CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - BACHARELADO
MATHEUS SARAIVA
ASPECTOS DA ECOLOGIA DE PEQUENOS ROEDORES EM FRAGMENTO
FLORESTAL PERTENCENTE AO DOMÍNIO MATA ATLÂNTICA, RIO GRANDE
DO SUL
CANOAS, 2007.
1
MATHEUS SARAIVA
ASPECTOS DA ECOLOGIA DE PEQUENOS ROEDORES EM
FRAGMENTO FLORESTAL PERTENCENTE AO DOMÍNIO MATA
ATLÂNTICA, RIO GRANDE DO SUL
Trabalho de conclusão apresentado à banca
examinadora do curso de Ciências Biológicas do Centro
Universitário La Salle - Unilasalle, como exigência parcial
para a obtenção do grau de Bacharel em Ciências
Biológicas, sob a orientação da Profª. Dra. Cristina
Vargas Cademartori.
CANOAS, 2007.
2
TERMO DE APROVAÇÃO
MATHEUS SARAIVA
ASPECTOS DA ECOLOGIA DE PEQUENOS ROEDORES EM
FRAGMENTO FLORESTAL PERTENCENTE AO DOMÍNIO MATA
ATLÂNTICA, RIO GRANDE DO SUL
Trabalho de conclusão aprovado como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel do
curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle - Unilasalle, pela avaliadora:
Profª. Dra. Cristina Vargas Cademartori
Unilasalle
CANOAS, 2007.
3
Agradecimentos
Primeiro de tudo quero agradecer ao meus pais, Camilo e
marta, que me criaram, educaram e confiaram em mim, o que em
muitas vezes eu não fiz por merecer, poderiam ter desistido de mim
mas
continuaram
a
acreditar.
sem
eles
eu
não
seria
porcaria
nenhuma. Graças a eles tenho educação, a maior arma que uma
pessoa
pode
ter.
espero
poder
retornar
à
eles
uma
pequena
parcela
do
esforço
e
preocupação
que
tiveram
comigo
até
o
presente
momento.
Bem
como
a
admiração
que
tenho
por
eles,
embora eu não demonstre. Também tenho a obrigação de mencionar
aqui minha irmã e colega de formação, Camila, que ajuda quando
pode e confunde quando possível! Hahaha! Ela tem me ajudado
sempre
que
possível
e
a
recíproca
é
verdadeira,
espero
que
possamos continuar com essa relação futuramente.
Agradeço também ao Rafael Meira seniw, amigo, parceiro, vacilão
e cara feio de doer! Nos conhecemos no “inferno”, hahaha! Sabe no
que me refiro não é, Rafael? E desde então somos parceiraços.
uma das amizades que espero continuar a ter. Outro amigo é o
Marcelo Fischer Barcellos dos santos, parceiro de bobagens, saídas
a campo e afins, que deu grande contribuição para a realização
deste trabalho. Me lembro até hoje que a primeira vez que vi ele
pensei “ih, é boiola!” uhauhauha! Me enganei feio, ou pelo menos eu
acho!
Agradeço
também
a
Roberta
agostini
rohr
que
só
fui
“conhecer” na execução do trabalho, foi também importante para o
desenvolver
deste,
desejo
muita
sorte
para
ela
e
em
seu
desenvolvimento profissional. Apesar de não acreditar em sorte. Foi
muito bom também os momentos que passamos juntos, acreditem ou
não essa última frase não contém malícias!
Outra amiga digna de nota é a elisandra Hugo. Baita amigona!
Conheci ela no inicio do curso e até então somos amigos, gosto
muito
dela
e
sei
que
ela
certamente
alcançará
o
máximo
do
potencial que possui. Também agradeço a um amigo de pouco tempo,
o Álvaro, marido desta guria, hahauahua gosto dele também, gente
finíssima, do tipo que não existe mais hoje em dia.
Meus agradecimentos
através da obtenção do
esquecer de mencionar o
contato. mas o pouco que
vai também ao unilasalle pelo apoio dado
transporte. E dito isso, não posso me
Volnei e sua irmã, amigos que tive pouco
tive foram muito divertidos.
Não posso deixar de mencionar também todos do lar Nazaré,
que além da amizade, ofereceram estadia e o mais importante, comida
(hehehehe). Aos irmãos Rafael (mais conhecido como “o mala”), José,
orlando, Joaquim, frei Simão e ao elton meu muito obrigado!
Claro!
Não
posso
esquecer
da
profª
dra.
Cristina
Vargas
cademartori, essa excepcional pessoa que foi minha orientadora e,
pelo menos eu a considero, uma amiga. Cara! O que falar de uma
pessoa dedicada, humana, profissional, competente e contagiante? Eu
sinceramente não tenho palavras para descrever a honra que foi
conviver com ela durante esses últimos meses. Aprendi muito com
ela durante o decorrer do curso e principalmente nessa última
convivência. Há de se ressaltar também a paciência demonstrada
comigo (e ela sabe muito bem que não é nada fácil) Esta é outra
amizade que quero preservar futuramente. Espero algum dia voltar
a trabalhar com ela e é claro, superá-la, por mais difícil que isso
possa ser.
4
Preciso da minha raiva para ficar saudável.
Preciso da minha raiva só para mim.
