Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas,
Agrárias e da Saúde
ISSN: 1415-6938
[email protected]
Universidade Anhanguera
Brasil
Marques Lopes, Flavio; Lacerda de Oliveira, Eliene; Costa, Genilza Erica da; Aleluia Batista, Karla de
Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em
pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea
Ensaios e Ciência: Ciências Biológicas, Agrárias e da Saúde, vol. 14, núm. 1, 2010, pp. 103-115
Universidade Anhanguera
Campo Grande, Brasil
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Ensaios e Ciência
Ciências Biológicas,
Agrárias e da Saúde
Vol. 14, Nº. 1, Ano 2010
Flavio Marques Lopes
Faculdade Anhanguera de Anápolis
[email protected]
Eliene Lacerda de Oliveira
Faculdade Anhanguera de Anápolis
[email protected]
Genilza Erica da Costa
Faculdade Anhanguera de Anápolis
[email protected]
Karla de Aleluia Batista
Faculdade Anhanguera de Anápolis
[email protected]
DOSAGEM SÉRICA DE PROTEÍNA C-REATIVA
COMO MARCADOR MOLECULAR DE PROCESSO
INFLAMATÓRIO EM PACIENTES QUE
REALIZARAM CIRURGIA CARDÍACA
SUBMETIDOS A CIRCULAÇÃO EXTRACORPÓREA
RESUMO
O uso da circulação extracorpórea na cirurgia cardíaca desencadeia uma
resposta inflamatória, pois o contato do sangue com superfícies não
endoteliais leva a liberação de componentes moleculares estimulando assim
a liberação de citocinas. O fígado responde a este processo com a sintetização
da proteína C-reativa, sendo que esta é uma proteína de fase aguda. Durante
o estudo, tivemos como objetivo principal a avaliação dos níveis plasmáticos
da proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório cardíaco. A
pesquisa foi realizada na cidade de Anápolis no Hospital Evangélico Goiano
entre Julho de 2009 a Março de 2010. De abordagem quantitativa descritiva.
Foi possível trabalhar com grupo de 27 pacientes sendo (66,6%) homens e
(33,3%) mulheres, divididos em grupos que realizaram a cirurgia cardíaca
sem circulação extracorpórea (40,74%) e grupos que realizaram cirurgia com
circulação extracorpórea (59,25%). Os resultados foram obtidos no préoperatório, 6 e 12 horas após a cirurgia cardíaca. Concluindo que tantos
pacientes que realizaram a cirurgia sem circulação extracorpórea quanto aos
que realizaram a cirurgia com uso da circulação extracorpórea mantiveram
os níveis plasmáticos de proteína C-reativa elevados nas 12 horas após o
procedimento cirúrgico.
Palavras-Chave: processo inflamatório; reperfusão; pré-operatório; pósoperatório.
ABSTRACT
Anhanguera Educacional Ltda.
Correspondência/Contato
Alameda Maria Tereza, 2000
Valinhos, São Paulo
CEP 13.278-181
[email protected]
Coordenação
Instituto de Pesquisas Aplicadas e
Desenvolvimento Educacional - IPADE
Artigo Original
The use of cardiopulmonary bypass in heart surgery triggers an
inflammatory response, because the contact of blood with nonendothelial
surfaces leads to release of molecular components stimulating the release of
cytokines. The liver responds to this process with the synthesis of C-reactive
protein, and this is an acute phase protein. During the study, had as main
objective the evaluation of plasma levels of C-reactive protein in the
preoperative and postoperative heart. The survey was conducted in the city
of Anápolis in the Hospital Evangélico Goiano from July 2009 to March 2010.
Descriptive quantitative approach. It was possible to work with group of 27
patients (66,6%) and men (33,3%) women were divided into groups who
underwent cardiac surgery without cardiopulmonary bypass (40,74%) and
groups who underwent surgery with cardiopulmonary bypass (59.25%). The
results were obtained preoperatively, 6 and 12 hours after cardiac surgery.
