UNIVERSIDADE ESTADUAL DA PARAÍBA
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA
CENTRO DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA
MESTRADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA AMBIENTAL (MCTA)
RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA
A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus
(Linnaeus, 1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus
Linnaeus, 1758) NA PERSPECTIVA DOS POVOS DO
SEMIÁRIDO PARAIBANO.
Campina Grande, Paraíba
2009
RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA
A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus (Linnaeus,
1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) NA
PERSPECTIVA DOS POVOS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO.
Dissertação apresentada ao Mestrado de Ciência e Tecnologia
Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre.
Orientador: Professor Dr. José da Silva Mourão
Co-orientador: Professor Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves
Campina Grande, Paraíba.
2009
É expressamente proibida a comercialização deste documento, tanto na sua forma impressa
como eletrônica. Sua reprodução total ou parcial é permitida exclusivamente para fins
acadêmicos e científicos, desde que na reprodução figure a identificação do autor, título,
instituição e ano da dissertação
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL-UEPB
B238e
Barboza, Raynner Rilke Duarte.
A etnoecologia dos tatus-peba (Euphractus sexcinctus
(Linnaeus, 1758) e tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus
Linnaeus, 1758) na perspectiva dos povos do semi-árido
paraibano [manuscrito] / Raynner Rilke Duarte Barboza. – 2009.
177 f. : il. color.
Digitado
Dissertação (Mestrado em Ciência e Tecnologia Ambiental),
Centro de Ciências e Tecnologias, Universidade Estadual da
Paraíba, 2009.
“Orientação: Prof. Dr. José da Silva Mourão, Departamento
de Biologia”.
1. Etnoecologia. 2. Semi-árido. 3. Etnozoologia. 4. Caatinga.
I. Título.
22. ed. CDD 591.7
RAYNNER RILKE DUARTE BARBOZA
A ETNOECOLOGIA DOS TATUS-PEBA (Euphractus sexcinctus (Linnaeus,
1758) E TATU VERDADEIRO (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) NA
PERSPECTIVA DOS POVOS DO SEMIÁRIDO PARAIBANO.
Dissertação apresentada ao Mestrado de Ciência e Tecnologia
Ambiental da Universidade Estadual da Paraíba, como requisito
parcial à obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Dr. José da Silva Mourão
Co-orientador: Professor Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves
COMISSÃO EXAMINADORA
__________________________________
__________________________________
Prof. Dr. José da Silva Mourão
Universidade Estadual da Paraíba
Prof. Dr. Rômulo Romeu da Nóbrega Alves
Universidade Estadual da Paraíba
__________________________________
__________________________________
Prof. Dr. Alberto Kioharu Nishida
Universidade Federal da Paraíba
Prof. Dr. Luiz Carlos Serramo Lopez
Universidade Federal da Paraíba
Campina Grande, Paraíba, 22 de Junho de 2009
Dedicatória
Agradeço ao Meu Amado e Bom Deus por tudo o que me concedeu, desde nascituro, e
o que ainda fará por mim ao longo de minha vida, do momento em que escrevo essas linhas
até o cerramento dos meus olhos. Agradeço pela força, coragem, obstinação, disciplina,
inspiração e fé que me impulsionaram a concretizar mais um importante passo em minha
carreira. Agradeço ao Onipotente, Onipresente e Onisciente pelo dom de discernir os
ensinamentos que vem dos homens e os que vêm de Deus. A Ele dedico meu trabalho.
Agradeço aos meus Pais: Gerson Alves Barboza e Salete Duarte Barboza, pela honra
de tê-los como genitores, por serem minhas maiores referencias, as jóias indeléveis e os
pilares de minha vida e por mais uma vez estarem presentes e ostensivos em todos os
momentos possíveis e imagináveis. Agradeço-lhes grandiosamente por todas as lições,
princípios e ensinamentos de vida a qual me foram passados e que serão retribuídos e
perpetuados aos meus descendentes. Agradeço ao meu Pai pelo Amor, Dedicação e
Fidedignidade onde me possibilitou realizar e concretizar esse trabalho. A Minha Mãe pelo
Amor, Acolhimento e Ternura típicos e insubstituíveis de Mãe. A estes dedico meu trabalho.
Agradeço de forma ímpar todo apoio e dedicação, toda a presteza e prontidão, todo
Amor e Carinho de minha noiva Adma Henriques Costa e familiares em todos os momentos
passados. Agradeço a Adma toda solidariedade e ajuda nos momentos difíceis e todo
contentamento e entusiasmo dos momentos de alegria e sucesso. Agradeço por estar presente
em minha vida e por continuar a estar para sempre. A estes dedico meu trabalho.
Agradeço aos meus Irmãos: Vanessa Duarte Barboza, Walny Duarte Borborema,
Walkiria Duarte Borborema, Walnete Duarte Borborema, Walniza Duarte Borborema e
Walderez Duarte Borborema pela Presteza, Ajuda e Paciência necessária nesses dois anos de
dedicação. Agradeço especialmente ao meu irmão Walny e esposa Lucy pelos sinceros e
valiosos votos de Felicidade e Sucesso que sempre me foram desejados. A estes dedico meu
trabalho.
A minha tia Leônia, e meu primo Jurandir (Danda); ao meu tio Leônidas e meu primo
Lindiberg, pelo incondicional apoio em minha estadia na cidade de Sumé, Sem eles,
certamente as chances de êxito não seriam grandes. A estes dedico meu trabalho.
Agradeço aos meus estimados e queridos, Amigos e Orientadores, José da Silva
Mourão e Rômulo Romeu da Nóbrega Alves pelas pessoas impolutas e de conduta ilibada que
são. Agradeço por toda ajuda, paciência e ensinamentos bem como por todo apoio que me foi
dado para a realização desse mestrado. A estes dedico meu trabalho.
Agradeço especialmente ao meu eterno e fiel amigo Wedson de Medeiros Silva Souto
por ter sido como um irmão desde a graduação, mestrado e continuará sendo por toda nossas
vidas. Agradeço pela solidariedade, apoio, sucesso e companhia, ao longo desses anos. Da
mesma forma agradeço em especial aos seus familiares Iracema Medeiros Silva (mãe);
Antônio Clarindo da Silva Neto (tio) e Dona Ana (avó) pelo acolhimento, carinho, presteza,
amizade e disposição que sempre tiveram a minha pessoa. A Estes dedico meu trabalho.
Não poderia esquecer outros amigos e companheiros de Mestrado que estiveram
presentes comigo e que me ajudaram em ampla escala para realização desse trabalho.
Francisco Pires de Castro Junior e Michelle da Silva Pimentel Rocha, Ana Maria, Ronaldo
Justino de Araújo Junior e Fabrício Borges. Agradeço especialmente ao Chico e a Mika por
tudo que aprendi em minha vida pessoal e pelo que foi somada a minha vida profissional. A
estes dedico meu trabalho.
Agradeço especialmente ao Professor José Cavalcanti da Silva por ter colaborado com
seus conselhos e ensinamentos mesmo antes de entrar no mestrado. A este dedico meu
trabalho.
Agradeço ao meu bom amigo e companheiro de viagens, Geraldo, pela paciência e boa
vontade em sempre prontificar-se a nos acompanhar nos tranalados as cidades de pesquisa.
Agradeço pelas palavras de confiança e solidariedade que sempre teve para minha pessoa. A
este dedico meu trabalho.
E em conjectura alguma poderia deixar de lembrar minha Amiga Ana Alice e
familiares, residentes do Município de Monteiro, por todo seleto e incomparável apoio que me
foi concedido para realização das pesquisas nessa cidade. Sem sobra de dúvidas foram peçaschave e insubstituíveis para a conclusão de minha dissertação. A estes dedico meu trabalho.
