UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AS DIFICULDADES NA RELAÇÃO ENTRE PAIS E
FILHOS
Ana Claudia de Araujo Gonçalves
Professor Orientador: Vera
Co-orientador: Fabiane Muniz
Rio de Janeiro
2004
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
TERAPIA DE FAMILIA
AS DIFICULDADES NA RELAÇÃO ENTRE PAIS E
FILHOS
Trabalho realizado em cumprimento às
exigências curriculares, para obtenção do
certificado
de
Pós-graduação
“Lato
Sensu” em Terapia de Família, pela aluna
Ana Claudia de Araujo Gonçalves.
3
AGRADECIMENTOS
Aos grandes amigos: Célia Regina e Silon César, que muito
me
ajudaram
no
desenvolvimento
deste
trabalho
e
principalmente a minha irmã Alessandra, que sempre esteve
por perto quando precisei.
4
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a todas as pessoas que sempre me
apoiaram. Aos amigos que fiz durante o curso, que com
certeza deixarão saudade. E, principalmente, ao Silon que
esteve presente em todos os momentos, sempre me apoiando
e me dando força para seguir em frente.
5
RESUMO
É muito difícil educar filhos, é muito difícil educar pais. Precisamos passar
aos nossos filhos padrões de ética e moral. Um aprendizado de regras e normas que
nos foram passadas pelos nossos pais e adquiridos durante a vida. E, ao mesmo
tempo, precisamos aprender com os nossos filhos a melhor maneira de educá-los. As
pessoas são diferentes, mas as regras da sociedade são as mesmas para todos.
As maneiras de os pais criarem os filhos têm enorme influência sobre seu
desenvolvimento e sobre o tipo de pessoa em que se transformarão. É compreensível,
portanto, que os pais procurem o aconselhamento de especialistas, principalmente
quando não conseguem decifrar o significado do comportamento de seu filho ou
estão ansiosos pelo seu futuro, quando seus esforços para corrigir o comportamento
do filho os tornam infelizes e despertam resistências. Como pais, lhes cabe a
responsabilidade em primeiro lugar de levar conhecimentos aos filhos, não devendo,
portanto, delegá-la aos outros.
Podemos afirmar sem sombra de dúvidas que a crise fundamental do mundo
moderno é emocional. Os pais e filhos devem, dia após dia, aprender um com o outro
a melhor forma de comunicação com o objetivo de chegarem com mais facilidade à
raiz dos distúrbios e encontrarem as melhores soluções.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
8
CAPÍTULO I
10
A RESPONSABILIDADE DOS PAIS
11
1.1 - A criança padrão: o que todo pai espera do filho
CAPÍTULO II
13
16
PAIS, FIGURAS DE IMPORTÂNCIA VITAL NA VIDA DOS
FILHOS
17
2.1 - O nascimento dos pais
17
2.2 - O que é ser “pais”?
17
2.3 - Os diversos tipos de pais
20
2.3.1 - Os pais que não querem ser pais
20
2.3.2 - Os pais que querem que o filho seja...
21
2.3.3 - Os pais mentirosos
22
2.3.4 - Os pais de longo curso
23
2.3.5 - Os pais ricos (e uma variante: os pais pobres)
23
2.3.6 - Padrastos e madrastas como pais
24
2.3.7 - Os pais idosos
25
2.4 - Limites: Não, não e não! Impor e fazer valer regras em casa é
tarefa das mais difíceis
25
2.5 - Três atitudes e uma quarta alternativa
26
2.6 - A vida profissional dos pais
29
CAPÍTULO III
31
NÃO É FÁCIL SER PAI, MAS TAMBÉM NÃO É FÁCIL SER
FILHO
32
3.1 - O que é ser “filhos”?
32
3.2 - Os filhos e sua principal queixa
34
CAPÍTULO IV
36
A RELAÇÃO PAIS E FILHOS HOJE
37
CAPÍTULO V
42
EXISTE FÓRMULA MÁGICA PARA EDUCAR PAIS E FILHOS
43
7
5.1 - Quantidade x qualidade
44
46
CAPÍTULO VI
O
RELACIONAMENTO
ENTRE
PAIS
E
FILHOS:
UMA
RELAÇÀO ENCANTADORA APESAR DE TUDO
47
CONCLUSÃO
49
BIBLIOGRAFIA
50
8
INTRODUÇÃO
“Ninguém educa ninguém.
Ninguém educa a si mesmo
Os homens se educam entre si,
Mediatizados pelo mundo”.
Paulo Freire
Considerando a criança como ser em desenvolvimento; sujeito ativo na
construção do seu conhecimento; sujeito social e histórico marcado pelo meio em
que se desenvolve e também o marca, os pais tentam ditar regras, estabelecer limites,
dar ordens em relação a educação de seus filhos. Muitas vezes se preocupam tanto
em educar “bem”, que esquecem que lhes cabe mostrar a seus filhos, em todas as
ocasiões, o que pode e o que não pode se fazer numa sociedade, pelo seu próprio
modo de viver.
É muito difícil educar filhos. É muito difícil educar pais. Precisamos passar
aos nossos filhos, padrões de ética e moral. Um aprendizado de regras e normas
sociais que nos foram passadas pelos nossos pais, adquiridos durante a vida. E ao
mesmo tempo, precisamos aprender com os nossos filhos a melhor maneira de
educá-los. As pessoas são diferentes, mas no entanto, as regras da sociedade são as
mesmas para todos.
De nada adianta conversar sobre assuntos considerados “modernos” (sexo,
drogas, etc), se não lhes servem de exemplo. Quem não percebe esta realidade
simples pode provocar um verdadeiro desastre na formação ética de seus filhos.
Os filhos são o espelho dos pais. A criança só passa a ser alguém quando
reconhece o seu “eu” e aprende a ser diferente do outro.
Esta comunhão se dá no convívio diário, com a mãe, primeira pessoa a ser
identificada pelo bebê e depois com outras pessoas próximas, significativas, que
funcionam como modelo.
9
À medida que cresce e vai ampliando seu mundo, seus referenciais vão se
transformando, vem a vivência escolar e social.
A união destes ambientes, faz o indivíduo crescer e se formar
harmoniosamente, e dentro dele os pais são figuras de importância vital.Já constatouse que os pais passam de permissivos e passivos, aos autoritários e superprotetores.
Enquanto os primeiros se omitem, alegando os mais diversos motivos
(trabalho, falta de tempo, despreparo, etc) para delegar a outros, principalmente à
escola, a incumbência da formação de seus filhos, os segundos não admitem diálogo,
não procuram entender a magia de sua criança. Os filhos por sua vez ficam perdidos
no meio desta relação, não conseguindo entender muitas vezes as atitudes de seus
pais.
É necessário o equilíbrio entre o “lavar as mãos” e o “baixar a mão”,
lembrando-se sempre que nesta difícil relação entre pais e filhos o melhor sempre é o
“pegar pelas mãos”.
O relacionamento entre pais e filhos encanta pelo amor que existe entre eles e
mexe pela profundidade do assunto. E com todo mérito, visa mais do que contesta.
Este trabalho, baseado em pesquisas bibliográficas, foi desenvolvido com o
objetivo de tentar entender melhor esta relação, pois se é difícil ser pai, não é fácil
ser filho.
10
CAPÍTULO I
A responsabilidade dos pais
11
A RESPONSABILIDADE DOS PAIS
Com as mudanças ocorridas na sociedade no decorrer dos anos, o homem
passa a dedicar-se quase que integralmente ao trabalho. Acaba esquecendo sem
querer sua prole. Com a vida atribulada do dia-a-dia, a criação dos filhos acaba
ficando a cargo dos avós, babás, tios, escola (principalmente!), ou até mesmo, “cada
um por si e Deus por todos”. Este problema, porém afeta todas as classes
independente do nível sócio econômico.
Espera-se que os pais mostrem aos filhos em todos os momentos no decorrer
da vida o que se pode fazer ou não numa sociedade em constantes mudanças. Afinal,
vivemos num mundo onde devemos respeitar alguns “regulamentos” e quem
infelizmente, não segue as leis pode sofrer várias sanções e acabar muito mal na vida
emocionalmente e profissionalmente, enfim, em tudo.
Como pais, lhes cabe a responsabilidade em primeiro lugar de levar
conhecimentos aos filhos, não devendo portanto, delegá-la aos outros, até porque
acredita-se que nenhum pai queira incumbir a outros a formação ética e moral dos
filhos (será?).
