Agrupamento de Escolas Poeta Joaquim Serra
Um ponto de vista sobre o tema “Criatividade e Educação”
sugerido pela Palestra de Sir Ken Robinson.
A Criatividade coloca-se como uma evidência, e encontra-se presente ao nível
das competências do ser humano, e ainda que possa receber várias tentativas
de definição, e se encontre na encruzilhada do inato e do adquirido, poder-seia reconhecer duas características fundamentais: “o pensamento criativo é
autónomo e é dirigido para a produção de uma nova forma” (Suchman 1981).
Contudo, e tal como Sir Ken Robinson reconhece (ver vídeo Part 1 e Part2),
ao invés de ser promovida a curiosidade e a energia que anima a criatividade,
esta é ignorada e estigmatizada, quer a nível social em geral, quer ao nível do
sistema de ensino em particular.
Do ponto de vista do docente, e em termos gerais, e ainda para além das
possíveis objecções e contra-exemplos, este aprecia e valoriza no âmbito do
desempenho dos alunos: a habilidade académica, um clima de motivação e
um conformismo social.
A valorização parece recair numa repetição do que se “convenciona ser
adequado”, e apresenta uma certa visibilidade, até porque o apego aos
paradigmas existentes coloca-se como forma de consolidar o status quo, ao
qual consciente, ou inconscientemente, todos procuram consolidar, para além
das diferentes motivações que os animam.
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Por outro lado, ninguém pode inovar quando se sente ameaçado,
nomeadamente, de perder o emprego, ou de cair no ridículo, face a um
contexto social que valoriza o conformismo. É que afinal é “incomodativo” ser
um “inconformista” versus “polémico”.
Sir Ken Robinson salienta que “perder o medo de errar” significa ter “a
capacidade de fazer algo original”, o mesmo será dizer que quando se
estigmatiza o erro, ou quando se valoriza o que se convenciona certo,
simultaneamente se impede o progresso, e o contacto com novos modos de
ser e estar. Sob a consideração que “todos nascem artistas” (no sentido em
que todos nascem com uma habilidade –ars- e com uma sensibilidade que lhes
permite criar –aisthésis-), importa encontrar as estratégias adequadas a que
as crianças e jovens se mantenham artistas, enquanto adultos.
Neste contexto, desenvolver a competência para errar, e ultrapassar o
estigma, (estigma que pode resultar de diferentes circunstâncias e propósitos,
que não importa agora estabelecer a tipologia), significa propiciar um
desenvolvimento do indivíduo de forma integral enquanto pessoa, e logo
poder consolidar uma nova “ecologia humana”.
Todos os sistemas de ensino, segundo a perspectiva de Sir Ken Robinson,
assentam no mesmo pressuposto hierárquico, o qual é herdeiro da Revolução
Industrial, e que consiste em colocar a Matemática e as Línguas no top dos
conteúdos a aprender, relegando as Humanidades e as Artes para o fim da
hierarquia. O plano de estudos apresentado em geral pela Escola Pública
acaba por estar vocacionado, segundo o comunicador, para reproduzir
habilidades académicas e, como tal, para produzir professores universitários,
como se não existissem outras formas de vida.
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A proposta do comunicador é clara na sua pretensão de propor uma nova
concepção de Ensino, que se alicerce na natureza criativa do humano. Se
temos uma essência que nos define e caracteriza, então devemos saber
encontrar
as
estratégias
adequadas
ao
desenvolvimento
dessa(s)
competência(s). Em causa, encontra-se a possibilidade de aceder ao mundo
do trabalho, a partir da riqueza plural do humano, o que implicará,
igualmente, uma nova maneira de entender o trabalho que se encontra fora
do paradigma vigente.
A formação integral do indivíduo que vive numa sociedade e numa natureza,
pressupõe uma pluralidade de interacções, dando lugar a desafios constantes,
em que os equilíbrios serão a história do percurso que cada um terá que
construir a cada momento. Vale a pena parafrasear com Jonas Salk: “ Se
todos os insectos desaparecessem do planeta em 50 anos a vida na terra
extinguir-se-ia, se os humanos desaparecessem da Terra, em 50 anos todas as
formas de vida floresciam”.
Da consistência do Ensino depende quer numa micro-escala, quer numa
macro-escala, uma nova concepção de humano e de sociedade, daí que os
grandes desafios estejam do lados dos educadores e da coragem que
souberem assumir perante o status-quo, mas igualmente das políticas de
ensino e da consciência de uma opinião pública esclarecida que se deixa
representar.
São diversos os desafios que se colocam ao Ensino ao nível de uma
ensinabilidade do “quê” e do “como”. Mas, há que reconhecer, linguagens
técnicas alternativas, e processos de comunicação, que já não dispensam as
diferentes formas de expressão, e que vão desde diferentes práticas artísticas
(pintura,
fotografia,
gravura,
colagens...,
mas
também
gastronomia,
confecção...), à expressão dramática, e improvisação teatral, à musica e
dança, ao uso das TIC ao nível das mais variadas aplicações, passando pela
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dimensão prática-laboratorial, no âmbito dos diferentes saberes. O lúdico
colocar-se-á como um modo que renasce do criativo e, simultaneamente, lhe
dará consistência, permitindo estabelecer a ponte entre a inteligência,
memória operacional, e a criatividade como o resultado do livre jogo entre
emoções e ideias.
Neste contexto, a formação de professores coloca-se como um direito e
exigência, em que as arcaicas distinções entre a dimensão científica e
pedagógica diluir-se-ão, para quem quiser estar atento aos novos desafios e
conceptualizações.
As Acções de Formação deverão, assim, saber responder às exigências do
Ensino Público, permitindo propiciar a construção de percursos aptos a dar
resposta à diversidade, dinâmica e distinção inerente à Inteligência Humana,
e onde o Racional, o Emocional e o Volitivo jogam uma pluralidade de
combinações possíveis.
A existência de grupos heterogéneos, de Cursos com planos de Estudo plurais
e transversais, que contemplem a diversidade, a dinâmica e a diferença
inerentes ao ser humano, e de docentes capazes de interpretar os novos
desafios – poderão consolidar um novo modo de entender a ecologia humana.
Maria João Pires Mendes
(Artigo apresentado pela 1ª vez na Plataforma Moodle em 2008/2009, na
página da Sala de Estudo da Escola Sec. Poeta Joaquim Serra)
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