UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
PRÓ-REITORIA DE CULTURA E EXTENSÃO
ESCOLA POLITÉCNICA
AGROECOLOGIA, ENGENHARIA E TECNOLOGIAS SOCIAIS
APLICADOS À MELHORIA DA PRODUÇÃO AGRÍCOLA E DAS
CONDIÇÕES DE VIDA DE UM ASSENTAMENTO AGRÍCOLA
Prof. Dr. Arisvaldo Viera Mello Júnior
Gabriela Gumiero
Miguel Bortoletto Giansante
São Paulo
2014
Lista de Figuras, Tabelas e Gráficos
Figura 1 - Hidrografia da bacia do Alto-tietê com dominialidade local
Figura 2 - Assentamento Dom Pedro Casaldáliga
Figura 3 – Temperatura e média mensal em Cajamar
Figura 4 – Escavação do buraco (lado esquerdo) e da vala (lado direito)
Figura 5 – Construção da casa da bomba (lado esquerdo) e o canteiro da obra
(lado direito)
Figura 6 – Desenho esquemático da casa da bomba
Figura 7 – Plantação (lado esquerdo) e casa da bomba finalizada (lado direito)
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Tabela 1 - Tabela Climática
Tabela 2 – Levantamento de produção
Tabela 3 – Coeficiente K para as principais culturas
Tabela 4 – Indicações coeficiente K
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Gráfico 1 - Curva característica de instalação (CCI)
Gráfico 2 - Curva característica da bomba (CCB)
Gráfico 3 - Sobreposição das curvas características da instalação (CCI) e
(CCB) e da bomba
Gráfico 4 – Relação da cavitação necessária NSPHr e a de projeto NSPHD
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Sumário
1. Introdução ............................................................................................................................... 4
2. Objetivo................................................................................................................................... 5
3. Metodologia ............................................................................................................................. 6
3.1 Localização ......................................................................................................................... 7
3.2 Inventários de uso e ocupação do solo ..................................................................................... 9
3.3 Descrição do sistema .......................................................................................................... 10
4.Resultados .............................................................................................................................. 15
5.Conclusões .............................................................................................................................. 17
6.Bibliografia............................................................................................................................. 18
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1. Introdução
A transferência de conhecimento e tecnologia é fundamental na formação profissional.
Entretanto, se isso for feito de maneira isolada da realidade, não se cumpre plenamente o objetivo
final de preparar o profissional para o pleno exercício de suas funções como graduado.
Os conteúdos abordados em sala de aula carecem de uma vivência prática da realidade que
os cercam. A extensão universitária apresenta-se neste contexto como parte do tripé da
universidade, e ela é essencial para complementar essa formação, aprofundando os
conhecimentos profissionais e humanísticos dos alunos, além de contribuir para enaltecer e
exercitar a cidadania dos mesmos na medida em que oferece a possibilidade deles trocarem
conhecimento com a comunidade, assim, trazendo benefícios a ambos. Além disso, estimula o
aprendizado, a capacidade de solucionar problemas práticos, a consolidação dos conceitos e
conhecimentos adquiridos, e a valorização da integração com a sociedade (THIOLLENT, 2002).
Seguindo essa visão surge o NEATS – Núcleo de Agroecologia e Tecnologias Sociais, um
projeto de extensão desenvolvido por alunos de engenharia e de outros cursos, num âmbito
interdisciplinar. Este projeto apoia-se na troca de experiências aonde o conhecimento se estrutura
com outras esferas de conhecimento, assim criando oportunidades tanto do ponto de vista
profissional quanto de cidadania. O engenheiro neste núcleo aprende sobre outras práticas e
outras profissões o que vai ampliar o conhecimento humano dele, fator que tem impacto direto na
sua formação.
O desenvolvimento destas práticas ocorre no Escritório Piloto, espaço que abriga grupos de
extensão na Escola Politécnica, o qual busca por meio da aplicação de conceitos e aprendizados
de engenharia uma inserção do aluno no contexto social assim como prática de extensão
universitária. O NEATS desenvolve atividades diversas, desde o estudo, formação acadêmica e
tecnológica, a prática e a discussão. O núcleo também acredita na importância do programa
Aprender com Cultura e Extensão, pois incentiva a prática de atividades extra-universitárias
permitindo que haja um canal institucional entre a universidade e as demandas sociais.
