UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CLAUDIA APARECIDA VALASEK Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Deese, Roediger e McDermott em crianças e adolescentes com Transtorno Global do Desenvolvimento São Paulo 2013 CLAUDIA APARECIDA VALASEK Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Deese, Roediger e McDermott em crianças e adolescentes com Transtorno Global do Desenvolvimento Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de mestre. Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio São Paulo 2013 V137p Valasek, Claudia Aparecida Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Deese, Roediger e McDermott em crianças com Transtorno Global do Desenvolvimento/ Paulo Sérgio Boggio. 2013. 106 f. : il. ; 30 cm Dissertado (Mestrado em Distúrbio do Desenvolvimento) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2013. Referências bibliográficas: f. 92-102. 1. Potencial Relacionado ao Evento. 2. EEG. 3. Autismo. 4. Transtorno global do desenvolvimento. 5. Falsa memória. I. Título. CDD 616.898 CLAUDIA APARECIDA VALASEK Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Deese, Roediger e McDermott em crianças com Transtorno Global do Desenvolvimento Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana Mackenzie como requisito para obtenção do título de mestre. Aprovada em _______________________________ BANCA EXAMINADORA Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio – Orientador Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo Universidade Presbiteriana Mackenzie Prof. Dr. Emanuel Pedro Viana Barbas de Albuquerque Universidade do Minho AGRADECIMENTOS Primeiramente agradeço a Deus pela vida e por todas as maravilhosas oportunidades que tive até hoje. Ao meu orientador Paulo Sérgio Boggio, não apenas pela possibilidade de realização deste trabalho (desafiador!), mas por todos esses anos de confiança, incentivo, ensinamentos científicos e pessoais que me tornaram uma pessoa melhor. Sinto-me honrada de tê-lo como orientador. Aos meus pais, Sônia Gardin Valasek e Claudio Valasek pelo amor incondicional, carinho e compreensão dispensados em todos esses anos, desde minha primeira aula no “Cantinho do Céu” até minha escolha profissional. Serei eternamente grata! Amo vocês. Agradeço ao Dr. Quirino Cordeiro, Dr. Pedro Shiozawa e a Dra. Mailu Enokibara do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM), pela parceria concretizada e por não medirem esforços no recrutamento de pacientes (de um perfil tão específico). A Dra. Daniela Bordini responsável pela Unidade de Psiquiatria da Infância da Universidade Federal de São Paulo (UPIA) e a Neuropsicóloga Tatiane Cristina Ribeiro por também colaborarem no processo de recrutamento dos pacientes. Ao Sávio Ibrahim Viana, que aguentou muitos momentos de descontrole, mas esteve sempre ao meu lado, colocando sorrisos em meu rosto e me apoiando para eu continuar nessa caminhada. Amo você! A minha avó, Miriam da Costa Valasek, por todo seu amor, pensamento positivo, pelos jantares as segundas-feiras e suas velas para Nossa Senhora de Fátima. A toda equipe do laboratório que de forma direta ou indireta contribuiu com o trabalho, através da ajuda na seleção dos participantes, dos momentos de descontração, dos horários de almoço, dos cafezinhos “longos e curtos” e das descidinhas para o banho de sol. Em especial, agradeço as minhas queridas “tartarugas velhas”, Nathalia Ischikawa Baptista, Ana Carolina Alem Giglio e Olivia Morgan Lapenta pelas conversas, risadas e também ajuda na elaboração do trabalho. (Ana não tenho como agradecer pela grande ajuda na configuração das figuras). Agradeço a Camila Campanhã pelo apoio técnico e a Karen Ueki pela companhia e por todas as balinhas que ganhei para animar meu dia. As minhas queridas amigas, Andréa Guerra e Larissa Cangueiro que também estiveram ao meu lado e me proporcionaram ao menos uma vez por semana almoços deliciosos regados de felicidade. Aos membros da banca, Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo e Prof. Dr. Emanuel Pedro Viana Barbas de Albuquerque, por suas grandes contribuições que possibilitaram o melhor desenvolvimento deste estudo. “E sem saber que era impossível, ele foi lá e fez.” Jean Cocteau Apoio: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -FAPESP RESUMO Nas últimas décadas o interesse pela investigação do fenômeno da falsa-memória tem se ampliado. Na literatura ainda é escasso o número de estudos que investigam os componentes eletrofisiológicos subjacentes ao reconhecimento verdadeiro e ao reconhecimento falso, principalmente no que diz respeito a crianças e adolescentes com diagnóstico de autismo. O presente trabalho teve como objetivo analisar as diferenças comportamentais no desempenho da tarefa adaptada do paradigma de Roediger e McDermott nos dois grupos e verificar a presença de componentes eletrofisiológicos na fase de reconhecimento. Participaram do estudo 15 crianças/adolescentes, sendo 7 de grupo com diagnóstico de autismo (média 15 ±3,6) e 8 de grupo com desenvolvimento típico (média 10,7 ±2,5.). Resultados comportamentais mostram que não houve diferença significativa entre as taxas de acertos por reconhecimento da palavra-alvo, erro por falsas-pistas e erro por distratores. Ao contrário do que se esperava essa diferença também não foi observada no grupo de crianças com autismo, indicando assim que talvez não ocorra neste tipo de tarefa um processamento literal da informação. Análise dos dados eletrofisiológicos na fase de reconhecimento revelou o componente old/new (500-1000ms) que apresenta maior amplitude para reconhecimento verdadeiro em comparação ao reconhecimento falso. O interessante é verificar que esse componente foi observado tanto no grupo de desenvolvimento típico como no grupo com autismo. Além disso, foi encontrado componente P1 de menor amplitude para rejeição correta de falsas-pista em comparação aos outros tipos de acertos. Esse componente parece sensível a discriminação das palavras com associação semântica. Outro componente encontrado e que não é descrito na literatura para esse tipo de tarefa é o componente P2. Dessa forma, este estudo pode aumentar o conhecimento sobre as bases neurobiológicas e comportamentais do funcionamento no especialmente no que se refere ao processamento semântico de palavras. Palavras-chave: Potencial Relacionado ao Evento, EEG, Autismo, Transtorno global do desenvolvimento, Falsas memórias. ABSTRACT In the last decades the research interests in the false memory phenomenon have been amplified. The number of studies in the literature that investigate the electrophysiological components underlying the true recognition and the false recognition is still scarce, principally with respect to children and adolescents with autism diagnostic. The aim of this study was to analyze the behavioral differences in the performance of the subjects in the adapted Roediger and McDermott paradigm task in both groups and verify the presence of electrophysiological components in the recognition phase. Fifteen children/adolescents participated in the experiment. Seven of the subjects belonged to the autism diagnostic group (mean 15 + 3,6) and 8 subjects belonged to the typical development group (mean 10,7 + 2,5). The behavioral results showed that there was not a significant difference in the rates of correctness on the recognition of the target word, error by critical clue and critical distractor. Contrary to what was expected, this difference was also not observed in the children with autism. This might indicate that a literal information processing does occur in this kind of task. The analysis of the electrophysiological data in the recognition phase revealed the old/new component (500-1000ms) that presents higher amplitude for true recognition than for false recognition. It is interesting to notice that this component was observed on both typical development and autism groups. Moreover, it has been observed the low amplitude P1 component for correct rejection of critical clues in comparison to other types of correct answers. This component seems to be sensible to the discrimination of semantically associated words. Another component found but not described in the literature for this type of task is the P2 component. Therefore, this study may increase the knowledge about the neurobiological basis and the behavioral functioning, especially regarding the semantic word processing. Key-words: Event-Related Potential, EEG, Autism, Pervasive Developmental Disorder, False memories. LISTA DE ABREVIAÇÕES ARD Acerto por Rejeição do Distrator ARFP Acerto por Rejeição da Falsa-pista DRM Deese, Roediger e McDermott DSM- IV Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders EFP Erro por Falsa-pista ED Erro por Distrator ERP Potencial Relacionado ao Evento (Event-Related Potential) EEG Eletroencefalografia fRMI Ressonância Magnética Funcional (Function resonance magnetic image) PET Tomografia por emissão de pósitrons RCPA Reconhecimento Correto da Palavra-alvo TEA Transtorno do Espectro do Autismo TCLPP Teste de Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudo-palavras TGD Transtorno Global do Desenvolvimento WISC Wechsler Intelligence Scale for Children LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: EEG de alta densidade.........................................................................................................33 Figura 2: Ilustração de mapas de atividade cerebral em relação ao número e disposição dos eletrodos................................................................................................... 34 Figura 3: Prancha do subteste Compreensão de Instruções................................................................44 Figura 4: Exemplo dos sete tipos de pares-figura palavra que compõe o TCLP................................46 Figura 5: Desenho Experimental: Sequência de telas apresentadas no teste: Fase de memorização e fase de reconhecimento, respectivamente....................................53 Figura 6: Gráfico relativo ao percentual de acerto no grupo controle de desenvolvimento típico......................................................................................................56 Figura 7: Gráfico relativo ao tempo de reação para cada tipo de acerto no grupo com desenvolvimento típico.......................................................................................................57 Figura 8: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente P1......................................58 Figura 9: Diferença na amplitude de P1 em relação ao tipo de acerto................................................60 Figura 10: Diferença na amplitude do P1 em função do tipo de resposta...........................................62 Figura 11: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente P2...................................63 . Figura 12: Amplitude do componente P2 em relação ao tipo de acerto............................................ 65 . Figura 13: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente old/new......................... 67 . Figura 14: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de acerto.....................................68 Figura 15: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de resposta................................ 70 . Figura 16: Gráfico relativo ao percentual de acerto no grupo com autismo...................................... 72 . Figura 17: Gráfico relativo ao tempo de reação para cada tipo de acerto no grupo com autismo............................................................................................................ 73 . Figura 18: Amplitude do componente P1 em relação ao tipo de acerto no grupo com autismo..............................................................................................................75 Figura 19: Amplitude do componente P1 em relação ao tipo de resposta no grupo com autismo.........................................................................................................................77 Figura 20: Amplitude do componente P2 em relação ao tipo de acerto........................................... 79 Figura 21: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de acerto no grupo com autismo.........................................................................................................................81 Figura 22: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de resposta no grupo com autismo........................................................................................................................ 83 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Amostra de 6 itens-críticos pertencentes a folha de aplicação para registro de palavras...............................................................................................47 Tabela 2: Listas finais geradas para programação no E-prime ..................................................48 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 9 2. REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................................... 15 2.1.Falsa Memória..................................................................................................................... 15 2.2. Classificação das falsas memórias...................................................................................... 18 2.3. Modelos teóricos e falsa memória....................................................................................... 19 2.3.1. Modelo Construtivista................................................................................................. 19 2.3.2 . Teoria do Monitoramento da Fonte...............................................................................22 2.3.3. Teoria do Traço Difuso...................................................................................................23 2.3.4 . Teoria da Ativação-monitoramento...............................................................................24 2.4 .Tipos de testes usados na avaliação de falsa memória...................................................... 26 2.5. Falsa memória e idade........................................................................................................ 27 2.6. Bases Neurais das falsas memórias.................................................................................. 30 2.7. Eletroencefalografia e Potenciais Relacionados os Evento............................................... 32 2.8. Potencial Relacionado ao Evento, falsa memória e autismo................................................34 3. OBJETIVOS................................................................................................................................ 40 3.1. Objetivo Geral................................................................................................................. 40 3.2. Objetivo Específico........................................................................................................... 40 4. JUSTIFICATIVA........................................................................................................................ 42 5. MÉTODO.................................................................................................................................... 42 5.1. Participantes...................................................................................................................... 42 5.2. Instrumentos..................................................................................................................... 43 5.2.1. Para caracterização da amostra................................................................................. 42 5.2.2. Teste de memorização e reconhecimento................................................................ 46 5.3. Equipamento...................................................................................................................... 51 6. PROCEDIMENTOS................................................................................................................... 51 6.1. Aspectos éticos................................................................................................................... 54 7. Análise Estatística dos Resultados............................................................................................... 54 8. RESULTADOS........................................................................................................................... 55 8.1 Resultados comportamentais do grupo com desenvolvimento típico................................ 55 8.2. Componentes eletrofisiológicos do grupo com desenvolvimento típico.......................... 57 8.2.1. Componente P1………………………………………………………………...... 57 8.2.2. Componente P2………………………………………………………………...... 63 8.2.3. Componente old/new……….................................................................................. 66 8.3. Resultados comportamentais do grupo com autismo.........................................................71 8.4. Componentes eletrofisiológicos do grupo com autismo.................................................. 73 8.4.1. Componente P1...................................................................................................... 73 8.4.2. Componente P2…………………………………………………………………... 78 8.4.3. Componente old/new………………………………………………………………80 9. DISCUSSÃO…………………………………………………………………………………... 84 10. CONCLUSÃO………………………………………………………………………………... 91 11. REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………... 92 12. APÊNDICE………………………………………………………………………………...... 103 A. Carta de Informação a Instituição........................................................................................ 103 B. Carta de Informação ao sujeito de pesquisa......................................................................... 104 12. ANEXOS.................................................................................................................................. 106 A. Carta de aprovação do Comitê de Ética............................................................................... 106 9 1. INTRODUÇÃO O estudo das falsas memórias é de suma importância para diferentes áreas como; jurídica, psicoterápica e também para o entendimento do funcionamento da memória. No decorrer de mais de duas décadas de pesquisas, um número reduzido de estudos dedicou-se a investigar o fenômeno das falsas memórias em patologias, como por exemplo, no autismo. Um dos poucos experimentos e talvez por isso o mais conhecido procurou investigar as falsas memórias em um grupo com autismo e verificou que a indução de falsa memória por associação semântica é reduzida, ficando evidente um padrão de registro mais literal da informação (BEVERSDORF e colaboradores, 2000). Beversdorf e cols. (2000), observaram esse padrão investigando o desempenho de adultos com diagnóstico dentro do espectro do autismo em comparação a de um grupo de adultos sem autismo em tarefa adaptada de DRM. Os autores verificaram melhor discriminação de itens verdadeiros em comparação a itens falsos no grupo com Autismo. Se por um lado não formar registros de informações não existentes parece uma vantagem, por outro lado, consolidar informações apenas em sentido mais literal sinaliza possível alteração na integração de elementos distintos por meio de suas associações semânticas, ou seja, uma alteração na configuração e desenvolvimento de redes semânticas de informação. Em certo sentido, isso culmina em comprometimento na formação de conceitos e na compreensão dos elementos abstratos da linguagem. Pouco há sobre os mecanismos neurais subjacentes a esse processamento diferenciado. É interessante notar que esse processamento com características menos semânticas e conceituais descrito nessas patologias, é também observado em alguns pacientes após traumatismo cranioencefálico frontal ou com o desenvolvimento de demências fronto-temporais em hemisfério esquerdo, ou mesmo na Doença de Alzheimer. Plancher, Guyard, Nicolas e Piolino (2009) investigaram os efeitos do teste DRM em adultos jovens, idosos, e idosos com Doença de Alzheimer. Os autores observaram uma redução tanto para recordação de itens corretos (presente na lista da fase de memorização) quanto para recordação de itens semanticamente relacionados (mas não presentes na lista de memorização) para o grupo de pacientes com Doença de Alzheimer em comparação aos outros grupos. 