6 O Jornal de HOJE
Cidade
Natal, 27 de janeiro de 2015
Terça-feira
Fotos: Heracles Dantas
PACIENTES DE CLÍNICA MÉDICA
LOTAM CORREDORES DO
HOSPITAL DEOCLÉCIO MARQUES
PACIENTES
PASSAM POR TESTE DE PACIÊNCIA ANTES DE ATENDIMENTO
tal está passando dificuldade em termos de abastecimento e insumos,
principalmente porque o orçamento 2015 ainda não foi aberto. "A
contra referência também tem sido
outro grande problema. Os pacientes chegam aqui com um nível de
gravidade que poderiam voltar para
os seus municípios, mas terminam
ficando aqui porque lá não tem oxigênio, ambulância, antibiótico e aqui
tem. Só encaminhamos o paciente
para o município com responsabilidade", destaca a diretora.
"Na superlotação, dobramos a
nossa demanda com o número que já
tínhamos, tanto no de servidores, gêneros alimentícios e higienização. E
tudo isso só tem causado transtorno,
mas temos feito o melhor para garantir o melhor serviço à população",
afirma Adriana Macedo. Os municípios vizinhos, Canguaretama, São
José de Mipibu e Nísia Floresta, são
os que mais encaminham pacientes.
A partir de abril, quando está prevista a inauguração da nova UPA de
Parnamirim, a esperança é que possa
desafogar o setor de clínica. "Quando ela abrir, seremos a referência da
UPA e o paciente virá para o leito e
não teremos mais corredor".
Em relação a ortopedia, hoje o
Hospital Deoclécio Marques realiza de seis a oito cirurgias eletivas.
A partir do dia 2 de fevereiro, será
aberta a terceira sala de cirurgia ortopédica, passando a realizar uma
média de 10 a 12 procedimentos por
dia. "Em uma semana, conseguiremos zerar essa fila". A diretora explica que os profissionais para esta
ROBERTO CAMPELLO
[email protected]
Os corredores do Hospital Regional Deoclécio Marques de Lucena, localizado no município de
Parnamirim, mais parecem uma enfermaria improvisada. Macas espalhadas por todo canto são adaptadas e transformadas em leitos. A situação é mais crítica para pacientes
de clínica médica. O Hospital tem
capacidade para atender até 30 pacientes, sendo oitos no setor de reanimação, mas hoje a unidade conta
com mais de 60 pessoas internadas.
O excedente espera a alta médica
ou procedimentos cirúrgicos em
macas pelos corredores do Hospital.
O setor de ortopedia do hospital está
mais tranquilo. Na manhã de hoje,
cinco pacientes estavam no corredor,
além dos 38 pacientes internados na
enfermaria, à espera de uma cirurgia eletiva ortopédica.
A diretora geral do Hospital
Deoclécio Marques, Adriana Macedo de Pontes, conta que a superlotação do setor de Clínica Médica é
sazonal, reflexo do período de veraneio, onde aumenta a incidência de
acidentes, a vulnerabilidade à doença. "Os municípios não tem responsabilidade enquanto municípios e
os pacientes acabam vindo para cá.
Fora isso, 62% dos atendimentos
são munícipes de Parnamirim e tudo
isso tenciona o único hospital portaaberta de clínica médica dentro de
Parnamirim", explica a diretora.
Em função da superlotação,
Adriana Macedo conta que o hospi-
nova sala já estão garantidos, pois
serão contratados pela Cooperativa
Médica e pela Coopanest.
A empregada doméstica Maria
Marlete Xavier, de 56 anos, mora no
município de São José de Mipibu e
está há mais de um mês internada no
Hospital Deoclécio Marques de Lucena à espera de um procedimento
cirúrgico de cateterismo, que só é
realizado em Natal. Ela conta que
chegou a ir, inúmeras vezes, a UPA
de São José de Mipibu, sendo medicada e orientada a voltar para casa.
No entanto, as dores aumentaram e
dona Maria foi encaminhada para o
Deoclécio Marques.
Ela conta que o cateterismo foi
marcado para semana passada, mas
que o médico teve que fazer uma
cirurgia de urgência e o procedimento foi cancelado. O novo cateterismo está marcado para a próxima sexta-feira, dia 30 de janeiro. "É
horrível ficar e já me desesperei várias vezes querendo ir embora, mas
preciso ficar para fazer essa cirurgia.
Aqui eu me sinto presa, longe da
família e sem poder trabalhar", relata Maria Marlete.
A situação da catadora de latinha Helena Severina da Conceição,
de 53 anos, é ainda mais delicada.
Ela, que mora no município de Nísia
Floresta, chegou ao Hospital Deoclécio Marques vomitando, com
altas taxas de glicemia, pressão alta,
fortes dores na nuca, e com coração crescido. Depois de inúmeros
exames, foi diagnóstico dois tumores, benignos, na cabeça.
"Pensei que ia morrer, porque
Maria Marlete Xavier espera há um
mês por uma cirurgia de cateterismos
Corredores do Deoclécio Marques
são utilizados como enfermarias
quando comecei a sentir as dores
estava em Nísia Floresta e lá não
tem hospital e tive que vir às pressas para cá. O atendimento aqui é
bom, não me falta nada. Às vezes demora, mas é normal, porque tem
muita gente para ser atendida e poucos funcionários. Eu só queria duas
coisas: fazer minha cirurgia e voltar para casa", diz Helena Severina.