Preciso da minha raiva não para controlá-la.
Yeah! E eu preciso da minha raiva para ser eu.
Preciso libertar minha raiva.
LIBERTAR!!!
James Hetfield
5
Resumo
Esta pesquisa teve como finalidade contribuir para o conhecimento acerca da
ecologia de pequenos mamíferos em fragmento florestal do Domínio Mata Atlântica
situado no município de Viamão, RS. A área de estudo, localizada entre as
coordenadas 30°14’S e 51°02’W, apresenta considerável nível de perturbação. As
amostragens foram realizadas de julho a outubro de 2006 e de março a junho de
2007, mensalmente, com a duração de quatro noites consecutivas, correspondendo
a um esforço de 999 armadilhas-noite. Para a captura dos roedores foram utilizadas
armadilhas do tipo Tomahawk dispostas em forma de transecto e grade. Akodon
montensis, Oligoryzomys nigripes e Sooretamys angouya foram registradas na área
de estudo. O nigripes apresentou-se como a espécie mais abundante, seguida de S.
angouya e A. montensis. A captura de machos foi superior a de fêmeas. O
fragmento em questão, devido aos impactos sofridos, provavelmente não é mais
capaz de sustentar populações viáveis de pequenos mamíferos.
Palavras-chave: Roedores sigmodontíneos. Remanescente de Mata Atlântica. Sul do
Brasil.
Abstract
This search aims at to contribute for the knowledge concerning the ecology of small
mammals in a forest fragment of Rain Forest Domain in the city of Viamão, southern
Brazil. The study area, located between the coordinates 30°14’S e 51°02’W, presents
considerable level of disturbance. The samplings were carried out monthly from July
to October 2006 and from March to July 2007, each one during four consecutive
nights, comprising a total trapping effort of 999 trap-nights. In order to capture
rodents were used Tomahawk traps distributed in transect and grid forms. Akodon
montensis, Oligoryzomys nigripes and Sooretamys angouya were registered in the
study area. O. nigripes was the most abundant species, followed by S. angouya and
A. montensis. The capture of males was higher than females. The referred fragment,
as a result of anthropic impacts, probably is not able to stand viable small mammal
populations.
Key words: Sigmodontine rodents. Remnant of Rain Forest. Southern Brazil.
6
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO..........................................................................................................7
2 REVISÃO DE LITERATURA.....................................................................................9
3 MATERIAL E MÉTODOS........................................................................................14
3.1 Área de Estudo.....................................................................................................14
3.2 Procedimentos de Amostragem...........................................................................15
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...............................................................................17
4.1 Ordem Rodentia...................................................................................................17
4.2 Akodon montensis…………………………………………………………….............18
4.3 Sooretamys angouya…………………………………………………………............19
4.4 Oligoryzomys nigripes………………………………………………………..............21
4.5 Considerações quanto às capturas de roedores………………………….............21
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................25
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................26
7
1 INTRODUÇÃO
A Mata Atlântica é a segunda maior floresta pluvial do continente americano.
Inicialmente estava presente ao longo da costa litorânea brasileira, formando uma
vegetação contínua em dezessete estados, alcançando também o Paraguai e
Argentina pelas porções leste e nordeste, respectivamente. Com o status de
ameaçada e mais de 8.000 espécies endêmicas de plantas vasculares, anfíbios,
répteis, aves e mamíferos, a Mata Atlântica é considerada um dos 25 hotspots
mundiais de biodiversidade. De sua cobertura original de 1,5 milhões de km², com
92% desta área em território nacional, atualmente este bioma está reduzido a menos
de 100.000 km², representando cerca de 7% do que havia inicialmente. (TABARELLI
et al., 2005).
A conservação da Mata Atlântica e seus ecossistemas associados impõem
grandes desafios, uma vez que este bioma abriga 70% da população, além das
maiores cidades e os mais importantes pólos industriais do Brasil. A economia das
referidas regiões é muito diversificada, sendo predominantemente agropecuária no
interior de São Paulo e nos estados da Região Sul. As zonas industriais,
concentradas basicamente em torno das principais áreas metropolitanas e dos eixos
de desenvolvimento, geram pressões sobre a biodiversidade à medida que
necessitam de recursos naturais e energia para suprimento das atividades
(CONSERVATION INTERNATIONAL DO BRASIL et al., 2000).
Pouquíssimos locais de floresta úmida neotropical foram adequadamente
inventariados e listas locais de espécies são geralmente incompletas. Essa escassez
de conhecimento dificulta iniciativas de conservação e manejo, assim como análises
regionais (COSTA et al., 2005). Segundo Pardini, Umetsu (2006), os padrões de
distribuição das espécies, de diversidade e da estrutura das comunidades de
8
pequenos mamíferos não-voadores relacionados aos ambientes observados no
bioma Mata Atlântica ainda são pouco conhecidos. Em face disso, este trabalho tem
como principal finalidade contribuir para o conhecimento acerca da ecologia de
pequenos mamíferos encontrados em uma área rural localizada no município de
Viamão, caracterizada por ser um fragmento de mata nativa do Domínio Mata
Atlântica, o qual sofreu ações antrópicas. Esta pesquisa poderá auxiliar a
compreender alterações na diversidade de pequenos mamíferos ocorridas devido às
atividades antrópicas, uma vez que, conforme Pardini et al. (2005), esta se modifica
em fragmentos florestais pequenos e isolados, apresentando menor riqueza e maior
variação na composição de espécies, em comparação a fragmentos maiores ou
conectados por corredores.