Concluding that many patients who underwent cardiopulmonary bypass
surgery without regard to who performed the surgery using the
cardiopulmonary bypass remained the plasma levels of C-reactive protein
elevated at 12 hours after surgery.
Keywords: inflammatory process; reperfusion; preoperative, postoperative.
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Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea
1.
INTRODUÇÃO
A inflamação é um fenômeno biológico que consiste em uma reação fisiológica frente a
uma agressão, sendo também considerado como parte do sistema imunitário, chamado
sistema imune inato, assim denominado por sua capacidade de proteção contra
microorganismo que rompem as barreiras epiteliais e entram nos tecidos ou circulação
(BLACHER; RIBEIRO, 2003; ABBAS; LICHTMAN, 2008).
A fase aguda da inflamação ocorre em resposta a agentes bacterianos, virais,
fúngicos, parasitários, traumas, isquemias, necrose, neoplasias e irradiações (FORTE,
2007). A inflamação consiste no recrutamento de leucócitos e no extravasamento de
líquido intersticial no local da infecção levando a ativação destes leucócitos e de proteínas,
por exemplo, as citocinas para eliminarem o agente infeccioso (MOURA et al., 2001).
O sistema imunológico natural consiste em barreiras epiteliais, células circulantes
e teciduais, e proteínas plasmáticas. As principais células efetoras da imunidade inata são
os neutrófilos, os fagócitos mononucleares, e células natural Killer (NK). Algumas das
células da imunidade inata especialmente macrófagos e células NK, secretam citocinas
que ativam os fagócitos e estimulam a reação celular da imunidade inata (ABBAS;
LICHTMAN, 2008).
As citocinas são polipeptídios que atuam em concentrações muito baixas,
podendo formar proteínas glicosiladas ou não, cuja ação é extremamente rápida, sempre
são necessário receptores para efetuar suas ações (FORTE, 2007), funcionam como
mensageiros intercelulares e atuam como um dos principais mediadores da resposta
inflamatória, sendo responsáveis por respostas vasculares e por disfunções orgânicas
verificada na sepse e na circulação extracorpórea (BRASIL et al., 1999).
Quando pequenas quantidades de citocinas são liberadas nos tecidos
predominam os efeitos benéficos, determinando ativação do mecanismo de defesa do
organismo contra o agente agressor, entretanto se as produções desses mediadores são
excessivas podem provocar efeitos maléficos ao organismo (BRASIL et al., 1999), tais
como indução a agregação plaquetaria causando danos as celulas endoteliais, formação de
ateroma e crises convulsivas (MACHIAVELLI; PIO, 2008).
As citocinas cumprem um papel de estabelecer comunicação entre vários
elementos do processo inflamatório, e pelo seu papel de ligação também são conhecidas
como interleucinas (IL). As principais citocinas envolvidas na resposta inflamatória pós
cirurgia cardíaca e circulação extracorpórea são IL-8, IL-6, IL-1, IL-10 e também podem
Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista
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ocorrer alterações da concentração do fator de necrose tumoral (BLACHER; RIBEIRO,
2003).
Na resposta de fase aguda os níveis de algumas proteínas plasmáticas caem,
enquanto outras aumentam marcadamente. As proteínas que a síntese é induzida por
fator de necrose tumoral (TNF), IL-1 e IL-6 são chamadas de proteínas de fase aguda,
algumas dessas proteínas são de especial interesse porque mimetizam a ação dos
anticorpos, mas ao contrario dos anticorpos, essas proteínas têm ampla especificidade
para padrões moleculares associados aos patógenos e dependem somente da presença de
citocinas para suas funções (JANEWAY et al., 2007).
A proteína C-reativa, é membro da família das pentraxinas, assim denominadas
por serem formadas por cinco subunidades idênticas (JANEWAY et al., 2007) é uma
proteína de fase aguda, produzida pelo fígado em resposta às citocinas, como a IL-6,
possui meia-vida plasmática curta (possuindo uma meia-vida entre 8 a 12 horas) sendo
responsável por amplificar a resposta imune, aumentando a lesão tecidual e participar na
ativação do sistema complemento (TEIXEIRA et al.,2009).
