CELD
10º EEMEDIUNIDADE – 2003
A INFLUÊNCIA MORAL DO MÉDIUM II
Aulas de Fátima Ventura
Tema: Carta aos Hebreus
23/11/2002
Esta carta aos hebreus foi escrita no ano de 61 depois de Cristo. Nesta época, Paulo é prisioneiro
em Roma e a carta não é aceita como sendo de Paulo, é recusada tanto por teólogo católicos, quanto
protestantes, que alegam ser um estilo diferente do de Paulo, tanto o estilo lingüístico quanto a forma de
organizar o conteúdo; supõem que seria de um discípulo de Paulo. Por ter um conteúdo bom, entrou no
plano da Igreja, mas não é aceita.
Emmanuel, no livro Paulo e Estevão diz que a carta aos hebreus é de Paulo, e que foi escrita de
próprio punho, entre lágrimas, ao contrário de outras escritas por outra pessoa e que o autor assinava. Este
era um costume da Antigüidade. Nas cartas de Paulo, normalmente, Tito e Timóteo sempre estavam por
perto, pois Paulo dizia que se ele não estivesse no tônus, um deles estaria.
O companheiro que recebeu a carta, o primeiro a ler para fazer a cópia, observou o estilo incomum,
pois aquela carta era para os companheiros do judaísmo.
Vamos estudar a parábola do Semeador (E.S.E. 17:5) - “Sede Perfeitos”.
A palavra, que é a semente, vem para todos; não foi escolhido o solo, todos a recebem. Num
primeiro momento, a semente cai e é levada pelos pássaros, ou seja, quem escuta e não lhe dá atenção. Nós
ouvimos as mensagens e não prestamos atenção e nossa própria inferioridade faz com que a semente se
perca; ela é levada, não produz nada dentro de cada um de nós.
O que recebe em meio às pedras... Na casa espírita encontramos verdades inegáveis ( reencarnação,
fenômeno mediúnico... ), a alegria nos toma, escolhemos várias frentes de trabalho etc. Mas, ao chegar as
primeiras dificuldades, abandonamos tudo, pois não tinha profundidade no solo. E quantas vezes o nosso
conhecimento diante das mensagens superiores não saem da superfície? Como vamos produzir
mediunicamente se viemos com o pensamento de que temos que cumprir uma obrigação, “bater o ponto”?
Isto porque os nossos conhecimentos não têm profundidade, não crescem.
Essas primeiras dificuldades nem sempre são de trabalho ou familiar; às vezes são da própria casa
espírita: “O fulano falou isto de mim, fez este comentário do meu trabalho”. Chegou a primeira
dificuldade, vai embora. Aquele que recebeu entre espinheiros... Este solo já tem profundidade, não é um
Espírito iniciante, tanto que os espinheiros cresceram nele, outra planta também poderia crescer. Por que
não cresceu? Porque nos deixamos levar pelas ilusões: ilusão de que tenho que possuir ter, fazer. O que é a
medida das coisas e o que é a ilusão?
Este solo não negou a palavra. O solo anterior, que era o da superfície, também não negou a
palavra, ele recebeu; só que a semente não cresceu. Nós não negamos Jesus, mas até que ponto nós somos
aquele solo, que recebe a palavra e produz? O que aceitou realmente a necessidade de seguir os
ensinamentos cristãos?
Aquele que recebe a semente em boa terra... Por que os resultados são diferentes: 60, 30...? Porque
estamos em fases diferentes. Vamos produzir algo, se temos boa vontade, espírito de serviço e fé. O que
tem mais recursos, mais experiência, vai produzir100 por um; o outro, 60, 50, mas vai produzir também.
Quando Paulo começa a chamar a atenção dos hebreus, ele o faz porque era um povo que não
aceitava Jesus. E nós vamos nos perguntar até que ponto nós estamos aceitando Jesus como roteiro de
vida, como orientação para nossos passos?
Utilizaremos alguns trechos da carta. No capítulo 1:11, Paulo diz aos hebreus que Jesus estava
acima dos anjos (bons Espíritos), pois os anjos trocarão vestimentas (= progresso espiritual ). Paulo coloca
que Jesus fez todo o caminho evolutivo, não tem mais o que aperfeiçoar. Mas nós temos um
aperfeiçoamento relativo a alcançar e os anjos são esses bons Espíritos que nos acompanham. Jesus está
acima deles. Os anjos são Espíritos servidores, enviados ao serviço dos que devem herdar a salvação.
Nós, às vezes, queremos ouvir algo, que não o que a doutrina ou Jesus nos diz. Ouvimos de
companheiros que dão passes “estranhos” que foi o guia que mandou. O que o guia mandou está de acordo
com Kardec, com a Doutrina Espírita, com Jesus? Se não estiver de acordo, esse Espírito ainda vai “trocar
de roupa” muitas vezes, ainda vai caminhar. Ele diz o que acredita, mas a verdade é que a Doutrina, Jesus,
está acima dele. Se o Espírito que nos aconselha estiver em contradição com Jesus ou a Doutrina Espírita,
temos que questionar que Espírito é esse que está nos acompanhando. É hora de pensarmos que temos que
estudar um pouco mais, para que ele também possa estudar conosco. É um erro aceitarmos as “coisas” do
nosso guia se o comportamento e as idéias não condizem com a Doutrina Espírita, nem com Jesus. O que
Paulo disse aos hebreus serve para nós. Temos que atentar para a transitoriedade da vida, da condição
humana e desses Espíritos, que sendo Bons Espíritos, nos acompanham, mas não se ofendem com a nossa
intenção de caminhar de acordo com Jesus e a Doutrina Espírita; bom Espírito não se ofende com isto.
Emmanuel no livro “Caminho, Verdade e Vida”, lição 72, nos diz: “Valei-vos de todas ocasiões de
serviço com sagradas oportunidades na marcha divina para Deus”, ou seja, esta vida é transitória e toda a
oportunidade de serviço significa possibilidade de dar mais um passo nesta escalada para Deus e para
Jesus. Isto serve para avaliarmos a transitoriedade de nossas vidas e da perenidade do Cristo.
No capítulo 2:2, Paulo nos diz: “Se a palavra promulgada por anjos entrou em vigor, e
qualquer transgressão e desobediência recebeu justa retribuição, como escaparemos nós, se
negligenciarmos tão grande salvação? Esta começou a ser anunciada pelo Senhor. Depois, foi-nos
fielmente transmitida pelos que ouviram, testemunhando Deus juntamente com eles”. Paulo está
dizendo que a palavra promulgada pelos anjos entrou em vigor e a transgressão trouxe o sofrimento dos
profetas que orientaram aquele povo. A atitude do povo, que muitas vezes não aceitou as orientações,
também teve como conseqüência o sofrimento. É a lei de ação e reação. A não aceitação da orientação do
Cristo será muito mais séria. Ele é o governador do Planeta; nos trouxe a palavra, exemplo e sacrifício da
própria vida; vindo e passando, aqui na Terra, por todas as dificuldades para nos ensinar o caminho certo.
Se nós negamos essa oportunidade de salvação...
Balthazar nos diz numa orientação para o Encontro de Jesus que temos que fazer uma ressalva na
palavra salvação, que para nós deve representar recuperação, para não entramos no conceito de que basta
aceitar Jesus para ser salvo. Temos que ter a certeza de que Jesus é o nosso Mestre, e que devemos seguir
suas orientações para sermos bem sucedidos, aprendermos para nos recuperarmos. Isto é trabalho, e Paulo
é exemplo de trabalho, como também, de dedicação e sacrifício em todo momento. Isto é mais do que
termos um profeta nos orientando. “Muito se pedirá àquele a quem muito se houver dado e maiores contas
serão tomadas àquele a quem mais coisas se haja confiado” (Lc 12:48). Uma situação era cobrar de um
judeu que ele seguisse a lei de Deus, ao ouvir um Profeta; mais sério será seguir a Jesus; o exemplo é
maior; o amor é maior, a dedicação é maior. Nós recebemos mais do que os judeus, logo, mais será
cobrado de nós. Na condição de espíritas, depois de termos escutado os profetas e Jesus, temos a Doutrina
Espírita nos ajudando a entender os ensinamentos do Cristo, portanto, recebemos mais.
No livro Paulo e Estêvão (pág. 254), Paulo nos passa uma lição de que deveríamos receber “todo
o trabalho como um bem, toda necessidade como elemento de ensino”. Quando recebemos muito
trabalho, não devemos reclamar.
Paulo nos ensina que, quando falhamos, quando a transgressão é por nossa vontade, nossa
consciência nos cobra, pois é algo que podíamos ter feito e não fizemos. Ele não fala de ignorância, mas,
sim, de desobediência, negligência; não é o caso de quem não sabe.
Paulo fala para quem sabe o que está fazendo, para quem tem a terra boa. Se o espinheiro cresceu, é
porque também dava para crescer a planta boa; é a negligência, descuido, desobediência. Nós, que estamos
na Casa Espírita, com a Doutrina Espírita, com os estudos, com os Espíritos nos lembrando, é negligência,
tem outro peso; é diferente da pessoa que está fora da Casa Espírita e ignora a mediunidade e esses
conhecimentos. Há a necessidade de assumirmos o que estamos aprendendo para fazermos o melhor.
Na primeira parte ele coloca Jesus acima dos anjos. Num outro ponto, ele nos fala de Jesus como
Sacerdote fiel e misericordioso. O sumo sacerdote dos judeus era um religioso, chefe dos sacerdotes e só
ele dispunha da prerrogativa de entrar no último reduto do Templo de Jerusalém. O Templo de Jerusalém
possuía várias divisões. As divisões exteriores eram consideradas mais impuras; quanto mais se caminhava
para o núcleo do Templo, maior era a pureza, na crença dos judeus. Os gentios, estrangeiros, só podiam
ficar num pátio externo. As mulheres podiam ir até um pouco mais; numa outra divisão, entravam homens
e meninos; numa outra, entravam os sacerdotes e na última divisão só entrava o sumo sacerdote, porque
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era considerado uma revelação da divindade, era considerado o mais puro. Por isso, Paulo coloca Jesus
acima do sumo sacerdote, como fiel e misericordioso.
“Considerai atentamente a Jesus. Ele é fiel a quem o constituiu” (Hb 3:1-2 ), A palavra fiel é
um ponto básico da carta. Paulo, na própria vida, teve essa qualidade – fidelidade a Jesus, a todo custo e a
todo preço. Ele nos fala na importância da fidelidade em nossas vidas (Senhor, que queres que eu faça?).
Emmanuel nos diz que Paulo viveu decênios de lutas constantes, sem tréguas. Dedicação e fidelidade.
Confiança, fé e esperança – temos que ter certeza do que estamos fazendo aqui, de que Jesus é o
caminho e, neste instante, temos que começar a trabalhar de maneira produtiva para sermos casa de Deus,
templo vivo de Espíritos que vão ter confiança e esperança em nós, para não titubearmos: num momento,
sigo os ensinamentos e, em outro, quero aproveitar a vida como o geral das pessoas.
Normalmente, nos dias de trabalho mediúnico, nos preocupamos com o nosso pensamento, atitudes
etc, mas o certo seria exercermos este comportamento sempre. Exemplo: dia de cura é todo dia, diante da
criança na escola com dor de cabeça; no ônibus, quando alguém começa a desabafar suas dificuldades
conosco; na família, perante alguma dificuldade... mediunidade é sempre: fazer comida com amor... Como
nos diz Paulo: firme até o fim, em todo o momento. Certeza no amparo de Jesus e do plano espiritual para
construirmos um amanhã melhor para nós, sem desânimo, pois o desânimo corta esta ligação com o plano
maior.
No livro Paulo e Estevão (pág. 441), João, o Evangelista, comenta: “És feliz, Paulo, porque
entendeste o programa de Jesus a teu respeito”. Passou por várias dificuldades, açoitado, caluniado,
recusado etc, mas era feliz. Até que ponto nós estamos entendendo o programa de Jesus a nosso respeito?
Temos fé?
Na introdução de Paulo e Estevão, Emmanuel diz que quando alegamos não saber do programa que
temos a realizar é porque existe ignorância, desatenção e muito capricho pernicioso. Desatenção aos
convites constantes de Deus, dos Espíritos, da mediunidade, para o trabalho. Agimos como aqueles que
ouviram a palavra e não deram atenção e os pássaros levaram a semente. Capricho pernicioso, porque
queremos fazer o que queremos e da forma que queremos; achamos que a orientação do nosso grupo de
trabalho não é a correta. Queremos tudo ao nosso modo. Trabalhos que aparecem... Em Atos dos
Apóstolos, fala-se que Paulo nunca ocupava os primeiros lugares. Queremos ser o executor do trabalho
que não aparece? Aceitamos a crítica feita à nossa tarefa para observarmos se é válida ou não? Devemos
ser fiéis às nossas tarefas, ao que Deus ou Jesus nos determinou. Tenho a mediunidade de cura para quê?
Para escolher com quem vou trabalhar? Não importa onde estejamos, igreja carismática, casa espírita... A
importância está na fidelidade ao trabalho. Críticas, observações, defeitos em excesso, é porque não
estamos querendo assumir a nossa parte no serviço. Isto é para nos auto-avaliarmos. Emmanuel continua
dizendo: “todos os homens menos rudes têm a sua convocação pessoal ao serviço do Cristo” (Paulo e
Estêvão – Breve Notícia). Convocação pessoal, ou seja, você vai fazer isto ou aquilo... podemos até não ter
pedido, mas fomos avisados e dissemos sim, em algum momento, considerando aquela tarefa necessária
em nossa existência.
Mais adiante, no cap. III, Paulo faz uma referência ao Êxodo. Os judeus foram para o Egito
voluntariamente, porém, mais tarde, foram feitos escravos e foi Moisés que os trouxe de volta à Palestina.
Fizeram um caminho muito longo, orientados, com certeza, pelos Espíritos responsáveis por aquele povo.
Como estavam fugindo, evitaram o caminho menor. Foram 40 anos de viagem e, durante esse tempo,
houve uma renovação naquele povo. Quanta doutrinação Moisés não fez àquele povo, mostrando que a
superstição era falsa, que a crença nos vários deuses não era correta, que eles tinham um Deus único, que
iriam para a Terra Prometida? Foi uma doutrinação intensa, contrária às idéias egípcias, para que as mentes
fossem preparadas e, mesmo assim, eles adoraram o Bezerro de Ouro. Observamos que a idéia estava
encrostada em suas mentes.
As dificuldades eram grandes: ser escravo no Egito, trabalhava-se de sol a sol, na maioria das
vezes, sob um autoritarismo, sem direito de cuidar de sua saúde, de sua família, sem direito ao lazer,
estava-se a serviço de alguém que cobrava o que queria do escravo, com direito de vida e morte sobre o
mesmo. Nossa vida hoje é muito boa em relação à escravidão. Viajar 40 anos também foi difícil, pois a
Península do Sinai é uma área desértica. Era muita dor e dificuldades.
Paulo falando aos hebreus sobre esse episódio, faz uma citação do Espírito Santo, ou seja, de Deus,
junto àquele povo na dificuldade da viagem pela Península. Ele diz: “Pelo que me indignei contra essa
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geração e afirmei: sempre se enganam no coração, e desconhecem os meus caminhos” (Hb 3:10). Era
a geração de judeus e hebreus que estavam fazendo a viagem pelo caminho do Sinai.
Essa mensagem é do Espírito que guiava aquele povo, naquela época, através da mediunidade de
Moisés. Paulo nos traz esse exemplo, pois não aceitamos os caminhos que Deus nos traça.
Paulo continua dizendo: “Vede, irmãos, que não haja entre vós quem tenha coração mau e
infiel que se afaste do Deus vivo. Exortai-vos, antes, uns aos outros, dia após dia, enquanto ainda se
disser hoje, para que ninguém de vós se endureça, seduzido pelo pecado. Pois nos tornamos
companheiros de Cristo, contanto que mantenhamos até o fim a nossa confiança inicial” (Hb 3:1118). E se reportando aos viajantes do Sinai, em Êxodo: “Foi por causa da sua incredulidade que não
puderam entrar”. Por que eles não chegaram na Terra Prometida? Por causa da sua incredulidade, porque
endureceram o coração, não aceitaram a vontade de Deus a respeito de suas vidas. Paulo aborda esta
situação para falar aos hebreus que não façam a mesma coisa, que não haja entre eles coração mau e infiel
à vontade de Deus. Nesta carta, ele nos chama a atenção, todo o tempo, para a questão da fidelidade e da
fé. Por quê? Porque é a incredulidade que não nos deixa entrar na “terra prometida”.
