CÍCERO THIAGO FIGUEIREDO DE ARAÚJO ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE JUNTAS DE ARGAMASSA REFORÇADAS COM FIBRAS DE POLIPROPILENO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Alagoas como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil MACEIÓ 2005 CÍCERO THIAGO FIGUEIREDO DE ARAÚJO ESTUDO DO COMPORTAMENTO DE JUNTAS DE ARGAMASSA REFORÇADAS COM FIBRAS DE POLIPROPILENO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal de Alagoas como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Engenharia Civil Área de concentração: Estruturas Orientadora: Prof. Dra. Aline da Silva Ramos Barboza MACEIÓ 2005 iii Araújo, Cícero Thiago Figueiredo Estudo do Comportamento de Juntas de Argamassa Reforçadas com Fibras de Polipropileno. Maceió, 2005 Dissertação (Mestrado) Universidade Federal de Alagoas – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil 1. Fibra 2. Polipropileno 3. Junta 4. Pré-moldado I. Universidade Federal de Alagoas. Centro de Tecnologia. Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil iv Dedico este trabalho ao meu pai Jorge Araújo e minha mãe Edna Figueiredo Araújo, principalmente, pois foram meus grandes incentivadores. Aos meus queridos irmãos Taís e Tássio. À minha namorada Ester Taboza, que me apoiou em todos os momentos difíceis. E a todos que contribuíram direta ou indiretamente à realização deste trabalho. v Agradecimentos À Deus que me concedeu essa oportunidade e ajudou-me a concluí-la. À professora Aline da Silva Ramos Barboza pela orientação e apoio oferecidos. À professora Nélia Callado pela indicação ao mestrado. Aos professores Paulo César Correia Gomes e Flávio Barboza de Lima pelo apoio no programa experimental. Ao professor Eduardo Nobre Lages pelas importantes sugestões na análise numérica. Ao técnico de laboratório Alexandre Nascimento de Lima pelo apoio na instrumentação do modelo experimental. Aos graduandos Sebastião Falcão e Alexandre de Barros pelo companheirismo, apoio e a amizade conquistada durante toda a pesquisa. À FITESA pela concessão das fibras de polipropileno utilizadas na pesquisa. À FAPEAL pelo apoio financeiro para a parte experimental e pela concessão da bolsa de mestrado. A todos que contribuíram na realização deste trabalho, Obrigado! vi Sumário Agradecimentos ........................................................................................v Lista de figuras ........................................................................................viii Lista de tabelas .........................................................................................xi Lista de símbolos ......................................................................................xii Lista de abreviaturas ..............................................................................xiv Resumo ......................................................................................................xv Abstract ....................................................................................................xvi Capítulo 1 ..................................................................................................17 1. Introdução .............................................................................................17 1.1. Generalidades.............................................................................17 1.2. Relevância do tema ...................................................................20 1.3. Objetivos ...................................................................................20 1.3.1. Objetivo geral ...............................................................................20 1.3.2. Objetivos específicos .....................................................................21 1.4. Estrutura da dissertação .............................................................21 1.4.1. Capítulo 1 – Introdução ................................................................21 1.4.2. Capítulo 2 – Materiais compósitos ...............................................21 1.4.3. Capítulo 3 – Juntas de argamassa ................................................22 1.4.4. Capítulo 4 – Análise numérica .....................................................22 1.4.5. Capítulo 5 – Programa experimental ...........................................22 1.4.6 Capítulo 6 – Conclusões ................................................................22 Capítulo 2 ..................................................................................................23 2. Materiais compósitos ............................................................................23 2.1. Introdução ..................................................................................23 2.2. Materiais compósitos fibrosos ...................................................24 2.3. Fibras plásticas ..........................................................................27 2.3.1. Mecanismo de atuação das fibras de polipropileno .....................29 Capítulo 3 ..................................................................................................32 3. Juntas de argamassa ............................................................................32 3.1. Introdução .................................................................................32 vii 3.2. Mecanismo de transferência de tensões ....................................33 3.3. Caracterização da argamassa de preenchimento da junta .........38 3.4. Ferramentas para análise numérica de matrizes cimentíceas ....39 3.4.1. Material concreto armado ............................................................41 Capítulo 4 ..................................................................................................42 4. Análise numérica ..................................................................................42 4.1. Introdução ..................................................................................42 4.2. Modelo numérico ......................................................................42 4.2.1. Modelagem do concreto ................................................................43 4.2.2. Modelagem das armaduras ...........................................................49 4.2.3. Modelagem da argamassa com adição de fibras .........................52 4.3. Parâmetros .................................................................................52 4.4. Avaliação de superfícies de plastificação ..................................56 4.5. Análise numérica com o emprego de fibras de polipropileno à argamassa da junta ...........................................................................59 Capítulo 5 ..................................................................................................72 5. Programa experimental .......................................................................72 5.1. Introdução .................................................................................72 5.2. Materiais ....................................................................................72 5.2.1. Concreto ........................................................................................72 5.2.2. Argamassa ....................................................................................73 5.2.3. Armadura ......................................................................................76 5.2.4. Fibras de polipropileno ................................................................77 5.3. Construção do modelo experimental ........................................79 5.4. Instrumentação ..........................................................................80 5.5. Ensaios e resultados ..................................................................81 5.6. Análise dos resultados................................................................86 5.6.1. Tensão de ruptura .........................................................................86 5.6.2.Deformações horizontais e verticais na região de instrumentação.........................................................................................87 5.6.3. Fissurações ...................................................................................88 Capítulo 6 ..................................................................................................89 6. Conclusões .............................................................................................89 6.1. Considerações finais..................................................................89 Referências bibliográficas ........................................................................92 Apêndice A ................................................................................................94 viii Lista de Figuras Figura 1.1 Figura 1.2 Figura 2.1 Figura 2.2 Figura 2.3 Figura 2.4 Figura 2.5 Figura 3.1 Figura 3.2 Figura 3.3 Figura 3.4 Figura 4.1 Figura 4.2 Figura 4.3 Figura 4.4 Figura 4.5 Figura 4.6 Figura 4.7 Figura 4.8 Figura 4.9 Figura 4.10 Figura 4.11 Figura 4.12 Figura 4.13 Figura 4.14 Figura 4.15 Figura 4.16 Figura 4.17 Índices de consumo de concreto pré-moldado por habitante Índices de consumo de concreto pré-moldado Disposição geométrica entre fibra e matriz Relação comprimento da fibra vs. tensão de ruptura Disposição fibra / fissura idealizada Relação densidade vs. diâmetro vs. número de fibras Gráfico de representação do mecanismo de combate às fissuras de retração plástica com a incorporação de fibras de polipropileno Exemplo de aplicação de junta de argamassa entre elementos pré-moldados Comportamento de junta de argamassa submetida à compressão Configuração de ruína dos modelos Distribuição de tensões horizontais na argamassa e no elemento pré-moldado para a solicitação axial Modelo numérico adotado nas simulações Superfície de plastificação definida por von Mises Superfície de plastificação definida por Drucker-Prager Superfície de plastificação definida por WILLAMWARNKE (1975) Disposição dos elementos de reforço no elemento SOLID65 Janela de configuração das armaduras presentes no SOLID65 Disposição das armaduras nos blocos pré-moldados Tensões de contato devido à fricção entre concreto e aço e regiões de influência Elementos finitos da malha que hipoteticamente envolvem as armaduras Propriedade Rebar do elemento finito SOLID65 Janela de inserção dos parâmetros do modelo constitutivo Linear Isotropic Janela de inserção dos parâmetros do modelo constitutivo Drucker Prager Janela de inserção dos parâmetros do modelo constitutivo Concrete Plano de falha criado na direção normal à direção da fissura Gráfico tensão vs. deformação das superfícies de plastificação (taxa 0%) Gráfico comparativo do deslocamento vertical máximo atingido Fissuração lateral (16MPa) 18 18 26 26 27 29 30 32 33 34 38 43 44 46 46 47 48 49 50 50 51 53 54 54 55 57 57 58 ix Figura 4.18 Tensões horizontais para tensão aplicada de 16MPa Figura 4.19 Gráfico comparativo da tensão de ruína dos diversos modelos Figura 4.20 Comportamento das tensões horizontais σx (tensão aplicada de 16MPa) Figura 4.21 Comportamento das deformações horizontais totais εx (tensão aplicada de 16MPa) Figura 4.22 Fissurações dos modelos (tensão aplicada de 16MPa) Figura 4.23 Esmagamento localizado da argamassa da junta para uma taxa de 20% de fibras de polipropileno Figura 4.24 Deformação vertical ao longo da altura do modelo (valores tomados no eixo central vertical) Figura 4.25 Deformação vertical atingida para tensão aplicada de 16MPa Figura 4.26 Deslocamento horizontal ao longo da altura do modelo (valores tomados no eixo central, ao longo da face) Figura 4.27 Deformação horizontal atingida para tensão de 16MPa Figura 4.28 Gráfico tensão vs. deslocamento do modelo numérico (tensão aplicada de 30MPa) Figura 4.29 Tensão de compressão vs. taxa de fibras (tensão aplicada de 30MPa) Figura 4.30 Deslocamento vertical na ruptura (tensão aplicada de 30MPa) Figura 4.31 Variação do módulo de elasticidade equivalente do modelo para diferentes taxas de fibras Figura 4.32 Tenacidade dos modelos Figura 5.1 Slump de 18cm para o concreto simples Figura 5.2 Slump de 3cm para o concreto com adição de fibras de polipropileno Figura 5.3 Aspecto da argamassa fluida Figura 5.4 Gráfico tensão vs. deformação da argamassa adotada no ensaio experimental Figura 5.5 Aspecto da argamassa com adição de fibras de polipropileno Figura 5.6 Armadura adotada no modelo experimental Figura 5.7 Fibra de polipropileno adotada no modelo experimental Figura 5.8 Moldagem e armação dos blocos do modelo experimental Figura 5.9 Moldagem da junta com argamassa com adição de fibras de polipropileno Figura 5.10 Modelo experimental Figura 5.11 Strain Gages do tipo KFG-10 posicionados próximos à junta Figura 5.12 Prensa hidráulica utilizada no ensaio com capacidade para 50 toneladas Figura 5.13 Posicionamento do modelo experimental Figura 5.14 Surgimento da primeira fissura visível do modelo ME0 (83% da tensão última) Figura 5.15 Ruptura do modelo ME0 (presença do deslocamento da camada externa da argamassa) Figura 5.16 Surgimento da primeira fissura visível do modelo ME1 (90% da tensão última) 59 59 62 63 64 65 65 66 66 66 68 68 68 69 70 74 74 75 76 76 77 77 79 80 80 81 81 81 82 82 83 x Figura 5.17 Ruptura do modelo ME1 (sem presença do descolamento da camada externa da argamassa) Figura 5.18 Surgimento da primeira fissura visível do modelo ME2 (93% da tensão última) Figura 5.19 Ruptura do modelo ME2 (sem presença do descolamento da camada externa da argamassa) Figura 5.20 Gráfico tensão vs. deformação dos extensômetros verticais Figura 5.21 Gráfico tensão vs. deformação dos extensômetros horizontais Figura 5.22 Comparativo da tensão última numérica e experimental Figura 5.23 Gráfico tensão vs. deformação vertical na região da instrumentação experimental (comparativo) Figura 5.24 Gráfico tensão vs. deformação horizontal na região da instrumentação