Universidade do Sul de Santa Catarina
Química Ambiental
Disciplina na modalidade a distância
Palhoça
UnisulVirtual
2011
qumica_ambiental.indb 1
01/03/12 16:41
Créditos
Universidade do Sul de Santa Catarina – Campus UnisulVirtual – Educação Superior a Distância
Avenida dos Lagos, 41 – Cidade Universitária Pedra Branca | Palhoça – SC | 88137-900 | Fone/fax: (48) 3279-1242 e 3279-1271 | E-mail: [email protected] | Site: www.unisul.br/unisulvirtual
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Assessoria DAD - Disciplinas a
Distância
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Qualidade de EAD
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Assessoria de Tecnologia
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Coordenação Cursos
Coordenadores de UNA
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qumica_ambiental.indb 2
Assistente e Auxiliar de
Coordenação
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Roberto Iunskovski
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Gerência Administração
Acadêmica
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Fernanda Farias
Secretaria de Ensino a Distância
Samara Josten Flores (Secretária de Ensino)
Giane dos Passos (Secretária Acadêmica)
Adenir Soares Júnior
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Paulo Lisboa Cordeiro
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Rosângela Mara Siegel
Simone Torres de Oliveira
Vanessa Pereira Santos Metzker
Vanilda Liordina Heerdt
Gestão Documental
Lamuniê Souza (Coord.)
Clair Maria Cardoso
Daniel Lucas de Medeiros
Eduardo Rodrigues
Guilherme Henrique Koerich
Josiane Leal
Marília Locks Fernandes
Gerência Administrativa e
Financeira
Renato André Luz (Gerente)
Ana Luise Wehrle
Anderson Zandré Prudêncio
Daniel Contessa Lisboa
Naiara Jeremias da Rocha
Rafael Bourdot Back
Thais Helena Bonetti
Valmir Venício Inácio
Gerência de Ensino, Pesquisa
e Extensão
Moacir Heerdt (Gerente)
Aracelli Araldi
Elaboração de Projeto e
Reconhecimento de Curso
Diane Dal Mago
Vanderlei Brasil
Francielle Arruda Rampelotte
Extensão
Maria Cristina Veit (Coord.)
Pesquisa
Daniela E. M. Will (Coord. PUIP, PUIC, PIBIC)
Mauro Faccioni Filho(Coord. Nuvem)
Pós-Graduação
Anelise Leal Vieira Cubas (Coord.)
Biblioteca
Salete Cecília e Souza (Coord.)
Paula Sanhudo da Silva
Renan Felipe Cascaes
Gestão Docente e Discente
Enzo de Oliveira Moreira (Coord.)
Capacitação e Assessoria ao
Docente
Simone Zigunovas (Capacitação)
Alessandra de Oliveira (Assessoria)
Adriana Silveira
Alexandre Wagner da Rocha
Elaine Cristiane Surian
Juliana Cardoso Esmeraldino
Maria Lina Moratelli Prado
Fabiana Pereira
Tutoria e Suporte
Claudia Noemi Nascimento (Líder)
Anderson da Silveira (Líder)
Ednéia Araujo Alberto (Líder)
Maria Eugênia F. Celeghin (Líder)
Andreza Talles Cascais
Daniela Cassol Peres
Débora Cristina Silveira
Francine Cardoso da Silva
Joice de Castro Peres
Karla F. Wisniewski Desengrini
Maria Aparecida Teixeira
Mayara de Oliveira Bastos
Patrícia de Souza Amorim
Schenon Souza Preto
Gerência de Desenho
e Desenvolvimento de
Materiais Didáticos
Márcia Loch (Gerente)
Desenho Educacional
Cristina Klipp de Oliveira (Coord. Grad./DAD)
Silvana Souza da Cruz (Coord. Pós/Ext.)
Aline Cassol Daga
Ana Cláudia Taú
Carmelita Schulze
Carolina Hoeller da Silva Boeing
Eloísa Machado Seemann
Flavia Lumi Matuzawa
Gislaine Martins
Isabel Zoldan da Veiga Rambo
Jaqueline de Souza Tartari
João Marcos de Souza Alves
Leandro Romanó Bamberg
Letícia Laurindo de Bonfim
Lygia Pereira
Lis Airê Fogolari
Luiz Henrique Milani Queriquelli
Marina Melhado Gomes da Silva
Marina Cabeda Egger Moellwald
Melina de La Barrera Ayres
Michele Antunes Corrêa
Nágila Hinckel
Pâmella Rocha Flores da Silva
Rafael Araújo Saldanha
Roberta de Fátima Martins
Roseli Aparecida Rocha Moterle
Sabrina Bleicher
Sabrina Paula Soares Scaranto
Viviane Bastos
Acessibilidade
Vanessa de Andrade Manoel (Coord.)
Letícia Regiane Da Silva Tobal
Mariella Gloria Rodrigues
Avaliação da aprendizagem
Geovania Japiassu Martins (Coord.)
Gabriella Araújo Souza Esteves
Jaqueline Cardozo Polla
Thayanny Aparecida B.da Conceição
Jeferson Pandolfo
Karine Augusta Zanoni
Marcia Luz de Oliveira
Assuntos Jurídicos
Bruno Lucion Roso
Marketing Estratégico
Rafael Bavaresco Bongiolo
Portal e Comunicação
Catia Melissa Silveira Rodrigues
Andreia Drewes
Luiz Felipe Buchmann Figueiredo
Marcelo Barcelos
Rafael Pessi
Gerência de Produção
Arthur Emmanuel F. Silveira (Gerente)
Francini Ferreira Dias
Design Visual
Pedro Paulo Alves Teixeira (Coord.)
Adriana Ferreira dos Santos
Alex Sandro Xavier
Alice Demaria Silva
Anne Cristyne Pereira
Cristiano Neri Gonçalves Ribeiro
Daiana Ferreira Cassanego
Diogo Rafael da Silva
Edison Rodrigo Valim
Frederico Trilha
Higor Ghisi Luciano
Jordana Paula Schulka
Marcelo Neri da Silva
Nelson Rosa
Oberdan Porto Leal Piantino
Patrícia Fragnani de Morais
Multimídia
Sérgio Giron (Coord.)
Dandara Lemos Reynaldo
Cleber Magri
Fernando Gustav Soares Lima
Conferência (e-OLA)
Carla Fabiana Feltrin Raimundo (Coord.)
Bruno Augusto Zunino
Gerência de Logística
Produção Industrial
Marcelo Bittencourt (Coord.)
Logísitca de Materiais
Carlos Eduardo D. da Silva (Coord.)
Abraao do Nascimento Germano
Bruna Maciel
Fernando Sardão da Silva
Fylippy Margino dos Santos
Guilherme Lentz
Marlon Eliseu Pereira
Pablo Varela da Silveira
Rubens Amorim
Yslann David Melo Cordeiro
Gerência Serviço de Atenção
Integral ao Acadêmico
Jeferson Cassiano A. da Costa (Gerente)
Avaliações Presenciais
Graciele M. Lindenmayr (Coord.)
Ana Paula de Andrade
Angelica Cristina Gollo
Cristilaine Medeiros
Daiana Cristina Bortolotti
Delano Pinheiro Gomes
Edson Martins Rosa Junior
Fernando Steimbach
Fernando Oliveira Santos
Lisdeise Nunes Felipe
Marcelo Ramos
Marcio Ventura
Osni Jose Seidler Junior
Thais Bortolotti
Maria Isabel Aragon (Gerente)
André Luiz Portes
Carolina Dias Damasceno
Cleide Inácio Goulart Seeman
Francielle Fernandes
Holdrin Milet Brandão
Jenniffer Camargo
Juliana Cardoso da Silva
Jonatas Collaço de Souza
Juliana Elen Tizian
Kamilla Rosa
Maurício dos Santos Augusto
Maycon de Sousa Candido
Monique Napoli Ribeiro
Nidia de Jesus Moraes
Orivaldo Carli da Silva Junior
Priscilla Geovana Pagani
Sabrina Mari Kawano Gonçalves
Scheila Cristina Martins
Taize Muller
Tatiane Crestani Trentin
Vanessa Trindade
Gerência de Marketing
Fabiano Ceretta (Gerente)
Relacionamento com o Mercado
Eliza Bianchini Dallanhol Locks
Relacionamento com Polos
Presenciais
Alex Fabiano Wehrle (Coord.)
01/03/12 16:41
Rachel Faverzani Magnago
Química Ambiental
Livro didático
Design instrucional
Viviane Bastos
1ª edição revista
Palhoça
UnisulVirtual
2011
qumica_ambiental.indb 3
01/03/12 16:41
Copyright © UnisulVirtual 2011
Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prévia autorização desta instituição.
Edição – Livro Didático
Professor Conteudista
Rachel Faverzani Magnago
Design Instrucional
Viviane Bastos
Assistente Acadêmico
Jaqueline Tartari
Michele Antunes Corrêa
(1ª ed. rev.)
ISBN
978-85-7817-303-6
Projeto Gráfico e Capa
Equipe UnisulVirtual
Diagramação
Adriana Ferreira dos Santos
Fernanda Fernandes (1ª ed. rev.)
Revisão
B2B
Diane Dal Mago (1ª ed. rev.)
577.14
M17
Magnago, Rachel Faverzani
Química ambiental : livro didático / Rachel Faverzani Magnago ; design
instrucional Viviane Bastos ; [assistente acadêmico Jaqueline Tartari]. – 1.
ed. rev. – Palhoça : UnisulVirtual, 2011.
204 p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
ISBN 978-85-7817-303-6
1. Química ambiental. I. Bastos, Viviane. II. Tartari, Jaqueline. III. Título.
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Universitária da Unisul
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Sumário
Apresentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
Palavras da professora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
UNIDADE 1 - Compostos inorgânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
UNIDADE 2 - Compostos orgânicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
UNIDADE 3 - O meio aquático. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
UNIDADE 4 - O meio terrestre. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
UNIDADE 5 - O meio atmosférico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
Para concluir o estudo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
Referências. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189
Sobre a professora conteudista. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 193
Respostas e comentários das atividades de autoavaliação. . . . . . . . . . . . . . 195
Biblioteca Virtual. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 203
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Apresentação
Este livro didático corresponde à disciplina Química Ambiental.
O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autônoma
e aborda conteúdos especialmente selecionados e relacionados
à sua área de formação. Ao adotar uma linguagem didática
e dialógica, objetivamos facilitar seu estudo a distância,
proporcionando condições favoráveis às múltiplas interações e a
um aprendizado contextualizado e eficaz.
Lembre-se de que sua caminhada, nesta disciplina, será
acompanhada e monitorada constantemente pelo Sistema
Tutorial da UnisulVirtual, por isso a “distância” fica
caracterizada somente na modalidade de ensino que você optou
para sua formação, pois na relação de aprendizagem professores
e instituição estarão sempre conectados com você.
Então, sempre que sentir necessidade entre em contato; você tem
à disposição diversas ferramentas e canais de acesso tais como:
telefone, e-mail e o Espaço Unisul Virtual de Aprendizagem,
que é o canal mais recomendado, pois tudo o que for enviado e
recebido fica registrado para seu maior controle e comodidade.
Nossa equipe técnica e pedagógica terá o maior prazer em lhe
atender, pois sua aprendizagem é o nosso principal objetivo.
Bom estudo e sucesso!
Equipe UnisulVirtual.
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Palavras da professora
Seja bem-vindo(a) à disciplina Química Ambiental. O que
pretendemos com esta disciplina é criar espaços de estudo e de
reflexão que lhe permitam dimensionar a importância do solo,
da água, do ar e seus equilíbrios no meio ambiente. Com isso,
você perceberá de que modo esses temas podem ser utilizados
para uma melhor qualidade de vida das pessoas.
Estamos vivendo em um contexto histórico onde presenciamos
um momento ambiental importante para nosso país e o
mundo. Presenciamos, a cada dia, atitudes com o objetivo de
intervir em prol do meio ambiente.
No Brasil, podemos citar o estímulo para a pesquisa, o
desenvolvimento e utilização de energias renováveis, o que
traria, para o país, reflexos no meio social, econômico, político
e ambiental.
O importante para o bom desempenho na disciplina é que
você estude, pesquise, repense a temática proposta, a fim de
produzir ideias sobre a temática aqui tratada. No entanto,
lembre-se de que é necessário, desde o início, estabelecer
um “elo” entre as propriedades das substâncias químicas e os
efeitos dessas substâncias no meio ambiente.
Bons estudos!Prof.ª Dra. Rachel Faverzani Magnago
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Plano de estudo
O plano de estudos visa a orientá-lo no desenvolvimento da
disciplina. Ele possui elementos que o ajudarão a conhecer o
contexto da disciplina e a organizar o seu tempo de estudos.
O processo de ensino e aprendizagem na UnisulVirtual leva
em conta instrumentos que se articulam e se complementam,
portanto, a construção de competências se dá sobre a
articulação de metodologias e por meio das diversas formas de
ação/mediação.
São elementos desse processo:
„„
o livro didático;
„„
o Espaço UnisulVirtual de Aprendizagem (EVA);
„„
„„
as atividades de avaliação (a distância, presenciais e de
autoavaliação);
o Sistema Tutorial.
Ementa
Conceitos gerais sobre a química do ambiente; química da
água, química do solo e da atmosfera. Principais parâmetros
de caracterização da água. Relação da pedosfera com a
hidrosfera e a biosfera. Transferência de poluentes dos solos
e dos aquíferos. Descrição dos processos fundamentais
da atmosfera. Principais parâmetros de caracterização da
atmosfera. Perturbações da atmosfera. Efeito estufa adicional
e evolução climática. Termodinâmica das reações em solução.
Compostos orgânicos tóxicos. Petróleo e seus derivados:
produtos orgânicos, polímeros.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Objetivos
Geral:
Interpretar a natureza e suas transformações físicas e químicas
por meio dos átomos e das moléculas, visando proporcionar a
compreensão da dinâmica do metabolismo de compostos do meio
ambiente. Deseja-se desenvolver, no acadêmico, a competência de
interpretar gráficos, tabelas e resultados.
Específicos:
„„
„„
„„
„„
„„
Compreender reações químicas que ocorrem na natureza.
Analisar as transformações físico-químicas que ocorrem
na natureza.
Analisar as alterações ambientais pela interferência
antrópica.
Identificar e compreender a química de compostos
inorgânicos na natureza.
Identificar e compreender a química de compostos
orgânicos na natureza.
Carga Horária
A carga horária total da disciplina é 60 horas-aula.
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Química Ambiental
Conteúdo programático/objetivos
Veja, a seguir, as unidades que compõem o livro didático dessa
disciplina e os seus respectivos objetivos. Esses se referem aos
resultados que você deverá alcançar ao final de uma etapa de
estudo. Os objetivos de cada unidade definem o conjunto de
conhecimentos que você deverá possuir para o desenvolvimento
de habilidades e competências necessárias à sua formação.
Unidades de estudo: 5
Unidade 1 – Compostos inorgânicos
Nesta unidade, você vai conhecer os elementos e compostos
químicos, compreender as ligações químicas que ocorrem entre
os elementos químicos e que normalmente são dependentes da
eletronegatividade de cada elemento. Também serão abordadas
as classes de compostos inorgânicos, as funções inorgânicas
e as propriedades de cada elemento químico, assim como das
substâncias químicas.
Unidade 2 – Compostos orgânicos
O assunto tratado nessa unidade é a classificação dos compostos
orgânicos, os resíduos perigosos gerados por essa classe de
compostos, tais como organohalogenados, dioximas e furanos,
dentre outros. Vai conhecer, também, as propriedades e o
comportamento dos compostos orgânicos. Para finalizar a
unidade, será abordado sobre o petróleo e seus derivados.
Unidade 3 – O meio aquático
Nesta unidade será estudada a água na natureza, usos da
água e requisitos de qualidade para o consumo humano. Você
conhecerá as ações antrópicas que alteram a qualidade da água e
a importância da manutenção da qualidade das águas naturais.
O comportamento ambiental dos lagos e tratamento de esgotos
também serão assuntos desta unidade.
13
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Unidade 4 – O meio terrestre
Nesta unidade, serão apresentados conceito, composição,
formação química e classificação dos solos. Também serão
apresentadas as características ecologicamente importantes dos
solos, o fenômeno de erosão e a poluição do solo rural.
Unidade 5 – O meio atmosférico
Nesta unidade, você vai estudar as características e composição
do ar, bem como padrões de sua qualidade e a questão da
poluição do ar.
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Química Ambiental
Agenda de atividades/Cronograma
„„
„„
„„
Verifique com atenção o EVA, organize-se para acessar
periodicamente a sala da disciplina. O sucesso nos seus
estudos depende da priorização do tempo para a leitura,
da realização de análises e sínteses do conteúdo e da
interação com os seus colegas e professor.
Não perca os prazos das atividades. Registre no espaço
a seguir as datas com base no cronograma da disciplina
disponibilizado no EVA.
Use o quadro para agendar e programar as atividades
relativas ao desenvolvimento da disciplina.
Atividades obrigatórias
Demais atividades (registro pessoal)
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Universidade do Sul de Santa Catarina
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UNIDADE 1
Compostos inorgânicos
Objetivos de aprendizagem
„„ Conhecer os elementos e compostos químicos.
1
„„ Compreender as ligações químicas, levando em
consideração os elementos químicos e os valores
de eletronegatividade.
„„ Conhecer as classes de compostos inorgânicos.
„„ Compreender as propriedades das substâncias
químicas.
Seções de estudo
Seção 1 Elemento e composto químico
Seção 2 Ligações químicas
Seção 3 Classificação dos compostos químicos
inorgânicos
Seção 4 Propriedades dos compostos químicos
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
O papel desempenhado pelo dióxido de carbono na atmosfera,
a formação da chuva ácida, os constituintes das conchas, as
propriedades exibidas pela água, a dispersão de poluentes no
ambiente, entre muitos outros exemplos, não poderiam ser
compreendidos sem o conhecimento fornecido pela química.
Esses exemplos envolvem substâncias químicas que se encaixam
na classificação de ácidos, bases, sais e óxidos na química dos
compostos inorgânicos.
É possível citar como sendo os principais constituintes da chuva
ácida, o ácido sulfúrico (H2SO4), o ácido sulfuroso (H2SO3) e o
ácido nítrico (HNO3). Já dentre as bases, por exemplo, é possível
citar o hidróxido de sódio (NaOH), que pode contaminar o meio
ambiente e causar queimadura em contato com a pele, devido ao
seu poder cáustico. As substâncias químicas dióxido de carbono
(CO2) e água (H2O), por sua vez, são classificadas como óxidos.
Esses casos envolvem substâncias químicas inorgânicas que, devido
às espécies atômicas e ao tipo de ligação realizada entre os átomos,
formam as moléculas que apresentam propriedades peculiares,
efeitos benéficos ou não ao ser humano e ao meio ambiente.
As substâncias citadas anteriormente, entre muitas outras, possuem
importância nas nossas atividades diárias e poderão ser mais bem
conhecidas, exploradas e compreendidas durante essa unidade.
O meio atmosférico, aquático e terrestre é constituído por
elementos e compostos químicos. A próxima seção apresenta os
elementos e compostos químicos inorgânicos, isto é, saímos do
mundo microscópico, geralmente apresentado pelo elemento, e
passamos para o macroscópico, exibido pelo grupo de moléculas.
Você vai conhecer, então, conceitos, exemplos e a diferença entre
um elemento e composto químico.
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Química Ambiental
Seção 1 – Elemento e composto químico
Embora os filósofos gregos Demócrito e Leucipo, que viveram
por volta do ano 400 a.C., tenham suposto corretamente sobre a
existência de átomos, atualmente, sabe-se que eles são muito mais
que esferas vazias.
Os átomos são constituídos por um núcleo onde se
encontram os prótons e os nêutrons e pela eletrosfera
onde estão os elétrons.
O modelo atual do átomo é resultado da contribuição de estudos
de muitos cientistas. Dentre eles, destacam-se Dalton (1803),
Thomson (1904), Rutherford (1911), Bohr (1913) e Sommerfeld
(1916), que contribuíram para a evolução das teorias atômicas até
chegar ao modelo atual (figura 1.1).
Figura 1.1 - Modelo atual do átomo
Fonte: Brasil escola (2008).
Os estudos eram embasados em experimentos e, por isso, levouse mais de cem anos para desvendar o átomo. Como você estudou
anteriormente, o átomo é composto por duas regiões: o núcleo e
a eletrosfera. Mas o que há em cada um?
Unidade 1
qumica_ambiental.indb 19
19
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Universidade do Sul de Santa Catarina
O núcleo, apesar de pequeno (compacto),
compreende toda a carga positiva de origem dos
prótons e praticamente toda a massa do átomo,
pois nele encontram-se os nêutrons, que são assim
chamados por serem neutros (sem carga).
Na eletrosfera (parte leve do átomo) encontram-se os
elétrons, com carga negativa.
A estrutura apresentada do átomo é aplicada para todos os
elementos químicos, e cada elemento químico diferencia em
número de elétrons, nêutrons e prótons.
O átomo do elemento químico hidrogênio (H)
apresenta um próton e um nêutron (no núcleo) e um
elétron (na eletrosfera). Ele é o elemento químico de
menor número atômico.
Já o átomo de urânio (U), ou o átomo do elemento
químico urânio, apresenta 92 prótons e 92 nêutrons
(no núcleo) e 92 elétrons (na eletrosfera).
Tabela periódica é a
disposição sistemática
dos elementos
químicos em função de
suas propriedades. Sua
finalidade é mostrar
as características e
tendências dos átomos.
Expressa também
número atômico,
símbolo atômico e
nome dos elementos.
Existem muitos elementos químicos (como carbono, oxigênio,
hidrogênio, cloro e zinco), e todos os elementos químicos
conhecidos estão organizados na Tabela Periódica.
Mas como reconhecer um elemento químico na tabela
periódica? Cada elemento químico é identificado na tabela pelo
nome ou símbolo.
O símbolo de um elemento químico é representado por uma letra
maiúscula ou por duas letras, sendo a primeira maiúscula e a
segunda minúscula. Por exemplo: o átomo de Carbono é
representado pela letra C; o átomo de Hidrogênio pela letra H; o
átomo de Oxigênio pela letra O e o átomo de Zinco pelas letras Zn.
A tabela periódica, que inter-relaciona os elementos químicos
com suas propriedades, organizou o conhecimento químico sobre
os elementos. Lothar Meyer (alemão) e Dmitri Mendeleev (russo)
demonstraram que várias propriedades, tais como volume, ponto
de ebulição, dureza, eletronegatividade etc., eram representadas
20
qumica_ambiental.indb 20
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Química Ambiental
graficamente em função de seu peso atômico. (Atualmente, a
versão mais utilizada da tabela é a mesma mostrada no Anexo 1.
Como estão organizados os elementos químicos em
uma tabela periódica?
É importante relembrar que as linhas horizontais da tabela
periódica são chamadas de períodos, sendo numeradas de 1 a 7.
Note na figura 1.2 que elas variam muito em largura do primeiro
período (dois elementos) até o sexto (32 elementos) e sétimo
(potencialmente 32 elementos).
O sexto período inclui os 14 elementos de número atômico (Z)
igual a 58 (cério) até o número atômico igual a 71 (lutécio). Esses
elementos que seguem o lantânio são chamados de lantanóides,
do mesmo modo que no sétimo período os elementos que seguem
o actínio (Z = 89) são chamados de actinóides.
1
1
2
3
4
5
6
7
18
2
13 14 15 16 17
3
4
5
6
7
8
9 10 11 12
K
L
M
N
O
P
Q
Figura 1.2 - Tabela periódica contendo os símbolos dos elementos químicos. A numeração vertical
identifica os grupos (ou famílias) e a numeração horizontal representa os períodos
Fonte: Adaptado do site Christus. Disponível em: <http://www.christus.com.br/infochristus/
tabperiodica/diversos/historia.htm >.
As colunas na tabela periódica, mostradas na figura 1.2, são
chamadas de grupos. Cada um deles é uma família de elementos
químicos, sendo que alguns grupos consistem em três, quatro,
cinco ou seis elementos.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Como podem ser verificados na figura 1.2, os grupos são
numerados de 1 a 18. Os grupos de 3 até 12 são os elementos de
transição e os demais são os elementos representativos. Desse
modo, tem-se que os elementos do grupo 17, os halogênios, são
representativos, enquanto que os do grupo 4 são de transição.
Os grupos dos elementos representativos comumente são citados
pelos nomes, além da representação numérica. Assim, temos:
„„
Grupo 1 ou metais alcalinos;
„„
Grupo 2 ou metais alcalinos terrosos;
„„
Grupo 13 ou grupo do boro;
„„
Grupo 14 ou grupo do carbono;
„„
Grupo 15 ou grupo do nitrogênio;
„„
Grupo 16 ou calcogênios;
„„
Grupo 17 ou grupo dos halogênios;
„„
Grupo 18 ou gases nobres.
Características dos elementos químicos
Um detalhe muito importante a ser observado na tabela periódica
é que cada grupo possui propriedades semelhantes, e um novo
período surge quando há repetição das propriedades na nova
sequência de elementos.
O lítio (Z = 3) é um metal alcalino. Quando o próximo
metal alcalino, sódio (Z = 11), aparece, esse toma o
lugar logo abaixo do lítio (verifique na tabela
periódica). Outro exemplo: o flúor (Z = 9) é um
halogênio. Quando o próximo halogênio, cloro (Z = 17),
aparece, esse toma o lugar logo abaixo.
No entanto, é importante enfatizar as características especiais de
alguns elementos químicos. Veja a seguir.
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Química Ambiental
O hidrogênio, que se encontra no grupo 1, período 1 da
tabela periódica, apresenta suas propriedades diferentes de
todos os outros elementos do mesmo grupo. Ele não é um
metal alcalino, mas encontra-se nesse grupo por apresentar
apenas um elétron na sua última camada, como todos os
outros elementos do grupo.
Os únicos elementos químicos que existem em Condições
Normais de Temperatura e Pressão (CNTP), sem formar
ligações químicas, são os gases nobres, o grupo 18 da tabela
periódica (figura 1.2).
Retomando o assunto da constituição atômica, os elementos
químicos possuem em sua estrutura atômica um determinado
número de elétrons, prótons e neutros. Para cada elemento químico
encontrado na tabela periódica, os elétrons desse elemento são os
responsáveis pelas ligações com outros elementos químicos.
Os átomos se ligam para adquirir maior estabilidade
química. Assim, obtemos os compostos químicos, ou
seja, por meio da ligação de dois ou mais elementos
químicos (átomos), sendo eles iguais ou diferentes.
Algumas versões de tabela
periódica colocam o
hidrogênio isolado (figura
1.2) e algumas vezes
acima do flúor no grupo
17, sendo que o hidrogênio
também não é halogênio
às agências reguladoras.
As Condições Normais
de Temperatura e
Pressão (cuja sigla é CNTP
no Brasil) referem-se à
condição experimental com
temperatura e pressão de
273,15 K (0 °C) e 101325
Pa (101,325 KPa = 1,01325
bar = 760 mmHg = 1 atm),
respectivamente. Essa
condição é geralmente
empregada para medidas de
propriedades de um gás. São
condições internacionais de
referência, isto é, pressão e
temperatura padrão.
De modo geral, a estabilidade química é alcançada quando cada
átomo, depois de ligado, tem o mesmo número de elétrons
apresentado pelo gás nobre correspondente do período.
Considere o hidrogênio como exemplo. O composto químico
(molécula química) hidrogênio é representado pela fórmula
química H2 (H-H). O composto de hidrogênio é obtido da
ligação química entre dois elementos hidrogênios. Já a molécula
de água, por exemplo, representada pela fórmula química H2O
(H-O-H), é obtida pela ligação química do elemento oxigênio a
dois elementos hidrogênios.
Ao percorrer um período na tabela periódica, observa-se uma
transição gradual no caráter dos elementos, de metálicos
(esquerda da tabela periódica) a não metálicos (direita da tabela
periódica), ou seja:
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Universidade do Sul de Santa Catarina
„„
Um elemento metálico é um elemento de propriedades
físicas que incluem alta condutividade elétrica e térmica
e um brilho característico. Uma propriedade química dos
metais é a capacidade de formar composto (ou moléculas)
químico com o átomo de oxigênio e átomo de
hidrogênio, formando os hidróxidos compostos, que são
a classe de compostos comumente conhecidos como bases.
Exemplo: NaOH, KOH, Ca(OH)2 e Mg(OH)2.
Os elementos metálicos, em muitos casos, são utilizados
no nosso dia a dia em diferentes aplicações. Podemos citar
o elemento cobre (Cu), utilizado em fios, chapas e torneira,
ou ainda o elemento chumbo (Pb), utilizado em
baterias, no processo de solda e como pigmentos em tintas.
„„
Um elemento não metálico é mau condutor de calor e
eletricidade, é opaco, ou seja o oposto de um elemento
metálico. Um elemento não metálico forma composto
químico com o átomo de hidrogênio e também com o
oxigênio, dando origem a outra classe de compostos,
os ácidos.
Exemplo: HCl, HF, H2SO4 e H2CO3.
Podemos citar a utilização de elementos não metálicos
em diferentes compostos, com as mais variadas
aplicações. Por exemplo, o elemento boro (B) é utilizado
como aditivo para detergentes, medicamentos para
olhos e ainda vidros refratários. Outro exemplo são os
compostos contendo cloro (Cl), que são empregados em
desinfetantes, alvejantes e plásticos.
Os elementos de transição são mais metais do que
não metais e são geralmente denominados de metais
de transição.
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Química Ambiental
Dentre as propriedades periódicas (caráter metálico, energia de
ionização, eletronegatividade, entre outras), observamos que a
energia de ionização é bastante diferente entre os elementos
metálicos e não metálicos.
É possível que mais de um elétron seja removido de um átomo.
Nos metais, a remoção de um elétron é mais fácil, requer menos
energia do que nos não metais. Por esse fato, normalmente
observamos os elementos metálicos perdendo seus elétrons para
os elementos não metálicos.
O átomo que perde elétrons converte-se num cátion,
enquanto o que ganha elétrons converte-se num
ânion, de modo geral adquirindo uma configuração
eletrônica mais estável.
Energia de ionização
significa a quantidade
de energia mínima
necessária para
remover um elétron
de um átomo,
dando origem a um
íon positivo no
estado gasoso, no
seguinte processo:
M(g) → M+(g) + é
Uma configuração eletrônica estável para os átomos consiste em
ter, depois de ligado, o mesmo número de elétrons apresentado
pelo gás nobre correspondente do período. Os gases nobres, com
exceção do hélio (He), apresentam oito elétrons na última camada
da eletrosfera. A tendência para alcançar essa configuração
conhece-se pela regra do octeto (essa regra apresenta exceções).
O gás hélio apresenta dois elétrons na sua última camada.
Na formação de compostos químicos, um fato intrigante é a força
que age entre dois átomos. Na próxima seção, você vai estudar os
tipos e de ligações e como essas ocorrem para formar as
moléculas e grupos moleculares, isto é, duas das forças mais
fortes: ligação iônica e ligação covalente.
Seção 2 – Ligações químicas
Os compostos químicos (ou moléculas químicas) serão formados
graças à disponibilidade de elétrons na eletrosfera, como foi visto
na seção anterior.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Este termo será
adotado a partir de
agora nos nossos
estudos.
Os elétrons que participam da ligação química são os elétrons
encontrados na última camada da eletrosfera e podem ser
compartilhados entre dois átomos ou transferidos de um átomo
para outro. A última camada, ou a mais externa, também pode
ser chamada de camada de valência.
As ligações químicas são os mecanismos através dos
quais os átomos adquirem estabilidade.
As ligações químicas são classificadas como:
1. ligações fortes - que compreendem as ligações iônica,
covalente e metálica;
2.ligações fracas - que compreendem as ligações de van
der Waals, hidrogênio e dipolo-dipolo.
Conheça as características de cada uma dessas ligações químicas.
Ligações fortes
Compreendem as ligações iônica, covalente e metálica.
A ligação metálica ocorre especialmente entre os elementos
metálicos, quando pelo menos um elétron da camada de
valência do elemento é doado para outro átomo também
metálico, igual ou diferente.
As ligações iônica e covalente são dependentes da
eletronegatividade dos átomos envolvidos e serão explicadas a
seguir. Para tanto, precisamos relembrar o que é eletronegatividade.
Eletronegatividade é a tendência relativa
apresentada, por um átomo ligado a outro, de atrair
elétrons para si. Quanto maior é a diferença de
eletronegatividade entre os átomos que se ligam,
maior é a polaridade de uma ligação covalente.
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Química Ambiental
Ao analisar a figura 1.3, a seguir, observamos três situações distintas
em que um par de elétrons compartilhado é simultaneamente
atraído por ambos os átomos ligados. Assim, esse par de elétrons
pode ser considerado como sendo disputado pelos átomos.
A ligação covalente é resultado de um compartilhamento de
elétrons entre os átomos que se ligam. A estabilidade da ligação
covalente provém da diminuição energética que experimentam
os átomos ao se ligarem. A formação da ligação covalente
explica-se mediante duas teorias: a teoria da ligação de
valência e a teoria da orbital molecular.
„„
„„
Na teoria da ligação de valência supõe-se que a ligação
se forma quando os dois átomos se aproximam o
suficiente para conseguirem uma adequada sobreposição
dos seus orbitais externos. Em muitos casos, o uso de
orbitais atômicos puros não está de acordo com os dados
experimentais. Para eliminar essa discrepância entre a
teoria e a experimentação, é necessário supor que durante
o processo de formação da ligação se produz uma
hibridação ou mistura de orbitais puras.
Na teoria da orbital molecular supõe-se que os núcleos
dos átomos ligados se encontram já na sua distância
internuclear de equilíbrio, livres de todos os seus
elétrons. Essa estrutura possui orbitais moleculares
de diversos níveis energéticos, formadas a partir das
orbitais atômicos. Os elétrons vão se situando nessas
orbitais moleculares, obtendo-se, desse modo, a
configuração eletrônica da molécula.
Diz-se que uma ligação covalente é apolar quando
os dois átomos que se ligam atraem de igual modo
os elétrons compartilhados. Por outro lado, dizse que uma ligação covalente é polar quando os
átomos que se ligam atraem de modo diferente os
elétrons compartilhados.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Figura 1.3 - Esquema de ligações utilizando átomos hipotéticos X e Y
Fonte: Adaptado de Mundim (2008).
No primeiro caso (à esquerda da figura 1.3), os átomos hipotéticos
X e Y estão compartilhando igualmente os elétrons da ligação
entre os dois átomos, ou seja, os átomos X e Y apresentam valores
de eletronegatividade iguais ou muito próximos. Sendo assim, o
par de elétrons disputado entre os átomos está equidistante das
espécies químicas, fazendo com que não ocorra a formação de
carga parcial (δ+ ou δ−) ou carga total (+ ou -) sobre as espécies X e
Y. Essa ligação é dita ligação covalente apolar.
Na prática, a eletronegatividade é verificada nas espécies químicas
envolvidas e faz-se a diferença em módulo das eletronegatividades
dos átomos. Os valores das eletronegatividades dos átomos
são tabelados e encontram-se no quadro a seguir.
Quadro 1 - Escala de eletronegatividade de Paulin
Fonte: Wapedia (2011).
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Química Ambiental
A molécula de H2 é formada por dois átomos de
hidrogênio, os quais apresentam valor igual de
eletonegatividade, sendo assim, a diferença será
igual a zero.
Para a molécula de H2S, na qual o enxofre (S) é o átomo
central, observamos para a ligação química H-S que
a diferença de eletronegatividade é igual a 0,4. Isto
porque a eletronegatividade do átomo de hidrogênio é
igual a 2,1 e a eletronegatividade do átomo de enxofre
é de 2,5. Nesse caso, podemos observar que a ligação
H-S não é verdadeiramente apolar.
No segundo caso, central da figura 1.3, os átomos hipotéticos X
e Y estão compartilhando os elétrons da ligação X-Y de maneira
desigual. Devido à formação da carga parcial negativa (δ− ) sobre o
átomo Y, pode-se concluir que esse atrai mais fortemente os elétrons
da ligação. Com certeza, por ser um átomo mais eletronegativo que
o átomo X. Devido à formação de polos na ligação da molécula,
essa ligação é denominada de covalente polar.