10 Além disso, os autores verificaram que medidas de funções executivas e memória episódica e semântica predizem o desempenho destes pacientes na tarefa DRM sugerindo que a criação de falsa memória depende de diferentes funções cognitivas. Mais intrigante é verificar que em pessoas diagnosticadas como Síndrome de Savant, além de memória mais literal e menos semântica, pode-se observar habilidades especiais definidas como ilhas de genialidade normalmente específicas para música, cálculos de data, aritmética e desenho; entretanto, a despeito dessas habilidades, boa parte dessas pessoas tem déficits intelectuais e são classificadas dentro do espectro do Autismo, uma vez que falhas na interação social e na linguagem também podem ser observadas. Outros estudos também passaram a ser conduzidos na investigação dos efeitos de determinadas patologias sobre a formação e construção da memória. Nesse sentido, quando se observa algumas patologias como o Autismo e a Síndrome de Savant, tal fenômeno se diferencia. Recentemente, novas tentativas de explicação têm surgido com o uso de estimulação cerebral não-invasiva aplicada em seres humanos. Snyder e colaboradores (2003), utilizando estimulação magnética transcraniana (EMT) induziu a chamada lesão virtual temporária em estrutura fronto-temporal esquerda em voluntários saudáveis e observou como resultado uma alteração no padrão de desenhos pré e pós estimulação. O autor discutiu tais observações como possíveis indicativos de que todos seriam a princípio capazes de manifestar habilidades como as do Savant, entretanto, estruturas cerebrais específicas controlavam a manifestação dessas habilidades no sentido de privilegiar outras funções. Mais especificamente, privilegiar a formação de conceitos e categorias em detrimento de processar informações mais específicas, detalhadas e literais. Com base nessas observações, Gallate e colaboradores (2009) com o uso de EMT resolveram investigar os efeitos em tarefa de DRM. Os autores com EMT reduziram o número de erros por falsa memória (associação semântica) após interromperem temporariamente (lesão virtual temporária) a atividade do lobo temporal anterior esquerdo de voluntários sem nenhum distúrbio neurológico ou psiquiátrico em tarefa DRM. Desta forma, o comprometimento induzido pela EMT em estruturas fronto-temporais de hemisfério semanticamente integrado. esquerdo comprometeu o processamento 11 Outra técnica de modulação cerebral não-invasiva também vem sendo investigada, trata-se da Estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC). Com base em estudos recentes (HUMMEL e colaboradores, 2005; BOGGIO e colaboradores, 2006), esta técnica tem sido proposta como ferramenta de estudo em reabilitação neuropsicológica e tem se mostrado como uma interessante ferramenta de modulação cerebral e, por conseguinte, mais um instrumento a ser utilizado em pesquisas em Neurociência Cognitiva. A ETCC consiste em um aparelho que emite uma corrente elétrica de baixa intensidade (usualmente aplica-se 1 a 2mA) por meio de eletrodos (ânodo e cátodo) posicionados superficialmente sobre o couro cabeludo. Os efeitos observados dependem do local de aplicação, assim como da polaridade empregada. A aplicação em humanos da ETCC de baixa intensidade no córtex é capaz de induzir mudanças na excitabilidade cortical sendo a direção dessa modulação relacionada à polaridade do estímulo: estimulação anódica aumenta a excitabilidade e catódica diminui. Esta mudança na excitabilidade pode ser explicada em função da estimulação catódica reduzir o disparo espontâneo de neurônios corticais, devido a uma hiperpolarização do corpo celular, enquanto que a estimulação anódica tem um efeito inverso. Tal efeito parece perdurar por mais tempo que do período do estímulo, dependendo do tempo de aplicação. Com base nos estudos sobre falsa memória, a relação desta com patologias como autismo e a possibilidade de modulação cognitiva com técnicas como a ETCC, dei início a uma seqüência consecutiva de 3 projetos com bolsa de Iniciação Científica (IC) PIBIC/CNPq (2007/2008, 2008/2009 e 2009/2010). No primeiro projeto investiguei os efeitos neuromodulatórios da ETCC aplicado em córtex temporal de voluntários saudáveis durante execução do teste DRM. Como fruto destes trabalhos, foi inicialmente publicado o artigo científico intitulado “Temporal Lobe Cortical Electrical Stimulation during the Encoding and Retrieval Phase Reduces False Memories” na revista PLoS One. Neste estudo, verificou-se que a modulação bilateral do lobo temporal interfere na tarefa de DRM promovendo menor número de erros por associação semântica. Ou seja, melhora no desempenho literal do teste de memória e redução da emissão de resposta do tipo falsa memória. Além do teste de falsa memória, foram realizados teste de percepção de detalhes e de localização de erros em figuras e sentenças. Após a estimulação, os participantes que receberam a ETCC bilateral localizaram de forma mais eficiente os detalhes e erros tanto em figuras quanto em sentença. Esses achados 12 somados sinalizam o papel das estruturas estimuladas em habilidades que são tipicamente diferentes entre voluntários com e sem diagnóstico de autismo: memória tipicamente literal e percepção de detalhes mais eficaz. Os achados encontrados levantaram perguntas sobre os padrões ou estratégias envolvidos na resolução das tarefas que tiveram seus resultados modulados pela ETCC. Isso fez com que no PIBIC 2008/2009 todos os testes foram conduzidos com o uso de equipamento de registro e análise de movimentos oculares (Tobii) buscando uma compreensão maior sobre a forma como a ETCC interferiu nos processos perceptuais. Com relação ao teste de memória por associação semântica, verificou-se redução de erros durante a ETCC ativa em comparação com a placebo. Assim como em Boggio e colaboradores (2006), tais resultados sinalizam o papel central do córtex temporal no processamento semântico de informações. Os efeitos da ETCC vão à direção de um processamento mais literal das informações, assim como observado no autismo. Além disso, este estudo traz a informação adicional sobre dilatação de pupila. É interessante notar que os erros por associação semântica e sem associação semântica podem ser diferenciados pelo diâmetro da pupila, i.e., apesar dos voluntários errarem nos dois casos, a dilatação da pupila é maior nos casos em que o erro foi por associação semântica. Aumento do diâmetro pupilar está relacionado com processos cognitivos como atenção e memória, assim como aumento na demanda cognitiva (SIEGLE, ICHIKAWA e STEINHAUER, 2008). Neste caso, podemos levantar como hipótese que o aumento do diâmetro pupilar nos erros por associação semântica refletem, apesar da resposta explícita do sujeito, um conflito cognitivo no processamento das informações, ou seja, no processo de decisão sobre a palavra existir ou não lista. Já para o teste de percepção de detalhes, foi verificada melhora no desempenho durante ETCC ativa em comparação com a placebo. É interessante notar que tal fenômeno pode ser observado em pacientes com Autismo. O padrão de rastreio visual e localização de detalhes é mais eficiente nesses casos em comparação com grupos controle; por outro lado, a compreensão e reconhecimento dos aspectos mais globais do que se está rastreando é comprometido (O’RIORDAN, 2001). Dessa forma, podemos considerar que a ETCC em lobo temporal interferiu em processos perceptuais de busca visual. Tal hipótese se soma ao tempo de fixação observado durante a busca; os voluntários estimulados com ETCC ativa fixaram menos nas regiões que continham os detalhes a serem identificados quando comparados com o grupo placebo. Assim, o grupo que mais tempo se fixou foi o que menos localizou os estímulos-alvo que no caso 13 foi o grupo placebo. Esse fenômeno também é observado em grupos com autismo; além de melhor desempenho na detecção, a velocidade de execução é maior. Uma questão que fica em aberto com relação a esses achados diz respeito ao grau de compreensão que os sujeitos estimulados apresentaram sobre o conteúdo rastreado. Ou seja, assim como nos autistas, talvez o melhor desempenho na detecção, em conjunto com uma maior velocidade de execução, esteja acompanhado de uma redução na compreensão do todo. Por fim, no teste de detecção de erros em figura, os mesmos efeitos foram observados, i.e. o grupo que recebeu ETCC ativa localizou os erros das figuras melhor do que o grupo placebo. Esses dois estudos preliminares (2007/2008 e 2008/2009) forneceram informações sobre: a) interferência em teste de DRM; b) interferência em testes de percepção de erros e detalhes; c) estratégias de rastreio visual envolvidas nestas tarefas e d) modo como essas estratégias são moduladas pela estimulação cerebral. Esses dois estudos, portanto, trazem informações sobre os efeitos neuromodulatórios em testes que envolvem processamento de informação global versus detalhada, literal versus semântica. No entanto, estes estudos trazem resultados apenas comportamentais (por exemplo, desempenho na tarefa de DRM) e informações gerais sobre estruturas neurais envolvidas (o córtex temporal foi à estrutura estimulada). Assim, pouco se sabe sobre os mecanismos cerebrais subjacentes a estas tarefas. Além disso, será que esse padrão de registro mais literal da informação é replicado em crianças e adolescentes? Será que crianças e adolescentes com alto funcionamento apresentam esse desempenho ou pode comportamentalmente assemelhar-se ao grupo com desenvolvimento típico? Devido a essas e outras questões que ainda necessitam ser respondidas, a idéia da continuação do estudo desse tema prosseguiu e com isso surgiu a necessidade da criação de um teste de palavras (seguindo modelo do paradigma DRM) adequadas para participantes de faixa etária menor. Dessa forma, o primeiro semestre do mestrado foi dedicado à construção de um instrumento baseado na tarefa DRM para uso sincronizado com EEG para, com isso, compreender os potenciais evocados relacionados a esta tarefa. A adaptação da tarefa DRM seguiu procedimentos semelhantes aos apresentados por Geng e colaboradores (2007) para mensuração concomitante com EEG. Além disso, outro ponto importante é que a discussão sobre mecanismos envolvidos na falsa 14 memória e autismo foram feitos apenas de forma especulativa, pois se basearam apenas nos efeitos neuromodulatórios da ETCC em voluntários saudáveis. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo geral investigar as relações entre o desempenho comportamental e potenciais evocados em tarefa de memorização e reconhecimento (baseada no paradigma DRM) comparando crianças e adolescentes que se enquadrem nos Transtornos Globais do Desenvolvimento com o grupo controle de desenvolvimento típico. Com isso, pretende-se verificar diferenças e semelhanças tanto no aspecto comportamental quanto nos dados eletrofisiológicos entre os grupos de pacientes e um grupo controle de desenvolvimento típico, para que dessa forma possamos replicar ou oferecer novas contribuições nos escassos estudos realizados. 15 2. REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 - Falsa Memória “Remembering is not the re-excitation of innumerable fixed, lifeless and fragmentary traces. It is an imaginative reconstruction or construction, built out of the relation of our attitude towards a whole active mass of organized past reactions or experience, and to a little outstanding detail which commonly appears in image or in language form. It is thus hardly ever really exact, even in the most rudimentary cases of rote recapitulation, and it is not at all important that should be so”. (BARTLETT, 1932) Os primeiros estudos demonstrando que a memória poderia ser falsificável foram realizados em crianças pelo pesquisador Binet em 1900 na França e posteriormente por Stern em 1910 na Alemanha (ROEDIGER, 1996; ROEDIGER e McDERMOTT, 1995, PERGHER e STEIN, 2001). Já os estudos sobre distorções da memória envolvendo adultos tiveram início com Bartlett em 1932. Em um de seus experimentos mais conhecidos, Bartlett apresentou uma lenda folclórica indígena, “A Guerra dos Fantasmas” (em inglês “The war of the Ghosts”) a um grupo de ingleses e posteriormente pediu que lhe contassem a estória. Bartlett observou que a mesma era reconstruída com base nas experiências pessoais e culturais, de forma individualizada, ao invés de ser contada de forma literal. Com base nesses resultados, Bartlett descreve o recordar como um processo construtivo, baseado em estratégias cognitivas e esquemas previamente conhecidos geral prévio dos participantes (PERGHER e STEIN, 2001). Ampliando a reflexão de Bartlett, Sternberg (2008), relata que a memória também pode ser influenciada por atitudes, informações adquiridas posteriormente, emoções, humores, estados de consciência e esquemas baseados em conhecimentos do passado, caracterizando-se assim como construtiva. Basicamente o processamento da memória pode ser dividido em três operações: codificação, armazenamento e recuperação (BADDELEY, 1998; 2000). A codificação refere-se à transformação de uma informação sensorial em algum tipo de representação que posteriormente irá ser colocada na memória. Já o armazenamento é como o individuo retém a informação codificada na memória. Por fim, a recuperação é o acesso (output) a informação que foi armazenada. (STERNBERG, 2008). Apesar de armazenadas, nem todas as recordações de uma experiência são lembradas com a mesma facilidade. Isso ocorre, pois nossas emoções, humores, estados 16 de consciência e outras características de nosso contexto interno afetam de forma evidente a recuperação da memória (STERNBERG, 2008). Após os experimentos de Bartlett, décadas mais tarde, Deese (1959), apresenta seu experimento, no qual os participantes estudavam uma lista de palavras relacionadas como, por exemplo, médico, enfermeira, remédio, etc., onde uma palavra “tema”, ou seja, que estava diretamente relacionada às demais palavras, por exemplo, hospital, não era apresentada. Deese observou que os participantes evocavam essa palavra semanticamente relacionada, mesmo esta não tendo sido estudada. Com este experimento, o pesquisador mostrou que esse tipo de erro denominado intrusão, podia ocorrer em condições previsíveis. Os achados de Deese não ganharam muita atenção na época, porém em 1995, Roediger e McDermott readaptaram o modelo e denominaram esse fenômeno de “falsa memória.” (ROEDIGER e MCDERMOTT, 1995). O procedimento de Roediger e McDermott consistiu na apresentação de listas de palavras (geralmente oito listas compostas por doze a quinze palavras), sendo que cada palavra estava associada a um item-crítico, ou seja, um tema da lista apresentada. No final da apresentação das listas, ao ser realizada uma tarefa de evocação livre, é comum os participantes falarem uma palavra que não havia sido apresentada, mas que tenha associação semântica ao tema da lista (ROEDIGER e MCDERMOTT, 1995). Por exemplo, o experimentador apresenta uma lista de palavras semanticamente relacionadas como: hospital, enfermeira, injeção, remédio, etc. Posteriormente em um teste de reconhecimento, os participantes devem julgar quais palavras haviam sido vistas anteriormente. Esse teste era composto por palavras-alvo; sendo elas vistas anteriormente, como por exemplo, hospital; as palavras que não haviam sido vistas, mas que possuem forte associação semântica, como por exemplo, médico. Esse tipo de palavra foi denominado de item crítico ou distrator crítico, pelas palavras apresentarem alto grau de associação semântica; palavras distratoras que não foram apresentadas previamente, mas também são associadas; e por fim, as palavras denominadas de distratores não relacionados, que por sua vez, não haviam sido apresentadas e não possuem nenhuma relação semântica com as demais, por exemplo, trator, Como efeito do paradigma DRM é constatável uma taxa de reconhecimento falso de itens semanticamente relacionados ao item-crítico superior a 80% (RODRIGUES e ALBUQUERQUE, 2007). 17 Mas afinal, o que são as falsas memórias? As chamadas falsas memórias foram classificadas pelos autores como distorções da memória verdadeira, uma vez que se remete ao fato de podermos lembrar eventos que não ocorreram, ou recordar situações e fatos de uma forma diferente de como tenham ocorrido na realidade. (ROEDIGER e MCDERMOTT, 1995). Stein e Neufeld (2001) ressaltam que as falsas memórias não são mentiras ou simulações, mas constituem-se enquanto fenômeno de base mnemônica. Payne e colaboradores (1996), explica a distinção entre a falsa memória e a mentira. Segundo essa explicação, quando uma pessoa mente está consciente de que o fato narrado por ela não ocorreu, mas por motivo particular sustenta a estória. O mesmo não ocorre nas falsas memórias, uma vez que a pessoa realmente acredita que vivenciou o fato em questão. De acordo com Mojardín (2008), com base nas investigações experimentais realizadas, pode-se dizer que as falsas memórias não são fenomenologicamente diferentes das memórias verdadeiras, uma vez que apresentam muitos detalhes específicos que as fazem parecer reais, dessa forma, confundindo-se com as memórias verdadeiras.. Em relação à estabilidade das falsas memórias, estudos mostram que as mesmas são sustentadas através do tempo por períodos semelhantes ou até maiores do que as memórias verdadeiras. Em um estudo realizado com crianças, Brainerd, Reyna e Brandse (1995), compararam a persistência das falsas memórias em relação às memórias verdadeiras. Crianças foram imediatamente testadas após fase de estudo e uma semana depois. Os resultados indicaram que a persistência das memórias verdadeiras foi equiparada as das falsas memórias. Outro experimento que exemplifica a manutenção das falsas memórias no decorrer do tempo é o de Brainerd e Mojardín (1998). Os autores realizaram estudos com crianças e adultos, para avaliar a permanência da falsa memória com o passar do tempo. Os participantes foram avaliados no período de 2 e 4 semanas. Os resultados mostraram que tanto em adultos como em crianças (6, 8 e 11 anos), no período de 2 semanas as falsas memórias perduraram tanto quanto as memórias verdadeiras.. Entretanto, no término de quatro semanas, a persistência das falsas memórias foi maior do que das memórias verdadeiras. Assim, vale ressaltar que “as memórias das palavras críticas são menos susceptíveis à passagem do tempo e por isso se diz que o esquecimento dessas palavras 18 críticas é menor do que o esquecimento das palavras que na realidade foram apresentadas” (CARNEIRO e ALBUQUERQUE, 2010, p.15). O interesse crescente no fenômeno das falsas memórias, bem como o número de estudos que começaram a ser aprofundados, se faz necessário, uma vez que esse tema tem derivações de aplicação clínica e prática. Por exemplo, no caso do testemunho ocular, o mesmo pode ser considerado como parte de aplicação prática da teoria das falsas memórias. A validade dos testemunhos oculares coloca em questão as evidências da característica construtiva da memória. Estratégias que atualmente são utilizadas podem mostrar-se falhas em um depoimento. À medida que o indivíduo é solicitado a lembrar do que ocorreu, o mesmo é feito após a ocorrência do evento, fazendo com que uma codificação imagética seja transposta para uma realidade verbal/declarativa. Dessa forma, ocorre uma perda substancial de informação, tanto em relação à quantidade como a precisão. (ALBUQUERQUE e SANTOS 1999). Há algumas variáveis que interferem na codificação e na recuperação da informação, como por exemplo, o nível de ansiedade. A ansiedade presente em uma situação de testemunho pode fazer com que o processamento da informação seja ambíguo, sendo que pode facilitar a codificação de alguns aspectos ou fazer com que os mesmos nunca sejam codificados. (ALBUQUERQUE e SANTOS, 1999; STEIN, 2010). Portanto, perguntas dirigidas, solicitação de reconhecimento facial de criminosos pelas vítimas, descrições de como os eventos ocorreram, podem ser estratégias errôneas, uma vez que a memória dos acontecimentos que está sendo verbalizada não se configura como uma reprodução do que foi presenciado, mas uma reconstrução que foi induzida. (ALBUQUERQUE e SANTOS, 1999). 2.2 Classificações das falsas memórias As falsas memórias podem ser classificadas de duas formas: espontâneas e sugeridas (implantação de falsa informação). O que as diferencia é a forma como elas se originam (BRAINERD e REYNA, 1998; STEIN e cols., 2010). As falsas memórias sugeridas ocorrem devido a uma distorção exógena, ou seja, proveniente de uma informação falsa, acidental ou deliberada que advêm do ambiente externo ao sujeito e é compatível com a experiência previamente vivenciada. Essa 19 informação falsa não faz parte da experiência vivenciada pela pessoa, mas de algum modo é compatível com a mesma (STEIN e NEUFALD, 2001). A outra forma de falsa memória são as autossugeridas, oriundas de uma distorção endógena, ou seja, interna ao sujeito. Estas ocorrem quando a lembrança é alterada internamente, fruto do próprio funcionamento da memória. Com isso, uma inferência ou interpretação pode passar a ser lembrada como parte da informação original (PERGHER e STEIN, 2001). De acordo com Mojardín (2008), as falsas memórias espontâneas são mais difíceis de serem descobertas, uma vez que nem sempre as evidências físicas são possíveis de identificar. 2.3 Modelos teóricos e Falsa memória Alguns modelos teóricos e paradigmas surgiram à medida que os estudos sobre falsas memórias ganharam atenção no começo da década de 70. Os pesquisadores buscavam entender o que produziam as falsas memórias, bem como compreender o efeito e investigar as condições em que estas ocorriam. No presente capítulo serão abordadas quatro teorias que buscam explicar como ocorre o fenômeno das falsas memórias; o modelo construtivista, a teoria do monitoramento da fonte (source monitoring), a teoria do traço difuso (fuzzy-trace theory), e teoria da ativação-monitoramento. Dentre elas, as consideradas mais promissoras e que tem sido utilizadas nos estudos, são aquelas que consideram a ocorrência de processamentos oponentes e paralelos, como por exemplo, a teoria do traço difuso e a teoria da ativaçãomonitoramento. 2.3.1 Modelo Construtivista De acordo com Bartlett (1932), a recordação é um processo construtivo, guiado por esquemas que as pessoas utilizam para interpretar as situações vivenciadas. Foi essa idéia de Bartlett que influenciou os pesquisadores subsequentes que adotaram o modelo construtivista. Segundo este modelo, a memória é um sistema unitário que se constrói a partir das experiências que vão sendo vivenciadas no decorrer da vida. Dentro do modelo construtivista podemos ressaltar pesquisas de interferência e de esquemas. Ambas serão explicadas adiante. A teoria do esquemas, caracteriza o esquema como estruturas 20 semânticas do indivíduo, as quais armazenam experiência e conceitos de situações já vivenciadas. De acordo com Alba e Hasher (1983), o esquema existente é que vai determinar a codificação e o armazenamento da informação. O esquema irá filtrar e selecionar a informação nova, com o objetivo de torná-la consistente com as expectativas e conhecimentos já adquiridos. Por exemplo, em uma prova de memória o esquema que existe sobre determinada informação tende a se destacar. No caso de uma tarefa como o paradigma DRM, o participante ao estudar a palavra escola, armazena seus aspectos particulares (professor, aluno, caderno) em um código unitário, definido por um esquema de conhecimento (por exemplo, estudar). Assim, a informação recebida é posteriormente armazenada de acordo com esquemas conceituais de conhecimento prévio (informações que já estão construídas acerca de algo). Desse modo, nas provas de memória a recuperação da informação é determinada pela familiaridade semântica que existe entre a informação e os esquemas já existentes (MOJARDÍN, 2008). Essa teoria de esquema busca explicar o fenômeno das falsas memórias a partir de princípios como; seleção, abstração, interpretação e integração. O primeiro princípio é o de seleção, que está diretamente envolvido com os processos atencionais. Assim, quando nos deparamos diante de alguma situação/evento, apenas algumas partes dessa situação/evento serão codificadas e armazenadas em nossa memória, de modo que o item que for mais similar com o tema central do esquema será mais focado e consequentemente melhor armazenado em detrimento à outros aspectos (STENBERG, 2008). O próximo princípio, a abstração, se refere ao grau de semelhança do item vivenciado ou estudado (no caso dos testes de memória, por exemplo) com as informações armazenadas. Assim, quanto mais parecido o item estudado com o protótipo mental (o que já temos previamente armazenado sobre aquele item) mais ele sofrerá o processo de abstração, que consiste em detalhes as representações mentais em aspectos distintos. Em contrapartida, o princípio da interpretação enriquece o item a ser lembrado, uma vez que acrescenta detalhes de esquemas prévios. Por último, o princípio da integração consiste no processo de assimilação de informação nova com o esquema já consolidado. Segundo o autor, essa idéia representa melhor os conceitos da teoria construtivista, uma vez que compreende que a memória verdadeira e a falsa memória são armazenadas na mesma estrutura (STENBERG, 2008). 