experimental (comparativo) Figura 5.25 Fissuras no modelo numérico antes da ruptura 84 85 85 85 86 87 87 88 88 xi Lista de Tabelas Tabela 1.1 Tabela 2.1 Tabela 4.1 Tabela 4.2 Tabela 4.3 Tabela 4.4 Tabela 4.5 Tabela 4.6 Tabela 5.1 Tabela 5.2 Tabela 5.3 Tabela 5.4 Tabela 5.5 Tabela 5.6 Tabela 5.7 Elementos pré-moldados de uso freqüente Propriedades físicas e mecânicas de alguns tipos de fibras Parâmetros de entrada na simulação numérica Propriedades físicas do aço CA 50-A adotadas no modelo numérico Propriedades físicas das fibras de polipropileno adotadas no modelo numérico Taxas de fibras utilizadas nas análises numéricas Evolução das deformações verticais e horizontais máximas (tensão aplicada de 16MPa) Comparativo entre os módulos de elasticidade Traço do concreto de 30MPa Resistência à compressão uniaxial dos corpos de prova moldados com o concreto utilizado na pesquisa Traço do concreto de 15MPa Traço da argamassa fluida para uma massa de cimento de 800g Propriedades geométricas e físicas das fibras de polipropileno adotadas no modelo experimental Comparativo entre fibras de polipropileno Comparativo entre os modelos propostos e o resultado obtido no modelo experimental (0% de fibras) 18 28 53 55 55 60 67 70 73 73 74 75 78 78 83 xii Lista de Símbolos Aef área efetiva da junta Ac área de concreto As área de aço aj menor largura da junta b, p, h dimensões do elemento finito c coesão d diâmetro da fibra e espaçamento fy tensão de escoamento do aço fc resistência à compressão ft resistência da fibra à tração fa resistência da fibra à aderência fcj resistência à compressão da argamassa da junta fck,adj menor resistência do concreto dos elementos adjacentes à junta f superfície de falha fcb resistência última à compressão biaxial f1 tensão última de compressão para um estado de compressão biaxial sobre o estado de tensões hidrostáticas f2 tensão última de compressão para um estado de compressão uniaxial sobre o estado de tensões hidrostáticas hj espessura da junta I1 primeiro invariante do tensor de tensões J2 segundo invariante do tensor de tensões deviatóricas xiii lf comprimento da fibra lc comprimento crítico l comprimento da barra Vef volume do elemento finito Vs volume de aço (armadura) Ym tensão de plastificação α, km parâmetros do material (Superfície de Drucker-Prager) αe coeficiente de eficiência da junta δ relação entre a área comprimida da área da junta e a espessura da junta κ relação entre a resistência à compressão da argamassa da junta e da menor resistência dos elementos adjacentes à junta η0 coeficiente de redução de área ηm coeficiente de redução de resistência σm,adm tensão admissível na junta seca σ tensão de compressão na junta σ1, σ2, σ3 tensões principais σfu tensão de ruptura da fibra σft tensão de tração na fibra ϕ ângulo de atrito φ diâmetro do aço xiv Lista de Abreviaturas ME0 Modelo Experimental com 0% de fibras de polipropileno ME1 Modelo Experimental com 1% de fibras de polipropileno ME2 Modelo Experimental com 2% de fibras de polipropileno NPT Núcleo de Pesquisas Tecnológicas xv Resumo Neste trabalho estuda-se o comportamento da ligação entre elementos pré-moldados através de juntas de argamassa com adição de fibras de polipropileno, avaliando o desempenho das mesmas quando solicitadas a tensões de compressão. O modelo proposto para análise do comportamento da ligação é composto de dois blocos de concreto armado com dimensões 10x10x20cm, unidos entre si por uma argamassa de cimento e areia com adição de resíduo oriundo do beneficiamento de mármore e granito, desenvolvida em laboratório em uma dissertação de mestrado, a qual recebeu adição de fibras de polipropileno. Faz-se uma avaliação numérica do modelo proposto através do programa de elementos finitos ANSYS 7.1® considerando argamassas com adição até 50% de fibras de polipropileno que é posteriormente validado em um programa experimental. Pelos dados obtidos numericamente, constata-se que o incremento de fibras até a taxa de 3% propicia um melhor desempenho da junta e, consequentemente, do modelo. Observa-se um ganho na capacidade de deformação horizontal e vertical da mesma, prorrogando, com isso, o descolamento do modelo, fazendo com que o sistema mantenha por mais tempo sua capacidade resistente, o que significa um aumento da ductilidade da ligação. Entre 4% e 10% o modelo mantém-se sem alteração no seu comportamento e a partir de 15%, começa a perder resistência e rigidez. Os modelos experimentais apresentam ganho de capacidade de carga com o acréscimo de fibras e modos de fissuração semelhantes ao modelo numérico e aos modelos propostos na literatura. Entretanto os teores práticos de fibras só atingem 2%, o que impossibilita os estudos para os demais teores. Palavras-Chave: fibras, polipropileno, junta de argamassa, pré-moldados xvi Abstract In this work the connection behavior between precast elements using cement mortar with polypropylene fibers addition is studied to evaluate its performance when compression loads is applied. A numerical analysis with the finite elements program ANSYS 7.1® was made considering mortars range from 0% to 50% of polypropylene fibers addition. The numerical model considered in the analysis was composed of two reinforced concrete blocks with 10x10x20cm dimensions, joined between themselves by a cement mortar with marble and granite residue addition, developed in laboratory, which will receive polypropylene fibers addition. The numerical analysis was later validated by an experimental program. With the gotten results, it was evidenced that lower than 3% tax fibers propitiated better performance of the joint and, consequently, of the model. A profit in the horizontal and vertical deformation capacity was observed prorroguing the mortar splitting in the model, which makes high system strength capacity, resulting in an increase of the connection ductility. Between 4% and 10% the model kept any behavior alteration and from 15%, it started to lose strength and rigidity. The experimental models had presented load capacity profit with fibers addition and similar cracked ways of numerical model and the models observed in literature. However 2% fibers taxes higher were not possible to investigate because a lower workability performance had been gotten. Keywords: fibers, polypropylene, mortar joint, precast 17 Capítulo 1 Introdução 1.1. Generalidades A Construção Civil tem sido considerada como uma indústria atrasada quando comparada a outros ramos industriais. A razão de assim considerá-la é baseada no fato dela apresentar, de uma maneira geral, baixa produtividade, desperdícios de materiais, morosidade e baixo controle de qualidade. Uma das formas de se buscar a redução desse atraso é com o emprego de técnicas associadas à utilização de elementos pré-moldados de concreto. O emprego destas técnicas recebe a denominação de concreto pré-moldado ou de pré-moldagem e as estruturas formadas pelos elementos pré-moldados recebem a denominação de estruturas pré-moldadas de concreto ou estruturas de concreto pré-moldado. É na parcela relativa às formas e ao cimbramento, normalmente de maior incidência no custo do concreto armado, que a utilização do concreto pré-moldado pode atuar no sentido de diminuir os custos. A pré-moldagem estaria ainda melhorando as condições de trabalho na construção civil, que normalmente é considerado sujo, difícil e perigoso (EL DEBS, 2000). Os índices de consumo de concreto pré-moldado por habitante e o consumo de cimento referentes ao emprego em concreto pré-moldado em diversos países, incluindo o Brasil, estão mostrados nas Figuras 1.1 e 1.2, respectivamente. Estes índices sinalizam que o emprego do concreto pré-moldado no Brasil é relativamente baixo comparado com países mais desenvolvidos. A Finlândia e a Espanha são os maiores consumidores de concreto pré-moldado. Os elementos pré-moldados apresentam uma grande diversidade. Na Tabela 1.1 estão mostrados alguns dos principais tipos de elementos. 18 180 160 120 100 80 60 40 20 Br as il Ca na dá EU A Fr an ça Re in o Un id o Su éc ia Itá lia Ja pã o Fi lâ nd ia Es pa nh a Ho la nd a Al em an ha Di na m ar ca 0 Figura 1.1 – Índices de consumo de concreto pré-moldado por habitante Br as il Ca na dá EU A Itá lia Ja pã o Fonte: EL DEBS (2000) 50 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 Fi lâ nd ia Di na m ar ca Ho la nd a Su éc ia Al em an Re ha in o Un id o Es pa nh a Fr an ça % kg / habitante 140 Figura 1.2 – Índices de consumo de concreto pré-moldado Fonte: EL DEBS (2000) Tabela 1.1 – Elementos pré-moldados de uso freqüente Lajes e Paredes Vigas e Pilares Painel Alveolado Seção Retangular Painel ∏ Seção Duplo T ou I Seção T Invertido Painel U Seção Vazada Painel Maciço 19 As ligações assumem um papel relevante no projeto das estruturas pré-moldadas. Elas são de fundamental importância tanto para a produção (execução de parte dos elementos adjacentes às ligações, montagem da estrutura e execução das ligações propriamente dita) como para o comportamento da estrutura montada. As ligações mais simples normalmente acarretam estruturas mais pobres, do ponto de vista do comportamento estrutural. Em contrapartida, as ligações que tendem a reproduzir o comportamento das estruturas monolíticas, através de transmissão de momentos fletores entre os elementos, requerem mais trabalho, reduzindo em parte as vantagens da prémoldagem (EL DEBS, 2000). As ligações entre elementos pré-moldados, em geral, não se comportam da forma considerada na análise estrutural, onde são idealizadas de maneira a permitir ou impedir os deslocamentos relativos entre os elementos. Sabe-se que aquelas classificadas como articulações possuem razoável rigidez à flexão e resistência. Outras classificadas como rígidas podem apresentar deformações à flexão e ao cisalhamento consideráveis. Enfim, as ligações entre elementos de concreto pré-moldado apresentam certa deformabilidade quando solicitadas, e por isso são denominadas na literatura de semi-rígidas. CHEFDEBIEN (1996) afirma que o desenvolvimento de modelos, devidamente calibrados por meios de resultados experimentais, capazes de simular o comportamento das ligações pré-moldadas, parece ser uma tendência bastante atrativa. Porém, essa é uma tarefa difícil devido à multiplicidade de interfaces e materiais utilizados. Uma outra opção é a realização de simulações numéricas através da utilização de programas de computador baseados no Método dos Elementos Finitos. Atualmente, existem programas computacionais acadêmicos e comerciais capazes de simular fenômenos complexos em determinadas circunstâncias, tais como: atrito, escorregamento, contato, interação, aderência, entre outros. Entretanto ainda existem dificuldades na elaboração de um modelo capaz de representar de maneira precisa o comportamento real da ligação entre elementos de concreto pré-moldado pela diversidade de esforços envolvidos e pelo particular comportamento do concreto (nãolinearidade física), que tem sido motivo de muita pesquisa. 20 1.2. Relevância do tema Na colocação de um elemento pré-moldado sobre outro ou sobre elemento de concreto moldado no local, pode-se empregar uma camada de argamassa para promover o nivelamento e distribuir as tensões de contato. Essa ligação, denominada junta de argamassa, está em geral sujeita a esforço principal de compressão, que pode ser, em alguns casos, acompanhada de cisalhamento. A transferência de forças de compressão é governada pela deformabilidade relativa da argamassa da junta com o concreto dos elementos pré-moldados e pela ocorrência de estrangulamento da seção da junta. Como, em geral, a argamassa possui módulo de elasticidade mais baixo que o concreto dos elementos pré-moldados, ela tende a deformar mais, produzindo tensões de tração no elemento pré-moldado. Ainda devido ao fato da argamassa ser mais deformável, a parte externa, como não é confinada, praticamente não trabalha, acarretando, para efeito de transmissão de tensões, um estrangulamento da seção. BARBOZA (2002) desenvolveu um trabalho numérico e experimental envolvendo juntas de argamassa, determinando os principais parâmetros que influenciam no seu comportamento, visando uma melhoria da capacidade resistente do sistema pré-moldado. Os resultados mostraram que juntas com espessura de 20mm e a utilização de argamassas com alta resistência foram as que obtiveram os melhores desempenhos com relação à resistência. Mostraram ainda que a capacidade resistente da ligação está fortemente ligada à capacidade de deformação e fissuração da mesma. Assim, como complemento deste estudo, as fibras de polipropileno adicionadas à argamassa podem melhorar o comportamento dessas ligações, fazendo com que o sistema tenha um acréscimo de desempenho promovido pelo aumento de deformabilidade e diminuição das fissuras propiciado pelas fibras na região de ligação. 1.3. Objetivos 1.3.1. Objetivo Geral Este trabalho tem como objetivo principal avaliar o comportamento de juntas de elementos pré-moldados preenchidos com argamassa com adição de fibras de 21 polipropileno, obtendo informações que possam caracterizar maior ductilidade para a junta em função do teor de fibras adicionadas. 1.3.2. Objetivos Específicos Especificamente, citam-se os seguintes objetivos: a) Analisar numericamente o comportamento da ligação procurando obter seu desempenho de acordo com o volume de fibras de polipropileno; b) Avaliar experimentalmente a deformabilidade e a resistência da ligação, validando os resultados obtidos no modelo numérico; c) Buscar recomendações práticas para utilização em projeto das fibras de polipropileno nestas ligações. 1.4. Estrutura da dissertação A dissertação está dividida nos seguintes capítulos: 1.4.1. Capítulo 1 - Introdução Faz-se uma breve introdução sobre elementos pré-moldados, citando suas vantagens e a importância do estudo de suas ligações. 