UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Programa de Pós - Graduação em Agricultura Tropical
A UNIDADE DE MANEJO CHACRA EM COMUNIDADES
AGRÍCOLAS TRADICIONAIS DA MORRARIA EM CÁCERES, MT.
SANDRO NUNES VIEIRA
C U I A B Á – MT
2006
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Programa de Pós - Graduação em Agricultura Tropical
A UNIDADE DE MANEJO CHACRA EM COMUNIDADES
AGRÍCOLAS TRADICIONAIS DA MORRARIA EM CÁCERES, MT.
SANDRO NUNES VIEIRA
Biólogo
Orientador: Prof. Dr. RODRIGO ALEIXO BRITO DE AZEVEDO
Dissertação apresentada à Faculdade de Agronomia e
Medicina Veterinária da Universidade Federal de Mato
Grosso, para obtenção do título de Mestre em
Agricultura Tropical.
C U I A B Á - MT
2006
FICHA CATALOGRÁFICA
Catalogação na Publicação (CIP). Bibliotecária Valéria Oliveira dos Anjos - CRB1 1713
V658u
Vieira, Sandro Nunes.
A Unidade de manejo chacra em comunidades agrícolas tradicionais da morraria
em Cáceres, MT / Sandro Nunes Vieira. – Cuiabá, 2006.
99 f.
DISSERTAÇÃO (MESTRE EM AGRICULTURA TROPICAL) – UNIVERSIDADE
FEDERAL DE MATO GROSSO, FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA
VETERINÁRIA,
PROGRAMA
DE
PÓS-GRADUAÇÃO
EM
AGRICULTURA
TROPICAL, 2006.
“ORIENTADOR: PROF. DR. RODRIGO ALEIXO BRITO DE AZEVEDO”.
1. Agricultura. 2. Chacra. 3. Manejo de Chacra. 4. Cultura Agrícola. 5. Unidades de
Manejo. I. Título.
CDU 631.1.017.3
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
FACULDADE DE AGRONOMIA E MEDICINA VETERINÁRIA
Programa de Pós-graduação em Agricultura Tropical
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
Título: A UNIDADE DE MANEJO CHACRA EM COMUNIDADES
AGRÍCOLAS TRADICIONAIS DA MORRARIA EM CÁCERES, MT.
Autor: SANDRO NUNES VIEIRA
Orientador: Dr. RODRIGO ALEIXO BRITO DE AZEVEDO
Aprovada em 10 de Novembro de 2006.
Comissão Examinadora:
________________________________
Prof. Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo
(FAMEV/UFMT) (Orientador)
_______________________________
Profª. Michèle Tomoko Sato
(IE/UFMT e PPG-ERN/UFScar)
______________________________
Prof. Márcio do Nascimento Ferreira
(FAMEV/UFMT)
DEDICATORIA
Aos meus pais Heronildes e Erotildes por
sempre serem as pessoas mais confiáveis em
minha vida;
À Carlos, Glaucia, Karine, Kennedy e Wendell
por serem parte de sonhos e realidades;
Rejane e Raphael por fazerem de cada dia uma
feliz e gostosa aventura.
AGRADECIMENTOS
Aos professores Rodrigo Aleixo Brito de Azevedo e Maria de Fátima Barbosa
Coelho pela paciência, exemplos, apoio, respeito e amizade e ainda, compartilharem
seus conhecimentos na pesquisa, arte e cultura;
Aos Agricultores e Agricultoras da Morraria pela paciência, acolhida, respeito
e favorecimento de uma nova visão sobre agricultura e convívio social;
À Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), ao Programa de PósGraduação em Agricultura Tropical e seus docentes, pela acolhida e oportunidade
de realização do curso; A Denise e Maria pela paciência, amizade e ajuda em
diversos momentos desse caminhar;
A CAPES pela concessão da bolsa; FAPEMAT pelo apoio ao projeto;
À Professora Michèle Sato que me auxilia desde a graduação; Aos
professores José Carlos Leite (ICHS/UFMT), Sebastião Carneiro Guimarães e
Márcio do Nascimento Ferreira (PPGAT), pelas sugestões e apoio.
À Regiane, Arlete, Raimundo, Rodrigo, Renata, Elaine, Hérica, Fábio, Carla,
Daniela, Helionora, Renato, Mauro, Toninho (Didi), Rui e Maria Virginia do Grupo
ProSa–UFMT;
Aos amigos do mestrado pela paciência, amizade, alegrias e angustias;
Ao pessoal da FASE MT, em especial a James Frank e família;
Aos amigos (irmãos) de sempre Nerivaldo, Jane e Luís Fernando; Márcio
Freire, Ângela Sr. Luís e Sra. Terezinha; Sidney; Ronan e Prof.ª Marie; Fernando e
Roberta; Marcos e Sheila; Francisco e Márcia; Janaina e Marcelo; Carolina e Edílson
(In Memorian); Luid e Fran; Prof. Edward Bertholine; José Amílcar; Samuel e Dani;
Paulo Soares, David e Janaina; Serginho, Ana Paula e Zé; Ordilei e Tatiana; Tércio
e Tati; Gustavo, João Pinto (In Memorian); Jaciélio; Carlos Giuliano; DianKarlo,
Jorge Cintra; Eduardo; Jiuliano; Carolina e suas respectivas famílias e, os amigos
que se for citar todos não caberão aqui.
Aos amigos sócios da COOTRADE.
A UNIDADE DE MANEJO CHACRA EM COMUNIDADES AGRÍCOLAS
TRADICIONAIS DA MORRARIA EM CÁCERES MT.
RESUMO – Em Cáceres-MT, a antiga área de sesmaria conhecida como Morraria
mudara de 1964 em diante, devido às ações fundiárias estabelecidas pelo Estatuto da
Terra, causando a desestruturação do espaço agrícola e de traços da cultura desse
povo. Nessa região que comporta a história, diversidade e modo de vida tradicional o
grupo ProSA-UFMT almeja conhecer as práticas agrícolas dessas comunidades,
através de estudos de algumas Unidades de Manejos (UM’s). Para isso, se utilizaram
diversas técnicas comuns as etnociências, destacando a observação direta,
participativa; entrevistas parcialmente e não estruturadas, junto a 24 informantes. A
parte qualitativa se deu através dos métodos estatístico de decomposição dos
componentes principais e estabelecimentos de peso relativo. Na bibliografia são
comuns as citações das unidades e manejo roça e quintal, mas, sobre a unidade de
manejo chacra quase não há informações. Assim, o objetivo deste trabalho foi
descrever a estrutura e identificar as funções desta UM. As Chacras possuem
algumas características semelhantes ao quintal e a roça, mas, desempenha outras
funções, tais como: alternativa de cultivo para as pessoas idosas e enfermas;
otimização da mão de obra e recursos financeiros; alternativa alimentar e de renda
para várias famílias. Os informantes apontaram 109 espécies vegetais com diversas
variedades e usos. Os tamanhos das unidades de manejo não excederam a 1,5
hectares. Através dos métodos estatísticos se teve pesos relativos que variaram de
0,87% a 0, 07%, a maior representatividade (0,87%) aponta que, a UM Chacra, pode
ser explicada pela idéia de autoconsumo e autonomia da UP. Dessa forma, as
Chacras são a alternativa de muitos agricultores para suprir a desestruturação de seu
território agrícola, por ser um espaço complementar de sua propriedade e também, o
local que é por muito cedido para a produção de alimentos para as pessoas que não
dispõem de terra, material de propagação ou mesmo mão de obra, o que confere as
Chacras a ligação com as atividades dos tempos das sesmarias onde, o uso comum
da terra, o Muxirum (mutirão) e a troca de material de propagação era uma constante.
Palavras-chave: Agricultura tradicional, Diversidade agrícola, Subsistência.
12
THE MANAGEMENT UNIT OF CHACRA IN TRADITIONAL AGRICULTURAL
COMMUNITIES OF MORRARIA IN CÁCERES - MTABSTRACT – In Cáceres-MT, an old sesmaria area known as Morraria has changed
from 1964 onwards, due to land actions established by the Land Statute, causing a
dismemberment of the agricultural space and of the cultural traces of this people. In
that region which includes the traditional history, diversity and way of life, the ProSAUFMT group wants to know the agricultural practices of these communities by
studying some Management Units (UM’s). For this purpose, several common
techniques such as ethnosciences were used, emphazising direct, participating
observation; interviews with 24 informants, partially structured or not. The qualitative
part was done through statistical methods of decomposition of the principal
components and establishing relative weight. In the bibliography, the citations of
management units of fields and vegetable gardens are common but as far as the
chacra management unit is concerned, there is very little information. Thus, the aim of
this study has been to describe the structure and to identify these UM functions. The
Chacras possess some characteristics similar to vegetable gardens or fields, but fulfil
other functions, such as: planting alternatives for old and sick people; better yieldings
for workers and financial ressources; food and money alternative for several families.
The informants have indicated 109 vegetal species with several varieties and uses.
The sizes of the management units do not exceed 1,5 hectares. Through statistical
methods relative weights have been obtained which varied from 0,87% to 0,07%. The
highest representativity (0,87%) indicates that a UM Chacra may be explained by the
idea of self-consumption and autonomy of the UP. In this way, the Chacras are many
farmers' alternative to make for the dismemberment of their agricultural area, because
they are a complementary space of their property and also, the place which is given
by many for food production for people who do not have land, propagation material or
even farmhands, this grants to the Chacras the link with the activities from the
Sesmarias'times where the common use of the land, the Muxirum (groups of villagers
getting together for all sorts of community jobs) and the exchange of propagation
material was constant.
Key-words: Traditional Agriculture, Agricultural diversity, Sustenance.
13
SUMÁRIO
Página
1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 14
2. REVISÃO DE LITERATURA....................................................................................... 16
2.1. Unidades de Produção (UP) e suas Unidades de Manejo (UM) - aspectos gerais e
16
locais.................................................................................................................................
2.2. Capoeira ou área de pousio...................................................................................... 17
2.3. Sítio, terreiro ou quintal............................................................................................. 18
2.4. Roça ou roçado......................................................................................................... 19
2.4.1. As roças Indígenas................................................................................................. 19
2.4.2. As roças não Indígenas.......................................................................................... 21
2.4.3. As roças na Morraria.............................................................................................
23
3. AS CHACRAS.............................................................................................................. 24
3.1. As Chacras da Morraria ............................................................................................ 26
4. METODOLOGIA ......................................................................................................... 28
4.1. Metodologia para análise dos dados......................................................................... 32
5. RESULTADOS............................................................................................................. 33
5.1. Informações gerais sobre as Chacras....................................................................... 33
6. DISCUSSÃO................................................................................................................ 62
6.1. Idéias (s) relativas à decomposição dos componentes principais, com ênfase no
67
ordenamento decrescente dos pesos relativos................................................................
6.1.1. A diversidade vegetal existente............................................................................. 75
6.1.2. Espécies arbóreas nativas presentes nas Chacras .............................................. 76
6.1.3. Espécies vegetais presentes nas Chacras (cultivadas e nativas)......................... 77
7. CONSIDERAÇOES GERAIS....................................................................................... 83
8. CONCLUSÃO............................................................................................................... 85
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 86
10. ANEXOS.................................................................................................................... 90
14
1. INTRODUÇÃO
Na região da Morraria no município de Cáceres-MT, até a década de
1960, os agricultores da região abasteciam com alguns gêneros alimentícios
a sede do município. O arroz, feijão e outros produtos, como a rapadura que,
até hoje é fabricada artesanalmente em engenhos esculpidos em madeiras e
movimentados por animais, eram transportados em carros de boi, para
assim, serem comercializados no perímetro urbano.
Apesar da proximidade de algumas localidades da Morraria do centro
urbano, os remanescentes das áreas de Sesmaria, ainda guardam e
conservam características de comunidades tradicionais, através das
pessoas que lá residem (e resistem) e, ainda hoje estão organizadas em
comunidades, que em geral, possuem seu nome em homenagem a uma
Santa.
Assim, os endereços existentes na Morraria são caracterizados pela
localidade (nome dado a um local a partir de suas características) e
comunidade. Portanto nessa região se tem: Taquaral (Comunidade Nossa
Senhora
do
Carmo);
localidades
da
Chapadinha
e
Barreiro
Vermelho/Minador (Comunidade Nossa Senhora da Guia), Água Branca,
Santana e Anhumas (Comunidade Sagrado Coração de Jesus).
Onde hoje são as localidades do Taquaral, Água Branca, Santana e
Anhumas, até 1964, eram áreas de sesmaria, que, com a elaboração e
promulgação do Estatuto da Terra, o Governo Federal, através do Instituto
Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), obrigou os a fazer o uso parcelado da
15
terra, ao dividi-la em lotes (Mendes, 2005a). Assim, causando uma ruptura
espacial no território, que comporta e propicia toda uma multifacetada cultura
e vivência.
Apesar do parcelamento, as comunidades buscam a união através de
atividades comunais como o plantio (em menor escala), atividades religiosas
(terço, liturgias e festas) e o bom e velho prosear.
Assim, instigados pela forma de organização nas comunidades e
encorajados pela receptividade dos agricultores, diversos estudos foram
desenvolvidas nessa região. E, como a metodologia aplicada requer muito
diálogo e também (porque não) proximidade, entre as diversas conversas
com os agricultores, surge a palavra Chacra.
Em pesquisa sobre os quintais da região Godoy (2004) teve acesso a
essa nominação, que a levou a fazer uma pequena nota em seu trabalho
sobre, até aquele momento, a incógnita chamada Chacra.
Nas buscas bibliográficas, se constatou poucas informações sobre
essa unidade de manejo (UM) e, as que tinham se referiam a países
inclusos na Amazônia Equatorial.
Pelas indicações de Godoy (2004) sabia-se que, essa nominação era
local e que, tal UM estava nas proximidades da residência do agricultor,
sendo muitas vezes associada com os quintais e as roças, tal informação,
também prestada pela doutora em agroecologia Maria Virginia A. Aguiar que
também, pesquisa na região.
Assim, concomitante a premissa do programa de estudos dos
sistemas agrícolas de Mato Grosso (ProSA-UFMT), este trabalho busca
conhecer as Chacras da Morraria, através da descrição dessa UM, com
base no conhecimento desses agricultores para, através de parte do sistema
agrícola daquela região, se compreender a estrutura conceitual que opera
naquela região e assim, galgar o conhecimento da multifacetada agricultura
tradicional.
16
2. REVISÃO DE LITERATURA
2.1. Unidades de manejo (UM)- aspectos gerais e locais
Os trabalhos até agora efetivados na região da Morraria identificaram
e descreveram: a roça (Godoy, 2004, Costa, 2004, Mendes, 2005b, Bastos,
2006), o quintal (Godoy, 2004; Oliveira, 2006), o pasto (Bastos, 2006), os
recursos madeireiros (Mendes, 2005b), as áreas de uso comum (Bastos,
2006), os recursos naturais (Assunção, 2006), os condicionantes de
procedimentos técnicos (Costa, 2004), a percepção e usos dos solos
segundo os agricultores (Alves, 2004) e as Chacras que é o tema desse
trabalho.
As Chacras chamam a atenção, por ser um desses elementos da
multifacetada agricultura tradicional, aqui entendida como aquela que não
está completamente inserida nos modelos da agricultura industrial (Azevedo,
2003) e, por ser a agricultura tradicional uma construção complexa de
elementos diversos, é necessário um olhar mais aprofundado e cuidadoso
nos elementos que a compõem. Portanto, a abordagem em forma de
sistemas é importante para a compreensão mais ampla de suas
características e particularidades, descrevendo seus elementos e as
relações que estes estabelecem entre si, tanto no tempo como no espaço
(Costa, 2004).
No entanto, para se entender um sistema é necessário antes de
qualquer
ação
saber
identificá-lo,
conhecendo
seu
conteúdo
e
17
estabelecendo seus limites pois, o relacionamento entre as partes e a
resposta destas aos estímulos externos determina seus contornos (Porto,
2003).
Por sua vez, Azevedo (2004b) argumenta que o estudo do sistema se
presta a uma descrição estrutural da realidade, devendo ser percebida a
diferença entre a realidade e sua representação, pois, é uma formulação
teórica que objetiva a compreensão da realidade. Assim, para sistemas
agrícolas há três conceitos que permitem distinguir os problemas e as
relações nas diferentes escalas que são: sistema agrário, sistemas de
produção e sistemas de cultivo e criação 1 (Azevedo, 2004b).
Por ser a Chacra uma UM com características de sistema aberto, a
abordagem de outras UM’s (capoeira, quintal e roça) com as quais
estabelece ligação se faz necessária.
2.2. Capoeira ou área de pousio
Nesse espaço, freqüentemente permanecem espécies anuais,
enriquecidas com espécies frutíferas e essas áreas são deixadas em
repouso para a “recuperação” de seu vigor nutritivo (Noda, 2002). Tal prática
também é comum nas roças e Chacras da Morraria. Como citado por
Mendes (2005b), na região se guarda a influência marcante da tradição
indígena. Seus roçados e suas roças se enquadram no sistema de pousio,
com atividades de derrubada, queima e alternações, em uma mesma área,
períodos de cultivo e períodos de pousio florestal. Godoy (2004) considerou
as capoeiras da região como uma UM. Essa unidade é uma área onde foram
feitos cultivos de dois a quatro anos seqüenciais, e que foi deixada em
Sistema agrário é o modo de exploração do meio historicamente constituído do ambiente
a partir das condições bioclimáticas, a fim de satisfazer suas necessidades e as do grupo
social daquele momento. Inclui aqui a força de trabalho envolvida, cultivos, criações,
entradas e saídas dos sistemas, relações entre os atores sociais envolvidos etc. Azevedo
(2004b)
Sistema de produção é o conjunto de produções vegetais e animais e fatores de produção
geridos pelo agricultor nas escala da unidade produtiva (Azevedo, 2004b);
Sistema de cultivos ou/e criação: Um subsistema de um agroecosistema formado por
componentes que são populações de uma ou mais espécies de cultivos e/ou animais que
interagem no tempo e no espaço entre si e com outros subsistemas do agroecosistema
(Hart, 1985).
1
18
pousio, ou como a população local diz: “deixada para descansar a terra”, por
mais ou menos oito anos (onde neste período há regeneração da vegetação)
(Godoy op cit, 2004).
2.3. Sitio, terreiro ou quintal.
Unidade de manejo próxima a casa, normalmente manejada pelas
mulheres e crianças. A principal característica é a racionalidade de
implantação embasada na biodiversidade e manejo de árvores, arbustos e
ervas para fins alimentícios, medicinais ou madeireiras. Sendo também, local
para as experiências com plantas advindas de outras partes da propriedade
ou não, servindo como mais um espaço funcional da unidade produtiva 2
(Godoy, 2004), que contribui na diversidade e variedade de vegetais e,
servindo como banco de germoplasma para cultivos próximos (Amorozo,
2002). Os quintais colaboram efetivamente para o autoconsumo das
famílias, e por vezes, incrementa a renda familiar, devido complementar a
alimentação e a comercialização do excedente em pequenas feiras, além do
cultivo de plantas medicinais (Cunha, 1999).
Na região da Moraria o tamanho dessa UM varia de 0,17 ha a 0,45
ha, e os usos dos recursos, citados por Godoy (2004) foram: alimentação
humana e animal, barrotear casa, cobrir casa, cola de papel, inseticida,
cosmético, criar mata (para preservar a natureza), enfeite, fazer cerca, fazer
sabão, fazer vassoura, lenha, segurar o vento, sombra e uso medicinal.
2
Conjunto formado pelo território que é o espaço de fato fundiariamente ocupado,
denominada posse fundiária, acrescido de outros, localizados em quaisquer lugares e que,
de alguma forma, contribuem com a reprodução das UP’s, que além do conjunto de
recursos utilizados pelo agricultor, assim como do espaço onde se localizam todos os outros
fatores de produção, materiais ou não (Azevedo, 1999).