Agradeço a todos os familiares do Professor Rômulo Romeu da Nóbrega Alves,
residentes da cidade de São Mamede, pela frutuosa e calorosa estadia que me foi concedida de
modo à realização do meu trabalho de pesquisa. Agradeço e saúdo particularmente o Patriarca
da família, o senhor Obede, a quem devo meu prestigio e carinho e cuja alcunha popularmente
conhecida na cidade (“pebão”) me derão a certeza de estar na casa certa, no lugar certo e com
a família certa para concretizar minha pesquisa com as espécies de tatus estudadas. Ao senhor
Obede, sua esposa, aos filhos: Obedin, Fábiano, Marizinha e Alain, a estes dedico meu
trabalho.
A todos os participantes, entrevistados, residentes e informantes do semi-árido
paraibano a qual fizeram parte de minha pesquisa. Meus mais sinceros e humildes
agradecimentos. A estes dedico meu trabalho.
A concretização deste trabalho contou com a participação de diversas pessoas, que
direta e indiretamente apoiaram a causa. Desculpando-me pela omissão de alguns nomes
MEUS MAIS SINCEROS AGRADECIMENTOS. A estes, dedico meu trabalho.
Dedico ao meu Criador e Senhor, ao meu Bom
Deus por tudo que me concedeu e por tudo que
Fez em minha vida.
Dedico esta dissertação a toda minha família,
composta por meus verdadeiros mestres,
modelos reais de perseverança, parceria,
dedicação e ética.
“...A diversidade de nossas opiniões não decorre de uns serem mais razoáveis que os outros,
mas somente porque conduzimos nossos pensamentos por diversas vias, e não consideramos
as mesmas coisas”
René Descartes
Resumo
Este trabalho teve como objetivo geral obter informações junto a moradores de cinco
municípios do semi-árido do Estado da Paraíba (Campina Grande, Monteiro, São Mamede,
Sousa, Sumé) acerca dos conhecimentos ecológicos e comportamentais (alimentação,
reprodução, habitat, predação e utilização) que os mesmos possuem sobre os tatus-peba
(Euphractus sexcinctus) e tatus verdadeiros (Dasypus novemcinctus), bem como analisar e
descrever as atividades cinegéticas e finalidades da caça exercida sobre essas duas espécies de
tatus, visando subsidiar medidas de conservação e manejo. Para obtenção dos dados, utilizouse uma combinação de métodos qualitativos e quantitativos. Dentre os métodos qualitativos,
destacam-se: entrevistas livres, semi-estruturadas, bola de neve ou “snow Ball – em inglês” e
turnês guiadas já os dados quantitativos foram trabalhados em médias e porcentagens simples
no software Microsoft® Excel e analisados por meio do cálculo do Nível de Fidelidade (FL).
Os dados obtidos foram analisados por meio de uma abordagem emicista/eticista, na qual os
conhecimentos tradicionais foram comparados com aqueles correspondentes e/ou
correlacionados na literatura científica. Foram contactados 177 homens e 37 mulheres com
atividades relacionadas aos tatus, cujas idades variaram de 16 a 77 anos. Os resultados obtidos
mostraram que as informações referentes à alimentação, nicho ecológico e reprodução foram
descritas de maneira muito elucidativa pela maioria dos entrevistados, demonstrando um
profundo conhecimento e percepção sobre a ecologia e biologia das duas espécies de tatus
estudadas. Tais níveis de percepção estão diretamente associados a questões regionais e
culturais de cada localidade bem como as práticas de criação desses animais em cativeiro. As
principais técnicas de caça e captura desses animais foram: Caça com armas de fogo, com
cães e o uso de armadilhas como tatuzeiras ou pebeiras, também conhecidas como cachorrode-arame; e Balde com água. Os povos do semi-árido paraibano utilizam os E. sexcinctus e D.
novemcinctus tanto na gastronomia local como para fins medicinais e mágico-religiosos, onde
foram documentados usos para o tratamento de 10 condições ou doenças: asma, dor de
ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas de insetos, reumatismo,
varizes e verrugas. Destaca-se nessa pesquisa o registro da caça para fins recreacionais e
comercial por parte dos moradores das localidades estudadas. Sob uma ótica conservacionista,
as técnicas e modalidades de caça descritas nesse trabalho podem trazer grandes impactos na
dinâmica populacional dessas duas espécies de tatus. Estudos adicionais relativos a atividades
de caça serão úteis de modo a contribuir com propostas de normas e leis que possam regular a
caça controlada em cada região bem como para implementação de planos de manejo e uso
sustentável dessas espécies.
Palavras-chave: Etnoecologia, atividades cinegéticas, tatu-peba, tatu verdadeiro,
Abstract
The ethnoecology of six-banded armadillo (Euphractus sexcinctus (Linnaeus,
1758) and nine-banded armadillo (Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758) by
the perception of the people of semi-arid region, Paraiba.
This study addressed to obtain general information from the residents of five municipalities in
the semi-arid region of Paraiba State (Campina Grande, Monteiro, São Mamede, Sousa,
Sumé) about their knowledge on the ecological and behavioral (feeding, reproduction, habitat,
predation and use) of two specimens of armadillos (Euphractus sexcinctus) and (Dasypus
novemcinctus) that occurs in that area, as well as to describe and analyze the cinegetic
activities and purposes of game hunting carried on these two species, seeking support
conservation and management measures. Data collection was obtained through a combination
of qualitative and quantitative methods. Among the qualitative methods: free interviews,
semi-structured interviews, snow ball technique and guided tours were used; the quantitative
data were done on simple averages and percentages in Microsoft ® Excel software and
analyzed using the calculation of Fidelity Level (FL). Data were analyzed by an emic/ethics
approach in which traditional knowledge were compared with those involved and/or related to
the literature. 177 men and 37 women were contacted, whose ages ranged from 16 to 77
years. The results showed that the information regarding the foraging, ecological niche and
reproduction were described in a very elucidating way by most of the interviewees,
demonstrating a deep knowledge and perception on the ecology and biology of the two
species of armadillos studied. Such levels of perception are directly linked to regional and
cultural issues of each locality and the practices of creation of those animals in captivity also.
The main hunting techniques and capture of those animals were: firearms, with dogs, the use
of wire-dog and bucket with water. The people of the semi-arid of Paraiba use the E.
sexcinctus and D. novemcinctus such in the local gastronomy, as for medicinal and magicalreligious purposes, which were documented in this work for the treatment of 10 conditions or
diseases: asthma, earache, wounds, furunculosis, deafness, blocked nose, insect bites,
rheumatism, and varicose veins and warts. The practice of recreational and commercial
hunting was documented in this research by the residents of the studied localities. From a
conservation perspective, the techniques and methods of game described in this work can
bring major impacts on population dynamics of these two species of armadillos. Additional
studies on the activities of hunting will be useful to contribute to proposals for rules and laws
that may regulate the controlled hunting in each region and for implementation of
management plans and sustainable use of these species.
