UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CLAUDIA APARECIDA VALASEK
Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Deese, Roediger e McDermott
em crianças e adolescentes com Transtorno Global do Desenvolvimento
São Paulo
2013
CLAUDIA APARECIDA VALASEK
Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Deese, Roediger e McDermott
em crianças e adolescentes com Transtorno Global do Desenvolvimento
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Distúrbios do
Desenvolvimento da Universidade Presbiteriana
Mackenzie como requisito para obtenção do
título de mestre.
Orientador: Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio
São Paulo
2013
V137p
Valasek, Claudia Aparecida
Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Deese,
Roediger e McDermott em crianças com Transtorno Global do
Desenvolvimento/ Paulo Sérgio Boggio. 2013.
106 f. : il. ; 30 cm
Dissertado (Mestrado em Distúrbio do Desenvolvimento) Universidade Presbiteriana Mackenzie, 2013.
Referências bibliográficas: f. 92-102.
1. Potencial Relacionado ao Evento. 2. EEG. 3. Autismo.
4. Transtorno global do desenvolvimento. 5. Falsa memória.
I. Título.
CDD 616.898
CLAUDIA APARECIDA VALASEK
Potenciais evocados relacionados à Tarefa de Deese, Roediger e McDermott em crianças
com Transtorno Global do Desenvolvimento
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Distúrbios do Desenvolvimento da
Universidade Presbiteriana Mackenzie
como requisito para obtenção do título
de mestre.
Aprovada em _______________________________
BANCA EXAMINADORA
Prof. Dr. Paulo Sérgio Boggio – Orientador
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo
Universidade Presbiteriana Mackenzie
Prof. Dr. Emanuel Pedro Viana Barbas de Albuquerque
Universidade do Minho
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus pela vida e por todas as maravilhosas oportunidades que tive
até hoje.
Ao meu orientador Paulo Sérgio Boggio, não apenas pela possibilidade de realização deste
trabalho (desafiador!), mas por todos esses anos de confiança, incentivo, ensinamentos
científicos e pessoais que me tornaram uma pessoa melhor. Sinto-me honrada de tê-lo como
orientador.
Aos meus pais, Sônia Gardin Valasek e Claudio Valasek pelo amor incondicional, carinho e
compreensão dispensados em todos esses anos, desde minha primeira aula no “Cantinho do
Céu” até minha escolha profissional. Serei eternamente grata! Amo vocês.
Agradeço ao Dr. Quirino Cordeiro, Dr. Pedro Shiozawa e a Dra. Mailu Enokibara do Centro
de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM), pela parceria concretizada e por não
medirem esforços no recrutamento de pacientes (de um perfil tão específico).
A Dra. Daniela Bordini responsável pela Unidade de Psiquiatria da Infância da Universidade
Federal de São Paulo (UPIA) e a Neuropsicóloga Tatiane Cristina Ribeiro por também
colaborarem no processo de recrutamento dos pacientes.
Ao Sávio Ibrahim Viana, que aguentou muitos momentos de descontrole, mas esteve sempre
ao meu lado, colocando sorrisos em meu rosto e me apoiando para eu continuar nessa
caminhada. Amo você!
A minha avó, Miriam da Costa Valasek, por todo seu amor, pensamento positivo, pelos
jantares as segundas-feiras e suas velas para Nossa Senhora de Fátima.
A toda equipe do laboratório que de forma direta ou indireta contribuiu com o trabalho,
através da ajuda na seleção dos participantes, dos momentos de descontração, dos horários de
almoço, dos cafezinhos “longos e curtos” e das descidinhas para o banho de sol.
Em especial, agradeço as minhas queridas “tartarugas velhas”, Nathalia Ischikawa Baptista,
Ana Carolina Alem Giglio e Olivia Morgan Lapenta pelas conversas, risadas e também ajuda
na elaboração do trabalho. (Ana não tenho como agradecer pela grande ajuda na configuração
das figuras).
Agradeço a Camila Campanhã pelo apoio técnico e a Karen Ueki pela companhia e por todas
as balinhas que ganhei para animar meu dia.
As minhas queridas amigas, Andréa Guerra e Larissa Cangueiro que também estiveram ao
meu lado e me proporcionaram ao menos uma vez por semana almoços deliciosos regados de
felicidade.
Aos membros da banca, Prof. Dr. Elizeu Coutinho de Macedo e Prof. Dr. Emanuel Pedro
Viana Barbas de Albuquerque, por suas grandes contribuições que possibilitaram o melhor
desenvolvimento deste estudo.
“E sem saber que era impossível, ele foi lá e fez.”
Jean Cocteau
Apoio:
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo -FAPESP
RESUMO
Nas últimas décadas o interesse pela investigação do fenômeno da falsa-memória tem se
ampliado. Na literatura ainda é escasso o número de estudos que investigam os componentes
eletrofisiológicos subjacentes ao reconhecimento verdadeiro e ao reconhecimento falso,
principalmente no que diz respeito a crianças e adolescentes com diagnóstico de autismo. O
presente trabalho teve como objetivo analisar as diferenças comportamentais no desempenho
da tarefa adaptada do paradigma de Roediger e McDermott nos dois grupos e verificar a
presença de componentes eletrofisiológicos na fase de reconhecimento. Participaram do
estudo 15 crianças/adolescentes, sendo 7 de grupo com diagnóstico de autismo (média 15
±3,6) e 8 de grupo com desenvolvimento típico (média 10,7 ±2,5.). Resultados
comportamentais mostram que não houve diferença significativa entre as taxas de acertos por
reconhecimento da palavra-alvo, erro por falsas-pistas e erro por distratores. Ao contrário do
que se esperava essa diferença também não foi observada no grupo de crianças com autismo,
indicando assim que talvez não ocorra neste tipo de tarefa um processamento literal da
informação. Análise dos dados eletrofisiológicos na fase de reconhecimento revelou o
componente old/new (500-1000ms) que apresenta maior amplitude para reconhecimento
verdadeiro em comparação ao reconhecimento falso. O interessante é verificar que esse
componente foi observado tanto no grupo de desenvolvimento típico como no grupo com
autismo. Além disso, foi encontrado componente P1 de menor amplitude para rejeição correta
de falsas-pista em comparação aos outros tipos de acertos. Esse componente parece sensível a
discriminação das palavras com associação semântica. Outro componente encontrado e que
não é descrito na literatura para esse tipo de tarefa é o componente P2. Dessa forma, este
estudo pode aumentar o conhecimento sobre as bases neurobiológicas e comportamentais do
funcionamento no especialmente no que se refere ao processamento semântico de palavras.
Palavras-chave: Potencial Relacionado ao Evento, EEG, Autismo, Transtorno global do
desenvolvimento, Falsas memórias.
ABSTRACT
In the last decades the research interests in the false memory phenomenon have been
amplified. The number of studies in the literature that investigate the electrophysiological
components underlying the true recognition and the false recognition is still scarce,
principally with respect to children and adolescents with autism diagnostic. The aim of this
study was to analyze the behavioral differences in the performance of the subjects in the
adapted Roediger and McDermott paradigm task in both groups and verify the presence of
electrophysiological components in the recognition phase. Fifteen children/adolescents
participated in the experiment. Seven of the subjects belonged to the autism diagnostic group
(mean 15 + 3,6) and 8 subjects belonged to the typical development group (mean 10,7 + 2,5).
The behavioral results showed that there was not a significant difference in the rates of
correctness on the recognition of the target word, error by critical clue and critical distractor.
Contrary to what was expected, this difference was also not observed in the children with
autism. This might indicate that a literal information processing does occur in this kind of
task. The analysis of the electrophysiological data in the recognition phase revealed the
old/new component (500-1000ms) that presents higher amplitude for true recognition than for
false recognition. It is interesting to notice that this component was observed on both typical
development and autism groups. Moreover, it has been observed the low amplitude P1
component for correct rejection of critical clues in comparison to other types of correct
answers. This component seems to be sensible to the discrimination of semantically
associated words. Another component found but not described in the literature for this type of
task is the P2 component. Therefore, this study may increase the knowledge about the
neurobiological basis and the behavioral functioning, especially regarding the semantic word
processing.
Key-words: Event-Related Potential, EEG, Autism, Pervasive Developmental Disorder, False
memories.
LISTA DE ABREVIAÇÕES
ARD
Acerto por Rejeição do Distrator
ARFP
Acerto por Rejeição da Falsa-pista
DRM
Deese, Roediger e McDermott
DSM- IV
Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
EFP
Erro por Falsa-pista
ED
Erro por Distrator
ERP
Potencial Relacionado ao Evento (Event-Related Potential)
EEG
Eletroencefalografia
fRMI
Ressonância Magnética Funcional (Function resonance magnetic image)
PET
Tomografia por emissão de pósitrons
RCPA
Reconhecimento Correto da Palavra-alvo
TEA
Transtorno do Espectro do Autismo
TCLPP
Teste de Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudo-palavras
TGD
Transtorno Global do Desenvolvimento
WISC
Wechsler Intelligence Scale for Children
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: EEG de alta densidade.........................................................................................................33
Figura 2: Ilustração de mapas de atividade cerebral em relação ao número e
disposição dos eletrodos................................................................................................... 34
Figura 3: Prancha do subteste Compreensão de Instruções................................................................44
Figura 4: Exemplo dos sete tipos de pares-figura palavra que compõe o TCLP................................46
Figura 5: Desenho Experimental: Sequência de telas apresentadas no teste:
Fase de memorização e fase de reconhecimento, respectivamente....................................53
Figura 6: Gráfico relativo ao percentual de acerto no grupo controle de
desenvolvimento típico......................................................................................................56
Figura 7: Gráfico relativo ao tempo de reação para cada tipo de acerto no grupo com
desenvolvimento típico.......................................................................................................57
Figura 8: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente P1......................................58
Figura 9: Diferença na amplitude de P1 em relação ao tipo de acerto................................................60
Figura 10: Diferença na amplitude do P1 em função do tipo de resposta...........................................62
Figura 11: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente P2...................................63
.
Figura 12: Amplitude do componente P2 em relação ao tipo de acerto............................................ 65
.
Figura 13: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente old/new......................... 67
.
Figura 14: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de acerto.....................................68
Figura 15: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de resposta................................ 70
.
Figura 16: Gráfico relativo ao percentual de acerto no grupo com autismo...................................... 72
.
Figura 17: Gráfico relativo ao tempo de reação para cada tipo de acerto
no grupo com autismo............................................................................................................ 73
.
Figura 18: Amplitude do componente P1 em relação ao tipo de acerto
no grupo com autismo..............................................................................................................75
Figura 19: Amplitude do componente P1 em relação ao tipo de resposta
no grupo com autismo.........................................................................................................................77
Figura 20: Amplitude do componente P2 em relação ao tipo de acerto........................................... 79
Figura 21: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de acerto
no grupo com autismo.........................................................................................................................81
Figura 22: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de resposta
no grupo com autismo........................................................................................................................ 83
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Amostra de 6 itens-críticos pertencentes a folha de aplicação
para registro de palavras...............................................................................................47
Tabela 2: Listas finais geradas para programação no E-prime ..................................................48
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO........................................................................................................................ 9
2. REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................................... 15
2.1.Falsa Memória..................................................................................................................... 15
2.2. Classificação das falsas memórias...................................................................................... 18
2.3. Modelos teóricos e falsa memória....................................................................................... 19
2.3.1. Modelo Construtivista................................................................................................. 19
2.3.2 . Teoria do Monitoramento da Fonte...............................................................................22
2.3.3. Teoria do Traço Difuso...................................................................................................23
2.3.4 . Teoria da Ativação-monitoramento...............................................................................24
2.4 .Tipos de testes usados na avaliação de falsa memória...................................................... 26
2.5. Falsa memória e idade........................................................................................................ 27
2.6. Bases Neurais das falsas memórias.................................................................................. 30
2.7. Eletroencefalografia e Potenciais Relacionados os Evento............................................... 32
2.8. Potencial Relacionado ao Evento, falsa memória e autismo................................................34
3. OBJETIVOS................................................................................................................................ 40
3.1. Objetivo Geral................................................................................................................. 40
3.2. Objetivo Específico........................................................................................................... 40
4. JUSTIFICATIVA........................................................................................................................ 42
5. MÉTODO.................................................................................................................................... 42
5.1. Participantes...................................................................................................................... 42
5.2. Instrumentos..................................................................................................................... 43
5.2.1. Para caracterização da amostra................................................................................. 42
5.2.2. Teste de memorização e reconhecimento................................................................ 46
5.3. Equipamento...................................................................................................................... 51
6. PROCEDIMENTOS................................................................................................................... 51
6.1. Aspectos éticos................................................................................................................... 54
7. Análise Estatística dos Resultados............................................................................................... 54
8. RESULTADOS........................................................................................................................... 55
8.1 Resultados comportamentais do grupo com desenvolvimento típico................................ 55
8.2. Componentes eletrofisiológicos do grupo com desenvolvimento típico.......................... 57
8.2.1. Componente P1………………………………………………………………...... 57
8.2.2. Componente P2………………………………………………………………...... 63
8.2.3. Componente old/new……….................................................................................. 66
8.3. Resultados comportamentais do grupo com autismo.........................................................71
8.4. Componentes eletrofisiológicos do grupo com autismo.................................................. 73
8.4.1. Componente P1...................................................................................................... 73
8.4.2. Componente P2…………………………………………………………………... 78
8.4.3. Componente old/new………………………………………………………………80
9. DISCUSSÃO…………………………………………………………………………………... 84
10. CONCLUSÃO………………………………………………………………………………... 91
11. REFERÊNCIAS……………………………………………………………………………... 92
12. APÊNDICE………………………………………………………………………………...... 103
A. Carta de Informação a Instituição........................................................................................ 103
B. Carta de Informação ao sujeito de pesquisa......................................................................... 104
12. ANEXOS.................................................................................................................................. 106
A. Carta de aprovação do Comitê de Ética............................................................................... 106
9
1. INTRODUÇÃO
O estudo das falsas memórias é de suma importância para diferentes áreas como;
jurídica, psicoterápica e também para o entendimento do funcionamento da memória.
No decorrer de mais de duas décadas de pesquisas, um número reduzido de estudos
dedicou-se a investigar o fenômeno das falsas memórias em patologias, como por
exemplo, no autismo.
Um dos poucos experimentos e talvez por isso o mais conhecido procurou
investigar as falsas memórias em um grupo com autismo e verificou que a indução de
falsa memória por associação semântica é reduzida, ficando evidente um padrão de
registro mais literal da informação (BEVERSDORF e colaboradores, 2000). Beversdorf
e cols. (2000), observaram esse padrão investigando o desempenho de adultos com
diagnóstico dentro do espectro do autismo em comparação a de um grupo de adultos
sem autismo em tarefa adaptada de DRM. Os autores verificaram melhor discriminação
de itens verdadeiros em comparação a itens falsos no grupo com Autismo. Se por um
lado não formar registros de informações não existentes parece uma vantagem, por
outro lado, consolidar informações apenas em sentido mais literal sinaliza possível
alteração na integração de elementos distintos por meio de suas associações semânticas,
ou seja, uma alteração na configuração e desenvolvimento de redes semânticas de
informação. Em certo sentido, isso culmina em comprometimento na formação de
conceitos e na compreensão dos elementos abstratos da linguagem.
Pouco há sobre os mecanismos neurais subjacentes a esse processamento
diferenciado. É interessante notar que esse processamento com características menos
semânticas e conceituais descrito nessas patologias, é também observado em alguns
pacientes após traumatismo cranioencefálico frontal ou com o desenvolvimento de
demências fronto-temporais em hemisfério esquerdo, ou mesmo na Doença de
Alzheimer. Plancher, Guyard, Nicolas e Piolino (2009) investigaram os efeitos do teste
DRM em adultos jovens, idosos, e idosos com Doença de Alzheimer. Os autores
observaram uma redução tanto para recordação de itens corretos (presente na lista da
fase de memorização) quanto para recordação de itens semanticamente relacionados
(mas não presentes na lista de memorização) para o grupo de pacientes com Doença de
Alzheimer em comparação aos outros grupos.
10
Além disso, os autores verificaram que medidas de funções executivas e
memória episódica e semântica predizem o desempenho destes pacientes na tarefa DRM
sugerindo que a criação de falsa memória depende de diferentes funções cognitivas.
Mais intrigante é verificar que em pessoas diagnosticadas como Síndrome de
Savant, além de memória mais literal e menos semântica, pode-se observar habilidades
especiais definidas como ilhas de genialidade normalmente específicas para música,
cálculos de data, aritmética e desenho; entretanto, a despeito dessas habilidades, boa
parte dessas pessoas tem déficits intelectuais e são classificadas dentro do espectro do
Autismo, uma vez que falhas na interação social e na linguagem também podem ser
observadas.
Outros estudos também passaram a ser conduzidos na investigação dos efeitos
de determinadas patologias sobre a formação e construção da memória. Nesse sentido,
quando se observa algumas patologias como o Autismo e a Síndrome de Savant, tal
fenômeno se diferencia.
Recentemente, novas tentativas de explicação têm surgido com o uso de
estimulação cerebral não-invasiva aplicada em seres humanos. Snyder e colaboradores
(2003), utilizando estimulação magnética transcraniana (EMT) induziu a chamada lesão
virtual temporária em estrutura fronto-temporal esquerda em voluntários saudáveis e
observou como resultado uma alteração no padrão de desenhos pré e pós estimulação. O
autor discutiu tais observações como possíveis indicativos de que todos seriam a
princípio capazes de manifestar habilidades como as do Savant, entretanto, estruturas
cerebrais específicas controlavam a manifestação dessas habilidades no sentido de
privilegiar outras funções. Mais especificamente, privilegiar a formação de conceitos e
categorias em detrimento de processar informações mais específicas, detalhadas e
literais.
Com base nessas observações, Gallate e colaboradores (2009) com o uso de
EMT resolveram investigar os efeitos em tarefa de DRM. Os autores com EMT
reduziram o número de erros por falsa memória (associação semântica) após
interromperem temporariamente (lesão virtual temporária) a atividade do lobo temporal
anterior esquerdo de voluntários sem nenhum distúrbio neurológico ou psiquiátrico em
tarefa DRM. Desta forma, o comprometimento induzido pela EMT em estruturas
fronto-temporais
de
hemisfério
semanticamente integrado.
esquerdo
comprometeu
o
processamento
11
Outra técnica de modulação cerebral não-invasiva também vem sendo
investigada, trata-se da Estimulação transcraniana por corrente contínua (ETCC). Com
base em estudos recentes (HUMMEL e colaboradores, 2005; BOGGIO e colaboradores,
2006), esta técnica tem sido proposta como ferramenta de estudo em reabilitação
neuropsicológica e tem se mostrado como uma interessante ferramenta de modulação
cerebral e, por conseguinte, mais um instrumento a ser utilizado em pesquisas em
Neurociência Cognitiva.
A ETCC consiste em um aparelho que emite uma corrente elétrica de baixa
intensidade (usualmente aplica-se 1 a 2mA) por meio de eletrodos (ânodo e cátodo)
posicionados superficialmente sobre o couro cabeludo. Os efeitos observados dependem
do local de aplicação, assim como da polaridade empregada. A aplicação em humanos
da ETCC de baixa intensidade no córtex é capaz de induzir mudanças na excitabilidade
cortical sendo a direção dessa modulação relacionada à polaridade do estímulo:
estimulação anódica aumenta a excitabilidade e catódica diminui. Esta mudança na
excitabilidade pode ser explicada em função da estimulação catódica reduzir o disparo
espontâneo de neurônios corticais, devido a uma hiperpolarização do corpo celular,
enquanto que a estimulação anódica tem um efeito inverso. Tal efeito parece perdurar
por mais tempo que do período do estímulo, dependendo do tempo de aplicação.
Com base nos estudos sobre falsa memória, a relação desta com patologias como
autismo e a possibilidade de modulação cognitiva com técnicas como a ETCC, dei
início a uma seqüência consecutiva de 3 projetos com bolsa de Iniciação Científica (IC)
PIBIC/CNPq (2007/2008, 2008/2009 e 2009/2010).