19
2.4. Roça ou roçado
Com nítida influência dos povos indígenas, esse tipo de UM é
praticada em boa parte da agricultura brasileira, exemplo a roça de toco ou
coivara que é conhecido de longa data no interior do país (Oliveira, 2002), o
que remete que, essas técnicas de cultivo são mantidas por gerações, e
secularmente preservadas via transmissão oral Peroni et all (1999).
Diegues e Arruda (2000) apontam que além dos indígenas,
comunidades tradicionais não-indígenas como os caiçaras, caipiras,
jangadeiros, caboclos/ribeirinhos amazônicos, ribeirinhos não-amazônicos e
sitiantes também se utilizam dessa UM.
As roças possuem como em boa parte da agricultura, uma grande
diversidade, resultante das interações ser humano e ambiente, e suas
interações sociais, culturais e religiosas. Com isso, faz com que nesse
espaço, a priori de produção de alimentos, tenha variedade de funções do
mítico ao comercial, e assim, diversas formas de manejo, objetivos, cultivos
etc.
2.4.1. As roças indígenas
As roças indígenas são complexas e diversas, nas funções e
construção, que em geral, são para se adaptar as condições tropicais
(Posey, 1987a). Em geral, são baseadas na derrubada e queima da mata,
seguindo-se um período de abandono ou pousio para restauração da
fertilidade do solo (Oliveira, 2002, Reis, 1999). Isso, também é válido para
as roças dos não índios.
Entre os diversos povos indígenas brasileiros, os tipos de roças
referidas são: em clareiras nas matas (Kerr e Posey, 1984, Posey, 1987b;
Kerr, 1987), em morros (Posey, 1987 b), itinerantes (Posey, 1987; Kerr,
1987), roças velhas (Kerr e Posey, 1984) rotativas (Chenela, 1987; Reis,
1999), em capoeiras (Posey, 1987b; Reis, 1999), de toco, de vazante e a
roça mecanizada implantada pela FUNAI. (Reis, 1999) etc.
20
Outra característica importante da estrutura das roças é o ponto
estratégico, onde estas estão situadas em trilhas que podem avançar até
outra aldeia, rio, no ribeirão onde todos se abastecem d’água e tomam
banho ou podem ser sempre vizinhas do coqueiral e do babaçuzal que
muitos recorrem para extrair palha e coco (Reis, 1999).
A mão-de-obra pode ser: compartilhada - onde homens, mulheres e
idosos tem papeis diferentes e, os mutirões (Chenela, 1987). O homem
Kayapó corta, queima, encoivara, abrem buracos, às vezes ajudam na
colheita da mandioca e fabrico da farinha da mesma planta (Posey, 1984).
Para o sexo feminino, as roças em morros do povo Kayapo, são
cultivadas pelas mulheres idosas (Posey, 1987b), o que aponta que as
mulheres são as principais agricultoras que plantam, cuidam, coletam,
transportam e cozinham (Posey, 1984). Para os Tukâno, a inserção de
novos cultivares, principalmente de mandioca, são feitos pelas mulheres,
através da observação nas roças ou, devido aos laços matrimoniais onde,
nas visitas aos parentes as variedades são trocadas (Chenela, 1987).
A distância entre a aldeia e as roças variam entre 5 a 10 Km (Kerr,
1987; Kerr e Posey, 1984), ou mesmo nos arredores da aldeia (Chenela,
1987).
Os cultivos encontrados são muito variados, entre eles se tem: arroz,
milho, cará, batata-doce, abóbora, taioba ou taiá, amendoim, mamão,
inhame mandioca, banana, araruta, abacaxi, pimenta, cupá, coca, e
inúmeras frutíferas, pupunhas, umari, ingá, abóbora, arroz, banana, batatadoce, cana de açúcar, cará, feijão, inhame, mandioca, melancia, melão,
moranga, milho, pepino e taiá (taioba) e variedades medicinais. (Posey,
1984 e 1987b; Chenela, 1987; Kerr, 1987; Reis, 1999; Peroni et all, 1999;
Bezerra e Veiga, 2000).
Sendo sempre citadas em roças indígenas ou não, a mandioca é
sempre uma constante. No estudo de Silva et all (2001) sobre a biologia
reprodutiva
de
etnovariedades
de
mandioca,
foram
utilizados
56
etnovariedades que foram provenientes de 400 etnovariedades que
compõem a coleção de germoplasma de mandioca do Departamento de
21
Genética da ESALQ/USP, isso, em 1995 a 1999. Esse material foi coletado
em roças de caboclos e índios da Região Amazônica e do Estado de São
Paulo.
Em tribos indígenas, por exemplo, a diversidade de cultivares de
mandioca encontrada foi de: 40 entre os Desana; 21 entre os Kayapó; 17
entre os Palikúr; 14 entre os Galibí e também, nos Tukúna; 12 entre os
Paumarí (Kerr, 1987) e, 137 variedades, entre os Tukano (Chernela, 1987).
2.4.2. As roças não Indígenas
Como exemplo dessas roças se tem as do Município de Bejamin, AM
(Noda, 2002), roças de mandioca no município de Ubatuba-SP (Sambatti et
all., 2000), das comunidades caiçaras característica do litoral do estados do
Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná (Oliveira, 2002) e as roças de toco na
região Centro-Oeste (Shiki, 1998)
Em geral, obedecendo as questões culturais e ambientais, o sistema
de cultivo está baseado na roçada, queima e plantio, evoluindo para o cultivo
contínuo manual, seguido de mecanização animal e tratorizado no manejo
do solo no caso da região Centro Oeste (Shiki, 1998).
Essas roças são implantadas em locais de capoeira e várzea (Noda,
2002), matas ou cerradões, onde, exploram a fertilidade natural acumulada
em locais de chamadas pelos agricultores locais de “terras de cultura” (Shiki,
1998). Os tamanhos variam, entre 0,38ha (Oliveira, 2002), 0,6ha (Peroni et
all, 1999) e entre 0,85 a 3,65 ha (Noda, 2002).
Segundo Noda (2002), nessas unidades, são respeitados os tempos
de recuperação (pousio) e, no caso dos caiçaras, as roças são mantidas por
2,8 anos e deixadas em pousio por 9,7 anos (Adams, 2000). Já em outro
caso, citado por Toffoli & Oliveira (1996) na Vila do Aventureiro é de 3,7
anos de cultivo e o pousio 4,8 anos.
Os plantios podem ser cultivados solteiros ou em miscelânea (Noda,
2002). Nessas roças manejadas por comunidades tradicionais não-
22
indígenas, se percebe que, essas comunidades, possuem em alguns casos,
os traços culturais do povo indígena, expresso aqui, no manejo das roças.
A conservação de recursos genéticos se dá, pela troca com os
vizinhos ou, quando o agricultor possui uma outra roça, assim, restabelece a
diversidade que porventura seja perdida (Sambatti et all., 2000). E assim, se
pode perceber que a existência de diversidade de espécies em especial de
mandioca é constante. Tal diversidade, segundo Peroni et all (1999) é
elevada tanto inter como intraespecífica, mostrando que nas roças existem
espécies de propagação vegetativa e também, espécies de propagação por
semente.
2.4.3. As roças na Morraria
Na região da Morraria as roças são geralmente de toco (Mendes,
2005a), algumas em terras cedidas ou, em sua própria unidade produtiva
(UP).
As roças da região são baseadas no policultivo para atender o
consumo da família e de suas criações (Mendes, 2005a; Mendes, 2005b). O
sistema de derrubada e queima, alterna, em uma mesma área, períodos de
cultivo e períodos de pousio florestal (Mendes, 2005b). O tempo de
utilização é de 3 anos, deixando descansar durante aproximadamente 7
anos para recuperar a fertilidade natural (Mendes, 2005a).
Godoy (2004) aponta que os tamanhos das roças variam de 1,21 ha a
3,63 ha. Uma característica interessante é que em duas roças citadas no
trabalho com tamanhos acima de 3,5 ha, a área é descontínua: em uma com
3,63 ha, 2,42 ha é cultivada com arroz, milho, feijão, banana, mandioca,
abóbora, e 1,21ha com o plantio de milho solteiro. Na outra, com 3,5 ha,
havia uma 1 ha, com 250 pés de bananeiras e arroz, e 2,5 ha com arroz, e
com os capins humidícula e braquiária. Nesta última observa-se a intenção
da formação do pasto, prática usual na região da Morraria, mesmo para as
Chacras.
23
A mão de obra utilizada nas lavouras é principalmente familiar,
havendo ainda práticas de ajuda mútua, tais como o mutirão e troca de dias
trabalhados, o que reforça a unidade do grupo social (Mendes, 2005a).
Assim, se pode ter a noção de importância de tal UM, que tem
grandes semelhanças com a Chacra. Como citado por Peroni et all (1999):
“Categorizar tal sistema agrícola como atrasado ou primitivo relegando-o
a uma condição inferior é um ponto de vista que contribui para a grande
perda de diversidade e de variabilidade genética associada à diversidade
cultural destas populações humanas”.
24
3. AS CHACRAS
No Brasil sobre as Chacras há pouca bibliografia. Esta é mais citada
em relatórios, capítulos de livros ou resumos de congresso, que apontam a
Chacra como de origem pré-hispânica, principalmente na região da
Amazônia Equatorial, em países como Equador e Peru.
Rivera (2004) expõem que desde o período pré-hispânico já se era
presente nas Chacras, o cultivo de mandioca para a alimentação humana e
ritual de permissão a mãe terra Pachamama. Nesse tempo, as Chacras
eram responsáveis por 25-30% dos alimentos produzidos para a
subsistência (Voto-Bernales, 2004).
Por essas questões míticas, a Chacra, não é entendida só como o
espaço agrícola, mas como cenário da criação e do florescimento de todas
as formas de vida (Vasquez, 2004a), de saúde do agricultor ou pessoa
envolvida (Vásquez, 2005b), por ter uma relação entre a comunidade
humana, os componentes da natureza e das Divindades (Vásquez, 2005a;
Oba, 2005).
Segundo a FAO (2004) as Chacras são sistemas produtivos em
comunidades
camponesas,
ribeirinhas
e
indígenas
dos
bosques
amazônicos, onde são comuns policultivos, cultivos de ciclo curto, perenes,
pastagens e pequenas manchas de bosque. Onde, predominam os cultivos
de café, cacau, mandioca, banana, palmito, cana, palma africana e
hortaliças (principalmente pimentão e tomate), limão, arroz e milho (FAO,
2004).
25
O tipo de agricultura realizada na Chacras é com saberes e insumos
próprios. A terra é preparada pelo sistema de queimadas (Lathrap, 1970
apud Gow, 2003), e com os mutirões, onde, várias famílias se ajudam nas
atividades de derrubada, aragem, descoivara, colheita e armazenamento, o
que facilita a implementação e manutenção das Chacras (Rivera, 2004).
Essas atividades comunitárias desenvolvidas são coordenadas pelas
“autoridades tradicionales de la comunidad”, que tem a função de cuidar das
Chacras e da paisagem (Rivera, 2004).
Outros papéis importantes das Chacras Andinas são: local de
domesticação de espécies nativas, banco de germoplasma com espécies
tradicionais e área de conservação, devido o manejo associado com árvores,
arbustos e policultivos com cobertura vegetal, que permite a restituição dos
nutrientes do solo (Voto-Bernales, 2004).
Assim, as Chacras colaboram para a conservação in situ de algumas
espécies nativas e assim, contribuindo para a diversidade do local, que é
resultante da interação dos fenômenos ecológicos e a ação domesticadora
do homem (Vásquez, 2004b; 2004c). Tal processo ocorre pela manutenção
de espécies espontâneas, fitogeneticamente semelhantes as cultivadas, as
quais os agricultores mantém, pelo parentesco de seus parentes
cultivados(Oba, 2004; 2005).
Por ser um espaço de conservação, e ainda, estar no centro de
diversidade. Nas Chacras estão sendo coletadas sementes que possui
recursos
genéticos
importantes
expressos
no
germoplasma,
sendo
distribuídas em diversos bancos de germoplasma estatais e privados,
laboratórios de grandes companhias de sementes e plantadas em grandes
extensões de propriedades comerciais disseminadas em diversas partes do
planeta (Vasquez, 2004a) para continuar a manter essa diversidade vegetal
que há nos Andes e em especial na Chacra.
A persistência dessa diversidade se deve ao cuidado, carinho e
proteção da “cultura criadora campesina”. Neste sentido, a diversidade
biológica e cultural campesina é um binômio fortemente unido nos Andes
(Oba, 2005).
26
3.1. As Chacras da Morraria
As informações de Godoy (2004) apontavam para uma UM diferente
das identificadas na região:
Possui característica semelhante de cultivos da unidade de manejo
– roça, a primeiro momento pode-se observar que o que se
diferencia da roça é que em geral se localiza mais próximo ao local
de moradia da família e com uma população menor de plantas,
podendo esta estar localizada e considerada pelos agricultores
dentro do espaço geográfico do quintal. Como não foi estudada a
questão em uma maior profundidade, como a gestão, trabalho, etc,
apenas foi observado essas características. Talvez essa unidade de
manejo venha sendo expressa através do conhecimento indígena,
pois em um trabalho de Hodl & Gasché (1982) citados por Kerr &
Posey (1984), em um trabalho com os índios Kayapó ao descrever
sua agricultura, relatam uma área denominada “Chacra”, onde diz
que é uma “roça” feita numa clareira da floresta. Godoy (2004).
Assim, com base nessa descrição é que, se teve início a pesquisa
sobre a UM Chacra na região da Morraria.
Godoy (2004) cita o artigo de Kerr e Posey (1984), onde consta a
descrição de uma Chacra de índios Secoya feita (Hödl e Gasché,1982 citado
por Kerr e Posey, 1984): “uma roça feita numa clareira aberta na floresta
onde se cultiva banana, cana, mandioca, macaxeira, milho, gengibre,
urucum, fruteiras (citrus, biribá, abacaxi, mamão, goiaba, jaca), batata doce,
plantas medicinais, odoríferas, temperos e o tabaco”. Os plantios são todos
feitos em consorciamento e as práticas têm forte divisão de trabalho entre os
sexos.
Talvez, por semelhanças na forma de construção em clareiras e de
alguns cultivos, é que o trabalho de Kerr e Posey (1984), com o povo
Kayapó, seja citado por a Voto-Bernales (2004), como uma descrição de
Chacra.
A unidade de manejo Chacra identificada por Godoy (2004) na região
da Morraria, esteve presente em apenas duas citações: uma com 1,125 ha,
cultivada com cana-de-açúcar e mandioca, e outra, a ser implementada junto
ao quintal, com o plantio de milho, mandioca, batata doce, amendoim e
abacaxi.
27
A pesquisadora Maria Virginia A. Aguiar 3, que efetiva suas pesquisas
nas Comunidades do Taquaral e Santana, na Morraria, forneceu novos
materiais, que é parte de sua tese de doutoramento em Agroecologia, na
qual, há citações sobre as Chacras da Morraria.
Quando a terra era comunal, havia mais Chacras, mas, depois da
divisão das terras na década de 1960 no Taquaral e 1980 em Santana, o
sistema de produção sofreu mudanças e as UM’s se reorganizaram na
ocupação do espaço, na sua forma, estrutura e função, de acordo com o
sistema produtivo como um todo. Consideramos que com a reorganização
do espaço, as Chacras podem ser confundidas com as roças (a priore na
discussão).
Agradeço a Maria Virginia Aguiar, pelo compartilhamento das informações e sua
colaboração neste trabalho.
3
28
4. METODOLOGIA
A descrição da UM Chacra segue a lógica de sistemas, por entender
que essa UM é, e faz parte de um arranjo de componentes físicos unidos ou
relacionados de tal maneira, que formam e atuam como uma unidade,
entidade ou um todo (Hart, 1985).
As técnicas de pesquisa utilizadas foram: revisões bibliográficas;
entrevistas a partir de um guia de campo (anexo 1); questionários; diário ou
caderno de campo; observação direta e observação participativa ou
apontamento e consulta a técnicos e especialistas (Lakatos, 1985; Cotton,
1986; Azevedo, 2001; Monteiro e Monteiro, 2001;Azevedo e Coelho 2002;
Vieira, 2003; Vietler, 2002; Vieira, 2003; Mendes, 2005b), figura 1.
As informações foram obtidas junto a 24 informantes (tabela 1), com
níveis de informações diferentes, decorrente, por vezes da disponibilidade
do informante, pouco conhecimento sobre o assunto ou ainda, informações
somente sobre tratos culturais, o que na fase estatística, culminou na
ausência destes (por não terem informações que fossem contempladas na
análise).
Esses informantes estão distribuídos nas comunidades de Nossa
Senhora do Carmo, Nossa Senhora da Guia e Sagrado Coração de Jesus,
todas na região da Morraria, (Figura 2).
29
Figura 1. Fluxograma das atividades realizadas.
30
Tabela 1. informações sobre os participantes da pesquisa e localização das
Comunidades
Informantes
Masculino Feminino Comunidade
Localidade
Coordenadas
15°58’56’’
Nossa
Três
Quatro
Senhora do
latitude sul e
Taquaral
Carmo
57°31’14’’
longitude
oeste de Gr
Nossa
Quatro
-
Senhora da
Chapadinha
-
Senhora da
Guia
Barreiro
Vermelho/Minador.
latitude sul e
57°31’03’’
longitude
Sagrado
Uma
Coração de
Sagrado
Coração de
Jesus
latitude sul e
Anhumas/ Retiro
Taquaral, entre a
serra Taquaral e
a serra do Poção,
do km 24 ao km
30 da rodovia MT343
20 km da
15°53’40’’
Uma
dos Bugres
Aproximadamente
Santana
Jesus
Dois
Cáceres a Barra
bocaina do
oeste de Gr
Sete
MT-343, de
está localizada na
15°54’40’’
Dois
km 22 na rodovia
A comunidade
Guia
Nossa
Localização
57°26’59’’
longitude
oeste de Gr
comunidade de
Nossa Senhora
do Carmo,
distante da
rodovia MT-343
31
Figura 2. Localização da Região da Morraria em Cáceres, Mato Grosso – Brasil.
Aguiar (2006).
32
4.1. Metodologia para análise dos dados.
Uma grande quantidade de informações foi obtida, o que contribuiu
para duas etapas de descrição, uma na íntegra, e a outra, por métodos
estatísticos multivariados utilizando o softweare SPSS.
Para a descrição (mais clássica), foram transcritas as informações
obtidas nas entrevistas de acordo com a idéia principal implícita no guia de
campo (anexo 1).
Para a descrição utilizando métodos estatísticos multivariados,
elaborou-se planilha baseada na idéia ou conjunto destas, contidas nas
respostas dos informantes, e que, faz referência ao significado das Chacras.
Após isso, foram estabelecidos códigos alfabéticos para cada
conjunto ou idéia contida nas respostas. Com essa etapa feita, se elaborou a
planilha com os códigos correspondentes as informações nas linhas da
planilha e, nas colunas da planilha, os informantes.
Assim, foram atribuídos valores de 0 (zero) para a resposta não
proferida por aquele informante, e 1 (um) quando a resposta era pertencente
àquele informante.
Com essa planilha finalizada, os dados foram importados para o
softweare SPSS, onde foram feitos os procedimentos devidos para a análise
dos componentes principais e assim, com os escores (19 no total), foram
feitas a análise dos pesos absolutos e relativos.
O peso relativo foi estimado conforme metodologia proposta por Ying
e Liu (1995), a partir dos valores dos pesos individuais absolutos (valores β),
que são os resultados da multiplicação do módulo do valor dos coeficientes
dos escores das variáveis, pelos porcentuais de explicação individual da
variância.