Muitas vezes a escola acaba sendo a responsável pela educação da criança,
pois desta forma se alguma coisa sair errado os pais terão a quem cobrar. Acabam
eximindo-se assim, de sua parcela de culpa. Esquecem porém, que a escola é apenas
uma colaboradora para a formação ética dos filhos, mas nunca poderá substituir os
pais.
As crianças, tanto quanto os adultos, têm pensamentos, idéias, sentimentos,
desejos e necessidades, embora careçam de meios para alcançar seus objetivos. São a
experiência e o conhecimento que fornecem ao homem os instrumentos para a busca
da felicidade, tarefa para a qual o repertório infantil é insuficiente.
Em compensação as crianças são dotadas de uma imensa curiosidade e um
insaciável desejo de aprender. Todas as suas ações visam a controlar sua vida e seu
12
meio ambiente. A cada minuto que passa, elas diminuem a lacuna existente entre
experiência e o conhecimento. A responsabilidade dos pais é observar tranqüilamente
o desenrolar desse processo, sempre alerta para no momento certo, ajudar os filhos a
adquirir, o mais plenamente possível, a autonomia de que são capazes.
Os filhos são o espelho dos pais.
A família é a base da vida de qualquer criança. E a criança precisa deste
alicerce para a construção da sua identidade. Esta se dá no momento em que ela
passa a se diferenciar do outro. Eu passo a ser alguém quando descubro o outro, e a
falta de tal reconhecimento, não me permitiria saber quem sou, pois não teria
elementos de comparação que permitissem ao meu eu destacar-se dos outros “eus”.
Dessa forma podemos dizer que a identidade, o igual a si mesmo, depende da sua
diferenciação em relação ao outro.
A mãe é o “outro” mais importante na vida da criança, de quem o bebê vai se
diferenciando, aprendendo que não é uma extensão dela. São duas pessoas e, ao
mesmo tempo, é o olhar da mãe sobre o bebê que vai dando a ele seu valor como
pessoa. Por isso, as primeiras relações são tão importantes na vida de todas as
pessoas. Durante este processo de diferenciação, a criança começa a escolher outras
pessoas como objeto de identificação, isto é, pessoas significativas que funcionam
como modelo em relação ao qual o sujeito vai se aprimorando de algumas
características através do processo de identificação, e vai formando sua identidade: o
que sou e quero ser, sendo o que quero ser (futuro!) já constitui o que sou (o
presente!). É importante, aqui, esclarecer que o conjunto de experiência, ao longo da
vida, permite a cada um “montar” o seu próprio modelo do que pretende ser como
homem ou mulher, como profissional, como cidadão etc.
Não se deve entender o comportamento como ação isolada de um sujeito,
mas, sim como a interação entre aquilo que o sujeito faz e o ambiente onde o seu
“fazer” acontece. O homem começa a ser estudado a partir de sua interação com o
ambiente, sendo tomado como produto e produtor dessas interações.
13
O profeta Kalil (1982) já dizia:
“Vossos filhos não são vossos filhos.
São os frutos da Vida ansiando por si mesma.
Vêm por vosso intermédio, mas não de vós,
E embora estejam convosco não vos pertencem.
Podeis dar-lhes vosso amor, mas não vossos pensamentos.
Podeis abrigar seus corpos, mas não suas almas,
Pois estas moram na casa do amanhã,
Que não podeis visitar nem mesmo em vossos sonhos.
Podeis esforçar-vos para ser como eles, mas empenhai-vos
em não fazê-los à vossa semelhança.
Pois a vida não retrocede nem permanece com o ontem.
Sois os arcos de que vossos filhos, qual setas vivas, são
desferidos”.
O ambiente familiar é a base para a formação do indivíduo, em suma, os pais.
1.1 - A Criança Padrão: O Que Todo Pai Espera do Filho
Para que seu filho possa se transformar numa criança considerada padrão é
preciso seguir alguns passos importantes, segundo Frances Kendall (1983):
•
Contanto que não prejudique outrem ou a propriedade alheia, todo
indivíduo deve ter a liberdade de agir como julgar conveniente.
•
As crianças são seres racionais e lógicos, que almejam a felicidade
tanto quanto os adultos.
•
A única diferença entre os adultos e as crianças é a experiência.
•
Sempre que os pais não tiverem certeza de como reagir às atitudes dos
filhos, deverão aplicar o “teste do adulto”, perguntando-se: “O que eu faria se
estivesse tratando com um adulto?”
•
Para a criança, o melhor aprendizado é aquele que se dá através do
exemplo e da experiência. Os pais, para serem respeitados, devem tratar os
filhos com consideração.
•
As três principais qualidades que se devem incentivar na
personalidade da criança são a independência, o amor-próprio e a
individualidade.
•
14
As crianças não nascem com a necessidade de proceder às avessas,
elas desejam, isto sim, ajustar-se aos padrões daqueles que as cercam.
•
Quando a criança se comporta incorretamente, deve-se procurar a
causa, antes de tudo, no próprio procedimento dos pais. Os pais constituem a
mais poderosa influência sobre a vida da criança, sendo alta, portanto, a
probabilidade de neles residir à raiz do mau comportamento infantil.
•
Toda vez que um ser humano exerce a própria vontade, há troca da
situação vivida pela situação preferida.
•
Se a aplicação destes métodos for por vezes penosa, deve-se levar em
consideração que mais cedo forem postos em prática, menor será o
sofrimento e mais rapidamente todos se beneficiarão. Trata-se do princípio do
sofrimento a curto prazo pela satisfação a longo prazo.
Se estas dez regras constituírem a base do relacionamento entre pais e filhos,
a criança será individualista, segura e confiante em si mesma. Não seguirá sem
refletir as opiniões da maioria, preferindo julgar o que existe de certo ou errado nas
suas atitudes ou nas de outras pessoas, com base num conjunto de valores de
contornos bem-definidos.
Aprenderá a se valorizar de fato. Não dependerá da aprovação de terceiros
para conquistar a felicidade. Gostará de si mesma e, conseqüentemente, não
encontrará dificuldades para fazer amigos sinceros.
Respeitará a liberdade de pensamento, escolha e ação do próximo. Reagirá
com indignação à eventualidade de não lhe ser concedida a mesma liberdade. Não
rejeitará dogmaticamente a opinião alheia, mas estudando-a à luz do bom senso.
Estará sempre aberta a idéias e pontos de vista novos e disposta a aprender
novidades. Não sentirá a necessidade de provar a terceiros que está com a razão ou
forçá-los a aceitar seus valores.
Terá muito a ensinar aos pais. encarará o trabalho como uma atividade
positiva e produtiva. Dispensará compaixão ou caridade, mas exigirá que seu
trabalho seja reconhecido e remunerado segundo o valor de mercado.
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Desejará se relacionar com pessoas que considere seus iguais e ser amada e
admirada, não apesar de suas fraquezas, mas em função de seus atributos fortes. Não
quererá ser amparada emocional ou fisicamente nem precisará se sentir necessária.
Terá poucas afinidades com parasitas e aproveitadores.
Será responsável e resoluta, aprendendo com os próprios erros ao invés de por
eles se deixar abater.
Será franca e honesta, comunicando-se facilmente com outras pessoas.
Encontrará soluções conciliatórias que satisfarão as necessidades dos que lhe são
próximos, sem fazer sacrifícios.
Não recorrerá a drogas, álcool ou fumo, para tornar a vida mais suportável.
Não será agressiva e tampouco violenta.
Tratará com respeito o próprio corpo, com hábitos alimentares saudáveis e
exercícios físicos regulares.
Acima de tudo, será feliz e otimista, encarando a vida como um desafio de
bom grado.
16
CAPÍTULO II
Pais, figuras de importância vital na vida dos filhos
17
PAIS, FIGURAS DE IMPORTÂNCIA VITAL NA VIDA
DOS FILHOS
2.1 - O Nascimento dos Pais
Sempre que nasce uma criança, nascem também um pai e uma mãe. Desde
muito cedo o filho irá amá-los sem perguntas ou pedido. Ele acredita neles, na sua
força, na sua capacidade. Sente-se diante da perfeição. Ninguém deixa o filho mais
tranqüilo do que o pai ou a mãe. Curiosamente, embora a criança dependa dos pais,
ela quase sempre demonstra ser o elo mais seguro da relação. Quanto mais se
aprende sobre ele, muito mais estará aprendendo sobre os pais.