1.4.2. Capítulo 2 - Materiais compósitos Faz-se uma abordagem do conceito de material compósito, dando ênfase ao desenvolvimento do mesmo com fibras de polipropileno e o emprego em ligações entre elementos pré-moldados. 22 1.4.3. Capítulo 3 – Juntas de argamassa Faz-se uma introdução do conceito de junta de argamassa, bem como seu mecanismo de transferência de tensões, citando também trabalhos experimentais desenvolvidos no intuito de se obter um melhor detalhamento do seu comportamento. 1.4.4. Capítulo 4 – Análise numérica Apresenta-se a análise numérica desenvolvida, com todos os detalhes de sua construção, apresentando os devidos resultados obtidos. 1.4.5. Capítulo 5 – Programa Experimental Apresenta-se o programa experimental desenvolvido, caracterizando os materiais utilizados, montagem, instrumentação e análise dos resultados, confrontando com os obtidos na análise numérica. 1.4.6. Capítulo 6 – Conclusão Apresentam-se as conclusões obtidas e sugestões para trabalhos futuros. 23 Capítulo 2 Materiais compósitos 2.1. Introdução Um material compósito é a combinação de dois ou mais materiais que tem propriedades que os materiais componentes isoladamente não apresentam. Eles são, portanto, constituídos de duas fases: a matriz e o elemento de reforço, e são desenvolvidos para aperfeiçoar os pontos fortes de cada uma das fases (BUDINSKI, 1996). Na indústria mecânica, os compósitos são largamente empregados e geralmente são constituídos por matriz dúctil e fibra de ruptura frágil, como, por exemplo, os plásticos reforçados com fibras de vidro. Na construção civil, os compósitos são tipicamente constituídos por matriz frágil reforçada com fibra dúctil, como as argamassas reforçadas com fibras de polipropileno, embora haja exceções, como o cimento amianto, possivelmente o mais popular compósito da engenharia civil, no qual a matriz (pasta de cimento) e as fibras (amianto) apresentam ruptura frágil. Ainda segundo BUDINSKI (1996), os materiais compósitos mais importantes são combinações de polímeros e materiais cerâmicos. Os produtos baseados em cimento Portland são considerados como materiais cerâmicos por apresentarem características típicas a este grupo de materiais, como, por exemplo, alta rigidez, fragilidade, baixa resistência à tração e tendência de fissuração por secagem. Os polímeros são caracterizados por terem baixo módulo de elasticidade, ductibilidade variável e resistência à tração moderada. São extremamente versáteis e, dentro de certos limites, podem ser modificados para adaptar-se segundo necessidades específicas (TAYLOR, 1994). Os materiais compósitos, originados da combinação das cerâmicas e dos polímeros, apresentam características mais apropriadas de resistência mecânica, rigidez, ductibilidade, fragilidade, capacidade de absorção de energia de deformação e 24 comportamento pós-fissuração, quando comparado com os materiais que lhes deram origem. Em todas as áreas do conhecimento um grande número de novos materiais pode ser desenvolvido a partir da combinação de outros. Para tanto, é necessário que se conheçam as propriedades mecânicas, físicas e químicas dos materiais de constituição e como eles podem ser combinados. 2.2. Materiais Compósitos Fibrosos A história da utilização de compósitos reforçados com fibras como materiais de construção tem mais de 3.000 anos. Há exemplos do uso de palhas em tijolos de argila, mencionados no Êxodo, e crina de cavalo reforçando materiais cimentados. Outras fibras naturais têm sido utilizadas para conferir ductibilidade aos materiais de construção essencialmente frágeis (ILLSTON, 1994). Contrastando com esses antigos materiais naturais, o desenvolvimento de polímeros nos últimos cem anos foi impulsionado pelo crescimento da indústria do petróleo. Desde 1930 o petróleo tem sido a principal fonte de matéria-prima para a fabricação de produtos químicos orgânicos a partir dos quais são fabricados plásticos, fibras, borrachas e adesivos (ILLSTON, 1994). Uma grande quantidade de polímeros, com variadas propriedades e formas, têm sido desenvolvidos desde 1955. Para TAYLOR (1994), os materiais baseados em cimento Portland são opções naturais para a aplicação de materiais fibrosos a base de fibras poliméricas, uma vez que são baratos, mas apresentam problemas relativos à ductibilidade, resistência ao impacto e capacidade de absorção de energia por deformação. Segundo JOHNSTON (1994), as fibras em uma matriz cimentada podem, em geral, ter dois efeitos importantes. Primeiro, elas tendem a reforçar o compósito sobre todos os modos de carregamento que induzem tensões de tração, isto é, retração restringida, tração direta ou na flexão e cisalhamento, e, secundariamente, elas melhoram a ductibilidade e a tenacidade de uma matriz frágil. O desempenho dos compósitos reforçados com fibras é controlado principalmente pelo teor e pelo comprimento da fibra, pelas propriedades físicas da fibra e da matriz e 25 pela aderência entre as duas fases (HANNANT, 1994). JOHNSTON (1994) acrescenta ainda o efeito da orientação e distribuição da fibra na matriz. A orientação de uma fibra relativa ao plano de ruptura, ou fissura, influencia fortemente sua habilidade de transmitir cargas. Uma fibra que se posiciona paralela ao plano de ruptura não tem efeito, enquanto que uma perpendicular tem efeito máximo. TAYLOR (1994) apresenta os principais parâmetros relacionados com o desempenho dos materiais compósitos cimentíceos, assumindo que as variações das propriedades descritas abaixo são atingidas independentemente: a. Teor de Fibra – Um alto teor de fibras confere maior resistência pós-fissuração e menor dimensão das fissuras, desde que as fibras possam absorver as cargas adicionais causadas pela fissura; b. Módulo de Elasticidade das Fibras – Um alto valor do módulo de elasticidade causaria um efeito similar ao alto teor de fibra, mas, na prática, quanto maior o módulo maior a probabilidade de haver o arrancamento das fibras. c. Aderência entre a Fibra e a Matriz – As características de resistência, deformação e padrões de ruptura de uma grande variedade de compósitos cimentíceos reforçados com fibras dependem fundamentalmente da aderência fibra/matriz. Uma alta aderência entre a fibra e a matriz reduz o tamanho das fissuras e amplia sua distribuição pelo compósito. d. Resistência da Fibra – Aumentando a resistência das fibras aumenta também a ductibilidade do compósito, assumindo que não ocorre o rompimento das ligações de aderência. A resistência da fibra dependerá, na prática, das características pós-fissuração desejadas, bem como do teor de fibra e das propriedades de aderência fibra-matriz. e. Deformabilidade da Fibra – A ductibilidade pode ser aumentada com a utilização de fibras que apresentem alta deformação de ruptura. Isto se deve ao fato de compósitos com fibras de elevado grau de deformabilidade consumirem energia sob a forma de alongamento da fibra. f. Compatibilidade entre a Fibra e a Matriz – A compatibilidade química, física e geométrica entre as fibras e a matriz é muito importante. A curto prazo, as fibras que absorvem água podem causar excessiva perda de trabalhabilidade do 26 concreto. Além disso, as fibras que absorvem água sofrem variação de volume, e a aderência fibra/matriz é comprometida. A longo prazo, alguns tipos de fibras poliméricas não possuem estabilidade química frente à presença de álcalis, como ocorre nos materiais a base de cimento Portland. Nesses casos, a deterioração rápida das propriedades da fibra e do compósito pode ser significativa. Assim também, incompatibilidades geométricas entre a fibra e a matriz fazem com que as fissuras não sejam combatidas adequadamente, conforme demonstrado na Figura 2.1. a – Compatibilidade b – Incompatibilidade Figura 2.1 – Disposição geométrica entre fibra e matriz g. Comprimento da Fibra – Quanto menor for o comprimento das fibras, maior será a possibilidade de elas serem arrancadas. Para uma dada tensão de cisalhamento superficial aplicada à fibra, esta será mais bem utilizada se o seu comprimento for suficientemente capaz de permitir que a tensão cisalhante desenvolva uma tensão de tração igual à sua resistência à tração, conforme visto na Figura 2.2. Na verdade, não basta raciocinar tão-somente em cima do comprimento da fibra. Há de se considerar o seu diâmetro, pois depende dele a capacidade da fibra em desenvolver as resistências ao cisalhamento e à tração. σ σ σ σft = σfu σfu σft σfu σft fibra lf = lc fibra lf < lc fibra lf > lc Figura 2.2 – Relação comprimento da fibra vs. tensão de ruptura 27 A Figura 2.3 apresenta uma disposição idealizada da fibra em relação à fissura, seguida de um equacionamento onde fica evidente a importância da relação l/d, onde “l” é o comprimento e “d” é o diâmetro da fibra. A relação l/d é proporcional ao quociente entre a resistência à tração (ft) da fibra e a resistência de aderência fibra/matriz (fa), na ruptura. Em grande parte, a tecnologia dos materiais compósitos depende da seguinte condição: se uma fibra tem uma alta resistência à tração, por exemplo, como o aço, então ou a resistência de aderência necessária deverá ser alta para impedir o arrancamento antes que a resistência à tração seja totalmente mobilizada ou fibras de alta relação l/d deverão ser utilizadas fissura (TAYLOR, 1994). resistência à aderência fa d fibra resistência à tração ft lf / 2 πd 2 f t 4 = πdl f f a 2 ⇒ lf d = ft 2 fa Figura 2.3 – Disposição fibra/fissura idealizada Fonte: FITESA (2002) 2.3. Fibras Plásticas Na construção civil são empregados diversos tipos de fibras, desde as naturais – como as de celulose, amianto, sisal, juta e até pêlo de elefante – às artificiais, como as de plástico, vidro e aço. Dentro do universo das fibras plásticas, as mais conhecidas são as de polipropileno, nylon e poliéster. As principais propriedades desses tipos de fibras estão apresentadas na Tabela 2.1. 28 Tabela 2.1 – Propriedades físicas e mecânicas de alguns tipos de fibras Tipo de fibra Densidade relativa Diâmetro (microns) Comprimento (mm) Aço 7,86 100-600 10-60 Módulo de elasticidade (GPa) 200 Amianto 2,55 0,02-30 5-40 2,70 12,5 1,34 –1,39 Resistência à tração (MPa) Deformação na ruptura (%) 700-2000 3-5 164 200-1800 2-3 10-50 70 600-2500 3,6 20-25 20-30 < 17 800-1300 8-15 0,91 400-500 20-75 <8 400 8 Polipropileno 0,91 18 6-24 4 450 80 Nylon 1,15 21 10-20 8 800 25 Celulose 1,50 20-120 0,5-5 10-50 300-1000 20 Vidro (Eglass) Poliéster Polipropileno (fibrilada) Fonte: FITESA (2002) O baixo módulo de elasticidade, alta deformação na ruptura e elevada resistência à tração propiciados pelas fibras de polipropileno as tornam um material interessante na aplicação em argamassas de ligação de elementos pré-moldados, onde um acréscimo de desempenho promovido pelo aumento de deformabilidade é desejável. Para cada tipo e aplicação de fibra, existe um teor recomendado que maximiza as propriedades desejadas. Um dos fatores determinantes para que haja um bom desempenho do compósito fibroso é o número de fibras por metro cúbico de concreto. O número de fibras necessário para melhorar alguma propriedade do concreto no estado plástico, como, por exemplo, diminuir a incidência de fissuras de retração plástica ou diminuir a exsudação e a segregação, é sensivelmente menor que o número de fibras necessário para alterar alguma propriedade do concreto no estado endurecido, como, por exemplo, a resistência ao impacto. O número de fibras por metro cúbico de concreto varia muito em função do diâmetro e da densidade da fibra. A Figura 2.4 mostra em um gráfico esta variação, em que é calculado o número de fibras por quilograma, considerando-as com 10 mm de comprimento. Percebe-se que quanto menor a densidade da fibra e o seu diâmetro, maior será o número de fibra por unidade de massa. Por outro lado, fibras com maior densidade e diâmetro apresentam uma freqüência de fibras consideravelmente menor. 29 Figura 2.4 – Relação densidade vs. diâmetro vs número de fibras Fonte: FITESA (2002) 2.3.1. Mecanismo de Atuação da Fibra de Polipropileno O emprego de fibras sintéticas como auxiliares no combate ou redução das fissuras de retração plástica tem sido largamente difundido por diversos pesquisadores, embora o mecanismo pelo qual isso ocorra não seja bem conhecido. Há vertentes que advogam que os complexos mecanismos das pressões nos poros capilares desempenham importante papel na redução da retração e, consequentemente, das fissuras, enquanto outros preferem atribuir às fibras a redução dos efeitos danosos da retração (PADRON et al., 1990). Provavelmente, e pelos resultados de pesquisas experimentais, ambas as teorias são válidas, sendo que a questão da redução da porosidade capilar afeta basicamente a retração por exsudação, enquanto que a fibra, como material de reforço, atua nos estágios subseqüentes, quando o módulo de elasticidade da fibra plástica é superior ao da pasta de cimento. Matrizes mais ricas (alta relação cimento/areia) respondem mais eficientemente à adição de fibras e o concreto leve apresenta maior potencial de redução de fissuras do que o convencional, quando são empregados teores e tipos idênticos de fibras (BALAGURU, 1994). O mecanismo principal de atuação das fibras pode ser modelado como: a) O concreto simples, logo após o lançamento, é fluido. Aos poucos o concreto endurece e com isso perde a sua fluidez e, consequentemente, reduz sua capacidade de deformação. 