O peso relativo (valores w) de cada idéia é o resultado da divisão do
valor do peso absoluto de cada condicionante pelo somatório dos pesos
absolutos dos condicionantes. Esses valores foram utilizados para a
discussão deste trabalho, e assim, se pode inferir a importância daquela
variável para a resposta inicial o que é Chacra?
33
5. RESULTADOS
5.1. Informações gerais sobre as Chacras
Um grande número de informações qualitativas foi obtido com
agricultores/as que ainda efetivam a Chacra e, pessoas nativas da região
que já possuíram ou conheceram de alguma forma essa UM. Portanto, se
buscou um re-dimensionamento das respostas para serem utilizadas na
análise estatística conforme expresso na metodologia.
Agricultor – Cipriano Corrêa Oliveira
Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Chapadinha.
Sítio São Francisco, município de Cáceres-MT.
O Sr. Cipriano foi um dos moradores nativos da região que fôra morar
em Cáceres em decorrência dos tramites fundiários estabelecidos pelo IBRA
na década de 60. Após retornar a Morraria, sua família adquiriu sua própria
propriedade, onde, faz uma roça (distante da casa) e uma Chacra, que
acredita ter esse nome por origem indígena.
O seu primeiro contato com a Chacra foi ainda em sua infância, com a
convivência com seu tio João Posidônio, que residia na localidade de Maria
Rita próximo ao município de Barra dos Bugres. O mesmo tinha uma Chacra
próxima a sua residência, aonde o Sr. Cipriano aprendera que era bom tê-la,
pois, “um dia que a gente precisa, tem serviço perto de casa pra fazer” e
34
assim, o “cara” tem que manter o local limpo, para ajudar a visualização de
animais silvestre que vem devorar os animais de “terreiro”.
Algumas diferenças são observadas pelo agricultor entre a Chacra, a
roça, o quintal e a chácara. Alguns desses exemplos ainda são relacionados
aos aprendizados na infância, como o exemplo de que quando o tio falava
de ir em uma Chacra, ele já sabia que era uma UM pequena, menor que
uma roça, que era de um alqueire e meio.
Outra diferença entre a roça e a Chacra é que, como informado pelo
agricultor “a Chacra não muda de lugar, a roça muda, quando acaba com a
mata, tem que mudar, para crescer de novo”.
Entre chacra e quintal, as diferenças se dão em relação ao espaço
que o quintal ocupa, que em geral é o mesmo da residência; os cultivos por
vezes são os mesmo (frutíferas, condimentares, etc), mas, nas Chacras
diferente do quintal, quase não há plantas ornamentais e, ainda, em boa
parte dos quintais, no fundo há cerca, para restringir a entrada de animais de
grande porte.
O informante quando indagado sobre a diferença entre Chacra e
chácara, diz: “não compreendo a diferença (...) nem ouvi falar” sobre
chácara.
Em relação a Chacra, o agricultor Cipriano afirma que, a Chacra é
uma rocinha pequena com tamanhos entre 0,43 a 1,21ha, com produção
voltada ao consumo próprio e das criações e, com eventual comercialização
da farinha, que é produzida com mandioca da Chacra. Segundo o
informante, os produtos da roça é que são comercializados.
Na Chacra “(...) planta o que quer, mandioca, cará, cana, (...) é sortido
de tudo (...)” e, dentro desse sortimento, há espécies comuns à roça e ao
quintal como quiabo, melancia, laranja, jabuticaba, goiaba, gergelim, coco da
Bahia, cará, batata doce e abóbora. Além de algumas nativas como
barbatimão, paratudo, Angelim, etc. Assim, a Chacra possui além da
produção de alimentos para a subsistência, a função de produção de mudas
e sementes que serão destinadas à roça.
35
O principal cultivo designa o nome da UM do Sr. Cipriano: “Chacra de
Mandioca”, estrategicamente construída em uma antiga área de capoeirão
deixada pelo proprietário anterior e, com a possibilidade de se manter por
até quatro anos, sem uso de adubo, como informado pelo Sr. Cipriano. Essa
UM com 0,3 ha. está a 15 metros de distância da residência, o que facilita o
acesso aos mantimentos e a lida e, pelo tamanho reduzido, colabora para a
não contratação da mão-de-obra externa. O Sr. Cipriano informa que, depois
da separação do taquaral, as pessoas quase não se ajudam na demão
(mutirão), “só se preocupam durante os muxiruns (quando há) em beber e
comer, antes, não era assim”.
O período em que em geral se começa a feitura da Chacra é no inicio
da época de chuva, onde, entre setembro e outubro se limpa a capoeira, e
até junho o plantio é efetuado. Mas, devido as mudanças climáticas, muitos
cultivos tiveram alterações em seu ciclo de plantio, exemplo dado da
bananeira e arroz, que atualmente é em outubro, mas, antigamente era
setembro.
Figura 3. Croqui da UP confeccionado pelo Agricultor.
36
Agricultores - Catulino Lopes Viana e Cecília Mendes Viana
Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana
Sítio Três Corações município de Cáceres-MT.
Casado desde 1976, com a Senhora Cecília Mendes Viana, que
nasceu na localidade de Anhumas, o senhor Catulino é descendente de uma
das famílias que desde o tempo do arraial reside na região de Santana.
Onde, apesar de não saber o significado e nem a origem, aprendeu durante
sua infância o nome chacra com seu pai.
Dona Cecília disse que aprendeu esse nome há uns 30 anos atrás,
após ter ouvido com os moradores mais velhos da localidade, os senhores
Cassiano Martins, pai do Catulino e Armindo.
Segundo o senhor Catulino, alguns agricultores não o usam essa
nominação, pois, “não quer usar o jeito de nós falar, nossa descendência (...)
jeito de pai, de avós, daí ele vai modificando o jeito de falar (...) deveria falar,
a gente já pegou esse idioma assim (...) é um conhecimento de família”.
A Chacra que possui cerca de 0,5 ha. é menor que a roça, que
segundo o informante possui 2,5 a 7,5 ha, assim, devido a esse tamanho, as
atividades que se tem na roça demandam contratação de mão-de-obra
externa.
Outra diferença entre as UM’s roça e chacra, se dá na necessidade
de avanços ou mudanças em seu território (da roça) para buscar solo com
qualidade melhor para a produção. Diferente da chacra, pois devido ao
número menor de indivíduos cultivados, a área ocupada e o impacto são
menores, assim, o local pode ser utilizado por muito tempo e, quando
observada a invasão de ervas daninhas ou enfraquecimento do solo, o local
pode ser deixado em pousio para um posterior retorno.
Espécies como milho, feijão, arroz, mamão, mandioca e banana, coexistem nas duas UM’s e, apesar das particularidades de cultivos e
tamanhos, se pode fazer juntas em uma mesma UP, a chacra e a roça.
Das diferenças e similaridades entre chacras e quintais se tem: o
quintal possui tamanho menor que a chacra; em ambas há as cercas de três
37
fios de arame farpado; os cultivos no quintal são em menor quantidade de
indivíduos, mas, com maior diversidade de espécies tais como: as plantas
ornamentais, medicinais, frutíferas, hortícolas e condimentares, sendo
muitas dessas comuns as duas UM’s em um lugar separado do quintal, mas,
não muito distante do mesmo.
Entre a chacra e a chácara, se tem as seguintes diferenças, conforme
relatos dos agricultores: A localização da chácara é nos arredores ou mesmo
no perímetro urbano. Seu tamanho é de 0,5 a 2 hectares e, possui a
produção voltada para comercialização, o que é raro na Chacra.
Outra particularidade apontada pelo senhor Catulino é que a
produção mesmo que com intuito comercial, a chácara, em muitos casos,
tem a sua produção menor que na Chacra. Nesse caso, o fato da
“imobilidade” da chácara acarreta o alagamento do solo, que afeta a
produção durante o período de chuva, e ainda, por ser sempre em um
mesmo local, o desgaste ou mesmo a terra com qualidade baixa é outro
agravante.
Diferentemente da chacra, a chácara, possui características de UP
por ter dentro de seu território outras UM’s e, devido a menor proporção, não
há muito espaço para mudanças, diferente da Chacra, que pode avançar
sobre outras áreas da UP.
A chacra é caracterizada pelo senhor Catulino, que possui mais de 20
anos de experiência nesse assunto, como sendo uma roça pequena
(consorciada) de 1 a 2 ha. de grande importância devido a produção para
autoconsumo (e ainda para os animais e cessão dos excedentes aos
vizinhos); facilidade ao acesso, devido à proximidade da residência e ainda,
produzir semente para a outra roça, no período em que não pôde efetivar.
Nessa UM há diversidade de cultivos de ciclo curto e longo, onde
existem variedades locais ou não, que também são comuns aos quintais,
roças e ares de capoeira, como: o milho de três meses (para fazer curau) e o
asteca; arroz de três e quatro meses; mandioca “liberata”; batata doce, cana,
mamão, cara, abacaxi, abóbora, feijão, banana “salta veaco”, rúcula, couve,
38
alface, pimentão, maxixe, quiabo, pepino, abóbora, melancia, pimenta doce
e pimenta malagueta.
No caso da atual Chacra, a distância entre ela e a casa está em
aproximadamente 200 metros e seu tamanho é de 0,5 alqueire (1,25 ha),
que é outra característica ressaltada (tamanho menor que a roça e maior
que o quintal).
O processo de derrubada e queima tem início no mês de maio e o
plantio, em outubro ou novembro, no começo de chuva. O casal que exerce
as atividades na chacra, onde trabalham entre 7 a 12 dias por mês, e 5 h por
dia, das 8h às 11h e das 14h às 16h (depende do sol ou da chuva). Por
vezes há a troca de dia (ajuda mútua ou de mão): “às vezes os cunhados
Juscelino ou Paulo dá uma de mão do dia e não cobra nada” disse o Senhor
Catulino.
A escolha do local se dá pela observação de características que o
agricultor percebe como de “terra de produção”, ou seja, terra preta e que
consiga manter a umidade; terras altas e que não alague facilmente e local
de fácil lida geralmente em capoeiras que é uma vegetação boa de ; com
3F4
pouca “galhada”, pouca “ ”, diâmetro pequeno que facilita a derrubada e por
4F5
conseqüência menor esforço do agricultor, que no caso do Senhor Catulino,
possui problemas de saúde.
Vários motivos após 2 ou 3 anos de utilização do local acarretam
para que esta área seja abandonada ou deixada em repouso (pousio). Entre
eles se tem: a possibilidade de implementar outra área de cultivo (dentro da
UP), pois há mais espaço na UP; o aumento de ervas daninhas
(sementeira); permitir a recuperação das qualidades do solo através dos
processos naturais, e ainda, o local pode ser reutilizado para pastagem
(capim Brachiara).
Após um certo tempo de uso da terra há ocorrência de plantas
invasoras, como o carrapicho de árvore, picão, capim amargoso, capim mais
4
Segundo Mendes (2005b) (...) lá está enfaxado, (...) está sujo. Quando roça, fica alto de
folharada ali. Corta, pica tudo. Então, dá aquele faxo e o fogo queima mesmo, sabe. O faxo
é bom para fogo.
5
Compreendido como o banco de semente existente no local da Chacra, constituído por
ervas daninhas e ainda, outros vegetais trazidos pelos animais ou vento.
39
fino e o capim bravo. Também aparece a lagarta “medi-palmo”, que ataca as
folhas do milho e feijão e o “coró”, que ataca os cultivos de mandioca e
banana provocando o apodrecimento. Para tanto, o uso do inseticida
fosforado de nome comercial Folidol, se dá, como dito pelo informante:
“depende do agitamento (quantidade) do inseto”.
Apesar das pragas e plantas invasoras, o agricultor diz que a
produção não é tão acentuada, em razão do ataque de animais silvestres,
como o tatu, macaco, cutia, quati, mutum, veado, etc, que se alimentam das
plantas da chacra.
Figura 3. Croqui da Chacra confeccionado pelo agricultor antes da visita guiada.
40
Tratos culturais:
geralmente há um período de descanso da terra.
A antiga Chacra tem três anos, e ainda, possui uns indivíduos de mandioca.
Há pouco tempo o agricultor roçou a capoeira e plantou feijão (2005).
De cultivo se tem uma área com 120 bananeiras num espaço de 15 x
20 braças (0,14 ha). Também lá se encontra um plantio de feijão, onde
foram usados 8 litros de sementes, que resultou em 12 x 24 braças que é
0,14 ha.
Em alguns casos as mudas são plantadas em separado, exemplo da
mandioca e banana, em que se utiliza espaçamento de 3 m de largura.
Quando há rotação de culturas o arroz sempre é o primeiro a ser plantado.
Pode-se plantar também, banana, mandioca, abacaxi, batata doce e mamão.
Banana utilizou-se mudas obtidas na UP de um parente, e as covas,
com dimensões de 20x20x40-50 cm (largura, comprimento e profundidade),
foram abertas com enxadão. Em áreas com menos volume de raízes podese também utilizar a cavadeira para a feitura das covas.
Mandioca as variedades utilizadas produzem entre um e dois anos. O
plantio foi em uma área de 0,28 ha., utilizando propágulos com três ou
quatro olhos (gemas) e 15 cm de comprimento. Os propágulos foram
adquiridos com o Sr. Chico Ferreira, seu cunhado, residente na localidade
do retiro das Anhumas.
A variedade de um ano (variedade liberata) é utilizada para produção
de farinha. Já a variedade de seis meses (mandioca branca) é utilizada para
a alimentação própria e dos animais. As diferenças entre as variedades são
o tempo de “amadurecimento é a altura e a ramagem”.
Batata doce em geral não utiliza um espaçamento padrão. Pode ser
cultivada em sistema de consórcio com bananeiras ou abacaxi, e também,
solteiras, com quatro ou cinco mudas, nas extremidades da Chacra, com
dois a três metros entre indivíduos.
Por vezes, plantam cultivos próximos aos outros, exemplo: Milho e
banana: onde as bananeiras são plantadas nas linhas do milho. E no caso
de coincidir o local, a preferência se dá a bananeira.
41
Plantio em consórcio:
Arroz e mandioca - Quando do plantio de arroz e mandioca juntos,
usa-se o espaçamento de 0,3 ou 0,4 m nas linhas por 1.5 m entre linhas. O
Agricultor diz que: “O distânciamento das mandiocas depende da
mandioqueira; se tiver rama e crescer bem coloca 1,5 m se for pequena
pode deixar 1 m.”.
Banana e arroz: O espaçamento utilizado é de 3 m entre linhas, e
para o arroz 1 m entre linhas, podem ser plantadas duas linhas de arroz nas
entre linhas da bananeira.
Arroz e milho: o agricultor disse que plantou esses dois cultivos
juntos para melhor aproveitamento do espaço e tempo. Em 1,25 ha. foram
plantadas 20 ruas de arroz e 10 de milho. O ciclo do milho completa-se em
90 dias, e o arroz, em quatro meses. Segundo Sr. Catulino “maduram
juntos”. Entre duas linhas de milho, se planta duas linhas de arroz.
Quando o milho é plantado solteiro, o espaçamento é 0.5 m entre
linhas por 1.5 m na linha.
Abóbora com arroz ou milho: usa-se espaçamento mais longo entre
linhas para o arroz ou milho e semeia-se a abóbora nas entre linhas.
Agricultor - Juscelino Ferreira Mendes
Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Retiro - Anhumas
Sítio Sonho Meu, município de Cáceres-MT.
Filho de Aprígio Ferreira Mendes e Luiza Martins Mendes, é Irmão de
Dona Cecília esposa do Sr. Catulino. O Senhor Juscelino nasceu no ano de
1958 em Anhumas, localidade ao lado de Santana na região da Morraria.
Desde criança conhece o nome chacra, mas, não sabe a origem do
nome nem da forma de construir, mas, o agricultor informa que essas UM’s
não excedem a 2,5 ha, assim, maiores que o quintal e menor que a roça.
Ainda, possuem em comum ao quintal e roça, alguns tratos culturais, o
42
destino da produção e os cultivos, sendo que em menor quantidade que na
roça, devido esta, possuir em média 7,5 a 10 ha.
O tamanho relativamente pequeno da chacra proporciona a
implementação em uma mesma área, da roça e chacra, ou seja: “pode
dividir um pedaço de meio alqueire na roça e fazer uma chacrinha” como dito
pelo informante.
Através do processo de derrubada e queima da vegetação, o início
das atividades na chacra se dá conforme o período de chuva, mas, varia
conforme o cultivo e a fase lunar. O agricultor ressalta a mudança do período
de queimada, que antes era em agosto e agora (conforme as instruções do
IBAMA) é em outubro, e para tal atividade o informante faz aceiro e retira
licença junto ao órgão competente.
Atualmente a Chacra do senhor Juscelino possui 1,21 ha, cercada de
arame farpado e também liso, no centro até pouco tempo, havia um
ranchinho usado para armazenar feijão e abrigo de mudas e do agricultor
nos períodos de chuva e sol forte.
A chacra fica à 500 metros da estrada que dá acesso as outras UP’s
e, por volta de 200 metros do curral. A residência do agricultor está distante
350 metros da chacra.
Essas distâncias que existem entre a chacra e outras construções
foram uma das razões que acarretaram a escolha do local de construção da
chacra. Também influenciou nessa escolha a proximidade do curso d’água,
a qualidade da terra e, a proximidade a uma pequena área de preservação
(mata sem ser manejada), que propicia benefícios como a umidade e outros.
Outro fato para a escolha do local é o melhor aproveitamento do espaço,
evidente na divisão que fizera na UP.
A localização em local mais alto, também é um dos motivos de
escolha do local, pois, entre o curral e após a chacra (locais mais baixos),
nos meses de outubro a janeiro, ocorre alteração no leito do córrego
temporário e do rio Anhumas, devido ao aumento do indicie pluviométrico, o
que ocasiona o alagamento parcial e pequeno em parte da chacra.
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As modalidades de mão-de-obra que há nessa UP são: própria, onde
o agricultor executa as tarefas na UP; troca de dias com vizinhos e parentes
com reciprocidade na “troca de dia”, caso feito com o Sr Catulino e,
pagamento pelo trabalho, sendo este em dinheiro ou produtos da colheita.
A produção é destinada ao consumo próprio e dos animais
domésticos ou, como no caso da produção da cana-de-açúcar, há a
produção de rapadura juntamente com seu irmão Antônio, onde, após a
divisão da produção, uma pequena parte é vendida. Ainda, parte do que se
produz na chacra é doada aos que não tem alimentos.
O cultivo de cana-de-açúcar, banana de fritar, abacaxi pérola, teca e
mamão papaia, possuem um número maior de indivíduos. Isso pode ser
atribuído, pelo tipo de reprodução (assexuada) e, o interesse do agricultor
por “beleza” ou consumo desses cultivos.
Além dos cultivos acima citados, ainda se tem: abóbora, abóbora
moranga, acerola, acuri, banana nanica, batata doce, caiá, caju, capim
cidreira, cará, cedro, feijão carioca, feijão guandu, gengibre, goiaba, guiné,
jaca, jatobá, laranja, limão galego, limão taiti, loureiro preto, mamão castelo,
manga bourbon, maxixe, milho, peroba e teca, urucum.
Tratos culturais: o arroz agulhinha foi plantado em dezembro de
2004, 18 litros de sementes foram fornecidos pelo Sr. Tut, e plantado com
matraca regulada para 18 grãos, em profundidade de 5 cm, em
espaçamento de 15 cm x 15 cm. Junto, plantou cana-de-açúcar, que foi
mantida, pós colheita do arroz.
