XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO
Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
PROPOSTA DE IMPLEMENTAÇÃO DO
CUSTEIO VARIÁVEL NO SEGMENTO
DE CARNES E DERIVADOS: UM
ESTUDO DE CASO
Fabiano Maury Raupp (UDESC)
[email protected]
Joao Augusto Ferreira (UDESC)
[email protected]
O artigo tem por objetivo analisar o processo de gestão de custos em
uma empresa do segmento de carnes e derivados. A pesquisa é
descritiva, realizada por meio de um estudo de caso, com abordagem
quanti-qualitativa. Na coleta de dados foramm utilizadas entrevistas
não estruturadas com o proprietário da empresa, além de observações
in loco e análise de dados primários, que compreendeu relatórios
contábeis. Os dados coletados foram analisados por meio da técnica
da análise de conteúdo. A estruturação da proposta foi iniciada com a
identificação e classificação dos gastos. Seguindo a proposta, foram
mensurados os custos variáveis por produto, bem como identificados
os totais dos custos e despesas fixas incorridos mensalmente. Para
mensuração do resultado, identificou-se a receita de cada produto, da
qual foram deduzidos os custos variáveis, obtendo-se a margem de
contribuição por produto. O custeio variável demonstrou que o
somatório das margens de contribuição por produto foi suficiente para
cobrir os gastos fixos incorridos no período, bem como, após o
Imposto de Renda, garantir lucro líquido à empresa. Conclui-se que o
custeio variável, apesar de não atender às exigências legais, mostra-se
interessante enquanto metodologia de gestão de custos na empresa do
segmento de carnes e derivados investigada. Tem-se a consciência de
que os resultados obtidos não podem ser generalizados, haja vista que
se trata de um estudo de caso. Contudo, a estrutura da metodologia do
custeio variável é generalista, podendo ser adaptada em empresas do
mesmo ramo e/ou ramos semelhantes.
Palavras-chaves: Gestão de custos, Custeio variável, Segmento de
carnes e derivados.
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1. Introdução
As transformações cada vez mais intensas no mercado exigem uma postura flexível
por parte das organizações. Não basta que a mesma direcione suas atividades para garantir sua
permanência no mercado, é preciso um diferencial competitivo, que vai da fidelização do
cliente às práticas de controle e gerenciamento dos recursos financeiros. Morgam (2007, p.20)
afirma que “administrar e organizar já são um desafio no melhor dos tempos e as dificuldades
são ainda maiores no ambiente de mudança rápida dos dias de hoje”.
É neste cenário que a Contabilidade de Custos assume papel primordial no auxílio
gerencial, atuando como instrumento de planejamento e controle, além de contribuir com a
tomada de decisões. O contexto apresentado evidencia a importância do fornecimento de
dados para o estabelecimento de padrões e orçamentos para que se possa avaliar de forma
objetiva resultados passados e traçar linhas futuras de gestão dos custos.
Martins (2008, p.22) diz que “o conhecimento dos custos é vital para saber se, dado o
preço, o produto é rentável; ou, se não rentável, se é possível reduzi-los (os custos)”. Desta
maneira, destaca-se que só conhecendo os custos incorridos nos processos produtivos pode-se
avaliar a rentabilidade e viabilidade dos produtos produzidos, demonstrando assim, quais são
mais vantajosos e quais são menos, permitindo também avaliações mais concretas e ,quando
necessário, revisão e otimização dos processos. Mesmo empresas de menor porte necessitam
de métodos eficientes de controles de custos e de produção e das receitas como qualquer
grande organização, buscando garantir a sobrevivência destes estabelecimentos.
Diante deste contexto, o artigo tem por objetivo analisar o processo de gestão de
custos em uma empresa do segmento de carnes e derivados. Primeiramente são discutidos os
fundamentos teóricos que deram sustentação ao objeto empírico. Em seguida, foram
apresentados os procedimentos metodológicos utilizados na investigação. Após, são descritos
e analisados os resultados obtidos, bem como apresentadas as considerações iniciais.
