UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ
ÂNGELA MARIA MARTINS FALCÃO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O USO DO
ÁLCOOL ELABORADAS POR ADOLESCENTES
FORTALEZA – CEARÁ
2009
2
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
ANGELA MARIA MARTINS FALCÃO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O USO DO ÁLCOOL
ELABORADAS POR ADOLESCENTES
Dissertação
apresentada
ao
Curso
de
Mestrado Profissional em Saúde da Criança
e do Adolescente da Universidade Estadual
do Ceará, como requisito parcial para
obtenção do Grau de Mestre.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Lúcia Duarte
Pereira
FORTALEZA – CEARÁ
2009
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
3
ANGELA MARIA MARTINS FALCÃO
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE O USO DO ÁLCOOL ELABORADAS POR
ADOLESCENTES
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado Profissional em Saúde da
Criança e do Adolescente da Universidade
Estadual do Ceará, como requisito parcial
para obtenção do Grau de Mestre.
Defesa em: ___/___/___
Conceito obtido: ____________
Banca Examinadora
__________________________________________________
Prof.ª Dra .Maria Lucia Duarte Pereira
Orientadora
__________________________________________________
Prof. Dr. Henrique Figueiredo Carneiro
Universidade de Fortaleza
__________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Maria Dalva Santos Alves
Universidade Federal do Ceará
__________________________________________________
Prof.ª Dr.ª Sheva Maia da Nóbrega
Universidade Federal de Pernambuco
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
4
Não poríamos a mão no fogo pelas nossas opiniões:
não temos assim tanta certeza delas. Mas talvez nos
deixemos queimar para podermos ter e mudar as
nossas opiniões.
(Friedrich Nietzsche)
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
5
AGRADECIMENTOS
A Deus, grande arquiteto do universo, por todas as conquistas alcançadas e por
todas as bênçãos derramadas sobre mim.
Ao meu pai (in memoriam) por me conceder o maior legado: a educação. À minha
mãe, professora de várias gerações, que ensinou aos filhos o valor da formação
intelectual.
Ao meu marido pela eterna admiração, por todas as nossas afinidades, pela
preciosidade de nossa união e por mais um desafio que juntos superamos.
Ao meu filho David, por sua inestimável contribuição para efetivação deste trabalho.
À minha filha Natália, pela sua poesia, por sua capacidade infinita de filosofar e criar
e pela sua paixão pelo conhecimento.
A todos os meus colegas de trabalho que contribuíram para tornar possível este
momento.
À animada turma do Mestrado, que me fez reviver a irreverência de ser estudante.
Aos adolescentes, sujeitos da pesquisa, pela expressão espontânea de seus
sentimentos.
À orientadora Maria Lúcia Duarte Pereira, pela paciência e disponibilidade, por ter
acreditado no meu trabalho e por ter me dado as orientações necessárias,
contribuindo de forma direta para meu crescimento.
Às minhas amigas Sabrinna, Ana e Kátia, pelo apoio nos momentos estressantes de
conclusão deste trabalho.
Aos professores do curso de mestrado, pelos conhecimentos transmitidos e pelas
reflexões críticas, o que contribuiu para um novo olhar sobre o tema.
Aos professores Doutores Henrique Figueiredo Carneiro e Maria Dalva Santos Alves
pelos ensinamentos transmitidos durante o período de qualificação deste trabalho.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
6
RESUMO
Ante o acentuado crescimento do número de adolescentes que fazem uso de bebidas
alcoólicas e o uso cada vez mais precoce desta substância, este estudo objetiva identificar
as representações sociais elaboradas por 126 adolescentes sendo 62 do sexo masculino e
64 do sexo feminino Trata-se de um estudo de campo, exploratório, com abordagens
qualitativa e quantitativa, fundamentado pela Teoria das Representações Sociais. A
pesquisa foi desenvolvida no Liceu Domingos Sávio, na cidade de Baturité-Ceará, Brasil.
Referida pesquisa realizou-se no período de abril a agosto de 2008 e utilizou um
questionário semi-estruturado como instrumento de coleta de dados, composto de duas
partes: a primeira constituída de itens referentes à identificação dos participantes, definindo
o seu perfil sócio-demográfico e econômico; a segunda com perguntas abertas e fechadas
com questões norteadoras sobre a temática em estudo Os dados referentes a
caracterização dos sujeitos foram submetidos à análise estatística.Os dados resultantes das
questões abertas foram submetidos à análise de conteúdo temática, tendo como base os
pressupostos de Bardin. A análise dos questionários apresentou duas categorias:
percepções sobre o uso do álcool e motivações sobre o uso do álcool por adolescentes. Os
resultados evidenciam uma representação negativa do álcool pelos jovens, onde a
substância é representada como algo ruim e os usuários como pessoas frágeis e
dependentes. Demonstrou-se, outrossim, que a principal motivação para a utilização do
álcool identifica-se na busca do prazer. Essas representações sobre o uso do álcool
emanadas dos sujeitos sugerem o desenvolvimento de ações preventivas que contemplem
a família e a comunidade, e não apenas o adolescente desvinculado de suas raízes,
considerando a rede interconexa de suas relações.
Palavras-Chave: Álcool. Adolescente. Representações Sociais.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
LISTA DE ABREVIATURAS
ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
MS - Ministério da Saúde
OMS – Organização Mundial de Saúde
PNAD - Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílio
RS - Representações Sociais
SAS - Secretaria da Ação Social
UECE - Universidade Estadual do Ceará
7
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
8
LISTA DE FIGURAS TABELAS E QUADROS
Figuras
•
Figura 1 – Plano de análise.......................................................................37
Tabelas
•
Tabela 1 – Distribuição dos 126 adolescentes, segundo condições sociais,
econômicas e demográficas, Baturité-Ce, 2008........................................40
•
Tabela 1.2 – Condições sócio econômicas................................................41
•
Tabela 2 – Distribuição dos 126 adolescentes de acordo com o uso de
álcool, Baturité-Ce, 2008............................................................................43
•
Tabela 2.1 – Distribuição dos Adolescentes conforme a idade e o tempo,
Baturité-Ce, 2008.......................................................................................43
•
Tabela 3 – Associação da variável uso do ácool com sexo e variáveis
socio-econômicas e demográficas Baturité-Ce, 2008................................44
•
Tabela 4 – Associação da variável sexo com uso de álcool e variáveis
socio-econômicas e demográficas Baturité-Ce, 2008................................45
•
Tabela 5 Distribuição das freqüências, percentuais das subcategorias
descrição/percepção sobre uso do álcool para adolescentes, Baturité,
2009..........................................................................................................56
•
Tabela 6 Distribuição das freqüências, percentuais e da categoria
motivação pra uso do alcool, Baturité, 2009...............................................59
Quadros
•
Quadro 1 – Distribuição das categorias e subcategorias simbólicas sobre o
uso do álcool por adolescente....................................................................46
9
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.......................................................................................................12
1.1 O Despertar do tema e o objeto de investigação...........................................12
2. REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................18
2.1 Alcoolismo e adolescência.............................................................................18
2.1.1 Resgate da adolescência: uma construção histórica.............................18
2.1.2 Álcool: um desafio a superar..................................................................20
2.2 Teorias das representações sociais...............................................................26
3. PERCURSO METODOLÓGICO............................................................................31
3.1 Tipo de estudo................................................................................................31
3.2 Local de estudo..............................................................................................32
3.3 Sujeitos do estudo..........................................................................................33
3.4 Procedimentos e instrumentos para coleta de dados.....................................34
3.5 Análise e tratamento dos dados.....................................................................34
3.6 Plano de Análise.............................................................................................36
4. RESULTADOS.......................................................................................................40
4.1 Caracterização Social, Econômica e Demográficas.......................................40
4.2 Uso do Álcool por Adolescentes.....................................................................43
4.3 Relação Entre Uso de Álcool, Sexo e Condições Socioeconômicas..............44
4.4 Relação Entre Sexo, Uso de Álcool e Condições Socioeconômicas e
Demográficas........................................................................................................45
4.5 Apresentação dos Resultados da Análise De Conteúdo................................46
5. DISCUSSÃO..........................................................................................................48
5.1 Características Sociais, Econômicas e Demográficas..................................48
5.2 Uso do Álcool por Adolescentes....................................................................50
5.3 Relação Entre Uso de Álcool, Sexo e Condições Socioeconômicas............52
5.4 Representações Sociais Sobre o Uso do Álcool............................................54
5.5.1 Categoria 1- Descrição/Percepção Sobre Uso do Álcool............................55
5.5.1.1 Descrição/percepção sobre uso do álcool ancorada na autopercepção........................................................................................................56
5.5.1.2
Descrição/Percepção
Sobre
Uso
Do
Álcool
Ancorada
na
Heteropercepção.............................................................................................56
5.5.2 Motivação para uso do álcool......................................................................58
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 10
5.5.2.1 Motivação do uso do álcool ancorada na busca do prazer.................59
5.5.2.2
Motivação
do
uso
do
álcool
ancorada
na
busca
do
novo/curiosidade..............................................................................................62
5.5.2.3 Motivação do uso do álcool ancorada na pressão grupal...................64
5.5.2.4 Motivação do uso do álcool ancorada na dificuldade de lidar com
sentimentos/insegurança.................................................................................64
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................70
REFERÊNCIAS..........................................................................................................73
APÊNDICES...............................................................................................................80
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 11
INTRODUÇÃO
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 12
1 INTRODUÇÃO
Devemos manter uma luta crucial com as
idéias, mas somente podemos fazê-lo com
a ajuda das idéias (Edgar Morin)
1.1 O Despertar do Tema e o Objeto de Investigação
O lidar com o álcool faz parte de minha história desde a adolescência.
Morava no interior do Ceará e muito cedo tive que sair do convívio familiar para
estudar fora, visto que lá a única opção era o ensino médio. A rotina de vida calma
do local me inquietava e meu sonho era estudar na capital, Fortaleza. Como toda
adolescente, queria uma vida mais dinâmica, buscar o novo, desbravar.
As opções eram poucas em 1970. Desse modo, meus irmãos também
vieram estudar em Fortaleza em busca de um “curso superior”. Muito cedo meu
irmão mais novo começou a se envolver com o álcool de uma “cervejinha a um
wisquizinho”, iniciando seu caminho rumo à dependência total do álcool. Longe dos
pais e como irmã mais velha, fui assumindo os problemas que surgiam devido ao
uso e abuso de álcool.
Olhando para o nosso passado, percebemos que muitos de nossos
hábitos vão se modificando, por vezes para melhor, por outras, sem o percebermos,
para nossa destruição.
Assim, infelizmente, para meu irmão, o hábito de beber se transformou
em sua ruína total. Minha peregrinação em busca de ajuda foi intensa, perpassando
por grupos terapêuticos, alcoólicos anônimos e hospital psiquiátrico. O que para ele
no início era somente prazer, posteriormente foi motivo de doença e morte.
Minha vida profissional teve início na extinta Fundação Estadual do BemEstar do Menor do Ceará (FEBEMCE), onde coordenei o Centro Integrado de
Atendimento a Crianças e Adolescentes em Baturité, município do Ceará. Este
projeto tinha como objetivo trabalhar com crianças e adolescentes em situação de
vulnerabilidade social com acompanhamento pedagógico e psicossocial às famílias
envolvidas e aos participantes do projeto.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 13
Presenciei, na instituição supracitada, histórias de vida de jovens e
famílias envolvidas com o uso de álcool. Mais uma vez, sinto de perto o grave
problema de conviver frente a frente com o “inimigo”, o álcool. A vivência com
adolescentes foi aos poucos mostrando que o contato com a bebida por parte destes
indivíduos geralmente não é de forma social, pois sempre escutamos relatos de
bebedeiras, bem como atitudes inconseqüentes após o uso de bebidas alcoólicas.
Ouvimos também que alguns adolescentes conseguem ter um contato moderado
com álcool, o que nos leva a questionamentos como: Por que uns conseguem beber
socialmente e outros não?
Diante dessas inquietações, recorri a leituras e cursos relacionados com
a temática acima mencionada, em busca de explicações plausíveis para questões
relativas ao consumo de drogas lícitas e ilícitas na adolescência. Em face dessas
circunstâncias, com o objetivo de adquirir subsídios para trabalhar com jovens e
famílias em situação de vulnerabilidade social, ingressei no curso de Licenciatura
Plena, realizado pela UECE, e, logo depois, dei continuidade aos estudos com
especialização em psicopedagogia.
Coordenando os grupos de geração de renda com famílias cadastradas
no Programa Bolsa Família, na Secretaria de Ação Social de Baturité, novamente a
problemática do alcoolismo vem ao meu encontro, mediante relatos de familiares
que convivem com adolescente que fazem uso abusivo do álcool. Para tanto,
emergem inquietações que se resume em um mesmo foco: Que fatores levam o
adolescente a fazer uso do álcool de maneira descontrolada?
Neste contexto, o Mestrado em Saúde da Criança e do Adolescente
surgiu como forma de me qualificar para continuar meu trabalho com adolescentes e
famílias com um maior embasamento técnico científico. A possibilidade de
desenvolver uma pesquisa sobre o uso do álcool na adolescência servirá como
suporte para uma realidade já vivenciada ao longo de minha vida profissional.
O alcoolismo é apontado como um sério problema de saúde pública tanto
em países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento, considerando que
seu uso abusivo pode provocar danos graves no âmbito da saúde, do social, da
educação e da família.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 14
Em levantamento de estudos realizados, verificou-se que o álcool é a
droga psicoativa mais utilizada pela humanidade, além de apresentar relatos de seu
uso desde os tempos mais remotos. O velho testamento, por exemplo, apresenta
citações em vários trechos bíblicos sobre como os aspectos psicológicos, morais,
genéticos e ambientais influenciam o uso e abuso do álcool (MATHEW, 1992).
Especificamente no livro de Gênesis, capítulo nove, é relatada a história de Noé
como primeiro agricultor, e como tal, plantou uma vinha e dela embriagou-se.
Segundo Lapate (2001), os homens primitivos já buscavam o prazer e o relaxamento
através da utilização de frutas fermentadas. A literatura é enfática no que diz
respeito ao envolvimento do homem com o álcool e outras drogas, onde há relatos
desde a antiguidade.
O 1º Levantamento Nacional sobre os Padrões de Consumo de Álcool na
População Brasileira enfoca que, segundo dados da OMS, aproximadamente dois
bilhões de pessoas no mundo consomem bebidas alcoólicas, e que o uso indevido
de tal substância contribui significativamente para a redução da saúde mundial,
sendo responsável por 3,2% do total de óbitos e de 4% de todos os anos perdidos
em vida útil. Na América Latina, este número assume uma maior proporção,
chegando a perfazer um total aproximado de 16% dos anos de vida útil perdido
(BRASIL, 2007). De acordo com Babor e Caetano (2005), o consumo per capita das
Américas é 50% maior que a média mundial, haja vista que o álcool é considerado
um importante fator de risco, dentre os 27 estudados pela a OMS, quanto à
morbidade e à mortalidade.