O plantio de cana-de-açúcar foi em uma parcela de 0,14 ha, em local
não mecanizado. O espaçamento utilizado foi de 1 m por 1m, em covas
(1.500) com profundidade de 10 cm, onde é colocado propágulo de 10 cm,
que foram obtidas com o Mario Japonês. Até hoje é só canavial, que sempre
é visitado pelos macacos.
A produção é para alimentar o gado e consumo próprio, mas, o
informante quer adquirir um engenho para fazer doce / rapadura.
O agricultor fez duas parcelas distintas, onde plantou milho e banana.
Em uma dessas parcelas citadas, no mês de junho, foram plantados
44
em 0,2 ha, oito litros de sementes de milho híbrido (não especificada a
variedade),
compradas
da
Valdirene
na
comunidade
Guanandi.
O
espaçamento utilizado foi 1x1 m, utilizando matraca regulada para 4
sementes por cova, estas, com 6 cm de profundidade. A colheita foi na lua
nova de outubro.
A outra parcela com tamanho igual (0,2 ha), recebeu o plantio de 180
mudas de bananas das variedades “salta veaco” e bananinha, que, são
provenientes, do sítio bezerro branco dos irmãos Antônio e Estevão.
Em covas de 15x 15x 15 cm, feitas com enxadão, o agricultor, plantou
as bananeiras, com espaçamentos de 4 x4 m.
Em meio ao plantio de cana-de-açúcar, haviam seis indivíduos de
mamão castelo, que após frutificação, “os passarinhos comeram e
espalharam as sementes”, e hoje, há por volta de 50 indivíduos de mamão,
que após capina as sementes que foram zoocolicamente depositadas no
solo emergiram. Também hoje, se tem mamão papaia, mas, não sabe
quantos indivíduos.
Apesar de colher poucos frutos, devido ataque das cigarrinhas, em
novembro de 2004 plantou abóbora moranga, plantadas duas sementes por
cova em profundidade de 0,5 centímetros, feitas com pequenas raspagens,
com a extremidade lateral da enxada. As sementes foram doadas pela
cunhada e, plantadas em espaçamentos de 10x10 m. “Se plantar de bom
coração duas dá, mas, de mau, põe cinco para dar, pois pensa que as que
não nascer vem outra e nasce”. Sr. Juscelino.
A batata doce foi plantada 5 cm de profundidade enfileiradas, em
espaçamentos de 2X2 m. O cultivo dos oito indivíduos, foram impedidos
pelos animais silvestres (tatus).
Após ciclo de produção do milho, no mês de fevereiro, o solo foi
capinado com ajuda do Sr. Catulino, e plantaram o feijão carioca, com a
aplicação do folidol (defensivo do grupo dos fosforados).
O espaçamento utilizado fora de 30x30 cm, em covas de aproximados
3 cm, onde, foram introduzidas com auxilio da matraca, de 2 a 4 sementes.
45
Em 14 de março de 2005, foram plantadas 80 mudas de teça, no
espaço antes ocupado pelo milho. O agricultor diz que “acha bonita, e com o
tempo deve ter serventia”. As mudas obtivera com um parente que trabalha
em uma empresa que trabalha com plantio desta espécies.
Para o plantio do cará, a cova (com profundidade de 10 cm) foi feita
com o enxadão e, em sistema de monte (catatumba) perto de uma árvore. O
material de propagação obteve com seu compadre Simão da região de
Anhumas, o mesmo já faleceu.
O plantio de cinco indivíduos de manga da variedade borboum foi há
quatro anos, para tanto, fez covas de 10 cm de profundidade, em locais
distantes uns dos outros. As mudas, veio do sitio do finado pai.
As três mudas de limão galego, e as seis de limão Taiti, trouxeram da
UP de seu irmão, e só foram transplantadas do canteiro na ocasião do
transporte até a UP de Juscelino.
As mudas de caju foram feitas em sacolas de polietileno de 15 cm,
com terra preta e esterco animal, cerca de 40 g. Após o desenvolvimento
das mudas em local protegido da irradiação solar, foram transplantadas para
o local definitivo. As sementes foram trazidas de Cuiabá, por uma sobrinha
do agricultor.
O mesmo procedimento também foi utilizado para o cultivo das
laranjeiras.
Com as mudas foram cedidas pelo o Sr. Paulo Martins, o plantio de
abacaxi pérola foi em covas retilíneas de 30 x 30 cm feito com em o auxilio
do enxadão. Com mais de três anos de cultivo, boa parte da produção é
“saboreada” pelos animais silvestres, como o macaco.
O Sr. Francisco Ferreira cedeu algumas sementes de goiaba, que
foram semeadas de forma aleatória na Chacra e hoje se tem dois pés.
Para o plantio da jaca, as mudas foram produzidas da mesma forma
que as da laranja e caju. No período do transplantio, com auxilio da enxada,
se fez uma cova de 5 cm de profundidade e as plantou. Apenas duas mudas
tiveram êxito. Seu compadre e irmão Simão foi quem deu as sementes. O
46
fruto é utilizado para alimentar o gado, pessoas e animais silvestres, como
os macacos.
O Sr. Juscelino plantou três pés de feijão guandu, um próximo ao
córrego e outros dois na entrada. Fez covas pequenas com o enxadão, e as
plantou. As sementes, o irmão Antônio Ferreira que lhe cedeu, e estas
sementes, se não houvesse a predação por animais silvestre, como a arara
(siriva) seriam usadas depois de torradas, para fazer café.
Seu irmão Simão lhe presenteou com duas mudas de pimenta
malagueta, plantadas em covas de 0,5 cm, sendo que, uma desidratou.
Em outubro de 2005, 80 indivíduos de mandioca foram plantados em
covas com profundidade de 10 cm feitas com enxada. Segundo o
informante, a mandioca boa para farinha é de um em diante. O plantio das
ramas (mandiocas) em capoeira é em setembro ou outubro, depois de um
ano de descanso da Chacra, e sempre em terra alta.
Nessa UM, há cultivado indivíduos de capim cidreira, um individuo de
guiné, quatro de acerola, quatro de maxixe e oito de quiabo que surgiu após
a limpeza (roçada). Além disso, na ultima visita, o agricultor informa sobre
oito jaqueiras, que não sabe se obtiveram êxito no desenvolvimento.
47
Figura 4. Croqui da Chacra confeccionado pelo agricultor.
Agricultores - Margarida D. de Carvalho; Emiliano da S. Pereira e Alacir
Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Taquaral
Sítio Taquaral, município de Cáceres-MT.
Apesar de desde criança ouvir sobre o nome chacra, somente há
pouco tempo que realmente a agricultora o utiliza. Dona Margarida começou
a fazer chacra há 19 anos, plantando arroz, milho e feijão, mas, tal atividade
de plantio foi dificultada quando foi “criada” a fazenda e por tal motivo, no
espaço que lhe coube fizeram uma chacra.
48
A agricultora diz morar na chacra, que tal fato esclarece-se devido às
questões fundiárias do local, ou mesmo a maneira que essa UM é
construída nessa localidade, que é antigo arraial e sesmaria.
A chacra dessa família situa-se após o quintal, e é dividido por uma
cerca com quatro fios de arame farpado e um córrego temporário.
Dona Margarida e seu filho Alacir, que também trabalha fora da UP,
plantam obedecendo ao período de estiagem os seguintes cultivos: cana de
açúcar, banana, mandioca, mandioca branca, aipim, abacaxi, teca, algodão,
mamão, batata doce, manga, goiaba, pinha, coco de guariroba, limão,
abacate e laranja.
A produção da chacra basicamente supre as necessidades de
subsistência familiar e ainda, as canas-de-açúcar em regime de “ameia” com
os senhores Américo ou Beto, são para fazer rapadura que eventualmente
são vendidas.
Tratos culturais: A cana de açúcar é plantada no começo da chuva,
e colhida, quando começa a floração (“solta fecha”), que coincide com o
período para produção de rapadura, entre julho-agosto. Com a enxada, a
cova retilínea de 20 cm é feita e, se colocam os “toretes” (propágulos) de
três nós, ou, a cana inteira, com espaçamento de um metro entre linhas ou
não.
O plantio das bananeiras é em lugar alto, no começo das chuvas,
entre outubro a dezembro. As mudas utilizadas são grandes e com folhas e
estas são colocadas em covas de 40 cm de profundidade e a largura, feitas
com enxadão. Em torno de seis meses começam a produzir.
Os
propágulos
para
o
plantio
da
mandioca
branca
(aipim)
conseguiram com o Sr. Américo. O espaçamento utilizado é de 1,5 m de na
linha, por 1 m entre linhas e a enxada é usada na feitura das covas.
Os
propágulos
são
utilizados
quando
“muchos”,
com
aproximadamente 8 cm de comprimento e com quatro a seis gemas em sua
extensão. O agricultor diz que desfere golpes de faca nesses propágulos,
para facilitar o surgimento das raízes.
49
O plantio do abacaxi é por mudas, que são colocadas em covas feitas
com enxadão em espaços de 1,5 m entre linhas e na linha. O agricultor diz
que: “o numero de enxadada pra fazer buraco, é o numero de anos que dura
a planta”.
O algodão é plantado em covas de aproximados 10 cm, feitas por
enxada, onde são colocadas duas sementes.
O plantio da batata doce é em cova de 10 cm de profundidade e
devem ser plantadas, distante umas das outras.
As sementes são semeadas aleatoriamente, para se obter as mudas
já “nascidas” que é preferido pela agricultora no cultivo do mamão.
Em caso de preparo de mudas, estas, são plantadas em covas de15
cm e, segundo a informante, se o homem arrancar o mamão que produzirá
as sementes para a muda, o mamoeiro será macho. Mas, se for a mulher, o
mamoeiro dará muitos frutos, por esta razão, D. margarida diz que “tem que
ser mulher para plantar”.
As mangueiras são plantadas em covas com 15 cm de profundidade,
feitas com enxada em espaçamentos de 2 m entre linhas. As sementes são
da própria UP, por vezes, as trazem de outros lugares, a produção de frutos,
inicia em aproximadamente quatro anos.
As goiabeiras, segundo a agricultora, “é difícil de se plantar, ela nasce
sozinha, ou os passarinhos trazem”, então, quando as encontram, fazem a
covas rasas (5 cm) e plantam.
As mudas de acerola são preparadas pelo Alacir em saquinhos, e são
plantadas em covas de 15 cm de profundidade.
O plantio da pinha, abacate e laranja seguem os procedimentos
utilizados para a acerola.
A muda da guariroba foi daqui para Cáceres e seu irmão fez a muda e
depois deu a agricultora, que se utiliza o coco para colocar na rapadura.
Segundo a agricultora, as mudas nascem em qualquer lugar, então
ela arranca e planta, isso, também serve para as mudas de manga.
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Agricultor - Paulo dos Anjos Martins
Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana
Sítio São José, município de Cáceres-MT.
Desde o ano de 2004, O senhor Paulo possui duas chacras, ambas
em terras cedidas pelo senhor Ademar (vizinho). Uma está a 300 m de sua
residência e possui 1.25 ha. (mecanizada e cercada), a outra, possui 1,09
ha. (cercada)e fica a aproximados 700 m da casa do agricultor.
Em fevereiro de 2006, o agricultor disse que a área adjacente a sua
residência, é uma roça. Dois motivos podem ter ocorrido para a mudança da
nominação (classificação) daquele espaço: 1- aumento da área e de
indivíduos vegetais; 2- “não” querer assumir que aquela área é uma Chacra.
A última suposição pode ser endossada pelas falas do Sr. Catulino (acima).
O local para a feitura da chacra, no caso desse agricultor, se dá pela
cessão da terra e facilidade pra mecanização da terra, que propicia o uso
por até quatro anos, após este tempo surge ervas daninhas e a terra
“enfraquece”.
A venda de excedentes acontece, mas, a produção é voltada para a
subsistência da família, pois, a chacra é a alternativa para o pouco recurso
financeiro, pouca terra e mão-de-obra, O tamanho reduzido favorece o uso
da mão-de-obra familiar, mas, por vezes há o contrato de outros.
As espécies cultivadas são batata doce, cará, mamão castelo e
papaia, croá, mandioca, arroz agulhinha, feijão rosinha (espécie local), feijão
carioquinha e milho híbrido, ambos o excedente é comercializado.
As diferenças que há entre Chacra e chácara são o tamanho, a
localização no perímetro urbano e o cultivo que quase sempre é verdura. Já
em relação a roça é pelo tamanho e a maior quantidade de indivíduos
vegetais (apesar da menor variedade).
Tratos culturais: No primeiro ano, em dois espaços distintos dentro
da Chacra, se plantou entre os meses de outubro e novembro (começo da
chuva, na lua minguante este mais fraco), o arroz e milho, o ultimo, foi
colhido em fevereiro.
51
O plantio de milho e arroz, não é feito no mesmo local, pois, segundo
o informante “o milho sobe no arroz”, mas, o mesmo diz que, se pode plantar
a mandioca e o arroz em um mesmo local (juntos).
Em uma área de 30 braças² (0, 43 ha) utilizou 50 litros de sementes
de arroz, que produzira 20 sacos de 60 Kg. Segundo o informante, boa parte
dos grãos antes de amadurecer caíram.
Em uma área de 50 braças² ou 1,21 ha., se plantou 35 litros de
sementes de milho e, colheu aproximados 12 sacos de 60 Kg. O agricultor
explica que essa “pouca” quantidade produzida, foi em virtude da “terra estar
meio nova (recém mecanizada), por isso, o pé ficou fininho, para ambos os
cultivos”.
A limpeza é feita esporadicamente em conseqüência da invasão de
ervas daninhas e outras invasoras.
Em casos de infestação de pragas,
aplica-se o defensivo de nome comercial Tamaron (organofosforados), ou
folidol (fosforado), antes da floração do feijoeiro.
No segundo ano, a área para o plantio estava muito úmida, e não
possibilitou o uso do trator para “gradear”. Tal ação, fora em março e abril. O
primeiro cultivo foi o milho e, após a colheita, a terra foi novamente
mecanizada, para o plantio do feijão, entre março e/ou abril.
Plantou 75 litros de sementes de feijão, sendo 69 litros da variedade
carioquinha, que adquiriu no comércio da Vila Aparecida, e 6 litros de
sementes, da variedade local denominada rosinha.
Para o plantio de milho foram 35 litros de sementes, sendo: 23 litros
de sementes híbridas que ganhou do Sr. Abraão e 12 litros de sementes do
milho asteca (variedade local) que conseguiu no Guanandi (comunidade
próxima). Os dois cultivos foram plantados em 40 braças² (aproximadamente
0, 77 ha.) cada.
As perspectivas de colheitas foram para o feijão 6 sacos de 60 Kg e,
para o milho seria 4 carros ( aproximadamente 12 sacos de 60 Kg.).
A 2º Chacra, com mais de um ano de plantio e cerca de 1, 9 ha.,
possui uma divisão de aproximadamente 0, 36 ha., onde fora cultivados:
52
mandioca, arroz, mandioca e depois o feijão, cada cultivo após o ciclo do
outro. No espaço restante, há mandioca, batata doce, mamão, cará e croá.
O preparo da terra iniciou em setembro de 2004, com a roçada,
derrubada, encoivarada, queima (no mês de outubro) e descoivara. Após
quatro chuvas capinou (novembro) e, com mais um mês fez a requeima.
Em dezembro o arroz foi plantado e, após três meses foi colhido.
A batata doce foi plantada em espaços distintos de aproximados 0,05
ha. Mas, as mesmas foram “comidas pelo tatu”.
O cará, que naquele momento existia um indivíduo cultivado, fora
plantado em sistema de “catatumba”, onde se faz uma cova e coloca-se a
terra menos compactada sobre o material de propagação pretendido. No
caso do cará, se faz a “catatumba”, próxima a um toco ou árvore, para como
complementa o agricultor “subir e não atrapalhar os outros”. Com esse
sistema, se pode plantar o cará junto com a mandioca ou arroz.
As variedades de mamão família (castelo) e papaia foram plantados
nas linhas dos outros cultivos. As sementes utilizadas são da região.
O Croá da família curcubitaceae, possui duas variedades (a amarela e
a roxa) comuns na região. Suas sementes são utilizadas cruas para prevenir
a verminose animal, e também, utilizada na alimentação humana ao natural
ou assada. Seu plantio é sempre próximo a uma árvore, pois como diz na
região “ela é de cipó”. As sementes para o plantio foram doadas pelo Sr.
Armindo.
Em um espaço de 30x45 braças (aproximados 0,65 ha.), se plantou
em média, duas mil “cepinha” (propágulos) de mandioca. Isso, sempre após
o ciclo do arroz, pois, “a mandioca, cresce mais violenta que o arroz”.
53
Agricultor - Armindo Lopes Viana
Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana
Sítio Santo Antônio, município de Cáceres-MT.
Com 86 anos em 2006, o senhor Armindo, cita que, no antigo arraial,
devido a maior quantidade de terras que havia para cultivar (as terras eram
de uso comum), não se fazia chacra, só roça.
Desde criança o agricultor ouvia seus pais falarem sobre chacra. Já
em relação a chácara, o informante disse não ter ouvido nada.
A escolha do local se dá pela proximidade da residência e pela
qualidade da terra, o que confere o tempo de pousio (geralmente entre 2 a 4
anos). As proporções são pequenas entre 1,74 ha a 0, 05 ha., por isso, a
mão-de-obra utilizada é menor e estritamente familiar (os dois filhos).
Após a preparação da terra, se tem o plantio primeiro do milho, entre
outubro e novembro, e depois, o feijão carioca no mês de março. Além
desses dois cultivos também se tem arroz, banana, algodão, limão, manga,
laranja, cumbaru, pimenta e mamona que nasceu espontaneamente. A
produção é para a despesa da casa, e dos filhos, com venda do excedente
da banana.
Apesar de ter o espaço bem aproveitado, o que favorece a
diversidade de cultivo, uma ressalva feita pelo o informante é que a
localização da UM, deve proporcionar, quando preciso, o aumento dessa
UM, isso para o caso de aumentar o numero de indivíduos ou mesmo iniciar
um novo cultivo.
Nas chacras há cerca e algumas espécies típicas de quintal, mas para
por aí as semelhanças, segundo o informante, pois, diferente da chacra, no
quintal se tem galinhas e porcos, e ainda, não há plantas.
Nesse caso o quintal dessa família, ainda segue, o “modelo” do tempo
do antigo arraial, ou seja: um espaço entre a casa e a cozinha (que são
separadas), que é sempre limpo (varrido), onde, há uma cerca de pau-apique (“anti-porco”) e ao fundo, o espaço é compartilhado pelos cachorros, o
galinheiro e a pocilga.
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Sobre roça e chacra, diz que quase não há diferença, esta, reside
apenas no tamanho, que no caso a roça é maior.
O informante com mais de 30 anos de lida com chacra, hoje em dia
devido a visão comprometida, idade avançada e outros problemas de saúde,
não mais trabalha em sua chacra, esta agora é cuidada por seus filhos.
Tratos culturais: A fase de preparação da terra procede da seguinte
forma segundo o informante: descoivara com machado, queima e depois o
plantio.
O milho é plantado nos meses de outubro/novembro, as sementes
utilizadas, são da variedade local denominada “caiana”. O espaçamento
adotado é de 6 ou 7 palmos (entre 1.2 a 1.5 m) entre linhas e na linha, e com
quatro dedos (8 cm) de profundidade.
O plantio do feijão carioca é no mês de março. O agricultor disse que
os outros (variedades) já sumiram. O espaçamento utilizado tanto para entre
linhas como na linha, são de dois palmos (entre 0.4 m) e 3 dedos (6 cm) de
profundidade.
