U n i ver si dade Anhem b i Mo rum b i
m a r i enne c r i s t i n a se br i a n b us to v i d u t to
d e s i g n e m r e v i s ta f e m i n i n a - u m o l h a r s o b r e c l a u d i a
emrevista
feminina
um olhar sobre Claudia
s ã o pa u lo , 2010
Universidade Anhembi Morumbi
Marienne Cristina Sebrian Busto Vidutto
d e s i g n e m r e v i s ta f e m i n i n a
Um olhar sobre Claudia
Dissertação de Mestrado
Programa de Pós-Graduação Stri cto Sensu
S ã o Pa u l o , 2010
U n i v e r s i d a d e A n h e mb i M o r umb i
M a r i e n n e C r i s t i n a S e b r i a n B us t o V i d u t t o
d e s i g n e m r e v i s ta f e m i n i n a
Um olhar sobre Claudia
D i ss e rtação d e m es t r a d o
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade
Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Design.
Orientadora: Profa. Dra. Gisela Beluzzo de Campos
S ã o Pa u l o / 2010
U n i v e r s i d a d e A n h e mb i M o r umb i
M a r i e n n e C r i s t i n a S e b r i a n B us t o V i d u t t o
d e s i g n e m r e v i s ta f e m i n i n a
Um olhar sobre Claudia
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação
Stricto Sensu em Design – Mestrado, da Universidade
Anhembi Morumbi, como requisito parcial para obtenção
do título de Mestre em Design. Aprovada pela seguinte
banca examinadora:
Profa. Dra. Gisela Beluzzo de Campos
Orientadora
Universidade Anhembi Morumbi
Profa. Dra. Dulcilia Schroeder Buitoni
Examinadora externa
Faculdade Casper Líbero
Prof. Dr. Jofre Silva
Examinador interno
Universidade Anhembi Morumbi
S ã o Pa u l o / 2010
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial
do trabalho sem autorização da Universidade, do autor e do orientador.
M a r i e n n e C r i s t i n a S e b r i a n B us t o V i d u t t o
É graduada em Propaganda e Marketing.
Atua profissionalmente na área do design editorial de revistas há 16 anos.
Ficha Catalográfica
V71d
Vidutto, Marienne Cristina Sebrian Busto
Design em revista feminina - um olhar sobre Claudia / Marienne Cristina Sebrian Busto Vidutto. – 2010.
204f.: il.; 30 cm.
Orientadora: Gisela Beluzzo de Campos
Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010.
Bibliografia: f.205-208.
1. Design. 2. Design gráfico. 3. Design editorial.
4. Revistas. I. Título.
CDD 741.6
Agradecimentos
Agradeço este trabalho, primeiramente, a Deus que me deu forças e sabedoria para concluir essa
importante etapa da minha vida.
Ao meu pai, Norberto Busto, que sempre acreditou no meu potencial e nunca hesistou em me
apoiar no aprimoramento de meus estudos. à minha mãe, Suely Tiosso, por constantemente me
lembrar da minha capacidade. Ao meu marido Fabio Vidutto por compreender a falta de atenção
devido a necessidade de dedicação à esta dissertação.
Sou muito grata à Profa. Dra. Mônica Moura, inicialmente minha orientadora, pelo aprendizado
adquirido, pela dedicação, pela paciência (ao ouvir minhas infinitas ideias!) e por sempre me
incentivar a dar o meu melhor. Agradeço a minha orientadora Profa. Dra. Gisella Beluzzo, pela
atenção, pelo apoio e pelas importantes considerações que contribuíram com este trabalho.
Agradeço a todos os professores do mestrado pelo conhecimento adquirido nas disciplinas cursadas, palestras e eventos. A todos os meus colegas de classe, pelas trocas de informações, anseios,
dúvidas e grandes momentos de descontração.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo abordar os processos produtivos do design editorial de
uma revista feminina, no que se refere a concepção, planejamento, estruturação do conteúdo
editorial e configuração de um projeto gráfico. Para desenvolver essas questões, o objeto de
análise foi a revista Claudia, uma das publicações mais tradicionais do mercado editorial (49
anos de existência) e a revista para o público feminino de maior circulação do Brasil (quase 500
mil exemplares mensais). A análise concentra-se em 21 edições de Claudia (janeiro de 2008 a
setembro de 2009) do conteúdo editorial e das capas.
Inicialmente, apresentamos o conceito de revista, suas características e origens. Na sequência,
focamos nas revistas femininas, fazendo apontamentos acerca de seu surgimento no Brasil e no
mundo, suas funções e seu papel na sociedade. O capítulo dois traz o conceito de design editorial
e os componentes necessários para a elaboração de um projeto gráfico, tanto no aspecto físico e
técnico (papel, formato, softwares utilizados, pré-impressão e impressão) como no aspecto visual
(imagens, tipografia, grade, diagramação, ritmo e sequenciamento). O capítulo três traz a análise
detalhada da revista Claudia, contando também um pouco sobre sua história.
Palavras-chave: revista, revista Claudia, revistas femininas, design, design editorial, design
gráfico, mercado editorial, projeto gráfico e projeto editorial.
Abstract
This paper seeks to address the processes of editorial design of women’s magazine, regarding
the design, planning and structuring of editorial content and also the configuration of a graphic design. To develop these issues, the object of analysis was Claudia magazine, a traditional
publication in editorial market (49 years old) and also, the magazine to female with the largest
circulation in Brazil (almost 500 000 copies monthly). The analysis focuses on 21 issues of Claudia
(January 2008 to September 2009) of editorial content and covers.
Initially, we introduce the concept of a magazine, their characteristics and origins. Following,
we focus on women’s magazines, making notes about its appearance in Brazil and worldwide,
its functions and its role in society. Chapter two explains the concept of editorial design and the
components needed for developing a graphic design project, both physical and technical (paper,
format, software used, prepress and printing) as the visual aspect (images, typography, grid layout,
pace and sequencing). Chapter three provides a detailed analysis of the magazine Claudia, telling
a little about the history of the publication.
Keywords: magazine, Claudia, women’s magazines, design, editorial design, graphic design,
publishing, graphic design and editorial design.
Sumário
Introdução................................................................................................................................15
1. REVISTA.....................................................................................................................................23
1.1 Conceito, origens, e características.......................................................................................................... 25
1.2 Sobre as revistas femininas...................................................................................................................... 29
1.3 Conceito editorial ..................................................................................................................................... 35
2. DESIGN ......................................................................................................................................39
2.1 Design editorial e projeto gráfico............................................................................................................. 41
2.2 Componentes de um projeto gráfico....................................................................................................... 45
2.2.1 Aspectos físicos e técnicos............................................................................................................. 45
2.2.2 Aspectos visuais ............................................................................................................................. 46
2.2.2.1 Tipografia....................................................................................................................... 46
2.2.2.2 Grade.............................................................................................................................. 50
2.2.2.3 Diagramação . ............................................................................................................... 52
2.2.2.4 Imagens ........................................................................................................................ 59
2.2.2.5 Ritmo e sequenciamento ............................................................................................ 67
3. CLAUDIA . ................................................................................................................................71
3.1 Claudia nos dias atuais............................................................................................................................. 73
3.2 A fórmula editorial de Claudia................................................................................................................. 77
3.3 História da revista Claudia ...................................................................................................................... 83
3.4 O design de Claudia no passado.............................................................................................................. 89
3.5 O projeto gráfico de Claudia..................................................................................................................... 97
3.5.1 Características físicas e técnicas................................................................................................... 97
3.5.2 Características visuais ................................................................................................................... 98
3.5.2.1 Tipografia....................................................................................................................... 98
3.5.2.2 Grade.............................................................................................................................. 103
3.5.2.3 Diagramação . ............................................................................................................... 105
3.5.2.4 Imagens ........................................................................................................................ 107
3.5.2.5 Ritmo e sequenciamento ............................................................................................ 120
3.5.3 Análise do projeto gráfico de Claudia.......................................................................................... 123
3.5.3.1 A proposta editorial e o projeto gráfico das reportagens........................................ 123
3.5.3.2 A proposta editorial e o projeto gráfico das seções................................................. 145
3.5.3.3 A proposta editorial e o projeto gráfico das capas.................................................. 162
Considerações finais ..........................................................................................................173
Glossário básico....................................................................................................................185
Lista de figuras.......................................................................................................................191
Referências .............................................................................................................................199
Design em revista feminina
Introdução
15
Design em revista feminina
17
Introdução
Em tempos de informações digitais, a revista, um tradicional meio de comunicação, mantém presença significativa na vida de muitas pessoas e continua como um ramo de atividade fortemente
ativo no Brasil. De acordo com a Anatec (Associação Nacional de Editores de Publicações), em
2008 foi constatada a presença de 2.695 títulos no mercado brasileiro, com tiragem aproximada
de 1 bilhão e 400 milhões de exemplares ao ano.
Na última década, a internet teve grande impacto na transmissão de ideias (populares ou
não) para largas audiências no mundo todo, porém, mesmo com a presença de websites, telefones
celulares de última geração e agora com o recém-lançado Ipad da Apple – hardware que permite
uma leitura confortável por meio de uma tela – não há quem resista parar em uma banca ou livraria para olhar as capas e folhear algumas páginas de revistas. As cores brilhantes, as fotos atraentes, as chamadas intrigantes, o papel de qualidade e o visual bem cuidado despertam a atenção
do leitor. Grande parte dessa atração deve-se ao design editorial, responsável por desenvolver um
produto envolvente e que corresponda ao objetivo essencial de uma publicação: entreter, informar, comunicar, instruir ou uma combinação dessas ações. Através das páginas de uma revista,
também é possível suscitar sonhos e desejos no leitor, como por exemplo, imaginar a nova decoração da sala por meio de reportagens da revista Casa Claudia ou sonhar com a próxima viagem
de férias nas páginas de Viagem e Turismo. Na visão da experiente editora de revistas, Fátima Ali
(2009), muitas vezes o leitor está em busca de experiências prazerosas, emocionais e estéticas.
Há muito tempo, as revistas desempenham papel central em nossa cultura visual. Heller
(2003) conta que antes da era digital, o papel era a mais interativa das mídias, e os periódicos
considerados avant-garde eram agentes da agitação cultural e desafiavam a santidade da arte,
da política, da sociedade e da cultura. Mas apesar de sua importância, o tempo de sobrevivência
das revistas tem sido frequentemente questionado com o surgimento de novas mídias digitais. Os
questionamentos sobre o futuro das revistas foi o que, inicialmente, motivou este estudo. Logo
nas primeiras pesquisas, verificamos que, apesar da forte concorrência das novas tecnologias, as
revistas ainda têm um longo caminho a percorrer e continuarão sendo relevantes para muitos
leitores, especialmente para mulheres, que têm grande afinidade e história com este veículo. As
revistas possuem vantagens significativas sobre outros meios: é portátil e fácil de usar. Além disso, devido a sua periodicidade regular, estabelece uma relação de proximidade com o leitor, seja
através de sua linguagem ou de seu visual. O leitor espera encontrar na próxima edição, um tema
de seu interesse abordado com profundidade ou, ainda, quer encontrar logo sua seção favorita
Dados extraídos do 10o Estudo Brasileiro do Mercado de Publicações (disponível em cd-rom).
Avant-garde significa à frente do seu tempo. Para Heller (2003), as revistas desse tipo são aquelas que “avançam guarda” em ideias fora do
convencionais, especialmente nas artes, mas também da política e da sociedade.
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Design em revista feminina
em uma determinada página. Compartilhamos da visão de Leslie (2003) quando diz que o formato único de uma revista combina diversos elementos essenciais: portabilidade, tateabiblidade,
repetitividade e uma combinação de texto e imagem que permite que elas continuem sendo renováveis e relevantes. Para o autor, esses fatores combinados com os recentes desenvolvimentos
de métodos de produção e a influência de novas mídias têm permitido que as revistas mantenham
sua posição de destaque, permanecendo como fonte de inspiração para designers gráficos em
qualquer lugar do planeta.
é inegável que as revistas irão mudar com as novas mídias, porém o futuro da comunicação sem
papel, ainda não foi traçado, mas é sabido que o papel, uma matéria-prima cada vez mais dispendiosa, vem sendo abolido do ambiente multimídia de hoje. Ainda mais com as frequentes preocupações
ecológicas e sustentáveis da atualidade que envolvem a fabricação e o transporte do papel.
Enquanto a nova época não toma forma, este traballho tem como objetivo abordar os processos
de produção do design editorial de revistas femininas no que se refere a concepção, planejamento,
projeto e configuração do conteúdo editorial. Para desenvolver essa questão, o objeto de análise desta pesquisa foi a revista Claudia, referência única no mercado editorial brasileiro pelo seu tempo de
existência (49 anos), pela sua circulação (quase 500 mil exemplares mensais) e pelo seu importante
papel de modernização das revistas femininas ao inaugurar um novo estilo de produzir e fotografar
reportagens. O presente estudo concentra-se na análise de 21 edições (janeiro de 2008 a setembro de
2009) de todo o conteúdo editorial de Claudia e também das capas. Inicialmente, a proposta era analisar todas as edições durante dois anos inteiros (24 edições) para podermos observar como a revista
se comporta de um ano para o outro e, além disso, para identificar as pautas sazonais, relacionadas a
datas comemorativas. Como a revista mudou seu projeto gráfico na edição de outubro de 2009, trazendo novas configurações visuais, optou-se por analisar apenas as edições pertencentes ao mesmo
projeto gráfico. Os métodos de pesquisa empregados na dissertação foram: pesquisa bibliográfica,
pesquisa iconográfica e análise do objeto (estudo de caso - revista Claudia).
A experiência de 16 anos da autora, como designer gráfico de revistas, permitiu analisar conceitos teóricos sob a ótica prática e verificar se os mesmos puderam ser aplicados, uma vez que
estão sujeitos a condições específicas e peculiares.
O design editorial de revistas, essencialmente, visa a comunicação de ideias (de seus editores, jornalistas ou idealizadores) por meio da organização e apresentação visual. Mas o design
editorial vai além. Para o designer Paul Rand, em Design Form and Chaos (Design, Forma e Caos),
de 1993, o bom design agrega valor de alguma forma, dá sentido e, não por acaso, pode ser puro
prazer de se ver, mas respeita a sensibilidade do espectador e vantagens ao empresário. No caso
Trecho extraído do site http://www.paul-rand.com/index.php/site/thoughts_quotes. Acesso em 05/08/2010. Esta frase de Paul Rand faz parte
também do catálogo Paul Rand: a designer’s word, editado por: Steven Heller, Georgette Ballance e Nathan Garland. As frases contidas nesta publicação foram extraídas de um simpósio de Paul Rand, em 3 de abril de 1998 na School of Visual Arts em Nova York e traduzidas pela autora.
Design em revista feminina
19
de uma revista de consumo de massa, como a revista Claudia, obviamente, as questões empresariais/financeiras que almejam o lucro estão envolvidas.
Hoje, com a desenfreada competição entre as revistas e também com as novas mídias, muitas
vezes, o designer tem como uma de suas obrigações mostrar resultados de vendas, criando revistas
que atraiam os leitores para o consumo. Nesse sentido, Heller (1996) aponta que um grande peso
tem sido colocado sobre o design para seduzir, participar e fisgar o leitor. O autor conta que o
design sempre foi um importante componente editorial, entretanto, nos início dos anos de 1960,
quando a indústria das revistas começou a ser ameaçada pela televisão, o design passou a ter
proporções de cura milagrosa.
Portanto, vemos que, no passado ou no presente, a concorrência fez com que fosse exercido
sobre o design uma pressão para que ele venda revistas. Na visão de Heller (1996), o design é, sem
dúvida, o fator que diferencia uma revista da outra, contudo, em alguns casos, um design único
sinaliza para os concorrentes que eles pertencem a um gênero em particular. O autor exemplifica
que, no final dos anos de 1960, a revista New York Magazine foi uma ideia original em termos de
revista regional, porém foi duplamente celebrada e copiada por toda a nação americana. A publicação foi o primeiro guia de serviços da cidade aliado às notícias semanais com um jornalismo
sério e de credibilidade.
Desde a década de 1960, muito peso é colocado sobre o design, principalmente, nas revistas
de consumo de massa, pressão que pode tolher a liberdade criativa do designer. Heller (1996) coloca que alguns acreditam que o design sozinho impulsiona o sucesso de uma revista, ignorando
outros fatores editoriais. Para o autor, quando o design funciona, ele trabalha, concomitantemente e em harmonia com o conteúdo editorial. Heller (1996) traz ainda que quando uma revista não
está indo bem, frequentemente o design é a causa do insucesso, o que é um grande equívoco.
De fato, o design interfere no sucesso de uma revista e agrega muitos valores à publicação,
mas não pode ser visto como a tábua de salvação de qualquer veículo ou editora. O design pode
contruibuir para a compreensão da mensagen comunicativa, servir de instrumento de navegação,
atrair o leitor através das imagens e outros artifícios, dentre inúmeros outros atributos. Para Heller (1996), a revista deve ser igualmente boa no conteúdo e no design, e o design pode até servir
para realçar o conteúdo mas, raramente, tem a capacidade de substituí-lo. Portanto, percebemos
o quanto é importante que jornalistas e designers estejam em sintonia, fazendo um trabalho em
parceria, para que os dois lados da moeda fiquem equilibrados. Sobre esse aspecto, Luke Hayman,
que em 2004 ingressa como diretor de design da revista New York Magazine, diz que no momento
nas reuniões de criação, cada um à mesa apresenta suas ideias, em geral, sempre no âmbito visual
ou baseados em fotos. Segundo Hayman este tipo de infraestrutura permite que o design e o conteúdo editorial funcionem em pé de igualdade, o que resulta na verdadeira inovação e em elevados
20
Design em revista feminina
padrões no design editorial (Twemlow, 2007).
O design de revistas de consumo em massa, como é o caso da revista Claudia, também merece reflexão, pois faz parte integrante do contexto social e histórico no qual está inserido e exerce
intensa relação com seus leitores frente à sua alta circulação mensal. A maioria dos estudos
concentra-se em revistas com design inovadores, como a revista Senhor, o Cruzeiro e Realidade,
símbolos indubitáveis de sua época. Na visão de Heller (1996), em todas as revistas há o trabalho
de design, de uma forma ou de outra – para melhor ou para pior – e o design deve ser criticamente
discutido, quer seja bom ou ruim. Muitas vezes, produtos populares ou de massa não recebem destaque nas discussões sobre design. Em parte, isto se deve porque muitos acreditam que produtos
massificados são de baixa qualidade e que, muitas vezes, não há design neles. Equivocadamente,
acredita-se que o gosto popular tende para a má aparência e como o design está vinculado às
questões estéticas, ele se torna desnecessário.
Acerca disso, o designer Paul Rand em Thoughts on Design (Reflexões sobre Design), de 1947,
relata que se for verdade que o homem médio parece mais confortável com o lugar-comum e
familiar, é igualmente verdade que a propensão para o mau gosto – tão prontamente atribuídos
para o leitor médio – só perpetua a mediocridade e nega ao leitor o acesso a um dos meios mais
fáceis e acessíveis para o desenvolvimento estético e eventual fruição.
O design de revistas é um meio que tem a capacidade de proporcionar ao leitor tanto o desenvolvimento, ao prover informação, como a fruição estética, com imagens e paginação inovadoras
e visualmente agradáveis. Infelizmente, ainda perdura o estigma de que um produto popular não
precisa ser esteticamente bonito e/ou inovador e de que o design é necessário apenas para a elite.
Já o segmento de revistas femininas foi escolhido porque é para o sexo feminino que se
concentra o maior número de publicações, afirmação que podemos constatar ao entrarmos
em uma banca e nos depararmos com inúmeras publicações destinadas para mulheres. Moda,
beleza, decoração, culinária, fofocas, novelas, celebridades, adolescentes, esporte, esoterismo,
yôga, bem-estar, trabalhos manuais, variedades, dentre tantas outras. Isto deve-se a algumas
características físicas e técnicas que as revistas possuem, como o formato, o tipo de papel e a
técnica de impressão. A revista tem mais aceitação do público feminino do que um jornal por
conta da facilidade de manuseio do papel, do formato reduzido que permite ser guardado na
bolsa e do tipo de impressão que não suja os dedos e possibilita que sejam impressas imagens
de melhor qualidade. De acordo com Buitoni (1990), a revista foi tornando-se, com o passar
do tempo, o veículo, por excelência, da imprensa feminina, seja no aspecto de apresentação
gráfica, seja na estruturação do conteúdo. “O aperfeiçoamento da tecnologia gráfica e a con Trecho extraído do site http://www.paul-rand.com/index.php/site/thoughts_quotes. Acesso em 05/08/2010. Esta frase de Paul Rand faz parte
também do catálogo Paul Rand: a designer’s word, editado por: Steven Heller, Georgette Ballance e Nathan Garland. As frases contidas nesta publicação foram extraídas de um simpósio de Paul Rand, em 3 de abril de 1998 na School of Visual Arts em Nova York.
Design em revista feminina
21
sequente possibilidade de imprimir produtos cada vez mais sofisticados, com muitas fotos e
cores, encontraram na revista seu veículo ideal. Paralelamente, a publicidade desenvolve-se,
e a revista, por suas características de visualização de detalhes, de utilização de cores, etc.,
tornou-se a mídia mais adequada para moda, por exemplo” (Buitoni, 1990, p. 57-58).
Além disso, as revistas femininas têm estado conosco há bastante tempo e foram ao longo de
sua existência co-responsáveis por ampliar as expectativas e autoestima das mulheres, mas também muito criticadas por incentivar e pregar padrões de comportamento e beleza. As revistas femininas também tiveram papel expressivo na popularização dos ideais feministas, especialmente da
década de 1960. Foi na Inglaterra que a imprensa feminina surgiu com a primeira revista feminina
em 1693, a Ladie’s Mercury. De lá para cá, o conteúdo das revistas mudou muito e permanece em
contínua transformação, contudo, no mínimo, uma questão ainda é comum: as revistas femininas
permitem que os leitores entrem em um mundo onde a mulher está no centro, ou seja, o foco é
tudo que envolve o universo feminino. Hoje, muitas revistas femininas abordam temas de cunho
social e tópicos internacionais, assim como o mercado de trabalho da mulher. Mas os temas sociais
aparecem largamente como problemas individuais em vez de questões para um debate político.
As primeiras revistas femininas traziam o mundo exterior para as mulheres, discutindo tópicos
como filosofia, astronomia e botânica e tinham como objetivo instruir e entreter. A partir de 1830,
uma nova geração de revistas focavam os costumes e conselhos práticos do lar. Durante muito
tempo e até hoje, três são os temas “pilares” que sustentam o projeto editorial de uma revista
feminina: a casa, a aparência (moda e beleza) e o relacionamento amoroso – temas estes que são
dosados com mais ou menos intensidade, de acordo com a época e a proposta da publicação.
Atualmente, o foco concentra-se na aparência, com a divulgação de padrões ideiais de beleza
a serem seguidos. Hoje, os temas recorrentes são: rejuvenescimento, dietas, exercícios e cirurgia
plástica. Lipovetsky (2000, p. 133-134) conta que atualmente o “culto da beleza e receitas de
magreza são inseparáveis. (...) Já não se concebe a conquista da beleza sem a esbeltez, as restrições
alimentares e os exercícios corporais. (...) Duas normas dominaram a nova galáxia feminina da beleza: o antipeso e o antienvelhecimento”.
Não podemos deixar de mencionar também que, as revistas femininas, desde seu advento, foram
e continuam sendo poderosos instrumentos de construção da identidade da mulher. Para Buitoni
(1990), dentre os papéis da imprensa feminina está o de construir o imaginário feminino por meio de
discursos (ou silêncios) sobre os modos de cuidar de si, do corpo e o exercício da sexualidade.
Portanto, este trabalho visa oferecer reflexões sobre a área de design editorial de um produto
de massa que é a revista feminina, de forma que possa trazer contribuições significativas para a
campo de design.
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Design em revista feminina
Design em revista feminina
Revista
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Design em revista feminina
25
1.1 Conceito, origens e características
Quando pensamos em uma revista, logo vem em mente a imagem de um tipo específico de periódico, em forma de brochura, que pode tratar tanto de assuntos de interesse geral quanto de temas
relacionados a uma determinada atividade ou ramo de conhecimento. De fato, uma revista pode
ser ou não especializada e conter artigos, colunas, reportagens, ensaios e diversos tipos de conteúdo
editorial. Geralmente, a periodicidade de uma revista é mensal, quinzenal ou semanal, muito embora, podemos encontrar revistas semestrais e até anuais.
A historiadora Martins (2001) relata que a palavra revista é derivada da palavra inglesa review e seu primeiro uso data em 1705. A editora de revistas Ali (2009) conta que a palavra review
significa resenha, crítica literária, dentre outras coisas e foi presença constante no título de várias
revistas literárias inglesas, modelos que foram imitados em todo o mundo no século 17 e 18.
Entretanto, review não era a única palavra utilizada para designar um tipo específico de periódico.
De acordo com a jornalista Scalzo (2004), aparece em 1731 o termo magazine com a revista Gentleman’s
Magazine e foi inspirado nas grandes lojas de departamentos – os magazines. Assim, surge a ideia de
usar o termo magazine para as publicações periódicas, pois ambos tinham proposta semelhante: lojas
que vendiam um pouco de tudo e revistas que traziam uma grande diversidade de assuntos. Nos dois
casos, tanto as lojas quanto as revistas apresentavam seus “artigos” de forma leve e agradável.
A autora Buitoni (1990) complementa a afirmação de Scalzo (2004) contando que a palavra
inglesa magazine, bem como a palavra francesa magasin, vem da palavra árabe (al-mahazen) que
significa armazém e designavam as publicações de conteúdo diversificado. No Brasil, alguns periódicos, como o Novellista Brasileiro ou Armazém de Novellas Escolhidas, de 1851, conservavam o
termo armazém no título e traziam, realmente, assuntos variados em seu conteúdo.
Esse armazém sortido e agradável, denominado revista, possibilita uma experiência estética ao
leitor, pois o ato de folhear pode proporcionar momentos de prazer através da apreciação das imagens e da paginação bem cuidada. Com uma revista também é possível suscitar sonhos e desejos
no leitor, como por exemplo, imaginar a nova decoração da sala por meio de reportagens da revista
Casa Claudia ou sonhar com a próxima viagem de férias nas páginas de Viagem e Turismo. Para Ali
(2009), muitas vezes o leitor está em busca de experiências prazerosas, emocionais e estéticas.
Mas as funções de uma publicação vão além disso, uma revista pode entreter, informar, comunicar, instruir ou ainda uma combinação dessas ações, além de oferecer subsídios para os leitores formarem uma opinião ou ampliar o conhecimento sobre um determinado assunto. A proposta
editorial da revista é que irá determinar sua principal função. é um veículo de comunicação que
possui vantagens significativas: é portátil, pode ser lida em qualquer lugar (na praia, no ônibus,
na cama, na academia, no consultório médico, no cabeleireiro, etc); é fácil de usar (basta abrir, só
requer saber ler); custo relativamente baixo (atualmente, é possível encontrar revistas de varieda-
26
Design em revista feminina
des a preços muito baixos). Além disso, é uma mídia que pode ser repassada para várias pessoas.
Um exemplar da revista Veja, por exemplo, pode ser lido por vários membros da família ou uma
única edição de Caras pode ser lida por inúmeras clientes de um salão de cabeleireiro. Não é exato
o número de repasse, entretanto, é sabido que ele acontece.
Uma característica peculiar da revista, diferente do jornal, é que sua permanência é maior.
Por ter papel mais encorpado e a forma como é encadernada, faz com que as pessoas retenham
seus exemplares por mais tempo ou passem a colecioná-los. Dessa forma, o leitor tem como rever
as reportagens em outro momento. As revistas de culinária, decoração ou viagens são geralmente
colecionadas, pois o leitor pode precisar daquelas informações em uma outra oportunidade (para
elaborar o menu de um jantar de comemoração, para definir um novo modelo de cortina ou para
buscar ideias de onde passar as próximas férias).
Em razão de sua periodicidade regular, estabelece uma relação de proximidade com o leitor,
seja por meio do texto ou de seu visual. O leitor espera encontrar na próxima edição, reportagens de
seu interesse ou, então, quer encontrar logo o artigo de seu colunista favorito em uma determinada
página. O estabelecimento de uma relação sólida com o leitor, munindo-o com conteúdo editorial
de seu interesse e de qualidade (leia-se reportagens bem escritas e visualmente bem solucionadas)
é de vital importância para a permanência da revista nas bancas. O leitor passa a comprar a revista
periodicamente, se a cada número ele encontrar reportagens que o satisfaça. Um trabalho de conquista e reconquista para que ele compre a revista a cada edição.
Na visão de Ali (2009), as revistas podem ser divididas em três grande grupos:
• As revistas de consumo (ver figura 1);
• As revistas profissionais (dirigidas a públicos de determinadas profissões, médicos, publicitários, advogados ou áreas profissionais como transporte, medicina ou informática);
• As revistas de empresas e organizações (nesse item estão as revistas de associações, escolas ou
universidades, e as revistas de empresas que visam a comunicação com seus funcionários ou as revistas patrocinadas por uma empresa com fins promocionais, conhecidas como revistas customizadas).
Os suplementos de jornais e zines são considerados pela autora grupos menores. Ainda de
acordo com Ali (2009), dentro do grupo das revistas de consumo, há três divisões: as revistas de
interesses gerais, as revistas segmentadas por público e as revistas segmentadas por interesses
(figura 1). Podemos observar que as revistas femininas - objeto de estudo deste trabalho – está
classificada no grupo das revistas segmentadas por público.
As revistas de interesses gerais abordam uma extensa gama de assuntos, com exceção das
revistas de celebridades. As revistas segmentadas por público, como o próprio nome diz, são aquelas direcionadas a um nicho específico. Já as revistas segmentadas por interesses, abordam um
assunto ou ramo de atividade (cinema, automobilismo, gastronomia, fotografia, etc).
Design em revista feminina
27
fig. 1
Revistas de consumo
Revistas de interesse geral
São as revistas semanais de notíciais, de televisão ou de celebridades.
Caras, celebridades.
Veja, notícias.
época, notícias.
Minha novela, televisão.
Revistas segmentadas por público
São as revistas dirigidas a públicos determinados, como mulheres, homens, professores, jovens e crianças.
Nova Escola, professores.
Capricho, jovens.
VIP, homens.
Criativa, mulheres.
Revistas segmentadas por interesses
São aquelas que tratam sobre atividade ou tema específico (automóveis, culinária, fotografia, computadores, etc).
Quatro Rodas, carros.
Fotografe melhor, fotografia.
SET, cinema.
Pc World, computadores.
Fonte: Classificação: Ali, Fatima. A arte de editar revistas. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2009. Pesquisa iconográfica: Marienne Vidutto
Design em revista feminina
29
1.2 Sobre as revistas femininas
As revistas femininas têm longa tradição histórica, pois os periódicos para a mulheres surgiram no
final do século 17. é marcante constatar a presença de um veículo de comunicação tão antigo e
que ainda está fortemente presente na atualidade. Buitoni (1990) relata que o primeiro periódico
feminino foi o Lady’s Mercury e surgiu em 1693, na Inglaterra. Seu visual era semelhante a um livro
e trazia em seu conteúdo o “consultório sentimental” (cartas das leitoras sobre dúvidas amorosas),
seção que permanece até hoje em muitos veículos da imprensa feminina. Depois, apareceu o Ladies’ Diary que circulou mais de um século (1704 a 1840), porém ainda não trazia o termo nem o
conceito de magazine. De acordo com Scalzo (2004), o termo “magazine” para revistas femininas
surge em 1749 com a Lady’s Magazine, em Londres, publicação que circulou até 1837.
Buitoni (1990) conta que o primeiro jornal feminino norte-americano foi o American Magazine de 1787 que circulou apenas um ano. Entretanto, o que teve mais notoriedade foi o Ladies’
Magazine, de Sarah Josepha Hale que surgiu em 1828. A autora aponta que foi nos Estados Unidos que o termo magazine se firmou e disseminou a ideia que temos hoje de revista. Portanto,
vemos que publicações periódicas dirigidas especificamente para a mulher estão presentes na
cultura ocidental há 316 anos.
No Brasil, as publicações para a mulher não são tão antigas se comparadas às primeiras revistas femininas inglesas que surgiram. Buitoni (1990) diz que, provavelmente, o primeiro periódico
feminino brasileiro foi O Espelho Diamantino que surgiu em 1827, trazendo assuntos como: política, literatura, belas artes e moda. Se realmente esta publicação foi a pioneira no Brasil, podemos
considerar que o segmento se faz presente no País há aproximadamente 182 anos.
Na visão de Martins (2001), a imprensa feita por mulheres para o público feminino é uma das
fontes mais ricas da historiografia, pois a mulher teve presença assídua no contexto do impresso desde o Império. “Textos produzidos por mulheres e a elas dirigidos resultaram em documentos preciosos,
que as surpreendem como sujeitos de sua reprimida história, veiculando sentimentos secularmente
ocultos e posturas recônditas, mas também desvendando condutas que se confrontavam com aquela
tradicional e aceita da Rainha do Lar”. (Martins, 2001, p. 371). O termo usado por Martins, “Rainha
do Lar”, foi largamente utilizado pela revista Claudia nas palavras da jornalista Carmen da Silva, que
pretendia com seus textos mudar o comportamento patriarcal, que deveria obedecer ao homem e
cumprir com os deveres domésticos, conduta que era largamente impregnada na cultura e nos valores
femininos na época. A produção de revistas para mulher, feita por mulheres também, é um tema interessante levantado por Martins (2001). Se observarmos os expedientes das revistas femininas presentes no mercado na atualidade, vemos que a equipe da maioria das revistas é composta basicamente
por mulheres. Possivelmente, acredita-se que o sexo feminino seja mais capaz de fazer revistas para
mulheres, pois vivenciam diariamente as mesmas dúvidas, aflições, questões e interesses.
30
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Na visão de Martins (2001), com a segmentação periódica ocorrida no século 19, o leque temático foi aberto e atingiu a sociedade como um todo, gerando demandas de consumo e/ou construção de públicos. Neste contexto, surgem os periódicos segmentados femininos para a mulher
que já era leitora em potencial, cumprindo o papel de inserção feminina, quer como consumidora,
quer como produtora. De acordo com a autora, o periodismo feminino foi de “fundamental importância para a colocação da mulher na sociedade restritiva do seu tempo. Espaço quase exclusivo
para exercício de novos papéis, possibilitando as emergências de novas posturas femininas, da
mulher escritora à sufragista, à feminista, à politizada” (Martins, 2001, p. 563).
Atualmente, as publicações em geral, assim como as revistas femininas, segmentam-se cada
vez mais para atingir nichos específicos. Buitoni (1990, p. 16) esclarece que a segmentação “tratase de uma forma empírica, derivada de estudos mercadológicos, de determinar a fatia do público
que se pretende atingir”. Dentro da imprensa feminina, a segmentação pode acontecer desde sexo,
classe, idade, assuntos preferidos, ou até enfoques do tipo “para mulheres solteiras”, para executivas, etc. “Tais especificações constroem o perfil da leitora e a maneira de escrever para ela”.
Hoje, no mercado editorial, são inúmeras as revistas destinadas à mulher, tanto no Brasil quanto
no exterior. De acordo com a Anatec (Associação Nacional de Editores de Publicações), em 2008,
foi constatado a presença de 2.695 títulos no mercado, com tiragem aproximada de 1 bilhão e 400
milhões de exemplares ao ano, classificados em 69 segmentos mercadológicos, editados por 1067
editoras no Brasil. Dentre os 69 segmentos apresentados no 10o Estudo Brasileiro do Mercado de Publicações, consideramos nove os segmentos destinados direta ou indiretamente à mulher, são eles:
• Arquitetura e decoração;
• Jardinagem e paisagismo;
• Astrologia, horóscopos e esotéricos;
• Casamentos e festas;
• Cosmética, beleza, estética e afins;
• Feminina e afins;
• Mãe e bebê;
• Moda, vestuário, calçados e acessórios;
• Saúde e bem-estar.
Para melhor compreendermos o universo de revistas femininas, especialmente diante da diversidade de segmentos destinados ao público feminino, dividimos a área em dois grandes grupos:
revistas femininas de interesse geral e revistas femininas segmentadas por interesses (fig. 2).
As revistas femininas de interesse geral são aquelas que abordam uma grande diversidade
de assuntos e são dirigidas a um determinado perfil de mulher. Para determinação desses nichos,
a editora responsável pela publicação leva em consideração assuntos e interesses específicos de
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fig. 2
Revistas femininas
Revistas femininas de interesse geral
Abordam diversos assuntos e são dirigidas a um determinado perfil de mulher.
revistas femininas Semanais
Viva! Mais, diversos assuntos
para as classes C e B,
para diversas faixas etárias.
Ana Maria, diversos assuntos para
as classes C e B, para diversas
faixas etárias.
Sou mais eu!, são abordados
diversos temas contados por
personagens da vida real.
7 dias com você, diversos
assuntos para as classes C e B,
para diversas faixas etárias.
revistas femininas mensais
Gloss, para a mulher jovem
que busca assuntos diversos
de seu interesse. Faixa etária
principal: 15 a 19 anos.
Nova, para a mulher que busca
reportagens sobre sexo, carreira e
beleza. Faixa etária principal:
25 a 34 anos.
Claudia, trata os temas: moda,
beleza, educação dos filhos,
família e culinária, carreira, saúde.
Faixa etária: acima de 25 anos.
Marie Clarie, para a mulher
interessada em comportamento,
atualidades, moda, beleza, saúde,
sexo e relacionamento. Faixa
etária: 20 a 29 anos.
Revistas femininas segmentadas por interesses
Tratam sobre tema específico ou de maior relevância (fitness, dieta, moda, noivas, culinária, celebridades, etc).
Boa Forma, seus temas
principais são fitness e dieta,
mas traz também reportagens
de beleza e saúde.
Vogue, essencialmente
de moda, mas também
pode trazer reportagens
de beleza.
Manequim Noiva, todos
os assuntos relacionados
a casamento.
Contigo, seu tema principal
é celebridades, mas traz
também matéria de moda e
beleza.
Fonte: Classificação: Marienne Vidutto. Perfil das leitoras (Gloss, Nova, Claudia, Viva Mais!, Ana Maria, 7 dias com você): http://publicidade.abril.com.br/.
Acesso em 07/05/2010. Perfil dos leitores (Marie Claire): www.fxmidias.com.br/infomidias/.../PERFIL_EDGLOBO_2007.pdf. Acesso em 07/05/2010.
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relevância para um determinado público. Além disso, a faixa etária, classe social e hábitos dessa
leitora também podem ser considerados.
As revistas femininas semanais, por exemplo, são em sua grande maioria destinadas ao público C e B, possuem preço baixo (entre R$ 1.50 e R$ 1.99) e abordam uma grande diversidade
de assuntos (casa, decoração, família, filhos, dieta, receitas, comportamento, sexo, beleza, moda,
saúde, trabalhos manuais, artesanato, celebridades, novelas, televisão, fitness, etc).
Já as revistas mensais focam em 5 ou 6 temas principais (em média), nas quais as reportagens
têm linguagem textual e tratamento visual específico para um determinado público (perfil de
mulher) pré-determinado pela editora. Todo o conteúdo gira em torno do comportamento desta
Preços referentes ao ano de 2010.
Segmento
de revistas
femininas
Revistas
femininas
segmentadas
Moda: Elle, Vogue, Estilo, Manequim, L’officiel
Moldes: Moda Moldes, Molde e Cia
Beleza e Saúde: Boa Forma, Corpo a Corpo, Women’s
Health, Saúde!, Dieta Já!, Vida natural, Viva Saúde,
Plástica & Beleza, Zero, Shape
Bem-estar: Bons Fluídos, Vida Simples
Celebridades: Caras, Contigo, Tititi, ISTOÉ Gente,
Chiques & Famosos
TV: Minha novela, Guia da TV, Super Novela
Decoração: Casa Claudia, Casa Vogue, Viver Bem,
Casa & Jardim, D’casa, Casa & Decoração
Filhos: Pais e Filhos, Baby & Cia, Meu Nenê
Noivas: Manequim Noivas, Criativa Noivas, Bella
Noiva, Noivas e Noivos, Vogue Noiva, Figurino Noivas
Cabelos: Cabelos & Cosméticos, Cabelos & Visual
Culinária: Na cozinha com Edu Guedes, Guia da
Cozinha, Guia de Receitas, Cozinha Faça Fácil
Horóscopo: Guia Astral, Boa Sorte, Boa Sorte Mini,
Astral Dia-a-Dia, Almanaque Astral, Destino Astral,
Artesanato: Faça Fácil, Arte em Biscuit, Almanaque
de Velas, Almanaque do tricô, crochê e tear
Revistas
femininas
interesse geral
Perfil: Claudia, Marie Clarie, Uma,
Criativa, Nova
Adolescente/jovem: Capricho,
Loveteen, Atrevida, Toda Teen, Gloss
Populares (público B e C): Ana
Maria, Sou + eu!, Viva Mais, Mais Feliz,
Malu, 7 dias com você
fig. 3
Quadro com a visão geral do mercado de
revista femininas e suas divisões.
Autoria: Marienne Vidutto.
Design em revista feminina
33
mulher, seus hábitos sua forma de ser, agir e pensar para a atender aos gostos e interesses daquele
nicho. Um exemplo de revista de acordo com o perfil de mulher é a revista Nova, destinada a mulher
que quer seduzir o homem, solteira, que trabalha e é financeiramente independente. Já Claudia é
para a mulher casada, geralmente com filhos, que quer ficar bonita, mas sem a preocupação vital
de seduzir o homem. Esses critérios são traçados pela editora e servem de base para a formulação
do conteúdo editorial. A título de comparação, tanto Claudia como Nova trazem reportagens sobre
sexo, entretanto, de forma totalmente diferente. Enquanto a leitora de Claudia busca a satisfação
sexual e amorosa com o parceiro, a leitora de Nova quer ideias para ousar no ato sexual.
Já as revistas femininas segmentadas por interesses tratam de um tema central ou ele é de
maior relevância (fig. 2). A revista Boa Forma, por exemplo, tem como temas centrais, fitness e
dieta, mas traz também uma reportagem de beleza. O mesmo acontece com Vogue, que trata
essencialmente de moda mas também publica algumas matérias de beleza.
Em relação ao conteúdo editorial, hoje, podemos observar que as revistas femininas trazem
fórmulas prontas, focando no individualismo, na perfeição estética do corpo e no sucesso afetivo,
profissional e emocional. As revistas usam e abusam do aconselhamento e da receita, transformando todos os desejos em receitas de bolo. De acordo com Scalzo (2004), “hoje, as grandes
revistas femininas seguem modelos muito parecidos e apesar de cada uma olhar para um tipo
específico de mulher – o seu público –, repetem fórmulas e cobrem mais ou menos o mesmo
universo” (Scalzo, 2004, p. 35). Além disso, em uma revista feminina pode-se encontrar de tudo,
uma mistura que, muitas vezes, pode parecer incoerente. Na visão de Buitoni, são muitas as ambiguidades, contradições e paradoxos da imprensa feminina:
ela já foi instrumento de democratização da moda, trouxe informação sobre
sexo, contribuiu para a revolução sexual e, todavia, sugere a colocação de próteses como uma grande conquista de beleza e identidade. O corpo, para ser bonito,
deve der invadido por uma prótese. Próteses como requisito imprescindível para
conquistar o homem e discussão sobre gravidez para adolescentes; a roupa mais
cara e a fome na África; a fala inconsequente de uma participante de reality
show e a reportagem sobre sustentabilidade (Buitoni, 2009, p. 15).
A essência paradoxal da imprensa feminina é o que a caracteriza e a torna parte de um universo
peculiar, instigante e revelador.
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35
1.3 Conceito editorial
Como vimos anteriormente, as revistas femininas se dirigem cada vez mais a um nicho de mercado, a um grupo de mulheres com interesses e características em comum. O processo de segmentação fez com que as editoras se preocupassem cada vez mais em conhecer o público que se destina
a publicação. Analisar os interesses, desejos e necessidades do leitor é tarefa essencial, pois servirá
de base para a criação do conceito editorial da revista. Caso a publicação já seja consolidada no
mercado, com um conceito previamente definido, o desafio é captar as tendências e transformações do público-alvo e fazer as alterações necessárias no projeto editorial para que a revista tenha
longa permanência no mercado.
Uma das formas mais eficazes de conhecer o potencial do leitor de uma revista é através de
pesquisas de mercado. De acordo com o disponibilidade financeira da editora, pode-se encomendar
pesquisas qualitativas (fornece dados quantificáveis como idade, sexo, profissão, classe social, escolaridade, renda e opiniões e preferências sobre determinados assuntos) ou pesquisas quantitativas (discussões em grupo). De acordo com Ali (2009), ainda é possível realizar pesquisas na redação
das revistas através de telefonemas para os assinantes, encontros com leitores ou pela internet.
Uma vez definido o público que pretende-se atingir, parte-se para a elaboração do conceito editorial da publicação. Na visão de Ali (2009), três são os principais componentes do conceito editorial: a
missão, o título (nome da revista) e a fórmula editorial (também chamado por outros autores de projeto editorial). Para a autora, a missão editorial, também conhecida como objetivo ou filosofia editorial,
é o fio condutor da publicação, “o que mantém o editorial nos trilhos. É como uma bússola que os navegadores consultam em busca de direção”. E se a equipe da redação não se guiar pela missão, a revista
pode se perder ou desviar o foco. Ainda de acordo com a autora, “tudo pode mudar: o diretor de arte, a
equipe, a tecnologia, o projeto gráfico, mas a missão tem de permanecer constante” (Ali, 2009, p. 47).
No momento de elaboração da missão editorial de uma revista, Ali (2009) propõe que seja definido:
1) O objetivo ou função da revista: que pode ser informar, interpretar, entreter, defender
(uma ideia, causa ou posição) ou prestar um serviço. Grande parte das revistas propõe uma combinação de uma ou mais dessas cinco funções.
2) Público leitor a que se destina: dados como idade, sexo, gênero, classe social, opiniões,
hábitos, preferências, necessidades e quaisquer outras informações coletadas que possam ser relevantes para a delimitação do nicho de mercado.
Outro componente do conceito editorial é a fórmula (ou projeto) editorial de uma publicação.
No projeto editorial são definidos o tipo e a forma do conteúdo (entre outros itens), responsáveis
por concretizar o objetivo da revista. De forma simples e objetiva podemos dizer que o projeto
editorial é um conjunto de informações que definirá como será o conteúdo de uma publicação.
Nesta análise, inclui-se sobre “o quê” a revista irá tratar e “de que forma”.
36
Design em revista feminina
Ali (2009, p. 56) considera que a fórmula editorial é “a receita, ou seja, a mistura dos ingredientes, a maneira como a revista monta o seu edifício e estrutura o conteúdo na implementação
da sua missão”. Nesse sentido, Moraes (1998) em texto sobre jornais, esclarece que projeto editorial é o modo pelo qual a empresa ou grupo busca atingir seus objetivos através de uma publicação. O autor complementa que o projeto editorial de um veículo é percebido na orientação que se
dá às matérias na apuração, na redação e na sua apresentação na página.
No projeto editorial são definidos os diferentes tipos de matérias, seções, colunas e espaço
que cada uma deve ocupar. Uma vez definido o projeto editorial, é elaborado o projeto gráfico que
será responsável por dar forma ao projeto editorial, no qual pretende-se comunicar uma ideia,
história ou reportagem através da organização e apresentação visual.
Na visão do designer Gäde (2002), o projeto editorial visa saber, fundamentalmente, o que se
quer comunicar e para quem. Entender de que forma este conteúdo será transmitido é o que interessa
ao projeto gráfico, intrinsecamente ligado ao projeto editorial. Assim como Ali (2009), Gäde (2002)
ressalta a importância de se ter um detalhado estudo de mercado, que servirá de base tanto para o
projeto gráfico como para o editorial, principalmente no caso de uma revista totalmente nova que
se pretende lançar. Para Gäde (2002), conhecer os hábitos e a forma de ser das pessoas para os quais
se destina a revista também são de extrema importância, porque às vezes o entorno social e cultural
varia profundamente ou por completo, de uma região para outra ou mesmo de um país para outro.
