ARTIGO
JOSÉ ANTONIO BRUNO DA SILVA *
U A URO GONÇAL VES * *
RESUMO
Este estudo teve como objetivo analisar eletromiograficamente os
músculos reto da coxa, bíceps da coxa (cabeça longa), eretor da espinha e
reto do abdome, no exercício denominado "levantamento terra", em diferentes amplitudes de movimento da articulação do joelho com 30 e 90% da
carga máxima. Os registros foram realizados em oito voluntários homens,
utilizando-se de um módulo de aquisição de sinais biológicos acoplado a um
computador através de uma placa A , . Os sinais foram obtidos por eletrodos de superficie, e a angulação da articulação do joelho foi verificada por
meio de um eletrogoniômetro instalado no joelho direito do voluntário. Conclui-se assim que o levantamento terra é um padrão de movimento que
basicamente ocorre predominantemente pela ação do eretor da espinha,
bíceps da coxa (cabeça longa) e reto da coxa. A maior atividade foi
verificada no eretor da espinha e bíceps da coxa (cabeça longa), no intervalo de 60 a O graus da articulação do joelho, e no músculo reto da coxa, no
intervalo inicial de 90 a 60 graus da articulação do joelho.
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Palavras-chave:eletromiografia, reto da coxa, bíceps da coxa (cabeça longa),
eretor da espinha, reto do abdome, levantamento terra.
Há uma forma competitiva da musculação denominada levantamento
básico, composto de três diferentes tipos de exercícios: o supino, o agachamento e o levantamento terra. Essa modalidade foi introduzida no Brasil em 1978,
tendo crescido e desenvolvido principalmente em São Paulo, com a realização
de grande número de competições anuais e de nível internacional. O "básico"
brasileiro é o mais forte da América do sul, conquistando inclusive um segundo
lugar no mundial de 1985 (RODRIGUES, 1985; DEPARTAMENTO, 1984).
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'Apoio: Fundação para o Desenvolvimento da UNESP - FUNDUNESP proc. 076190-DFP e
384190-DPE.
Discente do Curso de Educação Física - IB- UNESP- Rio Claro.
**Professor Assistente Doutor - Laboratbrio de biomecânica - Departamento de Educaçáo Física
IB - UNESP- Rio Claro, SP.
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Estando incluído no programa das Olimpíadas alternativas, que incluem
modalidades que pleiteiam a inclusão nos Jogos Olímpicos, o levantamento básico é bastante procurado por levantadores olímpicos, por ser mais uma forma
possível de competição, além do fato de que particularmente no levantamento
terraa primeira fase da puxada é bastante similar à do levantamento olímpico
(BITTENCOURT, 1984; LAMBERT, 1987). Entre os exercícios incluídos no
levantamento básico, o único que é pouco difundido dentro das academias é o
levantamento terra ou levantamento de "peso morto", o que se justifica pela
grande possibilidade de lesão do anel fibroso e dos ligamentos intervertebrais.
De fato, as conseqüências, no aspecto das lesões, são mais severas que as do
supino e agachamento (LAMBERT, 1988).
Diante da escassa quantidade de estudos específicos sobre esse exercício e de sua importância dentro dos exercícios básicos, e utilizando-se dos estudos de GONÇALVES (1991), que indica os músculos mais atuantes em levantamentos manuais de carga, o presente estudo tem por objetivo analisar
eletromiograficamente os músculos reto da coxa, bíceps da coxa (cabeça longa), eretor da espinha e reto do abdome durante o levantamento terra, em
diferentes amplitudes de movimento da articulação do joelho e em diferentes
acréscimos de carga, contribuindo assim para que os profissionais em educaçlo física e praticantes deste exercício tenham uma informação mais científica
da real participação destes músculos nesta modalidade esportiva.