9
2 REVISÃO DE LITERATURA
A diversidade de mamíferos no Brasil atinge números expressivos,
constituindo-se numa das maiores do mundo. Até pouco tempo atrás, eram
conhecidas 22 ordens de mamíferos no mundo, 11 das quais encontradas no Brasil,
abrangendo um total de 524 espécies (FONSECA et al. 1996). A partir de 2006, o
número de espécies nativas elevou-se para 652, representando um aumento de
24,61% (REIS et al., 2006). Embora a listagem de Fonseca et al. (1996) inclua
apenas as espécies nativas, enquanto a investigação de Reis et al. (2006) tenha
considerado também espécies exóticas que retornaram à condição selvagem, ainda
assim o número de espécies nativas se elevou substancialmente. No entanto,
inventários ainda são escassos e assim perdura o conhecimento insuficiente sobre a
mastofauna brasileira. As ordens que geralmente constam nos levantamentos e,
portanto, as mais conhecidas, são Rodentia, Chiroptera, Didelphimorphia e Primates.
Porém, ainda há desconhecimento quanto à distribuição de algumas de suas
espécies e a taxonomia permanece mal definida nas três primeiras ordens citadas
(REIS et al., 2006).
Devido à grande variação dos mamíferos neotropicais em peso, tamanho,
hábitos alimentares e comportamentais, entre outros, estes exigem diferentes
metodologias e aparelhagens para serem observados ou amostrados, o que
constitui um fator para que inventariamentos sejam incompletos ou até mesmo se
configura em empecilho para sua realização (VOSS; EMMONS, 1996).
Os roedores e marsupiais são grupos bem representativos: de um total de
209 espécies, 44 de marsupiais e 165 de roedores, cerca de 23 espécies de
marsupiais e 79 de roedores ocorrem na Mata Atlântica, das quais 39% e 46%,
respectivamente, são espécies endêmicas (FONSECA et al., 1996; PASSAMANI,
10
2005). Esses números, todavia, devem ser ainda mais altos, pois várias espécies de
mamíferos neotropicais foram descritas nos últimos anos, especialmente as
pertencentes à ordem Rodentia (PATTERSON, 2000; GRELLE, 2002).
Apesar da alta diversidade e do marcado grau de endemismo dos roedores
sul-americanos, a ecologia e o comportamento de muitas espécies permanecem
como lacunas no conhecimento científico, principalmente no Brasil, cujas escassas
informações, até a década de 80, resultavam de trabalhos voltados para a saúde
pública. A partir de então, os estudos realizados sobre o tema em florestas úmidas
tropicais intensificaram-se devido às altas taxas de degradação e fragmentação. Na
região subtropical e, particularmente, no estado do Rio Grande do Sul, cuja
cobertura florestal pertencente à área de Domínio Mata Atlântica encontra-se
reduzida a uma porcentagem de 2,69% da área original, as pesquisas
desenvolvidas, sobretudo no que se refere a avaliações quantitativas de longo
prazo, são insuficientes (CADEMARTORI et al., 2003).
A maior ameaça aos pequenos mamíferos é, sem dúvida, a escassez de
conhecimento científico básico, principalmente sobre taxonomia, sistemática,
distribuição e história natural. Biólogos de campo deparam-se com a dificuldade de
localizar populações de táxons específicos e de identificar espécimes em campo. A
conservação efetiva da biodiversidade requer um mínimo de conhecimento sobre os
alvos dessa proteção – o que é verdadeiro especialmente para roedores, marsupiais
e morcegos, que perfazem dois terços da diversidade de mamíferos no país (COSTA
et al., 2005).
Muitos dos estudos realizados com pequenos mamíferos contemplam a
formulação de listas de espécies e atualizações taxonômicas, havendo uma
disparidade entre trabalhos realizados em diferentes biomas, já que a grande
maioria se refere ao Cerrado. Segundo Ribeiro; Marinho-Filho (2005), os estudos
acerca de comunidades de pequenos mamíferos do Cerrado vêm se acumulando
com o passar dos anos, pois estes compõem um grupo que apresenta facilidade de
captura e abundância relativamente alta, podendo fornecer resultados confiáveis e
mais robustos sobre seus padrões de distribuição, riqueza e abundância. O
conhecimento dos aspectos da ecologia deste grupo, entretanto, conforme os
autores, ainda permanece incógnito nos demais biomas e os poucos estudos
existentes são insuficientes para a geração de um entendimento maior sobre o tema.
11
A reprodução sazonal dos pequenos mamíferos nos trópicos está usualmente
relacionada com os ciclos de chuvas, sugerindo uma relação com a disponibilidade
de frutos e artrópodos, que geralmente é maior neste período (BERGALLO, 1995).
Essa particularidade dificulta a compreensão de qual ou quais fatores realmente
influenciam na reprodução dos pequenos mamíferos (SADLEIR apud BERGALLO,
1995).