Outro aspecto apontado por Johnson (2007) é que o projeto editorial amarra todos os elementos
de uma revista em conjunto, de forma lógica e coerente. É a aplicação prática da filosofia editorial que
oferece um modelo para cada edição da revista. O projeto editorial define o tipo de conteúdo que os
membros da equipe irão utilizar na aplicação da filosofia editorial. Ele detalha os assuntos com os quais
a revista irá tratar e define o quanto de ênfase será dado a cada tema. As perguntas feitas aos editores
ao planejar a fórmula editorial de uma publicação são: quantas páginas a revista geralmente terá? Qual
é a proporção de editoriais em relação à publicidade? quais e quantas serão as reportagens, seções fixas
e colunas da revista? Qual será o comprimento dos artigos e de quais tipos serão estas matérias? A distribuição das páginas editoriais e os anúncios ao longo da revista, conhecido como “espelho”, também é
um ponto a ser definido no projeto editorial. A partir da definição de todas essas questões, essas informações são transmitidas para o designer editorial para a criação do projeto gráfico da revista.
Outra questão referente ao conceito editorial é o título da revista, ou seja, o nome dado a publicação. Na visão de Ali (2009, p. 54), “o título é a expressão mais forte do conceito, da identidade
e do posicionamento da publicação”. Para a autora, não existem regras para sua criação, pode ser o
último item a ser definido ou o primeiro, e não há maneiras eficazes para medir sua influência no
sucesso da revista. Não há uma regra para a criação de um título de uma revista, muitas vezes ele
pode surgir da vivência dos criadores da publicação, como foi o caso de Claudia (Claudia era o nome
Design em revista feminina
37
que Victor e Silvana Civita – fundadores da editora Abril – pretendiam dar a uma filha). Já a revista
Nova, licenciada da americana Cosmopolitan, quando surgiu em 1973 optou por não utilizar o nome
em inglês, pois poderia não ser vista com bons olhos em tempos de ditadura militar. Nova era um
título que a editora Abril havia registrado e tinha sido utilizado por uma revista de fotonovela que
durou apenas alguns meses.
fig. 4
Embora não existam regras sobre o que é certo ou
errado na criação de um título, Ali (2009) aponta algumas características que considera como um bom título:
- Direto, diz logo a proposta da revista.
- Nome sucinto, com um designer capacitado é
possível criar um bom logotipo, tanto para um título
curto como para um longo, mas, sem dúvida, é mais difícil para um longo. A revista Marie Claire é um exemplo de título longo bem solucionado visualmente. Na
Da esquerda para à direita: revista Marie Claire americana
(agosto/2009) e Marie Clarie americana (dezembro/2006).
figura 4 vemos que o logotipo é versátil, podendo ser aplicado sobreposto ou sob a imagem;
- Título diferente dos concorrentes para não ser confundido (por conta da grande diversidade de
revistas que tratam do mesmo assunto).
Portanto, diante das questões apresentadas, vemos o quanto é necessário empenho e estudo
para a concepção do conceito editorial de uma publicação, o embrião da revista. O desenvolvimento
de uma linha editorial sólida faz com que a revista nasça forte, com uma identidade marcante e
com maiores chances de solidificar-se no mercado. Um exemplo disso é a revista Vogue. De longa
permanência no mercado, Vogue soube renovar-se com o passar dos anos, acompanhando as transformações de seu público, bem como da sociedade, porém mantendo sua fórmula editorial. Na figura
5, o editorial de Vogue, de 1947, conhecido como “as doze beldades” trazia foto das doze modelos do
momento. Sessenta anos depois, em 2007, a proposta é a mesma, bem como a composição da foto.
fig. 5
à direita, editorial de Vogue com as melhores modelos do momento (maio/1947). A partir de então, esta matéria é renovada quase todos os anos.
à esquerda, a mesma proposta publicada em 2007. Na primeira imagem a foto é do lendário fotógrafo Irving Penn, a segunda, de Steven Meisel.
Fonte: A arte de editar revistas (Ali, 2009).
Design em revista feminina
Design
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Design em revista feminina
41
2.1 Design editorial e projeto gráfico
O design editorial – uma ramificação do design gráfico – é o campo responsável pelo projeto de
livros, revistas e jornais e se difere, principalmente, dos outros tipos de design gráfico, em razão
da presença e também da importância que recebe o texto (de um jornalista ou escritor) .
Na busca por melhor definir e delimitar os campos de atuação dos profissionais de design gráfico,
convencionou-se o termo design editorial para se referir ao campo que abrange o projeto de publicações. Entretanto, o design editorial pertence a uma área maior, o design gráfico.
Em linhas gerais, design gráfico é a atividade de planejamento e projeto referentes à linguagem visual, a qual lida com a articulação de texto e imagem, podendo ser desenvolvida em
diferentes suportes. Na concepção de Villas-Boas design gráfico é:
uma atividade de ordenação projetual de elementos estéticos-visuais textuais e
não-textuais com fins expressivos para reprodução por meio gráfico, assim como
o estudo desta atividade e a análise de sua produção. Essa produção inclui a ilustração, a criação e a ordenação tipográfica, a diagramação, a fotografia e outros
elementos visuais. O design gráfico é justamente a combinação de todos estes
elementos com os fins e meios acima descritos (Villas-Boas, 2001, p. 12).
No design editorial, a ordenação desses elementos ocorre da mesma forma, porém os suportes
são específicos (livro, jornal ou revista). A atividade de planejamento e definição dos elementos
gráfico-visuais para uma determinada publicação resulta no projeto gráfico. Niemeyer diz que o
design editorial trata do projeto gráfico do material que será veiculado no jornal, na revista ou no
livro e “é responsável pela visualidade do projeto editorial” (Niemeyer, 2001, p. 27) .
No projeto editorial são definidos os diferentes tipos de matérias e seções que conterá a revista, bem como o espaço que irão ocupar. Uma vez definido o projeto editorial, essas informações
são transmitidas para o designer (ou diretor de arte) para conferir uma forma visual a este projeto
editorial. O projeto gráfico é o modo como a linguagem verbal ganhará forma visual.
Cabe citar que de acordo com Rabaça (1987), projeto gráfico é a atividade de planejamento
das características gráfico-visuais de uma publicação conforme sua programação visual, envolvendo detalhadamente características de produção gráfica como processos de composição, impressão e acabamento, papel, formato, etc. Além desses itens, o projeto gráfico de uma revista
abrange o processo de diagramação, a escolha e tamanho da tipografia, margens, uso das cores,
das imagens, sequência e posicionamento das reportagens e seções e a definição da grade.
O objetivo do projeto gráfico é comunicar uma ideia, história ou reportagem através da organização e apresentação visual. De acordo com Zappaterra (2007), o projeto gráfico possui diferentes funções: conferir expressão e personalidade ao conteúdo, atrair e reter leitores e estruturar
o conteúdo de maneira clara. A autora aponta ainda que estes papéis devem coexistir e trabalhar
coesivamente, a fim de resultar em uma publicação agradável, útil e informativa.
42
Design em revista feminina
Para a elaboração de um projeto gráfico são considerados três aspectos distintos: o aspecto visual,
o aspecto físico e o aspecto técnico. Acerca do aspecto visual são considerados os seguintes itens:
• Imagens. Determina-se quais os tipos de imagens da revista: fotografias coloridas, em preto e
branco, ilustrações digitais ou manuais, infográficos, símbolos gráficos, pictogramas, etc. Nessa etapa também são definidas algumas características dessas imagens, como por exemplo, se serão fotos
em estúdio, em locações externas, fotos-montagens. O designer pode optar por um ou mais tipos de
imagens, adotando um estilo próprio, a fim de criar uma identidade visual para a revista.
• Tipografia. é estabelecido quais as fontes ou famílias de fontes que serão empregadas e o
tamanho a ser utilizado em cada elemento verbal (título, olho, texto, capitular, etc);
• Grade. Para definir a grade é considerado o posicionamento das imagens, do texto (quantas
colunas o texto virá), das margens e dos rodapés da página, além de espaços em branco.
• Diagramação. Nesta fase é feito o projeto da distribuição dos elementos na página (textos,
títulos, fotos, ilustrações), onde serão determinados por critérios jornalísticos e visuais.
• Ritmo e sequenciamento. Neste estágio é definida a sequência das reportagens e seções,
bem como a distribuição das páginas editoriais e dos anúncios.
Já as características físicas e técnicas envolvem as seguintes questões:
• Papel. Será decidido o tipo e a gramatura a ser usada;
• Formato. é analisado qual tamanho é mais adequado para aquele tipo de revista;
• Softwares e plataformas. é determinado os softwares que farão a editoração da revista,
bem como o tratamento de imagem e em qual plataforma (PC ou Macintosh);
• Pré-impressão. Define-se o processo de pré-impressão que será utilizado (fotolito, CTP);
• Impressão. é fixado o tipo de impressão que será impressa a revista (impressão offset rotativa ou plana, sistema de cores quadricromia [CMYK] ou de cores especiais [Pantone]).
Antes do lançamento de uma publicação, Gäde (2002) propõe que o designer editorial produza
um detalhado protótipo (na prática profissional, denominado de boneco). Para a elaboração desse
protótipo, o designer deverá levar em consideração os três aspectos mencionados: o aspecto jornalístico (o conteúdo, o projeto editorial), o aspecto estético (a forma, o visual) e o aspecto técnico (a
fabricação, especificidades técnicas). Segundo o autor, antes de qualquer passo rumo ao conceito
gráfico, o designer deve conhecer com devida precisão as pretensões e aspirações do editor.
Uma característica peculiar acerca do projeto gráfico de revistas é apontado por Leslie
(2003). O autor afirma que o projeto de uma revista é um trabalho contínuo, orgânico, não se
limita a periodicidade (semanal, mensal, ou bimestral) da publicação. Muitos projetos de design
gráfico têm começo, meio e fim, mas a característica da continuidade que existe no design de
revistas facilita fazer mudanças graduais no design sem precisar executar completos “redesigns”. Ainda de acordo com Leslie (2003), a habilidade de continuamente desenvolver e mudar,
Design em revista feminina
43
sem perder a natureza central da revista é parte essencial para um bom design. Além disso, a
natureza repetitiva da revista joga a favor do designer, pois a cada nova edição oferece a oportunidade de tentar algo inovador.
Acerca do design de revistas, cabe levantar uma questão importante, a relevância e influência
que o contexto histórico-social e cultural exerce no processo de criação de um projeto gráfico.
Sobre esse aspecto, Fernanda Sarmento defende a ideia de que:
O design editorial constitui um meio de representação de idéias, conteúdos e
sentimentos. Tal meio no entanto não é neutro ou indiferente aos conteúdos
que apresenta, mas deve ser coerente e solidário com esses e com o contexto
histórico-social no qual se manifesta. Cada época possui suas próprias formas
visuais e, em correspondência com essas, uma linguagem gráfica própria (Sarmento apud Ferlauto, 2002, p. 90).
A definição apresentada relaciona-se com o pensamento de Bruinsma (2005), que define
design editorial como a arte de organizar agregados complexos de informações em um conjunto
significativo e acessível, equilibrando função (o aspecto da interface) e estética (o aspecto expressivo). Este “agregado complexos de informações” que o autor se refere são as referências que
o designer capta da cultura, do cotidiano, da vida social e as aplica em um projeto gráfico. Nesse
sentido, Bruinsma (2005) diz que os designers editoriais desempenham uma função essencial nos
ambientes de informação que existem atualmente, pois traduz dados abstratos em formas significativas. Para o autor, os designers editoriais são mediadores entre o conteúdo do material com
que trabalham e os contextos culturais dos quais fazem parte os seus produtos.
Diante dos conceitos apresentados, vemos o quanto o contexto cultural influencia e se relaciona concomitantemente com o design gráfico editorial. Para Villas-Boas:
O design é um discurso e, como tal, espelha a condição cultural na qual e para a
qual foi concebido ao mesmo tempo em que contribui para produzir, realimentar
ou transformar esta mesma condição cultural (Villas-Boas, 2002, p. 18-19).
Já para Moura (2003), “design é cultura, não apenas porque faz parte da cultura, mas
porque cria, desenvolve um universo artificial e simbólico para a sociedade na qual se insere”
(Moura, 2003, p. 97). Para a autora, design é produção de cultura, pois cria produtos resultantes das análises e interpretações culturais. Nas revistas femininas, as questões culturais e
comportamentais da mulher são investigadas de forma a trazer informações que contribuam
com o desenvolvimento da concepção visual da revista. Portanto, para a criação de um projeto
gráfico para uma revista, seja ela feminina ou não, é necessário que o designer editorial olhe
a seu redor e capte as manifestações culturais da sociedade para que o projeto seja coerente
com a visualidade de sua época e, principalmente, para que tenha pleno domínio dos códigos
simbólicos dos públicos a qual se destina a publicação.
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Design em revista feminina
fig. 6
fig. 7
fig. 8
Caras, formato ampliado, 22,5 x 31 cm.
Nova, formato padrão, 20 x 26,5 cm.
Glosss, formato pocket, 17 x 22 cm.
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2.2 Componentes do projeto gráfico
Como vimos anteriormente, para a produção de projeto gráfico de uma revista são considerados
os aspectos físico, técnico e visual. Cada qual tem sua importância para o desenvolvimento do
produto final, a revista. Neste tópico, aprofundaremos cada componente do projeto gráfico para
uma melhor compreensão da atividade projetual de design de revistas, principalmente, no que
se refere aos aspectos relevantes que devem ser considerados no momento da elaboração de um
projeto gráfico de uma revista.
2.2.1 Aspectos físicos e técnicos
O aspecto físico de uma revista envolve duas questões: o papel e o formato que a revista terá. O
formato de uma revista, ou seja, seu tamanho final, deve ser determinado de forma que atenda
às necessidades editoriais da revista, edição após edição. Como as revistas devem respeitar uma
periodicidade regular, fica inviável financeiramente e também para o cumprimento de prazos, a
mudança de formato a cada edição, uma vez que os designers trabalham com páginas templates (modelos prontos que facilitam o processo de diagramação da próxima edição, pois já estão
“pré-prontos”). Mudar o formato a cada edição acarretaria em um processo de refação de vários
aspectos, como a grade, margens, diagramação, etc. Além disso, em revistas comerciais há muitas
repetições de anúncios de uma edição para outra, o que envolveria em um trabalho a mais por
parte da agência de publicidade para refazer ou criar anúncios com diferentes formatos.
Para Ambrose (2009), os designers de revistas focalizam o conteúdo e não o formato físico,
fixando-se em um único tamanho, por razões econômicas e de comodidade, porque em revistas
comerciais não há sentido em repensar todos os aspectos a cada nova edição. Além disso, em um
mercado competitivo, recomenda-se ter um conteúdo consistente e de fácil reconhecimento de
uma edição para outra. De certa forma, a permanência do mesmo formato contribui para a construção da identidade da revista e fixação da imagem da publicação na mente do consumidor. Na
visão de Owen (1991), o formato é a base de sua identidade visual mas de nenhum modo é sua
única forma de expressar sua individualidade.
Para a determinação do formato da revista, deve ser considerado a proposta editorial da publicação, os hábitos do público a qual se destina ou outro fator que o editor possa considerar relevante. As revistas de celebridades, por exemplo, possuem formato maior, pois sua proposta editorial
é explorar uma grande diversidade de imagens e em tamanho grande, como é o caso das revistas
Caras (fig. 6) e Contigo! . Já a revista Gloss, para a mulher jovem, tem formato pocket, ideal para
caber dentro da bolsa da mulher (fig. 8). Hoje, grande parte das revistas (femininas e de interesse
geral) adota um formato padrão (em torno de 21 x 27 cm), como é o caso da revista Nova (fig. 6).
A respeito do papel a ser adotado para a revista, este também sofre influências do projeto
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editorial da publicação. As revistas de fofocas semanais, por exemplo, que têm preços baixos, têm
papel de baixa qualidade. Já as revistas para o público A, que muitas vezes trazem artigos de luxo
estampados em suas páginas, recebem papel de qualidade superior. Dessa forma, é certo que o
papel escolhido para a revista influenciará em seu preço de capa.
Na visão de Ambrose (2009), o uso da revista e seu setor têm diferentes exigências e tempos
de vida. Um periódico acadêmico, por exemplo, tem longa duração, já uma revista de celebridades,
tem natureza êfemera, por isso, utilizam um papel de baixa qualidade. Para o autor, a natureza das
revistas é mais descartável, portanto, devido a esse descarte, o papel de uma revista, raramente, é
de alta gramatura como a de um livro, por exemplo.
As questões técnicas que envolvem a feitura de uma revista são: pré-impressão, impressão,
softwares de editoração e tratamento de imagem e a plataforma a ser utilizada.
A pré-impressão refere-se a todo o processo envolvido antes da impressão da revista, que se
inicia com o fechamento dos arquivos (PDF), que posteriormente serão transformados em fotolitos
ou através do processo de CTP (Computer Direct to Plate). Nesse método que é o mais utilizado
atualmente, não há a presença de fotolito, as páginas são gravadas diretamente do computador
à chapa de impressão.
Com relação aos softwares de editoração, os mais comuns do mercado são Adobe Indesign, e
QuarkXpress. Hoje, o programa mais utilizado é o Adobe Indesign, sucessor do Adobe Pagemaker.
Para tratamento de imagens, o Adobe Photoshop é o mais usado. A plataforma preferida das
editoras é o Macintosh, muito embora, diversas empresas de pequeno porte trabalhem em PC.
Com relação ao tratamento de imagens, o diretor de arte pode optar por fazer o tratamento
das imagens internamente, juntamente com sua equipe de designers ou enviar para um bureau
especializado. Em algumas editoras grandes, como a editora Abril, a revista possui uma equipe
especializada para fazer o tratamento das imagens.
2.2.2 Aspectos visuais
Para cumprir a missão de conceder uma forma visual ao projeto editorial, é elaborado a visualidade do projeto gráfico da revista. Para a construção do aspecto visual e estético da revista é necessário levar em consideração os seguintes itens: tipografia, imagens, grade, diagramação, ritmo e
sequenciamento. A seguir, veremos em detalhes os conceitos, funções e importância de cada um
desses itens no design de revistas.
2.2.2.1 Tipografia
A tipografia é um dos elementos mais importantes de um jornal ou revista, pois é a através dela
que as ideias escritas (conteúdo editorial) são transmitidas para o leitor.
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E para melhor compreender o que é tipografia e sua relevância no projeto de revistas, apontamos uma definição trazida pelo tipógrafo alemão-suíço Wolfgang Weingart:
É transformar um espaço vazio, num espaço que não esteja mais vazio. Isto é,
se você tem uma determinada informação ou um texto manuscrito e precisa
dar-lhe um formato impresso com uma mensagem clara que possa ser lida sem
problema, isso é tipografia. Tipografia é a arte de escolher o tamanho correto, o
comprimento certo da linha, de escolher as diferentes espessuras das informações de texto. Ela pode incluir cor, que dá outro significado à palavra. Se você
imprimir algumas partes em vermelho, elas se transformam numa outra informação. A tipografia inclui regras para o uso de linhas, formas positivas e negativas, aplicação de retículas, letras em diferentes contrastes de claro-escuro e de
tamanhos pequenos e grandes (Weingart apud Ferlauto, 2001, p. 13).
A importância da tipografia no design de revistas deve-se às necessidades de leitura e compreensão do texto. Seu grande volume de texto é o que diferencia, fundamentalmente, os outros tipos
de projetos tipográficos. E justamente por isso, exige que o designer torne o texto confortável para
que o leitor possa navegar através dos elementos tipográficos da página (título, olho, subtítulos,
legendas, etc) bem como sustentar a continuidade da leitura. Além disso, Owen (1991) aponta que o
esquema tipográfico proporciona um sistema de produção regular e de reconhecimento, mediante a
criação de um estilo individual para a revista que distingue entre editorial e publicidade.
Portanto, vemos que a tipografia não se trata apenas de escolher entre as fontes Arial ou
Times New Roman, mas sim determinar qual tipografia tem a capacidade de transformar uma
informação textual, em uma forma visual adequada para que este conteúdo seja assimilado de
maneira fácil e correta e, principalmente, que encaixe com o projeto gráfico da revista como um
todo. Uma fonte incorreta pode afetar a compreensão do conteúdo, ou transmitir uma imagem
errônea da proposta editorial da publicação.
Nesse sentido, Bhaskaran (2006) diz que a forma visual da tipografia pode comprometer radicalmente como o design é percebido, daí a importância de se escolher a tipografia correta. O autor
aponta ainda que os caracteres tipográficos têm personalidade e são um excelente meio de comunicar emoção, por exemplo. Também para Zappaterra (2007), a tipografia mais do que qualquer
outro elemento de design sinaliza certas associações ao leitor e, para visar todas essas questões
satisfatoriamente, cada fonte deve ser selecionada para uma específica função.
Cada elemento tipográfico (olho, título, corpo do texto, aspas, etc) cumpre um papel diferente dentro do leiaute, por isso, a forma como a tipografia deve ser tratada em cada situação é
de extrema importância para que ela corresponda aos seus objetivos individuais. Os títulos, por
exemplo, cumprem a função de apresentar a história e atrair a atenção do leitor, os subtítulos,
para introduzir mais detalhadamente e assim por diante. O estabelecimento de uma hierarquia
clara desses elementos também é de vital importância, pois faz com que o leitor seja capaz de
identificá-los e usá-los para navegar.
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Sobre os diferentes elementos tipográficos e suas respectivas funções, White (2006, p. 93)
aponta quatro diferentes formas de aplicar a tipografia em uma revista:
1- “Fala tornada visível”: aplicada em títulos, aberturas, legendas, olhos, aspas, etc. é responsável por captar mais diretamente o interesse do leitor;
2- “Como contar uma história”: conhecido como texto corrido, refere-se a leitura contínua
e mais longa, um processo fluente, lento, reflexivo, sequencial e linear. Nesta situação é que o
designer deve se preocupar em escolher uma fonte que torne a leitura confortável.
3- “Explanação”: trata-se de unir fatos e agrupá-los visualmente, refletindo a organização e
estrutura da escrita, pode ser vista em forma de listas, tabelas, tabulações e facilitam a compreensão, além de trazer informações adicionais que não estão no texto corrido;
4- “Imagem”: neste caso, estão envolvidas as emoções e a curiosidade do leitor, criando palavras-imagens.
Abaixo, exemplificamos em um leiatue, as quatro formas de aplicação tipográfica mencionadas:
fig. 9
4- palavra-imagem
1-fala tornada
visível
3-explanação
2-como contar
uma história
Reportagem sobre culinária revista The Oprah Magazine, abril / 2009.
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A legibilidade e leiturabilidade também são questões importantes que o designer de revistas
deve considerar no momento da escolha tipográfica, pois são determinantes para proporcionar
conforto à leitura. Niemeyer (2001, p. 70) conta que “a legibilidade de um texto se refere à facilidade com que grupos de caracteres são identificados corretamente como uma palavra, e o resultado é que o leitor ou leitora perceba frases significativas para ele ou ela”. Já leiturabilidade é:
a qualidade que torna possível o reconhecimento do conteúdo da informação
em um suporte quando ela está representada por caracteres alfanuméricos em
grupamentos com significação, como palavras, frases ou texto corrido. A leiturabilidade depende do espacejamento entre caracteres e grupos de caracteres, de
sua combinação em frases ou sob outras formas, do espaçamento entre linhas, do
comprimento de linha e das margens, mais do que a configuração específica do
caractere em si (Sanders e McCormick, 1993 apud Niemeyer, 2001, p. 70).
Diversos fatores interferem na leiturabilidade ou legibilidade de um texto, como por exemplo,
fontes de contorno muito finas aplicadas em cima de fotografias ou boxes com cor, longos blocos de
texto com a fonte em itálico ou negrito e entrelinha simples. E ainda longos blocos de texto com a
fonte em caixa-alta ou no estilo caixa-alta e baixa, como mostram alguns exemplos que seguem:
Este é um exemplo de como a aplicação errônea de uma fonte interfere
em sua legibilidade e leiturabilidade.
Além de proporcionar desconforto
na leitura, pode interferir no entendimento da mensagem. Neste caso,
o texto foi aplicado em box com fundo preto o que dificulta a leitura com
uma fonte de contorno fino.
fig. 10
Este é um exemplo de como a aplicação
errônea de uma fonte interfere em sua
legibilidade e leiturabilidade. Além
de proporcionar desconforto na leitura, pode interferir no entendimento
da mensagem. Neste caso, o texto foi
aplicado todo em itálico e o desconforto é devido à inclinação. O itálico
também é chamado de oblíquo.
Este é um exemplo de
como a aplicação errônea de uma fonte interfere em sua legibilidade
e leiturabilidade. Neste caso, o desconforto
deve-se a aplicação da
fonte toda em caixa alta
(letras maíusculas).
Exemplos de aplicações de fontes de legibilidade e leiturabilidade ruim. Nos 3 blocos a fonte aplicada foi Garamond, corpo 10, entrelinha 12.
Autoria: Marienne Vidutto.
Na visão de White (2006), a melhor fonte é aquela confortável para ler e que, de tão confortável, torna-se invisível, transparente, pois o leitor não toma ciência de seu ato (leitura). A leitura
deve ser prazeroza para que o leitor não a abandone porque a tipografia está desconfortável.
Hoje, existem algumas “regras” quanto ao uso da tipografia, entretanto, há muitas controvérsias, por exemplo, que a fonte sem serifa não é recomendada para textos longos. Para White
(2006), fórmulas sobre o que é uma boa fonte não existem, exceto o bom senso, “se funcionar bem
é correto, se não é incorreto”. (White, 2006, p. 94). Portanto, é preciso sensibilidade, percepção e
experiência do designer para a escolha das fontes certas. Ferlauto aponta que “é preciso conhecer
os tipos. Assim seremos capazes de perceber suas nuances, sua personalidade, a funcionalidade e
beleza de suas formas. Quanto mais sabemos sobre tipos, mais preparados estamos para usá-los”
(Ferlauto, 2001, p. 7).
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2.2.2.2 Grade
Para a concepção visual de um projeto gráfico para uma revista, outro aspecto a ser considerado é
a construção da grade (ou grid, em inglês). A elaboração de uma revista ou qualquer outro projeto
de design gráfico envolve a resolução de problemas visuais e organizacionais.
A necessidade de organizar o espaço acompanha a trajetória humana há muito tempo. Abreu
(2009) relata que é possível identificar traços de preocupação com a organização espacial desde
os primórdios da manifestação gráfica. O autor conta que alguns registros dos sumérios, no período em torno de 2350 a. C, denotam uma forma de organização do espaço por meio do traçado
de linhas horizontais e verticais (fig. 11). Isso muito antes da criação do
fig. 11
primeiro alfabeto, elaborado pelos fenícios em 1.400 a. C . Esse modo de
organização é semelhante até hoje, a fim de auxiliar na organização e
visualização dos elementos estético-visuais textuais e não-textuais dos
projetos de design gráfico. Esses elementos juntos cumprem a função de
comunicar a mensagem gráfica, e uma das formas para atingir esse objetivo é por meio da grade.
Placa sumérica de cerca de
2350 a. C. Fonte: Revista Bravo!
Desenho, design e desígnos (Abreu,
2009).
Zappaterra (2007) define grade como o conjunto invisível de linhasguia que ajudam o designer a determinar o posicionamento e uso do texto,
imagens e outros elementos de design, como espaços em branco, margens
e rodapés. A grade ajuda a manter a unidade da publicação, ao mesmo tempo que permite diferentes possibilidades de leiaute. Na visão de Hulburt (2002, p. 82), a grade é uma “solução planejada
para determinados problemas, sem contudo se basear num sistema preestabelecido de proporções.
A grade de um designer organiza o conteúdo específico em relação ao espaço que ele irá ocupar”.
Para a construção da estrutura da grade são considerados os seguintes tópicos: margens (interna, externa, superior e inferior), quantidade de colunas e o espaçamento entre elas. Com isso,
é possível identificar onde será posicionado o texto, as imagens e os rodapés da página. Na figura
12, vemos a grade de uma página dupla. No exemplo, foram determinadas as margens superiores e
inferiores (linhas magenta), a quantidade de colunas (linhas roxas verticais), bem como o espaçamento entre elas. Podemos ver também, a presença de uma linha-guia que serve como referencial
para o posicionamento e/ou alinhamento de alguma imagem ou bloco de texto. O designer pode
incluir quantas linhas-guia desejar para a organização espacial.
No momento de definir a margem interna, o designer deve considerar a quantidade de páginas e tipo de encadernação que será feita. A lombada do tipo canoa (com grampo), geralmente
utilizada em publicações com poucas páginas, exige um espaço interno menor das encadernações
Linhas-guia: são linhas que podem ser inseridas em qualquer lugar da página e que tem como objetivo auxiliar no posicionamento de objetos
– recurso disponível nos softwares de editoração e tratamento de imagem.
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margem interna
fig. 12
margem
superior
e exterior
espaço entre
as colunas
linha-guia
margem inferior
Grade de página dupla, onde foram determinadas as margens, a quantidade e o espaçamento das colunas. Autoria: Marienne Vidutto.
em lombada quadrada (colada ou costurada).
Samara (2005) esclarece que as margens são os espaços negativos entre o formato final e o
conteúdo. Elas circundam e definem a área “viva” onde o texto e as imagens serão posicionadas,
podendo ser usadas para focar a atenção, como área de descanso para os olhos ou atuar como
uma área para informações secundárias. O autor aponta ainda que as proporções das margens
devem ser bem planejadas, pois ajudam a estabelecer a tensão total dentro da composição.
Acerca da organização dos elementos na grade, Ferlauto (2002) aponta duas formas de organizar os signos: por similaridade/semelhança ou por justaposição. Por similaridade/semelhança os elementos são posicionados lado a lado (signos, imagens semelhantes, etc) fazendo uma combinação
ou rima. Por justaposição significa justapor signos díspares, em oposição, conflito ou contraste.
São diversos os benefícios para trabalhar com uma grade. Samara (2005) aponta alguns deles:
clareza, eficiência, economia e continuidade. A grade confere ordem sistemática a um leiaute, distinguindo tipos de informações e facilitando a navegação do usuário através deles. Também possibilita ao designer diagramar grandes quantidades de informação em um tempo substancialmente
menor, porque muitas questões acerca do design já foram solucionadas no momento da construção
da estrutura da grade. Além disso, a grade permite que diversos indivíduos colaborem com o mesmo
projeto gráfico ao longo do tempo, sem comprometer a qualidade visual estabelecida, repentinamente. E se bem aplicada a uma série de páginas, pode dar origem a um sentido de sequência, de
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continuidade, proporcionando distinção ao todo, pela padronização.
Embora a grade ofereça uma série de benefícios, ela também é criticada por alguns designers
que creem ter sua liberdade criativa tolhida devido a uma estrutura pré-definida. Hulburt (2002,
p. 83) diz que a grade usada “com habilidade e sensibilidade pode produzir layouts de bom efeito
e funcionais. Todavia, nas mãos de um designer não muito habilidoso, pode se converter numa
autêntica camisa-de-força, resultando em layouts duros, de rígido formato”.
Nesse sentido, White (2006) diz que o designer não deve ficar aprisionado num formato
pré-determinado, mas dispor o texto em padrões que reflitam a estrutura do que está escrito.
Cada artigo deve ser tratado como uma unidade separada, distinta e de padrão variado. “Sua
geometria deve ser uma resposta às necessidades editoriais, portanto, não há razão pela qual
as larguras das colunas não possam mudar quando necessário”. A publicação ficará coerente se
você mantiver a consistência tipográfica no que se refere a fontes, tamanhos e espaçamentos
de linhas” (White, 2006, p. 44-43).
Samara (2007) aponta que devido à regularidade da grade, o designer pode se sentir coibido
a expressar sua criatividade no leiaute, entretanto, ele não é pretexto para leiautes medíocres:
Um grid só funciona realmente se o designer, depois de resolver todos os problemas literais,
vai além da uniformidade implícita em sua estrutura e o utiliza para criar uma narrativa
visual dinâmica, capaz de manter o interesse ao longo das páginas. O maior risco do uso do
grid é sucumbir à sua regularidade. Cabe lembrar que o grid é um guia invisível que existe no
‘subterrâneo do layout’; o conteúdo acontece por cima, às vezes, contido, às vezes livre. Quem
cria um layout sem graça não é o grid, é o designer (Samara, 2007, p. 30).
Diante dos conceitos apresentados, vemos que a grade é um recurso à disposição do designer para a organização dos elementos visuais de uma revista que, apesar de seu uso ser
controverso entre alguns designers, é inegável que seus benefícios prevalecem. O designer deve
lançar mão desse artifício em busca de leiaute limpo, fácil de navegar, surpreendente e, principalmente, que cumpra sua missão de comunicar a mensagem editorial.
2.2.2.3 Diagramação
Uma das questões mais importantes relacionadas ao design de revistas é a diagramação. Muitas
vezes o trabalho de editoração (ou diagramação) é erroneamente associado com a atividade de
design. Muitos acreditam que diagramar é sinônimo de fazer o design da revista, entretanto, o
processo de editoração é apenas uma das ferramentas e processos do design editorial.
Na visão de Rabaça (1987), diagramar é fazer o projeto da distribuição dos elementos a serem
impressos (textos, títulos, fotos, ilustrações), seguindo determinados critérios jornalísticos e visuais.
Silva (1985) relata que a o termo diagramação deriva da palavra diagrama, do latim diagramma,
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que significa desenho geométrico usado para demostrar algum problema, resolver alguma questão
ou representar graficamente a lei de variação de um fenômeno.
O design gráfico, de forma geral, trata o gerenciamento de informações visuais e a diagramação como apenas uma das diversas ferramentas que o designer tem à sua disposição. A diagramação de uma publicação se refere ao posicionamento do conteúdo – texto e ou imagens – e como
esses dois elementos se relacionam um com o outro, além da publicação como um todo.
O processo de diagramação resulta em uma composição visual, ou seja, em um leiaute, que é
a imagem total que aparece na página. De acordo com Campos e Prioste (2006) é a configuração
ou composição visual “que estabelece a interface de um produto de design, aquilo que faz com que
um produto de design se sinta estimulado a prosseguir num caminho rumo ao desvendamento ou
exploração de uma peça, seja ela impressa ou digital” (Campos e Prioste, 2006, p. 91). Portanto, é
de suma importância que o designer se preocupe com a etapa de configuração dos elementos da
página, de modo que a torne atraente, agradável e que envolva o leitor.
Se a composição visual estiver poluída ou pouco atraente, o leitor pode ignorar a página,
virá-la e continuar folheando a revista em busca de algo de seu interesse. Na visão de Nojima, “o
mais representativo em uma composição visual é o seu “todo”, ou seja, a maneira escolhida para
integrar todos esses elementos, que juntos devem conter uma codificação específica” (Nojima,
2002, p. 75). O assunto da reportagem ou seção também interfere nesse processo, pois caso o
tema abordado não tenha valor para o leitor, por mais que a composição visual esteja adequada,
a página será ignorada. Para que o processo de comunicação seja eficaz é preciso que o designer
considere também os hábitos, usos e valores do público-alvo da revista. Portanto, vemos o quanto
a composição visual é importante para a peça gráfica, além de ser um meio de expressão do designer, como pontua Dondis:
Os resultados das decisões compositivas determinam o objetivo e o significado
da manifestação visual e têm fortes implicações com relação ao que é recebido
pelo espectador. É nessa etapa vital do processo criativo que o comunicador
visual exerce o mais forte controle sobre seu trabalho e tem a maior oportunidade de expressar, em sua plenitude, o estado de espírito que a obra se destina
a transmitir (Dondis, 2007, p. 29).
A composição visual é obtida através da articulação e distribuição dos componentes do leiaute. Os principais componentes de um leiaute de uma revista são: título, abertura da reportagem
(ou lead), texto corrido, capitular, subtítulos, aspas e olhos, vinheta, ícones, legendas, rodapés,
créditos, boxes e imagens. Todos esses elementos são articulados de forma que resulte em um
leiaute harmônico e fácil de navegar. Cada componente do leiaute cumpre uma missão específica
dentro da página e, para ser aplicado uma forma visual correta para cada um desses componentes,
é preciso que o designer conheça a função de cada componente, como detalharemos a seguir:
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• Título: na grande maioria das vezes é a maior fonte da página. O título serve para estimular
a curiosidade do leitor e atraí-lo para a leitura da reportagem. Zappaterra (2007) diz que, se o
título for aplicado antes do texto corrido, pode ser útil para determinar o sentido de direção do
leiaute. A autora complementa que o título pode ser posicionado em diferentes locais, sem um local fixo, mas é de suma importância que esteja sempre interligado com sua representação visual.
• Lead (ou lide, aportuguesado): é a abertura da matéria. Sua principal função é oferecer uma
prévia do assunto a ser abordado e, assim como o título, prender o interesse do leitor. Geralmente
o lead é aplicado com a fonte em tamanho maior que o texto corrido, para ganhar destaque.
• Texto corrido: o texto da reportagem pode ser disposto em inúmeras maneiras. As colunas
de texto podem receber alinhamento justificado, à esquerda ou à direita. O texto corrido contará a
“história” da reportagem e deve receber tratamento adequado para que a leitura seja confortável.
fig. 13
legenda
título
lead
créditos
imagem
texto corrido
capitular
rodapé
legenda
imagem
texto corrido
aspas
subtítulo
box
subtítulo
rodapé
Reportagem sobre as perigosas dietas de desintoxicação, revista Self .
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O espaçamento correto nas entrelinhas, entreletras e dos parágrafos devem estar bem configurados
para que não ocorram dispersões ou perturbações visuais.
• Capitular: a capitular tem a função de indicar onde o texto começa. é um componente
que permite a criação de diversos efeitos visuais, como por exemplo, transformar letras em imagens. O formato visual mais utilizado para a capitular é com a letra da primeira frase da matéria
em tamanho grande. A capitular também pode ser vista da seguinte forma: com a fonte maior
ou em negrito da primeira frase ou das primeiras palavras do texto, como mostra a figura 13.
• Subtítulos: textualmente, os subtítulos cumprem o papel de dividir o texto em diferentes
partes. Visualmente, provocam um quebra no texto corrido que proporciona um descanso visual
ao leitor, trazendo espaços em branco à página. Os subtítulos podem ser aplicados em negrito,
com cor, em caixa-alta ou com uma fonte diferente.
• Aspas e olhos: são frases selecionadas pelo editor da publicação a fim de criar interesse
extra pela reportagem. As aspas podem ser aplicadas de diversas maneiras: aspas simples (‘ ‘)
ou aspas dupla (“ “). é definido um padrão a ser seguido e apenas um desses dois estilos é
empregado. A função vital das aspas e olhos é capturar o interesse do leitor para que ele leia
a matéria. A diferença entre o olho da matéria e as aspas é que olho não aparece com sinal de
aspas, pois não é uma frase do entrevistado mas do jornalista que escreveu o texto.
• Legendas: utilizadas geralmente próximo à imagens, as legendas dão informações adicionais sobre aquela fotografia ou ilustração e pode dizer a razão porque ela está ali, fazendo uma
relação com a história da reportagem. Quando há um número grande de legendas para serem
expostas, cada imagem pode ser numerada e, ao lado, disposta uma lista com todas as legendas.
• Boxes: texto adicional inserido na reportagem, que traz informações complementares ao
leitor, sempre relacionadas ao assunto da matéria. Comumente é disposto dentro de um quadro
(com ou sem cor) com bordas. Os boxes também podem ser apresentados com o texto colorido,
com fontes diferentes e/ou recuados do texto corrido para proporcionar uma diferenciação.
• Rodapés: funcionam como uma ferramenta navegacional ao longo da edição e são, usualmente, posicionados no margem inferior próximo à área externa da página ou ao centro, de forma
que o número da página possa ser encontrado rapidamente. O rodapé, se posicionado muito próximo à lombada, pode dificultar sua visualização e, consequentemente, a localização do número
da página. O designer pode optar por omitir o rodapé quando a foto preencher toda a página. No
caso de publicações que tal situação ocorre muitas vezes, esta opção deve ser desconsiderada,
haja vista que tal decisão pode comprometer a localização dos conteúdos editoriais. Nos anúncios,
os números de páginas são sempre omitidos. O rodapé pode conter apenas o número da página ou
o nome da revista com a data da edição.
• Créditos: os créditos das imagens e do autor do texto são quase sempre posicionados
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abaixo do lead, isto para o caso das fotos principais da matéria serem do mesmo fotógrafo. Nas
reportagens onde há um grande número de fotos de diferentes fotógrafos, o crédito é posicionado
ou em cima da imagem (em um corpo bem pequeno) ou na lombada na página, também em tamanho reduzido para que as informações não interfiram no visual.
• Retranca: o mesmo que cartola ou chapéu, a retranca define o assunto da matéria. Pode ser
aplicada em diversas formas: sobre boxes coloridos, em forma de barras, com linhas, sobre uma
forma geométrica ou um estilo tipográfico que venha conferir identidade à publicação. A retranca
pode aparecer nas páginas seguintes caso a matéria continue em diversas páginas.
• ícones: os ícones são utilizados para demostrar que a reportagem continua na próxima
página ou que terminou. Muitas vezes, são utilizadas setas ou dedos indicadores para sinalizar a
continuidade e pequenos quadrados ou círculos para representarem o encerramento.
• Imagens: considerada o elemento-chave da página, é o componente do leiaute que merece
atenção especial quanto à sua disposição, pois seu relacionamento com a história é crucial para
cumprir a missão comunicativa. De acordo com Zappaterra (2007), mesmo se o texto é dirigido
pela imagem ou vice-versa, o importante é criar um interessante diálogo entre texto e visual.
Como uma imagem é cortada, onde é posicionada em relação ao texto e sua posição na página
criam expressão e narrativa para o leitor. A autora exemplifica que a aplicação de imagens de rostos olhando para dentro da página cria harmonia e, olhando para fora, direciona o olhar para fora
página, criando tensão. Um largo close de uma imagem banal envolve o leitor com a matéria, bem
como seu contorno ou forma é capaz de criar uma imagem abstrata que pode intrigar ou surpreender o leitor. O assunto imagens será abordado em profundidade no próximo tópico (2.2.2.4).
Portanto, observamos que diante dos diversos componentes apresentados do leiaute, podemos
constatar que a visualidade a ser conferida a cada um desses elementos irá variar substancialmente de
acordo com a necessidade de cada um. Nem sempre é possível encontrar todos os elementos em um
único leiaute. As reportagens de moda, por exemplo, que em sua grande maioria traz fotos sangradas
em página inteira, apresentam apenas, título, lead e legendas. Nesse sentido, Bhaskaran (2006) diz que,
o conteúdo é que, em sua maior parte, determina o leiaute. Ou seja, a forma como jornalisticamente
aquele tema foi trabalhado, abordado e, principalmente, editado, determinarão como será o leiaute.
Posicionamento dos elementos
Outro aspecto que envolve o leiaute é o posicionamento dos elementos na página. Uma pesquisa
do Poynter Institute, apresentada pelo professor de jornalismo gráfico Moraes (1998), revelou que
quando o leitor entra numa página, sua atenção não está voltada para nenhuma posição predeterminada, mas para um elemento visual dominante, e só a partir desse ponto de entrada é que
será deslocada para outros elementos da página. De acordo com essa pesquisa, o trabalho de arte,
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o que inclui ilustrações e infográficos, é percebido pela maioria dos leitores (80%), seguido pelas
fotografias (75%) e pelos títulos (56%). O texto só vem em sétimo lugar, com apenas 25%.
Este estudo reforça a afirmação de White (2006), que defende a ideia que para convencer
o leitor a iniciar a leitura, uma das estratégias é expor o valor da mensagem, através do uso de
diversos elementos, como legendas, aspas, imagens, títulos, boxes que serão responsáveis por persuadir o leitor a iniciar a leitura. Para o autor, o leitor folheia uma revista com o seguinte critério:
“o que é para mim e o que não é para mim”. E, se sentirem atraídos por determinada reportagem,
o leitor raramente inicia a leitura por onde deveria começar: pelo início do texto. Em vez disso, sua
atenção é voltada para qualquer outro lugar na página que então o conduzirá (ou não) à leitura
do texto. Indo ao encontro do pensamento de White (2006), Barbosa diz que:
O acesso do leitor à informação de uma revista começa no manuseio. Ele, em
geral, folheia antes de ler. A partir de um primeiro contato hábil e visual ele
desencadeará a leitura em seus diferentes níveis. O aspecto gráfico é muito
importante para essa seleção de leitura bem como na determinação da característica fundamental da revista: ser um objeto de lazer (Barbosa, 1996, p. 30
apud Gruszynski, 2006).
Portanto, entendemos o quanto é importante conferir um aspecto visual adequado à reportagem para que o leitor sinta-se atraído a iniciar a leitura. No design gráfico de anúncios publicitários, por exemplo, vende-se o produto ou serviço de uma determinada empresa. No design
editorial de revistas, o que está sendo vendido é a própria reportagem, para que ela seja lida.
Para Zappaterra (2007), não há regras definitivas sobre como o olho de um indivíduo irá escanear uma página, porém, a autora crê que são os ganchos visuais (imagens ou texto) que determinam onde o olho iniciará sua jornada. No exemplo abaixo, de acordo com a autora, o elemento
dominante (letra G), de tamanho grande e cor forte, faz com que o olho seja atraído para ele. Só
então segue no sentido horizontal para o olho do futebolista Paul Gascoigne para, finalmente,
mover-se para o lead (abertura da matéria). Embora a autora tenha apontado esta possibilidade de
trajeto do olho, isto é discutível. Não po-
fig. 14
demos afirmar que com todos os leitores
ocorrerá da mesma forma.
No que diz respeito ao posicionamento dos elementos na página, White (2006)
aponta outra questão pertinente e específica do suporte da revista. Para o autor,
devido à lombada da revista, o leiaute não
é plano, como um quadro que se pode
pendurar na parede ou a imagem na tela
de compurador. White (2006) diz que a
Reportagem da revista Loaded, extraída do livro Editorial Design (Zappaterra, 2007).
58
Design em revista feminina
lombada deve ser sempre considerada pelo designer, pois faz com que a página dupla se divida
em duas partes. Por essa especificidade, algumas áreas são consideradas mais valorizadas para
o posicionamento de determinados elementos do que outras. Segundo White (2006), as áreas
mais valorizadas são: “canto superior esquerdo e o canto superior direito, pois são as áreas que
as pessoas mais olham”. É ali que devem estar as “imagens mais fascinantes e as palavras mais
provocativas”. Justamente por causa da lombada, as posições contraindicadas são as que ficam
próximas à dobra interna, pois a “metade interna fica escondida até que quem folheie decida
abri-la totalmente para revelar a página dupla. O que ele ver nas metades externas irá motivá-lo
a fazer isso” (White, 2006, p. 5).
Princípios do design
Outra questão acerca do leiaute é apontado por Siebert (1992) e refere-se aos princípios do design,
como denomina o autor. Eles têm por objetivo ajudar a determinar o uso dos elementos de design
para que o resultado seja um bom leiaute. De acordo com o autor, são quatro os princípios do design: equilíbrio, ênfase, ritmo e unidade.
O autor aponta que equilíbrio é uma distribuição igual de peso visual. Cada elemento em um
leiaute tem um peso visual que é determinado pelo seu tamanho, escuridão ou luminosidade e espessura das linhas. Há duas formas para se conseguir o equilíbrio. O primeiro é o equilíbrio simétrico,
com o arranjo dos elementos distribuídos uniformemente à esquerda e à direita a partir do centro.
O segundo é o equilíbrio assimétrico que é um arranjo dos objetos de igual peso em cada lado da
página, não tendo o centro como referência. Cor, tamanho, forma e textura podem ser usados para
se conquistar o equilíbrio. O equilíbrio simétrico pode comunicar robustez e estabilidade e é apropriado para publicações tradicionais e conservadoras, apresentações e sites da web. Já o equilíbrio
assimétrico pode implicar contraste, variedade, movimento, surpresa e informalidade. É adequado
para as publicações modernas e de entretenimento, além de apresentações e sites da web.