O arroz plantado é uma variedade local, conhecida como “de 4
meses” que, como afirma o agricultor: produz bem. O arroz é plantado com
3 dedos (6 cm) de profundidade e dois palmos (em torno de 0.4 m) de
distância de entre linhas e de na linha.
A mandioca também adquirida na região, segundo o Sr. Armindo “só
faz o buraco e joga”.
A Banana chamada de Salta veaco ou de fritar são em espaçamentos
de duas braças (4.4 m) entre e na linha. As mudas são da região, só faz o
buraco com três palmos (0.6 m) e joga.
Para a romã, a única indicação foi para a profundidade a ser plantada
que é de uma geme (comprimento do dedo polegar ao indicador, em forma
da consoante “L”), 15 cm aproximadamente.
As formas de medidas apresentadas pelo informante diferem do
usual. Portanto, se buscou estabelecer um “padrão” através da observação e
aferição junto a objetos com medidas sabidas (caderno e caneta) e assim,
55
se tem: um palmo é aproximadamente 20 cm; uma geme 15 cm; um dedo
aproximados 2 cm.
Em geral as sementes são plantadas segundo o informante “na mão,
põe um bocadinho na mão e joga”.
Agricultores - João B. Alves da Silva e Hermelinda França da Silva.
Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Retiro - Anhumas
Sítio Sete Estrela município de Cáceres-MT.
Após a morte dos indivíduos de café que havia no quintal, o agricultor
aproveitou o espaço e, em 2002, iniciou o cultivo de outros vegetais e assim,
surge a chacra, que, o agricultor não sabe de onde veio esse nome, apenas
o conhece desde pequeno.
Na prática, para o senhor João, a chacra é “um pedaço pequeno perto
da casa (...) onde, o que se planta na roça grande, pode plantar uns pés na
Chacra, como por exemplo, a mandioca, banana e milho”.
A localização dessa UM é bem próxima à residência do agricultor, na
verdade, parte dela está no espaço da chacra, e ainda, o quintal, é apenas
separado da chacra por uma tela, que cerca a chacra nas laterais e frente,
assim dividindo, ainda, no fundo, há uma cerca de pau-a-pique que separa a
pocilga da chacra.
Mas, diferente da chacra, no quintal há as plantas ornamentais e
alguns poucos indivíduos de plantas frutíferas. Já a chacra possui espécies
medicinais, alimentícias e condimentares que são utilizados no consumo
próprio e, por vezes, compartilhado o excedente com os vizinhos.
Nesse espaço de 0,22 ha. os indivíduos de mandioca liberata e
abacaxi pérola são os que sobressaem, talvez pela forma de reprodução
assexuada, mas, ainda se tem nessa UM: Abacate, Acerola, Algodão,
Babosa, Banana cabutá, Banana de fritar, Batata Doce, Boldo, Boldo do
Chile, Bucha, Café, Caju, Capim cidreira, Cará, Fruta banana, Goiaba,
Jenipapo, Laranja, Mamão Papaia, Mandioca amarela, Maxixe, Mexerica,
Pimenta Lambari, Pimenta malagueta, Pitanga, Quiabo de Angola, Siriguela,
Tamarindo e Terramicina
56
As atividades na Chacra são de acordo com a fase lunar e período de
seca e chuva. Quando necessário, se aplica folidol (defensivo do grupo dos
fosforados) no feijão, devido às vaquinhas (insetos).
Tratos culturais: três anos atrás havia laranjeiras e aproximados 40
indivíduos de cafeeiro, que (causa não mencionada) secaram. O agricultor
os cortou e amontoou, usou alguns galhos que para lenha e queimou o
resto, após a chuva capinou e iniciou o plantio.
O plantio de milho e rama (mandioca) foi em parcelas separadas,
sendo que, no início de novembro, na fase lunar minguante, plantou-se
aproximados 12 indivíduos de mandioca liberata e, sete indivíduos de
mandioca amarela que conseguira com o Sr. Antônio Viriato. O
espaçamento utilizado foi 1,20 m x 1,20 m e, com covas de 12 a 15 cm de
profundidade, feitas com enxada.
O milho foi plantado em 1 m entre linhas e 60 cm na linha, com
utilização de matraca regulada para 3 a 4 sementes por cova, com 5 cm de
profundidade. Para essa parcela, se usou, um litro de sementes de milho
híbrido, comprado em Cáceres. O plantio fora em novembro e, a colheita do
milho verde fora em janeiro. Parte da colheita do milho verde fez pamonha e
curau, que, além de consumo próprio, cedera ao vizinho.
“O ideal para o milho é da lua nova para a cheia, pois, cria mais a
espiga nas outras, dá espiga sadia, mas, pequeninha” Sr. João.
Nesse mesmo ano o agricultor plantou batata doce junto com milho,
três indivíduos em profundidade de 10 cm.
O cultivo do milho foi sucedido pelo cultivo de amendoim, no mês de
março e no início das chuvas, em novembro, também se plantou abóbora,
maxixe e quiabo.
Para a abóbora usou três sementes por cova de 3 cm de
profundidade, às vezes, planta três indivíduos, próximos a dois metros do
outro.
O maxixe é plantado em uma cova de 3 a 4 cm de profundidade, onde
se coloca três sementes.
57
O amendoim foi plantado no lugar do milho, utilizou-se de
aproximadamente três litros, mas, a produção fora prejudicada pelo ataque
de formigas vermelhas. As sementes foram compradas de um rapaz da
Bocaina.
Também em 2003 plantou duas mudas grandes de bananinha cabutá
(cabrita) que já produziu cinco cachos. O agricultor explica que a mudas
foram plantadas em dezembro e eram grandes, por isso, que produziu
rápido. Em 2004, três indivíduos de banana de fritar foram plantados
também. Em geral faz a cova com cavadeira, sendo, 30 cm de largura e 40
cm de profundidade.
Em janeiro 2004 plantaram abacaxi comum (pérola) na beira da cerca,
aproximadamente 70 indivíduos. O informante diz que dá “grandão”, pois,
planta com 1 metro de distância enfileirado.
Plantou um individuo de cará ano passado (2004) usando o “sistema
de catatumba” com 30 cm de profundidade.
No local da Chacra, há algumas fruteiras como laranjeiras e
tamarineiro e, também, um indivíduo de cafeeiro, que eram em 30 ou 40 no
começo e, dois indivíduos de algodão.
Também havia fumo que o informante diz que nasceu por si só, talvez
porque iam fumar naquele local e caía a semente.
Após o plantio, o agricultor corta os vegetais e os deixam no lugar,
para decompor.
Agricultor - Basílio Lopes Viana
Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana
Sítio Serra Linda, município de Cáceres-MT.
O jovem Basílio diz que chacra é uma roça pequena que não excede
1,25 ha, assim, sendo uma alternativa frente a construção da roça, visto que
o mesmo, não possui condições para fazê-la, pois devido ao tamanho (2, 37
a 12,5 ha) há a necessidade de contratação de mão-de-obra externa e, o
agricultor não possui condições para isso.
58
O início das atividades na chacra é em setembro, obedecendo ao
período de seca e chuva. A área escolhida é em capoeirão próximo a
residência da família, o que facilita o acesso rápido, principalmente em
períodos de chuvas, aos mantimentos.
Nessa chacra há uma cerca de arame liso e farpado, com quatro fios
em lugares distintos e, a área é utilizada por 2 ou 3 anos. A mão-de-obra
empregada é do pai, mãe e do outro irmão.
Agora com área destinada a sua família, desde julho de 2005, o
agricultor cultiva em sua terra o feijão, milho, banana e arroz. O feijão
eventualmente é vendido, como também a banana que a entrega verde,
mas, a função principal da produção obtida na chacra é para as despesas da
família.
O território da chacra é quase sempre o mesmo, mas, é respeitado o
pousio, o que se assemelha a roça, como também os cultivos que quase
sempre são os mesmos, mas, o tamanho da roça é bem maior que a chacra,
como citado acima.
A diferença entre chacra e quintal reside no tamanho, o quintal possui
no máximo 0,08 ha, já acima de 0,14 ha. é chacra. Alem de ter espécies em
comum, no quintal se sobressai as espécies frutíferas e ornamentais.
De acordo com o agricultor, a chácara é na cidade e, possui de 5 a
7,5 ha, onde, além dos cultivos, criam animais, o que difere da chacra, tanto
em tamanho, como localização e sistema de criação.
Tratos culturais: após o preparo do local, o primeiro cultivo foi o da
banana, em espaçamento de 3 metros na linha e entre linhas. O tamanho da
cova é de acordo com a muda, em geral é de 60x10x30cm (largura,
comprimento e profundidade) utilizando o enxadão.
O arroz de três meses plantara em novembro e colhera em fevereiro,
com matraca regulada para 50 sementes de arroz, em profundidade
aproximada de 2 cm. Os espaçamentos foram de 60 cm entre linhas e 20 cm
na linha.
Ainda no mesmo espaço, roçou um pedaço e plantou milho de palha
roxa (caiana) em uma parcela de 0,25 ha. O espaçamento utilizado foi de 1m
59
entre linhas por 70 cm na linha, com o uso da matraca regulada para dois ou
três sementes que fica a 3 cm de profundidade. Mas, não produziu bem,
devido não efetivar a colheita em tempo hábil e predação de animais
silvestres (macaco, tatu, quati e cutia).
O feijão carioca foi plantado em março e em julho colhe, para este
plantio o local foi cedido por um parente. “O primo Totó roçou e não plantou,
ai ele me cedeu”.
Para o plantio do feijão na lua nova ou crescente, utilizou 40 litros de
sementes de feijão carioca, distribuídos da seguinte maneira: 20 litros
próximo a residência do Sr. Paulo; 15 litros, próximo da casa de Sr. Benedito
e, outros 5 litros de sementes perto da estrada. O espaçamento é de 20 cm
entre linhas por 15 na linha, com o auxilio da matraca regulada para três
sementes.
Agricultor - Benedito Lopes Viana
Comunidade Sagrado Coração de Jesus / Santana
Sítio Serra Linda, município de Cáceres-MT.
O aprendizado deu-se com seu avô, que fazia a Chacra e o “roção”,
que se diferencia da chacra devido seu tamanho que é de 2,5 ha, enquanto
as chacras estão entre 0,08 ha a 1,25 ha para facilitar a manutenção, pois
maior que isso, “o cara não agüenta tocar” Senhor Benedito.
Na atualidade, o agricultor possui duas Chacras, uma a 500m de sua
residência, em uma antiga capoeira na UP do Sr. Luciano, e outra ao lado do
seu quintal, que é ao lado da residência e com cerca de pau a pique, que
evita o acesso de pessoas e animais.
A escolha do local para a chacra se dá pelo aspecto do solo em
relação ao cultivo, da cessão da terra e proximidade ao curso d’água. Em
geral, após dois anos de uso, dependendo do “estado” do local muda a
chacra, mas retorna seis ou sete anos após estádio regenerativo da
vegetação e solo.
60
A chacra quase sempre é implementada devido a falta de recursos
financeiros e de mão-de-obra. O espaço menor não necessita contratação
de mão-de-obra e ainda possibilita a produção para a subsistência e a venda
de excedente.
A esposa quando não debilitada também ajuda na força de trabalho,
que é basicamente familiar e, auxiliam no cultivo de bananeiras, arroz, feijão,
milho e mandioca.
O preparo do local é a partir da derrubada e queima onde, segundo o
agricultor se “Roça com foice, derruba com machado, espera secar um mês
e põe fogo. Quando suja, carpe com enxada, espera chover a primeira
chuva, antigamente tinha mês certo, agora não, a chuva atrasou tudo”.
O milho é o primeiro cultivo na Chacra e, é plantado com a matraca
regulada para 3 a 4 sementes, o espaçamento é de 80 cm na linha e 1m
entre linhas. Já o arroz (agulhinha 3 meses) se regula a matraca para 30 a
40 grãos, obedecendo o espaçamento de 40 cm na linha e 50 cm entre
linhas em seis centímetros de profundidade.
A freqüência do plantio de bananeiras é menor, devido a broca, mas,
quando as plantam, o espaçamentos são de 3 m entre linhas por 2 m na
linha e estas, duram dois anos. O cupim e a broca por vezes causam danos
aos cultivos.
Para o plantio da mandioca, o espaçamento utilizado é de 1 metro na
linha por 2,2 m entre linhas.
O agricultor expõe a sua preferência pelas fases da lua: crescente,
nova e minguante, pois, na lua cheia, al[em de rachar a banana, a
quantidade por cacho é pouca, enquanto o milho, não produz espiga de
qualidade.
61
Agricultores - Andresa Cuiabano de Souza e Romualdo Pinto da Silva.
Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Taquaral
Sítio Taquaral, município de Cáceres-MT.
Segundo dona Andresa, a Chacra é assim chamada, pois “é um
plantio em volta da casa”. Já o Sr. Romualdo diz que “na beira da cidade já
tinha chacrinha, mas, não aqui no Taquaral”.
A prática da Chacra antigamente era pouco usual, por ter os
moradores do antigo arraial do Taquaral, acesso às terras e quantidade
maior a mão-de-obra proveniente dos muxiruns, com as quais, podiam fazer
além de suas roças “particulares”, também, roças coletivas. Hoje, as
Chacras existem nessa comunidade devido à desestruturação do arraial e as
questões fundiárias.
O agricultor informa que “não tinham chacra (...) quando começou a
apertar, e que acabou que viraram chacreiro”. Devido à “criação da fazenda”,
o espaço diminuiu e conseqüentemente a quantidade e a produção. O
agricultor Romualdo diz “se tivesse pelo menos um alqueire dava pra fazer
Chacra boa, seria bom, não tinha que trabalhar para os outros”.
A Chacra é cercada e telada, onde, o casal inicia as atividades de
acordo com o princípio das chuvas, que ocorre geralmente em outubro. Os
cultivos são banana, mandioca, batata doce, quiabo, nove horas, arruda,
colônia, siriguela, cabaceira de árvore, beladona, macelinha e limão. D.
Andresa explica que “O que dá na Chacra é pra comer, pra não comprar de
tudo. E também para servi os outros”.
62
Agricultores – Porfírio Nunes Pires
Comunidade Nossa Senhora da Guia / Barreiro Vermelho -Minador
Sítio São José, município de Cáceres-MT.
Desde criança a Chacra é conhecida do agricultor, isso, desde o
tempo que morava no Lava Pé comunidade próxima a sua. Hoje em dia, é
uma alternativa de cultivo, para aqueles que são idosos, doentes, sem terras
e com pouca “posse” monetária, devido ao tamanho (cerca de 1 a 3 ha) se
pode “lutar”. Para o Sr. Porfírio “quem tem posse vai ainda fazer roça de 2 a
3 alqueire (5 a 7,5 ha), porque, tem jeito de fazer com maquinário”.
O local escolhido para a implementação é em terras alta e com
retenção de umidade mediana, que, segundo o agricultor, é observado pelas
árvores lixeira, embaúba, cambará, cumbarú e jatobeiro que “são madeiras
frescas passam o tempo verde, elas chamam água, chuva”. Não derruba
essas quando está no espaço das UM’s roça, Chacra, pasto, pois, se
derrubar seca a terra”.
O preparo é feito com a roçada, derrubada e queima, depois, se
cultiva a mandioca, cana, feijão e pomar com tangerina e outros.
Agricultora - D. Antônia Cuiabana de Souza
Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Taquaral
Sítio Taquaral, município de Cáceres-MT.
Segundo D. Antônia, entre 1970 a 1973, já se faziam as chacras
nessa comunidade e sua família também tinha uma. Segundo a agricultora,
antigamente e ainda hoje, se planta mamão, mandioca, milho e arroz, que
são para o autoconsumo e, para a alimentação das criações.
A facilidade para a colheita, devido à proximidade da residência, a
falta de condições financeiras e a mão-de-obra (que no caso de hoje é
familiar), impulsionavam para a construção das Chacras.
Nesse tempo, eram fechadas com “varame” (pau-a-pique) e havia
uma tuia ao centro, tinha proporções maiores que o quintal e, menores que a
roça.
63
A chacra se parece com um quintal com vegetais característicos da
roça e do quintal. A informante complementa:
“O quintal não sendo grande é chacrinha, até um alqueire
(...) falo assim, porque meu pai fazia essa explicação (...) ali
na Margarida, Celestino e Andresa, é quintal (...) mesmo que
se plantar arroz, feijão e outros, ainda, não é Chacra, porque
dá pouco, um pé aqui, outro ali (...), pois, a distância é
pouca, três braças (...) a Chacra é mais espaciosa que o
quintal (...) não é muito pregadinho da casa, tem que ser, um
pouco longinho e espaciosa”.
Tratos culturais: Sobre as questões de preparação e plantio ela diz
que “Quando não roçava, queimava a paiada, roçava e queimava no mesmo
lugar (...) dava a mesma coisa a terra boa o que planta vinha mesmo”.
Agricultor - Luis Golberto de Oliveira
Comunidade Nossa Senhora da Guia / Barreiro Vermelho
Sítio Barreiro Vermelho, município de Cáceres-MT.
As existências das chacras nas localidades de Nossa Senhora da
Guia e Taquaral, segundo o informante, são maiores nos anos de 1951 até
1960, onde, os moradores mais antigos como os da família Ferreira, já as
efetivavam.
Naquele tempo, as chacras tinham caráter comunitário, onde, o
plantio era em uma mesma área e, as atividades de preparo da terra, plantio,
colheita e produção eram compartilhadas pelos membros da comunidade.
Nesse tempo, ainda o arraial do era bem “forte” e, muitas famílias residiam
T
5F5
no local e assim, as atividades tomavam esse caráter coletivo, de ajuda
mútua.
5
O taquaral possuía área de 29 ha, que foi doado para a comunidade Nossa Senhora do
Carmo, desde os tempos do pai do Senhor Beto. O seu padrinho, Luiz Apolinário assistiu
quando fizeram a Igreja que nesse tempo, o informante ainda era criança. (...) Segundo o
agricultor: “A história dessa comunidade faz parte da historia do Brasil, porque, são poucas
terras de santo, doadas para a Santa”.
64
O senhor Beto salienta que em sua infância iam brincar, caçar, pescar
e coletar frutas (como a goiaba) nesta chacra que já estava abandonada e
que hoje é ocupada pela fazenda.
Na atualidade, as chacras são menores que um alqueire, feitas em
uma “sobra” pequena de terra com aproximadamente 0,12 ha. denominada
“nesga”. Esta tem proximidade ou ocupa o mesmo território que o quintal.
Isso decorrente da escassez da terra (no caso do Taquaral) e, para evitar a
contratação de mão-de-obra externa.
Além do pequeno tamanho, algumas chacras são teladas ou
cercadas, possuem hortas de três ou quatro canteiros e ainda, em algumas
há pocilga.
A produção é voltada à subsistência, onde, as atividades iniciam no
mês de abril ou maio e seguem até setembro e outubro. Os cultivos são:
quiabo, banana, cana, mandioca, cará, quiabo, croá, abóbora e batata doce,
que não ocorrem no quintal e assim, sendo uma das diferenças entre chacra
e quintal, exceção do feijão pastel que é comum ao quintal e a chacra.
As diferenças entre chacras e roças são o tamanho (chacras menor
que um alqueire e as roças acima de 1,21 ha., mas, antigamente eram
maiores) e os cultivos de arroz e feijão que ocorrem nas roças.
Essa diminuição dos tamanhos das UM’s é explicada pela dificuldade
de se pagar à mão-de-obra contratada, e ainda, nas comunidades de Nossa
Senhora da Guia e Nossa Senhora do Carmo, a mão-de-obra familiar é cada
vez mais escassa, pelo fato dos casais com poucos, ou nenhum filho e o
êxodo rural ocasionado pela busca de trabalho e estudo, ou ainda, como o
espaço foi “reduzido” por causa da “criação” da fazenda, muitos ficaram sem
espaço para trabalhar suas roças, chacras e lutar com gado. Com isso,
muitos saíram da região ou estão atualmente trabalhando como empregados
ou fazendo diárias.