30 b) Em contrapartida, com a evaporação da água de exsudação, a retração aumenta até que em um determinado momento o nível de deformação de retração é maior do que a capacidade do concreto de absorver estas deformações, e então as fissuras aparecem. c) O concreto com fibras de polipropileno de elevado nível de deformação e de baixo módulo é mais deformável nas primeiras idades. As fibras transferem a sua natural capacidade de deformação para o concreto. A deformação de retração pode ser a mesma, porém não maior do que a capacidade do concreto em absorvê-las. Assim, as fissuras são inibidas ou sua freqüência e tamanhos são reduzidos. A Figura 2.5 ilustra de maneira qualitativa a explicação acima. Figura 2.5 – Gráfico de representação do mecanismo de combate às fissuras de retração plástica com a incorporação de fibra de polipropileno Fonte: FITESA (2002) BALAGURU (1994) desenvolveu um extenso programa de ensaios com diversos tipos de fibras sintéticas e também de aço, e suas principais conclusões podem ser resumidas em: a) A adição de fibras sintéticas, mesmo em teores tão baixos como 0,45kg/m3 promove alguma redução na quantidade de fissuras; b) Reduções mais acentuadas são conseguidas com dosagens entre 0,45kg/m3 e 0,90kg/m3; 31 c) Para fibras longas, aquelas que apresentam menor módulo de elasticidade são as que propiciam melhor desempenho; d) Para dosagens de 0,90kg/m3, praticamente não se observa, nos experimentos, fissuras de retração plástica; e) A quantidade de fibras – número de fibras por quilograma – é um parâmetro importante de dosagem; f) Fibras longas apresentam melhor desempenho em argamassas mais pobres (baixo teor de cimento) e concretos, enquanto que as microfibras apresentam melhores resultados nas misturas mais ricas (alto teor de cimento); g) Com as fibras sintéticas, não ocorre apenas a redução da quantidade de fissuras, mas também a abertura delas é menor. 32 Capítulo 3 Juntas de argamassa 3.1. Introdução Na colocação de um elemento pré-moldado sobre outro ou sobre elemento de concreto moldado no local, pode-se empregar uma camada de argamassa para promover o nivelamento e distribuir as tensões de contato, conforme ilustrado na Figura 3.1. Aplicação de camada de argamassa numa ligação viga pilar Figura 3.1 – Exemplo de aplicação de junta de argamassa entre elementos prémoldados A espessura da junta deve ser a menor possível, dentro de limites de execução e tolerâncias. Recomenda-se que a espessura da junta não seja maior que 10% da menor dimensão da seção transversal dos elementos a serem conectados (EL DEBS, 2000). 33 3.2. Mecanismo de transferência de tensões As juntas de argamassa estão, em geral, sujeitas a esforço principal de compressão, que pode ser acompanhado de cisalhamento. A transferência de forças de compressão é governada pela deformabilidade relativa da argamassa da junta com o concreto dos elementos pré-moldados e pela ocorrência de estrangulamento da seção da junta. Como, em geral, a argamassa possui módulo de elasticidade mais baixo que o concreto dos elementos pré-moldados, ela tende a deformar conforme a Figura 3.2-a, produzindo tensões de tração no elemento pré-moldado. Ainda devido ao fato da argamassa ser mais deformável, a parte externa, como não é confinada, praticamente não trabalha, acarretando, para efeito de transmissão de tensões, um estrangulamento da seção. Assim, as tensões de compressão transmitidas na junta têm o aspecto da Figura 3.2-b. Devido a este efeito, também ocorrem tensões de tração nos elementos prémoldados, como conseqüência do bloco parcialmente carregado. EL DEBS (2000) afirma que o dimensionamento das juntas, em relação aos esforços de compressão, consiste em verificar as tensões de compressão na junta e verificar os elementos pré-moldados considerando as citadas tensões de tração. Para a verificação dos elementos pré-moldados considera-se de forma simplificada o efeito de bloco parcialmente carregado com a seção da junta reduzida, considerando que as partes externas, com duas vezes a espessura da junta, não trabalham, como mostrado na Figura 3.2-c. hj a – tensões de cisalhamento devido ao módulo de elasticidade ser menor que do concreto b – distribuição de tensões na junta devido à ineficiência da argamassa junto às faces 2hj c – distribuição das tensões nos elementos pré-moldados mostrando a ocorrência de tensões de tração Figura 3.2 – Comportamento de junta de argamassa submetida à compressão Fonte: EL DEBS (2000) 34 No trabalho de BARBOZA (2002), foram ensaiados alguns modelos da ligação com juntas de argamassa colocando-se entre os segmentos pré-moldados uma almofada de apoio flexível à base de cimento com adição de fibras e modificada com látex, como uma alternativa ao apoio com elastômero na ligação viga-pilar (Figura 3.3). Os primeiros resultados mostraram um bom comportamento na distribuição das tensões de contato, resultando em uma melhor acomodação dos elementos pré-moldados, consequentemente menor danificação da região de ligação, mesmo para elementos com superfície rugosa. Observou-se que a adição de fibras na argamassa da junta é uma forma de aumentar sua capacidade de deformação sem haver ruptura, mantendo-a íntegra por um maior período de tempo, durante a aplicação das cargas. As fibras atuam como um reforço aos esforços de tração que ocorrem no interior da argamassa, retardando sua fissuração e ruptura, proporcionando um maior desempenho do sistema. a – Modelo com almofada de apoio contendo fibras b – Modelo com almofada de apoio sem fibras Figura 3.3 – Configuração de ruína dos modelos Fonte: BARBOZA (2002) Segundo VAMBERSKY (1990), a resistência à compressão da argamassa da junta é dada pela expressão: f cj = η 0α e f ck ,adj (3.1) 35 onde f ck , adj - a menor resistência do concreto dos elementos adjacentes à junta. η 0 - coeficiente da redução da área, de forma a considerar a área efetiva da junta. α e - coeficiente de eficiência da junta, definido como a relação entre as capacidades de suporte de pilar com junta e de pilar similar sem junta. De acordo com resultados experimentais, o coeficiente de eficiência pode ser calculado com αe = κ 5(1 − κ ) + δ 2 5(1 − κ ) + κδ 2 (3.2) onde δ - a relação entre a altura da parte comprimida da área da junta e a espessura da junta. A altura da parte comprimida coincide com a altura da seção da junta no caso de compressão centrada. Para compressão excêntrica, a altura da parte comprimida é calculada considerando diagrama elástico-linear de tensão até o valor de f mk e plástico-perfeito a partir desse valor. κ - a relação entre a resistência à compressão da argamassa da junta e da menor resistência do concreto dos elementos adjacentes à junta, com a seguinte expressão: κ = ηm f cj (3.3) f ck ,adj sendo η m - coeficiente de redução, que leva em conta a diferença da qualidade da argamassa da obra com a da argamassa feita em condições laboratoriais. Os valores indicados para este coeficiente são 0,75 – se o controle de qualidade do concreto é feito por meio de corpos de prova padronizados, ensaiados após permanecerem em condições controladas de umidade e temperatura. 36 1,0 – se controle for feito por meio de testemunhos extraídos de juntas e curados nas mesmas condições das juntas. Para o coeficiente de redução da área η 0 são indicados os seguintes valores: 0,9 – para argamassa auto-adensável (estado coloidal) 0,7 – para argamassas secas (dry packed mortar) 0,3 – se o elemento é colocado sobre um berço de argamassa As juntas sem argamassa, chamadas juntas secas, podem ser empregadas em determinadas situações, quando a tensão de contato for baixa e houver grande precisão de execução e montagem. A resistência ao cisalhamento que acompanha os esforços de compressão pode ser verificada, de forma simplificada e a favor da segurança, pela teoria de atrito de Coulomb. Neste sentido é indicada para elementos de barra uma tensão admissível, calculada com o coeficiente de segurança de 2,5, dada por 0,3σ c para superfície plana 0,5σ c para superfície rugosa τ m ,adm ≤ (3.4) onde σ c - tensão de compressão na junta Assim também, BRUGGELING & HUYGHE (1991) estabeleceram que a capacidade resistente da ligação entre elementos pré-moldados com junta de argamassa moldada no local, solicitada por compressão axial, é obtida combinando-se a resistência à compressão da argamassa e a resistência à compressão do concreto do elemento prémoldado, de acordo com a seguinte expressão: 2 f cj = f ck ,adj a − 1 − j ( f ck ,adj − f m ) h 10 j (3.5) onde fck,adj - menor resistência à compressão do concreto do elemento prémoldado adjacente à junta; 37 fm – resistência à compressão da argamassa; aj – menor largura da junta; hj – espessura da junta. • se hj < 0,1aj, a resistência da ligação é igual a do concreto adjacente a ela; • se hj > 0,5aj a resistência da ligação é igual a da argamassa. Ainda segundo os autores, devido à deformabilidade diferenciada dos materiais da junta, o detalhamento dos elementos pré-moldados adjacente à junta deve considerar os seguintes efeitos: • A transferência de forças através da ligação acontece em uma situação de bloco parcialmente carregado, ou seja, parte da junta de argamassa definida a partir de uma distância 2hj da borda não contribui para a transferência de cargas através da junta. A área efetiva (Aef) será determinada usando-se a Equação 3.6 e estará submetida a uma carga concentrada cujo valor último é dado pela Equação 3.7. Aef = (a − 4h j )(b − 4h j ) Fu = Aef 0,6 f c Ac / Aef (3.6) (3.7) onde Ac – é a área total da seção transversal; a e b – dimensões da seção transversal da junta. • Uma vez que a rigidez da argamassa na direção transversal é geralmente menor que a do concreto adjacente, aparecerão tensões de tração no elemento prémoldado numa zona ainda próxima da interface, como mostra a Figura 3.4. Apesar de ser bastante complexo calcular o valor dessas tensões, elas devem ser consideradas para evitar a fissuração na região. Esta fissuração deve ser combatida prevendo-se uma armadura na região, com valor dado através da Equação 3.8. As = 0,0015abf y (3.8) 38 onde As – área de aço; a e b – dimensões da seção transversal da junta; fy – tensão de escoamento do aço. y 0,3a σy x σy Figura 3.4 – Distribuição de tensões horizontais na argamassa e no elemento prémoldado para a solicitação axial Fonte: BRUGGELING & HUYGHE (1991) 3.3. Caracterização da argamassa de preenchimento da junta A junta em estudo neste trabalho consiste em uma camada de argamassa de granulometria fina moldada entre dois elementos pré-moldados. É um tipo de ligação que possui aplicações diversas, podendo ser encontrada entre segmentos de pilares, entre painéis em estruturas de parede portante, entre pilar e laje, entre painéis de vigas e ainda em partes comprimidas de ligações submetidas à flexão. Essa camada pode ser executada com: 39 a) argamassa de assentamento – permite corrigir imperfeições existentes na superfície dos elementos e uniformiza a distribuição de tensões; b) argamassa de enchimento seca (dry packed joint) ou fluida – é inserida entre os elementos após a montagem dos mesmos; c) argamassa de enchimento a base de epoxi – é uma mistura de resina epoxi e areia usada quando se deseja alta resistência na camada. Como, em geral, a resistência da argamassa é menor do que a resistência do concreto dos elementos pré-moldados, a capacidade resistente da ligação é considerada menor que a dos elementos pré-moldados. Isto faz com que a capacidade resistente destes elementos não seja completamente utilizada devido à limitação imposta pela camada de argamassa. Por sua vez, a resistência da ligação está ligada com sua capacidade de deformação e conseqüente fissuração (BARBOZA, 2002). Assim, a adição de fibras à argamassa da junta poderá propiciar uma maior deformabilidade e resistência da ligação através da redução do número de fissuras presentes. 3.4. Ferramentas para análise numérica do comportamento de matrizes cimentíceas As análises e projetos das estruturas de concreto têm sido baseados em simples condições de equilíbrio e empirismos por quase um século. Um número de hipóteses simplificadoras tem sido adotado pelos métodos tradicionais de resistência dos materiais e da teoria das estruturas na ordem que os problemas tornam-se tratáveis. A Teoria da Elasticidade assume uma resposta linear dos materiais e tem sido empregada no projeto de elementos estruturais. Embora esse método tenha geralmente resultado em projetos seguros, contém inconsistências inerentes e não refletem o comportamento real. Sob uma carga crescente, os materiais comportam-se de uma maneira cada vez mais inelástica e a estrutura frequentemente sofre uma redistribuição das tensões internas. Assim, durante a plastificação, a teoria linear não é mais válida para estimar a verdadeira distribuição de tensões e assim o fator de segurança torna-se desconhecido. 40 Os projetos de estruturas de concreto requerem não só a satisfação dos critérios de resistência (carga de colapso), mas também a verificação das condições de serviço. Essas últimas condições referem-se ao comportamento das estruturas às cargas de serviço com referência particular às fissuras e deformações. A Teoria Elástica Linear tem sido usada para analisar estruturas em cargas de serviço desde que geralmente assumindo que seus comportamentos não estão longe da linearidade das cargas de serviço (FIGUEIRAS, 1983). Algumas correções são feitas para se obter valores mais verdadeiros, como tomar as deformações como simples múltiplos das deformações elásticas. Entretanto, com o advento dos últimos métodos de cálculo, com auxílio de computadores e materiais de alta resistência, as estruturas passaram a ser mais esbeltas e, consequentemente, mais flexíveis, exigindo que as condições de serviço necessitem de novos métodos de análise. As objeções previamente indicadas para os métodos tradicionais de análise, as novas aplicações de concreto armado, como em usinas nucleares, para as quais os tradicionais métodos de análise são claramente inadequados, e o desenvolvimento de computadores avançados têm proporcionado condições para o surgimento dos novos métodos. Os computadores têm permitido o desenvolvimento de métodos mais gerais de análise que podem predizer as respostas da estrutura durante toda a aplicação da carga. Um desses métodos, o Método dos Elementos Finitos, tem sido constantemente usado na análise de estruturas de concreto armado. O comportamento complexo dos componentes e estruturas de concreto armado, denominados fissuração do concreto, propriedade do material em estado multiaxial de tensões nãolinear e comportamento de interface complexa, antes ignorados ou tratados por métodos muito aproximados, podem ser incorporados mais racionalmente na análise. O Método dos Elementos Finitos representa uma grande ferramenta para pesquisa e para interpretação de resultados experimentais. Respostas estruturais completas e realísticas referentes à carga de colapso podem ser analisadas utilizando esse método, associando todos os aspectos de segurança na análise. Consequentemente, o Método dos Elementos Finitos é também uma ferramenta essencial para ser usada diretamente na análise e projetos de estruturas complexas, 41 como cobertas de grandes dimensões, sistemas de construção com grandes painéis, pontes, torres de vento e usinas nucleares. 