoas nos programas e nas ações educativas. Pode-se dizer que o objetivo educativo será atingido de
fato se os alunos participarem espontaneamente. Porém, o fato deles participarem de qualquer forma, às vezes até por pressão, poderá trazer resultados positivos, pois a repetição
constante de um ato acaba gerando adaptação, e esta poderá levar a uma mudança consciente de valores e comportamentos. Sem contar, é claro, que toda ação positiva gera
resultados também positivos.
5. Mudança de Valores e Comportamentos: este é o conjunto de indicadores mais
subjetivos de todos, pois dificilmente poderá ser medido numericamente – a não ser pelos
resultados obtidos nos programas implantados. Além disto, não se refere apenas aquelas
ações que objetivem resultados positivos para a instituição, mas sim, refere-se à mudança
consciente de cada indivíduo, passando a ter um comportamento diferente na sua relação
indivíduo-meio ambiente e sociedade-meio ambiente. É aqui que realmente se pode atingir
uma mudança na qualidade de vida das pessoas.
14
Conteúdo extraído das sugestões adotadas pelo Sistema de Gestão Ambiental - SGA da FURB
(Universidade Regional de Blumenau-SC) pela Resolução Nº195/99 do Conselho de Ensino, Pesquisa e
Extensão, de 17/12/1999, através criado por meio da Política Ambiental da Universidade.
72
Sociedade e Ambiente: O Papel Transformador da Escola
A Necessidade de Reinventar a Escola
Sem negar a tradição fundadora de qualquer instituição social, é preciso que nos
questionemos profundamente acerca do sentido da escola para as novas gerações de nossa
sociedade. Segundo Moll (2006), estamos diante de problemas que ganham novos matizes
diante das novas exigências e dos novos desafios do presente:
• Problemas relacionados à distância que existe entre a escola e a família;
• Problemas relacionados à indisciplina;
• Problemas não-aprendizagens;
• Problemas em relação ao uso da coerção, da repressão que impede a livre expressão de idéias, comprometendo o futuro da própria democracia e, portanto, a possibilidade
de avanço nas formas de convivência social.
Há quem pense – e proponha – que novos métodos de ensino ou novos processos
avaliativos ou novas disciplinas no currículo escolar ou novos materiais pedagógicos ou a
introdução de novas tecnologias de comunicação e informação podem resolver ou, pelo
menos, minimizar o mal-estar vivido pela escola.
A perspectiva filosófica de Edgar Morin, que propõe a leitura do mundo sob a forma
do holograma, ou seja, buscando na parte o todo e no todo a parte, os problemas que a
escola vive, de certo modo, refletem os problemas da contemporaneidade. Sendo a
instituição escolar constituída e constituidora do modo moderno de vida, coletânea dos
processos de industrialização e urbanização, que mudaram a face do mundo ocidental pós
século XVIII, pode-se afirmar que a crise da escola é a própria crise da modernidade
e vice-versa.
Por esse motivo, qualquer perspectiva de modificação real da escola passa pela
sua revisão como instituição social. Sem negar a tradição fundadora de qualquer instituição
social, é preciso que nos questionemos profundamente a cerca do sentido da escola para
as novas gerações de nossa sociedade, assim como nos questionemos acerca de outros
cânones instituidores das formas de ser e de estar no nosso tempo, como a família e as
instituições democráticas.
Nessa perspectiva, surgem diferentes iniciativas que buscam redesenhar contornos
institucionais da escola, rompendo com a rigidez organizativa de tempos, espaços, campos
de conhecimento e com o isolamento que a tem caracterizado desde sua gênese. Tais
movimentos, dos quais podem ser emblemáticos a escola nova e a escola construtivista,
respectivamente nas primeiras e últimas décadas do século XX, buscaram reformular as
práticas pedagógicas desde o interior da escola.
Sem desconsiderar a importância de tais processos, é preciso focalizar movimentos
mais amplos que buscam transformar as formas de ser e de atuar da instituição escolar,
convertendo a escola em “comunidades de aprendizagem”, ou movimentos que tentam
conectar a escola às redes sociais e aos itinerários educativos que estão no seu entorno no
espaço urbano da construção da “cidade educadora”.