Pardini; Umetsu (2006) apresentaram lista de pequenos mamíferos nãovoadores da Reserva Florestal do Morro Grande, incluindo um total de 23 espécies,
sendo 15 roedores e oito marsupiais. O estudo ainda confirma o padrão de variação
sazonal em populações de pequenos mamíferos com um pico de abundância no
final da estação chuvosa ou início da estação seca, corroborando resultados já
existentes na literatura. Apesar de não ser possível inferir sobre a generalidade
deste padrão, já que outros trabalhos não analisaram variações sazonais de riqueza,
é de se esperar que acréscimos na abundância favoreçam a capturabilidade das
espécies, aumentando o número de espécies capturadas. Cademartori et al. (2004),
estudando duas áreas de Floresta Ombrófila Mista, verificaram que a variação na
abundância
das
espécies
estudadas,
aparentemente
é
influenciada
pela
disponibilidade de pinhões, e ressaltaram que os picos de maior abundância
poderiam significar, também, um aumento no sucesso de captura em função da
escassez deste importante recurso alimentar; nos momentos em que os pinhões
tornam-se raros, as iscas funcionam como atrativos ainda mais eficientes.
Feliciano et al. (2002), estudando a dinâmica de populações de pequenos
roedores no Rio de Janeiro, encontraram padrões opostos para as duas espécies
mais abundantes no estudo, A. cursor e B. lasiurus. As dietas diferenciadas,
afirmam, podem explicar os diferentes padrões. A. cursor tem sua dieta composta
por insetos e invertebrados, enquanto que B. lasiurus, por sementes. Assim, as
espécies, respectivamente, teriam maior disponibilidade de recursos alimentares no
período de pluviosidade e período seco.
Altrichter et al. (2004), estudando comunidades de pequenos mamíferos na
Argentina, verificam maior ocorrência nas áreas de vegetação alta com relação a
bosques serranos. Este estudo verificou maior abundância de indivíduos nas
referidas formações, principalmente no inverno, o que pode estar relacionado à
disponibilidade de refúgios, locais para nidificação, proteção e obtenção de alimento.
12
Resultados semelhantes já haviam sido obtidos anteriormente por Altrichter et al.
(2001).
Padrões altitudinais de variação no número de espécies de pequenos
mamíferos em Mata Atlântica também já foram descritos (BONVICINO et al. 1997;
VIEIRA, 1999; GEISE et al., 2004). Vieira (1999) concluiu que florestas de baixadas
normalmente abrigam maior número de espécies. No entanto, Pardini; Umetsu
(2006) verificaram resposta contrária a este padrão, corroborando estudos mais
recentes que têm demonstrado maior riqueza de mamíferos não voadores em
altidudes médias (500 a 1500 m), no bioma Mata Atlântica (VIEIRA; MONTEIROFILHO, 2003; GEISE et al., 2004).
Graipel et al. (2005), estudando a dinâmica populacional de marsupiais e
roedores no estado de Santa Catarina, verificaram maior ocorrência de machos em
extensões florestais grandes, o que normalmente é atribuído aos maiores
deslocamentos que eles realizam e considerado um padrão entre mamíferos na
literatura, enquanto nos fragmentos isolados as fêmeas foram mais abundantes. O
maior tempo de permanência das fêmeas da maioria das espécies no estudo
corrobora a hipótese do maior deslocamento e/ou dispersão dos machos.
Estudando um pequeno fragmento com predomínio de Mata Atlântica
localizado no Espírito Santo, Passamani et al. (2005) encontraram 20 espécies de
mamíferos, sendo os pequenos roedores representados por apenas três espécies,
enquanto que os marsupiais, por oito espécies. Este dado diferiu dos obtidos em
outras áreas de Mata Atlântica, onde a riqueza de espécies de roedores, via de
regra, é maior do que a de marsupiais.
Segundo Vivo (1998), o estudo da ecologia dos mamíferos sul-americanos e
dos brasileiros tem sido intensificado nos últimos anos, após séculos de simples
inexistência. Todavia, a grande maioria das pesquisas é realizada com primatas.
Não é a intenção do autor diminuir a importância da pesquisa primatológica, mas o
mesmo enfatiza que a compreensão dos padrões de funcionamento dos
ecossistemas, no que tange ao papel dos mamíferos, somente será esclarecido com
mais informações sobre um maior número de espécies habitando diferentes estratos,
não somente o arbóreo. Pardini; Umetsu (2006) afirmam que além de sua
importância numérica, o conjunto das informações sobre a ecologia das espécies e
das comunidades de pequenos mamíferos não-voadores indica que marsupiais e
pequenos roedores exercem influência importante na dinâmica das florestas
13
neotropicais, e são bons indicadores tanto de alterações locais do habitat como de
alterações da paisagem.