21 A teoria dos esquemas tem sua base para explicar estudos sobre falsas memórias implantadas, como os realizados por Loftus e Palmer (1974). O estudo Loftus e Palmer (1974) mostra o quanto à forma de questionamento sobre determinada situação, influencia diretamente na resposta que é dada. Os autores chamaram esse fato de paradigma da falsa informação ou sugestão (em inglês “misinformation effect paradigm”). Neste experimento, após assistirem um vídeo de um acidente automobilístico realizaram uma descrição detalhe sobre o mesmo. Posteriormente era aplicado um questionário que continha uma pergunta sobre a estimativa da velocidade que os carros estavam quando se bateram, cujos verbos utilizados diferiam quanto ao grau de violência. Foi observado que a intensidade do verbo utilizado na pergunta sobre a estimativa da velocidade que os carros estavam, afetou diretamente a resposta. A pergunta “A que velocidade os carros se esmagaram?” eliciou uma estimativa de velocidade maior que a pergunta feita com os verbos, “bateram”, “tocaram”, “colidiram.” Além disso, testados novamente uma semana depois, os participantes que foram interrogados com o verbo de maior intensidade responderam “sim” quando a pergunta “Você viu algum vidro quebrado?” foi feita, mesmo que no vídeo não havia essa cena. Outro estudo considerado clássico, realizado por Loftus e colaboradores em 1979 colocou em evidência a susceptibilidade das pessoas nas descrições de testemunho ocular. O experimento consistiu na introdução do paradigma de falsa informação. Neste experimento, uma série de 30 slides foi mostrada, nos quais um carro vermelho trafegava por uma rua, parava em um sinal vermelho, virava à direita e parecia atropelar uma pessoa que atravessava a rua na faixa de pedestre. Posteriormente, os participantes tinham que responder a 20 perguntas, sendo que para metade dos participantes algumas perguntas tinham informação incoerente com o que realmente havia sido apresentado anteriormente. Por exemplo, foi perguntado para um grupo se algum carro havia passado pelo carro vermelho enquanto ele parava no sinal de “pare”, enquanto que para o outro grupo a palavra “pare” foi substituída por “preferencial.” Na fase de teste quando os participantes tinham que recordar a cena original, a maioria que recebeu a sugestão da informação falsa, respondeu de acordo com a indução falsa, mesmo sendo explicado que recordassem a cena original. Pesquisas subsequentes utilizando esse paradigma deixaram evidente que, informações apresentadas depois do evento original podem influenciar a recordação do próprio evento. 22 O primeiro estudo que utilizou esse procedimento com um grupo de 187 crianças entre 3 e 12 anos de idade foi realizado por Ceci e colabores em 1987. A primeira parte do experimento consistiu na leitura de uma história acompanha por 8 ilustrações. Posteriormente (no dia seguinte) para metade dos participantes foram introduzidas informações falas a historia narrada. Dois dias após as crianças tinham que selecionar entre quatro imagens, duas que acreditavam terem sido apresentadas acompanhando a história narrada. Os resultados mostraram diferenças significativas no desempenho das crianças mais novas e mais velhas, apenas para aqueles que receberam a informação falsa sugestionada, sendo que crianças em idade pré-escolar escolherem frequentemente as imagens que tinham sido falsamente descritas. Portanto, para os construtivistas as falsas memórias surgem porque os eventos vividos são influenciados por nossas inferências e outras elaborações (esquemas, por exemplo), que vão além da experiência, integrando-se ao evento vivenciado. 2.3.2 Teoria do Monitoramento da Fonte Segundo Johnson, Hashtroudi e Lindsay (1993), a fonte envolve o conjunto de processos responsáveis pela atribuição de informação sobre a origem das memórias, conhecimentos e crenças, ou seja, discriminar o que é experiência real do que é imaginada. Para os pesquisadores, a memória verdadeira para o evento original, assim como a memória para a informação posterior, permanece intacta, em sistemas separados na memória (STEIN e NEUFALD, 2001). A dificuldade em diferenciar se a fonte da informação é proveniente do meio externo (informações perceptuais ou contextuais do evento vivenciado) ou do meio interno (informações sobre operações cognitivas, experiências anteriores) (JOHNSON, HASHTROUDI e LINDSAY, 1993) dão origem a uma confusão ou erro de julgamento. Nesse sentido, as falsas memórias provêm da confusão ou erro de julgamento de atribuição da fonte ou origem da memória. Assim, quando os processos de monitorização não falham, os erros são evitados. Esses processos podem ser sistemáticos, sendo estes lentos e conscientes e heurísticos, configurados por serem rápidos e automáticos, sem consciência da ação. De acordo com Johnson (1995 apud ROEDIGER e cols., 1996), o processo heurístico é mais propenso a erros por basear-se em aspectos familiares. Em contrapartida, o processo sistemático avalia mais aspectos da informação julgada levando a uma decisão mais acurada do fato vivenciado. 23 Segundo essa teoria, as memórias falsas produzidas a partir do paradigma DRM, são originadas da “confusão quanto às características dos associados gerados externamente (por associação as palavras apresentadas) com as características dos itenscríticos gerados internamente (por processamento das palavras) em virtude do elevado grau de associação dos primeiros com os segundos.” (RODRIGUES e ALBUQUERQUE, 2007, p.116). A teoria também propõe que as falsas memórias podem diminuir, caso o número de pistas semânticas seja maior (no caso do paradigma DRM, mais palavras associadas com a palavra alvo). Pesquisadores da área, como Brainerd e Reyna (2002), discordam dessa afirmação, bem como acreditam que muitos erros de memórias ocorrem devido à familiaridade e não a dificuldade de discriminação da fonte. Com isso, outras teorias foram sendo desenvolvidas na tentativa de abranger melhor o entendimento sobre o tema. 2.3.3 Teoria do Traço Difuso Uma das teorias que mais têm sido utilizadas para explicar a origem das falsas memórias é a Teoria do Traço Difuso, (do inglês Fuzzy Trace Theory). Essa teoria baseia-se no conceito de consistência temática, onde o participante codifica e aprende o tema central da lista da lista, criando um sistema mnêmico para ele. (GALLO, 2006). De acordo com essa teoria, a memória não é um sistema unitário, mas sim flexível e dinâmico, formado por dois sistemas independentes: a memória literal (verbatim), e a memória de essência (gist). Enquanto a memória literal é responsável pelo armazenamento da estrutura e detalhes específicos da experiência, a memória de essência é uma memória mais ampla que compreende os significados da experiência como um todo, o contexto geral da informação armazenada (BRAINERD, STEIN e REYNA, 1998). Dessa forma, tanto os traços literais quantos os traços de essência são codificados e recuperados separadamente. Devido a essa dissociação, as falsas memórias ocorrem quando as memórias de essência são recuperadas no lugar das memórias literais. Por exemplo, durante um teste de reconhecimento esses traços de essência que captam o significado geral das palavras são responsáveis pela sensação de familiaridade do item-crítico (o qual não era conhecido), aumentando assim a 24 probabilidade do item-crítico ser reconhecido como já estudado. (BRAINERD e REYNA, 2002). Semelhante a teoria da ativação-monitoramento, a teoria do traço-difuso postula na existência de dois processos que atuam em direções opostas, sendo o aparecimento de falsas memórias atribuído pela recuperação do traço de essência (como mencionado anteriormente), enquanto que a recuperação do traço de específico reduz esse efeito. Em um teste de memória composto por listas de palavras com associação semântica, como no caso do paradigma DRM, o reconhecimento correto de itens-alvo, pode ocorrer devido a traços de memória literal como de traços de essência, já o reconhecimento de itens-críticos (também chamados de distratores críticos) poderão estar baseados em memórias de essência, uma vez que a recuperação de traços literais leva a correta rejeição dos mesmos (PERGHER e STEIN, 2001). Os autores acrescentam que a durabilidade entre os dois tipos de memória também é variável, sendo a memória literal torna-se mais difícil de ser acessada, em contrapartida nota-se que a memória de essência é mais persistente ao longo do tempo. (BRAINERD e REYNA, 2004). 2.3.4 Teoria da Ativação-monitoramento Essa teoria originou-se a partir do paradigma DRM e a maioria das pesquisas realizadas para consolidá-la utilizou o paradigma DRM para explicar a ocorrência das falsas memórias. Dessa forma, essa teoria é utilizada na explicação da maior parte das tarefas que envolvem listas de associados. A teoria propõe que durante a tarefa de memória, na fase de codificação das listas, ocorre uma ativação associativa na rede semântica, sendo que essa ativação se propagada automaticamente no sistema léxicosemântico. (ROEDIGER, BALOTA e WATSON, 2001; ROEDIGER, WATSON, MCDERMOTT e GALLO, 2001). Assim, os níveis de ativação originados a partir do item-crítico podem levar o participante a ativar outro item que está associado semanticamente em decorrência de um processo baseado na familiaridade que ocorre em uma fase inicial do processamento, rápido e pouco preciso o que leva a produção de falsos alarmes.(ROEDIGER e MCDERMOTT e GALLO, 2001). Por exemplo, quando se ativa um conceito, por exemplo, a palavra fome, propaga-se uma ativação pela rede semântica, ativando outros conceitos associados semanticamente, como por exemplo, à palavra comida. 25 O nível de ativação das palavras críticas é influenciado diretamente da força associativa existente entre as palavras da lista e os itens críticos. Assim, quanto maior a força associativa entre as palavras estudadas e a palavra crítica, maior será a probabilidade de que se recorde dessa palavra em uma posterior prova de memória (CADAVID, BEATO e FERNANDEZ, 2012). Carneiro e Fernandez (2010), ressaltam que quando a ativação da palavra crítica é alta, sua identificação aumenta, originando assim um monitoramento mais eficaz, com índices baixos de falso reconhecimento. De acordo com Roediger, McDermott e Gallo (2001), a ativação ocorre principalmente na fase de estudo e o monitoramento predominantemente na fase de teste, porém podendo também ocorrer na fase de estudo. Dessa forma, não apenas os processos de ativação, mas também os processos de monitoramento intervêm na produção de falsa recordação. De acordo com Gallo (2010), a ativação do item-crítico pode ocorrer tanto na fase de estudo (codificação) quanto na fase de reconhecimento (recuperação). A monitorização é um processo que permite o acesso à fonte de uma informação, ajudando assim a identificar se uma palavra foi previamente codificada ou se apenas está relacionada com as demais palavras que já foram codificadas. De acordo com Johnson, Hastroudi e Lindsay (1993), a fonte de uma informação engloba diferentes características, tais como; perceptual, espacial, temporal, semântica, afetiva e processos cognitivos que especificam as características no momento que adquirimos determinada memória. Segundo McDermott e Watson (2001), o monitoramento é um processo mais controlado e consciente, uma vez que reflete a tomada de decisão que ocorre na fase de evocação, onde o indivíduo deve reconhecer se as palavras foram ou não anteriormente estudadas. Esse processo tem a função de evitar a tradução da ativação em uma falsa recordação. Em contrapartida, a ativação propicia o aparecimento de falsas memórias, sendo que nesses casos, o que ocorre é uma falha na monitorização desse evento e o participante confunde a fonte da informação, acreditando que o evento realmente ocorreu (GALLO, 2010). Gallo (2004) sinaliza que de acordo com essa teoria o que ocorre no paradigma DRM é que a ativação do item crítico se torna forte ao ponto do indivíduo identificar o 26 pensamento como um episódio de memória único, uma vez que a associação do itemcrítico foi sendo acumulada em decorrência do estudo de diversos itens associados. 2.4 Tipos de testes usados na avaliação de falsa memória Algumas tarefas são normalmente utilizadas para estudar memória, sendo que duas principais estão presentes em experimentos de falsa memória; a tarefa de recordação e a de tarefa de reconhecimento, ambas classificadas como tarefas de memória explícita. De acordo com Stein (2010), nas tarefas de recordação o indivíduo deve lembrar-se espontaneamente de um fato, uma palavra ou item de memória. Um bom exemplo de tarefa de recordação são os testes de completar lacunas. Outro tipo de tarefa é a de reconhecimento, no qual o indivíduo seleciona ou identifica um item que já foi apresentado anteriormente (STERNBERG, 2008). Assim, testes de múltipla escolha são exemplos que envolvem reconhecimento. Os testes de reconhecimento permitem um maior controle experimental de variáveis, como por exemplo, a manipulação do intervalo de tempo entre um estímulo. Além disso, são responsáveis pela produção do maior número de falsas memórias quando comparados aos testes de recordação livre (BRUST e cols., 2010). Este tipo de teste, comumente é mais utilizado quando há o registro de atividade cerebral. Além disso, em muitos estudos, associado à tarefa adaptada ao paradigma DRM, utiliza-se o paradigma “lembrar/saber” (do inglês: remember/know) desenvolvido por Tulving (1985). Este paradigma consiste no julgamento (no momento da resposta) das palavras que são apresentadas na fase de reconhecimento que podem ou não ter sido apresentadas previamente. Segundo o autor, a lembrança (remember) se refere ao processamento conceitual da informação, enquanto a familiaridade (know) estaria relacionada ao processamento perceptual, características mais gerais da informação. De acordo com o autor, esses processos estão correlacionados com a memória episódica que se refere à recuperação de informações pessoais que envolvem detalhes específicos e também com a memória semântica que por sua vez está relacionada à recuperação de aspectos mais gerais, atemporais. 27 2.5 Falsa Memória e a Idade De Bartlett aos dias atuais, muito se aprendeu sobre a construção da memória humana. O registro de informações passou a ser compreendido muito mais como uma construção do que como um registro literal das informações. Com autores como, Roediger e McDermott (influenciados pelos trabalhos prévios de Deese), muito se aprendeu sobre estratégias experimentais para testar a construção da memória e mais especificamente, a construção de falsas memórias. O artigo mais citado no tópico de indução de formação de falsa memória foi publicado pelos autores Roediger e McDermott em 1995 citado no capítulo 1.1). A importância deste estudo foi à demonstração do que os autores consideraram “a powerful illusion of memory: People remember events that never happened”. A partir deste estudo, deu-se início a uma série de estudos investigando esse aspecto peculiar da construção da memória. Além disso, muitos pesquisadores buscaram compreender o papel do desenvolvimento cerebral, a construção de redes semânticas e investigar se esse efeito da relação semântica interferia nos seres humanos de acordo com seu nível de desenvolvimento. Na literatura poucos estudos nos ajudam a compreender o padrão de produção de falsas memórias em diferentes faixas etárias, ainda mais no que se refere aos experimentos com crianças, sendo que os resultados encontrados muitas vezes mostramse contraditórios. Um dos experimentos mais citados realizado por Howe (2005) comparou um grupo de crianças em idade pré-escolar (5 anos) com outro grupo em idade escolar (7 e 11 anos). O pesquisador observou que crianças mais velhas (11 anos) recordam mais informações verdadeiras e da mesma forma exibem mais falsas memórias que crianças de 5 e 7 anos. Foi também observado que crianças de 7 anos exibem mais informações verdadeiras do que as de 5 anos, porém a taxa de falsa memória permanece igual. De acordo com Howe (2005) e outros estudos realizados, se de fato crianças produzirem menos falsas memórias do que os adultos, também teriam facilidade em rejeitá-las. Porém, não foi o que estudos como os de Carneiro e Fernandez (2010) encontram. Para os pesquisadores, identificar para posteriormente rejeitar é uma estratégia utilizada por adultos. Foi observado que as crianças produzem mais falsa memória quando identificam o item crítico. Outra questão que não causa efeito em crianças como em adultos é avisar previamente sobre o efeito do paradigma DRM, ou então aumentar o tempo de exposição das palavras da lista. 28 Estudo realizado por Brainerd, Reyna e Forrest (2002) verificou o padrão de falsas memórias em crianças com 5, 7 e 11 anos e também com grupo de adultos em tarefa de evocação livre. Os resultados mostraram que crianças apresentam menos erros por falsa memória em comparação a adultos jovens, revelando assim, um aumento de falsas memórias com a idade. Os autores utilizam a teoria do traço difuso para explicar seus resultados relacionando o fato de que as crianças provavelmente ainda não compõem e integram na sua totalidade as informações de forma semântica, ou seja, apresentam dificuldade para extrair o significado geral de qualquer acontecimento. A argumentação sobre o aumento das falsas memórias com a idade é suportado por outros estudos, como por exemplo, de Brainerd e colaboradores (2006). O experimento realizado por Brainerd e cols. (2006) evidenciou menor vulnerabilidade das crianças pré-escolares ao efeito DRM, comparativamente às crianças em idade escolar e aos adolescentes. Nessa mesma direção, outro estudo conduzido por Brainerd e Reyna (2007) com crianças de 6, 10 e 14 anos mostrou um aumento de falsas memórias com o aumento da idade para as palavras distratoras semanticamente relacionadas. Já com relação às palavras distratoras não relacionadas esse resultado não foi observado. Em contrapartida, experimento realizado por Ghetti, Quin e Goodman (2002) submeteu crianças de 5 e 7 anos e um grupo de adultos a tarefa de recordação e reconhecimento usando o procedimento DRM. Os autores verificaram que crianças com 5 anos de idade apresentaram taxas maiores de evocações falsas comparado com que o grupos de crianças com 7 anos e com o grupo de adultos, quando calculadas as taxas de evocações relativas, a qual fornece uma indicação do nível de falsa memória em relação ao número total de palavras evocadas. Os autores explicam os resultados encontrados a partir da teoria de monitoramento da fonte, a qual propõe que as falsas recordações ocorrem pela incapacidade de atribuir corretamente à fonte da informação no momento da evocação. Questões metodológicas como; o tempo de apresentação das palavras, assim como o tempo de intervalo de retenção e o número de associados por lista, são fatores importantes que podem justificar a divergência entre os resultados encontrados em estudos com adultos, porém ainda não são conclusivos para justificar as diferenças encontradas nos estudos descritos acima. Seguindo essa linha de investigação sobre o efeito de falsa memória em diferentes faixas etárias, Carneiro e colaboradores (2007) desenvolveram um 29 experimento utilizando listas de palavras associadas específicas para crianças. Os resultados evidenciaram que assim como adultos, crianças estão propensas ao efeito do paradigma DRM quando testadas através de listas específicas para a idade. Porém, verificou-se que crianças pré-escolares apresentam menos falsas memórias do que crianças mais velhas. Tais resultados replicam os achados de Brainerd e colaboradores (2002). Além disso, a contribuição trazida por este estudo de que listas específicas para a idade de crianças testadas contribuem para a evidência de que crianças podem apresentar níveis mais elevados de falsa memória, nos leva a constatação de que habilidades para o processamento de essência podem não ser tão ineficazes como postulados anteriormente. Paz-Alonso, Ghetti, Donohue, Goodman e Bunge (2008) em um estudo com ressonância magnética funcional relacionada a evento, investigaram mudanças no desenvolvimento neural de regiões cerebrais associadas com reconhecimento de falsa memória ou de itens verdadeiros em pessoas com 8 anos de idade, 12 anos de idade e adultos. Os dados comportamentais seguem na direção dos estudos citados previamente (adultos acertam mais itens verdadeiros, mas também erram mais por associação semântica). Com relação ao aumento no reconhecimento verdadeiro, os autores associaram mudanças no padrão de ativação do lobo temporal medial. Já com relação ao aumento, em função da idade, dos erros por associação semântica, os autores associaram às mudanças no padrão de ativação do córtex pré-frontal ventrolateral esquerdo. Os autores também observaram alterações relacionadas à idade no córtex parietal posterior. Ainda em relação as diferenças no reconhecimento verdadeiro e falso entre as idades, experimento realizado por Norman e Schacter (1997) investigou a ocorrência de falsas memórias em um grupo de idosos e em grupo de adultos jovens. No primeiro experimento realizado, os participantes ouviram uma lista de palavras associadas e posteriormente foram submetidos a um teste de recordação, no qual deveriam reproduzir exatamente as palavras ouvidas anteriormente. Os autores observaram que as respostas emitidas pelos participantes foram compostas de informações associativas e contextuais, sendo que adultos mais velhos são mais susceptíveis ao falso reconhecimento do que adultos mais jovens. Esse fenômeno foi atribuído ao comprometimento de estruturas pré-frontais com o envelhecimento. 30 Também em estudo relacionado à produção de falsa memória no envelhecimento, Balota e colaboradores (1999) utilizando o procedimento das palavras associadas, observaram que o nível de memórias verdadeiras diminui em função da idade. Além disso, os autores observaram que os falsos alarmes, ou seja, as falsas memórias aumentaram em função da idade. Resultados semelhantes foram descritos por McCabe e colaboradores (2009). 