Keywords: Ethnoecology, game activities, six-banded armadillo, nine-banded armadillo,
Lista de Ilustrações
Figuras
Figura 1. Localização da área de estudo................................................................................ 26
Figura 2. Isoieta de 1000m..................................................................................................... 44
Figura 3. Algumas diferenças visuais marcantes entre E. sexcinctus.................................... 68
Figura 4. Foto de E. sexcinctus com pênis parcialmente protuso.......................................... 68
Figura 5.................................................................................................................................. 121
Figura 6.................................................................................................................................. 122
Figura 7. Cães de caça usados na captura de tatus no semi-árido da Paraíba........................ 125
Figura 8. Tatuzeira de madeira.............................................................................................. 127
Figura 9. Tatuzeira de ferro....................................................................................................127
Figura 10. Instrumentos usados por caçadores de tatus-peba e verdadeiro........................... 129
Figura 11. Instrumentos usados por um caçador de tatus no município de São Mamede,
Paraíba.................................................................................................................................... 129
Figura 12. Tatus-peba criados em tonéis por um entrevistado do município de Campina
Grande.................................................................................................................................... 136
Figura 13. Registro do preparo de um tatu-peba na culinária do semi-árido paraibano........ 138
Figura 14. Foto do rabo de um tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé
para tratamento de mouquidão............................................................................................... 143
Figura 15. Registro do sebo tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé
para tratamento de várias enfermidades, sobretudo para reumatismo................................... 143
Figura 16. Rabos de tatus-peba e verdadeiros usados na proteção de residências contra “mau
olhado”................................................................................................................................... 148
Figura 17. Registro de patas de tatu-peba usados em oferendas a deidades.......................... 148
Quadros
Quadro 1. Epíteto folk de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido da Paraíba......... 59
Quadro 2. Cognição comparada das principais diferenças entre tatu-peba e verdadeiro...... 62
Lista de Tabelas
Tabela 1. Perfil socioeconômico dos entrevistados..................................................................54
Tabela 2. Porcentagem dos informantes que relataram a facilidade ou não de se encontrar as
espécies em cada localidade visitada........................................................................................60
Tabela 3. Percepção de moradores do semi-árido da Paraíba quanto aos hábitos sociais de D.
novemcinctus e E. sexcinctus....................................................................................................71
Tabela 4. Horários de forrageio para as duas espécies de tatus (E. sexcinctus e D.
novemcinctus)........................................................................................................................... 73
Tabela 5. Percepção dos moradores locais quanto aos períodos de reprodução a parturição de
D. novemcinctus e E. sexcinctus............................................................................................... 82
Tabela 6. Cognição comparada do conhecimento dos entrevistados em função do
conhecimento científico sobre aspectos reprodutivos de tatus-peba e verdadeiro................... 86
Tabela 7. Nível de Fidelidade das categorias de finalidades de usos de D. novemcinctus e E.
seecinctus................................................................................................................................133
Tabela 8. Usos medicinais e mágico-religiosos de E. sexcinctus e D. novemcinctus.............144
Tabela 9. Valores para comércio de tatus-peba e verdadeiro registrados em
cada localidade........................................................................................................................153
Abreviaturas
ADH.............. Atlas do Desenvolvimento Humano
CITES........... Convenção sobre Comércio Internacional de Espécies Ameaçadas da Fauna e
da Flora, sigla em inglês.
EMBRAPA... Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
EMEPA......... Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S. A.
IBGE............. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ITIS............... Sistema de Informação Taxonômica Integrada, sigla em inglês
IUCN............. União Internacional para Conservação da Natureza, sigla em inglês
MMA............. Ministério do Meio Ambiente do Brasil
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO GERAL....................................................................................................... 16
OBJETIVO GERAL.............................................................................................................. 20
OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................................. 20
ÁREA DE ESTUDO.............................................................................................................. 21
Município de Campina Grande.................................................................................. 21
Município de Monteiro.............................................................................................. 22
Município de Sumé.................................................................................................... 23
Município de São Mamede........................................................................................ 23
Município de Sousa.................................................................................................... 24
CAPÍTULO I. O Conhecimento ecológico local dos moradores do semi-árido paraibano em
relação às espécies de tatus: Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus...................... 27
1.1 Introdução........................................................................................................................ 28
1.2 Material e Métodos.......................................................................................................... 33
1.2.1 Da coleta dos dados........................................................................................... 33
1.2.2 Da análise dos dados......................................................................................... 34
1.2.3 Da identificação das espécies............................................................................ 34
1.3 Referencial Teórico.......................................................................................................... 36
1.3.1 As Ciências dos saberes: A Etnobiologia e a Etnoecologia.......................................... 36
1.3.2 O Conhecimento Ecológico Tradicional........................................................... 39
1.3.3 As Caatingas dos Sertões Paraibanos................................................................ 42
1.3.3.1 Característica Etimológica e Geográfica da Caatinga........................ 44
1.3.3.2 Características Físicas........................................................................ 45
1.3.3.3 Características biológicas................................................................... 46
1.3.3.4 Sobre a mastofauna da Caatinga........................................................ 47
1.3.4 A Ordem Xenarthra........................................................................................... 49
1.3.4.1 Características gerais, origem e filogenia...........................................49
1.3.4.2 Distribuição........................................................................................ 52
1.4 Resultados e discussão..................................................................................................... 54
1.4.1 Aspectos socioeconômicos das populações estudadas...................................... 54
1.4.2 Percepção gerais dos entrevistados quanto as espécies de tatu estudada.......... 56
1.4.2.1 Epítetos folk das espécies................................................................... 59
1.4.2.2 Sobre a disponibilidade das espécies nas localidades estudadas........ 60
1.4.2.3 Principais diferenças apontadas para ambas as espécies.................... 61
1.4.3 Nicho Ecológico................................................................................................ 69
1.4.3.1 Aspectos de comportamentos sociais................................................. 71
1.4.3.2 Atividades de Forrageio..................................................................... 73
1.4.4 Locas, buracos ou fossados............................................................................... 76
1.4.5 Percepção dos moradores quanto aos aspectos reprodutivos dos tatus-peba e
verdadeiro...............................................................................................................................79
1.5 Conclusões....................................................................................................................... 88
1.6 Referências....................................................................................................................... 89
CAPÍTULO II. A caça e usos tradicionais de tatus (Dasypus novemcinctus e Euphractus
sexcinctus) no semi-árido do Estado da Paraíba.................................................................... 113
2.1 Introdução........................................................................................................................ 114
2.2 Objetivos.......................................................................................................................... 117
2.2.1 Geral.................................................................................................................. 117
2.2.2 Específicos........................................................................................................ 117
2.3 Material e Métodos.......................................................................................................... 118
2.3.1 Procedimentos das coletas dos dados................................................................ 118
2.3.2 Procedimentos de análises dos dados................................................................ 119
2.3.3 Da identificação das espécies............................................................................ 119
2.4 Resultados e Discussão.................................................................................................... 120
2.4.1 Técnicas e estratégias de caça aplicada aos tatus usados por caçadores do semiárido paraibano....................................................................................................................... 120
2.4.1.1 Armas de fogo.................................................................................... 120
2.4.1.2 Caça com cães.................................................................................... 123
2.4.1.3 Tatuzeira, Pebeira ou Cachorro-de-Arame......................................... 126
2.4.1.4 Balde com água.................................................................................. 127
2.4.1.5 Ferramentas utilizadas para caça........................................................ 128
2.4.2 Finalidades de usos de D. novemcinctus e E. sexcinctus por moradores do semiárido da Paraíba: Compreensões e perspectivas.................................................................... 133
2.4.2.1 Os tatus (peba e verdadeiro) como iguaria gastronômica e seus tabus
alimentares............................................................................................................................. 134
2.4.2.2 Os tatus como seres medicinais e mágico-religiosos na percepção dos
povos do semi-árido paraibano.............................................................................................. 140
2.4.2.3 Caça Recreacional.............................................................................. 150
2.4.2.4 A Caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins
Comerciais............................................................................................................................. 152
2.4.3 Implicações para um manejo sustentável de D. novemcinctus e
E. sexcinctus........................................................................................................................... 154
2.5 Conclusões....................................................................................................................... 158
2.6 Referências....................................................................................................................... 159
APÊNDICE............................................................................................................................ 173
Apêndice A – Questionário semi-estruturado........................................................................ 174
16
Introdução Geral
As etnociências, dado o atual panorama mundial, estão passando por um
questionamento epistemológico a partir da perspectiva da racionalidade ambiental, que leva à
análise do diálogo, ao amálgama e às relações de poder entre os saberes locais [autóctones e
tradicionais] com as ciências e as tecnologias modernas (LEFF, 2005). Uma nova discussão
parece estar sendo estabelecida neste momento – a revisão do papel da comunidade na
conservação dos recursos naturais. Cada comunidade possui suas peculiaridades no uso de
recursos e, portanto, o conhecimento delas pode ser extremamente útil na elaboração de
planos de manejo e conservação mais eficazes, uma vez que, segundo Gibson (1999), para
muitos defensores da comunidade, estas têm uma necessidade a longo prazo pelos recursos
renováveis próximos de onde estão e possuem mais conhecimentos acerca destes recursos do
que outros atores sociais potenciais.