Lapate (2001) afirma que o Brasil é o maior produtor de destilados do
mundo e o quarto maior mercado mundial de produção de cerveja, perdendo apenas
para os Estados Unidos, China e Alemanha, com 90% da produção destinada ao
mercado interno.
O Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID)
divulgou em 1999, informações dando conta de 44.680 internações em unidades
hospitalares responsáveis pelo acolhimento de pacientes com transtornos
relacionados ao consumo de substâncias psicotrópicas. Destas, 84,5% são
referentes ao uso de bebidas alcoólicas. O acentuado uso de álcool no Brasil além
de constituir um sério problema de saúde pública, contribui severamente para a
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 15
origem e manutenção de diversos transtornos sociais e econômicos. Segundo dados
da Previdência Social, o alcoolismo representa o quarto lugar na lista das doenças
que mais causam aposentadorias em trabalhadores brasileiros (BRASIL, 2000).
Fica claro, a partir da análise dos estudos epidemiológicos, que o
consumo de bebidas alcoólicas no Brasil, particularmente entre os jovens, é um
impactante problema de saúde pública. Estudos recentes apontam que o álcool é a
droga mais utilizada em qualquer faixa etária, e o uso entre adolescentes apresenta
taxas que demonstram crescimento principalmente entre os mais jovens. De acordo
com o senso demográfico de 2000, o País conta com um total de 169.799.170
habitantes, onde 34.081.330 são jovens e 20,1%, dos inseridos nessa faixa etária,
são de adolescentes (IBGE, 2000).
De acordo com o Ministério da Saúde (MS), é definido como adolescentes
o jovem cuja à idade cronológica esta inserida na faixa de 10 a 19 anos de idade,
embora o Estatuto da Criança e do Adolescente reduza este período à faixa
compreendida entre 12 e 18 anos.
De acordo com Bertoni (2003), citando o Ministério da Saúde, 80,5% do
total de adolescentes brasileiros já tiveram contato com bebidas alcoólicas pelo
menos uma vez na vida, e enfatiza que a OMS considera o álcool como a droga de
escolha entre crianças e jovens. O que é preocupante, visto que a literatura insiste
que o álcool, droga lícita, é a porta de acesso às drogas ilícitas e classificadas como
pesadas. Os dados acima referidos fortalecem a idéia da ocorrência de um forte elo
entre alcoolismo e adolescência, possivelmente em decorrência da vulnerabilidade
característica desta fase de transição.
Verifica-se a partir da literatura consultada que o uso e abuso do álcool
tem sido objeto de estudo de pesquisadores brasileiros, porém com um enfoque
epidemiológico, como é possível constatar através das pesquisas acima abordadas.
Entretanto, como afirmamos anteriormente, os estudos revelam o lado quantitativo
da problemática, o que deixa lacuna no conhecimento, visto que os aspectos
psicossociais e subjetivos não se mostram nessa abordagem. Carecem, portanto, de
estudos que retratem a essência da problemática do uso de álcool na adolescência,
presume-se, então, só ser possível através da abordagem qualitativa, visto que
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 16
objetiva-se encontrar respostas para os seguintes questionamentos: Qual o
significado do uso de álcool para o adolescente? Que fatores estão associados ao
uso de álcool pelos adolescentes?
As respostas a essas perguntas poderão contribuir, por meio de dados
exatos acerca do uso de álcool por esta parcela da população, para construção de
políticas públicas não apenas relacionadas à prevenção, mas voltadas, outrossim,
para subsidiar a assistência e cuidados direcionados a este público por parte dos
profissionais da área social, da saúde e da educação.
Mediante o exposto, este estudo tem como objetivo geral: apreender as
representações sociais sobre o uso de álcool, elaboradas por adolescentes do
sexo masculino e feminino, e como objetivo específico: descrever o perfil
sócio-econômico dos adolescentes que fazem o uso do álcool e analisar como
se estruturam as representações sociais e significações do álcool para os
adolescentes.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 17
REFERENCIAL TEÓRICO
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 18
2. REFERENCIAL TEÓRICO
Sofrimento e impotência - foi isso que criou todos os
transmundos e, mais, a breve loucura da felicidade que só o
grande sofredor experimenta. (Nietzsche)
2.1 Alcoolismo e Adolescência
2.1.1 Resgate da adolescência: uma construção histórica
A adolescência vem sendo bastante discutida nos dias atuais, entretanto,
nem sempre foi uma fase estudada e valorizada como no século que acabamos de
ultrapassar: o século XX.
Na antiga Roma, o nascimento de uma criança não era motivo suficiente
para inseri-la no mundo como cidadão. Era necessário que o pai a aceitasse para
que se iniciasse a sua educação e a sua inclusão na sociedade romana. Não havia
um marco que separasse a criança do adolescente.
A noção de infância e adolescência, construída historicamente, assume
diferentes aspectos em cada período da história da humanidade. Na Idade Média,
por exemplo, era comum o fato de haver crianças trabalhando com pessoas adultas.
Como diria Ariès (1981, p.9):
A duração da infância era reduzida a um período mais frágil, enquanto o
filhote do homem não conseguia bastar-se; a criança, mal adquiria algum
desembaraço físico, era logo misturada aos adultos e partilhava de
trabalhos e jogos. De criancinha pequena, ela se transformava
imediatamente em homem jovem, sem passar pelas etapas da juventude,
que talvez, fossem praticadas antes da Idade Média e que tornaram
aspectos essenciais das sociedades evoluídas de hoje.
Com a proliferação das escolas, substituindo as antigas formas de
educação, a criança passa a ser vista de forma diferente. A família começa a se
organizar, tendo a criança como o centro de atenção, saindo esta do seu anonimato.
Cria-se a cultura do sofrimento pós-perda, do luto. Com isso, fez-se necessário
limitar o número de filhos para melhor cuidar. A conseqüência disto foi a valorização
da vida social em torno da família e da profissão (ARIÉS, 1981).
Apesar do termo ‘’adolescência’’ ser oriundo da modernidade, Dolto
(1990) chama atenção para esta fase que, conceituada de outras formas, já podia
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 19
ser encontrada na mitologia grega. Hebe, deusa mitológica da juventude, era vítima
dos olhares projetivos de sua mãe Hera, que a via através da imagem da jovem que
foi. Hebe propagava todo o seu vigor e juventude, servindo em uma taça de ouro a
ambrósia, bebida que proporcionava a eterna juventude. O mesmo autor comenta
que, na literatura, Victor Hugo foi um dos primeiros a empregar a palavra
adolescência, definido-a da seguinte forma: ‘’A adolescência, os dois corpúsculos
confundidos, o inicio de uma mulher com o fim de uma criança”, onde o adolescente
não sabe se ainda é criança ou se já é adulto.
Conforme Neves (2003, p. 14):
A palavra adolescência se origina do latim adolescentia (de adolescer,
crescer), porém existem inúmeros conceitos para definir este período, um
deles se baseia no desenvolvimento biológico, que diz ser o primeiro da
vida do homem que se estende da puberdade ate a parada do crescimento
somático.
Zagury (2000) diferencia o desenvolvimento físico do psicossocial pelo
fato do primeiro ser universal, com variações discretas de indivíduo para indivíduo,
ao passo que o segundo difere em cada cultura, entre indivíduos de grupos
diferentes e até mesmo entre indivíduos de um mesmo grupo.
De acordo com Aberastury (1986, p.23) “a adolescência é conceituada
como um período de contradições, permeado por fricções com o ambiente familiar e
o meio circundante”. Para alguns estudiosos, esta fase é concebida como o segundo
nascimento. O primeiro é o biológico, do qual nada lembramos, o segundo é um
novo despertar para a vida, no qual o sujeito não pode abrir mão de elaborar esse
renascimento, na busca da construção de sua identidade.
Os direitos e deveres dos adolescentes, os quais se encontram na faixa
etária de 12 a 18 anos, estão elencados no Estatuto da Criança e do Adolescente –
ECA – que foi aprovado por uma lei nacional em 1990. O ECA define que crianças e
adolescentes são indivíduos em desenvolvimento que necessitam de atenção
especial e lhes confere direito às convivências familiar e comunitária, direito à saúde
e à alimentação, direito à liberdade, ao respeito e à dignidade, direito à educação, ao
esporte, ao lazer, ao trabalho e à profissionalização. Este estatuto determina que
todos são responsáveis pelas crianças e adolescentes: pais comunidade, sociedade
e Estado.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 20
Nas ultimas décadas, vem aumentando o número de estudos com relação
à adolescência, fase que tem sido vista desde a antiguidade pela ótica da
impulsividade. Aristóteles 300AC os definia como apaixonados, irascíveis e que se
deixavam levar por seus impulsos (NEWCOMBE, 1999). Já Platão chamava atenção
para o risco de se colocar fogo em fogo, advertindo o perigo do uso de álcool por
adolescentes (NEWCOMBE, 1999).
O adolescente experimenta vivências significativas, com um mundo de
escolhas que se deslumbram aos seus olhos. São livres para escolher entre as mais
variadas religiões, deparam-se frente a uma serie de grupos sociais, com crenças e
práticas diversas. O meio social oferece mais riscos do que proteção para os
adolescentes.
O período da adolescência é de grande instabilidade emocional, pois trata
de uma fase em que o jovem está em busca da sua própria identidade, da formação
de um código de valores próprios. Como é cediço, este interregno é marcado por
diversos fatores, mas, sem dúvida, o mais importante é a tomada de consciência de
um novo espaço no mundo, ou seja, a entrada em uma nova realidade que produz
confusão e medo.
Enfim, a partir das análises de vários conceitos disponíveis na literatura,
dentre os aqui citados, foi possível inferir que o termo adolescência, carregado de
significado, é uma fase crítica onde imperam conflitos e questionamentos, tanto no
âmbito do plano concreto quanto no simbólico.
2.1.2 Álcool: um desafio a superar
Inicialmente, cumpre conceituar e demonstrar a etiologia do álcool para
posteriormente traçar um breve histórico do uso do álcool na humanidade. O termo
alcoolismo foi proposto pelo médico sueco Magnus Huss, em meados do século XIX,
e passou a ser considerado como uma doença. O mesmo autor definiu o alcoolismo
como sendo “um conjunto de manifestações patológicas do sistema nervoso, nas
suas esferas psíquica, sensitiva e motora, observadas nos sujeitos que consumiam
bebidas alcoólicas de forma contínua e excessiva (VAILLANT,1999).
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 21
Até a metade do século XX, o alcoolismo continuava a ser apenas uma
doença. Straus e Bacon (1953) apud Vaillant (1999) publicaram que o alcoolismo é
um fenômeno que se manifesta em várias dimensões: física, psicológica e social.
Ao discutir o assunto, Vaillant (1999) cita Jellinek (1960) que conceitua o
alcoólico como todo o indivíduo cujo consumo de bebidas alcoólicas possa
prejudicar o próprio, a sociedade ou ambos. Com relação a esta doença, PenaAlfaro (1993, p.10) destaca que este problema se trata de uma “doença da
humanidade”, um mal de nossa cultura que tem raízes profundas no psiquismo.
Concordando com o autor supracitado, Olievenstein (1987, p.14) conceitua o
alcoolismo como o “encontro de um produto, uma personalidade e um movimento
sociocultural”.
A Organização Mundial de Saúde define o alcoólico como um bebedor
excessivo, cuja dependência em relação ao álcool é acompanhada de perturbações
mentais, físicas, interpessoais e financeiras.
O álcool é uma substância psicoativa e produz alterações no sistema
nervoso central, podendo causar mudanças no comportamento do usuário de acordo
com a dose e a freqüência em que é ingerido, considerado o limiar de saturação de
cada organismo. Após ser ingerido, o álcool atinge rapidamente a circulação
sangüínea e é levado pelo sangue a várias partes do corpo, entre elas o sistema
nervoso central, reduzindo a coordenação motora e os reflexos do indivíduo, mesmo
quando ingerido em pequenas doses, causando estado de euforia e desinibição.
(Brasil, 2001).
Vaillant (1999) citando Milan e Kitchan, diz que o álcool, em princípio,
possui um efeito excitante e aguçador da memória, da criatividade, dos reflexos, pois
aumenta o fluxo sangüíneo, causando um bem estar e melhorando o desempenho
do indivíduo. Isto ocorre mediante uma dosagem pequena, pois a partir de
determinada quantidade percebe-se que o efeito é completamente oposto, passando
a ser inibidor, ou seja, reduzindo os reflexos e o desempenho.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o álcool contido
nas bebidas utilizadas pelo homem é uma substância psicoativa com capacidade de
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 22
produzir alterações no funcionamento do Sistema Nervoso Central, podendo,
portanto, modificar o comportamento dos que dele fazem uso.
Quanto à etiologia do alcoolismo, esta é de difícil entendimento e deve ser
sempre vista como multifatorial, ou seja, um conjunto de fatores. Estudos têm
procurado entender a causa do alcoolismo. No entanto, ainda não existe nenhuma
evidência científica sobre qual fator é mais determinante.
Sobre o assunto, Vaillant (1999) diz que a passagem do beber moderado,
sem causar problemas, não acontece de repente. É um processo que admite uma
interface entre o beber normal e o patológico. O processo de transmissão é
perceptível, a forma de beber vai se modificando lentamente, como por exemplo, o
beber muito rápido, a mudança brusca de comportamento e sinais orgânicos mais
preocupantes, que denotem alguma doença. A ampliação de perspectivas permite
se considerar o fenômeno do alcoolismo seja como sintoma comportamental, seja
como fenômeno social e, até mesmo, como questão moral (BERTOLOTE, 1992).
O alcoolismo não pode ser visto como algo único, afirma Jellinek (1960)
apud Vaillant (1999), mas um conjunto de sintomas e comportamentos episódicos
que juntos talvez constituam tanto alcoólicos como abusadores do álcool. As teorias
clássicas que procuram responder as causas do alcoolismo podem tender para uma
visão biológica, psicológico ou social.
Vaillant (1999) nos aponta que, em vários estudos, pelo menos alguns
fatores afetam a resistência da pessoa que bebe rumo à dependência. Pode-se citar
a velocidade que o álcool chega ao cérebro, costumes culturais, ocupação do
indivíduo, disponibilidade legal do álcool, o baixo custo e a instabilidade social.