2.6 Bases Neurais das Falsas Memórias Com o avanço tecnológico e desenvolvimento de equipamentos como a Ressonância Magnética Funcional (fRMI), eletroencenfalografia (EEG), tomografia por emissão de pósitrons (PET scan), a investigação sobre efeitos como o da falsa memória passou a considerar, além das medidas comportamentais, os mecanismos e estruturas subjacentes a esse fenômeno. Com o uso da técnica de Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET scan), o primeiro estudo conduzido foi realizado por Schacter e colaboradores., (1996), no qual participantes ouviram listas de palavras e posteriormente foram submetidos a uma tarefa de reconhecimento visual. Os resultados evidenciaram maior reconhecimento verdadeiro, ou seja, palavras que continham na lista de estudo que foram corretamente reconhecidas, seguido de falso reconhecimento de palavras críticas e um menor desempenho para falso reconhecimento de palavras não associadas semanticamente. Foi observada uma ativação no lobo temporal medial esquerdo quando os participantes reconheciam as palavras que haviam sido ouvidas anteriormente, bem como as palavras críticas. Além disso, houve maior ativação no córtex auditivo e regiões tempo-parietais associadas ao reconhecimento verdadeiro quando comparado ao reconhecimento falso. Segundo Schacter e colaboradores (1996) outra ativação durante a tarefa de reconhecimento pode ser observada. A ativação dorso lateral do lobo frontal direito pode estar envolvida com os processos de monitoramento e decisão, uma vez que a ativação foi tardia. Em experimento utilizando a técnica de fRMI, Cabeza e colaboradores (2001), observaram atividade hipocampal tanto para memória verdadeira quanto para falsa memória. Os autores também observaram uma ativação no córtex parahipocampal para a recuperação correta dos itens. Tal semelhança na atividade do córtex hipocampal e do hipocampo também é relatada por Curran e colaboradores (2000). 31 Outro experimento realizado por Dennis, Kim e Cabeza (2008) da Universidade de Duke buscou investigar os efeitos de tarefas como a DRM no envelhecimento e observar as áreas ativadas. Os autores verificaram que o declínio no reconhecimento de itens verdadeiros encontra-se relacionado por processos mediados pelo hipocampo, ao passo que o aumento nas falsas memórias encontra-se relacionado aos aspectos semânticos principais mediados pelo córtex lateral temporal. Em outro estudo (citado na introdução) utilizando fRMI, Paz-Alonso e colaboradores (2008), encontraram que adultos em relação a crianças de 8 e 12 anos, possuem uma maior taxa de reconhecimento verdadeiro, observando uma maior ativação no lobo temporal medial. Nesse mesmo estudo os erros de associação semântica cometidos foi observado mudança na ativação do córtex pré-frontal ventrolateral esquerdo. Estudo com pessoas que possuem lesão no lobo frontal evidenciou que ocorre um aumento das falsas memórias quando são comparadas a pessoas saudáveis (MELO, WINOCUR e MOSCOVITCH, 1999). Em relação à ativação de regiões cerebrais através do reconhecimento verdadeiro ou falso, estudo realizado por Angel e colaboradores (2012) verificou a diferença de idade nos correlatos neurais envolvendo os conceitos de recordação e familiaridade. Adultos jovens e adultos mais velhos foram submetidos à tarefa de memorização e posterior reconhecimento de imagens através do Paradigma “lembrar/saber” – (Remember/know) (TULVING, 1965). Em relação às respostas classificadas como “lembro”, ou seja, afirmação da recordação das imagens vistas previamente foi observada maior ativação no grupo de adultos jovens no hemisfério esquerdo, em regiões frontais, temporais, no córtex parietal e regiões parahipocampais. Essa diferença na ativação de áreas cerebrais entre os grupos se estendeu para o julgamento de “sei”, relacionado à familiaridade, que ativou o cíngulo anterior bilateral, giro frontal direito e giro temporal superior esquerdo. Porém, para os processos de recordação os adultos mais velhos recrutaram o precuneus, o que pode estar relacionado à compensação ao menor recrutamento de áreas importante no reconhecimento verdadeiro. Em suma, a maior parte dos estudos realizados mostra que para palavras estudadas ( palavras-alvo) e palavras semanticamente relacionadas (falsas-pistas) ocorre uma atividade cerebral maior quando comparado a palavras não estudadas, sem relação semântica. Dessa forma, pode-se entender que o cérebro processa informações 32 relacionadas e não relacionadas de maneira diferente. Tais diferenças serão descritas nos capítulos posteriores. 2.7 Eletroencefalografia e Potenciais Evocados Relacionados a Evento As técnicas eletrofisiológicas, como a eletroencefalografia (EEG) registram a atividade cerebral gerada por populações neurais em uma escala de tempo de milissegundos. Isso ocorre por meio da captação feita por eletrodos fixados no escalpe sendo, portanto, uma avaliação não-invasiva (HANDY, 2005). Essa técnica de mensuração da atividade neuronal apresenta grandes vantagens quando comparada com técnicas de neuroimagem como a ressonância magnética funcional (fMRI), ou por tomografia por emissão de pósitrons (PET scan) principalmente por oferecerem medidas com alta precisão temporal. (MICHEL e cols., 2004; MENENDEZ e cols., 2004). Entretanto, as técnicas eletrofisiológicas apresentam uma grande desvantagem não indicando de forma precisa a fonte geradora no cérebro daquela atividade coletada, um vez que são coletados através de sinais superficiais do escalpe. Porém, com o surgimento de equipamentos de EEG com número elevado de canais (128 e 256 eletrodos), tal cenário vem sofrendo importante transformação. Diversos algoritmos têm sido investigados para, com base em uma coleta de sinal proveniente de número elevado de eletrodos, resolver o chamado problema inverso gerado pelo campo eletromagnético e assim possibilitar uma localização de áreas cerebrais geradoras daquele sinal coletado pelo EEG (MICHEL e cols., 2004; MENENDEZ e cols., 2004). Segundo Menendez e colaboradores (2004), esta é a única possibilidade de investigar de forma não-invasiva com uma resolução temporal precisa, (na ordem de milissegundos) o impacto do comportamento na atividade neuronal. Além disso, a precisão temporal permite investigar os processos curtos em que diferentes redes neuronais participam durante eventos sensoriais e cognitivos. Dessa forma, estudos investigando relações entre eventos comportamentais e atividade cerebral, que busquem localização temporal e espacial passam a ter novo destaque. O uso de EEG voltado para análise de potenciais relacionados ao evento (ERP) tem aumentando em estudos de neurociência cognitiva uma vez que pode prover informações importantes a respeito do processamento de informação subjacente a realização de diferentes tarefas cognitivas. 33 O potencial evocado relacionado ao evento (ERP) refere-se à atividade elétrica de determinadas populações de neurônios em resposta a exposição de diferentes modalidades de estímulos/eventos. Os sinais produzidos e registrados representam uma somatória de ativações locais (HANDY, 2005). Os ERPs são coletados através do posicionamento de eletrodos no escalpe. Os ERPs são representados por componentes, os quais são compostos por uma série de picos de voltagem, podendo ser positivas ou negativas. A nomenclatura usada para a distinção entre cada componente se refere a polaridade (positiva, representada pela letra P ou negativa, representada pela letra N). Através de estudos com ERPs, pesquisadores têm buscado fontes de déficits em algumas patologias, como por exemplo, no autismo, em que se procura relacionar déficits no processamento sensorial com os comprometimentos em sua cognição social. (JESTE e NELSON, 2009). Figura 1: EEG de alta densidade. Os ERPs podem variar de 50 milissegundos (componentes mais precoces) até componentes mais tardios, que variam em torno de 600-1000 milissegundos. Segundo Banaschewski e Brandeis, (2007), componentes precoces, como por exemplo, o P100, estão relacionados com o processamento sensorial básico, enquanto os componentes tardios refletem o processamento perceptual e cognitivo dos estímulos. Por fim, com os avanços em modelos matemáticos, surge a possibilidade de estudar o período de atividade cerebral coletado durante tarefa comportamental dividindo-o em diferentes mapas de segmentação. A segmentação é o processo de determinação de períodos de estabilidade nos mapas de representação dos ERPs. Estes mapas representam micro-estados funcionais do cérebro durante processamento de 34 informação e é a partir desses mapas que se busca estimar as fontes geradoras desses micro-estados. Figura 2: Ilustração de mapas de atividade cerebral em relação ao número e disposição dos eletrodos. 2.8 Potencial Relacionado ao Evento, falsa memória e autismo Estudos comportamentais e de imagem mostram prejuízos no processamento semântico de indivíduos com transtorno do espectro do autismo. (HARRIS e cols., 2006). De acordo com Dunn e Bates (2005), tais déficits podem ser observados de diferentes modos, como; falha em utilizar a informação semântica com o intuito de codificar o material verbal e recordá-lo posteriormente; tendência a empregar estratégias de ordem sintática e não na compreensão semântica; falha para interpretar as palavras de acordo com contexto semântico e por fim, tendência a produzir menos protótipos de categorias do que normalmente as crianças desempenham em teste de fluência verbal. Estudo realizado pelos autores consistiu na apresentação de listas de palavras, para crianças autistas de alto funcionamento com idades entre 8 e 11 anos. As listas apresentadas eram compostas por palavras pertencentes à mesma categoria e outras palavras que pertenciam a outras categorias. No momento da tarefa de reconhecimento foram observados dois componentes, N1c e N4. O primeiro N1c, subcomponente do N1, reflete o processamento inicial do estímulo auditivo, sendo provavelmente gerado no córtex auditivo primário. Já o componente N4, mencionado anteriormente, é conhecido por ter se mostrado como uma ferramenta para análise da integração e processamento semântico de informações. 35 A análise do componente N1c mostrou que não houve diferença entra as idades com relação ao tempo de resposta e acurácia. Entretanto, a latência de N1c para palavras em categorias foi atrasada em crianças mais novas (8 anos). Em relação ao componente N4, não houve diferença entre idades e também na diferenciação de palavras dentro de categorias e palavras de outras categorias. Estudo realizado por Valdizán e colaboradores (2003) procurou avaliar a presença do componente N400 em um grupo com autismo e em um grupo com síndrome de Asperger. Para isto, foram apresentados auditivamente 40 pares de palavras, sendo 20 pares congruentes, ou seja, palavras que apresentavam relação semântica entre si, por exemplo, fruta-maçã e 20 pares de palavras incongruentes, que não apresentavam relação entre si, por exemplo, animal-prato. Os resultados mostraram que apesar do componente N400 ser mais negativo em áreas fronto-centrais do grupo com autismo comparado ao grupo controle, não foram observadas diferenças para a interação grupo vs. tipo semântico, demonstrando assim que o nível semântico assemelha-se nos três grupos. Em relação à latência do componente N400, os autores observaram que o grupo com autismo apresenta maior latência para o componente N400 (em torno de 526 ms) quando comparado ao grupo com Asperger (424 ms) e ao grupo com desenvolvimento típico (409 ms). Dessa forma, ao contrário da hipótese inicial dos pesquisadores o grupo com autismo apresentou capacidade em discriminar os pares de palavras congruentes e os pares incongruentes, demonstrando assim uma sensibilidade ao contexto semântico. Já em relação aos estudos com potenciais evocados e tarefas semelhantes ou adaptadas ao paradigma DRM são encontrados poucos estudos, e ainda é mais restrito os que se referem a investigação no autismo. Em indivíduos saudáveis, estudos de ERP e neuroimagem têm mostrado que existe padrão de atividade cerebral diferente entre memória verdadeira e falsa memória. Um dos primeiros estudos que utilizou o paradigma DRM e o registro de potenciais evocados foi realizado por Duzel e colaboradores (1997). No experimento realizado, participantes foram instruídos a memorizar as palavras que lhe foram apresentadas visualmente. Esta fase foi chamada de fase de estudo. Após o término dessa fase, foi realizada a colocação da touca e iniciada a fase de reconhecimento. Foi observado um componente fronto-central, por volta de 300-600 ms, semelhante por suas características temporais e espaciais ao N400 que aparece presente em estudos de repetição de palavras e que envolvem priming semântico. Porém, a 36 diferença principal do componente observado ao componente N400 reside na longevidade do efeito, pelo menos de trinte minutos, tempo que decorreu do término da fase de estudo até o início da fase de reconhecimento. Esse componente observado pelos autores está associado ao julgamento “saber” (Know) do paradigma “lembrar/saber” (remember/know), sendo esse relacionado à familiaridade. Além disso, um efeito parietal foi encontrado por volta de 600-1000 ms, cuja características assemelham-se ao componente tardio, late positive component - LPC descrito como componente eliciado pelo reconhecimento de palavras repetidas. Dessa forma, o componente LPC foi observado associado ao julgamento de “lembrar” (remember) – sendo relacionado à recordação e não a familiaridade. Por fim, foi observado um efeito frontal no hemisfério direito relacionado aos dois julgamentos “lembrar-saber” tanto para reconhecimento verdadeiro quanto para reconhecimento falso. Em suma, os resultados mostraram maior amplitude para reconhecimentos verdadeiros em relação a reconhecimentos falsos de falsas-pistas. Além disso, foi observado maior amplitude para reconhecimentos falsos de falsas-pistas em relação a reconhecimento falso de palavras novas. Por apresentaram padrões de atividade elétricas diferentes, acredita-se na existência de processamentos independentes na recuperação da memória. Em particular, com relação a testes como a tarefa DRM, estudos prévios já identificaram três componentes principais durante reconhecimento de itens falsos. A saber, i. um componente da família do N400 em função de sua similaridade com potenciais entre 300-500 ms que refletem processamento semântico de informação, ii. um componente entre 400-800 ms mais positivo para reconhecimento de itens verdadeiros do que itens falsos (talvez relacionado a processamento dedicado a percepção de detalhes) sendo chamado de Parietal Old/ New Effect, e iii. Um componente tardio entre 800-2000ms. Em todos os casos, o registro e análise de ERPs foi feito apenas durante a fase de reconhecimento. O componente FN400 é descrito em estudos envolvendo falso reconhecimento. Como já mencionado no capítulo anterior, a nomenclatura FN corresponde à região que o componente pode ser observado, sendo que F refere-se à região frontal e N a polaridade do componente. O componente FN400 recebeu esse nome devido a sua similaridade com o componente N400 amplamente estudado na literatura, desde sua primeira descrição por Kutas e Hillyard em 1980. O componente N400 trata-se de um 37 componente negativo, cujo pico de maior negatividade apresenta-se em cerca de 400 milissegundos. Relaciona-se normalmente a uma maior amplitude nos eletrodos centrais e parietais (Luck, 2005) e tem sido relacionado à integração semântica (BROWN e HAGOORT, 1993) e processos de decisão lexical (LAU, PHILLIPS e POEPPEL, 2008). O componente FN400 pode ser observado em torno de 300-500 ms sendo mais negativo para palavras distratoras, ou seja, palavras novas (que não foram mostradas anteriormente e que não apresentam relação semântica com as previamente apresentadas) em relação as falsas-pistas e palavras-alvo. A esse componente é atribuído o processamento de familiaridade. Curran e sua equipe (2000) evidenciaram a presença do componente FN400 em seu estudo. O experimento consistiu na apresentação de listas de palavras no singular e no plural (ex: mesa e cadeiras) aos participantes na fase de memorização. Posteriormente na fase de reconhecimento foram apresentadas palavras já estudadas, como por exemplo, a palavra cadeiras; palavras com a pluralidade revertida, por exemplo, mesas, que antes estava no singular; e por fim novas palavras sem nenhuma relação semântica com os demais itens. Nesta fase os participantes foram instruídos a responder “sim” apenas se tivessem visto a palavra no plural. Os pesquisadores observaram um componente semelhante ao N400, porém mais frontalmente distribuído, que ocorria entre 300 e 500 ms que mostrou-se mais negativo para palavras novas, ou seja, que não haviam sido vistas anteriormente quando comparado a palavras estudadas e palavras associadas semanticamente. Além disso, outros potenciais relacionados a eventos são relatados em regiões frontais envolvendo reconhecimento verdadeiro e falso. (CURRAN, 2001; NESSLER, 2001; ALLAN e COLS., 1998; WIESE e DAUM, 2006). Um componente tardio observado em regiões frontais, sendo mais proeminente no hemisfério direito, na janela de tempo entre 800-2000ms, parece refletir processamento pós-recuperação quando a informação deve ser avaliada por características particulares e específicas. Allan e colaboradores (1998) mostraram que esse componente é mais positivo em resposta a estímulos antigos quando comparado a novos estímulos. Estudo realizado por Wiese e Daumm (2006) consistiu na investigação dos ERPs relacionados ao reconhecimento verdadeiro e falso por meio de tarefa correspondente ao paradigma de associados convergentes. Participantes foram submetidos a uma tarefa de reconhecimento de palavras na qual deveriam responder selecionando “nova” para 38 palavras que acreditavam não ter visto anteriormente e “antiga” para palavras que acreditavam ter visto anteriormente, sendo que no caso dessa resposta, deveriam decidir entre os julgamentos “lembro” e “sei”, do paradigma “lembrar/saber” (remember/know). Esse procedimento resultou na criação de 6 categorias; 1) resposta correta por reconhecimento das palavras-alvo, 2) erro por não reconhecimento das palavras-alvo, 3) erro por falsas-pista, 4) acerto por rejeição da falsa-pista, 5) erro por aceitação de distratores, 6) acerto por rejeição de distratores. Os autores observaram o componente old/new por volta de 400-700 ms nos eletrodos centrais a esquerda, mais positivo para acertos por reconhecimento das palavras-alvo em comparação a rejeição correta de distratores. Além disso, efeito old/new em eletrodos parietais a esquerda foi observado com maior amplitude para erro por falsa-pista em comparação a rejeição correta de falsa-pista e rejeição correta de distratores. Por fim, os autores também encontraram semelhanças nos potenciais relacionados ao evento para acertos por reconhecimento das palavras-alvo e erro por falsa-pista em eletrodos parietais, porém tal fato não foi observado em eletrodos frontais, uma vez que foi observado maior amplitude para acertos por reconhecimento das palavras-alvo quando comparado a erros por falsa-pista, sendo que essa última categoria apresentou um padrão semelhante à rejeição correta de distratores e a rejeição correta de falsas-pistas. Experimento realizado por Curran e colaboradores (2001) mostrou o mesmo observado por Wiese e colaboradores (2006). Os autores evidenciaram que não há diferença no reconhecimento correto de itens estudados e no falso reconhecimento por aceitação de falsas-pistas em eletrodos parietais. Em seu estudo Curran (2001) submeteu os participantes à tarefa adaptada do paradigma DRM. Os participantes foram divididos em dois grupos – “Bom desempenho” e “Mau desempenho” – sendo essa divisão baseada na discriminação das respostas corretas em relação ao erro por falsas-pistas. Apenas nos participantes com bom desempenho pode ser observado um componente frontal tardio em hemisfério direito em torno de 1000-1500 ms sendo mais positivo para reconhecimento correto de palavras-alvo e no falso reconhecimento por falsa-pistas em comparação aos novos itens (distratores). Além disso, os autores também observaram o componente parietal old/new tanto no grupo de bom desempenho quanto no grupo com mau desempenho, sendo este componente mais positivo para memória verdadeira quando comparado à falsa memória. Outro estudo realizado por Gonsalves e Paller (2000), evidenciou diferenças no reconhecimento de memória verdadeira e falsa. No experimento, participantes liam uma 39 série de palavras, sendo que para metade das palavras apresentadas, uma figura correspondente a ela aparecia 2 segundos após sua apresentação. Posteriormente foi realizado um teste de reconhecimento onde haviam palavras que haviam sido apresentadas junto com sua respectiva imagem na fase de estudo, outras palavras que haviam sido apresentadas orograficamente e por fim palavras que não haviam sido vistas. Os participantes tinham que decidir para cada palavra se tinha visto a figura correspondente a palavra. ERPs foram coletados durante fase de reconhecimento. Foram observados em torno de 900-1200 ms após resposta, que eletrodos localizados nas regiões parietal e occipital foram mais positivos para memória verdadeira do que para falsa memória. Estudo realizado por Miller e colaboradores (2001), investigou possíveis diferenças na topografia, amplitude e latência do componente P300 associado ao reconhecimento falso por meio da aceitação da falsa-pista em comparação ao registro do componente P300 relacionado ao reconhecimento verdadeiro de palavras estudadas. Participantes realizaram tarefa modificada do paradigma DRM, construída em duas fases. Na primeira fase, os participantes foram instruídos a ler e memorizar as palavras que apareciam no monitor. Já na segunda fase, os participantes deveriam julgar se a palavra era “velha” ou “nova” pressionando um dos dois botões da caixa de resposta. Os resultados indicaram que não houve diferença relacionada à topografia e amplitude no reconhecimento verdadeiro e no reconhecimento falso. Esse resultado assemelha-se ao encontrado por Duzel (1997) no estudo citado acima. Porém, em relação à latência, os autores observaram menor latência do componente P300 relacionado a reconhecimento falso de falsas-pistas comparado aos três tipos de reconhecimento verdadeiro (itens identificados corretamente como alvo, itens identificados corretamente como novos e itens identificados como falsas-pistas). Como mencionado no resultado de alguns estudos acima, outro componente tem sido tipicamente observado em tarefas de reconhecimento, o denominado “Parietal od/new effect.” Esse componente é comumente observado em torno de 400-800 ms com amplitude máxima na região parietal (RUGG, 1998). Enquanto que ao FN400 é atribuído o processamento de familiaridade, o componente Parietal old/new effect está relacionado à recordação de detalhes perceptuais. Estudos mostram (CURRAN e cols., 2000; NESSLER e cols., 2001; GENG e cols. 2007) que o componente é mais positivo para reconhecimento verdadeiro (reconhecimento correto de itens já estudados) quando comparado a reconhecimento falso (aceitação de falsas-pistas ou de distratores). 