14
3 MATERIAL E MÉTODOS
3.1
Área de Estudo
O estudo foi conduzido em um pequeno fragmento de Mata Atlântica,
localizado no Lar Nazaré, instituição de cunho assistencial da Sociedade Irmãos da
Misericórdia de Maria Auxiliadora. A propriedade situa-se na localidade do Lami, na
RS 118, município de Viamão, Rio Grande do Sul, entre as coordenadas 30°14’S e
51°02’W. Conforme Sabedot, Cademartori (2005), reconhecem-se, na área, distintas
formações fitofisionômicas. Tais formações expressam, segundo os autores,
mudanças na cobertura e composição de espécies vegetais como resultado das
distintas atividades antrópicas ali desenvolvidas (figura 1). Há um fragmento de mata
nativa, arborescente ou alto, consideravelmente heterogêneo, de cerca de 3,8 ha,
onde ainda se encontram figueiras de grande porte, cactos de dimensões arbóreas e
relativa abundância de epífitos da família Bromeliaceae. Há também uma formação
transitória, conhecida como “vassoural”, de porte arbustivo, a qual se mistura com
uma formação aberta, de campo, entremeada de blocos de granito. Duas áreas de
plantio de espécies exóticas são também observadas na propriedade, uma com o
pinheiro americano, Pinnus ellioti, outra com Eucalyptus sp, com aproximadamente 2
e 3 hectares, respectivamente.
15
Figura 1. Fotocomposição da área de estudo, demarcada pelo retângulo. Fonte:
Metroplan apud Sabedot, Cademartori (2005).
3.2
Procedimento de amostragem
Inicialmente, foram efetuadas amostragens ao longo de quatro noites
consecutivas, no período de julho a outubro de 2006. Para tanto, foram utilizadas 35
armadilhas do tipo Tomahawk de dois tamanhos (9x9x22cm e 14x14x30cm),
distribuídas a cada 10 m, ao longo de um transecto, percorrendo a extremidade do
fragmento de mata nativa até o interior do plantio de eucalipto. No período de março
a junho de 2007, foram realizadas mais quatro saídas a campo mensais, com
duração de quatro noites consecutivas cada uma. No fragmento de mata nativa,
foram dispostas 40 armadilhas, eqüidistantes 15 m, sob a forma de grade,
distribuídas em 4 linhas com 10 estações de captura em cada uma. As armadilhas
utilizadas foram do tipo Tomahawk de dois tamanhos (9x9x22cm e 14x14x30cm).
No segundo semestre de 2006, o esforço de captura correspondeu a 403
armadilhas-noite e no primeiro semestre de 2007, a 596 armadilhas-noite,
totalizando um esforço de 999 armadilhas-noite.
Como isca, utilizou-se fatias de batata-doce cobertas com manteiga de
amendoim (amendocrem). A exposição das armadilhas iniciava na manhã do
primeiro dia de cada saída e estendia-se até a manhã do quinto dia subseqüente. As
16
armadilhas eram revisadas a cada manhã para a verificação de capturas, troca de
iscas ou correção de eventuais problemas ocorridos.
Mediante a captura de animais, procedia-se com a determinação da espécie,
do sexo, observação de indicadores do estado reprodutivo (mamas aparentes,
testículos escrotados e abertura do orifício vaginal), registro do ponto de captura,
pesagem, medição do comprimento da cauda, comprimento total (cabeça-corpo),
orelha direita e comprimento do pé direito. Posteriormente, fixava-se um brinco
metálico numerado no pavilhão auditivo direito e liberava-se o espécime no ponto de
captura.
17
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
De julho a outubro de 2006, foram efetuadas capturas tanto no fragmento de
mata nativa quanto no plantio de eucalipto, enquanto que no período de março a
junho de 2007 as capturas foram restritas ao fragmento de mata nativa. Apenas
roedores da subfamília Sigmodontinae foram capturados em ambos os períodos de
amostragem.
Na primeira etapa de amostragem, foram capturados 19 indivíduos
pertencentes às espécies Akodon montensis, Oligoryzomys nigripes e Sooretamys
angouya. Dois indivíduos foram recapturados durante esse mesmo período,
totalizando 21 capturas. O percentual de recapturas e o sucesso de captura
corresponderam, respectivamente, a 9,5% e 5,2%.
Na segunda etapa, foram capturados quatro indivíduos da espécie
Sooretamys angouya, totalizando seis capturas, duas das quais consistiram em
recapturas. O percentual de recapturas foi equivalente a 33,3% e o sucesso de
captura, a 1%.
4.1
Ordem Rodentia
O amplo escopo de atividades e dietas fazem dos roedores a ordem mais
diversa de mamíferos atualmente: há cerca de 2.050 espécies de roedores no
mundo todo, quantidade próxima de todas as outras espécies de mamíferos
combinadas, algo em torno de 2.550 e quase duas vezes mais que a segunda maior
ordem, Chiroptera (EMMONS, FEER; 1997). De 4.629 espécies de mamíferos
reconhecidas por Wilson e Reeder mundialmente, os roedores representam 43% da
18
diversidade de espécies (HONEYCUTT, 2003), sendo listados para o Brasil, a
ocorrência de 71 gêneros e 235 espécies (OLIVEIRA, BONVICINO; 2006).
Vivendo em ambientes muito diversificados, incluem formas cursoriais,
escansoriais, fossoriais, semi-aquáticas, aquáticas e arborícolas, cada qual
apresentando um conjunto de adaptações que permite explorar de forma eficiente os
distintos ambientes. Em sua maioria, apresentam hábitos noturnos ou crepusculares.
(CADEMARTORI, 2005).
Muitas espécies de roedores são herbívoras e alimentam-se tanto de
variedades diferentes de plantas quanto de seus derivados, como sementes e
brotos. Alguns são insetívoros e outros comem insetos aquáticos, moluscos e
peixes. Há ainda os que possuem uma dieta mais onívora, ingerindo uma variedade
de insetos, vermes, ovos e frutos (HONEYCUTT, 2003).