Este constituinte do soro foi descoberto em 1930 por Tillet e Francis, pois
observaram a interação do soro de pacientes em recuperação de infecção pneumocócica
com polissacarídeo C do Pneumococo, nesta reação formava-se floculados visíveis que
permitiram extensos estudos, e purificação da proteína C-reativa (PCR) no soro.
Demonstrando que a PCR está presente no soro de pacientes com outros distúrbios além
de infecções pneumocócicas, mas que as concentrações desta proteína se elevam
marcantemente sempre que houver necrose tecidual. Devido sua capacidade de reagir
com o polissacarídeo C somático de Pneumococos e precipitá-lo recebeu o nome de
proteína C-reativa (HENRY, 2006; WERLE et al., 2005).
A dosagem da PCR pode ser útil para diferenciar entre desordens inflamatórias e
não-inflamatórias. A verificação dos níveis da PCR pode detectar precocemente
complicações inflamatórias em pacientes no pós-operatório de cirurgia cardíaca (WERLE,
2005). A PCR é um análito estável e não sofre habitualmente interferência da alimentação,
portanto não sendo necessário jejum, além disso, a PCR exibe níveis estáveis nos
indivíduos e variações circadianas insignificantes, é facilmente aferida e possui baixo
custo, fazendo com que está proteína seja um método simples na marcação de processo
inflamatório (COPETTI; LUTZ, 2009).
A cirurgia cardíaca é importante devido ter capacidade de modificar a historia
natural das malformações cardíacas, podendo ser paliativo ou curativo, oferecendo tanto
correção fisiológica quanto anatômica (VIEIRA et al., 2002). A cardiopatia congênita pela
106
Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea
sua complexidade requer quase sempre abordagem multidisciplinar, incluindo terapia
intensiva, cardiologia intervencionista e a cirurgia. Os defeitos cardíacos congênitos
incluem: comunicação interatrial, comunicação interventricular, persistência do canal
arterial ou ducto arterial, coartação de aorta e tetralogia de Fallot (LEITE et al., 2009;
SUZUKI, 2004; VIEIRA et al., 2002).
Novas tecnologias, dentre elas a circulação extracorpórea possibilitam que o
coração seja operado ficando sem atividade contrátil por um determinado período, assim
podendo realizar de acordo com cada cirurgia as delicadas suturas no músculo cardíaco
(LEITE et al., 2009). Existem três tipos de cirurgia cardíaca: as corretivas nas cardiopatias
congênitas; as reconstrutoras que envolvem a revascularização do miocárdio e plastia de
valva aórtica, mitral ou tricúspide; as cirurgias substitutivas sendo elas as trocas valvares
e transplante (GALDEANO et al., 2006).
A circulação extracorpórea (CEC) cardiopulmonar corresponde a uma forma
mecânica de fazer circular e oxigenar o sangue do paciente (CINTRA et al., 2005), trata-se
de um método padrão usado durante o procedimento de cirurgia cardíaca, cuja, função
fundamental é desviar o sangue do coração e pulmões com a finalidade de propiciar um
campo cirúrgico estacionário, sem sangue e promover preservação da função ótima do
órgão (WOODS et al., 2005; MEEKER; ROTHROCK, 2007). A máquina de CEC é
composta por cânulas venosas e arteriais; oxigenador de bolhas ou de membranas;
trocador de calor; bomba de rolete; filtros; sucção de cardiotomia e sensores que detectam
bolhas de ar (WOODS et al., 2005).
Neste contexto a circulação extracorpórea é considerada uma tecnologia em
permanente evolução, na qual os princípios básicos se encontram bem estabelecidos,
porém, seus efeitos sobre o organismo humano ainda não estão inteiramente esclarecidos,
bem como ainda são especulativos diversos mecanismos das reações do organismo à
circulação extracorpórea (SOUZA, 2006).