Escola e a Comunidade Aprendendo Juntas
Tendo origem em experiências norte-americanas e espanholas, na década de 80 do
século XX, a proposta de comunidade de aprendizagem implica sair da perspectiva isolada
que caracteriza a escola para a construção de uma comunidade na qual, além dos
professores e especialistas, os próprios alunos, os pais e os demais membros da comunidade
73
tomem parte ativa nas decisões e nos projetos que definem, planejam, avaliam,
acompanham as trajetórias educativas que os alunos percorrem em seus anos
de vida escolar.
De forma bastante ampliada, a idéia da cidade educadora, que nasce
Geografia da a partir de uma rede de cidades convertida em associação internacional
Indústria, Comércio
(Associação Internacional de Cidades Educadoras – AICE) em um congresso
e Serviços
na cidade de Barcelona, em 1990, firma-se no pressuposto de que a cidade
admita e exerça funções pedagógicas para além de suas tarefas econômicas,
sociais e políticas tradicionais.
Nessa perspectiva, a escola compõe uma “rede” de possibilidades educativas, exercendo
sua especificidade e recolocando-se na relação com os outros espaços de educação na cidade.
Nesse sentido, tanto o conceito de comunidade de aprendizagem permite reinventar
a escola no mesmo movimento que busca reinventar a cidade e nela a comunidade como
lugares de convivência, de diálogo, de aprendizagens permanentes na perspectiva do
aprofundamento da democracia e da afirmação das liberdades.
Em primeiro lugar, coloca-se a necessidade de ver a educação para além da escola
também na escola, mas não só como responsabilidade de professores e especialistas. A
educação das novas gerações é responsabilidade de todos os que coabitam no mesmo
espaço, mas também, em escala planetária. A partir dessa visão local e global, é necessário,
para não dizer urgente, que comecemos o diálogo, para além das instituições escolares,
sobre nosso(s) projeto(s) educativo(s). Que olhares os diferentes atores sociais (associações
de bairros, grupos ecológicos, empresariado, clubes de serviço, sindicatos, partidos políticos,
etc.) dirigem às crianças, aos adolescentes e aos jovens em nossa sociedade?
Nesse aspecto, certamente reside uma dificuldade fundamental: não estamos
habituados ao diálogo e à aproximação com outros atores da cena social. A AICE propõe
como agente mediador desse diálogo o poder público municipal. As linhas estratégicas
propostas coletivamente no Projeto Educativo de Cidade, realizado na cidade espanhola
de Barcelona são as seguintes:
• Dimensão Social: aprofundar a dimensão social e comunitária da educação,
promovendo um compromisso estável dos agentes sociais em distritos e bairros.
• Igualdade de Oportunidades: desenvolver as ações adequadas para melhorar a
igualdade de oportunidades diante das mudanças tecnológicas, econômicas,
sociais, culturais e institucionais.
• Formação Profissional: adequar as diversas possibilidades de formação
profissional às necessidades do entorno produtivo da região metropolitana.
• Cidadania Ativa: promover uma cidadania ativa, crítica, responsável e aberta à
diversidade.
• Sustentabilidade e Qualidade de Vida: formar a cidadania no uso sustentável
dos recursos e promover um ecossistema urbano integrado que melhore a qualidade
de vida das pessoas.
• Inovação e Conhecimento: capacitar as pessoas para a inovação e a gestão
conhecimento em todos os campos da ciência, da cultura e das tecnologias.
• Qualificação e Sistema Educativo: aproveitar as oportunidades que oferece a
para melhorar a gestão, o planejamento e a qualificação do sistema educativo.
Essas linhas estratégicas acima mencionadas - firmadas por representantes do poder
público, dos sindicatos, das associações de estudantes, da câmara de comércio, de grupos
de ecologistas, entre outros - pensam a cidade em seu conjunto, com ações que envolvem
o cruzamento de diferentes instituições, o uso dos espaços urbanos, a disponibilização de
74
tempo para as novas gerações, bem como a afirmação de novos horizontes e compromissos
por parte da comunidade especificamente escolar. Assim, todos os que vivem na cidade
convertem-se em educadores.