A estrutura social em roedores é altamente variável. Algumas espécies são
solitárias, enquanto outras são mais sociais. Muitas das espécies fossoriais tendem
a ocupar sistemas de túneis que não são conectados com outros, exceto para
machos e fêmeas em época de reprodução. Outras apresentam um determinado
grau de sociabilidade, como a sobreposição de seus sistemas de túneis. Há ainda
aquelas cuja ocupação da toca por múltiplos indivíduos geralmente é restrita apenas
à mãe e suas crias. Outras espécies tendem a ser gregárias, vivendo em colônias
com uma estrutura bem definida de fêmeas relacionadas que permanecem com seu
grupo natal e machos que se dispersam para grupos vizinhos. O número e o
tamanho de grupo em roedores são influenciados por muitos fatores relacionados à
disponibilidade de recursos e o custo de dispersão (HONEYCUTT, 2003).
4.2
Akodon montensis Thomas, 1913
A. montensis teve o total de sete indivíduos capturados exclusivamente no
plantio de eucalipto. Segundo registros encontrados na literatura, esta é uma
espécie cosmopolita, comum e freqüentemente observada em ambientes secos.
A. montensis é uma espécie abundante, encontrada ao longo de todo o ano.
Possui hábito terrestre e é insetívora-granívora, sendo que artrópodes e sementes
também fazem parte de sua dieta. O comprimento total varia de 175 a 230 mm. A
pelagem dorsal apresenta uma coloração marrom-escura, mais clara nas laterais do
19
corpo, e a pelagem ventral, um tom ocre-claro; a base de todos os pêlos apresenta
um tom cinza-chumbo. A cauda, com comprimento menor do que a cabeça e corpo
reunidos, é pouco pilosa e fracamente bicolor, sendo dorsalmente mais escura
(CADEMARTORI et al., 2002; CADEMARTORI et al., 2003; FONSECA et al., 1996;
SOUZA et al., 2004).
O período de atividade desta espécie compreende principalmente o início ou
o final da noite, caracterizando-se como uma espécie noturna com padrão
bicrepuscular de atividade. Habita formações florestais, áreas abertas adjacentes e
campos de altitude ao longo de toda a Mata Atlântica, Campos do Sul, áreas
florestais da Caatinga, e formações vegetais abertas e fechadas do Cerrado.
Geralmente, este gênero se encontra como a espécie sobressalente perante outras
ocorrentes em florestas úmidas e áreas abertas (GRAIPEL et al., 2003; EMMONS,
FEER, 1997; 2003; OLIVEIRA, BONVICINO, 2006).
4.3
Sooretamys angouya [= Oryzomys angouya (G. Fischer, 1814)]
Musser et al. (1998) promoveram uma extensa revisão de 10 espécies
pertencentes ao gênero Oryzomys, anteriormente consideradas parte do complexo
O. capito, através de análises de exemplares coletados, materiais de museus,
anotações de campo, revisão bibliográfica, cariotipagem, entre outros métodos. No
referido estudo, os autores estabelecem a sinonímia entre O. ratticeps e O. angouya,
definindo este último como sinônimo sênior. Posteriormente, Weksler et al. (2006)
constataram que espécies referidas como pertencentes ao gênero Oryzomys não
compunham um grupo monofilético. Em virtude disso, foram nomeados 10 novos
gêneros para incluir essas espécies. A maioria dos clados apresentados havia sido
reconhecida, de uma forma ou de outra, por muitos anos, normalmente
contemplando “grupos” de espécies ou “complexos”. Entre os resultados, é proposta
uma nova combinação para O. angouya, Sooretamys angouya.
Foram capturados sete indivíduos de S. angouya exclusivamente no fragmento
de mata nativa. Feliciano et al. (2002) relatam que espécies da Mata Atlântica, tal
como S. angouya neste estudo, não conseguem se dispersar para áreas mais
abertas, onde geralmente são dominadas por espécies generalistas, o que viria a
20
explicar o fato desta espécie ter sido constatada apenas no fragmento de Mata
Atlântica em ambos os períodos de amostragem.
S. angouya possui pelagem dorsal que varia do castanho-escuro ao
castanho-avermelhado ou ao amarelado, com pêlos mais claros na lateral e limite
bem ou pouco definido com o ventre, cuja pelagem é abruptamente pálida,
superficialmente esbranquiçada ou amarelada, mas com pêlos sempre com
aparência acinzentada. As patas são longas e estreitas, geralmente com a superfície
superior recoberta de pêlos claros, e a cauda é pouco pilosa, unicolorida, toda preta
e muito maior que o comprimento da cabeça e corpo juntos. Possui um comprimento
médio total de 393,5 mm (355-424mm). Esta espécie está presente na maioria das
florestas úmidas tropicais e subtropicais do litoral do Brasil e no interior de florestas
úmidas do oeste do Paraguai e norte da Argentina. Ocorre em vegetação alterada e
preservada, podendo ser comum, mas não abundante (CADEMARTORI et al., 2003;
OLIVEIRA, BONVICINO, 2006; UMETSU, PARDINI, 2006; WEKSLER et al., 2006).