O ritmo é um padrão criado com a repetição de elementos variáveis. Repetição (repetir elementos similares de forma consistente) e variação (uma mudança na forma, tamanho ou posição
dos elementos) são as chaves para o ritmo visual. As mudanças repentinas no tamanho e espaçamento dos elementos criam um leiaute dinâmico, vívido e emocionante.
A ênfase é o que se destaca ou que se notou em primeiro lugar. Cada leiaute precisa de um
ponto focal para dirigir o olho dos leitores para a parte mais importante do leiaute. Geralmente,
um ponto focal é criado quando um elemento é diferente do restante.
A unidade ajuda a fazer com que todos os elementos pareçam uns com os outros. Unificar os
elementos, agrupando-os, cria uma unidade. Os leitores precisam de pistas visuais para perceber
que a peça é uma só unidade (de texto, títulos, fotografias, imagens, legendas, etc). Uma das formas de conferir unidade à peça é repetindo cor, forma, textura ou mesmo a grade.
Design em revista feminina
59
Uso da cor
Outra questão que permeia a construção de um leiaute é o uso da cor. Nem todas as publicações
usam esta importante ferramenta de design, algumas revistas elegem apenas uma única cor para
garantir alguma variedade. As revistas femininas em geral usam e abusam de diversas cores para
expressar sua personalidade editorial, com exceção das revistas de luxo para público A, como
Haarper’s Bazzar e Vogue.
White (2006) relata que a cor não é preponderantemente um recurso estético, e sim uma
técnica racional que pode ser aplicada com objetivos funcionais: identificação, ênfase, associação, organização, persuasão e, às vezes, para embelezar intencionalmente, mas quase sempre
como uma consequência derivada. Na visão de Zappaterra (2007), a cor pode acrescentar significado em um leiaute, conectando elementos através de títulos e subtítulos coloridos, boxes,
capitulares, etc. Para a autora, o olho possui a habilidade de fazer ligações através da utilização
desse tipo de sinalização.
Portanto, observamos que existem diversas aplicações e finalidades acerca do uso da cor,
contudo, é um recurso que deve ser muito bem planejado, pois a cor pode resgatar experiências
individuais e subjetivas do leitor, alterando sua percepção de uma determinanda cor. Apesar do
mecanismo de percepção da cor ser o mesmo entre os humanos, diferenças culturais e experiências individuais afetam nossa interpretação da mensagem nas cores. Sobre esse aspecto, Samara
(2005) aponta que a cor “está intimamente conectada com o mundo natural e, deste modo, uma
ferramenta de comunicação profundamente útil. Mas porque a cor resulta da transmissão de
ondas de luz refletidas através de um órgão imperfeito – o olho – para um imperfeito intérprete
– o cérebro – os significados transmitidos são também profundamente subjetivos”. Para o autor,
poucos estímulos visuais são tão poderosos como a cor.
2.2.2.4 Imagens
As imagens são consideradas um dos elementos-chave da página e a grande responsável por atrair
a atenção do leitor. Além disso, as imagens contribuem ativamente para a construção da identidade visual da revista. Bhaskaran diz que as “imagens desempenham papel integral na identidade
visual de qualquer tipo de publicação; elas podem alterar dramaticamente seu apelo estético, se
usadas como um elemento subsidiário do texto principal, ou então, como força motriz por trás de
todo o projeto” (Bhaskaran, 2006, p. 74) .
Diferente de outros tipos de projetos de design gráfico, as imagens presentes nas revistas possuem diferentes funções dentro da peça gráfica, pois mantêm estreita relação com o jornalismo,
ou seja, com o conteúdo editorial apresentado. Na visão de Owen (1991), a fotografia é a coluna
vertebral das revistas e seu papel primário é o jornalismo, pois deve colaborar com o texto dentro
60
Design em revista feminina
de uma composição geral, além de servir como textura de fundo ou como um componente dinâmico da forma e ainda ser uma unidade de pontuação visual. Nesse sentido, Samara (2005) diz
que a maior parte das publicações conta com imagens para complementar o conteúdo escrito e
que também serve para esclarecer informações complexas – especialmente conceituais, abstratas
ou informações de processos – de forma concisa e de rápida assimilação.
Nas revistas e jornais impressos, encontramos uma miscelânea de diferentes tipos de imagem: retratos de celebridades, fotos de catástrofes ambientais, personalidades políticas, eventos esportivos, produtos em geral, comidas e bebidas, moda, dentre tantas outras. Para melhor
compreensão dessas imagens, apresentamos a divisão proposta por Baeza (2003), que divide as
fotos de imprensa em dois grupos: fotojornalismo e fotoilustração. As imagens fotojornalísticas
referem-se a um tipo de imagem que se vinculam aos valores de informação, à atualidade e
notícia, coletando fatos de relevância política/social/cultural. Seu traço marcante é o imediatismo informativo, onde a reportagem recebe um tratamento mais interpretativo, sequencial e
narrativo. Já a fotoilustração cumpre os papéis de descrever, explicar, detalhar e aproximar o
leitor do conteúdo escrito e, em grande parte, depende de um texto prévio que marca e origina a
imagem. Para o autor, essas duas categorias de fotografia de imprensa englobam todos os usos
vigentes da fotografia nos jornais e revistas. No caso das revistas femininas, a imagens são, em
sua grande maioria, as do tipo fotoilustração.
No que diz respeito aos aspectos sintáticos da imagem, a semioticista Santaella propõe a
existência de três paradigmas: “o paradigma pré-fotográfico, o fotográfico e o pós-fotográfico”.
O primeiro, diz respeito a todas as imagens produzidas artesanalmente, ou seja, feitas à mão, no
qual depende “fundamentalmente da habilidade do indivíduo para plasmar o visível”. O segundo,
compreende todas as imagens elaboradas “por conexão dinâmica e captação física de fragmentos
do mundo visível, isto é, imagens que dependem de uma máquina de registro, implicando necessariamente a presença de objetos reais preexistentes” (Santaella, 1999, p. 157).
Diante dos conceitos apresentados vemos que a maioria das revistas femininas faz uso das
imagens fotográficas e, em menor escala, das ilustrações manuais e infográficos. Owen (1991)
esclarece que o infográfico é um recurso visual que torna mais inteligível as informações mais
complexas ou proporciona uma compressão qualitativa ou quantitativa sobre um determinado
assunto. Como as revistas femininas, raramente, trazem assuntos de grande complexidade,
este recurso é pouco utilizado.
Na visão de Owen (1991), a supremacia da fotografia nas revistas reside, principalmente, por
suas propriedades de reprodução mecânica que facilitam a rapidez da produção, ajuste e homogeneidade dos elementos que compõem a página. Mas seu caráter objetivo e documental tem uma
realidade material que a ilustração manual jamais poderá competir. A predominância fotográfica
Design em revista feminina
61
que acontece na grande maioria das revistas ocorre porque o homem sente a necessidade de visualizar as informações por meio das imagens. Dondis diz que a tendência à informação visual no
comportamento humano deve-se ao fato de que “ver é uma experiência direta, e a utilização de
dados visuais para transmitir informações representa a máxima aproximação que podemos obter
com relação a verdadeira natureza da realidade” (Dondis, 1997, p. 7).
Portanto, vemos que a fotografia é um frequentemente relacionada com o mundo real ou
aquilo que se pressupõe que seja realidade. Sobre este aspecto Silva aponta que:
A natureza tecnológica da fotografia ajuda perceber a imagem como um registro, capturado por câmera e realizado mecanicamente, deixando a sensação de
conexão com uma determinada situação, de um certo espaço e tempo. Por isso,
a fotografia costuma ser associada com o mundo real ou aquilo que definimos
como realidade. No entanto, a tecnologia fotográfica vem desde o seu início
sendo usada também para a produção de imagens representando um mundo
imaginário, fictício e poético. (Silva, 2006, p. 1).
Embora concordamos que ver tenha a capacidade de representar uma experiência direta,
Barthes (1980) também aponta uma visão arbitrária sobre a fotografia, associada como uma
retratação da realidade. “A foto, ao contrário da pintura, remete não somente a um objeto “possivelmente real”, mas também a um objeto “necessariamente real”, e não se pode negar que “o
objeto exista”. (Barthes, 1980 apud Santaella, 1999, p. 110). Ou seja, a imagem fotográfica “não
é realidade, mas, pelo menos, sua perfeita analogia e, é exatamente esta perfeição análoga que
geralmente define a fotografia” (Barthes, 1961 apud Santaella, 1999).
Além disso, é possível com a ajuda de encenações, truques óticos e de computação produzir
uma imagem de algo que não existe. Hoje, não só os fotógrafos mas também os designers modificam, consideravelmente, a realidade retratada nas imagens, como abordaremos a seguir.
Manipulação / tratamento de imagens
O sistema digital democratizou e facilitou o acesso à experimentação e manipulação da fotografia. Com isso, o designer passou a ter mais acesso, autonomia e controle sobre a imagem, antes
restrita apenas ao fotógrafo. Bhaskaran (2006) conta que as imagens podem ser manipuladas para
melhorar sua aparência e, hoje, quase toda imagem que vemos, seja em livros, revistas ou jornais,
foram digitalmente aprimoradas ou manipuladas de alguma maneira.
Atualmente, algumas empresas exigem do designer o conhecimento das técnicas de tratamento de imagens, a fim de contribuir favoralmente com a peça gráfica ou, então, para reduzir
custos, pois sem este conhecimento é necessário o envio das imagens para um bureau especializado em tratamento de fotos.
Outro aspecto sobre o tratamento de imagens é a importância que ele ganhou na dinâmica
62
Design em revista feminina
atual da fotografia. As questões que antes o fotógrafo tinha de resolver no momento da foto
(acertando a luz ou a produção), hoje ele transfere a responsabilidade para o Photoshop. Silva
(2005) conta que a solução de alguns problemas é transferida do momento de captação do registro fotográfico (em estúdio ou locação) para o processo de tratamento da imagem em programas
de computador. O fácil acesso amplia o tempo reservado ao design da imagem, podendo ser capaz
de liberar a imaginação criativa e acentuar a importância da proposta a ser comunicada visualmente. “Assim, a mensagem e o design da foto assumem progressivamente um papel principal no
processo de construção da imagem” (Silva, 2005, p. 11) .
Outro aspecto trazido por Owen (1991) é de que o designer não tem nenhuma obrigação de
preservar a imagem intacta, e a relação entre designer e fotógrafo pode ser ambígua e, em algumas
ocasiões, contraditórias, semelhante a relação entre editor e autor. Com a fotografia, assim como a
palavra escrita, o designer interpreta e altera, em um grau considerável, a imagem original.
Na prática do design editorial, esta intervenção traz – de fato – situações delicadas no dia
a dia entre designer e o fotógrafo, que nem sempre compartilham das mesmas opiniões. Muitas
vezes, o fotógrafo enxerga sua imagem perfeita, enquanto que na visão do designer ela pode ser
aperfeiçoada. O processo de impressão de grandes tiragens em máquinas rotativas, por exemplo,
requer alguns ajustes nas imagens, para que o resultado seja o melhor possível, devido à alta
velocidade de impressão, pois é um processo que tende a perder detalhes. Os fotógrafos – na
grande maioria – não possuem estas informações que variam de acordo com a conduta da gráfica escolhida, o papel, tipo de impressão, processo de cor, porcentagem de ganho de ponto, etc.
Acontecem exigências por parte dos fotógrafos para que se publique as imagens sem nenhuma
alteração, entretanto, isto não é possível, pois as imagens necessitam de ajustes para que se enquadrem dentro destas especificidades. Na visão de Bhaskaran (2006, p. 76), “embora fotógrafos
tenham a habilidade de comunicar a mensagem com absoluta clareza e sem ser alterada, hoje, no
mundo digital isto é uma raridade”.
Embora esses conflitos existam, compartilhamos da visão de Owen (1991) que diz que o design da página se inicia no processo da encomenda (briefing) e também na lente do fotógrafo,
fase do trabalho que mais comporta a promoção e a liberação das capacidades dos profissionais
(designer e fotógrafo). Para o autor, para se obter êxito, é preciso que o designer estabeleça instruções precisas e aceite a contribuição criativa do fotógrafo, relação onde cada um deve entender e
alimentar o papel e talento do outro.
Especificamente sobre o tratamento de imagens nas revistas femininas, muitas imagens recebem muitos retoques, principalmente nas fotos de mulheres, onde determinadas imperfeições são
apagadas (rugas, olheiras, manchas na pele, pintas, sardas, gorduras proeminentes, etc), muitas
vezes são modificadas as feições da mulher, conferindo-lhe um visual extremamente artificial.
Design em revista feminina
63
Com a manipulação e publicação de imagens de mulheres perfeitas, prega-se um ideal de beleza
que na realidade não existe.
Sobre este aspecto, Buitoni (2007) explica que a fotografia como espelho da realidade ainda
preserva um fundo de justificativa para o senso comum, mesmo com as inúmeras intervenções
sofridas pelo processo, do registro até chegar à página impressa ou em telas na web. “Mesmo a
própria vivência dos usuários de câmeras digitais, que sabem das manipulações – e as realizam
– não é suficiente para que se desconfie da veracidade da foto jornalística ou não-jornalística”
(Buitoni, 2007, p. 106).
E neste ponto está a diferença entre uma fotografia presente em um veículo de comunicação
impresso (jornal ou a revista) e outros tipos de imagens, como a publicitária, por exemplo. As
pessoas tendem a acreditar que são verdadeiras não só as imagens, mas também as informações
publicadas. Os leitores acreditam serem reais os corpos perfeitos de atrizes ou modelos, mas são,
na verdade, simulacros, reais apenas no papel. O profissional da área editorial, Antonio relata o
mecanismo desse processo:
A evolução técnica na reprodução fotográfica atinge nos anos 90 um refino
impensável. Seu reflexo é imediato na publicidade, nas embalagens de produto,
nas revistas. Truques de maquiagem, iluminação e produção sempre existiram,
mas o tratamento das imagens digitalmente muda completamente os padrões
visuais. A imagem que se obtém impressa é incomparável ao original. Constróise digitalmente um corpo perfeito. É a era do software Photoshop. A imagem
admirada, o corpo a ser alcançado, a barriga inigualável, já não se sabe se é real
ou não. Mas quem se importa com isso? A preocupação com o corpo, beleza e
estética foi crescendo ao longo do século XX, tanto em homens, mas, principalmente, nas mulheres. Reflexo de uma supervalorização da aparência que tomou
conta de tudo e todos nos últimos tempos, gerando uma busca frenética pelas
formas ideais. Ou pelas imagens ideais (Antonio, 2009, p. 29).
Portanto, encontramos nas revistas femininas, mais que em qualquer outra, o uso exagerado
do tratamento de imagem, bem como de truques para aperfeiçoar as imagens ou mesmo construir
padrões visuais de beleza que se pretende estabelecer. Com isso, o leitor tem acesso a uma realidade contruída pelo editor e não questiona sua veracidade.
Construção do significado
A imagem é um elemento de grande relevância para a página, pois muitas vezes é através dela que
será contruído o significado, ou seja, será transmitida com eficácia a mensagem para o leitor. Uma
das formas para que isso aconteça é a criação de um diálogo coerente entre texto e visual.
Em revistas impressas, onde se faz uso da fotoilustração, vemos que quase sempre a imagem
aparece juntamente com um texto. Nestes casos, observamos que a relação entre texto e imagem
é de dependência e coexistência, uma vez que, juntas dependem para a construção do significado e
64
Design em revista feminina
de uma comunicação eficaz, como mostra a figura 15. No editorial da revista Claudia, a imagem de
uma pá com notas de dinheiro estabelece uma relação com o titulo Operação tapa-buraco e, juntos,
resultam na compreensão da mensagem. Com a presença dos dois elementos conectados, o leitor
percebe que trata-se de uma reportagem sobre recuperação financeira.
Para exemplificarmos melhor como
se estabelece a relação texto-imagem,
fig. 15
selecionamos a mesma reportagem e
alteramos o título para Acabe com suas
dívidas (fig. 16). Nesta composição visual, percebemos que a ligação entre
foto e texto foi quebrada, uma vez que
a palavra dívidas não faz uma relação
direta com a imagem da pá. Já a palavra buraco é diretamente associada à
imagem da pá. Como o título da reporEditorial sobre finanças, revista Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009.
tagem Acabe com suas dívidas é bem
direto, a compreensão sobre o que se
fig. 16
trata a reportagem não foi comprometida, mas não estabeleceu uma relação
direta com a imagem.
Sobre esse aspecto, Moles (1987)
diz que há dois tipos de imagens: a
imagem pura e a comentada. Para o
autor, as imagens comentadas são “(...)
aquelas cujo sentido constrói tão somente por intermédio de uma palavra
Intervenção em editorial da revista Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009.
ou um texto escrito, muitas vezes sumário, mas onde o binômio imagem +
seu comentário é indissociável” (Moles, 1987, p. 20) . Na figura 15, a imagem pictórica complementa a linguagem verbal e vice-versa.
O título original dessa matéria não funciona como uma mera legenda, no sentido de identificar o
que a imagem está mostrando, mas sim ampliar o significado desta. Nesse sentido, Barthes denomina
essas informações verbais de “mensagens linguísticas” e ressalta o uso desse tipo de construção nos
meios de comunicação de massa:
Hoje, ao nível de comunicações de massa, quer-nos parecer que a mensagem
Design em revista feminina
65
lingüística está presente em todas as imagens: como titulo, como legenda, como
matéria jornalística, como legendas de filme, como fumetto; como se vê, questiona-se hoje o que chama a civilização da imagem: somos ainda, e mais do
que nunca, uma civilização da escrita, porque a escrita e a palavra são termos
carregados de estrutura informacional (Barthes, 1982, p. 32).
Portanto, entendemos que a mensagem linguística proposta por Barthes (1982) pode não ser
comunicada de forma eficaz, caso as palavras ou imagens selecionadas não sejam devidamente
relacionadas entre si, como observamos na figura 15.
Outro aspecto relevante é que, para a compreensão da mensagem visual, é preciso que essa
imagem faça parte do repertório do leitor. Na visão de Coelho Netto, o repertório é parte determinante no processo de compreensão de comunicação, na qual a intercessão dos repertórios do
emissor e do receptor permite que o processo comunicacional funcione. Para o autor,
(...) para que a mensagem seja significativa para o receptor (...) é necessário que
os repertórios (...) tenham algum setor em comum. Se os dois repertórios forem
exteriores totalmente um ao outro, a informação não é transmitida ao receptor.
Por outro lado de ambos os repertórios forem absolutamente idênticos, (...) em
nada alterará seu comportamento, pois é coisa que ele conhece... Casos de
repertórios tangentes podem configurar uma situação em que o receptor verá
a mensagem como algo intrigante, portanto como algo a desvendar (Coelho
Netto, 2003, p. 124).
O autor Coelho Neto (2003, p. 123) esclarece repertório como uma “espécie de vocabulário,
de estoque de signos conhecidos e utilizados por um individuo”.
Outra possibilidade existente de configuração da página, oposta à apresentada anteriormente, são as composições visuais polissêmicas, ou seja, as que permitem ao leitor a construção de
diferentes significados. Samara (2005) afirma que a apresentação de imagens vão de um espectro,
onde o ponto de partida é a representação, indo até a abstração. As imagens que ficam mais próximas da extremidade de representação são consideradas mais literais, enquanto aquelas que se
aproximam do abstrato são mais interpretativas (fig. 17).
As imagens literais têm o sentido restrito, já as imagens abstratas são passíveis de diferentes
interpretações. Nesse sentido, para Moles (1987), na imagem pura, há uma abertura maior para
gerar interpretações ou até dúvidas, mais do que as imagens comentadas, onde a relação está
fig. 17
literal
abs t r a t o
Espectro de apresentação de imagens. Partem do literal e vão até o abstrato. Fonte: PDW - Publication Design Workbook (Samara, 2005).
66
Design em revista feminina
fig. 18
mais “amarrada”. Na visão de Nojima (2002), a
interpretação dependerá do contexto em que se
encontra, do seu interpretante e do período em
que foi publicada. Consideramos ainda que, o
repertório do leitor também interfere na maneira como essa mensagem visual é entendida.
Podemos observar um exemplo de compoEditorial sobre o poder das mulheres, Claudia, ano 48, no 6, janeiro de 2008
sição visual polissêmica em editorial de Claudia
sobre poder feminino. Na figura 18, a imagem de
uma mulher olhando para o mar com o título Eu quero ser poderosa pode gerar diferentes interpretações. Em um primeiro momento, a foto pode remeter àquele poder da mente capaz de levantar
objetos com a força do pensamento, como aparecem nos filmes de ficção científica. Para um outro
leitor, a palavra poderosa pode remeter ao poder do mar, devido a sua imensidão e mistério. Este
tipo de composição visual vai ao encontro do pensamento de Barthes que diz que
(...) toda imagem é polissêmica e pressupõe, subjacente a seus significantes, uma
cadeia flutuante de significados, podendo o leitor escolher alguns e ignorar outros.
A polissemia leva a uma interrogação sobre o sentido (Barthes, 1984, p. 32).
Outra forma de construção polissêmica presente nas revistas são as composições com ilustrações. Na visão de Zappaterra (2007), editores de arte usam a ilustração quando a história demanda uma interpretação conceitual ou indireta, ou então, quando não há boas imagens fotográficas
para serem usadas ou, simplesmente, para criar um inusitado e variado diálogo entre texto e
imagem. A autora ainda diz que a ilustração pode expressar um conceito ou sentimento mais do
que a fotografia pode, porque os leitores frequentemente não podem vincular uma narrativa à
fotografia se ela é figurativa. Já para Owen (1991), a ilustração é mais individualizada e subjetiva,
pois baseia-se na experiência e interpretação pessoal do leitor, sua mensagem é, habitualmente,
fig. 19
indireta e retórica.
Vemos na figura 19, em reportagem sobre
perfil financeiro da revista Claudia, um exemplo
de composição visual polissêmica, onde foi empregada uma ilustração. Esta composição pode
gerar diferentes significados para o leitor, e o
interpretante pode remeter ao jargão do mercado financeiro “investidor agressivo” e associar
à imagema esse tipo de perfil: aquele que mer-
Editorial sobre finanças, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008
gulha de cabeça nos investimentos para ganhar
Design em revista feminina
67
muito dinheiro. Ou então, pode remeter ao personagem do desenho em quadrinhos Tio Patinhas
que, na abertura da versão televisiva do desenho, mergulhava em seu cofre cheio de moedas, semelhante à ilustração publicada em Claudia.
2.2.2.5 Ritmo e sequenciamento
Outro aspecto muito importante a ser levado em consideração no projeto de uma revista é o ritmo
e sequenciamento da publicação. Samara (2005) aponta o termo pacing (que em inglês significa
marcha, passada ou a maneira de andar) para designar o fluxo de uma publicação. Para o autor, o
“andamento” de uma publicação é um tipo de ritmo visual, cadência ou timing que o leitor percebe página a página, quase como um filme. Variando o ritmo de devagar para rápido, de tranquilo
para dinâmico, por exemplo, pode-se concretizar diversos objetivos, pois a cada virada de página,
engaja o leitor de um modo diferente por conta da variação da apresentação visual.
Um dos primeiros a ser preocupar com a cadência visual de uma publicação foi o diretor de arte
Alexey Brodovitch que esteve à frente direção da revista Harper’s Bazaar durante 25 anos. Moser
(2007) aponta que Brodovitch comparava seus leiautes como uma sequência de um filme e utilizava
o termo “fluxo” para descrever a narrativa e qualidades rítmicas
de suas peças de design gráfico. Para Grundberg (1989), nenhum
fig. 20
outro diretor de publicação compreendeu tão profundamente o
vínculo entre diagramação e a experiência temporal. O autor
relata que na revista Harper’s Bazzar, a utilização do filme como
modelo para toda a aparência gráfica da revista se estendia
pelo conteúdo editorial inteiro da revista. Com a colaboração da
editora-chefe Carmel Snow, Brodovitch colocava cada página
em sequência central para garantir o máximo de progressão
visual possível. Enquanto equilibrava suas páginas experimentais com páginas duplas relativamente convencionais, tornava
visualmente irresistível o ato de ler um número da revista. Na
figura 20, podemos ver que Brodovitch colocava todos os leiautes das páginas no chão para assim poder visualizar melhor o
Alexey Brodovitch em 1959, analisando o sequenciamento do livro Observations. Foto de Richard Avedon.
ritmo visual da publicação.
Nos dias atuais para configurar o ritmo e o sequenciamento de uma edição é feito o espelho. Ali
(2009) esclarece que o espelho é a distribuição do conteúdo editorial (reportagens, seções e colunas)
e anúncios ao longo das páginas da revista; “um mapa simplificado que indica o que vai, onde, em
que ordem, relevância e o espaço ocupado (Ali, 2009, p. 108).
68
Design em revista feminina
O espelho também determina o ritmo da edição. Com o configuração do posicionamento
das matérias é possível, por exemplo, contrastar matérias rápidas (baseadas em imagens) com
matérias lentas (baseadas em texto) para tornar a edição dinâmica e interessante. Ali (2009) diz
que o impacto das reportagens é variável, seja pelo seu conteúdo ou visual. Uma poderá ser mais
impactante, outra menos, mas é o espelho que determina este fluxo.
O espelho também determina onde irão os anúncios. Geralmente, os anunciantes preferem
posicionar seus anúncios na página ímpar (à direita), porque o leitor ao folhear as páginas tende a
vê-las primeiro. Em razão disso, muitas páginas de conteúdo editorial, especialmente as seções e
colunas, são posicionadas nas páginas pares (à esquerda). Como alguns anúncios são vendidos em
páginas determinadas ou ao lado de seções ou matérias específicas, o espelho também contribui
para atender as essas exigências comerciais. Embora existam inúmeras maneiras de se configurar um espelho, Ali (2009) propõe três diferentes possibilidades:
fig. 21
Espelho do tipo Miolo nobre. Fonte: A arte de editar revistas (Ali, 2009)
Design em revista feminina
69
• Miolo nobre (fig. 21): nesta opção, pretende-se manter em torno do centro da revista as matérias maiores, que requerem mais atenção do leitor ou têm maior impacto visual. Inicia-se com as
seções e matérias mais curtas e/ou leves e continua num ritmo crescente com matérias cada vez mais
longas e de maior importância. Então, abre-se o “miolo nobre” com uma matéria forte e que represente a personalidade da revista. A partir daí, seguem as mais importantes matérias, sem interrupção de
anúncios. No espelho do tipo miolo nobre, os anúncios são aplicados no início e no fim das matérias
ou espelhados com seções e matérias
menores. Na visão de Ali (2009), a van-
fig. 22
tagem do miolo nobre está na valorização das matérias mais relevantes,
uma diferenciação mais clara entre
editorial e publicidade;
• Zigue-zague (fig. 22): neste
esquema o conteúdo é organizado em
pequenos blocos de seções e matérias
sem interrupção. Os anúncios são posicionados nos intervalos entre um
bloco e outro. Esse modelo preserva
a integridade do conteúdo editorial,
pois não há a interrupção de anúncios
e permite que as páginas de anúncios
sejam aplicadas no meio da revista,
Espelho do tipo Zigue-zague. Fonte: A arte de editar revistas (Ali, 2009).
fig. 23
como preferem os anunciantes;
• Sobe e desce (fig. 23): neste
tipo de espelho todo o conteúdo editorial é distribuído ao longo de toda a
edição com uma ondulação suave, ou
seja, uma reportagem forte é seguida por outra matéria ou seção menos
impactante. Os anúncios são posicionados entre as matérias, ao lado das
seções, na abertura das matérias. Ali
(2009) diz que esse esquema encoraja gentilmente o leitor a continuar
lendo, entretanto, pode confundi-lo.
Espelho do tipo Sobe e desce. Fonte: A arte de editar revistas (Ali, 2009).
70
Design em revista feminina
Design em revista feminina
71
dia
Claudia
72
Design em revista feminina
fig. 24
fig. 25
Capa Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009
Suplemento de culinária Comida & Bebida,
Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009
Design em revista feminina
73
3.1 Claudia nos dias atuais
A fim de compreendermos o design de revistas femininas na contemporaneidade, voltamos nosso
olhar para a revista Claudia (fig. 24 e 25), uma publicação da editora Abril com 48 anos de existência. Nosso estudo se concentra na análise de 21 exemplares (janeiro de 2008 a setembro de 2009).
Inicialmente, nossa proposta era estudar todas as edições dos anos de 2008 e 2009 (24 exemplares) para estabelecermos uma comparação mais precisa de como a revista se comporta de um
ano para o outro e, verificar as edições que trazem pautas relacionadas a datas comemorativas ou
períodos específicos (dia das mães, dia dos namorados, natal, réveillon, férias escolares, páscoa,
etc). Contudo, isso não foi possível, pois Claudia alterou seu projeto gráfico na edição de outubro
de 2009, estabelecendo a partir de então novas configurações visuais para suas seções, colunas
e reportagens. E incluir apenas três edições, implicaria em uma análise distinta e incipiente desse
novo projeto gráfico, haja vista que o projeto não poderia ser estudado em sua totalidade, uma
vez que, apenas três edições com esses novos critérios foram publicados. De qualquer forma, as 21
edições analisadas foram suficientes para compreender como se estabeleceu o design gráfico de
Claudia bem como observar as questões editoriais propostas durante esse período.
A revista foi eleita por quatro motivos relevantes:
- Pelo tempo de existência no mercado (3a revista feminina mais antiga do Brasil);
- Porque é a segunda revista (mensal) de maior circulação do país. De acordo com dados do
IVC, no ano de 2008, Claudia teve tiragem média anual de 498.815 exemplares e venda média
anual de 411.620 exemplares. O site da editora divulga número semelhante: 411.610 e deste número, 74% correspondem a assinaturas;
- Atende um público de faixa etária e classe social heterogênea: 11% de 10 a 19 anos, 20%
de 20 a 24 anos, 24% de 25 a 39 anos, 20% de 40 a 49 anos e 24% os leitores com mais de 50
anos (fig. 26). A classe social também é diversificada: 21% A, 45% B e 30% C (fig. 27);
fig. 26 Faixa etária dos leitores de Claudia
24%
11%
20%
20%
fig. 27 Classe social dos leitores de Claudia
24%
10 a 19 anos
20 a 24 anos
de 25 a 39 anos
10 a 19 anos
de 40 a 49 anos
20 a 24 anos
mais de 50 anos
de 25 a 39 anos
de 40 a 49 anos
mais de 50 anos
30%
21%
45%
Classe A
Classe B
Classe C
Classe A
Classe B
Classe C
Fonte: IVC. Dado extraído do site da ANER - Associação Nacional dos Editores de Revistas (http://www.aner.org.br). Acesso em 26/09/2009.
Informações extraídas do site do IVC (www.ivc.org.br). Dados fornecidos à empresas filiadas do IVC. Acesso em 15/04/2009.
Dados de circulação, fonte: IVC (http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=13). Acesso em 24/09/09). Comparando todas as revistas femininas da editora Abril, Claudia é a revista com público mais heterogêneo. Fonte: XLVI Estudos Marplan Consolidado (http://publicidade.abril.com.br/geral_perfil_leitor.php). Acesso em 26/09/2009.
Dados de perfil do leitor, fonte: Estudos Marplan (http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=13). Acesso em 24/09/09. 74
Design em revista feminina
- é a revista que mantém sua proposta editorial muito semelhante da criada na década de
1960 até os dias atuais.
De acordo com o site da editora Abril, os leitores de Claudia correspondem a 12% de homens
contra 88% de mulheres. O site ainda publica que Claudia possui um total de leitores de 2.041.000,
isto porque considera que cada exemplar seja repassado para 4,95 pessoas. A revista é distribuída para
todo Brasil: 3,15% para a região norte, 12,12% para a região nordeste, 8,23% para a região centrooeste, 56,38% para a região sudeste e 20,12% para a região Sul. Portanto, por estas razões, entendemos que Claudia é a revista que melhor representa o universo de revistas femininas na atualidade.
Durante sua trajetória, Claudia criou revistas segmentadas, os chamados “filhotes”: A Casa
de Claudia (fig. 30) em 1977, hoje nomeada apenas de Casa Claudia (fig. 31), Claudia Moda (fig.
32) que permaneceu de 1982 a 1992, Claudia Cozinha (fig. 33) lançada em 2000 e Claudia Bebê
(fig. 35) em 2003, inicialmente, Claudia Nossos Filhos (fig. 34). De todas essas publicações, apefig. 28
fig. 29
nas Casa Claudia se firmou no mercado como
uma publicação independente. Claudia Cozinha deixou de existir em 2006 quando o
suplemento de culinária foi incorporado novamente à revista. Claudia Bebê é publicado
anualmente em caráter de edição especial, assim como Claudia Natal (fig. 28) . Ao longo de
sua história, Claudia usou – e ainda usa – sua
Claudia Natal, 2008
O Grande Livro
de Receitas de Claudia
fig. 30
A Casa de Claudia, capa extraída da edição de
dezembro de 1979 (ano 8, no 12)
marca na publicação de livros de culinária. O
fig. 31
Casa Claudia, maio de 2008
Fonte: Projeção Brasil de Leitores com base nos Estudos Marplan (http://publicidade.abril.com.br/homes.php?MARCA=13). Acesso em 24/09/09). Design em revista feminina
Grande Livro de Receitas de Claudia (fig. 29), em sua
fig. 32
75
fig. 33
segunda edição, encontra-se nas livrarias.
Acreditamos que Claudia Moda tenha fechado porque o segmento de revistas femininas de moda cresceu
vertiginosamente, conseguentemente, a concorrência
tornou-se acirrada. A editora Abril, por exemplo, lança
novos títulos e aposta em marcas internacionalmente
conhecidas como Elle, Estilo (In Style). Já o suplemento
Claudia Moda, no 48, 1990
Claudia Cozinha, março de 2006
de culinária, deduzimos que ele passou a ser novamente
incorporado à revista, porque esta editoria ficou muito
fig. 34
“pobre” com apenas uma matéria sobre o tema.
A revista Casa Claudia por pertencer à um universo distinto – o mercado de decoração –, acreditamos
que sua longa permanência deve-se ao grande potencial mercadológico do setor (várias empresas possíveis
anunciantes) e também pelo pioneirismo da publicação
na abordagem do tema. Já as edições especiais Claudia
F igura 4: A Casa de Claudia,
fonte: ano 1 ed. 00
Bebê e Claudia Natal, possivelmente, permanecem até
hoje, pois existe a demanda por assuntos e interesses
específicos relacionados à proposta editorial de Claudia. O mesmo ocorre com os livros de culinária.
Em um mercado editorial tão competitivo, onde
Claudia Nossos Filhos, imagem
extraída da edição de agosto
de 1979 (ano 18, no 8)
fig. 35
revistas abrem e fecham a todo momento, é difícil encontrar publicações que consigam se manter por tanto
tempo como acontece com Claudia. As revistas Capricho de 1952 e Manequim de 1959 são dois exemplos
de publicações femininas que estão nas bancas até hoje.
Capricho que trazia inicialmente fotonovelas, foi um sucesso de vendas nos anos de 1950: “chegou a vender 500
mil exemplares por quinzena” (Scalzo, 2004, p. 24). Manequim que antes tinha foco nos moldes de roupa, hoje,
posiciona-se como uma revista de moda. Outro exemplo
de longevidade é a revista Harper’s Bazaar, publicada
ininterruptamente desde 1867, é a revista de moda mais
antiga dos Estados Unidos com 143 anos.
Claudia Bebê, edição 505F, 2004
76
Design em revista feminina
fig. 36
Sumário, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008
Design em revista feminina
77
3.2 A fórmula editorial de Claudia
O projeto editorial de Claudia apresentado nas 21 edições analisadas, dos anos de 2008 e 2009,
não diferiu substancialmente do implantado no início da publicação em 1961, apenas os contos
deixaram de ser publicados, entretanto passou a publicar matérias da vida real, contando histórias
de pessoas. O conteúdo oferecido permaneceu semelhante, contudo com as transformações culturais e comportamentais da mulher e da sociedade, e hoje, alguns assuntos recebem mais ênfase
do que outros. A inclusão da mulher no mercado de trabalho e o conceito pregado de independência feminina foram alguns dos fatores que contribuiram para mudanças de alguns valores da
mulher e, consequentemente, são temas presentes na revista.
No período analisado, Claudia trouxe reportagens e/ou seções de moda, beleza, saúde, comportamento, sexo, relacionamento amoroso, família, decoração, horóscopo, astrologia, espiritualidade, atualidades, gente, educação e, sazonalmente, matérias de turismo. A quantidade de reportagens foi em
média 16 por edição e as seções, cerca de 23. Ocasionalmente, uma ou outra seção não foi publicada.
Com base na segunda página do sumário (fig. 36) pudemos perceber que Claudia estruturou seu
conteúdo em cinco principais editoriais: Atualidades e gente, Moda, Casa e consumo, Família e filhos,
Beleza e saúde. Dentro de cada uma dessas editorias, ficaram as seções e reportagens pertinentes a
estes temas. Ocasionalmente, as editorias Amor e sexo ou Emoção e espiritualidade foram inseridas
para abrigar as matérias de relacionamento, comportamento, astrologia e espiritualidade. Na falta
dessas editorias, essas matérias apareceram apenas na primeira página do sumário (caso tenha entrado com chamada de capa). Na primeira página do sumário, concentraram-se apenas as matérias
que apareceram nas chamadas de capa. O item Sempre em Claudia, presente no sumário, serviu para
abrigar as seções mais gerais (endereços, carta da editora, carta dos leitores, etc) e também aquelas
que não se encaixaram nas outras editorias como a de livros, animais domésticos, turismo, etc. As
matérias de turismo, que surgiram apenas próximo ao período de férias, ficam sem um lugar específico no sumário e acabaram sendo inseridas em Atualidades e gente. Mensalmente, anexado junto
à revista veio o suplemento Claudia Comida & Bebida, que retornou à publicação em outubro de
2006. Sob coordenação da culinarista Bettina Orrico, além deste suplemento, Claudia possui desde
2003, uma cozinha experimental em um shopping na zona sul de São Paulo, onde disponibiliza aulas
gratuitas de culinária. Antes da volta do suplemento, havia apenas uma única matéria no final da
revista com quatro pratos e suas respectivas receitas.
Buitoni diz que “Claudia é uma revista que procura adequar-se às exigências do mercado. Houve
época de publicar reportagens mais polêmicas, temas mais intelectualizantes, mas seu grande filão,
além de moda, é o mundo doméstico” (Buitoni, 1990, p. 50). No entanto, hoje, podemos observar que
esta afirmação nos parece contraditória se compararmos com o conteúdo editorial atual. É possível
que Claudia procure ajustar-se às exigências do mercado – entretanto, afirmar que seu grande filão
78
Design em revista feminina
é o mundo doméstico, talvez não se aplique mais. Atualmente, a editoria de beleza recebe mais ênfase do que as outras, porque possui maior quantidade de reportagens, seções e destaque dentre as
chamadas de capa, como veremos adiante. Moda também recebe atenção, mas apesar de ser uma
editoria com diversas seções, na maioria das vezes, apenas um único editorial é publicado.
Nas edições analisadas, as editoriais relacionadas à casa, há apenas uma matéria de decoração e o suplemento de culinária Claudia Comida & Bebida. Se considerarmos a educação dos filhos
como um dos temas domésticos, são apenas três as seções e uma eventual reportagem sobre o
assunto. Como mencionamos anteriormente, hoje o público de Claudia atinge todas as faixas etárias e nem todas se interessam por temas ligados ao lar, principalmente as leitoras da revista entre
10 e 24 anos, que correspondem a 31%. Moda e beleza são temas que tendem a agradar todas as
idades e, hoje, são as duas principais editorias. É válido acrescentar que Claudia é a única revista
feminina de interesse geral (não-segmentada) que aborda o tema casa e família.
Claudia por sua variedade de assuntos tende sistematicamente ao ecleticismo. O filósofo, antropólogo e sociólogo Morin (1997, p. 35) diz que esta estratégia “visa satisfazer todos os interesses
e gostos de modo a obter o máximo de consumo”, isto é, uma boa vendagem de exemplares. Esta
variedade sistematizada é denominada pelo autor de homogeneização e tem como objetivo tornar assimiláveis a um homem médio ideal (no caso de Claudia, uma mulher) os mais diferentes conteúdos.
Sincretismo é a palavra mais apta para traduzir a tendência de homogeneizar sob
um denominador comum a diversidade de conteúdos. A grande imprensa e a revista ilustrada tendem ao sincretismo se esforçando por satisfazer toda a gama de
interesses, mas por meio de uma retórica permanente (Morin, 1997, p. 36).
Como vimos no item 3.1, Claudia atinge diversas faixas etárias e classes sociais e nos indica que
regula seu conteúdo pela média, trazendo assuntos que possam agradar a maioria dos gostos e interesses. As recorrentes reportagens destinadas a todas as faixas etárias, presentes em 4 das 21 edições
analisadas – como pudemos ver nas chamadas de capa (fig. 37 a 40) – denotaram a tentativa de homogeneização do conteúdo, a fim de atingir leitoras de todas as faixas etárias. As matérias deste tipo
fig. 37
Capa Claudia, ano 47, no 8,
agosto de 2008.
fig. 38
Capa Claudia, ano 47, no 10,
outubro de 2008.
fig. 39
Capa Claudia, ano 48, no 3,
março de 2009.
fig. 40
Capa Claudia, ano 48, no 8,
agosto de 2009.
Design em revista feminina
79
alternam entre as duas principais editorias: moda e beleza, como mostram as chamadas de capa:
- Moda aos 20, 30,40, 50... (outubro/2008);
- A seleção de Claudia nas passarelas da moda para mulheres de 20, 30, 40, 50, 60... (agosto/2009);
- Guia de nutrição para os 20, 30, 40, 50+... (março/2009);
- Mais energia aos 20, 30, 40, 50 (agosto/2008);
- Cabelo, maquiagem e moda aos 20, 30, 40, 50, 60+ (outubro de 2009).
Esta estratégia de colocar as diferentes idades na capa foi introduzida pela revista americana
Glamour (fig. 41 a 43) e tem sido frequentemente adotada por diversas revistas aqui no Brasil. A
homogeneização do mercado editorial é explicado por Morin:
A indústria cultural se desenvolve no plano do mercado mundial. Daí a formidável
tendência ao sincretismo-ecletismo e à homogeneização, seu fluxo imaginário,
lúdico, estético, atenta contra as barreiras locais, étnicas, sociais, nacionais, de
idade, sexo, educação; ela separa dos folclores e das tradições temas que ela universaliza, ela inventa temas imediatamente universais (Morin, 1997, p. 44).
fig. 41
Glamour, setembro de 2006.
fig. 42
Glamour, setembro de 2007.
fig. 43
Glamour, outubro de 2008.
A revista Glamour não só coloca a chamada das faixas etárias, como estampa a capa com
três mulheres de idades diferentes. Glamour não faz este tipo de capa com tanta frequência como
Claudia. Acreditamos que pela constante repetição desta fórmula, a mesma tenha trazido para
Claudia bons resultados de vendas em bancas.
Outro aspecto relevante sobre revistas feminas é apontado por Buitoni (1990). A autora diz que
muitos afirmam que imprensa feminina não é jornalismo pois, fundamentalmente, jornalismo é o fato
e este tipo de publicação quase nunca está atrás do fato, entretanto, por causa da sua enorme penetração no mundo todo, vale mais analisar suas funções do que caracterizá-la como jornalística ou não.
No sentido do registro do fato, a atualidade não está muito presente na imprensa
feminina devido a seus conteúdos tradicionais: moda, beleza, culinária, decoração
aceitam a ligação com o atual mas não são por ele determinadas. A moda tem
80
Design em revista feminina
obrigação de ser atual, só em função das tendências de mercado, e sua atualidade
é pré-fabricada. A pedra de toque da imprensa feminina é a novidade. A fim de
parecer atual, usa-se o novo. O atual pressupõe uma relação de presença efetiva
no mundo histórico. O atual pode ser descoberto ou estimulado, mas não pode ser
criado. O atual precisa ter uma relação concreta com os acontecimentos, mesmo
que apenas latente. Bem trabalhada, a novidade é capaz de revestir qualquer objeto. A ancoragem temporal desloca-se para uma relação mental: a revista (ou a
indústria, a publicidade) inventa um modismo que logo é apresentado como o que
existe de mais ‘atual’. ‘Atual’ aqui é apenas sinônimo de novo, mediador de novidade e não de momento situado no tempo (Buitoni, 1990, p. 11-14).
Pudemos notar, confirmando o pensamento de Buitoni (1990), a presença de matérias com o
cunho de “novo” em Claudia, principalmente nas chamadas de capa, onde a palavra “novidade” serve como chamariz para atrair leitores. Na edição de agosto de 2009, a segunda chamada de maior
destaque foi: Supernovidades de beleza. Açúcar contra celulite, beliscões que esticam a pele, extrato
orgânico para estrias... Tratamentos inovadores para o corpo e rosto. Em outra chamada e com título
semelhante, aparece em março de 2009, Novidades em beleza!, seguido dos tópicos considerados
“novos”. A presença da palavra “novo”, “novidade” ou com este sentido, predominam em diversas
edições: Missão anti-idade. A redação testa os últimos lançamentos (junho/ 2009); Ovo emagrece, carne faz bem e chocolate pode ser devorado sem culpa... ótimas notícias sobre velhos vilões
(abril/2008); As novas tendências em cabelo e maquiagem (maio/2008); 7 ideias absolutamente
novas sobre o amor (junho/2008); As novas superfrutas (setembro/2008); Cabelo lindo. Novidades
dos salões (outubro/2008); É o fim da celulite? Tudo o que você precisa saber sobre as máquinas que
prometem derreter a casca de laranja (novembro/2008). Observamos também expressões como: Na
última moda, As tendências dos desfiles e Peças da estação, nas chamadas dos editoriais de moda,
também com a conotação de novo. Na compreensão de Morin (1997, p. 141-142), “uma perpétua
busca do novo – novos cosméticos, novos penteados, novos toilettes – correspondem a uma dupla
necessidade: a de reestimulação sedutora, a da afirmação individual (ser diferente dos outros).
Outro aspecto que tange ao projeto editorial de uma publicação é a maneira como a revista
aborda e trata seus temas. Com excessão de algumas reportagens de atualidades, pudemos observar que em muitas reportagens e seções o caráter foi de aconselhamento. A seção O que eu
faço agora?, por exemplo, remonta a um gênero antigo chamado por Buitoni (2009) de correio
sentimental. Desde o primeiro periódico feminino, o Lady’s Mercury, o consultório sentimental
esteve presente. Nesta seção, consultores de diversas áreas dão conselhos às leitoras sobre seus
problemas. Durante toda a sua trajetória, Claudia trouxe e ainda traz este tipo de conteúdo.
Mas o aconselhamento não é apenas visto nesta seção, reportagens de comportamento, relacionamento, beleza, saúde, dieta e moda, constantemente indicaram maneiras de fazer, agir e
usar. Buitoni (1990) afirma que “ainda que se negue, a imprensa feminina usa e abusa do aconselhamento e da receita. Das grandes receitas às pequenas, tudo traz ingredientes e modo de
Design em revista feminina
81
fazer. Como se vestir, como preparar sopa de cebolas, como agarrar seu homem, como conseguir
emprego, como ser boa mãe, tudo é receita” (Buitoni, 1990, p. 76).
Por sua vez, Morin reflete sobre a dinâmica de aconselhamento na cultura de massas:
a cultura de massa tende a constituir idealmente um gigantesco clube de amigos,
uma grande família não-hierarquizada. Nessa oceânica e multiforme simpatia, o
novo curso persegue seu ímpeto, além do imaginário, além da informação, propondo conselhos do saber-viver. Através dos conselhos de amor e da vida privada
(correio amoroso), os conselhos de higiene (onde se misturam a preocupação estética e a preocupação de saúde, a vitamina e a juventude do corpo, as defesas
contra o câncer e as defesas contra a velhice), se destaca sobretudo um tipo ideal
de homem e de mulher, sempre são jovens, belos e sedutores. [...] Outros conselhos
hedonistas e práticos se seguem: conselhos de mobiliários e de decoração, conselhos de vestuário e de moda, conselhos de cozinha, conselhos de leitura (baseados
não na crítica literária, mas nos sucessos do best-seller e da publicidade), conselhos astrológicos, conselhos para cada um e para todos... (Morin, 1997, p. 103).