REVISAO DE LITERATURA
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No levantamento de cargas de maneira geral, devem ser observados
alguns princípios para otimizar sua execução, como: os pés estarem aplainados
no solo; existir um afastamento das pernas com intuito de aumentar a estabilidade; manter o peso o mais próximo possível do corpo; flexionar os joelhos; e
manter a coluna ereta, devendo o indivíduo estar voltado para aquilo que pretende levantar (BROER, 1968; BARBANTI, 1979; COOPER e GLASSOW,
1979; RACH e BURKE, 1987; GONÇALVES, 1998). Esta é uma preocupação no caso de levantamentos realizados nas atividades da vida diária, porém o
mesmo existe tratando-se de levantamentos de peso com intuito esportivo. Os
Jogos Olímpicos da era moderna possibilitaram a muitos atletas, a partir da
década de 70, aperfeiçoar o rendimento técnico atravé, do avanço tecnológico
e, principalmente, das investigações científicas em equipamentos de alta precisão, bem como o aprofundamentode métodos de treinamento desportivo.
Atualmente, a maioria dos atletas de alto nível utiliza métodos de treinamento de força muscular em busca de uma melhor performance e, principalmente, para diminuir a incidência de lesões músculo-esqueléticas (Priest e
Holshouser, 1987, citados por BARBANTI, 1988).
O treinamento de força pode ser considerado uma das formas mais eficazes para melhorar o rendimento atlético competitivo em vários níveis de solicitação do aparelho locomotor.
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Na maioria dos esportes, nos métodos de treinamento de força prevalecem atividades com carga (musculação) de 50 a 70% da força máxima, destacando-se duas variações do trabalho: uma com ritmo acelerado do exercício
acentuadamente de caráter explosivo e outra em que ocorre progressiva elevação da velocidade e do ritmo dos movimentos (VERKHOSHANSKY, 1995).
Nesse sentido, os exercícios com pesos têm despertado interesse de
vários estudiosos, pois permite verificar, por meio de observações biomecânicas,
a influência da carga, do tipo de aparelho, da velocidade de execução e do
ângulo articular, assim como o comportamento dos músculos em diferentes
meios de solicitação de esforço fisico.
Das muitas técnicas biomecânicas, a eletromiografia (Lat. elektra, reluzente, brilhante, relativo a eletricidade; Gr. myos, músculo; e Lat. graphicus,
escrever), após a Segunda Guerra Mundial, tornou possível utilizar métodos
mais confiáveis para estudar a atividade muscular em seres humanos
(LEHMKUHL e SMITH, 1987).
Segundo VERKHOSHANSKY (1995), os exercícios de força não são
apenas um meio para melhorar o rendimento da força muscular, porém contribuem diretamente para o desenvolvimento da velocidade e coordenação dos
movimentos, a rapidez das reações motoras e da capacidade de relaxar os
músculos, como também podem ser eficazes quando selecionados e ordenados
no período de maneira adequada, ou seja, no programa de treinamento. Este
autor conclui que eles produzem resultados eficazes quando correspondem a
uma parte de todo o método de treinamento desportivo.
LAMBERT (1987) recorda que há 50 anos o desenvolvimento foi o primeiro dos três movimentos olímpicos do halterofilismo (arranco e arremesso);
devido às dificuldades de arbitragem causadas por uma interpretação muito
livre do regulamento, este exercício foi suprimido do programa de competições
oficiais da Federação Internacionalde Levantamento de Peso (a partir de 1976).
Uma simples modificação da posição inicial desse movimento deu origem a
diversos exercícios de treinamento, inclusive os exercícios denominados desenvolvimento em banco (supino), desenvolvimento em banco fechado (supino
fechado) e desenvolvimento em banco com halteres (supino com halteres).
Especificamente sobre o treinamento de força muscular, para BARBANTI
(1988) ele tem contribuído para o avanço dos métodos de treinamento e, de modo
considerável, para sua prática em todos os meios esportivos como uma das formas de aumentar o rendimento atlético.
Dos exercícios que compõem o levantamento básico, SEDWICK et al.
(1 989) consideraram que no levantamento terra há uma eficiência mecânica ein
razão da posição das articulações e dos músculos, gerando melhores resultantes
de forças, segurança contra lesões musculares e articulares, e um grau de coiitrole, manutenção do equilíbrio, precisão do movimento e economia de esforço.
No entanto, na execução incorreta do levantamento terra, as forças
compressivas que atuam na coluna vertebral aumentam sigiiificativainente.
Basicamente, deve-se atentar para a diminuição da distância entre o disco L51
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S1 e o ponto de aplicação de peso que está sendo levantado (SILVA, 1984;
WIRHED, 1986; BARBANTI, 1979; McGILL e NORMAN, 1987).