Devido à presença de cauda longa, patas traseiras bem desenvolvidas e sua
capacidade de saltar, esta espécie foi associada ao hábito escalador por Bueno
(2003). É considerada uma espécie com hábitos terrestres, dieta onívora,
constituindo-se de frutos, brotos e sementes (BONVICINO 1997; FONSECA et al.,
1996; OLIVEIRA, BONVICINO, 2006), sendo freqüentemente capturada em
armadilhas ao nível do solo, embora haja estudos que citam sua ocorrência acima
do solo (CADEMARTORI et al., 2002; CHEREM, PEREZ; 1996; GRAIPEL et al.,
2006; UMETSU, PARDINI; 2006). Neste estudo, ao efetuar-se a soltura, foi
observado que os espécimes escalavam árvores no momento da fuga, o que não há
relato na literatura atual. A presença de registros de capturas acima do solo,
abrangem em sua maioria de 1,0 a 2,5 metros de altura. Apesar destes registros
possuírem alturas relativamente baixas ao comportamento observado em campo,
estes dados poderiam estar correlacionados a um hábito ainda desconhecido para
esta espécie.
21
4.4
Oligoryzomys nigripes (Olfers, 1818)
Foram capturados nove indivíduos de O. nigripes em ambos os ambientes. O.
nigripes apresentou-se como a espécie mais abundante na área de estudo,
compreendendo cerca de 39% dos indivíduos capturados.
As espécies deste gênero têm tamanho pequeno e cauda geralmente muito
maior que o corpo. O comprimento total varia de 161 a 270 mm. A coloração do
dorso varia de castanho-avermelhada a amarelada, com as laterais mais claras, com
limite definido ou pouco definido com a coloração do ventre, que é esbranquiçada ou
amarelada. Os olhos são relativamente grandes, as patas são longas e finas,
cobertas de pequenos pêlos claros, e a cauda é fina e pouco pilosa. As orelhas são
longas (> 14 mm) e esparsamente cobertas por pêlos. Os indivíduos de uma mesma
população apresentam uma notável variação na coloração, o que pode ser atribuído
a diferenças de idade, mas não ao sexo (CADEMARTORI et al., 2003; OLIVEIRA,
BONVICINO, 2006).
O. nigripes possui hábito escansorial e uma dieta frugívora-granívora. Constrói
ninhos a 1,5 m acima do solo ou mais, em ninhos abandonados de pássaros ou em
ocos de árvores vivas ou mortas. Habita formações florestais e abertas da Floresta
Amazônica, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pantanal. Bueno (2003) associou a
capacidade de salto, as patas traseiras bem desenvolvidas e a cauda longa com
uma possível habilidade escaladora. Algumas espécies deste gênero têm ampla
distribuição geográfica, ocorrem em vegetação alterada ou preservada, podendo ser
comuns, mas não abundantes (FONSECA et al., 1996; OLIVEIRA, BONVICINO,
2006).
4.5
Considerações quanto às capturas de roedores
Comparativamente, houve maior número de capturas durante o primeiro
período de amostragem, apesar do mais baixo esforço. Do total de 23 indivíduos
capturados, 11 capturas foram efetuadas no plantio de eucalipto e oito na mata
nativa, durante o segundo semestre de 2006, de acordo com a figura 2, enquanto
que no segundo período de amostragem houve a captura de quatro indivíduos na
mata nativa, conforme apresentado na figura 3.
22
9
Número de capturas
8
7
6
5
Capturas
4
Recapturas
3
2
1
0
jun/06
jul/06
ago/06
set/06
out/06
Figura 2. Número de capturas obtidas de julho a outubro de 2006 no Lar Nazaré
(30°14’S, 51°02’W).
9
Número de capturas
8
7
6
5
Capturas
4
Recapturas
3
2
1
0
mar/07
abr/07
mai/07
jun/07
Figura 3. Número de capturas obtidas de março a junho de 2007 no Lar Nazaré
(30°14’S, 51°02W).
O baixo número de capturas obtido no primeiro semestre de 2007 pode ser
uma resposta dos roedores à estrutura do ambiente, uma vez que este apresenta
sub-bosque e vegetação arbustiva escassos, os quais, em geral, promovem
proteção contra predadores. No primeiro período de amostragem, ao realizar-se
estudo comparativo entre o plantio de eucalipto e o fragmento de mata nativa,
verificou-se maior abundância de roedores no plantio, onde os estratos
anteriormente referidos são mais desenvolvidos. Conforme estudos realizados em
áreas de Mata Atlântica, parece haver uma certa relação entre a complexidade
vegetal e a abundância de pequenos mamíferos (PARDINI et al., 2005; PARDINI,
UMETSU; 2006). A ação antrópica que esta área sofreu provavelmente modificou
23
muito a complexidade original, podendo ter reduzido a riqueza de espécies na área e
causado a diminuição do tamanho das populações remanescentes. E, ainda,
tratando-se de um pequeno fragmento de Mata Atlântica, deve ser ressaltado que
além de se encontrar em um nível de perturbação muito elevado, está relativamente
isolado, sugerindo que o tamanho não comporte populações sustentáveis de
pequenos mamíferos. Essas populações podem estar constituídas por baixo número
de
indivíduos,
o
que
aumenta
a
probabilidade
de
endocruzamentos
e,
conseqüentemente, resulta em perda de variabilidade genética e maior risco de
extinção local. Cabe também considerar um padrão de metapopulação, no qual este
fragmento de mata nativa poderia desempenhar algum papel na dispersão de
indivíduos. Entretanto, tal hipótese deve ser investigada com a aplicação de
metodologia apropriada.