Para Leff (2005) é fato que os saberes tradicionais certamente foram ignorados,
subjugados e substituídos pelos modelos científicos e pelos estilos de vida modernos. Portanto
é necessário esclarecer as relações de dominação, sujeição e desconhecimento dos saberes
tradicionais pela macrocultura modernizadora; libertar os saberes subjugados (FOUCAULT,
1980) não formalizados em códigos científicos, e interrogar os atuais processos de hibridação
entre a ciência e a sabedoria dos códigos culturais e as práticas tradicionais. As etnociências
participam assim da construção de uma racionalidade ambiental que tenha em seu cerne o
principio da diversidade cultural e de formas diferenciadas de apropriação da natureza. Os
saberes locais ou tradicionais inscrevem-se na construção de um novo paradigma,
estreitamente relacionado aos princípios do holismo (LEFF, 2005), motivo pelas quais várias
simbioses foram estabelecidas entre o conhecimento tradicional, expresso no prefixo etno
com a imagem das disciplinas da cultura letrada, o que fica expresso nas próprias designações
etnobotânica, etnozoologia, etnogeografia, entre outras (FRAZÃO-MOREIRA, 2001).
A Etnoecologia, neste âmbito, emerge para o estudo e compreensão do saber
acumulado, das conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade humana a respeito da
natureza e dos diferentes usos e formas de manejo dos recursos naturais (TOLEDO, 1992).
Ela é um campo multidisciplinar que integra técnicas da Biologia, Antropologia, Etologia,
Linguística, Economia e outras áreas (GERIQUE, 2006) e que igualmente pressupõem a
investigação do conhecimento das populações humanas acerca da natureza, baseada nas
crenças, no conhecimento tradicional, nas percepções e manejo dos recursos naturais
17
(TOLEDO, 1992). Marques (2002) corrobora de tal pensamento ampliando o estudo
etnoecológico para os sentimentos e comportamentos que intermediam as interações entre as
populações humanas e os demais elementos dos ecossistemas que as incluem, bem como os
impactos ambientais daí decorrentes. De maneira semelhante, para Nazarea (1999) a
etnoecologia é o estudo dos conhecimentos, estratégias, atitudes e ferramentas que permitem
às diferentes culturas produzir e reproduzir as condições materiais de sua existência social por
meio de um manejo apropriado dos recursos naturais. Ellen (1999) lembra que o
conhecimento local sobre os recursos naturais inclui também o conhecimento sobre a extração
e utilização dos recursos, atividades que em última análise aumentam a adaptabilidade da
população local, ou que são dinamicamente adaptativas.
Tais abordagens, de acordo com Guimarães e Mourão (2006), são importantes pelo
fato de não apenas levarem em consideração os recursos naturais, mas também as populações
humanas que sobrevivem destes. Os programas de manejo podem e devem ser úteis para uma
política ecológica e socialmente responsável ou ainda, para garantir o saber tradicional, o qual
torna a herança cultural humana universal. A natureza interdisciplinar da etnoecologia é outro
aspecto relevante a qual promove a articulação e integração entre o conhecimento científico e
o conhecimento das pessoas, sobretudo de camponeses ou povos indígenas.
A região semi-árida do nordeste do Brasil é um campo bastante fértil à aplicação deste
enfoque, em especial no que se refere aos recursos faunísticos e florísticos explorados. Neste
diapasão, Albuquerque e Andrade (2002a) destacam que a caatinga ainda é pouco estudada no
que diz respeito às relações seres humanos/natureza, não sendo identificados muitos dos usos
que são feitos de seus recursos. Para estes autores, o estudo destas relações possibilita
combinar o saber científico com o saber local visando contribuir com o planejamento de
estratégias para um desenvolvimento sustentável.
Nesta área, residem 30 milhões de pessoas (LEAL et al., 2003), muitas das quais
possuem uma estreita dependência do bioma local, de onde extraem madeira para uso como
combustível doméstico, além de plantas e animais silvestres, obtidos por meio de caça e
coleta, os quais são fontes de alimentos e de medicamentos, como constataram alguns
trabalhos prévios, a exemplo: Albuquerque e Andrade (2002a; b), Albuquerque et al. (2007a,
b), Alves et al. (2006, 2007, 2009), Alves e Rosa (2007a, b) e Silva et al. (2004). Poucos
estudos etnoecológicos desenvolvidos anteriormente confirmam a existência de um relevante
conhecimento tradicional dos moradores do semi-árido nordestino em relação às espécies que
os cercam. Araújo et al. (2005) realizaram um estudo etnoornitológico no município de
Soledade, Estado da Paraíba, onde identificaram uma forte correlação entre o conhecimento
18
local sobre 30 aves com o prenúncio de chuvas. Mourão et al. (2006) encontraram entre os
caçadores do semi-árido paraibano um rico conhecimento da taxonomia folk da mastofauna da
região. O uso de algumas espécies de animais com finalidades medicinais no semi-árido
nordestino indica ser mais bem documentada à estudos etnoecológicos da fauna local (ver
ALMEIDA & ALBUQUERQUE, 2002; ALVES, 2009; ALVES & ROSA, 2006, 2007b;
ALVES et al., 2007, 2008; BARBOZA et al., 2007; COSTA-NETO, 1999a) o que implica em
uma urgente necessidade de mais trabalhos que possam dimensionar e compreender o
conhecimento das pessoas residentes nessa região do Brasil no tocante aos recursos naturais
que os cercam, possibilitando a posteriori, a aplicação do conhecimento local em estratégias
que visem à conservação da biodiversidade da caatinga.
Considerando-se que no Brasil, país caracterizado por sua megadiversidade (15-20%
do total mundial) (MMA, 2003), os animais vêm sendo usados para diversos fins por
sociedades indígenas e por descendentes de europeus desde o período colonial, é de se esperar
que a utilização da vida silvestre pelos moradores do semi-árido nordestino seja amplamente
variada. Relativo à fauna, o seu uso vem se perpetuando ao longo da história da humanidade
e, nas sociedades contemporâneas, animais silvestres vêm sendo utilizados para diversas
finalidades, desde alimentação, atividades culturais, comércio de animais vivos, partes deles
ou subprodutos usados como vestuário, ferramentas e para uso medicinal e mágico-religioso
(ALVES & PEREIRA-FILHO, 2007; ALVES & ROSA, 2006, 2007a; BENNETT &
ROBINSON, 1999, NARANJO et al., 2004).
Dentre os biomas brasileiros, a caatinga é, provavelmente, o mais desvalorizado e
menos conhecido botanicamente e faunisticamente (BRANDÃO & YAMAMOTO, 2004;
GIULIETTI et al., 2004) sendo descrita na maioria das vezes como um ecossistema pobre em
espécies e endemismos. Segundo Oliveira et al. (2003), o tradicional ponto de vista que os
mamíferos da caatinga são subconjunto da fauna daqueles do cerrado agora se apresenta de
forma enganosa. Dados recentes confirmam a presença de cerca de 150 espécies de
mamíferos neste bioma, sendo que ao menos 10 seriam endêmicas, contrapondo-se a
informação de que haveria oitenta espécies, com menção de um único caso de endemismo
(OLIVEIRA et al., 2003, 2004).
