Informativo
DAKSHINA
JUHO 2007, ANO I, NÚMERO 2
O Autoconhecimento
Swami Dayananda Saraswati
Então, o que eu sou? Em termos de realidade sou um mortal? Serei as células que constituem meu corpo físico? Serei
meus pensamentos ou serei mais? Este assunto está sujeito a um questionamento.
Exatidão em termos de um conhecimento bem-estabelecido a respeito de mim mesmo não ocorre sem que eu analise e
negue aquilo que não sou. Devo ser capaz de negar todas as noções que tenho mantido acerca de mim mesmo e claramente ver o que sou. Aqui não estamos falando sobre uma exatidão de convicção ou determinação, falamos sobre o autoconhecimento, jnanam, que pressupõe muita análise.
Os prefixos upa e ni referem-se a um conhecimento bem-estabelecido sobre aquilo que é o mais
próximo: atma. Este conhecimento é o que significa autoconhecimento. No despertar deste conhecimento, tudo o que é indesejável, todo sofrimento é desgastado e destruído.
Agora, a questão é se esses sentimentos indesejáveis poderão retornar. Posso destruir o sofrimento temporariamente indo dormir, mas ao despertar, a tristeza retorna. Não é essa desintegração semelhante ao corte de uma árvore? A árvore é cortada mas, se suas raízes não forem
arrancadas, o que originou a árvore permanecerá, tornando possível o seu retorno. O que veio
uma vez pode voltar. Assim como as dores de cabeça e a fome: nós as removemos mas elas
voltam. Da mesma forma, os sofrimentos que são temporariamente resolvidos podem retornar.
Saraswati
Deusa hindu da
sabedoria
Se o autoconhecimento remove o sofrimento apenas temporariamente, não é a última resposta
para acabar com o sofrimento humano. Este problema é tratado pelo segundo significado da raiz sad: destruindo ou arrancando totalmente. Assim como um árvore deve ser arrancada com a sua raiz para ser eliminada permanentemente, o
conhecimento definitivo do Ser destrói o sofrimento juntamente com a sua causa, de modo que não haja possibilidade de
ele retornar. Como o autoconhecimento destrói todo sofrimento, a causa só pode ser a auto-ignorância — ajnanam.
Na visão das Upanishads, tudo o que é indesejável origina-se da auto-ignorância e, portanto, pode ser destruído pelo autoconhecimento. Qualquer espécie de conhecimento pode somente destruir uma coisa—o seu oposto, a ignorância. Quando
a auto-ignorância é destruída, qualquer que seja o produto dessa ignorância será também destruído.
Se o autoconhecimento destrói o sofrimento, o Ser deve ser o seu oposto e, por conseguinte, altamente desejável. Não
pode ser algo pequeno e inadequado; pode somente ser o absoluto, Brahman. O conhecimento de mim mesmo como
sendo absoluto é o que está indicado pelo terceiro significado da raiz sad. Destruindo totalmente a auto-ignorância com o
autoconhecimento bem assimilado, eu me reconheço idêntico a Brahman.
A palavra Upanishad, então, significa um bem-estabelecido autoconhecimento que me torna capacitado a reconhecer que
sou o absoluto, Brahman. Neste reconhecimento, todo o sofrimento — ou samsara — é destruído.
Por destruir a ignorância juntamente com todos os nossos problemas, o autoconhecimento é extremamente útil. Quem
então não estaria interessado em ter tal conhecimento? Todos o querem, mesmo sem sabe-lo. Nós queremos ser o total e
de fato somos. É por isso que não podemos aceitar nada menos do que isto. O intento é sempre ser o total. A tentativa
de provar sermos alguém importante tem sua raiz básica nessa paixão por ser o total.
Texto extraído do livro “As Upanishads e o autoconhecimento”
No próximo número: A Tradição Antiga dos Vedas
Svadhisthana Chakra
Yoga Kuruntha
DAKSHINA
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Guru Purnima
“O Guru destrói
a ignorância
(escuridão)
de quem sou eu”
No dia 29 de julho, deste ano,
acontecerá, em todos os Ashrams (monastérios) na Índia,
uma das maiores festividades
do calendário Hindu: o Guru
Purnima. Neste dia se presta
homenagem ao nosso e a
todos os Gurus.
Faz-se namaskaram (saudação)
aos pés do mestre, e entoamse cânticos ao nosso mestre e
a todos da linhagem. "Guru
sisya parampara"
Para se ter uma idéia da importância desta festa devemos
conhecer o significado destas
palavras: Purnima é Lua Cheia.
Guru, segundo a tradição sig-
Swami Dattatreya
Paulo Murilo Rosas
nifica:
"A sílaba Gu representa a
ignorância (escuridão) e Ru
representa a sua destruição.
