A ADOLESCÊNCIA NO PROCESSO EDUCACIONAL EM DIFERENTES
SITUAÇÕES SOCIAIS¹
PRETTO, Valdir²
¹ Trabalho de Pesquisa _UNIFRA.
² Professor do Curso de Pedagogia e do Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de
Matemática do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil.
E-mail: [email protected]
RESUMO
Neste trabalho investigativo realizado entre diferentes realidades sociais, educacionais e
culturais de países como o Brasil e a França, os objetivos foram, nesses distintos contextos, estudar
e observar os adolescentes interagindo e se movimentando entre família, escola e sociedade. A
análise dessas situações, entre os sujeitos encontrados, permitiu uma explicitação dos conceitos
envolvidos e elementos ligados à própria noção de adolescência. Como resultado parcial, podemos
trazer para a educação que entre as diferentes comunidades humanas se encontram em processo de
desenvolvimento e na construção dos diferenciados conhecimentos essa etapa, a adolescência, na
vida da pessoa(s) a qual é determinante para suas escolhas profissionais futuras, tendo a educação
seu papel fundamental nas opções tomadas.
Palavras-chave: Adolescência; Cultura: Educação; Sociedade.
1. INTRODUÇÃO
Neste artigo são apresentados resultados parciais de um trabalho investigativo que
vêm se realizando entre o Brasil e a França tendo como foco de reflexão a adolescência na
educação. Em momento algum ficamos isentos das realidades como família, escola e
sociedade que esses dois continentes nos submeteram. Como pesquisador e professor as
oportunidades se fizeram reais do transitar entre o processo educacional nas escolas e a
própria convivência familiar e social estabelecida nas cidades de Caxias do Sul e Lyon.
Nesta perspectiva, o autor deste trabalho, docente do curso de Pedagogia e do
Mestrado Profissionalizante em Ensino de Física e de Matemática, num projeto de pesquisa
UNIFRA, está desenvolvendo uma investigação, na periferia de Santa Maria, local
considerado de risco e violência, analisando como acontece a construção do conhecimento
em outras zonas de exclusão social buscando observar também essa relação que se
estabelece entre os adolescentes dessa realidade considerada e classificada como
periférica e a educação ali desenvolvida. Os elementos coletados poderão nos fornecer uma
melhor compreensão da realidade educacional desses territórios expressada por muitos
adolescentes, habitantes desse local.
2. METODOLOGIA
Neste trabalho foram observados sujeitos, nas realidades acima citadas, através da
escuta e do diálogo. Algumas visitas em escolas nos ajudaram a registrar palavras,
movimentos, linguagens, desenvolvidas por diferentes adolescentes associados à descrição
etnográfica do contexto, revelando elementos fundamentais para um trabalho investigativo.
Nesses locais foi possível o registro de fotos e conversas anônimas com distintas pessoas.
Essa metodologia poderá evoluir para entrevistas filmadas e questionários a serem
respondidos.
3. PRESSUPOSTOS TEÓRICOS
Nesse movimento caracterizado pela forma de pensar, de agir espontâneo em relação
às coisas que fazem parte de seu mundo, o adolescente carrega uma vitalidade
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extraordinária e prestigiosa. Sua personalidade, neste período, passa por várias
transformações psíquicas, sendo obrigados a mudar e provar seus talentos para conquistar
seu espaço no meio social. Podemos entender autores dizendo que: “a adolescência é uma
idade privilegiada do século XX. É um período que se prolonga cada vez mais tardiamente
com uma força de atração sobre as crianças, como sobre os adultos” (ANATRELLA, 1994,
p. 7).
O ciclo da adolescência se transforma consideravelmente num curto tempo. Imagem
de um período, de uma idade, o adolescente passa por vários sistemas que favorecem as
remodelações de sua personalidade e sua maturidade para resolverem os conflitos de base
que abrem uma nova era as atividades psíquicas que serão diferentes do período da
infância.
Esta transformação vai ser uma exigência em relação aos pais, nesse caso a família.
Os mesmos passando por novas etapas de adaptação procuram respostas a questões que
não eram necessárias durante a infância. Este tempo de transformações do processo
psíquico, de renovação da personalidade, segundo alguns estudiosos acontecem entre os
doze e trinta anos. Passando pela puberdade entre os 12,17 e 18 anos, pela adolescência
entre os 17, 18, 22 e 24 anos e chegando a pós-adolescência entre os 23, 24 e 30 anos.