2. Fundamentos teóricos
2.1 Importância da gestão de custos
De acordo com Carpes e Sott (2007) “a gestão de custos tem por premissa uma sólida
composição a respeito de informações dos custos de produção. Toda organização,
independente do segmento, tem na apuração de seus custos um importante e indispensável
instrumento de gestão. A estrutura de custos é formada por sistemas, métodos e formas de
custeio”.
“Saber como os custos se comportam é útil aos gerentes para uma variedade de
propósitos. Por exemplo, saber como os custos se comportam permite aos gerentes prever os
lucros quando os volumes de produção e de vendas mudam” (WARREN, REEVE e FESS,
2008, p.4). Por isso, segundo Leone (2000, p.21), “a Contabilidade de Custos é uma atividade
que se assemelha a um centro processador de informações, que recebe (ou obtém) dados,
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acumula-os de forma organizada, analisa-os e interpreta-os, produzindo informações de custos
para os diversos níveis gerenciais”.
“Uma das grandes utilidades dos sistemas de custo é a sistematização criada para o
registro de volumes físicos consumidos e fabricados; a Contabilidade Financeira costuma
trabalhar só com valores monetários, mas a de Custos, apesar de poder também fazê-lo, tem
sua utilidade duplicada ou triplicada com a utilização desses dados de natureza não
monetária” (MARTINS, 2008, p. 32).
Entende-se que a Contabilidade de Custos vai além do estudo de números e dados,
haja vista que as informações geradas servem a três finalidades principais: fornecem dados de
custo para a medição dos lucros e a avaliação dos estoques (demonstração de lucros e perdas e
balanço); fornecem informações aos dirigentes para o controle das operações e atividades da
empresa (relatórios de controle); fornecem informações para o planejamento da direção e a
tomada de decisões (análises e estudos especiais) (BACKER e JACOBSEN, 1979).
2.2 Metodologias de custos
2.2.1 Custeio por absorção
O custeio por absorção, segundo Martins (2008, p.37) “consiste na apropriação de
todos os custos de produção aos bens elaborados, e só os de produção; todos os gastos
relativos ao esforço de produção são distribuídos para todos os produtos ou serviços feitos”.
Bornia (2002, p. 55) confirma, dizendo que “no custeio por absorção integral, ou total, a
totalidade dos custos (fixos e variáveis) são alocados aos produtos”.
No custeio por absorção, todos os custos de produção são alocados aos bens ou
serviços produzidos, o que compreende todos os custos variáveis, fixos, diretos ou indiretos.
Os custos diretos, por meio da apropriação direta, enquanto os custos indiretos, por meio de
sua atribuição com base em critérios de rateios (OLIVEIRA e PEREZ, 2009, p.220). Warren,
Reeve e Fess (2008, p.21) dizem que “utilizando o custeio por absorção, todos os custos de
produção são absorvidos pelos produtos acabados e aí permanecem como ativos até serem
vendidos”.
2.2.2 Custeio variável
No custeio variável são apropriados aos produtos somente os custos variáveis. Para
Maher (2001, p.75), custos variáveis “são custos que se alteram na proporção direta da
alteração no volume, dentro de um intervalo relevante de atividade”, já os custos fixos afirma
que “são custos que não se alteram quando o volume se altera, dentro de um intervalo
relevante de atividade”.
Para Martins (2008, p.198) “no custeio variável, só são alocados aos produtos os
custos variáveis, ficando os fixos separados e considerados como despesas do período, indo
diretamente para o Resultado; para os estoques só vão, como consequência, custos variáveis”.
O critério do custeio variável fundamenta-se na idéia de que os custos e as despesas que
devem ser inventariáveis (debitadas aos produtos em processamento e acabados) serão apenas
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aqueles diretamente identificados com a atividade produtiva e que sejam variáveis em relação
a uma medida (referência, base, volume) dessa atividade (LEONE, 1997).