65
Agricultor - José Marino Ferreira Mendes
Comunidade Nossa Senhora da Guia / Chapadinha
Fazenda Chapadinha, município de Cáceres-MT.
O agricultor informa que a chacra é “onde trabalha nele, mora nele,
convive nele”.
Desde criança, o senhor José Marino ouvia falar que Chacra é na
beirada da cidade e vila. Mas o mesmo disse que no tempo do arraial, as
pessoas as faziam e que, seu tamanho não excedia três alqueires (7,5 ha).
As diferenças entre chácara e chacra, são baseadas em cultivos e
criações. O agricultor diz que nas chácaras, há o pomar, o mandiocal,
porcos, galinhas e bovinos. Já nas Chacras como as do taquaral, somente
dois agricultores possuem porcos, que estão na periferia dos limites da
Chacra.
Próxima ao quintal, a chacra é cercada e ainda, a casa é construída
em seu território. Assim, a área que ocupa é permanente, tanto, que o
agricultor disse: “o que tira de planta, planta de novo” e, os cultivos que lá se
encontram são mandioca, cará, batata, banana etc., que são resultado das
atividades feitas pela família.
Na localidade do Taquaral a chacra assume grande importância para
as pessoas. Elas dependem daquele pequeno espaço que sobrou (após a
invasão pelo fazendeiro) e, é dali, que conseguem complementar os
alimentos para sua subsistência.
Agricultores – Américo Ferreira Mendes e Elier Ferreira Mendes
Comunidade Nossa Senhora do Carmo / Chapadinha.
Sítio Nossa Senhora Aparecida, município de Cáceres-MT.
Apesar de não fazer Chacra, o Sr. Américo (irmão do Senhor José
Marino) diz que essa UM é ao lado da casa e onde se cultiva romã, milho
etc. O agricultor ainda cita que na comunidade do Taquaral essa UM está
66
mais evidente “porque apertaram”, em outras palavras, pela perda de
espaço para a prática agrícola pelos motivos fundiários da região.
Segundo o Senhor Américo, quando existia ainda o taquaral e as
terras eram de uso coletivo, alguns faziam roça fora do local do arraial e,
essa desestruturação no espaço agrário teve reflexo nas práticas
comunitárias, pois, naquele tempo, o muxirum era comum, hoje não, afirma
o agricultor.
A palavra Chacra segundo Elier tem significados diferentes, pois,
“para língua dos imigrantes Chacra (Chácara) é na cidade na beira da rua
(...) aqui na língua deles é outro sistema”.
67
6. DISCUSSÃO
Essa parte é baseada em dois itens: O primeiro focado na
hierarquização das idéias que respondem o que é a Chacra extraído do
contexto das entrevistas. Para tanto, utilizou-se a análise fatorial pelo
método de componentes principais e ordenamento decrescente dos pesos
relativos, para identificar as informações com maior importância para definir
o que é estrutural e, o que é conjuntural.
O segundo item, consta de uma discussão em relação à diversidade
vegetal que há na Chacra defrontando com dados das UM’s Chácara, Roça
e Quintal a partir de algumas literaturas.
6.1. Idéias (s) relativas à decomposição dos componentes principais,
com ênfase no ordenamento decrescente dos pesos relativos.
Com base na metodologia proposta por Ying e Liu (1995), utilizada na
definição de pesos para variáveis em análise de impacto ambiental. Foi
utilizado o peso relativo de cada idéia obtido pelo resultado da divisão do
valor dos pesos absoluto de cada condicionante, pelo somatório dos pesos
absolutos dos condicionantes.
Nessa fase foram extraídas do contexto da entrevista 310 idéias (ou
conjunto destas) que resultaram em 19 grupos de idéias, onde, a
representatividade oscila entre 0,87 a 0,07% (Anexo 2).
68
Tabela 2. Idéias (s) relativas à decomposição dos componentes principais; com
ênfase no ordenamento decrescente dos pesos relativos:
Peso
relativo
(%)
Nº de
idéias
0;872732
4
Autoconsumo e autonomia
0;671088
1
Conhecimento e nominação
0;458666
6
Destino da produção; escolha do local; cultivos e característica
0;436275
14
Característica; localização; tamanho; alternativa para a
produção e periodicidade
0;410106
14
Característica; tamanho; cultivos; periodicidade; alternativa
(mão-de-obra); uso comum da terra; alternativa (à roça) e
escolha do local.
0;408138
18
Tamanho, cultivos; características (manejo); nominação e
conhecimento; subsistemas e escolha do local.
0;405446
14
Localização; característica; cultivos; nominação/aprendizado;
autoconsumo/autonomia e periodicidade.
0;394463
16
Cultivos; tamanhos; característica; autonomia/autoconsumo;
escolha do local e uso comum.
0;384086
3
Alternativa por falta de terra.
0;381603
13
Nominação/aprendizado; autonomia/autoconsumo;tamanho;
alternativa (à mão-de-obra); tamanho; periodicidade; cultivos;
nominação; escolha do local e manejo;
localização/característica; periodicidade.
0;34388
12
Autoconsumo/autonomia; nominação; cultivos; característica;
tamanho/alternativa; benfeitorias; localização e periodicidade.
0;34294
10
Localização/característica; uso comum; localização; tamanho;
periodicidade; periodicidade/rotação; benfeitoria e alternativa
(mão-de-obra).
0;300052
7
Alternativa - mão-de-obra/ idade/saúde; tamanho e
nominação.
Descrição principal da idéia (ver anexo 2)
69
Característica; nominação; tamanho; autonomia/característica;
característica/localização; escolha do local/manejo;
autoconsumo/autonomia; cultivos; característica/escolha do
local; periodicidade; característica/comparação UM's/manejo;
localização; alternativa/produção de propágulos; alternativa à
roça; diferenças UM's; alternativa/mão-de-obra;
Subsistema/cultivos; criações; alternativa por acesso à terra;
sub-sistema/benfeitoria/criação; alternativa aproveitamento de
espaço; conhecimento/uso comum e alternativa/autonomia.
Cultivos; característica/localização; característica/benfeitoria;
autonomia/autoconsumo; gestão e questão de gênero; uso
comum; benfeitoria; escolha do local/ uso comum e alternativa
à roça.
Característica/UM's/tamanho; cultivos; escolha do local;
característica; nominação; tamanho;
nominação/característica/mítico; autonomia/autoconsumo;
escolha do local/localização/aproveitamento do espaço junto á
UM's; destino da produção/produção compartilhada/ venda
subproduto; destino da produção/doação e cultivos.
Característica/localização; aprendizado/nominação;
alternativa/mão-de-obra/saúde; periodicidade/rotação;
característica/tamanho/cultivo; nominação/característica;
autonomia/alternativa/mão-de-obra; nominação/comparação
outras UM's; alternativa pelo acesso à terra; tamanho;
nominação referente à cultivo; cultivo; ausência devido acesso
à terra; diversidade de cultivo; autoconsumo/alternativa;
tamanho; característica/localização; benfeitoria em relação à
UP; localização/alternativa de acesso; nominação; mão-deobra manual (sem uso de trator); alternativa/ produção de
germoplasma para outras UM's; aprendizado/construção;
alternativa de trabalho/ocupação; rotação; alternativa/mão-deobra/saúde e localização/característica/manejo.
0;290942
79
0;270307
18
0;247489
25
0;218849
52
0;096782
3
Escolha do local/aproveitamento de espaço aberto; escolha do
local e cultivos.
0;069426
1
Nominação/comparação UM's/nominação local versus
linguagem dos “imigrantes”.
Segundo Godoy (2004), para analisar um sistema, se faz necessário
saber quais indicadores realmente descrevem ou explicam o problema,
visando uma melhor interpretação de acordo com o tipo de análise. Sendo
assim, os indicadores estruturais podem identificar e caracterizar uma
unidade de manejo através de aspectos comuns e, os indicadores
conjunturais podem proporcionar a caracterização e o agrupamento através
de aspectos não comuns.
70
Portanto, os itens com peso relativo próximo ao 0,87% representam a
parte estrutural do que é a Chacra. Já os itens mais próximos a 0,069%
retratam a parte conjuntural.
Assim, os aspectos estruturais da UM Chacra e que são mais
representativos para “responder” o que é a Chacra, podem ser considerados
estratégia de produção que contribui para a alimentação e manutenção do
núcleo familiar, assim, evitando gastos com produtos externos à UP.
Tal estratégia, que é a construção da Chacra, fora aprendida com os
parentes mais idosos que levavam os mais novos em suas atividades
agrícolas para que aprendessem as facetas da produção nessa região.
O
peso
relativo
de
0,87%
descreve
como
principais
características/funções da Chacra: a produção de alimentos para suprimento
das necessidades da família e a autonomia, que visa minimizar a compra de
insumos externos à UP (autoconsumo e autonomia).
Tal fato pode ser atribuído a forma de construção dessa UM que tem
características da agricultura tradicional, onde, a manutenção do núcleo
familiar é prioridade. Dessa forma, se observa a sua construção diferenciada
em termos do modelo conceitual utilizado na agricultura industrial, que segue
parâmetros cada vez mais próximos à
ção6F6
, ao contrário da agricultura
tradicional.
Apesar dessas funções características, as Chacras são um trunfo
estratégico dos agricultores, pois, ainda há a venda do excedente (para não
perder o que se produziu), mas também, como fora observado, a produção
voltada à comercialização, apesar de não ser a principal característica, tal
fato ocorre, mas em pequena escala.
O excedente vendido ou a produção para venda pode suprir as
demandas monetárias para a aquisição de bens não disponíveis na unidade
de produção (açúcar, pilhas, café, medicamentos alopáticos e, recentemente
Substituição-autonomia: são as atividades realizadas para a gestão e manejo dos
sistemas agrícolas. Substituição: sob o ponto de vista das técnicas estão entre a completa
substituição do protagonismo do gestor da unidade produtiva por setores externos a esses
sistemas. Autonomia: completa autonomia do sistema agrícola em relação a esses setores
externos. Esses limites são teóricos porque nenhum agricultor real está inteira e
exclusivamente em uma posição ou na outra. Dentro desse critério, portanto, estão incluídos
os procedimentos agronômicos empregados (Azevedo, 2004b).
6
71
aparelhos eletrônicos, devido a chegada da energia elétrica). Como
apresentado por Noda (2002), isso ocorre em várias localidades rurais
brasileiras.
Para o segundo item com maior representatividade (0,67%), a
familiaridade da nominação corresponde aos tempos de infância e assim,
sendo uma característica local adquirida e aprendida (tanto a nominação
como a forma de construção e manejo) durante a observação e assimilação
das atividades dos membros mais velhos da unidade familiar.
Tal fato já observado por Azevedo (2003) quando aponta que a
construção do conhecimento se dá pelas experiências acumuladas das
sucessivas gerações e, realizada na participação das crianças e dos jovens
na prática concreta do manejo de produção. Esse conhecimento é
socializado com o acréscimo da experiência individual de cada um dos
agricultores, construída a partir de suas objetividade e subjetividade
(Azevedo, 2003).
Na safra 2003/2004 apenas duas Chacras foram observadas por
Aguiar (2006) e Godoy (2004), sendo estas, no Retiro/Santana e na
comunidade de Nossa Senhora da Guia. Neste último caso, ora eles falavam
que tinham uma roça, ora falavam que tinham uma Chacra (para justificar o
tamanho da "roça" e a pouca variedade de alimentos ali plantados).
A autora crer que o indicador "tamanho", puro e simples, não é
suficiente para a definição da Chacra, mas sim se estiver acoplado a outros
elementos mais relacionados às condições sócio-econômicas e às
subjetividades dos agricultores (Chacra é coisa de mulher e de velho, por
exemplo).
Todavia, a tabela 2 indica que existem outras idéias que caracterizam
as Chacras. Essas características vão do destino da produção à (como no
último item) nominação local em comparação ao linguajar dos não nativos da
região, o que demonstra que realmente a forma nominal Chacra é local.
Segue algumas considerações sobre essas idéias:
Características Gerais: como descrito na revisão de literatura, as
informações apontam que as Chacras guardam semelhanças com às roças,
72
quintais e capoeiras, sendo que as diferenças são em números de indivíduos
cultivados, diversidade, destino da produção, tamanho da área, mão-de-obra
empregada etc.
Aguiar (2006) diz que as Chacras eram (antes do parcelamento das
terras) pequenas roças cultivadas por algumas famílias de agregados, por
mulheres e velhos, que não tinham acesso à terra e à mão-de-obra, para a
produção principalmente de alimentos. Quando as terras eram comuns, as
roças podiam ter mais do que 1,5 ha porque eles realizavam o mutirão e
outras formas de ajuda mútua e tinham muita mão-de-obra. Se for analisar a
área média das roças existentes hoje nas duas comunidades, estas não
passam de 1,4 ha, com algumas exceções. Pois, essas famílias têm maior
disponibilidade de mão-de-obra ou mais recursos para contratar mão-deobra de fora.
Tamanhos: existem uma diversidade de tamanhos que variam de
acordo com a cessão e o acesso à terra, tamanho da propriedade e a
escolha do local. Em geral variam de 0,5 à 1,21 ha. O tamanho também
sugere outras UM’s associadas ou subsistemas, em alguns casos, a
residência é inserida na Chacra. Citado por Godoy (2004) e Aguiar (2006) a
Chacra do falecido senhor Leonardo, na comunidade Nossa Senhora da
Guia, tinha 1,125ha, com o cultivo de cana-de-açúcar e mandioca.
Escolha do local: quase sempre na periferia da residência, podendo,
ser também, fora da UP. A preferência por áreas de capoeira se dá pela boa
quantidade de nutrientes devido o tempo de pousio e facilidade para se
limpar (derrubada e queimas), também se é observado áreas em locais alto
com difícil possibilidade de alagamento.
Devido aos recursos e a falta de acesso a terra, algumas Chacras são
em outras UP’s e isso é evidente no caso do Sr. Felipe que faz sua Chacra
nas terras de Seu Beto, ou, Sr. Paulo que faz duas Chacras na terra do Sr.
Ademar sendo uma a 300 metros de sua residência e outra a 700 metros de
distância casa perto do Sr. Catulino.
Há a possibilidade de que o uso em UP alheia seja por ter a facilidade
de limpeza (a terra estar com vegetação de mais fácil lida), recurso natural
73
(terra) com maior qualidade, ou mesmo, por o agricultor não possuir espaço
suficiente para seu plantio, sendo assim, a cessão da terra “convida” a
atividade meeira.
Aguiar (2006) compartilha outro exemplo que são as Chacras de dois
casais de agricultores do Taquaral, que são "sem terra" e proibidos de fazer
roças maiores no Taquaral, devido ao conflito existente ali pelas terras e, por
tal motivo a autora associou estas Chacras ao quintal, explicitando os
conflitos por terra existentes
Calendário: Devido às muitas alterações ambientais, a chuva e a
estiagem são o que demarca o começo para as atividades na Chacra.
Os procedimentos geralmente seguem a lógica de derrubada e
queima, prevista na literatura consultada Kerr e Posey (1984); Posey (1986);
Azevedo (2004b) e Costa Jr et al (2003) Godoy (2004) e Mendes (2005b).
Alternativas: as Chacras foram e ainda são, alternativa para algumas
famílias de agregados, mulheres e velhos, com dificuldade ao acesso à terra
e à mão-de-obra e, que buscam através da Chacra a produção
principalmente de alimentos para a subsistência.
Antigamente no tempo do arraial, a terra era de uso coletivo e o
mutirão e outras formas de ajuda mútua eram mais freqüentes, o que
facilitava até a feitura das roças.
Hoje, quem não dispõe de força física para trabalhar, depende de
dinheiro para contratar mão de obra externa. Alguns
agricultores
mais
idosos ou com problemas de saúde, dizem que com mais de meio alqueire,
a manutenção é difícil, pois, necessita ter força para capinar, roçar, preparar
a terra em geral e, quem não pode pagar o maquinário (trator) terá que parar
de fazer a roça pra fazer a Chacra, porque, todos estão ficando velhos, e
não conseguem mais trabalhar.
A Chacra também possui a característica de ser uma UM “tampão”,
pois, quando há um insucesso de outra UM (exemplo roça), a produção da
Chacra supre boa parte das necessidades da família e da UP, seja elas de
subsistência, venda ou mesmo ração para os animais.
74
Outra serventia da Chacra é como área experimental para novos
cultivos e mesmo, com o fornecimento de sementes e mudas para por em
outras UM’s, como a roça, sendo assim, um local que garante os propágulos
e germoplasma da UP e, muitos desses, recursos genéticos importantes da
região e que por ventura estão sendo erodidos.
Força de Trabalho: A força de trabalho outrora era baseada na ajuda
mútua hoje, não mais, salvo os casos onde pessoas com parentescos
permutam dias para auxiliar o outro a fazer suas atividades, no geral o
serviço de derrubar, roçar e queimar cabem aos homens (filhos e pais).
No tocante ao plantio (às vezes), colheita, capina (às vezes), irrigação
da horta, são atividades femininas, se bem que, como citado no Taquaral
tem muitas Chacras que quem manda é a mulher e como lá a maioria dos
homens saem para trabalhar fora (por terem poucas terras e não conseguir o
suficiente para o sustento) quem acaba fazendo as atividades da Chacra são
as mulheres e os filhos mais novos.
No geral o trabalho é familiar envolvendo, pais, filhos, parentes
(pagos ou não) e, para quem possui um pouco mais de “força” contratam um
diarista e/ou maquinário.
Destino Produção: grande parte é para autoconsumo, existindo, por
vezes, a venda do excedente. Entretanto, algumas UP’s que a produção é
voltada quase que totalmente à venda.
Alguns agricultores doam ou trocam parte de sua produção com os
parentes ou vizinhos, ou ainda, há o plantio e a produção de derivados
(exemplo rapadura de cana-de-açúcar) que são de “ameia”.
No caso de um agricultor ter mais de uma Chacra, ou ainda uma
Chacra e uma roça, a produção serve tanto para as despesas como para a
venda.
Benfeitorias: Em sua grande parte as Chacras são cercadas com
arame farpado para evitar a entrada de gado e outros animais, fato também
citado por Aguiar (2006), ou ainda “demarcar” o território. Mas, em alguns
lugares que as Chacras são próximas ou quase no mesmo espaço que a
75
casa e o quintal, estas podem estar teladas, para evitar o acesso de animais
de pequeno porte (galinha, pato, guiné, cachorro, porco, etc).
Para o agricultor que possui um poder aquisitivo melhor (em geral
proveniente da aposentadoria, venda de leite ou produtos da roça ou
Chacra) há o uso de tratores para a derrubada e gradeamento da área.
São também comuns construções como ranchos para descanço,
bater arroz ou feijão, proteger mudas ou ainda, tuias para armazenar milho
ou outro cereal.
Subsistemas: existem em algumas Chacras hortas, pocilgas e
galinheiros. Isso, devido ao tamanho reduzido da terra ou mesmo para
aproveitar melhor o local aberto.
Cultivos: Como antes citado, a Chacra exerce função banco de
germoplasma da UP, um local de experiência com espécies novas que
podem ou não fornecer propágulos para outras UM’s, como a roça e quintal.
Assim, configurando como um importante espaço de produção,
diversificação e enriquecimento das outras UM’s, e ainda, mantendo boa
parte de material de origem local, o que caracteriza autonomia em relação
aos materiais genéticos e de propagação. Essa característica fez com que,
durante o período dessa pesquisa fora citados e observados mais de cem
diferentes etnoespécies nas Chacras, como se tem a seguir no item 6.2.