No primeiro projeto investiguei os efeitos neuromodulatórios da ETCC aplicado
em córtex temporal de voluntários saudáveis durante execução do teste DRM. Como
fruto destes trabalhos, foi inicialmente publicado o artigo científico intitulado
“Temporal Lobe Cortical Electrical Stimulation during the Encoding and Retrieval
Phase Reduces False Memories” na revista PLoS One.
Neste estudo, verificou-se que a modulação bilateral do lobo temporal interfere
na tarefa de DRM promovendo menor número de erros por associação semântica. Ou
seja, melhora no desempenho literal do teste de memória e redução da emissão de
resposta do tipo falsa memória. Além do teste de falsa memória, foram realizados teste
de percepção de detalhes e de localização de erros em figuras e sentenças. Após a
estimulação, os participantes que receberam a ETCC bilateral localizaram de forma
mais eficiente os detalhes e erros tanto em figuras quanto em sentença. Esses achados
12
somados sinalizam o papel das estruturas estimuladas em habilidades que são
tipicamente diferentes entre voluntários com e sem diagnóstico de autismo: memória
tipicamente literal e percepção de detalhes mais eficaz.
Os achados encontrados levantaram perguntas sobre os padrões ou estratégias
envolvidos na resolução das tarefas que tiveram seus resultados modulados pela ETCC.
Isso fez com que no PIBIC 2008/2009 todos os testes foram conduzidos com o uso de
equipamento de registro e análise de movimentos oculares (Tobii) buscando uma
compreensão maior sobre a forma como a ETCC interferiu nos processos perceptuais.
Com relação ao teste de memória por associação semântica, verificou-se redução
de erros durante a ETCC ativa em comparação com a placebo. Assim como em Boggio
e colaboradores (2006), tais resultados sinalizam o papel central do córtex temporal no
processamento semântico de informações. Os efeitos da ETCC vão à direção de um
processamento mais literal das informações, assim como observado no autismo. Além
disso, este estudo traz a informação adicional sobre dilatação de pupila. É interessante
notar que os erros por associação semântica e sem associação semântica podem ser
diferenciados pelo diâmetro da pupila, i.e., apesar dos voluntários errarem nos dois
casos, a dilatação da pupila é maior nos casos em que o erro foi por associação
semântica. Aumento do diâmetro pupilar está relacionado com processos cognitivos
como atenção e memória, assim como aumento na demanda cognitiva (SIEGLE,
ICHIKAWA e STEINHAUER, 2008). Neste caso, podemos levantar como hipótese que
o aumento do diâmetro pupilar nos erros por associação semântica refletem, apesar da
resposta explícita do sujeito, um conflito cognitivo no processamento das informações,
ou seja, no processo de decisão sobre a palavra existir ou não lista.
Já para o teste de percepção de detalhes, foi verificada melhora no desempenho
durante ETCC ativa em comparação com a placebo. É interessante notar que tal
fenômeno pode ser observado em pacientes com Autismo. O padrão de rastreio visual e
localização de detalhes é mais eficiente nesses casos em comparação com grupos
controle; por outro lado, a compreensão e reconhecimento dos aspectos mais globais do
que se está rastreando é comprometido (O’RIORDAN, 2001). Dessa forma, podemos
considerar que a ETCC em lobo temporal interferiu em processos perceptuais de busca
visual. Tal hipótese se soma ao tempo de fixação observado durante a busca; os
voluntários estimulados com ETCC ativa fixaram menos nas regiões que continham os
detalhes a serem identificados quando comparados com o grupo placebo. Assim, o
grupo que mais tempo se fixou foi o que menos localizou os estímulos-alvo que no caso
13
foi o grupo placebo. Esse fenômeno também é observado em grupos com autismo; além
de melhor desempenho na detecção, a velocidade de execução é maior. Uma questão
que fica em aberto com relação a esses achados diz respeito ao grau de compreensão
que os sujeitos estimulados apresentaram sobre o conteúdo rastreado. Ou seja, assim
como nos autistas, talvez o melhor desempenho na detecção, em conjunto com uma
maior velocidade de execução, esteja acompanhado de uma redução na compreensão do
todo.
Por fim, no teste de detecção de erros em figura, os mesmos efeitos foram
observados, i.e. o grupo que recebeu ETCC ativa localizou os erros das figuras melhor
do que o grupo placebo.
Esses dois estudos preliminares (2007/2008 e 2008/2009) forneceram
informações sobre: a) interferência em teste de DRM; b) interferência em testes de
percepção de erros e detalhes; c) estratégias de rastreio visual envolvidas nestas tarefas
e d) modo como essas estratégias são moduladas pela estimulação cerebral. Esses dois
estudos, portanto, trazem informações sobre os efeitos neuromodulatórios em testes que
envolvem processamento de informação global versus detalhada, literal versus
semântica.
No entanto, estes estudos trazem resultados apenas comportamentais (por
exemplo, desempenho na tarefa de DRM) e informações gerais sobre estruturas neurais
envolvidas (o córtex temporal foi à estrutura estimulada). Assim, pouco se sabe sobre os
mecanismos cerebrais subjacentes a estas tarefas. Além disso, será que esse padrão de
registro mais literal da informação é replicado em crianças e adolescentes? Será que
crianças e adolescentes com alto funcionamento apresentam esse desempenho ou pode
comportamentalmente assemelhar-se ao grupo com desenvolvimento típico?
Devido a essas e outras questões que ainda necessitam ser respondidas, a idéia
da continuação do estudo desse tema prosseguiu e com isso surgiu a necessidade da
criação de um teste de palavras (seguindo modelo do paradigma DRM) adequadas para
participantes de faixa etária menor. Dessa forma, o primeiro semestre do mestrado foi
dedicado à construção de um instrumento baseado na tarefa DRM para uso sincronizado
com EEG para, com isso, compreender os potenciais evocados relacionados a esta
tarefa. A adaptação da tarefa DRM seguiu procedimentos semelhantes aos apresentados
por Geng e colaboradores (2007) para mensuração concomitante com EEG. Além disso,
outro ponto importante é que a discussão sobre mecanismos envolvidos na falsa
14
memória e autismo foram feitos apenas de forma especulativa, pois se basearam apenas
nos efeitos neuromodulatórios da ETCC em voluntários saudáveis.
Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo geral investigar as relações
entre o desempenho comportamental e potenciais evocados em tarefa de memorização e
reconhecimento (baseada no paradigma DRM) comparando crianças e adolescentes que
se enquadrem nos Transtornos Globais do Desenvolvimento com o grupo controle de
desenvolvimento típico. Com isso, pretende-se verificar diferenças e semelhanças tanto
no aspecto comportamental quanto nos dados eletrofisiológicos entre os grupos de
pacientes e um grupo controle de desenvolvimento típico, para que dessa forma
possamos replicar ou oferecer novas contribuições nos escassos estudos realizados.
15
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 - Falsa Memória
“Remembering is not the re-excitation of innumerable
fixed, lifeless and fragmentary traces. It is an imaginative
reconstruction or construction, built out of the relation of
our attitude towards a whole active mass of organized past
reactions or experience, and to a little outstanding detail
which commonly appears in image or in language form. It
is thus hardly ever really exact, even in the most
rudimentary cases of rote recapitulation, and it is not at all
important that should be so”. (BARTLETT, 1932)
Os primeiros estudos demonstrando que a memória poderia ser falsificável
foram realizados em crianças pelo pesquisador Binet em 1900 na França e
posteriormente por Stern em 1910 na Alemanha (ROEDIGER, 1996; ROEDIGER e
McDERMOTT, 1995, PERGHER e STEIN, 2001). Já os estudos sobre distorções da
memória envolvendo adultos tiveram início com Bartlett em 1932. Em um de seus
experimentos mais conhecidos, Bartlett apresentou uma lenda folclórica indígena, “A
Guerra dos Fantasmas” (em inglês “The war of the Ghosts”) a um grupo de ingleses e
posteriormente pediu que lhe contassem a estória. Bartlett observou que a mesma era
reconstruída com base nas experiências pessoais e culturais, de forma individualizada,
ao invés de ser contada de forma literal. Com base nesses resultados, Bartlett descreve o
recordar como um processo construtivo, baseado em estratégias cognitivas e esquemas
previamente conhecidos geral prévio dos participantes (PERGHER e STEIN, 2001).
Ampliando a reflexão de Bartlett, Sternberg (2008), relata que a memória
também pode ser influenciada por atitudes, informações adquiridas posteriormente,
emoções, humores, estados de consciência e esquemas baseados em conhecimentos do
passado, caracterizando-se assim como construtiva.
Basicamente o processamento da memória pode ser dividido em três operações:
codificação, armazenamento e recuperação (BADDELEY, 1998; 2000). A codificação
refere-se à transformação de uma informação sensorial em algum tipo de representação
que posteriormente irá ser colocada na memória. Já o armazenamento é como o
individuo retém a informação codificada na memória. Por fim, a recuperação é o acesso
(output) a informação que foi armazenada. (STERNBERG, 2008).
Apesar de armazenadas, nem todas as recordações de uma experiência são
lembradas com a mesma facilidade. Isso ocorre, pois nossas emoções, humores, estados
16
de consciência e outras características de nosso contexto interno afetam de forma
evidente a recuperação da memória (STERNBERG, 2008).
Após os experimentos de Bartlett, décadas mais tarde, Deese (1959), apresenta
seu experimento, no qual os participantes estudavam uma lista de palavras relacionadas
como, por exemplo, médico, enfermeira, remédio, etc., onde uma palavra “tema”, ou
seja, que estava diretamente relacionada às demais palavras, por exemplo, hospital, não
era apresentada. Deese observou que os participantes evocavam essa palavra
semanticamente relacionada, mesmo esta não tendo sido estudada. Com este
experimento, o pesquisador mostrou que esse tipo de erro denominado intrusão, podia
ocorrer em condições previsíveis. Os achados de Deese não ganharam muita atenção na
época, porém em 1995, Roediger e McDermott readaptaram o modelo e denominaram
esse fenômeno de “falsa memória.” (ROEDIGER e MCDERMOTT, 1995).
O procedimento de Roediger e McDermott consistiu na apresentação de listas de
palavras (geralmente oito listas compostas por doze a quinze palavras), sendo que cada
palavra estava associada a um item-crítico, ou seja, um tema da lista apresentada. No
final da apresentação das listas, ao ser realizada uma tarefa de evocação livre, é comum
os participantes falarem uma palavra que não havia sido apresentada, mas que tenha
associação semântica ao tema da lista (ROEDIGER e MCDERMOTT, 1995). Por
exemplo, o experimentador apresenta uma lista de palavras semanticamente
relacionadas como: hospital, enfermeira, injeção, remédio, etc. Posteriormente em um
teste de reconhecimento, os participantes devem julgar quais palavras haviam sido
vistas anteriormente. Esse teste era composto por palavras-alvo; sendo elas vistas
anteriormente, como por exemplo, hospital; as palavras que não haviam sido vistas, mas
que possuem forte associação semântica, como por exemplo, médico. Esse tipo de
palavra foi denominado de item crítico ou distrator crítico, pelas palavras apresentarem
alto grau de associação semântica; palavras distratoras que não foram apresentadas
previamente, mas também são associadas; e por fim, as palavras denominadas de
distratores não relacionados, que por sua vez, não haviam sido apresentadas e não
possuem nenhuma relação semântica com as demais, por exemplo, trator,
Como efeito do paradigma DRM é constatável uma taxa de reconhecimento
falso de itens semanticamente relacionados ao item-crítico superior a 80%
(RODRIGUES e ALBUQUERQUE, 2007).
17
Mas afinal, o que são as falsas memórias? As chamadas falsas memórias foram
classificadas pelos autores como distorções da memória verdadeira, uma vez que se
remete ao fato de podermos lembrar eventos que não ocorreram, ou recordar situações e
fatos de uma forma diferente de como tenham ocorrido na realidade. (ROEDIGER e
MCDERMOTT, 1995).
Stein e Neufeld (2001) ressaltam que as falsas memórias não são mentiras ou
simulações, mas constituem-se enquanto fenômeno de base mnemônica.
Payne e
colaboradores (1996), explica a distinção entre a falsa memória e a mentira. Segundo
essa explicação, quando uma pessoa mente está consciente de que o fato narrado por ela
não ocorreu, mas por motivo particular sustenta a estória. O mesmo não ocorre nas
falsas memórias, uma vez que a pessoa realmente acredita que vivenciou o fato em
questão.
De acordo com Mojardín (2008), com base nas investigações experimentais
realizadas, pode-se dizer que as falsas memórias não são fenomenologicamente
diferentes das memórias verdadeiras, uma vez que apresentam muitos detalhes
específicos que as fazem parecer reais, dessa forma, confundindo-se com as memórias
verdadeiras..
Em relação à estabilidade das falsas memórias, estudos mostram que as mesmas
são sustentadas através do tempo por períodos semelhantes ou até maiores do que as
memórias verdadeiras. Em um estudo realizado com crianças, Brainerd, Reyna e
Brandse (1995), compararam a persistência das falsas memórias em relação às
memórias verdadeiras. Crianças foram imediatamente testadas após fase de estudo e
uma semana depois. Os resultados indicaram que a persistência das memórias
verdadeiras foi equiparada as das falsas memórias.
Outro experimento que exemplifica a manutenção das falsas memórias no
decorrer do tempo é o de Brainerd e Mojardín (1998). Os autores realizaram estudos
com crianças e adultos, para avaliar a permanência da falsa memória com o passar do
tempo. Os participantes foram avaliados no período de 2 e 4 semanas. Os resultados
mostraram que tanto em adultos como em crianças (6, 8 e 11 anos), no período de 2
semanas as falsas memórias perduraram tanto quanto as memórias verdadeiras..
Entretanto, no término de quatro semanas, a persistência das falsas memórias foi maior
do que das memórias verdadeiras.
Assim, vale ressaltar que “as memórias das palavras críticas são menos
susceptíveis à passagem do tempo e por isso se diz que o esquecimento dessas palavras
18
críticas é menor do que o esquecimento das palavras que na realidade foram
apresentadas” (CARNEIRO e ALBUQUERQUE, 2010, p.15).
O interesse crescente no fenômeno das falsas memórias, bem como o número de
estudos que começaram a ser aprofundados, se faz necessário, uma vez que esse tema
tem derivações de aplicação clínica e prática.
Por exemplo, no caso do testemunho ocular, o mesmo pode ser considerado
como parte de aplicação prática da teoria das falsas memórias. A validade dos
testemunhos oculares coloca em questão as evidências da característica construtiva da
memória. Estratégias que atualmente são utilizadas podem mostrar-se falhas em um
depoimento. À medida que o indivíduo é solicitado a lembrar do que ocorreu, o mesmo
é feito após a ocorrência do evento, fazendo com que uma codificação imagética seja
transposta para uma realidade verbal/declarativa. Dessa forma, ocorre uma perda
substancial de informação, tanto em relação à quantidade como a precisão.
(ALBUQUERQUE e SANTOS 1999).
Há algumas variáveis que interferem na codificação e na recuperação da
informação, como por exemplo, o nível de ansiedade. A ansiedade presente em uma
situação de testemunho pode fazer com que o processamento da informação seja
ambíguo, sendo que pode facilitar a codificação de alguns aspectos ou fazer com que os
mesmos nunca sejam codificados. (ALBUQUERQUE e SANTOS, 1999; STEIN,
2010).
Portanto, perguntas dirigidas, solicitação de reconhecimento facial de criminosos
pelas vítimas, descrições de como os eventos ocorreram, podem ser estratégias errôneas,
uma vez que a memória dos acontecimentos que está sendo verbalizada não se
configura como uma reprodução do que foi presenciado, mas uma reconstrução que foi
induzida. (ALBUQUERQUE e SANTOS, 1999).
2.2 Classificações das falsas memórias
As falsas memórias podem ser classificadas de duas formas: espontâneas e
sugeridas (implantação de falsa informação). O que as diferencia é a forma como elas se
originam (BRAINERD e REYNA, 1998; STEIN e cols., 2010).
As falsas memórias sugeridas ocorrem devido a uma distorção exógena, ou seja,
proveniente de uma informação falsa, acidental ou deliberada que advêm do ambiente
externo ao sujeito e é compatível com a experiência previamente vivenciada. Essa
19
informação falsa não faz parte da experiência vivenciada pela pessoa, mas de algum
modo é compatível com a mesma (STEIN e NEUFALD, 2001).
A outra forma de falsa memória são as autossugeridas, oriundas de uma
distorção endógena, ou seja, interna ao sujeito. Estas ocorrem quando a lembrança é
alterada internamente, fruto do próprio funcionamento da memória. Com isso, uma
inferência ou interpretação pode passar a ser lembrada como parte da informação
original (PERGHER e STEIN, 2001).
De acordo com Mojardín (2008), as falsas memórias espontâneas são mais
difíceis de serem descobertas, uma vez que nem sempre as evidências físicas são
possíveis de identificar.
2.3 Modelos teóricos e Falsa memória
Alguns modelos teóricos e paradigmas surgiram à medida que os estudos sobre
falsas memórias ganharam atenção no começo da década de 70. Os pesquisadores
buscavam entender o que produziam as falsas memórias, bem como compreender o
efeito e investigar as condições em que estas ocorriam.
No presente capítulo serão abordadas quatro teorias que buscam explicar como
ocorre o fenômeno das falsas memórias; o modelo construtivista, a teoria do
monitoramento da fonte (source monitoring), a teoria do traço difuso (fuzzy-trace
theory), e teoria da ativação-monitoramento.
Dentre elas, as consideradas mais promissoras e que tem sido utilizadas nos
estudos, são aquelas que consideram a ocorrência de processamentos oponentes e
paralelos, como por exemplo, a teoria do traço difuso e a teoria da ativaçãomonitoramento.
2.3.1 Modelo Construtivista
De acordo com Bartlett (1932), a recordação é um processo construtivo, guiado
por esquemas que as pessoas utilizam para interpretar as situações vivenciadas. Foi essa
idéia de Bartlett que influenciou os pesquisadores subsequentes que adotaram o modelo
construtivista.
Segundo este modelo, a memória é um sistema unitário que se constrói a partir
das experiências que vão sendo vivenciadas no decorrer da vida. Dentro do modelo
construtivista podemos ressaltar pesquisas de interferência e de esquemas. Ambas serão
explicadas adiante. A teoria do esquemas, caracteriza o esquema como estruturas
20
semânticas do indivíduo, as quais armazenam experiência e conceitos de situações já
vivenciadas. De acordo com Alba e Hasher (1983), o esquema existente é que vai
determinar a codificação e o armazenamento da informação. O esquema irá filtrar e
selecionar a informação nova, com o objetivo de torná-la consistente com as
expectativas e conhecimentos já adquiridos. Por exemplo, em uma prova de memória o
esquema que existe sobre determinada informação tende a se destacar. No caso de uma
tarefa como o paradigma DRM, o participante ao estudar a palavra escola, armazena
seus aspectos particulares (professor, aluno, caderno) em um código unitário, definido
por um esquema de conhecimento (por exemplo, estudar).
Assim, a informação recebida é posteriormente armazenada de acordo com
esquemas conceituais de conhecimento prévio (informações que já estão construídas
acerca de algo). Desse modo, nas provas de memória a recuperação da informação é
determinada pela familiaridade semântica que existe entre a informação e os esquemas
já existentes (MOJARDÍN, 2008). Essa teoria de esquema busca explicar o fenômeno
das falsas memórias a partir de princípios como; seleção, abstração, interpretação e
integração.
O primeiro princípio é o de seleção, que está diretamente envolvido com os
processos atencionais. Assim, quando nos deparamos diante de alguma situação/evento,
apenas algumas partes dessa situação/evento serão codificadas e armazenadas em nossa
memória, de modo que o item que for mais similar com o tema central do esquema será
mais focado e consequentemente melhor armazenado em detrimento à outros aspectos
(STENBERG, 2008).
O próximo princípio, a abstração, se refere ao grau de semelhança do item
vivenciado ou estudado (no caso dos testes de memória, por exemplo) com as
informações armazenadas. Assim, quanto mais parecido o item estudado com o
protótipo mental (o que já temos previamente armazenado sobre aquele item) mais ele
sofrerá o processo de abstração, que consiste em detalhes as representações mentais em
aspectos distintos. Em contrapartida, o princípio da interpretação enriquece o item a ser
lembrado, uma vez que acrescenta detalhes de esquemas prévios. Por último, o princípio
da integração consiste no processo de assimilação de informação nova com o esquema
já consolidado. Segundo o autor, essa idéia representa melhor os conceitos da teoria
construtivista, uma vez que compreende que a memória verdadeira e a falsa memória
são armazenadas na mesma estrutura (STENBERG, 2008).