2.2.3 Custeio baseado em atividades
O custeio ABC (Activity Based Costing) é um método baseado nas atividades de
produção. Uma atividade é qualquer evento que consome recursos da empresa. Uma atividade
é uma combinação de recursos humanos, materiais tecnológicos e financeiros para produzir
bens e serviços. É composta por um conjunto de tarefas necessárias a seu desempenho. As
atividades são necessárias para a concretização de um processo, que é uma cadeia de
atividades correlatas e inter-relacionadas (OLIVEIRA e PEREZ, 2009).
De acordo com Maher (2001, p.280) o custeio por atividades é um método de custeio
em que “os custos inicialmente são atribuídos as atividades e depois aos produtos, com base
no consumo de atividades pelos produtos [...] Baseia-se no conceito de que produtos
consomem atividades e atividades consomem recursos”. Bornia (2002, p.121) afirma que a
“ideia básica do ABC é tomar os custos das várias atividades da empresa e entender seu
comportamento, encontrando bases que representem as relações entre os produtos e essas
atividades”.
2.2.4 Custeio padrão
O custeio padrão conceitua-se de acordo com Oliveira e Perez (2009, p. 304) “como
aquele determinado a priori, como sendo o custo normal de um produto. É elaborado
considerando um cenário de bom desempenho operacional, porém levando em conta
eventuais deficiências existentes nos materiais e insumos de produção etc.”
Os custos-padrão são estabelecidos antes da produção. Quando se usa um sistema de
custeio por custos-padrão, tanto os custos efetivos como os custos-padrão são refletidos nas
contas de custos. A diferença entre o custo efetivo e o custo-padrão é chamada variância. As
variâncias indicam até que ponto foi atingido um nível desejado de desempenho, definido pela
direção (BACKER e JACOBSEN, 1979).
2.2.5 Unidades de esforço de produção (UEP)
O método das Unidades de Esforço de Produção (UEP), de acordo com Martins (2008,
p.312) consiste “na construção e utilização de uma unidade de medida dos esforços e recursos
aplicados na produção de vários produtos. Essa medida de ser homogênea, de forma que
possa servir de denominador comum a todos os produtos”.
Conforme Bornia (2002), pelo método da UEP há uma simplificação da forma de
cálculo da produção do período, mediante a utilização de uma unidade de medida comum a
todos os produtos (e processos) da empresa. O método da UEP baseia-se na unificação da
produção para simplificar o processo de controle de gestão. Unificar a produção significa
encontrar uma unidade de medida comum a toda a produção da empresa, onde o trabalho
realizado pelas operações produtivas na transformação da matéria-prima em produto acabado
centra nos esforços de produção da empresa.
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2.2.6 RKW (Reichskuratorium für wirtschaftlichtkeit)
Backes, Kuhn, Perleberg, Dalben, Alberti e Wiest (2007) dizem que o estudo se
concentra na aplicação do método de custeio por centro de custos ou RKW, que deriva do
princípio de custeio por absorção integral, pois mantém a filosofia de alocação dos custos
fixos e variáveis aos produtos, incluindo-se as despesas.
Para que se possa implantar o método RKW ou custeio pleno, são necessários que os
procedimentos do método sejam obedecidos, os quais, segundo Bornia (2002), podem ser
sintetizados em cinco fases: (1) Separação dos custos em itens; (2) Divisão da empresa em
centros de custos; (3) Identificação dos custos com os centros (distribuição primária); (4)
Redistribuir os custos dos centros indiretos até os diretos (distribuição secundária); (5)
Distribuição dos custos dos centros diretos aos produtos (distribuição final).