Devemos avaliar o quanto foi cobrado deles naquela época: eles teriam que ter fé para superar o
cativeiro no Egito e fé pra viajar 40 anos pelo deserto, sem duvidar que aquele Deus era bom, era o Deus
deles e os guiaria à Terra Prometida. Devemos refletir diante das nossas dificuldades quando dizemos:
“Senhor, o que fiz para merecer isto?” Às vezes, o que chamamos de dificuldade é uma dúvida: será que
Deus é bom realmente comigo?
Paulo é enérgico e os Espíritos que guiaram aquele povo também. Foi pela incredulidade que não
puderam entrar. E é pela nossa falta de fé que muitas vezes não conseguimos fazer realizações, e também
não conseguimos entrar na felicidade da paz de consciência, que Paulo usa com a expressão: “Entrar no
repouso de Deus”. E esse repouso de Deus é a tranqüilidade da consciência, de ter cumprido o dever, de ter
feito a sua parte. É importante não endurecermos o coração diante das dificuldades e não nos desviarmos
do caminho por causa das dificuldades.
Na Carta, Paulo nos fala: “exortai-vos uns aos outros, dia após dia, enquanto se fizer hoje”. É o
tempo que muitos de nós deixamos passar. Temos vários recursos e oportunidades de trabalho e, às vezes,
deixamos passar por uma série de motivos. Devemos pensar na oportunidade do tempo hoje, pois não
sabemos se o teremos amanhã. Não sabemos que recursos nós teremos no futuro; hoje podemos fazer, mas
não sabemos o que a vida nos trará. Devemos aproveitar todas as oportunidades que a vida nos traz para
tirarmos o fruto necessário.
No livro Pão Nosso, lição 69, Emmanuel nos diz sobre o termo “exortai-vos”: “É para esse gênero
de testemunho diário (testemunho do exemplo) que o convertido de Damasco nos convoca”. Uns
exemplificando para os outros; uns amparando os outros, não necessariamente pela palavra, como
normalmente interpretamos a expressão, mas pelo exemplo; a palavra exorta, desde que acompanhada do
exemplo. Com o exemplo, vamos nos amparando, enquanto se faz hoje, para que possamos caminhar
juntos, porque juntos é mais fácil.
Paulo em sua primeira viagem estava com João Marcos, que o acompanhava. As dificuldades eram
grandes. Quando Paulo vê João Marcos afastar-se dele e de Barnabé, eles se despedem. Paulo diz para
João que ele não se esquecesse de que “a marcha para o Cristo é feita igualmente por fileiras. Todos
devemos chegar bem; entretanto, os que se desgarram têm que chegar bem, por conta própria”
(Paulo e Estevão, pág. 351). Enquanto estivermos aqui na casa espírita, na Doutrina Espírita, é mais fácil;
enquanto se fizer hoje, é mais fácil, porque o dia em que nós nos afastamos, um companheiro nos chama; o
dia em que deixamos nos levar por nossos problemas, o outro liga, reza para que nós voltemos ao trabalho.
O que fazemos neste instante é exortarmos uns aos outros e nos sustentarmos uns aos outros e irmos
juntos, caminhando na nossa fileira, com dificuldades, mas juntos.
Se dermos valor excessivo às nossas dificuldades e nos afastarmos, teremos que chegar por conta
própria. Se na fileira nós titubeamos e só retornamos o caminho por causa dos amigos, imaginemos se
ficarmos sozinhos, para trás! Temos que meditar bastante sobre esta oportunidade que estamos tendo e
que, às vezes, nos passa despercebida. Reencarnamos no Brasil, terra com dificuldades, mas onde cresce o
Espiritismo; uma pátria com uma série de valores que muitas vezes não avaliamos. Temos que lutar, mas
podemos dar conta das nossas lutas. Nós, mulheres, se nascêssemos no Oriente Médio, não teríamos muito
para fazer a não ser nos resignarmos ou obedecermos.
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Aqui, nós temos muitas facilidades. Estamos numa Casa Espírita séria, temos a Doutrina Espírita,
os Amigos Espirituais que nos dão orientação e nos guiam; amigos encarnados que nos sustentam , a
mediunidade que nos chama. Tudo para ficarmos no trilho, mas podemos nos desgarrar; é uma opção não
valorizarmos os recursos. Não devemos esquecer que temos mais facilidades que obstáculos. Devemos
valorizar as facilidades, não os obstáculos. Devemos agarrar as oportunidades com “unhas e dentes”.
Paulo diz que precisaria servir a Jesus por séculos e séculos e ainda assim não pagaria tudo o que
devia ao coração do Cristo. Espírito de Serviço, fidelidade, gratidão, dedicação. O amor do Cristo veio
chamá-lo e era muito grande. Paulo sabia dos erros que havia cometido e, na mente dele, precisaria
trabalhar séculos e não estaria quite.
Temos que meditar sobre esses ensinamentos; nós estamos recebendo tanto! O que estamos
devolvendo para a vida? Ainda estamos sendo pesados à economia divina? Segundo o nosso modo de ver,
por menor que seja a nossa mediunidade, devemos ser assíduos, pois não sabemos como as coisas
acontecem.
Certa vez, ao vir ao centro com uma forte dor de cabeça e fomos para o salão. A pessoa que deu o
passe não era antiga no centro, era alguém novo na Casa. Ao receber o passe, sentimos toda aquela camada
fluídica saindo, a dor de cabeça passou completamente. Isto é para vermos que não interessa o tipo de
mediunidade e sim a dedicação, a fé que vai nos levar a produzir e a nossa fidelidade.
Estêvão diz uma frase que Paulo repete várias vezes: “De nós nada temos, mas é justo esperar do
Cristo as dádivas que nos sejam necessárias” (Paulo e Estêvão, pág. 96). Fidelidade ao trabalho,
dedicação, espírito de serviço, teremos do Cristo o auxílio necessário. Quantos casos de cura nós não
vemos em nossa Casa? Vai haver a cura? Se houver a necessidade, com o espírito de serviço, dedicação e
fidelidade, vai ocorrer.
No livro Vinha de Luz, Emmanuel diz: “A carne, sobre muitos aspectos, é barro vivo de sublime
cerâmica, onde o oleiro celeste nos conduz muitas vezes, à mesma forma, ao calor da luta, a fim de
aperfeiçoar-nos o veículo sutil de manifestação do espírito eterno, entretanto, quase sempre, estragamos a
oportunidade, encaminhando-nos para a inutilidade ou para a ruína” (lição 169).
O oleiro divino, que é Deus, nos manda muitas vezes à mesma forma (o corpo de carne, a
reencarnação). Ao calor da luta (não das facilidades), a fim de aperfeiçoarmos o nosso corpo espiritual, ou
seja, progresso espiritual paralelo ao do corpo espiritual (que caminham juntos), é a sutilização desse
corpo. É o progresso e o aperfeiçoamento do Espírito, que só se dá voltando muitas vezes à mesma forma e
com as lutas.
Paulo, no livro “Paulo e Estevão” (pág. 351), diz para João Marcos: “Será útil não venhamos
nunca a descansar” e que ele se lembrar de Davi, obedeceu a Deus durante sua vida, mas quando
descansou, cometeu o adultério. Salomão, foi fiel e serviu a Deus, mas quando descansou, se entregou à
devassidão. O próprio Judas, e enquanto esteve em trabalho com o Cristo, realizou muitas coisas, quando
se deixou levar pela ilusão do mundo, achando que poderia implantar o reino de Deus com facilidade,
acabou traindo o Mestre e pondo sua própria vida a perder. Então, Paulo diz: “Será útil não venhamos
nunca a descansar”, ou seja, não viemos para passear, mas para trabalhar; tenhamos o repouso na medida
do necessário.
Balthazar, numa reunião para a coordenação, disse que onde ele habita, eles são muito mais
rigorosos com questões de créditos, méritos, trabalho, do que nós pensamos. Diante de tudo isso, não
podemos desanimar.
Em Paulo e Estevão, Abigail estimula Paulo, porque mesmo ele, trabalhador incansável, fiel, capaz
de passar por tudo em nome do Cristo, mesmo ele, teve seus momentos de desalento. Então, ela lhe diz:
“Não te entregues ao desalento ( ... ) Quando hajas esgotado a derradeira gota da posca dos enganos
terrenos, Jesus encherá teu coração de claridades imortais” (pág. 306). Abigail é a amorosa noiva
espiritual de Paulo. Ela não diz que vai ficar tudo bem. Ela não o engana.
Não nos convém desanimar; estamos cansados, mas Jesus disse: “levanta-te e anda”. Levantamos,
pedimos socorro e vamos andando. Temos que seguir adiante sem desânimo, tendo a certeza de que
amigos espirituais estão conosco.
Emmanuel, na introdução de Paulo e Estevão, diz que um dos objetivos ao escrever o livro foi
mostrar que Paulo não teria sido Paulo sem Estêvão, sem Gamaliel e sem Abigail. Não se caminha só,
logo, nós também não estamos sós. Por isso, ele diz “exortai-vos”, “caminhai juntos por fileiras”, um
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sustentando o outro mesmo que encarnados; isto, sem falar nos companheiros do mundo espiritual que
estão apostando em nós.
Na sala de cura, há pouco tempo, atendeu-se a uma pessoa que estava com depressão, querendo
desanimar e a orientação que veio do Plano Espiritual foi a de que ela não desanimasse, pois eles estavam
com ela. Eles esperam que cumpramos este roteiro estabelecido para nós. Quando ficarmos tristes, não
podemos esquecer Jesus: “Levanta-te e anda”. Podemos até cair, mas não podemos ficar caídos. Anda da
forma que der, mas anda.
No livro Mediunidade e Apostolado: “É compreensível, em sua condição humana, que o médium
vacile, sofra o assédio da tentação, do desânimo, da falta de vontade de prosseguir... É admissível que
padeça de insegurança e incerteza quanto qualquer dos mortais, no entanto não se deve furtar ao serviço
do consolo e do amparo aos que parecem crer mais do que ele mesmo em sua condição de medianeiro.
O médium que persevera no sustento da fé aos semelhantes, esforçando-se ele próprio para
manter-se de pé diante de suas dúvidas, é digno de grande respeito por parte da Espiritualidade
Superior” (pág. 29). Porque o plano espiritual sabe das nossas possibilidades e do limite das nossas forças.
Quando Emmanuel diz que estragamos oportunidades nos encaminhando para a inutilidade ou para a ruína
é porque, para progredir, temos que lutar para passar pelo aprendizado, passar por dores naturais próprias
de nossa condição planetária e dos erros que cometemos...
Em “E.S.E” (cap.17:9), O Dever, Lázaro diz que temos que amar o dever, porque ele vai nos
fortalecer para que possamos vencer as dificuldades. Nossa cabeça, às vezes, faz o caminho inverso: “Vou
lá no centro cumprir meu dever, vou cumprir meus deveres em casa, pois cumprindo o meu dever estarei
tirando várias pedras do meu caminho”. Não é assim... estamos vindo na Casa Espírita para ficarmos mais
fortes e podermos tirar as pedras do nosso caminho, ou para contorná-las, mas nós é que devemos vencer
os obstáculos.
Em Paulo e Estevão, Paulo nos recomenda que “não é lícito esquecer que Jesus instituiu no
mundo uma obra eterna e, para iniciá-la, escolheu doze companheiros” (pág. 325), e depois designou
um número maior.
Não adianta virmos para cá e dizermos que com a Mariazinha ou com o fulaninho, nós não
trabalhamos, pois o próprio Mestre Jesus, que era capaz, não trabalhou sozinho. Nós temos que aprender a
arte da convivência; é muito melhor trabalhar com o outro, apesar de todos os seus defeitos, do que
trabalhar sozinho.
Mas Paulo volta à questão da incredulidade. “Pela incredulidade, não entraram na Terra
Prometida” (Hb 3:19). Isto é um alerta para que possamos avaliar a nossa fé, pois ela nos guia. O E.S.E
nos diz que ela é a mãe da esperança e da caridade, e Paulo, na carta aos Coríntios, nos diz que sem a fé,
o amor e a caridade nada valem. Então, temos que ver como está a nossa fé para que possamos ter a
esperança. Vamos esperar porque o melhor vai acontecer e vamos realizar, pois temos a certeza que o
melhor irá acontecer. Se não tivermos fé, fica difícil vislumbrar a esperança: Será que vai dar certo? Vale a
pena perdermos o nosso final de semana no centro? Surgirão questionamentos como estes e outros, porque
não temos a fé, a esperança e, conseqüentemente, não nos dedicaremos ao trabalho como deveríamos.
No capítulo IV, Paulo nos diz que não entraram na Terra Prometida “por não se unirem pela fé
àqueles que a tinham ouvido” (Hb 4:2), ou seja, outros que deram testemunho da palavra de Deus antes
deles, no caso, os profetas. Como os hebreus, os judeus não seguiram os profetas, que estavam dando
testemunho, eles perderam a oportunidade. E nós temos os nossos “profetas”, os nossos médiuns; podemos
levantar vários exemplos entre espíritas e não espíritas. Poderíamos citar Chico Xavier como exemplo e
tentarmos segui-lo.
O outro motivo foi “devido à sua indocilidade” (Hb 4:6). Em algumas ocasiões dizemos: com
fulano não faço; nesse dia eu não vou; desse jeito não dá; serão exemplos de doçura? E Paulo coloca um
agravante: além da indocilidade ser ruim para nós, pois perdemos a oportunidade de realizar aquilo que
Deus espera de nós, ela é um mau exemplo porque pode levar o outro a cair também. Se o outro seguir
esse nosso mau exemplo, estaremos sendo responsáveis pelos nossos próprios erros e, também, por uma
parcela do erro do outro, porque a nossa forma errada de fazer as coisas está estimulando o outro a fazer o
mesmo.
Não podemos nos esquecer que ao quedarmos no passado, Deus Misericordioso nos deus nova
oportunidade com a Doutrina Espírita. Isto se relaciona quando Paulo nos diz: “Então, Deus fixou um
novo hoje”.
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Paulo continua: “Pois a palavra de Deus é viva, eficaz e mais penetrante do que qualquer
espada de todos gumes (...) Ela julga as disposições e intenções do coração. E não há criatura oculta
à sua presença. Tudo está nu e descoberto aos olhos daquele a quem devemos prestar contas” (Hb
4:12-13).
Falamos isto para as crianças, mas, às vezes, deveríamos dizer para nós, pois nos enganamos.
Viemos ao trabalho tentando dizer para nós mesmos que viemos por dedicação e amor à tarefa, mas na
verdade estamos vindo por outros motivos. Temos que fazer esta avaliação, pois com certeza nossos
amigos espirituais estarão observando as nossas atitudes – “tudo está nu e descoberto aos olhos daquele a
quem devemos prestar contas”. Não podemos nos esquecer de que a prestação de contas é perante a nossa
própria consciência e os guias que nos orientam, pois eles investem em nós e nos sustentam, mas, também,
sabem o que se passa em nosso coração. Até que ponto nós estamos realmente aproveitando a
oportunidade de crescimento como Espíritos? Estamos aproveitando a oportunidade somente pela ilusão
do mundo? Porque no Centro Espírita Léon Denis todos nos conhecem, falam bem de nós, por causa do
nosso passe, ou da nossa palavra... Temos que avaliar se estamos fazendo o trabalho por amor ao trabalho
ou ao Cristo, reconhecendo a nossa necessidade de crescimento, de trabalho, de aprendizado, de
ressarcimento e recuperação, ou estamos usando esse trabalho para aparecer diante das pessoas... Por
exemplo, somos coordenadores. O que é ser coordenador? É uma responsabilidade a mais, uma cobrança a
mais, uma luta a mais, problemas a mais... E se não ficarmos atentos, será um campo a mais também para a
vaidade. Trabalho é necessidade de aprendizado para nós. O médium que dá passes de cura é tão
importante quanto o médium que dá passes no Salão; nesta vida ele tem a necessidade de passar por esse
processo de aprendizado; não quer dizer que ele seja melhor do que o médium de passes. Às vezes,
observamos as pessoas desejando ser médiuns de cura, de incorporação, como se isso significasse ter
méritos acima dos outros e não é assim necessariamente.