Guru é assim chamado porque
destrói a ignorância
(escuridão) de quem sou Eu"
“Gukarastvandhakaro vai
Rukarastannivartakah/
Andhakaranirodhitvad
Gururityabhidhiyate//
O Guru, através da transmissão do seu conhecimento e da
força do seu exemplo, é quem
nos inspira e incentiva na
direção de nossa transformação interna pessoal.
Diz um texto sagrado que o
coração do Guru é
“transparente como a água”,
isto é, a pureza habita o seu
coração. Aproveitando o simbolismo da água, devemos
beber dos ensinamentos sagrados do Guru e sentir o seu
lado refrescante, aquele que
sacia a nossa sede de conhecimento e nossa busca da espiritualidade.
A intensidade e a profundidade do seu ensinamento lhe
conferem a autoridade; por
isto, junto ao Guru, devemos
adotar uma postura de confiança e respeito. Seu dedicado
estudo dos textos sagrados é
para nós uma benção, porque
lhe permite transmitir este
tesouro, o conhecimento puro, que enriquece a nossa
consciência, traz luminosidade
à nossa consciência, e nos tira
da ignorância. Nutridas de luz,
nossas consciências poderão,
então, encontrar a verdade
dentro de nossos corações.
Um dos versos mais bonitos
que cantávamos no ashram
para o nosso Guru, Swami
Dattatreya Maharaj, era o Guru
Stotram.
E, no final, todos os seus alunos o saudavam da seguinte
maneira: "OM Sri Guru Ma-
haraj. Jai ki Jai".
GURU STOTRAM
Brahmanandam Paramasukhadam Kevalam Jnanamurtim
Dvandvatitam Gaganasadrsam Tattvamasyadilaksyam
Ekam Nityam Vimalamacalam Sarvadhisaksibhutam
Bhavatitam Trigunarahitam Sadgurum Tam Namami ││
OM - OM - OM
Eu saúdo aquele mestre que é o Absoluto ensinado por ele, que é a plenitude; aquele que me dá a felicidade; que é um, que está na forma de conhecimento; que é
além da dualidade, que é semelhante ao espaço; que é indicado através do ensinamento “você é aquele”; que é único, eterno, puro, imóvel; que é testemunha em
todos os pensamentos, que é além do samsara, que é livre das três gunas.
DAKSHINA
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Os Chakras
“A Mandala do
Muladhara
representa a
busca por
alcançar a
união dos
opostos (céu-
São centros localizados ao longo da coluna vertebral, cuja
função é acumular, transformar
e irradiar a energia (Prana) por
todo o corpo, através das Nadis,
condutos ou canais que carregam ar, água, sangue, substâncias nutritivas e outras substâncias por todo o corpo. Chakra
significa roda.
Em cada indivíduo poderá haver um ou mais desses Chakras
com maior energia criando
diferenças na manifestação de
sua personalidade. Quando os
Chakras inferiores são mais
desenvolvidos, as vivências
mais intensas do indivíduo são
de natureza mais concreta do
Paulo Murilo Rosas
que quando o mesmo ocorre
com os centros superiores.
Cada Chakra tem ação determinada sobre uma parte do corpo
físico, mediante o correspondente plexo nervoso e uma
glândula endócrina determinada. De sua forma anelada saem
pétalas de um Lótus. Cada um
possui um determinado número
de pétalas e em cada uma delas
está uma letra sânscrita.
A partir desta edição do nosso
Informativo, percorremos os
chakras um a um, de forma
resumida, porém fiel aos ensinamentos contidos no livro Sat
Chakra Nirupana.
O chakra tântrico é uma mandala
com profundo simbolismo e
em cuja meditação o indivíduo
é levado a compreender a identidade de Jivatma (ser individual)
e Paramatma (ser total).
terra)”
Muladhara Chakra
Mula significa raiz e Adhara,
suporte, sustentação. Muladhara
Chakra significa portanto Chakra Básico ou Chakra Raiz e
está relacionado ao Nível Físico, à realidade do Mundo Material.
Ele se localiza na base da coluna vertebral, na região do períneo, entre sexo e ânus.
Sua Mandala contém uma Flor
de Lótus de 4 pétalas, um círculo de cor branca (o céu) e um
quadrado (a terra). Ela representa a busca por alcançar a
união dos opostos (céu - terra).
É no Muladhara Chakra que se
encontra a energia chamada
Kundalini representada por uma
serpente enroscada três voltas e
meia no Shiva-Linga e que fecha,
com cabeça, a entrada para a
Sushumna Nadi,
denominada
Brahmadvara (A porta de Brahma).
Mandala do muladhara
chakra
Aspectos psicológicos
É considerado o Chakra da
sobrevivência, da ligação primitiva com a vida, desejo de
alimento, de contato e de
amor, necessidades da criança.