40 Em função disso, Geng e colaboradores (2007) investigaram os mecanismos neurofisiológicos subjacentes a tarefa de DRM analisando tanto os ERPs durante fase de memorização quanto durante fase de reconhecimento. Com isso, os autores apresentaram novas informações sobre o papel de registro e recuperação envolvidos em memórias verdadeiras e falsas. Entre elas, os autores encontraram durante a fase de memorização um componente N170 de menor amplitude e um componente positivo tardio (com pico por volta de 500 ms) de maior amplitude para as palavras associadas que eliciaram posteriormente falsa memória em comparação com aquelas que não eliciaram falsa memória. Já para a fase de reconhecimento, os autores identificaram 3 componentes principais; i. um componente inicial entre 300-500 ms relativo ao priming semântico para itens verdadeiros ou falsos; ii. o componente Parietal Old/ New Effect entre 500-700 ms com maior amplitude para reconhecimento de itens verdadeiros em comparação aos falsos; e iii. Um componente negativo tardio (entre 700-1500 ms) diferenciando entre reconhecimento verdadeiro e falso. Pode-se observar que ainda há poucos estudos acerca dos ERPs e do paradigma DRM, e ainda é mais restrito os que se referem ao padrão eletrofisiológico durante paradigma DRM em pacientes com diagnóstico de autismo. Dessa forma, o presente estudo será inovador na medida em que investigaremos os componentes eletrofisiológicos durante a realização de tarefa adaptada ao paradigma DRM em um grupo de crianças com autismo, fornecendo novas contribuições à literatura da área. 3. OBJETIVOS Objetivo Geral: Este estudo tem como objetivo geral investigar o desempenho comportamental em tarefa de memória literal e conceitual (baseado no paradigma DRM) e os potenciais cognitivos subjacentes em grupo de voluntários com desenvolvimento típico e em grupo com diagnóstico Autismo. Objetivos Específicos: 1- Comparar o desempenho comportamental em tarefa adaptada do teste de Roediger McDermott em função dos acertos para itens apresentados na fase de memorização em comparação a acertos para itens novos, ou seja, comparar os acertos por reconhecimento correto 41 de palavras-alvo (RCPA), rejeição da falsa-pista (ARFP) e rejeição de distratores (ARD). Essa comparação será feita para grupo de voluntários com desenvolvimento típico e em grupo com diagnóstico Autismo; 2- Comparar o desempenho comportamental em tarefa adaptada do teste de Roediger McDermott em função do Tempo de Reação para acertos em itens apresentados na fase de memorização em comparação ao tempo de reação para acertos para itens novos, ou seja, comparar os acertos por reconhecimento correto de palavras-alvo (RCPA), rejeição da falsa-pista (ARFP) e rejeição de distratores (ARD). Essa comparação será feita para grupo de voluntários com desenvolvimento típico e em grupo com diagnóstico Autismo; 3- Descrever e comparar os potenciais evocados durante fase de reconhecimento por meio da análise de amplitude dos componentes P1, P2, N400 e Parietal old/new effect considerando os segmentos relativos aos acertos para itens apresentados na fase de memorização em comparação aos acertos para itens novos. Ou seja, esses componentes serão derivados para comparação considerando as categorias acertos por reconhecimento correto de palavras-alvo (RCPA), rejeição da falsa-pista (ARFP) e rejeição de distratores (ARD). Essa comparação será feita para grupo de voluntários com desenvolvimento típico e em grupo com diagnóstico Autismo; 4- Descrever e comparar os potenciais evocados durante fase de reconhecimento por meio da análise de amplitude dos componentes P1, P2, N400 e Parietal old/new effect considerando o falso reconhecimento de itens novos. Ou seja, esses componentes serão derivados para comparação considerando as categorias acertos por reconhecimento correto de palavras-alvo (RCPA) e erros por reconhecimento da falsa-pista (EFP). Essa comparação será feita para grupo de voluntários com desenvolvimento típico e em grupo com diagnóstico Autismo. 42 4. JUSTIFICATIVA Este estudo se justifica na medida em que poucos estudos até o momento foram realizados, sendo que em sua maioria, os experimentos tem sua amostra composta por adultos. Poucos estudos foram conduzidos até o momento com crianças, especialmente no que se refere a crianças que se enquadrem nos transtornos do espectro do autismo. Além disso, observa-se a necessidade de aumentar o conhecimento sobre os potenciais cognitivos envolvidos na falsa memória em crianças com transtorno do espectro do autismo. Entretanto, novas formas de analisar dados gerados por uma antiga ferramenta, o EEG, têm aberto um novo campo de pesquisa. A possibilidade de estudar os potenciais evocados relacionados a eventos, gerar mapas de segmentação, compreender os micro-estados funcionais do cérebro e também localizar as fontes geradoras dessa atividade fornecerá pistas importantes sobre a fisiopatologia envolvida em cada um desses transtornos. Com isso, será possível levantar hipóteses sobre possíveis técnicas de avaliação e intervenção nessas condições. 5. MÉTODO 5.1 - Participantes O estudo foi realizado no Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie, localizado na Rua Piauí, 181, 10.º andar. A amostra foi obtida no ambulatório de Cognição Social na Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA), no Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) e através de encaminhamento particular. Foram chamadas para participar do estudo 24 crianças e adolescentes (8 à 18 anos), destras, com visão normal ou corrigida, sendo que para o grupo com autismo, foram incluídas as crianças/adolescentes que preencheram critério diagnóstico para Transtorno Global do Desenvolvimento pelo DSM- IV, realizado anteriormente por um psiquiatra infantil. Critérios de inclusão/exclusão Os critérios de inclusão utilizados para ambos os grupos foram: QI estimado ≥ 75, Desempenho superior a 60 % no subteste compreensão de instruções; 43 Crianças leitoras ou que não apresentaram dificuldade de leitura no Teste de Leitura de Palavras e Pseudo-palavras (TCLP), considerando incluídos aqueles que obtiveram acerto ≥ 90%. 5.2 - Instrumentos 5.2.1 – Para caracterização da amostra Escala de Inteligência Wechsler para crianças (WISC-III) A bateria Wechsler para crianças, é composta por 13 subtestes, agrupados em uma escala verbal (Informação, Semelhanças, Aritmética, Vocabulário, Compreensão e Dígitos) e em um escala de execução, também chamada de não-verbal (Completar Figuras, Arranjo de Figuras, Código, Cubos, Armar Objetos, Procurar Símbolo e Labirinto). Através de seus resultados é possível avaliar o nível de eficiência intelectual global e índices fatoriais como: velocidade de processamento, organização perceptiva, resistência à distração e compreensão verbal. A partir dos escores ponderados que são obtidos em cada um dos subtestes aplicados é possível derivar o quociente de inteligência verbal (QV), o quociente de inteligência de execução (QE), além do quociente global (QG). Além disso, possibilita observar discrepâncias entre QI verbal e QI de execução. O tempo total de aplicação da bateria completa pode ultrapassar duas horas, variando o tempo de execução para cada criança. Assim, formas reduzidas na aplicação têm sido crescentemente utilizadas. As formas reduzidas baseiam-se na aplicação de um menor número de subtestes, escolhidos pelas suas características psicométricas e correlação com o QI total (SIMOES, 2000). Para derivação do QI estimado foram aplicados os subtestes cubos e vocabulário. O subteste cubos pertencente à escala de execução avalia a capacidade de organização e processamento visuo-espacial, uma vez que o examinado deve decompor mentalmente os elementos do modelo para que possa reproduzi-lo. Além disso, este subteste permite avaliar coordenação e rapidez psicomotora (WECHSLER, 2003). Já o subteste Vocabulário faz parte da escala verbal que avalia as competências de integração linguística e expressão do pensamento. Esse subteste é um indicador para estimar os conhecimentos lexicais, bem como a facilidade de elaboração do discurso. 44 Teste de Compreensão de instruções (Developmental neuropsychological assessment battery - NEPSY) O subteste compreensão de instruções faz parte da bateria de avaliação neuropsicológica NEPSY composta por 27 subtestes que avaliam desde funções cognitivas básicas até funções mais complexas. A primeira versão da bateria é utilizada em crianças de 3 aos 12 anos de idade, já a segunda versão estende-se até os 16 anos. O subteste Compreensão de instruções avalia a habilidade de perceber, processar e executar instruções orais de complexidade sintática crescente. As primeiras solicitações são de baixa complexidade, como por exemplo; “Aponte para o círculo”, sendo a complexidade aumentada nos itens posteriores como, por exemplo, "Aponte para a forma que está acima da cruz e ao lado de outra cruz." Para cada item, o examinando aponta para o estímulo apropriado em resposta à instrução oral. Este teste foi aplicado com o intuito de descartar a possibilidade dos participantes apresentarem desempenho prejudicado por dificuldade em compreender a tarefa. Na figura abaixo se observa a prancha apresentada a criança, na qual ela deve apontar o que lhe foi solicitado. Figura 3: Prancha do subteste Compreensão de Instruções. 45 Teste de Competência de Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudopalavras (TCLPP) O TCLPP é um instrumento psicométrico utilizado para avaliar a competência de leitura silenciosa de palavras e pseudopalavras. Ele é constituído por 78 itens, sendo 8 tentativas de treino e 70 de teste. Cada item é composto por uma figura e uma palavra ou pseudopalavra correspondente. Os pares são distribuídos aleatoriamente ao longo do teste, sendo que existem sete tipos de pares, sendo eles: palavras corretas regulares, palavras corretas irregulares, palavras com incorreção semântica, pseudopalavras com trocas visuais, pseudopalavras com trocas fonológicas, pseudopalavras homófonas e pseudopalavras estranhas. (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2004). Na figura 4 pode ser observado um exemplo para cada tipo de par. O TCLPP apresenta duas versões; a lápispapel, na qual a tarefa da criança é circular os pares figura-escrita corretos em termos ortográfico e semântico e marcar com um X os pares figura-escrita incorretos em termos ortográficos (i.e., pseudopalavras) ou semânticos (i.e., palavras associadas à figura incompatível com ela), e a versão computadorizada, cuja tarefa é clicar na palavra “certo” para os pares corretos e “errado” para os pares incorretos. A versão aplicada pertence a BALE on-line. (MACEDO e cols., 2005). Os resultados obtidos foram classificados em função dos acertos. 46 Figura 4: Exemplo dos sete tipos de pares figura-palavra que compõe o teste. 5.2.2 - Teste de memorização e reconhecimento (versão adaptada da tarefa de Roediger e McDermott) para uso concomitante com registro de ERPs As listas de palavras que compõe o teste programado no software E-prime foram criadas seguindo o paradigma proposto por Roediger e McDermott e com base no trabalho desenvolvido por Geng e colaboradores (2007). A adaptação do teste foi realizada para a coleta dos potenciais evocados. De acordo com a literatura (SALLES, HOLDERBAUM, MACHADO, 2009; CARNEIRO e cols., 2007) fatores como; a complexidade da palavra, frequência de ocorrência do uso da palavra, podem interferir não só no processo de memorização como também de reconhecimento. Assim, a construção das listas foi realizada com o objetivo de ser adequada para o uso da faixa etária dos participantes que compõe a amostra. 47 Para a criação das listas de palavras associadas foi realizado o método de associação livre, o qual requer que os participantes escrevam/digam a primeira palavra que lhes vem à mente, que seja relacionada de alguma forma ao item crítico apresentada (NELSON, 2005). Foram selecionadas 24 palavras, classificadas gramaticalmente como substantivos e adjetivos. Estas palavras são chamadas de “itens críticos.” Com isso, os 24 itens críticos, juntos, compõem o que os autores denominam de material-alvo. Após a finalização da seleção de palavras, foi realizado contato com uma escola estadual da cidade de São Paulo com o objetivo de encontrar voluntários para a realização da construção das listas. Mediante autorização da diretora da escola, foi realizado o primeiro contato com as crianças para a realização do experimento. Participaram do estudo, 51 crianças de 3.ª e 4.ª série do Ensino Fundamental de uma escola estadual, com idades entre 8 e 11 anos. As crianças autorizadas pelos pais e que mostraram interesse em participar, foram avaliadas de maneira coletiva, na própria sala de aula. Em ambas as salas, a aplicação do teste durou em torno de 40 minutos. Foi solicitado que elas escrevessem 7 palavras associadas semanticamente a cada um dos 24 itens críticos. Assim, após todas as crianças estarem acomodadas em suas carteiras, a folha de preenchimento contendo as 24 palavras foi entregue. A tabela 1 traz um exemplo da folha de aplicação. Doce Hospital Floresta Futebol Circo Festa Tabela 1: Amostra de 6 itens-críticos pertencentes a folha de aplicação para registro de palavras. Após a entrega das folhas, a instrução dada era a seguinte: “Como vocês podem ver, todos tem uma folha com 24 palavras. Abaixo de cada palavra tem 7 linhas. É 48 nessas linhas que vocês devem escrever qual a primeira palavra que lhes vem a mente. Por exemplo: Qual é a primeira palavra que vem a cabeça quando vocês pensam em escola? (Resposta coletiva).É isso que devem fazer para cada uma das palavras. Lembrando que sempre a palavra que vocês tem que escrever é aquela que vem a cabeça quando leem a palavra em destaque e não a que já escreveram.” Esta instrução foi baseada em estudos prévios de Salles, Holderbaum e Machado (2009). Nas respostas não foram aceitas palavras derivadas do item crítico, como por exemplo, “trabalho-trabalhar”. Nestes casos foi pedido para que a criança escrevesse uma nova palavra. Dessa forma, cada criança gerou um total de 168 palavras. Após a coleta das listas, as palavras que foram constituídas por radicais iguais, como por exemplo: “trabalhar-trabalhando” foram agrupadas sob o mesmo tema de maior ocorrência de frequência entre os participantes. Posteriomente, as palavras escritas para cada item crítico de todos os participantes foram classificadas em ordem decrescente em função do número de vezes que elas foram citadas por todos os participantes e, com isso, foram definidas 8 palavras que continham maior associação semântica até baixa associação semântica ao item crítico. Com isso obteve-se um total de 24 listas, tendo cada lista um total de 8 palavras com maior associação semântica ao item crítico. A tabela 2 apresenta a lista de itens críticos com os respectivos associados semânticos mais frequentes gerados para cada alvo. ANIMAIS Cachorro Gato Leão Macaco Elefante Girafa Cavalo Cobra Frequência (%) 74,5 66,6 64,7 43,1 39,2 39,2 25,4 21,5 ESCOLA Lousa Professor Carteira Lápis Caderno Aluno Cantina Grafite BRINQUEDO Frequência (%) Carrinho 78,4 Boneca 72,5 Vídeo-game 62,7 Bicicleta 50,9 Skate 43,1 Jogo 25,4 CARRO Volante Banco Marcha Roda Pneu Estrada Frequência (%) 64,7 56,8 49,0 47,0 39,2 33,3 33,3 31,3 PÃO Francês Milho Doce Leite Manteiga Miolo Queijo Forma Frequência (%) 64,7 56,8 49,0 47,0 39,2 33,3 DOCE Frequência (%) 68,6 68,6 47,5 31,3 29,4 29,4 27,4 27,4 Frequência (%) Bala 80,3 Chiclete 72,5 Chocolate 62,7 Pirulito 54,9 Sorvete 43,1 Brigadeiro 31,3 FRUTA Maçã Banana Laranja Uva Manga Morango Melancia Pêra HOSPITAL Frequência (%) 78,4 66,6 49,0 47,0 45,0 41,0 39,2 35,2 Frequência (%) Médico 86,2 Enfermeira 64,7 Remédio 41,1 Maca 37,2 Injeção 31,3 Paciente 27,4 49 Patins Dado 25,4 Semáforo 19,6 Motorista FLORESTA Frequência (%) 92,1 58,8 49,0 29,4 25,4 23,5 21,5 21,5 FUTEBOL Frequência (%) Microfone 64,7 Samba 31,3 Palco 29,4 Show 27,4 Cantor 27,4 Fã 25,4 Rádio 25,4 ídolo 23,5 JARDIM Flor Formiga Bosque Terra Mato Rio Planta Folha Bola Jogador Gol Juiz Campo Trave Chuteira Goleiro MÚSICA CIDADE Prédio Moradia Rua Transporte Pessoa Poste Loja Poluição VERÃO Praia Inverno Férias Piscina Viagem Rosa Árvore Regador Jardineiro Planta Grama Adubo Borboleta Frequência (%) 60,3 54,9 37,2 33,3 25,4 21,5 21,5 19,6 Frequência (%) 49,0 47,0 41,1 27,4 25,4 REI Rainha Castelo Coroa Trono Princesa Príncipe Cavalo Ouro CASA Quarto Cozinha Sala Banheiro Televisão 33,3 Leite 31,3 Bombom Frequência (%) 80,3 72,5 60,7 52,9 45,0 29,4 25,4 25,4 Frequência (%) 80,3 39,2 39,2 33,3 27,4 21,5 21,5 19,6 Frequência (%) 74,5 56,8 52,9 43,1 39,2 31,3 19,7 19,6 Frequência (%) 52,9 49,0 49,0 47,0 45,0 31,3 Doente 27,4 Agulha CIRCO Frequência (%) Palhaço 94,1 Domador 60,7 Malabarista 45,0 Mágico 43,1 Platéia 39,2 Cambalhota 31,3 Pipoca 21,5 Trapezista 19,6 PÉ Dedo Sapato Unha Calçado Calcanhar Calo Caneleira Tênis CADEIRA Plástico Ferro Madeira Mesa Almofada Sentar Metal Encosto ROSTO Boca Nariz Bochecha Bonito Orelha Frequência (%) 80,3 70,5 62,7 41,1 41,1 33,3 29,4 23,5 Frequência (%) 56,8 54,9 49,0 39,2 33,3 33,3 27,4 19,6 Frequência (%) 76,4 72,5 70,5 49,0 41,1 FESTA Bolo Aniversário Bexiga Parabéns Bebida Presente Convidado Convite AVIÃO Piloto Aeromoça Passageiro Assento Asa Céu Turbina Máscara SOL Calor Lua Raio Amigo Sorvete Planeta Estrela Quente ÁGUA Riacho Limpa Torneira Lagoa Pia 21,5 19,6 Frequência (%) 78,4 50,9 45,0 41,1 31,3 27,4 25,4 25,4 Frequência (%) 68,6 50,9 45,0 27,4 25,4 25,4 23,5 21,5 Frequência (%) 52,9 47,0 31,3 27,4 27,4 25,4 21,5 19,6 Frequência (%) 39,2 35,2 29,4 27,4 23,5 50 Líquido Estação Brincar 23,5 Cama 19,6 Sofá 19,6 Geladeira 43,1 Brinco 31,3 Cabeça 19,6 Cabelo 31,3 Poluída 27,4 Onda 23,5 Salgada Tabela 2: Listas finais geradas para programação no E-prime. Para a construção da fase de memorização, foram criados 6 blocos, cada um composto por 4 listas. Cada lista foi composta por 7 palavras. Na fase de memorização foi excluída a primeira palavra de cada lista para ser utilizada juntamente com o itemcrítico como falsa-pista na fase de reconhecimento. Sendo assim 28 palavras por bloco, totalizando na fase de memorização de 168 palavras. Para garantir que os sujeitos permanecessem concentrados, inseriu-se em cada bloco da fase de memorização quatro telas apresentadas de maneira randomizada contendo uma imagem (“smile”). Foi solicitado ao participante que contassem quantos irão aparecer. Foram excluídos os participantes que errassem mais de 65%. Porém, todos os participantes obtiveram desempenho acima de 65%. Já para a fase de teste, também chamada de fase de reconhecimento, onde o participante realizou o reconhecimento das palavras, foram também criados 6 blocos, onde cada um foi composto por 28 palavras. Cada grupo de 28 palavras continha 12 palavras classificadas como Acerto (reconhecimento correto das palavras-alvo, ou seja, que já foram apresentadas anteriormente). Esse total de 12 palavras foi construído a partir da seleção de 3 palavras de cada lista (total de 4 listas por bloco) referentes ao bloco correspondente que faz parte da fase de memorização. Por exemplo, o bloco 1 na fase de estudo é correspondente ao bloco 1 na fase de reconhecimento), extraídas das posições 3,5 e 7. O mesmo procedimento foi feito para os outros 5 blocos. Como mencionada anteriormente, para compor os erros por associação semântica, também chamados de erros por falsas-pistas, foram selecionadas as palavras da primeira posição da lista (palavras distratoras relacionadas) e o item-crítico, os quais nesse estudo ocuparam o grupo denominado de distratores críticos, totalizando 8 palavras por bloco. Além disso, esse grupo de 28 palavras de cada bloco contém 8 palavras consideradas erros por distratores (palavras que não foram apresentadas previamente e sem nenhuma relação semântica com as listas), por exemplo, a palavra trator que não corresponde a nenhuma das listas apresentadas anteriormente. Dessa forma, na fase de reconhecimento, os participantes foram expostos a um total de 168 palavras sendo 72 (12 por bloco) existentes nas listas estudadas (Acertos), 21,5 19,6 19,6 51 48 (8 por bloco) palavras associadas semanticamente as palavras apresentadas nas listas (erro por falsa-pista) e 48 (8 por bloco) palavras não apresentadas anteriormente (erro por distratores). Com isso, pode ser avaliado o total de acertos, o total de erros por associação semântica e o total de erros sem associação semântica. Esse total de palavras apresentadas para cada condição é necessário para a derivação de potenciais relacionados a eventos. As listas geradas (Tabela 2) foram analisadas para a exclusão de palavras semelhantes e para a eliminação de palavras que foram consideradas complexas para crianças mais novas. 5.3 EQUIPAMENTO Foi utilizado um aparelho de Eletroencefalografia de 128 canais da marca Electrical Geodésicos, Inc (EUA) modelo EEG System 300. Este equipamento é composto por amplificador modelo Net Amps 300, transformador com isolamento, braço articulado para suporte do amplificador, licença para software de aquisição e analise dos dados Net station, 6 redes de eletrodos modelo hydrocel da Geodesic (tamanhos: bebe, pediátrica pequena, pediátrica grande, adulto pequeno, adulto médio, adulto grande), CPU Macintosh para aquisição dos dados, monitor de 23” para acompanhamento dos dados, câmera de vídeo digital Sony, software para calculo de fontes geradores dos sinais (GeoSource Estimation Software), pacote para Potencial Evocado relacionado a Evento (PST, Inc - EUA), estação de trabalho E-prime para acoplar ao EEG (Net Station), computador de mesa Dell, hardware para os experimentos (microfone, caixa de repostas, cabos, adaptador para barra de resposta para o sistema EGI), monitor LCD 17” com vídeo splitter e switch, barra de resposta para EGI, single clock, AV device. Esse equipamento foi obtido com a aprovação do projeto de pesquisa “Potenciais evocados relacionados a eventos no Autismo, na Síndrome de Prader-Willi e na Dislexia – experimentos com EEG de alta densidade” sob liderança do Prof. Dr. Paulo Sergio Boggio junto ao Fundo Mackenzie de Pesquisa. Valor total: USD$110.000,00. 