A SEXUALIDADE NO ENSINO DE CIÊNCIAS Briseidy Marchesan Soares – [email protected] Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Santo Ângelo- RS Renata de Oliveira Caetano – [email protected] Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Santo Ângelo- RS Sabrina de Sousa Soares – [email protected] Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões - URI Av. Universidade das Missões, 464 Santo Ângelo- RS Resumo: A escola, ao assumir a responsabilidade de incluir a discussão da sexualidade na proposta pedagógica e fazê-la acontecer no cotidiano escolar, partindo da sua integração ao currículo de Ciências, está habilitada a corresponder às expectativas de vida dos jovens. A pesquisa visou investigar a contribuição da abordagem da sexualidade nas aulas de Ciências, para futuras tomadas de decisões pelos adolescentes. O projeto desenvolveu-se na E. M. de E. F. Professora Mathilde Ribas Martins, com 15 alunos do 8º ano, e na E. E. Missões, no 8º ano, com 14 alunos. Foram aplicados pré-testes/questionários, nos alunos das duas escolas para verificar a concepção dos alunos sobre a sexualidade. A partir da análise dos questionários, percebeu-se que a maioria dos estudantes apresentou uma visão deturpada sobre a temática. Então, propôs-se aos alunos discutir a sexualidade através de atividades lúdicas. Após a abordagem da sexualidade, foi aplicado um pós-teste com as mesmas questões e comparado às respostas do pré e pós-teste. As respostas foram agrupadas em três categorias: modificações do corpo na adolescência, métodos contraceptivos e gravidez na adolescência e sexualidade. Constatou-se que as escolas abordam, nas aulas de Ciências, apenas os aspectos biológicos do sistema genital, não discutindo a sexualidade. Com as diferentes modalidades didáticas, o aluno se envolveu no processo e foi o protagonista da sua aprendizagem. A sexualidade ficou mais próxima da sua realidade e conseguiu-se minimizar os “tabus” em sala de aula. Palavras Chave: Sexualidade, Gravidez na adolescência, Métodos contraceptivos, Doenças sexualmente transmissíveis. 1 INTRODUÇÃO Falar de adolescência e sexualidade é, antes de tudo, estar disposto a aprender. O próprio adolescente tem nos ensinado a transparência nas relações, a ternura e o carinho acima dos interesses sociais e o respeito pelos sentimentos. Sexualidade não é algo uniforme, tem variados aspectos e momentos; é uma constante descoberta (ITOZ, 2001). Segundo Braga (2012), as manifestações sexuais que aparecem na escola demonstram, a cada momento, dificuldades que as instituições educativas apresentam quando tratam da temática da sexualidade em seu cotidiano. Uma proposta de orientação sexual adequada, consistente e emancipadora, poderia contribuir o objetivo de tornar toda a comunidade educativa apta a discutir assuntos importantes para o discernimento na área da sexualidade. A ideia de uma vinculação das discussões sobre sexualidade na escola à disciplina de Ciências ainda continua presente nas práticas efetivadas no ambiente escolar. Assim, em consonância com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), a escola ao assumir a responsabilidade de incluir a discussão da sexualidade na proposta pedagógica e fazê-la acontecer concretamente no cotidiano escolar, a partir da sua integração ao currículo de Ciências, está habilitada a corresponder às expectativas próprias dessa etapa de vida dos jovens (BRASIL, 1998; 1999; 2001). A discussão sobre a inclusão da temática da sexualidade no currículo das escolas de ensino fundamental e médio vem se intensificando desde a década de 70, provavelmente em função das mudanças comportamentais dos jovens dos anos 60, dos movimentos feministas e de grupos que pregavam o controle da natalidade (BRASIL,1997). Mas, foi somente em 1998, que o Ministério da Educação e Desporto incluiu a Educação Sexual nos PCNs, não obrigatória, mas recomendada para ações dentro da escola (OLIVEIRA, 2007). A Educação Sexual vem sendo reconhecida, pela maioria dos professores, como necessária e importante no processo formativo dos alunos. Muitos deles se preocupam e se sentem, em vários