Em análise das 21 edições de Claudia, notamos que o caráter de aconselhamento das matérias foi
latente. E percebemos isso logo no primeiro texto da revista, a carta da diretora de redação Márcia Neder. O tratamento dado à leitora foi de proximidade, permitindo que ela mande um beijo no final do artigo. Com a diretora de redação anterior, Célia Pardi, o grau de intimidade era ainda mais acentuado.
O posicionamento da publicação como um “guia de como resolver todas as coisa da vida” foi
percebido mais claramente através das chamadas de capa:
- 57 maneiras de dizer não em momentos difíceis [e um sim que merece ser dito] (novembro/2008);
- Auto-estima intacta no vendaval da crise? Sim é possível. Veja como (abril/2009);
- 52 gestos gentis para fazer a qualquer hora, com qualquer pessoa (janeiro/2009);
- O guia das mulheres para investir na Bolsa [parta do zero, defenda-se sem medo das oscilações e garanta o futuro] (agosto/2008), dentre tantas outras.
Outro aspecto da proposta editorial de Claudia – que será detalhado mais adiante – são as capas. Desde 2003, a revista traz mulheres famosas na imagem da capa, geralmente, figuras femininas
conhecidas pelo público em geral pela profissão que exercem: modelos, atrizes, cantoras ou apresentadoras de TV. A associação da imagem da revista à de mulheres bem-sucedidas visa criar no imaginário coletivo, um paradigma de beleza, de atitude e de comportamento social a ser reproduzido. As
mulheres que ilustraram as capa de Claudia apareceram “endeuzadas”, e a partir de fatos pessoais e
subjetivos apresentados, pretende-se extrair uma “lição de vida” que pode ser generalizada e permitir a identificação das leitoras da publicação, além de instigar aspirações e necessidades.
Portanto, vimos que o projeto editorial de Claudia, composto por uma grande diversidade de assuntos, foram abordados de forma “genérica” e homogeneizada a fim de atingir o maior número possível
de leitoras. E, o tratamento jornalístico dado ao texto, em forma de aconselhamento, inseriu novidades
“fabricadas” que servem de chamariz para atrair o consumidor, assim como a figura feminina presente
na capa. Veremos a seguir mais detalhadamente o projeto editorial das reportagens, seções e capas.
82
Design em revista feminina
fig. 44
Capa Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968.
Design em revista feminina
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3.3 A história da revista Claudia
A primeira grande publicação para mulheres brasileira foi a Revista Feminina e pode ser considerada como a precursora das revistas dedicadas à mulher. A revista que circulou por 22 anos (19141936) era propriedade da Empresa Feminina Brasileira que fabricava e comercializava produtos
para mulheres. Buitoni (1990) conta que a Revista Feminina foi o maior exemplo da vinculação
entre imprensa e publicidade devido a uma estrutura comercial eficaz que foi montada na época.
“Era a primeira vez que uma indústria específica de produtos femininos influía tão decisivamente
num veículo destinado às mulheres” (Buitoni, 1990, p. 44) .
As opções de leituras femininas que circulavam na época eram A Cigarra, A Senhorita, A Vida
Galante e a Revista Ilustrada. A revista O Cruzeiro, que apareceu em 1928, trazia notícias sobre a
vida dos astros de Hollywood, cinema, esportes, saúde, política, culinária e moda, poderia ser também uma opção para a mulher. Até 1940 não aconteceram mudanças significativas na imprensa
feminina, entretanto, nos anos de 1950, explode o fenômeno de fotonovelas no Brasil. Nesse
período, a vinculação consumo/imprensa feminina progressivamente se intensifica em razão do
crescimento das indústrias relacionadas à mulher e à casa, ao fortalecimento do mercado interno
e ao crescimento da classe média (Buitoni, 1990).
Nos anos de 1960, período de rupturas – políticas, sociais, artísticas, comportamentais – e
quando a mulher estava inserida na sociedade de consumo, as revistas femininas traziam cada vez
mais páginas de publicidade, a fim de atestar o potencial comprador de seu público (Buitoni, 2009).
O designer Melo (2006, p. 104) relata que nos anos de 1960 ocorre uma explosão de novas revistas,
dando início ao irreversível processo de segmentação de mercado. “A mulher e o comportamento são
temas inadiáveis e passam a ser tratados por Claudia, Desfile, Ele Ela e Pais & Filhos”.
Nesse cenário de crescimento, em 1961, surge Claudia que veio para “estimular e ser estimulada
por todo o consumo emergente” (Buitoni, 1990, p. 49). Claudia era o nome que Victor e Sylvana Civita – fundadores da editora Abril – queriam dar a uma filha e aparece em meio a diversas publicações
femininas com nomes genéricos. Na visão de Buitoni (1990), Claudia representa o espírito da década
de 1960 em relação à mulher. “O alvo principal de uma revista que tem por trás o consumo emergente nas cidades só podia ser a mulher de classe média urbana (geralmente casada), que tem poder
aquisitivo para comprar os bens anunciados em suas páginas” (Buitoni, 2009, p. 105). A proposta
editorial de Claudia tinha como foco a mulher no território da sua casa. O vice-presidente da Editora
Abril, Thomaz Souto Corrêa que foi ex-redator-chefe de Claudia e, mais tarde, diretor de redação,
conta no site da editora Abril que a leitora-padrão que eles tinham em mente naquela época era a
“dona Mariazinha de Botucatu, uma senhora interessada em casa, marido e filhos” .
Trecho extraído do site: http://www.abril.com.br/institucional/50anos/femininas.html. Acesso em 01/08/2008.
84
Design em revista feminina
O projeto editorial inicial de Claudia trazia cartas de aconselhamento, horóscopo, moda, beleza, decoração, culinária, boas maneiras, contos, crônicas, cuidados com animais domésticos,
sugestões de livros, educação dos filhos e, eventualmente, encartes de moldes de roupas e alguma reportagem mais informativa. O primeiro diretor de redação de Claudia foi o jornalista Luis
Carta, contratado em 1959 para cuidar da qualidade editorial das publicações da Abril. Luis ficou
à frente da publicação por alguns anos e deixou a editora Abril em 1972 para fundar a editora
Três com Domingo Alzugary e Fabrizio Fasano. O texto da Carta do Diretor na primeira edição de
Claudia apresenta a proposta editorial da publicação: “auxiliar” suas leitoras em diversas áreas,
principalmente em tarefas relacionadas ao lar:
Seja bem-vinda, você tem em suas mãos o primeiro número de uma revista que
pretende desempenhar um papel muito importante na sua vida futura! CLAUDIA
foi criada para servi-la. Foi criada para ajudá-la a enfrentar realisticamente os
problemas de todos os dias. CLAUDIA lhe apresentará mensalmente idéias para
a decoração de seu lar, receitas para deliciar sua família, sugestões para mantê-la sempre elegante e atraente. Mas o importante é a forma como isto será
feito. Antes de mais nada, CLAUDIA deverá ser útil para você. Deverá tornar-se
sua amiga íntima. E estará sempre às suas ordens para lhe proporcionar tôdas
as informações e novidades que você espera há tanto tempo, numa só revista,
simpática, completa e moderna. Seja bem-vinda, pois, às páginas de CLAUDIA.
Temos certeza de que ela será sua companheira fiel nos anos viradouros (Revista Claudia. Ano 1, número 1, outubro de 1961).
A expressão “amiga íntima” representa uma relação de confiabilidade e cumplicidade que se
pretende estabelecer com a leitora. O “estar sempre às suas ordens” também remete à amizade,
pois a publicação promete estar ao lado da mulher em diversas situações do dia a dia. Nas primeiras Cartas do Editor da publicação, assinados por homens diretores de redação, os textos não
traziam expressões que tratavam a leitora com intimidade. Isso só foi aparecer em 1979 quando
Maria Cristina Gama Duarte assume o cargo de diretora de redação e começa a usar expressões
como “Minha amiga” em referência às
fig. 45
leitoras. A diretora de redação seguinte,
Célia Pardi, que esteve à frente da redação de 1988 a 2002, estreita a relação de
intimidade com as leitoras, chegando a
um grau jamais visto. Foi também a primeira diretora de redação a publicar sua
foto ao lado do texto.
Em 1963, surge a Cozinha Experimental de Claudia (fig. 45) que contribuiu para
estabelecer relações de credibilidade e uti-
Cozinha Experimental de Claudia, Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963.
lidade à suas leitoras ao testar as receitas
Design em revista feminina
publicadas (Buitoni, 1990). Mas a Cozinha Experimental de Claudia não
85
fig. 46
serviu apenas para dar crédito a determinadas receitas, pois na edição
de janeiro de 1978, Claudia publica um anúncio contando que passara
a aplicar o selo de Qualidade Comprovada Claudia (fig. 46) na embalagens de produtos alimentícios. Certamente esta estratégia traria resultados junto às empresas anunciantes ou possíveis anunciantes.
Claudia, em um primeiro momento, trazia reportagens e seções
sobre como salvar o casamento ou como educar os filhos, entretanto,
este padrão começou a mudar em 1963 com a estreia da coluna A
Arte de ser mulher, da jornalista e escritora Carmen da Silva.
Scalzo conta que foi Carmen quem de fato começou a mudar o
jornalismo feminino. Sua coluna perdurou por 22 anos e “quebrou ta-
Selo Qualidade Comprovada Claudia,
ano 3, no 21, junho de 1963.
bus e aproximou-se de forma inédita das mulheres, tratando de temas
até então intocáveis, como a solidão, o machismo, o trabalho feminino, a alienação das mulheres,
seus problemas sexuais” (Scalzo, 2004, p. 34). Na visão de Buitoni (2009), Carmen foi a “pensadora”
que mais teve influência em revistas de comunicação de massa. A jornalista insistia na ideia de que
a mulher deveria protagonizar sua própria vida. Um trecho escrito por Carmen da Silva e retirado de
um encarte especial em comemoração dos 40 anos de Claudia exemplifica essa busca por um comportamento mais ativo da mulher:
É só tomando nas mãos as rédeas do destino, construindo-o e construindo-se, que
se alcança um razoável domínio sobre a insegurança e se conquista a sensação de
plenitude, da vida vivida numa dimensão total. É querendo, fazendo, sendo – com
toda a angústia, com todos os riscos que isso implica – que perdemos a condição
de joguetes do acaso e assumimos o caráter de protagonistas desta aventura apaixonante e singular que é a própria existência (Claudia, ano 40, no 481).
A linguista Ferreira (2006) afirma que além da jornalista Carmen da Silva, fizeram parte do
time de colaboradores de Claudia algumas personalidades notáveis como: os cronistas Rubem
Braga, Paulo Mendes Campos e Fernando Sabino; o poeta Vinícius de Moraes; os escritores Lygia
Fagundes Telles, Julieta Godoy Ladeira, Marina Colasanti e Ignácio Loyola Brandão; o astrólogo
Omar Cardoso; os jornalistas Wladimir Herzog e Arthur da Tavola; a pedagoga e escritora Ruth
Rocha; os humoristas e cartunistas Ziraldo Alves Pinto, Luiz Fernando Veríssimo e Miguel Paiva.
Além destes, encontramos na edição de junho de 1963, uma página de anúncio divulgando os novos “colaboradores” de Claudia: Agatha Christie, F. Scott Fitzgerald, Pearl S. Buck, Françoise Sagan
e Arthur Miller, escritores de grande sucesso na época.
O projeto editorial inicial de Claudia – recheado de bons colaboradores – e que visava a mulher consumidora e todo o universo circundante de seu lar, na verdade, tinha por trás metas em-
86
Design em revista feminina
fig. 47
presariais bem delineadas. A publicação – assim como muitas
outras – objetivava não só vendas em bancas, mas também
garantir significantes verbas que viriam da publicidade. Ou
seja, o conteúdo “lar” serviu de excelente pretexto para a
criação da publicação em uma época em que enceradeiras,
liquidificadores, máquinas de costura e os novos modelos de
refrigeradores – entre tantos outros gadgets – eram desejo de
consumo na época. A forte presença publicitária no começo
de sua existência serviu de base e alicerce financeiro para
alavancar a publicação e também porque não dizer, se manter
até hoje. Na compreensão de Buitoni (2009) tudo que está
dentro de uma publicação está diretamente ligado ao consumo ou serve de chamariz para que a revista seja comprada e
com isso divulgue os anúncios nela contidos.
Anúncio publicado em Claudia,
ano 7, no 80, maio de 1968.
Na edição de junho de 1963 (ano 3, no 21), constatamos
uma grande quantidade de anúncios: em um total de 132 pá-
ginas, 32 itens – entre seções e reportagens – foram apresentados em meio a 105 empresas anunciantes. Nessa época a revista mais parecia um catálogo de produtos, não só pela quantidade
exacerbada de anúncios mas também por muitos
artigos que apareciam espremidos, com textos em
colunas estreitas, ao lado de anúncios que ocu-
fig. 48
pavam quase toda a página. Buitoni (1990, p. 11)
diz que com o desenvolvimento da publicidade, “as
revistas femininas só serviriam de pretexto para o
catálogo de anúncios ficar mais interessante”.
A influência publicitária era tão marcante
que alguns anúncios apareciam disfarçados de
reportagens com dicas de uma “suposta” consultora ou visualmente idênticas a um editorial de
moda. Encontramos também outro anúncio que
exemplifica a estreita relação entre publicidade e
editorial: na edição de maio de 1968, uma página
de anúncio trouxe o seguinte título: “Claudia em
janeiro cometeu uma pequena injustiça: fêz uma
reportagem sobre geladeira e se esqueceu de falar
Anúncio publicado em Claudia,
ano 6, no 69, junho de 1967.
Design em revista feminina
87
da nova Kelvinator” (fig. 47). Em outro anúncio de moda infantil, um texto com visual semelhante
à de um bilhete escrito à mão era endereçado à “querida amiga” e no final, este texto era assinado
por “Claudia”, para parecer que a revista estivesse avalizando o produto (fig. 48).
Como vimos, além da intensa publicidade presente em Claudia, também no início de sua história,
a revista fazia promoções para aumentar as vendas em bancas e também reportagens que incitavam
à compra ou ao consumo de produtos. Algumas das reportagens mencionavam que para adquirir
moldes ou projetos era necessário o envio de uma quantia em dinheiro. Na edição de junho de 1963,
Claudia publicou a matéria Um móvel transformista, uma espécie de armário com múltiplas funções
e criada pelo Departamento de Desenhos de Móveis de Claudia, como mencionou a reportagem. Para
adquirir o projeto da peça era preciso enviar via correio o valor de Cr$ 300 à editora.
Em junho de 1967, a revista
fig. 49
publicou a promoção: “Claudia a
procura de 6 jovens estrêlas para
o filme de Roberto Carlos” (fig.
49). O concurso que contou com
o apoio da TV-Record, TV-Rio e a
rádio Jovem Pan recebeu destaque
dentre as chamadas de capa. O
jornalista e escritor Marcelo Fróes
(2000) no livro Jovem Guarda em
Ritmo de Aventura relata que Roberto acompanhou pessoalmente
o teste final das candidatas que
durou sete horas seguidas e esteve
Promoção publicada em Claudia, ano 8, no 95, agosto de 1969.
sobre um forte esquema de segurança. A repercussão da promoção foi tanta que no final dos testes o
cantor teve de enfrentar um batalhão de repórteres e fotógrafos ansiosos pelo resultado.
Em outra ação promocional, Claudia publicou em março de 1969 a promoção Ganhe uma
Cirurgia Plástica e em agosto do mesmo ano, publica uma nota contando sobre o cancelamento
desta promoção por determinação do Conselho Regional de Medicina (CRM). O texto que além de
enxovalhar o órgão médico, relata as milhares de cartas que receberam deste concurso. Claudia
se justifica dizendo que só criou esta promoção porque todos os meses recebia dezenas de cartas
de leitoras pedindo uma cirurgia plástica e que estava apenas cumprindo (e continuaria) com
sua “missão” de contribuir com a leitora. Obviamente, tanto esta quanto a promoção de Roberto
Carlos visavam ao aumento das vendas de exemplares, pois era necessário comprar a revista para
participar da promoção.
88
Design em revista feminina
fig. 50
Capa Claudia, ano 1, no 1, outubro de 1961.
Design em revista feminina
89
3.4 O design de Claudia no passado
No início de sua história, Claudia tinha um expediente bem enxuto, até porque a editora Abril
também estava dando seus primeiros passos. No expediente da edição de junho de 1963, encontramos apenas quatro pessoas responsáveis pelo design gráfico da revista: diretor de arte,
assistente de arte, chefe de ilustração e chefe do departamento fotográfico. Apenas a título de
comparação, atualmente, na edição de setembro de 2009 são sete os envolvidos: diretora de arte,
editora de arte, quatro designers e uma estagiária. Isto sem contar outros cargos relacionados
como editora visual sênior e editora visual. O termo designers só veio aparecer no expediente da
revista em 2003, antes usava-se diagramadores.
O primeiro diretor de arte de Claudia foi Attílio Baschera que também fez o projeto da
revista Quatro Rodas em 1960. Attílio, de nacionalidade italiana graduou-se em Artes Plásticas
na Escola Superior de Belas Artes Porta Pinciana, em Roma, e atualmente é proprietário de uma
loja de decoração, a AGain, que comercializa produtos de sua criação e de seu sócio Gregorio
Kramer, também designer 10.
No início, as capas de Claudia eram ilustrações de rostos de mulher desenhados (fig. 50 a 53) e
iguais às da Claudia editada pela Abril argentina, publicação que tinha assuntos e diagramação semelhantes. Em setembro de 1963, as capas de Claudia deixam de ser com desenhos e passam a ser com
fotos de duas modelos e depois, quase sempre, a foto é de uma mulher somente (Buitoni, 1990).
Buitoni (1990) acrescenta que Claudia inaugurou um novo estilo de produzir reportagens de
moda, beleza, culinária e decoração. “Toda uma infraestrutura de produtoras de moda, fotógrafos
e manequins foi se formando ao longo dos anos” (Buitoni, 1990, p. 58-59).
fig. 51
Capa Claudia, ano 1, no 2,
novembro de 1961.
fig. 52
Capa Claudia, ano 2, no 3,
março de 1962.
10 Fonte: http://veja.abril.com.br/vejasp/210606/perfil.html. Acesso em 07/09/2009.
fig. 53
Capa Claudia, ano 3, no 6,
junho de 1963.
90
Design em revista feminina
Scalzo (2004) complementa que no início de vida de Claudia as fotos eram todas importadas,
e logo a equipe percebeu a necessidade de se fotografar o estilo, a comida, a casa e, principalmente, a mulher brasileira. De acordo com o site da editora, “as revistas femininas da Abril inauguraram muitas técnicas hoje consideradas indispensáveis à qualidade jornalística. Boa parte delas nos
anos de 1960, em Claudia. Surgiu ali, por exemplo, a produção de reportagens de moda que substituíram a então inescapável foto estrangeira”. A então produtora Olga Krell – que era arquiteta,
mas atuava como jornalista – foi estagiar nas revistas americanas Good House Keeping, McCalls
e Better Homes & Gardens a pedido de Victor Civita, presidente da Abril, pois ele acreditava que a
melhor maneira para aprender é ver alguém que sabe fazer. Posteriormente, Olga dirigiu o Estúdio
Abril, onde criou-se técnicas de fotografar
fig. 54
culinária, decoração e beleza, entre outras
especialidades. Ela conta que no início pegava revistas estrangeiras, olhava as angulações, a iluminação e as tendências,
além disso, visitava feiras internacionais
de móveis e de artesanato em busca do
que iria funcionar no Brasil11 .
Em um cenário favorável de produção fotográfica, muitas das reportagens de
moda eram fotografadas no exterior com
Editorial de moda em Claudia, ano 8, no 95, agosto de 1969.
modelos brasileiras. Em maio de 1968, as
fotos para muitas reportagens foram feitas
fig. 55
em Moscou, não apenas as imagens para o
editorial de moda (fig. 55). Nessa edição, o
fotojornalismo esteve presente, contando
como era a vida e a mulher da antiga União
Soviética. Na edição de agosto de 1969, a
matéria de moda foi fotografada no deserto
do Saara em Marrocos (fig. 54).
O fotógrafo Otto Stupakoff, um dos
grandes nomes da fotografia de moda no
Brasil, também colaborou com Claudia,
inclusive na coluna de Carmen da Silva A
Editorial de moda em Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968.
11
Arte de ser mulher (Buitoni, 2009). O críti-
Trecho extraído do site: http://www.abril.com.br/institucional/50anos/femininas.html
Design em revista feminina
91
co de fotografia Fernandes (2006) conta que o fotógrafo retirou-se da cena cultural entre os anos
de 1965 e 1976 e foi morar em Nova York e Paris, período em que se transformou no primeiro fotógrafo brasileiro a ser reconhecido pela qualidade e criatividade do seu trabalho no exterior”. Otto
trabalhou para Harper’s Bazaar, Vogue (francesa, inglesa, italiana, alemã), Elle, Marie Clarie, entre
muitos outros títulos e torno-se um dos mais requisitados fotógrafos de moda do mundo.
Assim como acontece hoje, as imagens
fotográficas ilustravam grande parte das re-
fig. 56
fig. 57
portagens, com exceção dos contos e horóscopos que traziam ilustrações manuais.
Claudia, inicialmente, era publicada em
formato grande: 260 x 310 mm (fig. 56) e,
em 1979, reduziu para 230 x 280 mm (fig.
57). Em 1982 o formato foi diminuído novamente, permanecendo com esta medida até
hoje: 202 x 266 mm.
Desde seu surgimento até o final dos anos
Capa Claudia, ano 17, no 196,
janeiro de 1978.
Capa Claudia, ano 18, no 219,
dezembro de 1979.
de 1970, Claudia trazia páginas impressas em
quatro cores e páginas em preto e branco, possivelmente para reduzir custos de impressão. Dos anos
de 1960 a 1970, Claudia tinha, aproximadamente, 50% dos editoriais em uma cor e 50% coloridos.
Alguns anúncios também vinham em preto e branco, mas não nessa mesma proporção, eram priorizadas as páginas coloridas para os anúncios.
Na década de 60, Claudia não tinha conhecimento ou não dava importância ao ritmo e a
unidade visual de uma publicação. Os anúncios, bem como alguns artigos, eram aplicados aleatoriamente, sem um padrão estabelecido: na página da esquerda, da direita ou espelhados. Isto
causava uma certa confusão visual, pois com
fig. 58
a falta de ritmo, às vezes, não era possível
distinguir o editorial da publicidade, ainda
mais com a revista repleta de anúncios disfarçados de reportagens. Em uma época onde
reinava a composição tipográfica de chumbo,
a unidade visual também passava longe: cada
seção ou reportagem aplicava-se uma fonte
diferente. O leiaute de algumas matérias ou
artigos (fig. 58) traziam anúncios ao lado
(1/3, 2/3, ½, ou mais), restando ao editorial,
Editorial ao lado de anúncio, Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963.
92
Design em revista feminina
um pequeno espaço, onde o texto era aplicado em colunas estreitas. Em razão do pouco espaço,
muitas vezes, o artigo continuava nas páginas seguintes ou no final da revista, paginação que
White (2006) considera extremamente irritante para o leitor, interrompê-lo e direcioná-lo para
outro local. Como veremos adiante, até hoje Claudia traz anúncios ao lado de editoriais ou quefig. 59
bra-os para posicionar páginas inteiras de anúncios.
Também nos anos de 1960, surgem os selos em algumas reportagens,
prática que é adotada até hoje. As compras de Claudia (fig. 59), Especial São
Paulo (fig. 60) e A Arte de ser mulher (fig. 61) são alguns exemplos criados e
que exercem a função de um logotipo da matéria e podem ser aplicados na
Selo em Claudia, ano 6,
no 69, junho de 1967
fig. 60
página de abertura ou em todas as páginas das matérias.
A partir dos anos de 1970, cresceu o número de páginas coloridas e de
fotografias, trazendo maior riqueza de detalhes mas também poluição visual,
pois muitos anúncios vinham ao lado de algumas reportagens. Nessa época
também surgia duas reportagens em papel diferente: o Jornal de Cozinha e O
assunto é... ambos impressos em papel jornal e em duas cores (preto e laranja). No final dos anos de 1970 e durante toda a década de 80, Claudia inseria
Selo em Claudia, ano 13,
no 155, agosto de 1974.
fig. 61
infográficos12 em algumas matérias e seções que não só traziam informação
visual mas também contribuíam na compreensão do texto.
No início dos anos de 1980, cresciam e se aperfeiçoavam as reportagens de
moda e beleza e surgiam os editoriais fotografados em estúdio (fig. 62). A qualidade da fotografia melhorava, com a possibilidade de luz controlada. Até então,
Selo em Claudia, ano 13,
no 155, agosto de 1974.
as fotos eram realizadas em locações externas. Nesse mesmo período, iniciavase a conscientização da necessidade de implantação de uma unidade visual na
fig. 62
publicação. A revista começava a dar sinais de
padronização tipográfica em 1979, como por
exemplo, o uso da fonte Bodoni, empregada
no primeiro logotipo de Claudia e reaplicada
novamente no nome da revista bem como em
diversas reportagens. A partir de 1984, com
o advento dos programas de editoração eletrônica (desktop publishing) e o aparecimento
computador Macintosh da Apple, percebemos
uma melhoria no visual em Claudia.
Editorial de Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979.
Como o advento e a inserção dos sistemas
12 Infográfico: recurso gráfico que envolve imagem e pequenas informações para uma melhor compreensão do assunto.
Design em revista feminina
93
fig. 63
computadorizados e digitais, houve uma mudança
significativa e agilidade de produção, expressão, finalização e acabamento das peças de design. A designer Moura (2005) conta que no início dos anos de
1980 despontou na área de design, projetos e peças
repletos de imagens fragmentadas, fusão ou híbridas
que indicavam uma nova estética e uma nova maneira de criar e projetar. Um dos pioneiros destas experimentações foram os designers americanos como
April Greiman, Rudy VanderLans, Katherine McCoy,
entre outros, que começaram a utilizar e experimentar as ferramentas e as possibilidades trazidos pelos
programas dos computadores da marca Apple. Com
isso, estes profissionais assimilaram rapidamente
que o novo sistema computacional trazia um novo
paradigma e abria uma nova era de possibilidades
para os design gráfico. Também perceberam que a
tecnologia digital alterava o processo de criar e fazer
design de modo significativo.
Nesse período, Claudia manteve seu padrão de
diagramação mais formal, sem grandes experimentações, entretanto, foram nos anos de 1990 que
notamos uma mudança radical no visual da publicação. A revista passou a trazer cores e mais imagens ilustrativas em reportagens e seções. Ferreira
(2006, p. 34) nos conta que “em setembro de 1993,
Claudia passou por uma grande transformação de
conceito editorial e visual. O projeto foi trabalhado
por dois anos e o design foi entregue a dois artistas gráficos americanos: Mary Baumann e Will Ho-
Imagens de Claudia retiradas do site dos designers
Mary Hopkins e Will Baumann.
pkins. A partir de março de 2003, a revista passou
por uma reformulação no projeto gráfico, em busca da continuidade de líder de mercado”. A partir
de então notamos que a revista ficou mais colorida, as colunas passaram a ser ilustradas com
várias imagens e a titulagem das matérias passou a ter mais interação com as fotos, como mostra
as imagens de Claudia extraídas do site dos designers, wwww.hopkinsbaumann.com (fig.63). Mary
94
Design em revista feminina
fig. 64
Hopkins e Will Baumann13 são designers editoriais que residem em Mineapolis e Nova York (Estados Unidos) e prestam
serviços para editoras de livros, de revistas assim como para
empresas. De acordo com o webiste, ambos possuem extensa
experiência em redesign, lançamentos e produção gráfica de
projetos impressos.
Na década de 1980 e 1990 podemos observar que muitas
foram as transformações ocorridas, não só em Claudia mas
em diversas áreas de atuação do design gráfico. Os meios de
produção trazidos pela tecnologia computacional possibilitou diversos tipos de experimentação. Campos (2006) conta
que em termos de linguagem visual este período presenciou
uma corrida desenfreada para o acesso ao conhecimento
e ao domínio técnico dos meios digitais, provocando uma
avalanche de produções que exploravam todas as possibilidades que os softwares ofereciam: colagens, sobreposições,
tipografias novas, coincidindo também com o que ficou co-
Editorial de moda, Claudia,
ano 14, março de 1975.
nhecido como tendência pós-modernista no design gráfico.
Embora não observamos características pós-modernas nas páginas de Claudia nesse período,
diversas formas de diagramação, fotografia, entre outros recursos apareceram nessa fase.
Analisar o passado de Claudia não só nos deu base para compreender as edições atuais como
também pudemos observar os aspectos culturais, valores e costumes de cada época e como eles
mudaram com o passar do tempo. Encontramos, por exemplo, modelos em editoriais de moda
fumando, em um período em que fumar era elegante, sinônimo de masculinidade para o homem e
de sensualidade para a mulher (fig. 64). Hoje, com a hipervalorização dos cuidados estéticos com
a saúde em toda a mídia, este tipo de imagem seria altamente condenável. Além disso, pudemos
ver a herança deixada pelo design, algumas práticas e aplicações realizadas até os dias atuais,
selos-logotipos, editoriais ladeados de anúncios, entre outros itens que mencionamos. Em reportagens do tipo “perfil do artista”, por exemplo, eram aplicados fotos de trabalhos da pessoa, o
que acontece até hoje. A página de fechamento durante muito anos foi ilustrada com cartoons14.
No passado, por Ziraldo com seu personagem The Supermãe (fig. 65 e 66) e mais recentemente,
Maitena Inês Burundarena com Mulheres Alteradas.
13 Trecho extraído do site: http://www.abril.com.br/institucional/50anos/femininas.html
14 Cartoon: é um desenho humorístico que pode vir ou não acompanhado de legenda e tem caráter crítico e de uma forma bastante sintetizada.
Geralmente, os temas envolvem o dia a dia de uma sociedade.
Design em revista feminina
fig. 65
fig. 66
Seção The SuperMãe, Claudia, ano 17, no 196,
janeiro de 1978.
Seção The Super-Mãe, Claudia, ano 18, no 219,
dezembro de 1979.
95
Design em revista feminina
97
3.5 O projeto gráfico de Claudia
O presente estudo concentrou-se na análise do projeto gráfico da revista Claudia em 12 edições do
ano de 2008 (janeiro a dezembro) e 9 edições do ano de 2009 (janeiro a setembro), totalizando 21
edições. O projeto gráfico em questão entrou em vigor em 2004 e, desde então, constantes pequenas
alterações foram realizadas. Em outubro de 2009, Claudia mudou seu projeto gráfico, quando fez
diversas alterações visuais no leiaute das matérias, seções e colunas. A seguir, apresentaremos as
características físicas e técnicas acerca do projeto gráfico de Claudia, bem como as características
visuais que abrange tipografia, grade, imagens, diagramação, ritmo e sequenciamento.
3.5.1 Características físicas e técnicas
Como dissemos anteriormente, o aspecto físico de uma revista envolve as questões de papel e
formato. Já as questões técnicas referem-se aos processos de pré-impressão, impressão, softwares
de editoração, tratamento de imagens e plataforma computacional.
Começaremos pelo formato. Claudia adotou o tamanho 202 x 266 mm, muito usado por
diversas revistas femininas do mercado, o que faz com que o tamanho da revista não seja um
diferencial ou uma marca de sua identidade. O papel utilizado foi o LWC 60 g no miolo e o couchê brilho 150 g na capa. O papel do miolo não foi de qualidade superior, entretanto, atendeu
às necessidades editoriais da revista. O acabamento da revista foi com lombada quadrada com
aplicação de verniz UV na capa.
A revista Claudia é impressa na divisão gráfica da editora Abril, assim como todas as outras
revistas da editora. O tipo de impressão da revista foi, muito provavelmente, rotativa15 devido à sua
alta tiragem. Como a editora Abril possui seu próprio parque gráfico, possibilita um controle maior
sobre esta etapa do processo. Vale citar que a empresa também possui sua própria distribuidora de
revistas (Dinap), permitindo atuar com mais precisão na distribuição das revistas em todo o Brasil.
A revista foi impressa em quatro cores, no sistema de quadricromia (CMYK)16 e, eventualmente, através do sistema Pantone uma 5a cor (ou cor especial)17 é aplicada no logotipo da capa ou
em algumas chamadas.
Não pudemos precisar qual a plataforma e os softwares utilizados para editoração e tratamento de imagens, entretanto, hoje é quase que uma unanimidade o uso dos programas
Indesign para editoração eletrônica e Photoshop para o tratamento das imagens, na plataforma
15 Impressão rotativa: tipo de impressão com papel em bobina, ideal para altas tiragens devido a sua rapidez e maior produtividade.
16 Quadricromia é o sistema de cor aditivo que utiliza o cyan (ciano), yellow (amarelo), magenta e black (preto), adotado mundialmente pela
indústria gráfica. A partir dessas quatro cores básicas são geradas todas as outras cores do espectro visível (Falleiros, 2003).
17 Cor especial é uma tinta de cor diferente das cores de impressão básicas, pode ser obtida através de misturas tintas ou fornecida pronta por
empresas que possui seu catálogo de cores próprio e inexistentes no processo de cores CMYK. Um exemplo de cores especiais são as cores fluorescentes e douradas, muito utilizadas nas capas de revistas para chamar a atenção.
98
Design em revista feminina
Macintosh. A revista Claudia possui um equipe especializada em fazer o tratamento de imagem,
conforme consta em seu expediente.
O número de páginas da revista foi em torno de 152 páginas por edição. A edição no 3, ano 48
de março de 2009, por exemplo, continha 192 páginas, sendo 74 de editorial e 118 de publicidade. Neste número, o conteúdo editorial foi distribuído em 14 reportagens e 22 seções. Portanto,
podemos considerar que a revista tem 39% de editorial e 61% de publicidade.
3.5.2 Características visuais
A fim de conferir visualidade a seu projeto editorial, Claudia estabeleceu diversas formas e padrões
visuais. Mais do que uma simples aparência por meio do design foi possível expressar a personalidade
da publicação. A seguir, apresentaremos as características visuais empregadas no projeto gráfico
da revista Claudia, nas 21 edições analisadas. O aspecto visual no que diz respeito às questões da
tipografia, grade, imagens, diagramação, ritmo e sequenciamento.
3.5.2.1 Tipografia
A tipografia presente na revista Claudia resume-se em duas famílias tipográficas, uma com serifa18
(Didot) e outra sem serifa. A fonte serifada Didot é utilizada nos elementos de maior destaque (títulos, aspas, chamadas de capa, retrancas, etc) e nos textos mais longos. Já a fonte sem serifa é usada
apenas em olhos19, notas, legendas, perguntas e em alguns blocos de texto menores (fig. 67). A fonte
sem serifa foi incluída no projeto gráfico de Claudia somente em 2007, antes, era empregada apenas
a fonte Didot. Ao que parece, a fonte Didot foi eleita por fazer parte da herança deixada pelo primeiro
projeto gráfico de Claudia, onde foi utilizada no primeiro logotipo da publicação.
Na figura 65, pudemos observar de que forma e em quais elementos as duas famílias tipográficas escolhidas foram aplicadas. Observamos que a fonte serifada Didot é muito mais utilizada do
que a fonte sem serifa. Ferlauto (2001) conta que a fonte Didot, classificada pelo sistema europeu
como moderna, foi criada pelo frânces Firmin Didot, tipógrafo do rei Luís XVI. Os tipos Didot são
caracterizados pelo extremo contraste de traços grossos e finos traços, pelas serifas ultrafinas e
pela tensão vertical das letras. Desde o primeiro projeto gráfico criado na década de 1960, Claudia
faz uso das fontes modernas Didones (Bodoni e Didot).
O uso de duas famílias tipográficas, geralmente, é o necessário para atender todas as necessidades visuais. Samara (2005) aponta que como regra geral (que pode, é claro, ser quebrada no contexto
certo) o uso de duas famílias tipográficas dentro de um projeto é suficiente para uma variedade visual.
18 Serifa: pequenos traços e prolongamentos que ocorrem no fim das hastes das letras.
19 Olho: frase destacada de uma material. Pode ser sob o título ou em determinado local da página.
Design em revista feminina
99
Misturar muitos tipos pode deixar a página visualmente confusa. Vimos que a revista Claudia segue
esta “regra” e tem como traço marcante o uso da fonte Didot, um tipo agradável, elegante e multifacetado, pois serve tanto para textos mais longos como para mais breves.
Com relação a fonte utilizada para textos mais longos, onde requer uma leitura mais concentrada, emprega-se, na grande maioria dos casos, fontes serifadas. Zappaterra (2007) aponta
que somos mais acostumados a ler em fontes serifadas e, tradicionalmente, estas são usadas em
longas colunas de texto. Já as fontes sem serifa proporcionam variação visual e são aplicadas em
textos curtos. Claudia aplicou a tipografia exatamente como aponta a autora: a fonte serifada
Bodoni, nos títulos e nas colunas de textos mais longos e a fonte sem serifa, em textos curtos, ou
olhos, legendas, boxe e subtítulos. Na visão de White (2006), deve-se evitar misturar fontes que
fig. 67
Título:
fonte serifada Didot
Lead:
fonte sem serifa
Capitular:
fonte serifada
Didot
Corpo do texto:
fonte serifada
Didot
Retranca:
fonte serifada
Didot
Título do box:
fonte serifada Didot
Subtítulos:
fonte serifada
Didot
Texto do box:
fonte sem serifa
Corpo do texto:
fonte serifada
Didot
Aspas:
fonte serifada
Didot
Editorial de comportamento, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
100
Design em revista feminina
tenham um desenho similar, mas utilizar fontes contrastantes para maximizar o resultado. Como
a fonte sem serifa é utilizada muito pouco, o contraste não é facilmente percebido, porém, possibilita uma variedade visual. Utilizar apenas uma única família de fontesem toda a revista, além
de tornar a leitura visualmente cansativa, é difícil encontrar uma fonte que se comporte bem nas
diversas possibilidades de aplicação que ocorrem em uma revista.
Em Claudia, a titulagem das matérias recebeu, em algumas reportagens, diversos efeitos tipográficos e foi o elemento que recebeu maior destaque por ter sido aplicado em tamanho maior. Na
visão de Zappaterra (2007), os títulos servem para captar a atenção do leitor para serem lidos primeiro, portanto, irão dominar a página, em tamanho maior do que o corpo do texto ou as capitulares.
Por necessitar chamar a atenção do leitor e aprefig. 68
sentar o assunto da reportagem, o título deve ser bem
trabalhado para que ganhe destaque, seja pelo tamanho
aumentado ou pelo efeito tipográfico aplicado. De acordo
com White (2006), a dimensão da fonte serve para enfatizar o que é essencial e destacar o que é secundário.
Em Claudia, em todos os títulos, com ou sem efeitos
tipográficos, houve ajustade do kerning (espaçamento
Editorial de Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009
entreletras). Niemeyer (2001) considera este recurso
importante em suportes grandes e em manchetes ou
fig. 69
títulos de texto. “Sem esta interferência, muitas combinações de letras terão um resultado insatisfatório. O
objetivo do kerning é criar visualmente um espaço entre todas as letras, de modo que o olho do leitor passe
uniformemente pelo texto” (Niemeyer, 2001, p. 62).
Outra possibilidade tipográfica é o uso de palavrasimagens, como nos apresentou White (2006) no item
Editorial de Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008
fig. 70
2.2.2.1. Quando isto ocorre, o designer confere um tratamento visual à letra ou a fonte, tornando-a uma imagem, carregando mensagens não-verbais.
Na revista Claudia, através do efeito de substituição, observamos o inverso. Imagens ou símbolos que
cumprem o papel de uma letra, carregando mensagens verbais (fig. 68 a 70). Este foi o efeito tipográfico empregado com mais frequência na titulagem das
Editorial de Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008
matérias. Samara (2005) nos esclarece que a substi-
Design em revista feminina
tuição ocorre quando “um tipo é substituído por um objeto
101
fig. 71
ou outro símbolo reconhecível. Alguns objetos do mundo
real compartilham formas visuais semelhantes às das letras, como por exemplo, os objetos circulares, regularmente
substituídos pela letra O” (Samara, 2005, p. 32). Vemos na
figura 67 e 68 que as imagens não foram as únicas manei-
Editorial de Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008
fig. 72
ras de substituir um tipo, reposicionar um outro carácter
(@) ou símbolo (coração) também foi uma forma de conferir o efeito de substituição.
Outro efeito observado foi o de inclusão pictórica (fig. 71
a 73). Samara (2005) esclarece que ela ocorre quando elementos ilustrativos são trazidos para dentro das formas dos tipos,
Editorial de Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008
fig. 73
onde interagem com seus contornos e formas.
A inclusão pictórica pode ser vista na figura 71, onde o tipo
manteve sua forma essencial e foi aplicada invertida (vazada20)
sob a imagem de um quadrado com rachadura. Esta opção de
inclusão pictória foi vista apenas uma vez. Das edições restantes, a inclusão pictórica se deu com o preenchimento, de uma
Editorial de Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008
imagem ou de um detalhe da foto principal da matéria (fig. 72 e 73), dentro das formas das letras. Na
figura 70, foi incluído uma imagem de células dentro da aspa. E na figura 71, foi aplicada a mesma
estampa da blusa da atriz Marilia Pêra.
O contraste de escala também foi um dos efeitos tipográficos utilizados (fig. 74). Uma só letra em
tamanho grande, no título ou na capitular, contrasta com o tamanho dos demais tipos ou, em relação
ao próprio tamanho da página. Donis (1997) conta que a estratégia de contraste é a força de opofig. 74
sição ao apetite humano que busca por
equilíbrio e estabilidade. Suas atribuições
são muitas: “desequilibra, choca, estimula, chama a atenção”, além de “estimular
e atrair a atenção do observador, que pode
também dramatizar seu significado, para
torná-lo mas importante e dinâmico” (Donis, 1997, p. 108, 118).
Outro aspecto tipográfico observa-
Entrevista, Claudia, ano 48, no 3, março de 2009
20 Texto vazado: quando o texto fica em branco sobre um fundo colorido.
do foi o uso do recurso visual que Melo
102
Design em revista feminina
fig. 75
(2003) chama de travertismo tipográfico,
ou seja, a tentativa de imitar tipos manuscritos ou de tecnologias antigas. Pudemos
observar, em uma única edição, a presença de reportagem com esta característica
(março/2008). O editorial de moda com
o título Fashion Game, na palavra game
foi aplicado uma fonte que simula a exibição textual dos primeiros vídeo games
Editorial de moda, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008
nos anos de 1980 (fig. 75). Melo (2003)
conta que durante a explosão tipográfica
dos anos de 1990, esses tipos eram “destinados não à composição de textos longos, mas usados
na titulagem de matérias de revistas ditas irreverentes ou em chamadas de anúncios espertos, e
têm como característica o fato de não serem o que parecem”. Na visão do autor, o ato de transcriar
de um meio antigo para um meio novo é “um
caminho promissor, que tem frutos ainda a
fig. 76
serem colhidos” (Melo, 2003, p. 49, 57).
Na mesma edição, apenas uma única vez,
numa reportagem sobre mulheres muçulmanas que vivem no Brasil, o designer usou uma
fonte na capitular que simulava as formas
das letras do alfabeto árabe (fig. 76).
Outro efeito tipográfico observado em
Claudia e apresentado por Samara (2005) é a
pictorialização. O autor conta que este recurso
acontece quando “o tipo se torna uma representação de um objeto real ou se apropria das
Editorial de Claudia, ano 47, no 3, março de 2008
fig. 77
qualidades de alguma coisa a partir de uma
experiência atual”. Na pictorialização ilustrativa acontece a inclusão de formas ou desenhos
que parecem ter sido feitos do material reconhecível em questão, ou parte deste objeto. Na
revista, este recurso visual foi aplicado no editorial de moda Curingas da crise (maio/2009).
Ao utilizar a palavra-chave curinga no título,
Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
Design em revista feminina
o designer simulou a visualidade de uma carta de
103
fig. 78
baralho, não só aplicando um retângulo com fundo branco e bordas arredondas, mas também espelhando horizontalmente e verticalmente a frase,
como ocorre nas cartas que, se viradas de pontacabeça, podem ser lidas da mesma forma (fig. 77).
Na edição de dezembro de 2008, pudemos
ver um exemplo de combinação de elementos visuais (foto) e tipográficos (letras) de forma que
um interage ativamente com o outro, passando a
Editorial de moda, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008
sensação de movimento. Na reportagem Que venha 2009, a menina com as mãos para o alto, parece ter jogado os números para cima (fig. 78).
3.5.2.2 Grade
Como mencionamos no tópico 2.2.2.2, a grade envolve o planejamento das margens, rodapés, quantidade e espaçamento das colunas para a determinação dos locais onde serão aplicadas as imagens
e o texto. A grade da revista Claudia trouxe as seguintes configurações que descrevemos a seguir:
As margens superiores (20 mm), inferiores (18 mm), externas (20 mm) e internas (25 mm)
foram bem delimitadas, proporcionando um
conforto visual à pagina com os devidos espa-
fig. 79
ços em branco. A margem interna também foi
adequada, pois o texto não entrou dentro do
espaço da lombada, dificultando a leitura.
O rodapé sempre posicionado no mesmo
local (embaixo e no canto externo das páginas) trouxe o número da página, nome da revista, mês e ano da edição. O número da página em tamanho maior se destaca do restante
das informações.
Editorial sobre os 10 anos do medicamento Viagra,
Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008
Na grande maioria das vezes, o texto foi
disposto em duas colunas. Na página de abertura das reportagens, quando a foto foi posicionada
em página dupla ou estendeu um pouco mais até a outra página, o texto apareceu em apenas uma
coluna (fig. 76). Na página de abertura das reportagens onde o foto foi posicionada apenas em
uma página, o texto apareceu em duas colunas (fig. 79). O título e o lead, presentes sempre nas
duas páginas iniciais das reportagem, não tiveram posição pré-determinada pela grade.
104
Design em revista feminina
fig. 80
A partir da segunda página dupla das reportagens,
pudemos perceber mais claramente como se comportou a
grade (fig. 80). O texto foi disposto em duas colunas, com
um espaço muito pequeno entre elas (cerca de 4 mm). O
espaço muito estreito entre as colunas pode fazer com
que o leitor una a leitura de uma frase com a da coluna ao
lado, o que perturba e interrompe o ritmo da leitura.
Outro aspecto relacionado a grade é o tratamento
dado ao texto que em Claudia recebeu justificação forçada21. A última linha também foi alinhada com a largura da coluna. Para evitar que ficassem espaços entre
as palavras (corriqueiramente chamado de “buracos”),
o texto foi hifenizado e, na última linha, preencheu-se
com palavras até uma completa justificação. O texto
Reportagem sobre corrida,
Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009
veio em um único bloco, quase não houve parágrafos.
Quando eles apareceram foram iniciados com um espa-
ço mínimo (cerca de 2 mm), quase imperceptíveis.
Todas essas ações sugerem uma obsessão de Claudia por justificar perfeitamente o texto. Na
figura 78 pudemos ver que não houve espaços em branco nas últimas linhas dos parágrafos, assim não houve parágrafos dividindo o texto. O corpo do texto sempre apareceu justificado. Já os
textos de boxes ou legendas, sempre alinhado à esquerda. Com essa justificação total do texto, as
margens ficaram mais evidentes, pois, no meio do texto não houve quase espaços em branco
Nos editoriais de moda e em algumas matérias de beleza, a grade se apresentou de modo diferente. Como não houve grandes blocos de texto, muitas vezes só legendas, o texto foi aplicado alinhado à esquerda sobre as imagens ou em uma coluna ao lado da foto, também à esquerda (fig. 81).
fig. 81
De modo geral, a grade de Claudia foi bem
resolvida visualmente, não sucumbindo à rigidez
e regularidade que muitas vezes a grade impõe.