3. Procedimentos metodológicos
O presente estudo caracteriza-se como um estudo de caso, descritivo, utilizando como
meio de pesquisa fontes primárias de dados, com abordagem do problema
quantitativo/qualitativo. Gil (2002) descreve um estudo de caso como sendo um estudo
profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado
conhecimento. Pode-se também classificar a pesquisa objeto de estudo como pesquisa
descritiva, sendo que os fatos são observados, registrados, analisados, classificados e
interpretados, sem interferência do pesquisador, usando técnicas de coleta de dados
padronizadas.
As pesquisas quantitativas e qualitativas oferecem perspectivas diferentes, mas não
necessariamente pólos opostos. De fato, elementos de ambas as abordagens podem ser usados
conjuntamente em estudos mistos, para fornecer mais informações do que poderia se obter
utilizando um dos métodos isoladamente, por isso, o presente estudo caracteriza-se quanto a
sua forma de abordagem como mista.
Na coleta de dados foram utilizadas entrevistas não estruturadas com o proprietário da
empresa, além de observações in loco e análise de dados primários, que compreendeu
relatórios contábeis. Para tanto, os dados coletados foram analisados por meio da técnica da
análise de conteúdo, que é um conjunto de técnicas que visa obter, por procedimentos
sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos
ou não) que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de
produção/recepção destas mensagens (BARDIN, 1997).
4. Descrição e análise dos resultados
4.1 Apresentação da empresa objeto de estudo
A empresa objeto de estudo atua no segmento alimentício disponibilizando produtos
derivados de carne. A carne é comprada em corte e então é feito o processamento e geração
de seus derivados e subprodutos, ou seja, somente industrializam a carne. Como exemplos da
industrialização da carne pode-se destacar as produções de charque, salsichas, linguiças,
presuntos e mortadelas.
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Atualmente a empresa possui em seu quadro 29 colaboradores. O responsável pelo
planejamento, gestão e controle da empresa é o Diretor, que conta com o auxílio da Auxiliar
Administrativa. As outras funções estão ligadas basicamente à operação e industrialização dos
produtos, ou seja, a área administrativa é centralizada. Também faz parte do staff serviços
contábeis e jurídicos utilizados pela empresa.
Os clientes da empresa são os pontos de varejo e atacados de Santa Catarina. E os
consumidores finais são os clientes destes, principalmente, pertencentes às classes A e B.
Dentre os principais produtos industrializados pela empresa estão: linguiça pernil defumada,
linguiça bovina defumada, linguiça tipo patê, costela defumada, lombo defumado, linguiça
frescal bovina, linguiça frescal pernil, bacon defumado, linguiça frescal de frango, salame
defumado, costela salgada frescal, linguiça defumada fina pernil, kit feijoada e charque.
4.2 Gestão de custos utilizada na empresa
A área administrativa conta com o Diretor (fundador) e uma Auxiliar Administrativa.
As funções são centralizadas e pouco formalizadas. A Auxiliar Administrativa atende e recebe
os pedidos dos clientes, emite e controla entrada e saída de notas fiscais, bem como, faz o
controle de estoque. Como ferramentas dispõe de um computador com acesso à internet onde
faz o controle de estoques através de planilhas de Excel, bem como, conta com software
obrigatório da Receita para emissão e controle de notas fiscais. Utilizam também como
ferramenta para recebimento de pedidos o telefone e e-mails.
O Diretor gerencia os recursos financeiros, contábeis e de produção da organização,
através dos recursos administrativos necessários para a elaboração da contabilidade interna,
com o auxílio do escritório Contábil. Também elabora relatórios, índices e mapas referentes
ao controle da empresa, além de manter o relacionamento com clientes, fornecedores e
colaboradores. Como a característica principal do atual diretor/fundador é o
empreendedorismo, a maioria dos controles e relatórios não são formalizados e sim,
elaborados através dos conhecimentos e experiência do mesmo na área.