6. PROCEDIMENTOS Os participantes que contemplaram todos os critérios de inclusão e exclusão descritos anteriormente foram convidados a participar do estudo. As crianças compareceram ao Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social acompanhada de seus 52 responsáveis em um dia previamente agendado. Foram explicados os objetivos, métodos, benefícios e riscos potenciais do estudo. Assim, o termo de consentimento livre e esclarecido foi preenchido e assinado pelo participante e/ou responsável legal. Os participantes realizaram o teste de memória em sala especialmente preparada para o equipamento de EEG. Durante toda a coleta de dados do teste de memória foi realizado o registro da atividade eletroencefalográfica. O teste foi apresentado com o uso do software E-Prime e o registro do EEG pelo software NetSation. Os dois programas já estavam funcionando sincronizados de maneira que todos os dados obtidos na testagem cognitiva são automaticamente sobrepostos ao traçado do EEG. Inicialmente, os participantes foram levados para a sala preparada para a realização dos procedimentos, com iluminação adequada e sem interferência de ruídos e circulação de pessoas. Após explicação sobre o procedimento foi realizada a colocação da rede de eletrodos (touca) no voluntário de pesquisa. Para isso, primeiramente mediuse o perímetro cefálico do sujeito para definir qual é o tamanho de rede de eletrodos mais adequado. Em seguida, a rede de eletrodos foi mantida imersa por 5 minutos em bacia contendo 1L água morna, 11g de cloreto de potássio e 5 ml de shampoo neutro. Durante esse período, foi localizado o vértex do participante para ser utilizado como referência para a colocação da rede de eletrodos na cabeça do voluntário de pesquisa que é realizada após o término dos 5 minutos. Após colocação da rede de eletrodos, foi verificado com o uso do programa NetStation os eletrodos (dentre os 128 existentes) que apresentaram alta impedância. Nestes casos, foi adicionado diretamente na esponja que compõem o eletrodo um pouco mais da solução descrita anteriormente com o uso de uma pipeta plástica e também verificado o contato do eletrodo com o escalpe. O tempo de posicionamento e verificação de eletrodos variou de 10 a 15 minutos. O participante manteve-se sentado em uma poltrona confortável a 110 cm do monitor do computador, onde foi explicada a primeira vez a tarefa. As crianças/adolescentes foram instruídas na fase de estudo a memorizar as palavras apresentadas no monitor do computador e que em alguns momentos entre as palavras poderia aparecer uma imagem (rosto sorridente – “smile”). Os participantes foram instruídos a contar mentalmente o número de imagens que poderia aparecer e após o término da fase deveriam falar o número que se lembravam. 53 As palavras foram apresentadas, como já descrito anteriormente, em 6 blocos compostos por 4 listas cada, sendo cada lista composta por 7 palavras. Durante toda a fase de memorização foi apresentado primeiramente um ponto de fixação exposto na tela por 1000 milissegundos, seguido por uma tela em branco exposta por 500 milissegundos, e em seguida a apresentação de cada palavra por 1000 milissegundos, sendo que de forma randomizada a imagem do smile apareceu por 1000 ms. O desenho experimental está ilustrado na Figura 5. Após a fase de memorização, foi dado um intervalo de 3 minutos para repouso e em seguida deu-se início o fase de reconhecimento. Nesta fase, foi explicado ao participante assim que terminasse de ler a palavra apresentada deveria apertar o botão verde se julgasse que a palavra havia sido apresentada na fase de memorização e que apertaria o botão vermelho, caso julgasse não ter lido a palavra anteriormente. As palavras foram apresentadas em janelas de 2000 ms com intervalo entre elas de 500 ms seguido por um ponto de fixação exposto por 1000 ms. Após estas instruções, a fase de reconhecimento foi iniciada conjuntamente com a coleta da atividade eletroencefalográfica. Assim como explicado anteriormente, essa fase também foi dividida em 6 blocos, cada um contendo 28 palavras que podem ser classificadas como Acerto, erros por associação semântica (reconhecer que a fala-pista apareceu, mesmo não tendo sido mostrada anteriormente) e erros por distratores (reconhecer que a palavra apareceu, mesmo ela não tendo sido mostrada, além de não ter relação semântica com as demais). 54 Figura 5: Desenho do Experimento. Fase de memorização e fase de reconhecimento, respectivamente. 6.1 ASPECTOS ÉTICOS Os procedimentos realizados no estudo foram conduzidos de acordo com as normas estabelecidas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie que aprovou o presente estudo registrado junto no SISNEP (número CAAE 0116.0.272.000-11 (Sistema Nacional de Informações sobre Ética em Pesquisa envolvendo Seres Humanos). O presente estudo também adotou as recomendações estabelecidas na Declaração de Helsinki (1964), conforme emenda em Tóquio (1975), Veneza (1983) e Hong-Kong (1989). Todos os participantes e responsáveis tiveram pleno conhecimento dos objetivos e métodos do experimento e deram seu consentimento por escrito, assim como foram devidamente avisados de que todas as informações fornecidas são estritamente sigilosas. 7. ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS Os dados obtidos pelo teste foram classificados em Acertos, podendo ser por : i) Reconhecimento correto de palavras-alvo, ii) acerto por rejeição das falsas-pistas, iii) acerto por rejeição do distrator. Os erros foram classificados em erros por falsa pista e erro por distratores. Esses fatores foram utilizados para gerar a segmentação do traçado de EEG coletado. Além disso, foi analisado o tempo de reação para a emissão de cada tipo de Acerto. Com relação ao traçado do EEG coletado, foi primeiramente realizada uma fase de pré-processamento que contém: a) filtro de 1Hz (High Pass Filtering), b) filtro de 30Hz (Low Pass Filtering), c) segmentação do traçado considerando os 200 ms prévios a apresentação de cada palavra e os 1000 ms posteriores, d) detecção de artefatos. Foram considerados artefatos e posteriormente removidos i) os canais que apresentaram variação Max-Min maior que 200µV (com média de movimentação de 80ms), ii) piscar sendo o valor entre Max-Min de 140µ em uma janela de tempo de 640 ms. Foram considerados como canais ruins aqueles com mais de 20% de artefatos. Já para segmentos ruins foram considerados segmentos ruins aqueles com mais de 10 canais ruins ou piscagem. 55 Após a fase de pré-processamento, foi realizada a fase pós-processamento. Nessa fase, inclui-se: a) substituição dos canais ruins, b) média dos potenciais obtidos na segmentação considerando os fatores descritos anteriormente (foi criado arquivo de dados contendo todos os potenciais evocados incorporando os dados de todos os sujeitos), c) correção pela linha de base, sendo esta o traçado obtido nas porções de 200 ms prévios à apresentação dos estímulos. A partir dos dados obtidos na fase de pós-processamento, os dados passaram por análise estatística no pacote Statistica 8. Foram realizadas dois tipos de ANOVA para medidas repetidas. A primeira considerando como fatores: Tipo de Resposta (Acerto por reconhecimento de palavras-alvo (RCPA), Acerto por rejeição da falsa-pista (ARFP), Acerto por rejeição do distrator (ARD), Hemisférios (direito e esquerdo) e interação Tipo de Resposta*Hemisfério. A segunda considerou como fatores: erros por falsa-pista (EFP) e Reconhecimento correto da palavra-alvo (RCPA). Análise post hoc foi realizada quando encontrados dados significativos. Para todos os testes, foi estabelecido um erro α=5%. 8. RESULTADOS 8.1 Resultados Comportamentais do Grupo com desenvolvimento típico Caracterização da amostra Foi recebido um total de 10 crianças com desenvolvimento típico para participação no estudo. Todas cumpriam os critérios de inclusão e de exclusão apresentados anteriormente. No entanto, os dados de dois participantes foram excluídos da amostra em função de seus dados eletrofisiológicos apresentarem nível elevado de ruído devido à excesso de movimentos oculares e corporais, assim como piscagem. Com isso, a amostra final de participantes com desenvolvimento típico foi de 8 crianças/adolescentes, sendo todas do sexo masculino, destras e com idade média de 10,7 ±2,5 (média±desvio-padrão). Em relação ao valor encontrado para o QI total estimado, todos participantes obtiveram valor acima de 75 sendo a média de 126±15. No teste de Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudo-palavras os participantes obtiveram média de 68 ±2. Por fim, no subteste Compreensão de Instruções, o grupo obteve média de 26,5±2. 56 Teste de memorização e reconhecimento Com relação ao total de acertos na tarefa, ANOVA para medidas repetidas considerando com variável dependente o percentual de acertos e como fator o Tipo de Acerto (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD) foi realizada. Foi observada diferença significativa com relação ao tipo de acerto (F2,14=13,8; p=0,0005, ηp2=0,7). Em função disto, foi realizada análise post hoc utilizando teste de Fischer LSD que mostrou que o acerto por rejeição de distratores é significativamente diferente em comparação ao acerto por reconhecimento de palavras-alvo (p=0,0005) e ao acerto por rejeição da falsa-pista (p=0,0004). Tal efeito se deve em função de um aumento expressivo no número de acertos por rejeição de distratores como pode ser observado na Figura 6. Figura 6: Gráfico relativo ao percentual de acerto no grupo com desenvolvimento típico. Em relação ao tempo de reação foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente o tempo de reação e como fator o Acerto (3 níveis: (RCPA, RFP e RD). Foi observada diferença significativa entre os tipos de acerto (F2,14=4,5, p=0,03, ηp2=0,4). Análise post hoc com Fischer LSD revelou menor tempo de reação para acerto por reconhecimento de palavras-alvo quando comparado a acerto por rejeição de falsas-pistas (p=0,01). Foi também observada uma efeito marginal 57 (p=0,05) para menor tempo de reação para acerto por reconhecimento de palavras-alvo em relação ao acerto por rejeição de distrator como pode ser observado na Figura 7. Figura 7: Gráfico relativo ao tempo de reação para cada tipo de acerto no grupo com desenvolvimento típico. 8.2 Componentes eletrofisiológicos do grupo com desenvolvimento típico 8.2.1 Componente P1 Com base na literatura e na observação deste componente na grande média, no presente estudo foi definido para análise do componente P1 a janela de tempo de 70ms a 160 ms após apresentação do estímulo. Para compor a análise foram selecionados os eletrodos occipitais, divididos em duas subáreas: I – Eletrodos occipitais à esquerda: 71, 70, 74; II – Eletrodos occipitais à direita: 76, 83, 82. A Figura 8 apresenta os eletrodos selecionados para análise representados no mapa da rede de eletrodos 58 Figura 8: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente P1 durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e distratores. As análises abaixo se referem aos acertos obtidos pelos participantes, nas condições; a) acerto para palavras-alvo (RCPA), ou seja, responderam corretamente que determinadas palavras estavam presente na fase de memorização, b) rejeição correta das falsas-pistas (RFP), ou seja, palavras semanticamente relacionadas e que não estavam presente na fase de memorização; c) rejeição correta de distratores (ARD), caracterizado pelo acerto ao dizer que a palavra apresentada não estava presente na lista de memorização. Foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores o Tipo de resposta (3 níveis: RCPA, RFP, ARD) , o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. 59 ANOVA revelou efeito significativo para Tipo de resposta (F2,14= 8,8; p=0,003; ηp2= 0,6). Foi realizada análise post hoc utilizando o teste de Fischer LSD que revelou efeito significativo entre o componente P1 para acerto por rejeição da falsa-pista quando comparado aos acertos por reconhecimento da palavra-alvo e pela rejeição correta de distratores (p=0,001 e p=0,02, respectivamente). A figura 9 revela que tal diferença é devido ao fato do componente P1 relacionado à rejeição da falsa pista ser de menor amplitude com relação aos demais. Não foram observados efeitos para os fatores Hemisfério (F1,7= 0,02; p=0,9; ηp2= 0,002) e para a interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F2,140,4; p=0,7; ηp2= 0,01). 60 Figura 9: Diferença na amplitude de P1 em relação ao tipo de acerto. 61 P1 durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao reconhecimento correto das palavras-alvo. As análises abaixo referem-se ao falso reconhecimento (classificado como erros por falsas-pistas (EFP), ou seja, quando os participantes responderam que a falsa-pista havia sido apresentada na fase de memorização) em comparação ao reconhecimento correto das palavras-alvo (RCPA), como mencionado anteriormente, caracterizado pelo acerto por identificar que as palavras estavam presentes na fase de memorização. ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis: Acerto por reconhecimento das palavras-alvo (RCPA) e erro por falsa-pista (EFP), Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Foi encontrada diferença significativa para o fator Tipo de Resposta (F1,7= 5,5; p=0,05; ηp2= 0,4). A Figura abaixo revela que o componente P1 apresenta maior amplitude para acertos quando comparado a erros por falsa-pista. Com relação ao fator hemisfério, também foi observada diferença significativa (F1,7= 6,2; p=0,04; ηp2= 0,5). Já para interação Tipo de Resposta*Hemisfério não foi encontrada diferença significativa (F1,7 = 1,1; p=0,3; ηp2= 0,1). 62 Figura 10: Diferença na amplitude de P1 em função do tipo de resposta. 63 8.2.2 Componente P2 Como descrito na literatura e com base observação deste componente na grande média, no presente estudo foi definida uma janela de tempo entre 150ms a 280ms após a apresentação do estímulo. Os eletrodos selecionados pertencem à região frontal e foram divididos em 2 subáreas: I) Eletrodos frontais a esquerda: 23,24,20,12,18,19,22,28,26,27; II) Eletrodos frontais a direita: 9,2,123,124,3,117,118,5,4,10. A figura 11 apresenta o mapa representativo da rede de eletrodos e os eletrodos selecionados para análise do componente P3. Figura 11: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente P2. 64 P2 durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e distratores. Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P2 e como fatores o Tipo de resposta (3 níveis: RCPA, ARFP, ARD), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Análise revelou que não houve diferença significativa entre o fator Tipo de Resposta (F2,14= 1,9; p=0,2; ηp2= 0,2) bem como para o fator Hemisfério (F1,7= 0,1; p=0,7; ηp2= 0,01). Porém, para a interação Tipo*Hemisfério foi observado efeito significativo (F2,14= 3,8; p=0,04; ηp2= 0,3). Análise post hoc utilizando teste de Fischer LSD revelou diferença que o componente P2 no hemisfério direito relacionado à rejeição correta da falsa-pista é significativamente maior em comparação a acertos por reconhecimento correto da palavra-alvo (p=0,01), acertos por rejeição correta dos distratores (p=0,01) e rejeição correta da falsa pista em hemisfério esquerdo (p=0,04). Pela Figura 12, pode-se verificar que o componente P2 possui maior amplitude em hemisfério direito na situação de reconhecimento correto da falsa pista em comparação as demais condições. 65 Figura 12: Amplitude do componente P2 em relação ao tipo de acerto. 66 P2 durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao reconhecimento correto das palavras-alvo. ANOVA para medidas repetidas foi realizada considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P2 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Não foram encontradas diferenças significativas em nenhum dos fatores (F1,7= 3,1; p=0,1; ηp2= 0,3; F1,7= 0,001; p=0,9; ηp2= 0,001, e F1,7= 0,06; p=0,8; ηp2= 0,008, respectivamente). 8.2.3 Componente Old/New Com base na literatura, pode-se verificar que o componente old/new é tipicamente observado em eletrodos da região parietal e em janelas de tempo que variam entre 400ms -800ms. Nesse estudo, com base na literatura e na observação do componente old/new na grande média foi definido como janela de tempo para análise o período de 500ms a 1000ms após apresentação do estímulo. Foram selecionados eletrodos da região parietal divididos em duas subáreas: I) Eletrodos parietais a direita: 52,59,53,60,66,61,67,71; II) Eletrodos parietais a esquerda: 78,77,76,86,95,84,92,91. A Figura 13 apresenta os eletrodos selecionados para análise do componente old/new. 67 Figura 13: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente old/new. Old/New durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e distratores. Para análise desse componente, realizou-se ANOVA para medidas repetidas considerando como fatores, o Tipo de Resposta (3 níveis: RCPA, ARFP, ARD), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Foi encontrado efeito significativo para o fator tipo de resposta (F2,14= 6,5; p=0,009; ηp2= 0,5). Análise post hoc com teste Fischer LSD mostrou diferença significativa entre o componente old/new para Acerto quando comparado a rejeição da falsa-pista e acerto por rejeição de distratores (p=0,004 e p=0,02, respectivamente). Como pode ser observado na Figura 14, o componente old/new relacionado aos acertos apresenta maior amplitude quando comparado à rejeição da falsa-pista e acerto por rejeição de distratores. Não foi observada diferença significativa para o fator 68 Hemisfério (F1,7= 1,9; p=0,2; ηp2= 2,0) e interação Tipo*Hemisfério (F2,14= 1,2; p=0,3; ηp2= 0,1). Figura 14: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de acerto. Old/New durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao reconhecimento correto das palavras-alvo Ainda em relação ao componente old/new, ANOVA para medidas repetidas foi realizada considerando como variável dependente a média da amplitude do componente 69 P2 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. ANOVA revelou efeito significativo apenas para a interação Tipo*Hemisfério (F1,7= 7,1; p=0,03; ηp2= 0,5). Após análise post hoc pode ser observado diferença significativa entre o componente old/new para erros por falsa pista no hemisfério direito quando comparado aos erros por falsa-pista no hemisfério esquerdo (p=0,002) e aos acertos por reconhecimento da palavra alvo em ambos os hemisférios (direito: p=0,005 e esquerdo: p=0,002). Na figura abaixo 15 é possível visualizar que o componente old/new no erro por falsa-pista apresenta maior amplitude no hemisfério direito em relação aos outros tipos de resposta. 70 Figura 15: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de resposta. 71 8.3 Resultados Comportamentais Grupo com Autismo Caracterização da Amostra Foram encaminhados para participação no estudo, um total de 14 voluntários com diagnóstico de autismo. Destes participantes, três não foram incluídos no estudo, pois não obtiveram pontuação mínima segundo critérios de inclusão para os testes de Compreensão de Instruções e Teste de Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudo-palavras. Dos 11 participantes restantes, outras quatro crianças/adolescentes foram excluídas da amostra em função de seus dados eletrofisiológicos apresentarem nível elevado de ruído devido à excesso de movimentos oculares e corporais, assim como piscagem. Com isso, a amostra final de pacientes com autismo incluídos no estudo e na análise foi de 7 crianças/adolescentes, sendo todas do sexo masculino, destras e com idade média de 15 ±3,6 (média±desvio-padrão). Em relação aos resultados do QI total estimado, todos os participantes apresentaram QI superior a 75, sendo que a média foi de 100±15. Os participantes com idade acima de 16 anos, não tiveram que ser avaliados em relação ao QI estimado através da Escala de Inteligência Wechsler para adultos (WAIS III), uma vez que já haviam passado por processo de avaliação neuropsicológica. Já com relação ao teste de Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudo-palavras, os participantes obtiveram média de 63 ±5. Por fim, no subteste Compreensão de Instruções, o grupo com autismo obteve média de 26±2. Teste de Memorização e Reconhecimento (DRM) Com relação ao total de acertos na tarefa, ANOVA para medidas repetidas considerando com variável dependente o percentual de acertos e como fator o Tipo de Acerto (3 níveis: reconhecimento correto das palavras-alvo (RCPA), Acerto por Rejeição falsa-pista (RFP) e Acerto por Rejeição de distrator (RD) foi realizada. Não foi observada diferença significativa com relação ao tipo de acerto (F2,12=1,0, p=0,4, ηp2=0,1). A Figura 16 apresenta os valores referentes ao percentual de acertos na tarefa considerando o tipo de acerto. 72 Figura 16: Gráfico relativo ao percentual de acerto no grupo com autismo. Para analisar o tempo de reação foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente o tempo de reação e como fator o Tipo de Acerto (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD). Não foi observada diferença significativa no Tempo de Reação entre os tipos de acerto (F2,12=1,9, p=0,2, ηp2=0,2). A Figura 17 apresenta os valores referentes ao tempo de reação na tarefa considerando o tipo de acerto. 73 Figura 17: Gráfico relativo ao tempo de reação para cada tipo de acerto no grupo com autismo. 8.4 Componentes Eletrofisiológicos do grupo com autismo Assim como no grupo com desenvolvimento típico, os componentes P1, P2 e old/new foram analisados considerando a mesma janela de tempo e eletrodos descritos anteriormente. 8.4.1 Componente P1 P1 durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e distratores. Foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores o Tipo de resposta (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Foi observado efeito significativo para tipo de resposta (F2,12= 7,8; p=0,007; ηp2= 0,6). Foi realizada análise post hoc utilizando o teste de Fischer LSD que revelou efeito significativo entre o componente P1 para acerto por rejeição da falsa-pista quando comparado aos acertos por reconhecimento da palavraalvo e pela rejeição correta de distratores (p=0,004 e p=0,006, respectivamente). A 74 figura 18 revela que tal diferença é devido ao fato do componente P1 relacionado à rejeição da falsa pista ser de menor amplitude com relação aos demais. Não foram observados efeitos significativos com relação aos fatores Hemisfério (F1,6= 0,6; p=0,5; ηp2= 0,09) e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F2,12= 1,8; p=0,2; ηp2= 0,2). 75 Figura 18: Amplitude do componente P1 em relação ao tipo de acerto no grupo com autismo. 76 P1 durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao reconhecimento correto das palavras-alvo. Além disso, foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Não foram observadas diferenças significativas em nenhum dos fatores, Tipo de Resposta (F1,6= 0,5; p=0,5; ηp2= 0,07), Hemisfério (F1,6= 0,06; p=0,8; ηp2= 0,01) e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F1,6=0,4; p=0,6; ηp2= 0,05). Além disso, foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Não foram observadas diferenças significativas em nenhum dos fatores, Tipo de Resposta (F1,6= 0,5; p=0,5; ηp2= 0,07), Hemisfério (F1,6= 0,06; p=0,8; ηp2= 0,01) e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F1,6=0,4; p=0,6; ηp2= 0,05). 