21
A teoria dos esquemas tem sua base para explicar estudos sobre falsas memórias
implantadas, como os realizados por Loftus e Palmer (1974). O estudo Loftus e Palmer
(1974) mostra o quanto à forma de questionamento sobre determinada situação,
influencia diretamente na resposta que é dada. Os autores chamaram esse fato de
paradigma da falsa informação ou sugestão (em inglês “misinformation effect
paradigm”). Neste experimento, após assistirem um vídeo de um acidente
automobilístico realizaram uma descrição detalhe sobre o mesmo. Posteriormente era
aplicado um questionário que continha uma pergunta sobre a estimativa da velocidade
que os carros estavam quando se bateram, cujos verbos utilizados diferiam quanto ao
grau de violência. Foi observado que a intensidade do verbo utilizado na pergunta sobre
a estimativa da velocidade que os carros estavam, afetou diretamente a resposta. A
pergunta “A que velocidade os carros se esmagaram?” eliciou uma estimativa de
velocidade maior que a pergunta feita com os verbos, “bateram”, “tocaram”,
“colidiram.” Além disso, testados novamente uma semana depois, os participantes que
foram interrogados com o verbo de maior intensidade responderam “sim” quando a
pergunta “Você viu algum vidro quebrado?” foi feita, mesmo que no vídeo não havia
essa cena.
Outro estudo considerado clássico, realizado por Loftus e colaboradores em
1979 colocou em evidência a susceptibilidade das pessoas nas descrições de testemunho
ocular. O experimento consistiu na introdução do paradigma de falsa informação. Neste
experimento, uma série de 30 slides foi mostrada, nos quais um carro vermelho
trafegava por uma rua, parava em um sinal vermelho, virava à direita e parecia atropelar
uma pessoa que atravessava a rua na faixa de pedestre. Posteriormente, os participantes
tinham que responder a 20 perguntas, sendo que para metade dos participantes algumas
perguntas tinham informação incoerente com o que realmente havia sido apresentado
anteriormente. Por exemplo, foi perguntado para um grupo se algum carro havia
passado pelo carro vermelho enquanto ele parava no sinal de “pare”, enquanto que para
o outro grupo a palavra “pare” foi substituída por “preferencial.” Na fase de teste
quando os participantes tinham que recordar a cena original, a maioria que recebeu a
sugestão da informação falsa, respondeu de acordo com a indução falsa, mesmo sendo
explicado que recordassem a cena original.
Pesquisas subsequentes utilizando esse paradigma deixaram evidente que,
informações apresentadas depois do evento original podem influenciar a recordação do
próprio evento.
22
O primeiro estudo que utilizou esse procedimento com um grupo de 187
crianças entre 3 e 12 anos de idade foi realizado por Ceci e colabores em 1987. A
primeira parte do experimento consistiu na leitura de uma história acompanha por 8
ilustrações. Posteriormente (no dia seguinte) para metade dos participantes foram
introduzidas informações falas a historia narrada. Dois dias após as crianças tinham que
selecionar entre quatro imagens, duas que acreditavam terem sido apresentadas
acompanhando a história narrada. Os resultados mostraram diferenças significativas no
desempenho das crianças mais novas e mais velhas, apenas para aqueles que receberam
a informação falsa sugestionada, sendo que crianças em idade pré-escolar escolherem
frequentemente as imagens que tinham sido falsamente descritas.
Portanto, para os construtivistas as falsas memórias surgem porque os eventos
vividos são influenciados por nossas inferências e outras elaborações (esquemas, por
exemplo), que vão além da experiência, integrando-se ao evento vivenciado.
2.3.2 Teoria do Monitoramento da Fonte
Segundo Johnson, Hashtroudi e Lindsay (1993), a fonte envolve o conjunto de
processos responsáveis pela atribuição de informação sobre a origem das memórias,
conhecimentos e crenças, ou seja, discriminar o que é experiência real do que é
imaginada. Para os pesquisadores, a memória verdadeira para o evento original, assim
como a memória para a informação posterior, permanece intacta, em sistemas separados
na memória (STEIN e NEUFALD, 2001). A dificuldade em diferenciar se a fonte da
informação é proveniente do meio externo (informações perceptuais ou contextuais do
evento vivenciado) ou do meio interno (informações sobre operações cognitivas,
experiências anteriores) (JOHNSON, HASHTROUDI e LINDSAY, 1993) dão origem a
uma confusão ou erro de julgamento. Nesse sentido, as falsas memórias provêm da
confusão ou erro de julgamento de atribuição da fonte ou origem da memória. Assim,
quando os processos de monitorização não falham, os erros são evitados.
Esses processos podem ser sistemáticos, sendo estes lentos e conscientes e
heurísticos, configurados por serem rápidos e automáticos, sem consciência da ação. De
acordo com Johnson (1995 apud ROEDIGER e cols., 1996), o processo heurístico é
mais propenso a erros por basear-se em aspectos familiares. Em contrapartida, o
processo sistemático avalia mais aspectos da informação julgada levando a uma decisão
mais acurada do fato vivenciado.
23
Segundo essa teoria, as memórias falsas produzidas a partir do paradigma DRM,
são originadas da “confusão quanto às características dos associados gerados
externamente (por associação as palavras apresentadas) com as características dos itenscríticos gerados internamente (por processamento das palavras) em virtude do elevado
grau
de
associação
dos
primeiros
com
os
segundos.”
(RODRIGUES
e
ALBUQUERQUE, 2007, p.116).
A teoria também propõe que as falsas memórias podem diminuir, caso o número
de pistas semânticas seja maior (no caso do paradigma DRM, mais palavras associadas
com a palavra alvo). Pesquisadores da área, como Brainerd e Reyna (2002), discordam
dessa afirmação, bem como acreditam que muitos erros de memórias ocorrem devido à
familiaridade e não a dificuldade de discriminação da fonte.
Com isso, outras teorias foram sendo desenvolvidas na tentativa de abranger
melhor o entendimento sobre o tema.
2.3.3 Teoria do Traço Difuso
Uma das teorias que mais têm sido utilizadas para explicar a origem das falsas
memórias é a Teoria do Traço Difuso, (do inglês Fuzzy Trace Theory).
Essa teoria baseia-se no conceito de consistência temática, onde o participante
codifica e aprende o tema central da lista da lista, criando um sistema mnêmico para ele.
(GALLO, 2006).
De acordo com essa teoria, a memória não é um sistema unitário, mas sim
flexível e dinâmico, formado por dois sistemas independentes: a memória literal
(verbatim), e a memória de essência (gist). Enquanto a memória literal é responsável
pelo armazenamento da estrutura e detalhes específicos da experiência, a memória de
essência é uma memória mais ampla que compreende os significados da experiência
como um todo, o contexto geral da informação armazenada (BRAINERD, STEIN e
REYNA, 1998).
Dessa forma, tanto os traços literais quantos os traços de essência são
codificados e recuperados separadamente. Devido a essa dissociação, as falsas
memórias ocorrem quando as memórias de essência são recuperadas no lugar das
memórias literais. Por exemplo, durante um teste de reconhecimento esses traços de
essência que captam o significado geral das palavras são responsáveis pela sensação de
familiaridade do item-crítico (o qual não era conhecido), aumentando assim a
24
probabilidade do item-crítico ser reconhecido como já estudado. (BRAINERD e
REYNA, 2002).
Semelhante a teoria da ativação-monitoramento, a teoria do traço-difuso postula
na existência de dois processos que atuam em direções opostas, sendo o aparecimento
de falsas memórias atribuído pela recuperação do traço de essência (como mencionado
anteriormente), enquanto que a recuperação do traço de específico reduz esse efeito.
Em um teste de memória composto por listas de palavras com associação
semântica, como no caso do paradigma DRM, o reconhecimento correto de itens-alvo,
pode ocorrer devido a traços de memória literal como de traços de essência, já o
reconhecimento de itens-críticos (também chamados de distratores críticos) poderão
estar baseados em memórias de essência, uma vez que a recuperação de traços literais
leva a correta rejeição dos mesmos (PERGHER e STEIN, 2001).
Os autores acrescentam que a durabilidade entre os dois tipos de memória
também é variável, sendo a memória literal torna-se mais difícil de ser acessada, em
contrapartida nota-se que a memória de essência é mais persistente ao longo do tempo.
(BRAINERD e REYNA, 2004).
2.3.4 Teoria da Ativação-monitoramento
Essa teoria originou-se a partir do paradigma DRM e a maioria das pesquisas
realizadas para consolidá-la utilizou o paradigma DRM para explicar a ocorrência das
falsas memórias. Dessa forma, essa teoria é utilizada na explicação da maior parte das
tarefas que envolvem listas de associados. A teoria propõe que durante a tarefa de
memória, na fase de codificação das listas, ocorre uma ativação associativa na rede
semântica, sendo que essa ativação se propagada automaticamente no sistema léxicosemântico. (ROEDIGER, BALOTA e WATSON, 2001; ROEDIGER, WATSON,
MCDERMOTT e GALLO, 2001). Assim, os níveis de ativação originados a partir do
item-crítico podem levar o participante a ativar outro item que está associado
semanticamente em decorrência de um processo baseado na familiaridade que ocorre
em uma fase inicial do processamento, rápido e pouco preciso o que leva a produção de
falsos alarmes.(ROEDIGER e MCDERMOTT e GALLO, 2001). Por exemplo, quando
se ativa um conceito, por exemplo, a palavra fome, propaga-se uma ativação pela rede
semântica, ativando outros conceitos associados semanticamente, como por exemplo, à
palavra comida.
25
O nível de ativação das palavras críticas é influenciado diretamente da força
associativa existente entre as palavras da lista e os itens críticos. Assim, quanto maior a
força associativa entre as palavras estudadas e a palavra crítica, maior será a
probabilidade de que se recorde dessa palavra em uma posterior prova de memória
(CADAVID, BEATO e FERNANDEZ, 2012).
Carneiro e Fernandez (2010), ressaltam que quando a ativação da palavra crítica
é alta, sua identificação aumenta, originando assim um monitoramento mais eficaz, com
índices baixos de falso reconhecimento.
De acordo com Roediger, McDermott e Gallo (2001), a ativação ocorre
principalmente na fase de estudo e o monitoramento predominantemente na fase de
teste, porém podendo também ocorrer na fase de estudo. Dessa forma, não apenas os
processos de ativação, mas também os processos de monitoramento intervêm na
produção de falsa recordação. De acordo com Gallo (2010), a ativação do item-crítico
pode ocorrer tanto na fase de estudo (codificação) quanto na fase de reconhecimento
(recuperação).
A monitorização é um processo que permite o acesso à fonte de uma
informação, ajudando assim a identificar se uma palavra foi previamente codificada ou
se apenas está relacionada com as demais palavras que já foram codificadas. De acordo
com Johnson, Hastroudi e Lindsay (1993), a fonte de uma informação engloba
diferentes características, tais como; perceptual, espacial, temporal, semântica, afetiva e
processos cognitivos que especificam as características no momento que adquirimos
determinada memória.
Segundo McDermott e Watson (2001), o monitoramento é um processo mais
controlado e consciente, uma vez que reflete a tomada de decisão que ocorre na fase de
evocação, onde o indivíduo deve reconhecer se as palavras foram ou não anteriormente
estudadas. Esse processo tem a função de evitar a tradução da ativação em uma falsa
recordação.
Em contrapartida, a ativação propicia o aparecimento de falsas memórias, sendo
que nesses casos, o que ocorre é uma falha na monitorização desse evento e o
participante confunde a fonte da informação, acreditando que o evento realmente
ocorreu (GALLO, 2010).
Gallo (2004) sinaliza que de acordo com essa teoria o que ocorre no paradigma
DRM é que a ativação do item crítico se torna forte ao ponto do indivíduo identificar o
26
pensamento como um episódio de memória único, uma vez que a associação do itemcrítico foi sendo acumulada em decorrência do estudo de diversos itens associados.
2.4 Tipos de testes usados na avaliação de falsa memória
Algumas tarefas são normalmente utilizadas para estudar memória, sendo que
duas principais estão presentes em experimentos de falsa memória; a tarefa de
recordação e a de tarefa de reconhecimento, ambas classificadas como tarefas de
memória explícita.
De acordo com Stein (2010), nas tarefas de recordação o indivíduo deve
lembrar-se espontaneamente de um fato, uma palavra ou item de memória. Um bom
exemplo de tarefa de recordação são os testes de completar lacunas.
Outro tipo de tarefa é a de reconhecimento, no qual o indivíduo seleciona ou
identifica um item que já foi apresentado anteriormente (STERNBERG, 2008). Assim,
testes de múltipla escolha são exemplos que envolvem reconhecimento. Os testes de
reconhecimento permitem um maior controle experimental de variáveis, como por
exemplo, a manipulação do intervalo de tempo entre um estímulo. Além disso, são
responsáveis pela produção do maior número de falsas memórias quando comparados
aos testes de recordação livre (BRUST e cols., 2010). Este tipo de teste, comumente é
mais utilizado quando há o registro de atividade cerebral.
Além disso, em muitos estudos, associado à tarefa adaptada ao paradigma DRM,
utiliza-se o paradigma “lembrar/saber” (do inglês: remember/know) desenvolvido por
Tulving (1985). Este paradigma consiste no julgamento (no momento da resposta) das
palavras que são apresentadas na fase de reconhecimento que podem ou não ter sido
apresentadas previamente.
Segundo o autor, a lembrança (remember) se refere ao processamento conceitual
da informação, enquanto a familiaridade (know) estaria relacionada ao processamento
perceptual, características mais gerais da informação.
De acordo com o autor, esses processos estão correlacionados com a memória
episódica que se refere à recuperação de informações pessoais que envolvem detalhes
específicos e também com a memória semântica que por sua vez está relacionada à
recuperação de aspectos mais gerais, atemporais.
27
2.5 Falsa Memória e a Idade
De Bartlett aos dias atuais, muito se aprendeu sobre a construção da memória
humana. O registro de informações passou a ser compreendido muito mais como uma
construção do que como um registro literal das informações. Com autores como,
Roediger e McDermott (influenciados pelos trabalhos prévios de Deese), muito se
aprendeu sobre estratégias experimentais para testar a construção da memória e mais
especificamente, a construção de falsas memórias.
O artigo mais citado no tópico de indução de formação de falsa memória foi
publicado pelos autores Roediger e McDermott em 1995 citado no capítulo 1.1).
A importância deste estudo foi à demonstração do que os autores consideraram
“a powerful illusion of memory: People remember events that never happened”. A
partir deste estudo, deu-se início a uma série de estudos investigando esse aspecto
peculiar da construção da memória. Além disso, muitos pesquisadores buscaram
compreender o papel do desenvolvimento cerebral, a construção de redes semânticas e
investigar se esse efeito da relação semântica interferia nos seres humanos de acordo
com seu nível de desenvolvimento.
Na literatura poucos estudos nos ajudam a compreender o padrão de produção de
falsas memórias em diferentes faixas etárias, ainda mais no que se refere aos
experimentos com crianças, sendo que os resultados encontrados muitas vezes mostramse contraditórios.
Um dos experimentos mais citados realizado por Howe (2005) comparou um
grupo de crianças em idade pré-escolar (5 anos) com outro grupo em idade escolar (7 e
11 anos). O pesquisador observou que crianças mais velhas (11 anos) recordam mais
informações verdadeiras e da mesma forma exibem mais falsas memórias que crianças
de 5 e 7 anos. Foi também observado que crianças de 7 anos exibem mais informações
verdadeiras do que as de 5 anos, porém a taxa de falsa memória permanece igual.
De acordo com Howe (2005) e outros estudos realizados, se de fato crianças
produzirem menos falsas memórias do que os adultos, também teriam facilidade em
rejeitá-las. Porém, não foi o que estudos como os de Carneiro e Fernandez (2010)
encontram. Para os pesquisadores, identificar para posteriormente rejeitar é uma
estratégia utilizada por adultos. Foi observado que as crianças produzem mais falsa
memória quando identificam o item crítico. Outra questão que não causa efeito em
crianças como em adultos é avisar previamente sobre o efeito do paradigma DRM, ou
então aumentar o tempo de exposição das palavras da lista.
28
Estudo realizado por Brainerd, Reyna e Forrest (2002) verificou o padrão de
falsas memórias em crianças com 5, 7 e 11 anos e também com grupo de adultos em
tarefa de evocação livre. Os resultados mostraram que crianças apresentam menos erros
por falsa memória em comparação a adultos jovens, revelando assim, um aumento de
falsas memórias com a idade. Os autores utilizam a teoria do traço difuso para explicar
seus resultados relacionando o fato de que as crianças provavelmente ainda não
compõem e integram na sua totalidade as informações de forma semântica, ou seja,
apresentam dificuldade para extrair o significado geral de qualquer acontecimento.
A argumentação sobre o aumento das falsas memórias com a idade é suportado
por outros estudos, como por exemplo, de Brainerd e colaboradores (2006). O
experimento realizado por Brainerd e cols. (2006) evidenciou menor vulnerabilidade
das crianças pré-escolares ao efeito DRM, comparativamente às crianças em idade
escolar e aos adolescentes. Nessa mesma direção, outro estudo conduzido por Brainerd
e Reyna (2007) com crianças de 6, 10 e 14 anos mostrou um aumento de falsas
memórias com o aumento da idade para as palavras distratoras semanticamente
relacionadas. Já com relação às palavras distratoras não relacionadas esse resultado não
foi observado.
Em contrapartida, experimento realizado por Ghetti, Quin e Goodman (2002)
submeteu crianças de 5 e 7 anos e um grupo de adultos a tarefa de recordação e
reconhecimento usando o procedimento DRM. Os autores verificaram que crianças com
5 anos de idade apresentaram taxas maiores de evocações falsas comparado com que o
grupos de crianças com 7 anos e com o grupo de adultos, quando calculadas as taxas de
evocações relativas, a qual fornece uma indicação do nível de falsa memória em relação
ao número total de palavras evocadas. Os autores explicam os resultados encontrados a
partir da teoria de monitoramento da fonte, a qual propõe que as falsas recordações
ocorrem pela incapacidade de atribuir corretamente à fonte da informação no momento
da evocação.
Questões metodológicas como; o tempo de apresentação das palavras, assim
como o tempo de intervalo de retenção e o número de associados por lista, são fatores
importantes que podem justificar a divergência entre os resultados encontrados em
estudos com adultos, porém ainda não são conclusivos para justificar as diferenças
encontradas nos estudos descritos acima.
Seguindo essa linha de investigação sobre o efeito de falsa memória em
diferentes faixas etárias, Carneiro e colaboradores (2007) desenvolveram um
29
experimento utilizando listas de palavras associadas específicas para crianças. Os
resultados evidenciaram que assim como adultos, crianças estão propensas ao efeito do
paradigma DRM quando testadas através de listas específicas para a idade. Porém,
verificou-se que crianças pré-escolares apresentam menos falsas memórias do que
crianças mais velhas. Tais resultados replicam os achados de Brainerd e colaboradores
(2002).
Além disso, a contribuição trazida por este estudo de que listas específicas para a
idade de crianças testadas contribuem para a evidência de que crianças podem
apresentar níveis mais elevados de falsa memória, nos leva a constatação de que
habilidades para o processamento de essência podem não ser tão ineficazes como
postulados anteriormente.
Paz-Alonso, Ghetti, Donohue, Goodman e Bunge (2008) em um estudo com
ressonância magnética funcional relacionada a evento, investigaram mudanças no
desenvolvimento neural de regiões cerebrais associadas com reconhecimento de falsa
memória ou de itens verdadeiros em pessoas com 8 anos de idade, 12 anos de idade e
adultos. Os dados comportamentais seguem na direção dos estudos citados previamente
(adultos acertam mais itens verdadeiros, mas também erram mais por associação
semântica). Com relação ao aumento no reconhecimento verdadeiro, os autores
associaram mudanças no padrão de ativação do lobo temporal medial. Já com relação ao
aumento, em função da idade, dos erros por associação semântica, os autores
associaram às mudanças no padrão de ativação do córtex pré-frontal ventrolateral
esquerdo. Os autores também observaram alterações relacionadas à idade no córtex
parietal posterior.
