Revista Educação Agrícola Superior
Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior - ABEAS - v.29, n.1, p.7-10, 2014.
ISSN - 0101-756X - DOI: http://dx.doi.org/10.12722/0101-756X.v29n01a02
INTENSIDADE DE EXPLORAÇÃO DO SOLO
EM UMA SUB-BACIA DO RIO URUÇUÍ-PRETO, PIAUÍ
Temístocles P. Lima1, Luciano C. de J. França1, Fabrina T. Ferraz1, João B. L. da Silva2 & Marcelo B. Furtini3
RESUMO
Neste trabalho objetivou-se mapear a intensidade de exploração do solo entre os anos de 1984 a 2011 na sub-bacia do rio
Uruçuí-Preto à montante do riacho Corrente, com 2.368,7 km2, no Estado do Piauí. Utilizou-se imagens do sensor TM do satélite
Landsat 5, referentes aos anos 1984, 1987, 1990, 1996, 2005, 2008, 2010 e 2011, bandas 3 e 4. As imagens inicialmente foram
georreferenciadas, para posteriormente realizar o realce da vegetação por meio do Índice de Vegetação da Diferença Normalizada
(IVDN) para todos os anos. Procedeu-se então a classificação não supervisionada do IVDN em classes: vegetação nativa; e áreas
cultivadas ou degradadas. Logo, realizou o somatório dos oito mapas de IVDN classificado. Os resultados mostram que 48,4%
da área da sub-bacia não ocorreram exploração, enquanto 35,2% apresentou exploração média e 16,4% exploração mais intensa.
PALAVRAS-CHAVE: supressão do cerrado, geotecnologia, IVDN
INTENSITY OF USE LAND IN A SUB-BASIN
URUÇUÍ-PRETO RIVER, BRAZIL
ABSTRACT
This work aimed to map the intensity of land use between the years 1984 to 2011 in sub basin of Uruçuí-Preto river, with 2,368.7
km2, in the state of Piaui, Brazil. It was used images from the Landsat TM sensor 5 for the years 1984, 1987, 1990, 1996, 2005,
2008, 2010 and 2011, bands 3 and 4. Initially the images wasgeoreferenced to later realize the highlight of vegetation by through
the Normalized Vegetation Difference Index (NVDI) for all years. Then proceeded to unsupervised classification of the NVDI
classes: native vegetation; and crop or degraded areas. Therefore, realized the sum of the eight maps of NVDI rated. The results
show that 48.4% of the basin area there were no exploration, while 35.2% showed an average 16.4% more exploration and
intense exploration.
KEY WORDS: savannah supression, geotecnology, NVDI
Graduandos em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Piauí – UFPI/CPCE – Bom Jesus-Piauí, [email protected], [email protected],
[email protected]
Dr. Professor em Engenharia Florestal, Universidade Federal do Piauí – UFPI/CPCE – Bom Jesus-Piauí;[email protected]
3
Dr. Professor em Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Piauí – UFPI/CMPP – Teresina-Piauí; [email protected]
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Temístocles P. Lima et al.
INTRODUÇÃO
O Cerrado detém 5% da biodiversidade do planeta, sendo
considerada a savana mais rica do mundo (MMA, 2014),
cobrindo uma superfície de 2.036.448 km2 com a sua maior
parte na região central, tornando-se o segundo maior bioma do
Brasil (IBGE, 2004; MMA, 1999).
Ao longo das três últimas décadas, o uso e ocupação no
Cerrado brasileiro se intensificaram, devido à expansão
da fronteira agrícola para produção de grãos destinados à
exportação, predominando a cultura da soja (AGUIAR &
MONTEIRO, 2005). Esta expansão da fronteira agrícola
esta diretamente ligada às características do Cerrado, como,
as vastas planícies, boas condições climáticas, solos de fácil
correção e mão de obra barata. Assim, o Cerrado apareceu
como uma nova fronteira agrícola a ser explorada e também a
última fronteira agrícola do Brasil.
O Estado do Piauí detém uma área de 252.378 km2, ocupa
16,20% da região Nordeste e o terceiro maior Estado da região,
sendo menor que a Bahia e o Maranhão (OLIMPIO, 2004). O
Cerrado piauiense está inserido nos Chapadões do Alto Médio
Parnaíba, com aproximadamente 11,5 milhões de hectares,
sendo cinco milhões hectares agricultáveis e três milhões
adequados ao cultivo em grande escala. A área do bioma
Cerrado do Estado tem domínio de quase 70% e em torno de
30% compreende a vegetação de transição entre a Caatinga e
o Cerrado, com predominância na região sudoeste e extremo
sul do Piauí (LIMA, 1987; CEPRO, 1992; FONTENELE et
al., 2009). O clima da região do Cerrado piauiense é tropical
subúmido quente e predomina-se a classe de solo Latossolo
Amarelo, onde a adoção de práticas de manejo inadequadas
tem provocado degradação ambiental (EMBRAPA, 1999;
FONTENELE ET AL., 2009).
No Cerrado piauiense não está sendo diferente, ocorre uma
acelerada ocupação pela agricultura moderna. Nas décadas
de 1970 e 1980, ocorreu a implantação de megaprojetos
agropecuários (pecuária e cajucultura) incentivados por várias
linhas de créditos. Na década de 90, as mudanças de uso da
terra foram intensificadas por meio da implantação de grandes
projetos para produção de grãos, tendo como carro chefe a
soja que se adaptou ao clima e solo do sul do Piauí, sendo
direcionada a exportação (AGUIAR, 2008).
