O AQUÁRIO
Texto de Karl Valentin (1908).
Traduzido e adaptado por Michael Wilson e Oliver Double.
Tradução do inglês: Tarsila Rubim Battistella.
Texto extraído dos anexos da dissertação de mestrado “O jovem
Brecht e Karl Valentin: a cena cômica na república de Weimar”,
de Roseli Maria Battistella, de 2007, na
Universidade do Estado de Santa Catarina.
Tendo falado sobre aquários mais cedo – Eu não quero dizer mais
cedo hoje, é claro – mais cedo quando eu morava na Rua Alta (High Street), é
claro, isso seria ridículo, ninguém poderia morar na Rua Alta por causa de todos os bondes – Eu morei nas casas na Rua Alta. Bem, não em todas as casas, só em uma delas, aquela que está espremida no meio das outras. Provavelmente você sabe o que eu quero dizer. E é lá que eu vivia. Bem, não casa
inteira, só no andar térreo, que fica debaixo do primeiro andar e sobre o porão,
e há uma escadaria que sobe para o primeiro andar e também desce novamente. Só que não é a escada que sobe, nós é que subimos as escadas, é só uma
figura de linguagem.
E eu tinha uma sala de estar lá, onde eu tinha a minha casa. Realmente eu tinha a minha cama na sala de estar extra e eu morava no quarto. Na
sala de estar, para o meu próprio prazer, eu tinha um aquário que ficava no
canto e se adequava perfeitamente lá. Eu poderia ter tido um aquário redondo,
mas sobrariam partes no canto. O aquário inteiro não era maior do que isso,
digamos (indica), aqui estão os dois lados de vidro – de fato eles não são minhas mãos, só estou tentando ilustrar para vocês poderem entender melhor – e
aqui estão os dois lados de vidro, e por baixo está o fundo que segura toda a
água de forma que quando você põe água até o topo ela não vaza pelo fundo.
Se não houvesse nenhum fundo, você poderia colocar dez, vinte ou até mesmo
trinta galões e tudo vazaria.
É claro que com uma gaiola de pássaros é completamente diferente.
Numa gaiola de pássaros as paredes são bem parecidas com as de um aquário, só que as paredes de uma gaiola de pássaros não são feitas de vidro, mas
de arame.
É claro que não faria sentido construir um aquário dessa maneira
porque o aquário seria incapaz de segurar a água, ele continuaria deixando a
água vazar pelo arame. Então você vê, tudo é feito de acordo com as leis da
natureza. E então eu tinha um peixe-dourado no aquário e mantinha um pássaro na gaiola, embora recentemente eu tenha feito uma coisa boba. Eu coloquei
o peixe-dourado na gaiola e o canário no aquário. É claro que o peixe-dourado
continuava caindo do poleiro e o canário teria se afogado no aquário se eu não
tivesse colocado tudo de volta ao normal, colocado o pássaro de volta na gaiola e o peixe-dourado de volta no aquário, o lugar que pertence a eles.
E agora o peixe estava nadando alegremente ao redor do aquário,
primeiro na superfície e depois indo para o fundo, quase todos os dias ele nadaria de uma maneira diferente. Anteontem eu tive um contratempo. Eu percebi
que o peixe precisava de mais água, então eu enchi um balde, mas e aí havia
água demais, e ela estava tão alta (indica) que passou por cima do topo do aquário, o que eu só notei no outro dia. Um dos peixes-dourado nadou para fora,
por cima do topo do aquário e caiu no chão, porque no quarto onde está o aquário nós temos um chão – e lá estava ele, deitado, mas só depois de ter parado de cair.
Agora, o peixe não tinha água no chão porque a não ser no aquário,
não temos água no chão. Então a proprietária disse: –“Você verá, esse peixe
não ficará bem no chão, você deveria acabar com o sofrimento dele”. É claro
que eu não queria que ele sofresse mais do que o necessário, dessa forma eu
pensei que poderia bater nele com um martelo. Porém, eu pensei que poderia
acabar batendo com o martelo em meu dedo polegar e, assim, pensei em dar
um chute nele. Mas se você não der um chute direto, ele acabaria sofrendo ainda mais. Então eu tive uma idéia brilhante. Eu disse a mim mesmo: “Vou pegar o peixe, carregá-lo até o rio e dar-lhe um bom e velho afogamento”.
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Karl Valentin – O AQUÁRIO