Paulo nos diz que Jesus “não é um Sumo sacerdote incapaz de se compadecer das nossas
fraquezas, pois ele mesmo foi provado em tudo como nós, com exceção do pecado” (Hb 3:15). Ele
esteve na Terra e conhece as lutas que existem aqui. Ele foi caluniado, foi mal interpretado, teve
dificuldades com família, dificuldades de sustento, logo, entende as nossas dificuldades. Nós não podemos
ficar levando essa cobrança a um ponto tal que acabe nos prejudicando, não dá para querer ser Espírito
iluminado de uma vez. O que não podemos deixar de fazer é subir degraus. Jesus entende que precisamos
subir um degrau de cada vez.
Paulo, mais adiante, diz: “Jesus é capaz de ter compreensão com aqueles que ignoram e
erram” (Hb 5:2). O que quer dizer que diante dos que não ignoram, a compreensão já tem uma outra
medida; porque, se sabem, já têm condições de acertar.
Na Bíblia há uma passagem, encontrada num documento antigo, que é a questão da ignorância.
Essa passagem não está nos quadro Evangelhos, não se sabe se Jesus teria dito ou não. Como sabemos,
naquela época, não se trabalhava no dia de sábado, era dia de repouso. Jesus, ao passar e ver alguém
trabalhando no sábado diz: “Amigo, se sabes o que estás fazendo, és feliz; mas se não sabes és maldito
transgressor da lei”. Se aquela pessoa estava trabalhando num sábado sabendo o que estava fazendo, ou
seja, que Deus trabalha sempre, não teria problema nenhum, porque não podemos parar a vida num dia de
semana. Se ele estava trabalhando com essa consciência, ele era feliz, pois estava um passo além da média.
Mas, se ele não sabia o que estava fazendo, ele era simplesmente transgressor da lei, pois era proibido
trabalhar no sábado; e sendo transgressor, era maldito, ou seja, podia receber a punição. É a questão da
consciência. Os que sabem erram por capricho, preguiça, interesse pessoal, desatenção, inconveniência...
Num trecho, Paulo nos diz: “Embora fosse Filho, aprendeu, contudo, a obediência pelo
sofrimento; e, levado à perfeição, se tornou, para todos os que lhe obedecem, princípio de salvação
eterna” (Hb 5:8-9). Ou seja, Jesus, sendo o Espírito puro que era, ainda assim, em obediência, passou
pelo sofrimento aqui na Terra, o sofrimento da vida, o dia-a-dia, o sofrimento do Calvário, do Gólgota, da
traição. Passou pelo sofrimento e foi levado à perfeição relativa, pois Jesus não é Deus e, a partir daí, se
tornou, para todos os que lhe obedecem, princípio de recuperação, ou seja, ele é o orientador de nossa
recuperação, do nosso progresso.
Emmanuel, em Pão Nosso, lição 16, nos diz: “O homem obedece a toda hora. Entretanto, se ainda
não pôde definir a própria submissão por virtude construtiva, é que, não raro, atende, antes de tudo, aos
impulsos baixos da natureza, resistindo ao serviço de auto-elevação”, ou seja, estamos sempre
obedecendo à alguém ou às circunstâncias da vida. Se nós não tomarmos as rédeas da nossa vida, se não
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tomarmos conta da questão da obediência, ela vai estar fora da nossa plena consciência e aí seremos
submissos a quê? Em geral, aos impulsos baixos da natureza. Vamos obedecer à vaidade, ao orgulho, ao
egoísmo, ao materialismo, ao dinheiro, à fama... Mas é importante pensarmos que precisamos definir a
própria submissão como uma virtude construtiva. Nós só obedecemos a quem ou àquilo que queremos.
Se estamos sempre obedecendo, é melhor obedecer àquele que nos leva à auto-elevação: Jesus e suas
orientações. No campo da mediunidade, temos toda a orientação da Casa Espírita, mas nem sempre
obedecemos; às vezes, até por falta de consciência, agindo sem tomar conta da própria vida.
Prossegue Emmanuel: “O discípulo precisa examinar atentamente o campo em que desenvolve a
própria tarefa. A quem obedeces? Acaso, atendes, em primeiro lugar, às vaidades humanas ou às opiniões
alheias, antes de observardes o conselho do Mestre Divino?” (Pão Nosso – 16).
Estamos no trabalho, obedecendo a quem? Fazendo o trabalho como? Não devemos vir por vir,
estender as mãos porque temos mediunidade, achando que “os Espíritos fazem... resolvem...” Não é assim.
Se Jesus obedeceu, o nosso caminho também é a obediência. E nossa obediência é principalmente através
de Jesus.
Temos o exemplo de Paulo, quando ele e Tiago, filho de Alfeu, tiveram uma dificuldade de
convivência. Eles tinham princípios opostos e divergiam quanto aos pontos essenciais dos ensinos
nascentes. Tiago ficou na Casa do Caminho, de uma certa forma para mantê-la, mas também, até por conta
da sua história de vida, ele era aferrado ao judaísmo.
Uma vez, logo no início da Casa do Caminho, os fariseus entraram para prender os Apóstolos que
ali estavam. Os outros que estavam no trabalho foram presos, ele quando percebeu a situação, pegou a
Torá e se pôs de joelhos a ler. Quando os fariseus vieram prendê-lo, espantaram-se: “Então, alguém ali lia
a Torá?” Ele responde que sim, que aprendeu a ler a Torá, sempre de joelhos, num sinal de respeito. Tiago
não é preso. Emmanuel diz que, dali para frente, ele reforçou a ligação que ele tinha com o judaísmo. O
que acontece? Ele vai deixar que o farisaísmo entre na Casa do Caminho. E Tiago quer impor aos cristãos
as normas do judaísmo, ou seja, os homens tinham que se circuncidar; não se podia comer carnes
sufocadas (o sangue tinha que ser escorrido antes); não se podia sentar à mesa com um gentio ou com um
pagão etc. Resumindo, para ser cristão, antes tinha que ser judeu. Tiago segue esse caminho e Paulo segue
um caminho totalmente diferente, que é o da liberdade do Evangelho. Na Carta aos Gálatas, ele tem uma
frase retumbante, característica dele: “Foi para a liberdade que o Cristo nos libertou”. Então, não
podemos ficar presos à idéia de que não devemos ficar perto de Fulano por ele ter uma dificuldade, não
podemos comer algo que é pecaminoso, é impuro...
Paulo saiu pregando a Boa Nova aos gentios, que vinham do politeísmo, que tinham várias crenças,
que tinham culturas diferentes, que às vezes tinham simpatia pelos judeus. E Tiago tenta fazer com que a
gentilidade adote os princípios do judaísmo e Paulo não aceita. Era uma luta de idéias. Era uma
divergência que provocava divergências entre os seguidores do Cristianismo também, pois os que seguiam
a teoria de Tiago não falavam com os que seguiam a teoria de Paulo. Isso causava constrangimento em
algumas situações. Por exemplo, quando Pedro vai à Igreja de Antioquia, ele começa falando com todos os
gentios. Quando chegam os companheiros de Tiago, Pedro muda de atitude, receoso do que a atitude
liberal e franca dele diante de Paulo poderia trazer como conseqüência à Casa do Caminho. Essa
dificuldade vai acompanhá-los pela vida toda.
Quando Paulo está bem idoso, tendo feito as três viagens, marcaram uma reunião na Casa do
Caminho e foi uma disputa dessas idéias, dessas correntes, com os companheiros do farisaísmo presentes,
defendendo suas teorias. Pedro é que acalma a situação e acaba de uma certa forma nos premiando com a
liberdade do Evangelho, que temos hoje. Não precisamos ser judeus para sermos cristãos.
Passado tudo isso, Paulo recebe uma carta de Tiago lhe pedindo que vá a Jerusalém porque a Casa
do Caminho passa por dificuldades de perseguição por parte dos fariseus e estes querem a presença de
Paulo lá. Quando Paulo abre a carta, Emmanuel nos narra: “Paulo de Tarso terminou a leitura e
lembrou o passado. Com que direito lhe fazia o Apóstolo galileu semelhante pedido? Tiago sempre se
colocara em posição antagônica. (...) Paulo não podia odiá-lo, entretanto, não se sentia perfeitamente
afim com o filho de Alfeu, a ponto de se tornar companheiro adequado em lance tão difícil”. Ele fez o
que nós temos vontade de fazer e fazemos: “com o fulano não. Você não tem o direito de me pedir isso”.
Entretanto, Paulo pensou, mas não fez o que nós fazemos; ele procurou um recanto solitário da igreja e
meditou. O que é meditar? Não é pensar bobagem ou remoer mágoas, é elevar o pensamento. Depois da
meditação, ele procurou consultar o Evangelho, pegou os pergaminhos, abriu-os ao acaso e leu a seguinte
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advertência: “Concilia-te depressa com o teu adversário”. Como ele havia dito anos atrás: “Senhor, que
queres que eu faça?”, e cumpriu até o fim... Neste momento, ele pensou que a advertência vinha do Cristo
e que “não era justo alimentar caprichos pessoais na obra do Cristo. No feito em perspectiva, não era
Tiago o interessado na sua presença em Jerusalém: era a Igreja” (Paulo e Estêvão – pág. 446);
decidiu, arrumou a sua bagagem e foi, para ser humilhado, pois sabia que o seria. Conversou com Tiago.
Os fariseus queriam que ele se apresentasse no Templo de Jerusalém como um bom fariseu (ele que
defendia a liberdade do Evangelho com unhas e dentes), pagasse as despesas de três jovens nazireus
(jovens que estavam sendo iniciados no judaísmo, noviços) e fizesse toda aquela cena. Ele mesmo diz que
preferia a morte, a tortura, àquela situação, mas ele se submeteu a tudo isso. Ele não parou para pensar no
que iriam falar dele. Ele deu a vida defendendo a verdade do Evangelho, depois foi ao Templo de
Jerusalém como um bom judeu, cumprindo todas as normas e custeando as despesas dos três iniciados... E
o falatório?! Ele se submeteu a tudo. E por quê? Porque o interesse não era de Tiago e sim da comunidade
do Caminho. E não era justo que ele colocasse seu capricho pessoal acima dos interesses do Cristo. Isso é
um exemplo sério para nós, que dá para abafar muitos dos problemas que temos dentro da Casa Espírita. O
que está no primeiro plano: é o nosso interesse pessoal, o nosso capricho, ou o trabalho do Cristo? Porque
ou é um, ou outro. O nosso caso é não sairmos envergonhados, não darmos campo para que falem de nós?
O nosso problema é não demonstrar que levamos a pior diante do fulano, porque o fulano falou a palavra
certa e nós a errada? Então estamos colocando o capricho pessoal acima da tarefa do Cristo. E esta é uma
avaliação que temos que fazer; colocarmos o espírito de serviço, a fidelidade ao trabalho mediúnico,
que é o trabalho do Cristo, a causa espírita, que é o trabalho do Cristo, acima dos interesses pessoais por
mais que nós tenhamos dificuldades com o companheiro e que nós até reconheçamos que ele tenha
dificuldades conosco também. Mas, o trabalho tem que estar acima disto. É fidelidade até o fim, em todos
os momentos.
E o grande proveito para Paulo com esse episódio com Tiago, que é um exemplo importante para
nós, é que ele mais uma vez conseguiu ser fiel a Jesus, ou seja, cumprir aquilo que ele estabeleceu. Ele
desbastou um pouco mais de si uma imperfeição, que é o orgulho. Ele não queria ceder a Tiago, mas ele
foi e fez o que Tiago pediu, foi humilhado na frente de todos. Desbastou o orgulho, progrediu ainda mais
como Espírito. Com isso, propiciou à Casa do Caminho mais um período de equilíbrio nos trabalhos que
ela realizava. Tudo isso foi conquista, o que nós nem sempre entendemos.
Paulo cresceu e, mais à frente, conversa com Tiago, que lhe agradece pela dedicação e testemunho.
Paulo veio a reconhecer que muitas vezes o próprio Tiago não estava satisfeito com a sua postura farisaica,
mas se via obrigado a ceder mais do que queria para que o trabalho assistencial da Casa do Caminho não
fosse destruído pelos fariseus. Ele também percebeu que, apesar de todo o conhecimento que tinha da vida,
não conhecia suficientemente o companheiro.
Ele comenta que a vida muitas vezes exige mais compreensão do que sabedoria. É a compreensão
do outro que vai nos dar a unidade do trabalho dentro da Casa Espírita. Compreendermos que a sala de
cura não pode ser uma sala de dez médiuns, tem que ser uma sala de dez amigos, companheiros. O mesmo
deverá se dar com a sala de desobsessão, porque senão o trabalho não flui direito. Terá que ser um trabalho
de companheiros que se sustentam, uns aos outros, apesar de cada um ter os seus defeitos. Compreender
que todos estão aprendendo a servir e se amparar, para caminhar em fileiras e quem se desgarrar segue por
conta própria...
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2ª aula – 30/11/2002
É uma carta longa. Quanto mais você lê, mais você vai encontrar nuances, comparações,
possibilidades de raciocínio.
A Bíblia de Jerusalém faz uma divisão da carta aos Hebreus. Começaremos agora o item 3: “O
autêntico sacerdócio de Jesus Cristo”, mas nós aqui não estamos preocupados com a intenção que Paulo
tinha de provar aos Hebreus (mesmo àqueles que já eram simpatizantes do Cristianismo, que às vezes já
eram até seguidores do Cristianismo) que Jesus era superior ao Sumo Sacerdote, a Moisés, aos anjos. Nós
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estamos questionando a nossa fé, até que ponto nós intimamente temos essa consciência que nos faz
mobilizar e gerar forças novas no trabalho.
Lá no capítulo V, Paulo diz assim: “Muitas coisas teríamos a dizer sobre isso”, ou seja, sobre a
doutrina, sobre os ensinamentos de Jesus, sobre o valor de Jesus para cada um de nós “e a sua explicação
é difícil, porque nos tornastes lentos à compreensão. Pois uma vez que com o tempo deveríeis ter-vos
tornado mestres, necessitais novamente que se vos ensinem os primeiros rudimentos dos oráculos de
Deus, e precisais de leite, e não do alimento sólido”. Nós paramos para lembrar que os hebreus eram
portadores de uma tradição religiosa muito grande. Eles tinham a Gênese, o Êxodo, o Deuteronômio –
aqueles livros básicos de Moisés; o Pentateuco Mosaico – e eles já tinham os profetas, que trouxeram
ensinamentos e mais ensinamentos. Alguns desses ensinamentos, nós dizemos hoje: Isso não tem
cabimento. Na Antigüidade, vá lá que se pensasse nisso (ensinamento sobre pureza, impureza, alimento,
normas de higiene etc). Adequados ao estágio do homem daquela época, que não tinha a Medicina e o
Direito que nós temos hoje. Mas, muitos ensinamentos são morais, de uma profundidade que nós
encontramos o próprio pensamento cristão ali. Isaías é um dos profetas que fala sobre a vinda do Messias e
sobre os valores morais com uma profundidade assustadora. Ele questiona o jejum dos judeus com energia,
perguntando se eles acreditavam que aquele jejum de não comer os aproximava de Deus. O jejum de Deus
era de não blasfemar contra o seu irmão, não explorar o outro... Era esse o jejum que Deus queria. Então,
aqueles que queriam encontrar a lei divina encontravam. Tanto assim que Estêvão (livro Paulo e Estêvão)
tira do Judaísmo a melhor parte. Ele era cristão antes do Cristianismo, porque na verdade ele já seguia os
ensinamentos que Jesus trouxe e que, no meio daquelas normas judaicas, ele sendo um estudioso da lei já
conseguia captar. Estêvão é um exemplo daquele que podendo ser mestre, era. Ou seja, tendo todo
ensinamento nas mãos, ele aproveitou e cresceu como Espírito. Mas, Paulo está questionando aqui outros
judeus. E nós, que somos espíritas, não podemos negar que a Doutrina Espírita nos esclarece coisas que
outras doutrinas não esclarecem. Nós temos um ensinamento de vanguarda como os judeus tinham naquela
época. Eles já sabiam da existência de um deus único; os outros povos não sabiam, eram politeístas. Nós
sabemos de reencarnação, de presença de Espíritos, de mediunidade, de manifestação... A maioria das
religiões ocidentais não tem essa informação. Então, nós estamos numa posição semelhante a dos judeus,
com um ensinamento de vanguarda. O questionamento que Paulo lhes faz é de que precisaria ensinar
muitas coisas a eles, mas que isso era difícil, porque eles se tornaram “lentos à compreensão”, que com o
tempo deveriam ter se tornado mestre e, no entanto, necessitam que ensinem para eles os primeiros
rudimentos da lei de Deus, porque eles se perderam e “eles precisavam de leite e não conseguiam receber o
alimento sólido.”