O objetivo do trabalho desenvolvido consistiu em aplicar, na prática, conhecimentos de
engenharia, produção, agroecologia, irrigação e arquitetura na viabilização e sofisticação da
produção agrícola e da reprodução material do assentamento Dom Pedro Casaldáliga, localizado
no município de Cajamar, dentro da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP). O
assentamento abriga 20 famílias que tiveram recentemente acesso à terra, vivem da produção de
subsistência familiar, não extrativista, e sustentável (sem utilização de agrotóxicos). Os produtos
principais são hortaliça, porém devido às dificuldades de crédito agrícola, de energia, de água
para irrigação, mercado, questões de transporte e de produção, eles enfrentam dificuldades para
manterem-se produzindo na terra, por isso, muitos jovens buscam empregos mal remunerados na
cidade.
A proposta envolveu o dimensionamento de um sistema de irrigação e medidas de manejo
sustentável da área levando em conta as características físicas da região (mananciais hídricos,
qualidade da água, relevo, culturas), bem como as características sociais e culturais dos
assentados (vocação para agricultura, sistema de produção, hábitos alimentares, sistema de
produção agrícola familiar, e outras), fornecendo assim condições adequadas de uso da terra.
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Muitas áreas rurais existentes na RMSP enfrentam restrições jurídicas e adversidades
operacionais para desenvolver atividades agrícolas. Com o intuito de apresentar alternativas para
auxiliar a solução desses problemas, o grupo acredita que o primeiro passo para solucionar os
embargos burocráticos (falta de água para abastecimento da população, limitações para uso de
energia elétrica, inexistência de projeto para viabilizar crédito para a produção, dificuldades de
escoamento da produção, etc.) é desenvolver um planejamento de uso do solo e da água
indicando metodologias sustentáveis de produção (ALTIERI, 1989). Essa atuação reflete
diretamente na melhoria da qualidade de vida de quem é assistido no campo e indiretamente na
vida da cidade aonde se busca o impacto sobre o preço do alimento, que é muito elevado na
capital (NEVES et al., 2000).
Por meio de conceitos aprendidos em um conjunto de disciplinas do curso de graduação da
universidade, os alunos poderão contribuir para a solução dos citados problemas, por exemplo, no
aumento da eficiência do abastecimento de água para irrigação e aumento da produção agrícola
familiar. É importante destacar que todas as atividades foram desenvolvidas em parceria com as
famílias, e não imposta a elas, buscando assim uma interação na qual se estabeleça um
aprendizado em mão dupla, tanto dos alunos quanto dos assentados (ALTIERI, 2010). Dessa
forma, o projeto terá continuidade e o conhecimento será construído multilateralmente, trazendo
uma compreensão holística da questão (CAPORAL; COSTABEBER; PAULUS, 2006).
2. Objetivo
O objetivo deste trabalho consiste em aplicar, na prática, conhecimentos de engenharia na
viabilização da produção agrícola do assentamento Dom Pedro Casaldáliga. A proposta envolveu
o dimensionamento de um sistema de irrigação e medidas de manejo sustentável da área levando
em conta as características físicas da região bem como as características sociais e culturais dos
assentados fornecendo assim condições adequadas de uso da terra. O escopo do trabalho
restringe-se a área de 20 hectares nas quais se concentram as famílias do assentamento.
Para cumprir esse objetivo conduziu-se uma série de atividades de construção de
infraestrutura, levantamento de dados dentre outras. Foram as seguintes atividades propostas:
1. Estudo do terreno: levantamento topográfico da região;
2. Estudo da bacia hidrográfica da região;
3. Estudo da vegetação;
4. Elaboração do plano de manejo;
5. Elaboração do projeto de irrigação:
6. Construção da rede de abastecimento;
7. Entrega do plano de manejo para a prefeitura;
8. Plano de manutenção;
9. Documentação das atividades.
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3. Metodologia
O NEATS pauta que um projeto de engenharia deve ter como fundamento a viabilidade do
projeto em relação às condições e a integração com a população do local. O trabalho foi
desenvolvido no Assentamento Dom Pedro Casaldáliga devido à maior proximidade e facilidade
de comunicação com os assentados. Buscou-se que, tanto o planejamento quanto a execução do
projeto fossem feitos conjuntamente por todas as partes, de modo que se aproveitasse a
experiência e o conhecimento tanto do projetista quanto do executor da obra (CAPORAL;
COSTABEBER; PAULUS, 2006). Assim, não houvesse separação entre as etapas de construção
e que o planejamento fosse coerente com o andamento da obra. Entende-se que quando o
planejamento e a execução são feitos juntos há um aprimoramento do projeto que se baseia na
realidade material do canteiro de obras.
Além disso, foi com esse intuito que desenvolver práticas e tecnologias que se adequam à
visão da realidade social que foi adotado na construção da casa da bomba, onde foram utilizados
materiais disponíveis no assentamento como o tijolo baiano. A técnica de construção utilizada foi
proposta pelos assentados que tinham grande experiência na construção civil. A obra foi
conduzida em mutirões autogestinados em que as decisões foram tomadas coletivamente cabendo
a noção participativa da extensão (THIOLLENT, 2002).
O formato da casa da bomba foi um desafio do ponto de vista arquitetônico visto que
necessitava proteger a bomba hidráulica e usar prioritariamente os tijolos baianos. Levou-se em
consideração que a estrutura ficaria em um campo aberto e que deveria isolar o equipamento de
crianças, animais e pessoas de fora do assentamento. A solução encontrada foi a abóboda visto
que este tipo de estrutura suporta uma maior tensão por não apresentar cantos vivos, como por
exemplo em uma estrutura retangular que apresentaria risco caso fosse a solução adotada.
Entende-se que este trabalho é uma prática de extensão universitária, pois a partir da
interação com a comunidade, é possível estabelecer vínculos efetivos da universidade com a
sociedade, pois, sendo a USP uma universidade pública, ela deve ser um dos mecanismos de
transformação social, e dentro deste contexto, uma atividade conjunta a movimentos sociais
contempla esta meta, bem como promove aos alunos uma maior visão da realidade social e dos
desafios que nossa sociedade enfrenta. Isto é um dos objetivos da extensão, transformar a
universidade em um espaço de aprendizado interdisciplinar, teórico e prático, em que o aluno
possa estar inserido nos problemas sociais e conseguir através da interface entre o conhecimento
universitário e popular, ferramentas para intervir nesse tipo de problema (THIOLLENT, 2002).
Encerrado o período deste programa, não foi possível atingir os seguintes objetivos:
- Adaptação da Rede Elétrica;
- Censo Florestal; e
- Elaboração do Plano de Manejo.
No caso da rede elétrica, a bomba não se adequava a tensão da rede. A inadequação da rede
elétrica impede o funcionamento ótimo da bomba e a desgasta, o que impossibilitou o teste do
sistema.
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O Censo Florestal é uma atividade importante para dimensionar o impacto ambiental no
bioma. Contudo esta atividade é extensa e existia a demanda imediata do fornecimento de água
para irrigação. Dessa forma não se realizou o censo florestal.
Na etapa de dimensionamento do sistema, utilizou-se para o cálculo da vazão necessária de
irrigação a estimativa de uma produção de hortaliças, uma das culturas que mais demanda água.
Desta forma, o sistema está planejado para a vazão máxima necessária de água.
3.1 Localização
O assentamento Dom Pedro Casaldáliga com área total de 120 hectares e localiza-se na
cidade de Cajamar em uma área rural. O relevo é planáltico onde há presença de morros. Próximo
ao assentamento há uma área de preservação, e também plantações de eucalipto.
A cidade de Cajamar está localizada na Bacia Hidrográfica do Alto Tietê (Figura 1). A
cidade apresenta uma grande produtividade em seus poços que exploram o SAC (Sistema
Aquífero Cristalino) com vazão média de 2,79 m3/h, que supri totalmente o abastecimento de
água da região. A imagem de satélite da Figura 2 refere-se à região do assentamento. Nota-se
que esta região possui um lago que será a fonte de abastecimento para a irrigação no
assentamento, o qual é drenada por um manancial.