momentos, inseguros e até temerosos, diante dessa tarefa (FIGUEIRÓ, 2001). Para Becker (2011), falar sobre sexualidade pode ser um tabu que muitas pessoas ainda enfrentam, mas que deve ser tratado com naturalidade. A escola deveria oferecer a orientação sexual aos jovens como um espaço de discussão e de reflexão sobre a própria vida e sobre os valores inerentes à existência humana. Ajudar os alunos a refletir e tomar decisões em questões sérias, como sexo e afetividade, é missão de todos que fazem educação, uma vez que sexualidade faz parte da essência do ser humano e grande parte de sua formação integral depende da instituição escolar, não somente em conteúdo, mas principalmente em relacionamentos (MOIZÉS, 2007). A escola desconsidera questões referentes ao cotidiano do/a aluno/a, às experiências e indagações que surgem no seu dia a dia; ou seja, seriam deixados de lado processos vividos referentes à sexualidade e aos vínculos afetivos, tais como as experiências de iniciação sexual, ficar e namorar, virgindade, afetividade, homossexualidade, homofobia e preconceitos, entre outros (BRITZMAN, 2001). Segundo Meister (2010), o desconforto em falar sobre as diversas faces da sexualidade parece promover nas escolas um acordo tácito de silêncio, dissimulação e negação a respeito da sexualidade, refletindo no que se refere à saúde sexual. A aparente harmonia é tão frágil que pode ser rompida por situações banais e cotidianas, por uma pergunta incômoda, por indivíduos e práticas que desafiam as regras aceitas como padrão as condutas dos humanos. A orientação sexual deve contribuir para que o adolescente viva a sua sexualidade com prazer e responsabilidade [...] ela está diretamente ligada ao exercício da cidadania, ao respeito por si e pelo outro, nas questões de saúde e no direito à informação e ao conhecimento; ou seja, é um processo de intervenção que busca favorecer a reflexão sobre questões gerais da sexualidade (ITOZ, 2001). Os adolescentes que frequentam o 8º ano, geralmente estão na puberdade, momento em que as mudanças físicas determinadas pelas alterações hormonais provocam diversos estados de mudanças comportamentais. É a fase das descobertas e das experimentações em relação à atração e às fantasias sexuais. Os adolescentes entre 12 e 16 anos, encontram-se num período de descoberta do próprio corpo e de sua sexualidade. Diante desses fatos, percebeu-se a necessidade de discutir a temática sexualidade com os estudantes contribuindo para a construção de conhecimentos e para a quebra de “tabus” que rondam a orientação sexual e investigar a contribuição da abordagem da sexualidade nas aulas de Ciências para futuras tomadas de decisões pelos adolescentes. 2 METODOLOGIA O projeto foi desenvolvido na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Mathilde Ribas Martins, com 15 alunos do 8º ano, no período de agosto a dezembro de 2013 e, na Escola Estadual Missões, no 8º ano, com 14 alunos, no período de janeiro a julho de 2014. O projeto foi apresentado à direção e aos professores de Ciências das escolas participantes. Os estudantes foram convidados a participar da pesquisa e a assinar um termo de consentimento livre esclarecido, no qual estava explícito que a pesquisa era voluntária, os objetivos, os procedimentos, a garantia de sigilo e liberdade de recusa, e que necessitariam ser devidamente assinados pelos pais ou responsáveis. Os pais que concordaram que seus filhos participassem, devolveram o mesmo assinado. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da URI, campus Santo Ângelo, sob o número do parecer 228.623. Na primeira etapa do projeto foi aplicado aos alunos um pré-teste com o objetivo de analisar a concepção dos estudantes sobre a sexualidade, conforme a abordagem proposta pela escola no decorrer do ano letivo. Os alunos participantes e as escolas foram identificados alfanumericamente. A Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Mathilde Ribas Martins por E1, os alunos de A1 a A15; a Escola Estadual Missões por E2 e os alunos de B1 a B14, mantendo, dessa forma, a privacidade da identidade de cada participante. Após a análise dos