Nós já temos tido mensagens vindas do Plano Espiritual nos alertando que nós corremos o risco de
estarmos nos tornando os fariseus da atualidade. Por isso, esta colocação de Paulo é atual para nós.
Por que o judeu, podendo ser mestre, tinha se infantilizado espiritualmente? Porque ele ficou preso
a uma série de preceitos e normas e perdeu a essência do ensinamento. Nós também podemos fazer o
mesmo com a Doutrina Espírita. Ficamos ao “pé da letra” de Kardec, preocupados com o “não foi
exatamente isso que ele disse naquele capítulo, questão tal...” Queremos minuciar todos os elementos
químicos, físicos e, às vezes, não estamos ligados espiritualmente ao essencial, que é a boa vontade, que é
o coração aberto para a parte que nos cabe. Nós temos que ter esse cuidado com mediunidade. O
conhecimento é essencial; é lógico, se nós não conhecemos, como vamos lidar com o fato? Mas o
conhecimento é uma alavanca, ele é um suporte para que você possa cumprir o seu dever. O que me
adianta saber tudo sobre mediunidade e vir para a casa espírita, na hora do trabalho, como um teórico, um
doutor, que sabe explicar tudo, mas está com o coração frio? Que olha para o companheiro sentado na sala
de cura, no salão, na desobsessão, e não vê o irmão? Nesse caso, o conhecimento é estéril. É como a
figueira estéril.
Essa é uma parábola difícil de entender. Por que foi que Jesus passando por aquela figueira
condenou-a “à morte”, amaldiçoou-a? Porque uma figueira era para dar frutos e ela não dava frutos.
Mateus diz que não era tempo de frutos e não explica muitos mais. Lucas, ao falar da parábola, acrescenta
que por vários anos se esperou que aquela figueira desse frutos e ela não deu... Se ela não deu frutos, qual
a sua utilidade?
O médium é para operar o bem do próximo, fazendo o seu próprio bem. Se ele não o faz, onde
está a serventia mesmo que ele saiba de cor todos os tratados de mediunidade? Se ele não cumprir a sua
função, ele é como a figueira estéril.
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É um alerta que Paulo nos deu quando falou aos fariseus: “Pois uma vez que com o tempo deveríeis
ter-vos tornado mestres, necessitais novamente que se vos ensinem os primeiros rudimentos dos oráculos
de Deus, e precisais de leite, e não do alimento sólido”. É a necessidade de recomeçar.
“Por isso, deixando de lado o ensinamento elementar a respeito do Cristo, elevemo-nos a uma
perfeição adulta, sem ter que voltar aos artigos fundamentais: o arrependimento das obras mortas e
a fé em Deus, a doutrina sobre os batismos e a imposição das mãos, a ressurreição dos mortos e o
julgamento eterno.” (Hb 6:1-3)
O que é essencial é o “elevemo-nos a uma perfeição adulta”. É o convite que Paulo faz àqueles
judeus que estão recebendo a Boa Nova do Cristo. É a nossa perfeição possível; vamos crescer
espiritualmente. Não vamos pensar como o judeu que, porque lavava as mãos, estava livre do erro, estava
purificado. “Porque eu vim ao Centro Espírita, eu estou quite com a espiritualidade; porque eu impus as
mãos, eu paguei minhas dívidas...” Não é assim. Todas essas coisas têm um valor relativo, porque o que
vale é como eu impus as mãos e não o fato em si de impor as mãos. Eu posso impor as mãos e não estar
fazendo nada.
É importante esse esforço de nos “elevarmos a uma perfeição adulta”, de partirmos dos princípios
básicos e crescermos, ou seja, de não pararmos. Esse princípio básico, ou ensino elementar, é comentado
por Emmanuel, que nos diz: “Aceitar o poder de Jesus, guardar certeza da própria ressurreição além da
morte, reconfortar-se ante os benefícios da crença, constituem fase rudimentar no aprendizado do
Evangelho”. (Fonte Viva - 83)
Para nós, hoje, o que seriam os princípios básicos, os rudimentos? Os dois primeiros princípios não
temos como negar. “Reconfortar-se ante os benefícios da crença” é o que nós mais fazemos: estou doente,
venho para o passe de cura; estou com um problema que não consigo resolver, procuro um amigo mais
experiente, procuro o Altivo ou o Dr. Hermann. O que estou fazendo? Estou me reconfortando.
Mas, há necessidade de não pararmos aí, de rumarmos a essa perfeição adulta . Por isso, Emmanuel
nos diz: “Praticar as lições recebidas, afeiçoando a elas nossas experiências pessoais de cada dia,
representa o curso vivo e santificante” (FV-83).
Ficar parado na primeira fase acontece, mas é uma acomodação. Somos, às vezes, pessoas dignas,
corretas, honestas dentro do padrão comum. É uma pessoa que cumpre os deveres profissionais, familiares,
que vem ao Centro Espírita. Mas, Emmanuel nos diz que para rumar à perfeição adulta é preciso pegar os
ensinamentos e colocar na prática de cada dia, naqueles probleminhas que acontecem a toda hora e que nós
escorregamos. Uma hora conseguimos, outra não conseguimos, mas é preciso insistir nesse exercício.
Emmanuel continua: “Evitemos, assim, a posição do aluno que estuda... e jamais se harmoniza com a
lição, recordando também que se o arrependimento é útil, de quando em quando, o arrepender-se a toda
hora é sinal de teimosia e viciação” (FV-83).
Perder a paciência, desequilibrar-me, falar o que não devia... acontece. Vamos nos arrepender,
reconhecer, seguir adiante. Mas se nos acomodarmos a isso e continuarmos a fazer errado... é sinal de
teimosia e viciação. Nós pedimos desculpas a toda hora: o Senhor aceita, os guias aceitam, mas é preciso
superar esta fase.
Emmanuel também comenta um outro ponto que é quando Paulo fala que nós, muitas vezes,
ficamos parados nesse “arrependimento das obras mortas”. O que era a obra morta para os judeus? Eram
aquelas obras da lei que eles tinham que fazer por obrigação. Para nós hoje também existem as “obras
mortas”, porque nós podemos estar fazendo por obrigação.
Lembro-me de quando era garota, católica, que ia à igreja e ficava recriminando os outros que iam
à missa por obrigação. Saíam muito felizes porque tinham cumprido a obrigação, mas durante a missa
ficavam observando todo mundo.
Nós, na Casa Espírita, corremos o risco de fazer a mesma coisa. “Eu vou porque é minha
obrigação, é dia de ir ao centro, eu tenho que ir, não tem jeito. Eu vou para o trabalho mediúnico, porque
eu tenho quinhentos problemas com a mediunidade, se eu não for, desequilibra tudo de novo. Tenho que
doar fluido, senão fico saturada de fluidos, começam a acontecer os problemas de novo”.
Se eu fizer assim, vai ser só por obrigação. Vai ter algum valor porque vai ser um exercício. Pelo
menos, eu estou me disciplinando, estou indo. Mas, no fundo, não deixa de ser uma obra morta, porque o
maior valor que podia se aproveitar é desperdiçado. Se nós viermos à Casa Espírita sem a sintonia com o
trabalho, nós corremos o risco de entrar e sair do mesmo jeito. Nós vemos isso na palestra.
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Tivemos o exemplo disso com um sobrinho que não queria vir ao CELD. Começou a arranjar
desculpas. A mãe se aborreceu e falou:
-Você não vai? Então você fica em casa, mas quando tiver algum problema, não me chama para
ficar rezando do seu lado, não me pede para escrever ao Dr. Hermann... Você vai ter que se arranjar
sozinho; você que escreva, você que reze. É decisão sua.
Ele se assustou e acabou vindo, mas veio por obrigação, por medo do problema dele. Não veio com
o sentimento desejável. Nós entendemos, ele é criança. Mas nós também, às vezes, chegamos e paramos
no corredor, conversando. É ruim conversar no corredor? É lógico que não, porque nós precisamos fazer
amigos na Casa Espírita. Mas nós sabemos que quinze minutos antes das tarefas começarem, nós devemos
estar no Centro, quietinhos. Às vezes, a reunião já está iniciada e nós, médiuns da casa, estamos no
corredor. É preciso que outro companheiro nos alerte da tarefa em andamento.
Nós estamos agindo como o meu sobrinho. Não estamos dando o devido valor que tem o trabalho
na Casa Espírita, que tem o trabalho mediúnico. Nós viemos aqui porque é uma rotina vir todo dia naquele
horário, é nosso dever, é nossa obrigação. Mas não estamos vindo com o espírito de que estamos entrando
na Casa Espírita. Podemos até dizer como o católico e o protestante: estamos entrando na casa de Deus. É
um lugar de respeito, é um lugar de oração, é o lugar da consciência, de se ligar ao máximo a Deus. Às
vezes, nós entramos na Casa Espírita como se estivéssemos entrando numa loja comercial. O assunto que
estamos conversando, às vezes, não é o mais adequado e continuamos a conversar. Às vezes, não nos
damos conta de que falando alto. É dia de passe de cura e nós estamos lá embaixo conversando. Às vezes,
é dia de encontro e nós estamos falando de um outro problema. “Ah! Não sou eu que estou dinamizando”.
Não estamos dinamizando, mas somos cooperadores do encontro. O cooperador tem que ter atitude de
cooperação, tem que estar ligado ao trabalho do encontro, a mente ligada à espiritualidade, a mente ligada
ao estudo. Se não fizermos dessa forma, é obra morta. Depois virá o arrependimento. Nós vamos ficar
infantilizados espiritualmente a vida inteira, sendo que temos o conhecimento doutrinário? Como nos
mantermos “bebendo leite” se já poderíamos estar iniciando uma alimentação mais densa, mais
consistente, senão até mais sólida?
Paulo continua dizendo sobre “os que uma vez foram iluminados... e decaíram”, que eles são
como “a terra que bebe a chuva que lhe vem abundante e produz vegetação útil aos cultivadores,
(que ela ) receberá a bênção de Deus. Mas, se produzir espinhos e abrolhos, é rejeitada, e está perto
da maldição: acabará sendo queimada” (Hb 6:4-8).
Podemos comparar o trecho com a parábola da figueira. Nós sabemos que não existe a morte
enquanto FIM, mas sabemos que existe a dificuldade do recomeço. Nós estamos aqui recebendo uma
chuva de bênçãos. Reconhecemos que estamos recebendo a chuva de bênçãos, ou não nos damos conta?
Porque se não nos damos conta, seremos como a figueira estéril. O que Jesus fez com a figueira estéril?
Amaldiçoou.
O que é esse “amaldiçoar”? É ter que recomeçar, mas com certeza sem as mesmas facilidades que
se teve na vez anterior. Então, nós vemos a mediunidade torturada, a mediunidade como elemento de
sofrimento, como elemento de desequilíbrio. Porque, com certeza, nós já tivemos a mediunidade com uma
facilidade maior, não soubemos aproveitar e ainda nos complicamos nos envolvendo com Espíritos em
situações difíceis de serem resolvidas e que vão continuar no nosso caminho até que essas situações
possam ser resolvidas. É quando o instrumento de trabalho, que é a mediunidade, pode se transformar para
o Espírito, que escolhe essa opção, num instrumento de queda ainda mais pavoroso. Ele se complica, pois
tinha mais recursos e fez uma dívida ainda maior.
Sobre a perseverança em elevar-se. Paulo fala da importância de nos elevarmos a uma perfeição
adulta e sobre a esperança no melhor que virá, fala muito na questão da promessa que Deus fez a Abraão
de que a sua descendência seria abençoada, multiplicada e daria origem a um grande povo e afirma que a
promessa foi cumprida.
“Abraão foi perseverante e viu a promessa realizar-se (...) A esperança, com efeito, é para nós
qual âncora da alma, segura e firme” (Hb 6:15 e 19).
Abraão não titubeou em nenhum momento, foi perseverante apesar das dificuldades. Chegou a
acreditar que deveria oferecer seu próprio filho em sacrifício, porque, naquele tempo, entre os judeus,
havia sacrifícios feitos com animais (cordeiros, pombos) e ele entendeu que deveria sacrificar o filho. No
momento extremo, ele ouve uma voz que lhe diz para interromper, que aquilo não era necessário. Mas, ele
não questionou aquele que ele acreditava ser seu Deus. Ele foi perseverante e fiel em todos os momentos.
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Ele viu a promessa se realizar, porque, segundo a Bíblia, viveu até uma idade adiantada e viu seu povo se
multiplicar e se sedentarizar na Terra Prometida.
Para nós também, diz Paulo, essa promessa continua valendo, porque Deus não é um Deus de
mentira. Se Deus nos promete um reino de felicidade através de Jesus, que é o Reino de Deus, essa
promessa está mantida. Não há como questionar. E tendo essa certeza, teremos a convicção de que tudo
estará melhor e vamos perseverar no caminho. Por isso, ele diz que a “esperança é qual âncora na alma,
segura e firme”. Precisamos nos agarrar a ela.
Emmanuel, comentando, nos diz que o “anseio dos patriarcas da antigüidade é análogo ao dos
homens modernos” (FV-103). Isso é algo que nós esquecemos quando pensamos nas pessoas que têm
grandes tarefas diante da humanidade. Nós chegamos a pensar que eles não têm as aspirações de todos nós,
que esses Espíritos são diferentes. Abraão era um patriarca. Podemos lembrar Francisco Cândido Xavier,
que era um homem encarnado aqui. Será que essas pessoas tinham anseios diferentes? Paulo deu a vida
pelo Evangelho, mas será que ele não tinha os anseios de todos os Espíritos encarnados? Emmanuel falou
que é o anseio de constituir a família, de ter uma família feliz, harmonizada; é o anseio da saúde, do
progresso, seja ele o intelectual, o do conforto ou o do progresso espiritual. Temos nossos anseios, é justo,
e eles poderão ser realizados. Não há nada de errado em sonharmos com uma família equilibrada,
harmonizada, com a saúde. Esses anseios fazem parte de todos nós.
Paulo perdeu a noiva muito amada, mas passa a vida inteira sem esquecê-la. Ele raspa a cabeça
como sinal de fidelidade a ela por toda a vida e foi uma fidelidade que ele manteve. Ele era um homem que
sonhou em casar, ter filhos como muitos homens. Quando essa possibilidade lhe foi cortada, ele se volta
para outro aspecto da vida: elevação espiritual, dedicação ao Cristo. Ele segue esse caminho.
Todos nós temos os nossos anseios e isso é natural. “Contudo, esperar significa persistir sem
cansaço, e alcançar expressa triunfar definitivamente. “Entre o objetivo e a meta, faz-se imperativo o
esforço constante e inadiável” (FV - 10). Então, esperar significa persistir sem cansaço. Temos que manter
a perseverança. Se não mantivermos a perseverança não alcançaremos a promessa. E entre o objetivo e a
meta existe o trabalho constante, inadiável, persistente. Isso vale para nossos anseios humanos (saúde,
trabalhar pela família) e, principalmente, para os anseios maiores que são os do Espírito: nos redimir,
conseguir conhecer a verdade para que a verdade nos liberte, ajudar aqueles a quem amamos para que eles
também consigam se libertar das suas prisões e alcancem a libertação. Em qualquer situação esses valores
vão funcionar.
Uma outra questão que Paulo coloca e que vale muito para o trabalho dentro da Casa Espírita é a
questão da “superioridade.” Paulo fala aos judeus para que não esqueçam que “é fora de dúvida que o
inferior é abençoado pelo superior” (Hb 7:7).