A espécie mais abundante durante o estudo foi O. nigripes, seguida por S.
angouya e A. montensis. Apesar do esforço amostral ter sido maior no fragmento de
mata nativa do que no plantio de eucalipto, não houve grande diferença em relação
ao número de capturas nos dois ambientes (tabela 1).
Tabela 1. Espécies capturadas por ambiente, de junho de 2006 a junho
de 2007, no Lar Nazaré (30°14’S, 51°02W).
Captura Total
Espécie
Plantio de Eucalipto
Akodon montensis
Oligoryzomys nigripes
Sooretamys angouya
7
4
-
Fragmento de Mata
Nativa
5
7
Total
11
12
Total
23
7
9
7
Houve maior captura de machos do que de fêmeas, com 16 e seis indivíduos,
respectivamente, excluindo-se um que escapou no momento da averiguação. Em
nenhum espécime foi possível identificar alguma característica que indicasse
atividade reprodutiva. O padrão observado difere daquele encontrado por Graipel et
al. (2006) em fragmentos florestais isolados, em que fêmeas foram mais
abundantes. No entanto, este fato corrobora os resultados obtidos pelos mesmos
autores em extensões florestais maiores e segundo os quais a maior capturabilidade
de machos normalmente é atribuída ao maior deslocamento apresentado por
indivíduos do sexo masculino nas espécies de mamíferos.
24
Dos 23 indivíduos amostrados, quatro foram recapturados, dois durante o
primeiro período do estudo e outros dois no segundo, correspondendo a cerca de
17,3% do total de capturas. Ocorreu maior número de recapturas de fêmeas, com
um exemplar de cada uma das três espécies registradas, em relação a apenas um
macho de S. angouya. Os espécimes recapturados no primeiro período
apresentaram deslocamento linear, já os do segundo período foram recapturados na
mesma estação de captura, como pode ser observado na tabela 2. O. nigripes
apresentou o maior deslocamento em relação às demais espécies, seguido de A.
montensis. Este fato pode estar associado ao hábito locomotor de cada uma das
espécies, conferindo maior capacidade de deslocamento a O. nigripes, cujo hábito é
escansorial (FONSECA et al., 1996), enquanto A. montensis possui hábito
essencialmente terrícola (CADEMARTORI et al., 2003). Outro fator a ser
considerado refere-se ao ambiente em que os indivíduos foram recapturados.
Percebe-se que os deslocamentos ocorreram no plantio de eucalipto apenas. Isso
provavelmente é explicado mais uma vez pela existência de estrato arbustivo e subbosque mais desenvolvidos no referido ambiente, fornecendo às espécies uma
maior proteção para a realização de suas atividades.
Tabela 2. Recapturas obtidas, por ambiente, de junho de 2006 a junho de 2007,
no Lar Nazaré (30°14’S, 51°02’W).
Espécie
Akodon montensis
Oligoryzomys nigripes
Sooretamys angouya
♂
♀
♂
♀
♂
♀
Área capturada
Deslocamento
Plantio de eucalipto
10 m
Plantio de eucalipto
Fragmento de mata nativa
Fragmento de mata nativa
40 m
nenhum
nenhum
25
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A conservação da Mata Atlântica enfrenta grandes desafios devido a sua
crescente destruição, ocasionada em parte pelos atuais modelos expansionistas
urbanos. Apesar deste bioma provavelmente possuir o maior número de áreas de
proteção integral na América do Sul, estas apresentam-se ineficazes quanto ao
tamanho da área protegida para persistência de populações em longo prazo.
A Mata Atlântica apresenta uma grande diversidade de mamíferos e, apesar da
progressiva e desenfreada destruição, ainda assim permanece como um dos
ecossistemas mais ricos em espécies da mastofauna. Diversas espécies foram
descobertas nos últimos anos e, segundo perspectivas na literatura, ainda há
espécies a serem catalogadas, em especial roedores, marsupiais e morcegos.
Ainda há lacunas de conhecimento no que diz respeito à Mata Atlântica, o que
contribui para a falta de preservação e conservação deste bioma e, por
conseqüência, das espécies que nele ocorrem. Há poucas pesquisas e
inventariamentos em desenvolvimento, bem como políticas governamentais e
incentivos que visem a reverter esse quadro e subsidiar medidas e ações que
promovam a conservação do ecossistema.
A área de estudo representa um fragmento do Domínio Mata Atlântica, o qual
sofreu uma intensa degradação através da substituição de mata nativa por espécies
exóticas de Pinnus ellioti e Eucaliptus sp. Tais alterações parecem ter influenciado a
riqueza e abundância de espécies na área, de modo que o fragmento em questão
provavelmente não sustente mais populações viáveis de pequenos mamíferos,
levando a uma progressiva diminuição destas e sua conseqüente extinção local.
26
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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pastizal de altura de la Reserva La Quebrada, Córdoba, Argentina. Vida Silvestre
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