Atualmente, essas etapas poderão não mais corresponder às diferentes realidades
onde muitos adolescentes estão construindo suas vidas, onde o meio social e cultural acaba
determinando a direção dessas etapas que se encontram em constante movimento.
Entre os séculos XVIII e XX aconteceram muitas evoluções, entre as quais, digamos,
uma maturidade autêntica. A questão colocada a respeito dos adolescentes de ontem e
hoje, não é fácil de encontrar resposta(s). Podemos nos enganar. Mesmo nos questionar,
quanto a certa idade que poderá caracterizar essa etapa da vida.
Para Anatrella (1994, p.15) “os adolescentes abordam certas questões bem mais tarde
que os adolescentes do passado”. Durante os anos setenta e setenta e cinco, as
interrogações psíquicas que se tratavam com meninos e meninas de dezesseis anos a
dezenove anos, hoje não manifestam que antes dos vinte três anos. Esse mesmo autor
segue dizendo que:
nós, seguidamente, somos induzidos a uma precocidade das práticas, a
fazer erros de interpretação. Eles (adolescentes) podem viver de atividades
sexuais num mundo infantil mantendo uma relação de bebe sem
amadurecer afetivamente. Outros podem ser inseridos socialmente dentro
de uma vida profissional que utilizarão como defesa para se opor ao
trabalho psíquico dentro da personalidade (Ibidem, p.16).
A adolescência é uma etapa da vida marcada por certas preocupações em relação a
questões de identidade e sim em relação ao ser emocional. Quem sou eu? O que poderei
ser? Pesquisadores da área psicológica e educacional, que trabalham sobre o
comportamento dos adolescentes, dizem: não te inquiete se teu filho ou tua filha se
preocupa exageradamente consigo mesmo. Eles vão passar por um desinteresse da própria
família para dar lugar aos seus amigos e amigas. Porque vai ser através do grupo externo
que se construíra o ambiente familiar. Mesmo com seu grupo, o adolescente estará voltado
a si próprio. “O adolescente se encontra numa viagem de grandes descobertas, muda
facilmente de direção, para encontrar, com segurança, seu caminho. Ele faz novas
experiências, com uma nova identidade, novas realidades, com novos aspectos de sua
personalidade” (GOTTAMAN, 1997, p. 213).
O próprio lugar social pode ser perigoso em relação às forças negativas, a violência
que está presente em todos os níveis da sociedade, em relação aos problemas da droga, do
sexo, da insegurança etc., coisas que naturalmente farão parte do desenvolvimento da
personalidade humana, um caminho diário não muito fácil.
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É difícil para o adolescente encontrar seu caminho. Do mesmo que é difícil ser pai ou
mãe de um adolescente. Ele tem a necessidade de aprender e a conhecer, quase sem
ajuda dos pais. O Terapeuta e escritor M. Riera (In. GOTTAMAN, 1997, p. 214) escreve que
“a cada dia vocês organizaram a vida de vosso(a) filho, vocês o acompanharam, vocês
foram buscá-lo onde ele se encontrava, fazendo seus desejos antecipadamente, vocês
marcaram as consultas medicais, programaram seus finais de semanas. Vocês estiveram
sempre bem informados sobre sua vida escolar e as questões que ele tinha. Mas, agora
tudo mudou. É necessário preparar novas estratégias e encontrarem novas formas de
reorganização”.
Assim, podemos dizer também que o adolescente está procurando sua independência.
Mas como estar próximo para deixá-lo imprimir suas emoções e ao mesmo tempo dar-lhe a
autonomia de um adulto?
O trabalho desenvolvido pelo psicólogo G. Haim Ginott dá algumas pistas: “aceitar que
a adolescência é a época onde o filho começa a distanciar-se dos pais. Eles têm a
necessidade de um lugar próprio. Não é bom, todos os dias fazer perguntas, questioná-los.
Se colocar em escuta. Estar aberto (a). Pois a uma forte tendência de dizer: eu conheço
tudo. Mostrar respeito pelo adolescente” (In. GOTTAMAN, 1997, pp. 214-217). Não são
necessários, todos os dias, dar lições de moral e ditar a maneira de viver e de julgar.
