Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP
Curso de Formação de Voluntários – Projeto “Isabel de Aragão” – 27/03/2011
O trabalho voluntário
Houve um tempo, não muito distante, mas que
vai caindo no esquecimento, quando, no geral, as
tarefas nas Instituições Espíritas eram executadas
quase que totalmente pelos próprios espíritas. Eram
momentos que se faziam muito especiais, pela
oportunidade do encontro, pela aproximação e
entrosamento de novos colaboradores, pela alegria
que imperava, pelo ensejo do convívio de maneira
mais descontraída entre as várias idades, pela reunião
da grande família, enfim.
Bastava a Casa estar precisando de
manutenção, de uma boa faxina, ou precisando de
nova pintura, também arrumação do jardim, entre
outras necessidades, era só organizar o trabalho que
todos estavam sempre atentos ao surgimento de
situações e necessidades e sempre dispostos a
colaborar quando fosse a ocasião de prestar seu
contributo pessoal. Somente em situações muito
especiais e complexas é que se buscava serviço
remunerado de terceiros.
Na área doutrinária, também prevalecia o
espírito voluntário em se fazer presente nas atividades
em que se estava compromissado regularmente, e
naquelas que pedissem trabalho extra para suprir uma
ausência, para atender determinada carência
operacional, para auxiliar esse ou aquele
companheiro, para completar quadro de trabalhadores
para uma nova atividade que estivesse sendo
implantada, ou outra atividade que fosse.
Sabia-se, de antemão, que poderia contar com
os trabalhadores, por serem realmente voluntários.
Um tempo que deixa saudades e que a geração
atual dos espíritas praticamente não conhece.
Não se sabe se o afrouxamento desses laços
de dedicação e voluntariado carinhoso e fraternal com
a Instituição que nos abriga é fruto dos ditos
compromissos da modernidade ou da falta de amor
mesmo por ela.
O que se vê é a crescente necessidade de
contratação de serviços remunerados de terceiros para
que não haja solução de continuidade no
funcionamento das Instituições e das tarefas que lhes
cabem.
Há, na atualidade, uma visão distorcida de
alguns espíritas para com o Movimento Espírita,
deixando estes de ver no Movimento sua oportunidade
de melhor conhecer o Espiritismo e mais aprender a
vivenciar seus postulados, de aí depositar o seu tijolo
de amor em benefício de todos, de maneira
desinteressada e abnegadamente, para enxergar no
Movimento um nicho comercial, interessando-se
muito em vender seus serviços às Instituições quando
da execução de alguma coisa que ela precise, tanto na
área administrativa quanto doutrinária.
Hoje é uma realidade: mesmo as Instituições
tendo dentre seus colaboradores pessoa com essa ou
aquela capacitação profissional, e com ele não pode
contar como voluntário. Só se pagar. Registremos que
há honrosas exceções.
Nada contra as formações profissionais dos
espíritas e suas práticas comerciais no cotidiano.
O que se propõe como reflexão é examinar se
é devido por parte do espírita ter o Movimento
Espírita como seu cliente comercial, e não somente
como espaço de oportunidade de serviço ao próximo.
De nossa parte, tomamos por base que “a
abnegação e o devotamento são uma prece contínua e
encerram um ensinamento profundo” (1), e
concluímos ser de grande valia para o Movimento
Espírita insistir no trabalho de despertamento de amor
pela Casa e pela Causa, onde se possa servir a Jesus
com devotamento d´alma, servindo ao próximo; onde
se possa ir extirpando o egoísmo dos corações, com a
presença do altruísmo; onde se descubra que a prática
da caridade é o meio para se alcançar a felicidade; e
que, para alcançar a plenitude do espírito através da
caridade, é preciso “fazer o bem no limite de suas
forças”, porquanto responderemos “por todo mal que
haja resultado de não haver praticado o bem”. (2)
Aconselha-nos o Espiritismo: “Tomai, pois,
por divisa estas duas palavras: devotamento e
abnegação, e sereis fortes, porque elas resumem todos
os deveres que a caridade e a humildade vos impõe. O
sentimento do dever cumprido vos dará repouso ao
espírito e resignação.” (1)
Assim sendo, somos por dar primazia ao
trabalho voluntário no meio espírita, enfatizando que
o meio espírita está precisando, e muito, desse espírito
de abnegação e dedicação.
“O comportamento espírita do homem que
aderiu à Doutrina espiritista reflete a sua convicção,
revelando se se trata de um adepto sincero ou de um
simples beneficiário da mensagem que, não obstante,
impermeável, não se deixa impregnar da excelência
moral de que o Espiritismo faz-se depositário”. (3)
Bibliografia:
1. KARDEC, Allan. O evangelho segundo o
espiritismo. 112. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1996. cap.
VI, item 8.
2. ______. O livro dos espíritos. 81. ed. Rio de
Janeiro: FEB, 2001. perg. 642.
3. FRANCO, Divaldo P. Reflexões espíritas. Pelo
espírito Vianna de Carvalho, 2. ed. Salvador: LEAL,
2005. cap. 27.
Fonte: Jornal Mundo Espírita online. Março de 2007 |
N.º 1472 | Ano LXXIV | Curitiba- Paraná. Disponível
em: www.feparana.com.br
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