O clima na região é quente e temperado. Existe uma pluviosidade significativa ao longo do
ano em Cajamar. Mesmo o mês mais seco ainda assim tem muita pluviosidade. De acordo com a
Köppen e Geiger (1928) o clima é classificado como Cfb. A Figura 3 apresentam as médias
mensais de temperatura e precipitação de Cajamar. A temperatura média é 18.4 °C e a média
anual de pluviosidade é de 1356 mm. A diferença de precipitação entre o mês mais seco e o mês
mais chuvoso é de 196 mm é. A precipitação do mês mais seco (Agosto) é de 35 mm. A maioria
da precipitação ocorre no mês de Janeiro, com uma média de 231 mm.
Janeiro e Fevereiro são os meses mais quentes do ano com uma temperatura média de 21,4
°C. A temperatura média em Julho é de 14,9 °C, senda está a mais baixa. A variação entre a
temperatura média máxima e a mínima, durante o ano, é de 6,5 °C, conforme apresentado na
Tabela 1.
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Figura 1 - Hidrografia da bacia do Alto-tietê com dominialidade local (Fonte: fabhat.org)
Figura 2 - Assentamento Dom Pedro Casaldáliga. Fonte: Google Earth.
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Figura 3 – Temperatura e precipitação média mensal em Cajamar (Fonte: climate-date.org)
Tabela 1 - Tabela climática (Fonte: climate-date.org)
3.2 Inventários de uso e ocupação do solo
O assentamento possui ao todo 120 hectares de área, porém as 30 famílias que o ocupam se
concentram em 20 hectares visto que o restante se encontra embargado no aguardo do processo
de licenciamento ambiental. O sistema de abastecimento planejado busca abastecer a ocupação
atual, suprindo a demanda imediata das famílias, que possuem suprimento de água para o
consumo doméstico porém não para a produção agrícola.
Quanto ao sistema de abastecimento já existia uma rede implantada de canos conectando às
caixas d’água coletivas até a entrada do lote de cada família assentada. Todavia, devido a um
incêndio recente ocorrido antes deste projeto perto das caixas d’água coletivas, algumas
tubulações foram danificadas sendo necessário a verificação de seu estado e a substituição de
algumas peças.
No assentamento existe um sistema de bombeamento de água para os lotes voltado para o
consumo básico das famílias. Como a maioria dos lotes se localiza em cota elevada a prática de
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agricultura fica restrita visto que não há o fornecimento constante de água, dentre os assentados,
somente as famílias que moram em cota baixa conseguem praticar a agricultura. Conversando
com os assentados, elencou-se os principais produtos cultivados:
Fidel
Antônio
Moraes
Alcino
Rosa
Mandioca, milho, feijão
Mandioca, milho, feijão e frutas diversas
Hortaliças, mandioca e frutas diversas
Alface, abacaxi, banana e almeirão
Hortaliças, mandioca, feijão, batata doce e frutas diversas
Tabela 2 – Levantamento de produção
As maiores demandas hídricas provem da agricultura. A criação de animais não é
expressiva e consome um volume ínfimo de água em relação à agricultura. As principais culturas
são: alface, batata, feijão, milho, mandioca, banana.
Não foi possível realizar a instalação de tensiômetros com o intuito de se levantar dados
sobre a capacidade hídrica do solo. Este procedimento envolveria a produção deste equipamento
e a capacitação dos assentados para seu manuseio. Como não foi possível reunir recursos para a
aquisição e instalação dos tensiômetros optou-se por realizar a estimativa da demanda de água
por meio do coeficiente de cultura K (FAO, 2012) para as seis principais culturas, conforme
apresentado na Tabela 3.
Cultura
Coeficiente (K)
Banana
1.2-1.35
Feijão
1.15
Batata
1.1
Milho
1.25
Alface
1.00
Mandioca
0.8
Tabela 3 – Coeficiente K para as principais culturas (FAO, 2012)
Considerando que o coeficiente K representa a relação entre a cultura e sua resistência à
falta de agua (Tabela 4), observa-se que das seis culturas principais apenas a mandioca apresenta
K < 1 indicando que somente ela é tolerante à seca.