E é nesta relação de aprendizagem mútua que surgem os pais, em sua função
real de protetores e educadores.
Neste capítulo irei abordar um pouco mais
sobre estas figuras tão
importantes na criação e na vida dos filhos.
2.2 - O Que é ser “Pais”?
Sabe-se que muitos autores e obras tratam sobre este assunto e muitos são os
pais que recorrem a este meio visando criar filhos perfeitos.
As maneiras de os pais criarem os filhos têm enorme influência sobre seu
desenvolvimento e sobre o tipo de pessoa em que se transformarão. É compreensível,
portanto, que os pais procurem o aconselhamento de especialistas, principalmente
quando não conseguem decifrar o significado do comportamento de seu filho, ou
estão ansiosos de seu futuro, quando seus esforços para corrigir o comportamento do
filho o tornam infeliz e desperta resistência.
Os pais que confiam nos livros sobre “como” criar filhos, estabeleceram
inconscientemente, ou com maior freqüência subconscientemente, uma analogia
18
entre suas interações pessoais mais íntimas com seus filhos e a montagem de uma
máquina.
Segundo Bruno Betteheim (1987):
“(...) a crença de que pode haver regras para lidar com
nossos filhos é incompatível com a atitude de compreensão
empática... confiar em regras nos poupa o trabalho de
refletir sobre cada situação problemática e nos sentirmos
responsáveis por sua solução satisfatória”.
Quando se tenta treinar os filhos, deve-se mostrar e também fazer com que
saibam que você está disposto a ouvir, que se interessa por suas dificuldades e que,
realmente, se abre com eles. Assim, se pode divertir mais. A vida com as crianças
torna-se gratificante para elas e para os pais.
Desta forma, se estará criando um espaço seguro nas famílias para a
verdadeira intimidade que é a base do crescimento saudável de uma criança.
O conflito entre pais e filhos tem conseqüências que se estendem quase ao
infinito da vida humana. Os psicanalistas afirmam que os males mais evidentes na
vida de um adulto refletem-se na infância. A vida infantil pode indicar esses
primeiros sintomas desde que sejam pais presentes. Largar a educação dos filhos ao
acaso ou ao irrisório tempo que se dispõe para eles, não garantirá que num futuro
próximo, não se orgulhará da missão como guardiões, anjo da guarda, dos filhos.
O mundo é feito para adultos. Hoje em dia, estamos evoluindo no sentido de
adequar este mundo ao universo infantil. E isso ainda não é o suficiente. Como será o
mundo aos olhos de uma criança? É muito difícil ser criança num mundo de adultos.
“Imagine um estrangeiro medindo 80 cm de altura num país
de cultura extremamente diferente da sua e, como se não
bastasse, a população desse lugar estranho, o mais baixo
medisse 1 m e 80 cm de altura. Complicado não é
mesmo? É necessário compreensão e paciência para
enquadrá-lo nesse ambiente”.
19
Os detalhes do cotidiano da educação das crianças não terminam nunca. A
passagem das fraldas e o esquema de rodízio dos pais para levá-las para a escola,
cedem a vez aos primeiros namoros, roupas de marcas famosas, até as chaves de casa
e do carro.
Os pais devem aprender a manter os olhos e ouvidos atentos para os
momentos de ensinamento à medida que eles se apresentam no curso de um típico
dia bem ocupado.
Tanto os pais têm para oferecer aos filhos, como os filhos têm a oferecer aos
pais.
Pais não devem ser apenas honestos, mas também “brincalhões”.
Ao se lembrar da infância, foram inúmeras as vezes que consideramos nossos
pais injustos, das vezes que quisemos expor um problema e eles preferiram deixar
para depois e acabou caindo no esquecimento. E os tantos “por quês” que ficaram
sem respostas? Muitos respondidos por outros fora de casa e nem sempre de uma
forma segura e correta.
Uma criança precisa saber que seus sentimentos são respeitados por aqueles a
quem ela ama como uma fonte de conhecimento sobre o mundo, que ela pode confiar
no que ela sabe ao nível de seu ser, que ela tem um compasso interior. Quando
surgem conflitos e você responde com autenticidade, sem ser demasiadamente rígido
com a criança, nem ceder, ela poderá aprender a enfrentar corajosamente sentimentos
que são difíceis de expressar e também a ouvir outros pontos de vista.
A criança estará aprendendo não apenas a ser adaptar ou a ser bem-ajustada,
mas também a abordar a vida criativamente.
Quando surgirem oportunidades, conte a seu filho o que se recorda de ter
feito na infância e adolescência. Mostre-lhes fotos e coisas do passado. Compartilhe
suas lembranças e experiências com seus filhos.
20
As crianças, também, anseiam por saber o que está acontecendo e o que
aconteceu em sua vida. O que faz no trabalho e o que pensa sobre as notícias do dia.
Quando os pais falam sobre suas alegrias, dificuldades e tristezas de maneira
apropriada, mostra a seus filhos que a família de vocês é uma família onde se pode
falar sobre os sentimentos. Faz com que eles saibam que não estão sozinhos, seja em
momentos de frustrações ou de alegrias. E com isso, dá-lhes abertura para falar sobre
seus próprios sentimentos.
Em vez de ter explosões de temperamento ou esconder seus sentimentos,
explique-se. Saber manifestar seus sentimentos em palavras precisas, em vez de
perder o controle, é parte importante de aprender a lidar com eles. É claro que isso
não é fácil, mas também, não é tão difícil e nenhum sacrifício por em prática.
À medida que vamos criando nossos filhos, nos recriamos como pais e filhos.
2.3 - Os Diversos Tipos de Pais
2.3.1. Os Pais Que Não Querem Ser Pais
Freqüentemente, o pai deseja uma coisa e a mãe, outra.
Existem pais que parecem totalmente ineducáveis. Isso não quer
necessariamente dizer que sejam “maus”, mas dão à criança a impressão de serem
definitivamente como são, sem que nada possa mudá-los.
Em certos casos, a rigidez é apenas aparente. Se a criança não pode mudar os
pais, pode, ao menos tranqüilizá-los a respeito deles mesmos: pode provar que eles
valem mais do que pensavam e este já é um elemento novo que não pode deixar de
surtir efeitos. Mesmo assim, trata-se de um trabalho sempre muito demorado e
difícil, pois trata-se geralmente de antigos traumas, na maioria dos casos traumas
familiares que os próprios pais herdaram dos antepassados e não puderam resolver.
21
2.3.2
- Os Pais Que Querem Que o Filho Seja...
É uma categoria extremamente rica e variada. Citarei alguns tipos:
•
Os pais que querem que o filho seja como eles;
•
Os pais que não querem absolutamente que o filho seja como eles;
•
Os pais que querem que o filho seja aquilo que eles próprios gostariam
de ter sido;
•
Os pais que não querem que o filho seja aquilo que eles não puderam
ser;
•
Os pais que querem que o filho seja (ou não seja) tal ou qual coisa
precisa; Etc...... etc......
As variantes são infinitas. As motivações também. Mas existe um problema
bem particular que a criança deverá enfrentar: trata-se do desejo imperialista de
controle sobre seu futuro, com motivações mesquinhas ou, ao contrário, afetuosas e
ternas.
Os pais querem que o filho viva aquilo que para eles não passou de um sonho.
É tão tocante quanto ingênuo. Mas no fundo, quase sempre existe uma boa intenção
para essas atitudes. É da natureza das pessoas ter expectativas, seja quando
conseguem um emprego novo, quando compram um apartamento, etc ( que dirá
quando se refere ao seu filho). Na primeira consulta ao pediatra, um grupo específico
de pais e mães dá os primeiros sinais de que as expectativas que tem em relação aos
filhos vão um pouco além dos limites. Quando ouvem que a criança deles tem
desenvolvimento normal, na média, em vez de felicidade, sentem-se derrotados.
Como o nosso filho pode ser mediano apenas? Em vez de interesse pelo filho,
demonstram uma preocupação quase obsessiva com o sucesso da criança.
Pais assim são, em geral, extremamente competitivos. É gente que encara a
vida como um grande campeonato, em que o filho tem de ser o melhor em tudo que
faz. Uma de suas manias é ficar comparando o desenvolvimento motor de sua
criança com o de outras da mesma idade.
22
Esse tipo de pai ou mãe tem como traço comum um certo desvio conceitual
sobre o que significa criar um filho. Alguns têm grande dificuldade em aceitar que as
crianças possuem características de personalidade próprias e um ritmo de
amadurecimento particular. Os gostos e vocações serão escolhidos a partir dos
interesses genuínos, não dos impostos. Forçar, portanto, não adianta nada.