6.1.1. A diversidade vegetal existente
Nas Chacras há espécies vegetais nativas, exóticas, madeireiras,
medicinais, condimentares, aromáticas, alimentícias e ornamentais, com uso
em construção, utensílios, lenha, estaca para cerca e sombra, entre outros
usos. As etnoespécies citadas foram 109, que são apresentadas nas tabelas
3 para as nativas e 4 para as cultivadas e nativas.
76
6.1.2. Espécies arbóreas nativas presentes nas Chacras
Na tabela 3 se tem espécies nativas que foram observadas durante as
visitas guiadas ou citadas pelos agricultores. Dessas, algumas corroboram
com o trabalho de Mendes (2005b) com base nos relatos dos agricultores da
região.
Tabela 3. Espécies nativas encontradas nas Chacras
Vegetais
Acuri
Nome Científico
Attalea phalerata (Mart.)
Burret
Amoreira
Maclura tinctoria
Angelim
Barbatimão
Vatairea macrocarpa (Benth.)
Ducke
Stryphonodendron polyphyllu
(Mart.)
Caiá
Família
Arecaceae
Usos
AL; CT;
EC
Moraceae
SB.
Papilonoideae
LE; MD
Mimosoideae
CT; ET;
LE; MD
Spondia lutea L
Anacardiaceae
EC; LE;
AL
Cedro
Cedrela fissilis Vell.
Meliaceae
CT
Cumbaru
Dipteryx alata Vog.
Papilionaceae
Fruta banana
Ecclinusa sp.
Hymenea stigonocarpa Mart.
Ex Hayne
Sapotaceae
Jenipapo
Genipa sp
Rubiaceae
Louro-preto
Mamica-deporca
Cordia glabrata (Mart).DC
Boraginiaceae
CT; ET;
SB; AL
AL
CT; ET;
LE; MD
CT; ET;
LE; CF;
AL
CT; ET; LE
Zantoxylum rhoifolium Lam.
Rutaceae
ET; LE
Mangava brava
Lafoensia pacari A St. – Hil.
Lythraceae
Marmelada
Alibertia sessilis) (Vell.) K.
Schum
Rubiaceae
Paratudo
Tabebuia aurea Manso
Bignoniaceae
Peroba-rosa
Aspidosperma sp
Apocynaceae
Jatobá
Caesalpinoidae
AL; MD;
ET; CT;
LE
AL; LE;
MD
CT; MD;
LE
CT; CF;
ET; LE
Adaptado de Mendes (2005b) Legenda: AL: Alimento; CT: Construção; CF: Cabo de
ferramenta; LE: Lenha; ET: Estaca para cerca; EC: Espera de caça; SB: Sombra; MD:
Medicinal e UT: Utensílio.
77
A manutenção desses indivíduos, mesmo com a derrubada por
maquinário, remete que o agricultor tem em sua mente algo “planejado” para
aqueles indivíduos, seja para os usos citados por Mendes (2005b) ou,
simplesmente para a produção de sombra.
Vale frisar que em geral a construção da Chacra segue a lógica da
derrubada e queima prevista na literatura consultada (Kerr e Posey (1984);
Posey (1986); Azevedo (2004b) e Costa Jr et al (2003) Godoy (2004) e
Mendes (2005b)), que favorece a “escolha” das espécies nativas que serão
mantidas.
6.1.3. Espécies vegetais presentes nas Chacras (cultivadas e
nativas)
A tabela 4 possui 109 etnoespécies que foram citadas ou observadas
em campo. Com diversos usos, esses vegetais colaboram com a
diversificação das Chacras e a conservação de germoplasmas.
Tabela 4. Vegetais existentes nas Chacras, conforme os informantes.
Vegetais
Abacate
Abacaxi Perola
Abóbora
Acerola
Acuri
Aipim
Alface
Algodão
Amendoim
Amoreira
Angelim
Arroz agulhinha 3 meses
Arroz agulhinha 4 meses
Arruda
Babosa
Banana cabutá
Banana de fritar
Banana nanica
Barbatimão
Batata Doce
Beladona
Nome Científico
Persea americana Mill
Ananas comosus (L.) Merril
Cucurbita pepo L.
Malpighia glabra L.
Attalea phalerata (Mart.) Burret
Manihot esculenta Crantz
Latuca sativa L.
Gossipium sp.
Arachis hipogaea L.
Maclura sp.
Vatairea macrocarpa (Benth.) Ducke
Oryza sativa L.
Oryza sativa L.
Ruta graveolens L.
Aloe vera L.
Musa sp.
Musa sp.
Musa sp.
Stryphonodendron polyphyllum Mart.
Ipomoea batatas (L.) Lam.
Atropa belladona L.
Família
Lauraceae
Bromeliaceae
Cucurbitaceae
Malpighiaceae
Arecaceae
Euphorbiaceae
Asteraceae
Malvaceae
Fabaceae
Moraceae
Papilionaceae
Poaceae
Poaceae
Rutaceae
Liliaceae
Musaceae
Musaceae
Musaceae
Mimosaceae
Convolvulaceae
Solanaceae
78
Boldo
Boldo do Chile
Bucha
Cabaça de árvore
Café
Caiá
Caju
Cana de açúcar “Maria
Pelada”
Capim cidreira
Cará
Cebola
Cebolinha
Cedro
Cenoura
Coco da Bahia
Colônia
Couve
Croá
Cumbaru
Fava branquinha
Fava rosinha
Feijão carioca
Feijão de corda
Feijão guandu
Feijão pastel
Feijão rosinha
Fruta banana
Gengibre
Gergelim
Goiaba
Graviola
Guariroba
Guiné
Inhame
Jabuticaba
Jaca
Jatobá
Jenipapo
Laranja comum
Laranja misteriosa
Limão Galego
Limão rosa
Limão Taiti
Loureiro preto
Mamão Castelo
Mamão Papaia
Plectranthus barbatus Andrews
Peumus boldus Molina
Luffa cylindrica (L.) Roem
Crescentia cuite L.
Coffea arábica L.
Spondia lutea L.
Anacardium occidentale L.
Saccharum officinarum L
Lamiaceae
Lamiaceae
Cucurbitaceae
Bignoniaceae
Rubiaceae
Anacardiaceae
Anacardiaceae
Poaceae
Cybopogon citratus (DC.) Stapf.
Dioscorea sp.
Allium cepa L.
Allium fistulosum L.
Cedrela fissilis Vell.
Daucus carota L.
Cocos nucifera L.
Alpinia speciosa Schum
Brassica oleraceae L.
Sicana odorífera Naudin
Dipterix alata Vog.
Vicia faba L.
Vicia faba L.
Phaseolus vulgaris L.
Vigna unguiculata (L.)Walp
Cajanus cajan L.
Vigna sp.
Phaseolus vulgaris L.
Ecclinusa sp.
Zingiber officinale Roscoe
Sesamum indicum L.
Psidium guajava L.
Anona muricata L.
Syagrus oleracea (Mart.) j Becc
Petiveria alliaceae L.
Dioscorea sp.
Myrtus jaboticaba L.
Artocarpus heterophyllus Lam.
Hymenea stigonocarpa ( Mart.) ex
Hayne
Genipa americana L.
Citrus aurantium L.
Citrus aurantium L.
Citrus limon (L.) Burn. f. Osbeeck
Citrus limonia Osbeck
Citrus aurantifolia (Christm.) Swingle
var. taiti
Poaceae
Dioscoreaceae
Liliaceae
Liliaceae
Meliaceae
Apiaceae
Arecaceae
zingiberaceae
Brasicaceae
Cucurbitaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Fabaceae
Sapotaceae
Zingiberaceae
Pedaliaceae
Myrtaceae
Annonaceae
Palmae
Phytolaccaceae
Dioscoreaceae
Rutaceae
Moraceae
Caesalpinaceae
Cordia glabrata (Mart).DC
Carica papaya L.
Carica papaya L.
Rubiaceae
Rutaceae
Rutaceae
Rutaceae
Rutaceae
Rutaceae
Boraginiaceae
Caricaceae
Caricaceae
79
Mamica-de-porca
Mamona
Mandioca Liberata
Mandioca amargozinha
Mandioca branca
Mandioca vermelha
Manga Bourbon
Manga comum
Mangava-brava
Macelinha
Marmelada bola
Maxixe
Melancia
Mexerica
Milho Asteca
Milho caiana
Milho de 3 meses
Milho de palha roxa
Milho híbrido
Moranga
Nove horas
Palma
Paratudo
Pepino
Peroba
Pimenta do reino
Pimenta doce
Pimenta Lambari
Pimenta malagueta
Pimentão
Pinha
Pitanga
Quiabo
Quiabo de Angola
Romã
Rúcula,
Siriguela
Tamarindo
Tangerina
Teca
Terramicina
Urucum nativo
Zantoxylum rhoifolium Lam.
Ricinus communis L.
Manihot esculenta Crantz
Manihot esculenta Crantz
Manihot esculenta Crantz
Manihot esculenta Crantz
Mangifera indica L.
Mangifera indica L.
Lafoensia pacari St. Hil.
Anthemis cotula L.
Alibertia edulis L.C.
Cucumis anguria L.
Citrullus lanatus (Thumb.) Matsum &
Nakai
Citrus reticulata Blanco
Zea maiz L.
Zea maiz L.
Zea maiz L.
Zea maiz L.
Zea maiz L.
Cucurbita sp
Portula sp.
Opuntia ficus indica Mill
Tabebuia aurea Manso
Cucumis sativus L.
Aspidoperma sp.
Piper nigrum L.
Piper sp.
Piper sp.
Capsicum frutescens L.
Capsicum annuum L.
Annona coriacea Mart
Eugenia uniflora L.
Abelmoschus esculentus (L.) Moench
Hibiscus sabdarifa L.
0H
Punica granatun L.
Eruca vesicaria sativa (Mill) Thell
Spondias purpurea L.
Tamarindus indica L.
Citrus reticulata L.
Tectona grandis L.f.
Alternanthera brasiliana (L.) O Kuntze
Bixa sp.
Rutaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Euphorbiaceae
Anarcadiaceae
Anacardiaceae
Lythraceae
Asteraceae
Rubiaceae
Cucurbitaceae
Cucurbitaceae
Rutaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Poaceae
Cucurbitaceae
Portulaceae
Cactaceae
Bignoniaceae
Cucurbitaceae
Apocynaceae
Piperaceaea
Solanaceae
Solanaceae
Solanaceae
Solanaceae
Annonaceae
Malpighiaceae
Malvaceae
Malvaceae
Punicaceae
Brasicaceae
Anarcadiaceae
Caesalpinaceae
Rutaceae
Verbenaceae
Amaranthaceae
Bixaceae
Nesse universo de etnoespécies se tem 44 famílias botânicas (Gráfico
1) e conforme as citações/observações, as mais representativas são as
Rutaceaes (com 10 vegetais) e a Poaceaes (com 9).
80
12
Citações
10
8
6
4
2
ac
ea
gn
e
on
ia
ce
ae
C
ar
ic
ac
D
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Bi
An
ar
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di
ac
ea
e
0
Famílias
Gráfico 1- Famílias com mais indivíduos/ variedades observados
Segundo Queirol (1987), as 50 plantas que são mais cultivadas são
das
famílias:
Graminae,
Leguminosa,
Solanácea
e
Curcubitácea.
Santandreu et al., (2004), diz que nas paisagens agrícolas mundiais estão
dominando umas 12 espécies de cultivos de grãos, 23 espécies de cultivos
hortículas e cerca de 35 espécies de árvores produtoras de frutas e nozes.
Portanto, se vê além dessas famílias botânicas, nas Chacras há outras
famílias, algumas que abrangem espécies nativas (ver item 6.2.1) e com
grande valia para os agricultores locais.
Essa diversidade de vegetais existentes nas Chacras, também
configuram nas UM’s roça e quintal. A tabela 5 faz relação dos cultivos
comuns as Chacras e roças comparando-se com os trabalhos de Hodl e
Gasché (1982), Kerr e Posey (1984), Peroni et al (1999), Noda (2003), Costa
(2003), Godoy (2004) e Mendes (2005b).
Das 43 espécies citadas, por Noda (2003), 26 espécies corroboram
com as que ocorrem nas Chacras estudas. Peroni et all (1999) identifica 15
espécies cultivadas e todas coincide com a presente pesquisa.
Costa (2004), Mendes (2005b) e Godoy (2004) fazem citações de
espécies que ocorrem em algumas roças na região da Morraria, destas 27
espécies coincidem com as existentes nas Chacras.
81
Tabela 5. Quantidade de cultivos comuns as UM’s roça e Chacra.
Na Tabela 5 há a espécies vegetais em consonância entre essas duas UM’s
(quintal e Chacra) segundo Gajaseni e Gajaseni (1999), Noda (2003), Vieira
(2003) e Godoy (2004).
Godoy (2004) ressalta que a horta (com espécies de uso alimentar
humano e medicinal) pode ou não estar relacionada com o espaço
geográfico do quintal. E esse pormenor também fora observado nas Chacras
e, em comum cultivo se tem, a alface, arruda, cebola, cebolinha, cenoura,
couve, mamão, melancia, pimentão e rúcula.
Tabela 6. Vegetais em comum nos quintais e Chacras.
Com os dados das tabelas (5 e 6) se pode dizer que as semelhanças
entre o quintal, a roça e a Chacra vão além dos tratos culturais citado pelos
agricultores. Como visto, vários vegetais citados na literatura fazem parte do
cabedal de cultivos dessas UM’s indicando assim, uma proximidade a mais
entre elas.
Outro ponto que vale destacar é as espécies que tem maior
preferência pelos agricultores, seja por ser gerador de renda ou mesmo para
a subsistência e melhor adaptação e produtividade no local. Dessa forma,
espécies como o feijão e a banana são os mais representativos nas
comunidades de Santana e Nossa Senhora da Guia (tabela 7).
82
Tabela 7. Porcentagem de espécies cultivadas em Santana e N.Srª.Guia:
Comunidade
Cultivo
N.Srª.Guia %
Santana %
Abóbora
33,33%
58,33%
Arroz
58,33
58,33
Banana
75%
75%
Feijão
25%
83,33%
Mandioca
66,66%
75%
Milho
58,33%
75%
Adaptado de Godoy (2004)
O plantio de feijão se destaca na comunidade de Santana por essa
comunidade ter a agricultura voltada mais à produção para a subsistência e
pelas condições do local, diferentemente da comunidade Nossa Senhora da
Guia que, pela proximidade do centro urbano e a facilidade de acesso, a
criação de gado (de corte e leite) para a comercialização de seus produtos,
faz com que o interesse em cultivos diminua.
Esse destaque para o cultivo da banana nessas comunidades pode
ser explicado pela grande importância nas UP’s, principalmente por
representar renda para muitos agricultores e, pela facilidade de propagação,
como observa Martins (1994): “A América do Sul tem esse “privilegio” para a
domesticação de plantas frutíferas e alimentícias, devido a características
genéticas e ecológicas que permitem vantagens adaptativas em condições
tropicais”.
83
7. CONSIDERAÇÕES GERAIS
As
informações
contraditórias
principalmente
no
tocante
ao
surgimento e construção das Chacras fizeram com que, até o meio da
pesquisa fosse questionado até a abordagem feita (aos agricultores) pelos
primeiros pesquisadores. Mas, com o passar do tempo, percebeu-se que
várias outras questões estavam inseridas no contexto.
A prática dos agricultores tradicionais é orientada pela experiência
acumulada ao longo da história de cada grupo social; a experiência
socialmente compartilhada dentro de cada geração de agricultores e a
experiência de cada agricultor (Toledo, 1992). E de acordo com Azevedo
(2003), essa construção é acrescida da objetividade e subjetividade de cada
agricultor. Portanto, há a possibilidade da perda ou não repasse de muitas
das informações sobre as Chacras por aqueles agricultores de outras
gerações, idosos ou que não mais vivem na região.
Parte dessa contrariedade pode ter base no que diz Aguiar (2006):
“Cuando las tierras aún eran comunales, los campos de cultivo
eran implantados en locales lejanos a las casas, en las mejores
tierras bajo bosque alto, aislados y protegidos de los cerdos que
eran criados sueltos. Los campos de cultivo podrían tener más de
1,5 ha porque eran realizados procesos de ayuda mutua
(muchirum) y se podría contar con la mano de obra de los vecinos
para la producción de alimentos y excedentes.
En ese periodo, las Chacras se distinguían del campo de
cultivo principalmente por tener menores superficies, por estar
más cercanas a las casas, por no necesitar la mano de obra de
toda la familia campesina y por tener como propósito la
producción casi exclusiva de alimentos para la subsistencia de la
familia”.
84
Com a desestruturação no território agrícola da região, grandes e
significativas mudanças aconteceram, refletindo na localização, estrutura e
função das UM’s. Esse fato gera as “confusões” que existe nas definições e
comparações feitas pelos entrevistados sobre as Chacras, roças ou mesmo
quintais.
Assim, as roças que outrora eram distantes das residências tiveram
que ser construídas mais próximas. A mão-de-obra proveniente dos
Muxiruns, agora atende a sua própria UP ou aos trabalhos nas grandes UP’s
dos “não nativos”. Assim, cada agricultor teve que re-locar a mão-de-obra
familiar (mulheres e homens) na roça, assim, ficando em segundo plano a
Chacra.
Outro exemplo que se pode citar versa sobre tamanhos, linguajar e
números maiores de indivíduos vegetais. Esse caso ocorreu na UP do
agricultor Paulo que, nas primeiras visitas dizia ter duas Chacras e com o
passar do tempo assumia apenas uma, dizendo que a outra era uma roça.
Naquele momento observou-se que houve acréscimo de indivíduos vegetais
(milho) e também na área ocupada.
Mas, é válido mencionar que a afirmação que não era mais Chacra e
sim roça, se deu momento em que havia diversas pessoas ao redor e em
uma festa de santo na comunidade da Água Limpa. Essa “re-nominação”
também pode ter influências externas. Palavras do Senhor Catulino: “(...)
não quer usar o jeito de nós falar, nossa descendência (...) jeito de pai, de
avós, daí ele vai modificando o jeito de falar (...) deveria falar, a gente já
pegou esse idioma assim (...) é um conhecimento de família”.
Mesmo com essas contradições, alguns agricultores afirmaram que
realmente suas UM’s eram Chacras e não roças, como no caso dos
senhores Juscelino e João Batista (que possuía uma roça em local mais
distante).
A descrição dessa UM pode ser aprofundada, pois, há informações de
que em outras duas comunidades agrícolas tradicionais (fora do município
de Cáceres) ouviram citações sobre as Chacras, mas, não foram
aprofundadas.
85
8- CONCLUSÃO
Chacra é uma nominação local para a unidade de manejo (UM) menor
que a roça e maior que o quintal (em média 1,5 ha) e que tem como principal
característica a produção para a subsistência e conseqüentemente a
proximidade da autonomia da unidade de produção (UP) em propágulos,
materiais genéticos e outros insumos externos.
Com localização próxima à residência e tamanho reduzido, as
Chacras são alternativas de produção para a subsistência e venda do
excedente para agricultores que não têm mais: o mesmo vigor físico para a
labuta; acesso a terra e componentes interligados; mão-de-obra familiar
suficiente; recursos monetários para contratar mão-de-obra externa; idade
avançada ou saúde abalada.E por vezes, supre o insucesso de outras UM’s
e assim, garantindo o sustento da UP.
Nessa
UM
há
uma
mescla
de
vegetais
e
tratos
culturais
característicos da roça, quintal e capoeiras onde, as presenças de vegetais
dessa UM’s são uma constante, sendo que, em maior número que na roça e
com variedade de espécies dos quintais e capoeira. Os tratos culturais
variam conforme os vegetais cultivados, mas, em geral segue caracteres da
roça.