K>1
K=1
K<1
Mais sensível a falta de agua, perdas grandes de produção
Perdas variam diretamente proporcional a diminuição na agua
Mais tolerante a falta de agua
Tabela 4 – Indicações coeficiente K. (FAO, 2012)
3.3 Descrição do sistema
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Na realização deste trabalho o processo de construção pode ser dividido em três momentos:
1) as reuniões semanais do grupo NEATS, 2) o cotidiano dos assentados, e 3) os mutirões
coletivos de trabalho. As três instancias de trabalho estão interligadas e são interdependentes.
Contudo, o grupo NEATS participou das reuniões e dos mutirões coletivos. O cotidiano dos
assentados corresponderia para os residentes ao que o grupo desenvolvia nas reuniões semanais,
ou seja, discussão e encaminhamentos necessários emergentes do último mutirão e demandas
para o próximo. Geralmente neste momento os assentados terminavam etapas pontuais da
construção ou aceleravam processos que levavam tempo.
O NEATS como grupo interdisciplinar é composto por alunos de vários cursos, como
arquitetura, engenharia ambiental, civil, produção e naval, letras, ciências sociais e geografia. As
reuniões semanais tinham como objetivo discutir os encaminhamentos para o mutirão, por
exemplo, a necessidade de compra de material, a pesquisa de técnicas de construção, a busca por
auxílio científico com os professores entre outros. Também era objeto dessas reuniões a
discussões de práticas alternativas com um viés humanístico e holístico – as práticas
agroecológicas – norteadoras deste trabalho (por exemplo, estudo de técnicas alternativas, em
adobe, e de práticas de irrigação e hidráulico, e uso da água.) (CAPORAL; COSTABEBER;
PAULUS, 2006).
Os mutirões eram marcados de acordo com a disponibilidade mútua entre os alunos e os
moradores. Agendados para fins de semana, eles tinham pautas específicas acordadas entre
ambas as partes previamente, sendo assim, o mutirão era pontual evitando o desperdício da força
de trabalho. Em todas as etapas do projeto se utilizava o modelo autogestionário, em que não
havia hierarquia nas decisões nem divisão de quem planeja e de quem executa.
A construção da casa da bomba foi um processo que levou várias etapas. Primeiramente, foi
escavado um buraco com diâmetro de 1 m e profundidade de 2 m além de uma vala até o lago
com comprimento de 20 m e profundidade de 1 m (Figura 4). Após a escavação feita
coletivamente e somente com pá e enxada, foi iniciada a construção da obra assentando-se os
tijolos baianos em um formato circular usando cimento (Figura 5). Após ter concluída a parede
circulares da casa da bomba optou-se por construir a cobertura no formato de abóboda. Finalizada
a parte de construção do teto que teve o conhecimento em construção dos assentados como
grande facilitadora foi construída a porta da casa de bomba, feita a partir de uma porta antiga,
cortando-se no tamanho apropriado e cobrindo-a com cimento. A casa da bomba ficou como
representado na Figura 6.
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Figura 4 - Escavação do buraco (lado esquerdo) e da vala (lado direto).
Figura 5 – Construção da casa da bomba (lado esquerdo) e o canteiro da obra (lado
direito).
Figura 6 - Desenho esquemático da casa da bomba.
Após o término da casa da bomba, percorremos todos os canos até a caixa d’água de 5000
L que já estavam feitos e a caixa d’água instalada, a fim de ver se tinha algum defeito no
encanamento. Após percorrer todos os canos, e trocando o que foi necessário para o
funcionamento do sistema, foi instalada a tubulação de sucção da bomba até o lago. O cano que
estava dentro do lago foi colocado dentro de um tambor que furado em toda a sua superfície e
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afundado com o uso de brita. Assim, o tambor pode realizar a função de proteger a entrada do
tubo contra impurezas.
Com o encanamento finalizado, foi realizada a instalação elétrica da bomba, colocando
chave de proteção e relé de sobrecarga. Assim iniciou-se o processo de instalação da bomba. A
bomba instalada é uma bomba centrífuga da Schneider modelo ME-AL 24150 15 T 60 4V.