As doenças cardiovasculares representam importante problema de saúde
pública, visto que constituem a principal causa de morbidade e mortalidade
representando alto custo em assistência médica (GUS et al., 2002), levando
conseqüentemente ao aumento de procedimento de cirurgias cardíacas.
Durante as cirurgias cardíacas, vários fatores podem causar a síndrome
inflamatória sistêmica, tais como: exposição do sangue a superfície e condições não
fisiológicas, trauma cirúrgico, isquemia-reperfusão, liberação de endoxinas que
contribuem para o desenvolvimento de complicações no pós-operatório (ARKADER;
CASELLA, 2004).
Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista
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Este trabalho teve como principal objetivo avaliar a relação entre os níveis de
proteína C-reativa e a cirurgia cardíaca correlacionando à circulação extracorpórea.
2.
METODOLOGIA
O presente estudo consiste em abordagem descritiva e quantitativa, foi realizada na
cidade de Anápolis, Goiás, no Hospital Evangélico Goiano, com paciente que foram
submetidos à cirurgia cardíaca e a dosagem sérica de proteína C-reativa foi realizada no
Laboratório Evangélico. O estudo foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Associação Anhanguera Educacional S.A. de acordo com o protocolo nº
014/2010. Durante oito meses foram obtido 27 amostras de pacientes de ambos os sexos
submetidos à cirurgia cardíaca, que consentiram a participação no desenvolvimento do
trabalho, por meio da assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido.
A coleta no pré-operatório foi realizada no Laboratório Evangélico Goiano, no
pós-operatório foram realizadas duas coletas, sendo a primeira coleta 6 horas e a segunda
coleta 12 horas após o procedimento cirúrgico com o paciente interno no hospital na
Unidade de Recuperação de Cirurgia Cardíaca, como o laboratório está localizado nas
dependências do hospital as amostras foram encaminhadas diretamente para o
laboratório com os cuidados específicos para transporte do material. As amostras
sanguíneas foram coletadas após realização de assepsia local com álcool a 70% por punção
venosa, por meio de vacutainer, no entanto em pacientes com difícil acesso venoso a
punção foi realizada com seringa de polipropileno estéril. As amostras foram distribuídas
em tubos com gel separador para obtenção do soro.
A determinação quantitativa da proteína C-reativa foi realizado por meio de
turbidimetria automatizado (selectra XL), cujo principio analítico é o método
turbidimétrico com látex aprimorado. A presença ≥5mg de PCR na amostra causa
aglutinação das partículas de látex cobertos com anticorpos antiproteína C-reativa (antiPCR). O grau de aglutinação é proporcional a concentração de proteína C-reativa na
amostra. Esse processo de aglutinação baseia-se na detecção ótica de partículas muito
pequenas suspensa em meio líquido, formando imunocomplexos. A diluição adquire
turbidez, que é proporcional a quantidade de antígenos presente na amostra (LIMA et al.,
2007).
Todas as análises foram realizadas em triplicatos, e os dados obtidos foram
tabulados em planilha de Microsoft Office Exell, e transferidos posteriormente para
Statistica 7.0 onde foram realizados os testes ANOVA e TUKEY.
108
Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea
3.
RESULTADOS
Foram avaliados 27 pacientes no período de julho de 2009 a março de 2010, sendo 18
(66,6%) homens, com média de idade 62,7 (±12,2) e 9 (33,3%) mulheres com média de
idade 58,1 (± 13,1). Estes foram submetidos à cirurgia cardíaca sem CEC e com o uso da
CEC, onde 59,25% dos pacientes realizaram a cirurgia sem CEC, sendo 62,5% do sexo
masculino e 37,5% do sexo feminino e, 40,74% dos pacientes que realizaram a cirurgia
com CEC 72,7% foram do sexo masculino e 27,3% do sexo feminino.
Os níveis de PCR em pacientes do sexo masculino no pré-operatório apresentou
um valor médio de 0,45 mg/dL, 6 horas após a cirurgia cardíaca sem a CEC é evidente
um leve aumento (1,59 mg/dL) que se acentua após 12 horas de cirurgia como pode ser
verificado na Figura 1.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2010, Anápolis/GO.
