A ÉTICA NA ENFERMAGEM
Os enfermeiros são profissionais de saúde constantemente chamados a intervir e a
tomar decisões, no sentido de preservar a saúde, combater a doença, ajudar a nascer
e a morrer.
A ética na Enfermagem
Em saúde e como não poderia deixar de ser em enfermagem, não existem cuidados sem
uma componente ética, onde se apela aos valores humanísticos, encontrando-se estes no
centro da sua existência e da sua atividade.
Desde sempre, a enfermagem teve a responsabilidade de cuidar dos indivíduos, quando
as suas condições e recursos os impossibilitam de tomar conta de si mesmos. O que significa ter presente que cada pessoa tem uma forma particular de viver essa experiência
de doença, respeitando-a seja qual for a sua condição. E ainda, que a saúde dos indivíduos esteja seriamente afetada, o cuidar nunca pode implicar a negação de nenhuma das
componentes da pessoa.
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Ora a enfermagem é uma profissão que concretiza a sua ação na relação com pessoas e
essa relação “ … com o Outro questiona-me, esvazia-me de mim mesmo e não cessa de
esvaziar-me, descobrindo-me possibilidades sempre novas.” … no meu agir, chegando
“até dar voz àqueles que a não têm” .
Uma ação em enfermagem, só é ética na medida em que implica uma relação com o
outro. Assim, a bioética em enfermagem ultrapassa o domínio tradicional da ética médica para desempenhar um papel de clarificação dos valores humanísticos, que transcendem os próprios limites das profissões ligadas à saúde, podendo ser encarada como a
“consciência” dos homens na medida em que os leva a refletir sobre a sua relação com o
outro, na sua conduta, no seu modo de agir... Com o objetivo de os tornar mais Humanos.
A moral na Enfermagem
A enfermagem, pressupõe um código moral único, em que o bem e o mal e o caminho a
seguir estão previamente estabelecidos, marcado pelo respeito pelos múltiplos códigos
morais próprios a cada ser humano, pois o bem e o mal relativizam-se e concretizam-se
em cada situação.
Partindo desta premissa e acreditando em valores morais e éticos como o respeito pelas
pessoas, a dignidade humana, a compaixão, os Direitos do Homem, proclamados em
1948, assim como os Direitos dos Doentes, a unicidade de cada ser nas suas vivências…
irei refletir com os leitores como vivo o ser enfermeiro, numa dimensão ética.
O cuidar e a Enfermagem
Ser enfermeiro é acima de tudo salvaguardar os direitos do doente, é promover, aumentar a sua auto-estima, estabelecer uma relação empática onde ele volte a sentir-se amado
respeitado,... Enfim sentir-se pessoa. Para atingir esses objetivos, é necessário passar
pelo cuidar, razão da existência da enfermagem.
Cuidar é preservar a vida... É dar qualidade existência do doente e ao seu projeto de
vida. É promover que cada um atinja o máximo de conforto possível em cada momento.
A enfermagem sempre significou “cuidar”, sempre existiu, porque há que preservar a
vida e a humanidade... o que não é tarefa simples. Organizou-se e profissionalizou-se,
com o objetivo de cuidar das pessoas, para que estas mantivessem, recuperassem ou
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melhorassem o seu estado de saúde ao maior grau de independência e bem-estar possíveis, dentro dos seus limites.
A compaixão na Enfermagem
Cuidar é o “...ideal moral da enfermagem e a sua finalidade é a proteção, promoção e
preservação da dignidade humana...”, é um momento de aprendizagem e de crescimento do eu de cada um, sendo necessário compaixão.
Compaixão não significa que se adote um comportamento imbuído de sacrifício, de
“pena”, dando tudo e caindo na auto resignação. “Compaixão” significa sair de mim
mesmo, ir ao encontro do doente levando-o a um bem-estar, de modo que a pessoa se
sinta amada, cuidada, aceite, compreendida, valorizada... Em harmonia com a vida.
“Compaixão” é por assim dizer, um comportamento que vai além do vivido para se definir como sentido. É uma “... relação vivida em solidariedade com a condição humana, compartilhando alegrias, tristezas, dores e realizações...” enfatizando a humanização.
Esta dimensão ética da enfermagem – a compaixão atinge o seu auge no cuidar, que
traduz um compromisso entre o enfermeiro e o doente criando a possibilidade de dar e
receber a que muitos autores chamam de, cuidar/cuidado.
Muitos autores definem ainda esta forma de cuidar, como um processo entre seres humanos, implicando um compromisso moral de proteção da dignidade humana e preservação da própria humanidade, no qual o enfermeiro tem diferentes maneiras de manifestar tais como: Passar tempo com aquele que sofre, presença autêntica junto daquele que
sofre, confortar o outro física e emocionalmente, tocar o outro, de forma individualizada
e carinhosa, demonstrar (verbal e não verbalmente) interesse, preocupação e compreensão por aquele que sofre e escutar deixando-o expressar os seus sentimentos.
A compreensão do homem e do enfermeiro
A enfermagem prima pelo cuidar e “Cuidar” implica compreender o Homem como um
“ser-no-mundo”, não como algo especial mas como alguém que está aberto à compreensão, lançado a um número indefinido de possibilidades, tentando apreender e compreender o mundo enquanto se compreende a si mesmo.
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Cuidar de uma pessoa, passa indiscutivelmente por uma compreensão e reflexão da sua
singularidade e unicidade, que é o seu “existir-no-mundo”, enquanto dá e recebe, desenvolve e estabelece relações “com-o-outro” e “com-o-mundo”... agindo e reagindo!
Este nosso “ser-no-mundo” está envolto numa afetividade que nos “...põe perante o fato
do nosso modo originário de captar e compreender o mundo ser algo, cujos fundamentos nos escapam…”, mas por outro lado, permite à pessoa consciencializar-se da sua
existência, vivendo sentidamente cada situação presente revivendo afetivamente recordações do passado e antecipando com emoção o futuro...
Espera-se assim do enfermeiro, muito mais do que um ser entre-os-outros, para se
afirmar pela proximidade de um ser-com-os-outros, cuidando numa abrangência intersubjetiva, onde quem cuida e quem é cuidado se distanciam por presenças muito próprias.
Para tal, espera-se do enfermeiro, uma postura consciente, competente, confiante, envolvente (...) procurando encontrar os seus propósitos e valores, participando na criação de condições imediatas (...) ao cuidar autêntico, numa de relação cuidador- cuidado…
Carlos Freitas
Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Mental e Psiquiátrica
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A Ética na Enfermagem - Ordem dos Enfermeiros