Dentro da casa da bomba em cima de um pequeno platô, foi chumbada a bomba e colocados
coxins a fim de não danificar a bomba devido à vibração. Depois, foi executado o processo da
escorva da bomba que consistiu em colocar água na tubulação desde o pesqueiro até a bomba.
Um dos fatores definidores das dimensões do projeto é a bomba hidráulica, que foi doada
ao assentamento por uma igreja, sendo essa acompanhada de seu manual de instalação e operação
além dos dados operacionais, por meio dos quais foi possível dimensionar o sistema de
abastecimento. O sistema dimensionado ficou assim:
A bomba apresenta uma curva característica (Gráfico 1), que simboliza a capacidade de
bombeamento em relação à altura manométrica requerida, ou seja, qual é a vazão que a bomba
consegue elevar considerando que a água deve vencer uma potência mínima. Esta potência é
chamada de carga total e representa a soma entre a altura de projeto (diferença de cota entre o
ponto de captação de água e o ponto onde está instalada a caixa d’água) e as perdas localizadas
(em cotovelos, na própria bomba, etc.). O projeto apresenta uma curva com os mesmos eixos da
curva da bomba (Gráfico 2), porém esta segunda curva tem concavidade positiva e representa a
carga necessária para bombear uma certa vazão de água.
Percebe-se que o projeto é viável quando se sobrepõem as duas curvas num mesmo gráfico
(Gráfico 3) e estas se interceptam num ponto, conhecido como ponto de projeto, instância ideal
para a instalação e operação do sistema. Porém, pode-se operar o sistema em qualquer ponto a
esquerda do ponto de projeto, o que significa que a bomba consegue suprir mais vazão do que a
requerida pela demanda.
Outro fator importante no dimensionamento da bomba é a NSPH: Energia Disponível no
Líquido na Entrada da Bomba, que designa a energia disponível da sucção. O sistema é funcional
quando a energia disponível (NSPHD) é maior ou igual que a energia requerida (NSPHr)
(AZEVEDDO NETTO, 1998). Conforme indicado no Gráfico 4 a bomba funciona dentro do
requerimento técnico.
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Gráfico 1 – Curva Característica da Instalação (CCI)
Gráfico 2 – Curva Característica da Bomba (CCB)
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Gráfico 3 – Sobreposição das curvas características da instalação (CCI) e da
bomba (CCB)
Gráfico 4 – Relação da cavitação necessária NSPHr e a de projeto NSPHD
4. Resultados
Surgiram imprevistos e dificuldades que afetaram o planejamento e os objetivos iniciais
conforme o projeto foi avançando:
-Percorrer a rede de abastecimento trocando os canos danificados entre a caixa d’água e a
bomba. Envolveu desenterrar alguns canos e aterrá-los novamente posteriormente.
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-Dificuldades na construção da casa da bomba, a técnica de construção em abóboda teve
que ser estudada a fundo e os mutirões dependeram da presença de alunos da FAU e do Sr. Fidel,
possuidor de experiência na construção de fornos de pizza os quais se assemelham ao formato da
casa da bomba.
-A rede elétrica apresentava voltagem inferior ao motor elétrico da bomba, o projeto ficou
atravancado até o conserto da rede por um eletricista.
-Mau funcionamento da bomba que impossibilitou o funcionamento do sistema de
bombeamento.
Após o fim do ano de trabalho, o grupo conseguiu alcançar os seguintes objetivos:
 Estudo do terreno
 Elaboração do projeto de irrigação
 Documentação: registro de todas as atividades desenvolvidas, através de fotos, vídeos
e relatórios periódicos.
 Construção da rede de abastecimento
 Estudo da bacia hidrográfica da região
 Avaliar a qualidade da água e sua potabilidade.
 Estudo do ciclo hidrológico da bacia e de sua série histórica de vazões, possibilitando
a elaboração de cenários futuros;
 Plano de manutenção: acompanhamento da comunidade após a execução das
atividades, bem como a avaliação dos resultados obtidos e o cumprimento das metas e
objetivos traçados.
 Levantamento das principais espécies cultivadas e suas características.