Figura 1. Níveis de proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório de cirurgias cardíacas realizadas no
Hospital Evangélico Goiano sem circulação extracorpórea – Sexo Masculino.
Analisando os valores encontrados para este grupo de pacientes é possível
verificar uma diferença estatística significativa dos valores de pré-operatório e após 6
horas de cirurgia, bem como após 12 horas levando a observar aumentos gradativos de
PCR nas primeiras horas, intensificando no segundo momento (Tabela 1).
Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista
109
Tabela 1. Verificação de diferença significativa entre as dosagens de PCR em homens.
Cirurgia
SEM CEC
Com CEC
Tratamento
n
Pré-tratamento
10
0,45c
0,21
10
b
0,93
6 horas
Valor de PCR
1,59
a
Desvio padrão (+/-)
1,89
12 horas
10
11,52
Pré-tratamento
8
0,56c
0,77
8
b
0,90
6 horas
12 horas
8
1,59
11,75
a
1,8
Dados obtidos em um mesmo procedimento cirúrgico seguidos de letra diferente apresentam diferença
estatística significativa (P < 0,05); Teste Tukey e ANOVA.
Valores encontrados de PCR em pacientes do sexo masculino que realizaram
cirurgia cardíaca com CEC no pré-operatório foi de 0,36 mg/dL verificou-se um discreto
aumento nas 6 horas após o procedimento cirúrgico com média de 1,64 mg/dL, ao
contrario dos valores obtidos após 6 horas nos resultados após 12 horas foi evidente um
aumento com média de 11,43 mg/dL, podendo ser verificado na Figura 2.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2010, Anápolis/GO.
Figura 2. Níveis de proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório de cirurgias cardíacas realizadas no
Hospital Evangélico Goiano com circulação extracorpórea – Sexo Masculino.
Observando os valores encontrados para estes pacientes verificou-se uma
diferença considerável dos valores de pré-operatório e 6 horas após a cirurgia, enquanto
que nas 12 horas após o procedimento cirúrgico observou um aumento significativo dos
valores de PCR (Tabela 1).
A média de valores de PCR encontrados em pacientes do sexo feminino no préoperatório foi de 0,94 mg/dL, 6 horas após a cirurgia cardíaca sem CEC não houve
aumento significativo (0,96 mg/dL), podendo observar que após 12 horas da cirurgia os
110
Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea
níveis de PCR encontrados foram relativamente elevados podendo ser observado na
Figura 3.
Fonte: Elaborado pelos autores, 2010, Anápolis/GO.
Figura 3. Níveis de proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório de cirurgias cardíacas realizadas no
Hospital Evangélico Goiano sem circulação extracorpórea – Sexo Feminino.
Examinando os valores encontrados nos pacientes do sexo feminino não foi
possível verificar diferença estatística entre o pré-operatório e 6 horas após cirurgia, podese observar um aumento dos níveis de PCR nas 12 horas após o procedimento cirúrgico
(Tabela 2).
Tabela 2. Verificação de diferença significativa entre as dosagens de PCR em mulheres.
Cirurgia
SEM CEC
Tratamento
n
Valor de PCR
Desvio padrão (+/-)
Pré-tratamento
6
0,94b
0,90
6 horas
6
0,96
b
0,91
12 horas
6
8,67a
3,07
3
b
0,37
b
0,55
Pré-tratamento
Com CEC
6 horas
12 horas
3
3
0,41
0,99
10,66
a
1,18
Dados obtidos em um mesmo procedimento cirúrgico seguidos de letra diferente apresentam diferença
estatística significativa (P < 0,05); Teste Tukey e ANOVA.
O nível de PCR do sexo feminino que realizaram cirurgia cardíaca com CEC, no
pré-operatório apresentou uma média de 0,41 mg/dL, nas 6 horas após o procedimento
cirúrgico é possível verificar um leve aumento dos níveis de PCR (0,99 mg/dL), no
entanto após 12 horas de cirurgia observa-se um aumento destes valores com média
10,66mg/dL (Figura 4).
Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista
111
Fonte: Elaborado pelos autores, 2010, Anápolis/GO.
Figura 4. Níveis de proteína C-reativa no pré-operatório e pós-operatório de cirurgias cardíacas realizadas no
Hospital Evangélico Goiano com circulação extracorpórea – Sexo Feminino.
Após analise dos valores encontrados para este grupo não é possível observar
uma diferença estatística significativa dos valores de pré-operatório e após 6 horas de
cirurgia, nas 12 horas após o procedimento cirúrgico é evidente que a cirurgia com CEC
favoreceu o aumento dos níveis de PCR, mas não apresentou diferença estatística entre os
procedimentos cirúrgicos (Tabela 2).
Correlacionando a dosagem de PCR entre sexo masculino e feminino é possível
observar que para as mulheres os valores no pré-operatório e 6 horas após o
procedimento cirúrgico sem CEC não apresentaram variações estatística, enquanto que
para homens está diferença foi significativa. Após 12 horas da cirurgia cardíaca sem CEC
observa-se que pacientes tanto do sexo masculino quanto feminino apresenta variações
estatisticamente significante, podendo ser observado na Tabela 3.
Tabela 3. Verificação de diferença significativa entre as dosagens de PCR entre sexo.
Cirurgia
Sexo
SEM CEC
Masculino
Com CEC
SEM CEC
Feminino
Com CEC
Tratamento
Pré-tratamento
6 horas
12 horas
Pré-tratamento
6 horas
12 horas
Pré-tratamento
6 horas
12 horas
Pré-tratamento
6 horas
12 horas
n
Valor de PCR
10
10
10
8
8
8
6
6
6
3
3
3
c
0,45
1,59d
11,52a
0,56c,d
1,59c,d
11,75a
0,94c,d
0,96c,d
8,66b
0,41c,d
0,98c,d
10,66a,b
Desvio padrão (+/-)
0,21
0,93
1,89
0,77
0,90
1,78
0,90
0,91
3,07
0,37
0,55
1,18
Dados obtidos em um mesmo procedimento cirúrgico seguidos de letra diferente apresentam diferença
estatística significativa (P < 0,05); Teste Tukey e ANOVA.
112
Dosagem sérica de proteína C-Reativa como marcador molecular de processo inflamatório em pacientes que realizaram cirurgia cardíaca submetidos a circulação extracorpórea
4.
DISCUSSÃO
Galantier et al. (2008), demonstraram que a PCR tem uma elevação significativa de seus
valores no período de segmento pós-operatório, podendo corresponder ao aparecimento
de complicações infecciosa, ou ainda estar relacionado a um aumento da resposta
inflamatória induzida pela CEC. Em nossos estudos não houve diferença significativa nos
grupos do sexo masculino que realizaram cirurgia cardíaca sem e com CEC.
Gomes; Braile, (2008), demonstraram que a cirurgia cardíaca sem CEC diminui a
resposta inflamatória sistêmica. No entanto nosso estudo observou que não houve
alterações significantes dos níveis de PCR em indivíduos que realizaram cirurgia cardíaca
com e sem CEC, com exceção do sexo feminino na cirurgia cardíaca sem CEC apresentou
um nível de PCR abaixo dos demais valores encontrados nos resultados de 12 horas.
A resposta inflamatória sistêmica induzida pela CEC é uma seqüência de eventos
que envolvem quase todas as células do corpo. Após a agressão, o organismo reage
ativando o mecanismo de defesa no sentido de proteger o tecido afetado e destruir o
agente agressor, dando início ao processo inflamatório (BRASIL et al., 1999). É difícil a
diferenciação de processo inflamatório com infecção, pois os marcadores disponíveis
utilizados como a PCR, contagem leucocitária são muitas vezes inconclusivo para realizar
tal diferenciação (ARKADER; CASELLA, 2004).