Para a molécula de CO2, na qual o carbono (C) é o átomo
central, observamos para a ligação química C-O que
a diferença de eletronegatividade é igual a 1,0. Isso
porque a eletronegatividade do átomo de oxigênio é
igual a 3,5 e a do átomo de carbono é de 2,5. Nesse caso,
podemos observar que a ligação C-H é covalente polar.
Para facilitar a compreensão, observe a figura 1.3. Nela é possível
reconhecer a representação esquemática da ligação covalente
apolar que ocorre entre os átomos de mesma eletronegatividade.
Além disso, observa-se que a nuvem de elétrons está distribuída
de maneira igual para os dois átomos de hidrogênio. Já para as
ligações covalentes polares, observamos que a nuvem de elétrons
encontra-se concentrada na espécie mais eletronegativa.
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Voltando à figura 1.3, no terceiro caso (da direita), ocorre a
transferência de elétron entre os átomos hipotéticos X e Y, em
que o átomo Y (carga -) recebe o elétron do átomo X (carga
+). Esse processo ocorre devido ao átomo Y apresentar uma
eletronegatividade muito maior que o átomo X, e com isso
favorecer a formação de íon positivo e negativo, dando origem ao
termo que denomina a ligação iônica.
Na molécula de NaCl o sódio (Na) e o cloro (Cl)
apresentam uma diferença de eletronegatividade
igual a 2,1. Isso porque a eletronegatividade do átomo
de sódio é igual a 0,9 e a eletronegatividade do átomo
de cloro é de 3,0. Nesse caso, podemos observar que a
ligação é iônica.
Na figura 1.3 o caráter iônico do átomo Y aumenta da ligação
covalente apolar para a covalente polar, e por último para a
ligação iônica. É importante salientar que a maioria das ligações
químicas não é 100% iônica ou 100% covalente. Na verdade, as
ligações possuem caráter intermediário, e vão gradualmente do
maior caráter covalente para o maior caráter iônico.
Uma ligação iônica é a que se forma por transferência
de um ou mais elétrons da camada de valência de um
átomo para a camada de valência de outro. A ligação
iônica produz-se pela atração eletrostática entre os
íons de carga oposta.
Na prática verifica-se a diferença de eletronegatividade entre dois
átomos ligados. Se essa for menor ou igual a 0,4, consideramos
ter uma ligação covalente apolar; se for de 0,5 até 1,4, a ligação é
covalente polar; e se for maior que 1,4, a ligação é considerada iônica.
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Química Ambiental
Ligações fracas
As moléculas apolares (não contêm dipolos) e os átomos não
combinados experimentam forças de atração débeis, chamadas
Forças de van der Waals.
Pense em uma molécula como uma espécie não estática, pois
apresenta movimento desordenado dos elétrons nos átomos. É
razoável pensar que num determinado momento a distribuição
nessa molécula pode não ser perfeitamente simétrica, e apareçam
então dipolos instantâneos (figura 1.4).
Esses dipolos desaparecerão em pouco tempo, podendo levar a
uma molécula neutra ou a outros dipolos, inclusive contrários.
Mas no curto espaço de tempo em que existem, eles podem
induzir a formação de dipolos contrários na molécula vizinha,
levando as duas a se atraírem mutuamente.
(a)
Essa denominação
é em homenagem
ao físico Olandez
Johannes Diderik
vander der Waals,
que desenvolveu uma
equação relacionando
a pressão e a
temperatura de um gás
com o seu volume.
(b)
Figura 1.4 - Esquema representativo das forças de van der Waals: (a) dipolo instantâneo e (b) dipolo induzido
Fonte: Pissinato (2008).
A força de interação de van der Waals está presente
entre as moléculas do gás oxigênio e também entre as
moléculas do gás de nitrogênio. Esses gases são
constituintes importantes da atmosfera.
As moléculas polares experimentam forças denominadas dipolodipolo (figura 1.5), em que as moléculas são atraídas entre si por
interações dipolares, devidas à criação de dipolos originados pela
diferença de eletronegatividade nos átomos.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Figura 1.5 - Esquema representativo das forças dipolo-dipolo
Fonte: Pissato (2008).
Entre as moléculas de acetona há força de atração
do tipo dipolo-dipolo, devido à diferença de
eletronegatividade entre os átomos de C e de O. O
átomo de oxigênio (δ-) é mais eletronegativo do que o
átomo de carbono (δ+).
H3C
δ+
C
δ−
H3C
O
H3C
δ+
C
δ−
O
H3C
A ligação de hidrogênio é a mais importante das forças de atração
débeis e dá-se quando o hidrogênio está ligado a um átomo
muito eletronegativo e de pequeno volume atômico, como flúor,
nitrogênio e oxigênio. Nesses casos, formam-se moléculas muito
polares atraídas entre si por intensas interações dipolares.
Entre as moléculas de água há ligação de hidrogênio,
devido à diferença de eletronegatividade entre os
átomos de H e de O. O átomo de oxigênio (δ-) é mais
eletronegativo do que o átomo de hidrogênio (δ+).
δ+
H
δ− O
H
δ+
H
δ−
H δ+
δ+
O δ−
H
O
H
δ−
O
H
H
δ+
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Química Ambiental
Na água líquida e no gelo, os átomos de hidrogênio de uma
molécula de água podem formar ligações com o átomo de
oxigênio de moléculas adjacentes, conforme mostra a figura do
exemplo anterior. Já na figura 1.6, é possível observar que partes
da água estão na forma de gelo.
Figura 1.6 - Iceberg flutuante
Fonte: Hicker (2011).
Analise a figura 1.6 e reflita: por que o gelo boia? Isso ocorre
porque a densidade de uma substância (o peso em relação ao
volume) varia com sua temperatura. O gelo boia porque sua
densidade é menor do que a da água líquida em temperatura
ambiente. Essa é uma propriedade incomum, porque a maioria das
substâncias puras é mais densa no estado sólido do que no líquido.
No gelo comum, obtido sob pressão atmosférica, as moléculas de
água formam estruturas hexagonais (figura 1.7) que deixam vãos
entre elas. A ausência de moléculas nesses espaços (espaços vazios)
causa uma diminuição da densidade do sólido em relação ao líquido.
Figura 1.7 - Estrutura hexagonal do gelo
Fonte: Elves Manuel (2007).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Com o derretimento do gelo, em temperaturas acima de 0 °C, o
número de arranjos hexagonais diminui e sua fragmentação faz
com que a densidade da água aumente, atingindo seu valor
máximo a 4 ºC.
Mas afinal, por que os peixes não morrem congelados nas regiões
polares? Porque nem toda água do mar está congelada. Então,
por que nem toda água do mar está congelada?
Nem toda água do mar está congelada devido ao sal.
O ponto de congelamento passa para menos de 0 °C
dependendo do grau de salinidade (quanto mais sal,
mais baixa a temperatura).
A água salgada congela na superfície porque atinge a temperatura
suficientemente baixa, a ponto de congelar, e com isso forma-se
uma camada de gelo na superfície do mar (o gelo flutua).
Essa camada de gelo isola o restante da água do ar frio que está por
cima. Por isso, é difícil o fundo ficar tão frio a ponto de fazer a água
salgada congelar. Ainda assim, nos polos da Terra faz frio o ano
todo e, mesmo com o gelo da superfície isolando, a água por baixo
consegue ficar abaixo da temperatura de congelamento. Hora de
lembrar que quanto mais fundo se vai, maior é a pressão. E é aí que
entra outra propriedade da água: quando aumenta a pressão, ela
derrete! É a alta pressão que impede o congelamento desse líquido.
Faça uma experiência! Coloque a mesma quantidade
de água em dois copos, cerca de três dedos de altura.
Junte uma colher de sopa de sal a um deles e mexa
bem. Ponha ambos os copos no congelador e vá
verificando de vez em quando se congelaram.
Qual congela mais depressa? O copo de água que não
contém sal. Se seu congelador não estiver
suficientemente frio, a água com sal não congela!
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Química Ambiental
Por meio das ligações (metálica, iônica e covalente polar e apolar)
podem ser formados muitos compostos. Esses compostos são
agrupados em função da suas propriedades e são classificados
como compostos orgânicos e inorgânicos, dependendo dos
átomos e de como esses átomos estão ligados, como você vai
estudar na próxima seção.
Seção 3 – Classificação dos compostos químicos
inorgânicos
Com o intuito de facilitar a compreensão e estudo dos compostos
químicos, os pesquisadores os dividiram em dois grandes grupos:
os compostos inorgânicos e os compostos orgânicos. Esses
compostos são de suma importância para se compreender a
constituição dos meios aquático, terrestre e atmosférico e,
também, os problemas ambientais.
Infelizmente, é difícil fornecer uma definição sobre compostos
químicos que satisfaça completamente os estudiosos. A mais aceita é:
Compostos orgânicos são aqueles que possuem como
constituintes átomos de carbono, hidrogênio e, em
alguns casos, outros átomos (heteroátomos), tais como
oxigênio, nitrogênio, enxofre e cloro. Todos os demais
compostos são considerados compostos inorgânicos.
Os compostos inorgânicos são subdivididos em funções
químicas que correspondem a um conjunto de substâncias que
apresentam propriedades químicas semelhantes.
Nesta seção, serão
abordados somente os
compostos inorgânicos.
As substâncias inorgânicas podem ser classificadas em quatro
funções:
„„
ácidos;
„„
bases;
„„
sais;
„„
óxidos.
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qumica_ambiental.indb 35
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Assim, numa reação química, todos os ácidos, por exemplo,
terão comportamento semelhante. Conheça cada uma dessas
substâncias inorgânicas a seguir.
Ácidos
Ácidos, segundo Arrhenius, são substâncias que em solução aquosa
liberam como único e exclusivo cátion o hidroxônio (H3O+ ou
H+).
São alguns exemplos de ionização de ácidos:
HCl + H2O ® H3O+ + ClH2SO4 + 2H2O ® 2H3O+ + SO42H3PO4 + 3H2O ® 3H3O+ + PO43-
Os hidrogênios que fornecem H3O+ são chamados de
hidrogênios ionizáveis, que são aqueles que se ligam ao elemento
mais eletronegativo na molécula do ácido, por exemplo, ao
elemento oxigênio. Geralmente a quantidade de hidrogênios do
ácido é a mesma que pode ionizar, como nos exemplos anteriores,
mas existem exceções:
Acompanhe a análise de dois ácidos.
O ácido H3PO3 apresenta três hidrogênios, sendo dois
hidrogênios ionizáveis, 2H+, e a partir daí tem-se a seguinte
equação de ionização: H3PO3 + 2H2O
2H3O+ + HPO32-.
O
HO
P
OH
A partir da fórmula estrutural do ácido
, é possível
H
verificar que as duas ligações entre hidrogênio e oxigênio são
covalentes polares. Considerando que a eletronegatividade do H é
2,1 e do oxigênio é 3,5, temos que a diferença (3,5 - 2,1 = 1,4) entre
elas é de 1,4, – uma diferença de eletronegatividade típica de ligação
covalente polar, assim cada H da ligação O-H pode ser ionizada.
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Química Ambiental
Outra exceção é o ácido H3PO2 que apresenta três hidrogênios,
sendo um hidrogênio ionizável, 1H+, e a seguinte equação de
ionização: H3PO2 + H2O
H2O+ + H2PO2O
HO
P
H
H
A partir da fórmula estrutural do ácido
, é possível
verificar que apresenta uma ligação entre hidrogênio e oxigênio,
ligação covalente polar, ionizável.
A força dos ácidos é expressa em Grau de Ionização
(α ) e está relacionada com a facilidade de ionização.
Assim, analisando a equação geral, tem-se:
H3O+ + X-
HX + H2O
Nº inicial de moles
Nº de moles ionizados
Dessa forma: HX é um ácido qualquer que pode ionizar para Xcom diferentes velocidades, na relação entre o número de moles
ionizados pelo número de moles inicial, na equação:
α = Nº de moles ionizados
Nº inicial de moles
E, então, considerando a fórmula, teremos a definição da
capacidade de ionização dos ácidos.
„„
Ácidos fracos: 0 < α < 5%
„„
Ácidos moderados: 5% ≤ α ≤ 50%
„„
Ácidos fortes: 50% < α < 100%
No entanto, os ácidos possuem algumas características que os
diferenciam das demais substâncias químicas. Conhecê-las é
essencial para sua identificação. Veja a seguir.
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Características gerais dos ácidos
Os ácidos possuem algumas características, tais como:
„„
apresentam sabor azedo;
„„
desidratam a matéria orgânica;
„„
„„
deixam incolor a solução alcoólica de fenolftaleína
(indicador ácido-base);
neutralizam bases formando sal e água.
Além disso, os ácidos são corrosivos, pois desidratam a matéria
orgânica. Por isso, é preciso ter muito cuidado ao manipulá-los.
São alguns cuidados importantes:
„„
„„
„„
trabalhar com Equipamento de Proteção Individual
(EPI): calça, sapato fechado, blusa, jaleco de manga
longa, luva com resistência química;
trabalhar com Equipamento de Proteção Coletiva
(EPC): capela química, chuveiro, lava-olhos;
não cheirar a substância.
Muitos ácidos são importantes no nosso dia a dia. No contexto
da química ambiental destacam-se:
1)ácido sulfúrico (H 2SO4) e ácido sulfuroso (H 2SO3) –
esses ácidos são fortes e responsáveis pela “chuva ácida”.
A maior fonte de SO2 (dióxido de enxofre) na atmosfera
é a queima de carvão e derivados do petróleo, devido à
presença de compostos de enxofre nesses combustíveis.
O SO2 é rapidamente oxidado a SO3 (trióxido de
enxofre) na atmosfera, em reações com oxigênio ou
peróxido de hidrogênio (H2O2). Tanto o SO2 quanto o
SO3 são muito solúveis em água, formando,
respectivamente, o ácido sulfuroso e o ácido sulfúrico,
como indicam as reações a seguir:
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Química Ambiental
a) oxidação de enxofre:
S + O2
SO2
2SO2 + O2
2SO3
b) formação do ácido:
SO3 + H2O
H2SO4
SO2 + H2O
H2SO3
2)ácido nítrico (HNO3) - o ácido nítrico (ácido forte) é
formado a partir da oxidação do átomo de nitrogênio,
também podendo ser responsável pela “chuva ácida”. O
dióxido de nitrogênio também é formado nas combustões
de carvão e derivados do petróleo. As altas temperaturas
e pressão dos motores à explosão favorecem a reação
entre o N2 e o O2 presentes na atmosfera, formando o
óxido nítrico (NO). O NO reage prontamente com o
O2 do ar, formando o NO2. O NO2 dimeriza formando
o N2O2=4, que é solúvel em água, produzindo os ácidos
nitroso e nítrico. As reações estão representadas a seguir:
a) oxidação do nitrogênio:
N2 + O2
2NO
2NO + O2
2NO2
2NO2
N2O4
b) formação do ácido:
H2O + N2O4
HNO2 + HNO3
A maior acidez na água da chuva causa diversos danos ao
ambiente, como o empobrecimento do solo para a agricultura e
um maior desgaste das construções.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
3)ácido fosfórico (H3PO4) - é um líquido xaroposo
obtido pela oxidação do fósforo vermelho com ácido
nítrico concentrado. Esse é um ácido moderado usado na
indústria de vidros, preparo de águas minerais e nos
refrigerantes de “cola”. Os fosfatos também são usados
como adubo, pois fazem parte da formulação do
fertilizante NPK.
Agora que você conheceu as características dos ácidos, conheça um
pouco mais sobre outra substância química: as bases. Acompanhe.
Base
De acordo com Arrhenius, base ou hidróxido é toda substância
que, dissolvida em água, dissocia-se fornecendo como ânion
exclusivamente OH- (hidroxila ou oxidrila).
São alguns exemplos de bases dissociadas:
NaOH
Na+ + OH-
Ca(OH)2
Ca2+ + 2OH-
Al(OH)3
Al3+ + 3OH-
As bases, com exceção do hidróxido de amônio (NH3OH), são
compostos sólidos e não voláteis (fixos), apresentam ligações
iônicas e são formados da ligação do grupo hidroxila com metais.
A base hidróxido de amônio, que é uma exceção, é formada
quando se borbulha o gás amônia em água, pela equação
química: NH3 + H2O
NH 4OH, na qual o nitrogênio
é um não metal, liga-se ao grupo OH por meio de ligação
covalente e apresenta-se em solução aquosa e volátil.
Quanto ao Grau de Dissociação Iônica, as bases são classificadas
como fortes e fracas. As bases fortes são os hidróxidos de metais
alcalinos (G1) e metais alcalinos terrosos (G2), e as bases fracas
incluem o hidróxido de amônio (NH4OH) e as demais bases.
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Química Ambiental
Quanto à solubilidade das bases em água, temos as totalmente
solúveis, que são os hidróxidos dos metais alcalinos (G1) e o
hidróxido de amônio (NH4OH), as parcialmente solúveis, que
são os hidróxidos dos metais alcalino-terrosos (G2), e as
insolúveis, que são todos os demais hidróxidos.
Assim como os ácidos, as bases possuem algumas características
que as diferenciam das demais substâncias químicas. Conhecê-las
é essencial para sua identificação. Veja a seguir.
Características gerais das bases
As bases apresentam algumas características, tais como:
„„
apresentam sabor caústico;
„„
estriam a matéria orgânica;
„„
„„
deixam rosa a solução alcoólica de fenolftaleína
(indicador ácido-base);
neutralizam ácidos formando sal e água.
As bases são corrosivas pois são cáusticas e, desta forma, assim
como foi sugerido no caso dos ácidos, é preciso ter cuidado ao
manipulá-las. Alguns cuidados necessários são:
„„
„„
trabalhar com Equipamento de Proteção Individual
(EPI) - calça, sapato fechado, blusa, jaleco de manga
longa, luva com resistência química;
trabalhar com Equipamento de Proteção Coletiva
(EPC) - capela química, chuveiro, lava-olhos.
Na figura 1.8, você pode observar a evolução da queimadura
com substâncias químicas, que pode ocorrer, por exemplo, pelo
contato de hidróxido de sódio (soda cáustica) com uma pessoa
que não estava devidamente protegida ao manipulá-lo.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Figura 1.8 - Fotografia do efeito evolutivo da queimadura (dermatite de contato) devido ao uso de
substâncias químicas com efeito cáustico
Fonte: Marcondes (2007).
Os ácidos se ionizam; já as bases se dissociam.
Leia mais no artigo de
Luiz Antonio da Costa
e Adriana Flach: “A
contextualização dos
termos ionização e
dissociação nos livros” (In:
Sociedade Brasileira de
Química, Poços de Caldas,
n. , p.1-2, 20 maio 2002).
Muitas bases são importantes no nosso dia a dia, como:
1)hidróxido de sódio (NaOH – soda cáustica) - é um
sólido branco floculado muito solúvel em água, além
de extremamente cáustico. É usado na desidratação de
gorduras, no branqueamento de fibras (celulose) e na
fabricação de sabões e detergentes.
2)hidróxido de cálcio (Ca(OH)2 - cal apagada, hidratada
ou extinta) - é uma suspensão aquosa de aparência
leitosa, obtida a partir do CaO (cal virgem), usada na
caiação de paredes e muros, na neutralização de solos
ácidos. A reação de preparação da cal hidratada é:
CaO + H2O
Ca(OH)2
Cal virgem Cal hidratada
3)hidróxido de alumínio (Al(OH)3) - é uma suspensão
gelatinosa que pode adsorver moléculas orgânicas que
porventura estejam em solução aquosa, por exemplo, em
um tratamento da água. Esse composto também é usado
como antiácido estomacal.
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Química Ambiental
4)hidróxido de amônio (NH4OH) - é um líquido incolor,
de odor forte e asfixiante, instável mesmo à temperatura
ambiente e de poder cáustico. Susceptível de atacar os
metais, libertando hidrogênio, que pode formar uma
mistura explosiva em contato com o ar. O gás, por ser
invisível e mais denso que o ar, pode entrar em esgotos
ou locais fechados, e é utilizado como desinfetante.
Conhecidas as características, tipos e conceitos de bases, você
agora irá conhecer outra substância química: os sais.
Sal
Sal é todo composto que em água dissocia liberando um cátion
diferente de H+ e um ânion diferente de OH-. A reação de um
ácido com uma base recebe o nome de neutralização. É exemplo
de formação de sal: HCl + NaOH
NaCl + H2O.
Existem três tipos de sais: neutros, ácidos e básicos. Conheça
sobre cada um.
a) Sais neutros - são obtidos por neutralização total, ou
seja, o número de hidrogênios ionizáveis é igual ao
número de hidroxilas (H+ioniz = OH-).
São exemplos de reações de obtenção de sais neutros:
H2CO3 + Ca(OH)2
CaCO3 + 2 H2O
2 NaOH + H2SO4
Na2SO4 + 2 H2O
b)Sais ácidos e sais básicos - são obtidos por neutralização
parcial, ou seja, o número de hidrogênios ionizáveis é
diferente ao número de hidroxilas (H+ioniz ≠ OH-). No
sal ácido observamos a presença de hidrogênio ionizável
e no sal básico a presença de hidroxila.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
H2CO3 + NaOH
NaHCO3 + H2O
Sal ácido
HCl + Mg(OH)2
Mg(OH)Cl + 2 H2O
Sal básico
Muitos sais são importantes no nosso dia a dia. Conheça alguns
deles:
1)carbonato de cálcio (CaCO3 - mármore, calcáreo) – é
um sólido branco que por aquecimento perde CO2 e
produz CaO por calcinação. É usado na fabricação de
cimentos, como corretivo do solo e como fundente em
metalurgia.
2)cloreto de amônio (NH4Cl - sal amoníaco) - é usado na
fabricação de pilhas secas, na soldagem, na galvanização
do ferro e na fabricação de tecidos.
Você já conheceu as propriedades dos ácidos, bases e sais.
Conheça, agora, os óxidos e suas características.
Óxido
Óxido é todo composto binário oxigenado, no qual o oxigênio é
o elemento mais eletronegativo.
CO2, H2O, Mn2O7, Fe2O3
Muitos óxidos são importantes no nosso dia a dia. Você já
estudou os óxidos de enxofre (SOx) e os óxidos de nitrogênio
(NOx) durante o processo de formação da “chuva ácida”.
Conheça mais alguns:
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Química Ambiental
1)óxido de alumínio (Al 2O3 - bauxita, alumina) - é um
sólido muito duro (dureza 9, na escala de dureza de
Mohs), de onde é extraído por eletrólise o alumínio
metálico. Na forma cristalizada é encontrado nas safiras
e nos rubis.
2)peróxido de hidrogênio (H 2O2 - água oxigenada) - é
uma solução aquosa que se decompõe facilmente em
presença de luz (fotólise). É utilizada como agente
oxidante e bactericida.
3)tetróxido de triferro (Fe3O4 - magnetita, imã) - é um
sólido escuro que apresenta características
ferromagnéticas. É utilizado na fabricação de caixas de
som e aparelhos eletrônicos em geral.
Exemplo: FeO + Fe2O3
Fe3O4
Seção 4 – Propriedades dos compostos químicos
As propriedades dos compostos químicos são classificadas sob
duas características principais: físicas e químicas. Então, como
estabelecer essa classificação?
Uma propriedade física pode ser caracterizada sem
referência específica a outra substância e comumente
descreve a resposta da substância a algum agente
externo, como calor, luz, força, eletricidade etc.
As propriedades físicas incluem pontos de ebulição e fusão,
condutividade térmica, cor, índice de refração, reflectibilidade,
dureza, resistência à tensão, fluidez e condutibilidade elétrica.
Uma propriedade química descreve uma
transformação química, e podemos citar a interação
de uma substância com outra, ou a transformação de
uma substância em outra.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
A água em contato com óxidos forma ácidos, derivados de
petróleo queimam o ar, o sal em contato com a água forma água
salgada, o ferro enferruja na presença de ar.
As propriedades da matéria também podem ser classificadas
como macroscópica e microscópica. Uma propriedade
macroscópica descreve características ou comportamentos de
uma amostra que é suficientemente grande para ser visualizada,
tocada, manipulada, pesada, entre outras possibilidades. Uma
propriedade microscópica descreve o comportamento de uma
amostra muito menor de matéria, trata de um átomo ou uma
molécula, por exemplo. A organização dos átomos os moléculas
nos estados físicos sólido, líquido e gasoso trata de uma
propriedade microscópica de uma matéria.
Quanto à solubilidade de compostos, existe uma antiga regra
que generaliza dizendo que: “semelhante dissolve semelhante”.
Essa regra é muito útil, mas não é perfeita. Mais especificamente,
temos que solventes polares tendem a dissolver solutos polares, e
solventes não polares tendem a dissolver solutos não-polares.
Devemos relembrar que a polaridade de uma substância química
depende do tipo de ligação (covalente apolar ou polar, iônica) e
da geometria da molécula.
Exemplos
Vejamos dois casos em que ocorrem mudanças de estrutura
durante o processo de dissolução.
Vamos utilizar o tetracloreto de carbono (CCl4), um solvente não
polar (apolar) típico (CCl4 apresenta geometria tetraédrica, figura
1.9). Solutos que apresentam solubilidade neste solvente são, por
exemplo, o iodo (I2) e o enxofre (S8). Em substâncias moleculares
apolares, as únicas atrações intermoleculares existentes são as forças
fracas de van der Waals. Quando soluções destes componentes
são formadas, as interações soluto-soluto e solvente-solvente são
facilmente substituídas pelas interações soluto-solvente.
46
qumica_ambiental.indb 46
01/03/12 16:41
Química Ambiental
Por outro lado, solventes apolares como o CCl4 ou
hidrocarbonetos derivados do petróleo não são bons solventes
para compostos iônicos e polares, pois não conseguem romper as
forças (dipolo-dipolo ou de hidrogênio) existentes nos compostos
iônicos e nos compostos polares.
Cl
C
Cl
Cl
Cl
Figura 1.9 - Geometria tetraédrica do CCl4
Fonte: Elaborado pelo autor.
Agora considere as propriedades de um solvente polar, a água
– lembrando que é devido à elevada eletronegatividade do
oxigênio e à geometria angular (figura 1.10). A água é um bom
solvente para solutos polares, como sacarose (açúcar de cana,
C12H 22O11) e etanol (C2H6O), e também para solutos iônicos,
como o cloreto de sódio (NaCl).
O
H
H
Figura 1.10 - Geometria angular, H2O
Fonte: Elaborada pelo autor.
Nesses casos, as interações fortes soluto-solvente fornecem a
energia necessária para superar as forças de interação no soluto.
A água é um solvente muito bom para muitos compostos iônicos,
porque as forças íon-dipolo estabelecidas na solução são fortes, e
cada íon é envolvido por muitas moléculas de água, num processo
denominado de solvatação (figura 1.11).
Figura 1.11 - A água dissolve compostos iônicos, NaCl
Fonte: Campos (2003).
Unidade 1
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47
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Toda a água é um mau solvente para solutos apolares. As forças
entre as moléculas do solvente são mais fortes do que as forças
que seriam formadas entre solvente-soluto.
Os compostos inorgânicos, de modo geral, apresentam boa
solubilidade em água. É possível fazer algumas generalizações:
1. todos os ácidos inorgânicos são solúveis em água;
2.todos os compostos com íons Na+, K+, e NH4+ são
solúveis em água;
3.todos os nitratos (NO3-) são solúveis em água;
4.a maioria dos acetatos (CH3COO-) é solúvel em água,
com as exceções: AgOOCCH3, Hg2(OOCCH3)2;
5. a maioria dos haletos – fluoretos (F-), cloretos (Cl-),
brometos (Br-) e iodetos (I-) – são solúveis. Exceções:
cloretos, brometos e iodetos de Ag(I). PB(II) e Hg(I), o
iodeto de Hg(II), e fluoretos de Mg, Ca, Sr, BA e Pb(II);
6.a maioria dos sulfatos (SO42-) é solúvel em água, exceto:
CaSO4, SrSO4, BaSO4, PbSO4, AgSO4 e HgSO4;
7. a maioria dos carbonatos (CO32-), cromatos (CrO42-),
oxalatos (C2O42-), fosfatos (PO43-), sulfitos (SO32-), sulfetos
(S2-) e hidróxidos (OH-) é insolúvel em água. Exceções são
bases da família dos metais alcalinos e NH3(aq).
Agora que você finalizou o estudo desta unidade, realize as
atividades de autoavaliação para complementação de seus estudos.
Mas antes, não deixe de rever os principais conceitos ao ler a
síntese a seguir.
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Química Ambiental
Síntese
Nesta unidade, você conheceu a estrutura dos átomos e viu que
todos os elementos da tabela periódica, representados por símbolos,
são átomos com número de elétrons, nêutrons e prótons diferentes.
Estudou, também, que os elementos químicos são organizados de
maneira sistemática na tabela periódica. Identificou e diferenciou
elementos de compostos químicos, e conheceu as ligações
químicas (metálica, iônica e covalente) levando em consideração
os elementos químicos e valores de eletronegatividade. Também
conheceu as classes de compostos inorgânicos (ácido, base, sal e
óxido), com exemplos de aplicação e formação no meio ambiente,
e compreendeu as propriedades das substâncias químicas.
Durante as explanações, você viu onde esses conceitos podem
atuar em Química Ambiental.
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realiza atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas se esforce para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois assim você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Identifique, na tabela periódica, os seguintes elementos químicos:
a) halogênio no quinto período
b) gás nobre no terceiro período
c) um metal alcalino com mais de uma camada ocupada que o potássio
d) o primeiro elemento de transição da família 3
2) Explique a solubilidade de álcool etanol (CH3CH2OH) em água,
considerando o álcool etílico como soluto e a água como solvente.
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Química Ambiental
3) Comente sobre uma diferença física e uma química entre um metal e
um não metal.
4) Para os compostos químicos a seguir, informe qual o tipo de cada
ligação (ligação covalente polar ou apolar, ligação iônica), pela análise
da eletronegatividade de cada átomo.
a)
H
H
C
H
H
P
H
Elemento químico
Eletronegatividade
Carbono (C)
Hidrogênio (H)
Fósforo (P)
Unidade 1
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Universidade do Sul de Santa Catarina
b) KBr
Elemento químico
Eletronegatividade
Bromo (Br)
Potássio (K)
c)
O
H
C
H
C
K
O
H
Elemento químico
Eletronegatividade
Carbono (C)
Hidrogênio (H)
Potássio (K)
Oxigênio (O)
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01/03/12 16:41
Química Ambiental
Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade
consultando as seguintes referências:
BETTELHEIM, Frederick. Introduction to general, organic
and biochemistry. 2. ed. New York: Plenum Preess, 2007.
COSTA, Luiz Antonio M. A. da; FLACH, Adriana. A
contextualização dos termos ionização e dissociação nos livros.
In: Sociedade brasileira de química, Poços de Caldas, n. ?,
p.1-2, 20 maio 2002.
LEMBO, Antonio. Química: realidade e contexto. 3. ed. São
Paulo: Ática, 2004.
RUSSELL, John B. Química geral. São Paulo: Mcgraw-hill do
Brasil, 1994.
Unidade 1
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qumica_ambiental.indb 54
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UNIDADE 2
Compostos orgânicos
Objetivos de aprendizagem
„„
Conhecer a classe de compostos orgânicos.
2
„„ Compreender o que são resíduos perigosos,
como os organohalogenados.
„„ Conhecer a constituição do petróleo e derivados.
„„ Compreender as propriedades das substâncias
químicas.
Seções de estudo
Seção 1 Classificação dos compostos
Seção 2 Propriedades dos compostos orgânicos
Seção 3 Petróleo e derivados
Seção 4 Resíduos orgânicos perigosos
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Você sabe em torno de qual átomo se desenvolve a química da
vida? O carbono. Ele é considerado o átomo essencial. As
proteínas, por exemplo, existem em uma variedade surpreendente
de formas e funções.
O homem contém cerca de cinco milhões de proteínas diferentes.
Foram precisos 4,5 bilhões de anos de luz solar e compostos de
carbonos para formar a vida atualmente existente na Terra.
O ser humano aprendeu a transformar compostos de carbono
em medicamentos, combustíveis, comida e inúmeros produtos
industriais. Até agora as maravilhosas transformações com
moléculas orgânicas eram realizadas sem ou com pouca atenção ao
meio ambiente, o que resultou ao longo do tempo em problemas,
como ar poluído, aquecimento do planeta, peixes morrendo em
lagos e rios nos quais não ousamos ir para nadar. As praias e mares
estão ameaçados por derramamentos de óleos e despejos industriais.
A transformação dos compostos de carbono mudou o mundo para
melhor e para pior. Parte deste problema é científico e tem solução.
Essa disciplina pode contribuir para a atuação de profissionais
atentos a esses problemas e que busquem soluções. Para tanto, é
preciso compreender os problemas e a química que os envolve.
Nesta unidade de estudo, você vai conhecer as propriedades e
características dos compostos químicos. Bons estudos!
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qumica_ambiental.indb 56
01/03/12 16:41
Química Ambiental
Seção 1 – Classificação dos compostos
Os compostos orgânicos são aqueles que possuem como
constituintes átomos de carbono, hidrogênio e, em alguns casos,
outros átomos, tais como oxigênio, nitrogênio, enxofre e cloro –
esses, frequentemente, são chamados de heteroátomos.
Precisamos conhecer os princípios da química orgânica para
compreender os benefícios e prejuízos que trazem para o meio
ambiente.
Na tabela 2.1, a seguir, estão listados alguns dos mais
importantes grupos funcionais encontrados em compostos
orgânicos.
Tabela 2.1 - Nome da família de compostos orgânicos, representação do grupo funcional
característico e exemplo.
Nome da família
Grupo funcional
Exemplo simples
Alcano
-C-H e -C-C-
CH3-CH3
Alceno
-C=C- e C-H
H2C=CH2
Alcino
-C=C- e C-H
HC=CH
Haletos de alquila
Br, Cl, I, F
CH3-Br
Álcool
R-O-H
CH3CH2OH
Éter
R-O-R’
CH3CH2-O-CH3
O
O
C
C
Aldeído
R
H
O
Cetona
O
C
R
Ácido carboxílico
R
H
R'
C
O
O
C
C
OH
OH
(continua...)
Unidade 2
qumica_ambiental.indb 57
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01/03/12 16:41
Universidade do Sul de Santa Catarina
Éster
O
O
C
C
R
OR'
R
NH2
R
Amina
R
Primária, secundária e
terciária
O
R
N
H
CH3NH2
R
N
R
Aromática
NH2
OH
Tiol
R-S-R’
CH3-S-CH3
Fonte: Elaboração do autor (2008).
Dentre os grupos funcionais de compostos orgânicos, você vai
conhecer melhor os hidrocarbonetos, especialmente os que
correspondem à fórmula CnH2n+2. Esses compostos são chamados
de alcanos e o mais simples deles é o metano. A seguir, estão
demonstrados os três primeiros compostos, sendo todos gasosos à
temperatura ambiente.
H
H
C
H
H
H
Metano
H
H
C
C
H
H
Etano
H
H
H
H
H
C
C
C
H
H
H
H
Propano
Figura 2.1 – Compostos alcanos
Fonte: Elaboração do autor (2008).
Os homólogos com maior peso molecular, por exemplo, pentano,
hexano e heptano, são líquidos, conforme mostra a tabela 2.2. Os
homólogos de cadeia linear contendo dezoito ou mais carbonos
são sólidos de baixo ponto de fusão.