O referido autor nos reporta que o álcool é uma substância viciante e
todos que dele fazem uso correm risco da dependência. Ademais, seu abuso é
concomitante à desestabilização que acompanha o impacto de uma sociedade
industrial moderna sobre outra menos industrializada.
Mesmo que não seja determinante, os fatores genéticos desempenham
um papel importante na etiologia do alcoolismo, sinaliza Vaillant (1999), chamando
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 23
atenção para os indivíduos que possuem parentes alcoolistas serem cautelosos ao
aprenderem os hábitos seguros de beber.
Na etiologia de qualquer doença, o hospedeiro, o agente e o meio
ambiente desempenham papéis importantes e interativos. Com o alcoolismo não
ocorre de forma diferente. Considerando que o agente álcool é facilmente
encontrado e o ambiente social é favorável à sua disseminação, isto implica no seu
maior consumo (VAILLANT,1999).
Considerando as múltiplas etiologias do alcoolismo, Vaillant (1999) diz
que o sonho de que algum fator etiológico a ser identificado permitirá a erradicação
do uso de álcool, vai provavelmente continuar sendo apenas um sonho, reafirmando
que não existe nenhuma conclusão acerca das causas do alcoolismo.
O uso de drogas psicoativas por adolescentes, como qualquer outro
objeto social, é veiculado sobre diferentes formas de interpretações na sociedade.
Para refletir acerca dos significados atribuídos ao consumo de bebidas alcoólicas,
faz-se necessário compreender que a sociedade estabelece uma relação dialética e
constante entre os indivíduos que dela fazem parte.
A realidade social é um continente onde estão situados todos os valores,
crenças e preconceitos, os quais são elementos essenciais ao homem enquanto ser
histórico e social. Neste cenário, os indivíduos criam e legitimam suas
representações ao longo do tempo, assumindo um estatuto de verdade ao serem
difundidas nas relações sociais. Com isso, faz-se imperioso um estudo sobre a
origem do álcool com a finalidade de apreender as Representações Sociais acerca
do uso desta substância por adolescentes e o seu papel ao longo da história.
A ingestão de bebida alcoólica é um dos hábitos que faz parte da história
da humanidade e está presente no cotidiano das populações. Os primeiros registros
arqueológicos que indicam o consumo de álcool pelos seres humanos datam de
10000 a 8000 anos a.C. A bebida alcoólica era consumida, compartilhada por todos
os membros da família, em ocasiões festivas, em rituais, ou como ingrediente da
alimentação (PEÑA ALFARO, 1993). Segundo Laparte (2001, p. 102), diante da
observação de que após o consumo de frutas fermentadas os animais
apresentavam notáveis alterações de comportamento, os homens descobriram
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 24
sucos fermentados que produziam efeitos entorpecentes. Durante este período, o
teor alcoólico das bebidas era relativamente baixo, eram produzidos basicamente
vinho e cerveja (bebidas fermentadas), e o álcool era consumido moderadamente.
A história registra que, para os gregos, não só a bebida, mas também o
sexo e a comida eram de suma importância para sua sociedade, e que, embora
houvesse o “culto” as estes prazeres, satisfazê-los de forma adequada e moderada
era considerado indício de sabedoria. O dramaturgo Eurípides (484 a.C, -406 a,C)
menciona nas Bacantes duas divindades de primeira grandeza para os gregos:
Demeter, a deusa da agricultura e Dionísio (conhecido como Baco entre os
romanos), o deus do vinho e da festa. Assim como Jesus Cristo, Dionísio tinha o
poder de transformar água em vinho. (ESCOHOTADO, 2003).
Já os romanos eram afetos ao álcool. Porém, o consumo ficava restrito
somente aos homens, e com idade superior a trinta anos. De acordo com
Escohotado (2003), no mundo romano, mulheres foram mortas por terem sido
flagradas bebendo, apesar de a prática ser comum ao sexo masculino.
Não obstante gregos e romanos fazerem ativamente uso do vinho em
celebrações sociais e religiosas, o abuso de álcool, e a conseqüente embriaguez
alcoólica, era condenada por ambos os povos. Por este motivo, cristãos foram
perseguidos por consumirem vinho durante as liturgias. O álcool era usado devido
ao seu efeito relaxante. A própria bíblia, no antigo testamento, discorre a respeito do
“relaxamento induzido” proporcionado pelo álcool. No novo testamento, consta que
Paulo de Tarso, ao se converter ao cristianismo, posicionou-se contra essa conduta,
o que propiciou o surgimento de seitas que conceituam o beber como pecado
(ESCOHOTADO, 2003).
Embora o vinho fosse consumido durante a eucaristia, simbolizando o
sangue de Cristo, o uso de drogas era considerado pela igreja como um ato de
heresia, pois, para o clero, as indulgências, vendidas sob a forma de óleos, águas e
velas benditas, seriam mais eficazes do que qualquer droga para aliviar o sofrimento
e promover prazer.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 25
A idéia do álcool como uma substância divina, muito facilmente
encontrada na mitologia, pode ser um dos motivos que leve à manutenção do hábito
de consumir álcool até a atualidade (CEBRIDE, 2009).
De acordo com Peña Alfaro (1993), observa-se que, nas religiões onde o
misticismo e o contato com o sobrenatural prevalecem, é atribuído um caráter
sagrado à bebida que tenha efeito entorpecente. Destaca ainda que há um aspecto
em comum nesses ritos que deve ser observado, o ato de tomar o vinho funciona
como mecanismo de iniciação. O caráter inaugural vincula-se ao ideário de se
conhecer algo oculto e, através dos rituais, adquire-se uma “maturidade” psicológica
e religiosa, o que ainda se observa nos dias atuais.
Na Idade Média, os árabes trouxeram para Europa as técnicas de
destilação. Isso permitiu a descoberta de novas bebidas alcoólicas, os destilados. A
partir da Revolução Industrial, século XVIII, com o incremento da produção de
bebidas, o preço do álcool diminui, facilitando o acesso ao produto por um maior
número de pessoas. Transformações estruturais severas foram produzidas na
sociedade, resultando na modificação da relação que o homem mantinha com o
álcool. As transformações socioeconômicas romperam o equilíbrio em função de
uma série de fatores ambientais. A partir do evento, houve um grande salto na
produção e oferta de destilados, culminando com maior consumo, ocasionando o
acréscimo do número de indivíduos que apresentavam distúrbios oriundos do uso
excessivo de álcool (CEBRIDE, 2009).
Foi a partir deste período que o alcoolismo passou a ser caracterizado
como doença ou desordem. Mais precisamente durante o decorrer do ano de 1967,
quando a Organização Mundial de Saúde incorporou o alcoolismo à Classificação
Internacional de Doenças (CID-8). Embora ainda considerado como doença, o
alcoolismo sofreu uma evolução no seu conceito. Atualmente, os problemas
relacionados ao uso do álcool foram inseridos em uma categoria bastante ampla,
resultando fenômenos físicos, psicológicos e sociais, além de transtornos de
personalidade
e
neuroses.
Enfim,
conforme
assinala
Bertolote
(1997),
a
problemática do alcoolismo, por sua complexidade, deve ser abordado no contexto
geral do indivíduo.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 26
Com a visão de que o uso do álcool vem desde as épocas mais antigas e
de que a relação do homem com esta substância foi se modificando ao longo da
história, vemo-nos diante da problemática com o adolescente que faz uso desta
bebida em tenra idade e de uma forma perigosa. Percebe-se, a partir desta
retrospectiva, que o uso é milenar, a sua forma de consumo é que foi se
transformando junto com a sociedade. A adolescência, em si, já é uma fase
conturbada. Uma etapa de aquisições de operações formais, da internalização da
moralidade, de um novo modo de consciência, como também de profundas e
significativas mudanças: físicas, emocionais, sociais e culturais (ZAGO, 1996). Neste
contexto, é perigoso para o indivíduo, em fase de transição, o hábito de
experimentar situações de lazer relacionadas com o efeito do álcool.
Os jovens, mais que o público-alvo, são um capital simbólico, reeditado
nos comerciais de bebidas alcoólicas. As propagandas retratam pessoas brancas,
de classe média ou alta, alegres e em situações de lazer, festa e esporte, reforçando
a idéia de prática saudável. Sob este aspecto, (ABRAMOVAY, 2005).
Sabemos ainda que a faixa etária que compreende a adolescência é
caracterizada pela onipotência, pelo desejo de transgredir, de testar limites, e isto
faz com que muitos jovens passem a agir de forma mais ousada e perigosa,
deixando uma grande lacuna, a qual, muitas vezes, é preenchida com drogas.
2.2 Teoria das Representações Sociais
Para dar suporte à compreensão do fenômeno da pesquisa selecionada,
torna-se imprescindível um referencial que permita o entendimento da inter-relação
dos atores sociais, dos fenômenos e do contexto que os rodeia.
Assim sendo, acredita-se que a Teoria das Representações Sociais
constitui-se referencial estratégico capaz de elucidar e comparar os diferentes
sentidos atribuídos ao objeto, bem como compreender tudo que as significações
carregam no sentido de sujeito, identidade, projeto e processos representacionais
(BAUER,1999).
O conceito de representação social tem origem na França, em 1961,
através de Serge Moscovici em sua pesquisa, A Representação Social da
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 27
Psicanálise, realizada em uma comunidade francesa. Neste contexto, convém
ressaltar que Moscovici recebeu influência de Durkhein e de Levy Bruhl e Piaget.
A partir da construção de Moscovici, surgiram outras correntes como a
liderada por Denise Jodelet, em Paris, sendo esta a que mais se assemelha à sua.
De outro lado, Willem Doise, em Genebra, articula a teoria em uma perspectiva mais
sociológica, ao passo que Jean Claude Abric, em Aix-en-Provence, enfatiza a
dimensão cognitivo-estrutural das representações (SÁ, 1998). Neste ensejo, Jodelet
(2001) contribui apontado alguns elementos básicos da teoria das representações
sociais, que devem ser estudados levando-se em conta os elementos afetivos,
mentais e sociais.
Consoante Abric (2001), a representação é um conjunto organizado de
opiniões, de atitudes, de crenças e de informações a um objeto ou a uma situação.
O pioneiro Moscovici (1978) conceitua representações sociais como um conjunto de
enunciados que se origina na vida cotidiana, equivalendo em nossa sociedade aos
mitos e crenças tradicionais, podendo-se considerar como a versão do senso
comum.
A representação social é uma forma de conhecimento de senso comum
que permeia na sociedade. Moscovici (1978) diz que esse conhecimento, que a
maioria das pessoas utiliza no seu cotidiano, constitui uma das vias de apreensão do
mundo concreto, produzindo e determinando comportamentos.
Percebe-se, pois, que as representações sociais são constituídas e
compartilhadas pelos seres humanos na sociedade a partir das crenças, das
atitudes, da educação e das informações recebidas.
Moscovici (1978) acrescenta que as representações sociais circulam,
cruzam e se solidificam através das falas, dos gestos, das relações sociais e nas
comunicações do cotidiano, onde toda a representação é composta de figuras e
expressões socializadas.
Como salienta Moscovici (1978), é necessário tornar familiar o insólito e o
insólito familiar, mudar o universo sem que ele deixe de nos pertencer. Eis, portanto,
as funções resultantes das relações sociais.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 28
Na elaboração das representações sociais, faz-se necessária a
contribuição de dois fatores: a ancoragem e a objetivação as quais são responsáveis
pela interpretação e atribuição de significados do objeto social. Como aponta
Moscovici (1978), a ancoragem consiste em tornar familiar o estranho, nomeando-o
e comparando-o com paradigmas conhecidos, com o objetivo de classificá-lo e
denominá-lo. Na ancoragem, ocorre o processamento das informações novas
que
iriam
compor
um
agrupamento
de
conhecimentos
socialmente
estabelecidos e que estarão inseridos na rede de significados sociais.
Moscovici (1978) destaca que quando modificamos as representações já
existentes, ancorando algo “novo” em algo familiar, transfere-se mutuamente o que
era novo surgindo novas entidades. Nota-se, portanto, que a ancoragem é feita na
realidade social vivida.
Quanto ao processo de objetivação, o autor se refere como transformar
algo abstrato em quase concreto, transferir o que está na mente em algo que existe
no mundo físico (MOSCOVICI 1978, p. 62). É por meio deste processo que os
elementos adquirem materialidade e se tornam expressões de uma realidade vista
como natural.
De acordo com Jodelet (2001), a objetivação consiste em uma operação
imaginante e estruturante, pela qual se dá uma forma, tornando concreto, quase
tangível, o conceito abstrato.
Esse processo pode ser entendido como operação formadora de
imagens, o processo através do qual são transformadas em algo concreto. O
processo de objetivação compreende três etapas: a descontextualização da
informação, através de critérios normativos e culturais, a formação de um núcleo
figurativo e a naturalização, que compreende a modificação das imagens em
elementos da realidade (JODELET, 2001). As representações sociais são
constituídas por processos sociocongnitivos e têm implicações no dia-a-dia do
indivíduo, influenciando os comportamentos e a comunicação.
Através das representações sociais é possível definir, por sucessivas
aproximações, os contornos de um grupo, em função da visão que este tem do
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 29
mundo, além de considerar que aquelas também traduzem a relação de um grupo
com um objeto socialmente valorizado (MOSCOVICI,1978).
Deste modo, todos os fenômenos que emergem do contexto social
recebem nomes e significados que os avaliam, explicam e dão sentido. Assim, a
representação social do uso de álcool por adolescente recebe significados em
conformidade com os grupos de pertença e o contexto social no qual se encontram
inseridos, justificando assim a escolha da representação social como referencial
teórico de nossa pesquisa.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 30
PERCURSO METODOLÓGICO
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 31
3. PERCURSO METODOLÓGICO
Nunca ande pelo caminho traçado, pois ele conduz somente
até onde os outros foram. (Grahan Bell)
3.1 Tipo de Estudo
Trata-se de um estudo de campo exploratório com abordagem
multimétodo, com fundamento na Teoria das Representações Sociais, objetivando
apreender as representações do uso do álcool por adolescentes.
A abordagem qualitativa esta relacionada à investigação realista das
expressões humanas, sendo holística e naturalista. Destarte, baseia-se na premissa
de que os conhecimentos sobre os indivíduos só são possíveis com a descrição da
experiência humana, tal como ela é vivida e tal como é definida por seus próprios
atores, tendo sua importância não como ideologia para a pesquisa quantitativa, mas
por sua abordagem aprofundada em relação com o social, sendo uma forma
inacabada da objetivação do saber, a subjetividade (MINAYO, 2004).
As abordagens qualitativas têm como meta principal a compreensão das
ações socialmente desenvolvidas, como também a integralidade dos fenômenos
sociais. Esta abordagem forma um conjunto de atividades interpretativas que
procura entender a forma como as pessoas entendem e conferem sentido a suas
experiências e ao mundo em que vivem, compreendendo as relações, as visões e o
julgamento dos diferentes atores sobre a intervenção da qual participam
(DESLANDES; GOMES 2004; MINAYO et al, 2005).