questionários, foram desenvolvidas atividades relacionadas à sexualidade, proporcionando aos alunos uma visão mais ampla da temática e próxima de seu cotidiano, através de discussões e reflexões. Foram utilizadas diferentes modalidades didáticas baseadas no Guia de Educação Integral em Sexualidade entre Jovens no livro Dia-a-dia do professor, o qual aborda a Adolescência, Afetividade, Sexualidade e Drogas. As atividades listadas no quadro 1 foram desenvolvidas no decorrer do projeto, seguindo a metodologia do Guia de Educação Integral em Sexualidade entre Jovens, da Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo, 2012 e do livro Dia-a-dia do Professor, 2002. Quadro 1: Jogos didáticos e dinâmicas utilizadas com os alunos. Fonte: Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo, 2012 e livro Dia-a-dia do Professor 2002. JOGO/DINÂMICA Dinâmica com balões que possuíam em seu conteúdo perguntas. Envolver os alunos em um jogo chamado “Mentiras e tabus sobre sexo”. Onde está no desenho do boneco? O que pode ser trabalhado através dele Abordaram-se os assuntos gerais da sexualidade, para uma familiarização ao que seria apresentado. Aborda higiene corporal, gravidez, virgindade, ciclo menstrual, doenças, métodos contraceptivos e homossexualidade. Aborda as diferenças físicas entre o corpo O que é, o que é... Negociando o uso do preservativo, através de pequenas charges (HQ). Sessão pipoca. Árvore dos prazeres. Homossexualidade em debate através de cartazes e filme. Você valoriza as suas opções sexuais? de homens e mulheres. Trata-se mais especificamente de um jogo que fala da eficácia dos métodos contraceptivos e a sua especificidade para cada caso. Abordar a importância da utilização do mesmo, adentrando nas doenças sexualmente transmissíveis. Utilização de recurso visual (filme) estimulando o aluno a conhecer os malefícios do esquecimento do uso dos métodos contraceptivos. Aborda nesse contexto um prazer que o aluno tem relacionado ao sexo, uma consequência e um método preventivo que evite as possíveis consequências. Faz uma menção às reações possíveis que o aluno pode gerar, ao se deparar com certas situações relacionadas a injustiças perante a opção sexual do outro. Aborda o contexto da pressão exercida no psicológico do indivíduo através desses quesitos: - Motivos pelos quais eu devo manter relações sexuais; -Motivos pelos quais não devo manter relações sexuais. Após a realização das atividades pedagógicas (quadro 1) foi aplicado um pós-teste, contendo as mesmas questões do pré-teste, a fim de comparar as respostas e identificar as possíveis contribuições que essas atividades possam ter gerado na construção do conhecimento dos alunos. A análise textual de Moraes (2005) foi utilizada para a interpretação qualitativa dos dados. A análise qualitativa foi realizada em etapas, nas quais a construção de categorias teve como referência as respostas dos alunos. Na primeira etapa, através da coleta dos dados foram analisadas as respostas dos estudantes para construção de conjuntos de categorias. Na 2ª etapa, foi discutida a análise de cada uma das respostas dos alunos e as categorias construídas, por meio da comparação e das interpretações das respostas do pré e do pós-teste aplicados. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES A pesquisa foi realizada em duas escolas com um total de 29 estudantes. Na Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Mathilde Ribas Martins (E1), participaram 15 alunos, do 8º ano, com idade entre 12 e 16 anos, sendo 63% do sexo masculino e 27% do sexo feminino. Destes, 32% deles frequentaram a mesma escola desde o início da vida escolar. Na Escola Estadual Missões (E2), participaram alunos com idade entre 13 e 16 anos que cursam o 8º ano sendo 43% meninas e 57% meninos e, 79% dos mesmos frequentaram diferentes escolas no decorrer da vida escolar. Os resultados dos questionários foram organizados em três categorias: modificações do corpo na adolescência; métodos contraceptivos e gravidez na adolescência e sexualidade. 