A ordem Xenarthra - representada pelos tamanduás, tatus e preguiças arborícolas - está
inserida na diversidade de espécies da mastofauna da Caatinga, sendo detentora de
significâncias ímpares para com os nordestinos, constituindo fonte de alimento, remédios
tradicionais, renda e ainda explorados para atividades cinegéticas e usos mágico-religiosos
(ALVES et al., 2008, 2009; ALVES, 2009; BARBOZA et al., 2007; COSTA-NETO, 2000a;
19
MOURÃO et al., 2006). Tendo em vista que tais atividades freqüentemente acarretam na
morte de exemplares e que, de fato, são impactantes em maior ou menor grau sobre as
populações das espécies exploradas, é fundamental verificar o uso exercido pelas
comunidades das espécies dos ambientes que as cercam, assim como registrar o conhecimento
tradicional inserido neste contexto, tornando-se uma ferramenta valiosa na formulação de uma
gestão participativa e sustentável dos recursos naturais.
Em relação às espécies de Xenarthras que habitam o semi-árido paraibano e que são
popularmente exploradas, encontram-se os tatus verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e peba
(Euphractus sexcinctus). Contudo, há uma carência de estudos a despeito dos aspectos
culturais diretamente vinculados a ecologia, biologia e aos diversos usos que se fazem das
espécies anteriormente citadas.
Desta forma, o presente trabalho objetivou obter informações junto a moradores de 5
municípios do Estado da Paraíba sobre os conhecimentos bioecológicos (alimentação,
reprodução, habitat, predação), bem como identificar as principais técnicas de caça e
utilização que eles possuem sobre os tatus-peba (Euphractus sexcinctus) e tatu verdadeiro
(Dasypus novemcinctus); além de interagir o conhecimento tradicional com o conhecimento
científico, buscando contribuir para que as populações locais sejam inseridas de forma
participativa em futuros planos de manejo e conservação, além de identificar as estratégias de
caça e as finalidades de uso destas espécies.
20
Objetivo Geral

Obter informações junto a moradores de cinco municípios do semi-árido do Estado da
Paraíba (Campina Grande, Monteiro, São Mamede, Sousa, Sumé) sobre os
conhecimentos ecológicos e comportamentais (alimentação, reprodução, habitat,
predação e utilização) que os mesmos possuem sobre os tatus-peba (Euphractus
sexcinctus) e tatus verdadeiros (Dasypus novemcinctus); e analisar as atividades
cinegéticas associados a tais usos
Objetivos específicos

Analisar o perfil socioeconômico dos entrevistados;

Estudar o conhecimento ecológico local dos moradores envolvidos na pesquisa;

Identificar os diversos usos de Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus
empregados pelos moradores dos municípios estudados;

Interagir o conhecimento ecológico local com o conhecimento científico;

Identificar as técnicas e estratégias de caça por parte dos moradores;

Indicar possíveis alternativas para inclusão em um futuro plano de manejo sustentável
das espécies alvo desse estudo;
21
Área de Estudo
O presente estudo foi desenvolvido em cinco municípios do semi-árido paraibano
(bioma caatinga): Município de Campina Grande (mesorregião do Agreste), municípios de
Monteiro e Sumé (microrregião do Cariri Ocidental paraibano) e os municípios de São
Mamede e Sousa (Sertão paraibano) (Figura 1), todos descritos a seguir. A escolha da área de
estudo obedeceu aos seguintes critérios: (1) indicativo da existência de atividades de caça de
subsistência e/ou recreativa, (2) importância nas mesorregiões ou microrregiões onde estão
localizados, (3) acessibilidade, (4) conhecimento com os moradores locais, (5) carência de
estudos em etnoecologia e etnozoologia nas regiões citadas, (6) grande diversidade cultural,
(7) processo avançado de antropização.
Município de Campina Grande
Campina Grande possui uma população de 371.060 indivíduos e ocupa uma área
territorial de 621 km² (IBGE, 2008). Trata-se do município de maior população do interior do
estado da Paraíba e apresenta um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,721 (médio
desenvolvimento humano) (ADH, 2004). Embora possua uma população predominantemente
urbana (aproximadamente 91%), cerca de 31 mil pessoas residem na zona rural (ADH, 2004;
IBGE, 2008). As principais atividades do município são serviços e a indústria, as quais
contribuem com mais de 95% do Produto Interno Bruto (PIB) segundo o IBGE (2008).
Apresenta as coordenadas geográficas de (07º 13' 50" S 35º 52' 52" O) (Figura 1) e
situa-se na microrregião com o mesmo nome e na mesorregião do Agreste do Estado da
Paraíba (EMBRAPA, 2006; RODRIGUEZ et al., 2002). É considerada a maior e mais
importante cidade do interior do Nordeste. Pólo de cinco microrregiões homogêneas que
compõe o Compartimento da Borborema – área que abrange 79 municípios, cerca de 44% do
território paraibano e população que soma mais de um milhão de habitantes – a cidade exerce
influência geoeconômica em limites que transpõem fronteiras estaduais, tornando-se, assim,
uma das mais importantes do Nordeste do Brasil (HENRIQUE, 2006).
De acordo com a classificação de Köppen, o tipo de clima encontrado em Campina
Grande-PB é As‟(quente e úmido com chuva de outono-inverno) (HENRIQUE, op. cit.;
EMEPA, 2008). O período chuvoso inicia-se de fevereiro a março prolongando-se até agosto.
A amplitude térmica anual é muito pequena em função da baixa latitude. As temperaturas
22
variam um pouco durante o ano e as médias anuais são elevadas, com valores compreendidos
entre 22 °C e 26 °C. Os meses mais quentes são janeiro e fevereiro e os menos quentes são
julho e agosto (HENRIQUE, 2006). A umidade relativa do ar apresenta médias de 80%
(EMEPA, 2008).
O solo do município de Campina Grande é raso e de natureza argilo-arenosa. Em
função da pequena camada de terreno sedimentar e da escassez de chuvas, este solo não
favorece a formação de associações florestais densas (HENRIQUE, 2006). Desses fatores
decorre a precariedade da cobertura vegetal. Não obstante, a paisagem florística é bastante
diversificada, apresentando formações de palmáceas, cactáceas em geral, leguminaceas e
bromeliáceas, além de rarefeitas associações de marmeleiros, juazeiros, umbuzeiros e
algarobas (Ibdem).
Município de Monteiro
O município de Monteiro possui uma área de 986 km2 e está localizado na
mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri Ocidental da Paraíba (RODRIGUEZ et
al., 2002; IBGE, 2008). Suas coordenadas geográficas são 07º 53' 22" S 37º 07' 12" O
(EMBRAPA, 2006)
A população total do município é estimada em 29.980 habitantes (IBGE, 2008),
consistindo a maior população do Cariri Ocidental do Estado da Paraíba e apresenta um
Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,603 (médio desenvolvimento humano)
(ADH, 2004). Destes habitantes, 16.684 (55,6%) residem na zona urbana e o restante (44,4%)
na zona rural.
O tipo climático é Bsh - semi-árido quente, correspondendo, estando inserido na área
mais seca do Estado com precipitações médias anuais muito baixas (média de 500 mm), e
uma estação seca que pode atingir onze meses (EMEPA, 2008). A vegetação desta unidade é
formada por florestas subcaducifólica e caducifólica, compondo o que se conhece por
caatinga, próprias das áreas interioranas do Nordeste do Brasil e a temperatura média é de
28ºC (BRASIL, 2005a).
O município de Monteiro está inserido na unidade geoambiental da Depressão
Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido nordestino, caracterizada por uma
superfície de pediplanação bastante monótona, relevo predominantemente suave-ondulado,
cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas. Elevações residuais, cristas e/ou
outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados testemunham os ciclos intensos
23
de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino (BRASIL, 2005a). Com respeitos
aos solos, nos Patamares Compridos e Baixas Vertentes do relevo suave ondulado ocorrem os
Planossolos, mal drenados, fertilidade natural média e problemas de sais; Topos e Altas
Vertentes, os solos Brunos não Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas
Vertentes do relevo ondulado ocorrem os Podzólicos, drenados e fertilidade natural média e
as Elevações Residuais com os solos Litólicos, rasos, pedregosos e fertilidade natural média
(Ibdem).