SILVA (1984) e HARMAN (1988) sugerem que, para prevenir lesões,
pode-se utilizar de recursos fisicos como o cinto pélvico padrão, a fim de aumentar a segurança na execução do levantamento terra, com o aumento da
pressão intra-abdominal, e que, conforme estudos de HARMAN (1989),
BRENKE et al. (1990) e ADRIAN e COOPER (1989), pode-se também reduzir potencialmente as lesões ocasionadas pelas forças compressivas nos discos espinhais, que aumentam significativamente com o aumento da quantidade
de peso levantado. BROWN e ABANI (1985) documentaram características
do levantamento terra de basistas adolescentes, verificando posturas mais eretas no inicio do levantamento nos indivíduos mais experientes em relação aos
menos experientes, assim como maior variabilidade e magnitude nos parâmetros
de aceleração linear e angular. Estes autores também constataram que a articulação do quadril sofre o maior torque devido ao braço de momento horizontal
da barra.
BURDE'iT (1982) também verificou diferenças entre levantadores experientes, mostrando que eles assumem posições mais fletidas nos quadris e no
joelho, com ângulo menor entre a perna e o solo.
Informações importantes foram fornecidas pelos estudos de
GARHAMMER e LAUGHLIN (1980), em que os resultados demonstraram
rendimentos de força mais altos para carga submáxima que para carga máxima em Levantamentos básicos.
HAKKINEN (1988) verificou que durante a execução das cinco repetições consecutivas de uma série, na fase inicial da puxada do levantamento
olímpico, aumentos significativosocorreram nas durações com decréscimo na
velocidade angular dosjoelhos, evidenciando fadiga. Isso sugere que no treinamento de levantamento terra, para desenvolver força, devem-se utilizar cargas
subináximas, com séries de no máximo cinco repetições.
Sobre os músculos analisados neste estudo, verifica-se que os primeiros
estudos eletromiográficosdos eretores da espinha que estivessem próximos ao
padrão de movimento do levantamento terra foram realizados por Allen (1948),
citado por BASMAJIAN (1976), que determinaram suas ações durante a ânteroflexão da coluna vertebral, onde constataram que a atividade aumenta com a
flexão e desaparece no final desta.
Mais voltados ao levantamentode carga e evidenciando a postura fletida
dos joelhos estão os estudos de DELLITO et al. (1987), os quais determinaram
ser a atividade do eretor da espinha maior durante o período inicial do levantamento, promoveiido maior segurança a coluna lombar. LAWRENCE e DE
LUCA (1983) investigaram a relação do sinal mioelétrico e a força, em trabalho coin 80% da contração máxima coin basistas, verificando que esta relação
não é l iiiear.
Floyd e Silver (1950), citados por BASMAJIAN (1976), demonstraram
que o aparente eiirijecimento do reto do abdome ao puxar uma carga do chão
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ocorre por recrutamento passivo deste e que uma inclina~ãoa frente do tronco
não é acompanhada de atividade.
M O W S et al. (196 l), estudando o papel do tronco na estabilidade da
espinha em levantamento similar ao terra, notaram uma atividade menor do
reto do abdome em relação aos demais músculos estudados, intercostais, oblíquos e paravertebrais, o que também foi observado por McGILL e NORMAN
(1988), quando utilizaram uma máquina de levantamento incremental e verificaram que realmente o reto do abdome apresenta baixa atividade.
Estudos eletromiográficos durante levantamentos de cargas elevadas
mostraram atividades paralelas do transverso do abdome e oblíquo interno do
abdome com o aumento da pressão intra-abdominal (MORRIS et al., 1961;
McGILL e NORMAN, 1988).
Com esta revisão, verifica-se que o levantamento terra apresenta escassez de estudos,justificando a realização da análise deste movimento através da
eleiromiografia.