3.4.1. Material Concreto Armado Concreto armado é um material constituído de aço para reforço e concreto, tendo esses dois elementos uma grande quantidade de diferentes propriedades. As propriedades mecânicas do aço são geralmente conhecidas. No entanto, as do concreto são mais difíceis para definir, dependendo de condições particulares de mistura, armazenagem, cura, natureza e taxa de carga e condições do ambiente. A armadura é geralmente assumida capaz de transmitir apenas esforços axiais. Uma relação tensão-deformação é suficiente para um uso geral (FIGUEIRAS, 1983). Um modelo elasto-plástico perfeito ou um elasto-plástico com endurecimento para o comportamento do aço é comumente usado. Para o concreto, no entanto, um conhecimento do comportamento tensão-deformação sob estado biaxial e triaxial é normalmente necessário. Estudos experimentais extensos têm sido desenvolvidos para caracterizar as respostas e a resistência última do concreto sob estados multiaxiais de tensões. Está provado ser uma tarefa muito difícil descrever o comportamento complexo do concreto e uma larga variedade de modelos tem sido proposto para caracterizar as relações tensão-deformação e o comportamento de falha do material concreto sob estado multiaxial de tensões. Todos esses modelos têm certas vantagens e desvantagens que dependem de uma larga escala de suas aplicações particulares. Na modelagem das estruturas de concreto armado, não só as relações constitutivas do aço e do concreto devem ser definidas, mas também as relações de aderência entre ambos têm que ser conhecidas. Uma aderência perfeita é normalmente assumida na análise global para reduzir o número de graus de liberdade e evitar as dificuldades inerentes em assumir propriedades de aderência apropriadas. A complexa interação aço-concreto é então simplificada assumindo tal comportamento (aderência perfeita) e as propriedades dos materiais são frequentemente modificadas para simular os efeitos de relaxação e transferência de cisalhamento. 42 Capítulo 4 Análise Numérica 4.1. Introdução O software de elementos finitos ANSYS 7.1® foi usado para modelar todo o sistema em estudo, que consiste em dois blocos de concreto unidos por uma junta de argamassa contendo fibras de polipropileno, submetidos a uma carga de compressão. 4.2. Modelo numérico O modelo numérico é composto de dois corpos prismáticos de concreto armado, com dimensões 10x10x20cm, unidos com uma junta de 2cm de espessura e preenchida pela argamassa reforçada com fibras. Tais dimensões foram adotadas devido a uma limitação na capacidade de carga das prensas disponíveis no laboratório, quando os modelos viessem a ser ensaiados experimentalmente. As restrições aos deslocamentos horizontais foram impostas nas extremidades superior e inferior para simular o efeito do cisalhamento e conseqüente confinamento devido aos pratos da prensa. A dimensão da malha de elementos finitos adotada foi de 1cm x 1cm x 1cm, com nós interligados e ausência de elementos de ligação entre os blocos e a argamassa que simulasse o atrito entre os materiais. A utilização de elementos de ligação tornaria o modelo demasiado complexo, uma vez que modelos constitutivos que simulem o atrito entre o bloco de concreto e a argamassa da junta ainda necessitam ser bastante estudados. A Figura 4.1 mostra o aspecto do modelo adotado. 43 Restrições no plano horizontal Concreto armado Junta com argamassa reforçada com fibras Restrições no plano horizontal e vertical Figura 4.1 – Modelo numérico adotado nas simulações 4.2.1. Modelagem do concreto Algumas teorias e critérios de falha têm sido usados para modelar numericamente a resistência do concreto sob estado de tensões multiaxiais. Essas teorias de falha são formulações analíticas expressas em termos de tensões ou deformações (ou seus invariantes) usadas para definir falha sob estado multiaxial de tensões. Quando o concreto não pode mais suportar um acréscimo de carga, é assumido um ponto de falha. A ruptura do concreto pode ser dividida em dois diferentes tipos: à tração e a compressão. A ruptura por tração do concreto é uma falha caracterizada pela formação de grandes trincas e, como conseqüência, o concreto perde sua resistência (e rigidez) normal ao plano de ruptura. A ruptura por compressão apresenta relativa ductibilidade e é definida pelo surgimento de pequenas e numerosas fissuras com a conseqüente perda de resistência e rigidez e o esmagamento de parte do material. a) Teoria de von Mises O critério de plastificação desenvolvido por von Mises (Figura 4.2) foi postulado em 1913. A Teoria de von Mises afirma que a plastificação ocorre 44 quando o segundo invariante do tensor de tensões deviatórico (Equação 4.1) se iguala ao valor de km2. J2 = [ ] 1 (σ xx − σ yy )2 + (σ yy − σ zz )2 + (σ zz − σ xx )2 + τ xy2 + τ yz2 + τ zx2 = k m 2 (4.1) 6 O valor de km é dado por km = Y (4.2) 3 onde Y representa a tensão de plastificação do material, podendo ser obtida através de um ensaio experimental de tração. σ3 plano deviatórico σ1 = σ2 = σ3 σ2 σ1 Superfície de plastificação Figura 4.2 – Superfície de plastificação definida por von Mises A Teoria de von Mises desenvolvida para materiais dúcteis também tem sido usada para analisar a falha por compressão no concreto. O efeito da tensão principal intermediária σ2 é considerado no cálculo, mas a teoria afirma que a resistência última sob tensão biaxial é igual à resistência última na compressão uniaxial, além de que o critério de von Mises é também independente da pressão hidrostática (superfície cilíndrica no espaço das tensões principais). Tais considerações não são coerentes com o comportamento do concreto, uma vez que sua resistência depende do estado de tensões principais impostas. b) Teoria de Mohr-Coulomb 45 A Teoria de Mohr ou Teoria da Fricção Interna, proposta por Coulomb, é representada pela seguinte equação: τ = c − σ tan φ (4.3) onde φ é o ângulo de atrito interno e c é a resistência ao cisalhamento intrínseco ou coesão. Essa forma linearizada, referida como Teoria de Mohr-Coulomb, é representada no plano hidrostático por linhas retilíneas e o traço no plano deviatórico é um hexágono irregular. Os meridianos retilíneos não correlacionam bem com os resultados experimentais e os cantos ou singularidades causam muitas dificuldades adicionais na análise numérica. Esse critério combinado com a tensão de ruptura à tração do material dá bons resultados para muitos problemas experimentais. c) Teoria de Drucker-Prager A generalização da Teoria de von Mises foi proposta por Druker-Prager inicialmente para solos. A superfície de plastificação é uma função dos dois primeiros invariantes de tensões f = αI 1 + J 2 − k m 2 (4.4) onde α e km são parâmetros do material, I1 é o primeiro invariante do tensor de tensões e J2 é o segundo invariante do tensor de tensões deviatórico. A Teoria de von Mises é recuperada da equação acima assumindo a constante α igual a zero. A Teoria de Druker-Prager também pode ser interpretada como uma generalização da Teoria de Mohr-Coulomb: no espaço de tensões tridimensional a pirâmide hexagonal Mohr-Coulomb é substituído por uma superfície cônica, como mostrada na Figura 4.3. A superfície de falha de Druker-Prager é representada por um círculo no plano deviatórico e os meridianos são linhas retilíneas. Essa teoria combinada com o critério de ruptura à tração oferece uma boa e simples aproximação para representar a falha do concreto sob tração e baixa tensão de compressão. 46 σ3 plano deviatórico σ1 = σ2 = σ3 σ2 σ1 Figura 4.3 – Superfície de plastificação definida por Druker-Prager d) Critério de Falha Triaxial Um critério de falha do concreto dependendo somente dos dois primeiros invariantes de tensões (I1, J2) foi proposto por CHEN (1982). Duas funções diferentes, no entanto similares, são utilizadas para simular a superfície de falha na região de compressão e na região de tração-compressão. O traço dessa superfície de falha no plano deviatórico é um círculo e as meridianas são convexas. A correlação entre esse critério e os dados dos experimentos biaxiais é satisfatória. O critério de CHEN usa três parâmetros de materiais que são: a resistência à tração uniaxial (ft), a resistência à compressão uniaxial (fc) e a resistência à compressão biaxial fcb. Um critério de falha tendo meridianos retos e seções transversais nãocirculares (traços no plano deviatórico) foi sugerido por WILLAM & WARNKE (1975) para concreto submetido à tração e baixo regime de compressão, ilustrado na Figura 4.4. σ3/fc plano deviatórico σ1 = σ2 = σ3 σ2/fc σ1/fc Figura 4.4 – Superfície de plastificação definida por WILLAM & WARNKE (1975) 47 Para considerar a nãolinearidade dos materiais na simulação, considerando o que foi visto na literatura, torna-se necessário adotar critérios de resistência no programa que melhor representem tal fenômeno. Segundo PROENÇA (1988), o comportamento complexo do concreto e a não linearidade decorrente da fissuração dificulta uma simulação numérica que reproduza o desempenho do mesmo ao longo de todo o processo de carregamento. A modelagem através da Teoria da Plasticidade utilizando hipóteses simplificadoras tem sido um bom meio para a simulação, levando a resultados satisfatórios. Segundo CHEN (1982), um conjunto de hipóteses muito usado para modelagem do concreto é o seguinte: a) Ele se torna um material perfeitamente plástico após atingir a capacidade máxima de carga; b) A superfície de ruptura é considerada como sendo a superfície de escoamento do espaço das tensões; c) O vetor incremental de deformações plásticas é considerado normal à superfície de escoamento do estado de tensões corrente. Esta hipótese procura associar a evolução da superfície de escoamento com a história do carregamento. O ANSYS 7.1® dispõe de um tipo de elemento finito denominado SOLID65. Tal elemento tem a capacidade de incorporar taxas de elementos de reforço (no caso armaduras de aço, simulando o concreto armado) dispostos em três direções quaisquer, com propriedades distintas, conforme demonstrado na Figura 4.5 e 4.6. O elemento SOLID65 também tem a capacidade de representar fissuração e esmagamento quando atingida a superfície de ruptura definida para o material. Figura 4.5 – Disposição dos elementos de reforço no elemento SOLID65 Fonte: ANSYS RELEASE 7.1® (2003) 48 Figura 4.6 – Janela de configuração das armaduras presentes no SOLID65 Associado ao elemento SOLID65, três modelos constitutivos e seus respectivos parâmetros foram definidos para simular o comportamento elastoplástico do material: • Linear isotropic – modelo constitutivo elástico, onde são definidos o módulo de elasticidade secante e o coeficiente de Poisson; • Drucker-Prager – modelo constitutivo não linear para o concreto com superfície de plastificação definida por dois parâmetros: ângulo de atrito interno e a coesão; • Concrete – modelo constitutivo não linear para o concreto proposto por WILLAM & WARNKE e adaptado ao ANSYS 7.1®, com superfície de plastificação definida por cinco parâmetros: ft (tensão última de tração), fc (tensão última de compressão), fcb (tensão última de compressão sob regime biaxial), f1 (tensão última de compressão para um estado de compressão biaxial sobre o estado de tensões hidrostáticas) e f2 (tensão 49 última de compressão para um estado de compressão uniaxial sobre o estado de tensões hidrostáticas). O programa possui valores padrões para os parâmetros fcb, f1 e f2 do modelo Concrete, definidos por WILLAM & WARNKE, na falta de ensaios experimentais. São eles f cb = 1,2 f c (4.5) f1 = 1,45 f c (4.6) f 2 = 1,725 f c (4.7) Assim, o ANSYS 7.1® permite definir duas superfícies de plastificação a serem utilizadas no modelo do concreto e da argamassa. 4.2.2. Modelagem das armaduras Conforme a Figura 4.7, a armadura adotada para os blocos de concreto foi composta de quatro barras longitudinais de φ5,0mm e três estribos de bitola φ5,0mm, espaçados entre si de uma distância de 6cm, obtido da NBR6118, item 18.4.3 (ABNT, 2003) através da expressão: 200mm e ≤ menor dimensão da seção 24φ para CA - 25, 12φ para CA - 50 (4.8) 10cm 10cm 20cm 2cm 4φ5mm 6cm 6cm 20cm 3φ5mm c/ 6cm Figura 4.7 – Disposição das armaduras dos blocos pré-moldados 50 Segundo LUNDGREN (1999), o mecanismo de aderência entre o concreto e o aço é resultado de três fenômenos diferentes: adesão química, fricção e engrenamento. Entretanto, o engrenamento pode ser visto como fricção dependendo do nível que este mecanismo é considerado no modelo. Ainda segundo LUNDGREN (1999), a adesão química é perdida logo quando ocorre o escorregamento entre o concreto e o aço. Assim, para manter o equilíbrio, a fricção gera esforços resultantes inclinados. Tais esforços atuam na interface entre os elementos, agindo com maior influência no concreto que envolve a armadura (Figura 4.8). Região de influência Concreto Armadura Concreto Figura 4.8 – Tensões de contato devido à fricção entre concreto e aço e regiões de influência Para simulação das regiões de influência no ANSYS 7.1®, tomam-se os elementos finitos da malha que hipoteticamente estariam envolvendo as armaduras e neles aplicam-se as propriedades de reforço contidas no SOLID65, segundo taxas volumétricas com orientação de direção conforme armadura a ser modelada, como ilustrado nas Figuras 4.9 e 4.10. Blocos de concreto pré-moldado Elementos finitos adotados Figura 4.9 – Elementos finitos da malha que hipoteticamente envolvem as armaduras 51 Elemento finito SOLID65 com taxa volumétrica de armadura aplicada Armadura φ5,0mm Elemento finito SOLID65 1 cm 1 cm simplificando y 1 cm z x Figura 4.10 – Propriedade Rebar do elemento finito SOLID65 O volume de aço contido no elemento finito adotado é calculado por Vs = πφ 2 l 4 (4.9) onde φ - diâmetro da barra l – comprimento da barra O volume do elemento finito é calculado por onde Vef = bph (4.10) b – dimensão da base do elemento p – dimensão da profundidade do elemento h – dimensão da altura do elemento Assim, a taxa volumétrica é dada por taxa = Vs Vef (4.11) Em seguida, é aplicado ao elemento, definindo a orientação necessária (para as barras longitudinais, a direção paralela ao eixo y e para as barras transversais, a direção paralela aos eixos x e z). 