1
O PODER NO LÓCUS ACADÊMICO: uma breve incursão
LU
IZ
C
w w AR
L
w. OS
lcs D
an OS
to
S
s.p AN
ro TO
.br S
Temática bastante ampla, a qual fomenta interesse em distintas áreas - política, jurídica,
econômica, sociológica, filosófica, administrativa, dentre outras. O termo poder, em uma
definição no sentido lato, pode ser compreendido como a capacidade ou possibilidade de
indivíduos ou grupos de pessoas agirem e produzirem efeitos. De acordo com Bobbio e
Pasquino (1998, p. 933), em uma leitura no sentido stricto, na vertente social, “[...] o poder
torna-se mais precioso, e seu espaço conceptual pode ir desde a capacidade geral de agir, até à
capacidade do homem determinar o comportamento do homem: poder do homem sobre o
homem”. Nessa dimensão social, depreende-se que o poder é essencialmente relacional, em
outras palavras, somente é possível em um contexto que envolva a relação de uma pessoa ou
de um grupo.
No entendimento dos autores supramencionados poder apresenta complexidade e
abrangência, na medida em que, enquanto fenômeno social - relação entre os homens deve ser
acrescida a esfera de atividade à qual o poder se refere, em suma, para definir certo poder, não
basta especificar a pessoa ou grupo que o detém e a pessoa ou grupo o qual a ele está sujeito.
No mundo acadêmico - organização altamente hierarquizada: tanto nas relações estudanteprofessor quanto nas relações professor-dirigente se podem identificar situações marcadas
pelo exercício do poder e pela disciplina. Convém lembrar, que no Brasil, desde a década de
1920, o trabalho na educação brasileira vem sendo submetido a uma divisão social,
considerada relevante, por alguns estudiosos, para que se obtenha o alcance dos objetivos prédefinidos e transforme o lócus da aprendizagem. Assinale-se que a crítica que tem sido feita à
legislação, a qual baliza esta forma de organização do trabalho, assim como as mudanças
institucionais advindas da redemocratização do país têm contribuído para a evolução do
quadro.
Dentre os muitos autores que realizaram investigações sobre o tema em foco, destaca-se o
sociólogo alemão Max Weber, o qual analisou o fenômeno burocrático na sociedade moderna,
sob o prisma conceitual de poder introduzido pela política: estudou as organizações como
fenômeno político. Para este autor, as relações de mando e obediência que se estabelecem em
_______________
Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br
2
um determinado tempo e espaço são fundamentadas pela legitimidade ou pelo poder legítimo.
Nessa perspectiva, o processo de dominação pode acontecer de diferentes maneiras - pela
coação, com o uso direto da força ou de ameaças e por forças mais sutis, a exemplo, daquele
que dita regras e consegue impor interesses sobre os outros. Weber, a partir das leituras de
LU
IZ
C
w w AR
L
w. OS
lcs D
an OS
to
S
s.p AN
ro TO
.br S
Bobbio e Pasquino (1998), identificou três tipos de poder ou de dominação social: o poder
carismático, o poder tradicional e o poder racional legal.
Em relação ao poder carismático, exemplifica-se quando o líder exerce sua influência em
virtude de suas qualidades pessoais - ancora-se na fé que o liderado deposita no líder. Quanto
ao poder tradicional, ocorre quando o poder de mando tem como lastro a tradição e o passado
- está fundamentado no costume e no sentimento de que é correto fazer as coisas nos métodos
tradicionais. No que concerne ao poder racional legal, característico das sociedades modernas,
funda-se sobre a crença de que o poder é legitimado por leis, regras, regulamentos,
regimentos, instruções normativas, entre outros assemelhados. Neste último tipo, a fonte de
poder é a lei e o aparelho administrativo de poder é a burocracia, com sua estrutura
hierarquizada.
Na percepção de Foucault (1979), o poder é entendido como processo ou fenômeno presente
nas microrrelações sociais, que é expresso nas relações práticas, técnicas e discursos, com a
finalidade de alcançar os objetivos desejados. Para o citado autor, as relações de poder não
podem ser analisadas no âmbito de uma teoria geral e globalizante. Ao contrário, é necessário
se orientar por um método analítico de poder, que considere a sua mecânica local em espaços
e discursos específicos e em contextos históricos determinados. A relação é de força, que
circula em rede e perpassa por todos os indivíduos. Nesta esteira de raciocínio, por exemplo,
nas relações de trabalho são observadas como as políticas adotadas e a gestão de pessoas
instrumentalizam práticas de poder disciplinar nas organizações, configurando movimentos de
relações de poder deste espaço.
