MECANIZAÇÃO
No nível
Existem diversas técnicas de nivelamento e entaipamento
para irrigação do arroz por inundação, que variam de
tecnologia, resultado final e valores de investimento
O
arroz é, sem dúvida, uma das mais
importantes culturas agrícolas do
mundo, pois é cultivado e consumido quase que em todos os continentes, sendo
utilizado como alimento básico pela metade da
população mundial. Segundo o Instituto Rio
Grandense do Arroz (Irga), na safra 2012/13,
o Rio Grande do Sul teve uma área de 1,04
milhão de hectares cultivados, correspondendo
cerca de 60% da produção brasileira. Dentre os
sistemas de cultivo adotados para implantação
do arroz no Estado, destacam-se os sistemas
convencional, cultivo mínimo e pré-germinado,
diferenciando-se basicamente pela forma e
época de preparo do solo, semeadura e manejo
inicial da água, predominando o sistema de
cultivo mínimo com 74,8% da área semeada na
safra 2012/13, seguido do sistema convencional
com 13% e do sistema pré-germinado com
12,2% (Irga 2013).
O sistema de cultivo de arroz irrigado com
taipas (também conhecidas como marachas)
em nível predomina no Rio Grande do Sul,
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onde a água é levada para as partes mais altas
da lavoura e conduzida por gravidade para as
partes mais baixas através taipas com diferença
de nível de 5cm a 10cm mantendo uma lâmina
de água o mais uniforme possível entre uma
taipa e outra.
NIVELAMENTO DA SUPERFÍCIE
DO SOLO EM DESNÍVEL
A irrigação do arroz em superfície com desnível necessita de barreiras para a retenção de
uma lâmina de água, para isso são construídas
taipas em curvas de nível, sendo que a diferença
de cotas depende da inclinação do terreno.
O nivelamento com nível laser é realizado
a partir de um aparelho emissor de raios laser
instalado em uma base fixa e nivelada, emitindo sinais em um raio médio de 700 metros
dependendo da qualidade do aparelho. O laser
é identificado por um receptor, que é instalado
em uma régua acoplada ao centro do trator;
a régua pode possuir até quatro metros de
altura, onde existe um sistema graduado para
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aumentar ou diminuir o desnível de uma curva
de nível para a outra.
Como o receptor dos raios laser é instalado
em uma régua e esta se encontra em um local
de difícil visualização do operador, é necessário
que se instale um monitor para visualização da
indicação do caminho a ser percorrido. Para
isto, este é instalado em uma região de boa
visualização do terreno e do monitor. O monitor
indica se o trator deve-se direcionar para o lado
superior ou inferior do terreno através de setas
luminosas, sendo que no momento que estiver
no nível correto uma luz central sinaliza.
O desnível deve ser fornecido pelo operador
de acordo com a inclinação do terreno. Em
superfícies de grande declividade, deve-se dar
maior desnível que em terrenos planos, pois
a pouca diferença entre cotas em superfícies
inclinadas faz com que as curvas de nível
fiquem muito próximas, sendo desfavorável
para construção de taipas, pois a largura que
a taipa irá ocupar é, em média, a largura da
bitola dos rodados do trator. Desta forma, se
as curvas de nível estiverem em uma distância
menor que a bitola do rodado do trator, no
momento do entaipamento, as entaipadoras
irão passar em cima das taipas já construídas,
desmanchando-as. Por outro lado, se o desnível
entre duas curvas de nível for muito grande, há
possibilidade de partes do quadro entre as taipas
ficarem sem lâmina de água.
As curvas de nível podem ser marcadas por
uma entaipadora ou por uma haste ou qualquer
Fotos Vilnei Dias
Régua acoplada ao centro do trator
recebe o sinal da base fixa
implemento que marque o solo. Quando marcadas com entaipadoras, otimizam o processo,
realizando as duas operações em uma única vez,
porém, podem ocorrer erros no momento do
nivelamento que serão permanentes no talhão.
Quando marcadas apenas com uma haste, é
realizada apenas a marcação superficial do solo,
dessa forma, pode-se realizar uma posterior
correção nos desvios de percurso, no momento
do processo de entaipamento. Como o sistema
de nível laser trabalha em um plano horizontal,
emitindo raios para o equipamento receptor em
uma pequena faixa de altura, diversas vezes a
marcação do nível fica em ziguezague e isto
é possível de ser identificado para posterior
correção.
Para um melhor manejo da irrigação é
recomendado realizar a construção de “condutos”, estes são canais de sentido transversal às
taipas com o objetivo de conduzir com maior
velocidade a água para as cotas inferiores.
Também utilizam-se as denominadas “retas”,
que são barreiras construídas por entaipadoras
no sentido transversal das taipas com o objetivo
de dividir e isolar os talhões de irrigação para
melhor controle. Geralmente são construídas
próximas aos vales do terreno, por serem locais
de maior suscetibilidade à erosão. O contorno
da área entaipada deve ser circulado por “rondas” que têm função de evitar a perda de água
dos quadros. O passo seguinte à demarcação do
nível é a construção das taipas.
ENTAIPAMENTO
O entaipamento pode ser realizado com
entaipadoras de base estreita ou de base larga.
Detalhe de uma entaipadora e a base de sinal laser
para orientar o trajeto a ser percorrido
As entaipadoras de base estreita formam taipas
de perfil alto e base estreita, o que possibilita
maior distância entre elas. Porém, são menos
utilizadas, pois causam a formação do famoso
leiveiro (cava), zona em que há retirada de solo
para formação da taipa, formando uma área
compactada, profunda e de menor potencial
produtivo, onde há pouco ou nenhum desenvolvimento do arroz e surgimento de plantas
daninhas.