Ainda em relação as diferenças no reconhecimento verdadeiro e falso entre as
idades, experimento realizado por Norman e Schacter (1997) investigou a ocorrência de
falsas memórias em um grupo de idosos e em grupo de adultos jovens. No primeiro
experimento realizado, os participantes ouviram uma lista de palavras associadas e
posteriormente foram submetidos a um teste de recordação, no qual deveriam reproduzir
exatamente as palavras ouvidas anteriormente. Os autores observaram que as respostas
emitidas pelos participantes foram compostas de informações associativas e contextuais,
sendo que adultos mais velhos são mais susceptíveis ao falso reconhecimento do que
adultos mais jovens. Esse fenômeno foi atribuído ao comprometimento de estruturas
pré-frontais com o envelhecimento.
30
Também em estudo relacionado à produção de falsa memória no
envelhecimento, Balota e colaboradores (1999) utilizando o procedimento das palavras
associadas, observaram que o nível de memórias verdadeiras diminui em função da
idade. Além disso, os autores observaram que os falsos alarmes, ou seja, as falsas
memórias aumentaram em função da idade. Resultados semelhantes foram descritos por
McCabe e colaboradores (2009).
2.6 Bases Neurais das Falsas Memórias
Com o avanço tecnológico e desenvolvimento de equipamentos como a
Ressonância Magnética Funcional (fRMI), eletroencenfalografia (EEG), tomografia por
emissão de pósitrons (PET scan), a investigação sobre efeitos como o da falsa memória
passou a considerar, além das medidas comportamentais, os mecanismos e estruturas
subjacentes a esse fenômeno.
Com o uso da técnica de Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET scan), o
primeiro estudo conduzido foi realizado por Schacter e colaboradores., (1996), no qual
participantes ouviram listas de palavras e posteriormente foram submetidos a uma tarefa
de reconhecimento visual. Os resultados evidenciaram maior reconhecimento
verdadeiro, ou seja, palavras que continham na lista de estudo que foram corretamente
reconhecidas, seguido de falso reconhecimento de palavras críticas e um menor
desempenho para falso reconhecimento de palavras não associadas semanticamente. Foi
observada uma ativação no lobo temporal medial esquerdo quando os participantes
reconheciam as palavras que haviam sido ouvidas anteriormente, bem como as palavras
críticas. Além disso, houve maior ativação no córtex auditivo e regiões tempo-parietais
associadas ao reconhecimento verdadeiro quando comparado ao reconhecimento falso.
Segundo Schacter e colaboradores (1996) outra ativação durante a tarefa de
reconhecimento pode ser observada. A ativação dorso lateral do lobo frontal direito
pode estar envolvida com os processos de monitoramento e decisão, uma vez que a
ativação foi tardia.
Em experimento utilizando a técnica de fRMI, Cabeza e colaboradores (2001),
observaram atividade hipocampal tanto para memória verdadeira quanto para falsa
memória. Os autores também observaram uma ativação no córtex parahipocampal para
a recuperação correta dos itens. Tal semelhança na atividade do córtex hipocampal e do
hipocampo também é relatada por Curran e colaboradores (2000).
31
Outro experimento realizado por Dennis, Kim e Cabeza (2008) da Universidade
de Duke buscou investigar os efeitos de tarefas como a DRM no envelhecimento e
observar as áreas ativadas. Os autores verificaram que o declínio no reconhecimento de
itens verdadeiros encontra-se relacionado por processos mediados pelo hipocampo, ao
passo que o aumento nas falsas memórias encontra-se relacionado aos aspectos
semânticos principais mediados pelo córtex lateral temporal.
Em outro estudo (citado na introdução) utilizando fRMI, Paz-Alonso e
colaboradores (2008), encontraram que adultos em relação a crianças de 8 e 12 anos,
possuem uma maior taxa de reconhecimento verdadeiro, observando uma maior
ativação no lobo temporal medial. Nesse mesmo estudo os erros de associação
semântica cometidos foi observado mudança na ativação do córtex pré-frontal
ventrolateral esquerdo.
Estudo com pessoas que possuem lesão no lobo frontal evidenciou que ocorre
um aumento das falsas memórias quando são comparadas a pessoas saudáveis (MELO,
WINOCUR e MOSCOVITCH, 1999).
Em relação à ativação de regiões cerebrais através do reconhecimento verdadeiro
ou falso, estudo realizado por Angel e colaboradores (2012) verificou a diferença de
idade nos correlatos neurais envolvendo os conceitos de recordação e familiaridade.
Adultos jovens e adultos mais velhos foram submetidos à tarefa de memorização e
posterior reconhecimento de imagens através do Paradigma “lembrar/saber” –
(Remember/know) (TULVING, 1965). Em relação às respostas classificadas como
“lembro”, ou seja, afirmação da recordação das imagens vistas previamente foi
observada maior ativação no grupo de adultos jovens no hemisfério esquerdo, em
regiões frontais, temporais, no córtex parietal e regiões parahipocampais. Essa diferença
na ativação de áreas cerebrais entre os grupos se estendeu para o julgamento de “sei”,
relacionado à familiaridade, que ativou o cíngulo anterior bilateral, giro frontal direito e
giro temporal superior esquerdo. Porém, para os processos de recordação os adultos
mais velhos recrutaram o precuneus, o que pode estar relacionado à compensação ao
menor recrutamento de áreas importante no reconhecimento verdadeiro.
Em suma, a maior parte dos estudos realizados mostra que para palavras
estudadas ( palavras-alvo) e palavras semanticamente relacionadas (falsas-pistas) ocorre
uma atividade cerebral maior quando comparado a palavras não estudadas, sem relação
semântica. Dessa forma, pode-se entender que o cérebro processa informações
32
relacionadas e não relacionadas de maneira diferente. Tais diferenças serão descritas nos
capítulos posteriores.
2.7 Eletroencefalografia e Potenciais Evocados Relacionados a Evento
As técnicas eletrofisiológicas, como a eletroencefalografia (EEG) registram a
atividade cerebral gerada por populações neurais em uma escala de tempo de
milissegundos. Isso ocorre por meio da captação feita por eletrodos fixados no escalpe
sendo, portanto, uma avaliação não-invasiva (HANDY, 2005).
Essa técnica de mensuração da atividade neuronal apresenta grandes vantagens
quando comparada com técnicas de neuroimagem como a ressonância magnética
funcional (fMRI), ou por tomografia por emissão de pósitrons (PET scan)
principalmente por oferecerem medidas com alta precisão temporal. (MICHEL e cols.,
2004; MENENDEZ e cols., 2004). Entretanto, as técnicas eletrofisiológicas apresentam
uma grande desvantagem não indicando de forma precisa a fonte geradora no cérebro
daquela atividade coletada, um vez que são coletados através de sinais superficiais do
escalpe. Porém, com o surgimento de equipamentos de EEG com número elevado de
canais (128 e 256 eletrodos), tal cenário vem sofrendo importante transformação.
Diversos algoritmos têm sido investigados para, com base em uma coleta de sinal
proveniente de número elevado de eletrodos, resolver o chamado problema inverso
gerado pelo campo eletromagnético e assim possibilitar uma localização de áreas
cerebrais geradoras daquele sinal coletado pelo EEG (MICHEL e cols., 2004;
MENENDEZ e cols., 2004).
Segundo Menendez e colaboradores (2004), esta é a única possibilidade de
investigar de forma não-invasiva com uma resolução temporal precisa, (na ordem de
milissegundos) o impacto do comportamento na atividade neuronal. Além disso, a
precisão temporal permite investigar os processos curtos em que diferentes redes
neuronais participam durante eventos sensoriais e cognitivos. Dessa forma, estudos
investigando relações entre eventos comportamentais e atividade cerebral, que busquem
localização temporal e espacial passam a ter novo destaque.
O uso de EEG voltado para análise de potenciais relacionados ao evento (ERP)
tem aumentando em estudos de neurociência cognitiva uma vez que pode prover
informações importantes a respeito do processamento de informação subjacente a
realização de diferentes tarefas cognitivas.
33
O potencial evocado relacionado ao evento (ERP) refere-se à atividade elétrica
de determinadas populações de neurônios em resposta a exposição de diferentes
modalidades de estímulos/eventos. Os sinais produzidos e registrados representam uma
somatória de ativações locais (HANDY, 2005). Os ERPs são coletados através do
posicionamento de eletrodos no escalpe. Os ERPs são representados por componentes,
os quais são compostos por uma série de picos de voltagem, podendo ser positivas ou
negativas. A nomenclatura usada para a distinção entre cada componente se refere a
polaridade (positiva, representada pela letra P ou negativa, representada pela letra N).
Através de estudos com ERPs, pesquisadores têm buscado fontes de déficits em
algumas patologias, como por exemplo, no autismo, em que se procura relacionar
déficits no processamento sensorial com os comprometimentos em sua cognição social.
(JESTE e NELSON, 2009).
Figura 1: EEG de alta densidade.
Os ERPs podem variar de 50 milissegundos (componentes mais precoces) até
componentes mais tardios, que variam em torno de 600-1000 milissegundos. Segundo
Banaschewski e Brandeis, (2007), componentes precoces, como por exemplo, o P100,
estão relacionados com o processamento sensorial básico, enquanto os componentes
tardios refletem o processamento perceptual e cognitivo dos estímulos.
Por fim, com os avanços em modelos matemáticos, surge a possibilidade de
estudar o período de atividade cerebral coletado durante tarefa comportamental
dividindo-o em diferentes mapas de segmentação. A segmentação é o processo de
determinação de períodos de estabilidade nos mapas de representação dos ERPs. Estes
mapas representam micro-estados funcionais do cérebro durante processamento de
34
informação e é a partir desses mapas que se busca estimar as fontes geradoras desses
micro-estados.
Figura 2: Ilustração de mapas de atividade cerebral em relação ao número e disposição dos
eletrodos.
2.8 Potencial Relacionado ao Evento, falsa memória e autismo
Estudos comportamentais e de imagem mostram prejuízos no processamento
semântico de indivíduos com transtorno do espectro do autismo. (HARRIS e cols.,
2006).
De acordo com Dunn e Bates (2005), tais déficits podem ser observados de
diferentes modos, como; falha em utilizar a informação semântica com o intuito de
codificar o material verbal e recordá-lo posteriormente; tendência a empregar estratégias
de ordem sintática e não na compreensão semântica; falha para interpretar as palavras
de acordo com contexto semântico e por fim, tendência a produzir menos protótipos de
categorias do que normalmente as crianças desempenham em teste de fluência verbal.
Estudo realizado pelos autores consistiu na apresentação de listas de palavras,
para crianças autistas de alto funcionamento com idades entre 8 e 11 anos. As listas
apresentadas eram compostas por palavras pertencentes à mesma categoria e outras
palavras que pertenciam a outras categorias. No momento da tarefa de reconhecimento
foram observados dois componentes, N1c e N4. O primeiro N1c, subcomponente do
N1, reflete o processamento inicial do estímulo auditivo, sendo provavelmente gerado
no córtex auditivo primário. Já o componente N4, mencionado anteriormente, é
conhecido por ter se mostrado como uma ferramenta para análise da integração e
processamento semântico de informações.
35
A análise do componente N1c mostrou que não houve diferença entra as idades
com relação ao tempo de resposta e acurácia. Entretanto, a latência de N1c para palavras
em categorias foi atrasada em crianças mais novas (8 anos). Em relação ao componente
N4, não houve diferença entre idades e também na diferenciação de palavras dentro de
categorias e palavras de outras categorias.
Estudo realizado por Valdizán e colaboradores (2003) procurou avaliar a
presença do componente N400 em um grupo com autismo e em um grupo com
síndrome de Asperger. Para isto, foram apresentados auditivamente 40 pares de
palavras, sendo 20 pares congruentes, ou seja, palavras que apresentavam relação
semântica entre si, por exemplo, fruta-maçã e 20 pares de palavras incongruentes, que
não apresentavam relação entre si, por exemplo, animal-prato. Os resultados mostraram
que apesar do componente N400 ser mais negativo em áreas fronto-centrais do grupo
com autismo comparado ao grupo controle, não foram observadas diferenças para a
interação grupo vs. tipo semântico, demonstrando assim que o nível semântico
assemelha-se nos três grupos. Em relação à latência do componente N400, os autores
observaram que o grupo com autismo apresenta maior latência para o componente N400
(em torno de 526 ms) quando comparado ao grupo com Asperger (424 ms) e ao grupo
com desenvolvimento típico (409 ms). Dessa forma, ao contrário da hipótese inicial dos
pesquisadores o grupo com autismo apresentou capacidade em discriminar os pares de
palavras congruentes e os pares incongruentes, demonstrando assim uma sensibilidade
ao contexto semântico.
Já em relação aos estudos com potenciais evocados e tarefas semelhantes ou
adaptadas ao paradigma DRM são encontrados poucos estudos, e ainda é mais restrito
os que se referem a investigação no autismo.
Em indivíduos saudáveis, estudos de ERP e neuroimagem têm mostrado que
existe padrão de atividade cerebral diferente entre memória verdadeira e falsa memória.
Um dos primeiros estudos que utilizou o paradigma DRM e o registro de potenciais
evocados foi realizado por Duzel e colaboradores (1997). No experimento realizado,
participantes foram instruídos a memorizar as palavras que lhe foram apresentadas
visualmente. Esta fase foi chamada de fase de estudo. Após o término dessa fase, foi
realizada a colocação da touca e iniciada a fase de reconhecimento.
Foi observado um componente fronto-central, por volta de 300-600 ms,
semelhante por suas características temporais e espaciais ao N400 que aparece presente
em estudos de repetição de palavras e que envolvem priming semântico. Porém, a
36
diferença principal do componente observado ao componente N400 reside na
longevidade do efeito, pelo menos de trinte minutos, tempo que decorreu do término da
fase de estudo até o início da fase de reconhecimento. Esse componente observado pelos
autores está associado ao julgamento “saber” (Know) do paradigma “lembrar/saber”
(remember/know), sendo esse relacionado à familiaridade.
Além disso, um efeito parietal foi encontrado por volta de 600-1000 ms, cuja
características assemelham-se ao componente tardio, late positive component - LPC
descrito como componente eliciado pelo reconhecimento de palavras repetidas. Dessa
forma, o componente LPC foi observado associado ao julgamento de “lembrar”
(remember) – sendo relacionado à recordação e não a familiaridade.
Por fim, foi observado um efeito frontal no hemisfério direito relacionado aos
dois julgamentos “lembrar-saber” tanto para reconhecimento verdadeiro quanto para
reconhecimento falso.
Em suma, os resultados mostraram maior amplitude para reconhecimentos
verdadeiros em relação a reconhecimentos falsos de falsas-pistas. Além disso, foi
observado maior amplitude para reconhecimentos falsos de falsas-pistas em relação a
reconhecimento falso de palavras novas. Por apresentaram padrões de atividade
elétricas diferentes, acredita-se na existência de processamentos independentes na
recuperação da memória.
Em particular, com relação a testes como a tarefa DRM, estudos prévios já
identificaram três componentes principais durante reconhecimento de itens falsos. A
saber, i. um componente da família do N400 em função de sua similaridade com
potenciais entre 300-500 ms que refletem processamento semântico de informação, ii.
um componente entre 400-800 ms mais positivo para reconhecimento de itens
verdadeiros do que itens falsos (talvez relacionado a processamento dedicado a
percepção de detalhes) sendo chamado de Parietal Old/ New Effect, e iii. Um
componente tardio entre 800-2000ms. Em todos os casos, o registro e análise de ERPs
foi feito apenas durante a fase de reconhecimento.
O componente FN400 é descrito em estudos envolvendo falso reconhecimento.
Como já mencionado no capítulo anterior, a nomenclatura FN corresponde à região que
o componente pode ser observado, sendo que F refere-se à região frontal e N a
polaridade do componente. O componente FN400 recebeu esse nome devido a sua
similaridade com o componente N400 amplamente estudado na literatura, desde sua
primeira descrição por Kutas e Hillyard em 1980. O componente N400 trata-se de um
37
componente negativo, cujo pico de maior negatividade apresenta-se em cerca de 400
milissegundos. Relaciona-se normalmente a uma maior amplitude nos eletrodos centrais
e parietais (Luck, 2005) e tem sido relacionado à integração semântica (BROWN e
HAGOORT, 1993) e processos de decisão lexical (LAU, PHILLIPS e POEPPEL,
2008).
O componente FN400 pode ser observado em torno de 300-500 ms sendo mais
negativo para palavras distratoras, ou seja, palavras novas (que não foram mostradas
anteriormente e que não apresentam relação semântica com as previamente
apresentadas) em relação as falsas-pistas e palavras-alvo. A esse componente é atribuído
o processamento de familiaridade.
Curran e sua equipe (2000) evidenciaram a presença do componente FN400 em
seu estudo. O experimento consistiu na apresentação de listas de palavras no singular e
no plural (ex: mesa e cadeiras) aos participantes na fase de memorização.
Posteriormente na fase de reconhecimento foram apresentadas palavras já estudadas,
como por exemplo, a palavra cadeiras; palavras com a pluralidade revertida, por
exemplo, mesas, que antes estava no singular; e por fim novas palavras sem nenhuma
relação semântica com os demais itens. Nesta fase os participantes foram instruídos a
responder “sim” apenas se tivessem visto a palavra no plural. Os pesquisadores
observaram um componente semelhante ao N400, porém mais frontalmente distribuído,
que ocorria entre 300 e 500 ms que mostrou-se mais negativo para palavras novas, ou
seja, que não haviam sido vistas anteriormente quando comparado a palavras estudadas
e palavras associadas semanticamente.
Além disso, outros potenciais relacionados a eventos são relatados em regiões
frontais envolvendo reconhecimento verdadeiro e falso. (CURRAN, 2001; NESSLER,
2001; ALLAN e COLS., 1998; WIESE e DAUM, 2006). Um componente tardio
observado em regiões frontais, sendo mais proeminente no hemisfério direito, na janela
de tempo entre 800-2000ms, parece refletir processamento pós-recuperação quando a
informação deve ser avaliada por características particulares e específicas. Allan e
colaboradores (1998) mostraram que esse componente é mais positivo em resposta a
estímulos antigos quando comparado a novos estímulos.
Estudo realizado por Wiese e Daumm (2006) consistiu na investigação dos ERPs
relacionados ao reconhecimento verdadeiro e falso por meio de tarefa correspondente ao
paradigma de associados convergentes. Participantes foram submetidos a uma tarefa de
reconhecimento de palavras na qual deveriam responder selecionando “nova” para
38
palavras que acreditavam não ter visto anteriormente e “antiga” para palavras que
acreditavam ter visto anteriormente, sendo que no caso dessa resposta, deveriam decidir
entre os julgamentos “lembro” e “sei”, do paradigma “lembrar/saber” (remember/know).
Esse procedimento resultou na criação de 6 categorias; 1) resposta correta por
reconhecimento das palavras-alvo, 2) erro por não reconhecimento das palavras-alvo, 3)
erro por falsas-pista, 4) acerto por rejeição da falsa-pista, 5) erro por aceitação de
distratores, 6) acerto por rejeição de distratores. Os autores observaram o componente
old/new por volta de 400-700 ms nos eletrodos centrais a esquerda, mais positivo para
acertos por reconhecimento das palavras-alvo em comparação a rejeição correta de
distratores. Além disso, efeito old/new em eletrodos parietais a esquerda foi observado
com maior amplitude para erro por falsa-pista em comparação a rejeição correta de
falsa-pista e rejeição correta de distratores. Por fim, os autores também encontraram
semelhanças nos potenciais relacionados ao evento para acertos por reconhecimento das
palavras-alvo e erro por falsa-pista em eletrodos parietais, porém tal fato não foi
observado em eletrodos frontais, uma vez que foi observado maior amplitude para
acertos por reconhecimento das palavras-alvo quando comparado a erros por falsa-pista,
sendo que essa última categoria apresentou um padrão semelhante à rejeição correta de
distratores e a rejeição correta de falsas-pistas.