3.1 Modificações do corpo na adolescência No pré-teste e no pós-teste, da escola E1, 52% dos alunos consideraram como as maiores diferenças físicas entre homens e mulheres a presença de seios desenvolvidos, 84% a estrutura do corpo e 26% a presença de pelos no corpo. Em relação às modificações do corpo, no pré-teste da escola E2, 72% dos alunos mencionaram que a estrutura do corpo, presença de pelos no corpo/rosto e seios desenvolvidos são as características mais visíveis, 14% destacaram a altura e o peso corporal e 14% relataram que percebem as modificações na estrutura do corpo, na presença de pelos no corpo/rosto, os seios desenvolvidos, a altura e o peso. No pós-teste, 43% dos alunos mencionaram a estrutura do corpo, na presença de pelos no corpo/rosto, os seios desenvolvidos, a altura e o, 36% destacaram a estrutura do corpo, a presença de pelos no corpo e seios desenvolvidos, 21% citaram a altura e o peso. Adolescência é o período do início da puberdade que varia entre os dez e quatorze anos, em que ocorrem todas as mudanças físicas possíveis no corpo de um adolescente; é nessa fase que ocorre um importante processo transformacional, sendo uma das fases de desenvolvimento mais importantes da vida do ser humano (MATOS, 2002). Percebem-se as modificações externas no rosto e nota-se uma penugem que vai se transformando em barba [...] Outras mudanças internas também ocorrem como a presença de pelos no púbis e as axilas, o crescimento do corpo se acelera e as formas se arredondam nos quadris, nas nádegas e nas coxas” (ROVERATTI, 2010). Os estudantes das duas escolas reconhecem as modificações que ocorrem no seu próprio corpo na adolescência, principalmente as relacionadas à sexualidade, como o crescimento das mamas e a presença de pelos no corpo. Segundo Tanner (1989), é comum para os dois sexos uma variabilidade individual dos fenômenos pubertários, tanto em relação ao seu momento inicial como em relação ao ritmo de sua progressão. Adolescentes da mesma idade podem estar em fases diferentes da puberdade, assim como adolescentes que a iniciam com a mesma idade podem chegar ao término em idades diferentes. Nas meninas, o estrogênio e a progesterona são os responsáveis pelo surgimento das características sexuais secundárias, estando relacionados à vida sexual e reprodutiva. Nos meninos, a testosterona é o hormônio responsável pelo surgimento das características sexuais secundárias, pela produção de espermatozoides e pelo aumento do impulso sexual, da agressividade, do crescimento em altura e da força física, entre outros (TIBA, 1986). A adolescência e puberdade, nas palavras de Roveratti (2010), nos revelam como os adolescentes se sentem a respeito desse processo “ ...a sensação é de que todos estão olhando. Orgulho e vergonha se misturam [...] É natural que surjam inseguranças e medos, pois estão ocorrendo grandes transformações. O jovem começa a se achar “desengonçado”, esquisito nos movimentos. Não poderia ser diferente; braços e pernas crescem mais rápido do que o tronco, causando um certo desequilíbrio. As modificações do corpo dos adolescentes, muitas vezes, na sala de aula e no pátio da escola proporcionam mudanças de comportamentos sexuais como beijos, exploração do corpo do colega, jogos sexuais. O professor poderia pautar-se nessas atitudes para discutir a sexualidade. O educador não pode se omitir; ao contrário, deve orientar brincadeiras e comportamentos, mas sem passar valores morais reprovadores, como se a curiosidade fosse algo negativo, “feio” ou pecaminoso. 3.2 Métodos contraceptivos e a gravidez na adolescência No pré-teste, da escola E1, apenas 13% dos alunos responderam que não sabiam como evitar uma gravidez. Já no pós-teste, 100% deles afirmaram que a forma de evitar uma gravidez é utilizar os métodos contraceptivos em todas as relações sexuais. Dos 14 alunos, da escola E2, que foram questionados no pré-teste sobre os métodos utilizados para evitar a gravidez, 14% dos estudantes não tinham conhecimento sobre o tema. O aluno B1 respondeu: “Tenho relações sexuais sem utilizar nenhum método contraceptivo”. Já no pós-teste 7% dos alunos discordaram de que o melhor método de evitar a gravidez e as DST’s é utilizar os métodos contraceptivos