Os diferentes tipos de matérias, os variados leaiutes das aberturas das matérias e os diferentes
tipos de boxes fizeram com que a grade fosse flexível, o que proporcionou variedade visual.
Reportagem com dicas para ter mais energia e disposição,
Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009
21 Justificação forçada: quando o texto, disposto geralmente em colunas, é justificado em todas as linhas, inclusive a última, não deixando nenhum espaço em branco.
Design em revista feminina
105
fig. 82
3.5.2.3 Diagramação
Cada leiaute de Claudia – reportagem ou seção – variou de acordo com a editoria e/ou proposta editorial.
Neste item detalharemos de forma geral como foi a
distruibuição dos elementos nas páginas da revista. No
tópico 3.5.3 entraremos em profundidade sobre como
se comportou a diagramação especificamente em cada
tipo de reportagem, seção e coluna de Claudia.
Embora a cada edição o conteúdo tenha sido diferente, os leiautes não variaram muito de um mês para
o outro, pois obedeceram a um template pré-definido.
Isto ocorreu principalmente nas seções, nas quais as
alterações foram mínimas. A maioria das reportagens –
exceto as matérias de beleza, moda e decoração – teve
a seguinte diagramação:
Na página de abertura foi aplicada a foto princi-
Editorial de comportamento,
Claudia, ano 47, no 12, julho de 2009
pal da reportagem, o título e o lead. Eventualmente,
o texto da reportagem iniciou na página de abertura. A imagem principal apareceu preenchendo
toda a página dupla, em apenas uma página ou em uma página + 1/3 ou 2/3 da página ao lado.
O título não teve uma posição pré-definida, foi diposto nas duas páginas ou apenas em uma. O
lead veio sempre logo abaixo do título. Não houve uma regra quanto à posição da foto principal
da reportagem, ora ela apareceu na página par, ora na página ímpar.
Nas páginas seguintes, o texto da reportagem seguiu em duas colunas com algumas imagens
que remetiam à foto principal aplicada na abertura. As imagens aplicadas no restante da reportagem também pôde ser a mesma usada na abertura, só que em tamanho reduzido.
Em Claudia, o apelo visual por meio de imagens apareceu apenas na abertura da matéria, com
exceção dos editoriais de moda, beleza e decoração. Na grande maioria das matérias, na página
consecutivas à abertura, havia poucos recursos visuais. Aplicou-se longos trechos de texto e imagens muito reduzidas e que, geralmente, não acrescentaram informações à matéria. A repetição
da imagem da página de abertura não acrescentou informação visual, apenas criou uma relação
com a primeira página dupla. A foto de abertura teve a função de ilustrar o tema da reportagem e
atrair a atenção do leitor, mas perde esta funcionalidade se aplicada em outro local.
A figura 82, por exemplo, para ilustrar o restante da reportagem foram usadas imagens de
maçãs mordidas para relacionar com a foto da maçã aplicada na abertura da matéria. Na figura 80,
a página consecutiva foi ilustrada com a foto de um tênis e com modelos correndo. Nesta opção
106
Design em revista feminina
a composição visual ficou mais arejada com a presença do box sobre a vestimenta adequada para
corrida (ilustrado com as imagens das modelos) e também com os 2 boxes de depoimentos.
O uso de longos trechos de texto sem imagens torna a leitura mais cansativa, exigindo um
esforço maior do leitor. Na visão de White (2006), “trechos curtos são menos ameaçadores do
que os longos, porque exigem que
fig. 83
se comprometa menos tempo ou
esforço” (White, 2006, p. 13). O
autor sugere o uso de barras laterais ou boxes como material de
apoio à matéria, cada qual com
seu respectivo título e fotos. Em
Claudia, nem todas as reportagens trouxeram boxes, e quando
apareciam foram somente um.
Geralmente, esses boxes não são
ilustrados com imagens.
Perfil do ator, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008
O uso de boxes, aspas, ima-
gens secundárias e suas respectivas legendas são considerados ganchos visuais, ou seja, cumprem
a função de despertar a atenção do leitor para a leitura do texto. Dentre esses recursos, as aspas
foram o que Claudia mais utilizou. As aspas, além de captarem a atenção, tornam-se um elemento
ilustrativo da reportagem. Na figura 83 vemos a aplicação de duas aspas que quebraram a monotonia do texto corrido. Pudemos observar que esta página ficou visualmente cansativa por causa
dos poucos recursos visuais utilizados bem como pela grande quantidade de texto.
Outra questão que envolve a construção de um leiaute é o uso da cor. Claudia, com exceção
da cor nas fotografias, usou muito pouco a cor em suas páginas. A cor vermelha foi a eleita para
estar presente apenas em pequenos detalhes (aspas, setas, subtítulos, pequenas tarjas vazadas,
fig. 84
Editorial sobre casamento, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008
fig. 85
Editorial sobre sexo, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008
Design em revista feminina
107
logotipo do sumário, etc). Raramente, a cor apareceu em alguns títulos. Os leiautes tiveram fundo
branco e apenas duas vezes foi aplicado cor no fundo das páginas (fig. 84 e 85). Nas 21 edições
analisadas, raramente, foram vistas outras cores. O designer de Claudia talvez tenha eleito esta
cor por ser quente, forte e vibrante e com isso chamar a atenção. O vermelho também é associado
com paixão e, não por coinscidência, os temas das reportagens que foram aplicados o fundo vermelho tratavam de sexo e relacionamento amoroso.
Para Bhaskaran (2006), a cor pode ser usada de inúmeras formas em uma publicação: “para
atrair a atenção, destacar uma certa informação, extrair uma reação emocional específica”, entre
outras aplicações (Bhaskaran, 2006, p. 80). Uma cor pode também ajudar o leitor a navegar pela
publicação ou organizar diferentes tipos de informação. A cor também pode estabelecer uma forte
identidade visual, podendo ser facilmente reconhecida pelo seu leitor. Entendemos que Claudia poderia explorar mais o uso da cor na publicação de forma geral, a fim de trazer mais vivacidade, dinamismo, além de surpreender o leitor e contribuir para separar editorias de acordo com as cores.
3.5.2.4 Imagens
O conteúdo de uma publicação não está estritamente limitado ao texto. As imagens, cores e tipos
também são uma forma de conteúdo. O tratamento ilustrativo contribui de forma significativa
para transmitir a mensagem da publicação. Analisar as imagens presente em uma revista possibilita compreender como se estabelece sua identidade visual. Nesse sentido, Ambrose e Harris
(2005) dizem que compreender a importância da imagem significa considerar o seu impacto desejado, sua função, sua audiência, seus aspectos estéticos e como esta imagem pode contribuir
para definir o tom (ousado ou conservador) de todo o design.
Foram encontrados quatro tipos de imagens presente na revista Claudia: fotografia, ilustração, infográfico e sinais gráficos. Claudia usou potencialmente as imagens fotográficas e, em menor escala, as ilustrações. As imagens
fig. 86
sintéticas ou infográficas foram vistas
uma única vez (junho/08) (fig. 86).
O uso do infográfico é recomendado
para dar uma visualidade às informações complexas. Como Claudia não
apresentou muitas reportagens que
traziam dados com grande complexidade, não utilizou muito este recurso.
As reportagens de saúde que, eventualmente, abordam questões médicas, de
Reportagem sobre aborto, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008
108
Design em revista feminina
anatomia ou de procedimentos, poderiam ficar mais esclarecidas com o uso de um infográfico.
Ao compararmos a reportagem sobre câncer de mama da revista Glamour com a matéria sobre o
mesmo tema da revista Claudia, vimos que o uso de um infográfico com o desenho de uma mama
enriqueceu a reportagem e foi fácil de compreender em quais regiões da mama a incidência de
câncer foi maior (fig. 113, p. 122).
fig. 87
Já as ilustrações apareceram pouco em Claudia: na seção O que eu
faço agora? (fig. 87) e em matérias sobre espiritualidade e astrologia (fig.
88). Possivelmente, esses temas foram sempre ilustrados com ilustrações
por se tratarem de temas subjetivos e abstratos. Eventualmente, algumas
reportagens sobre sexo, finanças, comportamento e atualidades também
foram apresentadas com ilustrações.
Outro tipo de imagem presente na revista Claudia foram os sinais
gráficos e figuras geométricas empregados na publicação: aspa simples
Seção O que eu faço agora?
Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008
fig. 88
nas frases de terceiros, setas (como as que aparecem em softwares para
nortear a navegação), retângulos nos boxes,
quadros brancos com transparência e quadrados com setas semelhantes aos balões de gibi.
Cada uma dessas imagens possuem finalidades próprias e que serão detalhadas na análise do projeto gráfico (3.5.3).
Dentre as imagens aplicadas, a fotografia
que predominou em toda a publicação. Como
nos apresentou anteriormente Baeza (2003)
Reportagem sobre espiritualidade,
Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008
no item 2.2.2.4, há duas categorias de fotos de
imprensa: a fotojornalística a e fotoilustrativa.
As fotos de Claudia estiveram na categoria de fotoilustração, pois cumprem o papel de ilustrar o
tema da reportagem ou mostrar produtos, objetos, ambientes, peças de vestuário / acessórios, etc.
As fotografias de Claudia se dividiram em dois grupos: imagens produzidas pela editora e
fotos fornecidas por empresas de banco de imagem. As pautas que traziam modelos, receberam
uma equipe composta por: fotógrafo, assistente, cabeleireiro, maquiador, modelo(s), produtora de
figurino, stylist, etc – equipe que varia conforme o tipo de matéria. As reportagens de moda, por
exemplo, exigem uma equipe maior. As imagens produzidas permitem um maior controle sobre o
resultado, pois partem de um briefing22 fornecido pela diretora da arte, diretora de redação ou da
editora visual. As fotos compradas prontas de fornecedores (Getty Images e Latin Stock) impõem
22 Briefing: um conjunto de informações passadas em uma reunião para o desenvolvimento de um determinado trabalho.
Design em revista feminina
109
certos limites, nem sempre é possível encontrar exatamente o que se busca e, além disso, por
serem a maioria produzidas fora do Brasil, às vezes, não se enquadram com os traços físicos bem
como da vestimenta das mulheres brasileiras. Os biquínis americanos ou europeus, por exemplo,
correspondem aos padrões totalmente diferente aos das brasileiras.
O uso de imagens prontas de banco de imagens é prejuducial para a construção de uma identidade forte e sólida para a revista, garantida através das fotografias ou ilustrações de produção
própria, executadas pela equipe da revista. Muitas dessas imagens são vistas em diversos veículos
da mídia impressa, provocando uma visualidade uniformizada e criando esteriótipos visuais. Em
parte, isto se deve ao monopólio informativo e fotográfico de grandes empresas como Reuters,
Corbis, AP (Associated Press), Getty Images e AE (Agência Estado) que vendem imagens para mídias
impressas e televisivas. Para Baeza (2003), para que a publicação garanta sua sobrevivência a longo
prazo é necessário que a publicação resista ao “self service” de imagens banais e de baixo custo.
Para o autor, a primeira decisão deve ser sempre formar equipes que se responsabilizem por preparar e aplicar com plenitude um projeto com conteúdos visuais adequados à finalidade do veículo. E
ainda, a atividade de edição gráfica deve cultivar uma personalidade própria para cada publicação,
a partir de um projeto específico, uma rica agenda de colaboradores, muita imaginação, bem como
recursos humanos e econômicos adequados. Portanto, entendemos que com o uso de imagens de
produção própria, é possível fazer com que se prevaleça e exprima por meio dessas imagens, a missão editorial da publicação, bem como garantir a exclusividade da concepção da ideia.
Dentro da categoria de fotoilustração, Claudia permeou pelas mais diversas especialidades da
fotografia, cada qual com sua especificidade: fotografia de moda, fotografia de still (produtos),
fotografia de culinária (no suplemento Claudia Comida & Bebida), fotografia de ambientes (nas
reportagens de decoração), fotografia de turismo (nas matérias de locais para viajar), etc. Por conta do destaque que recebe em seu projeto editorial, vale destacar a fotografia de moda.
A fotografia de moda – que traz muitos traços da foto publicitária – é uma área que ganhou bastante importância no Brasil em razão da valorização e midiatização das marcas de moda brasileiras.
Fotografia de moda é aquela produzida para mostrar ou divulgar as peças de vestuário e acessórios. As fotografias de produtos de beleza (cremes, xampus e produtos de maquiagem) também
podem ser consideradas fotografias de moda. O mercado para a fotografia de moda é fomentado
pelas revistas especializadas, cadernos/seções de moda dos jornais e os catálogos produzidos por
empresas fabricantes de peças de vestuário, calçados e acessórios. Há ainda, a produção de books
fotográficos com fotos de modelos que são usados como portfólio para a obtenção de trabalhos.
A fotografia de moda exige uma equipe de profissionais: cabeleireiro, maquiador, modelo,
produtora de figurino entre outros, que refletirão diretamente no resultado da foto. Se a modelo
estiver mal penteada, mal maquiada ou se as roupas forem horríveis, a imagem poderá ficar com-
110
Design em revista feminina
prometida. Além disso, a etapa de produção que antecede o ensaio fotográfico também necessita
cautela, afinal a escolha da locação errada pode comprometer todo o trabalho. Se a locação for
externa, fatores naturais como sol, chuva, vento ou o horário que serão feitas as fotos podem
interferir positiva ou negativamente nas imagens, por isso devem ser previamente calculados.
Hoje, com difusão da moda em todos os meios e a exaustiva exposição na mídia fizeram com que
determinados fotógrafos ganhassem status de “celebridades” como J. R. Duran, Bob Wolfenson, Jairo
Goldflus, Mario Testino, Steven Klein, entre outros, que conferem status às revistas que os contratam. Mas isso não é um fenômeno recente, fotógrafos como Richard Avedon, Irving Penn, Henri Cartier-Bresson e Man Ray, também
fig. 89
ocuparam lugar de destaque na
época em que colaboraram para
revistas como Harper’s Bazzar,
Esquire, Vanity Fair, New York
Magazine, Life, Vogue, etc.
Os fotográfos de moda que
apareceram em Claudia não tiEditorial de moda, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009
nham o perfil de fotógrafo “fa-
fig. 90
moso”. As revistas especializadas
em moda, como Elle e Estilo, também da editora Abril, assim como
Vogue, trazem com frequência
este tipo de profissional.
Com relação as imagens de
alguns dos editoriais de moda
Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009
em Claudia, observamos o emprego da característica pós-mo-
derna que Cauduro (2005) denomina de poluição ou imperfeição. Na edição de fevereiro de 2008, as
fotos da reportagem mostraram a modelo junto as tapadeiras brancas – equipamento utilizado em
estúdio fotográfico que auxiliam na iluminação – que não deveriam aparecer nas imagens (fig. 89).
Em abril de 2009, Claudia repetiu o feito, desta vez expondo mais objetos, também próprios de estúdios fotográficos: câmera fotográfica, tripé, ventilador, tapadeira, rebatedor, flashes (fig. 90).
Cauduro (2005) diz que a estratégica retórica da imperfeição utiliza elementos “acidentais, imperfeitos, produzidos pelo acaso ou até mesmo aqueles intencionalmente produzidos, representando a transitoriedade das significações, seu caráter efêmero”, o que possibilita que as interpretações
tornem-se imprevisíveis, expandindo as possibilidades de significação, relacionando as falhas, os
Design em revista feminina
111
resíduos ou os ruídos, à fragilidade da vida e das criações humanas, a interferência de agentes da
natureza ou até mesmo, mostram a interferência humana (Cauduro, 2005, p. 202). No caso destes
dois editoriais, foi possível perceber a interferência humana nas fotografias, além de mostrar a
dinâmica envolvida em um ensaio fotográfico, trazendo um pouco deste universo à leitora.
Este tipo de ruído presente nas imagens remete às fotos de bastidores, nas quais, assumidamente, estes elementos aparecem. Na reportagem Eles escolhem, elas vestem (fig. 91), de junho/2009, Claudia aplicou além das fotografias de moda, imagens dos bastidores da matéria, com
os casais no camarim escolhendo juntos a roupa que a mulher iria vestir. Este tipo de imagem
remete à foto jornalística, por conter dois elementos: o flagrante e o embrião narrativo. Buitoni
(2007) relata que o caráter jornalístico deve-se ao ato de “imobilizar um quadro de uma sequência, o congelamento temporal fica mais evidente: o flagrante seria mais ‘jornalístico’ que outras
fotos”. No segundo elemento, o embrião narrativo, muitas vezes presente no flagrante, ocorre
“quando a imagem nos dá pistas de uma ação a ser continuada, ou que pelo menos nos sugira a
existência de ações – antes ou depois – da cena registrada” (Buitoni, 2007, p. 107).
No entanto, não podemos atribuir a essas fotos como sendo do tipo jornalística, pois o flafig. 91
Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009. Ao lado, detalhe de uma das imagens dos bastidores aplicadas na reportagem
grante é premeditado. Se é planejado, ele deixa de ser flagrante, pois o indivíduo não foi surpreendido. Já o embrião narrativo nestas fotos existe apenas pela presença de uma situação temporal,
com a imagem de antes e depois, entretanto, essas imagens não contam efetivamente uma história, apenas ilustram uma situação (forjada) anterior.
Outro recurso empregado, também considerado por Cauduro (2005) como pós-moderno, é o
uso de imagens vernaculares, que resgatam formas e processos populares de representação, de conhecimento geral, mas de baixo valor estético. Este recurso foi raramente empregado, observado
112
Design em revista feminina
fig. 92
apenas duas vezes, nas 21 edições analisadas. Claudia
aplicou no leiaute da reportagem 7 ideias totalmente
novas sobre o amor (fig. 92), a imagem de um botão
de teclado, da tecla enter, e na parte final de outra
matéria sobre relacionamento (fig. 93), a tecla delete.
Essas duas representações pretendem relacionar com
o ato de aceitação - enter (das ideias propostas pela
revista) ou rejeição - delete (das atitudes masculinas
Reportagem sobre relacionamento,
Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008
fig. 93
mencionadas na matéria). A valorização das representações cotidianas e idiossincráticas tem como objetivo enfatizar
a espontaneidade e informalidade que “gera uma proximidade maior
com o receptor, aproximando-o de seu mundo cotidiano através da
comunicação visual” (Cauduro, 2005, p. 203).
Outra estratégia visual empregada em Claudia – também pouco utilizada – é a característica de digitalização ou tecnização.
Alusivas aos primeiros computadores gráficos e jogos eletrônicos,
as imagens têm visual simplificado e simulam as ferramentas de
Reportagem sobre relacionamento, Claudia,
ano 47, no 6, junho de 2008
desenho de baixa definição, as chamadas imagens pixelizadas23.
Geralmente, empregadas nas representações referenciadas em
contextos de alta tecnologia ou futuristas, as imagens com esta característica recebem uma conotação de evolução tecnológica. Claudia emprega a digitalização em uma matéria sobre mamografia (fig. 94). A imagem pixelizada de uma mama, que parece estar em baixa resolução, remete
à alta tecnologia do procedimento.
Vale comentar também que em todas as edições
fig.94
analisadas, Claudia fez o uso quase que absoluto de fotografias coloridas. Fotos em preto e branco foram utilizadas apenas duas vezes (abril e junho de 2008). Em
uma dessas matérias, sobre cortes de cabelo (fig. 95)
para não causar estranheza no leitor, o texto introdutório da matéria dizia: “Não estranhe as fotos em preto
e branco, é justamente para você se concentrar apenas
no corte”. Como sabemos, as cores trazem informações
Matéria sobre mamografia, Claudia, ano 48, no 2,
fevereiro de 2008
23 Imagem pixelizada: o termo pixelizada deriva da palavra pixel, que é o menor ponto que forma uma imagem digital, e o conjunto de milhares
de pixels formam a imagem inteira. O pixel é o menor elemento em um dispositivo de exibição, como um monitor por exemplo. O termo pixelizado
refere-se quando esta pequena unidade, o pixel, é ampliado dezenas ou centenas de vezes – como se estivéssemos visualizando diversos pixels
– resultando em uma imagem distorcida.
Design em revista feminina
visuais, possivelmente, a pretensão dessa matéria te-
113
fig. 95
nha sido abster todas essas informações para que o
foco fosse apenas nos cabelos das personagens.
Acreditamos que o pouco uso de fotografias em
preto e branco seja pelo status de arte que este tipo de
imagem ganhou nos últimos tempos. Sobre este aspecto,
Melo (2003) diz que de acordo com a teoria da informação: “o conteúdo de um novo meio é o meio antigo
(no início, o conteúdo da fotografia era a pintura, o do
Matéria sobre cortes de cabelo,
Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008
cinema era o teatro, o da televisão, o rádio, depois cada um deles foi criando sua identidade própria).
E complementa: “quando surge um meio novo, o meio antigo passa a ser considerado artesanato (e
aparentado como arte), enquanto o novo é visto como tecnologia” (Melo, 2003, p. 55, 59).
Manipulação / tratamento de imagens
fig. 96
Como mencionamos anteriormente, as revistas femininas são mestres na arte do Photoshop e dos truques
de maquiagem e produção para mostrar em suas páginas a mulher perfeita. Em Claudia isso não foi diferente, qualquer tipo de “defeito” que a modelo ou famosa
possa apresentar (pintas, sardas, sinais ou rugas de expressão) foram apagados a fim de transmitir à leitora
o estereótipo de beleza pefeita. Em Claudia não hou-
Matéria sobre finanças, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2008
ve a preocupação em mostrar o verdadeiro, o real. Ou
fig. 97
melhor, isto pode contradizer com a missão editorial da revista. Publicar,
por exemplo, gorduras salientes em uma modelo que ilustra uma matéria
sobre tratamentos contra gordura localizada irá contradizer com a proposta da reportagem. As diversas reportagens publicadas mensalmente
sobre técnicas de aperfeiçoamento corporal e rejuvescimento pregam a
conquista da perfeição estética, dessa forma, todo o projeto editorial está
em sintonia com o projeto visual: mulheres perfeitas estampam as pautas
para conquistar a perfeição (corpo/rosto).
Matéria sobre educação, Claudia,
ano 48, no 6, junho de 2009
Entretanto, não é somente para corrigir imperfeições que os softwares de tratamento de
imagem são utilizados. Muitas vezes, eles proporcionam efeitos surpreendentes às imagens
que seriam muito difíceis de serem obtidos apenas com um clique fotográfico. Um desses
efeitos é o contraste de escala como mostram as figuras 96 e 97. O contraste de escala ocorre
114
Design em revista feminina
quando há imagens amplas ao lado de imagens reduzidas, efeito que pode ser conseguido de
duas formas: pela alteração dos tamanhos relativos de duas ou mais imagens; ou através da
comparação de objetos reais diferentes, dentro de uma mesma composição. Dondis (1997)
diz que a distorção da escala “pode chocar o olho ao
fig. 98
manipular a força a proporção dos objetos e contradizer tudo aquilo que, em função da nossa experiência,
esperamos ver” (Dondis, 1997, p. 127).
Embora o contraste possa ser empregado com todos
os elementos básicos (linha, tom, cor, direção, forma,
etc), é com o contraste de escala que ele é mais utilizado. Para Dondis (1997) “o contraste é a ponte entre
Matéria sobre stress, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009
a definição e a compreensão das ideias visuais, não no
sentido verbal da definição, mas no sentido visual de tornar mais visíveis as ideias, imagens e
sensações” (Dondis, 1997, p. 129).
Podemos perceber que algumas imagens com o efeito de contraste de escala, desprendemse do real, como mostra a figura 98. Com isso, despertam a imaginação do leitor e possibilita
a criação de diferentes interpretações. Este
tipo de imagem confirma o pensamento do
fig.99
fotógrafo Silva (2006) que diz que a fotografia é um instrumento capaz de não somente detectar objetos, mas também ativar
nossa habilidade de imaginá-los. “Assim, a
foto pode tanto ser um registro, um retrato
ou um documento, quanto uma ilustração,
uma interpretação ou uma descrição de alguma coisa” (Silva, 2006, p. 1-2).
As fotomontagens presentes em Clau-
Matéria sobre comportamento, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008
fig. 100
dia (fig. 99 e 100) também tiveram a capacidade de suscitar a imaginação do leitor. Geralmente, as fotomontagens ocorrem
com a fusão de duas ou mais imagens. Atualmente, com os ferramentas presentes em
sotwares de manipulação de imagens, como
o Photoshop, possibilitam essas fusões com
facilidade, rapidez, permitindo ao designer
Reportagem sobre atualidades, Claudia, ano 48, no 7, maio de 2009
Design em revista feminina
115
exercer uma liberdade criativa sem precedentes. O designer pode cortar, sobrepor, rotacionar as
imagens ou aplicar diversos efeitos. Nas 21 edições analisadas da revista Claudia o recurso de
fotomontagem foi empregado com bastante frequência.
Homogeneidade visual
Vivemos em uma época de saturação visual. Ao entrarmos em uma banca de revistas nos deparamos com inúmeras publicações diante de nossos olhos, disputando por nossa atenção. Diante
de uma imensidão de imagens e cores que estão ao nosso redor, estamos expostos diariamente
a diversas narrativas visuais, que contribuem para a alfabetização do nosso olhar. Nesse sentido, Abreu diz que por meio das revistas,
nosso olhar também se constrói na medida em que interage com a variedade
de narrativas visuais apresentadas pelas diversas publicações existentes e nos
coloca diante de valores estéticos também variados que nos obriga a estabelecer novas relações e comparações que influenciam nosso forma de ver o mundo
(Abreu, 2009, p. 37).
Atualmente, nosso olhar tem sido alfabetizado de forma homogênea devido à repetição e
massificação de imagens semelhantes, presentes em muitos veículos de comunicação impressa.
Além de repetitivas, vemos, diversas vezes, imagens clichês, ou seja, estereotipadas.
Em Claudia, isto também aconteceu. Mesmo nas imagens produzidas pela editora, alguns assuntos foram ilustrados com representações visuais que caem no lugar-comum. Pudemos observar
o uso de imagens clichês em algumas edições, uma delas é a matéria Questão de pele (julho/08).
A reportagem foi ilustrada com três modelos juntas, cada uma com diferentes traços étnicos, colo
nu, rostos com maquiagem suave (fig. 101) . Este tipo de representação para diferentes etnias é
recorrente em revistas femininas em pautas sobre os diferentes tipos de pele, como pudemos ver
na reportagem sobre maquiagem para os diferentes tons de pele publicada na revista Cabelos &
Cosméticos (fig. 102).
fig. 101
Matéria sobre tratamentos de belza para as diferentes
tonalidades de pele, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008
fig. 102
Matéria sobre maquiagem para diferentes tonalidades de pele,
Cabelos & Cosméticos, ano 5, no 28, junho de 2006
116
Design em revista feminina
fig. 103
fig. 104
Em outras duas matérias sobre pele publicadas em Claudia
(fig 103 e 104), ambas foram ilustradas com a imagem de um bebê,
pois é muito comum a associação
Editorial sobre tratamento para pele,
Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009
Editorial sobre tratamento para pele,
Claudia, ano 42, no 3, março de 2003
fig. 106
fig. 105
entre uma pele bonita com a pele
de um bebê.
O terceiro exemplo traz uma
matéria de Claudia sobre doenças
na tireoide ilustrada com uma imagem de uma modelo com a borboleta no pescoço (fig. 105). Como a
Matéria sobre tireoide, Claudia,
ano 47, no 7, julho de 2009
Matéria sobre tireoide, Plástica & Beleza,
ano 11, no 99, dezembro de 2008
glândula da tireoide tem formato
semelhante à da borboleta é recorrente este tipo de associação,
como vemos na matéria da revista Plástica & Beleza (fig. 106).
Por fim, constatamos em nossa pesquisa a presença de fotografias inspiradas em revistas internacionais, não só de editoriais mas também de imagens publicitárias que, assim como as imagens
clichês, evidenciam a homogeneização visual que ocorre nas imagens da imprensa feminina.
Possivelmente, isto ocorra porque as pessoas que trabalham com revistas femininas costumam
ter acesso a publicações internacionais na busca por atualização sobre o que acontece no mercado
e, com isso, acabam sugerindo pautas e fotos idênticas às que aparecem nestas revistas. Geralmente,
as imagens que surgem nas revistas internacionais irão aparecer tempos depois nas revistas nacionais, em razão da diferença das estações climáticas, como é o caso dos Estados Unidos e Europa.
Em Claudia, muitas ideias de revistas internacionais foram adaptadas, visando facilitar a
viabilização das fotos ou adequação ao projeto gráfico da revista. Claudia, por exemplo, publica
fig. 107
Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 4, dezembro de 2008
fig. 108
Matéria sobre dieta, Allure, ano 47, no 4, abril de 2008
Design em revista feminina
117
na grande maioria das vezes, fotos em estúdio com fundo branco, como mostra a figura 107. Na
foto da revista Allure (fig. 108), onde possivelmente tenha sido inspirada, nota-se o revestimento
do banheiro. Em algumas fotos, vemos que ocorrem certas adaptações mas que não alteram significativamente a imagem. Mesmo com essa pequena alteração de fundo, vimos que a imagem de
Claudia assemelhou-se muito com a foto da revista Allure.
Outra adaptação pode ser notada na figura 109. A reportagem de Claudia trouxe uma raça de
cachorro diferente da imagem “original” publicada na revista Glamour (fig. 110). Apesar da pequena mudança, ficou evidente que se trata de uma cópia da revista em questão. A matéria original
fala de cabelos cacheados, porém serviu perfeitamente para ilustrar a reportagem 36 questões
cabeludas, que tratava de dúvidas sobre cabelos. Talvez, esta adaptação tenha ocorrido porque
esta raça de cachorro com pelos longos não seja tão fácil de encontrar no Brasil.
fig. 109
Matéria sobre Cabelos Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009
fig. 110
Matéria sobre Cabelos, Glamour, maio de 2008
Na figura 111, a modificação foi no figurino da modelo (na foto original a modelo usava um
vestido roxo, fig. 112). Como Claudia quase não empregou cores em seu projeto gráfico, optouse por fazer a modelo nua. Exceto as matérias de moda, as fotos da revista em geral não trazem
modelos vestidas com cores fortes, mas sempre tons neutros ou sem roupa. A semelhança entre as
fotos está na pose, ângulo, atitude do médico, maquiagem e esmaltes escuros e anéis grandes.
fig. 111
Editorial de beleza, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
fig. 112
Reportagem sobre procedimentos injetáveis, Allure, fevereiro de 2008
118
Design em revista feminina
Em algumas composições, constatamos que não houve adaptações ou mudanças, tratam-se
de cópias da matérias publicadas no exterior. Na figura 113 vimos uma reportagem de Glamour
sobre como encontrar nódulos no seio, que foi ilustrada com mãos tocando um seio de plástico.
Na figura 114, da revista Claudia, notou-se exatamente a mesma coisa. O mesmo ocorreu em uma
matéria sobre bases publicada na revista The Oprah Magazine (fig. 115) ilustrada com um rosto
de uma modelo pintado com peças de um quebra-cabeças. Na figura 116, de Claudia, vimos exatamente a mesma imagem, só que um pouco mais aproximada.
fig. 113
Matéria sobre câncer de mama, Glamour, outubro de 2008
fig. 115
Reportagem sobre bases, The Oprah Magazine, setembro de 2007
fig. 114
Matéria sobre câncer de mama, Claudia, ano 47, no 7, janeiro de 2009
fig. 116
Seção fixa Beleza essencial sobre bases (maquiagem),
Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008
Design em revista feminina
119
Em outra reportagem de Claudia vimos a mesma prática de cópia, entretanto com a tradução para a língua portuguesa. A reportagem sobre proteção solar (fig. 117) trouxe a frase Eu
amo o sol nas costas de uma modelo na praia. A mesma frase (só que em inglês) em imagem
semelhante esteve presente na revista Self (fig. 118). A única diferença que reside entre as duas
fotos é, obviamente, a língua e que, a imagem de Claudia tratou-se de uma fotomontagem,
na qual uma praia foi aplicada no fundo. As sombras e luzes artificiais na imagem denotam a
manipulação. Na foto de referência, a imagem da revista Self dá todos os indícios de ter sido
realmente fotografada na praia, pois uma característica marcante de seu projeto gráfico é,
justamente, a produção quase que absoluta de fotos em locações externas, com a presença de
iluminação natural onde apareceram, muitas vezes, elementos naturais, como areia, vegetação,
vento, mar, rio, etc. Possivelmente, esta mudança tenha ocorrido para facilitar a produção da
imagem. Uma foto na praia necessita mobilizar uma equipe de profissionais até o litoral, o que
gera gastos muito maiores do que uma foto em estúdio.
Por fim, notamos que algumas imagens presentes em Claudia não foram apenas inspiradas em editoriais de revistas internacionais, mas também, em imagens de anúncios publicitários. Este tipo de imagem (a publicitária) é largamente disseminada em diversos veículos de
comunicação, o que provoca a sensação de déjà vu. A foto da propaganda de máscara para
cílios de Nivea Beauté (fig. 119)
serviu de inspiração para a ima-
fig. 117
fig. 118
gem da matéria sobre previsões
astrológicas (fig. 120). Embora
sejam propostas totalmente distinas, as duas fotos mostram o
rosto escondido com um baralho
aberto, evidenciando os olhos
destacados com maquiagem.
Portanto, diante dos exem-
Matéria sobre proteção solar,
Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008
fig. 119
Matéria sobre proteção solar,
Self, julho de 2007
fig. 120
plos apresentados e muitos outros que encontramos mas não
incluímos para evitar repetições,
podemos dizer que a homogeneização das imagens da imprensa
feminina acontece em nível global, quebrando fronteiras regionais e culturais.
Propaganda da Nivea de
máscara para cílios,
Votre Beauté, abril de 2008
Reportagem de previsões astrológicas,
Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008
120
Design em revista feminina
3.5.2.5 Ritmo e Sequenciamento
O sequenciamento do conteúdo editorial de Claudia assemelhou-se ao espelho do tipo “miolo nobre” apresentado por Ali (2009) no item 2.2.2.5. Este tipo
fig. 122
conteúdo editorial
Sumário 1
Sumário 2
Eu e você
de espelho inicia-se com as seções e reportagens mais curtas e segue num
Claudia Online
ritmo crescente com as matérias cada vez mais longas.
Expediente
A revista Claudia iniciou o posicionamento de seu conteúdo com as seções
padrões de uma revista (sumário, carta do editor, carta dos leitores, expediente, etc) e, logo após 10 seções, apresentou sua primeira reportagem, a Estrela
da capa, entretanto, espelhada com anúncios (fig. 122). A matéria de capa
variou entre 4 ou 5 páginas, na qual a abertura aparece em página dupla e o
Sua opinião
Horóscopo
Conversa com Danuza
Conexão Claudia 1
Conexão Claudia 2
Matéria de capa
Entrevista
Matéria de atualidades
restante, sempre em páginas simples (à esquerda ao lado de anúncios, como
Básicos de Claudia
mostra a simulação resumida do espelho), (fig. 123).
Look total até R$ 280
As duas reportagens seguintes, entrevista e uma matéria de atualidades,
também são posicionadas da mesma maneira: abertura em página dupla e o
fig. 121
restante em páginas simples espelhadas
com anúncios. O posicionamento de reportagens em páginas simples, ao lado
Desfile de moda e beleza
Beleza essencial
Fique mais bonita
Balcão de beleza
Nutrição iteligente
A sua saúde
Dinheiro agora
de anúncios, fez com que o conteúdo
Os livros que a gente ama
editorial recebesse interferência visu-
Coisa de Criança
al dos anúncios. Para White (2006) isto
ocorre porque a página de uma revista
não é uma unidade isolada em si, e sim,
página dupla, que não dá para separar.
Para o autor, mesmo que a página da di-
Turma teen
Dilema de mãe
Amigo bicho
O que eu faço agora?
Atualidades
Atualidades 2
Claudia educar para crescer
Relacionamento
reita seja um anúncio, ele irá interferir no
Comportamento
visual da página da esquerda (um edito-
Atualidades
rial) e vice-versa, como podemos observar na fig. 121. Nesta matéria, na segunda página dupla, vemos que o excesso
de imagens, diversas fotos da modelo e
dos óculos, juntamente com as imagens
anúncio, deixou a página dupla, muito
poluída. Na última sequência, como o
anúncio não traz imagens e pouco texto,
Editorial de óculos, Claudia, ano 47, no 12,
novembro de 2008
Supertendência
a interferência visual foi bem menor.
Moda
Beleza
Perfil masculino
Sexo
Diversos
Saúde
Decoração
Onde encontrar
Página da vida
seção
r e p o rtag em
Sequência do conteúdo
editorial de Claudia
Design em revista feminina
121
fig. 123
anúncio
seção
anúncio
seção
anúncio
seção
anúncio
seção
anúncio
anúncio
seção
anúncio
ma t é r i a
d e capa
matér i a
d e capa
(co n t.)
anúncio
en t r e v i s ta
e n t r ev i s ta
(co n t.)
anúncio
ma t é r i a
a t ua l i d a d e s
matér i a
at ua lida d es
(co n t.)
anúncio
seção
seção
anúncio
seção
anúncio
seção
anúncio
anúncio
seção
anúncio
matéria
anúncio
matéria
anúncio
co mp o rtam e n to
cpto.
(cont.)
anúncio
moda
beleza
perfil
mascu l i n o
perfil
masculino
(cont.)
anúncio
relacionamento
filhos
anúncio
anúncio
r e p o rtag em
Simulação resumida do espelho de Claudia.
anúncio
decoração
seção
seção
anúncio
122
Design em revista feminina
Esta interferência ocorreu tanto nas reportagens espelhadas com anúncios, como nas seções
de uma página, sempre posicionadas nas páginas pares ao lado de anúncios.
Após o posicionamento de três reportagens “quebradas” com anúncios, seguiu o restante das
seções, sempre nas páginas pares. Na visão de White (2006), uma revista é um meio que aplica um
leiaute após o outro, o que faz com os efeitos se acumulem sinergicamente num todo que se torna
maior e mais poderoso que a soma de suas partes. Por isso, Claudia posicionou o mesmo tipo de
conteúdo (seções), um após o outro e sempre nas páginas pares para criar familiaridade e ritmo a
cada “virada” de página. O autor complementa que “o espaço não é estático, mas cinético, plástico,
fluente, corre da esquerda para a direita e depois para a página seguinte” (White, 2006, p. 15).
O mesmo ocorreu com as reportagens. Após a aplicação de todas as seções, iniciou-se o
posicionamento das matérias, uma na sequência da outra, sem quebras, para firmar a relação de
continuidade de espaço/tempo. Algumas reportagens terminaram na página da esquerda e receberam um anúncio ao seu lado, entretanto, o ritmo não foi quebrado, pois tratava-se da página
final da reportagem. Diferente do que acontece com aquelas reportagens que foram posicionadas
no início da revista que foram quebradas ao meio com anúncios. As matérias mais visuais, como
a de moda, beleza e decoração, nunca foram espelhadas com anúncios.
Outro aspecto referente ao ritmo de uma publicação é que a posição dos elementos na página
pode interferir nesse processo, positiva ou negativamente. Na figura 124, vemos que o título e
lead da reportagem foi posicionado após o conteúdo da matéria, o que pode confundir o leitor
sobre onde inicia o texto. A navegação da página ficou comprometida, pois geralmente lê-se primeiro o título e o lead e só depois seu respectivo texto. Neste leiaute, vimos que o texto prevalece
sobre a foto, o título e lead da matéria só aparecem no final do percurso dos olhos.
O leitor também pode estranhar esta página, porque a diagramação apresentada difere totalmente dos leiautes presentes em toda a revista. Para White (2006) as páginas duplas são “eventos
que ocorrem na sequência. Não existem isoladas e independentemente, mas apenas no contexto do grupo. Leva tempo para percebê-las,
uma após a outra – seja de frente pra trás,
fig. 124
seja de trás para diante”. Os leitores quando
veem uma página, “lembram do que acabaram de ver (ou, pelo menos, são influenciados por isso)” (White, 2006, p. 34).
Com a memorização de leiautes semelhantes, o ritmo foi quebrado com a presença de uma reportagem diferente das
demais e de difícil navegabilidade.
Matéria sobre cabelos, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
Design em revista feminina
123
3.5.3 Análise do projeto gráfico de Claudia
Neste tópico entraremos em profundidade como se configura o projeto gráfico da revista Claudia
nas 21 edições analisadas. Para compreender e apresentar como foram solucionadas as questões
relativas ao design editorial, foi necessário relatar a proposta editorial de cada seção, editoria de
reportagem, bem como das capas. Dessa forma, foi possível verificar qual a visualidade conferida
a cada conteúdo editorial, de acordo com suas necessidades específicas. Como o projeto gráfico de
uma publicação confere uma forma visual a cada conteúdo editorial assim como é o grande responsável por trazer identidade à revista, observamos como Claudia manisfesta sua personalidade
por meio de seu projeto gráfico.
3.5.3.1 A proposta editorial e o projeto gráfico das reportagens
Conforme apresentamos no item 3.2 – a fórmula editorial de Claudia – são diversas as editorias
presentes na revista. A seguir, apresentaremos quais são as editorias de reportagens existentes em
Claudia e sobre o que aborda cada uma delas. Vale relembrar que na fórmula editorial de Claudia,
o cárater de aconselhamento esteve sempre presente, pretendendo ser útil para a leitora em diversas situações do seu dia a dia.
No item 3.5.1, relatamos como se configuram as questões visuais no que diz respeito à
tipografia, grade, imagens, diagramação, ritmo e sequenciamento da revista Claudia, no que se
refere ao todo da publicação. Neste tópico, entramos em detalhes, editoria por editoria, como é o
design das reportagens e, muitas vezes, permeando as mesmas questões visuais mencionadas.
Em nossa análise pudemos notar a presença de diversos templates pré-estabelecidos, um
para cada editoria, o que torna o projeto gráfico das matérias rígido e totalmente previsível.
Mensalmente, são apresentados leiautes muito semelhantes, o que faz com que o leitor não
se surpreenda com uma nova edição. Como a maioria de leitores de Claudia são assinantes
(74%), um projeto gráfico mais diversificado contribuiria para cativar ainda mais seu leitor e,
consequentemente, oferecer um produto de melhor qualidade.
A seguir, veremos como é o design de cada reportagem de Claudia, inicialmente apresentando
sua proposta editorial e depois seu projeto gráfico.
Matéria de capa
Desde seu surgimento na década de 60, Claudia trazia, eventualmente, capas com mulheres famosas, contudo, somente a partir de meados de 2003, as capas com celebridades em voga na mídia
tornaram-se padrão fixo, repetindo-se todos os meses. Quase sempre atrizes, cantoras, apresentadoras de TV ou modelos famosas, e a reportagem de capa contando sua trajetória profissional, detalhes de sua vida pessoal e seu ritual de beleza, dieta e exercícios. O propósito dessa reportagem
124
Design em revista feminina
é transmitir para a leitora a imagem de uma mulher para ser admirada ou até mesmo, invejada.
Pretende-se que esta celebridade seja um exemplo a ser seguido, consequentemente, fomentar
o consumo de seus produtos de beleza, roupas e acessórios. Também através dessa reportagem,
prega-se o estereótipo de felicidade plena, pois todas essas mulheres mostraram-se realizadas,
felizes e bem-sucedidas no amor e no trabalho. Subliminarmente quer dizer: assim como ela (a
famosa), você também pode alcançar o sucesso.
Para transmitir a ideia de mulher plenamente realizada, geralmente, elas aparecem nas fotos
sorrindo e, em poses que sugerem um ação. Para conferir movimento às imagens, é usado ventiladores ou secadores de cabelo para fazer “voar” o cabelo e detalhes da roupa.
Em diversas edições, as mulheres apareceram com vestidos longos, de tecidos leves e, às vezes,
descalças, o que parece querer transmitir a ideia de uma beleza natural, espontânea e despretensiosa, o que é um contrassenso, pois elas estão muito ma-
fig. 125
quiadas e em vestidos requintados.
A reportagem de capa, muitas vezes, se apresentou em
quatro ou cinco páginas, iniciando em página dupla e o restante, em páginas simples, espelhadas com anúncios. A página de abertura foi a única explorada visualmente, pois as
demais como vieram acompanhada de anúncios, trouxeram
Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008
apenas o texto e foto bem reduzida da famosa.
A maioria das fotos foi tirada em estúdio, nas 21 edições
analisadas foram encontradas apenas duas ocorrências de fotos em locação: com a atriz Letícia Sabatella, em março de 2008 (fig. 125) e em junho de 2009 com a atriz Tânia Khallil em sua residência. Essas fotos se diferenciaram, pois mostraram a ambientação do local e iluminação natural.
De forma geral, foram estabelecidos dois padrões de leiautes para a página de abertura: uma
foto horizontal da famosa, preenchendo toda a página dupla, na maioria das vezes, com a mulher
deitada em um puff, sofá ou no chão do estúdio (fig. 126); na outra opção foram aplicadas duas
fig. 126
Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009
fig. 127
Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009
Design em revista feminina
ou três imagens verticais da famosa em pé, apare-
125
fig. 128
cendo o corpo inteiro (fig. 127).
Também foram vistos em duas edições, fotos
verticais aplicadas horizontalmente (fig. 128). Na
visão de White (2006) este tipo de posicionamento
surpreende o leitor, pois é necessário virar a revista
para observar a foto. “Uma característica potencialmente útil, raramente usada porque se acredita
que ao girar a página pode ser uma chateação”
(White, 2006, p. 23).
Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008
fig. 129
Outro exemplo de composição visual que tenta expressar movimento através de uma sequência
de imagens foi visto na edição de julho de 2008,
com a atriz Cléo Pires (fig. 129). Excepcionalmente, nesta edição, vimos uma proposta diferente das
demais: uma foto grande closada de Cléo Pires e,
na página ao lado, várias fotos menores da atriz
fazendo diferentes expressões faciais, como se fosse uma sequência de um filme.
Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008
fig. 130
Outra proposta que saiu dos padrões foi vista
nas edições de setembro e dezembro de 2008. Em
vez de fotos produzidas em estúdio, com produção
de cabelo, maquiagem e figurino, entre outros recursos, as imagens foram de bastidores24 do trabalho da atriz Grazi Massafera (fig. 130) e da apresentadora Ana Hickman. A reportagem de capa foi
ilustrada com diversas fotos de bastidores e aplicadas pequenas ao longo de toda a página dupla.
Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008
Esse tipo de foto remete à fotojornalística, pois pretende-se narrar por meio das imagens como é a
rotina de trabalho da famosa. Nas páginas seguintes da matéria de capa, foram aplicadas fotos de
trabalhos anteriores dessas duas mulheres.
Da atriz Grazi Massafera, as fotos retrataram a rotina de gravação da novela em que a atriz
atuava (Negócio da China, Rede Globo) e de Ana Hickman, os bastidores do programa que apre24 Fotos de bastidores (ou de making of): são fotos onde apareceram os bastidores do um ensaio fotográfico ou de uma gravação televisiva/cinematográfica. Geralmente, alguns objetos próprios desses cenários (câmeras fotográficas, holofotes, microfones, cabos, etc) aparecem nas fotos.
Estas fotos se assemelham com as fotojornalísticas, pois dificilmente são posadas.
126
Design em revista feminina
fig. 131
sentava (Hoje em dia, Rede Record). A ideia deste
tipo de reportagem é mostrar o cotidiano e as particularidades das famosas, trazendo um pouco da
sua realidade até a leitora. No editorial com Grazi, por exemplo, uma foto em destaque mostrou a
atriz chegando à Rede Globo com joelheira e um
texto, que relatava como ela havia se machucado.
Dentre os padrões corriqueiros de reportagem
de capa, houve outra proposta editorial e gráfica
apresentada de forma inusitada: matéria de capa
no formato de um editorial de moda. Em agosto de
2009, a jornalista e apresentadora Patrícia Poeta
(fig. 131) mostra 5 diferentes visuais para diversas
ocasiões. Esta versão de reportagem de capa ficou
mais bem explorada visualmente com o uso de
mais fotos em tamanho maior, não ficando limita-
Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009
da apenas à primeira página dupla. Um breve texto
na primeira página dupla contava a trajetória da jornalista e, no restante da matéria, fotos em
páginas inteiras com as legendas das peças, e um texto sobre por que aquele tipo de roupa é adequada para aquela situação, a maquiagem ideal e uma aspa sobre a opinião da apresentadora.