2.3.3 - Os Pais Mentirosos
Os pais mentem tanto e tão freqüentemente que mal se pode ver nisso uma
manifestação patológica. Os pais mentem quase instintivamente, muitas vezes sem
nem dar conta e, geralmente, sem se sentir culpados. Mentem tanto em coisas
menores como em assuntos mais graves. Somos mesmo tentados a dizer que quando
se trata de assuntos realmente importantes, eles mentem quase sistematicamente. Isso
inclui desde a simples invenção lúdica até a vontade deliberada de induzir a criança
ao engano, ou para esconder uma falta ou fugir de uma realidade muito difícil.
Os pais podem se sentir levados a inventar por uma série de razões, muitas
delas bem inocentes, tais como: melhorarem de status perante o filho, consolarem-se
da perda das ilusões que haviam criado por conta própria, embelezarem pela
imaginação o mundo real por lhes faltar maturidade para apreciar seus encantos, etc.
Os pais mentem com tanto maior gosto quanto mais importante for o assunto
em pauta. Eles mentem quase sempre que falam de política, dinheiro, religião, e
mentem normalmente quando se trata de sexo ou de anatomia e fisiologia em geral. E
quando, por acaso, eles dizem a verdade, geralmente não é por respeito à verdade,
mas unicamente por política.
Citarei agora, um ditado bem conhecido: “A verdade sai da boca das
crianças”. Isto mostra bem toda a esperança que os pais depositam nas crianças para
ajudá-los a sair do seu universo de fantasmas, contos e mentiras e retomar contato
com a terra firme da realidade.
2.3.4 - Os Pais de Longo Curso
23
Existem pais que chamamos de “longo curso” ou “de eclipses”. São vistos em
casa de vez em quando, por pouco tempo, e depois desaparecem. Tudo leva a crer
que continuam vivos mesmo durante os períodos de desaparecimento. Há referências
de uns e de outros a respeito deles: falam como se eles existissem. Existem também
alguns indícios materiais: às vezes eles escrevem cartas. Depois, quando reaparecem,
às vezes contam tudo o que lhes aconteceu durante o eclipse. Freqüentemente
justificam esse comportamento (mesmo a seus próprios olhos) por razões
profissionais, ou eventualmente político-históricas.
Os pais “de longo curso” são, em geral, totalmente inconscientes dos
problemas que sua maneira de ser cria para o filho. Primeiro, é preciso esclarecer o
mistério de seu desaparecimento.
2.3.5 - Os Pais Ricos (E Uma Variante: Os Pais Pobres)
Trata-se de pais que transmitem o essencial dos seus sentimentos através do
dinheiro que acreditam possuir ou não possuir. De fato, os pais podem se sentir ricos
ou pobres independente do estado objetivo de suas contas bancárias. Suas atitudes
serão, então, determinadas por esse sentimento. Alguns pais ricos equilibram, no
limite, seus orçamentos. E existem pais pobres, milionários.
Os pais pobres querem ser amados pelas privações que sofrem ou, até mesmo,
se impõem. Desejam também que seus filhos possam medir o amor que recebem
pelas economias feitas em seu benefício. Da mesma forma, os pais pobres às vezes
exprimem o imenso valor que atribuem aos filhos mostrando que todo o ouro do
mundo não vale um objeto tão precioso. Infelizmente, esse modo de expressão dos
pais suscita, às vezes, um penoso sentimento de culpa na criança que tem a
impressão de ser um verdadeiro artigo de luxo que seus pais adquiriram forçados por
ela e sem ter meios suficientes. Nesses casos, é muito difícil para a criança (e
praticamente impossível para os pais) separar a realidade exterior da realidade
interior.
2.3.6 - Padrastos e Madrastas Como Pais
24
Os padrastos e madrastas conseguem, bem ou mal, metabolizar todas as
agressões vindas de uma criança que não é sua e, além disso, como geralmente eles
mesmos são quase sempre os pais verdadeiros de outra criança, beneficiam-se do
mesmo processo no sentido inverso.
É preciso notar que os padrastos e madrastas mais perfeitos e mais ternamente
amados podem desempenhar essa função de pára-raios; eles realmente não merecem
as censuras que lhes são dirigidas.
Muitas histórias infantis sobre madrastas e sogras insuportáveis ou de
padrastos e sogros tirânicos são encontrados na literatura e nos desenhos animados.
Os padrastos e madrastas podem não ser os pais verdadeiros, mas
desempenham um grande papel na educação de seus filhos postiços, pois amam
como se fossem seus, os filhos de outra pessoa e possuem, de um modo geral, um
amor igualável ao de um verdadeiro genitor.
Existem duas variedades de padrastos e madrastas: aqueles que recebem uma
criança vinda como dote pelo outro cônjuge ou aqueles que substitui por falecimento
os pais verdadeiros. Eles têm, apesar de tudo que dizem a respeito nas velhas
histórias, algo de bom e, em todo caso, formam uma instituição notável do ponto de
vista atual. O lado negativo nessa relação é que, geralmente, são os mais agredidos
pelas crianças, pois esta descarrega sua agressividade tranqüilamente sem nenhum
sentimento de culpa.
Os verdadeiros pais têm o medo de errar, de castrar, de frustrar, que os levam
a uma atitude excessiva de falta de autoridade com seus filhos.
2.3.7
- Os Pais Idosos
Os pais idosos têm muita experiência que se tornam embaraçosas, isto porque
eles acreditam saber várias coisas pois já viveram coisas semelhantes e, para
25
valorizar essas experiências, tentam por a força os acontecimentos e as pessoas em
moldes pré-fabricados.
A maioria dos pais, sob o pretexto de já terem sido crianças um dia, acham
que sabe muito sobre os filhos. Eles simplesmente esquecem que a criança não era a
mesma.
Se as crianças mostram tanta aptidão para compreender e educar os pais é
porque nunca foi adulta, nem o pai ou mãe e é capaz de realizar naturalmente essa
observação, livre de qualquer preconceito, que é a única atitude científica válida.
Mas quanto mais envelhece, ela também acumula mais experiências, princípios e
convicções, e mais se arrisca a deixar de lado o essencial no que se refere aos
problemas e necessidades dos pais. Está aí uma das razões que explicam a grande
tragédia dos pais idosos.
2.4 - Limites: Não, Não e Não! Impor e fazer valer regras em casa é
tarefa das mais difíceis
Aqueles que já criaram seus filhos sabem que o maior desafio de um pai e de
uma mãe é impor limites dento de casa. Isso pode, tudo bem. Aquilo não pode, e
acabou. Para fazer isso, não basta ser firme e falar com autoridade. É preciso
paciência para dizer não tantas vezes quanto necessário. A criança vai fazer cara feia,
vai gritar, espernear, dizer que não te ama mais, e é nessa hora que os pais mostram
se têm força ou se é a criança quem dá as cartas. Os benefícios de colocar limites
compensam. Tanto para a segurança física da criança, como no sucesso em sua vida
social. Tendo regras dentro de casa a preparamos para a vida real, onde nem tudo
acontece do jeito e na hora que queremos. Quem não aprende quando é pequeno
pode sentir-se perdido em ambientes onde há regras.
Assim como qualquer adulto, a criança adoraria fazer só o que tem vontade.
O que nos diferencia delas é que já entendemos que nem tudo é possível e elas ainda
vão se dar conta disso. Com os pequenos, o negócio é ação. Falar a um bebê que
começou a andar que é proibido a mexer naquele vaso de cristal não vai adiantar
26
porque ele insistirá em pegar o objeto do desejo. O correto, segundo os especialistas,
é tirá-lo da vizinhança do vaso e, se ele voltar, tirá-lo dali novamente. Para os
maiores, deve-se colocar regras de convivência em grupo. Tem que ficar claro que
bater no colega tem uma conseqüência sobre a felicidade do outro. Falhar na tarefa
de impor limites pode, inclusive, dificultar o relacionamento entre pai e filho. Se
tudo é permitido, a criança se sente abandonada, acha que ninguém tem um olhar de
cuidado sobre ela.
2.5 - Três Atitudes E Uma Quarta Alternativa
No relacionamento com os filhos, os pais normalmente adotam uma dessas
três atitudes básicas: o autoritarismo, a permissividade ou uma combinação das duas.