A pesquisa qualitativa é usada para desvelar experiências humanas.
Segundo Bosi e Mercado (2004, p. 58), esta abordagem “reconhece que o
sofrimento, a dor e a angústia e qualquer processo de significação são também
produto e manifestação das condições objetivas e estruturais em que vivem os
coletivos humanos”.
Para falar da abordagem multimétodo, Gunther et al (2004) recorre a
Kish (1987) e a define como forma de se abordar características predominantes da
observação, do experimento e do levantamento de dados. Brewer, Hunter (1987)
concordam com o autor acima referido e afirmam que:
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 32
interpretar os resultados de qualquer um destes métodos é tarefa incerta na
melhor das hipóteses. A maior fonte de incerteza é que qualquer estudo
utilizando apenas um único tipo de método de pesquisa (...) deixa de lado
hipóteses rivais não testadas (...) que colocam em questão a validade dos
achados do estudo. (p. 14)
Nesta perspectiva, entende-se que dados provenientes de uma única
fonte podem criar dúvidas. Assim sendo, é importante a utilização de outros métodos
a fim de contrabalancear os desvios surgidos durante uma coleta de dados, com o
intuito de diminuir os riscos no resultado final da pesquisa. Neste sentido, a
abordagem multimétodo, de acordo Gunther et al (2004), consiste na utilização de
dois ou mais métodos de pesquisas definidos conforme o objeto e objetivos da
pesquisa, objetivando um patamar de qualidade superior ao de uma análise
unimetodológica.
Deste
modo,
o
estudo
apresenta
abordagens
qualitativas,
predominantemente, e quantitativas, tendo como sustentáculo a Teoria das
Representações Sócias.
3.2 Local de Estudo
A pesquisa foi realizada em uma escola pública na cidade de Baturité,
localizada na região Nordeste do Ceará e sétimo município a ser criado no Estado.
Com uma área de 262 km, equivalente a 0,18% do território estadual, parte de seu
território se localiza no sertão e outra é coberta pela Mata Atlântica do Maciço de
Baturité.
Os serviços de saúde disponíveis no município são:
•
01 Unidade Hospitalar (referência em pediatria e obstetrícia);
•
01 Centro de Atenção Especializada de Saúde com atendimentos diversos
e de excelente qualidade;
•
08 Equipes do P.S.F. (Programa Saúde da Família);
•
08 Postos de saúde;
•
01 Unidade de Epidemiologia;
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 33
•
01 Unidade de Vigilância Sanitária;
•
02 Ambulâncias;
•
02 Micro-ônibus para atendimentos à pacientes
A educação destaca-se no município contando com 38 escolas da rede
municipal e 10 escolas da rede privada de ensino e núcleos de educação superior,
através da Universidade Vale do Acaraú – URCA.
O total da população é de 29.861 habitantes, dos quais 14.939 são
homens e 14.922 mulheres. A população jovem predomina com um quadro de
10.108, na faixa etária de 20 a 39 anos (IBGE, 2000).
A escola selecionada é uma instituição pública do ensino médio regular,
que possui 1.195 alunos matriculados, de ambos os sexos. Cuida-se de uma escola
de referência no Maciço de Baturité e onde se encontra o maior número de jovens,
na faixa etária a ser estudada, o que nos motivou a realizar a presente pesquisa
neste local.
Estrutura da Escola: doze salas de aula, uma biblioteca (Centro de
Multimeios), cinco laboratórios, sala de reuniões, secretaria, banheiros, cozinha, um
auditório e um laboratório de informática.
3.3 Sujeitos do Estudo
A amostra do estudo foi intencional; fizeram parte da pesquisa 126
estudantes, sendo 62 alunos do sexo masculino e 64 do sexo feminino. Os critérios
de inclusão foram:
1. Adolescentes matriculados na escola acima referida.
2. Adolescentes na faixa etária de 15 a 19 anos;
3. Adolescentes que façam ou não uso de bebidas alcoólicas;
4. Adolescentes que aceitem participar da pesquisa, obedecendo a
Resolução n 196/96, do Conselho Nacional de Saúde
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 34
Foram excluídos do estudo os adolescentes que não gozavam de perfeita
saúde mental, aqueles que não aceitaram participar da pesquisa, assim como os
que não atenderam aos critérios de inclusão.
3.4 Procedimentos e Instrumentos para Coleta de Dados
Os primeiros contatos com os sujeitos da pesquisa ocorreram no mês de
agosto de 2008, na Escola Liceu Domingos Sávio. Os estudantes foram
selecionados de forma intencional, obedecendo aos critérios de inclusão.
A aplicação do instrumento de pesquisa foi realizada pelo próprio
pesquisador. De início, houve contato com a direção da escola a fim de solicitar a
autorização para a realização do estudo. Em seguida, foi solicitada aos participantes
da pesquisa a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, conforme
as determinações da Resolução Nº. 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Posteriormente, foi realizada uma reunião com os estudantes, com o
intuito de esclarecer os objetivos do estudo e de explicar quais os procedimentos
que seriam utilizados. O pesquisador procurou em todos os momentos usar uma
linguagem simples, respondendo a todas as perguntas, sem deixar dúvidas, e
sempre esclarecendo que seria mantido sigilo com relação a suas respostas.
Após esse encontro, foi marcada uma outra reunião no auditório do
liceu Domingos Sávio, com a finalidade de coletar os dados para a pesquisa. Foi
aplicado um questionário semi-estruturado composto de duas partes. A primeira,
constituída de itens referentes à identificação dos participantes, definindo o seu perfil
sócio demográfico e econômico. A segunda, com perguntas abertas e fechadas,
com questões norteadoras sobre a temática em estudo, tais como: se faz uso ou não
de bebidas alcoólicas, com que idade experimentou e qual a ultima vez que
consumiu álcool. As perguntas abertas foram: ”O que significa para você um porre?”;
“O que os outros acham de quem toma porre?”
3.5 Análise e Tratamento dos Dados
No que se refere à análise dos dados da caracterização dos sujeitos estes
foram submetidos à análise estatística. Os dados obtidos através dos questionários
semi-estruturados foram submetidos à técnica de análise de conteúdo, visto que são
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 35
dados potencialmente subjetivos.(BARDIN,2004) Neste sentido, Lervolino e
Pelicione (2001) contribui dizendo que deve ser feita uma codificação dos dados via
análise de conteúdo, por meio de uma descrição numérica de como determinadas
categorias explicativas aparecem ou estão ausentes das discussões e em quais
contextos isto ocorre.
Assim o que melhor contextualizou este aspecto foi a técnica de análise
de conteúdo de Bardin (2004, p. 42), cujo objetivo “é compreender o sentido das
comunicações e suas significações explicitas e/ou ocultas”. Seu procedimento visa
ainda a obter sistematização e descrição dos conteúdos das mensagens, as quais
permitem
a
inferência
de
conhecimentos
relativos
às
condições
de
produção/percepção e são analisadas quantitativamente por meio da análise das
freqüências e percentuais.
Este pensamento é corroborado por Vala (1999, p. 104), quando
define a análise de conteúdo como:
Em suma a análise de conteúdo trata de redesenhar o discurso com a
produção de um novo discurso, por meio da identificação de traços de
significação, resultante de um movimento dinâmico entre as condições de
produção do discurso a analisar e as condições de produção da análise.
Conforme Bardin (2004), a análise de conteúdo se divide em etapas: a
pré-análise, a análise, o tratamento dos resultados e interpretação. A pré-análise
consiste na escolha, organização, leitura flutuante e preparação do material a ser
analisado. A análise é a ocasião em que se explora o material para a aplicação da
técnica de análise de conteúdo. Já o tratamento dos resultados e a interpretação
consistem nas inferências feitas sobre os dados analisados.
A pré-análise pode ser decomposta em quatro etapas: leitura flutuante, na
qual deve haver um contato exaustivo com o material de análise; constituição do
Corpus, que envolve a organização do material de forma a responder aos critérios
de exaustividade, representatividade, homogeneidade e pertinência; formulação de
hipóteses e objetivos, ou de pressupostos iniciais flexíveis que permitam a
emergência de hipóteses a partir de procedimentos exploratórios; referenciação dos
índices e elaboração dos indicadores a serem adotados na análise, além da
preparação do material.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 36
A exploração do material: trata-se da fase em que os dados brutos do
material são codificados para se alcançar o núcleo de compreensão do texto. A
codificação envolve procedimentos de recorte, contagem, classificação, desconto ou
enumeração em função de regras previamente formuladas.
No que se refere ao tratamento dos resultados obtidos e a interpretação,
os dados brutos são submetidos a operações estatísticas, a fim de se tornarem
significativos e válidos. De posse dessas informações, o investigador propõe suas
inferências e as realiza de acordo com o quadro teórico e os objetivos propostos, ou
identifica novas dimensões teóricas sugeridas pela leitura do material. Os resultados
obtidos serão aliados ao confronto sistemático com o material e às inferências
alcançadas, podendo servir a outras análises, baseadas em novas dimensões
teóricas ou em técnicas diferentes.
3.6 Plano de Análise
O plano de análise desta pesquisa foi elaborado considerando os
seguintes passos: constituição do corpus, definição das unidades de análise, leitura
flutuante, constituição de subcategorias e codificações, categorização, tratamento
dos resultados e interpretação com vistas à apreensão do significado do uso de
álcool por adolescentes.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 37
PLANO DE ANÁLISE
Corpus
Unidades de análise
Leitura Flutuante
Subcategorias e codificações
Categorização
Tratamento dos Resultados
Representações Sociais sobre o Uso do Álcool por Adolescentes
FIGURA 1 – Plano de análise
Fonte: Elaboração de Maria Lúcia Duarte Pereira
a) Constituição do Corpus
O Corpus foi constituído de 85 questionários semi-estruturados.
b) Composição das unidades de análise
Após a composição do corpus, selecionou-se o parágrafo para unidade de
contexto e a frase para unidade de registro.
c) Constituição de subcategorias e codificações
Após a decomposição do corpus em unidades de análise, procedeu-se à
codificação e ao agrupamento em subcategorias e categorias simbólicas.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 38
d) Categorização
A partir da exploração do material e da aplicação da técnica de análise de
conteúdo temática categorial, foram formadas 02 categorias, definidas igualmente
para os dois grupos, objetivando a comparação entre estes, validadas por dois
pesquisadores que trabalham com o referencial teórico-metodológico.
e) Tratamento dos Resultados
Com todo o material da pesquisa que passou pelos processos anteriores
foram realizados os seguintes tratamentos: estatísticos, validação, inferência
(quantitativo) e interpretação.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 39
RESULTADOS
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 40
4 RESULTADOS
Aprender leva a vida toda.
(autor desconhecido)
4.1 Caracterização Social, Econômica e Demográficas
Tabela 1 – Distribuição dos 126 adolescentes, segundo condições sociais, econômicas e demográficas,
Baturité-Ce, 2008
Variáveis
Sexo
Masculino
Feminino
Idade (anos completo)
15
16
17
18
19
Escolaridade
1º ano
2º ano
N
%
62
64
49,2
50,8
20
45
27
17
17
15,9
35,7
21,4
13,5
13,5
36
90
28,6
71,4
Procedência
Z. Rural
Z. Urbana
Estado civil
Solteiro
Casado/U. Cons.
71
65
56,3
43,7
122
4
96,8
3,2
Residência Própria
Sim
Não
101
25
80,2
19,8
Com quem mora
Família
Amigos
Marido/parceiro
121
2
3
96,0
1,6
2,4
Trabalha
Sim
Não
13
113
10,3
89,7
75
39
65,8
34,2
Renda percapita (120,00)
< 1 SM
1 ≤ 3 SM
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 41
Religião
Católica
Protestante
Outras
Chefe da família
Pai
Mãe
Pai/mãe
Avô/Avó
Parceiro(a)
Não informado
109
5
6
90,8
4,2
5,0
78
29
4
8
4
2
62,4
23,0
3,2
6,3
3,2
1,6
Tabela 1.2 – Condições sócio econômicas
Número pessoas na
casa
Renda familiar
N
Quantos trabalham
Validos
114
126
126
perdidos
12
0
0
Média
554,82
5,30
1,44
Mediana
415,00
5,00
1,00
Desvio padrão
305,20
1,98
1,26
Mínimo
78
2
0
Maximo
1800
17
8
Apresentam-se na tabela 1 as características sociais, econômicas e
demográficas dos 126 adolescentes participantes do estudo. Destes, 62 (49,2%) são
do sexo masculino e 64 (50,8%) do sexo feminino. A faixa etária envolveu
estudantes de 15 a 19 anos. Sendo que participaram 20 adolescentes com 15 anos
(15,9%), 45 com 16 anos (35,7%), 27 estudantes com 17 anos (21,4%), 17
estudantes com 18 anos (13,5%) e 17 estudantes com 19 anos (13,5%).
Todos os investigados são estudantes, destacando-se que 36 (28,6%)
cursavam o primeiro ano do ensino médio e 90 (71,2%), o segundo ano.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 42
Quanto à origem, 71 alunos (56,3%) procedem da zona rural e 65 (43,7%)
da zona urbana. No tocante à situação conjugal, a maioria, 122 dos pesquisados
(96,8%), é de solteiro, e somente 04 (3,2%) são casados/união consensual. Nesse
estudo, observou-se que 113 (89,7%) dos adolescentes não trabalham, contando
apenas com 10,3% que exercem atividade lucrativa.
Quanto à renda per capta 75 (65,8%) dos entrevistados auferem um valor
inferior a um salário mínimo, restando 39 (34,2%) no intervalo de um a três salários
mínimos.
Relativo à religião, 109 (90,8%) eram católicos, 05 (4,2%) eram
evangélicos e 06 (5,0%) pertenciam a outras religiões. Habitavam em domicílio
próprio 101 alunos (80,2%), os demais não possuíam residência própria, totalizando
25 alunos (18,8%).
Relativo à moradia, constatou-se que 121 (96%) residem com a família e
78 (62,4%) confirmaram que o chefe do lar é o pai e 29 (23,0%) disseram que é a
mãe.