Contudo, para pensar-se a cidade educadora, é necessário – diria até mesmo
imprescindível – construir a interlocução mais local, a interlocução com a comunidade,
considerando-se que a escola pode ser o agente mediador e desencadeador desse diálogo.
Escola: Espaço Acolhedor e Crítico
De acordo com Moll (2006) é preciso perguntar-se se a escola está inscrita simbolicamente como espaço de acolhida e de pertencimento na vida da comunidade, constituindo-se como um agente legítimo para desencadear esse diálogo.
É preciso perguntar-se também em que medida a escola ainda desempenha – e
deve desempenhar – a função de socializar os saberes, as experiências, os modos de vida
produzidos pela humanidade ao longo de sua história, função que a diferencia de outras
instituições sociais.
Tais indagações podem introduzir-nos em itinerários de reinvenção da escola e de
construção tanto da comunidade de aprendizagem quanto da cidade educadora como
espaços nos quais, o diálogo, a participação e a cooperação aconteçam em suas plenitudes.
Atenção !
Recolocar a escola na cena urbana, tirá-la de um certo lugar de invisibilidade, construir condições para que as novas (e também velhas) gerações
(re)aprendam a cidade, na cidade e da cidade e (re)aprendam a conviver colocam-se como possibilidade histórica de nos reinventarmos como sociedade.
Colocar a escola em rede com a comunidade e a cidade, não significa despí-la
de uma tarefa que é eminentemente sua em relação às novas gerações.
Tem sido atribuído à
educação escolar funções e
papéis complementares na
cons-trução da sociedade, que
dela garimpam sua essência e
a transformam em um instrumento de múltiplas funções,
impedindo-a de compor sua
tarefa principal: preparar o ser
humano para o exercício da
cidadania, na modernidade.
Isso significa formar homens capazes de conviver
numa sociedade em que se cruzam vários caminhos e inúmeras influências mundiais da
cultura, da política, da economia, das ciências e da técnica.
75
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
De acordo com Souza (2006), hoje não se vive mais a cultura de aldeia,
o mundo é ma-is largo e vasto que o centro do nosso próprio umbigo, apesar
da brava resistência de poucos.
Estamos vivendo numa sociedade em que as relações culturais,
políticas, econômicas, científicas e técnicas são universais, rompendo as
frágeis fronteiras dos limites individuais e locais. Somos uma sociedade que
caminha rumo à globalização.
A escola, portanto, tem como tarefa urgente preparar o homem para viver na sociedade
atual, e não para viver nostalgicamente, na sociedade do passado, ou buscar de maneira
sôfrega e desordenada a sociedade do futuro.
Repassa-se para o espaço escolar todas as questões: a fome, a crise social, o
desemprego, a falta de segurança, etc.
A rapidez, ou melhor, a velocidade com que todas estas questões e outros temas
igualmente variados, chegam até a escola é de impressionar, fascinar, abismar e de
principalmente assustar. É um processo contraditório que se passa dentro dela mesma, ela
é influenciada e influencia a realidade social, sofre as influências das variadas concepções
de cultura, de homem e de cidadania, presentes na sociedade.
O futuro chegou, pela porta da frente da escola, trouxe na bagagem, entre outras
ambigüidades a serem vivenciadas, experimentadas e superadas, o poder da transformação.
Atividades
1.
Complementares
Na convenção de Kyoto foi estabelecida uma meta de cortar 5,2% de emissões de
dióxido de carbono sobre os valores registrados em 1990, com prazo até o ano passado.
Assim, para que fossem alcançados os parâmetros globais de poluição, surgiu a seguinte
proposta: os países poderiam negociar direitos de poluição, ou seja, um país com altos
níveis de emissão de gases na atmosfera poderia pagar a outro país que estivesse com os
níveis de poluição abaixo do limite comprometido. O que você pensa acerca disso?
2.