Ele dá o objetivo certinho do trabalho em qualquer escala que você esteja. Quem está no degrau
superior, é quem na verdade tem a parte mais difícil, porque cabe a ele abençoar o “inferior”. É o que é
abençoar o inferior? É passar no corredor, ver que todas as salas estão arrumadas para os trabalhos da casa,
reconhecer que está tudo como deveria ser e agradecer ao companheiro, fazer um elogio a quem fez esse
trabalho. No Celdinho, há alguém que arruma as salas e põe mensagens belíssimas no quadro, de
Emmanuel, de André Luiz, Joanna de Ângelis. Ninguém ganha para colocar as mensagens nos quadros.
Quem coloca as mensagens tem a função de arrumar as salas para o grupo do trabalho de cura. Mas a
pessoa faz mais do que arrumar as salas. Ela lembra-se de deixar uma mensagem para quem vai chegar.
Ela cumpre o seu trabalho com amor.
Aquele que é o seu superior deve lembrar-se de fazer um elogio, não no sentido da vaidade, mas de
abençoar aquele trabalho. Às vezes, uma pessoa chega chateada e a mensagem “cai como uma luva”. Você
deve agradecer a quem escreveu a mensagem.
Às vezes nós queremos dirigir a sala de cura ou um trabalho. É louvável, pois precisamos de quem
dirija. O que vai ser do trabalho se não houver um superior? Mas é uma tarefa difícil, pois você tem muitas
vezes que corrigir o outro. Você tem que saber corrigir abençoando, para que ele não desista, para que ele
não abandone tudo, para que ele não fique pensando que faz tudo errado. Às vezes, a pessoa está chegando
numa situação difícil e se você fizer a crítica mal orientada, a pessoa vai pensar que faz tudo errado...
Abençoando, dando oportunidades de crescimento àqueles que estão de certa forma sob a sua tutela; o que
é muito diferente do orgulho, porque com o orgulho você humilha quem não conseguiu fazer como devia.
Se você tem o interesse de fazer com que ele caminhe, vai até dizer que ele fez alguma coisa errada, é sua
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função, mas você vai orientá-lo para que supere aquele erro e siga adiante. Você não vai fazer da falha um
elemento de estacionamento, de humilhação, de abandono de tarefa.
Emmanuel diz que “de modo geral, aquele que se vê guindado a qualquer nível de superioridade
costuma valer-se da situação para esquecer seu débito para com o espírito comum” (FV-21). Agora, nós
ficamos mais preocupados se chegou alguma coordenação na nossa mão. Porque antes nós ficávamos
pensando: “Sou coordenadora, já aprendi algumas coisas, já estou bem!” Emmanuel nos diz que não é
assim. É que nós temos uma dívida com o “espírito comum”. A coordenação vem para que nós quitemos a
nossa dívida com o “espírito comum”.
Paulo teve um trabalho com grande número de Espíritos. Ele trabalhou sem parar e, em momento
nenhum, ele se sentiu quite com a alma do povo. É Emmanuel que faz o comentário de que Paulo, no final
de seu apostolado, já se quitava com a alma do povo. E ele tinha um trabalho de vulto: o bem a infinitas
criaturas, além das curas, dos aconselhamentos, das orientações, da difusão do Evangelho que chegou até
nós. Olha o tamanho da obra! Mas, ele tinha uma dívida com a alma do povo.
Portanto, o compromisso de quem é “superior” é muito sério.
“Desenvolvimento é poder”, diz Emmanuel. “Repara como empregas as vantagens de que a tua
existência foi acrescentada. O Espírito Mais Alto de quantos já se manifestaram na Terra aceitou o
sacrifício supremo, a fim de auxiliar a todos, sem condições” (FV-21).
Então, se nos veio alguma tarefa na qual temos compromisso com as pessoas, não tenhamos
dúvidas, isso significa necessidade de dedicação, de serviço, de doação, de sacrifício à fé. O exemplo
maior é o Cristo. Ele poderia mandar e desmandar e, no entanto, ele serviu a todos, sem mudança de
papéis, e se sacrifica ao extremo.
Não vamos nos esquecer que é necessária uma liderança. Cristo não esqueceu quem ele era.
Quando ele precisava corrigir os mercadores do templo, os fariseus, ele fazia. O que não se pode esquecer
é o espírito de serviço e que subir um degrau é compromisso maior, não é motivo de orgulho.
A outra observação que Paulo faz é sobre o chamado “comércio” com Deus. Esse comércio com
Deus nós vemos até hoje.
Quando católica, achava terrível essa história de promessa. A pessoa tinha um problema, tinha um
sofrimento real. O que ela fazia? Uma promessa para o santo da devoção, prometia alguma coisa e
esperava em troca o beneficio. Se o filho ficar curado, oferece aquela parte do corpo em cera, ou sobe a
escadaria da Igreja da Penha... Isso tudo é uma barganha que tentamos fazer com Deus. Quando católico,
usando a figura de um santo. Quando nós chegamos na Casa Espírita, achamos que aqui não existe isso;
aqui temos uma outra visão da realidade, é a lei de ação e reação, é mérito. Depois de algum tempo,
percebemos que também há a barganha, porque, às vezes, fazemos algo na intenção de receber outra. Nós
não fazemos aquela promessa tão oficial que se fazia quando católico. Mas, não deixa de ser uma
barganha; nós damos outra roupagem. Às vezes, nós abençoamos o Natal de outra pessoa (a cesta básica,
por exemplo), porque estamos preocupados com a nossa casa. Pensamos: se na vida nós só temos aquilo
que damos (é Emmanuel quem diz), vamos dar para ter.
(Comentário sobre uma colaboradora que passou por dificuldades e não se conformava como
aquilo lhe aconteceu estando ela na Casa Espírita, trabalhando, esquecida de que não é a tarefa que você
desempenha que vai livrá-lo das provas por que tenha que passar. Além disso, não é porque você sai da
tarefa que o centro deixará de existir. É o pensamento de que “o que estou fazendo vai me livrar dos
males”).
Na verdade, estamos barganhando com Deus: Olha, Senhor, eu vou fazer esse trabalho e, já que
tenho que fazer isso, para ter condições de fazê-lo, o Senhor vai me ajudar. E nós nos baseamos em
informações dos Espíritos, que são verdadeiras, mas que nós olhamos por uma ótica errada, deturpada. Nós
só temos aquilo que nós damos, porque é aquilo que vem do coração, é aquilo que vem da pureza de dentro
de nós. Então, se você dá um sorriso e aquilo é puro em você, é franco, é verdadeiro, é lógico que você
está semeando alegria no seu caminho. É lógico que se nós estamos beneficiando alguém até do ponto de
vista material, nós estamos deixando sementes. Como elas vão crescer, não sabemos. Às vezes, temos uma
dívida tão grande que aquilo não paga um milésimo da nossa dívida, mas frutificou. No entanto, nós
ficamos esperando que alguém nos dê algo material. Não é isso. Se nós fizemos aquilo de coração, aquilo
está abatendo duas, três vezes o que seria o valor “monetário” da nossa dívida. Então, de fato, recebemos o
que damos, mas nós deturpamos. Os próprios Espíritos responderam a Kardec que eles até olhavam para a
vida material dele, porque ele precisava de um mínimo para dar continuidade à sua tarefa.
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Isso não quer dizer que vamos nos ligar a uma tarefa só para os Espíritos cuidarem da nossa vida
material, que é totalmente diferente. Contudo, muitas vezes, pegamos as palavras dos Espíritos, fazemos
interpretações equivocadas e usamos isso para fazer uma barganha com a espiritualidade ou com Deus. E
quando as coisas não acontecem do jeito que esperamos, achamos que a doutrina é errada, os Espíritos nos
abandonaram. Mas, fomos nós que entendemos errado. Nós achamos que abraçando a mediunidade, o
tapete vermelho seria estendido à nossa frente. Vamos ficar doentes, ter dificuldades com o marido, o filho
vai ter algum problema; são coisas necessárias ao nosso estágio evolutivo.
Estamos sendo abençoados? A verdade é que não sabemos o quanto somos abençoados. Nós
reclamamos ao passarmos por um problema; só que se nós não tivéssemos todo o amparo que temos da
espiritualidade, o problema seria, às vezes, cinco, dez vezes maior. O problema está muito menor do que
deveria ser. Nós é que não percebemos e achamos que já temos direito de não ter problemas. É
interpretação nossa, não é a realidade.
Com relação à mediunidade, às vezes, quando temos um problema, nos afastamos do serviço.
Achamos até que Deus não está sendo justo conosco, estamos trabalhando tanto pela causa e pela casa
espírita e achamos que o retorno não está de acordo.
Paulo diz, no capítulo X: “Sacrifícios, oferendas, holocautos, sacrifícios pelo pecado, tu não os
quiseste, e não te agradaram”. Ou seja, não adianta fazer como se estivéssemos sofrendo, nos
sacrificando, cobrando dos Espíritos. Depois, ele assegura: “Eis que vim para fazer a tua vontade” (Hb
10:8 e 9). Portanto, Deus quer que façamos a Sua vontade.
Emmanuel nos diz que “a mais elevada concepção de Deus é a que Jesus nos ofereceu: Pai
amoroso e justo, à espera de nossos testemunhos de compreensão e de amor” (Pão Nosso - 48). Aí, ele dá
o exemplo daquele chefe de família que é consciencioso, que é reto. Ele “não deseja os filhos em
constante movimentação de ofertas inúteis, no propósito de arrefecer-lhe a vigilância afetuosa”.
Quem tem criança e adolescente sabe, quando eles lavam o quintal, cortam a grama, lavam a louça,
sem ninguém mandar é porque tem alguma coisa acontecendo, você suspeita. É uma oferenda dessas que
quer algo em troca.
Nós, pais, não queremos que os nossos filhos fiquem atrás de nós o tempo todo, bajulando.
Queremos que eles façam o que é certo, dentro das suas obrigações. Não é fazer algo quando eles querem
alguma coisa dos pais. Deus não tem um critério desses: “quem me der mais, eu dou mais”.
Emmanuel comente: “A felicidade real somente é possível no lar cristão do mundo, quando seus
componentes cumprem as obrigações que lhes competem”. Isso, todos nós poderíamos mandar fazer um
quadrinho e colocar no lugar em que a família toda freqüenta diariamente e ele completa: “ainda mesmo
ao preço de heróicas decisões. Com o Nosso Pai Celestial, o programa não é diferente, porque o Senhor
Supremo não nos pede sacrifícios e lágrimas e, sim, ânimo sereno para aceitar-lhe a vontade sublime,
colocando-a em prática” (PN-48). Portanto, o nosso comércio com Deus é muito bem entendido, nossos
guias entendem muito bem o que estamos querendo negociar e não dão atenção aos nossos interesses.
É interessante que Emmanuel comenta essa passagem da Carta aos Hebreus em duas páginas e
mostra como espiritualidade é compreensiva com a nossa limitação – voltamos para a questão do superior
abençoando o inferior; como nós precisamos ser compreensivos com aqueles que estão sob a nossa tutela.
Ele nos diz: “Nos teus dias de luta, portanto, faze os votos e as promessas que forem de teu agrado e
proveito, mas não te esqueças da ação e da renovação aproveitáveis na obra divina do mundo e
sumamente agradáveis aos olhos do Senhor” (VL-21).
Nós, às vezes, recriminamos os companheiros que estão fazendo uma promessa, contudo
Emmanuel nos alerta que se nós acreditamos e somos sinceros, que façamos os votos que quisermos, mas
que não esqueçamos que o que agrada aos olhos de Deus é a renovação aproveitável, ou seja, a renovação
íntima. Não é fazer a promessa que vai nos fazer mal, o que é pernicioso; é o sentimento de comércio, de
troca que podemos ter.
E qual o objetivo do Cristo e do “Espírito Santo”? A Bíblia traz a expressão no singular, mas nós
sabemos que as traduções mais antigas traziam “espíritos santos”, “bons espíritos”, “espíritos bons”, e
foram traduzidas como “Espírito Santo”, criando a terceira pessoa da Igreja Católica.
Paulo diz: “Pondo as minhas leis nos seus corações e inscrevendo-as na sua mente, não me
lembrarei mais dos seus pecados, nem das suas iniqüidades” (Hb 10:16 e 17). Ou seja, o objetivo
divino, do Cristo, é que nós saibamos caminhar, colocando a lei de Deus na mente e no coração. É o
equilíbrio das duas asas. Vamos estudar, ter conhecimento, crescer intelectualmente, mas também no
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coração. A partir deste momento, ele nos diz: “não me lembrarei mais dos teus pecados, nem das suas
iniqüidades”, ou seja, nossas dívidas estarão ressarcidas e teremos o caminho mais livre.
Depois, ele vai falar da fé perseverante. Ele começa a fazer uma comparação usando o templo de
Jerusalém, que tinha uma parte mais interior em que só entrava o Sumo Sacerdote, uma vez por ano, no
Dia das Expiações, para pedir perdão pelas faltas de todo povo. Nos outros dias, nem o Sumo Sacerdote.
Essa parte, Santo dos Santos, tinha um véu. Diz o Novo Testamento, no episódio do Calvário, que quando
Jesus expirou, o véu teria se rasgado de cima abaixo. É uma simbologia.
Paulo mostra que o povo precisava que o Sumo Sacerdote entrasse no Santo dos Santos pedindo
perdão para livrar o povo de suas faltas. Paulo diz que depois do Cristo, o próprio Cristo, com o seu
sacrifício, com sua vida de doação por todos nós, subiu aos céus e abriu esse véu de uma vez por todas, fez
esse pedido e agora nós temos acesso a Deus, para nós próprios pedirmos perdão por nossas falhas. Antes,
nós precisávamos do Sumo Sacerdote, de um intermediário.
Voltamos, então, à tarefa mediúnica, para termos certeza de que estamos ali em nome de Deus. Se
nós não tivermos a certeza de que os nossos guias, os guias da Casa estão sustentando o trabalho em nome
de Deus, a tarefa não é nada.
Voltamos àquela frase que os evangélicos gostam muito: “Tudo posso naquele que me fortalece”.
Eu realmente não posso, não tenho em mim, mas Naquele que me fortalece tudo posso.
Paulo escreve: “Aproximemo-nos, então, de coração reto e cheios de fé, tendo o coração
purificado de toda a má consciência e o corpo lavado com a água pura. Sem esmorecer, continuemos
a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem faz a promessa” (Hb 10:22-23). A aproximação de
Deus só se dá se nós o procurarmos com o “coração reto, cheio de fé, coração purificado de toda má
consciência”, ou seja, se o nosso trabalho, a nossa vida tiver sido vivida na boa intenção sincera. Não quer
dizer que nunca erremos. Paulo também errou muitas vezes. Há aquele episódio com Pedro, em “Paulo e
Estevão”, em que ele está na comunidade de Antioquia. Pedro é uma alma muito sincera e muito humilde.
Quando chega à comunidade, ele vai à casa de todos, mesmo os que são gentios, faz a refeição com todos e
isso era proibido. Pedro faz isso com a maior naturalidade, sem nenhuma restrição. Quando chegam os
emissários de Thiago, lá de Jerusalém, Pedro, preocupado porque Thiago tinha todo um trabalho
judaizante, muda de postura (deixa de ir à casa dos companheiros).
O que Paulo faz? Usa um dia de reunião, dentro da comunidade e, diante de todos, questiona Pedro,
alega que não podia compactuar com a hipocrisia. Se Pedro era um com eles, sem os emissários de Thiago,
por que Pedro era outro com os emissários?
Logo os companheiros se manifestam. Barnabé, que era muito amigo dos dois, questiona Paulo.
Como Paulo fazia aquilo com Pedro, que era considerado o chefe dos apóstolos? Ameaça surgir um
tumulto. Num determinado momento, Paulo torna a questionar Pedro diante de todos. Pedro silencia um
momento, tudo se acalma. Pedro diz que ele muito tinha errado diante do Senhor quando o tinha negado
três vezes e que se, naquele momento, ele errava novamente, diante dos irmãos, ele se entregava ao
julgamento de todos, e dá continuidade aos trabalhos de estudo dos textos evangélicos, pedindo a Paulo
que comente o texto. Paulo tem que se realinhar mental e espiritualmente, porque Pedro devolve o
comentário para ele. Pedro elimina ali uma situação tumultuosa, mas nós não podemos negar que Paulo
poderia ter feito isso de outra forma, poderia ter chamado Pedro em particular...