A gestão de custos é feita de forma intuitiva e não fundamentada, portanto, não há
uma classificação de gastos nem alocação dos mesmos de forma racional. A alocação dos
custos aos produtos é feita de maneira aleatória, como também, a política de preços e margens
de contribuição. Não se tem dados concretos de quanto se gasta por produto, qual sua
contribuição e se os preços aplicados são coerentes.
4.3 Identificação e classificação dos gastos
No decorrer da pesquisa in loco foram identificados os seguintes gastos: energia
elétrica, água, gasolina, materiais de limpeza, manutenção das máquinas, salários e encargos,
telefones fixo e móvel, alimentação manhã e tarde dos colaboradores, material de escritório,
honorários contabilidade e assessoria jurídica, medicina do trabalho, inspeção de qualidade,
seguro do prédio e caminhões, uniformes, manutenção predial, matéria-prima, condimentos,
embalagens, depreciação dos equipamentos, impostos, licença do software e mensalidade NF
eletrônica, carvão.
Os gastos listados foram classificados em custos e despesas. Em relação aos custos
tem-se: energia elétrica, gasolina, manutenção de máquinas, matéria-prima, condimentos,
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carvão, embalagens e salários da produção. Já as despesas são: água, materiais de limpeza,
ordenados da administração, impostos, telefone fixo e móvel, café da manhã e tarde dos
colaboradores, material de escritório, depreciação, honorários da contabilidade e assessoria
jurídica, medicina do trabalho, inspeção de qualidade, seguro do prédio e caminhões,
uniformes, manutenção predial e licença de software/mensalidade NF eletrônica.
Os custos foram ainda classificados em fixos e variáveis. Os custos fixos são: energia
elétrica, gasolina, manutenção das máquinas e ordenados da produção. Já os custos variáveis
são: matéria-prima, condimentos, carvão e embalagens. Todas as despesas foram classificadas
como fixas, ou seja, não tem relação com o volume de produção e serão descontadas
diretamente do resultado, são elas: água, materiais de limpeza, ordenados da administração,
impostos, telefone fixo e móvel, café da manhã e tarde dos colaboradores, material de
escritório, honorários da contabilidade e assessoria jurídica, medicina do trabalho, inspeção de
qualidade, seguros do prédio e caminhões, uniformes, manutenção predial e licença de
software/mensalidade NF eletrônica.
4.4 Proposta de alocação dos gastos
O método proposto para alocação dos gastos na empresa é o custeio chamado variável
ou direto em que somente os custos variáveis, ou seja, aqueles que variam na mesma
proporção do aumento ou diminuição da produção são alocados aos produtos. Já os custos
fixos são alocados diretamente no resultado, sendo tratados como despesas. De maneira geral,
de acordo com a formulação de cada produto, procede-se à elaboração de um lote de
determinado tamanho, de acordo com a necessidade de produção semanal (pedidos dos
clientes). São feitas pesagens da carne (bovina, suína e frango) e de todos os ingredientes e
aditivos necessários ao lote. Dependendo da formulação, incluem-se ingredientes de cura,
temperos ou condimentos, toucinho devidamente picado e ligantes. Abaixo descrição de cada
processo básico de produção.
- Picagem/Moagem da Carne e Formulação: carne picada ou moída com ajuda de
equipamentos especiais (moedores);
- Mistura: em um equipamento misturador são adicionados os condimentos (sal, salsa,
ligantes, toucinhos) onde permanecem por determinado tempo para mistura e
incorporação dos ingredientes;
- Embutimento: a mistura pronta é transferida para a embutiadeira e embutida em
tripas próprias aos tipos formulados. No caso das tripas suínas e de carneiro são
previamente enxaguadas para remoção do sal e hidratação.
- Cozimento: são levadas para as salas de cozimento (estufas) onde são aquecidas e
permanecem em temperatura e por tempo ideal de finalização;
- Câmara de cura: após o embutimento, as linguiças frescais são encaminhadas para as
câmaras de cura, onde permanecem a uma temperatura em torno de 6ºC por tempo
suficiente para o desenvolvimento das características desejadas;
- Defumação: este processo é feito por meio dos chamados “fumeiros”, processo
tradicional e artesanal, no qual as peças dos produtos cárneos, dentro das estufas, são
envolvidas por fumaça proveniente da queima de serragem de madeiras.