O conceito de desenvolvimento sustentável é um dos mais debatidos na atualidade.
Justifique a importância dessa discussão no contexto mundial.
76
3.
Três pensamentos existem acerca da produção industrial e o meio ambiente: o primeiro
acredita na existência dos benefícios sociais relativos a uma maior preservação ambiental,
resultante de padrões e regulamentações mais rígidos; o segundo, que tais regulamentações
levariam a um aumento dos custos privados do setor industrial, elevando preços e reduzindo
a competitividade das empresas, e um terceiro pensamento que acredita que no momento
que as empresas são capazes de ver as regulamentações ambientais como um desafio,
passam a desenvolver soluções inovadoras e, portanto, melhoram a sua competitividade.
Qual desses posicionamentos você considera mais benéfico na construção de um desenvolvimento sustentável? Justifique.
4.
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) o Meio Ambiente aparece como tema
transversal. Justifique essa afirmativa apontando seu caráter trans/interdiciplinar.
5.
Como a escola pode reinventar-se ao ponto de conseguir integrar-se à comunidade
e à cidade, tornando-se um espaço acolhedor e crítico?
77
Atividade
Orientada
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
Prezado aluno, prezada aluna!
A atividade orientada abaixo descrita será realizada em três etapas. Estas deverão
ser desenvolvidas em trio; no entanto, a última etapa, deverá, também, ser realizada
individualmente. Leia cada enunciado atenciosamente, de forma a contribuir para a execução
correta do que se pede.
Bom trabalho!
Etapa
1
Catalogando e Mapeando a Distribuição Industrial no Brasil
As atividades industriais desempenham na sociedade moderna um papel crucial na
organização do espaço geográfico. A partir da Revolução Industrial o mundo se transforma
e ao longo do século XX, finalmente, torna-se urbano.
Neste contexto urbano-industrial, observamos áreas que se destacam pela sua
densidade de sistemas técnicos promovendo uma maior fluidez, em detrimento de áreas
desprovidas destas mesmas características.
Desta forma, propomos analisar as repercussões e especificidades espaciais da
distribuição industrial brasileira, objetivando, um melhor entendimento da dinâmica sócioeconômica entre as unidades da federação.
Destaco, do mesmo modo, a importância desta atividade para a formação do professor de Geografia que futuramente deve trabalhar a pesquisa como forma de ensino,
preparando seus alunos para uma maior autonomia e cidadania.
Dessa forma, delineando as competências e habilidades desse período, assim como,
lançando mão dos conhecimentos adquiridos ao longo das outras disciplinas do curso,
grupos de no máximo 03 ALUNOS deverão coletar, tratar e mapear os dados referentes a
concentração industrial no Brasil.
Procedimentos para a execução desta etapa:
•Coleta de Dados e Tratamento estatístico:
1. Você deverá acessar o site do IBGE (os links necessários estão indicados abaixo)
e buscar informações sobre o CADASTRO DE EMPRESAS POR UNIDADE DA
FEDERAÇÃO;
○ ○
Acesse o site:
http://www.ibge.com.br/
Download
Estatística
Economia_Cadastro_de_Empresas
2004
Unidades.zip
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
78
2. Organizar os dados visando uma leitura e análise mais detalhada;
3. Classificação dos dados.
•Elaboração do Mapa
A partir da classificação feita anteriormente e utilizando o mapa base disponibilizado,
produzir um mapa aplicando uma técnica que represente a espacialização dos dados coletados.
Obser v ação
A base para a confecção do mapa será disponibilizada em anexo.
Etapa
2
Artigo: A Distribuição da Indústria no Brasil
Na etapa 1 da atividade orientada você construiu um mapa a partir de uma base de
dados com informações geográficas, neste caso a concentração industrial no Brasil. Assim,
para a formação do professor crítico e reflexivo é necessário não somente a descrição,
mas, principalmente a análise dos processos sociais que configuram o espaço geográfico.
