GERAL
12 JORNAL DO POVO
ARQUIVO JP
t PAUTA DO LEITOR
A Rua Moron da minha memória
Quem se lembra de seu Alcides, dona Pequena e a Farmácia São José? Aproveite este passeio pela história
A Rua Moron é uma das mais antigas da
cidade. Hoje a conhecemos mais pelos endereços ilustres de sua via, como a rua da
Justiça do Trabalho, a rua do Fórum ou a
rua das rádios, mas a Moron já funcionou
como passagem obrigatória até o Porto do
Jacuí, tanto que seu trecho inicial era mais
conhecido como “descida da praia”. Na verdade, a Moron nasce na margem do Jacuí e
termina na esquina da Praça José Bonifácio
quando cruza com a Rua Milan Krás. A
partir do Posto Esso, de Arthur Radünz, ela
passa a denominar-se Marechal Floriano.
Mas isso já é o fim da história. No início
do século 19, quando Cachoeira tinha denominação de Freguesia de Nossa Senhora da
Conceição, a futura Moron era conhecida
como a Rua da Igreja. Antes da construção
da Ponte-barragem do Fandango existia no
leito do rio uma grande ilha que dividia o rio
em dois canais. As navegações de menor
calado carregavam e descarregavam suas
cargas naquele local. No verão chegava-se à
ilha sem auxílio de barcos. Era o local preferido para banhos. Hoje, o local para banhos é a Praia Nova, que naquela época era
impróprio para banhos, pois a correnteza
era muito forte e não oferecia segurança.
Os barcos de menor calado carregavam
e descarregavam suas cargas no local onde
existiam engenhos de arroz, depósitos de
cargas e mercadorias, administrados pelas
diversas empresas de navegação. Nessa
época, do local onde hoje encontra-se instalada a Retificadora Pelzer até a margem do
rio, a área pertencia a um único proprietário, Cirino Machado de Oliveira, pai de
Alcides, Osório e José Machado de Oliveira.
Alcides Machado de Oliveira, pai de Adail
e Ary, no local da retificadora instalou um
grande armazém e a sede de sua navegação,
a primeira a usar barcos com motor. Tinha
um grande depósito de combustível, gasolina e querosene que era vendido em caixas
de três latas cada uma. Mais tarde, seu filho
Adail o substituiu nos negócios. O mesmo
Adail, ainda menino, quando da revolução
de 1930, foi descoberto como clandestino no
trem que conduzia os cachoeirenses para o
front.
Hoje ainda concentra-se no local, à margem do rio, a sede náutica do Grêmio Náutico Tamandaré, que no início era um depósito para guardar barcos. As embarcações
dali eram levadas no ombro pelos quatro
remadores (eu era um deles. Timoneiro líder da turma, não carregava peso, somente
levava o leme).
PORTO DO JACUÍ: em tempos de
cheia, o desembarque das
mercadorias na Rua Moron
MAXAMBOMBA NA PRAIA VELHA: no início da
Rua Moron, várias balsas transportam
madeira aproveitando a correnteza do rio
RUA MORON na cheia de 1941, até hoje a maior enchente registrada em Cachoeira
A praia velha ao nascer do século 20
O arroz, produto principal de Cachoeira,
era beneficiado na virada do século 20 pelos
engenhos Brasil, de Reinaldo Roesch & Cia
Ltda, São João, de Santos, Radünz & Cia
Ltda, E. Stracke & Cia, Willy Tesch,
Cachoeirense, de Fürstenau & Gressler &
Cia Ltda, e Bom Retiro, de Emílio Garske.
Em época de safra trabalhavam dia e noite
transportando o produto exportado, primeiramente em carroças, depois em caminhões
próprios ou alugados, que eram despachados
pelas diversas navegações fluvial, lacustre
ou marítima. O comércio da descida da praia
era representado pelas casas de Alcides Machado de Oliveira, Vicente Ferraz, João Alemão, Luiz Menegassi, Alexandre Vidal,
Retificadora Pelzer, Abraão Esber, José
Piveta, Alfredo Souza, João Corrêa, Felipe
José João e João Cândido de Moraes, com sua
popular Farmácia São José.