Assim fez Pedro e nós devemos fazer: reconhecer o erro, pedir perdão, seguir adiante, ter o coração
reto, cheio de fé, purificado da má consciência. Podemos até errar, mas que não erremos com a intenção de
errar.
Depois, Paulo diz assim: “Velemos uns pelos outros para nos estimularmos à caridade e às
boas obras. Não deixemos as nossas assembléias como alguns costumam fazer. Procuremos, antes,
animar-nos sempre mais, à medida que vedes o Dia chegar” (Hb 10:24-25). Quando lemos esse trecho
e o comparamos com o que Emmanuel comenta, nós dizemos: “Somos nós na Casa Espírita”. Nós estamos
velando uns pelos outros? Às vezes, a impressão que passa é que nós, médiuns, pensamos assim: “Mas o
CELD é o CELD. Tudo isso se resolve, os Espíritos, Balthazar, Dr. Hermann, resolvem”. É como se nós
estivéssemos isentos de fazer a nossa parte. Nós temos o livro “Aconteceu na Casa Espírita” que nos
mostra que não é bem assim. É lógico que os Espíritos estão atentos, fazendo muito, mas a nossa parte é a
nossa parte. E a nossa parte é velarmos uns pelos outros. É a preocupação de rezar pelo companheiro de
tarefa que sabemos que não está bem; é ter o cuidado de sentarmos com ele para ouvi-lo, dizer que o
entendemos e deixá-lo conversar, desabafar, dar a mão a ele.
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O CELD não existe por si só. O Espírito Léon Denis disse que “a Doutrina Espírita será o que dela
fizerem os homens”. Então o CELD depende muito do que nós fizermos dele. Se nós abrirmos mão da
nossa parte, o que será do CELD? Os Espíritos vão ter que organizar todas as tarefas com médiuns
desequilibrados, despreocupados, sem sintonia? Serão nossas oportunidades perdidas.
Emmanuel, quando comenta esse trecho de Paulo, é mais enérgico: “Muitas instituições da vida
cristã, respeitáveis por seus programas e fundamentos, sofrem prejuízos incalculáveis, em razão da
leviandade com que muitos companheiros se observam uns aos outros” (FV-176). Ele nos diz com todas
as letras que nós somos muitas vezes levianos, quando observamos o companheiro. Ou seja, além de não
velarmos uns pelos outros, de não termos uma atitude de companheirismo, de orar, de ouvi-lo, nós ainda
estamos fazendo a crítica ferrenha às dificuldades do irmão. Emmanuel diz que muitas vezes é o
comentário sobre o passado do outro.
Uma companheira da Casa, certa vez, deu seu testemunho: Ela veio para o CELD e começou a
estudar, entrou em grupo de serviço, acabou sendo responsável por um grupo pequeno de trabalho. Uma
outra pessoa que também freqüentava a casa, embora não fosse desse grupo de trabalho, questionou como
ela estava naquela tarefa. Isso porque conhecia o seu passado, antes de chegar à casa espírita, e achava que
ela não tinha o direito de estar à frente daquele trabalho. Se os Espíritos indicaram-na para a tarefa, razão
há. Primeiro que nós não nos lembramos dos erros de outras vidas. Os erros desta podem não ser tão
graves quanto os dela, mas e os das outras? Depois, nós não temos clareza de qual é o objetivo dos
Espíritos quando a colocaram naquela tarefa. Ela deve ter cotas de boa vontade, de dedicação que eles
possam lidar no exercício da tarefa. É uma possibilidade de ressarcir, talvez, dívidas com um grupo maior
de pessoas.
Quantas vezes, principalmente no trabalho da desobsessão, não é o fato daqueles médiuns terem
determinados erros e assumirem que já tiveram ou ainda têm determinadas dificuldades que convencem os
Espíritos a ficarem?! É o sentimento de amor, de fraternidade, de humildade daquele companheiro que diz
“eu também tenho essas dificuldades e estou aqui” e que desperta no Espírito a possibilidade de tentar
ficar.
Uma outra observação que Emmanuel faz é quanto à análise dos gestos infelizes dos companheiros,
feita, às vezes, até com sarcasmo. Às vezes, o companheiro está em sua atividade e tem necessidade uma
palavra de estímulo, de apoio para perseverar apesar de um deslize qualquer, e a nossa palavra não é
adequada e nós usamos de sarcasmo, de ironia na crítica daquele companheiro. Além de não velarmos pelo
companheiro, nós fazemos com que ele se desestimule. Paulo nos diz na carta que muitos companheiros
abandonam as assembléias, e nós vemos aqui, muitas vezes, companheiros que abandonam a casa; às
vezes, por conta de situações de censura.
Emmanuel diz que “a censura e a reprovação indiscriminadas, todavia, derramam-se na família
de ideal, como chuva de corrosivos na plantação, aniquilando germes nascentes, destruindo flores viçosas
e envenenando frutos destinados aos celeiros do progresso comum” (FV-176). Ou seja, às vezes o
companheiro está iniciando, cheio de esperanças e nós o cortamos ali, “destruindo flores viçosas”. Ele nos
diz com clareza que esse tipo de atitude nossa é uma “chuva de corrosivos na plantação, aniquilando
germes nascentes”, Aquele companheiro que está iniciando na tarefa, que tem as suas dificuldades e
defeitos, se prosseguisse, teria um trabalho que talvez um dia até nos beneficiaria individualmente.
(Comentário da Eneida: Há pessoas que, vindo à Casa pela primeira vez, encontra alguém que ela
conhece lá de fora e que não é nenhum “bonzinho”, falando de Evangelho. A pessoa falar: “Fulano aqui?!
Esse centro não deve ser bom...” É mais fácil nos determos aqui do que lá fora. Nós não podemos ser uma
coisa aqui dentro e outra lá fora; nós estamos sendo observados e podemos estar afastando as pessoas ).
É por isso que Paulo colocou que o objetivo do Cristo era colocar as suas leis nos nossos corações e
nas nossas mentes e Emmanuel nos diz que isto é levar os ensinos para a vida cotidiana. Está na lição 83
do livro Fonte Viva, que nó já vimos Ou seja, criar uma unidade de vida. Nós não podemos ser “artistas”
aqui dentro e termos outra vida lá fora. Isso é um elemento comprometedor.
Emmanuel nos dá a “receita” quando precisarmos fazer a crítica e a avaliação do companheiro. Ele
nos diz: Examinemo-nos mutuamente, acendendo a luz da fraternidade para que a fraternidade nos
clareie os destinos” (FV-176).
Paulo nos diz claramente que a solução não é deixar “as assembléias como alguns costumam
fazer”. A solução é perseverar apesar das dificuldades, porque nós não estamos trabalhando nem para A,
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nem para B. Nós devemos ter na nossa mente que o serviço é do Cristo. Se o serviço é do Cristo, nós não
iremos abandoná-lo.
Nós temos o exemplo de outra companheira da casa que, tendo chegado há pouco tempo na casa,
passou por uma dificuldade assim; de ser recebida de uma maneira muito indelicada.
Quando nós chegamos no CELD, nem sempre nós estamos bem, chegamos com uma série de
dificuldades e desequilíbrios. Nessa situação, é tolerável que a pessoa não siga as normas da casa ao pé da
letra. Pois se nós nos aferramos às normas ao pé da letra, nós voltamos aos fariseus: trombeteavam quando
davam esmolas; consideravam que estava impuro aquele que não lavava as mãos... A norma tem o objetivo
de fazer com que o serviço funcione da forma adequada, mas a norma não é um fim em si mesma. Quem
tem a função de zelar pelas normas precisa ter isso em mente. Se nós vemos que a pessoa está chegando
cheia de problemas, nós não podemos querer que ela siga as normas da casa à risca. Muitas vezes, ela nem
conhece essas normas.
E a nossa companheira chegou assim. Então, ela ficou com uma imagem negativa de quem a
recebeu indelicadamente. Mas, segundo suas palavras, ela estava tão tumultuada que nem deu para pensar
direito, apesar de ter sido tratada assim mais de uma vez pela mesma pessoa. Ela foi ficando, pois ela
estava precisando. Foi se equilibrando, melhorando, começou a estudar... Quando ela entrou para o
trabalho, foi para a desobsessão trabalhar justamente com aquela mesma pessoa. Era uma situação difícil...
Mas, ela ficou. Com o tempo, se tornou amiga dessa pessoa, compreendeu que ela tem algumas
dificuldades no trato com o semelhante, mas reconhece que também tem valores. Se ela tivesse se recusado
a ficar naquela sala, teria desperdiçado a oportunidade de estabelecer uma nova amizade, de crescer na
compreensão humana e, talvez, tivesse perdido a sua oportunidade de trabalho. Se ela foi indicada para
aquela sala, não foi por acaso.
(Comentário: quando ficou trabalhando como empregado na Gráfica, ele percebia que
companheiros o tratavam diferente. Ficou bastante aborrecido e chegou a escrever ao Plano Espiritual. O
Dr. Hermann o lembrou de três coisas: primeiro, que ele prejudicaria a própria família se abandonasse o
trabalho assalariado; segundo, que aquela era uma tarefa também ligada ao Cristo; finalmente, que o
convívio com o “contingente humano da casa espírita sempre representará convite à integridade humana.
Se você abandonar suas tarefas por conta disso, estará dizendo que essas pessoas são mais importantes
para você do que vencer as próprias dificuldades.”)
Nós somos Espíritos ainda imperfeitos, com uma cota de esforço. É natural que, num primeiro
momento, fiquemos magoados e até irritados. Mas o importante é que tenhamos em mente que o trabalho é
maior do que tudo isso, o objetivo é maior e nós precisamos perseverar. O essencial é que nós tenhamos a
certeza de que somos cooperadores da Casa de Léon Denis, da causa espírita e estamos a serviço do Cristo.
Nós podemos até perceber que há falhas, mas temos que ter o nosso ideal do espírito cristão, do trabalho
do Cristo acima de todas essas coisas.
Não somos o judeu precisando que nos provem que Jesus está acima de Moisés e do Sumo
Sacerdote, mas ainda precisamos nos questionar até que ponto temos fé, certeza de que Cristo é o meu
caminho, que a Doutrina Espírita é a nossa verdade e que, se nós perseverarmos neste caminho,
alcançaremos a promessa, assim como Abraão. Paulo nos afirma que Deus não é um Deus de mentira e
que Ele é fiel a Sua palavra. Se nós, colaboradores, perseverarmos até o fim, apesar das investidas, a casa
espírita também se manterá. Se nós dermos valor demais a certas coisas, alimentarmos certos comentários,
nós corremos o risco de estarmos “jogando lenha na fogueira”.
Retornando à questão da severidade, Paulo fala sobre o sofrimento que nós provocamos a nós
próprios. É o que os companheiros do COMP, às vezes, devem falar e que talvez nós não prestemos a
devida atenção. Paulo não deixa a medida pelo meio. “Pois se pecarmos voluntariamente e com pleno
conhecimento da verdade... Quem transgride a Lei de Moisés é condenado à morte, sem piedade,
com base em duas ou três testemunhas. Podeis, então, imaginar que castigo mais severo ainda
merecerá aquele que calcou aos pés o Filho de Deus?” (Hb 10:28-32)
Ele não diz qual é o castigo, manda-nos imaginar. Quando ele nos fala “aquele que calcou aos pés o
Filho de Deus”, é uma simbologia sobre aqueles que tendo o conhecimento, o ensinamento cristão,
despreza-o. Como está no relato de Eurípedes Barsanulfo: “choro por aqueles que conhecendo, não
praticam”... Porque Paulo especifica o tipo de erro: erro voluntário e com pleno conhecimento da verdade.
Para esses, o sofrimento será grande, porque ele conhece a Lei de Deus e erra voluntariamente. Será aquele
“pranto e ranger de dentes” que Jesus costumava citar.
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(Comentário sobre o que seria errar voluntariamente.)
Agir no momento de impulsividade já não é tão voluntariamente assim. Nesses momentos, nós
fazemos coisas que não queremos, nos deixamos levar por vícios trazidos da nossa vida de Espírito, não
sabemos por quantos séculos. Depois de termos uma crise nervosa, de fazermos cara feia, chorarmos, nós
nos damos conta que não era aquilo que queríamos fazer. Nessas situações, parece que voltamos a nossa
herança, apesar do novo conhecimento.
O outro ponto, que atualmente nos questionamos muito, é esse pleno conhecimento da verdade,
porque uma coisa é o que sabemos falar, não podemos negar; outra é o que conhecemos no íntimo.
Uma vez, aconteceu um fato na desobsessão que nunca mais esquecemos. Atendemos um Espírito
que não queria ceder de jeito nenhum, pois fazia o que queria. Ele questionou por que não podia continuar
fazendo tudo segundo a sua vontade. Paulo Cordeiro, no momento da avaliação, disse que o que fez o
Espírito cair em si, perder as forças e dizer que ficava, foi quando disseram apenas “porque Deus não
quer”.
O que impressionou o Paulo e a mim foi a vibração com que veio essa frase. Nós já sabemos que
Deus não quer que façamos certas coisas, mas até que ponto nós SABEMOS mesmo, porque a vibração
tinha uma força que não temos como explicar... Portanto, até que ponto sabemos com plena consciência,
com fortaleza interior, sem nenhuma nuança de dúvida, sem restrição de nenhuma espécie, que o mal não
se faz, porque é a vontade de Deus? Deus não quer! Isso foi dito ao Espírito com uma força que ele se
quedou. Por isso questionamo-nos sobre coisas que sabemos, que não podem ser negadas: até que ponto
elas estão internalizadas no mais profundo do nosso ser?
(Comentário dizendo que só saberemos se internalizamos aquele conhecimento, quando passarmos
por situações que nos testem.)
Quando Paulo de Tarso disse: “Não sou mais eu que vivo, mas é o Cristo que vive em mim” é
porque ele já tinha pleno conhecimento da verdade do Cristo; ele já não podia fazer as coisas se elas não
fossem da vontade do Cristo, da vontade de Deus.
Nós podemos dizer que algo está no Evangelho, mas daí a viver cada ato do cotidiano
exemplificando essa lição é uma distância que é a distância do conhecimento da verdade. Quando
estivermos com esse conhecimento enraizado, não tem mais nem meio mais, nós faremos. Nós perdemos o
equilíbrio e agimos impulsivamente naquilo que não está plenamente sedimentado em nós.
Preocupa a todos, com certeza, quando estamos no trabalho mediúnico e não temos pleno
conhecimento do que ele seja. Mas nós vamos ser avaliados dentro da relatividade do nosso conhecimento,
de acordo com o caminho que cada um percorreu; nesta caminhada, eles vão avaliar nosso potencial pleno
(o que fizemos e o que deixamos de fazer). Portanto, se não fizermos o que poderíamos ter feito, virá o
sofrimento, porque deixaremos de realizar a nossa parte. Ficou uma dívida, uma falta.
Se nós quisermos colocar um representante no lugar de Deus, nós poderíamos falar de nossos guias
espirituais. Eles sabem porque estamos fazendo isso ou deixando de fazer. Qualquer outra pessoa
encarnada, por mais que nos conheça, não sabe por que estamos fazendo aquilo.
Sobre a questão do conhecimento, há a Parábola dos Dois Filhos (Mt. 21:28-32), em que o pai pede
a um filho que vá ajudar na vinha. Ele responde ao pai que não vai. O pai chama o outro filho, que diz que
irá. Só que o primeiro se arrepende e vai trabalhar, enquanto o segundo também se arrepende, acha que
suas coisas são mais importantes e não vai trabalhar na vinha. Jesus faz essa comparação para nos mostrar
que, às vezes, aquele que aparentemente está dizendo “sim, Senhor”, intimamente não está fazendo como
deveria. Aquele que está dizendo “não” a Deus, às vezes, é o que está mais próximo do Pai. Ele termina a
parábola dizendo: “Em verdade, digo que os publicanos e as prostitutas estão vos precedendo no Reino de
Deus”. Nós temos o exemplo de Maria de Magdala, que Jesus percebe um coração sedento de amor e lhe
dá a oportunidade para que ela ponha esse amor em ação. Ela renuncia a tudo, põe esse amor em ação e
desencarna, sendo recebida pelo Cristo (livro Boa Nova). Quando esse amor, que aparentemente estava
dizendo não, reconhece a presença de Deus e do Cristo, diz sim e com fidelidade tal que nos espanta.