Em posse do mapa construído, leia atentamente os trechos de dois textos
apresentados abaixo:
A concentração espacial
“[...] A concentração industrial é uma tendência em nosso sistema econômico,
que torna difícil a manutenção de estruturas de mercado que favoreçam a
concorrência. O fato de que a livre concorrência é um dos princípios norteadores
da ordem econômica no Estado brasileiro, se contrapõe à constatação de que a
concorrência pura é praticamente inexistente, predominando na economia estruturas
de mercado bastante concentradas.”
“[...] A distribuição espacial da indústria brasileira, com acentuada concentração
em São Paulo, foi determinada pelo processo histórico, já que no momento do início
da efetiva industrialização, o Estado tinha, devido à cafeicultura, os principais fatores
para a instalação das industriais, a saber: capital, mercado consumidor, mão-de-obra
e transportes”.
Fonte: MOREIRA, Rui. Indústrias no Brasil. Ática: São Paulo, 2001.
79
Indústria e Meio Ambiente
Geografia da
“[...] a organização do meio ambiente acompanha a evolução
da indústria. A intervenção da indústria por intermédio da sua escala
de tecnologia é uma remodeladora do entorno ambiental, reordenandoo espacialmente sob diferentes formas. Por longo tempo na história, a
indústria seguia os traços gerais desse entorno, remodelando-o sem
alterá-lo fortemente. Nos últimos séculos, entretanto, desde a revolução
industrial, esta relação se torna desfavorável para o meio ambiente, a
indústria alterando-o e mesmo destruindo-o drasticamente.”
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
○ ○ ○
Indústria, Comércio
e Serviços
Saiba mais!
Acesse o site:
http://www.sescsp.org.br/sesc/images/
upload/conferencias/185.rtf
○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
Os textos acima versam sobre duas
abordagens pertinentes ao estudo da Geografia da
Indústria: a CONCENTRAÇÃO INDUSTRIAL e a
INDÚSTRIA E O MEIO AMBIENTE. A partir da
leitura desses fragmentos e da leitura do Material
Impresso desta disciplina, utilize o mapa construído
na etapa 1 para analisar como estão distribuídas as
industriais no território brasileiro e, a partir daí
CONSTRUA UM TEXTO DISSERTATIVO.
Esse texto deverá ser construído
INDIVIDUALMENTE apresentando as análises inferidas
do mapa no tocante à distribuição espacial atual da
indústria no Brasil.
É importante lembrar que esse TEXTO deverá estar amparado nas normas da
ABNT, portanto, mesmo que de forma breve deverá conter uma Introdução, Metodologia,
Discussão e Conclusão.
80
Etapa
3
Debate
Na construção do mapa sobre a distribuição espacial da indústria no Brasil, você
percebeu se há ou não uma concentração em determinadas regiões geográficas.
O trabalho, como é visto hoje é reflexo direto das atividades industriais. A indústria e
o seu advento na Revolução Industrial trouxe conseqüências positivas e negativas, seja
para a sociedade, seja para o meio ambiente.
Após a leitura reflexiva dos materiais propostos, a turma deverá se reunir em equipes
de no máximo 04 PESSOAS. Cada equipe deverá escolher dois aspectos positivos e dois
aspectos negativos da atividade industrial. Após a discussão em grupo, a turma deverá se
reunir e proceder da seguinte forma:
• A primeira equipe vai elencar um aspecto positivo da indústria;
• A seguir, a equipe que tiver um argumento diretamente contrário à primeira deverá
requerer a voz e argumentar;
• Por sua vez, a equipe que argumentou sobre os aspectos negativos deverá
agora,anunciar um aspecto positivo. Outra equipe que tenha um argumento contrário
solicitará a voz e contra-argumentará.
• Esta dinâmica deverá ser continuada até todas as equipes lerem e discutirem os
seus argumentos positivos e negativos da atividade industrial.
Já que estamos propondo que vocês trabalhem e relacionem o conteúdo de Geografia
da Indústria com Cartografia e Teoria da Geografia. Aproveitamos como sugestão que os
argumentos escolhidos por cada equipe sejam trabalhados e utilizados como sub-temas
para a disciplina PPP IV. Estes argumentos, sejam positivos ou negativos deverão ser
transversais aos temas:
− Cidadania;
− Meio Ambiente.