Experimento realizado por Curran e colaboradores (2001) mostrou o mesmo
observado por Wiese e colaboradores (2006). Os autores evidenciaram que não há
diferença no reconhecimento correto de itens estudados e no falso reconhecimento por
aceitação de falsas-pistas em eletrodos parietais. Em seu estudo Curran (2001) submeteu
os participantes à tarefa adaptada do paradigma DRM. Os participantes foram divididos
em dois grupos – “Bom desempenho” e “Mau desempenho” – sendo essa divisão
baseada na discriminação das respostas corretas em relação ao erro por falsas-pistas.
Apenas nos participantes com bom desempenho pode ser observado um componente
frontal tardio em hemisfério direito em torno de 1000-1500 ms sendo mais positivo para
reconhecimento correto de palavras-alvo e no falso reconhecimento por falsa-pistas em
comparação aos novos itens (distratores). Além disso, os autores também observaram o
componente parietal old/new tanto no grupo de bom desempenho quanto no grupo com
mau desempenho, sendo este componente mais positivo para memória verdadeira
quando comparado à falsa memória.
Outro estudo realizado por Gonsalves e Paller (2000), evidenciou diferenças no
reconhecimento de memória verdadeira e falsa. No experimento, participantes liam uma
39
série de palavras, sendo que para metade das palavras apresentadas, uma figura
correspondente a ela aparecia 2 segundos após sua apresentação. Posteriormente foi
realizado um teste de reconhecimento onde haviam palavras que haviam sido
apresentadas junto com sua respectiva imagem na fase de estudo, outras palavras que
haviam sido apresentadas orograficamente e por fim palavras que não haviam sido
vistas. Os participantes tinham que decidir para cada palavra se tinha visto a figura
correspondente a palavra. ERPs foram coletados durante fase de reconhecimento. Foram
observados em torno de 900-1200 ms após resposta, que eletrodos localizados nas
regiões parietal e occipital foram mais positivos para memória verdadeira do que para
falsa memória.
Estudo realizado por Miller e colaboradores (2001), investigou possíveis
diferenças na topografia, amplitude e latência do componente P300 associado ao
reconhecimento falso por meio da aceitação da falsa-pista em comparação ao registro do
componente P300 relacionado ao reconhecimento verdadeiro de palavras estudadas.
Participantes realizaram tarefa modificada do paradigma DRM, construída em duas
fases. Na primeira fase, os participantes foram instruídos a ler e memorizar as palavras
que apareciam no monitor. Já na segunda fase, os participantes deveriam julgar se a
palavra era “velha” ou “nova” pressionando um dos dois botões da caixa de resposta. Os
resultados indicaram que não houve diferença relacionada à topografia e amplitude no
reconhecimento verdadeiro e no reconhecimento falso. Esse resultado assemelha-se ao
encontrado por Duzel (1997) no estudo citado acima. Porém, em relação à latência, os
autores observaram menor latência do componente P300 relacionado a reconhecimento
falso de falsas-pistas comparado aos três tipos de reconhecimento verdadeiro (itens
identificados corretamente como alvo, itens identificados corretamente como novos e
itens identificados como falsas-pistas).
Como mencionado no resultado de alguns estudos acima, outro componente tem
sido tipicamente observado em tarefas de reconhecimento, o denominado “Parietal
od/new effect.” Esse componente é comumente observado em torno de 400-800 ms com
amplitude máxima na região parietal
(RUGG, 1998). Enquanto que ao FN400 é
atribuído o processamento de familiaridade, o componente Parietal old/new effect está
relacionado à recordação de detalhes perceptuais. Estudos mostram (CURRAN e cols.,
2000; NESSLER e cols., 2001; GENG e cols. 2007) que o componente é mais positivo
para reconhecimento verdadeiro (reconhecimento correto de itens já estudados) quando
comparado a reconhecimento falso (aceitação de falsas-pistas ou de distratores).
40
Em função disso, Geng e colaboradores (2007) investigaram os mecanismos
neurofisiológicos subjacentes a tarefa de DRM analisando tanto os ERPs durante fase
de memorização quanto durante fase de reconhecimento. Com isso, os autores
apresentaram novas informações sobre o papel de registro e recuperação envolvidos em
memórias verdadeiras e falsas. Entre elas, os autores encontraram durante a fase de
memorização um componente N170 de menor amplitude e um componente positivo
tardio (com pico por volta de 500 ms) de maior amplitude para as palavras associadas
que eliciaram posteriormente falsa memória em comparação com aquelas que não
eliciaram falsa memória. Já para a fase de reconhecimento, os autores identificaram 3
componentes principais; i. um componente inicial entre 300-500 ms relativo ao priming
semântico para itens verdadeiros ou falsos; ii. o componente Parietal Old/ New Effect
entre 500-700 ms com maior amplitude para reconhecimento de itens verdadeiros em
comparação aos falsos; e iii. Um componente negativo tardio (entre 700-1500 ms)
diferenciando entre reconhecimento verdadeiro e falso.
Pode-se observar que ainda há poucos estudos acerca dos ERPs e do paradigma
DRM, e ainda é mais restrito os que se referem ao padrão eletrofisiológico durante
paradigma DRM em pacientes com diagnóstico de autismo.
Dessa forma, o presente estudo será inovador na medida em que investigaremos
os componentes eletrofisiológicos durante a realização de tarefa adaptada ao paradigma
DRM em um grupo de crianças com autismo, fornecendo novas contribuições à
literatura da área.
3. OBJETIVOS
Objetivo Geral: Este estudo tem como objetivo geral investigar o desempenho
comportamental em tarefa de memória literal e conceitual (baseado no paradigma
DRM) e os potenciais cognitivos subjacentes em grupo de voluntários com
desenvolvimento típico e em grupo com diagnóstico Autismo.
Objetivos Específicos:
1-
Comparar o desempenho comportamental em tarefa adaptada do teste
de Roediger McDermott em função dos acertos para itens
apresentados na fase de memorização em comparação a acertos para
itens novos, ou seja, comparar os acertos por reconhecimento correto
41
de palavras-alvo (RCPA), rejeição da falsa-pista (ARFP) e rejeição de
distratores (ARD). Essa comparação será feita para grupo de
voluntários com desenvolvimento típico e em grupo com diagnóstico
Autismo;
2-
Comparar o desempenho comportamental em tarefa adaptada do teste
de Roediger McDermott em função do Tempo de Reação para acertos
em itens apresentados na fase de memorização em comparação ao
tempo de reação para acertos para itens novos, ou seja, comparar os
acertos por reconhecimento correto de palavras-alvo (RCPA), rejeição
da falsa-pista (ARFP) e rejeição de distratores (ARD). Essa
comparação será feita para grupo de voluntários com desenvolvimento
típico e em grupo com diagnóstico Autismo;
3-
Descrever e comparar os potenciais evocados durante fase de
reconhecimento por meio da análise de amplitude dos componentes
P1, P2, N400 e Parietal old/new effect considerando os segmentos
relativos aos acertos para itens apresentados na fase de memorização
em comparação aos acertos para itens novos. Ou seja, esses
componentes serão derivados para comparação considerando as
categorias acertos por reconhecimento correto de palavras-alvo
(RCPA), rejeição da falsa-pista (ARFP) e rejeição de distratores
(ARD). Essa comparação será feita para grupo de voluntários com
desenvolvimento típico e em grupo com diagnóstico Autismo;
4-
Descrever e comparar os potenciais evocados durante fase de
reconhecimento por meio da análise de amplitude dos componentes
P1, P2, N400 e Parietal old/new effect considerando o falso
reconhecimento de itens novos. Ou seja, esses componentes serão
derivados para comparação considerando as categorias acertos por
reconhecimento correto de palavras-alvo (RCPA) e erros por
reconhecimento da falsa-pista (EFP). Essa comparação será feita para
grupo de voluntários com desenvolvimento típico e em grupo com
diagnóstico Autismo.
42
4. JUSTIFICATIVA
Este estudo se justifica na medida em que poucos estudos até o momento foram
realizados, sendo que em sua maioria, os experimentos tem sua amostra composta por
adultos. Poucos estudos foram conduzidos até o momento com crianças, especialmente
no que se refere a crianças que se enquadrem nos transtornos do espectro do autismo.
Além disso, observa-se a necessidade de aumentar o conhecimento sobre os
potenciais cognitivos envolvidos na falsa memória em crianças com transtorno do
espectro do autismo. Entretanto, novas formas de analisar dados gerados por uma antiga
ferramenta, o EEG, têm aberto um novo campo de pesquisa. A possibilidade de estudar
os potenciais evocados relacionados a eventos, gerar mapas de segmentação,
compreender os micro-estados funcionais do cérebro e também localizar as fontes
geradoras dessa atividade fornecerá pistas importantes sobre a fisiopatologia envolvida
em cada um desses transtornos. Com isso, será possível levantar hipóteses sobre
possíveis técnicas de avaliação e intervenção nessas condições.
5. MÉTODO
5.1 - Participantes
O estudo foi realizado no Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social do
Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Presbiteriana Mackenzie,
localizado na Rua Piauí, 181, 10.º andar.
A amostra foi obtida no ambulatório de Cognição Social na Unidade de
Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA), no Centro de Atenção Integrada à Saúde
Mental (CAISM) e através de encaminhamento particular.
Foram chamadas para participar do estudo 24 crianças e adolescentes (8 à 18
anos), destras, com visão normal ou corrigida, sendo que para o grupo com autismo,
foram incluídas as crianças/adolescentes que preencheram critério diagnóstico para
Transtorno Global do Desenvolvimento pelo DSM- IV, realizado anteriormente por um
psiquiatra infantil.
Critérios de inclusão/exclusão
Os critérios de inclusão utilizados para ambos os grupos foram:
 QI estimado ≥ 75,
 Desempenho superior a 60 % no subteste compreensão de instruções;
43
 Crianças leitoras ou que não apresentaram dificuldade de leitura no Teste
de Leitura de Palavras e Pseudo-palavras (TCLP), considerando
incluídos aqueles que obtiveram acerto ≥ 90%.
5.2 - Instrumentos
5.2.1 – Para caracterização da amostra
Escala de Inteligência Wechsler para crianças (WISC-III)
A bateria Wechsler para crianças, é composta por 13 subtestes, agrupados em
uma escala verbal (Informação, Semelhanças, Aritmética, Vocabulário, Compreensão e
Dígitos) e em um escala de execução, também chamada de não-verbal (Completar
Figuras, Arranjo de Figuras, Código, Cubos, Armar Objetos, Procurar Símbolo e
Labirinto). Através de seus resultados é possível avaliar o nível de eficiência intelectual
global e índices fatoriais como: velocidade de processamento, organização perceptiva,
resistência à distração e compreensão verbal. A partir dos escores ponderados que são
obtidos em cada um dos subtestes aplicados é possível derivar o quociente de
inteligência verbal (QV), o quociente de inteligência de execução (QE), além do
quociente global (QG). Além disso, possibilita observar discrepâncias entre QI verbal e
QI de execução.
O tempo total de aplicação da bateria completa pode ultrapassar duas horas,
variando o tempo de execução para cada criança. Assim, formas reduzidas na aplicação
têm sido crescentemente utilizadas. As formas reduzidas baseiam-se na aplicação de um
menor número de subtestes, escolhidos pelas suas características psicométricas e
correlação com o QI total (SIMOES, 2000). Para derivação do QI estimado foram
aplicados os subtestes cubos e vocabulário.
O subteste cubos pertencente à escala de execução avalia a capacidade de
organização e processamento visuo-espacial, uma vez que o examinado deve decompor
mentalmente os elementos do modelo para que possa reproduzi-lo. Além disso, este
subteste permite avaliar coordenação e rapidez psicomotora (WECHSLER, 2003).
Já o subteste Vocabulário faz parte da escala verbal que avalia as competências
de integração linguística e expressão do pensamento. Esse subteste é um indicador para
estimar os conhecimentos lexicais, bem como a facilidade de elaboração do discurso.
44
Teste de Compreensão de instruções (Developmental neuropsychological
assessment battery - NEPSY)
O subteste compreensão de instruções faz parte da bateria de avaliação
neuropsicológica NEPSY composta por 27 subtestes que avaliam desde funções
cognitivas básicas até funções mais complexas. A primeira versão da bateria é utilizada
em crianças de 3 aos 12 anos de idade, já a segunda versão estende-se até os 16 anos.
O subteste Compreensão de instruções avalia a habilidade de perceber, processar
e executar instruções orais de complexidade sintática crescente. As primeiras
solicitações são de baixa complexidade, como por exemplo; “Aponte para o círculo”,
sendo a complexidade aumentada nos itens posteriores como, por exemplo, "Aponte
para a forma que está acima da cruz e ao lado de outra cruz." Para cada item, o
examinando aponta para o estímulo apropriado em resposta à instrução oral. Este teste
foi aplicado com o intuito de descartar a possibilidade dos participantes apresentarem
desempenho prejudicado por dificuldade em compreender a tarefa.
Na figura abaixo se observa a prancha apresentada a criança, na qual ela deve
apontar o que lhe foi solicitado.
Figura 3: Prancha do subteste Compreensão de Instruções.
45
Teste de Competência de Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudopalavras
(TCLPP)
O TCLPP é um instrumento psicométrico utilizado para avaliar a competência
de leitura silenciosa de palavras e pseudopalavras. Ele é constituído por 78 itens, sendo
8 tentativas de treino e 70 de teste. Cada item é composto por uma figura e uma palavra
ou pseudopalavra correspondente. Os pares são distribuídos aleatoriamente ao longo do
teste, sendo que existem sete tipos de pares, sendo eles: palavras corretas regulares,
palavras corretas irregulares, palavras com incorreção semântica, pseudopalavras com
trocas visuais, pseudopalavras com trocas fonológicas, pseudopalavras homófonas e
pseudopalavras estranhas. (CAPOVILLA e CAPOVILLA, 2004). Na figura 4 pode ser
observado um exemplo para cada tipo de par. O TCLPP apresenta duas versões; a lápispapel, na qual a tarefa da criança é circular os pares figura-escrita corretos em termos
ortográfico e semântico e marcar com um X os pares figura-escrita incorretos em termos
ortográficos (i.e., pseudopalavras) ou semânticos (i.e., palavras associadas à figura
incompatível com ela), e a versão computadorizada, cuja tarefa é clicar na palavra
“certo” para os pares corretos e “errado” para os pares incorretos. A versão aplicada
pertence a BALE on-line. (MACEDO e cols., 2005). Os resultados obtidos foram
classificados em função dos acertos.
46
Figura 4: Exemplo dos sete tipos de pares figura-palavra que compõe o teste.
5.2.2 - Teste de memorização e reconhecimento (versão adaptada da tarefa
de Roediger e McDermott) para uso concomitante com registro de ERPs
As listas de palavras que compõe o teste programado no software E-prime foram
criadas seguindo o paradigma proposto por Roediger e McDermott e com base no
trabalho desenvolvido por Geng e colaboradores (2007). A adaptação do teste foi
realizada para a coleta dos potenciais evocados.
De acordo com a literatura (SALLES, HOLDERBAUM, MACHADO, 2009;
CARNEIRO e cols., 2007) fatores como; a complexidade da palavra, frequência de
ocorrência do uso da palavra, podem interferir não só no processo de memorização
como também de reconhecimento. Assim, a construção das listas foi realizada com o
objetivo de ser adequada para o uso da faixa etária dos participantes que compõe a
amostra.
47
Para a criação das listas de palavras associadas foi realizado o método de
associação livre, o qual requer que os participantes escrevam/digam a primeira palavra
que lhes vem à mente, que seja relacionada de alguma forma ao item crítico apresentada
(NELSON, 2005).
Foram
selecionadas
24
palavras,
classificadas
gramaticalmente
como
substantivos e adjetivos. Estas palavras são chamadas de “itens críticos.” Com isso, os
24 itens críticos, juntos, compõem o que os autores denominam de material-alvo.
Após a finalização da seleção de palavras, foi realizado contato com uma escola
estadual da cidade de São Paulo com o objetivo de encontrar voluntários para a
realização da construção das listas. Mediante autorização da diretora da escola, foi
realizado o primeiro contato com as crianças para a realização do experimento.
Participaram do estudo, 51 crianças de 3.ª e 4.ª série do Ensino Fundamental de
uma escola estadual, com idades entre 8 e 11 anos. As crianças autorizadas pelos pais e
que mostraram interesse em participar, foram avaliadas de maneira coletiva, na própria
sala de aula. Em ambas as salas, a aplicação do teste durou em torno de 40 minutos.
Foi solicitado que elas escrevessem 7 palavras associadas semanticamente a
cada um dos 24 itens críticos. Assim, após todas as crianças estarem acomodadas em
suas carteiras, a folha de preenchimento contendo as 24 palavras foi entregue. A tabela
1 traz um exemplo da folha de aplicação.
Doce
Hospital
Floresta
Futebol
Circo
Festa
Tabela 1: Amostra de 6 itens-críticos pertencentes a folha de aplicação para registro de palavras.
Após a entrega das folhas, a instrução dada era a seguinte: “Como vocês podem
ver, todos tem uma folha com 24 palavras. Abaixo de cada palavra tem 7 linhas. É
48
nessas linhas que vocês devem escrever qual a primeira palavra que lhes vem a mente.
Por exemplo: Qual é a primeira palavra que vem a cabeça quando vocês pensam em
escola? (Resposta coletiva).É isso que devem fazer para cada uma das palavras.
Lembrando que sempre a palavra que vocês tem que escrever é aquela que vem a
cabeça quando leem a palavra em destaque e não a que já escreveram.” Esta instrução
foi baseada em estudos prévios de Salles, Holderbaum e Machado (2009).
Nas respostas não foram aceitas palavras derivadas do item crítico, como por
exemplo, “trabalho-trabalhar”. Nestes casos foi pedido para que a criança escrevesse
uma nova palavra. Dessa forma, cada criança gerou um total de 168 palavras.
Após a coleta das listas, as palavras que foram constituídas por radicais iguais,
como por exemplo: “trabalhar-trabalhando” foram agrupadas sob o mesmo tema de
maior ocorrência de frequência entre os participantes.
Posteriomente, as palavras escritas para cada item crítico de todos os
participantes foram classificadas em ordem decrescente em função do número de vezes
que elas foram citadas por todos os participantes e, com isso, foram definidas 8 palavras
que continham maior associação semântica até baixa associação semântica ao item
crítico. Com isso obteve-se um total de 24 listas, tendo cada lista um total de 8 palavras
com maior associação semântica ao item crítico. A tabela 2 apresenta a lista de itens
críticos com os respectivos associados semânticos mais frequentes gerados para cada
alvo.