Em nossa atual realidade, seja na Europa ou na America Latina, chega à ocasião de
encontrarmos pessoas que dizem, mesmo se ainda não chegaram a tal etapa: “Eu sou
adulto!” “Eu sei o que devo fazer e o que é melhor para mim!” É uma posição de
responsabilidade. É isso mesmo? A responsabilidade é uma característica específica do
adulto? Boris Cyrulnik, diz que: “as crianças são muito mais responsáveis que os adultos”.
Quando colocamos em acusação os pais de uma criança maltratada. É a criança que
machucamos porque a criança se sente responsável pelos pais. Uma criança, onde e
quando os pais se separam ou morrem se sente culpada e então responsável. É verdade
que existem diversos níveis de responsabilidade. Entanto, “ser adulto não é uma questão de
responsabilidade”, como diz Cyrulnik (CYRULNIK, 1995).
O parágrafo acima nos faz refletir entorno de falas que por vezes escutamos quando
trabalhamos com jovens em determinados locais e instituições e acabamos classificando-os
como adolescentes, quando se dizem adultos. “Eles se comportam como adolescentes”.
4. RESULTADOS
Pesquisas mostram que o adolescente que amadurece no plano emocional se
desenvolve melhor no plano escolar, familiar e educacional, e nas relações humanas. A
auto-estima chega como algo determinante para esse(s) adolescente(s) que estão num
processo de desenvolvimento e de maturidade. Assim, o emocional vai conduzindo essa
evolução da personalidade. O encontro com o novo, com o diferente, é provocador dessas
reações emotivas, essas carregadas de sentimentos que ajudam o adolescente para uma
abertura ou fechamento para com o mundo social.
As realidades que estão sendo estudadas nos ajudam a não reduzir adolescência a
certos aspectos visíveis, atraentes, lançados pelos meios de comunicação. Aqui podemos
perceber o quanto é fundamental, no plano educacional, o estudo ou a compreensão maior,
o conhecimento etnográfico da realidade a qual nos engajamos, para melhor administrar os
dados coletados.
Outro resultado que se obteve é a tomada de consciência que nas realidades centro
ou periferia vão construído novos elementos socioeducacionais que por vezes não são
estudados ou aprofundados dentro de uma instituição formal. Uma nova linguagem e formas
de descrever o mundo, a luta pela própria sobrevivência vai fazendo com que esses
espaços mobilizem outras maneiras de traduzir o mundo da adolescência.
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5. CONCLUSÕES
Este trabalho, o qual continua num processo de investigação, primeiramente nos
conduziu a inserção social em distintas realidades geográficas e políticas, nas quais
percebemos que em diferentes situações onde se encontra o gênero humano, a
adolescência busca construir seu espaço.
O adolescente tem a necessidade de partilhar, dizer, as coisas que às vezes não são
tão evidentes de fazer com seus pais. Neste sentido os pais devem favorecer uma
comunidade adaptável aos filhos, formar grupos de aproximação, onde os próprios pais vão
conhecer os amigos e amigas que fazem parte da vida quotidiana dos próprios filhos. A
comunidade ajuda a melhor desenvolver a relação e a própria educação do adolescente.
Alguns testemunhos fazem parte dizendo: mesmo durante os momentos mais difíceis da
vida de nossa filha, que nunca quis dizer nada de seus problemas, sabíamos que ela estava
com suas amigas e que partilhava de situações com os pais das mesmas. As próprias
famílias viviam os mesmos valores comuns positivamente.
Entre os elementos positivos consiste em estimular, encorajar o adolescente a tomar
suas decisões. Assim, ele vai mostrar que está se preparando para ser alguém
independente. Ele tem necessidade de se mostrar. É bom colocar em prática sua afirmação,
dele mesmo, face às coisas por vezes simples e complexas. Mesmo tendo medo, ele tem
consciência de aprender tanto cometendo erros, como fazendo coisas justas.
A educação promovida em diferentes centros ou instituições, formais ou não-formais,
até informais, para muitos adolescentes torna-se um caminho referencial e prioritário para a
vida adulta. Mesmo em situações de confronto vividas e exploradas pelos meios
informativos esses centros ainda salvam muitos adolescentes de momentos conflituosos os
quais enfrentam entre escola, família e sociedade.
REFERÊNCIAS
ANATRELLA, T., Interminables adolescences. Paris: Cerf/Cujas, 1994.
GOTTAMAN, J. Inteligência emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1997.
CYRULNIK, B. (Revista) La Vie - Número 2619 – 9 Novembro de 1995, p. 71.
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