A atitude dos pais autoritários obedece mais ou menos ao seguinte padrão:
“Eu sei tudo, e meus filhos não sabem nada. Eu tomo todas
as decisões por eles. Eu sei melhor do que eles o que devem
comer e vestir. Eu sei a que horas devem ir para a cama e
quanto tempo têm que dormir. Eu sei quais devem ser seus
interesses e exatamente como devem se comportar. E ai deles
se não concordarem”.
Os pais permissivos, por outro lado, acham que não têm direito algum sobre
os filhos. A criançada pode virar a casa de cabeça para baixo, fazendo tudo o que
quer e exigindo mil e uma coisas. Esse tipo de pai ou mãe acha que deve atender a
todos os caprichos dos filhos e nunca erguer a voz, para não ferir o sensível ego dos
rebentos.
Todas estas atitudes extremas possuem pelo menos uma virtude: o
comportamento dos pais é parcialmente previsível. São poucos, porém, os que
sempre mantém o mesmo padrão. A mãe autoritária acaba desistindo quando, após
quatro tentativas seguidas de servir o mesmo prato de espinafre ao filho, ele ainda se
recusa a provar a comida, com desesperadora intransigência. Do mesmo modo, até o
pai mais permissivo perde a paciência quando, pela quinta vez consecutiva, a filha
corre berrando pela sala bem na hora em que ele está assistindo ao seu programa
27
favorito na televisão. Ele a põe de castigo no quarto, mesmo que, arrependido, a
deixe sair logo depois.
A terceira atitude é aquela em que pais agem indiscriminadamente, conforme
seu estado de espírito num dado momento. O grande aspecto negativo dessa postura
intermediária é a total imprevisibilidade do comportamento paterno ou materno. Os
filhos, desnorteados com a falta de um sistema coerente de causa e efeito no lar,
nunca sabem quais serão as conseqüências de seus atos. Aprendem apenas que às
vezes apanham e outras, não. Quando não estão sendo ridicularizados pelos pais,
deles recebem carinho, sem um motivo lógico definido para a coerência dos fatos. A
criança educada dessa maneira cresce procurando evitar a dor inesperada, sem jamais
conseguir descobrir o seu motivo.
Para o adulto autoritário, a criança não tem direitos. O adulto permissivo, por
sua vez, não conhece seus próprios direitos. Já o partidário da posição intermediária
desconhece qualquer tipo de ponto de vista. Felizmente, porém, existe uma quarta
alternativa, simples, lógica e de fácil assimilação pela criança.
Os pais que adotam a quarta atitude reconhecem que todos os indivíduos são
dignos dos mesmos direitos, independentemente da idade. O princípio que orienta
essa atitude é simples: todos os seres humanos têm o direito de viver da maneira que
bem o entenderem, contanto que não prejudiquem outrem ou a propriedade alheia.
Ao se aplicar esse princípio a crianças de tenra idade, deve-se levar em
consideração a inexperiência infantil. Logicamente, a criança deve ser protegida dos
perigos básicos que desconhece. É preciso impedi-la de, por exemplo, passear no
meio de uma rua movimentada, beber aguarrás ou comer pontas de cigarro. À parte
essas limitações óbvias, o princípio da liberdade pode ser aplicado sistematicamente
ao universo infantil. A criança assim logo se dá conta dos benefícios que o sistema
lhe traz, sentindo-se motivada a aplicar pessoalmente o mesmo princípio.
A coerência de conflitos entre adultos e crianças, dos primeiros meses de vida
à adolescência, justifica-se pela falta de atenção e respeito ao princípio da liberdade.
28
Princípio que, quando aplicado com método e coerência, resulta em liberdade e
respeito mútuos.
Como já era de esperar, em São Paulo existe um, digamos curso, para ensinar
aos pais a educar seus filhos. São palestras ministradas por catedráticos em
psicologia e pedagogia onde fatos reais e situações comuns são abordados por todos
os presentes e, de algum modo, há uma troca de experiências àqueles que assistem.
Pais “desesperados” e totalmente “despreparados”, procuram o auxílio de
profissionais tendo a consciência que os problemas enfrentados com seus filhos não
são unicamente deles. Esses pais certamente são mais felizes, pois não culpam
somente as crianças do caos familiar. Procuram ajuda para si mesmos, para poderem
ajudar, educar e compreender o universo de seus filhos. Os pais erram tentando
acertar, e quase sempre vão errar, pois no fundo, no fundo, sempre sentirão o mesmo
sentimento que fizeram algo errado, isso porquê desejaram a vida inteira serem pais
perfeitos com filhos perfeitos.
Tudo é válido quando se é feito com moderação e responsabilidade. Já
sabemos que não existe fórmula mágica para educar uma criança, pois os
sentimentos vão muito além da nossa própria razão. É claro que o emocional nessa
relação existe, mas a razão e a emoção encontram-se, na maioria dos casos,
equilibrados.
Ser pais não tem mandamentos, é seguir os princípios básicos da vida: amar e
respeitar. É saber ouvir e amparar, criticar e perdoar, abraçar e castigar, tudo numa
dosagem equilibrada usando sempre a razão e escutando o coração. Razão para dizer
sim ou não na hora exata, e emoção para dizer ou demonstrar amor em qualquer
hora, minuto, segundo... em qualquer tempo. Pois filhos são para toda a vida, e o que
seria de nossas vidas se não fossem os nossos filhos?
2.6 - A vida Profissional Dos Pais
29
Quase todos os pais trabalham para “ganhar a vida”, como dizem. Na
verdade, aparentemente trata-se sobretudo de ganhar dinheiro, pois a vida, segundo
dizem, parece estar mais comprometida do que ganha pelo trabalho. Tentemos,
portanto, refletir um pouco mais para compreender o que se passa na realidade.
Assim, os pais ganham dinheiro entregando-se, na maior aparte do dia, a uma
atividade chamada trabalho, profissão, emprego, labuta, etc., às vezes até mesmo em
detrimento de suas tarefas paternas. Eles afirmam com uma tal segurança o caráter
necessário e inevitável do trabalho que, em geral, as crianças são levadas a aceitá-lo,
sem maiores dificuldades, e às vezes até respeitá-lo.
Alguns pais têm prazer não com o trabalho, mas com o fato mesmo de
trabalhar. É o fato de “trabalhar”, ou de “estar no trabalho” que produz o prazer. Um
determinado pai mergulhava no seu trabalho, relativamente enfadonho, para se livrar
de uma esposa particularmente cansativa. Um outro recorria ao mesmo estratagema
para escapar de qualquer favor que pudessem lhe pedir.
Podemos igualmente falar de um pai nervoso e inseguro que só se sentia
respeitado como trabalhador arrimo de família; assim, o trabalho, pouco a pouco,
acabou, invadindo todos os domínios de sua vida familiar.
Outros pais usam o trabalho como pretexto para conseguir alguns momentos
de solidão, ou para poder sair sem dar explicações, ou para cultivar amizades que os
filhos poderiam desaprovar. Freqüentemente no fundo existe uma forte necessidade
de escapar das obrigações e da disciplinar familiar.
Citemos ainda os pais que se servem do trabalho como uma defesa contra a
angústia que sentem nos momentos de liberdade quando qualquer coisa pode lhes
acontecer, vinda de fora ou, sobretudo, de dentro de si mesmos.
Há também o caso dos pais realmente ávidos por dinheiro, que simplesmente
não suportar não tornar o seu tempo integralmente rentável. Cada um de seus
momentos deve corresponder a uma entrada ou uma economia de dinheiro. Possuir
30
dinheiro tomou, para esses pais, o lugar de tudo o que existe de bom na vida e é
terrivelmente difícil fazer com que eles questionem essa escala de valores tão
simplista e primitiva. Os melhores entre eles se transformam naqueles pais ricos que
tentam compensar seus defeitos com diversos presentes ou pagar alguém para, no
lugar deles, fazer o trabalho de pai ou mãe.
Mas, sobretudo, não se deve considerar a vida profissional como um aspecto
inteiramente negativo dos pais. Ela impõe certos sacrifícios à criança, mas também
tem recompensas. A profissão, o trabalho, é a vida primitiva dos pais. É o que lhes
permite não serem totalmente dependentes dos filhos; é o que lhes permitirá uma
reciclagem mais tarde, quando o filho não puder mais estar sempre ao seu lado. Além
disso, os pais têm, assim, uma experiência que mostra como a vida privada é
indispensável para um bom equilíbrio e estarão mais dispostos a respeitarem a dos
filhos.