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qumica_ambiental.indb 58
01/03/12 16:41
Química Ambiental
Tabela 2.2 - Hidrocarbonetos normais, número de carbonos, fórmula, nome, número total de
isômeros possíveis, ponto de fusão e ponto de ebulição
No carbono
Fórmula
Nome
P.E. (oC)
P.F. (oC)
No total de
isômeros
1
CH4
Metano
-161,6
-182,5 1
2
C2H6
Etano
-88,6
-182,5 1
3
C3H8
Propano
-42
-187,6 1
4
C4H10
Butano
-0,5
-138,4 2
5
C5H12
Pentano
36,1
-129,8
3
6
C6H14
Hexano
69
-95 5
7
C7H16
Heptano
98,42
-90,61 9
8
C8H18
Octano
125,52
-57 18
9
C9H20
Nonano
151
-54
35
10
C10H22
Decano
174
-30 75
11
C11H24
Undecano
196
-26 12
C12H26
Dodecano
216
-10 15
C15H32
Pentadecano
270
9,9
4.347
20
C20H42
Eicosano
343
36,8
366.319
30
C30H62
Tricosano
258/3mm Hg
67
4.111.846.763
Fonte: Adaptado de ALLINGER (2006, p. 32)
Legenda: P.E. – Ponto de Ebulição / P.F. - Ponto de Fusão
Não há, em princípio, limites para o número de átomos de
carbono que podem ser ligados em uma cadeia de
hidrocarboneto. Mas a razão principal para a existência de tantos
compostos orgânicos é o fenômeno conhecido por isomeria.
Dois compostos diferentes, de fórmula estrutural
diferente, são chamados de isômeros quando
apresentam a mesma fórmula molecular. O propano e
os homólogos inferiores não têm isômeros; é a partir
do butano que se observa o efeito da isomeria.
Unidade 2
qumica_ambiental.indb 59
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01/03/12 16:41
Universidade do Sul de Santa Catarina
Se analisarmos o butano, cuja fórmula molecular é C4H10, é
possível escrever duas fórmulas estruturais. As fórmulas
estruturais são:
H
H
H
H
H
C
C
C
C
H
H
H
H
H
H
H
H
C
C
C
H
H
H
C
H
H
H
H
Butano
Isobutano
Existem diferentes maneiras de representar uma molécula
química. Observe a tabela 2.3, pois nela são apresentadas algumas
das fórmulas ou estruturas químicas comuns de serem encontradas
para uma dada substância.
Tabela 2.3 - Exemplos de representação de estruturas químicas
Nome / fórmula
molecular
Estrutura de Lewis
Metano CH4
H
HC H
H
Etano
C2H6
HH
HC CH
HH
Butano
C4H10
2-Metilbutano
C5H12
Vitamina A
C20H30O
Estrutura
condensada
Estrutura de Kekulé
H
CH4
H
H
C
H
CH3CH3
H HH H
H C C C C H CH3CH2CH2CH3
H HH H
N. A
H
C
H
H
Estrutura de
esqueleto
C
H
N. A
H H
H
H
HH H
C
H
C
C
H H H H
C
HH
H HH C H
C
C
H
H
C
C
H H H H
OH
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Química Ambiental
Dodecilsulfonato de sódio
C12H25O4SNa
H
HH
H H
HH
C
C
C
H
C
H
H
H
H
H
H
C
C
H
H
C
C
H
H
C
C
H
H
C
H
H
O
C
H H
O
S
O-Na+
H O
N. A. – Não se aplica
Fonte: Adaptado de ALLINGER (2006).
O
O
S
O-Na+
A estrutura em esqueleto é especialmente utilizada paraO
representar moléculas grandes, pois os átomos de C e H estão
subentendidos nos vértices e apenas escrevem-se os heteroátomos.
Desse modo, fica uma estrutura visualmente mais “limpa” e fácil
de ser compreendida e analisada.
Um composto que apresenta cadeia linear é sempre chamado pelo
número total de carbonos, como é o caso do pentano.
CH3
CH2
CH2
CH2
CH3
Pentano
Devido à existência de um número grande de compostos,
principalmente pela possibilidade de isomeria, foi necessária a
criação de uma nomenclatura sistemática. A International
Union of Pure and Applied Chemistry (IUPAC) assumiu essa
tarefa, com frequência são divulgadas atualizações da regras de
nomenclatura, as quais são adotadas internacionalmente.
Veja, a seguir, como aplicar o principio dessa regra de
nomenclatura.
O hidrocarnoneto linear de maior número de carbono é chamado
de composto principal, pois fornece a base para a nomenclatura
do composto. Os átomos dessa cadeia são numerados em
sequência de um extremo ao outro, de maneira tal que os
substituintes na cadeia recebam os menores números possíveis.
Unidade 2
qumica_ambiental.indb 61
IUPAC, que em
Português significa
União Internacional de
Química Pura e Aplicada,
é uma organização
não governamental
internacional, dedicada ao
avanço da química.
61
01/03/12 16:41
Universidade do Sul de Santa Catarina
Um hidrocarboneto ligado à cadeia principal é considerado um
substituinte da cadeia principal e chamado genericamente de
grupo alquila. Para se obter o nome de um grupo alquila,
substitui-se o sufixo ano do alcano por ila. Os nomes,
abreviaturas e radical alquila de alguns grupos alquila estão na
tabela 2.4. Com frequência, o símbolo R é usado para representar
um grupo alquila indeterminado, assim R-H é um alcano.
Tabela 2.4 - Grupo alquila comuns
No carbono
Nome do radical
Abreviatura
Radical alquila
1
Metila
Me
CH3-
2
Etila
Et
CH3CH2-
Propila
Pr
CH3CH2CH2-
Isopropila ou sec-propila
i-Pr
s-Pr
CH3CHCH3
Butila
Bu
CH3CH2CH2CH2-
sec-butila
s-Bu
CH3CH2CHCH3
Isobutila
i-Bu
3
4
CH3
CH3CHCH2
CH3
terc-butila
t-Bu
CH3CCH3
5
Pentila
Pe
CH3(CH2)3CH2-
6
Hexila
He
CH3(CH2)4CH2-
Fonte: Adaptado de ALLINGER (2006, p. 46).
Obs.: As abreviaturas para pentila e hexila não são usadas rotineiramente.
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Química Ambiental
Observe alguns exemplos de compostos orgânicos que utilizam o
sistema IUPAC de nomenclatura.
CH3
CH3
1
CH
2
CH2
3
CH2
4
CH3
5
O nome do composto no exemplo é 2-metilpentano. Seguindo
as regras estabelecidas pela IUPAC, veremos que não é difícil
chegar à nomenclatura, mas para tanto é necessário bastante
atenção e estudo.
A cadeia linear mais longa contém cinco átomos de carbono. O
composto será um alquil-pentano e o grupamento alquila é um
grupo metila. A numeração da cadeia principal é de modo a dar
o menor número possível ao átomo de carbono ao qual se liga o
grupo metila. Desse modo, o nome do composto é 2-metilpentano.
Mas quais são as regras para a nomenclatura de hidrocarbonetos?
As regras podem ser resumidas da seguinte forma:
1. Encontre a cadeia de carbonos mais longa, essa não
precisa necessariamente estar linear. Isso fornecerá o
nome principal do composto.
2.Identifique os grupos alquila ligados à cadeia principal.
Nomeie cada um desses grupos e coloque na ordem
alfabética, sem levar em consideração os prefixos de
quantidade (di, tri etc.) ou os prefixos t-, s- n-.
3.Enumere a cadeia principal, dando aos substituintes a
menor numeração possível.
Ao usar essas regras, será possível nomear mesmo uma molécula
complicada de maneira clara, por exemplo:
Unidade 2
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CH3
CH3
1 2 3 4 5 6
CH3CHCH2CHCH2CCH3
H3C CH
CH3
7CH2
CH2CH3
8 9
4-isopropil-2,6,6-trimetilnonano
Os hidrocarbonetos existem em cadeias abertas, conforme
abordado até o momento, mas também podem existir em cadeia
fechada, também chamada de cíclica.
Os cicloalcanos, fórmula CnH2n, são quimicamente semelhantes
aos compostos de cadeia aberta ou também chamados de alifáticos.
As duas restrições apresentadas pelos cicloalcanos são quanto à
forma da molécula e impedimento estéreo (restrições espaciais).
A nomenclatura dos cicloalcanos difere da nomenclatura dos
alcanos pela palavra “ciclo”, adicionada como prefixo (Ciclo + nome
do hidrocarboneto de origem). O menor composto cíclico é com
três átomos de carbono, ciclopropano. Na figura 2.2, é possível
observar alguns exemplos de nomenclatura de compostos cíclicos.
CH2CH3
Cl
3
2
1
ciclopropano
cicloexano
ciclooctano
CH3
etilciclopentano
3-cloro-1-metilcicloexano
Figura 2.2 - Estrutura em esqueleto e nomenclatura de alguns compostos cíclicos
Fonte: Elaboração da autora (2008).
Durante o século XIX, fez-se um experimento. Foi isolado um
grupo de compostos que recebeu o nome coletivo de aromáticos
devido ao seu odor agradável. O composto principal da série é o
benzeno, C6H6. As propriedades peculiares do benzeno ficaram
evidenciadas logo nos primeiros experimentos.
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qumica_ambiental.indb 64
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Química Ambiental
Embora sua fórmula molecular indicasse um alto grau de
insaturação (presença de duplas ligações), o composto não
apresentava as reações típicas de hidrocarbonetos insaturados
(alceno e alcino). Um composto aromático deve apresentar sua
estrutura cíclica com alto grau de insaturação e planar, e a nuvem
de elétrons deve ser contínua.
A figura 2.3 mostra a representação do benzeno.
I
II
Figura 2.3 - Estrutura em esqueleto do benzeno - I e II são equivalentes
Fonte: Elaboração da autora (2008).
Os derivados do benzeno são estruturas semelhantes ao
benzeno e são nomeados de maneira simples (radical mais
benzeno). A introdução de dois grupos no benzeno cria a
possibilidade de três isômeros.
No sistema IUPAC, os grupos recebem os números 1,2 (orto),
1,3 (meta) e 1,4 (para) para localização na estrutura do benzeno.
Algumas dessas estruturas, conforme mostra a figura 2.4, são
de grande importância, devido a suas aplicações industriais e
propriedades exibidas.
CH3
Metilbenzeno
ou Tolueno
CH2CH3
OH
NH2
Hidroxibenzeno
ou Fenol
CH3
Aminobenzeno
ou Anilina
CO2H
Ácido benzóico
CH3
CH3
CH3
CH3
Etilbenzeno
o-dimetilbenzeno
ou o-xileno
m-dimetilbenzeno
ou m-xileno
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CH3
p-dimetilbenzeno
ou p-xileno
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CH3
OH
NH2
CO2H
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Metilbenzeno
ou Tolueno
CH2CH3
Hidroxibenzeno
ou Fenol
CH3
Aminobenzeno
ou Anilina
Ácido benzóico
CH3
CH3
CH3
CH3
Etilbenzeno
o-dimetilbenzeno
ou o-xileno
m-dimetilbenzeno
ou m-xileno
CH3
p-dimetilbenzeno
ou p-xileno
Bifenila
Figura 2.4 - Estrutura de compostos derivados do benzeno, nome IUPAC. O segundo nome de
algumas das substâncias apresentadas é conhecido como nome comercial
Fonte: Elaboração da autora (2008).
Todos os compostos apresentados na figura 2.4 apresentam
importância industrial. O fenol foi o primeiro composto usado
extensamente como antisséptico em medicina – hoje em desuso
pois causa severa lesão cutânea.
Hoje em dia, o fenol é empregado na indústria de plásticos e
resinas, desinfetantes, preparação de ácido pícrico (medicamento
para tratamento de queimaduras), preparação de ácido
acetilsalicílico, entre outros. Derivados do fenol podem ser
obtidos de fontes naturais, como o óleo do cravo da índia
(eugenol) e noz-moscada (isoeugenol).
O ácido benzóico é precursor do ácido acetilsalicílico (AAS),
utilizado como antitérmico e com importante propriedade
anticoagulante, conhecido comercialmente como AAS®, Aspirina®,
entre outros. A anilina e derivados são importantes matérias-primas
para indústria de corantes e flavorizantes sintéticos.
Por último, destacamos o TBEX; T (Tolueno), B (Benzeno), E
(Etilbenzeno) e X (orto, meta e para Xileno). Essas substâncias
apresentam-se como constituintes da gasolina e devem ter seus
índices controlados, pois são muito tóxicas ao homem e ao meio
ambiente. Esses compostos, apesar de tóxicos, são encontrados
em muitos produtos.
66
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Química Ambiental
O etilbenzeno é aditivo de gasolina e querosene de aviação, e
ainda pode estar presente em tintas, vernizes, plásticos e
pesticidas. São extensamente usados em processos e manufaturas.
O benzeno é usado na produção de materiais sintéticos, como
borracha sintética, plásticos, nylon, inseticidas e tintas. O tolueno
é usado como solvente de tintas, coberturas, colas, óleos e resinas.
O xileno é usado como solvente para plásticos, tintas, borracha,
pesticidas e na indústria de couros.
Os compostos orgânicos podem ser aplicados em muitas e
diferentes atividades, como produção de plásticos, alimentos,
cosméticos, medicamentos e combustível. Essas contêm milhões
de substâncias em que o principal componente é o mais
extraordinário dos elementos químicos: o carbono.
Seção 2 – Propriedades dos compostos orgânicos
Os compostos orgânicos, especialmente os alcanos, alcenos,
alcinos e aromáticos, são compostos apolares (não contêm
dipolos), devido à presença de apenas ligações C-C e C-H, que
são ligações covalentes apolares e da geometria dos compostos.
Em substâncias apolares, as únicas atrações
intermoleculares existentes são as forças fracas de
van der Waals. Quando soluções desses compostos
apolares são formadas, as interações soluto-soluto e
solvente-solvente são facilmente substituídas pelas
interações soluto-solvente.
Os hidrocarbonetos alcanos e saturados (alcenos, alcinos e
aromáticos) são obtidos a partir do petróleo e usados como
solventes para outras substâncias apolares, para a síntese de
diversos compostos orgânicos e, também, como combustível.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Dentre as propriedades dos alcanos, é constatado que esses são
geralmente menos densos do que a água e apresentam pontos de
fusão e ebulição que tendem a aumentar com o peso molecular.
Os isômeros dos alcanos constituídos de moléculas ramificadas
geralmente apresentam ponto de fusão e ebulição a temperaturas
mais baixas que dos isômeros de cadeias mais extensas.
Além disso, os alcanos geralmente não reagem com ácidos, bases,
água e substâncias redutoras. Porém, reagem com substâncias
oxidantes importantes, como O2 (reação de combustão) e Cl 2
(formando os organoclorados).
Os hidrocarbonetos são pouco reativos; eles sofrem reação de
oxidação e queimam na presença de ar ou oxigênio. Os produtos
da combustão são CO2, CO e C, e são dependentes da
quantidade de comburente (O2) presente na reação.
As reações de combustão podem ser completas ou incompletas,
como você vai conhecer nos exemplos a seguir.
Reação de combustão completa
CH4(g) + 2O2(g)
CO2(g) + 2H2O(g) ∆Ηo = -802 KJmol-1
A reação de combustão completa ocorre quando se tem ar, ou
seja, oxigênio em abundância, produzindo óxido de hidrogênio
(água) e dióxido de carbono (CO2), e com isso ocorrendo a
liberação de calor.
Reação de combustão incompleta
2CH4(g) + 3O2(g)
CH4(g) + O2(g)
2CO(g) + 4H2O(g) ∆Ηo = -519 KJmol-1
C(g) + 2H2O(g)
∆Ηo = -409 KJmol-1
Na reação de combustão incompleta, a quantidade de comburente
é limitada, formando o monóxido de carbono e liberando menos
calor. Utilizando-se ainda menos comburente, há formação de
carbono, sob a forma de fuligem, e libera-se menos calor.
68
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Química Ambiental
As propriedades físicas (pontos de ebulição e fusão entre outras) e
as propriedades químicas (reação de combustão ou de halogenação)
são resultantes das interações de van der Waals, que são as
interações presentes nos hidrocarbonetos. Devido a essas forças
explica-se a baixa solubilidade de hidrocarbonetos em água.
As propriedades químicas e físicas dos compostos orgânicos são
de importante compreensão, pois fazem parte da “interminável”
lista de contaminantes liberados para o meio ambiente e que se
difundem na atmosfera, no solo ou na água.
Seção 3 – Petróleo e derivados
O petróleo e derivados fazem parte da vivência da humanidade.
Uma imagem de 1.700 a.C., encontrada no Egito, mostra um
trenó lubrificado com óleo; em 600 a.C. na Rússia existiam os
adoradores do fogo que surgiam da terra; em 2.000, no Império
Romano, o petróleo era usado em lamparinas que iluminavam o
templo de Júpiter; e no Século XIX, a fração de destilação do
petróleo substituiu o óleo de baleia na iluminação das ruas inglesas.
A etimologia da palavra “petróleo” vem de Petra – “pedra” e
Oleum – “óleo”. Isso porque o petróleo bruto é obtido em poros
de rochas, em terra firme ou sob o mar, e se apresenta na forma
de líquido viscoso e coloração escura na maioria dos casos. O
petróleo é encontrado até 2 mil metros de lâmina d’água e 5 mil
metros de perfuração terrestre.
A principal fonte de compostos orgânicos no mundo é
o petróleo.
A constituição do petróleo, segundo Clark e Brown (1970),
apresenta milhares de compostos diferentes, formando uma
mistura muito complexa. São 98% de hidrocarbonetos (incluindo
aromáticos) e uma quantidade menor de compostos de enxofre,
nitrogênio e oxigênio, e metais traço, como vanádio, níquel,
sódio, cálcio, cobre e urânio.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
O óleo que se extrai é uma mistura de hidrocanonetos, alcanos,
do metano até cerca de 30 átomos de carbono, que são os
componentes principais, tendo a predominância de
hidrocarbonetos de cadeia linear.
A mistura de hidrocarbonetos é separada por um processo de
refinação. O processamento de óleo cru, refinação, é uma
operação de destilação fracionada. Para a destilação fracionada
aquece-se lentamente o óleo cru e a temperatura é aumentada
gradativamente. Os constituintes de mais baixo ponto de
ebulição destilam primeiro, com as frações mais comuns de
serem separadas e suas temperaturas, como mostra a tabela 2.5.
Tabela 2.5 - Frações obtidas pela destilação de óleo cru
Fração
Número de
carbonos
Faixa de ebulição
(oC)
Aplicações
Gás natural
C1-C4
Abaixo da
temperatura ambiente
Éter de petróleo
C5-C6
20-60
Nafta leve
C6-C7
60-100
Combustível e
matéria-prima
industrial
Solvente, matériaprima industrial
Solvente, combustível,
matéria-prima
industrial
Gasolina
C6-C12
50-200
Combustível
Querosene
C12-C18
175-275
Solvente, combustível,
matéria-prima
industrial
Óleo combustível
C15-C18
200-275
Combustível
Óleo lubrificante
Acima de 18
Acima de 275
Graxas
Acima de 18
Não destila a pressão
ambiente
Óleo lubrificante
e matéria-prima
industrial
Graxas para
lubrificação
Asfalto
Acima de 30
Resíduo
Piche, asfalto
Fonte: Adaptado de ALLINGER (2006).
Além das aplicações diretas dos derivados do petróleo
apresentadas na tabela 2.5, a partir do petróleo, quando utilizado
como matéria-prima industrial, pode-se obter grande variedade
de produtos, sendo listadas inúmeras aplicações. Temos como
exemplos os plásticos, tintas, pneus, essências para perfumes,
medicamentos, inseticidas, fertilizantes, detergentes e explosivos.
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Química Ambiental
O petróleo vem sendo uma fonte muito importante e conveniente
de energia. Os combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás
natural) são responsáveis por 85% de toda a energia consumida no
mundo. Sabe-se que as fontes de petróleo são limitadas e devese então utilizá-lo de maneira consciente, por isso buscam-se,
paralelamente, outras fontes de energia. Sem falar que todo dia
tem-se conhecimento de estudos e notícias indicando os males do
aumento do efeito estufa, sendo grande contribuidora a combustão
do petróleo. O uso de combustíveis de origem fóssil (petróleo e
carvão) tem sido apontado como o principal responsável por esse
problema ambiental (ASG RENAISSANCE, 2007).
O petróleo e derivados, quando vazam na terra, rios
ou mares, geralmente levam a grandes prejuízos
ambientais. Na terra podem atingir rios e águas
subterrâneas. Na água, as frações de petróleo podem
se depositar no fundo de rios e mares ou podem
formar uma camada na superfície, dependendo da
densidade do produto derramado.
O petróleo e derivados fazem parte da humanidade e suas
aplicações, principalmente como combustível, são indiscutíveis,
mas o processo de extração e de combustão impacta o meio
ambiente e traz prejuízos à saúde humana, de maneira direta ou
indireta. E é isso que você vai estudar na próxima seção.
Seção 4 – Resíduos orgânicos perigosos
Como você estudou na Seção 1 desta unidade, existe um número
grande de compostos derivados dos hidrocarbonetos, todos
considerados orgânicos. Esses compostos podem, em muitos
casos, trazer prejuízos para as pessoas, por meio da inalação,
alimentação ou contato. São então denominados de compostos ou
resíduos perigosos.
Mas afinal, como identificar os resíduos perigosos?
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Resíduos perigosos são classificados em função de
suas características de inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade. Podem
apresentar risco à saúde pública, contribuindo para
um aumento de mortalidade ou incidência de doenças
e/ou apresentando efeitos adversos ao meio ambiente,
quando manuseados ou dispostos de forma inadequada.
Os compostos hidrocarbonetos (alifáticos e aromáticos),
como os inseticidas (organoclorados, organofosforados) entre
outras substâncias, são de lipossolubilidade, por isso são bem
absorvidos pela pele.
Compostos halogenados
Os compostos halogenados constituem um dos grupos
importantes e ocorrem quando um grupo halogênio (F, Cl, Br
e I) substitui um hidrogênio na cadeia do hidrocarboneto de
origem, denominados de haletos de alquila.
Os haletos de alquila são insolúveis em água, mas são solúveis
(miscíveis) em todas as porções com hidrocarbonetos. Os cloretos
de alquila, principalmente os policlorados (triclorometano ou
Clorofórmio - CHCl3, diclorometano ou cloreto de metileno –
CH2Cl3, tetracloreto de carbono CCl4, entre outros), são bons
solventes para muitas matérias orgânicas.
Os clorofluorcarbonos (CFCs) foram os compostos mais usados
como propelentes voláteis em aerossóis. Isso porque esses
compostos são inertes quimicamente, não reagem com o
conteúdo do recipiente (geralmente lata) e nem com o recipiente
– não são inflamáveis, não deixam resíduos, não têm cheiro e não
são tóxicos ao homem.
Quando à estrutura, os CFC são alcanos simples, têm todos os
hidrogênios e são substituídos por átomos de cloro (Cl) e flúor (F).
CCl3F – triclorofluorometano (Freon 11)
CCl2F2 – diclorodifluorometano (Freon 12)
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Química Ambiental
Um composto que é considerado não tóxico para o homem de
maneira direta pode, indiretamente, trazer prejuízos. Os CFC
foram acumulando-se na estratosfera e destruindo a camada
de ozônio. A camada de ozônio age como um filtro dos raios
ultravioletas; quando esses incidem em maior quantidade sobre
o homem podem trazer sérios prejuízos, como queimaduras de
pele, cataratas oculares e cânceres. Por isso, em 1996 foi proibido
o uso de CFC como solvente ou agente refrigerante.
A figura 2.5 apresenta a estrutura do composto
diclorodifeniltricloroetano (DDT), um dos mais conhecidos
inseticidas de baixo custo. Ele foi utilizado inicialmente na época
da 2ª Guerra Mundial para controlar doenças transmitidas por
insetos, tais como malária, tifo e febre amarela.
Cl
H
Cl
Cl
Cl
Cl
Figura 2.5 - Estrutura química do diclorodifeniltricloroetano
Fonte: Elaboração da autora (2008).
Em muitas partes do mundo, seu uso foi proibido por apresentar
efeito acumulativo no organismo e por trazer prejuízo ao meio
ambiente, envenenando alimentos, como verduras, carnes e
peixes, e ainda enfraquecendo as cascas de ovos das aves.
Atualmente, o uso do DDT, embora permitido no Brasil, é bastante
controlado, sendo necessária a autorização e a supervisão de um
agrônomo para a sua compra e utilização. O comprador desse
produto deve assinar um documento se comprometendo a usá-lo na
dosagem indicada e com os equipamentos de proteção necessários
para sua aplicação. Durante a produção, utilização e destruição desse
composto, porém, ocorre a formação de outros compostos muito
perigosos, os derivados clorados mais tóxicos conhecidos, que são as
bifenilas policloradas, as dioxinas e os furanos.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Bifenila policlorada (PCBs) é o nome genérico dado à classe de
compostos organoclorados (figura 2.6) resultante da reação do
grupo bifenila (figura 2.4) com cloro anidro na presença de
catalisador (cloreto de ferro). Trata-se de uma classe de contaminantes
formados pelo composto aromático bifenila, com 1 a 10 átomos de
cloro substituindo os átomos de hidrogênio, nas posições 2-6 e 2’-6’
dos anéis aromáticos, como pode ser visto na figura 2.6.
3
2
2'
3'
4'
4
Cl
Cl
5
6
6'
5'
Figura 2.6 - Estrutura das bifenilas policloradas
Fonte: Elaboração da autora (2008).
Devido às possibilidades de substituintes na cadeia bifenila, é
possível obter diferentes congêneres, somando num total de 209
isômeros. Mas afinal, o que são congêneres?
Congênere é a denominação de um dado composto
pertencente a uma classe de substância química.
Nesse caso, qualquer composto com 1 a 10 átomos de
cloro, pertencente à classe das bifenilas policloradas,
corresponde a um congênere.
Os PCBs são capazes de alterar o desenvolvimento neurológico, a
homeostase intracelular do Ca 2+ e os níveis de dopamina; interferir
na homeostase dos hormônios tireoideanos e promover tumores
(SILVA; TORRES; MALM, 2007).
Os PCBs, como a maioria dos compostos orgânicos, são pouco
solúveis em água, e a solubilidade decresce com o aumento do
número de átomos de cloro na molécula.
Em 1966, a presença de resíduos de PCB na biota foi descoberta
após a pesquisa realizada por Sören Jensen, em um programa de
investigação de acúmulo do inseticida p,p’-DDT no ambiente
(BOON, 1986).
74
qumica_ambiental.indb 74
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Química Ambiental
Desde então, investigações em muitas partes do mundo têm
revelado ampla distribuição dos PCBs em amostras ambientais,
sendo o transporte atmosférico o principal mecanismo para a
dispersão global desses compostos (LANG, 1992 apud SILVA;
TORRES; MALM, 2007).
Os PCBs presentes no solo e em águas superficiais entram na
atmosfera pela volatilização. Uma vez na atmosfera, estarão
presentes tanto na fase vapor, quanto absorvidos no material
particulado. Por meio de ciclos de volatilização, condensação e
deposição, esses compostos podem ser transportados pela
atmosfera de áreas de baixa e média latitude em direção a
áreas de alta latitude, formando um gradiente translatitudinal,
conhecido por “efeito de destilação global”. (ATSDR, 2000 apud
SILVA; TORRES; MALM, 2007).
As dibenzo-p-dioxinas policloradas (PCDD - polychlorinatedp-dibenzodioxins) e os dibenzofuranos policlorados (PCDF
- polychlorinated-p-dibenzofurans), comumente chamados de
dioxinas e furanos, são duas classes de compostos aromáticos
tricíclicos, de função éter (R-O-R’), com estrutura quase planar e
que possuem propriedades físicas e químicas semelhantes.
Os átomos de cloro se ligam aos anéis benzênicos, possibilitando
a formação de um grande número de congêneres: 75 para as
dioxinas e 135 para os furanos, totalizando 210 compostos,
cujas fórmulas estruturais genéricas são mostradas na figura 2.7.
Alguns isômeros são de interesse especial devido a sua toxicidade,
estabilidade e persistência (ASSUNÇÃO; PESQUERO, 1999).
O
O
Cl
O
Dioxina
Cl
Cl
Cl
Furano
Figura 2.7 - Compostos aromáticos tricíclicos, dioxinas (PCDD) e furanos (PCDF)
Fonte: Elaboração da autora (2008).
As dioximas e furanos são produzidos durante a incineração
ou em caldeiras, por meio de precursores, como o PCB, os
pentaclorofenóis e os benzenos clorados; e são produzidos a partir
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
de materiais não diretamente relacionados a esses compostos (ex:
produtos do petróleo em geral, hidrocarbonetos clorados, íons
cloreto inorgânico e plásticos).
Das 210 dioxinas e furanos existentes, 17 compostos com
substituições nas posições 2,3,7 e 8 destacam-se sob o ponto
de vista toxicológico. A toxicidade aguda mais elevada é para
a 2,3,7,8-tetraclorodibenzo-p-dioxina (2,3,7,8-TCDD), que é
ultrapassada somente por algumas outras toxinas de origem natural
(botulinustoxina A, tetanustoxina, ricina, crotoxina e difteriotoxina).
A dose letal para a 2,3,7,8-TCDD é 1 µ g/kg, enquanto que a
estriquinina é de 500 µ g/kg (ASSUNÇÃO; PESQUERO, 1999).
Em 1994, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (Usepa
- United States Environmental Protection Agency) completou uma
reavaliação dos efeitos das dioxinas e furanos e algumas das
conclusões estão relatadas a seguir:
Em relação ao desenvolvimento de tumores malignos, as
evidências disponíveis apontam fortemente que a TCDD
exerce seu efeito carcinogênico, primariamente através
de sua efetividade como agente promotor de estimulação
de replicação de células de maneira reversível, e inibindo
apoptose. (USEPA, 1994, p. 57).
A TCDD não é um carcinógeno completo e não deveria ser
designado pela Usepa como tal, assim entendendo o Comitê
Consultivo para Ciência (SAB – Science Advisory Board).
Esses compostos estão classificados pela Usepa (SAB15, 1995)
no grupo B1 (provável carcinogênico humano com base em
informação limitada de estudos em humanos e em animais).
No Brasil, os poucos trabalhos realizados apresentaram alguns
níveis de concentração comparáveis àqueles de países
desenvolvidos. Sendo assim, existe a necessidade de continuidade
de pesquisas sobre esses compostos, como também a acumulação
em alimentos e no tecido humano, para que, com um maior
domínio do assunto, seja possível prevenir maiores problemas à
saúde pública advindos desses compostos.
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Química Ambiental
Hidrocarbonetos aromáticos
O petróleo é a maior fonte de compostos orgânicos e, a partir do
seu fracionamento, como vimos na seção anterior, produzem-se
inúmeros compostos químicos utilizados, principalmente como
combustíveis e matéria-prima para indústrias.
O metano é encontrado no gás natural e é produzido pela
decomposição de animais e plantas nos pântanos. Ele se forma
também na decomposição do lixo caseiro e nos despejos das
agropecuárias, atualmente existem tecnologias para exploração dessa
fonte de energia (combustível). O metano, bem como os demais
gases derivados do petróleo, é inflamável e pode causar asfixia física,
pois desloca o ar e diminui a taxa de O2. Pode levar a importantes
explosões quando liberado ou produzido em locais confinados.
Os derivados de petróleo, principalmente as frações líquidas e
sólidas, apresentam compostos aromáticos na sua constituição.
BTEX, como foi estudado na Seção 1, é um acrônimo para
benzeno, tolueno, etilbenzeno e xilenos.
A exposição ao BTEX pode ocorrer por ingestão (consumo de
água contaminada com BTEX), inalação (exposição ao ar
contaminado) ou absorção pela pele (produto de evaporação ou
respingo). A exposição aguda em grandes quantidades de
gasolina e seus componentes tem sido associada à irritação na
pele e problemas sensoriais, depressão de atividade do sistema
nervoso central e efeitos no sistema respiratório.
Esses níveis normalmente não são atingidos ao se beber água
contaminada, mas sim pela exposição ocupacional. As exposições
prolongadas a esses compostos provocam problemas semelhantes
nos rins, fígado e sistema sanguíneo.
A Portaria 1.469/2000, do Ministério da Saúde, estabelece os
seguintes limites permitidos para os hidrocarbonetos aromáticos
em água potável: 5 microgramas por litro no caso do benzeno,
170 microgramas/l para o tolueno, 200 microgramas/l para o
etilbenzeno e 300 microgramas/l para o xileno.
Os limites estabelecidos pelo Ministério do Trabalho na NR15
para uma jornada de 48h/semana de trabalho, para qualidade
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
do ar em ambientes industriais e não industriais é de 1 ppm
para benzeno, 78 ppm para tolueno e 78 ppm para os xilenos.
Esses limites são elevados quando comparados com valores
estipulados por órgãos internacionais como, por exemplo, os
estabelecidos nos EUA pela OSHA (Occupational Safety and
Health Administration).
Sabão e detergentes
O sabão e o detergente utilizados diariamente em nossas
residências são denominados cientificamente de surfactantes.
Um surfactante é um composto caracterizado pela capacidade de
alterar as propriedades superficiais e interfaciais de um líquido. O
termo “interface” denota o limite entre duas fases imiscíveis, por
exemplo, água (polar) e gordura (apolar).
Outra propriedade fundamental dos surfactantes é a tendência de
formar agregados chamados micelas, que geralmente formam-se
a baixas concentrações em água.
Hidro equivale
à água, fóbico
equivale à fobia,
repulsão, medo,
e fílico equivale à
amizade, afinidade.
Logo, hidrofóbico
significa com
medo de água,
ou seja, que não é
solúvel em água. E
hidrofílico significa
com afinidade com
a água (solúvel
em água).
A concentração mínima na qual se inicia a formação
de micelas chama-se concentração micelar crítica
(CMC), sendo essa uma importante característica de
um surfactante.
Essas propriedades tornam os surfactantes adequados para uma
ampla gama de aplicações industriais envolvendo: detergência,
emulsificação, lubrificação, capacidade espumante, capacidade
molhante, solubilização e dispersão de fases. Quando o surfactante
é produzido por um microrganismo é chamado biossurfactante.
Genericamente, um surfactante contém grande cadeia de
hidrocarboneto (apolar), denominado grupo hidrofóbico, e na
extremidade um (ou mais) grupo polar (ou catiônico, aniônico,
anfotero) denominado grupo hidrofílico.
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Química Ambiental
Hidrofílico
Hidrofóbico
Figura 2.8 - Representação esquemática de um surfactante
Fonte: Elaboração da autora (2008).
Os principais grupos encontrados em surfactantes são:
1. grupos hidrofóbicos – hidrocarbonetos, alcano, alcenos
e aromático;
2.grupos hidrofílicos – divididos em:
„„
„„
catiônico - RNH3+ e R(CH3)3+ (sal quaternário de
amônio)
aniônico - RCO2- (carbonato), ROSO2- (sulfonato),
ROSO3- (sulfato), ROPO3- (fosfato);
„„
anfótero;
„„
polar - ROH (álcool).
A ação de limpeza da água melhora bastante com a adição de
surfactante. Essas substâncias apresentam um comportamento
dualístico em água, em virtude de sua estrutura. As partes
apolares dissolvem-se em gorduras e óleos, também substâncias
apolares, e as porções polares são solúveis em água (polar).
A capacidade de limpeza dos sabões e detergentes depende da
capacidade de formar micelas (CMC). Na micela, simploriamente,
é como se as moléculas de surfactante envolvessem a sujeira, de
modo a colocá-la em um “envelope” solúvel em água.
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Figura 2.9 - Comportamento de moléculas anfifílicas na interface água-ar e em solução aquosa
Fonte: Disponível em <http://zircon.dcsa.fct.unl.pt/dspace/bitstream/123456789/224/1/18-3.PDF>.
Acesso em: 20 ago. 2008.
Sabões
As matérias-primas para a obtenção dos sabões são os óleos vegetais
e as gorduras animais, formados por triglicerídios. A hidrólise
alcalina desses ésteres naturais produz glicerina e sabões (sais de
sódio ou de potássio de ácidos carboxílicos –CO2H- de cadeia longa
ou ácidos graxos). Os sabões apresentam, porém, o inconveniente de
não atuar bem em meios ácidos e em águas duras. Em meio ácido,
formam o ácido graxo, insolúvel em água, enquanto as águas duras
contêm íons de cálcio, magnésio e ferro que formam precipitados
com os ânions carboxilatos dos sabões, produzindo uma escuma que
adere a tecidos, pias, banheiras etc. (OSORIO; OLIVEIRA, 2001).