77 Figura 19: Amplitude do componente P1 em relação ao tipo de resposta no grupo com autismo. 78 8.4.2 Componente P2 P2 durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e distratores. Para análise desse componente, foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P2 e como fatores o Tipo de resposta (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Não foi observado efeito significativo para tipo de resposta (F2,12= 0,9; p=0,5; 2 ηp = 0,1), Hemisfério (F1,6= 0,7; p=0,4; ηp2= 0,1) e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F2,12= 0,06; p=0,9; ηp2= 0,01). 79 Figura 20. Amplitude do componente P2 em relação ao tipo de acerto. 80 P2 durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao reconhecimento correto das palavras-alvo ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P2 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Assim como na análise anterior, não foram observadas diferenças significativas para o fator tipo de resposta (F1,6= 0,6; p=0,5; ηp2= 0,09) e para os fatores Hemisférios e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F1,6= 2,8; p=0,1; ηp2= 0,3 e F1,6= 2,0; p=0,2; ηp2= 0,2, respectivamente). 8.4.3 Componente old/new effect Old/New durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e distratores. Realizou-se ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente old/new e como fatores o Tipo de resposta (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. A partir da análise foi encontrado efeito significativo para o fator Tipo de resposta (F2,12= 4,47; p=0,03; ηp2=0,4). Foi realizada análise post hoc utilizando o teste de Fischer LSD que revelou efeito significativo entre o componente old/new para acerto por reconhecimento da palavra alvo quando comparado aos acertos por rejeição da fala pista e rejeição correta de distratores (p=0,04 e p=0,02, respectivamente). A figura 21 revela que tal diferença é devido ao fato do componente old/new relacionado ao reconhecimento correto da palavra alvo ser de maior amplitude com relação aos demais. Não foram observados efeitos significativos com relação aos fatores Hemisfério (F1,6= 0,5; p=0,5; ηp2= 0,08) e para interação Tipo*Hemisfério (F2,12= 2,3; p=0,1; ηp2= 0,3). 81 Figura 21: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de acerto no grupo com autismo. 82 Old/New durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao reconhecimento correto das palavras-alvo. ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a média da amplitude do componente old/new e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Anova revelou efeito significativo para a interação Tipo*Hemisfério (F1,6= 7,5; p=0,03; ηp2= 0,5). No entanto, análise post hoc não revelou efeito significativo na comparação entre os pares. A Figura 22 apresenta estes dados. Além disso, não foram observadas diferenças significativas para o fator tipo de resposta (F1,6= 0,6; p=0,5; ηp2= 0,09) e para os fatores Hemisférios e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F1,6= 2,8; p=0,1; ηp2= 0,3 e F1,6= 2,0; p=0,2; ηp2= 0,2, respectivamente). 83 Figura 22: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de resposta no grupo com autismo. 84 9. DISCUSSÃO Este estudo traz como principais achados a confirmação de dados prévios da literatura de marcadores eletrofisiológicos em tarefa de reconhecimento de situação previamente aprendida versus informações novas com ou sem relação semântica. Em particular, replicamos o efeito conhecido como Parietal Old/new Effect. Além disso, estendemos os efeitos descritos na literatura na medida em que encontramos dois componentes precoces, P1 e P2, que diferenciam por volta de 100 e 200 millisegundos, respectivamente, informações novas com associação semântica tanto daquelas previamente apresentadas (palavras-alvo) quanto de distratores novos. Somado a isso, este estudo confirma dados da literatura com relação ao desempenho comportamental de pessoas com desenvolvimento típico em tarefa de reconhecimento com falsa-pista tanto para o total de acertos quanto para o tempo de Reação. Com relação ao total de acertos, os voluntários com desenvolvimento típico apresentaram maior taxa de acertos por reconhecimento correto das palavras-alvo. Em relação a taxa de erros, apresentaram maior número de erros por associação semântica em comparação a erros por distratores sem associação. Com relação ao tempo de reação, esses mesmos voluntários foram mais rápidos no reconhecimento correto de palavras-alvo em comparação ao reconhecimento correto de itens novos (sejam eles distratores não relacionados ou falsas-pistas). Um dos aspectos mais relevantes é que o presente estudo com seu delineamento metodológico estende pela primeira vez esses dados a uma população clínica – pacientes com Autismo. De forma interessante, verificamos que o marcador eletrofisiológico subjacente ao reconhecimento de item previamente aprendido versus informações novas com ou sem relação semântica (Parietal Old/new Effect) também está presente nesta população. Além disso, também verificamos que o componente precoce P1 discrimina informações novas com associação semântica tanto daquelas previamente apresentadas quanto de distratores novos nesses pacientes; já o componente P2 não se manifestou nesse grupo da forma como observado no grupo de desenvolvimento típico. Apesar dessa base eletrofisiológica similar entre os grupos que discrimina o tipo de informação processado, o desempenho comportamental do grupo com Autismo não seguiu o mesmo padrão do grupo com desenvolvimento típico. Isto é, não foi observado aumento na taxa de acerto dos distratores em relação à falsa-pista assim como não verificado menor tempo de reação para acertos de palavras alvo. Nesse sentido, não só não encontramos dados comportamentais semelhantes aos do grupo com desenvolvimento típico quanto contradizemos alguns modelos prévios da 85 literatura que sugerem que pacientes com autismo apresentam poucos erros por falsapista uma vez que se beneficiariam de informações mais literais e estariam menos expostos aos erros oriundos de associações semânticas. Esses dados são inovadores, contradizem algumas de nossas hipóteses iniciais e ampliam o conhecimento dos marcadores eletrofisiológicos da memória. Estudos com medida eletrofisiológica utilizando tarefas de reconhecimento de itens previamente estudados versus itens novos tem revelado um componente já considerado clássico denominado parietal old/new effect. A descrição desse componente já completa mais de 30 anos (SANQUIST e cols., 1980; WARREN, 1980). Esse componente pode ser observado em torno de 400 a 800 milissegundos em eletrodos posicionados em região parietal, com maior amplitude para reconhecimento verdadeiro, ou seja, reconhecimento das palavras já estudadas (palavras-alvo) em relação à rejeição correta de palavras associadas semanticamente (falsas-pistas) ou distratores (palavras novas sem relação semântica) (NESSLER e cols., 2001, GENG e cols., 2007). No presente estudo, foi encontrado o Parietal Old/new Effect tanto para o grupo de desenvolvimento típico quanto para o grupo de Autismo. O componente teve maior amplitude para reconhecimento verdadeiro de itens previamente estudados em comparação a reconhecimento dos itens novos. A observação desse efeito no grupo típico soma-se a inúmeros estudos prévios e evidencia esse componente como um importante marcador de detecção de itens novos versus itens antigos. A observação de que isso se encontra de forma similar nos pacientes com autismo desafia hipóteses prévias e sinaliza que esses pacientes também possuem sistemas de identificação eletrofisiológico de itens novos versus antigos, revelando que, pelo menos nos casos de pacientes com alto funcionamento, o sistema de memorização e reconhecimento parece preservado. Em tarefas que englobam o paradigma DRM e a classificação das respostas por meio do paradigma lembrar/saber (remember/know) (TULVING, 1985), o efeito parietal old/new é amplo quando os indivíduos reconhecem os itens por meio do julgamento “lembrar” do que através do julgamento “saber”. Em nosso estudo, apesar de não existir a classificação dos itens, podemos dizer que grande parte dos itens receberiam a classificação “lembro”, uma vez que observou-se maior reconhecimento verdadeiro em comparação ao reconhecimento falso. 86 No entanto, os resultados comportamentais entre os grupos não seguiram a mesma direção. O grupo de desenvolvimento típico apresentou maior taxa de acertos para a rejeição de distratores (ARD) em comparação a acertos por rejeição da falsa-pista (ARFP), assim como foram susceptíveis as ilusões de memórias promovidas pela tarefa DRM. Este resultado já era esperado e encontra-se alinhado com uma ampla literatura prévia (STEIN e NEUFALD, 2001; PERGHER e STEIN, 2001; CARNEIRO, FERNANDEZ e DÍAS, 2009; GALLO, 2010). Com relação aos pacientes com Autismo, uma das hipóteses iniciais desse estudo era a de que estes seriam menos susceptíveis a ilusões de memória, apresentariam, ao contrário do grupo controle, uma maior taxa de acertos nos itens de falsa-pista. De acordo com a literatura crianças com autismo parecem ter um processamento perceptual que predomina sobre o processamento semântico (HERMELIN & O’CONNOR, 1970; MOTTRON & BURACK, 2001, REFERENCIAS). A esse funcionamento é justificado o aumento da acurácia para memória verdadeira, o que levaria a indivíduos com autismo serem menos susceptíveis a ilusões de memória. Beversdorf e colaboradores (2000) realizaram um estudo comparando o reconhecimento verdadeiro e reconhecimento falso em adultos com desenvolvimento típico e adultos com autismo de alto funcionamento em tarefa adaptada de Roediger e McDermott. Seus resultados revelaram que os adultos com autismo de alto funcionamento discriminaram as falsas-pistas melhor do que adultos com desenvolvimento típico, concluindo assim que os autistas são menos susceptíveis a ilusões de memória. Em nosso caso esses resultados não foram replicados, uma vez que observamos que não houve diferenças entre as taxas de acertos, erros por falsa-pista e erros por distratores entre os grupos. Contrariando a literatura, os pacientes desse estudo também não apresentaram melhor reconhecimento de distratores sem relação semântica. Nesse sentido, este experimento contradiz a literatura a respeito de um padrão de processamento mais literal da informação nesses pacientes. É interessante notar que outros estudos também desafiam este tipo de efeito. Resultado controverso ao de Beversdorf foi encontrado por Bowler e colaboradores (2000). Ao testar a susceptibilidade para ilusões de memórias em 10 pacientes com Síndrome de Asperger e adultos com desenvolvimento típico, submetendo os participantes a teste adaptado de Roediger e McDermott, juntamente ao 87 procedimento de julgamento “lembrar/saber” (paradigma remember/know) (TULVING, 1985), os autores observaram que reconhecimento verdadeiro e falso não diferiu entre os grupos. Entretanto, a proporção de itens associados recordados foram menores comparado ao grupo controle, indicando assim que as relações semânticas estabelecidas foram menos nos pacientes com Asperger. Apesar do fato de ocorrerem em menor proporção, esses pacientes estão sujeitos a cometer erros de memórias como pessoas com desenvolvimento típico. Em estudo mais recente Kamio e Toichi (2007) compararam o desempenho de 13 pacientes com alto funcionamento, 15 pacientes com Síndrome de Asperger e 15 voluntários com desenvolvimento típico na realização de uma tarefa que avalia a produção de falsas memórias. A tarefa consistiu na apresentação auditiva de sentenças. Posteriormente, os participantes deveriam julgar se já tinham ou não ouvido as sentenças apresentadas. Os resultados mostraram pacientes com autismo de alto funcionamento e com Asperger são susceptíveis a ilusões de memória, uma vez que o falso reconhecimento dos itens semanticamente relacionados foi semelhante nos três grupos. Porém, foi observado que em alguns aspectos, as ilusões de memória foram reduzidas no grupo com alto funcionamento quando comparados com pacientes com Asperger e grupo controle, que por sua vez exibiram taxas semelhantes de falso reconhecimento de itens associados. Os autores sugerem dessa forma, que pacientes com alto funcionamento apresentam dificuldades para estabelecer relações semânticas. Além disso, justificam que essa menor susceptibilidade a ilusões de memória podem ser derivadas da compreensão verbal limitada desses pacientes bem como uma dificuldade global de memorização. Assim, apesar de pacientes com autismo de auto funcionamento conseguirem processar informação semântica simples, sua baixa capacidade na formação de esquemas predomina (ver capítulo 1.3.2), fazendo-os de acordo com esse estudo serem menos susceptíveis ao falso reconhecimento. Os achados do estudo de Kamio e Toichi (2007) no que se refere aos pacientes com autismo de alto funcionamento vão de encontro com os resultados observados por Beversdorf e colaboradores (2000) e contrários aos resultados do presente estudo. Possíveis diferenças que justifiquem a diversidade de resultados encontrados podem estar ligadas a questões metodológicas. Variáveis como: i) o tipo de apresentação das palavras (visual ou auditiva); ii) tempo de apresentação dos estímulos (como reportado por Gallo e Roediger (2002) pode interferir na evocação de falsa recordação); iii) tipo de tarefa – evocação ou reconhecimento; iv) características 88 específicas da amostra, tais como; idade dos participantes, nível intelectual e critérios diagnósticos (para revisão ver BARBOSA, ÁVILA, FEIX E GRASSI-OLIVEIRA, 2010) podem influenciar os resultados. Dessa forma, a hipótese levantada de que indivíduos com autismo parecem ser menos susceptíveis a ilusões de memória não é consistente, levando-nos a melhor investigação desses achados uma vez que modelos de intervenção vêm sendo estruturados com base na aceitação de que esses pacientes apresentam falhas em suas redes semânticas de informação. Como descrito anteriormente, no presente estudo, um fato curioso foi verificarmos que, a despeito de uma diferença no padrão comportamental, tanto os pacientes com autismo quanto o grupo típico apresentaram componente old/new característico de tarefas de recordação e reconhecimento verdadeiro e falso. Nesse sentido, outros mecanismos devem ser investigados para explicar um processamento eletrofisiológico que sinaliza para uma discriminação correta entre itens antigos e novos, sejam eles associados ou não semanticamente e um comportamento que não o faz a contento. Além desse componente, em nosso estudo observamos um componente precoce que discriminou itens por falsa-pista dos demais. Mais especificamente, verificamos a presença de um componente P1. Este é um componente occipital que tem pico em torno de 100 milissegundos apresentou menor amplitude para itens com falsa-pista em comparação aos demais. Tal achado não encontra respaldo na literatura prévia sobre falsa-memória. O componente P1 em estudos com palavras vem se mostrando sensível a aspectos como a forma como os estímulos são dispostos na tela (ROSAZZA e cols., 2009). Em nosso caso, não existiu manipulação na forma como os estímulos foram apresentados, mas sim de sua apresentação anteriormente ou não. Nesse sentido, estudo de Segalowitz e colaboradores (2008) revelou que em tarefas com priming de palavras, o componente P1 aparece sensível aos efeitos de lexicalidade semântica. Dessa forma, podemos considerar a maior amplitude de P1 no presente estudo segue a mesma direção do estudo de Segalowitz e cols. (2008), isto é, as palavras novas com relação semântica com os itens antigos distinguem-se das demais por efeito de lexicalidade semântica. Nos dois grupos esse efeito pode ser observado, mostrando que precocemente no tempo, pessoas com autismo ou com desenvolvimento típico apresentam processamento de informação básica que distingue itens antigos e itens novos daqueles com atributos semânticos relacionados. 89 Ainda precoce, mas já em uma janela temporal em torno de 200 milissegundos, o componente P2 também manifestou-se de forma diferenciada em função dos itens semânticos em relação aos demais itens. No entanto, ao contrário do P1 e do Parietal old/new, este componente apenas se diferenciou entre os tipos de estímulos para o grupo de desenvolvimento típico. Tal componente tem sido associado com reconhecimento de aspectos além da forma do estímulo; i.e. o P2 parece ser o componente subjacente a diferenciação entre diferentes tipos de estímulos. Nesse sentido, pode-se considerar que existiu um início precoce de discriminação entre estímulos para ambos os grupos (P1), mas que o processamento continuado que garante a caracterização do estímulo como item novo semântico versus item novo nãosemântico só ocorreu para o grupo controle. O componente old/new discrimina globalmente entre itens antigos e novos, não sendo específico para os aspectos semânticos. Nessa linha, este estudo introduz o componente P2 como um possível marcador eletrofisiológico da discriminação entre os diferentes tipos de erros sendo a alteração comportamental dos pacientes com autismo na tarefa relacionada a essa janela de tempo. Além disso, a discriminação dos aspectos semânticos tem sido discutida por outros estudos relacionando um componente registrado entre 300-500 ms denominado FN400, devido sua similaridade com o componente N400, conhecido como um marcador para análise de processamento semântico de informações (LUCK, 2005; PIJNACKER e cols., 2010). Porém, enquanto o N400 relaciona-se normalmente a uma maior amplitude nos eletrodos centrais e parietais, o FN400 aparece distribuído nas regiões frontais. Estudos prévios mostram que o FN400 apresenta maior amplitude para os distratores não relacionados em comparação a falsas-pistas e palavras-alvo (CURRAN, 2000). Entretanto, esse componente não foi observado em nosso estudo. Como descrito anteriormente, encontramos componentes mais precoces. Em suma, apesar das limitações deste estudo (número reduzido de palavras para o registro de cada categoria; palavras-alvo, falsas-pistas e distratores não relacionados; número pequeno da amostra, diferenças nas idades) essa dissertação traz importantes contribuições, uma vez que não há na literatura outro estudo com o mesmo delineamento experimental. Além disso, os resultados encontrados são surpreendentes e contradizem a literatura uma vez que sinalizam que pacientes com autismo mostram susceptibilidade a falsas memórias. Somado a isso, os resultados eletrofisiológicos 90 mostram o efeito robusto do componente old/new observados em tarefas de recordação e reconhecimento de itens associados, sendo observado em ambos os grupos. Sugere-se que novos experimentos sejam realizados, considerando um aprimoramento da metodologia, levando em consideração; i) o aumento da amostra e sua divisão em grupos etários, para verificar as diferenças de idades na produção das falsas memórias, uma vez que esse campo ainda apresenta resultados controversos, ii) mudanças na apresentação da tarefa, sendo construída apresentação oral dos estímulos, uma vez que a tarefa pode ser facilitada e poderá ser aplicada em crianças mais novas ainda não leitoras. Além disso, novos estudos são necessários para melhor compreensão dos componentes eletrofisiológicos envolvidos no processamento semântico e reconhecimento de indivíduos com autismo, assim como a realização de análises topográficas que nos permitirá observar áreas cerebrais relacionados ao reconhecimento verdadeiro e falso. 91 10. CONCLUSÃO O presente estudo evidenciou o efeito típico observado em tarefas adaptadas ao paradigma DRM, uma vez que demonstrou que a recordação e o reconhecimento de palavras distratoras associadas semanticamente não apresentadas ocorrem em número elevado, sendo muitas vezes semelhantes às taxas de recordação e reconhecimento de palavras apresentadas nas listas; No que se refere aos dados comportamentais não foram observadas diferenças significativas entre os grupos em relação aos acertos por reconhecimentos de palavrasalvo e acertos por rejeição das falsas-pistas. No entanto, os pacientes apresentam desempenho comportamental diferente aos do controle em relação aos acertos por rejeição de distratores não relacionados; Esse estudo segue em direção contrária a hipóteses prévias da literatura, uma vez que não verificou efeito de processamento mais literal e menos semântico da informação nos pacientes com autismo; Conclui-se por este estudo que marcadores eletrofisiológicos característicos de tarefas de memória com reconhecimento de itens associados, como o componente parietal old-new, estão presentes em pacientes com autismo de forma similar a pessoas com desenvolvimento típico; Verificamos que componentes precoces no tempo já se diferenciam em função de aspectos semânticos e, a ausência desta diferenciação nos pacientes em uma janela de 200 milissegundos pode estar na base das alterações comportamentais observadas; Diferenças metodológicas encontradas nos escassos estudos sobre ilusões de memória envolvendo grupo com autismo podem justificar a divergência dos resultados encontrados; Novos estudos devem ser conduzidos para melhor descrever o funcionamento semântico desses pacientes assim como os componentes eletrofisiológicos subjacentes. 92 11. REFERÊNCIAS ALBA, J.W. & HASHER, L.Is memory schematic? Psychological. Bulletin, v.93, pp. 203-231, 1983. ALBUQUERQUE, P.B., SANTOS, J. “Jura dizer a verdade?...”: Traições e fidelidades dos processos mnésicos. Psicologia: Teoria, Investigação e Prática, v. 2, pp. 257-266, 1999. ALLAN, K., WILDING, E.L., RUGG, M.D. Electrophysiological evidence for dissociable process contributing to recollection. Acta Psychol., v. 98, pp. 231-252, 1998. ANGEL, L; BASTIN, C.; GENON, S.; BALTEAU, E.; PHILLIPS, C.; LUXEN, A.; MAQUET, P.; SALMON, E.; COLLETTE, F. Differential effects of aging on the neural correlates of recollection and familiarity. Cortex, 2012. ARGOLLO, N.; BUENO, O, F.A.; SHAYER, B.; GODINHO, K.; ABREU, K.; DURÁN, P.; ASSIS, A.; LIMA, F.; SILVA, T.; GUIMARÃES, J.; CARVALHO, R.; MOURA, I.; SEABRA, A.G. Adaptação Transcultural da bateria Nepsy – Avaliação Neuropsicológica do Desenvolvimento: Estudo-piloto. Avaliação Psicológica, 2009, v.8, n.1, pp. 59-75, 2009. BALOTA, D. A.; CORTESE, M. J.; DUCHEK, J. M.; ADAMS, D.; ROEDIGER III, H. L.; MCDERMOTT, K. B.; YERYS, B. E. Veridical and False Memories in Healthy Older Adults and in Dementia of the Alzheimer’s Type. Cognitive Neuropsychology, v. 16, n. 3-5, pp. 361-384,1999. BANASCHEWSKI, T. & BRANDEIS, D. Annotation: What electrical brain activity tells us about brain function that other techniques cannot tell us ––a child psychiatric perspective. Journal of Child Psychology and Psychiatry, v. 48, pp. 415–435, 2007. BARBOSA, M. E., ÁVILA, L. M., FEIX, L. F., & GRASSI-OLIVEIRA, R. (2010). Falsas memórias e diferenças individuais. In L. M. Stein e cols.