MATERIAL E MÉTODOS
O presente estudo foi realizado em oito voluntlios do sexo masculino,
com idade variando entre 19 e 29 anos, praticantes de musculação, sem referências de doenças músculo-esqueléticas. Todos eram universitários e de
antropometria semelhante. Foram estudados eletromiograficamente os músculos reto da coxa, biceps da coxa (cabeça longa), eretor da espinha e reto do
abdome, do lado direito, e para captação dos sinais eletromiograficos foram
utilizados eletrodos de superfície do tipo "Beckman", que foram colocados,
segundo DELAGI (198 l), sobre os músculos biceps da coxa (cabeça longa) e
reto da coxa, todos do lado direito. Os eletrodos para registro do músculo reto
do abdome e eretor da espinha foram localizados no tronco, conforme McGILL
e NORMAN (1988), isto é, 5 cm a direita na altura da cicatriz umbilical, e, para
o músculo eretor da espinha, 10 cm acima da articulação sacro-iliaca e 10 cm
a direita. Para aquisição dos registros eletromiográficos,foi estabelecida a freqüência de 1.O24 Hz; para esta coleta foi utilizado um módulo de aquisição de
sinais biológicos marca Lynxl de quatro canais, ao, qual foram conectados os
eletrodos, sendo calibrado o ganho em 10.000Hz, o filtro de passa alta em 200
Hz e o filtro de passa baixa em 2.000 Hz. A conversão dos sinais analógicos
para digitais foi feitp por uma placa AID com faixa de entrada de -5 a +5 Volts
(CAD 1026 - Lynx ). para aquisição dos sinais, utilizou-se um software específico (Aqdados-Lynx ). Os limites para aquisição do sinal foram fixados em
+500 e -500 mV. Ainda para que o ambiente de coleta estivesse o mais livre
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Lynx Tecnologia Eletrdnica Ltda. Doado pela Fundunesp, Proc. 076/90/F/Cbs E 384/90-Dpe
ao Laborat6rio de Biodinâmica do Depto. de Educação Física do Ib-Unesp-Rio Claro.
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possível de ruídos, utilizou-se um filtro de 60 Hz no hardware, a fim de impedir
a entrada das freqüências da rede elétrica local.
Quanto aos parâmetros de ensaio, foi utilizado o tipo simples, fixando-se
a coleta em três segundos, tendo inicio através da borda de descida. Em cada
registro foi utilizada a análise numérica, para posterior análise estatística das
amostras para cada canal e no tempo determinado, e para cada músculo foi
obtido o valor da área (integrar definida) sob o sinal, entre os tempos inicial e
final de coleta, que permitiu calcular o valor eficaz do sinal. Para o levantamento terra, o voluntário foi posicionado em pé, com os pés afastados e alinhados
confortavelmente, com tronco ereto; quadril flexionado com angulação de aproximadamente 45 graus com o solo; joelhos flexionados; e mãos segurando a
barra a frente do corpo, no chão, com empunhadura alternada, isto t ,uma com
a articulação radioulnar em supinação e a outra em pronação a uma distância
maior que a distância dos ombros. Os cotovelos mantinham-se estendidos. A
execução do levantamento terra apresentou a seguinte seqüência: extensão do
joelho e quadril, até atingir uma postura ereta, com hiperextensão do tronco no
final (DEPARTAMENTO, 1984; LEIGHTON, 1987; YESSIS, 1987;
LAMBERT, 1988). As anilhas de peso variaram entre 0,5 e 20 kg, colocadas
numa barra de 10 kg da marca RiGHE'ITO2. Cada voluntário, previamente,
realizou um teste de carga máxima de acordo com o método de HAKKINEN
e KAUHANEN (1986), que consiste no levantamento de 70% do máximo
normalmente utilizado pelo atleta, e repetindo o levantamento por cincolvezes;
após intervalo de três minutos acrescentou-se 10% da carga anterior, realizando este procedimento até que o voluntário apresentasse impossibilidade de levantar duas vezes a mesma carga, sendo a carga máxima o valor imediatarnente anterior as duas falhas. Os voluntários realizaram o levantamento com 90 e
30% da carga máxima. A fim de verificar a angulação do joelho, foi instalado
um eletrogoniômetro, que teve sua angulação inicial fixada em 90 graus e final
em O grau, sendo a aquisição angular simultânea a eletromiográfica, possibilitando a verificação da amplitude de movimento articular onde houve maior
atividade muscular. Antes de efetivar a coleta dos registros, cada voluntário
executou o movimento várias vezes, adquirindo assim o sentido cinestésico e
controlando a postura e a velocidade de execução. Os sinais obtidos foram
coletados e analisados pelo software Aqdados (LYNX*); após a análise e
quantificação dos registros, efetuou-se tratamento estatístico baseado na análise de variância, aplicando-se o teste de Tukey (BANZA'ITO e KRONKA,
1989), para se obter a diferença entre as médias dos músculos e entre as médias dos intervalos de ângulo para cada um dos músculos.