Detergentes
Detergentes foram desenvolvidos para contornar os
problemas encontrados com o uso de sabões. Derivados
da indústria petroquímica, são os chamados detergentes
sintéticos, sulfatos, sulfonatos, fosfatos. Os mais utilizados
atualmente, em preparados em pó para lavar roupas, são os
alquilbenzenossulfonatos de sódio de cadeia linear.
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Química Ambiental
Um dos primeiros detergentes sintetizados foi alquilsulfatos, como
o laurilsulfato de sódio, CH2(CH2)10CH2OSO3-Na+, que ainda é
utilizado em pastas de dente, xampus e outros cosméticos.
Detergentes comerciais típicos da década de 50, por exemplo,
continham cerca de 40% de tripolifosfato de sódio ou uma mistura
deste com pirofosfato de sódio13. Com o passar do tempo, a
utilização crescente desses produtos de limpeza aliada à aplicação
não criteriosa de fertilizantes fosfatados nas lavouras levou ao
surgimento de problemas ambientais de poluição de águas.
Os fosfatos não atuam como materiais tóxicos no meio ambiente,
mas sim como nutrientes. Em águas naturais estagnadas, o
resultado é o crescimento excessivo de algas e a diminuição de
oxigênio, que pode provocar a eutrofização do manancial. Um
substituto conveniente e bastante recomendado são as zeólitas,
aluminossilicatos trocadores iônicos que abrandam águas duras.
No Brasil, uma consulta às embalagens de detergentes em pó nos
supermercados esclarece que poucas marcas contêm zeólitas, mas
que quase todas utilizam fosfatos (OSORIO; OLIVEIRA, 2001).
Os detergentes, na sua maioria, contêm cadeias alquílicas lineares
e são metabolizados por bactérias nas Estações de Tratamento de
Esgoto (ETE). Chamam-se detergentes biodegradáveis.
Detergentes com cadeias ramificadas não são biodegradáveis.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Síntese
Nesta unidade, você conheceu os compostos orgânicos, que são
aqueles que apresentam o átomo de carbono como átomo
essencial. Esses compostos são divididos em compostos alifáticos
e cíclicos e compreendem um grande número de famílias, como
por exemplo, os hidrocarbonetos.
Muitos compostos orgânicos são perigosos para a saúde e para o
meio ambiente. Uma das classes que merece destaque são os
organohalogenados, por serem persistentes no meio ambiente e
extremamente tóxicos ao homem e animais.
Você também estudou sobre os constituintes do petróleo e
derivados e que são hidrocarbonetos (alifáticos, cíclicos e
aromáticos). Dentre as propriedades das substâncias químicas
orgânicas abordadas está no fato de os compostos serem apolares,
que em sua maioria, são insolúveis em água, e ocasionam grandes
problemas ambientais quando lançados no meio ambiente.
Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realiza atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas se esforce para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois assim você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Usando as regras oficiais da IUPAC, escreva o nome dos compostos para
as moléculas dos hidrocarbonetos. Observe o exemplo a seguir:
Exemplo 1:
CH2CH3
CH3CH2CH2CHCHCH2CH3
CH3
Resposta: 3-Etil-4-metilepatano
Siga este raciocínio sobre as regras de nomenclatura:
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Química Ambiental
Regra 1 - Localize a cadeia de maior número de carbonos. Essa corresponde
à cadeia principal do alcano linear. Quaisquer outros grupos, diferentes de
hidrogênio, ligados à cadeia principal, são denominados substituintes (CH3 e
CH2CH3). Veja a representação a seguir.
CH2CH3
CH2CH3
CH3CH2CH2CHCHCH2CH3
CH3
CH3CH2CH2CHCHCH2CH3
CH3
ou
Se a molécula tiver duas ou mais cadeias de mesmo comprimento, a cadeia
principal será a que contiver maior número de substituintes. Nesse caso tanto
faz, pois as duas possibilidades fornecem o mesmo número de substituintes.
A cadeia principal terá o nome de heptano.
Regra 2 - Identifique os grupos alquila ligados à cadeia principal. Nomeie
cada um desses grupos e coloque na ordem alfabética, sem levar em
consideração os prefixos de quantidade (di, tri etc.) ou os prefixos t-, s- n-.
etil
CH2CH3
CH3CH2CH2CHCHCH2CH3
CH3
metil
Regra 3 - Numere a cadeia principal, dando aos substituintes a menor
numeração possível.
CH2CH3
7 6 5 4 3 2 1
CH3CH2CH2CHCHCH2CH3
1 2 3 4 5 6 7
CH3
numeração correta
numeração errada
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
CH3
a)
CH3
CH(CH3)2
CH2CHCHCHCH2CHCHCH2CH3
CH3
CH2CH3
CH3
Cl
b)
CH3
CHCH2CH3
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Química Ambiental
c)
d)
OH
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
2) Considerando que a fonte de contaminação seja um posto de
combustível e suscetível ao risco de contaminação de uma
residência, analise a figura a seguir e explique por que a gasolina
comum apresenta maior velocidade de deslocamento da pluma de
contaminação, quando comparada com o diesel.
3) Desenhe a estrutura em forma de esqueleto para as seguintes
substâncias químicas:
a) 3-etildodecano
b) 4-etil-2-fluor-3-metilnonano
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Química Ambiental
c) 1-hidroxipropano
d) 1-aminoetano
e) propilcicloexano
f)ácido p-etilbenzóico
Unidade 2
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Universidade do Sul de Santa Catarina
4) Como os detergentes atuam na remoção da sujeira?
Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade
consultando as seguintes referências:
ALLINGER, Norman L. et al. Química orgânica. 2. ed. Rio
de Janeiro: Guanabara Dois, 2006.
MCMURRY, John. Química orgânica. 6. ed. São Paulo:
Pioneira Thomson Learning, 2005.
RUSSEL, John B. et al. Química geral. São Paulo: Mcgraw-hill
do Brasil, 1981.
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UNIDADE 3
O meio aquático
Objetivos de aprendizagem
„„
Compreender a água na natureza.
„„ Conhecer os requisitos de qualidade e o uso da água.
3
„„ Conhecer os parâmetros indicadores de qualidade da
água.
„„ Compreender o comportamento ambiental dos
lagos.
„„ Conhecer a importância da manutenção da qualidade
das águas naturais.
„„ Conhecer como ocorre o tratamento de esgoto.
Seções de estudo
Seção 1 A água na natureza
Seção 2 Uso da água e os requisitos de qualidade
Seção 3 Parâmetros da qualidade da água
Seção 4 Comportamento ambiental dos lagos
Seção 5 As principais fontes de poluição
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Como sabemos, a água é um dos constituintes mais importante
da Terra. Ingrediente essencial à vida, é talvez o recurso mais
precioso da humanidade, o qual deve ser preservado.
É fundamental que recursos hídricos apresentem condições
físicas, químicas e microbiológicas para sua utilização, assim
como a água, por exemplo, que deve estar disponível em
quantidade e qualidade satisfatória para atender às necessidades
dos seres vivos, em especial do homem.
Por isso, nesta unidade, você vai conhecer alguns usos da água
de grande importância, tais como: a utilização da água para o
abastecimento humano, abastecimento industrial, irrigação,
geração de energia elétrica, irrigação, navegação, diluição de
despejos, preservação da flora e fauna, aquicultura e recreação.
Além disso, você vai estudar a eutrofização, processo que pode
ser realizado de forma natural ou acelerada.
Seção 1 – A água na natureza
A água é rara no sistema solar e no universo conhecido, mas é
bastante abundante em nosso planeta. Ela é condição essencial
para a existência da vida, pois todos os organismos necessitam de
água para sobreviver. No entanto, sua disponibilidade é um dos
fatores mais importantes a moldar os ecossistemas.
A água encontra‑se disponível sob várias formas físicas (sólida,
líquida e gasosa), cobrindo cerca de 70% da superfície do planeta.
É encontrada principalmente no estado líquido, constituindo um
recurso renovável por meio do ciclo hidrológico. É importante
salientar que no ciclo hidrológico os fenômenos básicos são a
evaporação (mudança do estado físico líquido para o gasoso) e a
precipitação (mudança do estado físico do gasoso para o líquido).
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É fundamental que os recursos hídricos apresentem condições
físicas, químicas e microbiológicas adequadas para sua utilização.
A água deve conter substâncias essenciais à vida e estar isenta de
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Química Ambiental
outras substâncias que possam produzir efeitos prejudiciais aos
organismos que compõem as cadeias alimentares. Assim, a água
deve estar disponível em quantidade e qualidade satisfatórias para
atender às necessidades da biota (conjunto de seres vivos).
A qualidade da água é dependente da quantidade de
água disponível para dissolver, diluir e transportar as
substâncias benéficas e as maléficas para os seres
vivos que compõem a cadeia alimentar.
Estima‑se que a quantidade total de água no planeta seja
aproximadamente igual a 265.400 trilhões de toneladas. Na
tabela 3.1, é apresentada a distribuição de água existente no
planeta em termos de localização, área, volume, percentual da
água doce total e percentual da água doce.
Tabela 3.1 – Distribuição porcentual de água no planeta
Localização
Área
(106km³)
Volume
(106km³)
Percentual da
água total (%)
Percentagem da
água doce (%)
Oceanos
361,3
1338
96,5
Água subterrânea
134,8
23,4
1,7
Doce
10,53
0,76
29,6
Umidade do solo
0,016
0,0012
0,05
Calotas polares
16,2
24,1
1,74
68,9
Geleiras
0,22
0,041
0,003
0,12
Lagos
2,06
0,176
0,013
0,26
Doce
1,24
0,091
0,007
Salgado
0,82
0,085
0,006
Pântanos
2,7
0,011
0,0008
0,03
Rios
14,88
0,002
0,0002
0,006
Biomassa
0,001
0,0001
0,003
Vapor na atmosfera
0,013
0,001
0,04
Total de água doce
35
2,53
100
Total
510,0
1,386
100
Fonte: Braga et al. (2005, p. 73).
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Quase a totalidade deste recurso (99,5%) não se encontra
diretamente disponível para uso: 97,0% por se tratar de água
salgada; dos 3,0% que correspondem à “água doce”, 2,5% se
encontram nas calotas polares. Portanto, também não é diretamente
aproveitada para uso humano e, assim, é o correspondente à 0,5% a
parcela de água disponível para consumo humano.
A água salgada dos oceanos para ser destinada
ao uso doméstico precisa passar por um processo
de dessalinização. Os processos tecnológicos
disponíveis são caros quando comparados com os
processos normalmente utilizados para tratamento
da água para uso doméstico.
Em relação ao uso da água existente nas geleiras, é
preciso destacar que elas apresentam o inconveniente
de estarem localizadas em regiões afastadas dos
centros de consumo, o que implica em custos
para o transporte e manutenção. A utilização de
águas profundas também está sujeita a limitações
tecnológicas e econômicas.
Sob o ponto de vista tecnológico e econômico, 0,5% de toda a
água encontrada no planeta representa água doce que pode ser
extraída de lagos, rios e aquíferos. Entretanto, boa parte dessa água
encontra‑se em locais de difícil acesso ou poluída. Assim, estima‑se
que cerca de 0,003% do volume total de água do planeta esteja
disponível para o direto consumo humano.
A água doce também tem limitações de uso impostas
pela sua distribuição heterogênea no0020planeta
(espaço e tempo), pelo ciclo hidrológico e pelo uso
do solo.
A distribuição heterogênea da água doce no espaço, por exemplo,
pela existência de deserto, é caracterizado pela baixa umidade e
nas florestas trópicas, por altas umidades. Quanto à distribuição
heterogênea temporal da água, podemos citar a variabilidade
temporal da precipitação em função das condições climáticas, que
variam em decorrência do movimento de translação da Terra.
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Química Ambiental
Nas fases do ciclo hidrológico são observadas variações naturais
que afetam a quantidade e também a qualidade da água doce
disponível para a humanidade. Devemos levar em consideração
que importantes alterações têm ocorrido nas fases desse ciclo por
causa de intervenções humanas, intencionais ou não.
Sobre esse ponto, é possível mencionar que a ocorrência de vapor
atmosférico de água pode ser alterada pela presença de
reservatórios (exemplo: barragem), modificação da cobertura
vegetal (exemplo: substituição de vegetação, desmatamento, áreas
urbanas) e modificação dos constituintes da atmosfera em espécie
e quantidade (CO2, CO, NOx, SOx, PCB e material particulado).
O uso do solo modifica a disponibilidade de água doce no
planeta devido às modificações causadas no ciclo hidrológico.
Com o desmatamento, há maior presença da umidade do solo,
mas sua capacidade de infiltração diminui. Existe uma tendência
de aumentar o escoamento superficial durante eventos chuvosos,
ampliando a ocorrência de cheias. Tal fato tende a tornar‑se
gradativamente mais intenso pela diminuição da proteção
do solo contra a erosão e a consequente diminuição de sua
permeabilidade pelo desmatamento.
Os exemplos
citados modificam
os processos de
evaporação e/ou
evapotranspiração,
modificando o ciclo
hidrológico.
Já nas áreas urbanas, observamos a ocorrência de
impermeabilização do solo por meio das construções e da
pavimentação. Assim, quando ocorre precipitação, o solo vai ter
pouca ou nenhuma capacidade de infiltração da água, ocorrendo
escoamento superficial intenso da água e sendo a principal causa
de inundações nos meios urbanos.
Como você estudou, problemas como escassez, estiagem e
cheias podem ser devido a causas naturais ou por interferência
do homem. Além desses problemas relacionados com a
quantidade de água, temos os problemas relacionados à
qualidade da água, agravando a sua escassez para consumo,
como, por exemplo, a contaminação de mananciais.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 25 milhões
de pessoas no mundo morrem por ano devido à transmissão de
doenças pela água, como a cólera e diarréias.
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Quais são as características da água?
A água apresenta‑se no estado físico líquido nas condições
normais de temperatura e pressão. A água apresenta fórmula
molecular H2O, sendo uma substância química inorgânica,
classificada como óxido. No entanto, observe que o óxido é todo
composto binário oxigenado, no qual o oxigênio é o elemento
mais eletronegativo.
A água apresenta quatro orbitais híbridos sp3, que são ocupados
por dois pares de elétrons isolados e dois pares compartilhados,
duas ligação O‑H, que são covalentes polares. A estrutura
resultante é descrita como angular, o que proporciona à
substância um caráter polar.
Devido a esse caráter polar, a água dissolve muitos
compostos iônicos, muitas substâncias polares, sejam
essas substâncias orgânicas ou inorgânicas e mesmo
algumas substâncias de menor polaridade.
A água apresenta ponto de fusão de 0oC e ponto de ebulição de
100oC. Devido à formação de ligações de hidrogênio entre as
suas moléculas, apresenta particularidades em sua estrutura, o
que implica, também, na densidade.
Existe uma interface bem definida entre o meio aquático
superficial e a atmosfera, pois a densidade da água é cerca de
oitocentas vezes maior que a do ar. A densidade da água pode
variar com a temperatura (Figura 3.1), a pressão e a concentração
de substâncias dissolvidas.
Observe a figura a seguir. A densidade da água atinge um
valor máximo entre 0oC e 4oC. Numericamente, a variação
da densidade com a temperatura pode aparentar pequena, mas
suficiente para dar origem a uma série de fenômenos importantes
do ponto de vista ambiental.
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Química Ambiental
Ainda de acordo com a figura 3.1, a água no estado sólido é
menos densa que no estado líquido, fazendo com que o gelo
flutue sobre a água líquida. Assim, mesmo que haja gelo na
superfície dos corpos de água, sua parte inferior pode permanecer
no estado líquido, possibilitando a existência de vida aquática.
Figura 3.1 ‑ Variação da densidade da água com a temperatura
Fonte: http://nautilus.fis.uc.pt/cec/hiper/paula%20ribeiro/www.paularibeiro.no.sapo.pt/index_
ficheiros/image002.jpg
Quando existem sais dissolvidos na água é possível observar a
variação no valor da densidade da água. Por exemplo: a densidade
da água do mar é cerca de 2% maior que a densidade da água
pura (CNTP), em função dos sais dissolvidos.
Esse fato é importante para o equilíbrio em estuários, pois eles
são afetados quando a água doce chega à montante dos rios, e
a água salgada a chega à jusante. Desse modo, uma substância
pode ser transportada em ambos os sentidos.
O calor específico da água é elevado, de modo que ela possa
absorver ou liberar grandes quantidades de calor à custa de
pequena variação de temperatura. Assim, uma região que
apresenta grande massa de água pode apresentar uma branda
variação de temperatura, enquanto que uma região desértica
apresenta uma variação de temperatura ampla. Esse raciocínio
pode ser conduzido para o planeta; se os oceanos não existissem,
a amplitude térmica do planeta seria maior.
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Seção 2 – Uso da água e os requisitos de qualidade
A água é um dos recursos naturais mais intensamente utilizados.
É fundamental para a existência e manutenção da vida, para
isso, deve estar presente no ambiente em quantidade e qualidade
apropriadas (BRAGA et al., 2005).
Segundo Macedo (2005), as atividades humanas
geram alterações no meio, ocasionando desequilíbrios,
ou seja, provocam novos equilíbrios, diferentes do
que existiam anteriormente, causando alterações na
natureza. O resultado desses desequilíbrios, que é uma
consequência das atividades humanas, é a poluição ou
contaminação do meio ambiente.
É necessário saber que a poluição decorre de qualquer alteração
de natureza física, química, biológica ou mesmo de regime
hidrológico que produza desequilíbrios no ciclo biológico normal,
alterando a composição da fauna e da flora do meio; sendo
resultado, principalmente, do lançamento de águas oriundas de
atividades industriais, agrícolas ou humanas.
A contaminação é a denominação genérica para as
consequências da introdução de substâncias ou de
organismos nocivos no recurso hídrico, causando
doenças no ser humano (DI BERNARDO et al., 2002).
Para Braga e outros (2005), o conceito de contaminação refere‑se
à transmissão pela água de substância ou microorganismos
nocivos à saúde. A ocorrência de contaminação não implica,
necessariamente, um desequilíbrio ecológico.
Assim, a presença na água de organismos patogênicos prejudiciais
ao homem não significa que o meio ambiente aquático esteja
ecologicamente desequilibrado. De maneira análoga, a ocorrência
de poluição não implica, necessariamente, riscos à saúde de todos
os organismos que fazem uso dos recursos hídricos afetados.
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Química Ambiental
Os efeitos da poluição ou da contaminação da água têm sido
intensificados nas últimas décadas, pois o homem tem usado a
água não só para suprir suas atividades metabólicas, mas também
para outros fins, como abastecimento humano, abastecimento
industrial, irrigação, geração de energia elétrica, irrigação,
navegação, diluição de despejos, preservação da flora e fauna,
aquicultura e recreação.
Conheça, a seguir, alguns usos da água. Embora em sua maioria
seus usos sejam comuns, sua importância é incontestável.
Abastecimento humano
O homem sobrevive sem água? Esse é considerado o mais nobre
e prioritário uso da água, pois o homem depende de uma oferta
adequada de água para a sua sobrevivência. A água está ligada
diretamente à qualidade de vida dos seres humanos, pois ela é
utilizada para o funcionamento adequado de seu organismo, o
preparo de alimentos, a higiene pessoal e de utensílios. Também
é usada para irrigação de jardins, lavagem de veículos e pisos,
usos esses com exigências menores em relação à qualidade.
Um dos mais importantes empregos da água é para
abastecimento doméstico. Nesses casos, a água deve apresentar
características sanitárias e toxicológicas adequadas, tais como
estar isenta de organismos patogênicos e substâncias tóxicas, a
fim de evitar danos à saúde e ao bem‑estar do homem. Lembre
que os organismos patogênicos são os que transmitem doenças
pela ingestão ou contato com a água contaminada, como
bactérias, vírus, parasitas, protozoários e que podem causar
doenças como disenteria, febre tifóide, cólera, hepatite e outras.
Geração de energia elétrica
Você consegue imaginar uma comunidade sem energia elétrica?
Embora existam muitas maneiras de gerar de energia elétrica, a
água é fundamental para a geração de energia em hidrelétrica e
em termoelétrica.
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
O aproveitamento dos recursos hídricos para fins energéticos
pode introduzir uma série de impactos ambientais no meio
aquático. As usinas termelétricas podem despejar calor nos
corpos de água, afetando o ecossistema. As usinas hidrelétricas
dependem, em geral, da existência de uma barragem que crie um
desnível entre as superfícies livres de água localizadas nos lados a
montante e a jusante.
Como consequência, o rio a montante da barragem
transforma‑se num lago, o que altera o ecossistema aquático,
pois ele passa de um ambiente de altas velocidades e alta
turbulência (rio) para um ambiente de baixas velocidades e
baixa turbulência (lago). (BRAGA et al, 2005).
Irrigação
O uso da água para a irrigação representa o mais intenso
em relação aos recursos hídricos, sendo responsável por
aproximadamente 70% do consumo de água doce no mundo.
Além disso, a irrigação pode carrear para os corpos de água
superficiais e subterrâneos as substâncias empregadas na
agricultura, como fertilizantes sintéticos ou não sintéticos e os
defensivos agrícolas (BRAGA et al, 2005).
Abastecimento industrial
A utilização de água pela indústria pode ocorrer de diversas
formas, tais como: incorporação ao produto; lavagens de
máquinas, tubulações e pisos; águas de sistemas de resfriamento
e geradores de vapor; águas utilizadas diretamente nas etapas
do processo industrial ou incorporadas aos produtos; esgotos
sanitários dos funcionários. Exceto pelos volumes de águas
incorporados aos produtos e pelas perdas por evaporação,
as águas tornam‑se contaminadas por resíduos do processo
industrial ou pelas perdas de energia térmica, originando assim
os efluentes líquidos (GIORDANO, 2004).
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Química Ambiental
Os efluentes líquidos ao serem despejados com os seus poluentes
característicos causam a alteração de qualidade nos corpos
receptores e, consequentemente, a sua poluição (degradação).
Historicamente, o desenvolvimento urbano e industrial ocorreu ao
longo dos rios devido à disponibilidade de água para abastecimento
e a possibilidade de utilizar o rio como corpo receptor dos dejetos.
O fato preocupante é o aumento tanto das populações como das
atividades industriais e o número de vezes em que um mesmo corpo
d´água recebe dejetos urbanos e industriais (GIORDANO, 2004).
Navegação
Considere como exemplo, o Canal do Panamá. Sua importância
social, econômica e política ultrapassa as fronteiras da América
Central, ganhando proporções em nível mundial. No Brasil, a
navegação em rios ou mares possui uma importância indiscutível
para o transporte de pessoas e produtos. Como exemplo, o
Rio Guaíba, no estado do Rio Grande do Sul, o Amazonas e
Solimões no estado de Amazônia e Pará e o Rio São Francisco,
os quais abrange vários estados da união. Mas a navegação pode
perturbar o meio ambiente ao despejar substâncias poluidoras
das embarcações no meio aquático, seja de modo deliberado ou
acidental. Os portos também são um potencial poluidor pela
mesma razão (BRAGA et al, 2005).
A navegação fluvial requer um leito adequado em termos de
profundidade e curvas para o deslocamento das embarcações.
A velocidade do curso de água é outro fator importante para a
viabilização desse tipo de navegação. Assim, para a implantação
da navegação fluvial podem ser necessárias alterações no canal
como, por exemplo, a implantação de barragens com obras de
transposição de nível (BRAGA et al., 2005).
Diluição de despejos
Os corpos de água podem ser utilizados para transportar e diluir os
despejos neles lançados. A jusante do lançamento, as concentrações
do poluente dependerão em parte da razão de diluição, isto é, da
relação entre a vazão do rio e a vazão do despejo.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Se a diluição for alta, as concentrações podem ser baixas o
suficiente para não causar impactos sobre outros usos de água. A
diluição, no entanto, não deve ser recomendada em substituição
ao tratamento dos despejos, devendo ser somente utilizada para a
carga residual das estações de tratamento. O comportamento dos
corpos de água como receptores de despejos varia em função de
suas características físicas, químicas e biológicas e da natureza das
substâncias lançadas (BRAGA et al, 2005).
Preservação da flora e fauna
O equilíbrio ecológico do meio aquático deve ser mantido,
independentemente dos usos que se façam dos corpos de água.
Para isso, deve‑se garantir a existência de concentrações mínimas
de oxigênio dissolvido e de sais nutrientes na água. Ela não deve
conter substâncias tóxicas acima de concentrações críticas para os
organismos aquáticos (BRAGA et al, 2005).
Aquicultura
A criação de organismos aquáticos de interesse para o homem requer
padrões de qualidade da água praticamente idênticos aos necessários
para a preservação da flora e da fauna, havendo, possivelmente,
algumas considerações específicas para o favorecimento da
proliferação de certas espécies (BRAGA et al, 2005).
Recreação
Os corpos de água oferecem várias alternativas de recreação para
o homem, seja por meio de atividades como natação e esportes
aquáticos ou outras como a pesca e a navegação esportiva.
O contato com a água pode ser primário, como o que ocorre
quando há um contato físico proposital com a água, a exemplo
da natação. A água não deve apresentar organismos patogênicos
e substâncias tóxicas em concentrações que possam causar danos
à saúde pelo contato com a pele ou por ingestão. O contato
secundário ocorre de forma acidental em atividades como a
navegação esportiva (BRAGA et al, 2005).
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Química Ambiental
Os corpos de água poluídos são inconvenientes ao homem devido
à liberação de odores desagradáveis, presença de substâncias
flutuantes e turbidez excessiva. Frequentemente, tais corpos de
água estão próximos de centros urbanos, não sendo utilizados
para fins recreativos. Problemas com a qualidade e quantidade da
água geralmente prejudicam o uso dos rios e lagos como recursos
paisagísticos (BRAGA et al, 2005).
Seção 3 – Parâmetros da qualidade da água
O petróleo e derivados fazem parte da vivência da humanidade.
A qualidade da água é resultante de fenômenos naturais, como
temporais, ciclones, furacões, entre outros, e da atuação do
homem, que pode ser representada por diversos parâmetros que
descrevem as características físicas, químicas e biológicas da água.
As características físicas e químicas da água são modificadas
pelas impurezas, que são todos os contaminantes da água. As
características biológicas da água são os seres vivos ou mortos
presentes na água, como por exemplo, os protozoários.
Os parâmetros da qualidade da água têm o objetivo de
caracterizar águas de abastecimento, águas residuárias,
mananciais e corpos receptores. Deve‑se levar em consideração
que o controle da poluição das águas está diretamente relacionado
com a proteção da saúde da comunidade que a consome.
Os principais parâmetros físico‑químicos analisados para descrever
a qualidade de água são: pH, turbidez, temperatura, oxigênio
dissolvido, sólidos totais, matéria orgânica e matéria inorgânica.
Quais são os parâmetros indicativos de poluição das
águas?
Os parâmetros indicadores de qualidade da água podem ser
divididos conforme suas características, sendo elas físicas,
químicas e microbiológicas. Conheça cada uma delas
características a seguir.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Características físicas
As características físicas são: cor, turbidez, sabor e odor,
condutividade elétrica, sólidos totais e temperatura. A seguir,
será abordada cada uma dessas tão importantes e fundamentais
características da água.
Cor
Responsável pela coloração da água, a cor é constituída por material
sólido dissolvido. Ela pode ser de origem natural (decomposição da
matéria orgânica gerando ácido húmico e fúlvico ou pela presença
de ferro ou manganês) ou de origem antropogênica (resíduos
industriais, como corantes ou esgotos domésticos).
Quando de origem natural, não representa risco direto à saúde.
Todavia, a cloração da água contendo matéria orgânica pode gerar
produtos potencialmente cancerígenos (trihalometanos ‑ exemplo:
clorofórmio). A cor de origem industrial pode ou não ser tóxica.
Esse parâmetro é utilizado geralmente para águas brutas e tratadas.
A cor pode ser de dois tipos: aparente e verdadeira. A cor
verdadeira ou real é causada por material dissolvido e coloides.
A cor aparente resulta da adição de turbidez à cor verdadeira
e, consequentemente, a luz sofrendo reflexão e dispersão pelas
partículas em suspensão, altera a coloração original da água
(LAURENTI, 1997).
Águas naturais contendo mais de 200 unidades de cor são
consideradas inadequadas para tratamento de potabilização,
em função de altos teores de matéria orgânica dissolvida. No
Brasil, se aceita para água bruta, isto é, antes de ser tratada e
distribuída em sistemas urbanos, valores de até 75 unidades de
cor (LAURENTI, 1997).
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Química Ambiental
Turbidez
A turbidez das águas é devido à presença de partículas em suspensão
e em estado coloidal, as quais podem apresentar ampla faixa de
tamanhos. A turbidez pode ser causada por uma grande variedade
de materiais, incluindo partículas de areia fina, silte, argila e
microrganismos. As partículas de menor tamanho e com baixa
massa específica são mais difíceis de ser removidas, por apresentarem
menor velocidade de sedimentação (DI BERNARDO, 1993).
A turbidez é a alteração da penetração da luz pelas partículas em
suspensão que provocam a sua difusão e absorção. Partículas são
constituídas por plâncton, bactérias, argilas, silte em suspensão,
fontes de poluição que lançam material fino e outros. O aumento
da turbidez reduz a zona eufótica, que é a zona de luz onde a
fotossíntese ainda pode ocorrer.
A limpidez da água é importante quando se destina ao consumo
humano (uso potável, agrícola ou industrial) e para os organismos
aquáticos. Agregados às partículas argilosas e com alto conteúdo
orgânico, principalmente, podem estar adsorvidas substâncias
como metais e agrotóxicos e organismos patogênicos.
Nos processos industriais, pode ser um fator de
comprometimento da qualidade do produto final, além de
causar problemas em instalações de contato direto com a água.
Para os organismos aquáticos, a importância da transparência
da água reside na facilidade de penetração da luz para
realização da fotossíntese. Sem fotossíntese há diminuição de
oxigênio, resultando na eliminação de algumas espécies vivas
e modificando outras. Além disso, o material em suspensão
deposita‑se sobre o fundo, alterando a biocenose, isto é, a
população animal e vegetal do local (LAURENTI, 1997).
No Brasil, admite‑se que as águas naturais com até 100 unidades
nefelométricas de turbidez (UNT) possam ser utilizadas para
abastecimento urbano. Valores de turbidez até esse limite podem
ser removidos por tratamento convencional de água. A água
tratada deve ter turbidez inferior a cinco, para facilitar o contato
de substâncias desinfetantes com eventuais microorganismos
patogênicos nela presentes (LAURENTI, 1997).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Sabor e odor
Sabor e odor são características de difícil avaliação pelo fato de
a sensação ser subjetiva. Normalmente, decorrem de matéria
excretada por algumas espécies de algas e de substâncias
dissolvidas, como gases, fenóis, clorofenóis e, em alguns casos,
do lançamento de despejos nos cursos de água. A remoção dessas
substâncias geralmente requer aeração, além de um oxidante e de
carvão ativado para a adsorção dos compostos causadores de odor
e sabor (DI BERNARDO, 2000).
Condutividade elétrica
A condutividade elétrica depende da quantidade de sais
dissolvidos na água. A medição de condutividade elétrica permite
estimar rapidamente a quantidade de sólidos totais dissolvidos
presentes na água. Para valores elevados de sólidos totais
dissolvidos, aumenta a solubilidade dos precipitados de alumínio
e de ferro, o que influi na cinética da coagulação. Também são
afetadas a formação e a precipitação de carbonato de cálcio,
favorecendo a corrosão (DI BERNARDO, 2000).
Segundo Laurenti (1997), os fatores que afetam a condutividade
são, principalmente:
a) a presença dos cátions e ânions em suas concentrações
absolutas e relativas;
b)a valência dos íons;
c) a temperatura da solução durante a medida.
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Química Ambiental
Sólidos totais
Analiticamente, a concentração total de sólidos (sólidos totais)
numa água é definida como a matéria que permanece como
resíduo após evaporação de 103 a 105 ºC. Os sólidos totais
podem ser divididos em sólidos em suspensão e sólidos filtráveis.
Usualmente, o filtro é escolhido de tal forma que o diâmetro
mínimo dos sólidos em suspensão é cerca de 1 (um) mícron (μ).
A fração dos sólidos em suspensão inclui os sólidos sedimentáveis
que decantam após um período de 60 minutos. A fração dos
sólidos filtráveis é constituída por sólidos coloidais e dissolvidos.
Os sólidos coloidais incluem as partículas, com um diâmetro
aproximado compreendido entre 1 (um) milimicron e 1 (um)
mícron. Os sólidos dissolvidos incluem moléculas orgânicas e
inorgânicas que estão em solução na água.
Cada uma dessas categorias pode, ainda, ser classificada de acordo
com a sua volatibilidade, isso a 600ºC. Essa classificação destina‑se
a averiguar as parcelas orgânicas e inorgânicas dos sólidos totais.
À temperatura de 600ºC, a parte orgânica dos sólidos volatiliza
e a parte inorgânica permanece sob a forma de cinzas. Assim,
são definidos os sólidos totais dissolvidos e os sólidos totais em
suspensão como sendo, respectivamente, a parcela orgânica e
inorgânica dos sólidos totais (FONSECA, 2007).
O excesso de sólidos dissolvidos na água pode causar alterações de
sabor e problemas de corrosão. Já os sólidos em suspensão provocam
a turbidez da água, danificando‑a esteticamente, impedindo
a penetração da luz e promovendo obstrução dos estômatos,
prejudicando, assim, a atividade fotossintética (LAURENTI, 1997).
Temperatura
A temperatura apresenta intensidade de calor de determinada
solução (SPERLING, 1996). Segundo Von Sperling (1996),
temperaturas elevadas aumentam as taxas de reações químicas e
biológicas de transferência dos gases.
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Até aqui, você conheceu as características físicas as quais
auxiliam a identificar o nível de poluição da água. A partir de
agora, você vai conhecer outro grupo parâmetro de qualidade da
água: as características químicas.
Características químicas
As características químicas são: dureza, pH, acidez e
alcalinidade, demanda bioquímica de oxigênio (DBO5), oxigênio
dissolvido (OD), ferro e manganês.
A seguir, será apresentada cada uma dessas tão importantes
e fundamentais características da água, as quais ocorrem em
função da presença de substâncias dissolvidas, geralmente
mensuráveis somente por meios analíticos.
Dureza
Em geral, uma característica das águas duras é que exigem muita
quantidade de sabão para produzir espuma ou que dão origem
a incrustações nas tubulações de água quente ou em outros
equipamentos, nos quais a temperatura da água é elevada. Forma‑se
o que se designa em linguagem corrente a “pedra das panelas”.
A dureza das águas naturais varia consideravelmente de lugar para
lugar, sendo em geral a dureza das águas superficiais menor do que
a das águas subterrâneas. A dureza de uma água reflete a natureza
das formações geológicas com as quais ela esteve em contato.
A dureza (em geral expressa em mg/L de carbonato de cálcio ‑
CaCO3) de uma água é devida à presença de cátions metálicos
bivalentes, principalmente cálcio (Ca 2+) e magnésio (Mg2+). Uma
água dura é, portanto, aquela que contém grande quantidade
de cálcio e magnésio. Esses íons metálicos bivalentes estão, em
geral, associados com os ânions bicarbonato (HCO3‑), sulfato
(S042‑), cloreto (Cl‑) e nitrato (NO3‑) (FONSECA, 2007).
Os inconvenientes gerados pela dureza da água é a diminuição
no poder emulsionante dos sabões e incrustações em tubulações
(LAURENTI, 1997).
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Química Ambiental
pH
O pH é uma característica importante de ser observada em água,
pois será um indicativo de substâncias dissolvidas, podendo
provocar corrosão, incrustações, toxicidade entre outras nas águas.