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3ª aula – 07/12/2002
Por vezes o desânimo nos envolve, por isso Paulo nos exorta à Perseverança.
“Lembrai-vos, contudo, dos vossos primórdios: apenas haveis sido iluminados, suportaste um
combate doloroso... não percais, pois, a vossa segurança, que tamanha recompensa merece. De fato é
de perseverança que tendes necessidade, para cumprirdes a vontade de Deus e o que Ele prometeu”
(Hb 10:32, 35-36).
Paulo começa nos falando do nosso princípio e, podemos na nossa mente, procurar o mesmo. Que
princípio é esse? A chegada à Casa Espírita? O conhecimento doutrinário, outra designação religiosa?
“Lembrai-vos dos primórdios... combate doloroso”, ou seja, toda mudança é difícil e complicada.
Recomeçar é difícil para qualquer um.
Emmanuel diz que o combate é doloroso e que esse é um “fenômeno natural, porquanto haverá
sempre ponderação após a loucura e remorso após o desregramento”, até porque “o Pai concede aos
filhos ignorantes e transviados o direito às experiências mais fortes somente depois de serem iluminados”
(Pão Nosso – 60).
Depois que percebemos a verdade da lei divina é que começamos a nos sentir incomodados; nos
movimentamos para a renovação, para o trabalho, e temos que enfrentar tudo aquilo com que antes
lidávamos até com prazer e que agora nos é doloroso. Então, é um combate doloroso, e é natural que seja
assim. Mas, a partir do momento em que iniciamos essa renovação interior, ele diz aqui que nós já
entramos na recompensa divina, ou seja, já vamos começando a recolher um pouco da confiança de Deus.
A Bíblia de Jerusalém usa a palavra segurança; Emmanuel, no livro “Pão Nosso”, usa confiança.
Podemos fazer uma correlação com a Parábola dos Talentos (Mt 25:14 a 30. – E.S.E.; 16:6 - 11 a 13).
Temos na Parábola a expressão: de acordo com a sua capacidade (doação de talentos). Não foi entregue
os talentos sem uma avaliação prévia de cada um. O que já tinha um esforço anterior, que tinha a confiança
do Senhor para receber cinco, recebeu cinco; o outro que tinha uma confiança “mediana” do Senhor,
recebeu três, pois também já havia feito esforço, já merecia confiança; o menor recebeu menos. Não eram
propriedades deles, mas o Senhor havia viajado e eles estavam na posição de gerenciar esses talentos. Já
era recompensa.
Quais os talentos que estamos gerenciando?
Paulo nos diz: “Não percais a vossa confiança”, porque já nos decidimos, conquistamos alguma
coisa, já entramos na recompensa, e agora vamos desistir de tudo? Não estamos sendo merecedores da
confiança divina? Então, devemos usar esses talentos. Os talentos são variados (organização da família,
necessidade de lidar com a saúde do outro, ser elemento de equilíbrio no local de trabalho, etc). Mas
estamos, particularmente, preocupados com a mediunidade, que é um talento que nos foi entregue.
Jesus nos falou: “Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os
demônios” (Mt 10:8 – E.S.E. 26:1 E 2).
Nós estamos na Casa Espírita, mas sabemos que não curamos ninguém, estamos na gerência de um
talento – a mediunidade -, que é comandada pela espiritualidade. Quando, no trabalho da desobsessão,
observamos o Espírito ceder de suas atitudes desequilibradas, buscar um outro caminho, sabemos que não
fomos nós a convencê-lo. Essa influência positiva vem de quem tem uma autoridade moral superior a
nossa, de quem tem uma capacidade de amar, que é superior a nossa, por isso que convence.
Quantas vezes nós também não nos convencemos daquela idéia superior? A palavra passa pela
nossa boca, mas a idéia não nos pertence. Ficamos, às vezes, dias, meditando sobre aquilo que passou por
nós, portanto, não fomos nós, encarnados, que convencemos. Passou por nós – é o empréstimo divino. É
essa confiança que já fizemos um esforço anterior por merecer e Deus coloca em nossas mãos; e é
importante que não percamos essa conquista.
Paulo completa: “É de perseverança que tende necessidade para cumprirdes a vontade de
Deus”. Na Parábola dos Talentos, vamos observar que o que multiplicou, entrou na alegria do Senhor, que
quer dizer que ele, ao multiplicar, consegue algo dele mesmo: a conquista, é posse definitiva. É a
promessa que Paulo diz desde o início da carta, que o servo está conseguindo adquirir.
Ao gerenciarmos uma loja, isto não quer dizer que sejamos os donos dela, nem o lucro da loja seja
nosso, temos um pagamento pela nossa gerência. Assim foi com os servos: foram duplicando, com
exceção do que tinha um (1) talento e o escondeu, não o usou, porque teve medo. E nós, o que estamos
fazendo com a nossa mediunidade? Quantas vezes nos recusamos a aceitá-la? Quantas vezes dizemos que
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não queremos este ou aquele trabalho? Quantas vezes não viemos a Casa Espírita para cumprir uma
obrigação, sem trabalhar o sentimento?
O que ocorreu com o que escondeu o talento? O Senhor transfere o talento para o que tinha
recebido cinco e duplicado para dez; manda-o para as trevas, onde haverá choro e ranger de dentes, quer
dizer, para o sofrimento.
Houve um esforço anterior, houve a confiança do Senhor e ele joga fora o esforço anterior; por isso
Paulo nos alerta que já estabelecemos o combate. Não vamos perdê-lo! Vamos fazer com que a confiança
de Deus em nós continue no sentido de que estamos no esforço para valer esta confiança. Vamos
multiplicar esse talento!
No E.S.E. 19:10, temos a orientação de que os médiuns que se desviam do objetivo providencial à
faculdade que lhes foi concedida, isto é, aqueles que pegaram o talento e enterraram, aqueles que
desistiram depois do primeiro esforço, Deus lhes retirará o dom que se tornou inútil neles, e consentirá que
se tornem presas de Espíritos maus; conseqüentemente, perderão os frutos da mediunidade.
Paulo continua a retórica citando Isaías e Habacuc: “O justo viverá pela fé e nós não somos
desertores para a perdição, somos homens da fé para a conservação da alma” (Hb 10:38-39), quer
dizer, não somos daqueles que largam tudo e desistem, somos homens da fé para a conservação da alma.
A nossa posição não é desistir da tarefa que nos foi confiada, é perseverar na fé para o nosso próprio bem.
Temos a definição de Fé, dada por Paulo: “É uma posse antecipada do que se espera, um meio
de demonstrar a realidade que não se vêem” (Hb 11:1). A fé é uma posse antecipada do que se espera e
é por isso que o justo viverá pela fé. Ele pode não a ter ainda, mas tem consciência de que vai alcançar; é
como uma posse antecipada, ele está esperando, mas é como se ele já tivesse.
Paulo faz várias citações daquelas figuras que eram importantes para os judeus (não esqueçamos
que era Carta aos Hebreus), fala de Moisés, Abraão, uma série de profetas que ficaria cansativo citarmos
todos aqui.
Mas, ele começa dizendo “Pela fé...” O que ele está querendo dizer? Que se eles não tivessem fé,
diante das situações adversas, teriam desistido.
Ele diz, por exemplo, que Abraão pela fé partiu para a terra prometida sem saber sequer para onde
ia. Recebeu orientação de viajar com aquele povo da Mesopotâmia para a Palestina e foi. Pela fé, alcançou,
apesar de ser tudo adverso: terras que eles não conheciam, povos que não tinham relação de amizade, eram
minoria...
Nós, hoje, sabemos para onde vamos. A nossa situação é mais fácil que a de Abraão. No nosso
caso, podemos dizer que a própria razão vai trabalhar com a fé, porque sabemos o caminho. E Emmanuel
nos diz que “importa marchar sempre no caminho interior da própria redenção, sem esmorecimento”
(FV–3), e ele nos traça a seqüência desse caminho. “Hoje é o suor intensivo” – trabalho – que
normalmente reclamamos, é a primeira etapa; “amanhã, será o trabalho continuado, acrescido da
responsabilidade”. Temos, nesta fase, companheiros e situações que dependem da nossa decisão,
orientação, e a responsabilidade é nossa.
Depois, seremos testados por situações de dor e nós nos questionamos o porquê de estarmos
passando por aquela situação. Pode ser ação e reação, falha ou o aprendizado que nos traz situações de
testemunho.
Em seguida ao sofrimento, vem a solidão, porque você é incompreendido. Esses espíritos que
assumiram tarefas, num patamar elevado, são em geral Espíritos incompreendidos.
Vemos o exemplo de Paulo que foi perdendo suas relações afetivas, todas, após a estrada de
Damasco. Primeiro, os seguidores do Judaísmo o achavam louco; depois, os amigos o achavam traidor; em
seguida, a família que se envergonhava dele; a noiva amada desencarnara. Ele perde tudo e todos – é a
solidão; tem que recomeçar sozinho e reconstruir afeições no trabalho do Cristo. Mesmo dentro dessas
relações novas, com um novo ideal, ele não foi compreendido.
Faz algum tempo, uma companheira da Casa fazia um questionamento: queria saber porque no
momento de mais sofrimento de sua vida, ela não teve ninguém para ajudá-la. É o momento do
testemunho, é você, seus guias e Deus. Você tem mesmo fé ou vai se rebelar?
No E.S.E. 17:7 (O Dever), Lázaro nos diz: “O dever não tem testemunho”.
No final da Carta, Paulo nos diz: “Vós ainda não resististes até o sangue pelo combate contra o
pecado” (Hb 12:4). É o limite para vencermos a nós mesmos. O pecado não está fora, é a imperfeição que
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está dentro de nós; é a graduação que Emmanuel faz: à medida que vamos aprendendo, a dificuldade vai
sendo maior e precisamos perseverar na luta.
Mais adiante, Emmanuel nos diz que “é indispensável seguir sem desânimo. Quando não seja
possível avançar dois passos por dia, desloquemo-nos para diante, pelo menos, alguns milímetros” (FV3). O que não podemos é desistir.
Outro exemplo que Paulo cita na Carta é Moisés (Hb 11:23), em que Moisés abdica das facilidades,
dos prazeres da corte, como filho da filha do faraó, para se encarregar de tirar aquele povo da servidão no
Egito, e de guiá-los à Terra Prometida, pela fé, de que aquele era o melhor caminho.
Além dos exemplos todos que Paulo nos traz no capítulo 11:12, ele nos falará do poder da fé. Isso
nos remete à passagem evangélica em que Jesus nos dá um forte exemplo da falta de fé. É a passagem do
rapaz obsidiado que os discípulos não conseguem curar. Ao questionarem-no, Jesus lhe diz que eles não
puderam expulsar o demônio por causa da incredulidade (Mt 17:14-20). Poderíamos fazer realizações
não pelo nosso poder pessoal, mas pela fé, um poder maior, o poder divino, o poder de Luz, daqueles que
dirigem a instituição... Muita coisa pode ser realizada.
No E.S.E. 19:5, Kardec nos diz: “O poder da fé se demonstra de modo direto e especial na ação
magnética...”, quer dizer, é o trabalho do médium, é o trabalho da cura, é o trabalho do passe no Salão... A
fé potencializa essa capacidade.
O Evangelho também diz que “a fé se adquire e ninguém há que esteja impedido de possuí-la”
(E.S.E. 19:7). A fé se adquire; vamos construindo passo a passo. Hoje, titubeamos, mas somando o estudo,
o trabalho, as lições que a espiritualidade vai nos dando, vamos alicerçando aos poucos essa fé.
Uma companheira, no início da mediunidade, por não ser médium ostensiva tinha momentos de
dúvida sobre os efeitos do passe e meditava sobre isso momentos antes do passe, quando começou a fazer
uma série de registros e, conseqüentemente, se sentiu mal, com aceleração dos batimentos cardíacos. Ela
intimamente falou: pode deixar, eu entendi o recado, acredito nos passes, no mundo espiritual. Ficou o
aprendizado da necessidade de adquirir a fé. Podemos adquiri-la pelo estudo e por “n” situações que o
trabalho nos traz, na experiência.
Paulo também nos diz, no capítulo 12:1: “Portanto, também nós, com tal nuvem de testemunhas
ao nosso redor, rejeitando todo fardo e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança para
o certame ao que nos é proposto.”
Emmanuel nos dá um enfoque interessante: “Antes da reencarnação, Espíritos generosos
endossaram as súplicas da alma arrependida. Juízes funcionaram nos processos que lhe dizem respeito.
Amigos interferiram no serviço de auxílio, contribuíram na organização de particularidades da luta
redentora! Esses irmãos educadores passam a ser testemunhas permanentes do tutelado” (Pão Nosso 76).
Observamos aí que a nuvem de testemunhas passa a ter um peso maior, pois ajuizaram das nossas
causas. Eles se ofereceram para nos ajudar, nos acompanham enquanto aqui estivermos, sabem o que
estamos fazendo, velam por nós. São Espíritos generosos que defendem o nosso interesse, o nosso bemestar; felicitam-se quando cumprimos o que assumimos e lastimam quando não realizamos. Muitas vezes,
nos orientam no trabalho mediúnico e, às vezes, não seguimos as orientações dadas por eles.
“Faze, pois, o bem possível aos teus associados de luta, no dia de hoje, e não te esqueças dos que
te apóiam, te acompanham, em espírito, cheios de preocupação e amor” (PN-76).
Uma coisa é não agradar a quem não nos ama, outra é saber que a pessoa nos ama, nos defende de
uma situação difícil, que está ao nosso lado e, de repente, colocamos por terra todo o esforço feito por ela;
e mesmo assim ela continua nos acompanhando com amor e preocupação. Neste caso, temos uma
responsabilidade a mais nas tarefas que assumimos; nada vem por acaso. Temos que usar o talento e
multiplicá-lo.
Há uma mensagem de Emmanuel, num desses quatro livros – no momento não lembro em qual –
em que ele diz que muitas vezes fazemos pedidos com súplicas tão fervorosas e sempre há amigos
espirituais que se põem ao nosso lado, apesar de verem as nossas dificuldades e, várias vezes, após
conseguirmos o que queríamos, achamos que aquilo não tinha a importância que pensávamos ter.
(Comentário sobre o livro “Os Mensageiros”, capítulo VI – Advertências Profundas -, em que há
um parágrafo lindíssimo que fala justamente sobre essa questão. Antes de reencarnar, pedimos o dom da
mediunidade, fazemos nossas súplicas e promessas alegando a nossa educação, a superação das
dificuldades junto à família etc. Depois, o que fazemos? Nós malbaratamos tudo...)
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(Comentário comparando o novo método de progressão nas escolas municipais e a progressão
espiritual através da mediunidade. A mediunidade é uma forma de acelerarmos nosso progresso).
Na desobsessão, quando vemos uma mãe lutando por seu filho, séculos e séculos, tentando resgatálo, nós despertamos para o que é amor. O amor que não aprendemos ainda a ter... Quando vemos o perdão
vindo de onde menos se espera, descobrimos o que é essa capacidade de perdoar...
É um mecanismo de elevação para nós. Tudo isso é acréscimo de experiência e nada disso pode ser
jogado fora. Aí, nós voltamos ao começo: Motivos de perseverança. Nós enfrentamos uma luta, seja qual
for o tamanho dela. Se Deus nos legou alguma coisa em confiança, como vamos abandoná-la? Temos que
aproveitar e multiplicar essa experiência.
Quando Paulo diz “Que devemos rejeitar todo fardo e pecado”, ele está nos falando da capacidade
de nós lidarmos com essas situações orando.
Emmanuel nos diz que “isso é respeitar cada individualidade, na posição que lhe é própria...”
(FV-12). Isso não quer dizer que estou apoiando a imperfeição, mas, sim respeitando, a situação de um
companheiro. Ele continua: “É partilhar o ângulo mais nobre do bom combate, com a nossa melhor
colaboração pelo aperfeiçoamento geral. E, por dentro, na intimidade do coração, prosseguir com Jesus”.