Este tipo de matéria não foi pioneira, em anos anteriores (setembro e dezembro de 2006, fevereiro/2007), reportagens de capa em formato de editorial de moda também foram vistas.
Vale colocar também que sempre na edição de maio, mês em que se comemora o Dia das
mães, Claudia saiu de seu padrão habitual e publicou uma famosa com seu filho(a) ou sua família. Em 2009, Angélica apareceu ao lado seu marido, Luciano Huck, e de seus dois filhos Joaquim
fig. 132
Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008
fig. 133
Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
Design em revista feminina
e Benício (fig. 133). Em maio de 2008,
127
fig. 134
Giovana Antonelli fotografou em estúdio com seu filho Pietro (fig. 132).
Em anos anteriores, sempre em maio,
Claudia colocou mãe e filho não só na
matéria, mas também, na capa: Carolina
Dieckmann e Davi (2007), Isabeli Fontana
e Zion (2004) e Priscila Borgonovi e João
(2003). Este tipo de reportagem vai ao
encontro da proposta editorial de Claudia, pois a revista tem grande parte de
Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 3, abril de 2008
seu conteúdo voltado para temas relacionados à familia.
Outra possibilidade apresentada foi a utilização de fotos de empresas de banco de imagem, não produzidas pela equipe de Claudia, para ilustrar a capa e a reportagem de capa. Isto aconteceu quando a modelo Gisele Bündchen estampou as capas de março de 2009 e abril de 2008. Embora esse tipo de imagem
imponha limites à revista por não poder adequar as fotos a seu projeto gráfico e editorial, neste caso, foi
um ponto positivo, pois justamente proporcionou uma visualidade diferente, inusitada e surpreendente.
Em uma das edições, por exemplo, Gisele apareceu com um vestido feito de fotos polaroides25 da própria
modelo, grampeadas umas às outras (fig. 134). Esta foto foi publicada inicialmente na revista Esquire.
Beleza e saúde
A editoria de beleza e saúde é hoje uma das principais da revista, pois recebe mais destaque do que
outros temas nas chamadas de capa, além disso, possui a maior quantidade de matérias e seções.
Nas 21 edições analisadas, 13 foram as edições onde beleza ocupou o lugar de chamada principal.
Na visão do filósofo Lipovetsky, as revistas femininas são as grandes responsáveis pela difusão
das técnicas de embelezamento físico, como conta:
a partir do século XX, são as revistas femininas que se tornam os vetores principais
da difusão social das técnicas estéticas. Vemos multiplicar-se as recomendações
relativas à aparência física: as revistas prescrevem às mulheres fazer ginástica todas as manhãs, tomar refeições leves para se manterem esbeltas, utilizar óleos
solares para bronzear, maquiar os olhos e os lábios, depilar as sobrancelhas, passar
esmalte nas unhas das mãos e dos pés” (Lipovetsky (2000, p. 155,157).
Como as revistas femininas estão inseridas em um contexto social – que recebem influências
culturais e comportamentais – não só refletem mas também se tornam agentes dos movimentos
25 Foto polaroide: foto tirada em máquina instantânea. Recebe este nome porque a primeira câmera deste tipo foi inventada pela Polaroid Corporation, em 1948. Antes da expansão das câmeras digitais eram utilizadas por fotógrafos para verificar a luz, antes de iniciar o ensaio fotográfico.
128
Design em revista feminina
que acontecem na sociedade. E um desses movimentos que observamos e que ganhou força em
Claudia foi a estética da magreza e a busca por rejuvenescimento. Lipovetsky (2000) conta que
“as revistas femininas estão cada vez mais invadidas por guias de emagrecimento, por artigos que
expõem os benefícios de uma alimentação equilibrada, receitas light e exercícios para manter e
fig. 135
modelar o corpo” (Lipovetsky, 2000, p. 131).
Na análise das 21 edições de Claudia, pudemos constatar que o projeto editorial de Claudia
entrou na era da anti-idade e do antipeso através de chamadas de capa como:
• Ame seu corpo: técnicas e truques para endurecer a barriga, firmar o bumbum, modelar as
pernas e ter seios lindos (junho/2008);
• Revolução de verão: plano de alimentação
e exercícios para diminuir dois tamanhos até o
fim do ano, a dieta que derrete a barriga, como
romper o ciclo da gordura, meça seu QI de nutrição, as novas superfrutas (setembro/2008);
• Missão anti-idade: a redação testa os últimos lançamentos e analisa textura, aroma, ab-
Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008
sorção e efeito; O que a ciência prevê para retardar o envelhecimento (junho/2009);
• Viciadas em cremes revelam quais os seus produtos preferidos (junho/2009).
Outro tema frequente em Claudia foram as matérias sobre cabelos, que predominaram em
muitas chamadas de capa. Dentro da editoria de beleza e saúde houve quatro temas principais
que permearam todas as reportagens: corpo (tratamentos estéticos, cosméticos, cirurgia plástica,
dietas de emagrecimento, exercícios); rosto (tratamentos, cirurgia plástica e cosméticos); cabelo
(cortes, coloração, penteados) e maquiagem (looks, produtos e tendências).
Nas edições analisadas notamos que as matérias de beleza trouxeram fórmulas prontas, tanto de
edição de texto como de leiaute. Havia, basicamente, cinco diferentes tipos de matérias de beleza /
fig. 136
Editorial de beleza, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
Design em revista feminina
saúde vistos nas edições analisadas, foram eles:
129
fig. 137
1) Em seis páginas, as reportagens de beleza foram
ilustradas com fotos em página inteira, geralmente à direita e com texto em blocos (cada um com um tratamento
específico) ou em formato de pergunta e resposta. Dentre
às 21 edições analisadas, em 12 estiveram presentes este
tipo de diagramação, em 10 o texto apareceu em blocos
(fig. 135) e, em 2 edições (maio e fevereiro/2009) em formato de pergunta e resposta. A diferenciação foi que, em
algumas matérias, a abertura da reportagem, vinha com a
foto em página dupla. Em uma das edições maio/2009, em
formato de pergunta e resposta, foram aplicadas também
fotos de still26 de produtos no meio do texto (fig. 136).
Neste tipo de reportagem os assuntos abordados foram
bem diversificados, sempre visando o embelezamento corporal, seja do rosto ou do corpo, através de tratamentos,
técnicas cirúrgias, maquiagem, dicas de cabelo, etc.
2) Também em seis páginas, o outro padrão adotado de
edição de texto e de leiaute são as matérias do tipo textolegenda. Este formato ocorre quando o editorial apresenta
texto curto, geralmente sobre a foto que se refere. Neste
caso, a ênfase é dada para as imagens, o que torna a matéria
Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 2,
fevereiro de 2008
fig. 138
mais visual do que textual. Podemos ver na figura 137, que
neste formato de reportagem, o texto referente a cada foto
aparece em cima de cada imagem, também aplicadas sangradas em página inteira. Este padrão esteve presente em
seis, das 21 edições analisadas dos anos de 2008 e 2009.
Uma variação deste formato (texto-legenda) foi a
aplicação de imagens de still de produtos de beleza, como
mostra a figura 138. As fotos dos produtos também complementam as informações contida no texto. Neste caso,
foram vistas apenas em uma edição (agosto de 2008),
quando as fotos foram posicionadas em 1 página e 1/3, ao
lado das dos produtos.
26 Still: foto de produtos, geralmente sem fundo (ou recortado).
Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008
130
Design em revista feminina
3) Outro formato de reportagem de beleza foram as matérias do tipo “programa de verão”.
Sempre publicadas em setembro, esta matéria de 16 páginas abordou, em cada página dupla,
uma região do corpo ou um tema diferente (fitness, nutrição, dieta, cosméticos e tratamentos
estéticos), porém todos os assuntos visaram o mesmo objetivo: conquistar um corpo perfeito
para o próximo verão. Tanto na edição de 2008 (fig. 139) como na de 2009 (fig. 140), a página de
abertura trouxe apenas uma foto e o lead da matéria e, no decorrer da matéria, várias imagens
sangradas em página inteira ao lado do texto. Nos dois casos, as reportagens ficaram bem visuais
com a exploração da fotos em tamanho grande e em páginas inteiras. O texto das reportagens se
apresentou de forma diferente, em 2008, e houve tabelas de dieta, em 2009. O texto seguiu em
blocos, cada um descrevendo um tratamento estético específico para aquela região do corpo.
fig. 139
Programa de Verão, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2008.
fig. 140
Programa de Verão, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009.
Design em revista feminina
fig. 141
Reportagem destinada a diversas faixas etárias,
Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008.
131
fig. 142
Reportagem destinada a diversas faixas etárias,
Claudia, ano 47, no 8, março de 2009.
4) Outra reportagem de beleza com formato característico são aquelas destinadas a mulheres
de todas as faixas etárias (20, 30, 40, 50, etc). Este tipo de reportagem foi visto em duas edições:
em agosto/2008 sobre como ter mais energia e disposição (fig. 141) e, em março/2009, em o guia
de nutrição (fig. 142). Neste tipo de reportagem, quatro diferentes mulheres ilustraram cada faixa
etária, cada uma aparentando ter a idade referida no texto. Nas
duas edições, quatro páginas foram dedicadas para cada faixa etá-
fig. 143
ria, com isso, pode-se explorar imagens em tamanho grande, bem
como fotos de still que ilustravam informações descritas no texto.
Reportagens deste tipo também apareceram na editoria de moda,
como mencionaremos adiante.
5) O último formato de reportagem de beleza abordaram as
tendências em cabelo e maquiagem da próxima estação (primavera/verão ou outono/inverno). A matéria apresentou os looks dos
desfiles de moda nacionais e internacionais como mostra a figura 143. Publicadas duas vezes por ano, geralmente, trazem uma
quantidade maior de fotos para mostrar à leitora o maior número
possível de visuais. Em cada página dupla, uma imagem recebeu
maior destaque, seguida de fotos menores e de textos curtos.
Editorial de beleza, Claudia,
ano 47, no 5, maio de 2008.
132
Design em revista feminina
Portanto, notou-se que os tipos de matérias de beleza mencionados, obedecem claramente
templates pré-estabelecidos. Zappaterra (2007) conta que para jornais e revistas, templates flexíveis
aceleram o processo de criação e produção de leiautes e dão às páginas um design coeso e global
que pode ser perdido nos dias frenéticos de fechamento27. Para a autora, os páginas templates podem simplificar, mas também restringir em termos de design. Dessa forma é preciso ficar atento para
que as páginas não se pareçam muito semelhantes, edição após edição, como ocorreu em Claudia.
Moda
Os editoriais de moda (fig. 144) foram dispostos em dez páginas e é a matéria que possui o maior
número de páginas na revista, isto porque este tipo de matéria necessita de uma mais páginas para
expor o maior número de peças e acessórios de vestuário. E, para aumentar ainda mais as sugestões
de peças para o leitor, no final da matéria, uma página dupla dispõe outras opções de peças de vestuário e acessórios, para cada foto apresentada na matéria. As roupas que apareceram nesta última
página dupla, chamada de Pesquisa de mercado, tiveram preços mais módicos se comparados com
as peças das imagens principais. Uma frase ao lado da retranca explicava o propósito dessa página
dupla final: selecionamos peças de nossa reportagem de moda e procuramos versões em várias faixas de preço para você escolher as que caibam no seu orçamento. Noris Martinelli.
fig. 144
Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009
27 Fechamento: no ramo editorial é o período que antecede o envio dos arquivos para a impressão. É associado como um período de intensa
correria para o cumprimentos dos prazos.
Design em revista feminina
133
Claudia, por não ser uma revista especializada em moda, trouxe pautas bem diversificadas,
a fim de agradar um grande número de leitoras: Para mulheres gordinhas, Quatro diferentes estilos de corpo, Jeans para mulheres de verdade e Respostas para suas dúvidas de moda são alguns
exemplos de pautas mais democráticas e que tentam se aproximar da realidade da leitora.
De acordo com Morin (1997), os editoriais de moda são um instrumento de democratização
que permite ao público imitar a elite e coloca-se a serviço da aderência identificativa da seguinte
forma: fotografias dos modelos de alta costura, conselhos práticos para adaptar a moda corrente, as
toilettes dos anos anteriores, receitas para adaptar a confecção ao estilo da alta costura, etc... Identificamos em Claudia os tipos de abordagens descritas por Morin (1997) nas chamadas de capa:
-Moda. Babados, transparência, longuete... Nossa editora tira suas dúvidas (setembro/2008);
-As tendências dos desfiles em moda, cabelo e maquiagem escolhidas por nossas editoras (março/2009);
-Moda. A fenomenal jaqueta fashion de 159 reais e outras peças que são verdadeiros curingas
para a crise (maio/2009).
Pudemos ver por meio dessas chamadas, o caráter de aconselhamento a fim de adaptar o que foi
apresentado nos desfiles, ao dia a dia da leitora. Também confirmando o pensamento de querer imitar ou referenciar o estilo proposto pela alta-costura, algumas destas reportagens apresentaram
imagens de desfiles de grifes internacionais. Morin (1997) esclarece que moda exerce um poder de
atração nas pessoas por duas razões: “a necessidade de mudança em si mesma da lassidão do já
visto e da atração do novo” e “o desejo de originalidade pessoal por meio da afirmação dos sinais
que identificam os pertencentes à elite” (Morin, 1997, p. 142).
A proposta gráfica dos editoriais de moda não variou substancialmente de uma edição para
outra. O leiaute das matérias foi, frequentemente, o mesmo: título, lead, legendas e fotos sangradas. Em cada foto, um subtítulo antecede o pequeno texto-legenda que discorre sobre a peça,
seu tecido e maneiras de usar. Nas 21 edições analisadas, houve apenas dois editoriais que foram
fotografados em locações externas, o restante foram todos em estúdio.
Em Claudia, assim como na maioria dos editoriais de moda de outras revistas, cada foto foi aplicada sangrada em página inteira ou em toda a página dupla, recurso que na visão de Bhaskaran (2006)
tem “um efeito poderoso, embora nem todos os designers têm o luxo de tanto espaço ou budget para
aplicar imagens sangradas por toda a publicação” (Bhaskaran, 2006, p. 75). Em raras edições, vimos
fotos ladeadas de margens brancas e, também fora do padrão, mais de uma foto na mesma página.
Na última página dupla, o Pesquisa de mercado, o leiaute diferiu-se do restante das páginas.
Lado a lado na parte superior, apareceram as imagens que foram aplicadas na matéria e, embaixo,
as fotos de still de peças semelhantes e /ou equivalentes. Vale lembrar que as fotos destas peças
foram fotografadas no manequim (posteriormente apagado no Photoshop), pois reproduz com
mais fidelidade o caimento das roupas no corpo.
134
Design em revista feminina
fig. 145
Editorial de moda para diferentes faixas etárias, Claudia, ano 47, no 11, outubro de 2008
Em duas edições, a matéria de moda foi apresentada no formato “para cada faixa etária”
como ocorre nos editoriais de beleza. Na reportagem deste tipo publicada em 2008 (fig. 145), uma
mulher famosa, que já foi capa de Claudia, ilustrou cada faixa etária. Nas páginas à direita, apareceram fotos da famosa publicadas anteriormente, bem como sua respectiva capa. Nas páginas
à esquerda, segue a foto atual produzida para este ensaio com a mulher vestindo a sugestão de roupa. Para
fig. 146
mostrar um maior número de visuais em cada faixa
etária, as páginas dupla seguintes traziam mais duas
fotos, cada uma sangrada em uma página.
A outra reportagem desse formato foi publicada em
agosto de 2009 (fig. 146). Em apenas quatro páginas, a
reportagem mostrava peças para as seguintes faixas etárias: 20, 30, 40, 50, 60 e 70. O espaço destinado para cada
idade foi de apenas meia página que vinha acompanhado
de duas fotos de desfiles e diversas fotos de peças de vestuário e acessório. Devido ao espaço reduzido para cada
idade e o excesso de imagens, resultou em uma reportagem visualmente poluída, principalmente na segunda página dupla, que foi visto um número de fotos maior ainda.
Matéria de moda para cada faixa etária,
Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009
Design em revista feminina
135
Atualidades e gente
Outra editoria presente em Claudia foi a Atualidades e gente, abrigando as matérias de cunho
social, reportagens sobre acontecimentos recentes, discussões sobre temas em voga no momento,
entrevistas com personalidades em destaque na atualidade e histórias de vida de pessoas.
As revistas femininas, em sua grande maioria, bem como Claudia, não têm como foco principal
abordagens de temas atuais, polêmicos ou de fatos recentes. Geralmente, direcionam grande parte
de seu contéudo para os temas mais relacionados ao universo feminino como moda e beleza.
Buitoni (20009) comenta que “atualidade e imprensa feminina não mantém laços muito estreitos. As revistas femininas costumam publicar matérias como maquilagem de inverno, culinária
de verão e assim por diante”. Entretanto, a autora considera que são ligações temporais fracas,
pois um suco que pode ser tomado em um verão pode ser republicado anos depois. As pessoas
famosas que ocupam a maioria das páginas de “realidade” também atingiram uma certa atemporalidade, pois um perfil de um ator também pode ser publicado num mês ou no próximo. “Mesmo
quando tratam de realidade, a indeterminação temporal é muito grande” (Buitoni, 2009, p. 25).
Claudia a fim de quebrar este estigma, trouxe atualidade à revista por meio de reportagens com
pessoas, temas em discussão no momento e na seção Conexão Claudia. As reportagens de atualidades podem trazer temas polêmicos, intelectualizantes ou que requerem da mulher uma reflexão,
como mostrou algumas delas:
• O Brasil precisa de você, mulheres na política (se-
fig. 147
tembro/2008);
• Mulher invisível, mulheres negras falam sobre preconceito racial (outubro/2008);
• Não se engane: álcool, fumo e remédios são drogas,
malefícios dessas substâncias (março/2008);
• Descriminalização da maconha (fevereiro/2008), fig. 144;
• Os 100 anos da imigração japonesa (março/2008);
• O mapa do aborto (junho/2008), etc.
Reportagem sobre a descriminalização da maconha,
Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008
fig. 148
As matérias fixas sobre gente também trouxeram um
pouco de atualidade à revista, pois relataram os trabalhos
atuais ou passados dos entrevistados, fazendo uma pequena
conexão temporal. As reportagens de gente fixas foram:
• Claudia Entrevista (fig. 145): entrevista com uma personalidade em destaque das mais diversas áreas (políticos,
artistas, escritores, terapeutas, ativistas, professores) com
texto editado sempre em formato de pergunta e resposta;
Entrevista com Inês Alberti, diretora executiva do Unifem (Fundo de desenvolvimento das Nações Unidas para
a Mulher), Claudia, ano 49, no 5, maio de 2009
136
Design em revista feminina
fig. 149
• Perfil Masculino (fig. 149): narrou a trajetória e
particularidades de um ator (nacional ou internacional), excepcionalmente na edição de maio de 2008,
uma atriz (Salma Hayek) foi publicada. A forma de
edição desta matéria variou bastante: pergunta e
resposta, texto corrido, texto em blocos, etc;
• Mulheres a frente de seu tempo (fig. 150):
contava a história de vida de uma mulher reconhecida por seu trabalho social, militância política ou
Perfil com o ator Dan Stulbach,
Claudia, ano 48, no 3, março de 2008
fig. 150
engajada em causas sociais. Na figura 150 vemos a
reportagem sobre a história da modelo e fotógrafa
de guerra Lee Miller.
O leiaute das reportagens fixas da editoria
Gente não variou muito de uma edição para outra.
Em Entrevista do mês, a página que apareceu fotos
grandes, foram apenas as de abertura, com a foto do
entrevistado em página inteira, em página dupla ou
Reportagem sobre a história de vida da fotógrafa
Lee Miller, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009
uma em cada página. Na página seguinte, por serem páginas simples espelhadas com anúncios,
apareceram apenas o texto e uma aspas do entrevista. O mesmo acontece com o perfil masculino (fig. 149). A página dupla de abertura foi explorada
fig. 151
visualmente, e o restante seguiu apenas o texto, uma
imagem bem pequena do entrevistado e uma aspa em
vermelho. O perfil masculino pode ter fotos produzidas
pela editora ou compradas de empresas de bancos de
imagem, nos casos de atores internacionais.
A diagramação das matérias sazonais de atualidades variaram muito de acordo com a pauta, entretanto,
independentemente do tema, essas matérias apresentaram, em geral, a seguinte visualidade: imagem explorada
maior na página dupla de abertura e o restante, texto e
imagens reduzidas. Como mostrado no item ritmo e sequenciamento (3.5.2.5), estas matérias apareceram logo
no início da revistas, sempre espelhadas com anúncios.
Outra reportagem que aparece sazonalmente e, que
Matéria de turismo, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2009
no sumário pode vir dentro desta editoria, são as matérias
Design em revista feminina
137
de turismo, publicadas apenas próximo às férias de julho e de final de ano (fig. 147). Visualmente
agradáveis, as reportagens exploram belas imagens dos locais, a fim de despertar no leitor a vontade
de viajar para aquele lugar. A diagramação é bastante diversificada e pode variar de acordo com o
posicionamento dos anúncios, que podem vir intercalados ou não com a matéria. O texto é geralmente
pequeno e o destaque é dado para as imagens.
Espiritualidade, religião e astrologia
fig. 152
Os assuntos espiritualidade, religião e astrologia foram apresentados através de horóscopos, oráculos,
previsões lunares, baralhos, santos, misticismo, etc.
As reportagens que apareceram nesta editoria foram
temas que são modismo na atualidade. O tarô, por
exemplo, que já esteve muito em moda, principalmente nos anos de 1990, hoje, deu lugar a cabala
(fig. 153), principalmente com a divulgação pela mídia de sua adepta celebridade, a cantora Madonna.
Matéria sobre espiritualidade,
Claudia, ano 47, no 3, março de 2008
fig. 153
Como religião é um tema polêmico, a revista
Claudia nunca tomou partido de uma ou outra religião, tratou o assunto com imparcialidade.
Na edição de janeiro é padrão colocar a chamada de maior de destaque, a previsão do horóscopo do
ano que se inicia. Nas edições analisadas, notamos
a presença de uma reportagem específica na edição
de julho, o Guia da Lua, com previsões astrológicas
Reportagem sobre cabala, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008
baseadas no ciclo lunar. Esporadicamente, apareceu uma matéria sobre um livro que tratou de
algum assunto de cunho “espiritural”.
As matérias de astrologia e espiritualidade foram ilustradas, na grande maioria dos casos,
com ilustrações digitais (fig. 152 e 153). Verificamos a contratação de diferentes profissionais
para a feitura desses desenhos, o que possibilitou uma grande diversidade de estilos e traços.
Comportamento, sexo e relacionamento
As reportagens que abordaram estes três temas foram as que mais tiveram o caráter de aconselhamento. São inúmeros os conselhos, dicas e ideias de como agir, pensar, fazer sexo, comportar-se,
relacionar-se, etc. As reportagens de comportamento trouxeram temas como felicidade, autoestima, pensamentos positivos, gestos gentis, etc. Um exemplo de matéria de comportamento foi a re-
138
Design em revista feminina
fig. 154
portagem O que pode destruir a segurança de uma mulher
e como recuperá-la, que tratou de autoestima (fig. 154).
As reportagens de sexo, em geral, deram dicas de como
melhorar ou aprimorar a relação sexual, mas o tema foi
abordado de forma leve, não tão picante como faz a revista Nova. As reportagens de relacionamento variaram
entre Como conquistar o homem certo (setembro/2009),
Reportagem sobre segurança (psicológica) da mulher,
Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008
De volta ao mercado [recém-solteiras] (setembro/2008),
Eu perdoei uma traição (dezembro/2008). Os temas re-
fig. 155
correntes de relacionamento amoroso foram: traição,
solteirice (questões próprias da atualidade) e conquistar
o homem certo (visão que reafirma a busca pelo príncipe
encantado e a necessidade de afirmação e dependência
da felicidade da mulher a partir do homem).
O projeto gráfico das matérias desses três temas têm
características peculiares. As matérias de sexo foram fre-
Matéria sobre sexo, Claudia, ano 48, n 7, junho de 2009
o
fig. 156
quentemente diagramadas com ilustrações, como ocorre nas reportagens de astrologia e espiritualidade. Das 21
edições analisadas, os desenhos humorísticos do cartunista
Caco Galhardo estiveram nas matérias de sexo em 9 edições.
(fig. 155). Os cartoons retrataram com humor as situações
relacionadas com a pauta. E, como mencionamos anteriormente, as ilustrações são mais expressivas e permitem mais
associações abstratas. O cartoon que apareceu na matéria
de sexo, por exemplo, (fig. 155) retratou uma situação irreal,
Reportagem sobre como conquistar e manter o homem
certo. Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009
fig. 157
pois mostrava até passarinhos saindo dos olhos do homem.
Já as matérias de relacionamento e comportamento
trouxeram tanto ilustrações (fig. 157), como fotografias (fig. 154 e 155), entretanto as imagens fotográficas
foram vistas com muito mais frequência. Em algumas
reportagens, a matéria apresentou imagens conceituais
e abstratas, o que possibiltou ao leitor criar diferentes
interpretações. Na figura 156, por exemplo, noivinhos de
Matéria sobre comportamento masculino, Claudia,
ano 47, no 8, agosto de 2008
topo de bolo representaram uma situação também irreal: a noiva fisgando o noivo com uma vara de pescar.
Design em revista feminina
139
fig. 158
Reportagens de cunho social
Outro conteúdo integrante da revista foram as reportagens:
Claudia educar para crescer, Prêmio Claudia, Claudia planeta sustentável e Fórum Claudia pela mulher brasileira. Todas
essas reportagens mostraram Claudia engajada em temas
sociais como a educação brasileira, preocupação com a ecologia e questões delicadas que envolvem a mulher.
O Prêmio Claudia (fig. 158) é um evento realizado anualmente desde 1996 que homenageia mulheres atuantes nas
áreas de ciências, cultura, negócios, trabalho social e políticas
públicas que tiveram um trabalho de destaque naquele ano.
Próximo ao evento, a revista publica a história das candidatas
(três de cada categoria) que irão concorrer ao prêmio e, no
final da reportagem, as maneiras de como votar.
O Fóruns Claudia pela mulher brasileira (fig. 159) é um
Matéria sobre o Prêmio Claudia,
Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009
fig. 159
evento realizado pela revista a fim de debater assuntos relevantes na atualidade, sempre relacionados ao universo feminino. Alguns temas debatidos foram:
- Beleza, o poder e o preço (junho/2009);
- Carreira, filhos e vida pessoal – mulheres em busca de
um novo equilíbrio (março/2009);
- Não a violência doméstica (novembro/2008);
Matéria sobre o Fórum Claudia pela Mulher Brasileira,
Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009
- A Saúde da mulher (agosto/2008).
O evento foi mediado pela diretora de redação Marcia Neder e recebeu participantes de diversas áreas a fim de debater o tema proposto. Realizado em diferentes cidades do Brasil, o evento é
publicado posteriormente através de um resumo com os pontos mais relevantes do debate.
fig. 160
A partir de setembro de
2008, a revista trouxe o Claudia
educar para crescer (fig. 160),
reportagens dedicadas a ajudar
os pais a acompanhar melhor
tanto a educação dos seus filhos
como o andamento e a qualidade da educação nas escolas.
Matéria sobre educação do projeto Educar para crescer,
Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008
O presidente da editora
140
Design em revista feminina
Abril Vitor Civita28 relata que a editora Abril em parceria com o Ministério da Educação decidiu
desenvolver este projeto social, pois tem a convicção de que é de fundamental importância tanto
para o progresso pessoal de cada estudante, como para o desenvolvimento do País e o futuro das
instituições. O projeto disponibiliza um portal (www.educarparacrescer.com.br) com reportagens
exclusivas, ações que já deram certo, o ranking das escolas públicas brasileiras, ferramentas que
estimulam a mobilização dos cidadãos, agenda de eventos relacionados, etc.
Outra reportagem com proposta e leiaute idênticos foram os editoriais com a retranca Claudia Planeta Sustentável (fig. 161), publicadas em apenas 6, das 21 edições analisadas. As matérias
discorrem sobre as questões de preservação do ambiente, sustentabilidade e atitudes em prol de
um mundo ecologicamente correto. Assim como as reportagens de educação, tratou-se de outro
projeto patrocinado pela editora Abril e mais cinco empresas, também suportado por um website
(www.planetaustentavel.com.br).
Sempre veiculadas ao lado de uma página de anúncio sobre o projeto, essas duas reportagens
se assemelham à publi-editoriais29 que, apesar de não serem assumidos pela editora Abril, ficou
evidente a estratégia de marketing, não só em benefício próprio, mas também das outras empresas que querem estar vinculadas aos projetos sociais, como esclarece Nickels (1999, p. 60): “o marketing para causas sociais se tornou uma forma popular de as empresas ligarem certos produtos a
causas específicas e, ao mesmo tempo, ajudar os consumidores a se sentirem bem comprando em
uma empresa socialmente responsável”.
As reportagens de cunho social, Claudia educar para crescer e Claudia planeta sustentável tiveram
leiaute peculiar e muito similar: iniciaram a reportagem em página simples à direita (para justamente
posicionar o anúncio do projeto à esquerda) com uma imagem grande (podendo ser também uma
fotomontagem), título e olho. Na página dupla sequencial seguiu o texto da reportagem e imagens
fig. 161
Matéria do projeto Planeta sustentável, Claudia, ano 47, no 12, fevereiro de 2008
28 Texto extraído da carta do editor Vitor Civita, presidente da editora Abril. Claudia, setembro de 2008, p. 13.
29 Publi-editoriais (ou informe publicitário): reportagens que são pagas para serem veiculadas. Algumas empresas preferem fazer publicidade
em forma de reportagem para tentar enganar o leitor se valendo de recurso técnicos e gráficos para transmitir sua mensagem comercial. O termo
publi-editorial é uma mistura entre as duas palavras: publicidade e editorial.
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iguais ou semelhantes às usadas na página de abertura.
141
fig. 162
A matéria Prêmio Claudia trouxe as fotos das candidatas ao lado do texto que relatava sobre seu trabalho. Esta
matéria foi republicada em várias edições, com o mesmo
leiaute, até a entrega do prêmio.
A reportagem Fóruns Claudia pela Mulher Brasileira
trouxe na página dupla de abertura uma foto grande dos
participantes no evento e, no restante da matéria, apenas
o texto, aspas e outras fotos pequenas do evento, mostrando as pessoas debatendo.
Decoração
A última reportagem que apareceu na revista foi a de decoração e, em 19 edições, apresentou a mesma proposta
editorial: imagens mostrando os ambientes da casa de uma
determinada pessoa. A matéria que, mensalmente, trazia a
mesma pauta e leiaute idêntico, foi composta basicamente
por fotografias, apenas com um pequeno texto sobre o imóvel e as legendas dos ambientes e objetos que aparecem nas
imagens. No final da matéria, assim como ocorreu no editorial de moda, foram sugeridas opções de peças semellhantes
às apresentadas na matéria (fig. 162).
Matéria de decoração, Claudia, ano 47,
no 3, março de 2008
A exceção ocorreu em apenas duas edições. Na edição de dezembro de 2008, a proposta
foi diferente, a matéria mos-
fig. 163
fig. 164
trou decorações de Natal de
três diferentes residências (fig.
163). Em outubro de 2008, a
casa da colunista Danuza Leão
(fig. 164) foi o tema da pauta
de decoração, e na abertura da
matéria apareceu o texto de
sua crônica, que excepcionalmente, nesta edição, não foi
publicado logo nas primeiras
páginas da revista.
Matéria de decoração de Natal,
Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008
Matéria de decoração com Danuza Leão,
Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008
142
Design em revista feminina
fig. 165
O que nos chamou a atenção foi a repetição da
mesma fórmula quase que em todos os meses, o que
nos parece que um tipo de matéria foi definida como
a certa, como a que dá resultado e, com isso, não foi
mais preciso pensar em oferecer algo diferente a leitora. Este padrão foi adotado em 2003, quando entrou a diretora de redação Marcia Neder e é mantido
até hoje. Em edições dos anos 2000 a 2002, cons-
Matéria de decoração sobre cadeiras,
Claudia, ano 41, no 2, fevereiro de 2002
tatamos pautas diversificadas de decoração, como
mostra uma reportagem sobre cadeiras (fig. 165). Os
temas variavam a cada edição bem como a maneira como eles se apresentavam na página.
As reportagens de decoração trouxeram todos os meses a mesma proposta editorial e o mesmo projeto gráfico. O leiaute foi idêntico edição após edição: na primeira página dupla, duas
fig. 166
imagens sangradas, uma em cada página. Na
segunda página dupla, diversas fotos dos ambientes, juntamente com a foto bem pequena do
morador e, na página ímpar, uma foto sangrada
em página inteira. Na última página dupla, na
página par apareceu uma foto sangrada e, na
página ao lado, as fotos dos produtos semelhantes juntamente com as fotos dos ambientes na
parte superior a que se referem.
No mês de dezembro (2008), como a proposta foi decorações de Natal, o leiaute mudou (fig.
163, p. 145). Cada página dupla trouxe uma foto
de uma decoração de Natal diferente. A página de abertura também saiu do padrão, pois foi
aplicada apenas uma foto em página dupla (uma
das personagens componentes da matéria).
A outra exceção, na reportagem sobre a casa
da colunista Danuza Leão (fig. 164, p. 145), foi a
diagramação da matéria que saiu diferente apenas
na primeira página de abertura, pois foi aplicada a
foto de Danuza Leão e o texto de sua crônica.
Matéria de decoração, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008
Design em revista feminina
143
fig. 167
Suplemento Claudia Comida & bebida
Em análise de algumas edições do suplemento de culinária Claudia Comida & Bebida (fig. 167), observamos que
ele é composto por 26 páginas de miolo e quatro páginas
de capas e tem formato estabelecido: cinco reportagens,
sempre com a mesma proposta editorial e leiaute. Claudia tem como tradição a publicação de receitas por ela
atestadas e aprovadas desde seu primeiro projeto editorial inicial, da década de 1960.
As reportagens abordam temas como, sugestões de
compras, receitas e textos sobre alguns ingredientes ou
acessórios de cozinha. Muitas reportagens, especialmente as de capa, seguem as festas, datas comemorativas ou períodos específicos: Páscoa, Natal, Festa Junina,
Capa suplemento Claudia Comida & Bebida,
Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009
férias escolares (receitas fáceis que agradam as crianças), aniversário (na edição de outubro, quando se comemora o aniversário da revista), etc.
São cinco as reportagens que compõem o suplemento, a seguir apresentaremos a proposta
editorial e gráfica de cada uma delas:
• Reportagem de capa (fig. 168): sempre temática, trouxe diversas receitas e sugestões de
produtos (bebidas e acessórios de mesa/cozinha) para cada prato. Na edição de junho de 2009,
o tema festa junina mostrou as receitas típicas da festa folclórica. Nesta reportagem, bem como
em muitas outras edições, o leiaute apresentou uma foto sangrada na página de abertura ou
duas fotos, também sangradas, cada uma preenchendo uma página. Na página dupla seguinte,
o texto de cada receita apareceu em uma coluna vertical, ao lado de fotos de imagens de sugestões de produtos (bebidas e acessórios de mesa/cozinha) para aquele prato. As fotos dos pratos
fig. 168
Matéria de capa do suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009.
144
Design em revista feminina
fig. 169
que apareceram na matéria foram reproduzidos na
parte superior da página.
• Comprar bem: nesta matéria um ingrediente, tempero ou um alimento específico foi o assunto da reportagem, e o texto discorreu seus benefícios e utilizações.
No restante da matéria, receitas sobre o tema foram
apresentadas e no final, houve sugestões de produtos
e a explicação sobre uso ideal de cada um deles. Na
edição de junho de 2009 (fig. 169), o assunto foi feijão
e além de detalhar todos os seus benefícios, no final da
matéria, havia uma amostra de cada tipo de feijão com
a explicação do uso apropriado de cada um deles.
No leiaute, a página de abertura trouxe a imagem
do ingrediente que foi tema da matéria sangrada em
Matéria sobre feijão, suplemento Claudia Comida & Bebida,
Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009
fig. 170
página inteira ao lado da página que trouxe texto, título e lead da reportagem. No restante da reportagem, as
receitas foram apresentadas com a foto em um pouco
mais de meia página e o texto da receita logo abaixo.
No última página, seguiram fotos de still com as sugestões de produtos ou do ingrediente mencionado.
• Invenções de Bettina (fig. 170): a culinarista
que está há muito anos à frente da cozinha de Claudia ensinou passo a passo três receitas de um tipo de
prato específico e deu dicas sobre cada um deles.
Invenções de Bettina, Claudia Comida & Bebida, ano 48,
no 6, junho de 2009
O leiaute trouxe, além das fotos dos pratos, ima-
fig. 171
Matéria sobre sobremesas, Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 9, setembro de 2009
Design em revista feminina
145
gens do passo a passo da receita e a foto da culinarista, sempre no canto superior esquerdo.
A foto da culinarista contribui para conferir credibilidade à receita. A posição onde ficam as
imagens dos pratos, as fotos de passo a passo, bem como o texto, variaram a cada edição.
• Matérias de pratos principais ou sobremesas (fig. 171): trazendo receitas temáticas, sobre
um tipo de prato (massa, carne, peixe, frango, risotos, etc) ou ingrediente específico (sobremesas
de acabaxi (fig. 167), esta reportagem nos pareceu ser a matéria principal do suplemento, pois
foi a que apresentou o maior número de páginas do suplemento (6 páginas), além de ser a mais
explorada visualmente, com a foto de cada prato aplicado sangrada em toda a página. Na última
página dupla, as receitas dos pratos em colunas verticais seguiram ao lado de sugestões de produtos (bebidas, acessórios de mesa ou cozinha). As fotos dessa matéria receberam produção visual
que enriqueceu a matéria, com a inclusão de pratos trabalhados, acessórios e toalhas finas. Como a
foto foi bem aproximada, a riqueza de detalhes, onde pôde-se ver a textura e consistência dos alimentos, despertara o desejo de consumo do alimento
– principal objetivo de uma foto de culinária.
fig. 172
• Receitas lights (fig. 172): no final do encarte há
uma matéria de página dupla com duas receitas lights
ou diets. Na edição de setembro de 2009, o tema da matéria foi gelatina e duas receitas de baixa caloria foram
sugeridas. O leiaute trouxe as fotos sangradas em página inteira, propositalmente nos cantos das páginas, para
que fosse acomodado o texto das receitas ao seu lado.
Matéria sobre receitas de gelatinas de baixa caloria, Claudia
Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009
3.5.3.2 A proposta editorial e o projeto gráfico das seções
As seções fixas de Claudia foram em média 23 por edição, eventualmente, em algumas edições,
uma ou outra não foi publicada. Na edição de janeiro de 2009, por exemplo, a quantidade de
páginas da revista foi reduzida, o que ocasionou a ausência de algumas seções. Geralmente, isto
acontece devido à baixa ausência publicitária.
Os assuntos das seções são, em sua grande maioria, os mesmos das reportagens, pois servem
de suporte às editoriais da revista. De acordo com Zappaterra (2007), são as seções de uma revista
que denotam o estilo e tom da publicação e, por isso, merecem atenção no que que se refere
ao aspecto editorial e gráfico. Ao contrário do que deveria ser, Claudia não dedicou muito de seu
tempo ao tratamento gráfico das seções, pois aplicou mês a mês, leiautes com formato muito
rígido, com nenhuma ou mínimas variações, como observamos nas 21 edições analisadas.
Além de um visual idêntico que provoca a sensação de “já visto”, o leitor tem acesso ao mes-
146
Design em revista feminina
mo tipo de conteúdo editorial em todas as edições. Uma solução de diagramação foi encontrada
e mantida, alterando apenas o conteúdo (fotografias e o texto). O texto foi editado da mesma
forma, edição após edição. Nas seções com texto em formato de notas, por exemplo, elas foram
posicionadas sempre no mesmo local, com o texto do mesmo tamanho e sempre do mesmo tipo
(nota com foto de still, nota com pesquisa estatística, etc).
Na visão de Zappaterra (2007), o design gráfico das seções é, geralmente, estruturado em páginas
templates, na qual uma gama de fontes selecionadas (tamanhos e pesos), cores e adereços (ícones
gráficos, réguas e elementos-chave) são estabelecidas em um grade pré-definida. Na visão da autora,
o design contemporâneo recebe influências da área de web design com o uso de boxes, cores e tamanhos variados de fontes que tornam a página mais dinâmica e energética. Porém isso não ocorreu em
Claudia, que aplicou rígidos templates que não se modificaram, na qual geram previsibilidade e não
surpreendem o leitor, o que é prejudicial para a publicação. Acreditamos que uma mobilidade maior
poderia trazer enriquecimento editorial e visual à revista. As seções poderiam receber mais atenção
pois correspondem a 28% de todo o conteúdo editorial da revista, contra 72% de reportagens30.
A grande maioria das seções fixas de Claudia foi de uma página e teve posicionamento sempre
nas páginas pares (à esquerda) que contribuiram para acomodar os diversos anúncios de página
simples ao longo da revista. White (2006) conta que os anunciantes preferem as páginas à direita
(ímpares), pois o ato de folhear implica segurar a revista com a mão esquerda, enquanto a direita vira
as páginas da revista. O autor afirma ainda que a preferência dos anunciantes pelas páginas à direita
favorece o lado editorial, pois ao posicionar editoriais nas páginas pares, cria um posicionamento
rítmico, acumula força e cria expectativa no leitor. A partir do momento, em que todas as colunas
estiverem à direita, a “mesmice” superará a preferência por páginas da esquerda ou da direita.
As únicas seções que fugiram desse padrão de posicionamento foram as seções Básicos de
Claudia, composta por 3 páginas duplas, e Beleza essencial, de página dupla.
Em algumas edições, por causa da pouca quantidade de anúncios, as seções vieram em páginas
ímpares e pares, espelhadas uma com a outra, o que resultou em uma confusão visual, especialmente
porque o ritmo foi quebrado. Sobre este aspecto, White (2006) conta que permitir que a localização
dos anúncios dite o posicionamento das seções, resultará em uma distribuição arbitrária e, com isso,
a publicação ficará enfraquecida, porque o ritmo foi perturbado. Portanto, é de extrema importância
que se crie um posicionamento fixo para os anúncios e para as seções, de forma que a publicação
fique organizada visualmente, coerente e com o ritmo certo a cada virada de página.
A seguir, detalharemos como se estabeleceu o design de cada seção/coluna fixa de Claudia,
mostrando, primeiramente, sua proposta editorial e a seguir seu projeto gráfico.
30 Cálculo com base na edição de março de 2009 (no 3, ano 48), num total de 110 páginas de editorial, sendo 31 páginas de seções e 79 de matérias.
Design em revista feminina
147
Sumário
A primeira seção da revista é o sumário, localizado sempre nas duas primeiras páginas pares da publicação (fig. 169). Distribuída em duas páginas simples, essa seção não possui um nome específico,
retranca, nem tampouco a palavra sumário, como é de costume em algumas publicações (fig.173).
Na primeira página, concentraram-se apenas as reportagens que estiveram nas chamadas de
capa. Na segunda, o texto foi subdividido por editorias (Atualidades e gente, Moda, Casa e consumo, Família e filhos, Beleza e Saúde e, eventualmente, Emoções e espiritualidade). Cada matéria ou
seção seguiu abaixo de sua respectiva editoria e houve ainda o Sempre em Claudia, que abrigou as
seções que não se encaixam em nenhuma dessas editorias, além das seções gerais da revista: carta
da editora (Eu e você), contatos das marcas ou lojas mencionadas (agenda de endereços), seção
sobre o conteúdo do website da revista (Claudia Online), etc. Os textos do sumário foram bem sucintos e na segunda página, na parte superior, aplicou-se aspas com um frase de um entrevistado
mencionado em uma matéria. No sumário foi colocado também a foto da capa com seus respectivos créditos de fotografia, produção, cabelo, maquiagem e roupas.
O leiaute da primeira página trouxe o logotipo vermelho e mês da publicação na parte superior e,
abaixo, a imagem de uma reportagem (na grande maioria dos casos, da matéria de beleza), ocupando
2/3 da página. Na parte inferior, o texto em duas colunas descreveu as reportagens que estavam nas
chamadas de capa, possibilitando que o leitor localizasse rapidamente uma determinada matéria.
A segunda página do sumário empregou grade de quatro colunas, duas com os textos das reportagens e uma foto pequena da capa (para abrigar seus créditos), e as outras duas, imagens de algumas matérias (a moda e a decoração foram sempre incluídas) e uma ou duas fotos de still de objetos
(geralmente, produtos de beleza). Sob cada imagem foi aplicado o número da página onde aquela
fig. 173
Sumário, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008
148
Design em revista feminina
matéria encontra-se e, abaixo, em poucas linhas, um resumo sobre do que se trata. Assim, como na
primeira página, o logotipo vermelho apareceu no topo, e ao lado aspas de uma matéria, que contracenou com outra aspas na parte inferior, exatamente no extremo oposto à outra. A única alteração
observada nas 21 edições foi o uso da cor nas aspas simples.
Zappaterra (2007) conta que o sumário é tradicionalmente localizado o mais próximo possível
da capa e o mais importante é posicioná-lo sempre no mesmo local, pois a regularidade leva à
familiaridade. A autora aponta ainda três características que o sumário deve ter: clareza para ler,
simplicidade para navegar e fácil de encontrar. Com relação ao design, ela diz que a disposição
e organização da página deve ser atrativa, lúcida, rápida de absorver e navegar para encontrar a
matéria de capa ou a seção favorita, por exemplo. Ela diz ser relevante destacar matérias e seções
importantes através de recursos visuais (tipográficos e imagéticos) e resumir os textos, a fim de
atrair o leitor para uma ou mais reportagens, lembrando que alguns leitores do sumário podem
não ter comprado a revista ainda.
Pudemos notar no sumário de Claudia os conceitos propostos por Zappaterra (2007), pois
posicionou o sumário sempre no mesmo local e bem no início da revista. Além disso, foi de fácil
navegação, sintético (condensou em poucas linhas o assunto da matéria), concedeu destaque ao
aplicar negrito no nome das reportagens e explorou uma imagem atraente que ocupa quase toda
a página, despertando curiosidade no leitor pela edição.
Eu e Você
A coluna Eu e Você (fig. 174) – a tradicional carta do
editor(a) – apresentou texto da diretora de redação
fig. 174
Marcia Neder, com tema relacionado a uma ou mais
matérias da edição. O texto que tratou a leitora com
intimidade para se estabelecer uma relação mais próxima, introduziu a leitora aos assuntos principais discutidos em cada edição da revista.
A grade estabelecida foi de duas colunas para
o texto com as imagens na parte superior. A foto de
Marcia esteve sempre aplicada do lado esquerdo, e à
direita seguiram imagens de páginas de reportagens.
Esta seção manteve o mesmo leiaute nas 21 edições analisadas, variando apenas a quantidade e posição das imagens da revista. Excepcionalmente, foram
aplicadas fotos de bastidores de entrevistas (novem-
Seção Eu e você, Claudia, ano 48, no 3, março de 2009
Design em revista feminina
149
bro/2008 e agosto/2009) e um retrato dos debatedores do 1o Fórum Claudia pela mulher brasileira.
As fotos da diretora pareciam ter sido tiradas nas instalações da empresa, pois mostravam objetos,
móveis próprios de escritório e, algumas vezes, em ambiente semelhante ao de uma redação. A diretora, que sempre aparecia sozinha em suas fotos, excepcionalmente veio acompanhada da atriz
Bibi Ferreira, na edição de agosto de 2009.
Outra sutil mudança observada foi a cor das aspas simples usadas como capitular, alternando
entre vermelho, preto e branco com contorno preto. A assinatura de Marcia no final personifica a
mensagem da página e transmite a ideia de ter sido escrita realmente por ela.
O tipo de diagramação empregada nesta página foi citado por White (2006), que afirma que
ao colocar o título embaixo da foto, faz com que eles correspondam juntos a uma unidade geminada de informação e, com isso, traz o leitor para dentro da página, incentivando-o a iniciar a
leitura, processo que é denominado pelo autor de indução (induzir o leitor a ler a reportagem por
meio de estratégias visuais).