O pH representa a concentração de íons, hidrogênio (H), dando
uma indicação sobre a condição de acidez, neutralidade ou
alcalinidade da água, sendo a faixa de pH de 0 a 14. A fonte
de variação desse parâmetro são os sólidos e gases dissolvidos
(FONSECA, 2007).
A origem natural é da dissolução de rochas, adsorção de gases da
atmosfera, oxidação da matéria orgânica e a fotossíntese. Como
origem antropogênica, têm‑se os despejos domésticos (oxidação
de matéria orgânica) e industriais (lavagem ácida de tanques)
(FONSECA, 2007).
É de fundamental importância para diversas etapas do
tratamento de água, quer seja potável ou residual. Além disso,
podem provocar corrosão (pH baixo) ou incrustação (pH alto)
nas tubulações, além de afetar a vida aquática e o tratamento
biológico de esgoto (FONSECA, 2007).
Do ponto de vista ambiental, é um parâmetro que determina o
desenvolvimento aquático da flora e da fauna (o pH ideal situa‑se
entre 6 a 9); interfere na estabilidade e solubilidade de metais,
tornando‑os mais ou menos disponíveis à assimilação pelas
plantas e animais (a toxicidade dos metais está ligada às formas
química e física com as quais encontram‑se na natureza) etc.
(LAURENTI, 1997).
Acidez e alcalinidade
Uma solução pode ser considerada ácida, neutra ou alcalina.
As soluções que apresentam pH menor que 7 são as soluções
ácidas, com pH igual a 7 são neutras e as que apresentam pH
maior que 7 são as chamadas de alcalinas ou soluções básicas
(LAURENTI, 1997).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
A acidez de uma água é, principalmente, em razão da presença de
dióxido de carbono (CO2) dissolvido, o qual pode ser proveniente
da atmosfera ou da matéria orgânica (animal ou vegetal) com que
a água entra em contato (FONSECA, 2007).
Uma água ácida afeta a conservação de sistemas de saneamento
básico e o funcionamento biológico de estações de tratamento
de águas residuais. Assim, quando são utilizados processos de
tratamento biológico há necessidade de manter os valores do pH
entre 6 a 9,5. Além disso, uma água ácida ataca, por corrosão, as
canalizações e os reservatórios (FONSECA, 2007).
A alcalinidade de uma água é definida como sendo a sua
capacidade de neutralizar ácidos. A alcalinidade das águas
naturais se deve, principalmente, a sais de ácidos fracos, embora
possam contribuir também bases fracas e fortes. Ainda que muitas
substâncias possam contribuir para a alcalinidade de uma água,
a maior parte dessa característica nas águas naturais é devida aos
hidróxidos (OH‑), carbonatos (CO32‑) e bicarbonatos (HCO3‑‑).
De todas essas substâncias, as que aparecem em maior
quantidade nas águas naturais são os bicarbonatos, que se
formam em virtude da passagem de águas contendo anidrido
carbônico (águas ácidas) pelos calcários. Tal como a acidez,
também a alcalinidade é pouco importante, sob o ponto de vista
da saúde pública. No entanto, as águas alcalinas, principalmente
as que possuem hidróxidos, são desagradáveis ao paladar e, por
isso, pouco apreciadas pelo homem (FONSECA, 2007).
Ferro e manganês
A água em ambientes com pouco ou sem oxigênio ocasiona
a liberação do ferro e do manganês a partir, por exemplo, do
sedimento do fundo de rios ou lagos.
O ferro, com certa frequência, associado ao manganês, confere
à água sabor, ou melhor, sensação de adstringência e coloração
avermelhada, decorrente de sua precipitação (BRAGA et al, 2007).
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Química Ambiental
É importante destacar, também, que esses metais, mesmo em baixas
concentrações, podem causar mancha nos aparelhos sanitários e cor
amarronzada à roupa após lavagens (FONSECA, 2007).
Oxigênio dissolvido (OD)
Esse elemento é de importância vital para os seres aquáticos
aeróbios. A introdução de oxigênio dissolvido numa água pode se
dar por meio do ar atmosférico, do fenômeno de fotossíntese e da
ação de aeradores ou insufladores de ar.
A variação do teor de oxigênio na água ocorre principalmente
com a temperatura e a altitude. As reduções nas concentrações de
oxigênio nos corpos d’água são provocadas, principalmente, por
despejos de origem orgânica.
O teor de oxigênio dissolvido é um indicador das condições de
poluição por matéria orgânica. Assim, uma água não poluída (por
matéria orgânica) deve estar saturada de oxigênio. Por outro lado,
teores baixos de oxigênio dissolvido podem indicar que houve
uma intensa atividade bacteriana decompondo matéria orgânica
lançada na água e consumindo o oxigênio dissolvido.
A ausência completa de oxigênio num corpo d’água pode dar
origem à formação de gases como sulfídrico (H2S, mercaptanas,
etc.), além, evidentemente, de não permitir a vida a nenhum ser
aeróbio (FONSECA, 2007).
Demanda bioquímica de oxigênio (DBO5)
A DBO5, como é conhecida, pode ser entendida como a
quantidade de oxigênio necessária para a oxidação da matéria
orgânica, pela ação de bactérias. Por outro lado, a oxidação é um
processo de transformação da matéria orgânica por meio de microorganismos em substâncias mais simples, tais como amônia (NH3),
dióxido de carbono (CO2), água (H2O) e sais minerais.
A DBO5 é um teste padrão, realizado a uma temperatura
constante de (20°C) e durante um período de incubação também
fixo (cinco dias). Portanto, a DBO é um parâmetro que indica
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Universidade do Sul de Santa Catarina
a quantidade de oxigênio necessária, em um meio aquático, à
respiração de micro-organismos aeróbios, para consumirem a
matéria orgânica introduzida na forma de esgotos ou de outros
resíduos orgânicos. É uma medida que procura retratar em
laboratório o fenômeno realizado no corpo d’água.
Quanto a sua determinação, devem ser levados em consideração
certos cuidados devido a possíveis interferências na ação bacteriana,
já que as bactérias são as principais protagonistas do teste.
A determinação da DBO5 em águas contendo metais pesados,
por exemplo, levará sempre à obtenção de resultados não
condizentes com a realidade, pois muitos metais pesados são
tóxicos aos micro-organismos. Os maiores aumentos em termos
de DB05, num corpo d’água, são provocados por despejos de
origem predominantemente orgânica (FONSECA, 2007).
Até aqui, você conheceu as características físicas. Agora você
vai conhecer outro grupo de parâmetro de qualidade da água: as
características biológicas.
Características biológicas
As características biológicas da água podem ser determinadas por
meio de exames bacteriológicos e hidrobiológicos.
O exame hidrobiológico visa a identificar e quantificar as
espécies de organismos presentes na água. Em geral, esses
organismos são microscópicos e comumente denominados
plâncton, destacando‑se os seguintes grupos: algas, protozoários,
bactérias, rotíferos, crustáceos, vermes e larvas de insetos.
Quando feitos regularmente, esses exames constituem elemento
auxiliar na interpretação de outras análises, principalmente no
que se refere à poluição das águas. Além disso, esses exames
possibilitam a adoção de medidas de controle para prevenir o
desenvolvimento de organismos indesejáveis sob o ponto de vista
do tratamento de água (DI BERNADO et al, 2002).
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Química Ambiental
Os coliformes têm sido utilizados como indicadores
de poluição recente de fezes e, eventualmente, de
contaminação. Entretanto, pode não haver a relação
dos coliformes com organismos patogênicos, pois a
presença desses pressupõe a existência de um portador
na população contribuinte, enquanto o número de
coliformes totais ou fecais depende de um despejo
orgânico, não estéril, estranho ao corpo receptor.
É fácil entender, porém, que há certa correlação entre o número de
coliformes e os organismos patogênicos, correlação essa baseada na
probabilidade de que, quanto maior o número de coliformes maior
o número de organismos patogênicos (DI BERNARDI, 1993).
Quando os coliformes totais ou fecais forem detectados nas águas
destinadas ao consumo humano, devem ser tomados cuidados
especiais com a escolha da tecnologia de tratamento, por haver
relação íntima entre turbidez e número de coliformes nos efluentes
de filtros rápidos. Em geral, quanto menor a turbidez da água
filtrada, menor o número de coliformes, o que contribui para
melhorar a eficiência da desinfecção (DI BERNADO et al, 2002).
Seção 4 – Comportamento ambiental dos lagos
Durante determinadas épocas do ano, os lagos apresentam uma
clara distinção entre as temperaturas das camadas superficiais e
das profundas e, por consequência, apresentam diferença entre
a densidade dessas duas camadas. Esse fenômeno é denominado
estratificação térmica.
E como ocorre a estratificação térmica?
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A radiação solar, ao penetrar na água, sofre um decaimento
exponencial, e a faixa do espectro solar que corresponde às ondas
longas, ou seja, à parcela de radiação infravermelha responsável
pela transmissão de calor, é absorvida quase totalmente logo
abaixo da superfície, estando praticamente extinta a um metro de
profundidade. Essa rápida absorção resulta em uma significativa
diferença de temperatura entre a superfície e o fundo dos lagos.
O perfil vertical de temperatura tende a adquirir a forma mostrada
na figura 3.2, e o lago tende a dividir‑se em três camadas distintas
de temperaturas. Cria‑se uma situação de estabilidade, na qual
existe uma camada superior (epilímnio), mais quente e menos
densa, uma camada intermediária (metalímnio) e uma camada
inferior, mais fria e mais densa (hipolímnio).
Figura 3.2 ‑ Processo de produção e consumo de oxigênio em um lago estratificado
Fonte: Braga et.al (2007, p. 95).
A camada superior, chamada de epilímnio, é mais quente, mais
turbulenta e com temperatura aproximadamente uniforme. O
hipolímnio é a camada inferior que fica junto ao fundo do lago,
mais fria e com baixos níveis de turbulência. O nome da camada
intermediaria é metalímnio, e denomina‑se termoclima o plano
imaginário que passa pelo ponto de máximo gradiente no perfil
vertical de temperatura, como pode ser verificado na figura 3.2.
112
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Química Ambiental
A estratificação dos lagos ocorre em razão das diferenças de
densidade entre as camadas de água, gerando uma estabilidade
que somente poderá ser rompida por forças externas que, atuando
sobre a massa líquida, conseguem fornecer energia suficiente para
provocar a mistura.
A estratificação térmica é a forma mais comum de influência
sobre a densidade, como vimos anteriormente. No entanto,
podem ocorrer casos em que essa diferença de densidade é gerada
por variação na concentração de sais nas diversas camadas,
denominada de estratificação química, como ocorre em lagos
salinos, estuários e regiões oceânicas.
São raros os lagos que permanecem estratificados o ano todo. No
outono, a temperatura da superfície cai e iguala‑se à temperatura
do fundo, muitas vezes com a ajuda do vento, misturando as
camadas superiores e inferiores.
Os principais fatores que interferem nos processos de mistura em
reservatórios e lagos e, portanto, na formação da estabilidade e
duração da estratificação térmica são:
1. transferência de calor pela interface ar‑água;
2.mistura gerada pela movimentação das vazões de entrada
e saída; e
3.mistura provocada pela turbulência induzida pelo vento.
A estratificação térmica em reservatórios é importante,
pois a temperatura afeta todos os processos químicos
e biológicos que ocorrem no lago. A estabilidade
induzida pela estratificação inibe os processos de
transporte de calor e massa no reservatório, causando,
assim, problemas relativos à qualidade da água.
Em um reservatório estratificado, o local de produção do
oxigênio é o epilímnio, junto à superfície e praticamente
coincidindo com a zona de luz. O local de consumo para a
decomposição da matéria orgânica é basicamente a região do
fundo, o hipolímnio.
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A termoclina, além de dificultar a passagem do calor da superfície
para o fundo dos corpos de água, dificulta também a passagem
do oxigênio dissolvido. Essa passagem dá‑se apenas por meio da
difusão molecular, o que significa taxas muito baixas de reposição
para um grande consumo representado pela decomposição.
Quando acontece a estratificação, a concentração de oxigênio no
hipolímnio diminui. À medida que se aproxima de zero, profundas
transformações químicas passam a ocorrer em consequência da
passagem de um ambiente oxidante para um ambiente redutor.
A água do hipolímnio anóxico (sem oxigênio) apresenta baixo
potencial de redução, levando à liberação do ferro e do manganês a
partir do sedimento do fundo e a concentração crescente de fosfato,
amônia, silicatos, carbonatos, íons de cálcio e gás sulfídrico. No
epilímnio, o fitoplâncton utiliza o CO2 no processo de fotossíntese,
em parte retirado da solução em equilíbrio de bicarbonato de
cálcio, o que induz a precipitação de carbonato de cálcio.
Assim, verifica‑se uma menor alcalinidade no período de
estratificação no epilímnio pela diminuição dos bicarbonatos e
precipitação do carbonato. No hipolímnio, altos níveis de dióxido de
carbono produzidos pelo processo de respiração resultam em grandes
quantidades de bicarbonato de cálcio e ácido carbônico em solução.
Como ocorre o processo de eutrofização?
A eutrofização é o enriquecimento das águas com os nutrientes
necessários ao crescimento da vida vegetal aquática. Isso pode
ser um processo natural dentro da sucessão ecológica dos
ecossistemas ou um efeito antrópico.
No processo natural, os organismos fotossintetizantes aquáticos
dependem da disponibilidade de diversos nutrientes para seu
crescimento e proliferação. Dentre os que são utilizados em maior
quantidade estão o oxigênio, o carbono, o nitrogênio e o fósforo.
Sendo ainda necessários carbono, enxofre, potássio, cálcio e outros.
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Química Ambiental
O crescimento pode ser limitado pela insuficiência de qualquer um
desses elementos. Na maioria dos ecossistemas aquáticos, o fósforo
é o nutriente limitante. Quanto ao nitrogênio, apesar de a maior
parte dos seres fotossintetizantes aquáticos necessitarem desse
elemento sob forma de nitrato dissolvido na água, na escassez, há
seres fotossintetizantes que o utilizam na forma gasosa.
A única fonte natural de fósforo vem do desgaste de rochas
que contêm fosfato, provocado pelas intempéries naturais. O
fósforo chega aos corpos de água transportado pelo escoamento
superficial e circula na cadeia alimentar por meio da reciclagem
de matéria feita pelos decompositores.
A eutrofização é, portanto, um processo natural de
maturação de um ecossistema lacustre e manifesta‑se
por meio do aumento da produtividade biológica do
lago, sendo observada a proliferação de algas e outros
vegetais aquáticos por causa da maior quantidade de
nutrientes disponível.
Os nutrientes mais importantes para a ocorrência da eutrofização
são, em geral, o fósforo e/ou o nitrogênio. De acordo com a
produtividade biológica, podemos classificar os lagos em:
„„
„„
„„
oligotróficos ‑ lagos com baixa produtividade biológica e
baixa concentração de nutrientes;
eutróficos ‑ lagos com produção vegetal excessiva e alta
concentração de nutrientes;
mesotróficos ‑ lagos com características intermediárias
entre oligotrófico e eutrófico.
A eutrofização natural é um processo bastante demorado,
associado ao tempo de evolução dos ecossistemas. No entanto, esse
processo vem se acelerando pela intervenção humana em lagos
cujas bacias sofrem a ocupação de atividades industriais, agrícolas
ou zonas urbanas. A eutrofização associada à intervenção humana
é chamada de eutrofização cultural ou acelerada.
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
A eutrofização acelerada causa inúmeros efeitos negativos por
impedir que as alterações morfológicas acompanhem seu ritmo,
como ocorre no processo natural. Há predominância da fertilização
das águas, com a proliferação excessiva dos vegetais aquáticos.
As principais causas da eutrofização acelerada é a disponibilidade
de fósforo, que provém, principalmente, das seguintes fontes:
„„
esgotos domésticos;
„„
esgotos industriais;
„„
fertilizantes agrícolas.
Outros fatores que interferem na ocorrência da eutrofização são
a radiação solar e a temperatura. Os lagos em regiões tropicais
possuem uma tendência maior à eutrofização por se localizarem
em regiões quentes e com grande incidência de radiação solar,
praticamente constante ao longo do ano.
Com relação às características morfológicas do lago, estarão mais
sujeitos à eutrofização aqueles que possuem menor profundidade,
por permitirem maior influência da radiação solar, aqueles que
dispõem de maior zona litorânea, e aqueles de maior tempo
de resistência, que possuem um fluxo de água mais lento,
favorecendo o crescimento das algas.
A principal consequência da eutrofização acelerada é que a
quantidade de matéria orgânica a ser decomposta é tão grande
que os peixes passam a competir com os decompositores
pelo oxigênio disponível. Disso resulta a morte de peixes e a
sobrevivência das espécies menos exigentes.
Com o agravamento do processo, essas espécies desaparecem,
pois haverá oxigênio disponível apenas em uma estreita camada
superficial, totalmente tomada pelas algas.
Na fase final de eutrofização, a camada inferior do lago passa
a ser permanentemente anóxica. A quantidade de matéria
orgânica a ser decomposta é tão grande que consome todo o
oxigênio disponível. Isso facilita a recirculação do fósforo, pois,
na ausência de oxigênio, em ambiente redutor, o fósforo passa à
forma de Fe(PO4)2, que é solúvel na água, ficando disponível para
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Química Ambiental
ser utilizado no processo fotossintético. Na presença de oxigênio,
o fósforo apresenta‑se na forma FePO4, que é insolúvel na água
e, portanto, fica depositado no fundo.
Nesta seção, você estudou a eutrofização, processo que pode
ocorrer de forma natural ou acelerada, devido à interferência do
homem, mas que é dependente da presença de nutrientes para o
desenvolvimento de vegetais aquáticos. Na próxima seção, serão
abordadas questões relacionadas com as fontes de poluição.
Seção 5 – As principais fontes de poluição
As principais fontes de poluição têm origem nas atividades
humanas, em particular nas indústrias.
Segundo Macêdo (2002), as matérias utilizadas nas atividades
humanas, seja no dia a dia ou nas operações industriais, geram
resíduos e esses, em geral, tem três caminhos:
1. lançamento na atmosfera;
2.lançamento na massa líquida mais próxima;
3.depósito em determinada área, um aterro sanitário ou
industrial.
Os poluentes da água são classificados de acordo com sua
natureza e com os impactos causados pelo seu lançamento
no meio aquático. Assim, tem‑se: poluentes orgânicos
biodegradáveis, poluentes orgânicos recalcitrantes ou rafratários,
metais, nutrientes, organismos patogênicos, sólidos em
suspensão, calor e radioatividade.
Conheça, a seguir, cada um desses poluentes.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Poluentes orgânicos biodegradáveis
Um poluente orgânico biodegradável lançado na água será
degradado pelos organismos decompositores presentes no meio
aquático. Existem duas maneiras de esses compostos serem
degradados:
„„
Na presença de oxigênio, ou seja, quando houver
oxigênio dissolvido no meio aquático. A decomposição
será feita por bactérias aeróbicas, que vão consumir o
oxigênio dissolvido existente na água.
Situações como a que mostra a figura 3.3, podem ocorrer
caso o consumo de oxigênio for mais intenso do que a
capacidade do meio de repô‑lo; haverá seu esgotamento e
a inviabilidade da existência da vida para peixes e outros
organismos que dependem de oxigênio para respirar.
Figura 3.3 ‑ Peixes mortos, um dos parâmetros analisado e ausente foi o oxigênio dissolvido
Fonte: Elaboração da autora.
„„
Na ausência de oxigênio, ou seja, se não houver oxigênio
dissolvido no meio, ocorrerá a decomposição anaeróbica,
com a formação de gases, como o metano (CH4) e o gás
sulfídrico (H2S).
Poluentes orgânicos recalcitrantes ou refratários
Existem compostos orgânicos que apresentam uma taxa de
biodegradação lenta, os quais recebem a denominação de
orgânico recalcitrante ou refratário.
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Química Ambiental
Considere que a digestão de um composto depende da existência
de microrganismos capazes de digeri‑lo e da capacidade dos
materiais em fornecer energia para o micro-organismo.
O principal impacto da introdução desses compostos
orgânicos na natureza está associada à sua toxicidade
e não ao consumo de oxigênio utilizado para sua
decomposição.
Existem três grupos de compostos químicos que apresentam
as características recalcitrantes, que são: defensivos agrícolas,
detergentes sintéticos e petróleo.
„„
„„
Defensivos agrícolas ‑ parte desses compostos que
foram aplicados na agricultura atinge os rios, lagos,
aquíferos e oceanos por meio de transporte por correntes
atmosféricas, carreamento do material aplicado no
solo por ação de chuvas Em menor importância, há o
despejo de resto de soluções e da lavagem de recipientes e
acessórios usados durante a aplicação.
Detergentes sintéticos ‑ esses produtos têm efeito
prejudicial principalmente em rios e lagos e menos em
oceanos. Eles são em geral mais tóxicos para os peixes
do que para o homem. Muitos micro-organismos
que atuam na biodegradação da matéria orgânica são
afetados pelos detergentes sintéticos, impedido que
desempenhem seu papel.
Outro problema é a presença de detergente na interface ar/água,
que afeta a troca de gases entre os dois meios, podendo gerar
espuma abundante, como pode ser verificado nas figuras 3.4 e
3.5. Essa espuma, por ser muito leve, é facilmente espalhada
no ambiente, aumentando a área afetada pelo poluente e ainda
podendo carregar outros tantos poluentes.
Unidade 3
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Figura 3.4 ‑ Rio Tiête (Jun, 2004)
Fonte: Disponível em <http://www.datambiental.blogger.com.br/2004_06_20_archive.html>.
Figura 3.5 ‑ Rio Tiête na cidade de Pirapora de Bom Jesus (Jun, 2004)
Fonte: Disponível em <www.espardo.blogger.com.br/pirapora1.jpg>.
„„
Petróleo ‑ as substâncias que compõem o petróleo
apresentam diferentes taxas de biodegradação. O
petróleo e derivados podem acidentalmente atingir
corpos de água, formando uma película na superfície,
o que dificulta as trocas gasosas entre ar e água, a
cobertura superficial de plantas e animais e ainda são
tóxicos a muitas espécies animais e vegetais.
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Química Ambiental
Figura 3.6 ‑ Derrame de Petróleo na Baía de Mombasa em 1998.
Fonte: Disponível em <http://www.radiomundoreal.fm/rmr/?q=pt/taxonomy/term/155/all&page=6>.
Metais
Os metais são poluentes das águas, isso porque todos
os sais metálicos podem ser solubilizados pela água, e
dependendo da quantidade ingerida podem gerar danos
à saúde, devido a não existência de função fisiológica, ou
a sua toxicidade, sendo que alguns possuem potenciais
carcinogênicos, mutagênicos ou teratogênicos.
São exemplos de metais tóxicos: arsênico, bário,
cádmio, cromo, chumbo e mercúrio.
Um organismo aquático pode apresentar dois tipos de
comportamento em relação aos metais:
1. é sensível à ação tóxica de um determinado metal; ou,
2.não é sensível, mas o bioacumula, potencializando seu
efeito nocivo ao longo da cadeia alimentar, colocando em
risco organismos situados no topo dessa cadeia.
Como exemplo de problema relacionado com metais, destaca‑se o
mal de Minamata, detectado em 1953 na Baía de Minamata, Japão.
Houve acúmulo de compostos organomercuriais no sistema nervoso
humano, principalmente no cérebro e na medula. A presença de
metilmercúrio nas águas, com o lançamento de efluentes industriais,
atingiu a população local, que consumiu peixes, causando grande
número de mortes e deformações genéticas.
Unidade 3
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Bioacumulação é o
processo por meio do qual
os contaminantes são
transferidos de um nível
trófico a outro.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Em geral, metais tóxicos estão presentes em
quantidades diminutas no meio aquático por ação de
fenômenos naturais, mas podem ser despejados em
quantidades significativas por atividades industriais,
agrícolas e de mineração.
Deve‑se ter muita atenção quanto à detecção de metais, por
exemplo, quando o pH da água está alcalino, os metais se
depositam no fundo dos corpos de água. Mas o contrário é
verdadeiro em águas ácidas, principalmente as deficientes em
oxigênio dissolvido, que favorecem reações com os metais
depositados nos sedimentos, solubilizando‑os na água.
Outro problema associado à presença dos metais é que,
mesmo em concentrações diminutas, eles podem gerar danos
importantes aos organismos aquáticos ou ao homem. Em muitos
casos, tais concentrações são inferiores à capacidade de detecção
dos equipamentos utilizados nos laboratório encarregados do
monitoramento da qualidade das águas.
Exemplos de metais de menor toxidade e
dependentes da concentração são o cálcio, magnésio,
alumínio, cobre e zinco. Alguns deles podem produzir
cor, odor e sabor em águas, sendo, portanto, não
apropriados para o consumo doméstico de água.
Os nutrientes da água
De acordo com o já abordado no processo de eutrofização, o
excesso de nutrientes (carbono, oxigênio, enxofre, potássio, cálcio,
nitrogênio, fósforo) nos corpos de água pode levar ao crescimento
excessivo de alguns organismos aquáticos, acarretando prejuízo a
determinados usos dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos.
Os compostos de nitrogênio e o fósforo (sais) são comumente
responsáveis pela proliferação acentuada de algas, as quais podem
prejudicar a utilização de mananciais de água potável.
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Química Ambiental
Os nutrientes chegam aos corpos de água por meio de erosão de
solos, pela fertilização artificial dos campos agrícolas, despejo
de detergentes ou pela própria decomposição natural da matéria
orgânica biodegradável existente no solo e na água.
Organismos patogênicos na água
Embora se conheça que há muito tempo a água é uma das
responsáveis pela transmissão de um grande número de doenças,
as denominadas doenças de vinculação hídrica, é ainda enorme o
número de pessoas por elas afetadas, principalmente nas regiões
menos desenvolvidas, onde o saneamento básico é precário ou
mesmo inexistente.
As doenças de vinculação hídrica podem causar incapacitação
temporária ou mesmo a morte, sendo responsáveis por boa parte
da ocupação de leitos hospitalares e pela diminuição da qualidade
de vida das pessoas, sendo um problema infelizmente encontrado
no Brasil, de norte a sul, de leste a oeste.
As principais classes de organismos patogênicos e algumas doenças
transmitidas pela água e pelo esgoto ao homem são os seguintes:
„„
„„
„„
„„
bactérias ‑ responsáveis pela transmissão de doenças,
como a leptospirose, a febre tifóide, a febre paratifóide, o
cólera etc.;
vírus ‑ responsáveis pela transmissão de doenças, como a
hepatite infecciosa e a poliomielite;
protozoários ‑ responsáveis pela transmissão de doenças,
como a amebíase e a giardíase;
helmintos ‑ responsáveis pela transmissão de doenças,
como a esquistossomose e a ascaridíase.
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Sólidos em suspensão
Os sólidos em suspensão aumentam a turbidez da água, isto é,
diminuem sua transparência. O aumento da turbidez reduz as
taxas de fotossíntese e prejudica a procura de alimento para algumas
espécies, levando a desequilíbrios na cadeia alimentar.
Você pode retornar à Seção 3 desta
unidade para rever os parâmetros
indicativos de poluição das águas e
o tópico referente aos sólidos totais.
Os sólidos em suspensão podem carregar pesticidas e outros tóxicos
na água. Além disso, sua deposição no fundo de rios e lagos
prejudica as espécies bentônicas e a reprodução de peixes.
Calor
O calor é um poluente da água devido aos impactos causados pelo
lançamento de águas em elevada temperatura no meio aquático.
Como foi abordado nesta unidade, sobre os indicativos de
poluição das águas, a temperatura da água afeta as características
físicas, químicas e biológicas do meio aquático, como a densidade
da água, a solubilidade de gases, a taxa de sedimentação de
fitoplâncton, a tensão superficial, as reações químicas e o
metabolismo dos organismos aquáticos.
Um aumento de temperatura pode causar migração
intensa de peixes para regiões mais amenas, nas
quais a concentração de oxigênio dissolvido é maior,
ou bloquear a passagem de peixes migratórios em
decorrência da presença de uma barreira de calor com
menor concentração de oxigênio dissolvido.
Sempre que há elevadas temperaturas, há também baixa
quantidade de oxigênio dissolvido. Efluentes aquecidos são
gerados principalmente por usinas termoelétricas,
independentemente do tipo de combustível utilizado, seja ele de
origem fóssil ou nuclear.
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Química Ambiental
Radioatividade
A radioatividade existe naturalmente no meio ambiente pela
presença de substâncias radioativas e de radiação que vem do espaço.
Existem alguns minerais que apresentam elementos químicos
radioativos, dos quais podemos citar como exemplo, o Columbita
[(Fe,Mn)(Nb,Ta)2O6, Monazita [(Ce, La, Nd, Th)PO4], Tantalita
[(Fe, Mn)Ta2O6], Torianita [ThO2] e Uraninita [UO2] (firura).
Figura 3.7 ‑ Rocha de Uraninita, UO2
Fonte: Disponível em <http://es.geocities.com/minerohobby/radioactius.html>.
Parte desses minerais atinge os corpos de água superficiais e
subterrâneos, penetrando nas cadeias alimentares, podendo ser ou
não bioacumulada. Desse modo, os organismos podem entrar em
contato com materiais radioativos por meio do ar, da água, do
solo ou de alimentos.
A radioatividade da maioria das águas naturais está bem
abaixo das concentrações máximas permissíveis. Todavia, o
uso da radioatividade pelo homem – seja para fins bélicos,
energéticos, de pesquisa, médicos ou de conservação de
alimentos – tem liberado maiores quantidades de substâncias
radioativas para o meio ambiente.
Unidade 3
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Outro aspecto importante a considerar é o fato de a radioatividade
afetar o homem e outros organismos de diversas maneiras. Uma
exposição aguda a ela pode levar à morte ou, então, causar danos
à saúde. Uma exposição crônica pode provocar o aparecimento de
várias doenças, como o câncer. Além disso, a radioatividade pode
afetar as células envolvidas na reprodução dos indivíduos, com
graves danos para as gerações futuras.
Vale relembrar o acidente ocorrido em Goiânia, o qual
completou 20 anos em 2007 e que marcou a história
da cidade e do Brasil. Veja o site http://g1.globo.com/
Noticias/SaoPaulo/0,,MUL102767‑5605,00.html
Conhecer os parâmetros de qualidade da água, as principais
fontes poluidoras e seus efeitos (como por exemplo, as doenças de
vinculação), auxiliam na prevenção e controle da qualidade da água,
tendo em mente o direito do ser humano de viver em um ambiente
saudável e adequado ao desenvolvimento econômico e social. Tudo
isso ajuda a evitar e/ou minimizar o dano ambiental, embora seja
necessário manter‑se informado sobre os riscos em relação à saúde.
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Química Ambiental
Síntese
Nesta unidade, você estudou a disponibilidade da água (doce
e salgada) na natureza e suas características, conheceu os
parâmetros da qualidade da água e os indicativos de sua poluição.
Esses parâmetros indicadores de qualidade podem ser divididos
conforme suas características (físicas, químicas e microbiológicas).
Além disso, nesta unidade, foi abordado o comportamento
ambiental dos lagos e o processo de eutrofização natural e acentuado.
Foi possível, ainda, conhecer as principais fontes de poluição;
que elas têm origem em atividades humanas e que atingem o
meio ambiente por três caminhos: os lançamentos na atmosfera;
os lançamentos nas águas mais próximas e os depositados em
determinadas áreas, por exemplo, um aterro sanitário ou industrial.
Unidade 3
qumica_ambiental.indb 127
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas, esforce‑se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois assim você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Comente todos os parâmetros indicadores de qualidade da água.
2) Do total da água existente no planeta, 97,0% correspondem à salgada e
3,0% correspondem à água doce. Mas apenas 0,5% da doce é a parcela
disponível para consumo humano. Explique e justifique por que a água
salgada não é normalmente utilizada para consumo humano e é tão
reduzida a porcentagem de água doce utilizada para consumo.
3) Pesquise as fontes de exposição e as consequências de intoxicação no
organismo humano pelas substâncias: (a) Chumbo – Pb, (b) Mercúrio –
Hg, (c) Cádmio –Cd, (d) acetileno ‑ HC=CH e (e) metanol – CH3OH.
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Química Ambiental
Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade
consultando as seguintes referências:
BRAGA, Benedito et al. Introdução à engenharia ambiental.
2ª edição, São Paulo: Person Prentice Hall, 2005.
MACÊDO, Jorge Antônio Barros de. Introdução à química
ambiental. 1ª ed Juiz de Fora: Crq‑mg, 2002. 487 p. Acessado
em: 07 jun. 2008.
BERNARDO, Luiz Di; BERNARDO, Angela Di;
CENTURIONE FILHO, Paulo Luiz. Ensaios de tratabilidade
de água e dos resíduos gerados em estações de tratamento de
água. São Carlos ‑ Sp: Rima, 2002. 237 p.
LAURENTI, Ariane. Qualidade da água I. Florianópolis:
Imprensa Universitária ‑ UFSC, 1997.
Unidade 3
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UNIDADE 4
O meio terrestre
Objetivos de aprendizagem
„„ Compreender o conceito, a composição e a formação
química dos solos.
4
„„ Conhecer características ecologicamente importantes
dos solos.
„„ Conhecer o processo de erosão.
„„ Identificar e compreender a poluição do solo rural.
„„ Identificar e compreender a poluição do solo urbano.
Seções de estudo
Seção 1 Propriedades e características do solo
Seção 2 Poluição do solo rural
Seção 3 Poluição do solo urbano
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
A utilização do solo ocorre desde os primórdios da história da
humanidade. Os homens alimentavam‑se da flora e da fauna
disponíveis e transportavam‑se de um lugar para outro utilizando
o solo como suporte. Com o passar do tempo, o homem passou
a semear e a desenvolver alimentos, surgindo a agricultura. Em
busca de melhores condições para o cultivo, o homem deixa de
ser nômade, para se alojar em um determinado local.
O uso do solo cultivado pelo homem foi se expandindo com o
crescimento populacional e facilitado pelo uso de utensílios para
seu manejo, tanto pelo homem como por animais domesticados.
O desenvolvimento busca formas de energia (fogo e queimada),
criando, como consequência, problemas de fertilidade do solo
de modo que a produtividade natural dos solos foi se reduzindo.
Para algumas grandes civilizações que dependiam das facilidades
e características locais (alimentação, abrigo, vias etc.) para viver,
essa perda de fertilidade e produtividade do solo foi fatal. Sendo
que muitos povos e culturas sumiram sem deixar vestígios e
outrostantos deixaram apenas a memória de suas culturas.
Mais recentemente, a explosão demográfica e produtiva que a
Revolução Industrial deflagrou mudou a escala do problema
da poluição do solo. De um problema local, de processo de
degradação, perda de fertilidade e subsequente desertificação,
transformaram‑se em problema global. Devido a esses
acontecimentos e à dificuldades sociais, econômicas e políticas
vividas pela humanidade é que atualmente cultiva‑se a fome, em
todos os continentes.
A humanidade parece estar disposta a mudar essa realidade, e o
princípio parece que é se preocupando em preservar o solo como
fonte de seu sustento.
É sob a perspectiva de componente de um ecossistema e de
um problema de amplo interesse que devem ser entendidos os
conceitos e as propriedades do solo aqui apresentados. O meio
terrestre deve ser compreendido como parte do desafio ambiental.
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Química Ambiental
Seção 1 – Propriedades e características do solo
Conhecer as propriedades do solo é importante para que a partir
desse conhecimento seja possível utilizá‑lo no atendimento às
necessidades humanas e, isso, sem degradar o ambiente.
Mas afinal, o que é o solo?
O solo pode ser representado como um ciclo natural
em que participam fragmentos de rocha, minerais,
água, ar, seres vivos e seus detritos em decomposição.
Esses fragmentos são resultantes de fatores climáticos
do decorrer do tempo e da atividade combinada de
micro-organismos decompondo restos de animais/
vegetais, respectivamente.