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Righetto Equipamentos para Condicionamento Físico Ltda. Campinas
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RESULTADOS
Tabela 1 - Valores eficazes médios (uV) dos músculos reto da coxa, bíceps da
coxa (cabeça longa), eretor da espinha e reto do abdome, nos intervalos angulares de 90 a 60 graus, de 60 a 30 graus e de 30 a O graus
da articulação do joelho, com cargas de 30 a 90% da carga máxima
de cada indivíduo
MUSCULOS
BCCL
INTERVALOS (graus)
45,3 C
76,7
RA
4,21 E
4,98
Diferença significativa para p E 0,05
A e B = em relação ao intervalo de 30 a O graus.
C = em relação ao intervalo de 60 a 30 e 30 a O graus.
D = em relação ao intervalo de 60 a 30 graus.
E = em relação ao intervalo 30 a O graus.
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8,92
Os resultados demonstram que, para efetivação do movimento de extensãode quadril e joelhos e manutenção ereta da coluna vertebral no levantamento terra, houve atividade nos músculos reto da coxa, bíceps da coxa (cabeça longa) e eretor da espinha, o que está de acordo com HAY e REID (1985),
WIRHED (1986), KENDALL e McCREARY (1987), RASH e BURKE (1987)
e DANIELS e WORTHINGHAM (1987), que relatam ser estes músculos
extensores do joelho, extensor do quadril e extensor do tronco, respectivamente.
O inúsculo reto da coxa apresentou a sua maior atividade na fase inicial
do levantamento terra, ou seja, no intervalo de 90 a 60 graus, ocorrendo posteriormente queda de sua atividade até O grau, o que concorda com Basmajian et
al. (1972), citados por BASMAJIAN (1976), os quais observaram o fim prematuro da atividade do reto da coxa na extensão do joell-io, porém discordam
dos mesmos autores, que verificaram o início tardio da atividade.
Verificou-se que, enquanto o reto da coxadiminui sua atividade, o bíceps
da coxa teve sua atividade aumentada, o que concorda coin BARATA ( 1 988)
e DRAGANICH (1989), que, estudando a ação coi-ijui-itado quadríceps e dos
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posteriores da coxa, determinaram que os últimos atuam com o quadríceps no
final do movimento de extensão como antagonista, com a tarefa de impedir a
brusca extensão do joelho, semelhantemente a referência de LEHMKUHL e
SMITH (1987), ao observarem o comportamento destes dois grupos musculares durante as fases de oscilação e apoio médio na marcha.
O reto da coxa apresentou atividade inferior íl do bíceps da coxa, o que
provavelmente seja explicado pelo trabalho de BROWN e ABANI (1985), que
afirmam estar os esforços maiores no levantamento terra localizado na articulação do quadril, devido ao momento extensor no quadril reproduzido por este,
que é superior ao que ele produz na articulação do joelho.
O músculo eretor da espinha apresentou atividade eletromiogrtíficadurante todo o movimento do levantamento terra, o que concorda com Pauly (1966),
citado por BASMAJIAN (1976), e McGILL e NORMAN (1988), os quais verificaram grande atividade do eretor da espinha em atividades de levantamento,
porém ela foi maior entre as fases media1 e final do movimento, contrariamente
aos estudos de DELLITO et al. (1987), que afirmaram ter o eretor da espinha
maior atividade em levantamento no período inicial. Este resultado provavelmente seja explicado com os estudos de NEWMAN et al. (1991), os quais constataram, no levantamento de peso, ser a força primariamente desenvolvida pelas
estruturas ligamentosas e não por músculos espinhais.