86
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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90
ANEXOS
91
ANEXO 1: Guia de campo
1. Informações gerais (nome da UP, da família, etc);
2. Origem do nome Chacra;
3. Primeira vez que ouvi falar de Chacra;
4. Motivo pelo qual começou a fazer a Chacra;
5. Por que precisam da Chacra;
6. Em que lugares (comunidades, localidades, etc) ainda fazem Chacra;
7. Quem fazia Chacra;
8. Quem ainda faz Chacra,
9. Localização da Chacra na UP;
10. Tamanho; força de trabalho utilizada;
11. Cultivos, variedades e espaçamentos utilizados na UM;
12. Destino da produção; benfeitorias;
13. Calendário agrícola para a UM;
14. Calendário lunar;
15. Tratos culturais;
16. Plantios “germinados” ou e consórcios;
17. Escolha do local para Chacra;
18. Pragas, doenças e plantas invasoras na UM;
19. Periodicidade “repouso”;
20. Forma das Chacras (triangular, redonda, quadrada, etc);
21. Tipo de ocupação e a forma que se procede dentro da UM;
22. As formas de manejo utilizadas dentro das “Chacras”;
23. A divisão de trabalho entre gêneros dentro da UM;
24. Graus de autonomia e substituição (trocas e comércio);
25. Desde quando faz Chacra;
26. As diferenças entre Chacra, quintal e roça;
27. Diferenças entre Chacra e roça, Chacra e quintal e chácara e
Chacra;
28. Força de trabalho por divisão de gêneros em tempo (horas diárias);
29. Existência mútua de Chacra e roça numa mesma UP ou em outra UP
que seria um espaço funcional.
92
ANEXO 2: Idéia (s) relativas à decomposição dos componentes
principais, com ênfase no ordenamento decrescente dos pesos
relativos:
Do contexto da entrevista 310 idéias (ou conjunto destas) foram
extraídas resultando em 19 grupos de idéias, onde, a representatividade
oscila entre 0,87 a 0,07%.
Tabela 8. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,87%,
Código
DB
JG
DA
JH
Descrição das idéias
Produção para não comprar de tudo.
O que dá na Chacra é pra comer
Produção para alimentação.
O que dá na Chacra é não comprar de tudo.
Tabela 9. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,67%,
Código
FB
Descrição das idéias
Chacra desde quando se entendeu por gente já ouvia falar
Tabela 10. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,46%
Código
Descrição das idéias
KN
Serve os outros (produção da Chacra)
FP
Chacras feitas em capoeira
KP
Quiabo
GR
É porque é do lado da casa
CN
Plantio em volta da casa é Chacra.
KO
Mandioca
Tabela 11. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,43%
Código
Descrição das idéias
EC
Na Chacra o que tira, depois planta
GL
I
É junto ao quintal
Menos de uma quarta, nem adianta falar, que não é uma roça (...) é
Chacra.
A Chacra é maior que o quintal
IY
Nas Chacras da região não planta arroz nem feijão
BX
Fazem Chacra, pois, não tem aonde trabalhar
EB
A Chacra é permanente
K
A Chacra é menor que a roça
EG
A Chacra não é muito pregadinho da casa
CB
93
A
A Chacra que eu conheço é onde trabalha nele
B
A Chacra que eu conheço é onde mora nele
C
A Chacra que eu conheço é onde convive nele
GM
A casa é dentro da Chacra
No Taquaral cada um, tem sua divisa de cerca (devido aos gados que
o fazendeiro solta lá). Todos são nativos.
JA
Tabela 12. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,41%
Código Descrição das idéias
BZ
Importância da Chacra, pois a distancia menor em relação à roça
AS
Chacra é de 0,5 alqueire para menos.
BU
Duas tarefas de 12 em diante é Chacra
ET
As plantas que são cultivadas são as mesmas (Roça e Chacra)
GF
Depende da “subição” (crescimento) do mato em geral de 2 a 3 anos
HB
Faz Chacra pois, não pode pagar diarista.
BT
Chacrinha é pequena, cabe quase nada
BY
Em períodos de chuvas fica mais fácil de pegar os mantimentos
EM
Ambas não mudam de local (Chacra e roça)
F
A Chacra é a partir de 25 braças
FR
Chacrinha em terras de seu pai e do Sr. Luciano.
HA
Faz Chacra pois, não tem posse para fazer roça
GZ
Faz Chacra no capoeirão
KV
45, 65 por 2 de 80 braças
Tabela 13. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,41%
Código
Descrição das idéias
HU
Mais ou menos 35 metros de fundo e de comprimento mais menos 35.
FJ
Chacra o que planta na roça grande, pode plantar uns pés na Chacra.
FL
Banana
FM
Milho
FK
Mandioca
FO
Chacra um pedaço pequeno
JF
O nome Chacra não sabe da onde é
HV
No fim dela tem o chiqueiro do porco.
FN
Chacra é perto da casa
JY
Banana
JL
Para a Chacra escolhe a terra melhor para plantar
JM
Para a Chacra escolhe a terra que é mais perto da casa
EK
A Chacra, ouviu falar desde criança
BV
É o quintal, mais as plantas de roça
JZ
Feijão
JW
Feijão para despesa
GY
Faz há 30 anos (...) sempre trabalha.
EL
Os pais chamavam de Chacra
94
Tabela 14. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,40%
Código
Descrição das idéias
EH
A Chacra não muda de local
CR
Pode fazer junto, a Chacra e a roça.
EQ
Arroz e feijão (...) é mais na roça
T
A Chacra onde é (...) fez lá pra ficar mais perto da casa.
EW
Banana
EV
Cana
O nome Chacra, quem falou foi os velhos: o Cassiano Martins, pai do
KJ
Catulino e Armindo.
CZ
Produção para casa
CV
Arroz
EY
Mamão
Planta o milho e o arroz e as outras plantas da Chacra, daí colhe o
CS
arroz e o milho, limpa e deixa os outros da Chacra
CT
Colhe o arroz e o milho, limpa e deixa os outros da Chacra
CU
Milho
EZ
Abacaxi
Código
HM
AU
KT
CD
HL
HJ
HK
GC
GD
GE
DC
JS
KU
FC
DD
LI
Tabela 15. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,39%
Descrição das idéias
Arroz
Chacra até 5 alqueire
2 tarefa de 25 braças
Mora na Chacra
Milho
Não plantam muito (mandioca) aqui por causa do porco
Feijão
Defende a despesa da casa
Não precisa comprar o que vem de fora
Vende o que sobra “é economia”,
Quintal e Chacra são quase o mesmo
Plantam aqui (...) a terra é melhor, terra preta.
Mandioca
Chacra é de 2 a 3 alqueire
Sempre a Chacra é de terra boa terra massapê, terra boa
3 filhos plantaram nessa Chacra
Tabela 16. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,38%
Código
Descrição das idéias
KE
Quando começou a apertar (espaço) acabou que viraram chacreiro (...)
KL
Se tivesse pelo menos um alqueire dava pra fazer Chacra boa
KM
Com uma Chacra boa, não tinha que trabalhar para os outros
95
Tabela 17. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,38%
Código
Descrição das idéias
KS
Seu avô fazia chacrinha ele aprendeu com ele
GK
Produção é só para gasto
HE
Chacra é 0,5 alqueire, mais, o cara não agüenta tocar
HF
Chacra é 0,5 alqueire
BM
Chacra pequena não dá nem umas 20 braças.
CQ
Chacrinha fez e depois de colher vai plantar pasto
CO
Milho
CP
Plantou do lado do quintal e chamou de chacrinha
KR
Seu avô fazia roção / também fazia chacrinha
GW
Era capoeira baixa mesmo jeito roçou queimou etc.
HD
Faz uma Chacra na beira de casa
BN
Chacra não dá nem umas 20 braças
LG
Todo ano faz
Tabela 18. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,34%
Código
Descrição das idéias
JI
Os mantimentos (produtos) são para a despesa.
Sobre as Chacras diz que ouvia falar de longe, desde criança, agora é que
DG
apegou e aprendeu.
IE
Abacaxi
ID
Cana
JQ
Planta o que a gente precisa
IF
Não dá mais (alguns cultivos) pois, ficou muito pequeno o local (no Taquaral)
IG
Milho
EM
Algumas Chacras são cercadas ou mesmo teladas
D
A casa está na Chacra
IB
Mandioca
IC
Banana
LC
Tem uns 19 anos que faz Chacra
Tabela 19. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,34%
Código
Descrição das idéias
IM
Da casa à Chacra uns 300 metros
IL
Faz as Chacras na terra do Sr.Ademar (Japonês)
KY
Tem duas Chacras essa e outra perto do Catulino
KZ
700 metros de distância da casa.
DW
0,5 alqueire
KW
A Chacra tem mais de 1 ano
LH
Usam até 4 anos pois, não produz bem e nasce sementeira sujeira.
LL
Tem uma Tuia no centro da Chacra
DX
50 braças X 45 braças
GG
Depende da posse de trabalho para fazer a Chacra
96
Tabela 20. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,30%
Código
P
Descrição das idéias
Quem tem posse vai ainda fazer roça de 2 a 3 alqueire, porque, tem jeito de
fazer com maquinário. Quem não tem faz Chacra.
Vão parar de fazer a roça pra fazer a Chacra, porque, todos estão ficando
velhos, não conseguem mais trabalhar.
A Chacra é pequena
Q
A Chacra é de 1 a 2 hectares
KK
LK
ER
As Chacras têm de três alqueires pra baixo.
FU
Conhece Chacra desde que entende por gente no Lava pé
LJ
Vai fazer Chacra ano que vem, o que manda é a saúde.
Tabela 21. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo aproximado de 0,30%
Código
Descrição das idéias
CE
Na Chacra é terra boa
DH
Também se chama Chacra de roçinha
DY
0,5 alqueires, ou seja, 100x50 braças
FA
50 a 40 m²
JC
Nome (Chacra) ouviu aqui em Santana uns 30 anos
FW
JD
AT
BW
DK
EU
FY
IH
IO
J
CF
CW
FH
GI
FD
IP
IQ
IR
GH
IN
DJ
FG
II
AW
BE
EF
FF
Conhece o nome desde os pais (Chacra)
Nome Chacra a gente já pegou esse idioma assim, conhecimento de
família
Chacra a mesma pessoa faz
Ele não quer usar o jeito de nós falar, nossa descendência (... ) jeito de pai,
de avós, daí ele vai modificando o jeito de falar” sobre quem fala que não é
Chacra
A Chacra que é mais perto
Às vezes fazem Chacra na capoeira, pois, está fácil pra roçar (rapidinho)
Os pais já chamavam de Chacra
Na Chacra nossa (...) não temos tanto interesse em vender.
Mamão
A Chacra é mais perto de casa
Na Chacra pode colocar o pomar se o quintal não for bom (terra boa)
Pode plantar as plantas de quintal na Chacra (...) lá produz.
Chacra é uns 200 metros de distância.
Usa a Chacra 2 anos, pois, tem lugar bastante para trabalhar.
Chacra é perto de casa
Não acaba de tudo por causa do mamão que fica até 2 anos e a mandioca.
Não faz todo ano a Chacra
Sempre permanece a que era no passado
Depois quem não usa põe capim brachiara
Mandioca
Tem na roça (produto), mas na Chacra também tem.
Chacra derruba um pedaço perto do quintal
Na Chacra planta alimento (...) cereais
Chacra é mais pequena que a roça
Chacra é pro lado da roça (manejo)
A Chacra faz e depois larga, pode voltar ou não pra lá
Chacra é separado do quintal
97
AG
AK
AL
AM
R
S
W
X
JV
GO
DF
DV
FQ
HI
HO
ES
GA
GP
DE
HN
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AB
AC
AD
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E
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L
M
N
O
Y
Z
JU
HG
IK
IJ
KG
DS
DZ
JT
A mesma hora que fala Chacra também fala roça
Às vezes planta uma chacrinha para fazer a despesa
Às vezes planta uma chacrinha para fazer semente para a outra roça
Às vezes planta uma chacrinha quando não pode fazer roça.
A Chacra é uma roça pequena
A Chacra daqui é diferente da cidade
A Chacra se caprichar com ela “transtorna”
A Chacra se caprichar produz de tudo
Não faz um alqueire por causa que não consegue trabalhar
Produz só pro gasto.
A Chacra sempre fica dentro do quintal
Os mantimentos (produtos) são para a despesa
Chacrinha até um alqueire
Chacra tem horta com três ou mais canteirinhos.
Angola (junto ou próximo a Chacra)
As chacrinhas não tinha (...) começou a fazer quando não tinham mais
terra
Da chacrinha antiga quando eles eram pequenos, sobrou as frutíferas
É muito pouquinho o espaço para eles plantarem
Sempre a chacrinha é bem perto
Junto ou dentro, tem o mangueirinho do porco (na comunidade do
Taquaral)
Pato no taquaral junto ou próximo a Chacra
Produz só pro gasto.
Peru junto a Chacra lá no Taquaral
Na Chacra tem mandioca
Na Chacra tem cará
Na Chacra tem quiabo
Na Chacra tem croá
Na Chacra tem abóbora
Na Chacra tem batata doce
A Chacra 30x40 metros, antigamente e ainda hoje.
Faz um alqueire por causa que não consegue trabalhar
A Chacra é onde tem abóbora
A Chacra é onde tem quiabo
A Chacra é onde tem banana
A Chacra é onde tem cana
Na Chacra tem banana
Na Chacra tem cana
Pode plantar feijão pastel
Fazem às vezes na nesga (quando faz um quadro e sobra uma tira).
A chacrinha no Taquaral é muito pequenininha
Na chacrinha não se planta feijão e nem arroz pois, ela é muito
pequenininha
Goiaba
Tinha uma chacrinha do povo antigo do Ferreira (avô do Sr Zé Marino)
1951 até 1960, chacrinhas era comunitário.
Pode plantar feijão pastel, porque também da no quintal
98
DU
KF
Vivem da Chacra e de trabalhar para os outros (que não tem
aposentadoria)
As Chacras conhece desde quando entendi me por gente (...), mas, nesse
tempo já era abandonada;
Tabela 22. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,27%
Código
Descrição das idéias
DQ Batata doce
LF Facilidade de pegar as coisas porque era perto.
EE A Chacra era fechada com varame
DL Têm tudo as plantas
HY Mamão
IA Colhia da Chacra (Milho, mamão) dava para os porcos (ração).
LB Em outras são os dois que mandam
DO Arroz
LE Tinha antigamente a chacrinha com os pais.
DP Milho
LD Tinha a tuia na Chacra
KH Quando era terra comum a Chacra era afastada, não muito da casa
DM Mandioca
DN Banana
HZ Milho
IV Não tinha força pra fazer roça grande, por isso, fez Chacra
ED A Chacra era afastada, não muito da casa
LA Têm muitas que as mulheres “manda”
Tabela 23. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,25%
Código
Descrição das idéias
FE
Chacra e roça, a diferença é o tamanho
BS
Abacaxi
JP
A Chacra, próximo a um curso d’água.
BF
Chacra é próximo da casa.
CM
Ouvi falar de Chacra desde quando entende falar por gente
CY
Fazer uma chacrinha de meio alqueire
BI
Chacra é de 1 alqueire
CJ
O nome Chacra é tudo carregado de coisas boas
FZ
Da casa a Chacra 350 metros
BP
Chacra é fatura
JK
Os produtos daqui são só para o gasto
BO
Chacra tem de tudo
Num lugar dentro de uma roça, pode dividir um meio alqueire e fazer uma
CX
chacrinha
As canas colhidas nas Chacras, moem de ameia para fazer rapadura com o
JJ
Américo ou Beto, que vendem
BH
Chacra é uma coisa pequena (1 alqueire)
JO
Perto da casa (a Chacra)
KA
Deu para quem não tinha (produção da Chacra)
BR
Banana
99
AH
AI
AJ
BQ
CK
CL
KB
As mesmas plantas de roça na Chacra, só que a quantia é pouca.
As mesmas plantas de roça na Chacra
Na Chacra a quantia de planta é menor que na roça
Cana
Mamão
Mandioca
Comeu o resto dos mantimentos da Chacra
Tabela 24. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,22%
Código
Descrição das idéias
HW
Mais perto da casa, distância de 10 metros da casa.
EP
Aprendeu a fazer a Chacra com o tio (João Possidônio).
FT
Começou fazer Chacra, pois, não agüenta trabalhar muito
HS
Local de mata trabalha 3 a 4 anos, sem colocar adubo.
AY
Chacra (...) planta o que quer
AX
Chacra é pequeno planta o que quer
CA
Mas o pai, tio, falava de ir em Chacra, e ele já sabia que era pequeno
EJ
Não tem água perto da Chacra.
GU
É mais fácil para limpar
A Chacra não muda de lugar, a roça muda – quando acaba com a mata,
tem que mudar, para crescer de novo.
EI
KC
Quando a terra é boa faz de 5 até 10 anos quando não bate praga.
BJ
Chacra não dá pra pagar para gente trabalhar porque é pequeno
CG
Não compreende a diferença de Chacra para chácara – nem ouviu falar
FS
Começou fazer Chacra pois, conseguiu terra
CH
3 ou 4 tarefa é Chacra
DR
Tenho uma Chacra de cana, daí só tem cana
JB
No taquaral não dava pra fazer roça, nem Chacra porque era pequeno
BA
Cana
BB
Chacra é sortido de tudo
BC
É para consumo da casa.
BD
É para consumo dos bichos dos terreiros.
CI
Negócio pequeno é Chacra
EA
30 de comprimento por 12 braças de largura
GB
50, 40, 30 braças tamanho das Chacras
GQ
É perto da casa.
Com a Chacra fica limpo o terreiro, modo o bicho que vem comer as
galinhas, fica mais fácil de ver.
GR
GS
A Chacra é fácil para trabalhar, pois, está perto.
GT
É mais (...) ele vai à Chacra pois, está perto.
100
IU
“Acho que desde o começo do mundo já tinha esse nome”.
IW
Não usou máquina na Chacra
JE
Nome Chacra, acha que é dos índios
KI
Quando faz de rua pode plantar pasto ou outra coisa (na Chacra)
AV
Chacra é de 30 a 40 braças
BK
Chacra é pequeno
DT
Usam mudas e sementes da Chacra para por na roça.
EO
O tio (João Posidônio) que tinha Chacra no lado da casa.
AO
Planta romã
AP
Planta milho
AQ
Chacra é em roda de casa
AR
Chacra é em roda de casa (...) no Taquaral
BL
Chacra é rocinha pequena
A Chacra é importante, pois um dia que a gente precisa tem serviço perto
pra fazer
G
GV
H
HT
IT
Em tempo de chuva ou sol forte, é mais fácil para se ocupar
A Chacra é importante, pois, é perto de casa
Quando começa a sujar, muda de local.
Não sabe de onde vem o nome Chacra “acho que desde o começo do
mundo já tinha esse nome”.
KD
Quando agüentava trabalhar fazia só roça
NA
Chacra – é em roda de casa
U
A Chacra está do lado da casa.
V
A Chacra por ficar perto, fica mais fácil de cuidar.
AZ
Cará
GJ
Desde criança ouve falar esse nome Chacra
Tabela 25. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0,30%
Código
Descrição das idéias
IZ
No espaço que hoje é a Chacra era antes um quintal (...), mas, depois
plantaram as coisas.
BG
Chacra é sempre em terra alta
IS
Não planta arroz na Chacra
Tabela 26. Idéias que caracterizam o resultado do peso relativo 0, 07%
Código
Descrição das idéias
JN
Para língua dos imigrantes Chacra (Chácara) é na cidade na beira da rua. Aqui
na língua deles é outro sistema
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