A Figura 7 mostra os resultados obtidos. Contudo, após um ano de trabalho não foi
possível atingir todos os objetivos propostos. Apesar do planejamento prévio, surgiram
imprevistos em campo que estavam longe do escopo deste trabalho e sobre os quais não
se conheciam meios de se solucionar o problema. Os objetivos não alcançados são os
seguintes:
 Adaptação da rede elétrica
 Estudo da vegetação
 Elaboração do plano de manejo
Figura 7 – Plantação (lado esquerdo) e casa da bomba finalizada (lado direito).
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5. Conclusões
Devido aos problemas relatados, a bomba ainda não está em funcionamento – somente as
famílias residentes em cotas mais inferiores e próximas ao pesqueiro conseguem manter uma
produção estável. Solucionados estes problemas, será possível que o assentamento torne-se
produtor de alimentos orgânicos e passe a fornece-los a escolas públicas, conforme estabelecido
no Programa Nacional de Alimentação Escolar, e a outros consumidores. Foi possível perceber
em campo a falta de assistência técnica rural (AGRA; SANTOS, 2001), que deveria auxiliar os
pequenos produtores na consolidação da produção, neste caso, assentados e universitários
somaram forças para solucionar os problemas e implementarem o projeto.
Finalizado o período do programa, o projeto obteve sucesso em encaminhar a estruturação do
assentamento como zona produtora alimentícia e contribuindo com a produção de alimentos de
altíssima qualidade em uma zona de interesse social. Porém, o trabalho apresenta suas limitações
conforme foram apresentadas anteriormente, o projeto para o Dom Pedro Casaldáliga não se
encerra com o fim do programa Aprender com Cultura e Extensão, novas demandas surgiram
durante o trabalho assim como novas possibilidades de atuação em outros contextos surgem a
partir do momento em que se configura um projeto de extensão de sucesso.
A partir desta experiência o grupo NEATS reconhece a importância do programa Aprender
com Cultura e Extensão como via institucional de incentivo e fomento a extensão universitária,
cobrindo um déficit existente na falta de financiamento de grupos de extensão. Além da
instalação de infraestrutura, este projeto contribuiu para a formação dos membros do grupo, a
partir da experiência prática aliando os conhecimentos teóricos com a realidade material. Existem
muitas demandas in-loco e em outras realidades, o grupo pretende replicar estes aprendizados
nessas outras instâncias, desta forma, alcança-se o objetivo da universidade pública e da extensão
universitária: promover a transformação social (THIOLLENT, 2002).
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6. Bibliografia
AGRA, N. G.; SANTOS, R. F. d. Agricultura brasileira: situação atual e perspectivas de
desenvolvimento. Anais do XXXIX Congresso da Sociedade Brasileira de Economia e
Sociologia Rural. Recife, 2001
ALTIERI, M. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. Rio de Janeiro:
PTA/FASE, 1989. 240p.
ALTIERI, M. Agroecologia, agricultura camponesa e soberania alimentar. Revista Neri,
Presidente Prudente, ano 13, n.16, p. 22-32, jan./jul. 2010.
AZEVEDO NETTO, J.M. et al. Manual de Hidráulica. São Paulo: Edgard Blucher, 8ed., 1998.
669p.
CAPORAL, F.R.; COSTABEBER J.A.; PAULUS G. Agroecologia: Matriz disciplinar ou novo
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KÖPPEN, W.; GEIGER, R. Klimate der Erde. Gotha: Verlag Justus Perthes. 1928
NEVES, M. C. P.; MEDEIROS, C. A. B.; ALMEIDA, D. L. de; DE-POLLI, H.; RODRIGUES,
H. R.; GUERRA, J. G. M.; NUNES, M. U. C.; CARDOSO, M. O.; RICCI, M. S. dos F.;
SAMINÊZ, T. C. O. Agricultura orgânica: instrumento para sustentabilidade dos sistemas
de produção e valorização de produtos agropecuários. Seropédica: Embrapa Agrobiologia,
dez. 2000. 22p. (Embrapa Agrobiologia. Documentos, 122)
THIOLLENT, M. Construção do Conhecimento e Metodologia da Extensão. In: CBEU –
CONGRESSO BRASILEIRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA, 1, 2002, João Pessoa.
Anais...
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Relatório Agroecologia versão Final_12032015