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CAPÍTULO III
Não é fácil ser pai, mas também não é fácil ser filho
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NÃO É FÁCIL SER PAI, MAS TAMBÉM NÃO É FÁCIL
SER FILHO
3.1 - O Que É Ser “Filhos”?
As crianças de hoje recebem ao longo de seus anos de formação, o
ensinamento de que os adultos sempre sabem muito melhor do que elas, o que é bom
ou ruim. Ao invés de estimulá-las a tomar decisões, ensinam-nas a aprender a
obedecer ordens. Ensinam às crianças a respeitar e não serem respeitadas.
Será que realmente devemos impor a nossa vontade aos nossos filhos? Pais e
filhos têm toda a possibilidade de conviver num universo de respeito e apreço
recíprocos compartilhando dos mesmos valores.
Os filhos procuram nos seus pais segurança, conforto e acima de tudo, amor.
A criança precisa ter confiança em seus pais e acreditar neles. Se uma mentira
por menor que seja for descoberta, seus filhos não mais acreditarão em você. O
mesmo acontece com o não cumprimento de uma promessa. Se prometer, cumpra.
Não importa se for um castigo ou um agrado. Não invente desculpas para o não
cumprimento de uma promessa. Os pais devem ter um padrão coerente de ações em
relação às crianças, ao que lhes permitirão ou não fazer. A criança sempre perdoa
seus pais, mas jamais esquece, passando a não acreditar mais neles e o respeito que
os filhos têm em relação a seus pais, pode ser prejudicado.
Para Lee Salk (1982): “Quando você é inconstante, o comportamento de seu
filho será, quase sempre, um mau comportamento, pois ele a estará testando para ver
até onde você irá”.
É difícil ser filhos: não são donos de suas vontades e vidas. Parecem que nem
pertencem a este mundo. Quando se trata de uma ordem, não existe questionamento.
33
Às vezes o não do pai é o sim da mãe, ou vice-versa, sem nenhuma lógica. A
confusão é armada e a criança fica sem saber como agir.
Educar os pais é a tarefa dos filhos e não é uma tarefa fácil.
As crianças do mundo inteiro se empenham em educar seus pais. Mas
infelizmente, não possuem a grande quantidade de livros e manuais de instruções
como seus pais têm em sua biblioteca particular, seus livros para criar seus filhos.
As crianças gostariam que seus pais entendessem o seu mundo. Um mundo
em que elas gostariam de compartilhar com seus pais.
Cabe aos filhos acabar com essa desigualdade que rege o relacionamento
entre pais e filhos, mantendo com isso a função dos pais de demarcar os limites dos
filhos sem instalar o caos. Não fazendo com isso, um universo de papéis: pais sempre
serão pais e filhos sempre serão filhos.
Como os pais, os filhos acreditam que os seus são os melhores do mundo e ao
mesmo tempo, os pais e os filhos dos vizinhos, estes sim são os ideais. É claro, não
convivem conosco.
É apenas uma palavra que resume estes questionamentos: convivência. A
convivência é difícil e complicada quando se trata de compartilhar o mesmo espaço.
Não somos seres únicos. A todo instante da vida, compartilhamos nosso espaço com
infinidades de pessoas desconhecidas a todo instante: dentro do ônibus, no elevador,
caminhando pela rua, no cinema, no trabalho, na escola... em fim, em inúmeros
locais. E por que não compartilhar com as pessoas que mais amamos nesse mundo?
Nossos pais e nossos filhos.
Toda convivência é feita de reajustes, enquadramentos e aceitações. No
casamento , por exemplo, quem nunca se viu em conflito ao ajustar-se a convivência
com o seu cônjuge? Com os filhos não é diferente. As crianças quando pequenas, se
encontram no período da descoberta e em tudo querem tocar. É claro que não será
34
fornecido à criança um vaso de porcelana chinesa para que possa quebrá-lo, pois isso
é o óbvio que aconteça. Então ao invés de agressões e situações que possam causar
traumas e arrependimentos, é melhor que o vaso de porcelana chinesa fique longe do
alcance das crianças até que estas entendam o que devem ou não fazer uso.
O espaço de cada membro da família deve ser respeitado. Digo com isso, até
o espaço infantil. Por que não?
3.2 - Os Filhos e Sua Principal Queixa
Gradativas transformações históricas resultaram no contexto social em que se
vive.
Como grande exemplo de tais transformações, é possível citar a conquista do
mercado de trabalho pelas mulheres.
As donas de casa de outrora cederam lugar às trabalhadoras atuais. As tarefas
domésticas, anteriormente desempenhadas pelas “mães donas de casa”, hoje são
desenvolvidas por outros.
A família, unidade fundamental da sociedade, não encontra mais tempo para
exercer suas funções. Por conseguinte, designa tais funções a outras instituições – em
especial à escola.
Inevitavelmente, surgem os filhos frustrados com a insubstituível presença da
família. Tais frustrações são refletidas em inúmeras situações sociais, gerando
problemas junto à escola e principalmente na relação entre pais e filhos. Começam
então, os questionamentos dos filhos:
“Por que meus pais quase não tem tempo para mim?”
“Por que os pais dos meus amigos estão sempre por perto?”
“Por que meus pais não dão a mínima para o que faço?”
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É muito difícil para uma criança principalmente quando é pequena entender
algumas atitudes dos pais. Acabam achando que seus pais não gostam dela.
Os filhos de alguma maneira acabam sinalizando o que os estão
incomodando. Cabe aos pais estarem “antenados” para as possíveis mudanças no
comportamento dos filhos e se fazerem sempre presentes na vida cotidiana de sua
criança, evitando assim, que seu filho se sinta negligenciado e abandonado pela
família.
36
CAPÍTULO IV
A relação pais e filhos hoje
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A RELAÇÃO PAIS E FILHOS HOJE
Percebe-se que muitos pais hoje em dia têm sérias dificuldades em
estabelecer limites para os filhos e em dar fim a discussões e pequenas questões
simples do dia-a-dia. Nisso são completamente diferentes dos pais da geração
anterior. Independentemente do nível de conhecimento e cultura, muitos pais com os
quais convivemos têm-se mostrado incrivelmente incapazes de exercer sua
autoridade junto aos filhos.
Alguns, mais do que os outros parecem temer exercer essa autoridade. Em
determinados momentos, esta forma de agir, longe de melhorar as coisas, torna a
relação bastante complicada e extenuante.
De uma maneira geral, parece que as mães apresentam esse tipo de
dificuldade em maior grau que os pais, da mesma forma que as mães que trabalham
fora, por sua vez, tendem a apresentar essa “síndrome” de forma ainda mais
acentuada.
Sem saber como agir diante das novas relações de forças os pais
abandonaram a postura excessivamente rígida anterior, o que foi sem dúvida, muito
bom. O problema é: como encontrar a medida certa entre o “sim” e o “não”? Como
os modernos livros e artigos de psicologia infantil tendem a não apresentar regras, os
pais ficam “paralisados” diante da nova situação.
Os pais parecem ter desaprendido, por exemplo, como dizer um simples
“não” de forma convincente, quando precisam negar alguma coisa aos filhos. Na
maior parte das vezes, esse “não” soa como um “sim”.
As coisas não foram mais fáceis para os nossos pais, não. As crianças não
mudaram. São e serão insistentes quando querem alguma coisa. Foram os pais que
mudaram: antes eles tinham certeza do que pretendiam em relação aos filhos e, por
isso mesmo, não davam possibilidade de tantas discussões acerca de coisas simples
como “hora de dormir”, “comer ou não determinados alimentos” etc. Todas essas
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questões, que eram coisas definitivas para os pais da geração anterior, não o são mais
hoje. Se essa mudança de atitude é boa ou ruim, não sabemos ainda. O que observase, é que tudo isso não ocorreu como escolha, como decisão pessoal; se assim fosse,
poderíamos até achar que houve realmente uma mudança significativa de postura. Na
verdade, o que está acontecendo? Na medida em que os pais acham que não podem
limitar seus filhos em nada, que a criança precisa de diálogo, de muitas explicações,
até porque esses pais são produto de uma geração que lutou muito por esse tipo de
valores e procuram dar aos filhos muito mais liberdade do que tiveram.
Entretanto, estão insatisfeitos na prática. Por quê? Porque, observamos na sua
relação com as crianças, que agem movidos não por uma convicção anterior, mas
pelo que julgam ser o “moderna”. Deixam as crianças fazerem de tudo, não limitam
nada.