Na visão de Galbraith (1986), o exercício de poder é definido como submissão de alguns à
vontade de outros. Portanto, poucas palavras são utilizadas com tanta frequência e ao mesmo
tempo sem a devida reflexão. Em contraponto, ressalta que a forma como o poder é exercido
não acontece de maneira simples. O autor define três instrumentos ou tipos de poder - o
condigno, que obtém a submissão pela capacidade de impor a vontade de um indivíduo ou
grupo por meio da ênfase na punição, na ameaça ou utilizando-se de consequências
_______________
Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br
3
desagradáveis; o compensatório, ou contrário, que conquista a submissão oferecendo
recompensa positiva como, por exemplo, dinheiro ou elogios; e, o condicionado, que é
exercido mediante mudança de uma convicção, ou crença, por intermédio da persuasão,
LU
IZ
C
w w AR
L
w. OS
lcs D
an OS
to
S
s.p AN
ro TO
.br S
educação ou compromisso social.
Como fenômeno psicossocial, a literatura acerca do poder é vasta. Lobrot (1977, p. 184)
define: “O poder é entendido como uma reação e uma atitude humana presentes nas
constantes interações sociais”. Nesta visão, as relações de poder permeiam as vidas das
pessoas cotidianamente, como o ar que respiram, pois elas são seres sociais. Além disso, o
poder está presente, também nas organizações acadêmicas, podendo ser considerado um
fenômeno central dos processos e relacionamentos que acontecem no seu interior.
Especificamente sobre o poder no lócus acadêmico, a partir dos estudos empreendidos,
permite inferir a influência da instituição governo sobre as organizações responsáveis pela
Educação e evidencia que o poder no interior do espaço acadêmico reflete a concepção
dominante de rigidez das normas e pessoas que são designadas para exercerem o controle. Se,
por outro lado, a concepção é modernizadora, democrática, laica, a tendência é evitar a
multiplicação de instâncias de poder, buscar-se gestão mais participativa e criar uma
possibilidade de rotatividade da liderança.
Enfim, percebe-se, salvo melhor juízo, que estes 12 anos do presente século têm sido
marcados por uma tendência de redemocratização, que, apesar dos exageros e erros
cometidos, aponta na direção de um lócus acadêmico na qual o exercício do poder exclua o
autoritarismo e proponha o envolvimento dos diferentes atores no processo decisório. Frisese, porém, que esta tendência é mais explícita nas organizações públicas. Quanto às
instituições privadas, apesar de constarem nos seus documentos oficiais, a participação dos
diferentes segmentos nos Conselhos Deliberativos, na prática, o tipo de poder que prevalece é
o tradicional, salvo raríssimas exceções.
Referências:
BOBBIO, N; PASQUINO, G. Dicionário de política. 11 ed. Tradução de Carmen C.
Varriale. Brasília: UnB, 1998.
FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979.
GALBRAITH, J. K. Anatomia do poder. 2. Ed. São Paulo: Pioneira, 1986.
_______________
Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br
4
LU
IZ
C
w w AR
L
w. OS
lcs D
an OS
to
S
s.p AN
ro TO
.br S
GOULART, Íris Barbosa; PAPA FILHO, Sudário (orgs.). Gestão de Instituições de Ensino
Superior: teoria e prática. Curitiba: Juruá, 2009.
LOBROT, M. A favor ou contra a autoridade. Tradução de Ruth J. Dias. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1977.
WEBER, M. Economia e societá [1922]. Comunitá: Milano, 1980 apud BOBBIO, N;
PASQUINO, G. Dicionário de política. 11. Ed. Tradução de Carmen C. Varriale. Brasília:
Unb, 1998.
_______________
Professor Doutor Luiz Carlos dos Santos, publicado no site www.lcsantos.pro.br
Download

O PODER NO LÓCUS ACADÊMICO - Prof. Dr. Luiz Carlos dos Santos