- Resfriamento: são resfriadas em temperatura ambiente após cozimento e defumação;
- Embalagem: após todo o processo são direcionadas para a área de embalagem onde
são preparadas a vácuo.
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- Estoque: são armazenadas em câmeras frias no caso das Frescais e em salas especiais
no caso das defumadas.
Com o processo de produção conhecido, forma identificados os custos variáveis por
produto (a cada cem quilos produzidos). Exemplifica-se, por meio da tabela 1, a apuração do
custo variável do produto Bacon.
Item
Quantidade em Kg
Bacon in natura
100,00
Sal
50,00
Fixador
1,25
Pó Hungaro
0,30
Condimento
1,00
Carvão
1,00
Embalagem
500,00
Custo Variável
Fonte: Dados da pesquisa (2011)
Valor Kg
R$ 5,50
R$ 0,43
R$ 9,69
R$ 0,45
R$ 2,60
R$ 7,00
R$ 0,07
Total
R$ 550,00
R$ 21,50
R$ 12,11
R$
0,14
R$
2,60
R$
7,00
R$ 35,00
R$ 628,35
Tabela 1 – Custo variável do produto Bacon
Na produção de todos os produtos há, basicamente, a mesma composição de itens
(matéria-prima, condimentos, carvão e embalagens), o que difere em cada produto são o tipo
da carne, os condimentos e calibre das tripas. Após a identificação dos custos variáveis por
produto, foram identificados os totais dos custos e despesas fixos incorridos mensalmente. O
custo e a despesa fixa mensal identificados foram, respectivamente, de R$ 35.240,00 e R$
28.157,00.
Para mensuração do resultado da organização, fez-se necessário também a
identificação da receita, a qual foi obtida através da média de vendas do primeiro semestre de
2011 pelo preço vigente no mesmo período. Os valores médios mensais de receita são
apresentados na tabela 2.
Produto
Venda média em KG
Bacon
2000
Costela
2000
Lombo
2500
Linguiça Frescal Frango
7000
Linguiça Frescal Final
5000
Linguiça Frescal Pernil
6000
Linguiça Defumada Bovina
7000
Linguiça Defumada Pernil
3000
Fonte: Dados da pesquisa (2011)
Preço Unitário
R$
12,90
R$
15,50
R$
18,00
R$
8,00
R$
11,00
R$
8,50
R$
7,00
R$
12,90
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
R$
Receita
25.800,00
31.000,00
45.000,00
56.000,00
55.000,00
51.000,00
49.000,00
38.700,00
Tabela 2 – Receita média mensal por produto
A partir da identificação do custo variável e receita por produto foi possível o cálculo
da margem de contribuição. O valor da margem de contribuição mensal por produto é
demonstrado na tabela 3.
Produto
Bacon
Costela
Lombo
Receita
R$ 25.800,00
R$ 31.000,00
R$ 45.000,00
( - ) CMV
( = ) Margem de Contribuição
R$ 12.545,00
R$ 13.255,00
R$ 14.785,00
R$ 16.215,00
R$ 20.931,00
R$ 24.069,00
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Linguiça Frescal Frango
R$ 56.000,00
Linguiça Frescal Final
R$ 55.000,00
Linguiça Frescal Pernil
R$ 51.000,00
Linguiça Defumada Pernil
R$ 38.700,00
Linguiça Defumada Bovina
R$ 49.000,00
Total
R$ 351.500,00
Fonte: Dados da pesquisa (2011)
R$ 26.425,00
R$ 34.200,00
R$ 32.639,00
R$ 15.409,00
R$ 20.974,00
R$ 177.908,00
R$ 29.575,00
R$ 20.800,00
R$ 18.361,00
R$ 23.291,00
R$ 28.026,00
R$ 173.592,00
Tabela 3 – Margem de contribuição mensal por produto
Conforme a tabela 3, cada produto tem sua margem de contribuição conhecida após
deduzir da receita de vendas, os custos da mercadoria vendida (CMV). O somatório dessas
margens é que garantirá a cobertura dos custos e despesas fixos e, consequentemente, do lucro
da organização, conforme tabela 4. A alíquota de Imposto de Renda considerada foi de 32%.
