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TRIBUNA LIBERAL
DOMINGO | 02 DE SETEMBRO | 2012
Tribuna Memória
Alemão de nascimento,
sumareense de coração
N
esta edição do “Tribuna Memória”, prestamos uma homenagem a um importante
personagem da História de Sumaré:
o senhor Kurt Heinrich Zahn.
Nascido e criado na cidade de
Frankfurt, Alemanha, Kurt veio
para o Brasil em 1952, alicerçando
sua vida em território sumareense.
Para que possamos conhecer a jornada desse homem, faz-se importante uma breve contextualização
histórica sobre sua vinda ao Brasil.
O início de sua história advém de
um dos acontecimentos históricos
da humanidade que mais atrai o interesse e curiosidade geral: a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
São muitas as razões que tornam a
história dessa guerra tão instigante
aos nossos olhos, como os grandes
avanços tecnológicos oriundos da
necessidade da guerra; a criação
de armas bélicas letais e de maior
alcance; a ideologia nazista; a perseguição contra os judeus; ou, somente, a proximidade cronológica.
A verdade é que a Segunda Grande
Guerra já rendeu mais produções
literárias e cinematográficas do que
qualquer outro evento histórico.
No entanto, nosso foco não é a
guerra em si, mas a situação da Alemanha posterior ao conflito, e suas
conseqüências. O fim do combate
resplandeceu no território europeu
como uma realidade sombria e devastadora. As cidades da Europa
estavam cobertas pelos escombros
e pela poeira da destruição. Milhões
choravam seus mortos, feridos e inválidos, e outros tantos padeciam
pela falta de alimentos e moradia. A
Alemanha teve seu território dividido e todos seus recursos materiais e
econômicos controlados pelos Aliados, vencedores da guerra.
Kurt detalha as dificuldades que
passou neste período: “cada fim
de semana chegava a Frankfurt com a mala cheia de pão,
carne, linguiça e manteiga”
trazidos de uma cidade no interior,
onde tinha parentes. “No trem
superlotado, muitas vezes, eu
ficava entre dois vagões, pendurado com a mala pesada
numa escadinha, que ia para o
teto. Em Frankfurt, esperavam
os receptadores, que trocavam
tudo por cigarros, roupa de
cama, máquinas fotográficas
e artigos de couro, que eu levava de volta na mesma mala.
Sempre sobrava alguma coisa pra mim e para meus pais,
assim não passávamos fome
igual outros alemães, porque
tudo estava racionado, alimentos em quantia mínima”.
Quando a Alemanha rendeu-se
e foi declarado o fim da guerra, os
Aliados adotaram uma política geral
de desarmamento, desmilitarização
e “desnazificação” da vida alemã;
julgaram os criminosos de guerra,
descentralizaram o governo e a or-
ganização econômica, desmantelaram as fábricas empenhadas na
produção de equipamentos bélicos e
exigiram reparações . Ou seja, tudo
estava sob o controle daqueles que,
durante a guerra, lutaram contra
a Alemanha. Em 1949, o território
alemão foi dividido em dois – a República Federal da Alemanha, sob a
influência capitalista e, a República
Democrática Alemã, comunista.
Dessa forma, até que o território
alemão estivesse física e economicamente reconstruído e seu povo amparado, era a fome e a miséria que
dominavam os ânimos, sendo superados dia após dia.
Foi esse contexto, que incitou no
protagonista deste artigo, a vontade de procurar uma vida nova
em outro país. Na Alemanha, Kurt
participou ativamente do conflito
bélico, lutando por sua pátria. No
entanto, renegado pela própria
população, terminou a faculdade
de Engenharia e decidiu procurar
melhores condições de vida fora
do país. “Eu sempre planejava
nos últimos anos minha saída da Alemanha à procura
de uma vida nova e segura,
porque durante o tempo após
guerra eu me sentia igual a
uma criança queimada, que
perdia todos seus ideais, a
boa crença pela pátria e, com
algumas exceções, também
a confiança nos patriotas”.
Além disso, sua família tinha perdido tudo duas vezes, graças aos
bombardeios em Frankfurt: “um
dos últimos tiros de um tanque americano acertou meu
quarto, destruindo-o todo”.
Mas mudar-se para onde? Kurt
verificou a possibilidade de entrar
legalmente em vários países, inclusive no Brasil, onde tinha conhecidos em São Paulo. Não encontrou
dificuldades para receber o visto
que permitiria sua vinda. Depois de
muitos esforços financeiros, embarca num navio rumo ao porto de Santos, no dia 23 de maio de 1952.
Chegando a São Paulo, procura
emprego nas empresas de engenharia, até encontrar o cargo que
mudou sua história e trouxe este homem de garra e fibra para Sumaré,
onde construiu sua vida. Este cargo
foi oferecido pela construtora dinamarquesa Christiani & Nielsen, que
precisava de um engenheiro para
a construção de uma das empresas
mais importantes da história e da
atualidade sumareense: a 3M.
Situada numa fazenda beirando
a estrada de terra entre Campinas
e Sumaré, a 3M virou a nova casa
de Kurt: “morava nos casebres
rústicos dos funcionários”. É
com empolgação que descreve a
construção do lago da 3M: “era
um vale seco, com pequenas
fontes de água. Queríamos
captar a água da chuva, o que
tornou necessário a constru-
FOTOS: ASSOCIAÇÃO PRÓ-MEMÓRIA/SUMARÉ
Kurt e Maria Helena
3M do Brasil (atualmente)
ção do dique. Na primeira vez
não funcionou e a água passou
direto. Então colocamos dinamite para tirar o lodo debaixo
dele. Depois da explosão ele
baixou 1 metro e, ai sim segurou a água”.