OS MORADORES
Quem habitava a Rua Moron
JOÃO CARLOS MÓR é
uma das mais
privilegiadas memórias de Cachoeira do
Sul, dono de um
invejável espírito de
pesquisa. Ele é o
autor deste texto
que recupera parte
da história da Rua
Moron e o cotidiano
de seus moradores
mais tradicionais
FOTOS ARQUIVO JOÃO CARLOS MÓR
JOÃO CARLOS MÓR / ESPECIAL PARA O JP
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n Sábado e domingo, 16 e 17 de março de 2002 n
RESIDÊNCIA DE JOÃO
ALFREDO Eggers, avô do
jornalista da Globo
Alexandre Eggers
Garcia
As famílias que moravam nas casas da Moron, a partir da descida da praia em direção ao centro:
suspense, levou a mão ao bolso do casaco e leu seu Francisco Figueiró e seu filho Volny.
discurso, sem perceber que estava segurando uma n Na casa que hoje é ocupada pela família Hausen
cópia carbono. Brincadeiras como essa eram muito Castagnino funcionou nos anos 40 a Delegacia de
próprias dos Ghignatti
Polícia, que tinha como funcionários Demenciano
Moraes de Barros, delegado, e os inspetores Waldyr
2. OS POHLMANN. Edgar foi funcionário da Pre- Tibusch, Auro Ramos e Esmelino Mença.
feitura, casado com Gessia Moeller Pohlmann, minha n Atilio Mainieri, sua esposa Pureza e os filhos
colega na aula de Mariana Portinho, em 1930, no Francisco, Maria e Teresinha Onofrio Mainieri
Colégio Elementar, hoje Escola Antônio Vicente da n Isidoro Motta
Fontoura, e Baltazar, casado com uma moça da n Elmira Guardiola da Cunha
n José Brandes e o filho Camelinho
família Pedroso.
n José Salerno
3. DOMINGOS Lisboa, casado com Morena, pais de n Isidoro Neves da Fontoura Filho
Beto e Elci, também era envolvido com transportes. O n Delfino Carvalho Bernardes
proprietário da chácara, onde hoje encontra-se insta- n Newton Luiz Sesti
lada a Cesa com seus silos, era Ezequiel Silva, sogro de n Fernando von Huguel
Elci Lisboa, que tinha uma empresa de transportes n Carlos Alberto Gaspary
com carroças e mais tarde com caminhões International. n Onde hoje é a Casa das Pilchas, que merece ser
Transportavam dia e noite arroz para os engenhos e tombada, morava Floriano Leitão e pessoas que o
embarques fluviais. Tinha sua sede na hoje esquina acompanhavam na propriedade rural.
com a Rua Tiradentes. Dessa esquina até a pracinha n Luiz Teixeira e seu filho, o hoje médico Gilberto
Itororó, onde hoje está o Hospital de Caridade, era n Carlos Pereira Krieger e sua filha Izolina, que foi
casada com o herói da Segunda Guerra Mundial, o
mato fechado.
cachoeirense Danilo Moura, piloto de caça da Força
4. OUTRA empresa era de Irineu Brito e seu filho Aérea Brasileira, que lutou na Itália. Seu avião foi
Adão, que atuava como motorista. Na velhice, Adão abatido, saltou de pára-quedas, conseguindo reperdeu a visão e deslocava-se pela cidade vendendo tornar a sua base, atravessando as linhas alemãs
loterias. Muitas vezes encontrei Adão batendo sua vestido de mulher.
bengalinha branca em direção da sua residência, n Francisco Cintra. Seu Chiquinho Cintra, como era
próxima da Cooperativa do Arroz, na margem do rio. conhecido, era o tesoureiro da Coletoria Estadual.
Quando ingressei no serviço público, em 1939, a
5. NO DECORRER do século 20, outras famílias sede da repartição era casa do coletor, Silécio Pinós,
hoje sede do Cachoeira Futebol Clube. Com a aporesidiram nas quadras da Moron:
sentadoria de seu Pinós, o novo coletor, José Manon Antônio Preussler
el Porto, precisou mudar a repartição. Seu Chiquinho
n Arcelo Dávila Mahfuz, pai de Sheila
desocupou sua casa e reformou-a, transformando
n Anapio Pinto
em duas residências, uma moradia do novo coletor
n Isidro Rosa
e a outra parte, a instalação da repartição.