Margem de Contribuição Total
( - ) Custos e Despesas Fixos
( = ) Lucro antes do Imposto de Renda
( - ) Imposto de Renda
( = ) Lucro Líquido
Fonte: Dados da pesquisa (2011)
R$ 173.592,00
R$ 63.397,00
R$ 10.195,00
R$ 35.263,00
R$ 74.932,00
Tabela 4 – Margem de contribuição mensal por produto
O custeio variável mostra que o somatório das margens de contribuição por produto é
suficiente para cobrir todos os gastos fixos incorridos no período, bem como, após o Imposto
de Renda, garantir um lucro líquido mensal de aproximadamente R$75.000. Sua principal
vantagem está em demonstrar quanto cada produto contribui para o resultado final da
empresa. Nesse contexto, permite-se avaliar, individualmente, o resultado de cada unidade
sobre o todo, além de não haver a necessidade de adotar critérios de rateio para apropriar os
custos e despesas fixas, já que são deduzidos diretamente do resultado.
5. Conclusões
O artigo teve por objetivo analisar o processo de gestão de custos em uma empresa do
segmento de carnes e derivados. Após o diagnóstico da gestão atualmente utilizada na
empresa objeto de estudo, fez-se a proposta de uma metodologia de gestão de custos baseada
no custeio variável.
A estruturação da proposta foi iniciada com a identificação e classificação dos gastos.
Seguindo a proposta do custeio variável, foram mensurados os custos variáveis por produto.
Percebeu-se que na produção de todos os produtos há, basicamente, a mesma composição de
custos variáveis (matéria-prima, condimentos, carvão e embalagens), sendo diferente o tipo da
carne, os condimentos e calibre das tripas. Após a identificação dos custos variáveis por
produto, foram identificados os totais dos custos e despesas fixos incorridos mensalmente.
Para mensuração do resultado, identificou-se a receita de cada produto, da qual foram
deduzidos os custos variáveis, obtendo-se a margem de contribuição por produto. O custeio
variável demonstrou que o somatório das margens de contribuição por produto foi suficiente
para cobrir todos os gastos fixos incorridos no período, bem como, após o Imposto de Renda,
garantir lucro líquido à empresa. Uma das vantagens da metodologia proposta está em
demonstrar quanto cada produto contribui para o resultado final da empresa. Assim, pode-se
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avaliar, individualmente, o resultado de cada unidade sobre o todo, além de não haver a
necessidade de adotar critérios de rateio para apropriar os custos e despesas fixas, já que são
deduzidos diretamente do resultado.
Conclui-se que o custeio variável, apesar de não atender às exigências legais, mostrase interessante enquanto metodologia de gestão de custos na empresa do segmento de carnes e
derivados investigada. Apesar da simplicidade no tratamento e mensuração dos custos,
considerando que os gastos fixos são alocados diretamente ao resultado, apresenta vantagens
no processo decisório. Além de demonstrar quais produtos são mais interessantes
economicamente à empresa, mostra se o somatório dos resultados individuais é suficiente para
cobrir os gastos fixos e ainda proporcionar lucratividade. Tem-se a consciência de que os
resultados obtidos não podem ser generalizados, haja vista que se trata de um estudo de caso.
Contudo, a estrutura da metodologia do custeio variável é generalista, podendo ser adaptada
em empresas do mesmo ramo e/ou ramos semelhantes.
Referências
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