É você lidar com o problema, sem lidar na possível atmosfera inferior – de dor, mágoa, ódio, tristeza,
rancor – que o problema traz.
Depois, Paulo fala na educação paterna de Deus: “Vós esquecestes a exortação que lhes foi
dirigida como a filhos: Meus filhos, não desprezes a educação do Senhor, não desanimes quando ele
te corrige; pois o Senhor educa a quem ama e castiga todo filho que acolhe” (Hb 12:3). Aqui ele já cita
um texto do Livro dos Provérbios, cap. 3:11 e 12. Ou seja, a educação tem como objetivo maior direcionar
àquele a quem se ama, mas, quando necessário, castiga. Podemos tirar a palavra castigo, porque sabemos
que isso é a Lei de Ação e Reação. Sabemos que em determinados momentos teremos que colher os frutos
do que semeamos...
Paulo disse: “Reconheço todos os meus erros” (Paulo e Estêvão). Ele estava no deserto e confessa
que tinha sido perseguidor do Cristianismo nascente, que tinha provocado todos aqueles desmandos. E,
dali em diante, ele diz que se trabalhasse séculos a serviço do Cristo, ainda assim, ele não acabaria de
pagar a dívida que adquiriu... Cada vez que ele passava por uma situação difícil, lembrava-se de alguma
coisa que havia feito naquela própria encarnação. Se ele estava sendo apedrejado, ele lembrava do
apedrejamento de Estêvão... Depois ele defendeu o Cristianismo com unhas e dentes no mais alto rigor.
Podemos dizer que Paulo não teve limites; na perseguição ele era um apaixonado, ele chegou ao ponto da
crueldade...
Lógico que cada um de nós tem necessidades diferentes, compromissos diferentes, requisitos
diferentes. Nós não vamos largar tudo e fazer o que Paulo fez. Não é isso e nem é isso que a
espiritualidade nos pede. O que a espiritualidade espera de nós é exatamente dentro do padrão em que
estamos.
Certa vez, eu fiquei zangada com o Altivo, porque eu queria faltar num final de semana de trabalho,
e fui falar com ele para que ele remanejasse alguém. Naquela época, eu não tinha maiores compromissos
como hoje e não faltava. Ele virou-se muito sério para mim e disse: “Você assumiu ou não a tarefa?” Eu
fiquei zangada, fui para casa pensando: num final de semana, todo mundo vai viajar e ele me diz isso!
Depois analisei e percebi que ele falou aquilo porque precisava me ensinar alguma coisa. Tarefa mediúnica
é responsabilidade muito séria...
Voltando à educação de Deus, que ama e às vezes corrige, Emmanuel nos diz o seguinte: “A
princípio, doem-lhe as corrigendas, atormentam-no os açoites da experiência, entretanto, se sabe vencer
nas primeiras provas, entra no conhecimento das próprias necessidades e aceita a luta por alimento
espiritual e o testemunho de serviço diário por indispensável expressão da melhoria de si mesmo” (VL22). Qual é o objetivo divino? É nos fazer entrar no conhecimento da nossa própria necessidade e aceitar a
luta por alimento espiritual, por indispensável expressão de melhoria de si mesmo. “Eu preciso de mais
disciplina, eu preciso de mais esforço...” Este é o objetivo.
Paulo continua: “Por isso, reerguei as mãos enfraquecidas e os joelhos trôpegos; endireitai os
caminhos para os nossos pés, a fim de que se não extravie o que é manco, mas antes seja curado.”
(Hb 12:12-13)
Nós podemos estar enfraquecidos e trôpegos, mas não podemos parar e ainda temos que endireitar
o caminho por onde passamos.
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O que ele quis dizer com: “A fim de que não se extravie o que é manco, mas antes seja curado”?
Você está ferido, mas já tem condição de endireitar o seu caminho e seguir por ele. Agora, se você não
fizer isso, além da responsabilidade que você tem consigo, você tem responsabilidade com aquele outro
que não está com o joelho ferido não, ele é manco mesmo e está confiando em você.
Então, quando você ficar ali caído, ele também vai ficar; você passa a ter uma participação na
dificuldade do outro. Mas, se você se levanta e segue pelo caminho que você endireitou para você mesmo,
aquele outro que é manco vai aproveitar o seu exemplo e vai seguir o caminho. Portanto, além da
responsabilidade conosco, ainda temos responsabilidade com aqueles que nos acompanham...
Emmanuel dá um exemplo ótimo do lavrador, dizendo: “o lavrador desatento quase sempre escuta
sugestões de cansaço. Interrompe o serviço, em razão da tempestade, e a inundação lhe rouba a obra
começada e lhe aniquila a coragem incipiente” (FV- lição 99). Ele está cansado, de fato, há tempestade,
mas o problema é que quando ele ouve esses apelos e pára, a inundação vem e acaba com o trabalho todo
que ele já tinha feito. É a história do talento: já havia o esforço, a confiança...
Ainda falando sobre o lavrador, diz-nos: “Descansa, em virtude dos calos que a enxada lhe
ofereceu, e os vermes se incumbem de anular-lhe o serviço”. Emmanuel diz que além de perder o serviço,
aniquila a coragem incipiente; depois de ter feito o esforço, ter conseguido alguma coisa e depois vê tudo
destruído...
Nós nos lembramos dos nossos companheiros da desobsessão, que chegam aqui no fundo do poço...
E agora? Já estraguei tudo, já perdi tudo...
Por isso a observação que Paulo fez no capítulo anterior: “muitos abandonam as assembléias, no
entanto não é essa a solução”. Esses problemas acontecem? Acontecem, mas abandonar a casa, a causa, a
tarefa, não é solução. Temos que aprender a colocar de lado, do jeito que Emmanuel diz, não é jogando
fora, nem fazendo de conta que não existe, mas aprendendo a administrar o problema da melhor maneira
possível e prosseguir.
Emmanuel diz: “Faze isso por ti que necessita de elevação, e por aqueles que ainda te procuram
manquejando” (PN-86). Quer dizer, endireitemos as próprias veredas, endireitemos os próprios caminhos;
temos que fazer por nós e por aqueles que nos cercam.
Paulo faz algumas recomendações no finalzinho da Carta (cap. 13). Começa dizendo assim: “O
amor fraterno permanece...”. Dá como ponto básico a fraternidade. Emmanuel diz que “a fraternidade
pura é o mais sublime dos sistemas de relações entre as almas” (PN-141). Quer dizer, a fraternidade pura
é ver o outro como irmão, zelar pelo outro, exortar o outro através do exemplo, para que a fraternidade
pura permaneça.
Outra orientação é “Não vos esqueçais da hospitalidade, porque graças a ela alguns, sem saber,
acolherão anjos”. A hospitalidade aí não é somente a hospitalidade em nossa casa, mas, também, a
hospitalidade de abrir o nosso coração, de ouvir o outro, de permitirmos que o outro se aproxime de nós...
Muitos de nós, hoje, podemos estar convivendo com Espíritos bons, que têm lições a nos dar, que têm
coisas a nos oferecer e que não podemos imaginar.
Às vezes, a pessoa é simples, humilde, tem algum estudo, muitas vezes não tem nenhuma tarefa de
notoriedade e é um Espírito com amor, com capacidade de perdoar, de entender, de aconselhar, que
espanta!
(Comentário: Certa vez, o Dr. Hermann comentando sobre esse tipo de pessoas, falou que são
almas que reencarnam com a única tarefa de receber esses Espíritos complicados. Ele citou uma senhora
que era mãe e “pãe”, a família não tinha um pai, e o filho mais velho, que era um pouquinho melhor
ajudava a cuidar dos outros que eram um pouquinho piores. Ela ficava com os cinco deficientes, era o
arrimo da família, cuidando desses Espíritos... Ela, como Espírito, queria ajudar aqueles outros).
A outra orientação é: “Lembrai-vos dos prisioneiros, como se fôsseis prisioneiros com eles, e
dos que são maltratados, pois também vós tendes um corpo”. É a lição do Cristo, se colocar no lugar do
outro... Eles estão passando agora, mas ninguém pode garantir que nós não vamos passar amanhã. Então, a
lógica, a própria razão nos diz que devemos ampará-los; se ainda não for pelo amor puro, até pela lógica:
“eu posso vir a passar pela mesma situação e precisar tanto quanto eles”.
Para nós, médiuns, que muitas vezes achamos que estamos ajudando alguém, temos que parar e
perguntar: Estamos ajudando? Estamos ganhando bônus-hora? Estamos lucrando na espiritualidade, ou
estamos apenas ressarcindo, aprendendo e, quem sabe, preparando o nosso caminho? Às vezes, o nosso
caminho pode ter uma dificuldade lá na frente, mas como já o preparamos daqui, vamos até ter os recursos
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para superar essa dificuldade. Muitas vezes, achamos que estamos fazendo, fazendo, fazendo, e não
estamos; mas se nós estivermos endireitando o nosso caminho, já está de bom tamanho.
“O matrimônio seja honrado por todos, e o leito conjugal, sem manchas”, quer dizer, a
questão da fidelidade entre esposos; e podemos até comparar a outras situações em que a fidelidade
também é necessária: a fidelidade da amizade, que também se faz presente.
“Que o amor ao dinheiro não inspire a vossa conduta. Contentai-vos com o que tendes,
porque Ele próprio disse: Eu nunca te deixarei, jamais te abandonarei”. Não quer dizer que nós não
vamos lutar para ter o conforto que precisamos, mas não vamos deixar que o dinheiro inspire a nossa
conduta. Ter o bem é uma coisa e deixar que a preocupação com dinheiro te possua é outra.
“Podemos dizer com ousadia: o Senhor é mês auxílio, jamais temerei; que poderá fazer-me o
homem?” Novamente é a questão da fé. Outra expressão de Paulo “Se Deus é por nós, quem será contra
nós?” É um fato; se nós estamos trabalhando naquilo em que acreditamos, com fé, temos que perseverar...
“Lembrai-vos dos vossos dirigentes, que vos anunciaram a palavra de Deus... e imitai-lhes a
fé.” Às vezes, nós esquecemos aqueles que nos dirigem. Achamos que, porque nos dirigem, eles não
precisam mais de prece, nem da orientação de ninguém e não é verdade. Então, lembrai, no sentido de
orar, e lembrai, no sentido de imitar a fé.
“Não vos deixeis enganar por doutrinas ecléticas e estranhas”. Esta também é boa, porque isso
é uma tendência; às vezes misturamos um pouco de Doutrina Espírita, um pouco de cromoterapia, cristais
etc e achamos que tudo é verdade...
Você pode fazer um ecletismo positivo ou negativo. Um exemplo disso é o companheiro que
freqüenta uma casa e procura um tratamento espiritual em outro lugar. Se você está aqui e tem todo serviço
de orientação, por que vai buscar orientação em outro lugar? É porque você não considera esta casa muito
boa. Os antigos gregos tinham, em Atenas, um altar para cada deus, e para o caso de esquecerem algum,
havia um altar destinado “ao deus desconhecido”... Às vezes, nós estamos nesta situação: “vamos acender
uma vela para todos os santos...”
“Não vos deixeis enganar por doutrinas ecléticas e estranhas”- eclética quer dizer que é uma
miscelânea; e estranha, porque você pode até não estar juntando vários elementos – seria o ecletismo –,
mas ela é estranha àqueles conceitos. Um exemplo que parece-me excelente é aquele que lemos no livro
“Aconteceu na Casa Espírita”, no caso da médium de cura que acha estar ouvindo o guia e é um Espírito
que a influencia negativamente com outros objetivos: vai incutindo-lhe na mente uma doutrina estranha. O
orgulho dela não lhe permite perceber que aquela é uma doutrina estranha; se a orientação da casa é uma
só para todos, por que ela vai ter uma orientação somente para ela? Se a orientação da casa é a de que o
passe de cura aconteça de uma determinada forma, por que só ela vai fazer cirurgia espiritual? Ela não
percebe que está envolvida por uma doutrina estranha e enterra o seu talento também.
(Comentário: É o pensamento de que o que serve para o outro não serve para mim, pois a minha
dor é maior.)
Ainda aqui é uma questão de fé, ou, então, aquele julgamento que nós às vezes fazemos das
imperfeições alheias e que Emmanuel recomenda que não se faça, que qualquer avaliação seja feita
associada à fraternidade.
Certa vez, uma pessoa bastante antiga na Casa precisou do passe de cura e queria escolher a sala,
porque o passe de cura numa sala era “melhor” do que na outra em que ela conhecia as pessoas. É a crítica
exacerbada. É falta de fé.
(Comentário: Quando o número de médiuns no receituário aumentou, muitas pessoas queriam saber
quem eram aqueles Espíritos e se podiam confiar em suas orientações. Elas não sabem que eles estão na
casa bem antes de nós.)
Não sei se já aconteceu com vocês, mas conosco já aconteceu. Nós estávamos com uma dúvida a
respeito do próprio Encontro de Jesus e ficávamos, de vez em quando, nos questionando se era ou não da
forma como pensávamos. “Vou escrever para o Dr. Hermann. Não vou escrever não; não vou dar
trabalho”. Até que resolvemos escrever... Entramos na sala do Encontro de Jesus e veio uma amiga e disse:
“Fátima, eu tenho uma fita em que gravei duas palestras e há coisas muito interessantes.” Na hora soube
que era a resposta.
Às vezes, nós achamos que é naquela hora, daquele jeito, e não é; temos um acompanhamento
espiritual...
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(Comentário: Temos que desenvolver a confiança... Por que vai pedir opinião, se não está seguindo
o que o Espírito orienta? Se você está buscando, você está desenvolvendo uma confiança... E tantas vezes
o Espírito vem acertando na sua vida e chega o momento em que você consolidou uma confiança. É a
construção da fé.)
Paulo diz ainda assim: “Temos um altar do qual não podem se alimentar os que servem à
tenda”. A tenda é uma referência ao altar do templo de Salomão, aquela tenda que viajou com o povo
judeu no tempo de Êxodo, pela Península do Sinai.
O que Paulo está dizendo? Nós temos um altar íntimo, nosso; estamos aprendendo com Jesus que o
nosso verdadeiro altar está dentro de nós. Aqueles que precisam do altar exterior, ainda não estão em
condição de compreender esse altar íntimo. Então, temos que ter essa veneração: o respeito por tudo o que
fazemos, porque além daquela nuvem de testemunhas, temos o altar dentro de cada um de nós.
“Não temos cidade permanente, mas estamos à procura da cidade que está por vir”, quer
dizer, somos viajores. Esta vida é passageira, esta cidade não é nossa. Os primeiros cristãos, quando eram
perseguidos, uma das coisas que não se entendia na época, é que eles comumente diziam que tendo pátria,
tendo país, eles não tinham país nenhum; e não tendo pátria, não tendo um chão, eles tinham a pátria
celestial. Eles sabiam que isso aqui é passageiro ( esse corpo, a vida daqui, a casa ), que não temos cidade
permanente, mas estamos à procura da cidade que está por vir.
Para terminar, ele diz: “Obedecei aos vossos dirigentes, e sede-lhe dóceis, porque velam
pessoalmente sobre as vossas almas e disso prestarão contas”. E somos um tanto quanto rebeldes,
porque as orientações para a casa vêm e de vez em quando temos uns tumultos por conta da nossa rebeldia,
porque queremos questionar esses Espíritos que já deram “n” provas de que a árvore produz bons frutos.
Então, vale a pena seguir as suas orientações a respeito de mediunidade e outras.
“Obedecei aos vossos dirigentes e sede... almas...”. Outra coisa de que temos testemunho, porque
eu estava com uma pergunta sobre o encontro e a resposta veio antes de colocá-la no papel do receituário.
“...E disso prestaram contas”, ou seja, onde eles, por ventura, falharem... Não está tirando a nossa
responsabilidade, mas mostrando que eles também têm a deles.
Na despedida, ele diz: “O Deus da paz vos torne aptos a todo bem para fazer a Sua vontade,
que Ele realize em nós o que lhe é agradável com Jesus Cristo.” (Hb 13:20-21)
Que nós possamos realmente fazer todo o bem, seguindo as orientações de Jesus Cristo.
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10º EEMEDIUNIDADE – 2003 Aulas de Fátima