52 O modelo constitutivo empregado para a armadura foi o de von Mises, que considera o material com comportamento elasto-plástico perfeito, conforme prescreve a NBR6118, no item 8.3.6 (ABNT, 2003). 4.2.3. Modelagem da argamassa com adição de fibras Para a modelagem da junta, as fibras de polipropileno também podem ser incorporadas no elemento SOLID65 adotado para a argamassa através de taxas volumétricas dispostas em três direções diferentes. Como a tendência das fibras é de se alinharem na horizontal, devido à espessura reduzida da junta, foi desconsiderada a disposição vertical das fibras, para simplificação da análise, e foi suposto apenas a disposição horizontal. Sendo assim, no modelo numérico, considerou-se uma decomposição da resultante da direção das fibras em dois eixos perpendiculares entre si, contidos no plano da junta, cada qual com 50% da taxa total de fibras. Ensaios em laboratório indicaram que, para taxas acima de 3% de fibras de polipropileno em relação ao volume da argamassa, a produção do compósito tornou-se bastante difícil. Entretanto, no modelo numérico, as fibras foram aplicadas à argamassa da junta em taxas que variaram de 0% a 50%, em relação ao volume da argamassa, para avaliação do desempenho do sistema a fim de obter uma estimativa do comportamento da ligação caso fossem utilizados na junta materiais com características de uma argamassa com alto teor de fibras. O modelo constitutivo empregado para as fibras foi o de von Mises, que considera o material com comportamento elasto-plástico perfeito. 4.3. Parâmetros Para cada modelo constitutivo aplicado nas simulações, são necessários diversos parâmetros físicos de entrada. Foi considerada para o concreto uma resistência fc de 35MPa aos 28 dias. Para a argamassa foi adotada uma resistência fm de 25MPa, baseada nos resultados experimentais obtidos de LISBÔA (2004) com argamassa de 53 propriedades autoadensáveis com adição de resíduo de granito. Com isso, chega-se aos valores da Tabela 4.1, que foram adotados na simulação numérica. Tabela 4.1 – Parâmetros de entrada na simulação numérica MODELO CONSTITUTIVO Linear Isotropic Drucker-Prager Concrete PARÂMETRO Módulo de Elasticidade Coeficiente de Poisson Coesão Ângulo de Atrito Resistência Última à Compressão Axial Resistência Última à Tração Axial Resistência Última à Compressão Biaxial Tensão última de compressão para um estado de compressão biaxial sobre o estado de tensões hidrostáticas Tensão última de compressão para um estado de compressão uniaxial sobre o estado de tensões hidrostáticas CONCRETO ARGAMASSA 28161,0 MPa (ABNT, 2003) 0,2 (ABNT, 2003) 5,3 MPa (*) 56,3o (*) 15867,0 MPa (adotado 2/3Ec) 0,25 4,0MPa (*) 54,48o (*) 35 MPa 25 MPa 3,21 MPa (ABNT, 2003) 1,2fc (calculado pelo programa) 2,56 MPa (ABNT, 2003) 1,2fc (calculado pelo programa) 1,45fc (calculado pelo programa) 1,45fc (calculado pelo programa) 1,725fc (calculado pelo programa) 1,725fc (calculado pelo programa) (*) – calculados através das seguintes expressões: c = fc (1−sin(ϕ ) ) 2 cos(ϕ ) fc − ft CHEN (1982 ) fc + ft ϕ = arcsin Cada parâmetro foi devidamente preenchido nas caixas de diálogo do ANSYS 7.1 , conforme Figuras 4.11, 4.12 e 4.13. ® Módulo de elasticidade Coeficiente de Poisson Figura 4.11 – Janela de inserção dos parâmetros do modelo constitutivo Linear Isotropic 54 Figura 4.12 – Janela de inserção dos parâmetros do modelo constitutivo Drucker Prager Coeficiente para fissuras abertas Coeficiente para fissuras fechadas Figura 4.13 – Janela de inserção dos parâmetros do modelo constitutivo Concrete O modelo Concrete ainda considera os parâmetros βt e βc que são coeficientes de minoração da capacidade de transmissão de esforços de cisalhamento em planos de falha criados na direção normal à direção das fissuras (Figura 4.14). Nas simulações deste trabalho foi utilizado o valor de 0,3 para o coeficiente de fissuras abertas e 0,8 para o coeficiente de fissuras fechadas, sugeridos por PADMARAJAIAH & RAMASWAMY (2002). 55 Figura 4.14 – Plano de falha criado na direção normal à direção da fissura Para as armaduras internas dos corpos de prova, foram adotados os parâmetros físicos do aço CA-50A, produzido para elementos em concreto armado, com valores contidos na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Propriedades físicas do aço CA-50A adotadas no modelo numérico Módulo de Elasticidade Longitudinal 210000 MPa Coeficiente de Poisson 0,3 Resistência à tração 500 MPa Módulo de Elasticidade Transversal 78850 MPa Para as fibras de polipropileno, foram utilizados parâmetros físicos fornecidos pelo fabricante, conforme a Tabela 4.3. Tabela 4.3 – Propriedades físicas das fibras de polipropileno adotadas no modelo numérico Módulo de Elasticidade Longitudinal 4000 MPa Coeficiente de Poisson 0,3 Resistência à tração 450 MPa Módulo de Elasticidade Transversal 1538,5 MPa Fonte: FITESA (2002) Para cada teor de fibra analisado, foi aplicada ao modelo uma tensão uniaxial de compressão uniformemente distribuída de 16 MPa, na superfície superior do mesmo, dividida em 50 passos de carga, a fim de se obter o comportamento do modelo no início da plastificação para os diferentes teores de fibra. Em seguida, aplicou-se uma tensão de 56 30MPa, também dividida em 50 passos de carga, atingindo a ruptura do modelo e analisando o desempenho do mesmo. Foi adotado na análise o incremento de carga, pelo fato do modelo ser ensaiado em laboratório para validação dos seus resultados. 4.4. Avaliação de superfícies de plastificação BARBOZA (2002) utilizou, nas simulações feitas no ANSYS 5.5.1®, as duas superfícies de plastificação, Drucker-Prager e Concrete (WILLAM & WARNKE, 1975) em conjunto, procurando com isto simular tanto o comportamento à compressão quanto o comportamento à tração, ocasionando fissuração e esmagamento. Partindo desse princípio, diversas simulações, sem adição de fibras, foram realizadas para se obter o melhor comportamento para o modelo deste trabalho. Utilizou-se isoladamente a superfície de Drucker-Prager, Concrete (WILLAM & WARNKE, 1975) e ambas associadas (Concrete + Drucker-Prager). O modelo tornou-se bastante resistente e com ausência de fissuras com o emprego de Drucker-Prager (Figura 4.15, Figura 4.16 e Figura 4.17-a). A carga de ruína atingiu 39,4MPa (Figura 4.19), muito acima dos valores analíticos propostos por VAMBERSKY (1990) e BRUGGELING & HUYGHE (1991) (Figura 4.19). Tal comportamento deve-se ao fato da superfície responder bem a esforços de compressão, entretanto não obtém o mesmo desempenho a esforços de tração, pois é definida somente por dois parâmetros: coesão e ângulo de atrito (modelo elastoplástico perfeito). No ANSYS 7.1®, este modelo constitutivo também não é capaz de fornecer ao elemento finito a capacidade de fissuração e esmagamento, fazendo com que todos os elementos permaneçam com sua capacidade portante durante todos os passos de carga, o que não se aplica experimentalmente, pois as fissuras ocasionam o enfraquecimento dos elementos. O modelo constitutivo Concrete obteve um comportamento semelhante ao Concrete + Drucker-Prager. Este último apresentou ductibilidade superior ao primeiro (Figuras 4.15 e 4.16). A carga de ruína atingiu 20,7MPa e 21,6MPa, respectivamente, para as duas situações (Figura 4.17). Entretanto, o modelo Concrete precisou de 235 iterações para atingir a convergência da solução, contra 199 do Concrete + Drucker- 57 Prager, havendo assim um acréscimo no tempo de processamento de 18%. O início das fissurações ocorreu com 84% da carga de ruína para ambos os modelos e atingiram 5cm de altura (50% da menor dimensão horizontal da junta) com relação à face de contato bloco/argamassa (Figura 4.17-b e Figura 4.17-c). BRUGGELING & HUYGHE (1991) propuseram que os valores de esforços de tração neutralizam-se a uma altura 30% da menor dimensão horizontal da junta, com seu valor máximo na interface (para argamassa sem fibras). Gráfico comparativo entre os modelos constitutivos (taxa 0%) 45,0 40,0 TENSÃO (MPa) 35,0 30,0 25,0 20,0 CONCRETE 15,0 DRUCKER-PRAGER 10,0 CONCRETE+DRUCKERPRAGER 5,0 0,0 -0,1 -0,3 -0,5 -0,7 -0,9 -1,1 Deslocamento vertical (mm ) DESLOCAMENTO VERTICAL (mm) Figura 4.15 – Gráfico tensão vs. deformação das superfícies de plastificação (taxa 0%) Deslocamento vertical máximo por critério de plastificação DESLOCAMENTO (mm) -1,20000 -1,00000 -0,98997 -0,80000 -0,60000 -0,40000 -0,31159 -0,34831 -0,20000 0,00000 Drucker-Prager Concrete Concrete + Drucker-Prager Figura 4.16 – Gráfico comparativo do deslocamento vertical máximo atingido 58 5cm a – Drucker-Prager 5cm c – Concrete + Drucker-Prager b – Concrete Figura 4.17 – Fissuração lateral (16MPa) -4,0 -3,42 -2,84 -2,26 -1,68 -1,11 -0,53 0,044 0,62 1,20 MPa a – DruckerPrager b - Concrete c – Concrete + Drucker-Prager Figura 4.18 – Tensões horizontais para tensão aplicada de 16MPa 59 Carga de ruína dos diversos modelos 45 39,4 40 33,2 35 Tensão (MPa) 30 25 21,8 21,6 20,7 20 15 10 5 0 VAMBERSKY (1990) BRUGGELING e HUYGHE (1991) CONCRETE DRUCKER-PRAGER CONCRETE+DRUCKER PRAGER Figura 4.19 – Gráfico comparativo da carga de ruína dos diversos modelos O modelo Concrete + Drucker-Prager apresentou tensão de ruptura muito semelhante ao proposto por VAMBERSKY. Segundo ANSYS RELEASE 7.1® (2003), quando o modelo constitutivo Drucker-Prager é associado ao Concrete, a plastificação é feita através do primeiro antes da verificação de esmagamento e fissuração através do segundo. Assim sendo, o modelo numérico consegue assumir o comportamento de concreto fissurado. As análises numéricas com a adição de fibras à argamassa da junta, descritas posteriormente, foram realizadas com a associação dos dois critérios, justificados através dos resultados obtidos e o menor custo computacional na análise. 4.5. Análise numérica com o emprego de fibras de polipropileno à argamassa da junta Com o emprego de fibras de polipropileno na junta, espera-se que a mesma adquira maior capacidade de deformação acompanhada de menores fissurações. Com isto, a ligação poderá atingir melhor desempenho na absorção de esforços e conseqüente ganho na resistência do conjunto. 60 Foram adicionadas diferentes taxas de fibras de polipropileno à argamassa da junta com o objetivo de avaliar o desempenho da ligação à distribuição de tensões, deformações e fissurações, tensão de ruptura, pontos de esmagamento e variação de deformabilidade do conjunto. A Tabela 4.4 contém os valores de entrada das taxas de fibras utilizadas nas direções x e z (plano da junta). Tabela 4.4 – Taxas de fibras utilizadas nas análises numéricas Taxa (%) Direção x Direção z 0 0 0 1 0,005 0,005 2 0,01 0,01 3 0,015 0,015 4 0,02 0,02 5 0,025 0,025 10 0,05 0,05 15 0,075 0,075 20 0,1 0,1 50 (extrapolação) 0,25 0,25 As Figuras 4.20 e 4.21 mostram a variação de comportamento e intensidade das tensões e deformações horizontais para uma tensão de compressão axial aplicada de 16MPa com o acréscimo gradativo da taxa de fibras. Como observado, a adição de fibras resultou na redução e dissipação das tensões horizontais de tração que agem na interface bloco/junta, fazendo com que as mesmas fossem para o interior do elemento pré-moldado. Tal fato ocorreu com maior intensidade a partir da taxa de 3%. Logo após, os modelos mantiveram um comportamento estável e voltaram a sua distribuição inicial quando se atingiu a taxa de 10%. As tensões horizontais de compressão que agiam na argamassa também obtiveram o mesmo comportamento. A partir da taxa de 10%, as tensões horizontais de tração na interface voltaram a diminuir e a se uniformizar. Entretanto as tensões horizontais de compressão na argamassa da junta obtiveram um acréscimo considerável. Tal fenômeno pode ser explicado pelo estado de confinamento que as fibras promovem à ligação, diminuindo sua rigidez e aumentando sua resistência, mantendo-a íntegra e capaz de absorver os esforços atuantes na ligação, aliviando as tensões nos blocos adjacentes, até uma “taxa limite”, a partir da qual a grande quantidade de fibras 61 reduz consideravelmente o módulo de elasticidade e a capacidade de tensão vertical da argamassa da junta, entretanto aumenta o confinamento horizontal da mesma, fazendo com quem absorva mais esforços de compressão. As deformações horizontais seguiram o mesmo comportamento das tensões. A partir da taxa de 3% houve uma mudança de comportamento, com relação ao modelo padrão inicial. Entre 3% e 10%, a estabilização e o retorno à configuração original. A partir de 10%, bloco e junta adquiriram grande deformações e conseqüentes fissurações (Figura 4.22). 