ANIMAIS
Cachorro
Gato
Leão
Macaco
Elefante
Girafa
Cavalo
Cobra
Frequência
(%)
74,5
66,6
64,7
43,1
39,2
39,2
25,4
21,5
ESCOLA
Lousa
Professor
Carteira
Lápis
Caderno
Aluno
Cantina
Grafite
BRINQUEDO Frequência
(%)
Carrinho
78,4
Boneca
72,5
Vídeo-game
62,7
Bicicleta
50,9
Skate
43,1
Jogo
25,4
CARRO
Volante
Banco
Marcha
Roda
Pneu
Estrada
Frequência
(%)
64,7
56,8
49,0
47,0
39,2
33,3
33,3
31,3
PÃO
Francês
Milho
Doce
Leite
Manteiga
Miolo
Queijo
Forma
Frequência
(%)
64,7
56,8
49,0
47,0
39,2
33,3
DOCE
Frequência
(%)
68,6
68,6
47,5
31,3
29,4
29,4
27,4
27,4
Frequência
(%)
Bala
80,3
Chiclete
72,5
Chocolate
62,7
Pirulito
54,9
Sorvete
43,1
Brigadeiro
31,3
FRUTA
Maçã
Banana
Laranja
Uva
Manga
Morango
Melancia
Pêra
HOSPITAL
Frequência
(%)
78,4
66,6
49,0
47,0
45,0
41,0
39,2
35,2
Frequência
(%)
Médico
86,2
Enfermeira
64,7
Remédio
41,1
Maca
37,2
Injeção
31,3
Paciente
27,4
49
Patins
Dado
25,4 Semáforo
19,6 Motorista
FLORESTA
Frequência
(%)
92,1
58,8
49,0
29,4
25,4
23,5
21,5
21,5
FUTEBOL
Frequência
(%)
Microfone
64,7
Samba
31,3
Palco
29,4
Show
27,4
Cantor
27,4
Fã
25,4
Rádio
25,4
ídolo
23,5
JARDIM
Flor
Formiga
Bosque
Terra
Mato
Rio
Planta
Folha
Bola
Jogador
Gol
Juiz
Campo
Trave
Chuteira
Goleiro
MÚSICA
CIDADE
Prédio
Moradia
Rua
Transporte
Pessoa
Poste
Loja
Poluição
VERÃO
Praia
Inverno
Férias
Piscina
Viagem
Rosa
Árvore
Regador
Jardineiro
Planta
Grama
Adubo
Borboleta
Frequência
(%)
60,3
54,9
37,2
33,3
25,4
21,5
21,5
19,6
Frequência
(%)
49,0
47,0
41,1
27,4
25,4
REI
Rainha
Castelo
Coroa
Trono
Princesa
Príncipe
Cavalo
Ouro
CASA
Quarto
Cozinha
Sala
Banheiro
Televisão
33,3 Leite
31,3 Bombom
Frequência
(%)
80,3
72,5
60,7
52,9
45,0
29,4
25,4
25,4
Frequência
(%)
80,3
39,2
39,2
33,3
27,4
21,5
21,5
19,6
Frequência
(%)
74,5
56,8
52,9
43,1
39,2
31,3
19,7
19,6
Frequência
(%)
52,9
49,0
49,0
47,0
45,0
31,3 Doente
27,4 Agulha
CIRCO
Frequência
(%)
Palhaço
94,1
Domador
60,7
Malabarista
45,0
Mágico
43,1
Platéia
39,2
Cambalhota
31,3
Pipoca
21,5
Trapezista
19,6
PÉ
Dedo
Sapato
Unha
Calçado
Calcanhar
Calo
Caneleira
Tênis
CADEIRA
Plástico
Ferro
Madeira
Mesa
Almofada
Sentar
Metal
Encosto
ROSTO
Boca
Nariz
Bochecha
Bonito
Orelha
Frequência
(%)
80,3
70,5
62,7
41,1
41,1
33,3
29,4
23,5
Frequência
(%)
56,8
54,9
49,0
39,2
33,3
33,3
27,4
19,6
Frequência
(%)
76,4
72,5
70,5
49,0
41,1
FESTA
Bolo
Aniversário
Bexiga
Parabéns
Bebida
Presente
Convidado
Convite
AVIÃO
Piloto
Aeromoça
Passageiro
Assento
Asa
Céu
Turbina
Máscara
SOL
Calor
Lua
Raio
Amigo
Sorvete
Planeta
Estrela
Quente
ÁGUA
Riacho
Limpa
Torneira
Lagoa
Pia
21,5
19,6
Frequência
(%)
78,4
50,9
45,0
41,1
31,3
27,4
25,4
25,4
Frequência
(%)
68,6
50,9
45,0
27,4
25,4
25,4
23,5
21,5
Frequência
(%)
52,9
47,0
31,3
27,4
27,4
25,4
21,5
19,6
Frequência
(%)
39,2
35,2
29,4
27,4
23,5
50
Líquido
Estação
Brincar
23,5 Cama
19,6 Sofá
19,6 Geladeira
43,1 Brinco
31,3 Cabeça
19,6 Cabelo
31,3 Poluída
27,4 Onda
23,5 Salgada
Tabela 2: Listas finais geradas para programação no E-prime.
Para a construção da fase de memorização, foram criados 6 blocos, cada um
composto por 4 listas. Cada lista foi composta por 7 palavras. Na fase de memorização
foi excluída a primeira palavra de cada lista para ser utilizada juntamente com o itemcrítico como falsa-pista na fase de reconhecimento. Sendo assim 28 palavras por bloco,
totalizando na fase de memorização de 168 palavras. Para garantir que os sujeitos
permanecessem concentrados, inseriu-se em cada bloco da fase de memorização quatro
telas apresentadas de maneira randomizada contendo uma imagem (“smile”). Foi
solicitado ao participante que contassem quantos irão aparecer. Foram excluídos os
participantes que errassem mais de 65%. Porém, todos os participantes obtiveram
desempenho acima de 65%.
Já para a fase de teste, também chamada de fase de reconhecimento, onde o
participante realizou o reconhecimento das palavras, foram também criados 6 blocos,
onde cada um foi composto por 28 palavras. Cada grupo de 28 palavras continha 12
palavras classificadas como Acerto (reconhecimento correto das palavras-alvo, ou seja,
que já foram apresentadas anteriormente). Esse total de 12 palavras foi construído a
partir da seleção de 3 palavras de cada lista (total de 4 listas por bloco) referentes ao
bloco correspondente que faz parte da fase de memorização. Por exemplo, o bloco 1 na
fase de estudo é correspondente ao bloco 1 na fase de reconhecimento), extraídas das
posições 3,5 e 7. O mesmo procedimento foi feito para os outros 5 blocos.
Como mencionada anteriormente, para compor os erros por associação
semântica, também chamados de erros por falsas-pistas, foram selecionadas as palavras
da primeira posição da lista (palavras distratoras relacionadas) e o item-crítico, os quais
nesse estudo ocuparam o grupo denominado de distratores críticos, totalizando 8
palavras por bloco. Além disso, esse grupo de 28 palavras de cada bloco contém 8
palavras consideradas erros por distratores (palavras que não foram apresentadas
previamente e sem nenhuma relação semântica com as listas), por exemplo, a palavra
trator que não corresponde a nenhuma das listas apresentadas anteriormente.
Dessa forma, na fase de reconhecimento, os participantes foram expostos a um
total de 168 palavras sendo 72 (12 por bloco) existentes nas listas estudadas (Acertos),
21,5
19,6
19,6
51
48 (8 por bloco) palavras associadas semanticamente as palavras apresentadas nas listas
(erro por falsa-pista) e 48 (8 por bloco) palavras não apresentadas anteriormente (erro
por distratores). Com isso, pode ser avaliado o total de acertos, o total de erros por
associação semântica e o total de erros sem associação semântica. Esse total de palavras
apresentadas para cada condição é necessário para a derivação de potenciais
relacionados a eventos.
As listas geradas (Tabela 2) foram analisadas para a exclusão de palavras
semelhantes e para a eliminação de palavras que foram consideradas complexas para
crianças mais novas.
5.3 EQUIPAMENTO
Foi utilizado um aparelho de Eletroencefalografia de 128 canais da marca
Electrical Geodésicos, Inc (EUA) modelo EEG System 300.
Este equipamento é composto por amplificador modelo Net Amps 300,
transformador com isolamento, braço articulado para suporte do amplificador, licença
para software de aquisição e analise dos dados Net station, 6 redes de eletrodos modelo
hydrocel da Geodesic (tamanhos: bebe, pediátrica pequena, pediátrica grande, adulto
pequeno, adulto médio, adulto grande), CPU Macintosh para aquisição dos dados,
monitor de 23” para acompanhamento dos dados, câmera de vídeo digital Sony,
software para calculo de fontes geradores dos sinais (GeoSource Estimation Software),
pacote para Potencial Evocado relacionado a Evento (PST, Inc - EUA), estação de
trabalho E-prime para acoplar ao EEG (Net Station), computador de mesa Dell,
hardware para os experimentos (microfone, caixa de repostas, cabos, adaptador para
barra de resposta para o sistema EGI), monitor LCD 17” com vídeo splitter e switch,
barra de resposta para EGI, single clock, AV device. Esse equipamento foi obtido com a
aprovação do projeto de pesquisa “Potenciais evocados relacionados a eventos no
Autismo, na Síndrome de Prader-Willi e na Dislexia – experimentos com EEG de alta
densidade” sob liderança do Prof. Dr. Paulo Sergio Boggio junto ao Fundo Mackenzie
de Pesquisa. Valor total: USD$110.000,00.
6. PROCEDIMENTOS
Os participantes que contemplaram todos os critérios de inclusão e exclusão
descritos anteriormente foram convidados a participar do estudo. As crianças
compareceram ao Laboratório de Neurociência Cognitiva e Social acompanhada de seus
52
responsáveis em um dia previamente agendado. Foram explicados os objetivos,
métodos, benefícios e riscos potenciais do estudo. Assim, o termo de consentimento
livre e esclarecido foi preenchido e assinado pelo participante e/ou responsável legal.
Os participantes realizaram o teste de memória em sala especialmente preparada
para o equipamento de EEG. Durante toda a coleta de dados do teste de memória foi
realizado o registro da atividade eletroencefalográfica.
O teste foi apresentado com o uso do software E-Prime e o registro do EEG pelo
software NetSation. Os dois programas já estavam funcionando sincronizados de
maneira que todos os dados obtidos na testagem cognitiva são automaticamente
sobrepostos ao traçado do EEG.
Inicialmente, os participantes foram levados para a sala preparada para a
realização dos procedimentos, com iluminação adequada e sem interferência de ruídos e
circulação de pessoas. Após explicação sobre o procedimento foi realizada a colocação
da rede de eletrodos (touca) no voluntário de pesquisa. Para isso, primeiramente mediuse o perímetro cefálico do sujeito para definir qual é o tamanho de rede de eletrodos
mais adequado. Em seguida, a rede de eletrodos foi mantida imersa por 5 minutos em
bacia contendo 1L água morna, 11g de cloreto de potássio e 5 ml de shampoo neutro.
Durante esse período, foi localizado o vértex do participante para ser utilizado como
referência para a colocação da rede de eletrodos na cabeça do voluntário de pesquisa
que é realizada após o término dos 5 minutos.
Após colocação da rede de eletrodos, foi verificado com o uso do programa
NetStation os eletrodos (dentre os 128 existentes) que apresentaram alta impedância.
Nestes casos, foi adicionado diretamente na esponja que compõem o eletrodo um pouco
mais da solução descrita anteriormente com o uso de uma pipeta plástica e também
verificado o contato do eletrodo com o escalpe. O tempo de posicionamento e
verificação de eletrodos variou de 10 a 15 minutos.
O participante manteve-se sentado em uma poltrona confortável a 110 cm do
monitor do computador, onde foi explicada a primeira vez a tarefa.
As crianças/adolescentes foram instruídas na fase de estudo a memorizar as
palavras apresentadas no monitor do computador e que em alguns momentos entre as
palavras poderia aparecer uma imagem (rosto sorridente – “smile”). Os participantes
foram instruídos a contar mentalmente o número de imagens que poderia aparecer e
após o término da fase deveriam falar o número que se lembravam.
53
As palavras foram apresentadas, como já descrito anteriormente, em 6 blocos
compostos por 4 listas cada, sendo cada lista composta por 7 palavras. Durante toda a
fase de memorização foi apresentado primeiramente um ponto de fixação exposto na
tela por 1000 milissegundos, seguido por uma tela em branco exposta por 500
milissegundos, e em seguida a apresentação de cada palavra por 1000 milissegundos,
sendo que de forma randomizada a imagem do smile apareceu por 1000 ms. O desenho
experimental está ilustrado na Figura 5.
Após a fase de memorização, foi dado um intervalo de 3 minutos para repouso e
em seguida deu-se início o fase de reconhecimento. Nesta fase, foi explicado ao
participante assim que terminasse de ler a palavra apresentada deveria apertar o botão
verde se julgasse que a palavra havia sido apresentada na fase de memorização e que
apertaria o botão vermelho, caso julgasse não ter lido a palavra anteriormente.
As palavras foram apresentadas em janelas de 2000 ms com intervalo entre elas
de 500 ms seguido por um ponto de fixação exposto por 1000 ms. Após estas
instruções, a fase de reconhecimento foi iniciada conjuntamente com a coleta da
atividade eletroencefalográfica. Assim como explicado anteriormente, essa fase também
foi dividida em 6 blocos, cada um contendo 28 palavras que podem ser classificadas
como Acerto, erros por associação semântica (reconhecer que a fala-pista apareceu,
mesmo não tendo sido mostrada anteriormente) e erros por distratores (reconhecer que a
palavra apareceu, mesmo ela não tendo sido mostrada, além de não ter relação
semântica com as demais).
54
Figura 5: Desenho do Experimento. Fase de memorização e fase de reconhecimento,
respectivamente.
6.1 ASPECTOS ÉTICOS
Os procedimentos realizados no estudo foram conduzidos de acordo com as
normas estabelecidas pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana
Mackenzie que aprovou o presente estudo registrado junto no SISNEP (número CAAE 0116.0.272.000-11 (Sistema Nacional de Informações sobre Ética em Pesquisa
envolvendo Seres Humanos). O presente estudo também adotou as recomendações
estabelecidas na Declaração de Helsinki (1964), conforme emenda em Tóquio (1975),
Veneza (1983) e Hong-Kong (1989).
Todos os participantes e responsáveis tiveram pleno conhecimento dos objetivos
e métodos do experimento e deram seu consentimento por escrito, assim como foram
devidamente avisados de que todas as informações fornecidas são estritamente sigilosas.
7. ANÁLISE ESTATÍSTICA DOS RESULTADOS
Os dados obtidos pelo teste foram classificados em Acertos, podendo ser por : i)
Reconhecimento correto de palavras-alvo, ii) acerto por rejeição das falsas-pistas, iii)
acerto por rejeição do distrator. Os erros foram classificados em erros por falsa pista e
erro por distratores.
Esses fatores foram utilizados para gerar a segmentação do traçado de EEG
coletado. Além disso, foi analisado o tempo de reação para a emissão de cada tipo de
Acerto.
Com relação ao traçado do EEG coletado, foi primeiramente realizada uma fase
de pré-processamento que contém: a) filtro de 1Hz (High Pass Filtering), b) filtro de
30Hz (Low Pass Filtering), c) segmentação do traçado considerando os 200 ms prévios
a apresentação de cada palavra e os 1000 ms posteriores, d) detecção de artefatos.
Foram considerados artefatos e posteriormente removidos i) os canais que apresentaram
variação Max-Min maior que 200µV (com média de movimentação de 80ms), ii) piscar
sendo o valor entre Max-Min de 140µ em uma janela de tempo de 640 ms. Foram
considerados como canais ruins aqueles com mais de 20% de artefatos. Já para
segmentos ruins foram considerados segmentos ruins aqueles com mais de 10 canais
ruins ou piscagem.
55
Após a fase de pré-processamento, foi realizada a fase pós-processamento.
Nessa fase, inclui-se: a) substituição dos canais ruins, b) média dos potenciais obtidos
na segmentação considerando os fatores descritos anteriormente (foi criado arquivo de
dados contendo todos os potenciais evocados incorporando os dados de todos os
sujeitos), c) correção pela linha de base, sendo esta o traçado obtido nas porções de 200
ms prévios à apresentação dos estímulos.
A partir dos dados obtidos na fase de pós-processamento, os dados passaram por
análise estatística no pacote Statistica 8. Foram realizadas dois tipos de ANOVA para
medidas repetidas. A primeira considerando como fatores: Tipo de Resposta (Acerto por
reconhecimento de palavras-alvo (RCPA), Acerto por rejeição da falsa-pista (ARFP),
Acerto por rejeição do distrator (ARD), Hemisférios (direito e esquerdo) e interação
Tipo de Resposta*Hemisfério. A segunda considerou como fatores: erros por falsa-pista
(EFP) e Reconhecimento correto da palavra-alvo (RCPA). Análise post hoc foi
realizada quando encontrados dados significativos. Para todos os testes, foi estabelecido
um erro α=5%.
8. RESULTADOS
8.1 Resultados Comportamentais do Grupo com desenvolvimento típico
Caracterização da amostra
Foi recebido um total de 10 crianças com desenvolvimento típico para
participação no estudo. Todas cumpriam os critérios de inclusão e de exclusão
apresentados anteriormente. No entanto, os dados de dois participantes foram excluídos
da amostra em função de seus dados eletrofisiológicos apresentarem nível elevado de
ruído devido à excesso de movimentos oculares e corporais, assim como piscagem.
Com isso, a amostra final de participantes com desenvolvimento típico foi de 8
crianças/adolescentes, sendo todas do sexo masculino, destras e com idade média de
10,7 ±2,5 (média±desvio-padrão).
Em relação ao valor encontrado para o QI total estimado, todos participantes
obtiveram valor acima de 75 sendo a média de 126±15. No teste de Leitura Silenciosa
de Palavras e Pseudo-palavras os participantes obtiveram média de 68 ±2. Por fim, no
subteste Compreensão de Instruções, o grupo obteve média de 26,5±2.
56
Teste de memorização e reconhecimento
Com relação ao total de acertos na tarefa, ANOVA para medidas repetidas
considerando com variável dependente o percentual de acertos e como fator o Tipo de
Acerto (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD) foi realizada. Foi observada diferença
significativa com relação ao tipo de acerto (F2,14=13,8; p=0,0005, ηp2=0,7). Em função
disto, foi realizada análise post hoc utilizando teste de Fischer LSD que mostrou que o
acerto por rejeição de distratores é significativamente diferente em comparação ao
acerto por reconhecimento de palavras-alvo (p=0,0005) e ao acerto por rejeição da
falsa-pista (p=0,0004). Tal efeito se deve em função de um aumento expressivo no
número de acertos por rejeição de distratores como pode ser observado na Figura 6.
Figura 6: Gráfico relativo ao percentual de acerto no grupo com desenvolvimento típico.
Em relação ao tempo de reação foi realizada ANOVA para medidas repetidas
considerando como variável dependente o tempo de reação e como fator o Acerto (3
níveis: (RCPA, RFP e RD). Foi observada diferença significativa entre os tipos de
acerto (F2,14=4,5, p=0,03, ηp2=0,4). Análise post hoc com Fischer LSD revelou menor
tempo de reação para acerto por reconhecimento de palavras-alvo quando comparado a
acerto por rejeição de falsas-pistas (p=0,01). Foi também observada uma efeito marginal
57
(p=0,05) para menor tempo de reação para acerto por reconhecimento de palavras-alvo
em relação ao acerto por rejeição de distrator como pode ser observado na Figura 7.
Figura 7: Gráfico relativo ao tempo de reação para cada tipo de acerto no grupo
com desenvolvimento típico.
8.2 Componentes eletrofisiológicos do grupo com desenvolvimento típico
8.2.1 Componente P1
Com base na literatura e na observação deste componente na grande média, no
presente estudo foi definido para análise do componente P1 a janela de tempo de 70ms a
160 ms após apresentação do estímulo. Para compor a análise foram selecionados os
eletrodos occipitais, divididos em duas subáreas:
I – Eletrodos occipitais à esquerda: 71, 70, 74;
II – Eletrodos occipitais à direita: 76, 83, 82.
A Figura 8 apresenta os eletrodos selecionados para análise representados no
mapa da rede de eletrodos
58
Figura 8: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente
P1 durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e
distratores.
As análises abaixo se referem aos acertos obtidos pelos participantes, nas
condições; a) acerto para palavras-alvo (RCPA), ou seja, responderam corretamente que
determinadas palavras estavam presente na fase de memorização, b) rejeição correta das
falsas-pistas (RFP), ou seja, palavras semanticamente relacionadas e que não estavam
presente na fase de memorização; c) rejeição correta de distratores (ARD), caracterizado
pelo acerto ao dizer que a palavra apresentada não estava presente na lista de
memorização.
Foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável
dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores o Tipo de resposta
(3 níveis: RCPA, RFP, ARD) , o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a
interação Tipo de Resposta*Hemisfério.
59
ANOVA revelou efeito significativo para Tipo de resposta (F2,14= 8,8; p=0,003;
ηp2= 0,6). Foi realizada análise post hoc utilizando o teste de Fischer LSD que revelou
efeito significativo entre o componente P1 para acerto por rejeição da falsa-pista quando
comparado aos acertos por reconhecimento da palavra-alvo e pela rejeição correta de
distratores (p=0,001 e p=0,02, respectivamente). A figura 9 revela que tal diferença é
devido ao fato do componente P1 relacionado à rejeição da falsa pista ser de menor
amplitude com relação aos demais. Não foram observados efeitos para os fatores
Hemisfério (F1,7= 0,02; p=0,9; ηp2= 0,002) e para a interação Tipo de
Resposta*Hemisfério (F2,140,4; p=0,7; ηp2= 0,01).