O conceito de solo pode ser diferente, de acordo com o objetivo
mais imediato de sua utilização. Para o agricultor e o agrônomo, por
exemplo, esse conceito destacará suas características de suporte da
produção agrícola. Já para o engenheiro civil, o solo é importante por
sua capacidade de suportar cargas ou de se transformar em material
de construção. Para o engenheiro de minas, o solo é importante
como jazida mineral ou como o material solto que cobre e dificulta
a exploração dessa jazida. Para o economista, ele é um fator de
produção. Já o ecologista o vê como o componente da biosfera, no
qual se dão os processos de produção e decomposição que reciclam a
matéria, mantendo o ecossistema em equilíbrio, e assim por diante.
Quais os componentes do solo?
Em termos médios de ordem de grandeza, os componentes do
solo podem ser encontrados na seguinte proporção:
„„
45% de elementos minerais;
„„
25% de ar;
„„
25% de água;
„„
5% de matéria orgânica.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
A proporção de cada um dos componentes pode variar de um
solo para outro. Mesmo em um solo de determinado local, as
proporções de água e ar variam sazonalmente, com os períodos
de maior ou menor precipitação.
A partir desses componentes, e por ações físicas, químicas e
biológicas, é possível conhecer as fases do solo. Veja a seguir.
Fase sólida
A matéria sólida mineral é, predominantemente, proveniente
de rochas desagregadas no próprio local ou em locais distantes,
trazidas pela água e pelo ar. Em proporções menores, essa parte
sólida pode provir de cinzas vulcânicas.
A desagregação das rochas se dá por ações físicas,
químicas e, em menor proporção, biológicas, as quais
constituem o que se denomina de intemperismo.
As principais ações físicas que provocam a desagregação do
solo são a erosão pela água e pelo vento, variações bruscas de
temperatura, com formação de tensões residuais nas rochas, e o
congelamento de água em fissura, com ação de cunha decorrente
de sua dilatação entre 4°C e 0°C etc.
As ações químicas mais comuns ocorrem sobre as rochas
calcárias atacadas pelas águas que contenham gás carbônico
dissolvido (H2CO3), e em situações específicas de poluição
atmosférica, que contenham também outros íons ácidos (chuvas
ácidas‑H2SO4, H2SO3, HNO3).
A parte orgânica é proveniente da queda de folhas, frutos, galhos
e ramos, animais, excrementos e outros resíduos, em diferentes
estágios de decomposição, em fase sólida ou líquida.
Por ação biológica ocorre a biodegradação da matéria orgânica,
que resulta o húmus do solo, responsável, em boa parte, pelas
suas características agrícolas, disponibilidade de nutrientes e
várias de suas propriedades físicas.
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Química Ambiental
Fase líquida
A parte líquida é fundamentalmente constituída por água
proveniente de precipitações, tais como: chuvas, sereno, neblina,
orvalho e degelo de neve e geleiras, que contenham em solução
substâncias originalmente presentes nas fases sólida e gasosa.
Fase gasosa
A parte gasosa é proveniente do ar existente na superfície e, em
proporções variáveis, dos gases da biodegradação de matéria
orgânica nos quais predomina o dióxido de carbono –(CO2), da
biodegradação aeróbia, e outros gases como o metano (CH4) da
biodegradação anaeróbia.
Qual a formação do solo?
A formação dos solos é resultado da ação combinada de cinco
fatores:
1. clima (pluviosidade, umidade, temperatura etc.);
2.natureza dos organismos (vegetação, microorganismos
decompositores, animais);
3.material de origem;
4.relevo;
5. idade.
Os quatro primeiros fatores imprimem, ao longo do tempo
(idade), características que definem os estágios de sucessão por
meio de sua profundidade, composição e propriedades do que se
denomina horizontes do solo. A figura 4.1 esquematiza a forma
pela qual ocorre esse processo.
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No solo formado à superfície, começam a se estabelecer os
vegetais e os micro-organismos. A lixiviação (transporte por
meio da água que infiltra e percola no solo) faz a translocação das
frações mais finas do solo (argilas) e a remoção de sais minerais.
As frações mais grossas (arenosas) permanecem na parte superior.
Em consequência, formam‑se estratos com aparência diferente,
constituindo os horizontes.
Figura 4.1 ‑ Formação de um solo
Fonte: Braga et al (2005, p.127).
Esses horizontes geralmente são identificados por letras, de
acordo com suas características. Em um perfil hipotético, eles
podem se apresentar como os da figura 4.2, nem sempre todos
estão presentes e são facilmente identificáveis.
Em uma escala de tempo geológico, identificar em um solo o que
se denomina de sucessão, ou seja, o conjunto de estágios de
equilíbrio pelos quais passa esse ecossistema até atingir o ‘clímax’.
Quando o solo atinge o clímax, é que esses horizontes se apresentam
de forma mais evidente e são identificáveis em maior número.
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Química Ambiental
Figura 4.2 ‑ Horizontes de um perfil hipotético de solo
Fonte: Braga et al (2005, p. 128).
De acordo com Malavolta (1976), as principais características que
um solo pode conter são as seguintes:
„„
„„
„„
„„
„„
Horizonte O – Restos orgânicos com matéria orgânica
fresca (O1) ou em decomposição (O2). Em condições de
má drenagem é denominado horizonte H.
Horizonte A – Resultante do acúmulo de material
orgânico misturado com material mineral. Geralmente
apresenta coloração mais escura, devido ao material
orgânico humificado.
Horizonte B – Caracterizado pelo acúmulo de argila,
ferro, alumínio e pouca matéria orgânica. É denominado
de horizonte de acúmulo ou iluvial. O conjunto de
horizontes A e B caracterizam a parte do solo que sofre a
influencia das plantas e animais.
Horizonte C – Camada de material não consolidado,
com pouca influência de organismos, geralmente
apresentando composição química, física e mineralógica
similar a do material em que se desenvolve o solo.
Rocha (R) – Rocha inalterada, que poderá ser, ou não, a
rocha matriz a partir da qual o solo se desenvolveu.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Os poros do solo são um grande reservatório de
água doce, capazes de assegurar muitas vezes sua
disponibilidade, mesmo durante longos períodos de
estiagem.
Devemos observar que a disponibilidade da água vai depender da
profundidade do solo.
Nas regiões áridas, em que o intemperismo é menos intenso, os solos
tendem a ser menos profundos. Quando ocorre uma precipitação
sobre um desses solos, os poros são rapidamente preenchidos por
água, ou seja, eles têm seus poros saturados de água.
O escoamento na superfície passa a ser o único caminho das
águas precipitadas. Como o escoamento é rápido, as águas logo se
acumulam em grandes volumes nos fundos dos vales, provocando
as grandes enchentes (e/ou inundações). Cessada a chuva, o curso
de água passa a ser alimentado apenas pela água acumulada nos
poros do solo.
A maneira como o solo é explorado deve ser apropriada para
cada tipo, respeitando as características dos horizontes. Na
agricultura, deve ser levado em consideração o manejo dos solos
e, em particular, o uso do arado, respeitando os horizontes. Pois
o mau uso do solo acarretará, no futuro, a redução ou eliminação
do potencial de produção primária.
Para outros usos, como por exemplo, a abertura de rodoviários, os
engenheiros devem levar em consideração os horizontes do solo,
pois a terraplanagem profunda pode abrir caminho para uma
erosão incontrolável das vias implantadas.
É importante ainda destacar alguns aspectos que diferenciam
os solos de regiões climáticas distintas. Os climas equatoriais e
tropicais, por causa da temperatura, umidade e pluviosidade que
os caracterizam, favorecem não só o intemperismo acelerado,
pois são solos mais profundos e mais ‘velhos’, mas também
intensificam a fotossíntese.
Em comparação com as áreas de maior latitude e clima
temperado, as regiões equatoriais têm uma densidade total de
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Química Ambiental
matéria orgânica similar. A diferença reside na sua distribuição,
pois enquanto nas regiões equatoriais a vegetação abundante
contém boa parte da matéria orgânica, nas temperadas, grande
parte da matéria orgânica está no solo.
Consequentemente, é mais provável que os horizontes orgânicos
(horizonte A) sejam mais espessos em climas temperados. É,
portanto, diverso o impacto ecológico da remoção da cobertura
vegetal nativa em uma região tropical e em região temperada. No
caso da primeira, o empobrecimento decorrente da exportação da
matéria orgânica na forma de vegetação é bem maior. Essa última
conclusão obriga a repensar procedimentos agrícolas e extrativos
vegetais de outras procedências.
Características ecologicamente importantes dos solos
Com o desenvolvimento de prática de trabalho ou de observações
de estudiosos, é possível analisar as características de um solo.
Há certas características que podem ser vistas a olho nu e,
frequentemente, são utilizadas para a descrição de sua aparência
no ambiente natural.
Mas quais são essas características? As principais características são:
a cor, textura (ou granulométrica), estrutura, consistência e espessura
dos horizontes (essa última já referida anteriormente). Além dessas
são também importantes, sob o ponto de vista ecológico, o grau de
acidez, a composição e a capacidade de troca de íons.
Estude, então, cada uma dessas características.
Cor
É, com certeza, a característica mais prontamente perceptível.
Em termos técnicos, a cor é descrita por comparação com
escalas padronizadas.
Porém, mesmo sem recorrer a procedimentos padronizados,
por simples inspeção, é possível associar algumas propriedades
do solo à sua coloração. Os solos escuros, tendendo para o
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marrom, por exemplo, quase sempre podem ser associados à
presença de matéria orgânica em decomposição em teor elevado;
a cor vermelha é indicativa da presença de óxidos de ferro
e de solos bem drenados; as tonalidades acinzentadas, mais
comumente encontradas junto às baixadas, são indício de solos
frequentemente encharcados. (BRAGA et al, 2005).
A cor do solo é utilizada popularmente para denominar e
identificar os solos, sendo a ‘terra roxa’ e a ‘terra preta’ os dois
exemplos mais conhecidos.
Textura ou granulométrica
Descreve a proporção de partículas de dimensões distintas
componentes do solo. Um exame mais atento de um solo mostra
que ele é constituído de partículas de tamanhos diversos,
frequentemente agrupadas na forma de torrões ou grumos.
Tecnicamente, é possível quantificar a granulométrica, passando
o solo por um conjunto padronizado de peneiras com malhas de
diferentes dimensões e determinando o peso das parcelas retidas em
cada uma delas. Esses pesos parciais, acumulados em porcentagens
do total, são apresentados na forma de curvas granulométricas.
A granulométrica é a base de classificação mais conhecida
dos solos (areia, argila etc.) e explica algumas das principais
propriedades físicas e químicas do solo.
A drenabilibade, a permeabilidade e a aeração de
um solo serão mais acentuadas se as dimensões das
partículas forem maiores. Já os solos com partículas
menores favorecem a resistência à erosão, à retenção
de água e nutrientes, pelas propriedades coloidais que
lhes estão associadas.
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Química Ambiental
Estrutura
É o modo pelo qual as partículas do solo se arranjam em
agregados ou torrões. Produtos da decomposição de matéria
orgânica, junto a alguns componentes minerais, como o óxido de
ferro e frações argilosas, promovem a agregação das partículas.
A presença de umidade e ressecamento, com consequente
inchamento e encolhimento, acabam por dar origem aos torrões
do solo, com tamanhos e formas variados e característicos, os quais
podem ser granular (esféricos ou arredondados), angular (com faces
planas e dimensões aproximadamente iguais), laminar (faces planas
e dimensão horizontal bem maior) e prismático (faces planas e
dimensão vertical bem maior). (BRAGA et al, 2005).
A estrutura de um solo explica, em boa parte, seu
comportamento mecânico (capacidade de suporte de cargas,
resistência ao cisalhamento ou escorregamento), conferindo‑lhe
o que se denomina consistência, ou seja, a capacidade de resistir
a um esforço destinado a rompê‑lo e que podemos avaliar a
consistência pressionando os torrões entre os dedos.
Os macroporos presentes em um solo determinam se
ele será mais ou menos permeável, drenável e aerado.
A argila é considerada a parcela ‘ativa’ da fração mineral por
sediar os fenômenos de troca de íons determinantes da fertilidade
do solo (existência de nutrientes em quantidade adequada) e da
boa nutrição vegetal (capacidade de ceder os nutrientes à planta).
Por sua vez, as frações minerais mais grossas presentes no
solo são também essenciais para assegurar a drenabilidade, a
permeabilidade e a aeração indispensáveis para o equilíbrio
água‑ar exigido para a realização da fotossíntese (captação dos
nutrientes em solução por meio de pressão osmótica nas raízes) e
da respiração dos organismos existentes no solo.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
A porção orgânica, em particular sua parcela em decomposição,
é importante por dar origem ao húmus. Ao húmus cabe a função
de agente granulador (formação de torrões) dos solos produtivos.
A matéria orgânica tem a elevadíssima capacidade de reter
nutrientes e água, muito superior, a argila, por exemplo, caulinita
predominantemente em nossos solos.
Pesquisas (Coelho e Verlengua, 1976) estimam que
mais de 70% da capacidade de retenção de nutrientes
dos solos do Estado de São Paulo seja devido à
matéria orgânica. Além disso, a matéria orgânica pode
ter um efeito atenuador da nocividade de alguns
elementos minerais sobre as plantas, como o alumínio
e o manganês, por vezes presentes em teores
indesejáveis nos solos tropicais.
Os solos desempenham um importante papel nas trocas químicas
entre as partículas sólidas e a solução aquosa que as envolve,
repelindo ou absorvendo íons e radicais, configurando o que se
denomina capacidade de troca iônica do solo.
A Capacidade de Troca Catiônica (CTC) ocorre se houver excesso
de cargas negativas, o solo é trocador de cátions. Se o excesso for
de cargas positivas, mede‑se a sua Capacidade de Troca Aniônica
(CTA). (BRAGA et al, 2005). Os solos ricos em matéria orgânica
apresentam maior CTC que os solos argilosos, isso devido à
presença de grupos carboxílicos (‑COOH) nos solos orgânicos.
Os ácidos carboxílicos presentes no solo trocam o H ionizável por
cátions, tais como, Na+, K+, Mg2+, Ca2+, Cu2+, Zn2+, entre outros.
Os grupos carboxílicos apresentam elevada troca de cátions.
Os solos com CTC mais elevada retêm nutrientes essenciais às
plantas, tais como cálcio, potássio, magnésio etc.; não retêm,
entretanto, ânions como os nitratos e cloretos, que podem passar
livremente para as águas do lençol subterrâneo.
Os nutrientes presentes no solo, ânion e/ou cátions, podem ser
transferidos para a água ou plantas, podendo causar doenças em
indivíduos (animais e humanos), quando presentes ou acima de
uma determinada concentração na água e alimentos.
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Química Ambiental
Água com mais de 10mg/l de nitrato pode provocar a
metemoglobinemia ou doença azul.
A acidez é a capacidade de substâncias que em solução aquosa
liberam próton (H+ ou H3O+) como único e exclusivo cátion.
De um modo geral, a faixa de pH em que ocorre maior
disponibilidade de nutrientes situa‑se entre 6,0 e 6,5.
Em solos com pH inferior a 5,5, a acidez favorece a solubilização
de metais, tais como, o alumínio, manganês e ferro, em
detrimento do fósforo, que precipita, ficando reduzida a
disponibilidade desse nutriente essencial para as plantas.
Além disso, a acidez reduz a atividade de bactérias decompositoras
de matéria orgânica, diminuindo a quantidade do nitrogênio,
fósforo e enxofre contidos no solo. A deficiência desses nutrientes
essenciais prejudica o desenvolvimento das plantas e pode
aumentar sua sensibilidade à toxidez do alumínio e do manganês.
Os valores de pH mais elevados (acima de 6,5) reduzem
a disponibilidade de vários nutrientes (Zn, Cu, Fe, Mn, B),
podendo provocar sua deficiência nas plantas.
Solos de zonas de alta pluviosidade tendem a apresentar valores mais
baixos do pH em consequência do processo de lixiviação das bases
dos horizontes superiores, pela infiltração e percolação das águas.
As condições climáticas predominantes em nosso país fazem com
que quase a totalidade dos solos apresente pH inferior a sete, como
é o caso do Estado de São Paulo. Há, ainda, outras causas de acidez
progressiva, como o cultivo intensivo com retirada, sem reposição,
de nutrientes essenciais, a erosão remove as camadas superficiais
que contêm maiores teores de bases e a adubação com compostos de
amônio (sulfato e nitrato). Os sulfatos e nitratos em contato com a
água vão gerar os ácidos correspondentes, reduzindo o pH do solo.
Uma prática comum é a da calagem, que consiste na adição de
calcário para elevar o pH a um valor adequado.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Erosão
A erosão é um problema de extensão nacional e internacional,
urbana e rural. Um exemplo são os Estados Unidos, que, até
1956, por efeito da erosão foi alcançando o total de 120 milhões
de hectares. Estima‑se, em termos mundiais, uma perda de
aproximadamente 28% das terras cultiváveis por efeitos da erosão.
(BRAGA et al, 2005).
Em todo território brasileiro são conhecidos vários episódios de
perdas progressivas e graves do potencial produtivo, inclusive com
desertificação já visível.
O sul do Maranhão e do Pará e o norte do Estado de
Tocantins, em áreas da Amazônia abertas à
colonização com a Belém – Brasília (início da década
de 1960) e com a Transamazônica e outras vias
amazônicas (década de 1970); as áreas a oeste e
sudoeste do Estado de São Paulo e o norte e
nordeste do Estado do Paraná, formadas por solos
podzólicos naturalmente férteis e bastante erodíveis,
extensivamente utilizados para muitas monoculturas
de algodão, soja, amendoim etc.; e parte dos pampas
gaúchos outrora empregados na produção intensiva
de gramíneas alimentícias e forrageiras.
É comum distinguir‑se a erosão geológica (ou lenta) da acelerada.
A erosão geológica processa‑se sob a ação dos agentes naturais.
Enquanto que a erosão acelerada ocorre como uma consequência
da ação do homem sobre o solo.
Na erosão as partículas do solo são carregadas pela
água à proporção da pluviosidade e da declividade do
terreno e à proporção do tempo de replantio ou
rebrota, assim como a rarefação do cultivo de
substituição implantado.
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Química Ambiental
Práticas como o uso do fogo e monoculturas são importantes no
processo de erosão. O fogo faz com que ocorra perda de matéria
orgânica e nutrientes, que dariam origem a substâncias capazes
de garantir coesão do solo, e das próprias substâncias coloidais.
A monocultura sem a reposição de nutrientes esgota o solo,
reduzindo a sua produtividade e, consequentemente, a cobertura
vegetal protetora, e modifica suas propriedades físicas de
resistência à erosão (redução de húmus e demais frações com
atividades coloidais e coesivas).
Em todos os casos, a consequência é a perda progressiva da
fertilidade e da produtividade do solo, podendo‑se chegar à sua
total e rápida esterilização e eventual desertificação, caso não
sejam tomadas precauções adequadas em tempo oportuno.
O empobrecimento do solo e a perda de seu potencial produtivo
traduzem o preço que a sociedade paga pela ocorrência da erosão
na área rural. A erosão urbana e rural se diferencia tanto pelas
causas como pelos efeitos.
Nas áreas urbanas, o custo social da erosão pode ser medido
pelos gastos para a restauração de cursos de água que recebem o
material erodido, pelo tratamento da água a ser disponibilizada
para a população e para calçar e refazer edificações e vias
destruídas ou ameaçadas de desabamento.
No Brasil e em outros solos tropicais, há outro problema que
deve ser considerado, que é a lixiviação. Por esse processo, as
porções de solo mais finas, onde estão os componentes que lhe
dão fertilidade, são removidas e carregadas pela água em seu
movimento descendente de infiltração.
Em terrenos planos de solos muito profundos e permeáveis,
como os sedimentos arenosos da Amazônia, o material fértil
da superfície é solubilizado pelas chuvas e arrastado para
regiões inacessíveis às raízes. A esterilização ocorre não por um
transporte horizontal, mas sim vertical, dos nutrientes.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
O estudo do movimento de substâncias (agroquímicos,
nutrientes, combustíveis) no perfil do solo envolve muitos fatores,
sendo os principais:
„„
ocorre por meio de difusão e pelo fluxo de massa em
água;
„„
associado às transformações químicas e biológicas;
„„
processos de absorção e persistência do produto.
Conhecer as características do solo é importante para verificar a
realidade do solo no que diz respeito aos agentes poluentes, como
será abordado nas seções a seguir.
Seção 2 – Poluição do solo rural
Atualmente, é comum, em áreas rurais, o emprego de substâncias
químicas no solo em busca de fertilização ou para evitar o ataque
de pragas. Por esse motivo que, nesta seção, você vai estudar os
efeitos dessas substâncias químicas no solo e também o efeito de
salinização devido ao mau uso da prática de irrigação do solo.
O emprego de fertilizantes sintéticos e defensivos é que leva a
alguns impactos ambientais imediatos e bem conhecidos e a
outros, que dependem de anos ou décadas para se manifestar e
serem avaliadas as suas consequências finais.
O uso de fertilizantes sintéticos e defensivos é justificado por
muitos para assegurar os níveis de produção, principalmente de
alimentos, para o atendimento de uma população que continua a
crescer em taxas elevadas, da qual cerca de dois terços têm graves
problemas de desnutrição.
Mas devemos pensar com respeito aos riscos do uso desses
fertilizantes. Se não é possível aboli-los em curto prazo, então, é
preciso limitar seu uso ao estritamente indispensável, cortando
os desperdícios geradores de resíduos poluidores, usando técnicas
de preparo, controlando o descarte de embalagens e frascos,
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Química Ambiental
restringindo o emprego dos defensivos aos ambientalmente mais
seguros e empregando técnicas de aplicação que reduzam os
acúmulos e a propagação pela cadeia alimentar.
Quais as práticas e agentes que interferem na
qualidade do solo?
Conheça, a partir de agora, as principais substâncias que interferem
na qualidade do solo e práticas que levam a impactos ambientais nas
áreas rurais. O uso de fertilizantes e defensivos agrícolas destacam‑se
como substâncias interferentes e poluidoras dos solos.
Fertilizantes sintéticos
Os fertilizantes mais usados eram os compostos de origem
natural, tais como, restos de vegetais decompostos e dos
excrementos de animais (estrume), Salitre do Chile, ‘guano’.
Sendo todos produtos naturais, sua biodegradação e incorporação
ocorrem mais facilmente no solo, diminuindo os riscos
de desequilíbrio ou danos ao meio ambiente, levando em
consideração a quantidade de emprego desses.
A partir da produção do adubo artificial, caíram as barreiras
que limitavam sua disponibilidade, fazendo crescer os riscos
de sua acumulação ambiental até concentração tóxica, tanto de
nutrientes essenciais quanto de outros elementos.
Excrementos
depositados na costa
do Chile e do Peru
por aves aquáticas,
cuja alimentação
provém das ricas
águas da corrente de
Humboldt e das várias
ressurgências que aí
ocorrem.
A adição de fertilizantes ao solo visa a atender a demanda de
nutrientes das culturas. Em ordem decrescente das quantidades
exigidas pela planta, são cerca de dezesseis os elementos
necessários assimilados pelo vegetal, principalmente a partir de
suas formas minerais ou mineralizadas encontradas em solução
nos solos. Esses nutrientes são ditos macronutrientes principais e
secundários e micronutrientes.
Unidade 4
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Os macronutrientes principais são: o nitrogênio,
fósforo e potássio. Em seguida, estão os
macronutrientes secundários: o cálcio, magnésio e
enxofre. Por fim, os micronutrientes como o ferro,
manganês, cobre, zinco, boro, molibdênio e cloro.
Como em qualquer processo físico, químico e biológico, mesmo
quando o fertilizante é aplicado com a melhor técnica e de modo
que seja mais facilmente assimilável pelo vegetal, a eficiência
nunca é de 100%, provocando, em consequência, um excedente
que passa a incorporar‑se ao solo, fixando‑se à sua porção sólida
ou solubilizando‑se e movimentando‑se em conjunto com sua
fração líquida ou ainda sendo acumulado na cadeia trófica.
A eficiência dessa aplicação, além de depender da técnica utilizada
(modo e local da aplicação, momento da aplicação e ocorrência
ou não de agentes que o carreguem e lixiviem etc.), depende
também das quantidades adotadas. Essa dependência é expressa
pela conhecida lei econômica ‘dos rendimentos decrescentes’. Por
essa lei, a eficiência cai e quantidades crescentes de fertilizantes
incorporam‑se ao ambiente, e não à planta. É fácil prever que
alguns dos fertilizantes poderão vir a integrar‑se a corpos de água
e outros ficarão no solo, próximos à superfície em que ocorrem os
cultivos. Os fertilizantes que atingem os corpos de água poderão
elevar os teores com que naturalmente se apresentam nas águas,
ocasionando diferentes formas de poluição, que são: contaminação
e eutrofização. (BRAGA et al, 2005).
Contaminação ocorre quando os teores de
fertilizantes atingem níveis tóxicos á flora, à fauna e ao
homem em particular.
Eutrofização corresponde à superfertilização das águas,
que passam a produzir algas que, por competição,
eliminam muitas espécies aquáticas e restringem os
benefícios que podem ser extraídos da água.
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Química Ambiental
Caso continue ocorrendo a fertilização do solo, essa pode levar a
um acúmulo na cadeia alimentar, ou seja, a parcela de fertilizante
que se fixou ao solo tende a acumular‑se em concentrações
crescentes, que poderão torná‑lo impróprio à agricultura.
Se mesmo assim esse solo for utilizado para o plantio, a parcela
de fertilizante solubilizada será assimilada pelas plantas,
podendo alterar a composição do tecido celular. Essas plantas,
ao serem utilizadas como alimento pelo homem ou pelo gado,
incorporam‑se à cadeia alimentar que passa pelo homem,
introduzindo uma substância nova, cujas consequências só serão
conhecidas, talvez, após um prazo de algumas gerações.
Em alfaces, o teor de nitrogênio, medido em
percentual de massa seca, foi de 0,6 em terreno
adubado com 600 Kg de nitrogênio por hectare,
enquanto que a alface cultivada em terreno normal,
esse teor é de 0,1. (COMMONER, 1970).
Podemos sugerir que comportamento semelhante pode acontecer
com demais nutrientes. Em termos ecológicos globais e em longo
prazo, a fertilização com eficiência decrescente tende a modificar a
distribuição da ocorrência dos nutrientes na biosfera, provocando
sua concentração em alguns dos seus segmentos (solos agrícolas e
corpos de água) e na cadeia alimentar em que está o homem.
Conhecidos os efeitos de fertilizantes no solo, estude sobre o
efeito do uso de defensivos agrícolas descrito a seguir.
Defensivos agrícolas
Os defensivos agrícolas são classificados em grupos de acordo
com o tipo de praga que combatem: inseticidas, fungicidas,
herbicidas, rodenticidas (contra roedores) etc.
Em 1939 surgiu o DDT (diclorodifeniltricloroetano), composto
que deu origem à classe de defensivos que ainda hoje caracteriza
a tecnologia predominante de combate às pragas agrícolas. Esse
foi sintetizado na busca de um efeito mais duradouro de sua
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aplicação. O DDT foi o primeiro inseticida organoclorado de
elevada resistência à decomposição no ambiente (meia vida da
ordem de decênios).
Um grande número de compostos vem sendo sintetizados, todos
com o objetivo de defensivos agrícolas, mas agora buscam‑se
compostos que tenham sua ação mais específica quanto aos
organismos afetados e menos duradouros. Apesar desses esforços
não se tem verificado o sucesso quanto a essas características.
A característica que tornou o uso dos defensivos agrícolas
disseminado foi sua resistência no ambiente. A resistência em
decompor‑se no ambiente, de modo a impedir o desenvolvimento
de organismos indesejados, justificou o sucesso do DDT em
programas de saúde pública e na contribuição para o aumento da
produtividade agrícola.
DDT foi utilizado no combate à malária, ao tifo, à febre
amarela, à dengue, entre outras doenças transmitidas
por insetos.
Mas sua permanência no ambiente amplia a sua disseminação
pela biosfera, seja por meio de fenômenos físicos (como a
movimentação das águas e a circulação atmosférica), seja por
cadeias alimentares dos ecossistemas presentes no local de sua
aplicação original.
O DDT foi detectado nas calotas polares e em tecido
celular de animais e aves com habitat bastante
afastado dos locais de sua aplicação costumeira.
Na circulação das águas e da atmosfera junto aos deslocamentos
dos organismos integrados às cadeias alimentares, explicavam a
disseminação dos defensivos em escala mundial, as concentrações
elevadas são consequência do que se denomina biomagnificação
ou amplificação biológica.
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A biomagnificação ocorre quando substâncias
persistentes ou cumulativas, como os compostos
organoclorados, migram do mecanismo da nutrição de
um organismo para os seguintes da cadeia alimentar.
Os defensivos agrícolas presentes no solo transferem‑se,
parcialmente, para o tecido celular da planta, mas são
dependentes principalmente das concentrações existentes no
solo e do tipo de planta. Essas transferências levam a efeitos
ambientais diretos ou indiretos, que podem ser resumido em:
„„
„„
Mortandade inespecífica ‑ mesmo quando sintetizada
na tentativa de se combater especificadamente certa
praga por meio da propagação pela cadeia alimentar, essa
mortandade pode tornar‑se inespecífica.
Redução da natalidade e da fecundidade de espécies ‑
mesmo naquelas que só longinquamente e apenas por
meio da cadeia alimentar se ligam à praga combatida.
A severidade dos efeitos indiretos depende também da
quantidade aplicada e do modo pelo qual essa aplicação é feita.
Quando aplicado 0,19 ppm de heptacloro no solo, é
detectado na cenoura a presença de concentração no
vegetal de 0,140 ppm, enquanto que a batata apresenta
uma concentração no vegetal de 0,050 ppm.
Dificilmente a adoção de um único método (controle biológico,
manejo de pragas, as mudanças no padrão de plantio, as plantas
geneticamente modificadas e o uso de agrotóxico) soluciona os
diversos problemas envolvidos na redução populacional da praga.
A seguir, veja no quadro 4.1, os principais grupos de defensivos
agrícolas sintéticos:
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Defensivos
agrícolas sintéticos
Classificação
Organoclorados ‑ DDT, Aldrin, Dieldrin, Heptacloro etc. De um modo
geral, eles são extremamente persistentes (DDT permanece 40% após
15 anos da aplicação e o heptacloro permanece 15% após 15 anos). Sua
produção e consumo vêm sendo proibidos progressivamente em um
número cada vez maior de países.
Inseticidas
Organofosforados ‑ Parathion, Malathion, Phosdrin etc. Apresentam
certa seletividade em sua toxidez para insetos. Em sua maioria,
degradam‑se bem mais rapidamente que os organoclorados.
Carbamatos ‑ são específicos em sua toxidez para os insetos e de baixa
toxidez para os vertebrados de sangue quente.
Sais de cobre ‑ mais comumente usados.
Fungicidas
Organomercuriais ‑ uso restrito às sementes.
Derivados do arsênico ‑ uso decrescente e limitado.
Herbicidas
Derivados do ácido fenoxiacetico ‑ 2,4D; 2,4,5T; Pichloram. Os dois
primeiros foram utilizados no Vietnã em dosagens muito elevadas
(superiores às máximas recomendadas na agricultura) e provocam
efeitos catastróficos sobre a fauna, a flora e as populações, esse
herbicida ficou conhecido pelo nome de agente laranja.
Quadro 4.1 – Os principais defensivos agrícolas sintéticos
Fonte: Elaborado pela autora.
Já que você estudou sobre a persistência de defensivos agrícolas
no solo e como esse pode permanecer na cadeia alimentar,
conheça, agora, sobre a salinização do solo.
Salinização
A salinização pode ser dependente da natureza do material de
origem, seja pela maior aridez do clima ou pelas condições do
relevo local. Há, porém, uma salinização que pode ocorrer pela
ação do homem quando a exploração agrícola é feita com o
auxílio de irrigação. (BRAGA et al, 2005).
O que ocorre quando a franja capilar formada pela ação da tensão
superficial, atuando em um lençol freático, eleva a água com sais
em solução até o nível do terreno. A evaporação que se sucede
deixa aí os resíduos sólidos salinos.
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Química Ambiental
Regiões de maior pluviosidade, de modo geral, apresentam
menor teor de sais, as precipitações frequentes lixiviam esses
sais, devolvendo‑os, por infiltração, para o lençol freático. Em
regiões áridas, o teor de sais na solução aquosa é mais elevado, e a
frequência das lixiviações pelas chuvas é bem menor.
A elevação do lençol freático, o que pode levar ao
acúmulo de sais na superfície do terreno, pode ser
observada em regiões em que se faz necessária a
irrigação para o plantio. A consequência imediata da
irrigação é uma elevação do lençol freático.
A prevenção desses problemas deve ser feita na fase do projeto, ou
mais tarde terão que ser tomadas medidas reparadoras.
Nesta seção, você estudou os efeitos de substâncias químicas
(fertilizantes e defensivos agrícolas) no solo e também o efeito
de salinização devido ao mau uso da prática de irrigação do solo.
Agora você vai estudar a poluição do solo urbano.
Seção 3 – Poluição do solo urbano
A poluição do solo urbano é proveniente de resíduos
diversificados, todos gerados pelas atividades típicas das cidades,
como a indústria, o comércio, a residencial e os serviços.
Os resíduos urbanos ao serem lançados ou dispostos nos limites
do território urbano, não só acentuam os problemas de poluição
do solo, como causam o empobrecimento nas áreas de onde
provém a matéria e a energia que, após a utilização no meio
urbano, transformam‑se em resíduos.
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A poluição do solo pode ser provocada por resíduos
nas fases sólida, líquida e gasosa, ou seja, os resíduos
líquidos que atingem o solo urbano e que são
provenientes dos efluentes líquidos de processos
industriais e, principalmente, dos esgotos sanitários
que não são lançados nas redes públicas de esgoto.
Os esgotos sanitários, e às vezes os de processos industriais,
completamente irregulares, são lançados sobre o terreno
superficial, vias públicas, sarjetas etc., gerando problemas graves
não só provenientes da poluição que agride o olfato e a visão,
mas, também, podendo gerar episódios de saúde pública
endêmicos e epidêmicos quando esses lançamentos estão
contaminados por substâncias patogênicas e tóxicas.
O efeito poluidor dos resíduos gasosos sobre o solo se dá por meio da
precipitação nas áreas urbanas, que podem chegar ao solo na forma
de poluentes em solução, trazidos, por exemplo, pelas ‘ chuvas ácidas’.
A poluição por resíduos sólidos é o problema de poluição de solo
urbano mais comum, por isso, deve ser estudado com maior
atenção nesse momento.
A geração de resíduos sólidos destaca‑se principalmente por duas
razões, que são:
1. as quantidades geradas;
2.as características de imobilidade ao seu transporte no
meio ambiente.
Resíduos sólidos urbanos
Os resíduos sólidos de uma área urbana são constituídos por
desde o que comumente se denomina de lixo até resíduos
especiais, provenientes de processos industriais e de atividades
médico‑hospitalares.
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Química Ambiental
Lixo é toda mistura de resíduos produzidos nas
residências, comércio e serviços, e nas atividades
públicas, na preparação de alimentos, no
desempenho de funções profissionais e na varrição de
logradouros.
De maneira mais específica e prática, a norma brasileira NBR
10.004 caracteriza como resíduos sólidos todos os resíduos,
nos estados sólido e semissólido, que resultam de atividades
da comunidade de origem: industrial, doméstica, hospitalar,
comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Um exemplo disso
são os lodos provenientes de sistemas de tratamento de água.
O denominado ‘lixo’, em função de sua proveniência variada,
apresenta também constituintes bastante diversos, e o volume de
sua produção varia de acordo com sua procedência, com o nível
econômico da população e com a própria natureza das atividades
econômicas na área onde é gerado.
Os estudos arqueológicos valorizam os resíduos como
fonte de conhecimento dos costumes e da civilização
de povos mais antigos.
Nos resíduos coletados nos aglomerados urbanos há um certo
grau de similaridade em sua composição. Tem‑se trabalhado no
sentido de organizar os serviços públicos ou privados, orientar
e educar a população para manusear, acondicionar, coletar,
transportar e dispor, de maneira diferenciada, os resíduos sólidos,
conforme a classe (NBR 10.004) em que se enquadram.