É claro que, depois de algum tempo, quando o limite de sua paciência se
esgota, tentam dizer não. Muitas vezes têm vontade de limitá-los desde o início, mas
só o fazem quando estão exauridos, quando não agüentam mais. Dessa forma,
estimulam a criação de um círculo vicioso em que a criança, percebendo sua força,
passa a repetir o mesmo comportamento em outras ocasiões. Ocorre que estas “outras
ocasiões” podem, por exemplo, envolver perigo ou urgência e, então, a criança,
habituada a ter sempre muitos “sins”, cria verdadeiras batalhas ao ouvir um “não”.
Pensando do enfoque do filho, como é que se pode pretender que ele entenda
essas mudanças? Por que antes podia e agora não pode? Fica difícil compreender e,
portanto, aceitar.
Chega a impressionar a dificuldade de alguns pais em definir uma série de
coisas simples como hora de dormir, de comer, tipo de programa de tv que pode ou
não ser assistido etc. Fica claro que eles gostariam de estabelecer esse tipo de regras,
mas alguma coisa no seu íntimo os impede.
Na verdade, o grande problema consiste no fato de os pais não saberem mais
se é ou não correto deixar ou não deixar, fixar ou não fixar padrões e regras de
39
comportamento. Freqüentemente, quando chegam a fazê-lo, o fazem em momentos
de descontrole, o que é contraproducente. Mesmo assim, no momento seguinte
voltam a ceder às pressões das crianças porque não estão imbuídos da certeza
necessária à efetivação prática de qualquer ato.
O mais preocupante é perceber claramente que esta prática não os satisfaz.
Parece que eles se obrigam a um tipo de comportamento, mas, dada a ambigüidade
do seu posicionamento, não conseguem mantê-lo por muito tempo. Na verdade, a
impressão que se tem é que eles se obrigam a um comportamento no qual não
acreditam verdadeiramente, mas que se impõem, porque lhes parece ser a forma
“atualmente correta” de educar.
A confusão de sentimentos é tão grande que eles praticamente se anulam
como indivíduos. As informações recebidas através dos meios de comunicação e
veiculadas de forma subliminar nos círculos sociais contribuem para “paralisar” os
pais, para diminuir sua independência e capacidade de julgamento. Todas as coisas
podem parecer altamente prejudiciais à liberdade, à democracia em que pretendem
criar seus filhos. O medo impede-os de agir de forma espontânea. Eles próprios não
conseguem ter consciência de até onde agem porque assim o desejam ou por
temerem cercear o potencial dos filhos.
A culpa que lhes advém por uma admoestação mais severa é tão grande que,
freqüentemente, procuram evitar outras situações semelhantes, partindo para atitudes
totalmente contrárias às que gostariam de ter. Temem sempre, no íntimo, que estejam
errando, “frustrando” os filhos. A passar por esse tipo de ansiedade, de situação de
culpa, muitos pais preferem ceder aos desejos e exigências dos filhos, mesmo quando
discordam da situação. Parece-lhes menos aflitivo ceder aos caprichos das crianças
do que amargar depois o sentimento de culpa.
O que é preciso considerar é que ninguém consegue viver todo o tempo se
enganando, fingindo estar agindo espontaneamente quando não o está. Mesmo
porque, as dificuldades e pressões da vida moderna, que são a realidade de todos nós,
exigem certo tipo de organização. Ceder a todas as necessidades infantis é
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completamente impossível e descabido. A maioria de nós ignora realmente o que
significa ter filhos até que os tem. E muito embora concordemos que é muito mais
agradável agir como as crianças, a vida não nos permite esse tipo de luxo. Por mais
que sejamos flexíveis e livres na nossa vida familiar, uma casa, para funcionar,
principalmente quando existem filhos, tem que ter alguma estrutura: em geral, pai e
mãe trabalham fora e, portanto, têm horários a cumprir. A criança também tem
horário para entrar na escola ou creche. Portanto, mesmo que tenhamos a disposição
de deixar nosso filho decidir sobre a sua própria hora de comer, se ele alega não estar
com fome na hora em que todos vão almoçar, não se pode ignorar, por outro lado, a
realidade que a geração dos pais de hoje enfrenta. A sociedade é organizada dessa
forma: obrigações, trabalho, engarrafamento, violência, competição. Estes fatores
fazem parte do cotidiano da maior parte das pessoas. Será possível, pois, a um pai se
deter a atender as pequenas exigências de uma criança que, inclusive, depende, ela
também, financeiramente, do trabalho desse pai ou mãe? Será que esta é a forma
correta de educar – fazendo todas as vontades, independentemente do que elas
representam em termos de desgastes inúteis, emocionais e financeiros? Será que é
realmente necessário para a realização dos nossos filhos discutir ou satisfazer todos
os seus sucessivos desejos? Se não estamos com pressa, se temos tempo,
disponibilidade
financeira,
infra-estrutura
para
atender
a
essas
pequenas
necessidades, ótimo! Acho até que devemos. Mas, se não for possível, ou se você
não estiver com vontade, não se obrigue. Explique claramente a situação a seu filho.
Fale com carinho, porém com firmeza, coloque-se também se estiver cansado ou sem
vontade de fazer algo. Assim como a criança sabe reivindicar, sabe também, e, em
geral, com muito boa vontade, compreender. Pena que poucos pais hoje façam uso
dessa coisa simples na sua relação com os filhos: conversar franca, amigável e
honestamente.
Não menosprezemos nossos filhos. Sejamos firmes, mas não indelicados.
Seguros, não agressivos. Apenas isso. Reocupemos o espaço necessário a que duas
personalidades convivam. Nunca uma ou somente uma. Esteja certo: Nenhuma das
modernas teorias de Educação ou Psicologia pretendeu, em nenhum momento,
sujeitar os pais a caprichos sem fundamento dos filhos, nem transformar os adultos
em meros executores dos desejos das crianças.
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Quanto mais nos mostrarmos inseguros, quanto mais dermos motivos para
que nossos filhos nos vejam como pessoas que realmente não acreditam no que
fazem, mais eles terão necessidade de agir de uma forma a investigar e derrubar este
tipo de suspeita, porque somos nós que lhes damos segurança e, portanto, se eles nos
vêem como pessoas inseguras, eles também se tornam inseguros.
Os pais tentam revelar suas vontades, desejos e insatisfações de modo claro e
direto, exatamente como fazem as crianças. Sem medo de que isso possa prejudicar a
formação dos filhos. Ao contrário, essa forma de agir só irá estreitar os laços entre
pais e filhos, porque, sendo autênticos, os pais farão menos “sacrifícios”, que é de
pequenas concessões que muitas vezes fazemos. Aqueles que recebem nem notam
que, na verdade, você deixou de fazer algo que queria (ou fez algo que não queria).
Quando fazemos este tipo de “sacrifícios”, vamos, mesmo que inconscientemente,
contabilizando essas doações, esperando algum tipo de retribuição que, muitas vezes,
não vem. Não vem por muitos motivos, mas, principalmente, porque talvez nossos
filhos nem saibam dessa “dívida” que têm conosco. Portanto é mais saudável para a
relação, que só se façam doações que realmente queiramos fazer. Com isso, nossos
filhos nos conhecerão melhor, acreditarão mais em nós e, principalmente, passarão a
nos ver como pessoas, não apenas como “meu pai” ou “minha mãe”.
42
CAPÍTULO V
Existe fórmula mágica para educar pais e filhos?
43
EXISTE FÓRMULA MÁGICA PARA EDUCAR PAIS E
FILHOS?
Por que a relação entre pais e filhos é tão conflitante? Uma pesquisa realizada
nos Estados Unidos constatou que as mães americanas reservam a migalha de onze
minutos por dia para conversar com seus filhos. Os pais com muito esforço chegam
ao total irrisório de oito minutos num dia da semana. E, infelizmente esta parece ser
uma tendência universal. O ritmo de vida acelerado da vida contemporânea acaba por
nos levar à cômoda aceitação do “não dá tempo” e empurrando, para um longínquo e
improvável amanhã, o diálogo.
Se os pais não têm tempo, as crianças não o têm mais ainda. Correm do curso
de inglês para a natação, para o colégio, para o judô, para a aula de informática... e os
pais? Bem, os pais precisam trabalhar. E, assim os dias vão passando...