(Org.), Falsas memórias: fundamentos científicos e suas aplicações clínicas e jurídicas (pp. 133-154). Porto Alegre: Artmed. 93 BARTLETT, F.C. Remembering – A study in Experimental and Social Psychology. New York: Cambridge University Press, 1932. BEVERSDORF, D.Q., SMITH, B.W., CRUCIAN, G.P, ANDERSON, J.M., KEILLOR, J.M., BARRETT, A.M., HUGHES, J.D., FELOPULOS, G.J., BAUMAN, M.L., NADEAU, S.E., HEILMAN, K.M. Increased discrimination of "false memories" in autism spectrum disorder. Proc Natl Acad Sci; v. 18, n.15, pp. 8734-7, 2000. BOGGIO, P.S., FERRUCCI, R., RIGONATTI, S., COVRE, P., NITSCHE, M., PASCUAL-LEONE, A., FREGNI ,F. Effects of transcranial direct current stimulation on working memory in patients with Parkinson's disease. Journal of Neurological Sciences, v.249, pp.31-38, 2006. BOWLER, D. M., GARDINER, J. M., GRICE, S., & SAAVALAINE, P. Memory illusions: False recall and recognition in adults with Asperger’s syndrome. Journal of Abnormal Psychology, v. 109, pp.663–672, 2000. BRAINERD, CJ.; FORREST, T.J.; KARIBIAN,D. & REYNA, V.F. Development of the false-memory illusion. Developmental Psychology, v. 42, n.5, pp. 962-979, 2006. BRAINERD, C. J. & MOJARDÍN, A. H. Children’s false memories for sentences: Longterm persistence and mere testing effects. Child Development, v.69, pp. 1361– 1377, 1998. BRAINERD, C. J.; REYNA, V. F.; CECI, S. J. Developmental reversals in false memory: A review of data and theory. Psychological Bulletin, v.134, n.3, pp. 343-382, 2008. BRAINERD, C.J. & REYNA, V.F. Fuzzy-trace theory and children´s false memories. Journal of Experimental Child Psychology, v.71, pp. 81–129, 1998. BRAINERD, C. J., & REYNA, V. F. Explaining developmental reversals in false memory. Psychological Science, v.18, n.5, 442-448, 2007. 94 BRAINERD, C.J. & REYNA, V.F. FORREST, T.J. Are young children susceptible to the false-memory illusion?.Child Development, v. 73, n.5, pp. 1363-1377, 2002. BRAINERD, C. J., STEIN, L. M. & REYNA, V. F. On the development of conscious and unconscious memory. Developmental Psychology, v. 34, pp. 342- 357, 1998. BRAINERD, C.J. REYNA, V.F. Fuzzy-trace theory and memory development. Developmental Review, v. 24, pp. 396-439, 2004. BRAINERD, C.J., REYNA, V. F, & BRANDSE, E. Are children’s false memories more persistent than their true memories? Psychological Science, v.6, pp. 359-364, 1995. BROWN, C., & HAGOORT, P. The processing nature of the N400: evidence from masked priming. Journal of Cognitive Neuroscience, 5, 34–44, 1993. BRUCK, M., & CECI, S. J.The suggestibility of children‟s memory. Annual Review of Psychology, v.50, pp.419-439, 1999. BRUCK, M., & CECI, S. J. Forensic developmental psychology: Unveiling four common misconceptions. American Psychological Society, v.13, n.6, pp.229-232, 2004. BRUCK, M., CECI, S. J., & HEMBROOKE, H. The nature of children´s true and false narratives. Developmental Review, v.22, pp.520-554, 2002. CABEZA, R., RAO, S.M., WAGNER, A.D., MAYER, A,R,, SCHACTER, D.L. Can medial temporal lobe regions distinguish true from false? An event-related fMRI study of veridical and illusory recognition memory. Proc Natl Acad Sci, v. 98, pp. 4805–4810, 2001. CADAVID, S., BEATO, M.S., FERNANDEZ, A. Falso reconocimiento em listas DRM com três palabras críticas: Asociación directa vs. inversa. Psicológica, v.33, pp.39-58, 2012. 95 CAPOVILLA, F., & CAPOVILLA, A. Compreendendo a natureza dos problemas de aquisição de leitura e escrita: mapeando o envolvimento de distúrbios cognitivos de discriminação fonológica, velocidade de processamento e memória fonológica. Cadernos de Psicopedagogia,v. 1, n.1, pp.14-37, 2001. CARNEIRO, P. & ALBUQUERQUE, P. Paradigma DRM: Traições da Memória. InMind_Português, v.1, n. 2-3, pp.14-2, 2010. CARNEIRO, P., ALBUQUERQUE, P., FERNANDEZ, A., & ESTEVES, F. Analyzing false memories in children with associative lists specific for their age. Child Development, v. 78, pp.1171-1185, 2007. CARNEIRO, P., & FERNANDEZ, A. Age differences in the rejection of false memories: The effects of giving warning instructions and slowing the presentation rate. Journal of Experimental Child Psychology, v.105, pp. 81-97, 2010. CARNEIRO, P., FERNANDEZ, A., & DIAS, A. R. The influence of theme identifiability on false memories: Evidence for age-dependent opposite effects. Memory & Cognition, v.37, n.2, pp.115-129, 2009. CASSEL, W., ROEBERS, C., & BJORKLUND, D. Developmental patterns of eyewitness responses to repeated and increasingly suggestive questions. Journal of Experimental Child Psychology, v.61, pp.116-133, 1996. CURRAN, T. Brain potentials of recollection and familiarity. Memory & Cognition., v.28, n.6, pp. 923-938, 2000. DENNIS, N.A., KIM, H., CABEZA, R. Age-related differences in brain activity during true and false memory retrieval. Journal of Cognitive Neuroscience, v. 20, n.8, pp. 1390-1402, 2008. DUNN, M.A.,& BATES, J.C. Developmental change in neutral processing of words by children with autism. Journal of Autism., v.35, n.3, pp.361-76, 2005. 96 DÜZEL, E., YONELINAS, A. P., MANGUN, G. R., HEINZE, H.-J., & TULVING, E. Event-related potential correlates of two states of conscious awareness in memory. Proceedings of the National Academy of Sciences, v. 94, pp. 5973-5978, 1997. EISENKRAEMER, R.E. Nas cercanias das falsas memórias. Revista Ver. Ciência e Cognição, v.09, pp. 97-110, 2006. GALLO, D. A. Using recall to reduce false recognition: Diagnostic and disqualifying monitoring. Journal of Experimental Psychology: Learning, Memory, & Cognition, v.30, pp.120-128, 2004. GALLO, D. A. (2006). Associations and errors through history. In Gallo, Associative illusions of memory: False memory research in DRM and related tasks (pp. 3-17). New York: Psychology Press. GALLO, D. A. False memories and fantastic beliefs: 15 years of the DRM illusion. Memory & Cognition, v.38, n. 7, pp. 833-848, 2010. GALLO, D. A., & ROEDIGER, H. L. Variability among word lists in eliciting memory illusions: evidence for associative activation and monitoring. Journal of Memory and Language, v.47, pp.469 – 497, 2002. GENG, H., QI, Y., LI, Y., FAN, S., WU., Y e ZHU, Y. Neurophysiological correlates of memory illusion in both encoding and retrieval phases. Brain Research, n.1136, pp. 154-168, 2007. GHETTI, S., QIN, J., & GOODMAN, G. S. False memories in children and adults: Age,distinctiveness, and subjective experience. Developmental Psychology, v.38, pp.705-718, 2002. GONSALVES, B., & PALLER, K.A. Brain potentials associated with recollective processing of spoken words. Mem Cogn, v.28, pp. 321–330, 2000. 97 GONSALVES, B., PALLER, K.A. Neural events that underlie remembering something that never happened. Nat Neurosci, v.3, pp. 1316–21, 2000. HANDY, T. C. (2005). Event-related potentials: A methods handbook. Cambridge, MA: MIT Press. HARRIS, G.J., CHABRIS, C.F., CLARK, J., URBAN, T., AHARON, I., STEELE, S. Brain activation during semantic processing in autism spectrum disorders via functional magnetic resonance imaging. Brain and Cognition, v.61, pp. 54-68, 2006. HOWE, M. L. Children (but not adults) can inhibit false memories. Psychological Science, v. 16, n.12, pp. 927-931, 2005. HUMMEL, F., P. CELNIK, et al. Effects of non-invasive cortical stimulation on skilled motor function in chronic stroke. Brain. v.128, n. 3, p.490-499, 2005. JESTE, S.S. & NELSON. C.A. Event related potentials in the Understanding of Autism Spectrum Disorders: An analytical Review. J Autism Dev Disord., v.39, pp. 495-510, 2009. JOHNSON, M. K., HASHTROUDI, S., & LINDSAY, D. S. Source monitoring. Psychological Bulletin, v. 114, pp. 3 – 28, 1993. JOSEPH, R.M. Neuropsychological frameworks for understanding autism. Int Rev Psychiatry.; v. 11, n.4, pp. 309-324, 1999. KORKMAN, M., KIRK, U. & KEMP, S. NEPSY: A Developmental Neuropsychological Assessment. San Antonio, TX: The Psychological Corporation, 1998. LANTZ, G.; PERALTA R. G.; SPINELLI, L.; SEECKC, M.; MICHEL, C.M. Epileptic source localization with high density EEG: how many electrodes are needed. Clinical Neurophysiology, v. 114, pp. 63–69, 2003. 98 LAU, E.F., PHILLIPS, C., & POEPPEL, D. A cortical network for semantics: (de)constructing the N400. Nature Review Neuroscience, v. 9, pp. 920–933, 2008. LOFTUS, E. F., MILLER, D., & BURNS, H. Semantic integration of verbal information into a visual memory. Journal of Experimental Psychology: Human Learning and Memory, v. 4, pp. 19–31, 1978. LOFTUS, E., PALMER, J. Reconstruction of automobile destruction: An example of the interaction between language and memory. Journal of Verbal Learning and Verbal Behaviour, v. 4, pp.19-31, 1974. LUCK, S.J. An introduction to event-related potential technique. The MIT Press: Cambridge, MA, 2005. MACEDO, E.C.; CAPOVILLA, F.C.; NIKAEDO, C.C.; ORSATI, F.T.; LUKASOVA, K.; CAPOVILLA, A.G.S.; DIANA, D. Teleavaliação da habilidade de leitura no Ensino Infantil e Fundamental. Psicologia Escolar e Educacional, v.9, n.1, pp. 47-55, 2005. McCABE, D.P.; ROEDIGER, H.L.; McDANIEL, M.A.; BALOTA, D.A. Age reduces veridical remembering but increases false remembering: Neuropsychological test correlates of remember-know judgments. Neuropsychologia, v. 47, n.11, pp. 2164– 2173, 2009. MELO, B., WINOCUR, G., & MOSCOVITCH, M. False recall and false recognition: An examination of the effects of selective and combined lesions to the medial temporal lobe/diencephalon and frontal lobe structures. Cognitive Neuropsychology, v.16, pp. 343-359, 1999. MENENDEZ, R.G. P.; MURRAY, M. M.; MICHEL, C. M.; MARTUZZI, R.; ANDINOA, S. L. G. Electrical neuroimaging based on biophysical constraints. NeuroImage. v. 21, pp. 527–539, 2004. 99 MICHEL, C.M., MURRAY, M., LANTZ, G., GONZALEZ, S., SPINELLI, L., & PERALTA, R.G. EEG source imaging (invited review). Clinical Neurophysiology, v. 115, pp. 2195-2222, 2004. MOJARDÍN-HERÁLDEZ, A. Origen y Manifestaciones de las falsas memorias. Acta Colombiana de Psicología, v.11, n.1, pp. 37-43, 2008. NELSON, D. L., DYRDAL, G. M., & GOODMON, L. B. What is preexisting strength? Predicting free association probabilities, similarity ratings, and cued recall probabilities. Psychonomic Bulletin & Review, v. 12, n.4, pp. 711-719, 2005. NESSLER, D., MECKLINGER, A., PENNEY, TB. Event related brain potentials and illusory memories: the effects of differential encoding. Cog Brain Research, v.10, pp. 283-301, 2001. NORMAN, K.A., SCHACTER, D. False Recognition in younger and older adults: Exploring the characteristics of illusory memories. Memory & Cognition, v.25, n.6, pp 838-848, 1997. O'RIORDAN, M.A., PLAISTED, K.C., DRIVER, J., BARON-COHEN, S. Superior visual search in autism. J Exp Psychol Hum Percept Perform. v.27, n.3, pp.719-730, 2001. PALLER, K.A., & WAGNER, A.D. Monitoring the transformation of experience into memory. Trends Cogn Sci, v. 6, pp.93–102, 2002. PAZ-ALONSO, P.M., GHETTI, S., DONOHUE, S.E., GOODMAN, G.S., BUNGE, S.A. Neurodevelopmental correlates of true and false recognition. Cerebral Cortex, v.18 n. 9, pp. 2208-2216, 2008. PAYNE, D.G., ELIE, C.J., BLACKWELL, J.M. NEUSCHATZ, J. Memory illusions: recalling, recognizing and recollecting events that never occurred. Journal of memory and language, 35, 261-285, 1996. 100 PERGHER, G. K. & STEIN, L. M. Criando falsas memórias em adultos por meio de palavras associadas. Psicologia: Reflexão e Crítica, v.14, n.2, pp. 353-366, 2001. PIJNACKER, J., GEURTS, B., LAMBALGEN, M.V., BUITELAAR, J., & HAGOORT, P. Exceptions and anomalies: An ERP study on context sensitivity in autism. Neuropsychologia, v. 48, pp. 2940–295, 2008. . PLANCHER, G., GUYARD, A., NICOLAS, S., PIOLINO, P. Mechanisms underlying the production of false memories for famous people's names in aging and Alzheimer's disease. Neuropsychologia, v. 47, n.12 , pp. 2527-2536, 2009. RODRIGUES, E.P.; ALBUQUERQUE, P.B. Produção de memórias falsas com lista de associados: Análise do Efeito do nível de processamento e da natureza da prova de memória. Psicol USP, v.18, n.4, 113-131, 2007. ROEBERS, C. M., GELHAAR, T., & SCHNEIDER, W. It‟s magic!“ The effects of presentation modality on children‟s event memory, suggestibility, and confidence judgments. Journal of Experimental Child Psychology, v.87, 320-335, 2004. ROSAZZA, C., CAI, Q., MINATI, L., PAULIGNAN, Y., NAZIR, T.A. BRAIN RES. Early involvement of dorsal and ventral pathways in visual word recognition: an ERP study. Brain Research, 2009. ROEDIGER, H.L. Memory illusions. Journal of Memory and Language, v.35, pp.76100, 1996. ROEDIGER, H.L., BALOTA, D.A. & WATSON, J.M. Spreading activation and the arousal of false memories. In H.L. Roediger, J.S. Nairne, I. Neath & A.M. Surprenant (Eds.), The nature of remembering: Essays in honor of Robert G. Crowder. Washington, D.C.: American Psychological Association Press, 2001, pp 95-115. 101 ROEDIGER, H.L. & MCDERMOTT, K.B. Creating false memories: Remembering words not presented in lists. Journal of Experimental Psychology: learning. Memory and cognition, v.21, n.4, pp. 803-814, 1995. ROEDIGER, H.L.. III., WATSON, J.M., MCDERMOTT, K.B., GALLO, D.A. Factors that determine false recall: A multiple regression analysis. Psychonomic Bulletin & Review, n.8, pp.385-407, 2001. SALLES, J.F., HOLDERBAUM, C.F. MACHADO, L.L. Normas de Associação semântica para 50 palavras do português Brasileiro para Crianças: Tipo, Força de Associação e Set Size. Interamerican Journal of Psychology, v. 43, n. 1, pp. 57-67, 2009. SANDQUIST, T.F., ROHRBAUGH, J.W.; SYNDULKO, K.; LINDSLEY, D.B. Electrophysiological signs of levels of processing: perceptual analysis and recognition memory. Psychophysiology, v. 17, pp.568–576, 1980. SCHACTER, D.L., REIMAN, E., CURRAN, T., YUN, L.S., BANDY, D., MCDERMOTT, K.B., AND OTHERS. Neuroanatomical correlates of veridical and illusory recognition memory: evidence from positron emission tomography. Neuron v. pp. 17267–17274, 1996. SCHACTER, D.L., CURRAN, T., GALLUCIO, L., MILLBERG, W.P., & BATES, J.F. False recognition and the right frontal lobe: A case study. Neuropsychologia, v.34, pp. 793-808, 1996. SEGALOWITZ, S.J., ZHENG, X. An ERP study of category priming: evidence of early lexical semantic access. Biol Psychol.,v. 80, n.1, pp.122-9, 2009. SIEGLE, G.J., ICHIKAWA, N., STEINHAUER, S. Blink before and after you think: blinks occur prior to and following cognitive load indexed by pupillary responses. Psychophysiology. v. 45, pp.679-687, 2008. 102 SIMOES, M.R. Utilizações da WISC-III na avaliação neuropsicológica de crianças e adolescentes. Paidéia, v.12, pp.113-132, 2002. SNYDER, A. W.; MULCAHY, E.; TAYLOR, J. L.; MITCHELL, D. J.; SACHDEV, P.; GANDEVIA, S.C. Savant-Like Skills Exposed In Normal People By Suppressing The Left Fronto-Temporal Lobe. Journal of Integrative Neuroscience, v. 2, n. 2, pp. 149-158, 2003. STEIN, L.M. et al.. Falsas Memórias: fundamentos científicos e suas aplicações clínicas e jurídicas. Porto Alegre: Artmed, 2010. STEIN, L.M; & NEUFALD, C.B. Falsas memórias: Porque lembramos de coisas que não aconteceram? Arq. Ciência e Saúde Unipar, v.5, n.2, pp.179-186, 2001. STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. Tradução Roberto Cataldo Costa – 4.ed – Porto Alegre: Artmed, 2008, pp.584. TULVING, E. Memory and consciousness. Canadian Psychology, v.26, pp.1–12, 1985. WARREN, L.R. Evoked-potential correlates of recognition memory. Biology Psychophysiolog, n.11, 21-35, 1980. WECHSLER, D. Escala de inteligência Wechsler para crianças (3. Edição): Manual Adaptação e padronização de uma amostra brasileira, 1. Edição; V.L.M. Figueiredo. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002. WIESE, H. e DAUM, I. Frontral positivity discrimates true from false recognition. Brain Research, pp. 183-192, 2000. 103 12. APÊNDICE A. Carta de Informação a Instituição TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – Instituição Gostaríamos de convidar a sua Instituição a participar do projeto de pesquisa “Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Roediger e McDermott em crianças com Transtorno Global do Desenvolvimento” que se propõe investigar as relações entre o desempenho comportamental e potenciais evocados em tarefa de memória comparando sujeitos que se enquadrem nos Transtornos Globais do Desenvolvimento com o grupo controle de desenvolvimento típico. Além disso, iremos investigar a atividade eletroencefalográfica com o uso do EEG durante a tarefa de memória. Durante o registro da atividade eletroencefalográfica com uma touca de eletrodos do EEG embebida em uma solução salina e shampoo o participante não sentirá nada, a touca apenas coleta as informações não implicando nenhum tipo de risco para o participante que permanecerá acordado o tempo todo. Os instrumentos de avaliação serão aplicados pelo Pesquisador Responsável e tanto os instrumentos de coleta de dados quanto o contato interpessoal oferecem riscos mínimos aos participantes. Em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao Pesquisador Responsável para o esclarecimento de eventuais dúvidas (no endereço abaixo), e terá o direito de retirar a permissão para participar do estudo a qualquer momento, sem qualquer penalidade ou prejuízo. As informações coletadas serão analisadas em conjunto com a de outros participantes e será garantido o sigilo, a privacidade e a confidencialidade das questões respondidas, sendo resguardado o nome dos participantes (apenas o Pesquisador Responsável terá acesso a essa informação), bem como a identificação do local da coleta de dados. Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa, poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie - Rua da Consolação, 896 - Ed. João Calvino - Mezanino. Desde já agradecemos a sua colaboração. Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram esclarecidas pelo Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação da Instituição e dos Sujeitos de Pesquisa é voluntária, e que, a qualquer momento ambos tem o direito de obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar-se da mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo. Nome do Sujeito de Pesquisa:______________________________________________ 104 Assinatura do Sujeito de Pesquisa:__________________________________________ Declaro que expliquei ao Responsável pela Instituição os procedimentos a serem realizados neste estudo, seus eventuais riscos/desconfortos, possibilidade de retirar-se da pesquisa sem qualquer penalidade ou prejuízo, assim como esclareci as dúvidas apresentadas. São Paulo,___de__________de_______. ___________________________________ ____________________________ Pesquisador Responsável: Claudia Aparecida Orientador: Prof. Dr. Paulo S. Boggio Valasek Universidade Presbiteriana Mackenzie R. Piauí, nº181, 10º andar Telefone:2114-8001 B. Carta de Informação ao Sujeito de Pesquisa TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - Sujeito de Pesquisa Seu filho(a) está sendo convidado a participar do projeto de pesquisa “Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Roediger e McDermott em crianças com Transtorno Global do Desenvolvimento.” Este estudo tem como objetivo investigar as relações entre o desempenho comportamental e potenciais evocados em tarefa de memória comparando sujeitos que se enquadrem nos Transtornos Globais do Desenvolvimento com o grupo controle de desenvolvimento típico. A pesquisa é realizada por meio de um aparelho de eletroencefalografia de alta densidade (EEG) e seu uso para o maior conhecimento dos potenciais cognitivos, ou seja, da atividade cerebral que ocorre durante a realização de tarefas, no caso do projeto, uma tarefa específica de memória. O equipamento constitui-se em uma touca com 128 eletrodos que registrará a atividade cerebral de seu filho(a) durante o teste. Ele(a) não sentirá nada, pois a touca apenas registra a atividade cerebral enquanto é realizada a tarefa em um computador, assim não implicando nenhum tipo de risco para ele (a) que permanecerá acordado o tempo todo. A touca será colocada uma touca com os eletrodos na cabeça da criança para o registro da atividade cerebral em uma sala com os equipamentos no Laboratório de Neurociência Cognitiva. Logo em seguida, seu filho(a) realizará o teste de Memória. Ele(a) levará em torno de 60 minutos no total da realização da tarefa. 105 Seu filho(a) estará participando de um projeto de pesquisa e a qualquer momento você terá todo o direito de perguntar aos pesquisadores responsáveis sobre eventuais dúvidas em relação a todos os procedimentos, aos riscos e potenciais efeitos positivos para você e seu filho(a). Se durante a pesquisa você quiser interromper a sua participação, ou seja, não realizar mais a pesquisa por qualquer motivo (você não precisa explicar para o pesquisador o motivo), você tem todo o direito em fazê-lo. Toda a informação relacionada à pesquisa será confidencial e apenas o pesquisador e você terão acesso a essa informação. Essa informação ficará protegida em lugar seguro em relação a acessos de terceiros. Os resultados obtidos serão analisados, e as conclusões, apresentadas para a discussão científica como parte do processo de pesquisa de Mestrado do Programa de PósGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica, esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado. Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa, poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rua da Consolação, 896 - Ed. João Calvino - Mezanino. Desde já agradecemos a colaboração. Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram esclarecidas pelo Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação é voluntária, e que, a qualquer momento tenho o direito de obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar a permissão para participar da mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo. Nome do Sujeito de Pesquisa:______________________________________________ Assinatura do Sujeito de Pesquisa:_________________________________________ Declaro que expliquei ao Responsável pelo Sujeito de Pesquisa os procedimentos a serem realizados neste estudo, seus eventuais riscos/desconfortos, possibilidade de retirar-se da pesquisa sem qualquer penalidade ou prejuízo, assim como esclareci as dúvidas apresentadas. São Paulo,___de__________de_______. ___________________________________ ____________________________ Pesquisador Responsável: Claudia Aparecida Orientador: Prof. Dr. Paulo S. Boggio Valasek Universidade Presbiteriana Mackenzie R. Piauí, nº181, 10º andar Telefone: 2114-8001 106 13. ANEXOS A. Carta de Aprovação do Comitê de Ética