em todas as relações sexuais, como por exemplo, a camisinha masculina ou feminina e os anticoncepcionais. Percebeu-se que os alunos tinham conhecimento dos métodos contraceptivos e acreditavam que utilizando qualquer um dos métodos contraceptivos estariam livres de doenças ou de uma gravidez indesejada. Com a utilização dos jogos didáticos e as discussões que foram proporcionadas aos alunos verificaramse respostas diferenciadas no pós-teste; ou seja, eles perceberam as diferenças entre os métodos contraceptivos. Os métodos contraceptivos mais lembrados nos dois testes, pelos alunos da escola E1 foram a camisinha masculina e a feminina, seguidos da pílula do dia seguinte. Algumas alunas mostraram em suas falas a aversão pelo DIU, por medo de sentir dor. Quando questionados sobre a cura da AIDS no pós-teste, foram unânimes na resposta “não existe cura” e alguns alunos lembraram dos medicamentos utilizados para amenizar os sintomas mais agressivos da doença. Segundo estudos de Oselka (2002) e Silva; Bretas; Fernandes (2003), os adolescentes não possuem informações suficientes para assegurar quais são os comportamentos sexuais livres de riscos de quais são aqueles onde o risco existe. Daí a importância do papel social da escola na educação sexual dos jovens. Entretanto, muitas vezes os professores estão despreparados ou encontram dificuldades para atuar nesse contexto, acabando por transmitir conceitos superficiais, equivocados ou preconceituosos aos alunos (TIBA, 1994). Esse ponto deve ser cuidadosamente observado, uma vez que os professores são educadores e também formadores de opinião, o que significa uma maior responsabilidade e consequentemente exige um preparo e comprometimento muito grande ao tratar esta questão em sala de aula. Apesar da ampla divulgação sobre as formas de prevenção das DST/AIDS desenvolvida no Brasil, muitos jovens ainda não adotam tais práticas, o que aponta uma dissociação entre o acesso à informação e a transformação desse saber em práticas no cotidiano dos adolescentes. Para que essa dissociação diminua, faz-se necessário o acesso à informação efetiva a fim de que seja possível a aquisição de comportamentos favoráveis à promoção de sua saúde, inclusive em sua dimensão sexual e reprodutiva. Os jovens devem ser informados dos vários métodos existentes, modos de ação, vantagens e desvantagens de cada um, para que tenham a possibilidade de realizar uma escolha livre e consciente do método mais adequado à sua situação (ESPEJO et al., 2003). Entre as respostas do pós-teste sobre o significado de uma gravidez na adolescência, o aluno A2 relatou que: “Seria excluído do meu grupo de amigos, e acabaria por perder minha liberdade”, o aluno A3: “Eu nem saberia como sustentar essa criança” e o aluno A15 salientou as transformações no corpo: “O corpo da menina mudaria completamente e ela teria que também parar de estudar”. Os alunos da escola E2 foram questionados sobre as consequências de uma gravidez na adolescência e o aluno B11 respondeu: “Geralmente a menina não está pronta fisicamente para ter um bebê, e o bebê pode vir a nascer com algum problema”; o aluno B12: “Atrapalha os estudos e muitas vezes nem volta a estudar”; o aluno B14: “Tem que ter responsabilidades e tem que trabalhar”. A partir das respostas, observou-se que muitos alunos temem a gravidez na adolescência pelo fato de terem que modificar a sua vida como: começar a trabalhar ao invés de estudar, o medo da exclusão do grupo de amigos e o receio da responsabilidade pela vida uma criança. A gravidez precoce é uma das ocorrências mais preocupantes relacionadas à sexualidade da adolescência, com sérias consequências para a vida dos adolescentes envolvidos, de seus filhos que nascerão e de suas famílias (ROVERATTI, 2010). Porém, se ocorrer uma gravidez na adolescência, o apoio, a compreensão e o acolhimento por parte de pais e educadores são fundamentais para que o adolescente não se desespere e recorra a um aborto “clandestino”, colocando em risco a própria vida (ITOZ, 2001). A gravidez na adolescência, segundo Yazlle (2006), pode trazer consequências muito negativas, partindo desde o abandono escolar, por cobranças da família e até o sentir-se envergonhada com a gravidez e rejeitada por alguns colegas e professores. No entanto, uma das formas de prevenir a gravidez na adolescência, parte de iniciativa dos pais, escolas, governo e sociedade que, atuando de maneira integrada, promovam a prestação das informações e espaços para discussão destas pelos jovens, dando oportunidade destes lidarem com a sexualidade de forma responsável e segura. 