62 1,8 1,15 50% 0,51 20% -0,13 15% -0,77 10% -1,42 5% -2,06 4% -2,71 3% -3,35 2% -4,0 1% MPa 0% y x Figura 4.20 – Comportamento das tensões horizontais σx (tensão aplicada de 16MPa) 63 0% 1% 2% 3% 4% 5% 10% 15% 20% 50% 2,71E-4 2,40E-4 2,09E-4 1,78E-4 1,47E-4 1,16E-4 8,48E-5 5,38E-5 2,28E-5 -8,27E-6 y Figura 4.21 – Comportamento das deformações horizontais totais εx (tensão aplicada de 16MPa) x 64 0% 1% 5% 10% 2% 3% 4% 15% 20% 50% Figura 4.22 – Fissurações dos modelos (tensão aplicada de 16MPa) 65 Para uma taxa de 20%, houve o esmagamento da junta (Figuras 4.22 e 4.23) e grande número de fissurações (taxas 20% e 50%), mesmo com reduzida tensão de amostragem (16MPa), comprovando a perda de capacidade portante do conjunto. Esmagamento Legenda: - Esmagamento - Fissuras Figura 4.23 – Esmagamento localizado da argamassa da junta para uma taxa de 20% de fibras de polipropileno As Figuras 4.24, 4.25, 4.26 e 4.27 mostram o aspecto quantitativo das deformações verticais e horizontais máximas com a variação da taxa de fibras na junta para uma tensão aplicada de 16MPa. DEFORMAÇÃO VERTICAL PELA ALTURA -2,50E-03 Região da junta DEFORMAÇÃO (cm/cm) -2,00E-03 0% 1% -1,50E-03 2% 3% -1,00E-03 4% 5% -5,00E-04 10% 15% 0,00E+00 18 20 22 24 ALTURA (cm) Figura 4.24 – Deformação vertical ao longo da altura do modelo (valores tomados no eixo central vertical) 20% 50% 66 DEFORMAÇÃO VERTICAL POR TAXA DE FIBRA DEFORMAÇÃO (cm/cm) -0,0025 -2,06E-03 -0,0020 -0,0015 -0,0010 -9,68E-04 -9,77E-04 -9,87E-04 -9,97E-04 -1,02E-03 -1,03E-03 -1,07E-03 0% 1% 2% 3% 4% 5% 10% -1,20E-03 -1,26E-03 15% 20% -0,0005 0,0000 50% TAXA Figura 4.25 – Deformação vertical atingida para tensão aplicada de 16MPa DESLOCAMENTO HORIZONTAL PELA ALTURA DESLOCAMENTO (cm) 0,002 Região da junta 0% 0,0015 1% 2% 3% 0,001 4% 5% 0,0005 10% 15% 20% 0 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 50% ALTURA (cm) Figura 4.26 – Deslocamento horizontal ao longo da altura do modelo (valores tomados no eixo vertical, ao longo da face) DEFORMAÇÃO HORIZONTAL POR TAXA DE FIBRA DEFORMAÇÃO (cm/cm) 0,00050 4,60E-04 0,00045 0,00040 0,00035 0,00030 2,70E-04 2,74E-04 2,75E-04 2,83E-04 0% 1% 2% 3% 3,00E-04 3,02E-04 2,99E-04 4% 5% 10% 2,87E-04 3,12E-04 0,00025 0,00020 0,00015 0,00010 0,00005 0,00000 15% 20% TAXA Figura 4.27 – Deformação horizontal atingida para tensão de 16MPa 50% 67 A Tabela 4.5 faz um comparativo da variação das deformações no modelo numérico para as taxas de fibras empregadas. Tabela 4.5 – Evolução das deformações verticais e horizontais máximas (tensão aplicada de 16MPa) Variação das Variação das Deformação Deformação Taxa (%) deformações deformações horizontal vertical horizontais (%) verticais (%) 0 0,00027025 0 -0,00096809 0 1 0,00027437 +1,52 -0,00097734 +0,96 2 0,00027501 +1,76 -0,00098721 +1,98 3 0,00028302 +4,73 -0,00099675 +2,96 4 0,00029977 +10,92 -0,001023 +5,67 5 0,00030205 +11,77 -0,00103 +6,40 10 0,00029868 +10,52 -0,0010707 +10,60 15 0,00028725 +6,29 -0,0011988 +23,83 20 0,00031208 +15,48 -0,0012614 +30,30 50 0,0004604 +70,36 -0,0020595 +112,74 Como observado, para taxas de fibras até 5%, a capacidade de deformação vertical apresentou poucas variações. A partir da taxa de 10%, o modelo adquire maiores deformações devido ao enfraquecimento da junta como conseqüência do alto teor de fibras empregado. As deformações horizontais aumentam até uma taxa em torno de 4% e 5%, sofrem uma queda e voltam a crescer a partir de 15%. Em seguida, foi aplicada ao modelo numérico uma tensão de 30MPa dividida em 50 passos e estudou-se seu comportamento até atingir a ruptura. As análises foram feitas para taxas de fibras variando de 0% a 50% (Figura 4.28). 68 Gráfico tensão x deslocamento para diferentes taxas de fibra de polipropileno 24,00 TENSÃO (MPa) 22,00 0% 20,00 1% 18,00 2% 16,00 3% 4% 14,00 5% 12,00 10% 10,00 15% 20% 8,00 -0,1500 -0,2000 -0,2500 -0,3000 -0,3500 50% -0,4000 DESLOCAMENTO VERTICAL (mm) Figura 4.28 – Gráfico tensão vs. deslocamento do modelo numérico (tensão aplicada de 30MPa) Tensão de compressão x taxa de fibras TENSÃO (MPa) 25,00 20,00 15,00 10,00 5,00 0,00 0% 1% 2% 3% 4% 5% 10% 15% 20% 50% 21,59 22,04 22,02 21,51 22,60 21,39 21,52 21,51 21,33 16,69 RUPTURA 21,59 20,83 20,83 21,51 22,09 21,27 21,52 21,25 20,71 15,79 MÁXIMA Figura 4.29 – Tensão de compressão vs. taxa de fibras (tensão aplicada de 30MPa) Deslocamento vertical na ruptura DESLOCAMENTO (mm) 0,45 0,4 0,35 0,348313 0,358533 0,381103 0,349251 0,35968 0,338782 0,351376 0,354353 0,346919 0,288777 0,3 0,25 0,2 0,15 0,1 0,05 0 0% 1% 2% 3% 4% 5% 10% 15% 20% TAXA Figura 4.30 – Deslocamento vertical na ruptura (tensão aplicada de 30MPa) 50% 69 De acordo com os gráficos das Figuras 4.28 e 4.29, a variação do teor de fibras de 1% a 4% gerou um acréscimo médio na capacidade de tensão de 2,01% (tensão máxima), com maior valor na taxa de 4% (acréscimo de 4,67%). Entre 5% e 10% não houve acréscimo na capacidade de tensão. A partir de 15%, devido ao alto teor de fibras e enfraquecimento da ligação, houve um decréscimo significativo da capacidade de carga e tenacidade do modelo até a taxa de 50%. A capacidade de deformação vertical no momento da ruptura obteve acréscimo até a taxa de 2% de fibras (ganho de 9,41%). A partir desta taxa, o modelo não adquiriu valores significativos, vindo a decrescer a partir da taxa de 15%. Com os dados do ramo ascendente das curvas de tensão-deformação, para as diversas taxas de fibras, obtém-se equações de interpolação através de polinômios de primeiro grau, utilizando-se o software EXCEL 2003®. Calcula-se a primeira derivada dos polinômios na origem (cálculo do módulo de elasticidade equivalente) e faz-se a integração dos mesmos a fim de determinar a tenacidade de cada simulação. As equações obtidas encontram-se no Apêndice A deste trabalho. Nas Figura 4.31 e 4.32 tem-se a variação do módulo de elasticidade equivalente e da energia de deformação. MÓD. DE ELASTICIDADE (MPa) Variação do módulo de elasticidade 28000 27500 27000 26500 26000 25500 25000 24500 0% 1% 2% 3% 4% 5% 10% 15% 20% 50% Módulo de elasticidade 27824 27765 27726 27759 27690 27643 27564 27438 27167 25735 TAXA Figura 4.31 – Variação do módulo de elasticidade equivalente do modelo para diferentes taxas de fibras 70 Tenacidade TENACIDADE (KJ/m3) 0,01200 0,01000 0,00800 0,00600 0,00400 0,00200 0,00000 0% 1% 2% 3% 4% 5% 10% 15% 20% 50% Tenacidade 0,00960 0,01020 0,01140 0,00960 0,01020 0,00900 0,00970 0,00980 0,00930 0,00610 TAXA Figura 4.32 – Tenacidade dos modelos De acordo com os gráficos anteriores, o modelo manteve sua rigidez constante, com baixa variação do módulo de elasticidade, até a taxa de 4%. A partir de 5%, o sistema obteve uma queda gradativa de rigidez. Por sua vez, a tenacidade só obteve ganho significativo até a taxa de 3%. A partir desta taxa, apresentou valores oscilantes, vindo a decrescer após os 15% de fibras. A Tabela 4.6 apresenta um comparativo entre os módulos de elasticidade dos elementos constituintes do sistema (definidos nos parâmetros de entrada) e o módulo de elasticidade equivalente obtido. Tabela 4.6 – Comparativo entre os módulos de elasticidade Taxa (%) Ebloco (MPa) Eargamassa (MPa) Ebloco+arg (MPa) Variação (%) 0 28161 15867 27824 0 1 28161 15867 27765 -0,21 2 28161 15867 27726 -0,35 3 28161 15867 27759 -0,23 4 28161 15867 27690 -0,48 5 28161 15867 27643 -0,65 10 28161 15867 27564 -0,93 15 28161 15867 27438 -1,38 20 28161 15867 27167 -2,36 50 28161 15867 25735 -7,50 71 Para dar continuidade ao estudo da ligação foi desenvolvido um programa experimental em laboratório com o objetivo de validar o comportamento real do modelo numérico, bem como avaliar dificuldades inerentes na produção da argamassa e dos elementos constituintes do sistema. 72 Capítulo 5 Programa Experimental 5.1. Introdução No Núcleo de Pesquisas Tecnológicas da Universidade Federal de Alagoas foi desenvolvido um modelo experimental para o modelo numérico proposto nesta dissertação, com o objetivo de obter valores de tensões e deformações para diferentes taxas de fibras aplicadas, observando a configuração final das fissuras e a ruptura do modelo. Buscou-se também com o programa experimental obter recomendações práticas na dosagem das fibras de polipropileno na argamassa de assentamento dos elementos pré-moldados. Foram ensaiados três modelos, com diferentes taxas de fibras, avaliando parâmetros como trabalhabilidade, resistência, deformações,fissurações e modo de ruptura. 5.2. Materiais 5.2.1. Concreto O concreto empregado na confecção dos blocos pré-moldados foi dosado de modo a se obter uma resistência característica fck igual a 30MPa, considerando as proporções mostradas na Tabela 5.1. A resistência prevista foi posteriormente validada através de ensaios de ruptura a compressão uniaxial, cujos resultados foram obtidos utilizando-se corpos de prova cilíndricos 10cm x 20cm e encontra-se na Tabela 5.2. 73 Tabela 5.1 – Traço do concreto de 30MPa Material Massa (kg / m3) Cimento CP32-Z 406,8 Areia (peneira 1,2) 778,7 Brita 0 1083,0 Água 171,0 a/c 0,42 Tabela 5.2 – Resistência à compressão uniaxial dos corpos de prova moldados com o concreto utilizado na pesquisa Idade Tensão (dias) (MPa) 10 x 20 20 36,5 cônica e bipartida 02 10 x 20 20 27,1 * cônica e cisalhada 03 10 x 20 20 36,4 cônica e bipartida 04 10 x 20 20 41,1 cônica 05 10 x 20 20 20,5 * colunar 06 10 x 20 20 48,9 cônica CP Dimensões (cm x cm) 01 Tipo de ruptura Resistência Média 35,08 MPa Resistência Característica aos 20 dias (fckj) 31,07 MPa (*) = não considerado no cálculo da resistência característica 5.2.2. Argamassa De acordo com o levantamento bibliográfico, a utilização de fibras em matrizes cimentíceas reduz a sua trabalhabilidade. Para a comprovação do fato foi realizado ensaio experimental no NPT onde se observou uma queda significativa do slump com a adição de fibras de polipropileno. Para o concreto de referência, adotou-se um com resistência característica de 15MPa, produzido de acordo com a Tabela 5.3, no qual foi adicionado posteriormente fibras de polipropileno. 74 Tabela 5.3 – Traço de concreto de 15MPa Material Massa (kg) / m3 Cimento CP32-Z 316,9 Areia (peneira 1,2) 835,0 Brita 0 1047,4 Água 221,8 a/c 0,70 Foi adotado um alto fator a/c com o objetivo de obter um concreto de slump elevado e posteriormente avaliar a queda de trabalhabilidade. Assim, para o traço inicial, o slump foi igual a 18 cm, como observado na Figura 5.1. Figura 5.1 – Slump de 18 cm para o concreto simples Em seguida, foram adicionadas fibras de polipropileno na proporção de 0,85% da massa de cimento. O slump obtido foi de 3 cm (Figura 5.2), gerando uma redução de trabalhabilidade de 83%. Figura 5.2 – Slump de 3 cm para o concreto com adição fibras de polipropileno 75 Assim sendo, com uma redução significativa de trabalhabilidade, tornou-se necessária a utilização de uma argamassa de consistência fluida, entretanto que mantivesse suas características de resistência à compressão para a execução da junta. Adotou-se para este trabalho uma argamassa de cimento e areia de consistência fluida desenvolvida por LISBÔA (2004) com a adição de resíduos oriundos do beneficiamento de mármore e granito e aplicação de superplastificante. A Tabela 5.4 mostra o traço utilizado. Tabela 5.4 – Traço da argamassa fluida para uma massa de cimento de 800g. Material Massa Específica (g/cm3) Massa aplicada (g) Cimento CP32-Z 3,150 800,0 Areia (Peneira 1,2) 2,611 1600,0 Resíduo de granito (RBMG) 2,812 400,0 1,000 329,6 1,087 6,67 1,000 75,33 Água inicial a/c=0,40 (água de absorção da areia = 0,60%) Superplastificante emulsão (Glênio 51) Água a ser aplicada junto com o superplastificante a/c=0,10 LISBÔA (2004), em seu trabalho, realizou diversos ensaios com esta argamassa (Figura 5.3) objetivando comprovar sua fluidez e aplicabilidade como argamassa autoadensável, obtendo bons resultados. Figura 5.3 – Aspecto da argamassa fluida 76 A argamassa produzida alcançou uma resistência à compressão de 28MPa, aos 28 dias, conforme ensaio representado pela Figura 5.4. Tensão x deformação da argamassa 35 30 Tensão (MPa) 25 20 0% de fibras 15 10 5 0 0,006 0,007 0,008 0,009 0,01 0,011 0,012 0,013 Deformação Figura 5.4 – Gráfico tensão vs. deformação da argamassa adotada no ensaio experimental Como esperado, a adição de 1% e 2% de fibras de polipropileno resultou na redução da trabalhabilidade da argamassa, adquirindo um aspecto seco e sem fluidez (Figura 5.5). 1% 2% Figura 5.5 – Aspecto da argamassa com a adição de fibras de polipropileno 5.2.3. Armadura A armadura dos blocos (Figura 5.6) foi produzida com aço para concreto armado (aço CA-60) simulando uma peça em concreto pré-moldado. A armadura longitudinal é composta de quatro barras de 5 mm de diâmetro e a armadura transversal de estribos de 5 mm de diâmetro com espaçamento de 6 cm, conforme o modelo numérico. 77 Figura 5.6 – Armadura adotada no modelo experimental 5.2.4. Fibra de polipropileno A fibra adotada no modelo experimental foi a de polipropileno multifilamentos (Figura 5.7), com características geométricas e físicas descritas na Tabela 5.5. Figura 5.7 – Fibra de polipropileno adotada no modelo experimental 78 Tabela 5.5 – Propriedades geométricas e físicas das fibras de polipropileno adotadas no modelo experimental Comprimento 10 mm Diâmetro 18 µm Módulo de Elasticidade Longitudinal 4000,0 MPa Coeficiente de Poisson 0,3 Resistência à tração 450,0 MPa Módulo de Elasticidade Transversal 1538,5 MPa Fonte: FITESA (2002) As características geométricas e físicas encontradas na fibras de polipropileno utilizadas no programa experimental são semelhantes às encontradas no mercado. A Tabela 5.6 faz um comparativo entre as fibras. Tabela 5.6 – Comparativo entre fibras de polipropileno Fibra FITESA Multifilamentos ® Crackstop® Fiberlock® Masterfiber® 20µm Diâmetro 18µm 18µm 20µm Comprimento 10mm 12mm 10mm Densidade 0,91g/cm3 0,91g/cm3 0,90g/cm3 0,90g/cm3 4000MPa 3000MPa - - 450MPa 300MPa 810MPa 810MPa 80% 80% 28% 28% Módulo de elasticidade Resistência à tração Deformação na ruptura (*) – fibras utilizadas para argamassa e micro-concreto (**) – fibras utilizadas para concreto 10mm (*) 20mm (**) 79 5.3. Construção do modelo experimental Os blocos foram moldados com formas de madeira, com dimensões internas de 10cm x 10cm x 20cm, devidamente revestidas com material desmoldante. O cobrimento de 2cm da armadura foi garantido através de espaçadores de argamassa (Figura 5.8). Figura 5.8 – Moldagem e armação dos blocos do modelo experimental Após a aplicação do concreto na forma, utilizando uma colher de pedreiro convencional, vibraram-se os corpos prismáticos com auxílio de uma mesa vibratória, durante um período de 1 minuto, a fim de se evitar o processo de exudação do concreto. Com 24 horas de moldado, os corpos prismáticos foram desmoldados e postos no tanque de cura, onde permaneceram por um período de 28 dias. Concluído o tempo de cura, realizou-se a construção do modelo experimental. Os blocos prismáticos foram dispostos na horizontal, fixados através de suportes de madeira, e a junta, com espessura de 2 cm, foi preenchida com a argamassa, com teores que variaram de 0% a 2% de fibras de polipropileno e devidamente nivelada (Figura 5.9 e 5.10). 