n João Caetano Florence
n Eluiza Vidal com as filhas Maria da Graça e n Aurino Gonçalves da Silva
n A casa hoje ocupada pela Junta de Alistamento
Mariluce
Militar foi residência do Dr. Mário Barros
n Cidico Machado de Lima
n Isidoro Neves da Fontoura, filho de Floriano
n Rubem Fialho da Silva, que vendia lenha
Neves da Fontoura
n Honorino Lima e seu filho Januário Lima
n Dona Isaurina (professora do hoje Instituto João n José Werlang
n Graciano Gonçalves da Silva
Neves da Fontoura)
n Arlindo Alves de Oliveira (oficial de justiça com sua n Pedro Choaire
n Na casa onde hoje há uma oficina era a residênesposa e filhos)
1. SEU OLÍMPIO Lima, sua esposa Maria n Carlos Gama
cia de Irineu Maydana e seu filho Canivete
Elmiria, mais conhecida por dona Pequena, pais n Octacílio Carvalho Bernardes
n Nas duas calçadas da Praça José Bonifácio eram
de 12 filhos: Emigidio, Helenio, Elmiria, Enio, n Dona Cuchinha e sua irmã Dalica. Mais tarde esse as residências das famílias Pedro Leão e Luiz Leão,
Elio, Elcio, Elza, Edemar, Emir, Elvio, Eunice (foi imóvel foi adquirido e demolido para a construção da proprietário do bar Ponto Chic, e o Posto Fiscal
casada com Ivo Diniz) e Edyr de Araújo Lima. Fui residência do promotor Wanderlei Willig
Federal, criado e instalado nessa rua em 1916,
colega de Edyr Lima no Ginásio Roque Gonzales, n Na esquina das ruas General Osório e Moron onde trabalhou Olavo Mayrinck e Francisco Petrucci,
hoje Gonçalves. Trabalhei com Elvio e Ivo Diniz morava Miguel Facchin, oficial do Registro de Imó- pai de Miguel, Gentil, Ubirajara e Cláudio Petrucci
no Banco da Província. Quando ingressei no veis. Seu primeiro casamento foi com Diva Costa n Antônio Figueiredo, avô de Angela Schumacher
serviço público, em 1939, na Coletoria Estadual, Facchin, mãe de Eny, Érico (Queti) e Roberto. Em Schuh, secretária municipal de Educação
fui colega de seu Olímpio, que, como fiscal do segundas núpcias, com Lélia, nasceram Miguel, Maria n Igreja Metodista
imposto de consumo, hoje circulação de merca- e Isabel. Também foi residência da família do delega- n No local onde hoje está a oficina de Dercy Lisboa
dorias, estava encerrando suas atividades, pela do de Polícia Ruy Weber Dias. No terreno ao lado de era a residência e oficina de Manoel Antônio Gonaposentadoria. Na ocasião, seu Olímpio foi ho- Miguel Facchin, a propriedade hoje pertencente à çalves, piloto do Aeroclube local, que faleceu em
menageado pelas autoridades, entidades de clas- família de Vando Bitencourt foi construída por Queti 1947, junto com sua filha de 15 anos, no acidente
se e seus amigos com um grande banquete nos Facchin, que ali morou com a esposa Zilah e filhas com o avião Maria Quitéria, em Cerro Branco
salões da Sociedade Italiana, hoje sede social do Diva Regina e Helena Beatriz. Posteriormente tam- n Ismael Pereira, pai de Maria, casada com
Grêmio Náutico Tamandaré. O orador oficial bém residiu ali a família de Chiquinho Bifano.
Euclides Bacchin
convidado foi Carlos Ghignatti, um dos tios do n Maestro Souto Menor
n Palmira Neubauer, modista
hoje médico Sérgio Ghignatti. Como na época era n Waldemar Bartmann
n Na esquina com a Rua Milan Krás, em 1912,
comum deixar a palavra à disposição a todos que n Francisco Bittencourt Severo
instalou-se uma usina elétrica, sob administração
quisessem saudar o homenageado, o capitão n Aracy Severo Godoy, viúva de Ataliba Godoy
da municipalidade, com três quinas francesas da
Miguel Dutra, capitão da marinha do Jacuí, como n João Eggers Garcia
marca Belevile. Em 1918 foi vendida ao coronel
ele gostava de se identificar, solicitou a Carlinhos n Eurico Machado
João Ganzo Fernandes, gerente da Cia Telefônica
Ghignatti, seu amigo pessoal, que escrevesse um n Na esquina onde hoje está sendo construído o Riograndense. Em 1923 passa a denominar-se Cia
discurso para fazer a homenagem a seu Olímpio. shopping de Orlando Tischler funcionava a funilaria Riograndense de Uzinas Elétricas. Encampada em
Carlinhos, como todos os Ghignatti, preparou de Borba & Badineli, que alugava bicicletas por hora. 1952, passa a ser administrada pelo Estado. Entre
uma peça. Na hora das homenagens, ao som de As casas seguintes: Orlando da Cunha Carlos, João outros, foram gerentes José Brandes, um dos funum cafezinho e um bom charuto, a palavra foi Mattos Guimarães e seu filho Epaminondas, avô da dadores da Sociedade Beneficente União Operária
dada ao capitão, que, levantando, fez o clássico atriz Daniela Escobar (a Maísa na novela O Clone) e 1º de Maio, em 1900, e Osmar Santos
Comunicado
A Dra. Silvia Lisboa (ginecologista
e obstetra) comunica à comunidade
cachoeirense que está conveniada
ao IPE desde 8/3/2002.
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