Município de Sumé
Igualmente localizada na mesorregião da Borborema e microrregião do Cariri
Ocidental da Paraíba possui uma área de 838 km2 (ADH, 2004; RODRIGUEZ et al., 2002).
De acordo com o IBGE (2008), a população total do município é de 16.456 habitantes,
consistindo, em termos populacionais, no segundo maior município de Cariri Ocidental
paraibano. Destes habitantes, 10.877 (66,1%) residem na zona urbana e o restante (33,9%) na
zona rural. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,658 (médio desenvolvimento
humano) (ADH, 2004).
Segundo a classificação de Köppen, o clima é do tipo Bsh – semi-árido quente
(EMEPA, 2008). A vegetação é basicamente composta por Caatinga hiperxerófila com
trechos de Floresta caducifólia, com o clima caracteristicamente do tipo tropical semi-árido,
com a pluviosidade média anual de cerca de 695mm e temperatura média anual de 26,5ºC
(ALBUQUERQUE et al., 2002). Em relação ao solo, em geral, são pouco profundos, podendo
apresentar elevada saturação de bases, argilas de atividade alta no horizonte B e capacidade de
retenção de água disponível média a baixa, necessitando de um manejo eficiente para sua
utilização agrícola (EMEPA, 2008).
Município de São Mamede
O município de São Mamede (coordenadas 06º 55' 36" S 37º 05' 44" O) localiza-se na
mesorregião do Sertão do Estado da Paraíba e na microrregião do Seridó Oriental,
correspondendo ao segundo município-pólo desta (ADH, 2004; RODRIGUEZ et al., 2002). A
população total do município é de 7.782 habitantes, dos quais 5.567 (71,5%) residem na zona
urbana e 2.215 moram na zona rural (IBGE, 2008). O IDH desta população é de 0,646 (médio
desenvolvimento humano), contudo, a renda per capita mensal é baixa, cerca de R$ 108,45
24
(ADH, 2004). As atividades ligadas ao setor agropecuário representam de 50,1 a 75% da
economia local (BRASIL, 2005b). A pecuária local tem como principais rebanhos bovinos
(6953 cabeças), caprinos (3303 cabeças) e ovinos (1359 cabeças).
A vegetação é basicamente composta por Caatinga hiperxerófila com trechos de
Floresta caducifólia, com o clima caracteristicamente do tipo climático AW' - quente e úmido
com chuvas de verão e outono e a pluviosidade média anual de cerca de 431,8 mm (BRASIL,
2005b).
Relativo aos aspectos fisiográficos, o município de São Mamede, está inserido na
unidade geoambiental da Depressão Sertaneja, que representa a paisagem típica do semi-árido
nordestino, caracterizada por uma superfície de pediplanação bastante monótona, relevo
predominantemente suave-ondulado, cortada por vales estreitos, com vertentes dissecadas.
Elevações residuais, cristas e/ou outeiros pontuam a linha do horizonte. Esses relevos isolados
testemunham os ciclos intensos de erosão que atingiram grande parte do sertão nordestino
(BRASIL, 2005b). Nos Patamares Compridos e Baixas Vertentes do relevo suave ondulado
ocorrem os Planossolos, mal drenados, fertilidade natural média e problemas de sais; Topos e
Altas Vertentes, os solos Brunos não Cálcicos, rasos e fertilidade natural alta; Topos e Altas
Vertentes do relevo ondulado ocorrem os Podzólicos, drenados e fertilidade natural média e
as Elevações Residuais com os solos Litólicos, rasos, pedregosos e fertilidade natural média
(Ibdem).
Município de Sousa
O município de Sousa (coordenadas centrais 06º 45' 33" S, 38º 13' 41" W; Figura 1)
está localizado na mesorregião do Sertão do Estado da Paraíba. Devido à importância
econômica e educacional, é principal pólo e atribui o mesmo nome da microrregião onde está
inserido.
Possui um a população total de 63.783 habitantes, sendo que 46.200 (72,4%) são
residentes da zona urbana e os demais (17.583) vivem na zona rural (IBGE, 2008). A
atividade agropecuária constitui uma das principais atividades de ordem econômica no
município (BRASIL, 2005c). Na produção agrícola, destaca-se a produção de bananas (15 mil
toneladas) e coco-da-baía (19 mil fritos) e na pecuária as principais criações são de boi
(22.000 cabeças), ovinos (6.600 cabeças) e caprinos (4.500 cabeças) (IBGE, 2008).
O clima é do tipo AW' (classificação de Köppen), com chuvas de verão. O período
chuvoso se inicia em novembro com término em abril e a pluviosidade média de 690 mm
25
(PARAÍBA, 2008). A vegetação – similarmente a que ocorre em São Mamede - é composta
por Caatinga Hiperxerófila com trechos de Floresta Caducifólia (Ibdem). Os solos são, de um
modo geral, argilosos e a drenagem é de moderada a imperfeita, além de apresentar em alguns
casos excessiva pedregosidade (EMEPA, 2008).
26
Sousa
São Mamede
Campina Grande
Figura 1. Localização da área de estudo
Legenda: A. Município de Campina Grande (07º 13'
50" S 35º 52' 52" W), B. Município de Monteiro
(07º 53' 22" S 37º 07' 12" W), C. Município de
Sumé (07º 40' 18" S 36º 52' 48" W), D. Município
de São Mamede (06º 55' 36" S 37º 05' 44" W), E.
Município de Sousa (06º 45' 3" S 38º 13' 41" W)
Sumé
Monteiro
27
CAPÍTULO I
O Conhecimento ecológico local dos moradores do semi-árido
paraibano em relação às espécies de tatus: Dasypus
novemcinctus e Euphractus sexcinctus
28
1.1 Introdução
Estudar o conhecimento ecológico tradicional dos moradores do semi-árido paraibano
é bastante difícil em virtude da carência de estudos etnoecológicos prévios o que pode, em
maior ou menor medida, interferir significativamente no desenvolvimento de um trabalho
recém-esboçado. Embora haja muita discussão a respeito do que são comunidades
tradicionais, neste trabalho, compartilho da definição provida por Diegues et al. (1999) que
insere os sertanejos/vaqueiros como um grupo tradicional não-indígena, conceito este que
abarca grande parte dos moradores de pequenas e médias localidades do interior do Nordeste
do Brasil e que corrobora em grande parte com o decreto-lei nº 6.040 de 7 de fevereiro de
2007 a qual define povos ou comunidades tradicionais como “grupos culturalmente
diferenciados e que se reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização
social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução
cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações e
práticas gerados e transmitidos pela tradição” (BRASIL, 2007).