Em relação à tabela referente às condições socioeconômicas, verificou-se
que a mediana da renda familiar foi de R$ 415,00 reais, tendo um desvio padrão de
305,20.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 43
4.2 Uso do Álcool por Adolescentes
Tabela 2 – Distribuição dos 126 adolescentes de acordo com o uso de álcool, Baturité-Ce, 2008
Valor p
Uso de álcool
Variáveis
Sim
Não
N (%)
N (%)
40 (64,5)
45 (70,3)
22 (35,5)
19 (29,7)
85 (67,5)
41 (32,5)
Sexo
Masculino
Feminino
Total – 126
0,488
Tabela 2.1 – Distribuição dos Adolescentes conforme a idade e o tempo, Baturité-Ce, 2008
Idade 1º uso álcool
- < 10 anos
- 10 a 14
- 15 a 19
Tempo último consumo
- < 1 semana
- 1 semana
- < 1 mês
- ≥1 mês
- não lembra
- não informou
N
3
33
48
15
6
16
25
22
42
%
2,4
26,2
38,1
11,9
4,8
12,7
19,8
17,5
33,3
A tabela 2 apresenta os dados relativos ao uso do álcool pelos
adolescentes. Dos 126 adolescentes, 85 (67,5%) fazem uso do álcool, e 41(32,5%)
não utilizam álcool. Destes, 45 (70,3%) são do sexo feminino e 40 (64,5%), do sexo
masculino.
Já na tabela 2.1, tem-se a idade do primeiro consumo, destacando-se o
maior índice na faixa etária entre 15 e 19 anos. No tocante ao tempo do último
consumo, 19,8% dos adolescentes informaram que haviam utilizado o álcool há mais
de um mês, enquanto 12,7% há menos de um mês.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 44
4.3 Relação Entre Uso de Álcool, Sexo e Condições Socioeconômicas
Tabela 3 – Associação da variável uso do ácool com sexo e variáveis socio-econômicas e demográficas
Baturité-Ce, 2008
Variáveis
Uso de álcool
Sim
Não
Valor-p
40(64,5)
45(70,3)
22(35,5)
19(29,7)
0,488a
51(68,0)
24(61,5)
24(32,0)
15(38,5)
0,490a
21(58,3)
64(71,1)
15(41,7)
26(28,9)
0,167a
9(69,2)
76(67,3)
4(30,8)
37(32,7)
1,000b
49(69,0)
36(65,5)
22(31,0)
19(34,5)
0,672a
Sexo
Masculino
Feminino
Renda per capta
< 1 SM
1 ≤ 3 SM
Escolaridade
1º ano
2º ano
Trabalho
Sim
Não
Procedência
Rural
Urbana
a – teste do qui-quadrado
b – teste exato de Fisher
Em análise à tabela 3, constatou-se que 70,3% dos indivíduos do sexo
feminino fazem uso de bebidas alcoólicas e 29,7 % não. Quanto ao sexo oposto,
64,5 % dos indivíduos do sexo masculino usam álcool e 35,5 % não usam.
No que se refere à renda per capta, 68% dos sujeitos que ingerem
bebidas alcoólicas auferem renda inferior a um salário mínimo, enquanto 61,5 %
inserem-se em uma renda per capta entre um e três salários mínimos.
Na variável escolaridade, no 1º ano, 58,3 % fazem uso do álcool, e 41,7
% não fazem. No 2º ano, 71,1% fazem uso da substância e 29,9 % não usam.
Quanto ao trabalho, observou-se que 69,2 % trabalha e usa álcool, enquanto 30,8%
trabalha e não usa. Dos que não trabalham, 67,3 % usam álcool e 32,7 % não usam.
No que tange à procedência, a análise dos dados demonstra que 69,0%
são da zona rural e usam álcool e 31% não usam, ao passo que na zona urbana
65,5 % utilizam álcool e 34,5% não.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 45
4.4 Relação Entre Sexo, Uso de Álcool e Condições Socioeconômicas e
Demográficas
Tabela 4 – Associação da variável sexo com uso de álcool e variáveis socio-econômicas e demográficas
Baturité-Ce, 2008
Variáveis
Sexo
Masculino
Feminino
Valor-p
40(47,1)
22(53,7)
45(52,9)
19(46,3)
0,488a
14,08 ± 2,56
14,80 ± 1,92
0,075b
3,48 ± 2,40
3,69 ± 1,36
0,119b
33(44,0)
24(61,5)
42(56,0)
15(38,5)
0,076ª
26(72,2)
36(40,0)
10(27,8)
54(60,0)
0,001ª
9(69,2)
53(46,9)
4(30,8)
60(53,1)
0,152c
38(53,5)
24(43,6)
33(46,5)
31(56,4)
0,271ª
Uso de álcool
Sim
Não
Idade 1ª vez
- Média ± dp
Última vez
- Média ± dp
Renda per capta
< 1 SM
1 ≤ 3 SM
Escolaridade
1º ano
2º ano
Trabalho
Sim
Não
Procedência
Rural
Urbana
a – teste do qui-quadrado
b – teste de Mann-Whitney
c – teste exato de Fisher
Com relação à idade do primeiro uso do álcool, verifica-se na tabela 4 que
a média de adolescentes do sexo masculino foi 14,08 (± 2,56) anos. Do sexo
feminino, foi de 14,80 anos (+ 1,92).
Em termos do tempo do último consumo de álcool, constatou-se que o
tempo médio do sexo masculino foi 3,48 semanas (+2,40) e o sexo feminino foi de
3,69 semanas (+1,36).
Com relação à renda per capta, 44 % (sexo masculino) e 56% (sexo
feminino) ficam abaixo de 01 salário mínimo. Enquanto 61,5 % dos homens e 38,5 %
das mulheres ficam no intervalo de1≤3 salários mínimos.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 46
Quanto à escolaridade, no 1º ano, constatou-se que 72,2% são do sexo
masculino e 27,8 % são do sexo feminino. No 2º ano, 40 % são do sexo masculino e
60% são do feminino.
No que se relaciona ao item trabalho, 69,2 % (sexo masculino) e 30,8 %
(feminino) trabalham. Não trabalham 46,9% dos homens e 53,1 % das mulheres.
Partindo-se ao quesito procedência, 53,5% (masculino) e 46,5 % (feminino)
originam-se da zona rural, enquanto 43, 6% (masculino) e 56,4 % (feminino) provêm
da zona urbana.
4.5 Apresentação dos Resultados da Análise de Conteúdo
O quadro 1 apresenta o resultado da análise de conteúdo das perguntas
abertas.
Foram
apreendidas
duas
categorias
denominadas:
descrições/percepções sobre o uso do álcool e motivação para o uso do
álcool. A primeira com duas subcategorias: autopercepção e heteropercepção, com
um total de 222 unidades de análise; a segunda, com quatro subcategorias: motivos
do uso do álcool relacionados à busca do prazer, à busca do novo, à
suscetibilidade/pressões grupais (amigos) e à insegurança, com um total de 95
unidades de análise. O somatório das duas categorias corresponde a 317 unidades
de análise.
Quadro 1 – Distribuição das categorias e subcategorias simbólicas sobre o uso do
álcool por adolescente
CATEGORIAS
SUBCATEGORIAS
Categoria 1
-Autopercepção
Descrições/percepções
sobre o uso do álcool -Heteropercepção
D/PA-P
D/PH
Nº DE UNIDADES
DE ANÁLISE
97
-Relacionada a busca do prazer
MRBP
125
58
-Relacionada a busca do
novo/curiosidade
MRBN
11
MRPA
15
-Relacionada a
Insegurança/Dificuldades de lidar
com sentimentos
MRDS
11
Categoria 2
-Relacionada a pressão dos
Motivação para uso do amigos(grupo)
álcool
TOTAL
CODIFICAÇAO
222
95
317
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 47
DISCUSSÃO
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 48
5 DISCUSSÃO
Todo mundo é capaz de dominar uma
dor, exceto quem a sente. (Shakespeare)
5.1 Características Sociais, Econômicas e Demográficas
O estudo foi realizado com 126 adolescentes estudantes do primeiro ano
e do segundo ano do ensino médio de uma escola pública do interior do CearáBrasil. A maior parte dos estudantes procedem da zona rural (56,3%) e somente
(43,7%) são da zona urbana.
Quanto à escolaridade desta população no Brasil, 1,1 milhões ainda são
analfabetos e, destes, 76,5% encontram-se no nordeste. No universo de
estudantes, destacou-se que, dos 4,6% que estão na faixa etária de 10 a 17 anos
estudam e trabalham (IBGE- 2002). Na presente pesquisa, observou-se que 28,6%
cursam o 1º ano do ensino médio e 71,4%, cursam o 2º ano.
Neste estudo, constatou-se que a renda per capta dos pesquisados, em
um total de 65,8%, é inferior a um salário mínimo. O nível socioeconômico não foi
fator relevante em relação ao uso de álcool da população estudada, como
observada em pesquisa no interior de São Paulo e na cidade de Ribeirão Preto
(Martins et al 2008; Muza et al 1997). Outros estudos já evidenciam que o consumo
de álcool está relacionado com as classes sociais mais elevadas (Almeida Filho et al
2004; Soldera et al 2004) . No entanto, o V Levantamento Nacional concluiu que o
uso de drogas, tanto lícitas como ilícitas, distribui-se por todas as classes
socioeconômicas (MARTIN et al, 2008).
Nesta pesquisa a população é bastante homogênea, pois se trata de
estudantes de uma Escola Pública de Ensino Médio de uma cidade interiorana do
estado do Ceará. Esta é uma peculiaridade deste estudo, pois as demais
investigações se dão nas capitais, ou seja, em uma população diferenciada, já que
fazem parte de um grande conglomerado, onde os costumes e as opções de estudo,
divertimento e trabalhos são bem maiores.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 49
As famílias dos indivíduos envolvidos neste estudo fazem parte do
Programa Bolsa Família do Governo Federal e, grande parte, encontra-se em
situação de vulnerabilidade social.
De acordo com Abramovay (2002), a vulnerabilidade social é o resultado
negativo da relação entre a disponibilidade de recursos dos atores e o acesso à
estrutura de oportunidades sociais, econômicas, culturais que provêm do Estado, do
mercado e da sociedade. Tal premissa diz respeito a uma diversidade de situações
de risco, determinadas por fatores sociais, econômicos e financeiros.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do
Ceará – IPECE, a cidade de Baturité obteve o índice de vulnerabilidade de 66,16%,
e, com relação aos demais municípios do Estado do Ceará-Brasil, situou-se no 163º
lugar, estabelecendo-se, assim, em situação de risco social (IPECE – 2008).
Portanto, como discorre Matos (2006), o consumo de álcool está
relacionado a fatores socioeconômicos, que surtirão efeitos nas desigualdades
sociais, podendo acarretar conseqüências importantes na estabilidade psicológica
de quem consome e de quem os cerca, no caso, familiares, amigos e a sociedade.
O estado civil predominante é de solteiros (96,8%), contando apenas com
2,4% de casados. A maior parte dos estudantes mora com a família, sendo que 60%
reconhecem o pai como chefe e 23,8%, a mãe. Quanto à moradia, 80,2% possuem
residência própria e somente 19,8% não possuem.
De acordo Costa et al (2004), além dos fatores sócio-demográficos, os
estudos indicam associação do uso de substâncias psicoativas com o fato de não
ser criado por ambos os pais, com o envolvimento parental ou familiar no que diz
respeito ao consumo de álcool e com a baixa percepção de apoio paterno e
materno.
No que se refere ao relacionamento familiar e fatores ambientais, o uso
de drogas, de uma forma geral, tem relação com o fato dos jovens terem pais
separados, contribuindo com 50% a mais em comparação com aqueles que vivem
juntos. No entanto, quando se refere a pais que nunca viveram juntos ou faleceram,
não foi detectado nenhuma diferença entre aqueles que residem com os pais.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 50
Quanto à moradia, foi observado que o fato de se morar de forma digna também
contribui como fator de proteção (TAVARES et al, 2004).
Desta forma, fica evidente a relevante influência que a família tem sob o
sujeito na decisão da experimentação e uso do álcool. Esta influência justifica-se no
fato de que, neste período, o convívio com os familiares é ou deveria ser intenso.
Portanto, cabe à família a incumbência de evitar a iniciação e manutenção do hábito
de beber (PILONN, 2003).
Com referência ao trabalho, a maior parte dos jovens não exerce
atividades laborativas (89,7%). A literatura mostra que o trabalho está associado ao
uso de álcool, evidenciando constituir um fator de risco para os estudantes
adolescentes que trabalham. (SOUZA et al, 2005)..
5.2 Uso do Álcool por Adolescentes
Conforme a pesquisa em questão, dos 126 adolescentes que usam
álcool, 70,3% são do sexo feminino e 64,5 % são do sexo masculino. Constatou-se
um aumento com relação ao sexo feminino.
Chama atenção neste estudo a idade precoce do uso do álcool, tendo
em vista que três adolescentes alegaram ter feito uso do álcool com idade entre
quatro e dez anos. Um deles chegou a afirmar que a mãe lhe dava bebida para que
adormecesse mais cedo.
O consumo de álcool é bastante antigo, sempre esteve presente na
história da humanidade, no entanto, foi a partir da produção industrial desta
substância que surgiram os problemas relacionados ao uso abusivo. Atualmente o
álcool está presente em todas as ocasiões sociais e 80% das pessoas no mundo
consumem, sendo 10% consideradas alcoolista (ALVES et al, 2004).
A adolescência é a fase de maior vulnerabilidade e exposição ao uso e
abuso de substâncias psicoativas, tendo em vista o processo de desenvolvimento
biopsicossocial
e
a
conseqüente
imaturidade
emocional
para
avaliar
os
comportamentos de risco e suas conseqüências (BAUS et al, 2002;MARQUES et
al, 2000).
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 51
Até o momento foram realizados cinco levantamentos entre estudantes do
Ensino Médio e Ensino Fundamental. Constatou-se um significativo crescimento na
taxa de consumo de álcool registrado nas quatro últimas pesquisas. Os resultados
do último estudo, realizado em 2004 pelo CEBRID, com alunos do Ensino Médio e
Fundamental, apontam que 65,2% dos estudantes relataram uso de álcool; 44,3% o
fizeram nos últimos 30 dias; 11,7% relataram uso freqüente (cerca de seis ou mais
vezes no mês) e 6,7% afirmaram fazer uso pesado, cerca de 20 ou mais vezes no
último mês (VIEIRA et al, 2007).
Em 2005, o CEBRID realizou a segunda versão do estudo, intitulado de II
Levantamento Domiciliar sobre uso de Drogas Psicótropicas no Brasil, cujo objetivo
era obter uma visão geral do uso de drogas líticas e ilícitas pela sociedade brasileira,
bem como detectar possíveis flutuações na prevalência de uso dessas substancias.
A pesquisa, segundo Carlini (2006), indicou que no Brasil o índice de dependência
de álcool é da ordem 12,3% da sua população. Entre adolescentes, a porcentagem
daqueles que ingeriram pelo menos uma vez o álcool foi de 54,3% (na faixa
compreendida entre 12 e 17 anos), e de 78,6% entre jovens de 18 a 24 anos.