O aposentado Francisco Sales
de Sousa, de 66 anos, do município
de Canguaretama, conta que há cerca
de seis meses vem sentindo fortes
dores no estômago e há quase um
mês está internado em uma maca
no Hospital. "É muito ruim, porque
ninguém dorme aqui. É gente gritando e sofrendo o dia inteiro. À noite
a situação é ainda mais delicada", reclama o aposentado.
No setor de ortopedia, o jovem
Maicon Douglas, de 17 anos, é acusado de troca de tiro com a polícia
no município de Santa Cruz. Na
ação, ele foi baleado e duas balas
ponto 40 perfuraram o braço, a ponto
de deixar o osso do braço esfarela-
do. Uma bala foi retirada, mas a
outra continua alojada. O adolescente conta que hoje completa 74
dias que ele está internado no hospital à espera da cirurgia.
"Eu estava no Walfredo Gurgel
e quando ia receber alta, recebi um
mandato e fui encaminhado para cá.
Toda segunda-feira é uma esperança frustrada. Nesse período eu já peguei uma bactéria e temo que se demorar mais eu fique com sequelas
que não possa me recuperar mais",
conta Maicon Douglas.
Adriana Macedo, diretora do hospital:
“superlotação no setor é sazonal”
Helena Severina tem dois tumores
benignos na cabeça e espera cirurgia
> CRISE NA PSIQUIATRIA
Proposta não agrada e atendimento continua suspenso
Heracles Dantas
José Aldenir
Os secretários de Estado da
Saúde Pública (Sesap), Ricardo Lagreca, e Municipal de Saúde de Natal
(SMS), Cipriano Maia, apresentaram uma nova proposta à direção
do Hospital Psiquiátrico Professor
Severino Lopes - antiga Casa de
Saúde Natal - para acabar com a
suspensão no atendimento psiquiátrico feito pelo Sistema Único de
Saúde (SUS). A proposta previa um
complemento de 40% no valor da
diária, que passaria dos atuais R$
43,73 para R$ 61,22, bem aquém
do valor proposto pela direção do
Hospital que é de, no mínimo, R$
120,00. Estudos realizados pelo Hospital apontam que o atual custo de
uma diária no Hospital é de R$
261,00. Como não houve consenso, a admissão de novos pacientes
continua suspensa. Hoje, ainda há
160 pacientes do SUS internados na
unidade.
O atendimento está suspenso
desde o dia 26 de dezembro do ano
passado, em função de dificuldades
financeiras decorrentes da não renovação dos contratos com a Secretaria Municipal de Saúde e da defasagem dos valores pagos pela tabela SUS. A proposta de complementação no valor da diária no novo
contrato a ser assinado foi apresentada nesta segunda-feira (26) e seria
rateada entre as duas Secretarias.
"Qualquer reajuste só poderá ser
feito com o aval do Conselho", explicou o Secretário da SMS, Cipriano Maia.
O diretor administrativo do Hos-
Cláudio Lopes reconhece esforço
dos governos, mas confirma que
valores ainda são insuficientes
pital Severino Lopes, Cláudio Lopes,
reconhece o esforço das duas Secretarias, mas confirma que o valor
apresentado continua insuficiente
para a "sobrevivência do hospital".
"O valor continua muito aquém da
nossa realidade. Oferecemos seis re-
feições aos pacientes, medicamentos e todo o tratamento multiprofissional, com médicos, terapeutas, enfermeiros, psicólogos, e demais profissionais", considera o diretor administrativo.
"A responsabilidade do trata-
mento psiquiátrico, nesse caso, é do
município de Natal e, infelizmente,
não podemos mais continuar com
esses valores. O município tem que
encontrar uma forma para o serviço volte a ser oferecido à população",
relata Cláudio Lopes. O diretor conta
que em função da crise foi necessário fazer empréstimos junto a CEF,
cujo débito é descontado justamente no repasse feito pelo SUS. "Queremos também que o município suspenda, temporariamente, a cobrança desse débito até que consiga melhorar a tabela SUS. Essa é uma
saída emergencial", diz o diretor
Cláudio Lopes.
O diretor do Hospital Severino
Lopes propõe, por exemplo, que seja
feito um convênio de custeio e manutenção com a instituição, tal como
é feito com o Hospital Infantil Varela Santiago. "Nós já apresentamos
algumas soluções e esperamos que,
juntos, possamos chegar a um denominador comum de modo que possamos continuar prestando o serviço à população. A saúde tem que
ser prioridade", afirma. Com a proposta apresentada pelo Hospital Severino Lopes de R$ 120 a diária, o
município teria uma despesa de R$
3,6 milhões por ano.
Uma equipe de desinstitucionalização multiprofissional composta
por técnicos da Sesap e SMS realizará o acompanhamento e encaminhamento da situação dos pacientes
que ainda encontram-se internados.
"Ainda não chegamos a uma solução
definitiva, mas estamos trabalhando
para encontrar a melhor solução, e a
atuação desta equipe dará uma importante ajuda, pois o trabalho em parceria divide as responsabilidades, as
instituições unidas se tornam mais
atuantes", afirmou o Secretário da
Sesap, Ricardo Lagreca.
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Pacientes de Clinica médica lotam corredores do