A pessoa que o tem bem energizado possui um sentido
prático da vida, senso de administração, “pés no chão”,
idéias bem definidas e fecundas, razão pela qual seus projetos são realizáveis. É dotado
de bom discernimento espiritual, facilidade para falar, habilidade e organização.
Já o indivíduo que o tem mal
energizado se caracteriza pela
cobiça, avidez, credulidade,
complacência na brutalidade.
Tem dificuldade de se apresentar de modo criativo, espontâneo, flexível e, normalmente, tem problemas em
deixar seus sentimentos fluírem de modo desobstruído,
não compulsivo.
Havendo hiperenergização
deste chakra, a pessoa manifesta um forte apego e rigidez
na forma de lidar com as suas
necessidades materiais de
sobrevivência, negando seus
sentimentos e emoções, desqualificando-os, além de negar
a existência de Deus e de níveis de realidade não tangíveis.
Na hipoenergização, a tendência é negar as necessidades
materiais, e as responsabilidades a elas referentes. A ênfase
é para os aspectos sentimentais ou místicos.
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Yoga Nidra
Paulo Murilo Rosas
Segundo os Tantras, “A traqülidade e a paz vêm de dentro
para fora.” Todos deveriam
gozar da possibilidade de penetrar o seu subconsciente de
maneira a reconhecer as bases
estruturais da sua personalidade, podendo resolver seus conflitos e tornar-se uma pessoa
mais equilibrada e saudável.
Segundo a psicologia moderna
e o Yoga existem vários tipos de
tensão que provocam doenças,
inibições, complexos, ansiedades, gerando sofrimento. Estes
sofrimentos, de uma maneira
geral, estão ligados às dificuldades de passagem da energia sutil
(Prana) pela Sushumna Nadi, nos
locais denominados Granthis
(nós).
Por isto, a necessidade de um
processo de conscientização
das tensões existentes e seu
conseqüente relaxamento.
O Yoga-Nidra é conhecido como método de relaxamento,
mas precisa-se dar ênfase ao
fato de que ele objetiva o equilíbrio físico, mental e espiritual
através do relaxamento profundo consciente.
A prática é baseada num rodízio de conscientização em que a
mente focaliza as diferentes
partes do corpo.
Considerando que Yoga é um
processo de comunhão, a integração dos conteúdos conscientes e inconscientes determina
uma personalidade mais equilibrada e plenamente consciente.
O relaxamento consciente alcançado em Yoga-Nidra possibilita observar (como espectador)
uma liberação de imagens subconscientes carregadas de emoções e conteúdos que foram
reprimidos, Sanskaras.
Estes conteúdos reprimidos são
a causa de nossas tensões profundas e da constante inquietude da mente, e interferem em
nossos comportamentos na
vida diária.
Assim que se atinge o relaxamento profundo consciente,
esses conteúdos passam a emergir e torna-se importante manter-se como observador, sem se
envolver.
“A tranqüilidade e
a paz vêm de
dentro para fora”
Tantra Shastras
Através das suas cinco etapas
do processo de relaxamento, a
saber, pratyahara (abstração dos
sentidos), rodízio de conscientização, visualização, dharana e
resolução ou propósito, o Yoga-Nidra nos auxilia a harmonizar o consciente e o inconsciente, e a nos libertar das Sanskaras.
“Os amados Vedas e Tantras,
que a tradição nos legou,
bem como os Mantras e as práticas,
tornam-se frutíferos se nos são comunicados pelo Guru,
e não de outro modo.”
Kularnava-Tantra, Cap. XI
Professor Paulo Murilo responde
Professor, o tantra utilizado na sua academia é o
tantra sexual? S.V.S.
Não, S., a minha Tradição é o
Dakshina Tantra Yoga (ou
Tantra da Mão Direita). Esta
Tradição, milenar aliás, estuda
o equilíbrio da personalidade
humana, em seus vários aspectos: a afetividade, relacionamento com o mundo exterior, intelectualidade, sexualidade, espiritualidade dentre
outros. Segundo o Dakshina
Tantra nossa personalidade é
o somatório de energia contida nos Chakras; por conse-
guinte qualquer desequilíbrio
ou bloqueio em um deles
poderá causar desconforto no
indivíduo ocasionando distúrbios em um ou vários aspectos da sua personalidade, inclusive na sexualidade. Nosso
trabalho no Kailasa, visa o reequilíbrio da personalidade
dos alunos através do trabalho
de energização dos Chakras
porventura necessitados, com
as técnicas utilizadas no Dakshina.
Obrigado por seu e-mail e sua
pergunta, S.
Envie suas dúvidas sobre o
Dakshina Tantra para o
Prof. Paulo Murilo através do
e-mail
[email protected]
Este Informativo também está
disponível on-line no site do
Kailasa
Kailasa Filosofia Yoga Terapias
Travessa Angrense 14, sala 304
Copacabana, RJ
tel.: (21) 2549-1707
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