Problemas relacionados ao consumo de álcool foram mencionados por 5,7% e 12%
dos entrevistados nas faixas etárias entre 12 e 17 anos e entre 18 e 24 anos,
respectivamente.
Estudos
nacionais
realizados
com
amostras
representativas
de
adolescentes de escolas públicas e universitárias, em cidades de porte médio, tais
como Rio de Janeiro, Cuiabá, Florianópolis, resultaram em uma porcentagem de
80% no consumo de bebidas alcoólicas, predominando o sexo masculino (BAUS et
al, 2002), indo de encontro aos resultados obtidos na presente pesquisa.
Recentemente, foi realizado no Brasil o I levantamento Nacional sobre os
padrões de consumo de álcool na população brasileira, traçando um perfil do
universo daqueles que bebem: adultos e adolescentes. Este estudo fornece
informações de que o fenômeno do beber precoce e regular está cada vez mais
presente na vida dos jovens. A pesquisa revela que quase 35% dos adolescentes
menores de idade consomem bebidas alcoólicas ao menos uma vez no ano e 24%
destes bebem pelo menos uma vez por mês, fato que merece atenção (BRASIL,
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 52
2007). Consoante ao início do álcool, percebe-se que a cronologia do beber começa
na adolescência.
Estudos realizados em diferentes centros apontam que o uso de bebidas
alcoólicas aumenta com a idade. Observa-se a freqüência de 76,2% entre menores
de 15 anos e 96,4% para a faixa de 15 a 19 anos (BAUS et al, 2002; ALVES et al,
2004). Verificaram-se proporções de 48,9 % na faixa de 10 a 12 anos; 84,0% de 13
a 15 anos; 95% de 16 a 18 anos e 92% para os de 19 anos (TAVARES et al, 2001;
ALVES et al, 2004).
Os achados da presente pesquisa corroboram com estes estudos, visto
que foi observado consumo significativo na faixa de 15 a 19 anos (48,3%). Com
relação à freqüência do consumo de bebidas alcoólicas, o estudo aponta uma média
de 3,48 semanas para o sexo masculino e 3,69 semanas para o feminino.
A experimentação precoce e o uso freqüente podem estar associados a
diferentes fatores sociais, culturais e econômicos, destacando a facilidade de acesso
ao uso do álcool, a falta de fiscalização das autoridades, ao incentivo social e a
mídia de modo geral (BAUS et al, 2002).
É preocupante o uso de álcool por adolescentes no Brasil, sendo
interessante destacar que na faixa etária de 16 anos, 75% da população já fez uso
experimental da bebida (GALDUROZ et al, 2004).
A mídia tem um papel fundamental na representação subjetiva dos jovens
acerca do uso de bebidas alcoólicas, principalmente através da televisão, que é um
meio de comunicação em massa que tem um grande poder na sociedade atual.
Assim, o uso de álcool por adolescentes é um embate entre forças desiguais, onde
de um lado encontra-se um jovem em uma fase de transição e de outro uma
sociedade permissiva que favorece e estimula através da mídia e da própria cultura
o uso desta substância.
5.3 Relação Entre uso de Álcool, Sexo e Condições Socioeconômicas
Verificou-se que, dentre os adolescentes avaliados, 52,9 % são do sexo
feminino e fazem uso do álcool e 47,1 % são do sexo masculino. Constata-se que há
uma maior incidência em relação às mulheres, embora a diferença não seja
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 53
significativa quando comparados os dois sexos. O comportamento feminino, no que
diz respeito ao uso de substâncias lícitas e ilícitas tornou-se semelhante ao do sexo
masculino, mormente na fase da adolescência, onde há uma tendência para a
adoção de comportamentos parecidos, objetivando aceitação no grupo de amigos e
inserção social. (GALDUROZ et al, 2004; VIEIRA et al, 2008). Referida afirmação vai
de encontro ao estudo de base populacional realizado em Pelotas-RS que na faixa
etária igual ou superior a 15 anos, obteve-se uma diferença significativa entre o sexo
feminino e masculino, com prevalência do uso de álcool de 21,7 % para homens e
4,7% para mulheres. (TAVARES, et al, 2004)
Apesar do incremento do uso do álcool entre as mulheres, observa-se
que, quanto ao uso mais freqüente, pelo menos uma vez por semana, as diferenças
são marcantes em relação ao sexo: 39% dos homens ingerem bebida alcoólica
habitualmente e apenas 13% das mulheres fazem uso semelhante do álcool. (Brasil
2007).
Percebe-se, outrossim, que na população que bebe além de 05 doses (05
para homens e 04 para mulheres), que é considerado o beber de maior risco, 29%
bebe desta forma e 48 % abaixo de 02 doses. Em comparação ao sexo, tem-se que
38% dos homens bebem acima de 05 doses e 38 % abaixo de 02 doses; nas
mulheres, 17% bebem acima de 04 doses e 63% abaixo de 02 doses. (Brasil 2007).
De acordo com estes dados observa-se que, em se tratando do universo feminino, a
quantidade de álcool ingerida pelas mulheres é bem menor, até mesmo pela
diferenças biológicas e psicossociais que vulnerabilizam a mulher aos danos do uso
do álcool.
A pesquisa evidencia que, com relação à idade do primeiro uso do álcool,
a média de adolescentes foi de 14,08 anos do sexo masculino e 14,80 para o
feminino. Quanto à média da idade de início do álcool, os dados coincidem com a
literatura, que aponta para o início do beber aos 13,9 anos de idade e uso regular
aos 14,8, existindo, portanto, uma tendência ao uso precoce do álcool (BRASIL,
2007).
Com relação aos tipos de bebida, a cerveja é preferência nacional entre
homes e mulheres, em todas as idades, regiões e classes sociais. Já os destilados
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 54
são consumidos principalmente na região Norte (18%) e Nordeste (20%), assim
como pelos homens. As mulheres consomem 34% de vinho, compatível com um
padrão mais moderado.
No presente estudo, de acordo com a tabela 4, o grau de abstinência para
os homens é de 53,7% e para as mulheres 46,3 %. Em pesquisa nacional,
constatou-se que estes dados são de 64% para os meninos e 68% para as meninas.
Não obstante as altas taxas de abstinência neste grupo, a diferença entre os dois
sexos é insignificante (BRASIL, 2007).
No que diz respeito à escolaridade e ao uso do álcool, os resultados são
condizentes com a literatura, visto que o consumo aumenta ao longo da vida
escolar, chegando ao ápice em estudantes universitários. Observa-se que 71,1%
são do 2º ano e somente 58,3 % são do 1º ano. Isso indica que o início do uso do
álcool acontece no ensino fundamental. Outros estudos chegaram à conclusão
semelhante quanto a este aspecto (MARTINS et al, 2008).
Quanto ao trabalho, observou-se que 69,2 % trabalha e usa álcool,
enquanto 30,8% trabalha e não usa. Dos que não trabalham, 67,3 % usam álcool e
32,7 % não usam.
Há que se considerar um aspecto importante: a significativa diferença
entre alcoolistas homens e mulheres. De acordo com o Banco Mundial (2002),
estudo recente sobre a América Latina revela que os homens têm maior tendência
para o alcoolismo do que as mulheres, e têm maiores prejuízos em decorrência do
consumo de álcool. Em contrapartida, as mulheres estão mais sujeitas à violência
relacionada a seu consumo (BRASIL, 2007).
5.4.Representações Sociais Sobre o Uso do Álcool
Falar sobre o uso do álcool por adolescentes é contextualizar um
fenômeno que ocorre no cotidiano dos jovens e que se produz em determinado
contexto social. O indivíduo se apropria de determinados valores sobre os quais a
coletividade cria uma idéia comum. Neste sentido, a representação social é um
fenômeno psicossocial, um conjunto de conceitos que surge no cotidiano das
pessoas e nas relações inter-individuais (MOSCOVICI,1981).
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 55
Assim, a interpretação do uso de álcool pelos jovens à luz das
representações sociais possibilita a estruturação social de um conhecimento
compartilhado, construído entre o saber científico e o senso comum, recebendo
influências da cultura local.
O uso do álcool pelos adolescentes, por se tratar de uma droga lícita e
aceita socialmente, é utilizado dentro da própria família em várias situações
comemorativas, sendo visto pelo jovem como um comportamento normal. Assim, a
sociedade incentiva o uso do álcool como algo que promove o bem estar e a
interação social. Vale salientar que o consumo de bebidas alcoólicas funciona como
um reflexo de um costume da sociedade introduzida passivamente no sujeito ao
longo do tempo, aspecto este que pode influenciar na instauração da dependência,
que se estabelece sorrateiramente.
Neste sentido, as representações sociais sobre o uso de álcool por
adolescentes, objeto deste estudo, espelha-se do que diz Moscovici (1981, p. 41),
estas são uma “versão contemporânea, do senso comum, produzindo um
determinado comportamento”. Nessa perspectiva, as representações sociais são
constituídas e compartilhadas pelos seres humanos na sociedade, a partir da
educação, atitudes, crenças e mitos presentes no imaginário social dos próprios
indivíduos.
A mídia tem um papel fundamental na representação subjetiva dos jovens
acerca do uso de bebidas alcoólicas, principalmente através da televisão, que é um
meio de comunicação em massa que tem um grande poder na sociedade atual.
Assim, o uso de álcool por adolescentes paradoxalmente ainda é combatido e
valorizado, dependendo do ângulo em que seja observado. Para a mídia e os pares,
seu uso é valorizado, enquanto para a lei e os programas de saúde pública, é
combatido.
Neste aspecto, este estudo busca as representações sociais elaboradas
por jovens do sexo masculino e feminino, apreendidas através de duas categorias:
Percepções sobre o uso do álcool e Motivações para o uso do álcool.
5.5.1 Categoria 1- Descrição/percepção Sobre Uso do Álcool
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 56
Nos resultados obtidos, verificou-se que há uma representação negativa
do álcool pelos jovens, em que o álcool é representado como algo ruim e os
usuários
como
pessoas
frágeis,
dependentes
e
safadas.
Tais
dados
proporcionaram a compreensão das Representações Sociais dos adolescentes do
uso de álcool favorecendo assim, uma visão mais ampla da situação.
Tabela 5 Distribuição das freqüências, percentuais das subcategorias descrição/percepção sobre uso
do álcool para adolescentes, Baturité, 2009
SUBCATEGORIA
M
%
F
%
TOTAL
%
Autopercepção
42
43,3%
55
56,7%
97
43,7%
Heteropercepção
53
56.7%
72
43.3%
125
56,3%
Total
95
100,00
127
100,00
222
100.00
5.5.1.1 Descrição/Percepção Sobre Uso Do Álcool Ancorada Na Autopercepção
A autopercepção é a representação que o jovem faz de si mesmo. Nesta
subcategoria, emerge uma gama de sentimentos contraditórios onde o jovem só
percebe o efeito positivo da bebida, não contando com os riscos que podem
decorrer deste comportamento. As respostas denotam um certo “poder” dos jovens
ao abusar do álcool, quando se referem ao ato de beber da seguinte forma: “tomar
todas, beber até cair, ficar melado, ficar zoado, voltar para casa em um carro de
mão, voltar rebocado”. Constata-se que na sua autopercepção, os jovens não
expressam julgamento na sua conduta. Nesta subcategoria, as mulheres foram as
que mais contribuíram.
O sexo feminino verbalizou com maior ênfase os seus sentimentos como:
”ficar legal”; “ficar muito ruim”, “sonolência” e “agitação”. Verifica-se que as mulheres,
ao elaborarem suas percepções do significado do “porre”, se vêem diante de uma
dicotomia de valores. Neste estudo, houve uma semelhança nas expressões
utilizadas pelos homens e mulheres com relação ao uso do álcool.
5.5.1.2 Descrição/Percepção Sobre Uso do Álcool Ancorada na Heteropercepção
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 57
Enquanto na auto-percepção está focado o efeito próspero da bebida, na
heteropercepção já surge a noção de perigo, risco, discriminação, preconceito, falta
de perspectiva e o constrangimento para os familiares de quem faz uso desta
substância. Nesta subcategoria, os homens participaram em um total de 56,7% e as
mulheres com 43,3%.
Os jovens, ao se reportarem sobre o ato” tomar porre”, denotaram
atitudes preconceituosas, discriminatórias, percebidas pelos termos pejorativos
utilizados pelos adolescentes, tais como: “depravado”, “bebarrão”, “papudim”,
“idiota”, “cachorro”, “desocupado”, “acabando sua vida e enchendo a família de
vergonha, “ridículo”, “mete a cara na cachaça”, “tão novo e já caindo na maldita”.
Estes termos pejorativos definidos pelos jovens parecem fazer parte de sua autoimagem enquanto usuários de álcool.
Quanto ao universo feminino, percebe-se também o estigma do usuário
de álcool através dos termos: “viciado”, “pessoa fraca que não se controla”,
“ridículo”, “querem se amostrar e acabam sendo bebarrões”. Embora esteja
presente o estigma do bêbado, nota-se uma tentativa das mulheres em justificar o
ato de tomar “porre”, observados nas seguintes respostas: “alguma coisa lhe
incomoda pra fazer isso”; “penso que tem seus motivos, que tem algum problema
ou por curtição”.
Esta justificação não foi percebida nos homens, isto se explica pelo fato
de nossa sociedade ainda cultivar uma cultura machista, apesar das mudanças
socioculturais ocorridas a partir da emancipação da mulher.
A heteropercepção é como o sujeito se percebe a partir do outro. A
subjetividade diz respeito a uma construção singular, própria do sujeito, mas
decorrente de um contexto sociocultural. No caso do uso do álcool por adolescentes,
quando esta substância se torna um elemento de auto-sustentação, o sujeito busca
não mais o referencial de prazer, e sim o objeto encobridor de uma falta que lhe é
intrínseca e na sua subjetividade, se torna ameaçadora à sua integridade.
No indivíduo como um ser multidimensional, onde sentimentos e emoções
estão em constante interação, cada experiência é única e adquire um significado
diferente de acordo com o contexto sociocultural. Assim, a subjetividade, segundo
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 58
Foucault (1994), é a relação de si consigo mesmo e de si com o mundo. Nota-se que,
enquanto o indivíduo recorre à bebida como forma de se auto-afirmar, reprova-se por
necessitar desta substância, e, quando passa o efeito efêmero da bebida, surge a
negação de si próprio e do outro, que o reconhece e confirma o papel de bebedor.
Nesta subcategoria, os homens, em um total de 56,7%, incorporam
através de suas representações qualificações negativas já citadas anteriormente.