Os sistemas de Informações Geográficas (SIG’s) é uma
ferramenta bastante utilizada para monitorar os impactos
ambientais, pois possibilita o tratamento rápido e eficaz dos
dados ambientais, tornando-se uma ferramenta indispensável
nos estudos de impactos ambientais (CASTRO et al., 2003).
A integração de modelos ambientais e SIG é um vasto campo
para a ciência ligada ao Geoprocessamento, meio ambiente
e agricultura. Essa combinação permite uma análise espacial
e temporal de melhor forma para prover informações sobre
impacto ambiental (contaminação) e erosão do solo. Isto é
possível, com a junção de informações topográficas, de solos,
uso da terra e meteorológicas para bacias hidrográficas, sendo
possível visualizar cenários passados, atuais e simular cenários
futuros (GRIGG, 1996).
Tendo em vista que a maior parte da produção agrícola do
Estado do Piauí está concentração na região Sul, acarretando
um maior uso do solo nesta região. Deste modo, objetivou-se
neste trabalho mapear a intensidade de exploração do solo entre
os 1984 a 2011 na sub-bacia do rio Uruçuí-Preto à montante do
riacho Corrente, ao oeste do Estado do Piauí.
MATERIALE MÉTODOS
A área de estudo compreende o trecho da bacia do rio
Uruçuí-Preto entre o riachão dos Paulos e o riacho da Estiva,
com área total 2.368,7 km2, localizada entre os municípios
de Sebastião Leal, Benedito Leite, Ribeiro Gonçalves, Baixa
Grande do Ribeiro e Palmeira do Piauí (Figura 1). Situada
ao oeste do Estado do Piauí, na microrregião do Alto Médio
Gurguéia, onde se concentra a atividade agrícola intensa e em
grande escala produtiva, predominando cultivo da soja.
Figura 1. Localização da sub-bacia do rio Uruçuí-Preto a
montante do riacho corrente, oeste do Estado do Piauí
Neste trabalho foram utilizadas imagens do sensor
TM, do satélite Landsat 5, referentes aos anos de 1984,
1987, 1990, 1996, 2005, 2008, 2010 e 2011, banda 3 e 4.
As imagens TM possuem resolução espacial de 30 x 30m e
temporal de 16 dias. As imagens foram obtidas gratuitamente
no site do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
e processadas no software ArcGIS 10. Inicialmente fez-se o
georreferenciamento das imagens. Em seguida foi realizado a
evolução temporal do desflorestamento aplicando-se o Índice
de Vegetação da Diferença Normalizada (IVDN) (Equação 1)
para todos os anos. A partir disto, procedeu-se a classificação
não supervisionada do IVDN em duas classes para os oito
anos: vegetação nativa; e áreas antropizadas. Depois, realizou
o somatório dos oito mapas de IVDN classificado.
IVDN =
( IVP − V )
( IVP + V )
IVDN - Índice de Vegetação da Diferença Normalizada
IVP - Região do Infra Vermelho Próximo (Banda 4)
V - Região do Vermelho (Banda 3)
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Mês efetivo de circulação deste número: Outubro/2014.
Intensidade de exploração do solo em uma sub-bacia do Rio Uruçuí-Preto, Piauí
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
Com a evolução temporal do desflorestamento e o posterior
somatório das áreas antropizadas, obteve-se um mapa de
intensidade de exploração do solo em 27 anos (Figura 2), sendo
possível verificar as áreas de desflorestamento, decorrente do
cultivo agrícola e as áreas quais estão sujeitas a degradação.
Percebe-se que as áreas com exploração mais intensa estão
localizadas nas extremidades e próximo aos divisores de
água da sub-bacia do rio Uruçuí-preto á montante do riacho
Corrente, Piauí.
As áreas de exploração média e mais intensa esta
diretamente ligada ao cultivo convencional mecanizado,
devido o revolvimento do solo de forma agressiva e
consequentemente aplicação de agrotóxicos. Este sistema de
produção convencional intenso pode alterar a estrutura do
solo, tendendo a aumentar a qualidade química e reduzindo a
qualidade física dos solos (FREITAS et al., 2012). A atividade
agrícola está associada ao uso intensivo de agrotóxicos que
podem com tempo acumular e provocar a contaminação do
solo e da água (SOARES & PORTO, 2007). Através do mapa
de intensidade de exploração do solo, é possível analisar áreas
que apresentam maior risco de contaminação por agrotóxicos.
Os valorem expressam que 48,4% (1.146 km2) da subbacia não ocorreu exploração ou desflorestamento, mas houve
uma exploração média que corresponde a 35,2 % (834 km2) e
16,4% (388 km2) uma exploração mais intensa, tornando-se
mais propicia a contaminação por agrotóxicos.
Figura 3. Áreas (km2) de intensidade de exploração do solo
na sub-bacia do rio Uruçuí-Preto à montante do riacho do
Corrente, Piauí
CONCLUSÕES
Entre 1984 a 2011 no trecho da sub-bacia do rio UruçuíPreto a intensidade de exploração do solo, apresenta 16,4%
(388,00 km2) de exploração mais intensa.
AGRADECIMENTOS
Ao CONFEA, CNPq, UFPI/CPCE e EfloPI Jr. pela apoio
na realização deste trabalho.
Figura 2. Mapa de intensidade de exploração do solo entre anos de 1984 a 2011 na sub-bacia do rio Uruçuí-Preto à montante
do riacho Corrente, onde as áreas em verde não sofreram exploração e áreas em vermelho apresentam exploração mais intensa
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Mês efetivo de circulação deste número: Outubro/2014.
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