81
Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
Glossário
Automação – evolução tecnológica do processo produtivo industrial ao ponto de
poder dispensar mão-de-obra dos trabalhadores.
Barreiras protecionistas – trata-se de uma série de barreiras erguidas pelos países
para que seus produtores locais não sejam afetados pela concorrência estrangeira. As mais
comuns são os embargos sanitários e os subsídios.
Conjuntura – contexto atual da economia nos mais diversos aspectos.
Desemprego estrutural – que não é motivado por nenhuma crise determinada da
economia, resulta das mudanças da estrutura da economia. Estas provocam desajustamentos no emprego da mão-de-obra, assim como alterações na composição da economia
associada ao desenvolvimento.
Estado-Mínimo – como muitos chamam, é a política de abertura dos mercados para o sistema capitalista neoliberal, onde o Estado intervém muito pouco na economia.
Flexibilização – mudanças no processo produtivo e nas condições de trabalho de
acordo com os ditames das mutações econômicas e sociais.
Globalização – é um dos processos de aprofundamento da integração econômica,
social, cultural e espacial e barateamento dos meios de transporte e comunicação dos
países do mundo no final do século XX.
Incentivos fiscais – os incentivos fiscais são estímulos criados pelo Estado para
impulsionar, por meio de parcerias com a iniciativa privada, determinados setores e
atividades de relevância para a política econômica de um país.
Livre mercado – um mercado idealizado onde todas as ações econômicas e ações
individuais respeitantes a transferência de dinheiro, bens e serviços são “voluntárias” - o
cumprimento de contratos voluntários é, contudo, obrigatório. A propriedade privada é
protegida pela lei e ninguém pode ser forçado a trabalhar para terceiros.
Mão-de-obra especializada – o termo usado para referir-se a um conjunto de
pessoas ou a uma população que possui habilidades específicas exigidas pelo mercado
de trabalho.
Matéria-prima – é o nome dado a um material que sirva de entrada para um sistema
de produção qualquer.
82
Maquinofatura – estágio produtivo iniciado com a Revolução Industrial, caracterizado
pelo emprego maciço de máquinas e fontes de energia modernas, produção em larga escala,
grande divisão e especialização do trabalho e, atualmente, pela automação industrial.
Mecanização – é o uso de máquinas para substituir o trabalho manual ou animal, e
também pode-se referir ao uso delas para auxiliar uma operação humana.
Modo-de-produção – é a forma de organização sócio-econômica associada a uma
determinada etapa de desenvolvimento das forças produtivas e das relações de produção.
Reúne as características do trabalho preconizado, seja ele artesanal, manufaturado ou
industrial.
Multinacionais – é uma empresa que opera / fabrica em dois ou mais países diferentes.
Neoliberalismo – é o termo ao qual se referem políticas liberais adotadas por
governos nacionais desde fins do século XX, inspiradas no liberalismo clássico.
Planejamento estratégico – é um processo gerencial que permite que se estabeleça
um direcionamento a ser seguido pela empresa, com o objetivo de se obter uma melhor
relação entre a empresa e seu ambiente, sendo também utilizado pela gestão pública.
Privatizações – processo de venda das Empresas Estatais por partes dos Governos
com o objetivo de gerar recursos e diminuir despesas.
Trustes – é uma forma de oligopólio na qual as empresas envolvidas abrem mão de
sua independência legal para constituir uma única organização, com o intuito de dominar
determinada oferta de produtos e/ou serviços. Pode-se definir truste também como uma
organização empresarial de grande poder de pressão no mercado.
Transgressão marinha – avanço dos mares por sobre as terras emersas, gerando
uma conseqüente elevação do nível do mar. Pode ser causado por fatores diversos, como
por exemplo, o abatimento de algumas regiões ou pelo derretimento de grandes extensões
da calota polar. É o contrário de regressão marinha.
83
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Geografia da
Indústria, Comércio
e Serviços
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Democratizando a Educação.
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