Esta falta de aceitação confirma-o como incapaz, impossibilitando existir por si,
consoante entendimento de Morin (1996), segundo o qual “o auto-reconhecimento é
dependente do reconhecimento do outro”. Assim, Vitoriano (2000) infere que a ilusão
de negação de alteridade ameaça o bebedor, porquanto ele precisa do
reconhecimento do outro para realizar sua subjetividade.
Percebe-se na colocação “tão novo e já caindo na maldita” utilizada pelo
jovem, uma rechaça de si próprios, mostrando a fragilidade e o domínio que a bebida
exerce sobre o sujeito. Quando os adolescentes referem-se à bebida através das
expressões “legal”; “percebo que não sou mais criança”; “estão apaixonados”; “levam
chifre”, denotam toda a subjetividade do processo da busca de si mesmo, que é a
passagem da infância para a vida adulta.
O sujeito se faz pelo outro, pelo mundo externo, através de trocas com os
demais, com a cultura e a sociedade. Essa sociedade que induz ao consumo de
álcool através de leis que beneficiam e protegem, é a mesma que estigmatiza o
sujeito enquanto dependente desta substância - o álcool - aparentemente tão
inofensiva e lícita. Tiba (2000) enfoca que a Organização Mundial de Saúde – OMS não considera o álcool uma substância ilícita, por estarem envolvidos grandes
interesses, já que a arrecadação tributária deste produto é de grande valia para a
economia mundial e do Brasil, além de ser uma fonte de emprego para milhões de
brasileiros desde o plantio da cana-de-açúcar até a produção de bebidas.
5.5.2 Motivação Para Uso do Álcool
Nesta categoria, os sujeitos manifestaram-se por meio das unidades de
análise temática em um total de 95 %, divididas em quatro subcategorias:
1. A motivação do uso do álcool ancorada na Busca do Prazer;
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 59
2. A motivação do uso do álcool em Busca do Novo;
3. A motivação do uso do álcool na Pressão de Amigos;
4. A Motivação do uso do álcool ancorada na Insegurança/ Dificuldade de lidar
com os sentimentos.
Tabela 6 – Distribuição das freqüências, percentuais e da categoria motivação pra uso do alcool, Baturité,
2009
SUBCATEGORIA
M
%
F
%
TOTAL
%
Busca do prazer
27
46,5
31
54,5
58
61,0
Busca do novo/curiosidade
08
73
03
27
11
11,6
Pressão dos amigos (grupo)
08
53
07
47
15
15,8
Insegurança/Dificuldades de
lidar com sentimentos
05
45
06
55
11
11,6
Total
48
100
47
100
95
100
Fonte: Elaboração própria.
5.5.2.1 Motivação do uso do Álcool Ancorada na Busca do Prazer
Esta subcategoria foi a que obteve maior destaque, com 46,5% para os
homens e 54,5% para as mulheres em um total de 61%, demonstrando a associação
que o jovem faz entre o uso do álcool e a busca do prazer.
Conforme Macedo (2004), através da psicanálise, aprendemos que o
psiquismo humano é regido por um princípio geral denominado princípio do prazer.
É próprio do ser humano buscar o prazer e evitar o desprazer. Todas as nossas
ações, condutas e pensamentos direcionam-se a uma satisfação pessoal.
Atualmente, em uma sociedade de consumo em que vivemos, esta busca
se torna mais frenética, em uma corrida para se alcançar uma felicidade ilusória e
passageira, pois nunca poderá ser satisfeita, haja vista a busca constante pelo
indivíduo por um contentamento pleno.
Com relação ao uso de drogas, Lapate (2001, p.102) sustenta que “os
homens primitivos já utilizavam frutas fermentadas como forma de relaxamento e
prazer”. Nesse sentido, constata-se que a busca do prazer é uma constante nas
sociedades, conhecido como “sociedade hedonista”. De acordo com a psicanálise, o
hedonismo (do grego Hedone, que significa prazer) é o ápice de uma busca do
indivíduo por um prazer supremo. Sob este aspecto, a tendência pela busca do
álcool obedece a dois mecanismos não patológicos, estabelecidos como
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 60
comportamento de repetição: o reforço positivo e o reforço negativo. O reforço
positivo diz respeito ao comportamento de busca de prazer ao se identificar uma
situação, algo ou processo que lhe é agradável, buscando-o sempre que necessite
do mesmo estímulo com vistas à mesma satisfação. Do contrário, o reforço negativo
está vinculado à necessidade de afastar a sensação de dor, sofrimento ou
desprazer. Destarte, quando o indivíduo sente-se envolvido numa situação
desconfortável ele recorre a mecanismos capazes de evitar ou aliviar a dor,
proporcionada pela situação que o envolve (LAZO, 1989).
A análise das experiências dos estudantes do sexo masculino quanto ao
uso das bebidas alcoólicas evidenciou (Tabela 2), que 46,5% deles recorrem ao
álcool com o propósito de obter prazer, relacionando o álcool a festas, a se divertir, a
ficar agitado, a facilitar o entrosamento com o sexo oposto. Algumas afirmativas tais
como “a festa não tem graça sem bebida”, “para ficar doidão”, “curtir”,” ficar maneiro”
evidenciam esta associação que o jovem faz entre álcool e diversão, demonstrando
que o “curtir” é indissociável do beber.
Para as mulheres, a busca pelo prazer também prevalece como
motivação para o consumo de bebidas alcoólicas, em uma porcentagem de 54,5%.
Não obstante, são mais comedidas que os meninos ao se reportarem sobre esta
relação, associando o álcool a datas comemorativas em família, festas e lazer.
Enquanto que os meninos, ao discorrerem sobre a motivação do beber,
foram mais específicos quanto às sensações de prazer proporcionadas pelo efeito
do álcool, as meninas, em suas respostas, enfatizaram os aspectos relacionados
aos eventos “festa”, “comemoração”, “diversão”, demonstrando que o álcool produz
um deleite, à medida que as deixa relaxadas para desfrutar dos momentos de
alegria e lazer.
Consoante menciona Nogueira (2003), as drogas aparecem associadas a
encantamento, algo que fascina e traz satisfações intensas desde as épocas mais
antigas até os tempos atuais, no entanto, também traz consigo uma natureza de
periculosidade.
De fato, sabe-se que na história da humanidade encontra-se diferentes
usos e significado para as drogas, desde seu uso em rituais religiosos,
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 61
proporcionando um certo sentido de magia, de ligação com os Deuses, até os dias
atuais, quando ela mantém uma estreita relação com prazer, vício e crime.
(NOGUEIRA ,2003). O referido autor se reporta a Freud quando menciona que ele já
fazia menção ao uso do tóxico como objeto necessário para evitar a angústia,
oriunda dos imperativos culturais, tornando a vida mais suportável e até prazerosa.
Hoje, pode-se dizer que estas substâncias são objeto de um gozo ideal, que
contribui para um sintoma social, já que é aceito cultural e socialmente, pelo fato de
estar presente em quase todas as atividades humanas, “desde a celebração do
nascimento até o choro da morte”.
Segundo Leite (2002), a cultura de hoje exige que o sujeito se submeta ao
imperativo do consumo. Nesta lógica, o indivíduo deve encontrar a completude não
nos ideais, mas no gozo com os objetos de consumo, ou com as drogas,
constituindo assim um costume; no caso do álcool, um costume lícito e social.
O álcool emerge como promessa para se obter poder, sucesso, amor
felicidade e satisfação, afastando a idéia de sofrimento e solidão. Assim, pouco a
pouco, o jovem vai se apropriando deste costume e, quando percebe, esta
substância já está comandando completamente sua vida, “é como se a criatura se
voltasse contra o criador” (grifo nosso).
O ser humano é, segundo os preceitos da psicanálise, um ser
essencialmente angustiado, por trazer em si pulsões que o levam a lançar-se
permanentemente na busca da satisfação. Referidas pulsões são impulsos, em geral
inconscientes, que incitam a atividade do indivíduo de forma positiva ou negativa.
Todavia, diz Vitoriano (2000) que, estando o sujeito em confronto com as variáveis
culturais impostas de fora para dentro e pautado em uma multiplicidades de fatores
não controláveis, presentes em toda interação humana, vê-se obrigado, tanto ao
nível de consciente, quanto ao nível de inconsciente, a lidar com os ditos impulsos,
num jogo de forças antagônicas, numa luta entre o desejo e a defesa, tornando-se
assim um juiz de si mesmo. Neste jogo, são identificadas dois tipos de pulsões:
pulsão da vida e pulsão da morte. A primeira relacionada ao prazer, à satisfação do
desejo, enquanto a pulsão de morte se refere ao desejo destruidor de si mesmo,
corolário do abuso do álcool.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 62
Existem diferentes tipos de usuários de drogas, aqueles que usam
esporadicamente em circunstâncias sociais e os que são dependentes, no entanto,
salienta Nogueira (2003) que todos aqueles que a utilizam tem um ponto em comum,
a busca pelo prazer. Sob os mais diferentes motivos, esta busca, seja como autoafirmação, rebeldia ou outras desculpas, nelas encontram-se em ação o princípio
que rege o funcionamento do psiquismo humano, o princípio do prazer. O autor cita
Gurfinkel (1995) que, partindo dessa evidência, demonstra que a tendência de usar
substâncias psicoativas é um processo primário, onde se busca uma sensação
prazerosa, de uma forma rápida, que é inerente aos modos de satisfação
alucinatórias das descargas diretas da pulsão que dispensam toda mediação da
realidade, elaborada pelos processos secundários do pensamento. À medida que a
relação da droga deixa de ser prazerosa e se torna necessidade, se registra uma
perversão da pulsão, que se caracteriza pela urgência de uma ação específica em
busca do objeto exclusivo de um prazer necessário.
Nesse contexto, a busca do prazer que condiciona o sujeito, não é uma
extravagância hedonista, mas um efeito do circuito pulsional que condiciona sua
satisfação. Na sociedade capitalista na qual vivemos, onde o “ter” se sobrepõe ao
“ser”, a satisfação dos desejos assume um caráter de urgência. Sob este aspecto, o
álcool ao proporcionar a “diversão” não só satisfaz a necessidade de prazer, como
mascara as dores do adolescer.
Através desta subcategoria, partindo das representações sociais dos
participantes da pesquisa, pode-se verificar claramente a associação do álcool com
o sentimento de alegria, com 61% dos sujeitos afirmando que a busca do prazer
lidera os motivos para a utilização do álcool.
5.5.2.2 Motivação do uso do Álcool Ancorada na Busca do Novo/Curiosidade
Nesta subcategoria, foi-se verificado que 73% dos sujeitos do sexo
masculino se referem ao uso do álcool como forma de experimentar o novo,
enquanto somente 27% do sexo feminino se utilizam desta substância com o
objetivo mencionado.
Erikson (1971), em respeitável abordagem sobre o tema, sustenta que a
crise de identidade é a busca do “eu” nos outros, na tentativa de obter uma
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 63
identidade para o seu ego. Este desejo acarreta angustias, passividades ou revoltas,
dificuldades de relacionamento, além de conflitos de valores. Para o referido autor,
dos treze aos dezoito anos, a qualidade do ego a ser desenvolvida é a identidade,
objetivando-se adaptar-se o “eu” às alterações físicas típicas da puberdade, no
intuito de adquirir uma maturidade sexual, alcançar novos valores e buscar uma
atividade ocupacional.
O adolescente, na tentativa de definir sua identidade e se auto-afirmar,
tem
a
necessidade
de
experimentar
novas
sensações,
trilhar
caminhos
desconhecidos. Neste contexto, o álcool surge como elemento de experimentação e
transgressão de limites até então estabelecidos.
A transgressão da ordem estabelecida é uma marca da adolescência.
Transgredir é romper as convenções, é o caminho para a descoberta e o saber. O
álcool traz o desafio da transgressão e principalmente do bem estar porquanto
aumenta o fluxo sanguíneo, a condução e transmissão dos impulsos e de
determinado nível de álcool no sangue (VITORIANO,2000). Embora os reflexos
fiquem mais lentos, o sujeito se torna mais impulsivo. Neste sentido, Vaillant (1999,
p.71) preconiza que “o superego é notoriamente solúvel em etanol”.
É assim que, nas constantes provocações às quais os pais são
submetidos pelos filhos adolescentes, se cunhou um termo “aborrecentes”. Trata-se
de um período difícil para os jovens e pais. Os jovens, ao mesmo tempo que exigem
liberalismo como sinônimo de liberdade, necessitam e pedem, de várias formas, um
limite por parte daqueles. Este limite muitas vezes não é imposto pelos pais, como
uma maneira de amenizar sua culpa por não dedicar parte de seu tempo a
conversar e entender esta fase de transformações extremamente difícil para o
jovem.
Embora o jovem sinta a necessidade de liberdade ele também necessita
de limites, que deverão ser impostos pela família. Percebe-se um paradoxo entre o
desejo de liberdade e a necessidade de limites.
Na verdade, há uma certa
permissividade por parte da sociedade como um todo, dificultando ao adolescente
exercer sua autonomia, ou seja, a liberdade em demasia leva o adolescente a se
“perder”.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 64
No universo estudado, os jovens se expressam através de denominações
tais como: “curiosidade, vontade de experimentar”. Quando estes elaboram no seu
imaginário ”o para experimentar” ou “saber por que as pessoas adoram tanto”,
mostra que suas representações são resultados das concepções repassadas e
apreendidas por meio da sociedade.
Observa-se que homens e mulheres se expressam de forma semelhante
nesta subcategoria, e o termo mais utilizado é “experimentação”: O impulso natural
dos jovens de provar coisas novas e proibidas,aliado ao fácil acesso que eles têm
ao álcool,como droga socialmente aceita, tem se disseminado cada vez mais. Há
adolescentes que vivem acima do bem e do mal, e por isto muitas vezes exageram
na bebida, acreditando estarem acobertados pelo mito da imortalidade
Uma possível explicação para este tipo de atitude de risco deve-se à
busca da identidade supracitada, o que leva o adolescente ao questionamento dos
parâmetros comportamentais dos adultos. A exploração do novo funciona como
grande desafio vinculado a sua onipotência. Neste sentido o álcool surge como
forma de experimentar novas sensações.
5.5.2.3 Motivação do uso do Álcool Ancorada na Pressão Grupal
Nos aspectos aprendidos por meio desta subcategoria o motivo do uso do
álcool ancorado na pressão grupal, observou-se que 15,8% apontaram o grupo de
amigos como um fator que influencia no uso do álcool, sendo 53% do sexo
masculino e 47% do sexo feminino.
Do ponto de vista psicanalista, Nogueira (2003) cita Levy (2001) e infere
que os adolescentes socializam o narcisismo por meio do grupo, projetando neste
sua onipotência, tendo o grupo a função de continência, ajudando-o a enfrentar suas
ansiedades. Na investigação, segundo se observou, os sujeitos se referem ao “não
ser descriminado pelos amigos” como motivação ao uso de bebidas alcoólicas.