60
Figura 9: Diferença na amplitude de P1 em relação ao tipo de acerto.
61
P1 durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao
reconhecimento correto das palavras-alvo.
As análises abaixo referem-se ao falso reconhecimento (classificado como erros
por falsas-pistas (EFP), ou seja, quando os participantes responderam que a falsa-pista
havia sido apresentada na fase de memorização) em comparação ao reconhecimento
correto das palavras-alvo (RCPA), como mencionado anteriormente, caracterizado pelo
acerto por identificar que as palavras estavam presentes na fase de memorização.
ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a
média da amplitude do componente P1 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis:
Acerto por reconhecimento das palavras-alvo (RCPA) e erro por falsa-pista (EFP),
Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério.
Foi encontrada diferença significativa para o fator Tipo de Resposta (F1,7= 5,5;
p=0,05; ηp2= 0,4). A Figura abaixo revela que o componente P1 apresenta maior
amplitude para acertos quando comparado a erros por falsa-pista. Com relação ao fator
hemisfério, também foi observada diferença significativa (F1,7= 6,2; p=0,04; ηp2= 0,5).
Já para interação Tipo de Resposta*Hemisfério não foi encontrada diferença
significativa (F1,7 = 1,1; p=0,3; ηp2= 0,1).
62
Figura 10: Diferença na amplitude de P1 em função do tipo de resposta.
63
8.2.2 Componente P2
Como descrito na literatura e com base observação deste componente na grande
média, no presente estudo foi definida uma janela de tempo entre 150ms a 280ms após a
apresentação do estímulo. Os eletrodos selecionados pertencem à região frontal e foram
divididos em 2 subáreas:
I)
Eletrodos frontais a esquerda: 23,24,20,12,18,19,22,28,26,27;
II)
Eletrodos frontais a direita: 9,2,123,124,3,117,118,5,4,10.
A figura 11 apresenta o mapa representativo da rede de eletrodos e os eletrodos
selecionados para análise do componente P3.
Figura 11: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente P2.
64
P2 durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e
distratores.
Realizou-se uma ANOVA para medidas repetidas considerando como variável
dependente a média da amplitude do componente P2 e como fatores o Tipo de resposta
(3 níveis: RCPA, ARFP, ARD), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a
interação Tipo de Resposta*Hemisfério.
Análise revelou que não houve diferença significativa entre o fator Tipo de
Resposta (F2,14= 1,9; p=0,2; ηp2= 0,2) bem como para o fator Hemisfério (F1,7= 0,1;
p=0,7; ηp2= 0,01). Porém, para a interação Tipo*Hemisfério foi observado efeito
significativo (F2,14= 3,8; p=0,04; ηp2= 0,3). Análise post hoc utilizando teste de Fischer
LSD revelou diferença que o componente P2 no hemisfério direito relacionado à rejeição
correta da falsa-pista é significativamente maior em comparação a acertos por
reconhecimento correto da palavra-alvo (p=0,01), acertos por rejeição correta dos
distratores (p=0,01) e rejeição correta da falsa pista em hemisfério esquerdo (p=0,04).
Pela Figura 12, pode-se verificar que o componente P2 possui maior amplitude em
hemisfério direito na situação de reconhecimento correto da falsa pista em comparação as
demais condições.
65
Figura 12: Amplitude do componente P2 em relação ao tipo de acerto.
66
P2 durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao
reconhecimento correto das palavras-alvo.
ANOVA para medidas repetidas foi realizada considerando como variável
dependente a média da amplitude do componente P2 e como fatores, o Tipo de Resposta
(2 níveis: RCPA e EFP), Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de
Resposta*Hemisfério. Não foram encontradas diferenças significativas em nenhum dos
fatores (F1,7= 3,1; p=0,1; ηp2= 0,3; F1,7= 0,001; p=0,9; ηp2= 0,001, e F1,7= 0,06; p=0,8;
ηp2= 0,008, respectivamente).
8.2.3 Componente Old/New
Com base na literatura, pode-se verificar que o componente old/new é
tipicamente observado em eletrodos da região parietal e em janelas de tempo que
variam entre 400ms -800ms. Nesse estudo, com base na literatura e na observação do
componente old/new na grande média foi definido como janela de tempo para análise o
período de 500ms a 1000ms após apresentação do estímulo. Foram selecionados
eletrodos da região parietal divididos em duas subáreas:
I)
Eletrodos parietais a direita: 52,59,53,60,66,61,67,71;
II)
Eletrodos parietais a esquerda: 78,77,76,86,95,84,92,91.
A Figura 13 apresenta os eletrodos selecionados para análise do componente
old/new.
67
Figura 13: Mapa dos eletrodos selecionados para análise do componente old/new.
Old/New durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e
distratores.
Para análise desse componente, realizou-se ANOVA para medidas repetidas
considerando como fatores, o Tipo de Resposta (3 níveis: RCPA, ARFP, ARD), o
Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério.
Foi encontrado efeito significativo para o fator tipo de resposta (F2,14= 6,5;
p=0,009; ηp2= 0,5). Análise post hoc com teste Fischer LSD mostrou diferença
significativa entre o componente old/new para Acerto quando comparado a rejeição da
falsa-pista e acerto por rejeição de distratores (p=0,004 e p=0,02, respectivamente).
Como pode ser observado na Figura 14, o componente old/new relacionado aos acertos
apresenta maior amplitude quando comparado à rejeição da falsa-pista e acerto por
rejeição de distratores.
Não foi observada diferença significativa para o fator
68
Hemisfério (F1,7= 1,9; p=0,2; ηp2= 2,0) e interação Tipo*Hemisfério (F2,14= 1,2; p=0,3;
ηp2= 0,1).
Figura 14: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de acerto.
Old/New durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao
reconhecimento correto das palavras-alvo
Ainda em relação ao componente old/new, ANOVA para medidas repetidas foi
realizada considerando como variável dependente a média da amplitude do componente
69
P2 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), Hemisfério (2 níveis:
direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério.
ANOVA revelou efeito significativo apenas para a interação Tipo*Hemisfério
(F1,7= 7,1; p=0,03; ηp2= 0,5). Após análise post hoc pode ser observado diferença
significativa entre o componente old/new para erros por falsa pista no hemisfério direito
quando comparado aos erros por falsa-pista no hemisfério esquerdo (p=0,002) e aos
acertos por reconhecimento da palavra alvo em ambos os hemisférios (direito: p=0,005
e esquerdo: p=0,002).
Na figura abaixo 15 é possível visualizar que o componente old/new no erro por
falsa-pista apresenta maior amplitude no hemisfério direito em relação aos outros tipos
de resposta.
70
Figura 15: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de resposta.
71
8.3 Resultados Comportamentais Grupo com Autismo
Caracterização da Amostra
Foram encaminhados para participação no estudo, um total de 14 voluntários
com diagnóstico de autismo. Destes participantes, três não foram incluídos no estudo,
pois não obtiveram pontuação mínima segundo critérios de inclusão para os testes de
Compreensão de Instruções e Teste de Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudo-palavras.
Dos 11 participantes restantes, outras quatro crianças/adolescentes foram excluídas da
amostra em função de seus dados eletrofisiológicos apresentarem nível elevado de ruído
devido à excesso de movimentos oculares e corporais, assim como piscagem. Com isso,
a amostra final de pacientes com autismo incluídos no estudo e na análise foi de 7
crianças/adolescentes, sendo todas do sexo masculino, destras e com idade média de 15
±3,6 (média±desvio-padrão).
Em relação aos resultados do QI total estimado, todos os participantes
apresentaram QI superior a 75, sendo que a média foi de 100±15. Os participantes com
idade acima de 16 anos, não tiveram que ser avaliados em relação ao QI estimado
através da Escala de Inteligência Wechsler para adultos (WAIS III), uma vez que já
haviam passado por processo de avaliação neuropsicológica. Já com relação ao teste de
Leitura Silenciosa de Palavras e Pseudo-palavras, os participantes obtiveram média de
63 ±5. Por fim, no subteste Compreensão de Instruções, o grupo com autismo obteve
média de 26±2.
Teste de Memorização e Reconhecimento (DRM)
Com relação ao total de acertos na tarefa, ANOVA para medidas repetidas
considerando com variável dependente o percentual de acertos e como fator o Tipo de
Acerto (3 níveis: reconhecimento correto das palavras-alvo (RCPA), Acerto por
Rejeição falsa-pista (RFP) e Acerto por Rejeição de distrator (RD) foi realizada. Não foi
observada diferença significativa com relação ao tipo de acerto (F2,12=1,0, p=0,4,
ηp2=0,1). A Figura 16 apresenta os valores referentes ao percentual de acertos na tarefa
considerando o tipo de acerto.
72
Figura 16: Gráfico relativo ao percentual de acerto no grupo com autismo.
Para analisar o tempo de reação foi realizada ANOVA para medidas repetidas
considerando como variável dependente o tempo de reação e como fator o Tipo de
Acerto (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD). Não foi observada diferença significativa no
Tempo de Reação entre os tipos de acerto (F2,12=1,9, p=0,2, ηp2=0,2). A Figura 17
apresenta os valores referentes ao tempo de reação na tarefa considerando o tipo de
acerto.
73
Figura 17: Gráfico relativo ao tempo de reação para cada tipo de acerto no grupo
com autismo.
8.4 Componentes Eletrofisiológicos do grupo com autismo
Assim como no grupo com desenvolvimento típico, os componentes P1, P2 e
old/new foram analisados considerando a mesma janela de tempo e eletrodos descritos
anteriormente.
8.4.1 Componente P1
P1 durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e
distratores.
Foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como variável
dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores o Tipo de resposta
(3 níveis: RCPA, ARFP e ARD), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a
interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Foi observado efeito significativo para tipo de
resposta (F2,12= 7,8; p=0,007; ηp2= 0,6). Foi realizada análise post hoc utilizando o teste
de Fischer LSD que revelou efeito significativo entre o componente P1 para acerto por
rejeição da falsa-pista quando comparado aos acertos por reconhecimento da palavraalvo e pela rejeição correta de distratores (p=0,004 e p=0,006, respectivamente). A
74
figura 18 revela que tal diferença é devido ao fato do componente P1 relacionado à
rejeição da falsa pista ser de menor amplitude com relação aos demais. Não foram
observados efeitos significativos com relação aos fatores Hemisfério (F1,6= 0,6; p=0,5;
ηp2= 0,09) e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F2,12= 1,8; p=0,2; ηp2= 0,2).
75
Figura 18: Amplitude do componente P1 em relação ao tipo de acerto no grupo com
autismo.
76
P1 durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao
reconhecimento correto das palavras-alvo.
Além disso, foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como
variável dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores, o Tipo de
Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a
interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Não foram observadas diferenças significativas
em nenhum dos fatores, Tipo de Resposta (F1,6= 0,5; p=0,5; ηp2= 0,07), Hemisfério
(F1,6= 0,06; p=0,8; ηp2= 0,01) e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F1,6=0,4;
p=0,6; ηp2= 0,05).
Além disso, foi realizada ANOVA para medidas repetidas considerando como
variável dependente a média da amplitude do componente P1 e como fatores, o Tipo de
Resposta (2 níveis: RCPA e EFP), Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a
interação Tipo de Resposta*Hemisfério. Não foram observadas diferenças significativas
em nenhum dos fatores, Tipo de Resposta (F1,6= 0,5; p=0,5; ηp2= 0,07), Hemisfério
(F1,6= 0,06; p=0,8; ηp2= 0,01) e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F1,6=0,4;
p=0,6; ηp2= 0,05).
77
Figura 19: Amplitude do componente P1 em relação ao tipo de resposta no
grupo com autismo.
78
8.4.2 Componente P2
P2 durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e
distratores.
Para análise desse componente, foi realizada ANOVA para medidas repetidas
considerando como variável dependente a média da amplitude do componente P2 e como
fatores o Tipo de resposta (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD), o Hemisfério (2 níveis:
direito ou esquerdo) e a interação Tipo de Resposta*Hemisfério.
Não foi observado efeito significativo para tipo de resposta (F2,12= 0,9; p=0,5;
2
ηp = 0,1), Hemisfério (F1,6= 0,7; p=0,4; ηp2= 0,1) e interação Tipo de
Resposta*Hemisfério (F2,12= 0,06; p=0,9; ηp2= 0,01).
79
Figura 20. Amplitude do componente P2 em relação ao tipo de acerto.
80
P2 durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao
reconhecimento correto das palavras-alvo
ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a
média da amplitude do componente P2 e como fatores, o Tipo de Resposta (2 níveis:
RCPA e EFP), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo de
Resposta*Hemisfério. Assim como na análise anterior, não foram observadas diferenças
significativas para o fator tipo de resposta (F1,6= 0,6; p=0,5; ηp2= 0,09) e para os fatores
Hemisférios e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F1,6= 2,8; p=0,1; ηp2= 0,3 e F1,6=
2,0; p=0,2; ηp2= 0,2, respectivamente).
8.4.3 Componente old/new effect
Old/New durante reconhecimento correto das palavras-alvo, falsas-pistas e
distratores.
Realizou-se ANOVA para medidas repetidas considerando como variável
dependente a média da amplitude do componente old/new e como fatores o Tipo de
resposta (3 níveis: RCPA, ARFP e ARD), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a
interação Tipo de Resposta*Hemisfério.
A partir da análise foi encontrado efeito significativo para o fator Tipo de resposta
(F2,12= 4,47; p=0,03; ηp2=0,4). Foi realizada análise post hoc utilizando o teste de
Fischer LSD que revelou efeito significativo entre o componente old/new para acerto
por reconhecimento da palavra alvo quando comparado aos acertos por rejeição da fala
pista e rejeição correta de distratores (p=0,04 e p=0,02, respectivamente). A figura 21
revela que tal diferença é devido ao fato do componente old/new relacionado ao
reconhecimento correto da palavra alvo ser de maior amplitude com relação aos demais.
Não foram observados efeitos significativos com relação aos fatores Hemisfério (F1,6=
0,5; p=0,5; ηp2= 0,08) e para interação Tipo*Hemisfério (F2,12= 2,3; p=0,1; ηp2= 0,3).
81
Figura 21: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de acerto no
grupo com autismo.
82
Old/New durante falso reconhecimento das falsas-pistas em comparação ao
reconhecimento correto das palavras-alvo.
ANOVA para medidas repetidas considerando como variável dependente a
média da amplitude do componente old/new e como fatores, o Tipo de Resposta (2
níveis: RCPA e EFP), o Hemisfério (2 níveis: direito ou esquerdo) e a interação Tipo
de Resposta*Hemisfério.
Anova revelou efeito significativo para a interação Tipo*Hemisfério (F1,6= 7,5;
p=0,03; ηp2= 0,5). No entanto, análise post hoc não revelou efeito significativo na
comparação entre os pares. A Figura 22 apresenta estes dados. Além disso, não foram
observadas diferenças significativas para o fator tipo de resposta (F1,6= 0,6; p=0,5; ηp2=
0,09) e para os fatores Hemisférios e interação Tipo de Resposta*Hemisfério (F1,6= 2,8;
p=0,1; ηp2= 0,3 e F1,6= 2,0; p=0,2; ηp2= 0,2, respectivamente).
83
Figura 22: Amplitude do componente old/new em relação ao tipo de resposta no
grupo com autismo.
84
9. DISCUSSÃO
Este estudo traz como principais achados a confirmação de dados prévios da
literatura de marcadores eletrofisiológicos em tarefa de reconhecimento de situação
previamente aprendida versus informações novas com ou sem relação semântica. Em
particular, replicamos o efeito conhecido como Parietal Old/new Effect. Além disso,
estendemos os efeitos descritos na literatura na medida em que encontramos dois
componentes precoces, P1 e P2, que diferenciam por volta de 100 e 200 millisegundos,
respectivamente, informações novas com associação semântica tanto daquelas
previamente apresentadas (palavras-alvo) quanto de distratores novos. Somado a isso,
este estudo confirma dados da literatura com relação ao desempenho comportamental de
pessoas com desenvolvimento típico em tarefa de reconhecimento com falsa-pista tanto
para o total de acertos quanto para o tempo de Reação. Com relação ao total de acertos,
os voluntários com desenvolvimento típico apresentaram maior taxa de acertos por
reconhecimento correto das palavras-alvo. Em relação a taxa de erros, apresentaram
maior número de erros por associação semântica em comparação a erros por distratores
sem associação. Com relação ao tempo de reação, esses mesmos voluntários foram mais
rápidos no reconhecimento correto de palavras-alvo em comparação ao reconhecimento
correto de itens novos (sejam eles distratores não relacionados ou falsas-pistas).
Um dos aspectos mais relevantes é que o presente estudo com seu delineamento
metodológico estende pela primeira vez esses dados a uma população clínica –
pacientes com Autismo. De forma interessante, verificamos que o marcador
eletrofisiológico subjacente ao reconhecimento de item previamente aprendido versus
informações novas com ou sem relação semântica (Parietal Old/new Effect) também
está presente nesta população. Além disso, também verificamos que o componente
precoce P1 discrimina informações novas com associação semântica tanto daquelas
previamente apresentadas quanto de distratores novos nesses pacientes; já o componente
P2 não se manifestou nesse grupo da forma como observado no grupo de
desenvolvimento típico. Apesar dessa base eletrofisiológica similar entre os grupos que
discrimina o tipo de informação processado, o desempenho comportamental do grupo
com Autismo não seguiu o mesmo padrão do grupo com desenvolvimento típico. Isto é,
não foi observado aumento na taxa de acerto dos distratores em relação à falsa-pista
assim como não verificado menor tempo de reação para acertos de palavras alvo.
Nesse sentido, não só não encontramos dados comportamentais semelhantes aos
do grupo com desenvolvimento típico quanto contradizemos alguns modelos prévios da
85
literatura que sugerem que pacientes com autismo apresentam poucos erros por falsapista uma vez que se beneficiariam de informações mais literais e estariam menos
expostos aos erros oriundos de associações semânticas. Esses dados são inovadores,
contradizem algumas de nossas hipóteses iniciais e ampliam o conhecimento dos
marcadores eletrofisiológicos da memória.
Estudos com medida eletrofisiológica utilizando tarefas de reconhecimento de
itens previamente estudados versus itens novos tem revelado um componente já
considerado clássico denominado parietal old/new effect. A descrição desse
componente já completa mais de 30 anos (SANQUIST e cols., 1980; WARREN, 1980).
Esse componente pode ser observado em torno de 400 a 800 milissegundos em
eletrodos posicionados em região parietal, com maior amplitude para reconhecimento
verdadeiro, ou seja, reconhecimento das palavras já estudadas (palavras-alvo) em
relação à rejeição correta de palavras associadas semanticamente (falsas-pistas) ou
distratores (palavras novas sem relação semântica) (NESSLER e cols., 2001, GENG e
cols., 2007).
No presente estudo, foi encontrado o Parietal Old/new Effect tanto para o grupo
de desenvolvimento típico quanto para o grupo de Autismo. O componente teve maior
amplitude para reconhecimento verdadeiro de itens previamente estudados em
comparação a reconhecimento dos itens novos. A observação desse efeito no grupo
típico soma-se a inúmeros estudos prévios e evidencia esse componente como um
importante marcador de detecção de itens novos versus itens antigos. A observação de
que isso se encontra de forma similar nos pacientes com autismo desafia hipóteses
prévias e sinaliza que esses pacientes também possuem sistemas de identificação
eletrofisiológico de itens novos versus antigos, revelando que, pelo menos nos casos de
pacientes com alto funcionamento, o sistema de memorização e reconhecimento parece
preservado.
Em tarefas que englobam o paradigma DRM e a classificação das respostas por
meio do paradigma lembrar/saber (remember/know) (TULVING, 1985), o efeito
parietal old/new é amplo quando os indivíduos reconhecem os itens por meio do
julgamento “lembrar” do que através do julgamento “saber”. Em nosso estudo, apesar
de não existir a classificação dos itens, podemos dizer que grande parte dos itens
receberiam a classificação “lembro”, uma vez que observou-se maior reconhecimento
verdadeiro em comparação ao reconhecimento falso.