Nas cidades é indispensável um sistema público ou comunitário
que se incumba da limpeza de logradouros, da coleta, disposição
e tratamento do lixo, que extinga os riscos de saúde pública e
elimine ou reduza a níveis aceitáveis os demais impactos sobre o
ambiente associado ao lixo.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Síntese
Nesta unidade, você conheceu a composição e a formação
química dos solos, bem como as características ecologicamente
importantes dos solos.
Um dos processos que afetam o solo é a formação de erosão,
quando as partículas do solo são carregadas pela água à
proporção da pluviosidade e da declividade do terreno. Outro
ponto importante desta unidade foi a identificação das fontes
geradoras de poluição do solo rural e urbano.
Dentre as características do solo, vale salientar que algumas
podem ser vistas a olho nu e são frequentemente utilizadas na
descrição de sua aparência no ambiente natural. Essas
características são a cor, textura (ou granulométrica), estrutura,
consistência e espessura dos horizontes (essa última já referida
anteriormente). Além dessas são também importantes, sob o
ponto de vista ecológico, o grau de acidez, a composição e a
capacidade de troca de íons.
O mau uso do solo é o principal motivo de solos inférteis. Por
esse motivo, afirma-se que, na Química Ambiental, o solo (meio
terrestre) está em equilíbrio tanto com o meio aquático quanto
com o atmosférico.
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Química Ambiental
Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realizará atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas, esforce‑se para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois assim você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) O que significa as siglas CTC e CTA? Explique como os seus efeitos
ocorrem no meio ambiente.
2) Qual é a influência do pH do solo sobre os metais?
3) Diferencie contaminação e eutrofização e pesquise situações que
demonstrem a ocorrência desses fenômenos no Brasil.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade
consultando as seguintes referências:
BRAGA, Benedito et al. Introdução à engenharia ambiental.
Segunda edição São Paulo: Person Prentice Hall, 2005.
ROCHA, Julio Cesar; ROSA, André Henrique; CARVALHO,
Arnaldo Alves. Introdução à química ambiental. Porto Alegre:
Bookman, 2004.
MALAVOLTA, Eraldo. Manual de química agrícola: nutrição
de plantas e fertilidade de solo. São Paulo: Agronômica Ceres,
1976.
COELHO, F S; VERENGIA, F. Fertilidade do solo. São
Paulo: Instituto Campineiro de Ensino Agrícula, 1976.
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UNIDADE 5
O meio atmosférico
Objetivos de aprendizagem
„„
Compreender as características do ar.
„„ Estudar a composição do ar.
5
„„ Conhecer os poluentes atmosféricos.
„„ Identificar os padrões de qualidade do ar.
Seções de estudo
Seção 1 Características e composição da atmosfera
Seção 2 Poluição do ar
Seção 3 Padrões de qualidade do ar
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Como está a qualidade do ar que você respira? Essa pergunta
pode soar estranha para alguns, pois nunca se preocuparam ou
tiveram motivos para pensar nisso. Mas fique tranquilo, apesar de
tudo, as cidades brasileiras apresentam uma boa qualidade do ar.
A atmosfera é dependente de fenômenos naturais e antrópicos.
Quanto aos fenômenos naturais, podemos citar ventos, precipitações
pluviais, evaporação de águas superficiais, vulcões, entre outros.
Exemplos de fenômeno antrópico são os processos de combustão, a
liberação de gases de processos industriais, entre outros.
O ar proporciona o oxigênio, essencial para manter a vida, obtido
a partir da fotossíntese e consumido no processo respiratório.
Muitos outros gases e vapores são emitidos para a atmosfera,
como amônia (NH3), nitrogênio (N2), água (H2O), metano
(CH4), monóxido de carbono (CO), dióxido de carbono (CO2),
óxidos de enxofre (SOx), hidrocarbonetos aromáticos policíclicos
(PAH´s) e material particulado.
Quando viajamos, às vezes é possível perceber diferença na
qualidade do ar de uma cidade para outra; percebemos diferenças
na atmosfera de grandes centros urbanos, onde a qualidade do ar
pode tornar‑ se um problema de saúde pública.
O ser humano tem interferido na composição da atmosfera
do planeta, sem conhecer as consequências ou desprezando o
conhecimento existente. No entanto, é preciso estudar o passado
e o presente para “prever” o futuro e para garantir a sobrevivência
da espécie humana no planeta.
Diante disso, nesta unidade de estudo você vai conhecer
as características e composição da atmosfera, os padrões de
qualidade e identificar os poluentes atmosféricos. Bons estudos!
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Química Ambiental
Seção 1 – Características e composição da atmosfera
Um fato não se pode negar: é preciso conhecer as
características e a composição da atmosfera para compreender
o futuro da vida do planeta.
Atualmente, a composição da atmosfera da Terra é devida aos
processos físico‑ químicos e biológicos iniciados há milhões de anos.
Várias são as teorias que procuram explicar sua origem e evolução.
Uma das hipóteses aceitas hoje é de que a Terra, ainda sem
atmosfera, formou‑ se a partir da acumulação de partículas
sólidas e relativamente frias dos mais diversos tamanhos,
procedentes da nuvem de gás e poeira que originou o Sistema
Solar.
Uma série de reações térmicas, que se seguiram em direção ao
centro da Terra, provocou o aumento da temperatura terrestre e
desencadeou reações nas camadas superficiais do planeta, dando
origem à atmosfera. Em uma primeira fase, a atmosfera era
formada basicamente por gás carbônico (CO2) e vapor de água
(H2O), com ausência de oxigênio (O2).
Com o resfriamento da Terra, surgiram os oceanos, e com o
processo evolutivo, foi originada a primeira planta capaz de
realizar fotossíntese, responsável pela formação do oxigênio (O2)
livre (BRAGA et al., 2005).
A concentração do oxigênio na atmosfera foi
aumentando durante o estabelecimento da vida no
planeta, até atingir os níveis atuais.
Durante o período evolutivo, além do oxigênio, foram formados
outros gases que compõem a atmosfera terrestre atual. Em
porcentagens menores, também estão presentes na atmosfera os
gases: neônio, hélio, criptônio, xenônio, hidrogênio, metano,
ozônio e dióxido de nitrogênio (NO2), entre outros.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Além desses gases, a atmosfera também apresenta os seguintes
constituintes: vapor de água e material particulado orgânico
(pólens e microorganismos) e inorgânico (partículas de areia e
fuligem). A porcentagem de vapor de água na atmosfera pode
variar de 1% a 4% em volume da mistura total, o que depende
da temperatura e da pressão atmosféricas, além de outros fatores
(KOTKIN; KELLER, 2000).
A presença das partículas sólidas em suspensão no ar tem
fundamental importância no ciclo hidrológico, uma vez que
elas produzem núcleos de condensação, acelerando o processo
de formação de nuvens e, consequentemente, a ocorrência da
precipitação. É o chamado fenômeno da coalescência.
Nesta seção, você vai estudar a classificação da atmosfera
feita de acordo com o perfil de variação de temperatura com a
altitude (veja a figura 5.1), que é considerada adequada sob o
ponto de vista ambiental. O ar atmosférico encontra‑ se na sua
maioria (90%) em uma camada relativamente fina. Essa camada,
chamada de troposfera (conforme mostra a figura 5.1), estende‑
se até uma altitude que varia entre 10 e 12 km.
A troposfera varia em espessura conforme a latitude e o tempo.
No Equador, sua altitude alcança algo em torno de 16,5 km;
nos polos, ela possui 8,5 km; e, em latitudes de 45°C, alcança
aproximadamente 10,5 km (BRAGA et al., 2005).
Figura 5.1 ‑ Camadas da atmosfera da Terra
Fonte: Disponível em <http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/meio‑ ambiente‑ camada‑ de‑
ozonio/camada‑ de‑ ozonio‑ 6.php>.
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Química Ambiental
A troposfera possui importância fundamental do
ponto de vista climático, pois essa camada é a
responsável pela ocorrência das condições climáticas
da Terra. O decréscimo da temperatura na troposfera,
com a altitude, é de aproximadamente 6,5° C por
quilômetro, sendo conhecido por gradiente vertical
normal ou padrão.
Observe também que, acima da troposfera, encontra‑ se a
estratosfera, cuja linha de transição é a tropopausa.
A estratosfera é importante do ponto de vista ambiental, pois
é nela que se encontra a camada mais espessa de ozônio (O3),
com uma concentração da ordem de 200 mg/L (KOTKIN;
KELLER, 2000). Essa camada protege a Terra das radiações
ultravioletas provenientes do sol.
Acima da estratosfera encontra‑ se a mesosfera, tendo como
ponto de transição a estratopausa. A mesosfera possui um forte
decréscimo de temperatura, registrando‑ se nela a temperatura
mais baixa da atmosfera. A camada acima da mesosfera é
chamada de termosfera, e entre a termosfera e a mesosfera situa‑
se a mesopausa. A termosfera ou ionosfera alcança uma altitude
próxima de 190 km e é importante para as telecomunicações.
Os fenômenos que
atualmente ocorrem
nessa camada e que
estão provocando
sua destruição
serão abordados
posteriormente nesta
unidade, em um item
específico.
O perfil de temperatura que caracteriza a atmosfera é resultado
da estratificação dos gases que se encontram presentes em cada
camada, da incidência de radiação solar no nosso planeta e da
dispersão dessa radiação de volta para o espaço.
Na atmosfera, do ponto de vista ambiental, destacam‑
se duas camadas: a troposfera e a estratosfera.
Na troposfera, desenvolvem‑ se todos os processos climáticos que
regem a vida na Terra. Além disso, é nessa região que ocorre a
maioria dos fenômenos relacionados com a poluição do ar.
Na estratosfera, ocorrem as reações importantes para o
desenvolvimento das espécies vivas em nosso planeta, em razão
da presença do ozônio.
Unidade 5
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Conhecer como a atmosfera é composta e os seus componentes
auxilia a compreensão dos conceitos a serem tratados na próxima
seção: os principais poluentes atmosféricos. Assim, na próxima
seção, você vai estudar sobre os parâmetros químicos e esclarecer
as relações entre esses parâmetros e a poluição do ar.
Seção 2 – Poluição do ar
Agora chegou o momento de estudar a poluição do ar. Mas o que
é poluição?
Poluição é quando um local apresenta constituintes
no solo, água e ar que representem risco para um uso/
ocupação real ou potencial.
É possível a poluição do ar ter origem química, biológica e física,
desde que o agente apresente‑ se em concentrações suficientes
para causar danos em seres humanos, em animais, em vegetais ou
ainda em materiais. Como exemplo de poluição de origem
química destacam‑ se a liberação de gás metano; de origem
biológica, a presença do vírus da gripe; e de origem física, a
presença de ruído ou radiação UV.
Observe o quadro 5.1, que mostra os principais poluentes do ar
e as suas fontes.
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Química Ambiental
Poluentes do ar Fontes
Monóxido de
carbono (CO)
Esse composto é gerado nos processos de combustão incompleta de combustíveis fósseis e outros
materiais que contenham carbono em sua composição.
Dióxido de
carbono (CO2)
O dióxido de carbono é o principal composto resultante da combustão completa de combustíveis
fósseis e de outros materiais combustíveis que contenham carbono, além de ser gerado no processo
de respiração aeróbia dos seres vivos, que utilizam o oxigênio para poder liberar a energia presente
nos alimentos ingeridos.
Os óxidos de enxofre são produzidos pela queima de combustíveis (geralmente combustíveis fósseis,
Óxidos de enxofre
como carvão, gasolina, óleo diesel) que contenham enxofre em sua composição. Também são
(SO2 e SO3)
gerados em processos biogênicos naturais, tanto no solo quanto na água.
Esses compostos são gerados na maior parte dos processos de combustão. Ocorrem no próprio
Óxidos de
ar, devido à presença de oxigênio e nitrogênio. Poderão ser gerados também por processos de
nitrogênio (NOx)
descargas elétricas na atmosfera.
Os hidrocarbonetos são resultantes da evaporação de combustíveis e de muitos outros materiais
Hidrocarbonetos derivados do petróleo, como os solventes orgânicos, as tintas. Os hidrocarbonetos também podem
ser resultantes da queima incompleta dos combustíveis.
Oxidantes
fotoquímicos
Os oxidantes fotoquímicos são compostos gerados a partir de outros poluentes (hidrocarbonetos
e óxidos de nitrogênio), que foram lançados à atmosfera por meio da reação química entre esses
compostos, catalisada pela radiação solar. Dentre os principais oxidantes fotoquímicos destacam‑ se
o ozônio e o peróxi‑ acetil‑ nitrato (PAN).
No caso da poluição atmosférica, entende‑ se por material particulado as partículas de material sólido e
líquido capazes de permanecer em suspensão, como é o caso da poeira, da fuligem (C) e das partículas
Material
de óleo, além do pólen. Esses contaminantes podem ter origem nos processos de combustão (fuligem
particulado (MP)
e partículas de óleo) ou, então, ocorrem em consequência dos fenômenos naturais, como é o caso da
dispersão do pólen ou da suspensão de material particulado em razão da ação do vento.
Asbestos
(amianto)
Esse material está cada vez menos em uso, pois produz graves problemas de saúde associados à sua
presença na atmosfera, sendo, principalmente, gerado durante a etapa de mineração do amianto
ou, então, nos processos de beneficiamento desse material.
Metais
Os metais também são um tipo de material particulado, associados aos processos de mineração, na
construção civil, combustão de carvão e processos siderúrgicos.
Gás fluorídrico
(HF)
Compostos gerados nos processos de produção de alumínio e fertilizantes, bem como em refinarias
de petróleo. Normalmente são gerados em processos que operam a altas temperaturas e nos quais
são utilizadas matérias‑ primas que contenham flúor na sua composição.
Amônia (NH3)
As principais fontes de geração de amônia são as indústrias químicas e de fertilizantes, principalmente
aquelas à base de nitrogênio, além dos processos biogênicos naturais que ocorrem na água ou no solo.
Gás sulfídrico
(H2S)
O gás sulfídrico é um subproduto gerado nos processos desenvolvidos em refinarias de petróleo,
indústria química e indústria de celulose e papel, em virtude da presença de enxofre na matéria‑
prima processada ou, então, nos compostos utilizados durante esse processamento. O gás sulfídrico
também é produzido por processos biogênicos naturais.
Pesticidas e
herbicidas
São compostos químicos (organoclorados, organofosforados e carbamatos) utilizados
principalmente na agricultura para o controle de plantas daninhas e de pragas. As principais fontes
desses tipos de contaminantes atmosféricos são as indústrias que os produzem, bem como os
agricultores que fazem uso deles, pelos processos de pulverização nas plantações e no solo.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Substâncias
radioativas
As principais fontes de substâncias radioativas para a atmosfera são os depósitos naturais
(minérios), as usinas nucleares, os testes de armamento nuclear e a queima de carvão. As
substâncias radioativas são materiais que possuem algum elemento químico capaz de emitir
radiação. Em alguns casos, a energia emitida por essas substâncias é suficiente para causar danos
aos seres vivos e aos materiais.
Calor
O calor é uma forma de poluição atmosférica por condução, radiação e convecção que ocorre
principalmente por causa da emissão de gases a alta temperatura para o meio ambiente,
geralmente nos processos de combustão.
Ruído
A poluição sonora se caracteriza pela emissão de ondas de som no ambiente, com intensidade capaz
de prejudicar os seres humanos e outros seres vivos. Os ruídos não significativos, isto é, aqueles
que não têm conteúdo informativo, podem provocar um distúrbio, um incômodo. Esses efeitos têm
relação com a intensidade do ruído, mas outros fatores podem neles atuar: o caráter inesperado,
quando se trata de ruídos breves, aleatórios no tempo, que perturbarão uma tarefa que exija
atenção; e os ruídos contínuos, que perturbam a execução de tarefas mentais complexas (LAVILLE,
1977). O problema de poluição sonora está diretamente associado aos grandes centros.
Quadro 5.1 ‑ Os principais poluentes do ar e as suas fontes
Fonte: Elaboração da autora (2008).
Analisando o quadro 5.1, é possível observar que a maioria
dos poluentes é de origem química. É preciso ter cuidado com
a classificação de substâncias radioativas, pois quando ocorre
contaminação do ar pela substância (por exemplo, material
particulado) temos poluição de origem química. Mas quando a
radiação emitida pela substância está presente na atmosfera, então
temos uma poluição de origem física. O calor e o ruído também
são poluentes do ar de origem física.
Quando a fonte de poluição for uma (ou mais) substância química,
deve ser analisado o tipo de substância, toxicologia, concentração,
além de ser dependente do clima, topografia, densidade
populacional, nível e tipo das atividades industriais locais.
Classificação dos poluentes
Os poluentes são classificados em primários e secundários.
„„
„„
Os primários são aqueles lançados diretamente no ar.
São exemplos desse tipo de poluente: o dióxido de enxofre
(SO2), os óxidos de nitrogênio (NOx), o monóxido de
carbono (CO) e alguns particulados, como a poeira.
Os secundários formam‑ se na atmosfera por meio de
reações que ocorrem em razão da presença de certas
substâncias químicas e de determinadas condições físicas.
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Química Ambiental
Por exemplo: o SO3 (reação química entre SO2 e O2) reage
com o vapor de água (H2O) para produzir o ácido sulfúrico
(H2SO4), que precipita originando a chamada chuva ácida.
Como você estudou, é possível a poluição do ar ter origem
química, biológica e física, desde que o agente apresente‑ se em
concentrações suficientes para causar danos ao meio ambiente
e ao homem. Você vai estudar, no próximo tópico, que essa
poluição pode atingir diferentes escalas na atmosfera
Poluição do ar em diferentes escalas espaciais
Do ponto de vista espacial, as fontes de poluição podem ser
classificadas em móveis (exemplo: veículos, pois emitem os
poluentes de modo disperso) e estacionárias (exemplo: chaminés
de indústrias, por emitirem poluentes).
As fontes estacionárias produzem cargas pontuais de
poluentes, enquanto que as fontes móveis produzem
as cargas difusas.
Com relação ao controle da poluição, a distinção entre as fontes é
fundamental, uma vez que o enfoque de tratamento do problema
difere para cada caso.
Os problemas de poluição do ar, independentemente dos
lançamentos serem de fonte móvel ou estacionária, podem atingir
diferentes dimensões.
Os problemas de poluição do ar, de acordo com a dimensão da
área atingida, podem ser classificados em:
„„
poluição local ‑ refere‑ se à poluição em uma região
relativamente pequena, como um bairro, uma cidade;
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167
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„„
poluição global ‑ envolve toda a ecosfera, exigindo,
portanto, o esforço mundial para enfrentá‑ la e controlá‑
la). Podemos citar o efeito estufa adicional, a destruição
da camada de ozônio na estratosfera e a chuva ácida
como exemplos de problemas globais de poluição do ar.
Conheça mais detalhes sobre esses fenômenos relacionados com a
poluição global.
Efeito estufa adicional
O efeito estufa é responsável por manter a temperatura
média do planeta próxima dos 15° C, o necessário para a
sobrevivência humana.
O efeito estufa adicional recentemente se tornou um dos assuntos
preferidos da comunidade científica internacional, principalmente
pelos possíveis efeitos catastróficos previstos para a ecosfera.
Esses efeitos poderão se concretizar caso não sejam tomadas
medidas urgentes para evitar sua intensificação.
Como ocorre o efeito estufa adicional?
A emissão dos chamados gases estufa (dióxido de carbono ‑ CO2,
metano – CH4, óxido nitroso – N2O e clorofluorcarbono – CFCs)
aumenta a quantidade de energia que é mantida na atmosfera
em decorrência da absorção do calor refletido ou emitido pela
superfície do planeta, o que provoca a elevação da temperatura.
Esse efeito, além de provocar modificações climáticas, pode
provocar direta ou indiretamente a elevação do nível dos oceanos,
ter impactos na agricultura e na silvicultura, afetando todas as
formas de vida do planeta.
168
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Estima‑ se que o aumento absoluto de CO2, desde a Revolução
Industrial até o presente momento, seja de aproximadamente
25%. Foi constatado que esse acréscimo de CO2 é superior no
hemisfério norte, por causa da maior queima de combustível
fóssil nessa região (BRAGA et al., 2005).
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Química Ambiental
Poucos estudos trazem conclusões significativas, mas existe
uma tendência dos cientistas de afirmar que, quanto maior a
temperatura da Terra, maior é a concentração de CO2. Mas esse
efeito também sofreria influência da presença do gás CH4, das
nuvens e do vapor de água na atmosfera, entre outros compostos.
O CH4 se mantém vinte vezes mais efetivo que o CO2 na
absorção de calor (BRAGA et al., 2005).
De acordo com World Meteorological Organization ‑ WMO
(2007), temperaturas de inverno, em altas e médias latitudes,
poderão crescer mais que duas vezes a média mundial, enquanto
as temperaturas de verão não irão se alterar muito.
Esse aumento de temperatura pode, segundo alguns especialistas,
induzir a uma elevação dos níveis dos mares em uma faixa que
varia de 20 cm e 165 cm, trazendo problemas de erosão litorânea,
inundações, danificação de portos e estruturas costeiras,
enchentes, destruição de charcos, elevação de lençóis de água e
intrusão salina em aquíferos de abastecimento. Locais como as
Ilhas Maldivas, por exemplo, tendem ao desaparecimento. Além
disso, 70% das costas marítimas do mundo estarão sofrendo
processos de erosão (WMO, 2007).
Em contraste com esses desastres, o aumento do teor de CO2 poderá
aumentar o rendimento de determinados produtos, como o milho, o
sorgo e a cana‑ de‑ açúcar (10%), e o arroz, o trigo, a soja e a batata
(da ordem de 50%). Por outro lado, as mudanças climáticas serão
intensas, alterando regimes de chuvas e secas. E essas mudanças
poderão influenciar muitos processos biológicos, como pragas de
insetos, multiplicação de organismos patogênicos etc. (WMO, 2007).
O controle do efeito estufa adicional passa, necessariamente,
pelo controle de emissão de CO2. Portanto, a solução é diminuir
a emissão resultante da queima de combustível, por exemplo,
utilizando‑ se fontes alternativas de energia e melhorando o
sistema de transporte coletivo e as medidas em menor escala,
como o controle de desmatamento mundial.
Durante a terceira conferência dos países signatários da
Convenção Internacional sobre Melhoria Climática (ECO‑ 92,
Rio de Janeiro de 1992), foi desenvolvido o chamado Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo (MDL), que visa a uma nova
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abordagem para reduzir a concentração de gases causadores do
efeito estufa, principalmente o CO2.
Essa nova proposta leva em consideração o elevado nível de emissão
de gases dos países industrializados e a capacidade dos países em
desenvolvimento de absorvê‑ los por meio de processos naturais.
Por outro lado, foram estabelecidos novos prazos, especificando
que os países industrializados devem estabilizar suas emissões em
níveis correspondentes aos de 1990, somente entre 2008 e 2012.
Mas no que consiste o MDL? Seus parâmetros estão pautados
em duas regras:
1. os países industrializados, por meio de compensação
financeira a países específicos em vias de
desenvolvimento, ganham créditos para ultrapassar suas
cotas de emissão previamente estabelecidas;
2.os recursos recebidos pelos países em desenvolvimento
devem ser, obrigatoriamente, aplicados em projetos
que promovam o ‘sequestro’ de carbono da atmosfera
com a promoção de reflorestamentos e de plantio em
áreas degradadas. A madeira produzida não poderá ser
utilizada como lenha nem em qualquer outra forma
de combustão, para assim evitar o retorno do carbono
sequestrado à atmosfera.
Os países em desenvolvimento participantes (tais como o Brasil e
a Índia, por possuírem grandes áreas que podem ser reflorestadas)
deverão emitir os Certificados de Redução de Emissão de
Carbono para serem negociados com os países industrializados.
O preço de cada tonelada de carbono sequestrado varia de acordo
com as projeções que estão sendo efetuadas, de US$ 10 a US$
100, que serão aplicadas a partir de 2008.
O projeto MDL não inclui as florestas primárias
existentes. Entretanto, pode‑ se avaliar qual é a
quantidade de carbono que elas poderiam sequestrar.
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Química Ambiental
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) estima que
a Floresta Amazônica remove da atmosfera aproximadamente
36 kg de carbono por dia, ou seja, um total de 850 milhões de
toneladas de carbono por ano.
O mecanismo poderá apresentar resultados efetivos na redução do
aquecimento global, mas evidencia características éticas e morais
bastante críticas, pois além de promover soluções, principalmente
econômicas para um problema que é ambiental, estimula os
grandes poluidores a pagar, em vez de reduzir as suas emissões.
Você estudou o efeito estufa adicional, sua origem, seus efeitos no
meio ambiente. Conheça, a partir de agora, os efeitos da
destruição da camada de ozônio.
Destruição da camada de ozônio
A destruição da camada de ozônio é outro problema ambiental
extremamente sério e bastante discutido na comunidade científica.
A camada de ozônio está situada na estratosfera, entre 15 km e
50 km de altitude. Ela tem a capacidade de bloquear as radiações
solares, principalmente a radiação ultravioleta (UVA, UVB e
UVC), impedindo que níveis excessivos atinjam a superfície.
A radiação ultravioleta pode ser dividida em três grupos, em
função do seu comprimento de onda, que será associado à
intensidade de energia da radiação, conforme mostra a Tabela 5.1.
Tabela 5.1 ‑ Tipos de radiação ultravioleta em função do comprimento de onda (l)
Tipo de radiação Comprimento de onda
ultravioleta
característico (nm)
Observações
320 ‑ 400
Radiação com comprimento de onda próximo da luz visível
(violeta), não é absorvida pela camada de ozônio.
UVB
280 ‑ 320
Apresenta vários efeitos prejudiciais, particularmente efetivos
para causar danos ao DNA, sendo a causa do melanona e de
outros tipos de câncer de pele, além de ser apontada como
um dos fatores responsáveis por danos em materiais e em
plantações. A camada de ozônio protege a Terra da maior parte
da radiação UVB.
UVC
< 280
É extremamente prejudicial, mas é completamente absorvida
pela camada de ozônio e pelo oxigênio presente na atmosfera.
UVA
Fonte: Braga et al. (2005, p. 176).
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Os efeitos adversos causados pela radiação ultravioleta
podem causar queimaduras solares, fotoenvelhecimento,
fitofotodermatite, pterígio, pindécula e câncer de pele, e ainda
reduzir as safras agrícolas, destruir e inibir o crescimento de
espécies vegetais. Os efeitos da radiação UV podem afetar todo
o ecossistema terrestre, além de causar danos aos materiais,
principalmente aos plásticos.
O ozônio presente na estratosfera funciona como um
atenuador da radiação ultravioleta, utilizando a energia
desse tipo de radiação nas reações químicas associadas
aos processos de formação e de destruição dele mesmo.
O processo de formação do ozônio ocorre na atmosfera pela
absorção de um fóton (hv) de luz ultravioleta na molécula de O2
e provoca a separação dos dois átomos de oxigênio, produzindo
o oxigênio atômico (O). Esse oxigênio atômico reage com outra
molécula de O2, tendo como resultado a produção de ozônio (O3*).
O2(g) + hv
O(g) + O2(g)
2O(g)
O3*(g)
Onde: hv é a energia correspondente à radiação ultravioleta, com
comprimento de onda menor que 200 nm.
A molécula de O3* formada tem um excesso de energia e
dissocia‑ se para O2 e O, a menos que ela colida com outra
molécula como CO2, N2, ou O2, que retira o excesso de energia,
estabilizando‑ a em O3, como na equação:
O3*(g) + N2(g)
O3
O processo de destruição do ozônio pode acontecer se: não
ocorrer a estabilização do O3*, retornando as moléculas para O2 e
O, ou se O3 reagir com O produzindo 2O2, ou se o O3 absorver
grande quantidade de energia ultravioleta (200 a 300 nm)
produzindo O2 e O.
Sendo assim, os processos de formação e destruição da camada
de ozônio são naturais, cumprindo o papel na proteção da intensa
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Química Ambiental
radiação proveniente do sol. Essas reações estão em equilíbrio na
estratosfera, mantendo teoricamente estável a camada de O3.
Molina e Sherwland Rowland (1974) verificaram que uma vez
lançados os clorofluorcarbonos (CFCs), que são extremamente
estáveis na atmosfera, suas propriedades permanecem no ar
por períodos da ordem de 100 anos. Nessa época, os gases
CFCs eram muito utilizados nas indústrias de aparelhos de ar‑
condicionado e de refrigeração, de propelentes (aerossóis), de
equipamentos eletroeletrônicos e de plásticos.
Na atmosfera, os CFCs reagem com o O3, destruindo‑
o. Uma molécula de CFC pode destruir até 10 mil
moléculas de ozônio, pois a reação é em cadeia.
As moléculas de CFCs são alcanos simples, nos quais todos os
hidrogênios foram substituídos por cloro ou flúor, por exemplo, o
CCl2F2 (Freon 12). Os halogênios F e Cl podem ser quebrados
da molécula de alcano, ou seja, os correspondentes radicais livres
(F• e Cl•) são formados pela incidência de luz UV nas ligações C‑
F e C‑ Cl, então promovendo a reação em cadeia de destruição
da molécula de O3. A ligação C‑ F necessita de menos energia
hv para ser quebrada do que a ligação C‑ Cl.
Em termos simplificados, ocorrem na estratosfera as seguintes
reações:
CCl 2F2 + hv
•CCl2F + F•
F• + O3
FO• + O2
FO• + O
F• + O2
O3 + O
F• + O2
Estudos posteriores estimaram que a camada de O3 poderá
perder entre 7% e 13% de sua massa total nos próximos 100 anos.
As preocupações cresceram quando, em 1997, verificou‑ se o
aparecimento de buracos na camada de O3 sobre a Antártica;
sendo que em 1983 essas pesquisas registraram uma redução de
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Uma reação semelhante a esta
pode ocorrer, também, com o
átomo de cloro.
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ordem de 50% do O3. Tal fato repetiu‑ se em 1985. Não se sabe
ao certo o porquê desses buracos. Alguns cientistas acreditam que
tal fenômeno é devido à liberação de CFCs, enquanto que outros
acreditam que o fenômeno é cíclico e deve‑ se à circulação do ar
na região (BRAGA et al., 2005).
A massa de ar estacionária no inverno (julho) acumula
poluentes nitrogenados e clorados.
Durante o início da primavera, eles reagem com o O3 produzindo
os buracos. Com a mudança de estação (novembro) e com a
entrada de ar renovado, a camada recompõe‑ se. É, portanto, um
problema que exige muita pesquisa e amplo monitoramento para
levantamento de dados (BRAGA et al., 2005).
Em diferentes eventos científicos, sendo que um dos mais
importantes foi o Montreal Protocol on Substances that Deplete the
Ozone Layer (UNEP, 1987), a posição dos cientistas é de muita
cautela, recomendando o fim das emissões de gases CFC.
Em Montreal, foi redigido um documento assinado por vários
países e que estabeleceu um cronograma para diminuir o uso
do CFC no mundo. O Protocolo de Montreal foi ratificado por
188 países, sendo que em quatro desses países o Protocolo sofreu
emendas: Londres (1990), Copenhague (1992), Viena (1995),
Montreal (1997). O banimento do uso desses compostos ficou
estabelecido para 2040, para países em desenvolvimento, e 2030
para países desenvolvidos.
Chuva ácida
Outro problema que atinge a ecosfera é a chamada chuva ácida.
Os gases NOx e SOx, produzidos por uma série de atividades da
sociedade, principalmente as ligadas à combustão, reagem com o
vapor de água (H2O) na atmosfera produzindo ácidos como: ácido
nítrico (HNO3), ácido sulfuroso (H2SO3) e ácido sulfúrico (H2SO4).
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Química Ambiental
Os ácidos formados depositam‑ se nos solos pela ação das chuvas.
Considera‑ se ácida a chuva que apresenta pH inferior a 5,6. Isso
porque a chuva é naturalmente ácida devido à presença do ácido
carbônico (H2O + H2O
H2CO3), com pH de 5,6.
As chuvas em regiões industriais da Europa e dos Estados Unidos
chegam a apresentar pH da ordem de 3. Na América do Sul,
os menores valores para a água da chuva são próximos de 4,7. É
interessante destacar que, na região amazônica, já se verificaram
chuvas com pH dessa ordem, em razão, provavelmente, da
formação de ácido sulfídrico proveniente da oxidação do H2S
(gás sulfídrico) produzido nos alagados, ou da formação de ácidos
orgânicos, ácido fórmico (HCO2H) e ácido acético (CH3CO2H),
na queima de biomassa (BRAGA et al., 2005).
Os problemas causados pela chuva ácida são muitos e levam
prejuízos para o meio ambiente. Podem ser observados problemas
na agricultura, provenientes da acidificação de solos. A lixiviação
dos nutrientes e a eliminação de organismos que contribuem para
o desenvolvimento do solo são algumas das consequências.
Outro dano ao meio ambiente é a acidificação da água,
principalmente em lagos de reservatórios voltados para
abastecimento e produção de energia elétrica. A água ácida pode
provocar o desgaste no concreto, nas tubulações, nas turbinas
e nas bombas. Além disso, a acidez pode matar uma grande
variedade de peixes.
E ainda não se pode esquecer de outro problema sério
relacionado à chuva ácida: a destruição da vegetação. Esse é
gerado por importantes polos industriais, como ocorre na cidade
de Cubatão (SP). Foi necessário instalar um sistema de alerta, um
extenso programa para melhorar a qualidade do ar na região e
outro para recompor a vegetação destruída nas encostas da região
próxima. Desse modo, as indústrias locais estão implantando
sistemas de coleta e tratamento de efluentes gasosos, assim como
o Estado está reflorestando a região que circunda a cidade.
Outro dano extremamente sério provocado pela ‘chuva ácida’ é a
destruição de obras civis e monumentos.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
O controle da chuva ácida passa pelas medidas tomadas para
controle de emissão de óxido de nitrogênio e de enxofre. Cabe
ressaltar que o problema deixa de ser local para ser global, pois
as emissões de uma determinada região podem gerar deposições
ácidas em outras.
Quando essas regiões localizam‑ se em países diferentes, podem
ocasionar problemas internacionais. É o caso do continente europeu,
onde se discute amplamente esses assuntos em fóruns internacionais.
Por exemplo, as florestas da Escandinávia estão sendo
destruídas pela poluição gerada na Inglaterra e na
Alemanha. Outro exemplo vem dos Estados Unidos e
do Canadá. Estima‑ se que 50% da chuva ácida do
Canadá vem dos Estados Unidos.
É, portanto, uma questão extremamente complexa de ser
solucionada em curto prazo.
Até agora, você estudou sobre os fenômenos relacionados à poluição
global. Mas e a poluição local? Bom, esse será o próximo assunto.
Poluição local
Como destacado no início desta seção, a poluição local se refere
à que ocorre em uma região relativamente pequena, como um
bairro ou uma cidade. Existem, então, nessa perspectiva, dois
fenômenos bem conhecidos: smog industrial e smog fotoquímico.
Conheça cada um deles, a seguir.
Smog industrial
Esse problema predomina em regiões industriais e onde é intensa
a queima de carvão ou óleo para aquecimento doméstico ou para
geração de energia elétrica (usinas termoelétricas).
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Química Ambiental
Smog industrial é o tipo de problema típico de regiões
frias e úmidas.
Os picos de concentração ocorrem exatamente no inverno, em
condições climáticas adversas para a dispersão dos poluentes. Um
fenômeno meteorológico que agrava o smog industrial é a inversão
térmica, quando os picos de concentração de poluentes ocorrem
geralmente nas primeiras horas da manhã.
Seus principais componentes são o dióxido de enxofre (SO2)
e o material particulado (MP). Esses dois compostos podem
provocar sérias lesões respiratórias e todos os danos provocados
pelo SO2 na atmosfera.
Quanto à emissão de MP, existem diferentes tipos de partículas
e de gotas formadas por um grande número de substâncias
químicas. Os efeitos adversos ao homem e ao meio ambiente
podem ser enormes.