Claudia Online
A seção Claudia online (fig. 175) trouxe seis diferentes notas31 sobre os conteúdos extras que estariam
no website. Desde a edição de maio de 2008, um dos textos discorreu sobre um concurso cultural,
o qual a leitora, acessando o site, concorreria a um produto de beleza, normalmente, um perfume
de grife internacional. Outra nota fixa é Claudia no celular,
tratava-se de um serviço tarifado, disponível às leitoras, de
fig. 175
mensagens de texto com dicas sobre beleza, educação dos filhos, dilemas domésticos e financeiros. Na maioria das vezes,
a nota principal (a que recebeu maior destaque pelo tamanho
da imagem) referiu-se a um teste sobre um determinado assunto. A publicação contou com uma repórter e uma editora,
responsáveis por produzir o conteúdo web, desta seção.
O leiaute desta seção trouxe o endereço da homepage,
destacado no topo da página que cumpriu o papel de um título, seguido da explicação sobre o que se refere a seção. A
página é ilustrada com imagens referentes as notas e, para
complementar, foram inseridos elementos gráficos (ícones),
próprios das ferramentas de navegação, como setas e mão,
que remetiam à internet. A nota do teste apareceu com
imagem em tamanho maior, recebendo maior destaque.
31
Seção Claudia Online,
Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009
Notas: texto curto, geralmente diagramado em colunas, referente a um determinado assunto.
150
Design em revista feminina
Sua opinião
Presente em diversas revistas, a carta dos leitores, nomeada em Claudia de Sua opinião (fig. 176),
foi o canal direto entre o leitor e a revista, onde cartas, faxies ou e-mails foram enviados à redação
com opiniões, sugestões e críticas, porém, foram publicados em praticamente todas as edições anafig. 176
lisadas, apenas elogios e comentários. O espaço também é destinado para a
aplicação das erratas (erros publicados na edição anterior).
A partir da edição abril de 2009, foi adicionado, no rodapé da página,
aspas de uma personalidade famosa, contando por que lê a revista. Muita
das participantes dessa área foram mulheres que já saíram em capas anteriores, provavelmente tiradas no mesmo dia das fotos de capa.
O design da página com texto em três colunas, justificado e hifenizado, destacou duas notas (Capa e Por que leio Claudia) ao usar fonte em
tamanho maior e aspa simples vermelha, também em tamanho grande.
Seção Sua opinião, Claudia,
ano 48, no 7, julho de 2009
No início dos comentários das leitoras também foi aplicada a aspa simples vermelha, porém menor, dando um toque de cor à página. Notou-se
também a presença de subtítulos antecedendo os comentários, que em
uma rápida leitura, revelaram sobre qual matéria se referia(m). Os nomes das leitoras no final dos
comentários, com diferentes espaçamentos entreletras, auxiliaram a justificar as colunas para que
não ficasse nenhum espaço na última linha. Esta seção foi sempre ilustrada com a capa da edição
anterior, juntamente com a imagem da famosa que diz que lê Claudia. Eventualmente, foi inserido
uma imagem de uma matéria, sempre na parte inferior da coluna central.
Horóscopo
O hóroscopo trouxe a previsão do mês vigente da edição para cada signo (fig. 177 e 178). Como esta
seção foi de apenas uma página, não houve
fig. 177
fig. 178
espaço suficiente para longas previsões, cada
signo teve apenas quatro linhas de texto. O
destaque foi para o signo que fazia aniversário naquele mês, que trouxe a previsão mais
detalhada em 13 linhas de texto.
Esta seção trouxe na retranca o mês
vigente da previsão e foi ilustrada nas 12
edições de 2008 com diversas fotos (caixa
de bijuterias, tênis, espelho, celular, etc) e
Horóscopo, Claudia, ano 47,
no 9, setembro de 2008
Horóscopo, Claudia, ano 48,
no 7, julho de 2009
uma ilustração (representando o signo do
Design em revista feminina
151
mês) aplicada sobre esta imagem (fig. 177). Essas imagens não tiveram nenhuma relação com o
texto ou característica do signo, o que deixou em aberto seu significado, técnica retórica pósmoderna que Cauduro (2008) denomina de participação ou interação, onde geralmente não se
privilegia nenhum significado em particular, deixando a interpretação por conta do receptor, tornado-se co-autor do significado.
Nas edições de 2008 (fig. 177), o leiaute trouxe o texto justificado em duas colunas e com destaque para os nomes dos signos na cor vermelha. No ano seguinte, a diagramação permaneceu a mesma, porém foi retirada a cor do nome dos signos, e a imagem que ilustra a página passou a ser com
as flores do signos (fig. 178). A retórica pós-moderna que deixava livre a interpretação da imagem,
deixou de existir, pois passou a ser aplicada uma legenda explicativa abaixo da imagem (flor do signo:
lírio). Na edição de fevereiro de 2009, não saiu a legenda, possivelmente por algum erro.
Colunas assinadas
A escritora Danuza Leão, que tem assinado a coluna Conversa com Danuza (fig. 179) desde 2006, escreveu sobre aspectos comportamentais da mulher retratados por meio de experiências da autora ou
de histórias de outras pessoas. Na edição de abril
fig. 179
fig. 180
de 2009, Danuza falou sobre a obsessão das mulheres por conquistar um corpo magro. Ela relatou
suas experiências com dietas malucas e concluiu
que hoje é menos radical. Embora o texto não dê
conselhos diretos, percebeu-se sutilmente a mensagem que se queria transmitir.
A Carta de Fernanda Young (fig. 181), publicada pela última vez em julho de 2008, com um
texto mais ácido e um pouco agressivo, trouxe
mensagem para os mais diversificados e inusita-
Conversa com Danuza, Claudia,
ano 48, no 4, abril de 2009
Conversa com Danuza, Claudia,
ano 47, no 3, março de 2008
fig. 181
dos destinatários: para o Pequeno Príncipe, à gordurinha localizada, à pátria
amada, ao clitóris e até a Madonna. Possivelmente, pela postura irreverente
e polêmica de Fernanda Young esta coluna não tenha sobrevivido por muito
tempo, já que a proposta editorial de Claudia não tem este perfil.
Nas edições dos anos de 2008 (fig. 180 e 181), ambas colunas apresentaram visual idêntico: texto justificado em duas colunas, foto preta e branca no
topo e sangrada, título vermelho, capitular em cinco linhas e aspas em destaque. A partir de setembro de 2008, o leiaute de Conversa com Danuza sofreu
alterações (fig. 179): sua foto foi trocada, passou a ser colorida e posicionada
Carta de Fernanda Young, Claudia,
ano 47, no 3, março de 2008
152
Design em revista feminina
em outro local e com novas dimensões. A capitular passou de letra para aspa simples, o título preto
e uma aspas no rodapé. Vale destacar ainda, a presença de um espaço entre a foto e o texto, o que
proporcionou um arejamento à pagina, em uma coluna que é predominantemente de texto.
Na edição de aniversário (outubro de 2008), a coluna não foi publicada da forma tradicional,
Danuza foi a personagem da reportagem de decoração, e o texto da sua coluna foi apresentado na
página de abertura da matéria. A partir dessa edição, a mesma foto utilizada na matéria passou a
vir mensalmente, ilustrando sua coluna.
Conexão Claudia
A seção Conexão Claudia trouxe pessoas e projetos sociais em destaque em diversos ramos de atuafig. 182
ção. Divididas em duas páginas, a primeira apresenta uma minientrevista com uma personalidade (não necessariamente famosa). Na segunda
página, três a quatro notas sobre trabalhos de cunho artístico, social ou
preservação ecológica.
O leiaute da primeira página, com a minientrevista, trouxe a foto
do entrevistado em 2/3 da página, com ou sem fundo (fig. 182). O
leiaute com texto justificado não deixou espaço entre uma pergunta
e outra, o que as separam foram os negritos nas questões e o nome
da revista em vermelho no início das perguntas. A grade definida foi
de três colunas, duas destinadas para a foto e uma para o texto. A
Conexão Claudia, Claudia, ano 47,
no 3, março de 2008
posição do título e lead desta seção foram os únicos elementos que
variaram nas edições analisadas.
O leiaute da segunda página (fig. 183), com três a quatro notas, foi
fig. 183
ilustrado com a foto da pessoa referida na nota principal em tamanho
maior e uma imagem de um objeto. A nota sobre o objeto vinha contornada de um fio com uma seta na ponta para estabelecer uma relação
entre o texto e a foto. A nota que não era ilustrada por nenhuma imagem recebeu texto em negrito e título vermelho. Em algumas edições, a
retranca ou o texto da nota principal aplicado em cima da foto recebeu
um quadro branco com transparência32, recurso que visa contribuir com
a legibilidade do texto quando aplicada sobre fotos. O efeito de transparência permite ver a imagem que está por trás desse quadro.
Conexão Claudia, Claudia, ano 47, no 11,
novembro de 2008
32 Transparência (ou opacidade): quando um elemento (foto, figura geométrica, etc) recebe tonalidade mais clara do que sua cor original. A
opacidade pode variar de 1 a 99%, dependendo o efeito que se queira dar.
Design em revista feminina
fig. 184
153
fig. 185
Seções com notas
As seções que traziam texto em formato de notas
apresentaram dicas, novidades e informações sobre
assuntos específicos, foram elas:
• A sua saúde (fig. 184): saúde;
• Boa viagem (fig. 185): turismo;
• Coisa de criança (fig. 186): comportamento, saúde
e produtos para crianças;
• Turma teen (fig. 187): comportamento, saúde e
Seção A sua saúde, Claudia, ano
47, no 10, outubro de 2008
fig. 186
Seção Boa viagem, Claudia, ano
47, no 10, outubro de 2008
fig. 187
produtos para adolescentes;
• Dinheiro agora (fig. 188): finanças pessoais;
• Amigo bicho (fig. 189): o dia a dia da convivência
com animas domésticos;
• Fique mais bonita (fig. 190, p. 158): tratamentos e
produtos de beleza;
• Nutrição inteligente (fig. 191, p. 158): alimentação
saudável.
O leiaute dessas seções manteve-se fixo, como as
Seção Coisa de criança, Claudia,
ano 48, no 6, junho de 2009
fig. 188
Seção Turma teen, Claudia, ano
47, no 6, junho de 2008
fig. 189
notas foram sempre posicionadas no mesmo local, do
mesmo tamanho e do mesmo tipo. Esta prática engessa o repórter, pois precisa escrever notas sempre
do mesmo formato. Todas essas seções mantiveram a
mesma diagramação nas 21 edições analisadas.
Em todas essas seções – com exceção da Fique
mais bonita e Nutrição inteligente – a diagramação foi
mesma em todas as edições: imagem maior na nota
principal (geralmente com fundo para delimitar o for-
Seção Dinheiro agora, Claudia,
ano 48, no 7, julho de 2009
Seção Amigo bicho, Claudia,
ano 47, no 9, setembro de 2008
mato retangular), uma nota com foto de um objeto e duas notas sem imagens com uma delas com o
texto em negrito. A nota ilustrada com foto de still situou-se no meio de dois blocos de texto e, por ser
mais estreita e com um fio-seta, cria uma divisão entre as demais notas. Como a imagem do objeto
apresentou-se deslocada à esquerda, esta seta serviu para identificar qual o texto se referia.
Nas seções A sua saúde e Dinheiro agora, observamos a presença de uma quinta nota, sempre com um dado estatístico de uma pesquisa, onde um número (com percentual) apareceu em
destaque. Na seção Dinheiro agora não houve foto de objetos e foi incluída na revista a partir de
fevereiro de 2009, mas não foi publicada nas edições de março, abril e junho de 2009.
154
Design em revista feminina
fig. 191
fig. 190
As seções Fique mais bonita (fig. 190) e
Nutrição inteligente (fig. 191) tiveram leiaute
um pouco diferente das demais. Na seção de
nutrição conferiu-se nota principal ilustrada
com uma imagem retangular, uma nota em
formato horizontal com fotos de sugestões de
um tipo de produto e outras duas notas sem
imagens, sendo uma delas com texto em ne-
Fique mais bonita, Claudia, ano 48,
no 5, maio de 2009
Nutrição inteligente, Claudia, ano 48,
no 1, janeiro de 2009
grito. Já a seção Fique mais bonita, com três
notas, assemelhou-se à de nutrição, pois trou-
xe também uma nota horizontal com fotos de um tipo de produto de beleza específico. O que
diferiu as duas seções é que em Fique mais bonita, a foto da nota principal foi aplicada maior, na
horizontal, ocupando quase toda a largura da página.
fig. 192
Vitrina de novidades
Claudia trouxe em seu projeto editorial, duas seções que fizeram o papel
de uma vitrina de novidades, a Balcão de beleza (fig. 193 e 194) com os
lançamentos de cosméticos e a Livros que a gente ama (fig. 192) com
as livros recém-lançados. Os produtos de beleza que apareceram são
os mais diversos: perfumes, maquiagens, cremes, óleos, sachês, etc. Já
os livros publicados foram aqueles que tiveram algum apelo ao público
feminino, como por exemplo, os livros Guia das curiosas, Mulheres sobre
rodas e Feng Shui - o poder de atrair a prosperidade.
Livros que a gente ama, Claudia,
ano 47, no 5, maio de 2008
No ano de 2008, em Balcão de beleza (fig. 193), os produtos foram diagramados em uma
montagem que tinha o centro da página
fig. 193
fig. 194
como referência e pareciam estar empilhados, um em cima do outro. Além disso, havia
um contraste de tamanhos, em uma escala
progressiva (do menor para o maior) e legendas ao lado de cada produto. Em 2009, essa
montagem foi mudada e todos os produtos
foram dispostos à esquerda da página, com
algumas partes sobrepostas e as legendas em
uma só coluna (fig. 194). Os números ao lado
Balcão de beleza, Claudia,
ano 47, no 5, maio de 2008
Balcão de beleza, Claudia,
ano 48, no 2, fevereiro de 2009
dos produtos serviram para identificá-los no
Design em revista feminina
155
texto, recurso que é criticado por White (2006), pois irrita o leitor ao mandá-lo ler em outro local.
A seção Livros que a gente ama (fig. 192) permaneceu com a mesma diagramação em 2008 e
2009: imagens dos livros ao centro e sobrepostos, com as legendas ao lado. Através de programas
de manipulação de fotos, em cada livro foi aplicada uma sombra, além da imagem da parte lateral
de um livro a fim de conferir profundidade às fotos.
fig. 195
Dilema de mãe
A seção Dilema de mãe (fig. 195) que dá suporte à editoria Família e filhos,
abordou mensalmente um problema, onde um especialista o analisa e dá
soluções para a mãe. Alguns temas abordados foram:
• Ela fala tudo errado (março/2008);
• Ela já se preocupa com o peso (dezembro/2008);
• A namorada dele é má influência (agosto/2009).
No final da página, o nome e currículo do consultor encerra a matéria.
Geralmente participam desta seção sociólogos, pedagogos, pscicólogos, pe-
Seção Dilema de mãe, Claudia,
ano 47, no 12, dezembro de 2008
diatras, etc, especializados em educação ou comportamento infantil ou adolescente.
O leiaute da seção Dilema de mãe trouxe título que introduzia ao leitor o assunto que foi
abordado, seguido logo abaixo por uma pergunta (dilema) que faz as vezes do lead. Como são citações de terceiros (leitora e consultor), tanto pergunta, quanto resposta foram iniciadas por aspa
simples. O texto pôde vir com subtítulos e um fio separando as duas colunas apareceu na edição
de dezembro (2008). Nas 21 edições analisadas, a única alteração foi a disposição da pergunta
que até a edição de agosto de 2008, pois foi posicionada no espaço de uma coluna e em outra
fonte. A imagem foi sempre posicionada no mesmo local, no canto inferior esquerdo. Geralmente,
as imagens aplicadas desta seção são de empresas de banco de imagem.
Mulheres que fazem a diferença
Esta seção (fig. 196) contava a história de vida de uma mulher, geralmente,
fig. 196
engajada em algum trabalho social. Algumas mulheres que saíram nesta seção foram: a arte-educadora Conceição Leite que usa o teatro para prevenir o
câncer de mama (março/2008), Maria Estela Penteado Cardoso (abril/2008),
a professora de inglês que dá aulas gratuitas a jovens da periferia e Maria da
Penha Maia Fernandes (maio/2008), a inspiradora da Lei Maria da Penha. O
leiaute foi semelhante ao Dilema de mãe: texto justificado em duas colunas
com a foto da entrevistada no canto inferior esquerdo. A foto da mulher,
produzida pela revista, trouxe alguma ambientação, objetos ou gesto que
remetesse a sua história de vida.
Seção Mulheres que fazem a
diferença, Claudia, ano 47, no 4,
abril de 2008
156
Design em revista feminina
fig. 197
Consulta aos especialistas
As seções Consulta de beleza (fig. 197), O que eu faço agora?
(fig. 198), A lei e você (fig. 199) e Relações delicadas (fig. 200)
tiveram a mesma proposta editorial: especialistas em cada assunto responderam as dúvidas das leitoras. Este tipo de seção
com perguntas dos leitores remete a um gênero muito antigo,
presente nas revistas femininas desde seu surgimento e que
Buitoni (2009) chama de correio sentimental.
A seção Consulta de beleza, vista apenas na edição de janeiro de 2008, respondeu às dúvidas de beleza. A seção O que eu
faço agora? surgiu em maio de 2008, no mesmo mês em que a
Seção Consulta de beleza, Claudia,
ano 47, no 2, fevereiro de 2008
última edição de Relações delicadas foi publicada, provavelmen-
fig. 198
te para substituí-la. Esta seção abordava questões de relacionamento parental e conjugal. Quando surgiu a seção O que eu faço
agora? o leque de temas se abriu, passando a abranger também
comportamento social (relacionamento com o chefe, vizinho,
amigos, parentes). A seção A lei e você, publicada pela última vez
em abril de 2008, respondia às questões jurídicas das leitoras.
Exceto a seção O que eu faço agora?, todas tiveram leiaute semelhante: texto em duas colunas e aspa simples no início das perguntas e das respostas Na seção Relações delicadas e A lei e você
não haviam imagens. Consulta de beleza foi ilustrada com uma foto
sangrada na parte superior à esquerda.
Seção O que eu faço agora?
Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008
A seção O que eu faço agora? foi ilustrada com um desenho que tentava recriar (ou aludir)
a situação relatada em uma pergun-
fig. 199
fig. 200
ta. Sempre do mesmo autor (Andrés
Sandoval), a imagem pareceu ter
sido feita à mão, pois trouxe marcas de giz de cera, lápis e técnicas
de aquarela. O texto foi disposto em
colunas de diferentes larguras. Em
todas as colunas pudemos observar
que as questões apareceram em negrito (destacando-as das respostas).
Seção A lei e você, Claudia,
ano 47, no 4, abril de 2008
Seção Relações delicadas, Claudia,
ano 47, no 2, fevereiro de 2008
Design em revista feminina
157
De visual novo e Desafio de moda e beleza
A seção De visual novo (fig. 201) deu lugar à Desafio de moda e beleza (fig. 202) a partir de maio
de 2009 quando deixou de ser publicada. A seção tinha a seguinte proposta: mostrar através de
fotos do antes e depois as mudanças no visual após um corte de cabelo, tintura e maquiagem. O
texto descrevia os procedimentos realizados e cada tópico esclarecia um processo diferente. Um
texto ao lado da foto do “antes” expunha o desejo da personagem em relação a seu visual.
Em Desafio de moda e beleza, a proposta expandiu, a
fig. 201
transformação não ficava somente em cabelo e maquiagem,
mas passou a transformar a aparência por inteiro, incluindo
roupas e acessórios. A leitora descrevia seu desejo, pedindo
orientação para ficar com um aspecto bonito ou correto, a
fim de usar em uma determinada situação. Na figura 202,
por exemplo, a leitora Cristiani pede orientação sobre como
equilibrar a silhueta e montar uma produção estilosa e clássica, ideal para ir do trabalho a um jantar.
Os texto dentro de balões contam o motivo da escolha daquela peça, preços, materiais e a que loja pertencem. Nos textos
sobre os procedimentos realizados no cabelo e na maquiagem,
apenas a descrição do que foi feito e o motivo. Em ambas colunas, uma aspa da participante relatou sua satisfação com relação
a mudança de seu visual, sempre satisfeitas com o resultado.
O leiaute da seção De visual novo trazia foto grande do “de-
Seção De visual novo, Claudia,
ano 47, no 12, dezembro de 2008
fig. 202
pois” e uma pequena imagem do “antes”, com o texto em uma
coluna. As fotos de “antes” e “depois” surpreendem o leitor com
a mudança radical do visual da leitora. As imagens de “antes”
foram sempre tiradas sem maquiagem ou qualquer produção, o
que exacerba a diferença entre as duas imagens.
A diagramação da seção Desafio de moda e beleza trouxe
a foto do “depois” de corpo inteiro sangrada na página com
fundo cinza bem claro e uma leve sombra atrás, e a foto de
“antes” emoldurada em borda preta, remetendo aos antigos
cromos fotográficos. As imagens dos balões apontavam para
a peça de vestuário ou local do corpo mencionado no texto.
A foto do “depois” em fundo cinza contrastava com os balões
em fundo branco com efeito de transparência.
Seção Desafio de moda e beleza,
Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009
158
Design em revista feminina
fig. 203
Seções de moda
A seção Na última moda (fig. 206) passou a se chamar Supertendência (fig. 205) em junho 2009 e manteve a mesma proposta:
mostrar peças de uma tendência em voga naquela estação. A seção Esta moda vai durar (fig. 201), publicada pela última vez em
janeiro de 2009, também trazia uma tendência específica. Na
página Look total até R$... (fig. 207), iniciada em maio de 2009,
mostrou um visual completo até um determinado valor. Observamos que a quantia nunca ultrapassou o valor de 300 reais.
A seção Vitrine de acessórios (fig. 203), publicada pela última vez em abril de 2009, trouxe a cada mês um tipo específico
de acessório (bolsa, sapato, brinco, anel, colar, pulseira, etc). To-
Vitrine de acessórios, Claudia,
ano 47, no 12, dezembro de 2008
fig. 204
das essas seção tiveram como objetivo mostrar peças ao leitor
de acordo com um tema ou tendência.
Todas as seções mencionadas tiveram leiaute idêntico, com
execeção de Vitrine de acessórios que, em função do tamanho
das peças (geralmente pequeno), trouxe a foto mais aproximada.
A diagramação apresentava a foto da modelo de corpo inteiro
e sangrada na página e, à direita, as fotos das roupas e dos
acessórios. Notamos que assim como ocorreram nos editoriais
de moda, as fotos das roupas foram tiradas em um manequim,
pois trouxeram marcas corporais como seios e cintura, o que nos
fig. 205
Seção Supertendência,
Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
fig. 206
Seção Na última moda,
Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008
Seção Esta moda vai durar,
Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008
fig. 207
Look total até..., Claudia,
ano 48, no 5, maio de 2009
Design em revista feminina
159
parece ser o procedimento ideal, pois mostrou ao leitor o correto caimento da roupa – manequim
que é posteriormente apagado no processo de tratamento de imagens. Os textos dessas seções
foram título, lead e legendas, sempre próximos aos produtos.
Observamos ainda que as fotos das modelos geralmente carregaram alguma atitude, seja um
gesto, movimento, postura corporal ou simplesmente, um olhar marcante. Um bom resultado foi
obtido não só pelo talento da modelo, mas também do fotógrafo que a dirige incitando gestos,
posturas, expressões e captando seus melhores ângulos.
A seção Vitrine de acessórios (fig. 203) foi a que mais variou a diagramação das demais seções. A
seção trouxe todos os meses a foto da modelo em diferente formato, corte, ângulo e posição na página,
juntamente com as peças ao lado. Notamos que em uma mesma edição, muitas vezes, foi fotografada
a mesma modelo para todas essas seções.
fig. 208
Básicos de Claudia
Disposta em três páginas duplas sequenciais, a seção Básicos de Claudia (fig. 208) teve como proposta trazer a
leitora visuais completos (roupas e acessórios) de acordo
com um determinado tema ou tendência. Cada página
dupla apresentou um assunto ou estilo diferente e sugeriu diversas opções de peças.
O leiaute trouxe a foto da modelo sangrada à direita
como se ela estivesse andando e, raramente, olhando para a
câmera. Assim como nas outras seções e matérias de moda,
as roupas foram fotografadas em um manequim (posteriormente eliminado no Photoshop). As bolsas foram fotografadas cheias e os sapatos em dois ângulos diferentes, de
frente e de lado, para que o leitor veja todos os detalhes.
Na página dupla foram dispostas seis diferentes conjuntos de roupas e acessórios por meio de fotos de still
com fundo recortado. O título informou o tema do mês
da seção, enquanto o lead explicou como e onde usar. As
legendas ficaram próximas às peças e também perto da
foto da modelo.
Até abril de 2008, apareceu ao lado da retranca, uma
palavra sobre o tema do mês, como por exemplo: Básicos
de Claudia/trabalho.
Seção Básicos de Claudia, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009
160
Design em revista feminina
Em todas as edições analisadas, ocorreu que em três edições (setembro e novembro de 2008)
em Básicos de Claudia, a página dupla foi quebrada em duas simples, possivelmente para comportar anúncios ao lado. Nestes casos, o leiaute desta seção nos pareceu comprometido, pois as
peças ficaram perdidas na página.
Beleza essencial
A seção Beleza essencial (fig. 209), de página dupla, abordou um tema ou tipo de cosméticos com
sugestões de produtos para o leitor. Blush, gloss, escovas de dente, bases, perfumes, lápis de olho
e boca, pó bronzeante e aparelhos depilatórios
fig. 209
foram alguns dos temas que apareceram nesta
seção. Em algumas edições, um texto explicativo discorria sobre a forma correta de utilização
destes produtos, entretanto, na grande maioria
das vezes, o texto que apareceu foram título,
lead e legendas dos produtos.
A diagramação da seção Beleza essencial
permaneceu semelhante em diversas edições:
na página par, título e lead sob a foto sangrada
Seção Básicos de Claudia, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009
que, muitas vezes, preenchia toda a página, na
página ímpar, produtos dispostos de forma di-
versificada. Os produtos eram fotografados nos mais diversos ângulos, poses, às vezes, com alguns
produtos em tamanho bem maior, resultando no efeito de contraste de escala ou todos alinhados
simetricamente. A montagem, que varia muito a cada edição, utiliza
diferentes princípios do design gráfico: simetria, assimetria, contras-
fig. 210
te, repetição, etc. Dependendo da montagem, as legendas aparecem
em cima da fotos, em quadros brancos com transparência. A foto
sangrada em página inteira, minimiza o caos da página ao lado.
Agenda de endereços
A seção que trouxe os contatos das empresas citadas nas matérias
e nos créditos das fotos, foi nomeada de Agenda de endereços (fig.
210) em 2008 e de Onde encontrar em 2009. Esta seção permite que
o leitor tenha acesso aos contatos das lojas para que possa comprar o
produto que tenha se interessado. A página de endereços apresentou
leiaute de quatro colunas com algumas imagens de matérias no meio
Onde Encontrar, Claudia,
ano 48, no 1, janeiro de 2009
Design em revista feminina
161
do texto. Para separar visualmente as informações foi aplicado negrito no nome das empresas.
Página de fechamento
As últimsa seções que aparecem em Claudia – também co-
fig. 211
nhecida no ramo editorial como página de fechamento – foram Mulheres alteradas (fig. 211) e Página da vida (fig. 212)
que surgiram a partir de junho de 2008.
A seção Mulheres alteradas foi ocupada com ilustrações
da cartunista argentina Maitena Inês Burundarena e abordou sátiras das relações amorosas e situações do cotidiano
da mulher. O nome desta seção também foi o título do livro
da artista que está em seu quarto volume e já foi traduzido em 12 línguas. Este tipo de proposta para página de
fechamento com cartoons já esteve presente em Claudia,
na década de 1970, com os desenhos do cartunista Ziraldo,
conforme vimos anteriormente na página 99 (fig. 65 e 66).
A seção Página da Vida contou histórias de vida de mulheres, em sua maioria, histórias de superação que servem
de inspiração para as leitoras. Abaixo da retranca, uma frase
Seção Mulheres alteradas, Claudia, ano 47, no 2,
fevereiro de 2008
fig. 212
define a proposta desta seção: “Mulheres incríveis partilham
experiências, desejos e sonhos”.
O leiaute de Mulheres alteradas trouxe título acima das
imagens com letras manuscritas que pareciam ter sido realmente feitas à mão pela cartunista. No total, seis quadros
lado a lado preenchiam a página, com uma tarja amarela acima das figuras com um texto. A seção Página da vida
trouxe a imagem da personagem em uma situação que remete à sua história de vida. No canto superior esquerdo da
foto foi aplicado a imagem de uma folha de papel virada,
a fim de relacionar com o nome desta seção. O título, que
foi uma frase da entrevistada, iniciou-se com aspa simples
e logo abaixo, um sinal de parênteses abriga o resumo da
Seção Páginas da vida, Claudia,
ano 48, no 1, janeiro de 2009
história que, além de fazer o papel de lead da matéria, serviu
para despertar interesse do leitor pela história e iniciar a leitura da reportagem. O texto da história
seguiu em uma única coluna.
162
Design em revista feminina
3.5.3.3 A proposta editorial e o projeto gráfico das capas
A proposta editorial das capas de Claudia
O projeto editorial de uma revista também engloba as capas da publicação. Em uma banca de revistas é
fácil notar que as revistas masculinas trazem na capa uma mulher e, assim como as revistas femininas,
na grande maioria, fenômeno que Morin chama de “cover-girl” e o explica da seguinte maneira:
“Um rosto de mulher reina sobre as capas das revistas, sejam elas femininas ou não. São
raros os cover-boys tanto na imprensa feminina como nos Paris Match, Jours de France, etc,
da imprensa masculino-feminina. Só uma explicação é possível. Se o rosto da mulher não do
homem impera na revista feminina, é porque o essencial é o modelo identificador da mulher
sedutora e não o objeto a seduzir. Se na grande imprensa periódica a mulher eclipsa igualmente o homem, é porque ela ainda é o sujeito identificador para as leitoras, enquanto ela
aparece como objeto de desejo para os leitores”. (Morin, 1997, p. 144)
Portanto, entendemos que o fascínio da mulher-sedutora é o que atrai os homens e o sonho
da fórmula de ser a mulher-sedutora atrai o público feminino. Morin (1997) ainda diz que a mulher-modelo desenvolvida pela cultura de massa aparenta ser uma “boneca do amor”, e tanto a
publicidade quanto os conselhos estão direcionados de modo preciso para os caracteres sexuais
secundários (cabelos, peito, boca, olhos), para os atributos erógenos (lingeries, vestidos, acessórios)
e para um ideal de beleza esbelto (quadris, ancas, pernas). O autor complementa que “a boca perpetuamente sangrenta, o rosto pintado são um convite permanente a esse delírio sagrado de amor
que embota, evidentemente, a multiplicidade quotidiana do estímulo” (Morin, 1997, p. 141).
Apostando no fenômeno cover-girl, as 21 edições analisadas de Claudia apresentaram duas
propostas distintas: fotos com close (fig. 213) e fotos com um ângulo mais aberto (fig. 214). As imagens com close foram implantadas em 2003 quando entrou a diretora de redação Marcia Neder e foi
mantida até maio de 2008. A partir de então, com exceção da edição de dezembro de 2008, a proposfig. 213
fig. 214
ta de fotos mais abertas veio sendo
mantida, trazendo informações de
moda com o aparecimento de mais
detalhes das roupas e acessórios.
Mas isto não significa que Claudia
alterou seu projeto editorial, focando mais em moda, pois percebemos
que isto foi apenas uma maneira de
variar o conceito da capa que permaneceu o mesmo por seis anos.
Este tipo de capa, com fotos
Capa Claudia, ano 47, no 1,
janeiro de 2008
Capa Claudia, ano 47, no 9,
setembro de 2008
de rosto, foi resgatado do passa-
Design em revista feminina
163
fig. 215
do por Márcia Neder, pois foram muito usadas em Claudia nas
década de 1960, 1970 e 1980, como uma fórmula intacta e inalterada por todo esse período. Nos anos de 1990, a diretora de
redação Célia Pardi implantou as capas onde apareciam toda ou
grande parte da roupa das modelos, capas estas que eram muito
semelhantes às revistas de moda (fig. 215).
Outro aspecto a ser considerado é a figura que estampa a capa
da revista. Claudia trouxe, desde meados dos anos de 2003, mulheres
famosas na capa (cantoras, atrizes e apresentadoras de televisão) e
não mais modelos. A revista trouxe mulheres conhecidas do público
feminino pela profissão que exercem e, com isso, pretendeu-se as-
Capa Claudia, ano 37, no 444,
setembro de 1998
sociar a imagem dessa mulher com a proposta editorial da revista
e com o perfil da leitora de Claudia. São, geralmente, mulheres belas, atraentes e bem-sucedidas
em sua carreira e vida pessoal, visando criar, no imaginário coletivo, um paradigma de beleza, de
atitude e de comportamento social a ser copiado.
Os textos das chamadas de capa foram bem sucintos, diretos e usaram palavras e expressões
para atrair a atenção do leitor: supernovidades, novas tendências, surpreendente, realizar seu sonho, peças por menos de X reais, truques para conquistar... etc. Muitas vezes, encontramos frases
no imperativo, próprias da publicidade, vendendo promessas de emagrecimento, rejuvenescimento ou de qualquer outro tipo. Todas essas ações visaram, única e exclusivamente, obter vendas de
exemplares através, muitas vezes, de falsas promessas. é de extrema frequência, ouvir relatos de
pessoas comentando que compraram uma determinada revista por causa de uma certa chamada
de capa, mas quando viram a reportagem, perceberam que não era nada daquilo que foi vendido
fig. 216
no texto contido na capa. Esta prática de publicar “chamadas enganosas” pode até gerar vendas, entretanto, frequentes
decepções podem fazer com que a pessoa deixe de comprar
aquela revista em razão desta prática.
A proposta editorial das capas do suplemento Claudia comida & bebida (fig. 216) era mostrar um prato, visualmente, apetitoso que aparecesse dentro do encarte com sua receita. Através
de uma bela foto, pretendeu-se despertar no leitor o desejo de
comer aquele prato ou tipo de prato que poderia ser realizado
através da feitura da receita. Muitas vezes, esses pratos ficam
muito mais bonitos nas fotos do que ao vivo, devido ao trata-
Capa Claudia Comida & Bebida, ano 48,
no 8, agosto de 2009
mento dado pela fotografia e as produções cenográficas.
164
Design em revista feminina
O projeto gráfico das capas de Claudia
O projeto gráfico das capas de Claudia é um dos itens de extrema relevância na discussão sobre
o design de uma publicação. A capa é a embalagem do produto e, por isso, deve transmitir visualmente, de forma rápida e concisa, a identidade da revista, daí a importância de analisarmos como
se configuram as questões relacionadas à capa na revista Claudia.
De acordo com Zappaterra (2007), existem três tipos de capas: figurativas, abstratas e somente de texto. As capas figurativas contendo fotografias, ilustrações ou a combinação de ambas, pretendem corresponder visualmente com o projeto editorial da revista. As capas abstratas
trazem apenas uma imagem e tem o luxo de colocar mínimas ou nenhuma chamadas de capa e, a
liberdade de posicionar o logotipo onde melhor se encaixa no design. Geralmente, são publicações
somente de assinaturas que não dependem de vendas em bancas ou suplementos especiais e revistas de interesse especial e específico. Já as capas somente de texto são raras e trazem apenas
uma única chamada de capa. Em nossa cultura que hoje é extremamente visual, seu uso é mínimo,
porém serve para causar impacto e destacar-se como, por exemplo, uma tragédia ou quando uma
personalidade famosa morre.
As capas de Claudia foram figurativas ilustradas com uma mulher famosa. Como mencionamos
anteriormente, a partir do ingresso da diretora de redação Márcia Neder em 2003, as fotos de capas
passaram a ser de closes de mulheres (figuras da página ao lado), padrão que fora mantido até maio
de 2008. A partir de então, na edição de junho de 2008, a capa com a atriz Mariana Ximenes (fig.
222) apresentou foto em plano americano, com o corte na altura da cintura. Este padrão estabelecido seguiu por todo o ano de 2009 e, em algumas edições, o corte da foto foi ainda mais aberto,
mostrando cada vez mais os detalhes da roupa, trazendo mais informações de moda à imagem. A
exceção aconteceu na edição de dezembro de 2008, na capa da atriz Grazielli Massafera (fig. 228,
p. 171) e em abril de 2009 com a atriz Alinne Morais (fig. 232, p. 171). Ambas as capas retornaram
ao padrão do ano de 2008 com a foto mais aproximada e o logotipo por cima da imagem.
Como dissemos anteriormente, os dois padrões já foram utilizados em outras épocas em
Claudia, portanto, vimos que Claudia retomou visuais estipulados anteriormente, revezando entre
estes dois padrões: fotos de rosto mais aproximadas ou fotos mais afastadas. Outro padrão estabelecido em anos anteriores, mais precisamente nos anos de 1990, foi o uso de capas com fundo
branco. Claudia permaneceu anos publicando capas com fundo branco, mas hoje há um revezamento entre capas com fundo branco e capas com fundo coloridos como mostram as figuras.
Independente da cor empregada, o que mais chamou a atenção na imagem da capa foi a postura,
olhar ou atitude da mulher. Para White (2006) é a “foto que prende o olhar, o que desperta a curiosidade do leitor. Deve ser diferente da última edição (para indicar que esta edição é nova), mas mantendo o mesmo estilo (para identificar a publicação e separá-la das outras)” (White, 2006, p. 186).
Claudia não só manteve o mesmo estilo como também o visual muito semelhante, o que fez
Design em revista feminina
fig. 217
Capa Claudia, ano 47, no 1,
janeiro de 2008
fig. 220
Capa Claudia, ano 47, no 4,
abril de 2008
fig. 223
Capa Claudia, ano 47, no 7,
julho de 2008
fig. 218
Capa Claudia, ano 47, no 2,
fevereiro de 2008
fig. 221
Capa Claudia, ano 47, no 5,
maio de 2008
fig. 224
Capa Claudia, ano 47, no 8,
agosto de 2008
165
fig. 219
Capa Claudia, ano 47, no 3,
março de 2008
fig. 222
Capa Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008
fig. 225
Capa Claudia, ano 47, no 9,
setembro de 2008
166
Design em revista feminina
com que não houvesse diferenças substanciais na imagem de uma edição para outra, mesmo revezando entre fundo branco e colorido. Se por um lado isto é bom para manter o reconhecimento da
publicação com seu público, por outro é ruim, pois não o surpreende com uma imagem inusitada
nem tampouco gera expectativa.
Moser (2007) diz que a primeira impressão acontece na capa que combina diferentes elementos como logotipo, imagem e tipografia para criar uma identidade totalmente individual e inconfundível. Esta imagem deve ser coerente e consistente para garantir repetitivo reconhecimento
no mercado. Entretanto, aponta que se o visual fosse diferente em toda edição, o leitor não teria
uma imagem precisa em sua mente: uma aparência memorável distingue de toda concorrência,
favorecendo o sucesso comercial. Para o autor, apenas um pequeno número de revistas pode, seguramente, ser identificados mesmo com o logotipo encoberto.
Portanto, vemos que o tema é bastante arbitrário, pois se um lado sugerem a necessidade de
se manter um estilo para o reconhecimento do público, por outro lado, apontam a necessidade
de imagem que surpreenda o leitor, como diz Moser (2007): uma boa capa deve ser um balanço
perfeito entre surpresa e familiaridade.
Sobre esse aspecto, Kopp (2002) relata que até os anos 40 era “normal” a variação nas capas
de revistas e traz como exemplo as publicações Vogue, Harper’s Bazaar, Life, Jugend e Ver Sacrum.
Porém, após esse período a “padronização e a repetição de elementos começam a se tornar a nova
prática “normal” (Koop, 2002, p. 94). Vimos que Claudia adotou a prática de fixidez de padrão visual, extremamente previsível, faltando o equílbrio entre o familiar e o surpreendente.
O logotipo das capas também é um elemento que contribui para garantir uma identidade
marcante para a revista. Na visão de Bhaskaran (2006), o logotipo de uma publicação também é
importante não só para reforçar a identidade de uma revista, mas também para criar um senso de
familiaridade com os leitores.
Claudia, nas edições em que usou fotos aproximadas, aplicou o logotipo em cima da imagem
e, nas imagens mais afastadas, colocou o logotipo atrás da foto. Como a revista tem 47 anos e é
muito conhecida de mercado, pode colocar o logotipo encoberto que mesmo assim será reconhecida pelo seu público. A tipografia usada na palavra Claudia, na fonte Didot, foi ao encontro do
projeto gráfico de forma geral da revista que utiliza muito este tipo.
Outro ponto relevante acerca da criação de um projeto gráfico de uma capa é a respeito do potencial atrativo. Em um mercado competitivo é de extrema importância que o designer desenvolva
em uma revista que chame a atenção do leitor diante de tantas opções nas prateleiras das bancas de
jornais. Para Bhaskaran (2006, p. 46), com tantos concorrentes, “se nada captura sua atenção, você
segue em frente”. O autor complementa que os segundos que o leitor olha uma revista são cruciais,
pois proporcionam a oportunidade de vender a revista a um potencial leitor, o que é um desafio.
Design em revista feminina
fig. 226
Capa Claudia, ano 47, no 10,
outubro de 2008
fig. 229
Capa Claudia, ano 48, no 1,
janeiro de 2009
fig. 232
Capa Claudia, ano 48, no 4,
abril de 2009
fig. 227
Capa Claudia, ano 47, no 11,
novembro de 2008
fig. 230
Capa Claudia, ano 48, no 2,
fevereiro de 2009
fig. 233
Capa Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
167
fig. 228
Capa Claudia, ano 47, no 12,
dezembro de 2008
fig. 231
Capa Claudia, ano 47, no 3,
março de 2009
fig. 234
Capa Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009
168
Design em revista feminina
Para Bhaskaran (2006), um bom design de capas não é sobre fontes fantasias e leiautes complexos,
é sobre vender a mensagem certa para o público certo da maneira certa, o mais claro possível.
Sobre este aspecto, White (2006) aponta que o design de capas não é um processo artístico,
mas sim um mercado acirradamente competitivo, um processo de construção de marca, de identidade. Para o autor é preciso examinar o design da capa em seu contexto, ou seja, dentro de uma
banca de jornal. “Elas devem ser vistas como o investidor potencial que irá vê-las – de maneira
fugaz, competindo por atenção”. Ele conta que se a publicação não tiver capacidade de venda em
banca, ela deve ser descartada, a não ser que o aspecto estético da publicação seja parte de sua
missão” (White, 2006, p. 186).
Esta afirmação vai ao encontro do que pensa Zappaterra (2007), que afirma que a capa deve se
destacar do grupo, puxando a atenção do leitor, em vez de seus concorrentes. A autora aponta ainda
que de acordo com pesquisas, estudos psicológicos e décadas de “sabedorias de marketing”, levou-se
a acreditar que as capas de revistas mais bem-sucedidas na cultura ocidental são aquelas que têm
um largo, claro e legível logotipo no topo, um belo rosto, provavelmente de uma mulher, sorrindo e
fazendo contato visual com o espectador. Nas revistas femininas, esta mulher que faz contato visual
como o leitor representa uma imagem a ser espelhada, de acordo com as aspirações das leitoras.
As chamadas de capa também são responsáveis por atrair o leitor, tentando convencer o potencial leitor que, dentro, irão encontrar um conteúdo melhor que o da concorrência.
De forma geral, para se atrair o leitor, White (2006) aponta que uma capa deve ser: “reconhecível de uma edição para outra”, ou seja, a marca; “emocionalmente irresistível”, pelo apelo
da imagem; “magnética e capaz de despertar curiosidade”, para puxar o leitor para dentro da publicação; “intelectualmente estimulante”, prometendo benefícios; “eficiente, rápida de varrer com
o olhar”, apresentando seu “serviço”, ou seja, suas reportagens e; “lógica”, no sentido de valer a
pena o investimento financeiro de comprar a revista (White, 2006, p. 85) .
Pudemos observar nas capas de Claudia alguns aspectos apontados por White (2006): a capa
foi reconhecível de uma edição para outra por causa da repetição visual, que mesmo sendo outra
mulher, é muito semelhante edição após edição. Já emocionalmente irresistível e magnética, por
despertar a curiosidade, não podemos dizer que Claudia seja, pois justamente devido a regularidade
não trouxe imagens surpreendentes de grande apelo atrativo. Com relação a prometer benefícios e,
consequentemente, “fazer valer o investimento da compra”, podemos dizer que isto aconteceu, pois
foram inúmeras as promessas de emagrecimento, rejuvenescimento, mudanças no corpo, etc. White (2006, p. 186) aponta ainda que apesar de ser a imagem o elemento que mais chama a atenção,
na verdade, são os textos que contém o apelo: “o que será que tem aí que me interessa?”.
Claudia colocou sempre em destaque uma chamada de capa em tamanho maior e outra em
tamanho intermediário. As chamadas de menor apelo comercial seguiram em tamanho reduzido.
Design em revista feminina
fig. 235
Capa Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009
fig. 236
Capa Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009
169
fig. 237
Capa Claudia, ano 48, no 9,
setembro de 2009
Como dissemos anteriormente, o tema beleza e moda são os que ocupam o lugar de maior destaque. Nas edições de janeiro, as previsões astrológicas ficaram na posição principal.
Com relação ao tamanho das chamadas de capas, White (2006) aponta que como elas são as
responsáveis por vender a edição e são lidas rapidamente, além de persuasivas, devem se alongar
o suficiente para dizer o apenas o necessário. Baseada nesse critério, vimos que chamadas de capa
de Claudia foram sucintas e em caixa alta e baixa. De acordo com o autor, o uso de letras caixa
alta e baixa são mais recomendadas porque dá melhor leitura e ocupa menos espaço, já as maiúsculas, apesar de criarem impacto por seu tamanho maior, são mais difíceis de decifrar em bloco.
Outro aspecto relacionado às chamadas é sobre o tamanho da fonte que, de acordo com White
(2006), deve ser adequado para ser lida a distância, ponto onde a revista será vista. “A banca de
jornal pede uma escala maior do que à distância mais íntima de quem tira uma revista do envelope
do correio” (White, 2006, p. 188). Também seguindo estes princípios, Claudia aplicou nas chamadas
de maior destaque um tamanho de corpo maior que permite ser lida com uma certa distância.
Em algumas edições, notamos uma poluição visual devido ao excesso de chamadas. Geralmente, são aplicadas entre cinco e sete chamadas de capa em cada edição. White (2006) explica que
com o uso de imagens sangradas em capas, há um aproveitamento máximo de espaço, onde a
foto continua além dos limites da página, representando apenas um núcleo de uma cena maior,
entretanto, faz com que, muitas vezes, a imagem seja “estragada” pelas chamadas de capa.
E para contribuir ainda mais com a poluição visual, desde agosto de 2009, a revista aplicou a
imagem da capa do suplemento de culinária na capa da revista. Antes deste período havia apenas
um box com transparência com a frase: Grátis Comida & Bebida.
O padrão de fontes adotadas nas chamadas de capa foi o mesmo do conteúdo da revista, que
permite uma unidade e coerência visual entre capa e miolo.
170
Design em revista feminina
Vale comentar que esta conduta sufocante para conquistar o leitor, restringe-se ao mercado
de revistas de massa, onde a competição é feroz e o mercado saturado. Revistas independentes,
menos dependentes de vendas em bancas, seguem em outra direção.
As capas do suplemento de culinária (fig. 238) que não necessitam do apelo de vendas em
bancas trazem apenas a imagem de um prato (que também se repete dentro da revista) com uma
ou, às vezes, nenhuma chamada em destaque e outras menores em formato de linhas horizontais.