3.3 Sexualidade No pré-teste os alunos, da escola E1 responderam que sabiam o que era a sexualidade e o único aluno que a resposta foi diferente do “não sei” foi o A7, que respondeu “É o sexo”. No pós-teste obtiveram-se respostas diferenciadas, nas quais pode se destacar a do estudante B11 que relatou: “Sexualidade pode ser um beijo, o carinho que temos quando estamos namorando, ou mesmo as transformações em nosso corpo quando estamos crescendo”. Falando sobre sexualidade, com os alunos da escola E2, notou-se que os mesmos não compreendiam a diferença entre sexo e sexualidade; para eles tudo girava em torno do ato sexual como mostra as seguintes respostas obtidas no pré-teste: o aluno B10: “Não sei”; B13: “Sexualidade é reprodução, lepo lepo e prazer”; B14 “É a reprodução da espécie”. Perceberam-se no pós-teste algumas modificações nas respostas como, por exemplo, o aluno B7: “Sexualidade são as transformações que ocorrem no corpo durante a adolescência, como a alteração de voz e aumento dos seios”; aluno B11: “São as mudanças que ocorrem no corpo, nós passamos a amadurecer “. O não reconhecimento da sexualidade dos jovens acaba tendo por consequência o aumento da vulnerabilidade desse grupo em relação à saúde sexual e reprodutiva (PIROTTA; PIROTTA, 2005), e esse reconhecimento deve ser abordado a cada dia no ambiente escolar. Dessa forma, Paiva (1992) afirma que a saúde e o comportamento sexual envolvem parâmetros definidores e introdutores da síntese do significado cultural, colocando, na agenda das descobertas, a diversidade de conhecimentos, emoções, percepções, valores, crenças e mitos dos adolescentes sobre sexo, sexualidade e DST. Mais uma vez está claro o papel da escola em esclarecer e sanar a ideia de que o conhecimento ou a falta dele sobre sexo, sexualidade e DST podem ter um valor vital para os jovens. Para garantir o conhecimento sobre DST, o cuidado em proteger os adolescentes deve ser mantido; assim, Agletton (2000) faz referência que o trabalho educativo deve observar os princípios dos direitos sociais dos adolescentes, no que se refere a um conhecimento que conduza à ação e que implique o desenvolvimento de habilidades, para fins da proteção aos jovens. De acordo com os PCN (1997), a orientação sexual deve ser realizada de forma sistemática pela escola, e suas metas não abarcam somente a aquisição de conhecimentos e habilidades básicas das funções reprodutivas, mas, fundamentalmente, a preparação das pessoas para a vida, o desenvolvimento de sua personalidade e maturidade psicoemocional, tornando-a responsável e capaz de tomar decisões, se autorregular e autogerir sua educação. É importante que esteja presente no cotidiano escolar a discussão sobre a postura a ser adotada pelo educador frente às manifestações da sexualidade dos alunos, pois, cabe à escola abordar os diversos pontos de vista, valores e crenças existentes na sociedade para auxiliar o educando a encontrar um ponto de autorreferência por meio da reflexão e crítica da realidade. Nesse sentido, o trabalho de orientação sexual realizado pela escola é complementado pelo trabalho realizado informalmente pela família e outras agências sociais, pois a ela cabe problematizar, levantar questionamentos e ampliar o leque de conhecimentos e de opções para que o aluno escolha seu caminho. Para a Ecos (2001), experiências têm apontado a necessidade de que tais questões sejam trabalhadas de forma contínua, sistemática, abrangente e integrada e não como áreas ou disciplinas específicas. Isso porque a orientação sexual é um processo sistemático e contínuo de intervenção, realizado com o envolvimento de toda a comunidade escolar, assegurando aos alunos espaços necessários para receber informações de forma clara e precisa, que conduzam à reflexão de valores, criatividade e autonomia. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Constatou-se que as escolas abordam nas aulas de Ciências apenas os aspectos biológicos relacionados ao sistema genital masculino e feminino, não discutindo a questão da sexualidade. O conteúdo é trabalhado conforme o livro didático apresenta; ou seja, a anatomia e a fisiologia do sistema genital. As escolas necessitam estar preparadas para discutir o tema da sexualidade com todas as idades e os professores precisam abordar a sexualidade de forma a contemplar as necessidades dos seus alunos. Infelizmente, não podemos fugir dessa temática e deixar que seja trabalhada no próximo ano letivo, porque os alunos estão vivenciando as modificações no seu próprio corpo e, muitas vezes, não conseguem relacionar com o conteúdo da sala de aula. Os dados obtidos na pesquisa revelam que a fase da adolescência é o momento exato para trabalhar com os alunos a sexualidade, pois é nessa fase que estão percebendo e se adaptando às mudanças físicas que estão ocorrendo no seu corpo. A cabeça de um adolescente é um centro de dúvidas e emoções e requer muito cuidado, pois é na adolescência que as descobertas se tornam constantes. Percebe-se que abordando a sexualidade com diferentes modalidades didáticas como jogos, sessões de filmes, discussões, o aluno se sente mais envolvido no processo, sendo o protagonista da sua aprendizagem. A sexualidade ficou mais próxima da sua realidade e ele percebe que os acontecimentos da sua vida são semelhantes aos dos colegas. Trabalhando a sexualidade na sala de aula tenta-se minimizar os “tabus” que geram muitas dúvidas, as crenças e mitos que os atormentam no dia a dia e proporciona-se a reconstrução de conceitos relacionados à sexualidade. 5 REFERÊNCIAS AGLETTON, P. Conferência sobre o estado da arte dos programas de prevenção à Aids no Brasil. Ministério da Saúde. Boletim Epidemiológico AIDS. Semana Epidemiológica, dezembro/1999- junho/2000. BECKER, C. M. A educação sexual e a sexualidade de adolescentes na visão de educadores do ensino médio. Porto Alegre, 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação), Universidade Federal do Rio Grande do Sul. BRAGA, E. R. M. Gênero, Sexualidade e Educação: questões pertinentes à Pedagogia. In: CARVALHO, E. J. G; FAUSTINO, R. C. (org.). Educação e diversidade cultural. 2. ed. Maringá: Eduem, 2012. BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: pluralidade cultural e orientação sexual. Brasília, MEC/SEF, v. 10, p. 164, 1997. BRASIL. 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The present research aimed to investigate the contribution of the approach of the sexuality in Science classes for future decision making by teenagers. The project was carried out at Escola Municipal de Ensino Fundamental Professora Mathilde Ribas Martins with 15 students from 8 th grade, and at Escola Estadual Missões with 14 students from 8th grade. Initial tests were applied with the students of the two schools to check the conception they had on sexuality. From the analysis of the questionnaires it was noticed that most students presented a stained view on the theme. Therefore, we proposed students to discuss sexuality through ludic activities. Following the approach of sexuality, a post test was applied with the same subjects and answers compared with the ones from the previous test. The answers were grouped in three categories: body modifications in adolescence, contraceptive methods and pregnancy in the adolescence, and sexuality. It was verified that, in science classes, schools only approach biological aspects of genital system, leaving the discussion of sexuality behind. Through different didactic modalities the student got involved in the process and was the protagonist of his/her own learning. Sexuality became closer to their reality and it was possible to minimize the “taboos” in the classroom. Key-words: Sexuality, Pregnancy in adolescence, Contraceptive methods, Sexually transmitted diseases.