Esses danos foram
apresentados durante
a descrição dos
problemas da chuva
ácida.
As grandes partículas, com diâmetro superior a 10 micrômetros,
tendem a se depositar rapidamente no solo, não provocando
sérios danos ao homem. A maioria das emissões naturais, como
poeira e material de vulcões, consiste de grandes partículas.
As partículas de tamanho médio, com diâmetro entre 1 e 10
micrômetros, permanecem em suspensão no ar por longo tempo
(BRAGA et al., 2005).
Muitas das partículas geradas pela queima de carvão em
indústrias, em termoelétricas etc. possuem esse tamanho. O
maior problema ambiental refere‑ se às partículas finas, com
diâmetros inferiores a 1 micrômetro. Muitas delas permanecem
no ar, percorrendo diversas regiões da Terra e causando sérios
problemas respiratórios. Além disso, a essas partículas estão
associados problemas de visibilidade e de mudanças climáticas
causadas pela difusão da luz (BRAGA et al., 2005).
As cidades sujeitas a esse tipo de smog são as que possuem inverno
rigoroso e com intensa queima de óleo, carvão ou outro combustível.
Uma característica desse tipo de smog é a formação de uma espécie
de névoa acinzentada que recobre as regiões onde ocorre.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Smog fotoquímico
Esse problema predomina em centros urbanos, sendo o agente
poluidor os veículos. Esse tipo de smog é típico de cidades
ensolaradas, quentes e de clima seco. Além disso, os picos de
poluição ocorrem em dias quentes, com muito sol.
Os gases formados do smog fotoquímico são NOx, CO2
e hidrocarbonetos. Esses gases sofrem várias reações na
atmosfera por causa da radiação solar, gerando novos poluentes.
Daí o termo ‘fotoquímico’. Destacam‑ se como principais
poluentes os óxidos de nitrogênio, os radicais orgânicos PAN
(peroxi‑acetil‑nitrato – CH3CO2ONO2), o ozônio e aldeídos.
O controle do smog fotoquímico passa pelo controle
de emissão de poluentes produzidos pelos meios de
transportes.
A característica principal do smog fotoquímico é sua cor marrom
avermelhada, e seu pico de concentração ocorre por volta das 10 às
14h. As cidades de Los Angeles, Sydney, Cidade do México e São
Paulo estão sujeitas a esse tipo de smog (BRAGA et al., 2005).
O smog industrial e o fotoquímico podem ocorrer simultânea ou
separadamente em determinadas estações do ano; como é o caso
de São Paulo, onde é difícil distinguir a predominância de um
determinado tipo de smog.
Na próxima seção, você vai estudar sobre a fixação de padrões
de qualidade do ar, processo extremamente complexo, o qual
envolve diversos tipos de problemas.
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Química Ambiental
Seção 3 – Padrões de qualidade do ar
Fixar padrões de qualidade do ar requer um longo período de
trabalho e de observação. A principal dificuldade é estabelecer o
nível crítico de concentração de determinada substância, ou seja,
avaliar quando um poluente pode causar danos à saúde humana,
principalmente levando‑ se em conta as inúmeras doenças que
têm origem na poluição do ar.
A legislação brasileira de qualidade do ar segue muito de perto as
leis norte‑ americanas. Nos Estados Unidos, o órgão responsável
pela fixação de índices é a Environmental Protection Agency
(EPA), que estabelece o National Ambient Air Quality Standards
(NAAQS). A lei brasileira CONAMA nº 3 de 28/06/90
especifica o nível máximo permitido para diversos poluentes
atmosféricos, sendo que a máxima concentração de um poluente é
especificada em função de um período médio de tempo.
Os limites máximos (padrões) dos poluentes atmosféricos estão
divididos em dois níveis: primário e secundário.
„„
„„
O primário inclui uma margem de segurança adequada
para proteger indivíduos mais sensíveis, como crianças,
idosos e pessoas com problemas respiratórios.
O secundário é fixado sem considerar explicitamente
problemas com a saúde humana, mas levando em conta
outros elementos, como danos à agricultura, a materiais e
edifícios e à vida animal, mudanças de clima, problemas
de visibilidade e conforto pessoal.
No Brasil, foi criado o Índice de Qualidade do Ar (IQA), para
manter o público informado sobre a qualidade do ar e atuar em
situações críticas, quando algum limite é atingido. A Tabela 5.2
mostra a relação IQA versus qualidade do ar.
Unidade 5
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Tabela 5.2 ‑ Relação do IQA com a qualidade do ar (Cetesb, 1996)
IQA
Qualidade do ar
0‑ 50
Boa
51‑ 100
Aceitável
101‑ 199
Inadequada
200‑ 299
Má
300‑ 399
Péssima
Maior que 400
Crítica
Fonte: Braga et al. (2005, p. 176).
O IQA é obtido dividindo‑ se a concentração de um determinado
poluente pelo seu padrão primário de qualidade e multiplicando‑se
o resultado dessa divisão por 100, para que seja obtido um valor
percentual. Esse cálculo é feito para todos os poluentes monitorados
pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – Cetesb,
que são: CO, MP, SO2, O3 e o produto SO2 x MP.
Os parâmetros regulamentados pelo CONAMA são os
seguintes: partículas totais em suspensão ‑ TSP, fumaça,
partículas inaláveis, dióxido de enxofre ‑ SO2, monóxido de
carbono ‑ CO, ozônio ‑ O3 e dióxido de nitrogênio ‑ NO2.
Os padrões nacionais de qualidade do ar fixados na Resolução
CONAMA nº 3 de 28/06/90 são apresentados na Tabela 5.3
Tabela 5.3 ‑ Padrões nacionais de qualidade do ar (Resolução CONAMA nº 3 de 28/06/90)
Poluente
Partículas totais em
suspensão
Dióxido de enxofre
Tempo de
amostragem
24 horas (1)
MGA (2)
24 horas
MAA (3)
Padrão
Padrão secundário
primário µg/m³
µg/m³
240
150
80
60
365
100
80
40
40.000
40.000
35 ppm
35 ppm
10.000
10.000
(9 ppm)
(9 ppm)
Método de
medição
Amostrador de
grandes volumes
Pararosanílina
Monóxido de carbono
1 hora (1)
8 horas
Ozônio
1 hora (1)
160
160
***
Fumaça
24 horas (1)
MAA (3)
24 horas (1)
MAA (3)
150
60
150
50
100
40
150
50
Refletância
Partículas inaláveis
Infravermelho não
dispersivo
Separação inercial/
filtração
Fonte: Disponível em <http://www.ecologica.com.br/ecologica/pagina_antiga/air00pqa.htm>
Legenda: (1) Não deve ser excedido mais que uma vez ao ano. (2) Média geométrica anual. (3) Média
aritmética anual.
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Química Ambiental
A mesma resolução estabelece ainda os critérios para episódios
agudos de poluição do ar. Esses critérios são apresentados na
Tabela 5.4.
Tabela 5.4 ‑ Critérios para episódios agudos de poluição do ar (Resolução CONAMA nº 3 de 28/06/90)
Parâmetros
Níveis
Atenção
Alerta
Emergência
Dióxido de enxofre (µg/m³) ‑ 24 h
800
1.600
2.100
Partículas totais em suspensão (PTS) (µg/m³) ‑ 24 h
375
625
875
SO2 X PTS (µg/m³)x(µg/m³) ‑ 24 h
65.000
261.000
393.000
Monóxido de carbono (ppm) – 8 h
15
30
40
Ozônio (µg/m³) – 1 h
400
800
1.000
Partículas inaláveis (µg/m³) ‑ 24 h
250
420
500
< Fumaça (µg/m³) ‑ 24 h
250
420
500
Dióxido de nitrogênio (µg/m³) ‑ 1 h
1.130
2.260
3.000
Fonte: Disponível em <http://www.ecologica.com.br/ecologica/pagina_antiga/air00pqa.htm>.
De acordo com a tabela 5.4, quando atinge um determinado
nível, os efeitos sobre a saúde e as precauções a serem tomadas
são as seguintes:
Nível de atenção:
„„
„„
Efeitos sobre a saúde ‑ decréscimo da resistência física e
significativo agravamento dos sintomas em pessoas com
enfermidades cardiorrespiratórias; sintomas gerais na
população sadia.
Precauções ‑ pessoas idosas ou com doenças
cardiorrespiratórias devem reduzir as atividades físicas e
permanecer em casa.
Unidade 5
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Nível de alerta:
„„
„„
Efeitos sobre a saúde ‑ aparecimento prematuro de certas
doenças, além de significativo agravamento de sintomas.
Decréscimo de resistência física em pessoas saudáveis.
Precauções ‑ todas as pessoas devem permanecer em casa
e evitar esforço físico. A população em geral deve evitar
atividades exteriores.
Nível de emergência:
„„
„„
Efeitos sobre a saúde ‑ morte prematura de idosos
e pessoas doentes. Pessoas saudáveis podem acusar
sintomas adversos que afetam sua atividade normal.
Precauções ‑ todas as pessoas devem permanecer em casa,
mantendo as portas e janelas fechadas. Todas as pessoas
devem minimizar as atividades físicas e evitar o tráfego.
Finalmente, é importante considerar que esses padrões de
qualidade de ar não são definitivos. Eles devem ser revistos
constantemente, tendo em vista, principalmente, a entrada de
novos poluentes no ar, que podem alterar seus efeitos adversos.
Algumas causas que justificam a dificuldade em fixar limites
máximos de concentração de poluentes danosos à saúde humana
são destacadas por Miller (1985):
a) Existe um grande número de poluentes atmosféricos,
sendo difícil estabelecer o efeito separado de cada um.
Além disso, a cada dia novos elementos são lançados na
atmosfera sem que se tenha informação, pelo menos em
um curto intervalo de tempo, dos seus efeitos.
b)É muito difícil detectar poluentes com concentração
muito baixa e que causam danos à saúde humana.
c) Na atmosfera é comum ocorrer o chamado efeito
sinergético, ou seja, duas ou mais substâncias, que
separadamente podem não ser danosas, têm seus efeitos
potencializados quando atuam juntas. Esses efeitos são
superiores àqueles que seriam obtidos ,somando‑se os
danos provocados por cada poluente em separado.
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Química Ambiental
d)É difícil isolar um fator danoso quando toda a população
está exposta a diversas substâncias químicas tóxicas há
muitos anos.
e) Normalmente é difícil obter registros de doenças e
mortes causadas por fatores associados aos poluentes
atmosféricos.
f) Doenças comuns decorrentes da poluição atmosférica
(enfisema, bronquite, câncer etc.) possuem múltiplas
causas e longo tempo de incubação, tornando difícil
correlacioná‑ las com episódios críticos de poluição do ar.
g)Muitas vezes é questionado extrapolar testes de
laboratório feitos com cobaias para o homem.
Nesta unidade, você estudou as características e a composição
da atmosfera, os constituintes da poluição do ar e finalizou com
os padrões de qualidade do ar. O momento agora é de realizar
as atividades de autoavaliação e retomar os principais conceitos
abordados, lendo a síntese.
Unidade 5
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Síntese
Nesta unidade, você conheceu as características e composição
da atmosfera. Na estrutura da atmosfera é possível observar
que, do ponto de vista ambiental, destacam‑ se duas camadas:
a troposfera e a estratosfera. Cada uma dessas camadas possui
características bem peculiares que a distinguem da outra.
Você estudou também sobre os poluentes, que são classificados
em primários e secundários. Os primários são aqueles lançados
diretamente no ar, exemplos SO2, NO, CO e MP. Os secundários
formam‑ se na atmosfera por meio de reações que ocorrem em
razão da presença de certas substâncias químicas e de determinadas
condições físicas. Por exemplo, o SO3 (SO2 + O2) reage com o
vapor de água (H2O) para produzir o ácido sulfúrico (H2SO4), que
precipita, originando a chamada chuva ácida.
A poluição do ar pode ser global e local, e cada uma abrange um
número grande de fenômenos naturais ou antrópicos. Ela pode
trazer sérios problemas ambientais e de saúde, por isso devem ser
respeitados os índices de padrões de poluentes no ar.
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Química Ambiental
Atividades de autoavaliação
Ao final de cada unidade, você realiza atividades de autoavaliação. O
gabarito está disponível no final do livro didático. Mas se esforce para
resolver as atividades sem ajuda do gabarito, pois assim você estará
promovendo (estimulando) a sua aprendizagem.
1) Descreva, de acordo com o que você estudou nesta unidade, a estrutura
da atmosfera.
2) Em cidades históricas, como Atenas e Roma, o problema da chuva ácida
chega a ser catastrófico. Pesquise sobre esses problemas.
3) O CONAMA nº 3 de 28/06/90 estabelece os Padrões Nacionais de
Qualidade do Ar. Caso não existissem esses padrões, quais doenças a
população poderia desenvolver como caso de saúde pública? E quais
seriam os efeitos sobre o meio ambiente?
Unidade 5
qumica_ambiental.indb 185
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Saiba mais
Se você desejar, aprofunde os conteúdos estudados nesta unidade
consultando as seguintes referências:
BRAGA, Benedito et al. Introdução à engenharia ambiental.
2. ed. São Paulo: Person Prentice Hall, 2005.
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental –
CETESB. Manual para a implementação de um programa de
prevenção à poluição, 1998.
Environmental Protection Agency – EPA. Pollution prevention
(P2) education toolbox – tools for helping teachers integrate P2
Concepts in the classroom. United States Protection Agency –
EPA‑ 905‑ F‑ 011. Agosto, 1997.
KOTKIN, Bra Dan; KELLER, An En. Environmental
science: Earth as a living planet. 3. ed. New York: John Winley
& Sons, 2000.
LAVILLE, Antoine. Ergonomia. Tradução Márcia Maria
Neves Teixeira. 2. ed. São Paulo: E. P. U., 1977. 99 p.
MILLER, G. T. Living in the environment. Califórnia:
Wadsworth,1985.
MOLINA, Merilim; ROWLAND, Sherwland. Air Pollution.
Nova York: Mcgraw Hill, 1974.
186
qumica_ambiental.indb 186
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Para concluir o estudo
Um dos pontos estruturais desta disciplina que merece
ser destacado é a preocupação em demonstrar o equilíbrio
existente no meio ambiente, tendo como foco estabelecer,
ou não, ligação com atividades antropogênicas.
Existem muitos conceitos que devem ser compreendidos e
seguidos para que se desenvolva uma atividade com o
menor impacto ambiental. Os meios terrestre, aquático e
atmosférico estabelecem trocas, equilíbrios e dependências
que podem ser alterados pelas atividades humanas.
A conclusão a que se chega, analisando todo esse
contexto, é a de que toda a atividade realizada pelo
homem contribui de forma determinante para uma boa
qualidade de vida, presente e futura.
A finalização desta disciplina só estará completa se você
aplicar esses conceitos na prática, desenvolvendo de forma
responsável, todo o conhecimento adquirido durante seu
estudo. Fica aqui registrado o desafio. Agora é com você!
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Referências
ALLINGER, Norman L. et al. Química orgânica. 2. ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Dois, 2006.
ASSUNÇÃO, João V. de; PESQUERO, Célia R. Dioxinas e Furanos:
Origens e Riscos. Revista de Saúde Pública. 1999.
BETTELHEIM, Frederick. Introduction to general, organic and
biochemistry. 2. ed. New York: Plenum, 2007.
BRAGA, Benedito et all. Introdução a Engenharia Ambiental. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.
BOON, J. P. The Kinectics of individual Polychlorinated Biphenyl
(PCB) congeners in marine organisms; a comparative approach.
Universidade Real Groningen. Tese de doutorado. Alemanha, 1986.
CAMPOS, Shirley. A química da água. Disponível em <http://
www.drashirleydecampos.com.br/noticias/3518> Acesso em: 10
mai. 2011.
COELHO, F. S.; VERENGIA, F. Fertilidade do solo. São Paulo:
Instituto Campineiro de Ensino Agrícola, 1976.
Companhia de Tecnologia de saneamento Ambiental –
CETESB. Manual para a implementação de um programa de
prevenção à poluição, 1998.
COSTA, Luiz Antonio M. A. da; FLACH, Adriana. A contextualização
dos termos ionização e dissociação nos livros. In: Sociedade
brasileira de química, Poços de Caldas, p.1-2, 20 maio 2002.
DI BERNARDO, L. Métodos e técnicas de tratamento de água.
Rio de Janeiro, ABES, 2v. 1993.
DI BERNARDO, L; PÁDUA, V.L.; DI BERNARDO, A.S.
Desenvolvimento de instalação de laboratório para
determinação da dosagem de coagulante na filtração direta.
In: IX SIMPÓSIO LUSO-BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E
AMBIENTAL, Porto Seguro, BA. Anais eletrônicos, 2000.
DI BERNARDO, L.; DI BERNARDO, A.S.; CENTURIONE FILHO., P.L.
Ensaios de tratabilidade de água e dos resíduos gerados em
estações de tratamento de água. São Carlos. RiMA, 2002.
qumica_ambiental.indb 189
01/03/12 16:42
Universidade do Sul de Santa Catarina
ELVES FILHO, Manuel. Para saber mais sobre o gelo. Jornal da Unicamp.
Edição 356 - 23 de abril a 6 de maio de 2007. Disponível em: <http://www.
unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2007/ju356pag04.html>.
Acesso em: 20 abr. 2011.
Environmental Protection Agency – EPA. Pollution prevention (P2)
education toolbox – tools for helping teachers integrate P2 Concepts in
the classroom. United States Protection Agency – EPA-905-F-011. Agosto,
1997.
GIORDANO, Ghandi. Tratamento e Controle de Efluentes Industriais.
2004. Disponível em <http://www.eccosystems.com.br/2008/artigos/
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HICKER, Rolf. Icebergs Newfoundland Floating St Anthony. Disponível
em: <http://www.canada-photos.com/picture/icebergs-newfoundlandfloating-st-anthony-212.htm >Acesso em:10 abr. 2011.
KOTKIN, Bra Dan; KELLER, An En. Environmental science: Earth as a living
planet. 3. ed. New York: John Winley & Sons, 2000.
LAURENTI, Ariane. Qualidade da água I. Florianópolis: Imprensa
Universitária - UFSC, 1997.
LAVILLE, Antoine. Ergonomia. Tradução Márcia Maria Neves Teixeira. 2. ed.
São Paulo: E. P. U., 1977. 99 p.
LEMBO, Antonio. Química: realidade e contexto. 3. ed. São Paulo: Ática,
2004.
MACÊDO, Jorge Antônio Barros de. Introdução à química ambiental. Juiz
de Fora: Crq-mg, 2002. 487 p. Disponível em: ??? Acesso em: 07 jun. 2008.
MALAVOLTA, Eraldo. Manual de química agrícola: nutrição de plantas e
fertilidade de solo. São Paulo: Agronômica Ceres, 1976.
MARCONDES. Cuidado para não comprar sandálias falsas coloridas
com tinta tóxica. Publicado em 13 dez. 2007. Disponível em: <http://
blogdomrcondes.blogspot.com/2007/12/cuidado-para-no-comprarsandlias-falsas.html>. Acesso em: 25 abr. 2011.
MCMURRY, John. Química orgânica. 6. ed. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2005.
MILLER, G. T. Living in the environment. Califórnia: Wadsworth,1985.
MOLINA, Merilim; ROWLAND, Sherwland. Air Pollution. Nova York:
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MUNDIM, Kleber. Interpretação Física da Função de Onda Molecular. Aula
19. Disponível em: <http://vsites.unb.br/iq/kleber/CursosVirtuais/QQ/aula19/aula-19.htm>. Acesso em 10 abr. 2011.
190
qumica_ambiental.indb 190
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Química Ambiental
OSÓRIO, Viktoria k. L; OLIVEIRA, Wanda de. Polifosfatos em Detergentes
em Pó Comerciais. Instituto de Química, Universidade de São Paulo. 2001.
Disponível em <http://quimicanova.sbq.org.br/qn/qnol/2001/vol24n5/18.
pdf> Acesso em: 10 abr. 2011.
PASSINATO, Cristiana de Barcellos. Forças intermoleculares. Publicado
em 30 de junho de 2008. Disponìvel em: <http://crispassinato.wordpress.
com/2008/06/03/forcas-intermoleculares/> Acesso em: 10 abr. 2011.
ROCHA, Julio Cesar; ROSA, André Henrique; CARVALHO, Arnaldo Alves.
Introdução à química ambiental. Porto Alegre: Bookman, 2004.
RUSSELL, John B. Química geral. São Paulo: Mcgraw-Hill do Brasil, 1994.
SILVA, Claudio Eduardo de Azevedo e; TORRES, João Paulo Machado;
MALM, Olaf. Toxicologia das Befenilas Policloradas. 2007. Disponível
em<dialnet.unirioja.es/servlet/fichero_articulo?codigo=2685287&ord
en=0> Acesso em: 10 abr. 2011.
SPERLING, M. V. Lagoa de estabilização. 3º volume. Belo horizonte: UFMG,
1996.
USEPA. United States Environmental Protection Agency. Health assessment
document for 2,3,7,8-tetrachlorodibenzo-p-dioxin (TCDD) and related
compounds. Washington (DC): USEPA; 1994 (EPA/600/BP-92/001).
WAPEDIA. Eletronegatividade.Conteúdo atualizado em 05 de fev. 2011.
Disponível em: <http://wapedia.mobi/pt/Eletronegatividade>. Acesso em:
10 abr. 2011.
191
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01/03/12 16:42
Sobre a professora conteudista
Rachel Faverzani Magnago é doutora em Química
Orgânica (2002) pelo Departamento de Química da
Universidade Federal de Santa Catarina. É professora da
Unisul, desde 2000, em disciplinas oferecidas nos cursos
de graduação em Engenharia Ambiental, Engenharia
de Produção, Farmácia e pós-graduação em Engenharia
do Controle da Poluição Ambiental e Engenharia de
Segurança do Trabalho. Dedica-se à pesquisa e ao ensino
nos cursos de Engenharia, com ênfase em energias
renováveis, e atua, principalmente, nos seguintes temas:
síntese de cristais líquidos, biodiesel e eliminação de
resíduos em processos produtivos. Desenvolve, também,
pesquisa em síntese de cristais líquidos para aplicação em
células combustíveis, placas fotoeletrovoltaicas, polímeros
condutores, entre outras.
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Respostas e comentários das
atividades de autoavaliação
Unidade 1
1) a) Iodo
b) Argônio
c) Rb – Rubídio d) Sc – Escândio
2) Considerando que a água é um solvente polar e lembrando
que é devido à elevada eletronegatividade do oxigênio
e à geometria angular, a água é um bom solvente para
solutos polares como etanol (CH3CH2OH), que também é
uma molécula polar devido à presença de ligações C-O e
O-H, e sua geometria molecular. Nesses casos, as interações
fortes soluto-solvente, em que predominam as ligações de
hidrogênio, fornecem a energia necessária para superar as
forças de interação no soluto etanol.
3) Uma diferença física é que metais conduzem mais facilmente
eletricidade e calor do que não metais. Metais são observados
sempre em estado sólido (exceção para o mercúrio, que é
líquido), enquanto que os não metais existem nos três estados
da matéria.
Uma propriedade química dos metais é a capacidade de
formar composto químico com o átomo de oxigênio e o
átomo de hidrogênio, formando os hidroxi compostos,
exemplo NaOH. Um elemento não metálico forma composto
químico com o átomo de hidrogênio e também com o
oxigênio, dando origem a outra classe de compostos, os
ácidos, exemplo H2CO3.
qumica_ambiental.indb 195
01/03/12 16:42
Universidade do Sul de Santa Catarina
H
4) a)
H
C
H
P
H
H
Elemento químico
Eletronegatividade
Carbono (C)
Hidrogênio (H)
Potássio (K)
2,5
2,1
0,8
A molécula CH3PH2 apresenta três tipos de ligações, que são: C-H, C-P e
P-H. Então considere:
„„ a diferença de eletronegatividade entre os átomos C e H é de 0,4,
sendo essa ligação covalente apolar;
„„ a diferença de eletronegatividade entre os átomos C e P é de 0,4,
sendo essa ligação covalente apolar;
„„ a diferença de eletronegatividade entre os átomos P e H é de 0,0,
sendo essa ligação covalente apolar.
b) KBr
Elemento químico
Eletronegatividade
Bromo (Br)
Potássio (K)
2,8
0,8
A molécula KBr apresenta uma ligação na qual a diferença de
eletronegatividade entre os átomos K e Br é de 2,0, sendo essa ligação
iônica.
c)
O
H
C
H
C
K
O
H
196
qumica_ambiental.indb 196
01/03/12 16:42
Química Ambiental
Elemento químico
Carbono (C)
Hidrogênio (H)
Potássio (K)
Oxigênio (O)
Eletronegatividade
2,5
2,1
0,8
3,5
A molécula CH3CO2K apresenta quatro tipos de ligações, que são: C-H,
C-C, C-O e O-K. Então considere:
„„ a diferença de eletronegatividade entre os átomos C e H é de 0,4,
sendo essa ligação covalente apolar;
„„ a diferença de eletronegatividade entre os átomos C e C é de 0,0,
sendo essa ligação covalente apolar;
„„ a diferença de eletronegatividade entre os átomos C e O é de 1,0,
sendo essa ligação covalente polar;
„„ a diferença de eletronegatividade entre os átomos O e K é de 2,7,
sendo essa ligação iônica.
Unidade 2
1) Usando as regras oficiais da IUPAC, escreva o nome dos compostos para
as moléculas dos hidrocarbonetos a seguir.
a) 4-Etil-7-isopropil-3,5,8-trimetildecano
b) 2-secbutil-1-clorociclopentano
c) 4-tercbutil-3-metil-5-propilnonano
d) 1-metil-2-hidrobenzeno ou 1,2-metilfenol ou o-metilfenol
2) A gasolina é composta por hidrocarbonetos de 6 a 12 átomos de
carbono e até 22% de etanol. O diesel é composto por hidrocarbonetos
contendo 15 a 18 carbonos e, devido ao maior peso molecular e à
ausência do álcool, seus componentes são menos solúveis em água.
Quando a gasolina atinge a água subterrânea por infiltração ou água
superficial (lago, rio ou mares), apresenta-se mais solúvel em água
do que o diesel, e por isso com maior mobilidade. O etanol, que
está presente na gasolina, apresenta ligações polares (O-H e C-O)
e geometria, mantendo o caráter polar da molécula e assim sendo
solúvel em água, que também é uma substância polar (ligações O-H).
Por isso a gasolina apresenta maior velocidade de deslocamento da
pluma de contaminação quando comparada com o diesel.
197
qumica_ambiental.indb 197
01/03/12 16:42
Universidade do Sul de Santa Catarina
3) Acompanhe a seguir as respostas.
a) 3-etildodecano
b) 4-etil-2-fluor-3-metilnonano
F
c) 1-hidroxipropano
HO
d) 1-aminoetano
H2N
e) propilcicloexano
198
qumica_ambiental.indb 198
01/03/12 16:42
Química Ambiental
f) ácido p-etilbenzóico
O
C
OH
4) A sujeira que adere à pele, roupas e outras superfícies é geralmente de
natureza oleosa. São gorduras, ácidos graxos, óleos lubrificantes, que
encerram também partículas de pó, fuligem e resíduos de pele.
A água sozinha não consegue remover esse tipo de impureza,
principalmente por causa de sua elevada tensão superficial e ineficiente
umedecimento. Sabões e detergentes sintéticos são agentes de
limpeza devido ao seu caráter anfifílico, que lhes permite atuar como
tensoativos e emulsificantes. O modo de atuação dessas substâncias
encontra explicação na química dos colóides. A maioria dos textos
de caráter geral traz explanações e ilustrações, em diferentes níveis
de profundidade, sobre os fenômenos envolvidos. Eles vão desde a
formação de micelas em água e o efeito Tyndall (justificativa para o
aspecto turvo dessas dispersões) até os mecanismos de interação com
materiais oleosos, responsáveis pela remoção da sujeira. O processo
de limpeza é facilitado pela agitação mecânica proporcionada
manualmente ou pelas máquinas de lavar (OSORIO; OLIVEIRA, 2001).
Unidade 3
1) Podem ser dívidas em características físicas, químicas e microbiológicas.
Nos aspectos físicos, considere: cor, turbidez, sabor e odor,
condutividade elétrica, sólidos totais e temperatura. Os químicos:
dureza, pH, acidez e alcalinidade, demanda bioquímica de oxigênio
(DBO5), oxigênio dissolvido (OD), ferro e manganês. Já para os
microbiológicos considere os coliformes totais ou fecais.
2) A água salgada dos oceanos, para ser destinada ao uso doméstico,
precisa passar por um processo de dessalinização. Os processos
tecnológicos disponíveis são caros quando comparados com os
processos normalmente utilizados para tratamento da água para uso
doméstico. Quanto à água doce, quase não é utilizada para consumo a
água existente nas geleiras, pois essas apresentam o inconveniente de
estarem localizadas em regiões afastadas dos centros de consumo, o
que implica custos para transporte e manutenção. A extração de águas
profundas também está sujeita a limitações tecnológicas e econômicas.
E ainda temos o problema das águas poluídas.
199
qumica_ambiental.indb 199
01/03/12 16:42
Universidade do Sul de Santa Catarina
3) Eis algumas sugestões:
a)fontes de exposição - baterias, cerâmicas, tintas, pesticidas
e inseticidas, latas, corantes, munição, cabos, entre outros.
Consequências: alteração do sistema nervoso central, cérebro, rins e
sistema reprodutor;
b)fontes de exposição - termômetros, barômetros, bombas de vácuo,
contatos elétricos, extração de ouro, entre outros. Consequências:
acúmulo nos rins, fígado, baço e ossos;
c) fontes de exposição - galvanização, solda, carvão, fertilizantes,
fertilizantes, incineração de lixo, óleo, gasolina, entre outros.
Consequências: perda de peso, hemorragia, danos aos rins e fígado,
rinofaringite, fibrose dos brônquios, enfisema pulmonar;
d)fontes de exposição – solda, corte de materiais, entre outros.
Consequências: sonolência, perda de sentidos, vertigens, cefaléia,
indisposição estomacal e dificuldades respiratórias;
e)fontes de exposição - combustível, entre outros. Consequências:
distúrbios visuais, vertigens, dores de cabeça, perturbação digestiva,
irritação da mucosas do nariz, cegueira e morte.
Unidade 4
1) CTC é a capacidade de troca catiônica, enquanto que a CTA é a
capacidade de troca aniônica. A capacidade de troca catiônica ocorre
se houver excesso de cargas negativas; o solo é trocador de cátions. Se
o excesso for de cargas positivas, mede-se a sua capacidade de troca
aniônica. Os solos ricos em matéria orgânica apresentam maior CTC
que os solos argilosos, isso devido à presença de grupos carboxílicos
(-COOH) nos solos orgânicos. Os grupos carboxílicos apresentam
elevada troca de cátions. Os solos com CTC mais elevada retêm
nutrientes essenciais às plantas, tais como cálcio, potássio, magnésio
etc.; não retêm, entretanto, ânions como os nitratos e cloretos, que
podem passar livremente para as águas do lençol subterrâneo.
2) Os solos com pH inferior a 5,5 favorecem a solubilização de metais,
tais como alumínio, manganês e ferro, em detrimento do fósforo, que
precipita, ficando reduzida à disponibilidade desse nutriente essencial
para as plantas. Além disso, a acidez reduz a atividade de bactérias
decompositoras de matéria orgânica, diminuindo a quantidade de
nitrogênio, fósforo e enxofre contidos no solo. A deficiência desses
nutrientes essenciais prejudica o desenvolvimento das plantas e pode
aumentar sua sensibilidade à toxidez do alumínio e do manganês. Os
valores de pH mais elevados (acima de 6,5) reduzem a disponibilidade
de vários nutrientes (Zn, Cu, Fe, Mn, B), podendo provocar sua
deficiência nas plantas.
200
qumica_ambiental.indb 200
01/03/12 16:42
Química Ambiental
3) A contaminação ocorre quando os teores de fertilizantes atingem,
em níveis tóxicos, a flora, a fauna e o homem, em particular. Já a
eutrofização corresponde à superfertilização das águas, que passam
a produzir algas que, por competição, eliminam muitas espécies
aquáticas e restringem os benefícios que podem ser extraídos da água.
Exemplo: eutrofização na Lagoa da Pampulha (MG) e contaminação de
solo com fertilizante (SP).
Unidade 5
1) A classificação feita de acordo com o perfil de variação de temperatura
com a altitude é a mais adequada do ponto de vista ambiental. O
ar atmosférico encontra-se, na sua maioria (90%), em uma camada
relativamente fina. Essa camada, chamada de troposfera, estende-se até
uma altitude que varia entre 10 e 12 km.
A troposfera varia em espessura, conforme a latitude e o tempo. No
Equador, sua altitude alcança algo em torno de 16,5 km; nos polos, ela
possui 8,5 km; e, em latitudes de 45° C, alcança aproximadamente 10,5
km. A troposfera possui importância fundamental do ponto de vista
climático, pois é a responsável pela ocorrência das condições climáticas
da Terra. O decréscimo da temperatura na troposfera, com a altitude,
é de aproximadamente 6,5° C por quilômetro, sendo conhecido por
gradiente vertical normal ou padrão. Acima da troposfera encontra-se a
estratosfera, cuja linha de transição é a tropopausa.
A estratosfera é uma camada importante do ponto de vista ambiental,
pois é nela que se encontra a camada mais espessa de ozônio, com
uma concentração da ordem de 200 mg/l. Essa camada, rica em ozônio
(O3), protege a Terra das radiações ultravioleta provenientes do sol.
Os fenômenos que atualmente ocorrem nessa camada e que estão
provocando sua destruição serão discutidos posteriormente, em um
item específico. Acima da estratosfera encontra-se a mesosfera, tendo
como ponto de transição a estratopausa. A mesosfera possui um forte
decréscimo de temperatura, registrando-se nela a temperatura mais
baixa da atmosfera. A camada acima da mesosfera é chamada de
termosfera, e entre a termosfera e a mesosfera situa-se a mesopausa.
A termosfera ou ionosfera alcança uma altitude próxima de 190 km e é
importante para as telecomunicações.
O perfil de temperatura que caracteriza a atmosfera é resultado da
estratificação dos gases que se encontram presentes em cada camada,
da incidência de radiação solar no nosso planeta e da dispersão dessa
radiação de volta para o espaço.
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Universidade do Sul de Santa Catarina
2) Nesses últimos anos, os principais monumentos históricos sofreram
agressões irreparáveis provocadas pelos ácidos. Um exemplo conhecido
são as ruínas de Atenas, que se deterioraram nos últimos 40 anos o
equivalente ao observado nos 2 mil anos anteriores. Podemos citar
inúmeros exemplos de destruição de obras da arte e de deterioração
precoce de estruturas civis (pontes, edifícios etc.). Outro problema
advindo da presença de H2SO4 na atmosfera é a formação de partículas
de sulfato de amônia ((NH4)2SO4). Essas partículas depositam-se no
solo ou são dissolvidas pela chuva. Embora esse sal não seja danoso
ao homem e sirva como nutriente para os vegetais, o ácido sulfúrico
que permanece fixado nessas partículas pode ser inalado, causando
sérios problemas respiratórios, como o câncer pulmonar. Em geral,
essas partículas são removidas pela chuva em poucos dias ou semanas;
todavia, em períodos secos e/ou de inversão térmica, podem ocorrer
altas concentrações desses elementos na atmosfera.
3) A população sadia pode demonstrar um decréscimo da resistência
física e significativo agravamento dos sintomas em pessoas com
enfermidades cardiorrespiratórias, podendo levar à morte as pessoas
doentes e mais sensíveis, como crianças e idosos. As pessoas podem
vir a desenvolver inúmeras doenças. Os efeitos no meio ambiente são
diversos, na agricultura, na água potável, no ar que respiramos, por
meio de diferentes fenômenos, tais como a chuva ácida, o buraco na
camada de ozônio, o smog industrial e o smog fotoquímico.
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