De modo geral, uma entaipadora de base
larga é composta por um chassi acoplado aos
três pontos do trator, sendo constituídos por
duas seções independentes de discos lisos e
recortados, podendo, estes, variar em número
e diâmetro. Os discos recortados possuem um
maior diâmetro e são instalados na parte central, movendo o solo para formação da taipa e
os discos lisos realizam o acabamento lateral da
taipa, evitando a formação do leiveiro. A entaipadora é interligada ao rolo compactador de
solo, que possui formato cilíndrico ligeiramente
Fotos Vilnei Dias
estrangulado ao centro.
As entaipadoras de base larga são mais
modernas e formam taipas de perfil baixo (0,3m
a 0,4m) e base larga (até 2,8m), permitindo o
trânsito de máquinas e implementos sobre elas.
As semeadoras modernas com rodado articulado proporcionam uma semeadura uniforme
sobre as taipas. Nesse procedimento, o leiveiro
é eliminado, possibilitando maior produtividade na área e maturação mais uniforme, pois
o arroz do quadro atinge o ponto de colheita
juntamente com o arroz da taipa e a infestação por plantas daninhas é reduzida devido
à eliminação do leiveiro. Para a construção de
taipas em boas condições é necessário que a
entaipadora seja bem regulada e utilizar baixa
velocidade de trabalho (Embrapa, 2004) na
ordem de 5 a 7km h-1.
A integração lavoura-pecuária pode ser
utilizada em conjunto com a produção de arroz irrigado, desde que sejam tomados alguns
cuidados para que se mantenham as taipas de
um ano para outro e evitar a compactação do
solo, como utilizar baixa carga animal na área
e retirar o gado durante os períodos de chuva.
Este procedimento faz com que seja mantida a
estrutura das taipas de um ano para outro.
Antes e durante a colheita é aconselhável
O sistema de nivelamento a laser possui
limitações que podem interromper a operação,
ocasionadas por diversos fatores, como vento,
poeira, calor e alcance limitado. Novos sistemas
de nivelamento são capazes de operar sem a
interferência desses fatores, pois utilizam sinais
GPS para realizar o levantamento topográfico,
atuando de forma eficaz, eliminando um
grande percentual de erro operacional humano.
Este método visa gerenciar a água em superfície
através de recursos avançados de processamento de informações, que possibilitam realizar
levantamentos topográficos em grandes áreas
com alta precisão, eliminando operações do
processo convencional com redução de mão
de obra especializada e, consequentemente, os
custos operacionais.
O procedimento de coleta de dados topográficos se dá através de uma guia de pesquisa
de talhão disponível nos sistemas comerciais,
com o auxílio de um sistema de correção do
sinal GPS, com base RTK, receptores, monitor,
piloto automático e ativações, para obter dados
precisos e confiáveis. O processo inicial consiste
no mapeamento do talhão para obtenção dos
pontos de nível. A velocidade ideal para esta
operação é de até 12km/h. Durante o trajeto
da pesquisa são obtidos dados, em média, a
cada metro percorrido, gerando pontos no
monitor, que representam uma posição com
coordenadas de latitude, longitude e elevação
do terreno para cada ponto. O passo seguinte é
a geração das curvas de nível e a construção de
taipas. A união dos pontos com mesma elevação
resulta no mapa altimétrico de campo do talhão
pesquisado, que é armazenado em um arquivo
que pode ser modificado e normalizado em um
software de gerenciamento agrícola, podendo,
desta forma, planejar e definir no software as
passadas utilizadas pelo piloto automático na
operação de construção das taipas, substituindo
os métodos tradicionais e ganhando tempo,
eliminando a operação de marcação das curvas
de nível, permitindo até mesmo a operação
durante a noite, aumentando assim a janela
.M
de trabalho.
Bruno Pilecco Bisognin,
Bruna Flores Batistella,
Tiago Gonçalves Lopes,
Márcio de Almeida Aurélio e
Vilnei de Oliveira Dias,
Lamap/Unipampa Alegrete
Início da marcação de nível
numa lavoura arrozeira
Monitor do sistema laser instalado no trator
que auxilia o operador no direcionamento
A nova tendência é utilizar GPS e piloto automático
nas operações de nivelamento e entaipamento
A entaipadora é interligada ao rolo compactador de solo, que possui formato cilíndrico
ligeiramente estrangulado ao centro, que dá o acabamento final ao trabalho
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que se faça a drenagem da lavoura para que as
taipas sejam mantidas com sua forma original,
proporcionando a conservação das mesmas
para utilização na próxima semeadura, prática
realizada em sistemas como plantio direto e
cultivo mínimo. Na colheita sobre solo não
drenado deve-se evitar o maior número de rastros (passadas do maquinário) na área, a fim de
conservar as taipas, concentrando a passagem
dos pneus em linhas delimitadas, isso faz com
que necessite de apenas um retoque das taipas
para posterior semeadura.
Quando o solo está muito úmido e necessitase realizar a semeadura e ainda o entaipamento
o quanto antes devido ao atraso, é indicado que
se realize a semeadura primeiramente e depois
a construção de taipas, pois quando se realiza a
semeadura com solo úmido sobre as taipas, as
semeadoras podem danificá-las devido à abertura de sulcos onde é depositada a semente.
TENDÊNCIA: ENTAIPAMENTO
POR PILOTO AUTOMÁTICO
Outubro 2013 • www.revistacultivar.com.br
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BISOGNIN, B.P. et al. No nível. Cultivar máquinas, v. 134, p. 06