Muitos pais, devido a essa falta de tempo, criam os filhos livres, legando estar
deixando-os serem eles próprios. Quase nunca os pressionam. Mas esse tipo de
criação também tem seus “poréns”: o que os pais chamam de liberdade, os filhos
traduzem como “falta de orientação”, muito necessária.
Os filhos precisam trocar idéias com os pais a fim de decidir o que fazer, o
que estudar, que objetivo estabelecer na vida. Um pai e uma mãe que simplesmente
apóiam os filhos em qualquer decisão podem ser interpretados como “lavar as mãos”
e, isso, pode prejudicar e muito o relacionamento futuro na relação entre eles.
Quando os filhos crescem, junto com a idade vem o nostálgico
arrependimento de não ter reservado um tempo maior para o bate-papo e as
brincadeiras em família. E o tão negado tempo, não pode ser recuperado. Talvez seja
por isso, que os avós se dedicam demasiadamente aos netos. Quem sabe porque o
tempo deles é maior e já não existe a responsabilidade da educação ou então, é o
arrependimento de não ter reservado um tempo de qualidade com seus filhos e
tentam compensar com os netos, o que não foi realizado com os filhos?
44
São perguntas difíceis, que talvez não tenham respostas.
E o que fazer para que isso não aconteça? Sabemos que não existe uma
fórmula mágica, nem o dia possui mais que vinte quatro horas. Precisamos aprender
a organizar o nosso tempo de forma que consigamos fazer as nossas tarefas diárias e
ainda, ter o prazer de curtir a nossa família.
Sabemos que a “profissão” pai e mãe é a vida que nos ensina. Já nascemos
“filhos”, mas nem por isso é mais fácil o ser.
Uma coisa é o que os livros relatam. Outra é a convivência diária. Como
teoria e prática: uma depende da outra. Somos pessoas diferentes num mesmo
ambiente e ao mesmo tempo, somos tão iguais. Quando eu era criança, ouvia minha
avó dizer: “Mostre-me os filhos, que eu lhe direi quem são seus pais”. Na época eu
não entendia o significado desse provérbio. Hoje o justifico com outro: “Quem sai
aos seus, não degenera.” Mas se a recíproca é verdadeira, por que é tão difícil o
relacionamento entre pais e filhos?
5.1 - Quantidade x Qualidade
Muitos justificam a falta de tempo lembrando que a qualidade do tempo
disponível com as crianças supera a quantidade. Será? É óbvio que a qualidade do
tempo aproveitado com nossos filhos é essencial, mas a quantidade também é muito
importante. Não adianta em nada reservar uma migalha de tempo com qualidade aos
filhos se o restante for de ausência. Isso não irá suprir em nada as nossas obrigações.
Daremos, apenas, ótimas risadas e tiraremos excelentes fotos para recordação.
Como já mencionei anteriormente, muitos pais justificam sua ausência no
convívio com os filhos, ao cansaço do trabalho durante a semana, preocupando-se
apenas,em descansar no seu tempo livre.
45
Outros pais usam o cansaço do trabalho, como pretexto para poder sair sem
seus filhos ou se isolarem num momento de solidão. No fundo, estas são apenas
usadas como uma forte necessidade de escapar das obrigações e da disciplina
familiar.
Os pais são os guardiões dos filhos, não apenas seus genitores. Têm como a
principal função, protegê-los e cuidá-los como se isso fosse uma missão sagrada que
supera os interesses e conceitos da vida exterior. Pais são como anjos da guarda,
subordinados unicamente a Deus. Eles são unidos aos filhos por um laço indissolúvel
por toda a vida. E uma das missões desse anjo é um momento de compartilhar a
convivência.
46
CAPÍTULO VI
O relacionamento entre pais e filhos: uma relação
encantadora apesar de tudo
47
O RELACIONAMENTO ENTRE PAIS E FILHOS: UMA
RELAÇÃO ENCANTADORA APESAR DE TUDO
Nada na vida é mais encantador do que ter um filho.
Nada na vida é mais encantador do que ter pais.
Apesar de todos os confrontos e dificuldades que existem nessa relação, pais
e filhos foram presenteados uns aos outros por Deus. E estar em nossas mãos, tanto
como pais e tanto como filhos, fazer desse relacionamento uma história de vida e
ensinamentos prazerosos.
Prefiro acreditar numa relação em que pai e filho caminhem na direção ao
amor e ao entendimento.
Segundo Maria Montessori (1990):
“Devemos considerar a criança o destino de nossa vida
futura. Quem desejar conseguir qualquer benefício para a
sociedade deve necessariamente apoiar-se na criança, não só
para salvá-la dos desvios, como também para conhecer o
segredo prático da nossa vida. Sob esse ponto de vista, a
figura da criança apresenta-se possante e misteriosa, e nós
devemos meditar sobre ela porque, trazendo encerrado em si
o segredo de nossa natureza, transforma-se em nosso
professor”.
Depende de nós, pais, encontrar o caminho para o paraíso. Porque certamente
só sentiremos o paraíso que é viver com nossos filhos quando houver
correspondência no amor, na doação, no interesse mútuo, quando não nos sentirmos
os eternos culpados por tudo que acontece com nossos filhos. Quando além de apoiálos e ouvi-los sempre que for preciso, também possamos falar e ser ouvidos. Quando
a relação for antes uma sólida amizade, dia a dia enriquecida, que a tradicional
relação pai-filho.
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O tempo passa. Logo aquela criança tão indefesa será um adulto pronto para
formar uma outra família. Os ensinamentos herdados de seus pais serão aprimorados
com a sabedoria adquirida por sua vida e passada para os seus filhos. A intenção dos
pais é sempre acertar: se erram é tentando acertar, como já foi dito, não existe maior
amor no mundo que o amor de pais para com seus filhos.
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CONCLUSÃO
O acontecimento mais extraordinário na vida dos pais é conceber um filho e
nascer é o acontecimento mais extraordinário na vida de um filho.
Podemos afirmar sem sombra de dúvidas que a crise do mundo moderno é
emocional A esperança de um futuro melhor para a humanidade reside na sanidade
emocional das crianças a fim de que aprendam a resolver realisticamente os
problemas, que são o material de que é feita a vida.
Os pais e filhos devem dia após dia, aprenderem um com outro a melhor
forma de comunicação com o objetivo de permitir-lhes chegar com mais facilidade à
raiz dos distúrbios e encontrar-lhes as melhores soluções.
Qual o critério que podemos utilizar para definir com precisão o que vem a
ser pais ou filhos? É uma pergunta que talvez não tenha resposta, mas com certeza a
humanidade vive numa busca constante para tentar respondê – la com clareza para
acabar de vez com todos os problemas enfrentados num relacionamento entre pais e
filhos. Mas uma coisa é certa: quem já viveu a maternidade e paternidade não
imagina mais a sua vida sem seus “adoráveis anjinhos”, que independente da idade
que possuam, sempre serão tratados, na maioria das vezes, como “bebês”, pois para
os pais, estes nunca crescem e, para os filhos, os pais sempre serão a lembrança de
um “futuro” escrito em linhas tortas, pois este futuro só pertencem a eles, mas se não
fizessem esse caminho de mãos dadas com seus pais, esse futuro que um dia será o
presente, não seria seguido com tamanha confiança e segurança presenteados pelos
seus pais.
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BIBLIOGRAFIA
BETTELLEIM, Bruno. Uma vida para seu filho. São Paulo: Círculo do Livro, 1987.
KENDALL, Francês. Superpais = Superfilhos. São Paulo: Círculo do Livro, 1983.
MONTESSORI, Maria. A criança. São Paulo: Círculo do Livro, 1990.
SALK, Lee. O que toda criança gostaria que seus pais soubessem. 11. ed. Rio de
Janeiro: Record, 1982.
SEVERE, Sal. A educação pelo bom exemplo: coletânea das histórias divertidas e
idéias práticas contadas pelos próprios pais. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
ZAGURY, Tânia. Sem padecer no paraíso. 9. ed. Rio de Janeiro: Record, 1994.
ZAGURY, Tânia. Limites sem trauma. 23ª. ed. Rio de Janeiro Record, 2001.
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Pós-Graduação “Lato Sensu”
Curso Terapia de Família
Título: As dificuldades na relação entre pais e filhos
Autor: Ana Claudia de Araujo Gonçalves
Orientador: Vera
Co-orientador: Fabiane Muniz
Avaliado
por:
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Grau:
___________
________________________, _______ de _______________de 2004.
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Título: As dificuldades na relação entre pais e filhos