Estudos de Potsch et al. (2006), mostraram que o nível de PCR encontrava-se
significativamente mais elevado nos pacientes que tiveram diagnóstico final de infarto
agudo do miocárdio (IAM), justificando, os resultados apresentados na Figura 3, onde
níveis de PCR esteve elevado no pré-operatório em três pacientes que são facilmente
identificados por suas idades 50, 54 e 77 anos.
Vegni et al. (2008), demonstraram em seus estudos que o uso de
hemocomponentes está associado com aparecimento de infecções nosocomiais, dano
pulmonar agudo, tempo de internação na UTI e letalidade. Neste mesmo estudo foi
possível associar as complicações no pós-operatório com o tempo prolongado de CEC.
No estudo de Brasil et al. (1999) avaliou-se que o emprego de hemofiltros durante
a CEC tem a finalidade de retirar as citocinas da circulação, visando a diminuição da
resposta inflamatória induzida pela CEC, e o uso de circuitos de CEC revestido com
heparina tem como objetivo diminuir a resposta inflamatória pós-CEC, este procedimento
não influenciou em nosso estudo, visto que os valores encontrados de PCR sem e com
CEC não apresentaram diferença estatística.
Flavio Marques Lopes, Eliene Lacerda de Oliveira, Genilza Erica da Costa, Karla de Aleluia Batista
113
Kohler et al. (2003), observaram em seus estudos que a duração da cirurgia
cardíaca e da CEC não estão associados com o processo inflamatório, o que pode ser
justificado pelo desenvolvimento de melhores técnicas de proteção miocárdica intraoperatório, incluindo o emprego de soluções cardioplégicas e de novos anestésicos.
Neste estudo os valores da PCR no pós-cirúrgico de 12 horas apresentaram
valores médios significativamente diferentes em quase todos os resultados, na população
do sexo feminino este valor apresentou-se estatisticamente diferente dos demais,
isoladamente este grupo apresenta níveis diferentes para os procedimentos cirúrgicos sem
e com CEC, levando a crer que o procedimento com CEC pudesse aumentar a resposta
inflamatória em mulheres, mas para que tal hipótese possa ser confirmada será necessário
ampliar o número amostral desta população.
5.
CONCLUSÃO
Com base nos dados obtidos por meio da análise estatística e na discussão dos resultados,
podemos concluir que não foi encontrado associação do processo inflamatório (PCR) com
o procedimento de CEC em pacientes que foram submetidos à cirurgia cardíaca, a não ser
para a população do sexo feminino, quando observado os níveis de PCR após 12 horas do
procedimento cirúrgico.
Concluímos também que a proteína C-reativa esteve mais associado com o
próprio trauma cirúrgico do que com o procedimento de CEC, tendo em vista que não
houve elevação maior da PCR em pacientes que foram submetidos à CEC, pois os valores
encontrados neste procedimento não apresentaram diferença estatística significante com
os valores de PCR encontrados sem a CEC.
Portanto a cirurgia cardíaca com o procedimento de circulação extracorpórea, em
nosso estudo não influenciou a resposta inflamatória, este ponto positivo pode ser
atribuído aos avanços tecnológicos, que contribuiu para o desenvolvimento de materiais
biocompatíveis que são utilizados na máquina de CEC.
REFERÊNCIAS
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ARKADER, R.; CASELLA, V. Valor da procalcitonina para o diagnóstico de infecção bacteriana no
paciente submetido à cirurgia cardíaca com circulação extracorpórea. Einstein, São Paulo, v.2, n.2,
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Flavio Marques Lopes
Prof. Dr. da Faculdade Anhanguera de Anápolis Cursos de Saúde. Prof. Dr. Universidade Estadual
de Goiás.
Eliene Lacerda de Oliveira
Faculdade Anhanguera de Anápolis.
Genilza Erica da Costa
Faculdade Anhanguera de Anápolis.
Karla de Aleluia Batista
Mestre - Docente do Curso de Farmácia Faculdade Anhanguera de Anápolis.
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