86
No entanto, os resultados comportamentais entre os grupos não seguiram a
mesma direção. O grupo de desenvolvimento típico apresentou maior taxa de acertos
para a rejeição de distratores (ARD) em comparação a acertos por rejeição da falsa-pista
(ARFP), assim como foram susceptíveis as ilusões de memórias promovidas pela tarefa
DRM. Este resultado já era esperado e encontra-se alinhado com uma ampla literatura
prévia (STEIN e NEUFALD, 2001; PERGHER e STEIN, 2001; CARNEIRO,
FERNANDEZ e DÍAS, 2009; GALLO, 2010).
Com relação aos pacientes com Autismo, uma das hipóteses iniciais desse
estudo era a de que estes seriam menos susceptíveis a ilusões de memória,
apresentariam, ao contrário do grupo controle, uma maior taxa de acertos nos itens de
falsa-pista. De acordo com a literatura crianças com autismo parecem ter um
processamento perceptual que predomina sobre o processamento semântico
(HERMELIN
&
O’CONNOR,
1970;
MOTTRON
&
BURACK,
2001,
REFERENCIAS). A esse funcionamento é justificado o aumento da acurácia para
memória verdadeira, o que levaria a indivíduos com autismo serem menos susceptíveis
a ilusões de memória.
Beversdorf e colaboradores (2000) realizaram um estudo comparando o
reconhecimento verdadeiro e reconhecimento falso em adultos com desenvolvimento
típico e adultos com autismo de alto funcionamento em tarefa adaptada de Roediger e
McDermott. Seus resultados revelaram que os adultos com autismo de alto
funcionamento
discriminaram
as
falsas-pistas
melhor
do
que
adultos
com
desenvolvimento típico, concluindo assim que os autistas são menos susceptíveis a
ilusões de memória.
Em nosso caso esses resultados não foram replicados, uma vez que observamos
que não houve diferenças entre as taxas de acertos, erros por falsa-pista e erros por
distratores entre os grupos. Contrariando a literatura, os pacientes desse estudo também
não apresentaram melhor reconhecimento de distratores sem relação semântica. Nesse
sentido, este experimento contradiz a literatura a respeito de um padrão de
processamento mais literal da informação nesses pacientes. É interessante notar que
outros estudos também desafiam este tipo de efeito.
Resultado controverso ao de Beversdorf foi encontrado por Bowler e
colaboradores (2000). Ao testar a susceptibilidade para ilusões de memórias em 10
pacientes com Síndrome de Asperger e adultos com desenvolvimento típico,
submetendo os participantes a teste adaptado de Roediger e McDermott, juntamente ao
87
procedimento de julgamento “lembrar/saber” (paradigma remember/know) (TULVING,
1985), os autores observaram que reconhecimento verdadeiro e falso não diferiu entre
os grupos. Entretanto, a proporção de itens associados recordados foram menores
comparado ao grupo controle, indicando assim que as relações semânticas estabelecidas
foram menos nos pacientes com Asperger. Apesar do fato de ocorrerem em menor
proporção, esses pacientes estão sujeitos a cometer erros de memórias como pessoas
com desenvolvimento típico.
Em estudo mais recente Kamio e Toichi (2007) compararam o desempenho de
13 pacientes com alto funcionamento, 15 pacientes com Síndrome de Asperger e 15
voluntários com desenvolvimento típico na realização de uma tarefa que avalia a
produção de falsas memórias. A tarefa consistiu na apresentação auditiva de sentenças.
Posteriormente, os participantes deveriam julgar se já tinham ou não ouvido as
sentenças apresentadas. Os resultados mostraram pacientes com autismo de alto
funcionamento e com Asperger são susceptíveis a ilusões de memória, uma vez que o
falso reconhecimento dos itens semanticamente relacionados foi semelhante nos três
grupos. Porém, foi observado que em alguns aspectos, as ilusões de memória foram
reduzidas no grupo com alto funcionamento quando comparados com pacientes com
Asperger e grupo controle, que por sua vez exibiram taxas semelhantes de falso
reconhecimento de itens associados. Os autores sugerem dessa forma, que pacientes
com alto funcionamento apresentam dificuldades para estabelecer relações semânticas.
Além disso, justificam que essa menor susceptibilidade a ilusões de memória podem ser
derivadas da compreensão verbal limitada desses pacientes bem como uma dificuldade
global de memorização. Assim, apesar de pacientes com autismo de auto funcionamento
conseguirem processar informação semântica simples, sua baixa capacidade na
formação de esquemas predomina (ver capítulo 1.3.2), fazendo-os de acordo com esse
estudo serem menos susceptíveis ao falso reconhecimento.
Os achados do estudo de Kamio e Toichi (2007) no que se refere aos pacientes
com autismo de alto funcionamento vão de encontro com os resultados observados por
Beversdorf e colaboradores (2000) e contrários aos resultados do presente estudo.
Possíveis diferenças que justifiquem a diversidade de resultados encontrados
podem estar ligadas a questões metodológicas. Variáveis como: i) o tipo de
apresentação das palavras (visual ou auditiva); ii) tempo de apresentação dos estímulos
(como reportado por Gallo e Roediger (2002) pode interferir na evocação de falsa
recordação); iii) tipo de tarefa – evocação ou reconhecimento;
iv) características
88
específicas da amostra, tais como; idade dos participantes, nível intelectual e critérios
diagnósticos (para revisão ver BARBOSA, ÁVILA, FEIX E GRASSI-OLIVEIRA,
2010) podem influenciar os resultados.
Dessa forma, a hipótese levantada de que indivíduos com autismo parecem ser
menos susceptíveis a ilusões de memória não é consistente, levando-nos a melhor
investigação desses achados uma vez que modelos de intervenção vêm sendo
estruturados com base na aceitação de que esses pacientes apresentam falhas em suas
redes semânticas de informação.
Como descrito anteriormente, no presente estudo, um fato curioso foi
verificarmos que, a despeito de uma diferença no padrão comportamental, tanto os
pacientes com autismo quanto o grupo típico apresentaram componente old/new
característico de tarefas de recordação e reconhecimento verdadeiro e falso. Nesse
sentido, outros mecanismos devem ser investigados para explicar um processamento
eletrofisiológico que sinaliza para uma discriminação correta entre itens antigos e
novos, sejam eles associados ou não semanticamente e um comportamento que não o
faz a contento.
Além desse componente, em nosso estudo observamos um componente precoce
que discriminou itens por falsa-pista dos demais. Mais especificamente, verificamos a
presença de um componente P1. Este é um componente occipital que tem pico em torno
de 100 milissegundos apresentou menor amplitude para itens com falsa-pista em
comparação aos demais. Tal achado não encontra respaldo na literatura prévia sobre
falsa-memória. O componente P1 em estudos com palavras vem se mostrando sensível a
aspectos como a forma como os estímulos são dispostos na tela (ROSAZZA e cols.,
2009). Em nosso caso, não existiu manipulação na forma como os estímulos foram
apresentados, mas sim de sua apresentação anteriormente ou não. Nesse sentido, estudo
de Segalowitz e colaboradores (2008) revelou que em tarefas com priming de palavras,
o componente P1 aparece sensível aos efeitos de lexicalidade semântica. Dessa forma,
podemos considerar a maior amplitude de P1 no presente estudo segue a mesma direção
do estudo de Segalowitz e cols. (2008), isto é, as palavras novas com relação semântica
com os itens antigos distinguem-se das demais por efeito de lexicalidade semântica.
Nos dois grupos esse efeito pode ser observado, mostrando que precocemente no
tempo, pessoas com autismo ou com desenvolvimento típico apresentam processamento
de informação básica que distingue itens antigos e itens novos daqueles com atributos
semânticos relacionados.
89
Ainda precoce, mas já em uma janela temporal em torno de 200 milissegundos,
o componente P2 também manifestou-se de forma diferenciada em função dos itens
semânticos em relação aos demais itens. No entanto, ao contrário do P1 e do Parietal
old/new, este componente apenas se diferenciou entre os tipos de estímulos para o
grupo de desenvolvimento típico. Tal componente tem sido associado com
reconhecimento de aspectos além da forma do estímulo; i.e. o P2 parece ser o
componente subjacente a diferenciação entre diferentes tipos de estímulos. Nesse
sentido, pode-se considerar que existiu um início precoce de discriminação entre
estímulos para ambos os grupos (P1), mas que o processamento continuado que garante
a caracterização do estímulo como item novo semântico versus item novo nãosemântico só ocorreu para o grupo controle. O componente old/new discrimina
globalmente entre itens antigos e novos, não sendo específico para os aspectos
semânticos. Nessa linha, este estudo introduz o componente P2 como um possível
marcador eletrofisiológico da discriminação entre os diferentes tipos de erros sendo a
alteração comportamental dos pacientes com autismo na tarefa relacionada a essa janela
de tempo.
Além disso, a discriminação dos aspectos semânticos tem sido discutida por
outros estudos relacionando um componente registrado entre 300-500 ms denominado
FN400, devido sua similaridade com o componente N400, conhecido como um
marcador para análise de processamento semântico de informações (LUCK, 2005;
PIJNACKER e cols., 2010). Porém, enquanto o N400 relaciona-se normalmente a uma
maior amplitude nos eletrodos centrais e parietais, o FN400 aparece distribuído nas
regiões frontais. Estudos prévios mostram que o FN400 apresenta maior amplitude para
os distratores não relacionados em comparação a falsas-pistas e palavras-alvo
(CURRAN, 2000). Entretanto, esse componente não foi observado em nosso estudo.
Como descrito anteriormente, encontramos componentes mais precoces.
Em suma, apesar das limitações deste estudo (número reduzido de palavras para
o registro de cada categoria; palavras-alvo, falsas-pistas e distratores não relacionados;
número pequeno da amostra, diferenças nas idades) essa dissertação traz importantes
contribuições, uma vez que não há na literatura outro estudo com o mesmo
delineamento experimental. Além disso, os resultados encontrados são surpreendentes e
contradizem a literatura uma vez que sinalizam que pacientes com autismo mostram
susceptibilidade a falsas memórias. Somado a isso, os resultados eletrofisiológicos
90
mostram o efeito robusto do componente old/new observados em tarefas de recordação
e reconhecimento de itens associados, sendo observado em ambos os grupos.
Sugere-se que novos experimentos sejam realizados, considerando um
aprimoramento da metodologia, levando em consideração; i) o aumento da amostra e
sua divisão em grupos etários, para verificar as diferenças de idades na produção das
falsas memórias, uma vez que esse campo ainda apresenta resultados controversos, ii)
mudanças na apresentação da tarefa, sendo construída apresentação oral dos estímulos,
uma vez que a tarefa pode ser facilitada e poderá ser aplicada em crianças mais novas
ainda não leitoras.
Além disso, novos estudos são necessários para melhor compreensão dos
componentes
eletrofisiológicos
envolvidos
no
processamento
semântico
e
reconhecimento de indivíduos com autismo, assim como a realização de análises
topográficas que nos permitirá observar áreas cerebrais relacionados ao reconhecimento
verdadeiro e falso.
91
10. CONCLUSÃO

O presente estudo evidenciou o efeito típico observado em tarefas adaptadas ao
paradigma DRM, uma vez que demonstrou que a recordação e o reconhecimento de
palavras distratoras associadas semanticamente não apresentadas ocorrem em número
elevado, sendo muitas vezes semelhantes às taxas de recordação e reconhecimento de
palavras apresentadas nas listas;

No que se refere aos dados comportamentais não foram observadas diferenças
significativas entre os grupos em relação aos acertos por reconhecimentos de palavrasalvo e acertos por rejeição das falsas-pistas. No entanto, os pacientes apresentam
desempenho comportamental diferente aos do controle em relação aos acertos por
rejeição de distratores não relacionados;

Esse estudo segue em direção contrária a hipóteses prévias da literatura, uma vez que não
verificou efeito de processamento mais literal e menos semântico da informação nos
pacientes com autismo;

Conclui-se por este estudo que marcadores eletrofisiológicos característicos de tarefas de
memória com reconhecimento de itens associados, como o componente parietal old-new,
estão presentes em pacientes com autismo de forma similar a pessoas com
desenvolvimento típico;

Verificamos que componentes precoces no tempo já se diferenciam em função de
aspectos semânticos e, a ausência desta diferenciação nos pacientes em uma janela de 200
milissegundos pode estar na base das alterações comportamentais observadas;

Diferenças metodológicas encontradas nos escassos estudos sobre ilusões de memória
envolvendo grupo com autismo podem justificar a divergência dos resultados
encontrados;

Novos estudos devem ser conduzidos para melhor descrever o funcionamento semântico
desses pacientes assim como os componentes eletrofisiológicos subjacentes.
92
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adolescentes. Paidéia, v.12, pp.113-132, 2002.
SNYDER, A. W.; MULCAHY, E.; TAYLOR, J. L.; MITCHELL, D. J.; SACHDEV,
P.; GANDEVIA, S.C. Savant-Like Skills Exposed In Normal People By Suppressing
The Left Fronto-Temporal Lobe. Journal of Integrative Neuroscience, v. 2, n. 2, pp.
149-158, 2003.
STEIN, L.M. et al.. Falsas Memórias: fundamentos científicos e suas aplicações
clínicas e jurídicas. Porto Alegre: Artmed, 2010.
STEIN, L.M; & NEUFALD, C.B. Falsas memórias: Porque lembramos de coisas que
não aconteceram? Arq. Ciência e Saúde Unipar, v.5, n.2, pp.179-186, 2001.
STERNBERG, R. J. Psicologia Cognitiva. Tradução Roberto Cataldo Costa – 4.ed –
Porto Alegre: Artmed, 2008, pp.584.
TULVING, E. Memory and consciousness. Canadian Psychology, v.26, pp.1–12, 1985.
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WIESE, H. e DAUM, I. Frontral positivity discrimates true from false recognition.
Brain Research, pp. 183-192, 2000.
103
12. APÊNDICE
A. Carta de Informação a Instituição
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO – Instituição
Gostaríamos de convidar a sua Instituição a participar do projeto de pesquisa “Potenciais
evocados relacionados à Tarefa de Roediger e McDermott em crianças com Transtorno
Global do Desenvolvimento” que se propõe investigar as relações entre o desempenho
comportamental e potenciais evocados em tarefa de memória comparando sujeitos que se
enquadrem nos Transtornos Globais do Desenvolvimento com o grupo controle de desenvolvimento
típico. Além disso, iremos investigar a atividade eletroencefalográfica com o uso do EEG durante a
tarefa de memória. Durante o registro da atividade eletroencefalográfica com uma touca de
eletrodos do EEG embebida em uma solução salina e shampoo o participante não sentirá nada, a
touca apenas coleta as informações não implicando nenhum tipo de risco para o participante que
permanecerá acordado o tempo todo. Os instrumentos de avaliação serão aplicados pelo
Pesquisador Responsável e tanto os instrumentos de coleta de dados quanto o contato interpessoal
oferecem riscos mínimos aos participantes.
Em qualquer etapa do estudo você terá acesso ao Pesquisador Responsável para o
esclarecimento de eventuais dúvidas (no endereço abaixo), e terá o direito de retirar a permissão
para participar do estudo a qualquer momento, sem qualquer penalidade ou prejuízo. As
informações coletadas serão analisadas em conjunto com a de outros participantes e será garantido o
sigilo, a privacidade e a confidencialidade das questões respondidas, sendo resguardado o nome dos
participantes (apenas o Pesquisador Responsável terá acesso a essa informação), bem como a
identificação do local da coleta de dados.
Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa,
poderá entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana
Mackenzie - Rua da Consolação, 896 - Ed. João Calvino - Mezanino.
Desde já agradecemos a sua colaboração.
Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram
esclarecidas pelo Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação da Instituição e dos
Sujeitos de Pesquisa é voluntária, e que, a qualquer momento ambos tem o direito de obter outros
esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar-se da mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo.
Nome do Sujeito de Pesquisa:______________________________________________
104
Assinatura do Sujeito de Pesquisa:__________________________________________
Declaro que expliquei ao Responsável pela Instituição os procedimentos a serem realizados
neste estudo, seus eventuais riscos/desconfortos, possibilidade de retirar-se da pesquisa sem
qualquer penalidade ou prejuízo, assim como esclareci as dúvidas apresentadas.
São Paulo,___de__________de_______.
___________________________________
____________________________
Pesquisador Responsável: Claudia Aparecida
Orientador: Prof. Dr. Paulo S. Boggio
Valasek
Universidade Presbiteriana Mackenzie
R. Piauí, nº181, 10º andar
Telefone:2114-8001
B. Carta de Informação ao Sujeito de Pesquisa
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO - Sujeito de Pesquisa
Seu filho(a) está sendo convidado a participar do projeto de pesquisa “Potenciais evocados
relacionados à Tarefa de Roediger e McDermott em crianças com Transtorno Global do
Desenvolvimento.” Este estudo tem como objetivo investigar as relações entre o desempenho
comportamental e potenciais evocados em tarefa de memória comparando sujeitos que se
enquadrem nos Transtornos Globais do Desenvolvimento com o grupo controle de desenvolvimento
típico.
A pesquisa é realizada por meio de um aparelho de eletroencefalografia de alta densidade
(EEG) e seu uso para o maior conhecimento dos potenciais cognitivos, ou seja, da atividade
cerebral que ocorre durante a realização de tarefas, no caso do projeto, uma tarefa específica de
memória.
O equipamento constitui-se em uma touca com 128 eletrodos que registrará a atividade
cerebral de seu filho(a) durante o teste. Ele(a) não sentirá nada, pois a touca apenas registra a
atividade cerebral enquanto é realizada a tarefa em um computador, assim não implicando nenhum
tipo de risco para ele (a) que permanecerá acordado o tempo todo. A touca será colocada uma touca
com os eletrodos na cabeça da criança para o registro da atividade cerebral em uma sala com os
equipamentos no Laboratório de Neurociência Cognitiva. Logo em seguida, seu filho(a) realizará o
teste de Memória. Ele(a) levará em torno de 60 minutos no total da realização da tarefa.
105
Seu filho(a) estará participando de um projeto de pesquisa e a qualquer momento você terá
todo o direito de perguntar aos pesquisadores responsáveis sobre eventuais dúvidas em relação a
todos os procedimentos, aos riscos e potenciais efeitos positivos para você e seu filho(a). Se durante
a pesquisa você quiser interromper a sua participação, ou seja, não realizar mais a pesquisa por
qualquer motivo (você não precisa explicar para o pesquisador o motivo), você tem todo o direito
em fazê-lo.
Toda a informação relacionada à pesquisa será confidencial e apenas o pesquisador e você
terão acesso a essa informação. Essa informação ficará protegida em lugar seguro em relação a
acessos de terceiros. Os resultados obtidos serão analisados, e as conclusões, apresentadas para a
discussão científica como parte do processo de pesquisa de Mestrado do Programa de PósGraduação em Distúrbios do Desenvolvimento. A divulgação do trabalho terá finalidade acadêmica,
esperando contribuir para um maior conhecimento do tema estudado.
Caso você tenha alguma consideração ou dúvida sobre os aspectos éticos da pesquisa, poderá
entrar em contato com o Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rua da Consolação, 896 - Ed. João Calvino - Mezanino.
Desde já agradecemos a colaboração.
Declaro que li e entendi os objetivos deste estudo, e que as dúvidas que tive foram
esclarecidas pelo Pesquisador Responsável. Estou ciente que a participação é voluntária, e que, a
qualquer momento tenho o direito de obter outros esclarecimentos sobre a pesquisa e de retirar a
permissão para participar da mesma, sem qualquer penalidade ou prejuízo.
Nome do Sujeito de Pesquisa:______________________________________________
Assinatura do Sujeito de Pesquisa:_________________________________________
Declaro que expliquei ao Responsável pelo Sujeito de Pesquisa os procedimentos a
serem realizados neste estudo, seus eventuais riscos/desconfortos, possibilidade de retirar-se
da pesquisa sem qualquer penalidade ou prejuízo, assim como esclareci as dúvidas
apresentadas.
São Paulo,___de__________de_______.
___________________________________
____________________________
Pesquisador Responsável: Claudia Aparecida
Orientador: Prof. Dr. Paulo S. Boggio
Valasek
Universidade Presbiteriana Mackenzie
R. Piauí, nº181, 10º andar
Telefone: 2114-8001
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13. ANEXOS
A. Carta de Aprovação do Comitê de Ética
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