Compreender o saber e o saber-fazer de sertanejos/vaqueiros relativo ao uso de
recursos naturais implica necessariamente em entender como ocorreu a ocupação européia
pelo interior nordestino, processo marcado pelo aprendizado e assimilação de conhecimentos
dos indígenas locais, assim como a execução de conhecimentos e práticas daqueles em um
processo que, além de duradouro, foi altamente impactante para o bioma caatinga. O período
de ocupação européia do interior do Brasil, em especial no Norte e Nordeste, reflete, pois,
apenas um dos mais variados exemplos de interações ser humano-natureza, haja vista que tal
processo foi marcado pela transferência de espécies, invasão de novas, predatismo intenso e
impactos ecológicos por um modelo de ocupação onde basicamente era sustentado pelo
tríade: gado-exploração-gente, onde a pecuária certamente foi à principal atividade econômica
(para uma leitura mais detalhada ver CROSBY, 1993; DIEGUES et al., 1999; GUEDES,
2006; MESGRAVIS & PINSKY, 2000) e elemento fixador de populações humanas
descendentes de europeus no interior das novas terras. A despeito dos conflitos com os
indígenas locais decorrentes desta ocupação, a qual foge do escopo de nossa abordagem, não
é difícil deduzir que os “invasores” europeus assimilaram, à medida que se expandiam com
seus rebanhos pela vastidão do interior da neoeuropa sul-americana, conhecimentos dos
nativos no que diz respeito a espécies locais com utilidade para o homem (e.g., fontes de
alimento, remédios, utilitários, entre outros) (ver CARVALHO, 2000; HUE, 2008;
29
MESGRAVIS & PINSKY, 2000). Fruto da interação com os indígenas locais, a mandioca,
bananas e cajus, além de animais silvestres como antas, tatus, pacas e peixes-boi consistiram
importantes fontes de alimentos para os portugueses que vinham ao Brasil no século XVI
(CARVALHO, 2000). Em outro exemplo, pode-se inferir que a diversidade cultural brasileira
contribuiu para o estabelecimento de um rico e complexo conhecimento acerca de plantas e
animais medicinais e seus potenciais usos terapêuticos. Animais como o teju Tupinambis
merianae (Duméril & Bibron, 1839), a jibóia Boa constrictor (Linnaeus, 1758), o tatu-peba
Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), o tatu verdadeiro Dasypus novemcinctus (Linnaeus,
1758) e tamanduás (e.g., tamanduá bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758 e o
tamanduá mirim Tamandua tetradactyla (Linnaeus, 1758) explorados para fins medicinais no
Brasil (ver ALVES et al., 2007), provavelmente tiveram seus usos a partir dos conhecimentos
de indígenas.
Os colonizadores [ocupadores, grifo meu] procuraram descrever e entender a
realidade ecológica brasileira nos dois primeiros séculos de colonização, destacando,
sobretudo, o caráter utilitário das espécies, revelando a necessidade por parte dos
colonizadores em conhecer a realidade ecológica na qual estavam inseridos e, neste particular,
as informações recolhidas junto aos índios eram imprescindíveis (GUEDES, 2006). Esta
situação reflete apenas a questão trabalhada por Turner et al. (2003) de que, extremidades
culturais, constituindo lugar de zonas de borda entre entidades sociais discretas, tornam-se
zonas de interação social, cruzamento de conhecimento e sinergia, onde as pessoas não só
trocam bens materiais, mas também ocorre aprendizado entre ambas as partes.
O uso de animais da fauna brasileira por sociedades indígenas e por descendentes dos
colonizadores europeus justifica a construção de um conhecimento tradicional a qual vem se
perpetuando durante séculos, transferido de geração a geração, sobretudo oralmente entre os
neoocupantes dos sertões brasileiros – descendentes de europeus e mestiços destes com outras
etnias. Esse tipo de conhecimento destaca-se por seu vasto campo e variedade que
comportam: “técnicas de manejo de recursos naturais, métodos de caça e pesca,
conhecimentos sobre os diversos ecossistemas e sobre propriedades farmacêuticas,
alimentícias e agrícolas de espécies e as próprias categorizações e classifcações de espécies da
fauna e da flora utilizadas pelas populações tradicionais” (SANTILLI, 2005, p. 192).
O estudo do conhecimento tradicional das relações ser humano e natureza é abordado
à luz das Etnociências, em especial da Etnoecologia, onde inicialmente definida como o
estudo dos sistemas de conhecimento desenvolvido por uma dada cultura para classificar os
objetos, atividades, e eventos do universo dos povos tradicionais (HARDESTY, 1977),
30
transcede a questão etnotaxonômica (ver BERKES, 1999) e engloba o estudo das relações
ambientais de comunidades e culturas particulares (SLIKKERVEER, 2000), permitindo
convergir os aspectos concretos do manejo de recursos naturais sem ignorar os aspectos gerais
socias, culturais e cognitivos relatados (RIST & DAHDOUH-GUEBAS, 2006). De acordo
com Albuquerque e Andrade (2002a) a Etnoecologia, juntamente com a Etnobiologia, têm
sido campos que vêm contribuindo no fornecimento de dados que muitas vezes corroboram a
idéia de que as práticas locais são ecologicamente sustentáveis e podem fornecer alternativas
para as práticas importadas pelos cientistas, que não raro olvidam a realidade local.
Contraposto a esta afirmação, destaca-se o fato de que as práticas locais podem ser
impactantes, a exemplo das técnicas de “arremedo” ou “facheado” usada por caçadores do
semi-árido paraibano (ver ALVES et al., 2009) ou mesmo o uso de animais silvestres para
fins medicinais, tal como a exploração para esta finalidade de diversas espécies ameaçadas de
ursos na China (ver FENG et al., 2009), ou ainda no Nordeste do Brasil, onde 230 das cerca
de 250 espécies de animais usadas com propósitos medicinais são silvestres e 52 estão em
listas de espécies ameaçadas (e.g., IUCN, CITES, MMA) (ALVES, 2009), refletindo numa
forte pressão sobre as populações exploradas.
No entanto, mesmo em situações nas quais esses tipos de usos de recursos são
impactantes, o conhecimento local pode ser útil para a elaboração de planos de uso e manejo
de recursos naturais. É fato que comunidades locais, as quais exploram determinadas espécies
para fins específicos, possuem um valioso conhecimento etnobioecológicos das mesmas. Ad
exemplum, 68 espécies são exploradas como recursos pesqueiros no Estuário do Rio
Mamanguape no Estado da Paraíba (ROCHA et al., 2008), e nesta mesma área, Alves e
Nishida (2002), constataram que percepção dos pescadores locais relativo ao processo de
ecdise do caranguejo-uçá - U. cordatus corrobora em muitas das informações fornecidas com
aquelas existentes na literatura. O conhecimento que os pescadores possuem das dimensões
espaço-temporais do estuário do rio Mamanguape é igualmente rico, de tal maneira que estes
conseguem diferir duas estações climáticas que sobrepõem às variações de salinidade na
região estuarina e, conseqüentemente, afetam na distribuição das espécies nesses períodos
(ver MOURÃO & NORDI, 2006).
Na região semi-árida do Nordeste brasileiro a carência de estudos ecológicos e
etnoecológicos são marcantes, como constataram previamente alguns autores, a exemplo de
Albuquerque et al. (2007b), Almeida et al. (2006). Isto acarreta algumas preocupações, visto
que algumas perguntas - tais como: Como as comunidades que vivem na caatinga, ou nos seus
domínios, se relacionam com os recursos faunísticos? Como se dá a apropriação dos recursos
31
neste bioma? ou Como os recursos da caatinga são percebidos? - tornam-se, no máximo,
parcialmente respondidas pela comunidade científica.
No caso específico da mastofauna, a Caatinga, paulatinamente, começa a ser
desmistificada em termos de pobreza e diversidade; contudo, ainda permanece pouco
estudada do ponto de vista das interações estabelecidas entre os moradores locais com os
mamíferos da região. Sabe-se, no entanto, que alguns grupos de espécies desempenham
papéis-chave no imaginário e na cultura popular dos nordestinos, sobretudo daqueles que
vivem no Sertão. Entre esses grupos, estão os Xenarthras – tamanduás, tatus e preguiças.
Etnozoologicamente, esses animais têm tido uma longa história de inter-relações com os
povos americanos, desempenhando papéis importantes na dieta, folclore, medicina, língua,
religião, recreação, economia e cosmologia de diferentes culturas ameríndias, tanto presentes
quanto passadas (GILMORE, 1986; MARTÍNEZ, 1995; SÁNCHES & ROMERO, 1994;
SETZ, 1991).
Os tatus, em especial o tatu-peba (E. sexcinctus) e o tatu verdadeiro (D.
novemcinctus), são animais intrinsecamente associados à cultura do Nordeste brasileiro.