Os jovens tendem a se organizarem em grupos e, a partir dessa
associação, desenvolvem códigos e hábitos que são típicos de “confraria”. Este
comportamento justifica-se pelo medo de serem excluídos pelos amigos, como
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 65
verificou-se através de suas falas. Conforme Macedo (2004), os adolescentes
buscam amigos que tenham as mesmas demandas e expectativas de acesso ao
mundo adulto, pois é junto aos amigos que eles encontram acolhimento para seus
desejos e esforços para se tornarem adultos.
Visualiza-se que os sujeitos tanto do sexo masculino como do sexo
feminino se referem ao desejo de pertencer ao grupo em razão do medo de ser
excluído deste. Esta pressão exercida pelo grupo leva o jovem a utilizar o álcool
como forma de inserção social, de pertencimento, já que nesta fase o grupo passa a
exercer um papel de extrema importância na vida do jovem (TIBA, 1986).
O discurso de homens e mulheres deixa claro que a sociedade, com seus
valores e normas, regem o comportamento do sujeito frente ao uso do álcool. É
notório que a crença de que a bebida alcoólica não é droga contribui para o estímulo
e incentivo do consumo desta substância, não só na adolescência, mas em todas as
faixas etárias. Nesse sentido, Moscovici (1978) define as representações sociais
como “um conjunto de explicações no cotidiano, no desenrolar das comunicações
interindividuais”. O autor compara as crenças e mitos das sociedades tradicionais
como uma versão de senso comum.
Os jovens, em seus momentos de lazer, por influência do meio social,
tendem a acompanhar certos hábitos de ter um status dentro do grupo dos quais
estão fazendo parte. Esta necessidade de se auto-afirmar dentro do grupo é próprio
do adolescente, que ainda está em busca de sua identidade.
De acordo com Outeiral (2003), um dos principais recursos utilizados
pelos jovens em busca da identidade ocorre com os grupos. As situações que se
apresentam no grupo são de uma grande multiplicidade e é necessário para a
formação da personalidade do jovem. O autor acrescenta que a mídia influencia no
comportamento dos jovens, através de atores de cinema, atletas, propagandas
ilusórias, que servem de elementos de referência e identificação para eles. O
referido autor acrescenta que o infortúnio do ser humano é sempre necessitar do
outro, na primeira infância em virtude da dependência física e na fase adulta, a
dependência afetiva até o final de seus dias.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 66
Como os adolescentes fazem parte de um contexto social, rico em fontes
de informações, as possibilidades de estruturações de identidade são inúmeras. No
entanto, é importante buscar uma referência para que se possa extrair o que há de
mais relevante nas instâncias extrapessoais, para depois resignificar a referência a
si mesmos.
Os grupos de pertença são relevantes para o adolescente, é neles que os
jovens sentem-se entre pessoas que vivenciam os mesmos problemas, dentro de
um momento existencial, proporcionando ao indivíduo encontrar a sua própria
identidade em um contexto social Tiba (1986), Osório (1992), Outeiral (2003). Estes
autores sinalizam que os adolescentes, diante da necessidade de formar sua
identidade adulta, tornando-se indivíduos autônomos, irão em busca de novos
pontos de identificação em seu grupo de iguais.
Deste modo, ao se deter na contextualização dos grupos e suas
influências, percebe-se a circularidade dos conteúdos na sociedade e as forças
emanadas da interação social.
5.5.2.4 Motivação do uso do Álcool Ancorada na Dificuldade de Lidar com
Sentimentos/Insegurança
Essa subcategoria refere-se à dificuldade que os jovens têm de lidar com
seus sentimentos, suas frustrações e inseguranças. Na análise de dados, foi
observado que as mulheres evocaram com maior freqüência “o amor”, enquanto os
homens se referiram a: “chifre, paixão, raiva, loucura, decepção”.
Remete, outrossim, à dificuldade que os jovens possuem em lidar com
seus sentimentos internalizados pelos sujeitos ao longo de suas experiências,
decorrentes das influências do contexto social, materializando-se como conceito, na
medida em que sintetizam o pensamento do grupo. Nesse sentido, Moscovici (1978,
p.41) infere que: “Pessoas e grupos criam representações no discurso da
comunicação e da cooperação. As representações sociais não são criadas por um
indivíduo só, depois de criadas, elas adquirem vida própria”.
Percebe-se que os sujeitos justificam sua atitude de “beber” com termos
que revelam sentimentos ambivalentes, como amor e ódio. Neste sentido, consoante
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 67
Sá (2001), a adolescência é um período de transição que causa medo e ansiedade,
que gera contradições, onde o adolescente pode se sentir perdido em relação a sua
identidade, pois em alguns momentos, é tratado como criança e em outros, como
adultos, o que pode ocasionar sentimentos de revolta e conflito. A dificuldade de
superar situações inusitadas geralmente tem origem em uma educação rígida e
autoritária, deixando a sensação de vazio e, como conseqüência, gerando
insegurança.
Nos jovens, esse ser que se encontra em formação, fragiliza-se
dificultando o desenvolvimento da autoconfiança. Em busca de sua identidade, o
adolescente utiliza o álcool como forma de amenizar suas angústias e na busca do
novo sentido de si mesmo. Porém, esse amenizar pode implicar em um sentido de
vida fragilizado. As relações familiares nessa fase são determinantes na superação
dos problemas entre o ser e o vir a ser do adolescente E é neste momento que os
adolescentes necessitam do apoio familiar, no entanto, como enfatiza Amaral (2001)
este ambiente familiar apresenta-se sem contornos, onde os laços familiares
encontram-se fragilizados por estarem mergulhados em uma sociedade alicerçada
em princípios autoritários e alienantes, cuja única saída consiste em um “viver nos
outros”.
O dialogo familiar propicia aos adolescentes um alimento vital na
definição do ser e na formação de sua personalidade. A ausência de diálogo na
família e dos valores presentes no ambiente familiar constituem fatores de riscos
(SCIVOLETTO 2004).
Observa-se nas respostas dos investigados que os sentimentos oscilam
de um extremo ao outro: paixão-desilusão, amor-ódio. Estes extremos sentimentais
demonstram a suscetibilidade do jovem em lidar com as emoções, especialmente
com as frustrações. O álcool surge neste contexto como diz Zago (1996) “o lobo
vestido em pele de cordeiro”.
Apesar das transformações físicas presentes na fase da adolescência,
elas não são naturais ou decorrentes unicamente de um processo evolutivo
orgânico. Existe ainda um outro tipo de diversidade no “adolescer”: num contexto em
que atuam fatores sociais, culturais, familiares e pessoais, os jovens assumem
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 68
idéias e comportamentos completamente diferentes. Há os que querem reproduzir a
vida e os valores da família e da sociedade, há os que contestam, rejeitam e querem
mudar; os que fogem, os que lutam, os que assistem, os que atuam. (BECKER,
1999)
Nesta dimensão, foi possível observar que os sujeitos do estudo são
extremamente vulneráveis nesta fase da adolescência, tornando-se vítimas fáceis da
sociedade de consumo e deste ”inimigo oculto” – o álcool.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 69
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 70
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
As representações sociais apreendidas durante a caminhada deste
estudo tornou evidente, no caso do uso do álcool, que o saber comum convive bem
com o saber científico. Os conhecimentos adquiridos sobre o saber comum do uso
do álcool foram denotados por meio da verbalização dos adolescentes dos sexos
masculino e feminino.
Os resultados da pesquisa evidenciaram que a construção das
representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas pelos adolescentes de
ambos os sexos não apresentam diferenças significativas. Embora em algumas
situações o sexo feminino tenha explicado a atitude do beber através de
expressões discriminatórias, na mesma oportunidade tentava justificar o ato de
consumir bebidas alcoólicas, o que não foi percebido nos homens. Isto se
explica pelo fato de nossa sociedade ainda cultivar uma cultura machista,
apesar das mudanças socioculturais ocorridas a partir da emancipação da
mulher.
Constatou-se, outrossim, que no sexo feminino o consumo de álcool
foi maior que no sexo masculino. Quanto à escolaridade, demonstrou-se que, à
medida que os jovens cursavam graus superiores, aumentava a ingestão de
bebidas alcoólicas. Ademais, os sujeitos pesquisados encontram-se em uma
faixa de vulnerabilidade social, tendo em vista que a maioria das famílias
apresentava renda per capta inferior a um salário mínimo.
Em se tratando da motivação para o uso do álcool entre os jovens, a
busca pelo prazer foi o fator almejado por ambos, prevalecendo entre as mulheres.
Em segundo lugar, a pressão grupal apresentou-se como uma determinante para o
consumo desta bebida, onde os sujeitos se referem ao desejo de pertencer a um
grupo em razão do medo de ser excluído deste. A insegurança/dificuldade de lidar
com os sentimentos também influenciou, na medida em que o adolescente utiliza o
álcool como forma de amenizar suas angústias e na busca do novo sentido de si
mesmo. A busca do novo se manifesta, assim como a insegurança supracitada,
como uma das últimas justificativas para o uso do álcool, onde o adolescente, na
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 71
tentativa de definir sua identidade e se auto-afirmar, tem a necessidade de
experimentar novas sensações e trilhar caminhos desconhecidos.
Verificou-se nesta investigação que há uma representação social do
álcool como algo negativo, onde os usuários são vistos de maneira preconceituosa.
É importante ressaltar que a melhor forma de combate ao alcoolismo se dá antes do
seu estabelecimento, visto que, uma vez estabelecido, torna-se mais difícil a sua
cura. Portanto é mais conveniente desenvolver políticas preventivas, voltadas
principalmente para os adolescentes, mostrando os efeitos do álcool que
inicialmente só propicia prazer, mas em longo prazo só causa dor e desprazer.
Assim sendo, tendo como base o senso comum, que surgiu das
elaborações dos sujeitos, fica, portanto, a recomendação de que a família precisa
ser trabalhada juntamente com o adolescente e não somente este isoladamente,
com a formulação de políticas públicas que invistam na família, já que muitas delas,
em razão da baixa renda, não têm condição de assumir, por si só, esta
responsabilidade.
Desta forma, o vínculo familiar é imprescindível para estabelecer um elo
de interação entre os jovens e o meio que os circunda, direcionando suas ações e
comportamentos. Diante desta realidade, a instituição escolar, junto com os setores
públicos de saúde e assistência social, deve nortear ações de atendimento a estes
adolescentes e suas respectivas famílias, validando programas que não sejam
meramente assistencialistas, mas que fomentem uma política de inclusão social.
Com esta pesquisa, não se pretendeu esgotar o assunto, tão vasto e
complexo, mas somente traçar um parâmetro para uma reflexão acerca desta
temática de suma importância.
Refletir sobre o uso do álcool por adolescentes dentro do contexto atual é
uma realidade urgente, porém difícil, pois representa um processo particular no
âmbito social, político, econômico e cultural. Diante desta realidade, todos devem se
sentir convocados a enveredar no caminho da educação dos adolescentes e de sua
família, com o propósito de reduzir esse problema social tão complexo: o uso do
álcool por adolescentes.
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 72
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Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 73
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Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 79
APÊNDICES
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 80
APÊNDICE I
QUESTIONÁRIO
Nº. |___|___|___|
Nós agradecemos a sua participação em nosso estudo, o qual se trata de uma pesquisa de
opinião, em que não há respostas certas ou erradas. Por favor, responda as questões as mais
espontâneas possíveis. Todos os dados serão devidamente anonimizados.
PARTE I- DADOS SOCIOECONÔMICOS E DEMOGRÁFICOS
1.
Sexo_____________________________________________________________
2.
Idade ____________________________________________________________
3.
Escolaridade _____________________________________________________
4.
Procedência ______________________________________________________
5.
Estado civil ______________________________________________________
6.
Profissão/ocupação________________________________________________
7.
Religião? ________________________________________________________
8.
Residência própria (
9.
Com quem mora?__________________________________________________
10.
Quem é o chefe da família?__________________________________________
11.
Quantas pessoas trabalham fora de casa?_____________________________
12.
Qual a renda da sua família? ________________________________________
)SIM
(
)NÃO
PARTE II – QUESTÕS NORTEADORAS SOBRE A TEMÁTICA
1. Você já usou bebida alcoólica alguma vez? Sim ( ) Não ( )
2. Em caso afirmativo, descreva o motivo pelo qual usou.
3. Que idade você tinha quando usou álcool pela primeira vez.
4. Descreva o que é um “porre” para você?
5. Como você se descreve depois de um “porre”?
6. Descreva o que as pessoas pesam sobre quem “toma porre”.
7. Quando você usou bebida alcoólica pela última vez?
Representações sociais sobre o uso do álcool elaboradas por adolescentes 81
APÊNDICE II - TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
A
pesquisa,
A
representação
social
do
uso
de
álcool
por
adolescentes, tem como objetivo geral apreender o significado do uso do álcool por
adolescentes. Os benefícios desse estudo retornarão de forma direta ou indireta, na
medida em que irá auxiliar na compreensão e prevenção sobre a questão do uso de
álcool na adolescência. A coleta de informações será realizada através de um teste
de associação livre de palavras e uma entrevista que será gravada com seu
consentimento. O teste e a entrevista serão executados pela própria pesquisadora
de acordo com a disponibilidade de tempo dos participantes. Não haverá despesas
por parte dos entrevistados. Entre as normas previstas na Resolução 196/96 do
Conselho Nacional de Saúde/Ministério da Saúde, destacamos o cumprimento das
seguintes garantias aos sujeitos que participarão do estudo:
a) ter contato, em qualquer etapa do estudo, com a profissional
responsável pela pesquisa, para esclarecimento de qualquer dúvida. A pesquisadora
responsável e a mestranda Ângela Maria Martins Falcão – telefone (085) 3347.1011;
Endereço: Rua 15 de Novembro, 506 – Baturité-Ce.
b) receber esclarecimento de qualquer dúvida sobre a pesquisa e de como
será sua participação;
c) retirar seu consentimento a qualquer momento da pesquisa, sem que
isso ocorra em penalidade de qualquer espécie;
d) receber garantias de que não haverá divulgação do seu nome ou de
qualquer outra informação que ponha em risco sua privacidade e anonimato;
e) acessar as informações sobre os resultados do resultados;
f) ter a certeza de que as informações colhidas só serão utilizadas nesta
pesquisa.
Eu, ______________________________________________________ estou ciente
de todas as informações que foram dadas, aceito participar, voluntariamente, desse
estudo.
Fortaleza, __________________________
___________________________________
Entrevistado
___________________________________
Pesquisadora
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