O visual leve da capa com pouco texto só é permitido pela ausência da busca pela conquista do
leitor em bancas com um maior número de chamadas apelativas.
fig. 238
Capa Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 4, abril de 2009
Design em revista feminina
173
Considerações
finais
Design em revista feminina
175
Considerações finais
Ao pesquisar o segmento de revistas femininas percebemos que, por tão amplo (em razão da
quantidade de publicações) e com diversas ramificações, é possível classificá-lo em diferentes
categorias, o que contribuiu de forma significativa para o entendimento de como é a dinâmica do
mercado em questão e como se contrói produtos editoriais, no qual o projeto editorial é alicerçado
em um perfil de mulher [detalhadamente definido pela editora] ou em interesses específicos de um
determinado grupo. Além disso, enquadrar as revistas femininas apenas na categoria “revista segmentada por público” não tem a capacidade de traduzir todo o universo que esta corresponde. As
opções encontradas de revistas para a mulher foram tantas, com diferentes propostas, abordagens
e periodicidades, que a melhor forma para compreendê-las foi divindo-as em dois grandes grupos:
revistas femininas de interesse geral (semanais e mensais) e revistas femininas segmentadas por
interesses (de periodicidade variada). As revistas de interesse geral tratam de diversos assuntos e
são dirigidas a um determinado perfil de mulher, já nas revistas segmentadas por interesses, um
ou dois assuntos é o foco principal da publicação. Na primeira, o conteúdo é mais abrangente, e
na segunda, mais específico. Cabe lembrar que, para o lançamento de uma revista segmentada,
também é traçado um perfil de leitor(a), que serve como norte para a publicação, principalmente
no momento da elaboração de pautas, o que contribui a fim de que a revista atinja seus objetivos.
Vimos também a importância de um conceito editorial sólido para que a publicação mantenha-se
no rumo certo, de forma que continuamente satisfaça às necessidades de seu potencial leitor.
Sobre o conteúdo editorial das revistas femininas da atualidade, observamos que elas estão
arraigadas em valores individualistas com reportagens de cunho de aconselhamento ou que incitem ao consumo. Embora muitas publicações abordem diversos temas, sempre o grande chamariz
são as matérias que envolvem a aparência física (fique mais bonita, mais magra, sem celulite, com
um corpo mais esbelto, etc) ou o consumo (o novo batom de Yves Saint Laurent, a nova bolsa da
Louis Vuitton, o novo sapato de Christian Louboutin, etc). Tendências fugazes são criadas a todo o
instante pelos editores para atrair o leitor em busca de algo “aparentemente” novo. A prática de
dar novas roupagens a velhas abordagens é algo extremamente comum, uma vez que não existem,
efetivamente, tantas novidades sendo criadas todos os meses. O sincretismo também é marca da
revista feminina, pois homogeniza, sob um denominador comum, a diversidade dos contéudos para
atingir a mulher consumidora perfeita. E ainda este tipo de publicação são poderosos agentes disseminadores de valores masculinos, pois muitas vezes sugerem que a mulher manipule seu corpo
para o gozo do homem e não para satisfação pessoal. As inúmeras capas com figuras femininas (e
não masculinas) comprovam esta afirmação. As imagens das capas denotam o modelo identificador
(mulher sedutora) e não o objeto a seduzir (homem). Mesmo em Claudia, onde as mulheres aparecem mais discretas, o apelo sedutor existe, embora não tão explícito como ocorre na revista Nova.
176
Design em revista feminina
Na análise que fizemos sobre Claudia, constatamos que a revista, que ocupa o posto da revista feminina mais lida do Brasil, também faz sucesso em outras áreas: na gastronomia, com os
livros de culinária e o suplemento Claudia Comida e Bebida, na decoração com Casa Claudia e
Casa Claudia Luxo, na educação parental com Claudia Bebê. A poderosa marca Claudia confere
credibilidade a reportagens, novos títulos, receitas e eventos (Prêmio Claudia, Fóruns Claudia pela
Mulher Brasileira, Nós Mulheres) em razão de sua tradição de 49 anos produzindo conteúdos de
interesse do público feminino.
Sua fórmula editorial traz assuntos bem genéricos e pautas que tendem a agradar a todas, com
o objetivo de atingir um maior número de leitoras. As recorrentes chamadas de capas “para os 20,
30, 40, 50 anos” evidenciam a homogeneização do gosto. As frases no imperativo, presentes nos
títulos e nas chamadas de capa, incitam ao consumo de produtos de beleza, roupas, tratamentos
de beleza, e também a prática de exercícios, dietas de emagrecimento e cirurgia plástica.
Mas isto nem sempre foi assim, Claudia quando foi lançada em 1961 tinha outro apelo editorial,
pois seu contéudo era focado em temas que giravam em torno do lar. Em meio ao franco crescimento da indústria na época, pretendia obter lucros com a publicação de anúncios de produtos
relacionados a casa, principalmente, eletrodomésticos e eletroportáteis, como geladeiras, enceradeiras, aspiradores de pó, ferros de passar, muitos deles novidades na época. Os produtos de beleza,
vestuário e alimentação também marcavam presença nas páginas publicitárias.
A cozinha experimental de Claudia, aparentemente criada para agregar credibilidade às receitas,
pois eram previamente testadas pela redação, foi, na verdade, uma estratégia de marketing para
testar produtos alimentícios e eletrodomésticos, visando a parcerias comerciais. Promoções culturais também serviam para angariar vendas em bancas, como o sorteiro que premiava uma cirurgia
plástica e o concurso que buscava uma estrela para o filme de Roberto Carlos.
Na época em que surgiu, Claudia veio com a pretensão de atingir a “Dona Mariazinha de Botucatu, uma senhora interessada em casa, marido e filhos”, como mencionou Thomaz Souto Corrêa,
um dos primeiros diretores de redação de Claudia. A ideia era que a “Dona Mariazinha” consumisse
os produtos anunciados nas páginas da revista. A expressão “Dona Mariazinha de Botucatu” usada
pelo ex-diretor de redação soa pejorativamente, pois remete a uma mulher simplória do interior,
sem muito desenvolvimento intelectual. O que nos deixou claro que Claudia desde sua concepção,
claramente, visava a interesses comerciais. Por trás das belas imagens e dos conselhos práticos sobre o que fazer em todas as áreas da vida, escondem-se interesses financeiros. Obviamente, toda as
entidades empresariais objetivam lucros monetários, entretanto, muitas vezes, a leitora não percebe que está servindo de instrumento de manipulação ao ser incentivada a consumir determinados
produtos e serviços. Através de textos e expressões que querem estabecer uma proximidade, pretende-se transmitir a falsa ideia de que Claudia é sua amiga, prontamente a te ajudar em diversas
Design em revista feminina
177
ocasiões. O trecho que segue da primeira carta do editor (edição 1), deixa isso bem claro:
“Seja bem-vinda, você tem em suas mãos o primeiro número de uma revista que pretende desempenhar um papel muito importante na sua vida futura! CLAUDIA foi criada para servi-la.
Foi criada para ajudá-la a enfrentar realisticamente os problemas de todos os dias. CLAUDIA
lhe apresentará mensalmente idéias para a decoração de seu lar, receitas para deliciar sua família, sugestões para mantê-la sempre elegante e atraente. Mas o importante é a forma como
isto será feito. Antes de mais nada, CLAUDIA deverá ser útil para você. Deverá tornar-se sua
amiga íntima. E estará sempre às suas ordens para lhe proporcionar tôdas as informações e
novidades que você espera há tanto tempo, numa só revista, simpática, completa e moderna.
Seja bem-vinda, pois, às páginas de CLAUDIA. Temos certeza de que ela será sua companheira
fiel nos anos viradouros” (Revista Claudia. Ano 1, número 1, outubro de 1961).
Hoje, Claudia não se posiciona mais para a “Dona Mariazinha de Botucatu”, mas para a mulher
inteligente, culta e elegante. O atual slogan da revista, Mais que informa, transforma, remete à
ideia de que através da informação contida na revista é possível obter transformação intelectual,
obviamente, uma grande equívoco, pois Claudia pode até trazer informação sobre algumas áreas,
mas longe de produzir algum conhecimento efetivo no indivíduo. Até porque Claudia não incita à
reflexão e ao debate político em suas matérias de atualidades.
Além disso, Claudia quer estar associada à imagem de uma mulher bem-sucedida no amor, no
casamento, no trabalho e nas finanças. Por isso, estampa sempre em suas capas personalidades que
têm boa reputação e são vistas pela maioria como grandes exemplos a serem seguidos. Mulheres
consideradas bregas ou com forte apelo sexual, como funkeiras, Panicats, mulheres-frutas ou exparticipantes de reality shows, não têm lugar nas capas de Claudia. Entram apenas as (aparentemente) bem resolvidas, chiques, estilosas e melhor ainda se for casada e com família constituída.
Acerca do design gráfico, Claudia foi uma das primeiras publicações a produzir fotos elaboradas em estúdio nos mais diversos segmentos (moda, culinária, decoração, etc). Investia também
em matérias de moda em locações internacionais, como Rússia e Marrocos que, apesar dos custos
de produção, trazia enriquecimento visual à revista. Um ponto a destacar é que Claudia, no início
de suas produções, utilizava revistas estrangeiras como fonte de inspiração. De acordo com a
produtora fotográfica da época, Olga Krell, estas imagens serviam para ver o que iria funcionar
aqui no Brasil. Identificamos que esta prática perdura até hoje, no momento em que detectamos
diversas imagens que foram descaradamente copiadas de revistas internacionais. Talvez, essa prática aconteça por conta de um curto prazo estabelecido para a elaboração da revista. A ausência
de ideias criativas faz com que o comodismo se estabeça em algumas situações.
No que se refere ao projeto gráfico de Claudia, observamos que as características físicas da
Panicats dançarinas do programa televisivo Pânico na TV, exibido pela RedeTV!
Mulheres-frutas são dançarinas e/ou cantoras geralmente de funk ou axé de grupos musicais diversos. Figuras de forte apelo sexual, cada uma
tem o nome de uma fruta como nome artístico. Algumas delas são: mulher moranginho, mulher melancia, mulher melão, mulher maçã, etc
178
Design em revista feminina
revista não são um ponto de diferenciação, pois receberam padrões convencionais do mercado:
capa com verniz UV, tamanho 202 x 266 mm e papel LWC de baixa gramatura. Já no diz respeito
aos aspectos visuais, destacaremos alguns pontos a seguir:
A tipografia de Claudia tem como traço marcante o uso da fonte moderna Didot, largamente
conhecida por conferir elegância a peças de design gráfico. Inicialmente, no primeiro projeto gráfico de Claudia, o logotipo da revista era com a fonte Bodoni, também classificada como moderna
e muito semelhante à Didot. O uso desses dois tipos presentes sempre no logotipo conferiu identidade à publicação. Extremamente contrastante por seus traços finos e grossos, nem sempre essas
duas fontes tiveram destaque no conteúdo interno da revista. Em 2004, quando entrou em vigor
um novo projeto gráfico, a fonte Didot recebeu ênfase e posição de destaque na grande maioria
dos elementos tipográficos da página, feito que perdura até os dias atuais, trazendo consistência
tipográfica e personalidade à revista.
Outro aspecto acerca da tipografia de Claudia é o alinhamento do texto. Nas colunas, a massa
de texto recebeu justificação forçada, inclusive da última linha do parágrafo. Ao pesquisar inúmeras outras revistas do mercado, de diferentes segmentos, descobrimos que esta prática é inexistente. As revistas utilizam demasiadamente o texto justificado, especialmente quando é disposto
em 2 ou 3 colunas, porém nunca com a preocupação de alinhar a última linha de um parágrafo
exatamente com o final da coluna, sem deixar nenhum espaço em branco como fez Claudia. Esta
obsessão da revista em não deixar nenhum espaço em branco e utilizar mínimos espaços nos inícios dos parágrafos faz com que caiba mais texto na página. As reportagens mais textuais e menos
visuais, de apenas 4 páginas, recebem pouco tratamento ilustrativo, o que sugere que Claudia
priorizou o conteúdo escrito. Talvez o espaço determinado seja pouco para transmitir todas as
informações necessárias sobre um assunto, por isso Claudia tenha preferido encaixar todo o texto
em grandes blocos, com mínimos espaços em brancos e imagens reduzidas para caber bastante
texto. Visualmente, os leiautes ficam cansativos em razão da grande quantidade de texto, pois há
poucos subtítulos, boxes e espaços em branco que proporcionem descanso visual ao leitor. Compartilhamos da visão de Heller (2003), o qual diz que embora as palavras são os blocos de construção de sentido, as ideias visuais podem ser expressas muito mais persuasivamente por meio do
design gráfico (o casamento entre tipografia, leiaute e imagem). A revista poderia explorar mais
os diversos recursos de design gráfico existentes como forma de transmitir o conteúdo escrito que
necessita. Os efeitos tipográficos, por exemplo, foram vistos muito ocasionalmente, recurso que
poderia ser mais explorado, trazendo surpresa ao leitor.
Outra questão levantada acerca do design gráfico é quanto a utilização de templates prontos.
Para cada editoria de matéria houve, geralmente, um ou dois modelos de leiautes a seguir. O
mesmo ocorreu com as seções e colunas que todo mês tiveram a mesma diagramação. Nos dois
Design em revista feminina
179
anos analisados, mês a mês, apareceram os mesmos leiautes. Nas seções, não se criou nada novo,
apenas foram aplicadas as fotos e o novo texto nos mesmos locais. Somente na seção Beleza Essencial, o designer mudou a montagem das fotos dos produtos. Esta conduta, sem dúvida, agilizou
o processo de produção da revista, porém não surpreendeu o leitor a cada nova edição. Mas isto
nem sempre foi assim, em outros períodos, em especial na gestão da diretora de redação Celia Pardi, vimos uma intensa variedade de leiautes, formas de edição e também pautas. Com o ingresso
da diretora de redação Marcia Neder, a prática da repetição se tornou habitual.
Sobre isso, a partir de março de 2010, Claudia apresentou na carta da editora a nova diretora de
redação, Cynthia Greiner, que estava há alguns anos no comando da revista Nova (cargo anteriomente ocupado por Márcia Neder). A experiente editora, que também já foi editora da revista Boa
Forma, apareceu em foto ao lado de Marcia Neder, ladeada de seu último texto intitulado de Reinvenção permanente, que dizia: “Pois 2010 veio com um megadesafio: assumir um novo cargo, aqui
mesmo na Editora Abril. Vou dirigir um núcleo de revistas, dar uma reviravolta no dia a dia, mudar
um chip no cérebro, interagir com pessoas diferentes, enfim, sair da zona de conforto”. Realmente,
Marcia estava demasiadamente na “zona de conforto” ao trazer mensalmente pautas e visuais extremamente previsíveis. A jornalista que agora tem um cargo burocrático na editora, despede-se da
publicação após 7 anos em Claudia, período curto se comparado à diretora de redação anterior, Celia
Pardi, que ficou à frente da publicação por 15 anos. O rodízio de cargos, de tempos em tempos, é comum na editora Abril, fazendo com que as editoras saiam de sua “zonas de conforto” e contribuam
para o título, trazendo-lhe algo novo e sua visão como editora. O design gráfico da revista recebe
influências do diretor de redação, pois o cargo de direção de arte é subordinado a ele. Afinal, o editor
quer sempre imprimir sua marca no conteúdo escrito e também no visual.
Também a respeito do design gráfico de Claudia está o uso da cor. Na publicação, o emprego
de cores foi (e ainda é) mínimo, pois pretendeu-se manter o mais neutro possível. Nas imagens
produzidas pela editora (exceto as matérias de moda), raramente aparecem modelos com peças de
vestuário, acessórios ou objetos de cena que sejam coloridos. Acreditamos que essa neutralidade
de Claudia em relação a cores seja uma forma de agradar a um maior número de leitoras sendo o
mais imparcial possível.
No que se refere às imagens presentes em Claudia, notamos que a publicação fez pouco uso de
infográficos, recurso que deveria ser mais empregado, pois várias informações poderiam ser melhor
compreendidas, além de trazer variedade aos leiautes. As fotomontagens e os efeitos de contraste
de escala são bem empregados e podem trazer alguma surpresa ao leitor, expandindo também sua
interpretação acerca da reportagem. Embora traga algumas coisas diferenciadas, a homogeneidade
visual ainda impera em função do grande número de imagens clichês, visto em toda a imprensa
Texto extraído da edição no 3, ano 49, março de 2010.
180
Design em revista feminina
feminina. O uso de imagens em preto e branco, raramente empregado, também poderia ser uma
saída para o inusitado, haja vista que é muito pouco utilizado em revistas femininas.
Percebemos também que, muitas vezes, o ritmo e sequenciamento da revista foi interrompido,
pois foi necessário precisa quebrar as reportagens para espelhar os anúncios. Infelizmente, a revista
que visa a objetivos comerciais, sucumbe às necessidades visuais do design gráfico para atender
aos interesses financeiros. As matérias de capa, por exemplo, nunca têm chance de serem melhor
exploradas visualmente, porque como são colocadas logo no início da revista, local onde os anunciantes preferem estar, a matéria é sempre quebrada com anúncios, restando apenas na página da
abertura, alguma exploração de caráter mais visual.
A respeito das capas de Claudia, o padrão de fotos closadas e em fundo colorido (fig. 239),
estabelecido por Marcia Neder desde 2003 até junho 2008, veio sendo repetido todos esses anos,
edição após edição. A partir daí, Claudia começou uma fase com imagens menos aproximadas,
trazendo mais informações de moda, ao mostrar detalhes da roupa e dos acessórios (fig. 240).
fig. 239
235
Além disso, este tipo de imagem permite que sejam exploradas poses mais variadas das mulheres, trazendo atitude para a foto, não
ficando somente no close de um sorriso posado, como ocorreu na
grande maioria das vezes nesse período.
Claudia tem como tradição a repetição de fórmulas que considera corretas. No anos de 1990, Claudia tinha o seguinte padrão:
fotos sempre em fundo branco, porém, havia uma grande variedade
de poses, ângulos e cortes, dessa forma a sensação de mesmice,
mês a mês, era bem menor (fig. 241).
Embora, hoje a revista varie entre fundo branco e colorido, fotos
Capa Claudia, agosto de 2003
fig. 240
mais closadas e distantes, a imagem não difere, substancialmente,
de uma edição para outra a ponto de gerar uma grande surpresa
no leitor. E como a capa tem a pretensão de vender a edição, é
aplicada bastante chamadas, mesmo que o visual fique poluído. Já
as capas do suplemento de culinária, como não tem essa preocupação, baseam-se apenas na foto do prato, o que fica extremamente
limpo e atrativo.
Em 2011, Claudia completará 50 anos de existência, um marco
em sua história e também do mercado editorial. Não sabemos se a
publicação pretende fazer grandes mudanças a partir de então, porém
sabemos que alguns passos já foram dados: a troca de diretora de
Capa Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009
redação e um novo projeto gráfico implantado em outubro de 2010.
Design em revista feminina
181
fig. 241
Diversas capas de Claudia dos anos de 1990
Este novo projeto gráfico não foi substancialmente diferente do anterior, mas manteve a identidade
da publicação e trouxe, visualmente, a sensação de renovação. O conteúdo editorial permaneceu o
mesmo, apenas lhe foi conferido uma nova visualidade.
Assim, consideramos que no segmento de revistas de consumo, um design gráfico inovador não
é crucial para que a revista seja um sucesso de vendas. Claudia é a revista feminina mais vendida
do Brasil, mas não em decorrência do design gráfico que apresenta. Uma mega infraestrutura que
possui a editora Abril, como distribuição, divulgação, venda de assinaturas, ações promocionais
e uma série de outras ações combinadas, contribuem significativamente para solidificar um título no mercado, mesmo que ele não seja tão bom assim. Dessa forma, nos perguntamos: de que
adianta um design gráfico arrojado e criativo se, muitas vezes, ele será tolhido ao sucumbir aos
interesses comerciais impostos pela publicidade?
é indiscutível que o design é extremamente importante e traz inúmeros benefícios para uma publicação: serve como instrumento de navegação, atrai e guia o leitor na página, realça o conteúdo
editorial, faz com que a revista seja um objeto de lazer com o visual e a paginação bem cuidadas
dentre tantas outras funções, contudo, o design vai além disso, como conta Bomfim (1997):
“O Design seria, antes de tudo, um instrumento para a materialização e perpetuação de ideologias, de valores predominantes em uma sociedade, ou seja, o designer, consciente ou não,
reproduziria realidades e moldaria indivíduos por intermédio de objetos que configura, mesmo
que poucos designers aceitem a faceta mimética de sua atividade” (BOMFIM, 1997, p. 32).
182
Design em revista feminina
Portanto, mediante o viés ideológico e utópico do design, vimos o quanto é importante que o
designer tome consciência de seu papel no momento em que configura objetos de influência social,
como é o caso de uma revista feminina. Bomfim (1997) diz que esses objetos são, na verdade, extensões de um indivíduo em suas relações com outros indivíduos e com o meio ambiente.
Embora o objetivo primário do design para o mercado seja criar produtos para venda, Margolin (2004) conta que o design social serve para satisfazer as necessidades humanas. E por que o
design de uma revista feminina não pode combinar os dois? O autor conta que a ausência de pesquisas que demonstrem como um designer pode contribiuir para o bem-estar humano, dificultam
o desenvolvimento do design social.
Dessa forma, acreditamos que um design visualmente mais surpreendente e com conteúdos
editoriais que incitem à reflexão – não só de Claudia mas de todas as revistas femininas – poderiam contribuir com o desenvolvimento intelectual e estético da mulher, independente de sua
classe social ou condição financeira. As editoras deveriam pensar em, verdadeiramente, contribuir
com a mulher, mobilizando-as a ter um pensamento crítico em prol de uma sociedade melhor e
de uma melhor qualidade de vida, sem se aprisionar nas questões referentes à aparência física. E,
a área de design necessita tomar ciência de sua virtualidade e foco no ser humano, como afirma
Krippendorff (2000).
Infelizmente, ainda reside em nossa sociedade o axioma de que o design para o mercado e o
design social não podem caminhar juntos. Isto precisa ser revisto para que mudanças efetivas
ocorram. Para Margolin (2004), um “modelo social” de prática de design é mais do que nunca
necessário e sugere que seja criada uma agenda de pesquisa para que as questões relacionadas ao
surgimento da prática de design social possam ser consideradas. O autor revela-se esperançoso que
designers, pesquisadores, profissionais e educadores em design encontrem uma maneira de tornar
esse modelo possível.
A autora deste projeto crê que o design para o mercado pode, verdadeiramente, estar engajado
com o caráter social, sendo assim, pretende futuramente dedicar-se à pesquisa desse abrangente
tema, de forma que possa contribuir com a área, não permitindo que tal ideologia se limite apenas
a um discurso utópico.
Design em revista feminina
Glossário
185
Design em revista feminina
187
Glossário
A
Aspas: declaração inserida em uma matéria ou coluna, onde a frase aparece em destaque, geralmente, entre aspas. No meio jornalístico, há também a expressão: preciso de uma aspa, que
refere-se à necessidade de se inserir um personagem no texto.
B
Briefing: um conjunto de informações transmitidas em uma reunião para o desenvolvimento de
um determinado trabalho.
Box: texto que aparece na página geralmente entre fios ou em quadrado, sempre associado com
texto mais longo. Pode ser um conjunto de infor­mações técnicas relacionadas ao texto principal.
C
Caixa alta: letras maiúsculas.
Capitular: elemento gráfico (geralmente uma letra) com altura de várias linhas de texto, aplicado
no início de um texto ou parágrafo.
Cartoon: é um desenho humorístico que pode vir ou não acompanhado de legenda e tem caráter
crítico e de uma forma bastante sintetizada. Geralmente, os temas envolvem o dia a dia de uma
sociedade.
E
Entrelinhas: distância entre uma linha e outra (a linha de base de uma linha de texto à linha de
base seguinte). Também conhecida no ramo gráfico de leading (Niemeyer, 2001).
Entreletras: espaço entre um caracter e outro, também conhecido como kerning.
Espelhada: Aquela página que fica ao lado de uma outra. Em uma revista, por exemplo, se uma
página de anúncio é posicionada ao lado de outra página de anúncio, dizemos que as páginas
ficaram espelhadas. O mesmo ocorre com seções.
F
Família de fontes: é o conjunto de variações de determinada fonte (itálico, versalete, negrito, etc).
Fio: é uma linha (na vertical ou horizontal) que serve para criar uma divisão ou servir de suporte
para aplicação de elementos na página.
G
Grid: conjunto invisível de linhas-guia que ajudam o designer a determinar o posicionamento e uso
do texto, imagens e outros elementos de design, como espaços em branco, margens e rodapés.
I
Impressão rotativa: tipo de impressão com papel em bobina, ideal para altas tiragens devido a
sua rapidez e maior produtividade.
Infográfico: recurso gráfico que envolve imagem e pequenas informações para uma melhor compreensão do assunto
Imagem recortada: imagem sem cor no fundo, geralmente pode ser sobreposta.
J
Justificação forçada: quando o texto, disposto geralmente em colunas, é justificado em todas as
linhas, inclusive na última, não deixando nenhum espaço em branco.
K
Kerning: espaço entre um caracter e outro, também conhecido como entreletras.
188
Design em revista feminina
l
Linhas-guia: são linhas que podem ser inseridas em qualquer lugar da página e que têm como
objetivo auxiliar no posicionamento de objetos – recurso disponível nos softwares de editoração
e tratamento de imagem.
M
Mancha: a parte onde o texto está impresso. A mancha é emoldurada por margens que têm como
função garantir que nada importante seja excluído no processo de corte da revista. As imagens
podem invadir as margens e quando “vazam” para esta área e são cortadas, dizemos que as imagens “sangram”.
Miolo: nome dado à parte interna da revista.
N
Nota(s): texto curto geralmente diagramado em colunas referente a um determinado assunto.
O
Olho (da matéria): frase destacada de uma material. Pode ser sob o título ou em determinado
local da página.
P
Publi-editoriais (ou informe publicitário): reportagens que são pagas para serem veiculadas.
Algumas empresas preferem fazer publicidade em forma de reportagem para tentar enganar o
leitor se valendo de recurso técnicos e gráficos para transmitir sua mensagem comercial. O termo
publi-editorial é uma mistura entre as duas palavras: publicidade e editorial.
R
Retranca: também conhecido como cartola ou chapéu é uma palavra ou frase que identifica um
texto ou nome de uma sessão. Por exemplo: “Eduçação” pode ser uma retranca que identifica um
texto sobre o ensino no Brasil. Em reportagens é usada sobre o título do texto.
S
Sangrada (foto): quando a fotografia ultrapassa a margem, finalizando além da página.
Serifa: pequenos traços e prolongamentos que ocorrem no fim das hastes das letras.
Still: foto de produtos, geralmente sem fundo (ou recortado).
T
Templates: páginas-modelo que estão semi-prontas que servem como base para a criação do leiaute.
Transparência (ou opacidade): quando determinado elemento (foto, figura geométrica, etc) recebe tonalidade mais clara do que sua cor original. A opacidade pode variar de 1 a 99%, dependendo o efeito que se queira dar.
V
Vazado (texto): quando o texto fica em branco sobre um fundo colorido.
Versalete: é uma forma de composição onde todos os caracteres ficam em maiúsculas mas com
tamanho da minúscula.
Design em revista feminina
191
Lista de figuras
Design em revista feminina
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Lista de figuras
Fig. 1 - Quadro sobre as revistas de consumo ................................................................................................................................ 31
Fig. 2 - Quadro sobre as revistas femininas ................................................................................................................................... 35
Fig. 3 - Quadro com as divisões do segmento de das revistas femininas ............................................................................... 36
Fig. 4 - Revista Marie Claire americana (agosto/2009) e (dezembro/2006) ........................................................................... 41
Fig. 5 - Editorial de Vogue com as melhores modelos do momento ......................................................................................... 41
Fig. 6 - Formato revista Caras .............................................................................................................................................................. 48
Fig. 7 - Formato revista Nova ............................................................................................................................................................... 48
Fig. 8 - Formato revista Gloss .............................................................................................................................................................. 48
Fig. 9 - Reportagem sobre culinária revista The Oprah Magazine (abril / 2009) .................................................................. 52
Fig. 10 - Exemplos de aplicações de fontes de legibilidade e leiturabilidade ruim ............................................................. 53
Fig. 11 - Placa sumérica de cerca de 2350 a. C .............................................................................................................................. 54
Fig. 12 - Grade de página dupla........................................................................................................................................................... 55
Fig. 13 - Reportagem sobre as perigosas dietas de desintoxicação, revista Self .................................................................. 58
Fig. 14 - Reportagem da revista Loaded, extraída do livro Editorial Design (Zappaterra, 2007) ...................................... 61
Fig. 15 - Editorial sobre finanças, revista Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 .................................................................. 68
Fig. 16 - Intervenção em editorial da revista Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ........................................................... 68
Fig. 17 - Espectro de apresentação de imagens. Partem do literal e vão até o abstrato .................................................... 69
Fig. 18 - Editorial sobre o poder das mulheres, Claudia, ano 48, no 6, janeiro de 2008...................................................... 70
Fig. 19 - Editorial sobre finanças, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008....................................................................... 70
Fig. 20 - Alexey Brodovitch em 1959, analisando o sequenciamento do livro Observations ............................................ 71
Fig. 21 - Espelho do tipo Miolo nobre ............................................................................................................................................... 72
Fig. 22 - Espelho do tipo Zigue-zague .............................................................................................................................................. 73
Fig. 23 - Espelho do tipo Sobe e desce .............................................................................................................................................. 73
Fig. 24 - Capa Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 . ................................................................................................................ 76
Fig. 25 - Suplemento de culinária Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 ......................................... 77
Fig. 26 - Faixa etária dos leitores de Claudia ................................................................................................................................. 77
Fig. 27 - Classe social dos leitores de Claudia .............................................................................................................................. 78
Fig. 28 - Claudia Natal, 2008 .............................................................................................................................................................. 78
Fig. 29 - O Grande Livro de Receitas de Claudia ............................................................................................................................. 78
Fig. 30 - A Casa de Claudia, capa extraída da edição de dezembro de 1979 (ano 8, no 12)............................................... 78
Fig. 31 - Casa Claudia, maio de 2008 ............................................................................................................................................... 78
Fig. 32 - Claudia Moda, no 48, 1990 ................................................................................................................................................. 79
Fig. 33 - Claudia Cozinha, março de 2006 ...................................................................................................................................... 79
Fig. 34 - Claudia Nossos Filhos, imagem extraída da edição de agosto de 1979 (ano 18, no 8) ...................................... 79
Fig. 35 - Claudia Bebê, edição 505F, 2004 ...................................................................................................................................... 79
Fig. 36 - Sumário, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .............................................................................................................. 80
Fig. 37 - Capa Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 .................................................................................................................. 82
Fig. 38 - Capa Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 ............................................................................................................ 82
Fig. 39 - Capa Claudia, ano 48, no 3, março de 2009 ................................................................................................................... 82
Fig. 40 - Capa Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 .................................................................................................................. 82
Fig. 41 - Glamour, setembro de 2006 ............................................................................................................................................... 83
Fig. 42 - Glamour, setembro de 2007................................................................................................................................................. 83
Fig. 43 - Glamour, outubro de 2008 .................................................................................................................................................. 83
Fig. 44 - Capa Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968 ..................................................................................................................... 86
Fig. 45 - Cozinha Experimental de Claudia, Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963 ............................................................. 88
Fig. 46 - Selo Qualidade Comprovada Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963 . ..................................................................... 89
Fig. 47 - Anúncio publicado em Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968 .................................................................................... 90
Fig. 48 - Anúncio publicado em Claudia, ano 6, no 69, junho de 1967.................................................................................... 90
194
Fig.
Design em revista feminina
49 - Promoção publicada em Claudia, ano 8, no 95, agosto de 1969................................................................................ 91
Fig. 50 - Capa Claudia, ano 1, no 1, outubro de 1961 .................................................................................................................. 92
Fig. 51 - Capa Claudia, ano 1, no 2, novembro de 1961 . ............................................................................................................. 93
Fig. 52 - Capa Claudia, ano 2, no 3, março de 1962 ..................................................................................................................... 93
Fig. 53 - Capa Claudia, ano 3, no 6, junho de 1963 ...................................................................................................................... 93
Fig. 54 - Editorial de moda em Claudia, ano 8, no 95, agosto de 1969 ................................................................................... 94
Fig. 55 - Editorial de moda em Claudia, ano 7, no 80, maio de 1968 ..................................................................................... 94
Fig. 56 - Capa Claudia, ano 17, no 196, janeiro de 1978 ............................................................................................................. 95
Fig 57 - Capa Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979 ........................................................................................................ 95
Fig 58 - Editorial ao lado de anúncio, Claudia, ano 3, no 21, junho de 1963 ........................................................................ 95
Fig 59 - Selo em Claudia, ano 6, no 69, junho de 1967 ............................................................................................................... 96
Fig. 60 - Selo em Claudia, ano 13, no 155, agosto de 1974 ....................................................................................................... 96
Fig. 61 - Selo em Claudia, ano 13, no 155, agosto de 1974 . ...................................................................................................... 96
Fig. 62 - Editorial de Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979 ........................................................................................... 96
Fig. 63 - Imagens de Claudia retiradas do site dos designers Mary Hopkins e Will Baumann . ....................................... 97
Fig. 64 - Editorial de moda, Claudia, ano 14, março de 1975..................................................................................................... 98
Fig. 65 - Seção The SuperMãe, Claudia, ano 17, no 196, janeiro de 1978 . ............................................................................ 99
Fig. 66 - Seção The Super-Mãe, Claudia, ano 18, no 219, dezembro de 1979 ...................................................................... 99
Fig. 67 - Editorial de comportamento, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009.......................................................................... 103
Fig. 68 - Editorial de Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009............................................................................................................ 104
Fig. 69 - Editorial de Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ................................................................................................. 104
Fig. 70 - Editorial de Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ........................................................................................................ 104
Fig. 71 - Editorial de Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ......................................................................................................... 105
Fig. 72 - Editorial de Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .......................................................................................................... 105
Fig. 73 - Editorial de Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ................................................................................................. 105
Fig. 74 - Entrevista, Claudia, ano 48, no 3, março de 2009 ........................................................................................................ 105
Fig. 75 - Editorial de moda, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 .......................................................................................... 106
Fig. 76 - Editorial de Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 . ..................................................................................................... 106
Fig. 77 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ............................................................................................ 106
Fig. 78 - Editorial de moda, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 . .............................................................................. 107
Fig. 79 - Editorial sobre os 10 anos do Viagra, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 .............................................. 107
Fig. 80 - Reportagem sobre corrida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009.......................................................................... 108
Fig. 81 - Matéria com dicas para ter mais energia, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009............................................... 108
Fig. 82 - Editorial de comportamento, Claudia, ano 47, no 12, julho de 2009....................................................................... 109
Fig. 83 - Perfil do ator, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ................................................................................................... 110
Fig. 84 - Editorial sobre casamento, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ............................................................................ 110
Fig. 85 - Editorial sobre sexo, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ............................................................................. 110
Fig. 86 - Reportagem sobre aborto, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ............................................................................ 111
Fig. 87 - Seção O que eu faço agora? Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ........................................................................ 112
Fig. 88 - Reportagem sobre espiritualidade, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ............................................................ 112
Fig. 89 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 ..................................................................................... 114
Fig. 90 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 ............................................................................................. 114
Fig. 91 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ........................................................................................... 115
Fig. 92 - Reportagem sobre relacionamento, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ........................................................... 116
Fig. 93 - Reportagem sobre relacionamento, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ........................................................... 116
Fig. 94 - Matéria sobre mamografia, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2008 .................................................................... 116
Fig. 95 - Matéria sobre cortes de cabelo, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .................................................................... 117
Fig. 96 - Matéria sobre finanças, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2008 ................................................................................. 117
Fig. 97 - Matéria sobre educação, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 . ............................................................................ 117
Fig. 98 - Matéria sobre stress, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ...................................................................................... 118
Fig. 99 - Matéria sobre comportamento, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 . .......................................................... 118
Design em revista feminina
195
Fig. 100 - Reportagem sobre atualidades, Claudia, ano 48, no 7, maio de 2009 .................................................................. 118
Fig. 101 - Matéria sobre tratamentos de beleza, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ..................................................... 119
Fig. 102 - Matéria sobre maquiagem, Cabelos & Cosméticos, ano 5, no 28, junho de 2006 ............................................. 119
Fig. 103 - Editorial sobre tratamento para pele, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ..................................................... 120
Fig. 104 - Editorial sobre tratamento para pele, Claudia, ano 42, no 3, março de 2003 .................................................... 120
Fig. 105 - Matéria sobre tireoide, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2009 ................................................................................. 120
Fig. 106 - Matéria sobre tireoide, Plástica & Beleza, ano 11, no 99, dezembro de 2008 .................................................... 120
Fig. 107 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 4, dezembro de 2008 ............................................................................... 120
Fig. 108 - Matéria sobre dieta, Allure, ano 47, no 4, abril de 2008 .......................................................................................... 120
Fig. 109 - Matéria sobre Cabelos Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 ........................................................................... 121
Fig. 110 - Matéria sobre Cabelos, Glamour, maio de 2008 ......................................................................................................... 121
Fig. 111 - Editorial de beleza, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ......................................................................................... 121
Fig. 112 - Reportagem sobre procedimentos injetáveis, Allure, fevereiro de 2008 .............................................................. 121
Fig. 113 - Matéria sobre câncer de mama, Glamour, outubro de 2008.................................................................................... 122
Fig. 114 - Matéria sobre câncer de mama, Claudia, ano 47, no 7, janeiro de 2009 ............................................................. 122
Fig. 115 - Reportagem sobre bases, The Oprah Magazine, setembro de 2007 ...................................................................... 122
Fig. 116 - Seção fixa Beleza essencial sobre bases (maquiagem), Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008......................... 122
Fig. 117 - Matéria sobre proteção solar, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 . ........................................................ 123
Fig. 118 - Matéria sobre proteção solar, Self, julho de 2007........................................................................................................ 123
Fig. 119 - Propaganda da Nivea de máscara para cílios, Votre Beauté, abril de 2008 . ..................................................... 123
Fig. 120 - Reportagem de previsões astrológicas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ............................................ 123
Fig. 121 - Editorial de óculos, Claudia, ano 47, no 12, novembro de 2008 ............................................................................ 124
Fig. 122 - Sequência do conteúdo editorial de Claudia ............................................................................................................... 124
Fig. 123 - Simulação resumida do espelho de Claudia ................................................................................................................ 125
FIg. 124 - Matéria sobre cabelos, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ................................................................................. 126
Fig. 125 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 .......................................................................................... 128
Fig. 126 - Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 . ....................................................................................... 128
FIg. 127 - Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 .................................................................................... 128
Fig. 128 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 . ....................................................................................... 129
Fig. 129 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ............................................................................................ 129
Fig. 130 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ................................................................................. 129
Fig. 131 - Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 ......................................................................................... 130
FIg. 132 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ............................................................................................ 130
Fig. 133 - Matéria de capa, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ............................................................................................ 130
Fig. 134 - Matéria de capa, Claudia, ano 47, no 3, abril de 2008 ............................................................................................. 131
Fig. 135 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ................................................................................. 132
Fig. 136 - Editorial de beleza, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ........................................................................................ 132
Fig. 137 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ................................................................................. 133
FIg. 138 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ........................................................................................ 133
Fig. 139 - Programa de Verão, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2008 ............................................................................... 134
Fig. 140 - Programa de Verão, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 ............................................................................... 134
fig. 141 - Reportagem destinada a diversas faixas etárias, Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 ............................... 135
Fig. 142- Reportagem destinada a diversas faixas etárias, Claudia, ano 47, no 8, março de 2009 ................................. 135
Fig. 143 - Editorial de beleza, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ........................................................................................ 135
Fig 144 - Editorial de moda, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 .................................................................................. 136
fig. 145 - Editorial de moda para diferentes faixas etárias, Claudia, ano 47, no 11, outubro de 2008 .......................... 138
Fig. 146 - Matéria de moda para cada faixa etária, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 ............................................ 138
Fig. 147 - Matéria sobre a descriminalização da maconha, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 .......................... 139
Fig. 148 - Entrevista com Inês Alberti, Claudia, ano 49, no 5, maio de 2009 ........................................................................ 139
Fig. 149 - Perfil com o ator Dan Stulbach, Claudia, ano 48, no 3, março de 2008 .............................................................. 140
Fig. 150 - Matéria sobre a história de Lee Miller, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 ..................................................... 140
196
Design em revista feminina
Fig. 151 - Matéria de turismo, Claudia, ano 47, no 7, julho de 2009 ....................................................................................... 140
Fig. 152 - Matéria sobre espiritualidade, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ................................................................. 141
Fig. 153 - Reportagem sobre cabala, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 . ........................................................................ 141
Fig. 154 - Reportagem sobre segurança (psicológica) da mulher, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 .............. 142
Fig. 155 - Matéria sobre sexo, Claudia, ano 48, no 7, junho de 2009 ...................................................................................... 142
Fig. 156 - Matéria sobre como conquistar e manter o homem certo, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009......... 142
Fig. 157 - Matéria sobre comportamento masculino, Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 ......................................... 142
Fig. 158 - Matéria sobre o Prêmio Claudia, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 ............................................................ 143
Fig. 159 - Matéria sobre o Fórum Claudia pela Mulher Brasileira, Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 . ................. 143
Fig. 160 - Matéria sobre o projeto Educar para crescer, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ............................ 143
Fig. 161 - Matéria do projeto Planeta sustentável, Claudia, ano 47, no 12, fevereiro de 2008......................................... 144
Fig. 162 - Matéria de decoração, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ............................................................................... 145
Fig. 163 - Matéria de decoração de Natal, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ..................................................... 145
Fig. 164 - Matéria de decoração com Danuza Leão, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 ....................................... 145
Fig. 165 - Matéria de decoração sobre cadeiras, Claudia, ano 41, no 2, fevereiro de 2002 .............................................. 146
Fig. 166 - Matéria de decoração, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 .................................................................................. 146
Fig. 167 - Capa suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ....................................... 147
Fig. 168 - Matéria do suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ............................ 147
Fig. 169 - Matéria sobre feijão, suplemento Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ......... 148
Fig. 170 - Invenções de Bettina, Claudia Comida & Bebida, ano 48, no6, junho de 2009 .................................................. 148
Fig. 171 - Matéria sobre sobremesas, Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 9, setembro de 2009.................................. 148
Fig. 172 - Matéria sobre receitas, Claudia Comida & Bebida, Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 ...................... 149
Fig. 173 - Sumário, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 ............................................................................................................ 151
Fig. 174 - Seção Eu e você, Claudia, ano 48, no 3, março de 2009 ........................................................................................... 152
Fig. 175 - Seção Claudia Online, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ................................................................................... 153
Fig. 176 - Seção Sua opinião, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ........................................................................................ 154
Fig. 177 - Horóscopo, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ............................................................................................... 154
Fig. 178 - Horóscopo, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ....................................................................................................... 154
Fig. 179 - Conversa com Danuza, Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 .................................................................................. 155
Fig. 180 - Conversa com Danuza, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ............................................................................... 155
Fig. 181 - Carta de Fernanda Young, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ......................................................................... 155
Fig. 182 - Conexão Claudia, Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 ......................................................................................... 156
Fig. 183 - Conexão Claudia, Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 ................................................................................ 156
Fig. 184 - Seção A sua saúde, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008.................................................................................. 157
Fig. 185 - Seção Boa viagem, Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 ................................................................................. 157
Fig. 186 - Seção Coisa de criança, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ............................................................................... 157
Fig. 187 - Seção Turma teen, Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ........................................................................................ 157
Fig. 188 - Seção Dinheiro agora, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ................................................................................... 157
Fig. 189 - Seção Amigo bicho, Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ............................................................................... 157
Fig. 190 - Fique mais bonita, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 .......................................................................................... 158
Fig. 191 - Nutrição inteligente, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 ................................................................................. 158
Fig. 192 - Livros que a gente ama, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ................................................................................ 158
Fig. 193 - Balcão de beleza, Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ............................................................................................ 158
Fig. 194 - Balcão de beleza, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 .................................................................................... 158
Fig. 195 - Balcão de beleza, Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 .................................................................................... 158
Fig. 196 - Seção Mulheres que fazem a diferença, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 ................................................... 159
Fig. 197 - Seção Consulta de beleza, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 .................................................................... 160
Fig. 198 - Seção O que eu faço agora? Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008......................................................................... 160
Fig. 199 - Seção A lei e você, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 ........................................................................................... 160
Fig. 200 - Seção Relações delicadas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 .................................................................... 160
Fig. 201 - Seção De visual novo, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ........................................................................ 161
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Fig. 202 - Seção Desafio de moda e beleza, Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ............................................................... 161
Fig. 203 - Vitrine de acessórios, Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ......................................................................... 162
Fig. 204 - Seção Esta moda vai durar, Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .......................................................................... 162
Fig. 205 - Seção Supertendência, Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ................................................................................. 162
Fig. 206 - Seção Na última moda, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ......................................................................... 162
Fig. 207 - Look total até..., Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 .............................................................................................. 162
Fig. 208 - Seção Básicos de Claudia, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 .......................................................................... 163
Fig. 209 - Seção Básicos de Claudia, Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 .......................................................................... 164
Fig. 210 - Onde Encontrar, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 .......................................................................................... 164
Fig. 211 - Seção Mulheres alteradas, Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 .................................................................... 165
Fig. 212 - Seção Páginas da vida, Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 .............................................................................. 165
Fig. 213 - Capa Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 ............................................................................................................... 166
Fig. 214 - Capa Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 ........................................................................................................... 166
Fig. 215 - Capa Claudia, ano 37, no 444, setembro de 1998 ...................................................................................................... 167
Fig. 216 - Capa Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 8, agosto de 2009 .............................................................................. 167
Fig. 217 - Capa Claudia, ano 47, no 1, janeiro de 2008 ............................................................................................................... 169
Fig. 218 - Capa Claudia, ano 47, no 2, fevereiro de 2008 ............................................................................................................ 169
Fig. 219 - Capa Claudia, ano 47, no 3, março de 2008 . ............................................................................................................... 169
Fig. 220 - Capa Claudia, ano 47, no 4, abril de 2008 .................................................................................................................... 169
Fig. 221 - Capa Claudia, ano 47, no 5, maio de 2008 ................................................................................................................... 169
Fig. 222 - Capa Claudia, ano 47, no 6, junho de 2008 ................................................................................................................. 169
Fig. 223 - Capa Claudia, ano 47, no 7, julho de 2008 ................................................................................................................... 169
Fig. 224 - Capa Claudia, ano 47, no 8, agosto de 2008 ............................................................................................................... 169
Fig. 225 - Capa Claudia, ano 47, no 9, setembro de 2008 . ......................................................................................................... 169
Fig. 226 - Capa Claudia, ano 47, no 10, outubro de 2008 ........................................................................................................... 171
Fig. 227 - Capa Claudia, ano 47, no 11, novembro de 2008 ....................................................................................................... 171
Fig. 228 - Capa Claudia, ano 47, no 12, dezembro de 2008 ....................................................................................................... 171
Fig. 229 - Capa Claudia, ano 48, no 1, janeiro de 2009 ............................................................................................................... 171
Fig. 230 - Capa Claudia, ano 48, no 2, fevereiro de 2009 ........................................................................................................... 171
Fig. 231 - Capa Claudia, ano 47, no 3, março de 2009 . ............................................................................................................... 171
Fig. 232 - Capa Claudia, ano 48, no 4, abril de 2009 .................................................................................................................... 171
Fig. 233 - Capa Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ................................................................................................................... 171
Fig. 234 - Capa Claudia, ano 48, no 6, junho de 2009 ................................................................................................................. 171
Fig. 235 - Capa Claudia, ano 48, no 7, julho de 2009 ................................................................................................................... 173
Fig. 236 - Capa Claudia, ano 48, no 8, agosto de 2009 ............................................................................................................... 173
Fig. 237 - Capa Claudia, ano 48, no 9, setembro de 2009 . ......................................................................................................... 173
Fig. 238 - Capa Claudia Comida & Bebida, ano 48, no 4, abril de 2009 .................................................................................. 174
Fig. 239 - Capa Claudia, agosto de 2003 ......................................................................................................................................... 184
Fig. 240 - Capa Claudia, ano 48, no 5, maio de 2009 ................................................................................................................... 184
FIg. 241 - Diversas capas de Claudia dos anos de 1990 .............................................................................................................. 185
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UM OLHAR SOBRE CLAUDIA - Mestrado e Doutorado em Design