80 Figura 5.9 – Moldagem da junta com argamassa com adição de fibras de polipropileno Figura 5.10 – Modelo experimental 5.4. Instrumentação A instrumentação do modelo foi realizada com auxílio de extensômetros (Strain Gages) do tipo KFG-10. Com base na bibliografia pesquisada e nos resultados obtidos dos modelos numéricos, os extensômetros foram posicionados próximos à junta nos blocos pré-moldados, devido ao fato de se tratar de uma região de contato e sujeita às maiores tensões de tração devido à diferença de rigidez entre os elementos (Figura 5.11). 81 Bloco superior Extensômetros KFG-10 2 cm Bloco inferior Eixo central Junta Figura 5.11 – Strain Gages do tipo KFG-10 posicionados próximos à junta 5.5. Ensaio e resultados Os modelos foram submetidos a uma tensão uniaxial de compressão, aplicada através de uma prensa hidráulica, com capacidade para 50 toneladas, até se atingir a ruptura (Figura 5.12 e 5.13). Os dados dos extensômetros foram coletados através do sistema de aquisição de dados VISHAY SYSTEM 5000 para passos de tensão com variação de 500 kgf. Figura 5.12 – Prensa hidráulica utilizada no ensaio com capacidade para 50 toneladas Figura 5.13 – Posicionamento do modelo experimental 82 Foram ensaiados os modelos contendo 0%, 1% e 2% de fibras de polipropileno na argamassa da junta, denominados ME0, ME1 e ME2, respectivamente. A ruptura do modelo ME0 ocorreu com uma tensão de 265KN. As primeiras fissuras visíveis começaram a surgir no bloco superior, próximo a região da junta, com uma tensão aplicada de 220KN, ou seja, em torno de 83% da tensão última (Figura 5.14), havendo também um descolamento da camada mais externa da argamassa (Figura 5.15). Fissura 2,8 cm Figura 5.14 – Surgimento da primeira fissura visível do modelo ME0 (83% da tensão última) Descolamento da camada externa Figura 5.15 – Ruptura do modelo ME0 (presença de descolamento da camada externa da argamassa) 83 A Tabela 5.7 contém uma comparação entre as resistências da argamassa da junta, sem adição de fibras, propostas por VAMBERSKY (1990) (através da equação 3.1), BRUGGELING & HUYGHE (1991) (através da equação 3.5) e o resultado obtido no modelo experimental ME0. Tabela 5.7 – Comparativo entre os modelos propostos e o resultado obtido no modelo experimental (0% de fibras) Modelo experimental Tensão de ruptura (MPa) ME0 26,5 VAMBERSKY (1990) 21,8 BRUGGELING & HUYGHE (1991) 33,2 Ainda segundo BRUGGELING & HUYGHE, as tensões de tração oriundas da diferença entre os módulos de elasticidade dos materiais envolvidos propagam-se, com maior intensidade, a uma distância equivalente a 30% do menor lado da junta, medida a partir da ligação bloco/junta (argamassa sem adição de fibras). Esta distância, para o modelo experimental em questão, equivale a 3,0 cm. A distância da primeira fissura do modelo ME0 (2,8 cm) mostrou-se muito próximo ao valor proposto. A ruptura do modelo ME1 ocorreu com uma tensão de 310KN. As primeiras fissuras visíveis começaram a surgir no centro do bloco superior, com uma tensão aplicada 280KN, em torno de 90% da tensão última (Figura 5.16). No entanto, não houve o descolamento da camada mais externa da argamassa (Figura 5.17). Fissura 9 cm Figura 5.16 – Surgimento da primeira fissura visível do modelo ME1 (90% da tensão última) 84 Figura 5.17 – Ruptura do modelo ME1 (sem presença de descolamento da camada externa da argamassa) A ruptura do modelo ME2 ocorreu com uma tensão de 365KN. As primeiras fissuras visíveis começaram a surgir um pouco acima do centro do bloco superior, com uma tensão aplicada 340KN, em torno de 93% da tensão última (Figura 5.18). Assim como no modelo ME1, não houve o descolamento da camada mais externa da argamassa (Figura 5.19). Fissura 12 cm Figura 5.18 – Surgimento da primeira fissura do modelo ME2 (93% da carga última) 85 Figura 5.19 – Ruptura do modelo ME2 (sem presença de descolamento da camada externa da argamassa) Através dos dados coletados pelos extensômetros, constatou-se um acréscimo significativo da tenacidade da região próximo à junta (Figura 5.20). O aumento do teor de fibras ocasionou também uma uniformização das deformações horizontais, bem como um maior confinamento da região bloco/junta, fazendo com que houvesse baixas deformações antes da ruptura do modelo (Figura 5.21). 40 ME2 35 ME1 TENSÃO(MPa) 30 ME0 25 0% de fibras 1% de fibras 20 2% de fibras 15 10 5 0 0 -0,0002 -0,0004 -0,0006 -0,0008 -0,001 -0,0012 -0,0014 DEFORMAÇÃO Figura 5.20 – Gráfico tensão vs. deformação dos extensômetros verticais 86 40 ME2 35 ME1 TENSÃO(MPa) 30 ME0 25 0% de fibras 20 1% de fibras 15 2% de fibras 10 5 0 0 0,00005 0,0001 0,00015 0,0002 0,00025 0,0003 0,00035 0,0004 0,00045 DEFORMAÇÃO Figura 5.21 – Gráfico tensão vs. deformação dos extensômetros horizontais Para todos os modelos experimentais, houve apenas o escoamento da armadura longitudinal. O fato deve-se às grandes tensões verticais de compressão muito superiores às tensões horizontais de tração desenvolvidas durante o processo de ruptura. 5.6. Análise dos resultados Após os ensaios experimentais realizados, os resultados foram comparados com os obtidos na análise numérica, a fim de validar o modelo numérico adotado. Foram estudados tensão de ruptura, deformações horizontais e verticais (na região da instrumentação) e fissuração. 5.6.1. Tensão de ruptura De acordo com o gráfico da Figura 5.22, observam-se que o modelo experimental adquiriu capacidade de carga com o acréscimo de fibras (17% para a taxa de 1% de fibras e 37,73% para a taxa de 2% de fibras). Entretanto o modelo numérico alcançou um pequeno acréscimo na capacidade de carga para ambos os teores de fibras (2,1%). O ocorrido deve-se, provavelmente, ao enfraquecimento do modelo numérico devido ao grande número de fissuras presentes, o que ocasionou a ruptura prematura do mesmo. 87 COMPARATIVO DO CARREGAMENTO MÁXIMO 40,00 36,50 35,00 31,00 TENSÃO (MPa) 30,00 25,00 26,50 21,59 22,02 22,04 NUMÉRICO 20,00 EXPERIMENTAL 15,00 10,00 5,00 0,00 0% 1% 2% TAXA Figura 5.22 – Comparativo da tensão última numérica e experimental 5.6.2. Deformações horizontais e verticais na região de instrumentação As curvas de tensão vs. deformação vertical e horizontal do modelo numérico apresentaram poucas alterações com o incremento da taxa de fibras. Somente houve um acréscimo da capacidade de deformação antes da ruptura, havendo um ganho na tenacidade e mantendo a rigidez praticamente constante. No modelo experimental houve um ganho de rigidez e tenacidade (Figuras 5.23 e 5.24) Gráfico tensão x deformação vertical no ponto de análise 35 TENSÃO (MPa) 30 25 20 0% (NUMÉRICO) 15 1% (NUMÉRICO) 2% (NUMÉRICO) 10 0% (EXPERIMENTAL) 1% (EXPERIMENTAL) 5 2% (EXPERIMENTAL) 0 0,0000 -0,0002 -0,0004 -0,0006 -0,0008 -0,0010 -0,0012 -0,0014 DEFORMAÇÃO Figura 5.23 – Gráfico tensão vs. deformação vertical na região da instrumentação experimental (comparativo) 88 Gráfico tensão x deformação horizontal no ponto de análise 35 30 TENSÃO (MPa) 25 20 0% (NUMÉRICO) 15 1% (NUMÉRICO) 2% (NUMÉRICO) 10 0% (EXPERIMENTAL) 1% (EXPERIMENTAL) 5 2% (EXPERIMENTAL) 0 0,00000 0,00005 0,00010 0,00015 0,00020 0,00025 0,00030 0,00035 0,00040 0,00045 DEFORMAÇÃO Figura 5.24 – Gráfico tensão vs. deformação horizontal na região da instrumentação experimental (comparativo) 5.6.3. Fissurações As Figuras 5.14, 5.16 e 5.18 mostram que a região onde ocorrem as primeiras fissuras visíveis se afasta da junta com o acréscimo da taxa de fibras, pois a ligação torna-se mais dúctil que o resto do elemento pré-moldado, sendo capaz de absorver mais esforços antes de sofrer fissuração. O modo de fissuração do modelo numérico segue o mesmo comportamento. Com o acréscimo de fibras as fissuras, na região da junta, deslocam-se para o elemento pré-moldado (Figura 5.25). Fissuras 0% 1% 2% Figura 5.25 – Fissuras no modelo numérico antes da ruptura 89 Capítulo 6 Conclusões 6.1. Considerações finais A metodologia desenvolvida para o estudo da ligação partiu de um levantamento de informações descritas na literatura, com as quais foi estabelecida uma análise numérica e um programa experimental utilizando um novo material de preenchimento da junta. Com as observações obtidas durante o estudo pode-se considerar que: • A atuação isolada do critério de plastificação definido por Drucker-Prager não foi capaz de simular efeitos de fissuração e esmagamento no modelo numérico. Estes efeitos são fundamentais no comportamento do mesmo durante a plastificação e determinantes no colapso do sistema. O critério Concrete respondeu de forma satisfatória às fissurações, entretanto provocou o colapso prematuro do sistema, além de dificuldades na convergência em diversas simulações. O acoplamento dos critérios Concrete e Drucker-Prager obteve comportamento semelhante ao Concrete e adquiriu maior ductibilidade, com necessidade de menor número de iterações para atingir a convergência. A associação também permitiu que o modelo adquirisse o comportamento dos esforços internos semelhante ao encontrado na literatura. • No modelo numérico, a adição de fibras no início da plastificação mostrou melhores resultados até a taxa de 5%, proporcionando uma melhor dissipação e redução das tensões de tração que agem na interface bloco/junta, associada a um menor número de fissuras. A partir de 5%, o modelo adquiriu grandes deslocamentos horizontais, acompanhado de elevado número de fissuras e conseqüente enfraquecimento da ligação, apresentando pontos de esmagamento para taxas acima de 15%, mesmo com reduzida tensão aplicada (16MPa). 90 • Quando o modelo numérico foi submetido à tensão de colapso, apresentou maior resistência para teores de fibras até 4%. A partir deste ponto até 15% não obteve ganho significativo. Após 15%, houve um decréscimo gradativo de resistência. Tais fatos são justificados pelo alto teor de fibras que, ao invés de propiciar benefícios para a junta, são responsáveis pelo enfraquecimento da mesma, comprometendo todo o sistema. • Através dos comportamentos relatados anteriormente e associando a este a variação do módulo de elasticidade equivalente e tenacidade do conjunto, pode-se concluir que as taxas que promoveram melhores resultados estão entre 1% e 3%. • Os modelos experimentais apresentaram bom desempenho com a adição gradativa das fibras de polipropileno. O comportamento da curva tensão vs. deformação para as direções vertical e horizontal, bem como a distribuição das fissuras, foram semelhantes aos obtidos na análise numérica. Isto comprova a boa simulação do caminho percorrido pelos esforços internos dentro dos elementos. • As fibras melhoraram a capacidade de deformação horizontal da argamassa, fazendo com que se mantivesse íntegra (confinada) durante todo o processo de carregamento, sem que houvesse o “desprendimento” da camada mais externa da mesma, o que causaria o estrangulamento da junta, o acréscimo das tensões internas e a redução do desempenho do sistema. • Os modelos experimentais atingiram resistências superiores ao modelo numérico devido à ausência de simulações que descrevam o comportamento físico-químicomecânico inerentes aos materiais envolvidos, como por exemplo: tempo de cura, tipo de cimento empregado, engrenamento dos agregados e a real interação entre concreto e armadura. • A produção de argamassa com adição de alto teor de fibras de polipropileno tem um grau elevado de dificuldade. A adição de superplastificante é sempre necessária 91 devido à grande perda de trabalhabilidade constatada. Assim sendo, trata-se de uma argamassa especial de preenchimento do tipo Dry-Packed, com a qual se deve ter cuidado com o teor de vazios ocasionado por um mau preenchimento. Para a produção da mesma em canteiro de obras, recomenda-se mistura mecanizada e controle de proporcionamento de materiais. Com os dados obtidos nesta pesquisa e como sugestões para trabalhos futuros, pode-se: • Modelar com elementos de contato no modelo numérico que melhor simulem o efeito de atrito entre bloco/armadura e bloco/junta; • Modelar com elementos finitos lineares que simulem a armadura e, associados a estes, elementos de contato; • Utilizar outros softwares comerciais de elementos finitos e realizar um estudo comparativo (quantitativo e qualitativo); • Pesquisar outras formas de mistura das fibras, a fim de se obterem maiores teores, realizando os devidos ensaios e comparando com os resultados numéricos obtidos neste trabalho; • Realizar pesquisas envolvendo outros tipos de fibras que podem ser facilmente encontradas, como as fibras vegetais e de borracha. 92 Referências Bibliográficas ANSYS RELEASE 7.1® (2003). Theory Manual ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR6118: Projeto de Estruturas de Concreto – Procedimentos. Rio de Janeiro, 2003. BALAGURU, P. 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