Outro fator que explica ser mais significativa a diferença de atividade do
eretor da espinha entre os intervalos de 90 e 60 graus e 60 e 30 graus pnovavelmente é que o joelho, ao estar mais estendido, aumenta o momento sobre a
coluna, em particular a coluna lombar, aumentando assim sua atividade
eletromiográfica.O joelho, na maioria dos sujeitos, apresentou extensiío mais
precoce em relação ao quadril, devido ao fato de que, com esta extensão, fica
liberada a passagem da barra pelo joelho de forma mais retilínea.
Verificou-se que a extensão dojoelho terminava antes do final da execução do levantamento terra, o que concorda com SCHIPPLEIN (1990), que
também observou esta ocorrência de extensão do joelho antes do quadril em
indivíduos inexperientes em levantamento, o que se pode afirmar no caso do
presente estudo, pois os sujeitos, embora fossem praticantes de musculação,
não tinham o levantamento terra como sua especialidade. Nos últimos interva10sde ângulo, o bíceps da coxa apresentou a atividade eletromiográfica aumentada, o que provavelmente seja explicado pelo fato de existir nestes intervalos a
maior parte do movimento de extensão do quadril, que é função principal deste
músculo (RASH e BURKE, 1987).
O músculo reto do abdome apresentou baixa atividade durante todo o
levantamento terra, coin ligeiro aumento no final deste, o que confirma os achados
de Floyd e Silver (1950), citados por BASMAJIAN (1976), MORRIS et al.
(1961), McGILL e NORMAN (1988) e Waters e Morris (1970), citados por
BASMAJIAN (1976), que também constataram pouca atividade
eletroiniográfica deste músculo. O aumento significativo da atividade
eletromiográfica do reto do abdome observado no intervalo de ângulo final talR. Min. Educ. Fís., Viçosa, v. 8, n. 1, p. 70-81,2000
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vez seja devido à hiperextensão da espinha ao final da execução do exercício,
ocasionando atividade antagonista e, provavelmente, reflexa deste músculo.
Analisando o levantamento terra nas cargas de 30 e 90% da carga máxima de cada indivíduo, nota-se aumento da atividade muscular para todos os
músculos. Este aumento de atividade foi similar em porcentagem para todos os
músculos, exceto para o eretor da espinha, que apresentou grande atividade
para ambas as cargas estabelecidas no estudo.
Os resultados obtidos neste estudo permitem as seguintes conclusões:
- O músculo eretor da espinha é o mais ativo entre todos os músculos
estudados no levantamento terra, em especial nos intervalos de 60 a 30 e de 30
a O graus da articulação do joelho.
- O músculo bíceps da coxa (cabeça longa) obteve sua maior atividade
eletromiográfica nos intervalos de 60 a 30 e de 30 a O graus da articulação do
joelho.
- O músculo reto da coxa apresentou sua maior atividade na fase inicial
do levantamento, que vai de 90 a 60 graus da articulação do joelho.
- O músculo reto do abdome apresentou baixa atividade eletromiográfica,
tendendo a ser mais efetiva no intervalo de ângulo de 30 a O graus da articulação dojoelho.
- O aumento da carga no levantamento terra foi acompanhado de aumento da atividade eletromiográficapara todos os músculos.
ABSTRACT
Dead Lift: an Electrornyographic Study
This study had as objective to analyze electromyographic activity of the
rectus femoris, biceps femoris(caput longum), erector spinae and rectus abdominis
muscles in the exercise denominated "lifting earth or dead lifting" in different
range of movement of the knee joint with 30% and 90% of the maximum load.
The registrations were accomplished in 8 voluntary men, where a module of
biological signs acquisition was coupled to a computer through a board AO. Tlie
signs were obtained by surface eletrodes, and the angulation of the knee joint
verified through an electrogoniometer installed in the volunteer's right knee. It is
concluded that the "dead lifting" is a movement pattern that basically happens
predominantly for the action ofthe erectus spinae, biceps femoris (caput longüin)
and rectus femoris. The largest activity was verified at erector spinae and biceps
femuris (caput longum) in the interval of 60 to O degrees of the kneejoint, aiid tlie
rectus femoris muscle in the initial interval of 90 to 60 degrees of the knee joint.
Key words: electromyography,rectus femoris, biceps fomoris (caput longum),
erector spinae, rectus abdomini, dead lifting.
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ARTIGO JOSÉ ANTONIO BRUNO DA SILVA * UA URO GONÇAL