Durante sua estadia na 3M, Kurt
fez muitos amigos e, conheceu o casal Rudi (Rodolfo Gellert) e Fátima,
que lhe apresentariam sua futura esposa: Maria Helena Graupner, filha
de Eugênio Graupner, sub-prefeito
de Sumaré. Foi durante uma sessão no cinema da cidade, que Kurt
encontrou pela primeira vez Maria
Helena. Seus amigos planejaram
um encontro social para juntar o casal: “era numa festa com churrasco e bebida na fazenda 3M,
onde meus amigos convidaram, além de Maria Helena,
também os pais dela”. Com o
tempo, a amizade por ela se tornou
um amor profundo, que se oficializaria em casamento.
Tudo estava na perfeita ordem,
até seus planos serem acelerados: a Christian Nielsen pediu sua
transferência para a filial de Ma-
ceió (AL). Por isso, teve de casar-se
às pressas com Maria Helena para
poder levar seu amor consigo nessa
aventura pelo nordeste brasileiro.
Mas antes era necessário que Kurt
fosse batizado na religião católica.
Foi o padre José Giordano quem o
batizou em 1953, quando Sumaré
ainda era distrito de Campinas. O
padre José Giordano foi o primeiro
prefeito de Sumaré após sua emancipação em 1955.
O casal retorna para Sumaré dois
anos depois, quando a 3M planejava
o aumento da fábrica e incumbiria
a Kurt dessa tarefa. Morando novamente em Sumaré, tinha a vida
social muito agitada. Contribuiu financeiramente para a reforma da
sede do prédio do Clube Recreativo,
sendo hoje, sócio-remido.
Kurt fala com empolgação das
festas que costumava frequentar no
clube, sempre na companhia de seu
sogro e do cunhado Emílio, além de
amigos próximos, como Geraldo
Bordon, “Bepino” Biancalana, Adolfo Foffano, dentre muitos outros. O
tradicional baile do Havaí, e a festa
de Réveillon, eram imperdíveis: “eu
conhecia todo mundo, sentava
na mesa de todos”. O carnaval,
no entanto, não empolgava o alemão, pois “não gostava do barulho. Fui só umas três vezes nas
festas do clube e nunca mais”.
Além disso, não podemos deixar
de citar sua participação e colaboração na construção de Sumaré.
Como engenheiro, fez projetos de
loteamentos de interesse de várias famílias como Gigo, Foffano,
Sanguini, Zacarchenco, etc.. A Vila
Menuzzo saiu de sua prancheta, a
pedido dos herdeiros de Tranquillo
Menuzzo. E, a convite de Emílio
Graupner, participou da fundação
do Lions Clube de Sumaré.
Kurt viveu a maior parte de sua
vida em terras sumareenses, numa
chácara às margens da Rodovia
Anhanguera, retornando esporadicamente para sua terra natal. É com
muita empolgação, saudosismo e
alegria, que hoje, com 86 anos, nos
conta sua peculiar saga de vida, e a
Associação Pró-Memória de Sumaré tem a honra de compartilhar com
todos aqueles interessados na História, na memória e nas origens do
nosso município.
FALECIMENTOS
DE 20 A 27 DE
AGOSTO 2012
Dia 20 de Agosto de 2012.
José Edilson Ribeiro Borges,
com 46 anos
Luis Wanderley de Barros,
com 51 anos
Dia 21 de Agosto de 2012.
Nelson Alves de Toledo, com
66 anos
Aparecida Teixeira de
Camargo Padovani, com 72
anos
Dorival Rodrigues Gomes
Junior, com 26 anos
José Carlos Gomes, com 48
anos
Jair Caldeira, com 39 anos
Dia 22 de Agosto de
2012.
Maria Aparecida Correa de
Oliveira, com 62 anos
Isaura Rosa da Silva, com 84
anos
Lilinha Moreira Cusini, com
79 anos
Leolina de Paula Ricardo, com
79 anos
Dia 23 de Agosto de 2012.
Estelina Maria da Silva, com
79 anos
Dia 24 de Agosto de 2012.
Dalva Rocha da Silva, com 66
anos
José Jacinto da Silva, com 95
anos
Dia 25 de Agosto de 2012.
Jesus Rocha Marçal, com 62
anos
José Marques de Lima, com
72 anos
Antonio Francisco Guedes,
com 80 anos
Noêmia de Campos Moraes,
com 83 anos
Lucas da Silva, com 24 anos
Dia 26 de Agosto de 2012.
Cristiano Santa Rosa Antunes,
com 28 anos
Dioclydes Tivelli, com 83 anos
Dia 27 de Agosto de 2012.
Renato da Silva Ambrózio,
com 26 anos
João Fernandes Noveleto, com
80 anos
FERNANDA BIONDO
Historiadora e Diretora da
Associação Pró-Memória de Sumaré
Colaboração: Cemitério
da Saudade de Sumaré
ASSOCIAÇÃO PRÓ-MEMÓRIA DE SUMARÉ
Temos um acervo de aproximadamente 200.000 documentos e 40.000 fotos. Se tiver interesse em preservar as fotos de sua família ou publicá-las, dirija-se ao Centro de Memória. Estudantes, professores, pesquisadores e
população em geral são sempre bem-vindos. A Associação Pró-Memória é uma entidade particular, sem fins lucrativos. Se você quiser ajudá-la a se manter ou ampliar suas atividades, torne-se um sócio. Custa R$ 20,00 por mês.
Por conta disso, você recebe um DVD com todo material publicado no mês pela imprensa local e um filme original de Sumaré.
Endereços: Praça da República 102 – Centro –E-mail [email protected] - Fones: 3803.3016 / 3883.8829
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