Linguisticamente, o termo tatu relaciona-se com expressões populares, tais como: “cara de
tatu”, que se refere aquele com rosto comprido; “levar um tatu”, que significa cair (COSTANETO, 2000a). Há registros do uso de E. sexcinctus e D. novemcinctus na farmacopéia da
região Nordeste para o tratamento de várias enfermidades, incluindo asma, dor de ouvido,
edema, ferimentos, pneumonia, sinusite, trombose entre outras (ver ALVES, 2009). Essas
práticas normalmente exigem a morte de espécimes dos tatus supracitados, o que implica,
necessariamente, em atividades de caça. Tais espécies têm sido exploradas para fins
alimentares e recreacionais (caça esportiva) de forma freqüente no interior do Brasil (ver
ALVES et al., 2009; MOURÃO et al., 2006; MEDRI, 2008).
Torna-se uma questão central o fato de que caçar implica à necessidade de um
conhecimento tradicional detalhado da ecologia dos animais explorados assim como de outros
aspectos ecológicos locais, fato este confirmado por outros autores, como Henfrey (2002). A
partir deste contexto, o presente estudo teve por finalidade registrar o conhecimento ecológico
tradicional de moradores do semi-árido paraibano em relação à ecologia dos tatus-peba
(Euphractus sexcinctus) e tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus), contribuindo para que
esse conhecimento seja um dos fatores a ser inserido de forma participativa em futuros planos
de manejo e conservação destas espécies. Nosso estudo parte da premissa de que, apesar do
valioso conhecimento ecológico tradicional de muitos moradores do semi-árido paraibano,
32
esse corpus raramente recebe atenção ou análise necessária perante aqueles que se preocupam
com o uso e manejo de recursos.
33
1.2 Material e Métodos
O trabalho de campo foi desenvolvido em dois períodos distintos. O primeiro deles foi
de janeiro a março de 2008, onde os dados foram coletados no município de Sousa. O
segundo período ocorreu de outubro de 2008 a abril de 2009, no qual os foram coletados nos
demais municípios. Em ambos os casos a freqüência de visita à área de estudo foi quinzenal
com permanência de quatro dias, normalmente das quintas-feiras aos domingos. Os dados
foram obtidos e analisados mediante a aplicação de um conjunto de técnicas qualitativas e
quantitativas descritas a seguir.
1.2.1 Coleta dos dados
A coleta dos dados consistiu fundamentalmente na realização de entrevistas, as quais
eram sempre precedidas pela identificação do entrevistador, por uma rápida explanação sobre
o trabalho e por um pedido de permissão para realização das entrevistas. Inicialmente foram
realizadas entrevistas livres com informantes encontrados ad libitum (ao acaso), tendo por
objetivo compreender de forma mais ampla o conhecimento dos moradores locais em relação
às espécies de tatus enfocadas nesse estudo.
De acordo com Mourão & Nordi (2006), este tipo de entrevista é de extrema
importância, pois permite ao entrevistado discorrer livremente sobre o assunto tratado. Por
este motivo, muitos estudos etnobiológicos e etnoecológicos fizeram uso dessa técnica, a
exemplo de Araújo et al. (2005), Costa-Neto (1999b), Mourão et al. (2006), Rocha et al.
(2008), Thé (2003). Após esta etapa inicial, foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas
com residentes locais, incluindo aqueles identificados como especialistas. Um especialista
pode ser definido como uma pessoa reconhecida pela comunidade como sendo detentora de
um profundo conhecimento acerca do uso de animais para propósitos diversos (BAILEY,
1994). Esta etapa foi pautada por um questionário semi-estruturado (ver Apêndice A) que
englobava os seguintes aspectos: características físicas e biológicas, preferências alimentares,
de habitat, reprodução e outros aspectos bioecológicos.
Também foram realizadas turnês guiadas com especialistas em trilhas escolhidas pelos
mesmos, quando foi possível fazer registros fotográficos e identificar in loco as espécies de
tatus estudadas, além de podermos constatar parte das interações (positivas ou negativas)
estabelecidas destas pessoas com esses animais.
34
O universo de entrevistados foi determinado principalmente por meio da técnica bola
de neve (snow Ball – em inglês) (BERNARD, 1988). Tal técnica consiste na seqüência de
indicação (ões) feita(s) por moradores de uma determinada área o qual possibilita reconhecer os
indivíduos culturalmente competentes em relação a um determinado assunto. As entrevistas
individuais ou coletivas ocorreram tanto na zona urbana quanto na zona rural dos municípios
estudados. Muito embora os tempos de cada sessão tenham sido variados, quase sempre as
entrevistas tiveram duração superior a 40 minutos. A amostra total foi de 214 indivíduos, 177
homens e 37 mulheres, assim distribuídos: 109 de Campina Grande (76 homens e 33
mulheres), 18 de Monteiro (todos homens), 23 de São Mamede (todos homens), 32 de Sousa
(28 homens e 04 mulheres) e 32 de Sumé (todos homens). A média de idade dos entrevistados
foi de 40,1 anos.
1.2.2 Análise dos dados
Qualitativamente, os dados obtidos foram analisados por meio de uma abordagem
emicista/eticista, na qual os conhecimentos tradicionais foram comparados com aqueles
correspondentes e/ou correlacionados na literatura científica (POSEY, 1986), assim como
pelo modelo de união das diversas competências individuais (HAYS, 1976). Segundo este
modelo, toda informação pertinente ao assunto pesquisado é considerada. A confirmação das
informações fornecidas pelos entrevistados ocorreu principalmente de forma sincrônica, que
consiste em perguntas idênticas feitas a indivíduos diferentes em tempos muito próximos
(MARANHÃO, 1975).
A análise do conhecimento ecológico tradicional dos moradores das áreas estudadas
foi fundamentalmente realizada por meio de tabelas de cognição. Este tipo de análise,
essencialmente qualitativa, consiste na geração de uma “tabela” que compara fragmentos do
conhecimento dos entrevistados com fragmentos do corpus da literatura científica, buscandose convergências ou divergências. Por esse motivo, tal comparação entre os diferentes corpus
citados é um técnica amplamente utilizada em trabalhos de etnoecologia (ANDRADE et al.,
2006; COSTA-NETO, 2000b; MARQUES, 1995; MOURA, 2002; SOUZA, 2004).
1.2.3 Identificação das espécies
Similar ao procedimento realizado por Alves e Rosa (2006), os animais foram
identificados das seguintes formas: 1) análise dos espécimes doados pelos entrevistados; 2)
35
fotografias 3) através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas familiarizados
com a fauna das áreas de estudo do Departamento de Sistemática e Ecologia da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB).
36
1.3
Referencial Teórico
1.3.1 As Ciências dos saberes locais: A Etnobiologia e a Etnoecologia
As questões ambientais emergidas ao longo dos dois últimos séculos vieram interrogar
o papel dominante da ciência como sintetizadora e direcionadora dos conhecimentos da
humanidade.
A crise ambiental – a qual toma proporções marcantes a partir da segunda metade do
século XX transcende a superexploração dos recursos naturais. O cartesianismo da ciência
moderna subjugou saberes e gerou, no seio de nossa sociedade, a idéia de única verdade como
sendo aquela a qual poderia ser metodologicamente testada, mediante parâmetros préestabelecidos que, somente após repetidos testes e produção de resultados é que assim seria
efetivada (CHEN, 2004). A existência de Etnociências, em primeiro lugar, e o
estabelecimento de relações possíveis entre elas e as Ciências, em segundo lugar,
permaneceram para além dos limites do pensável, durante muito tempo (DIAS & JANEIRA,
2005). Ou seja, era impensável que pudesse existir a possibilidade de juntar o prefixo <éthos> a <scientiae>; também não se podia conceber que pudessem existir outras realidades, com o
mesmo radical, fora das ciências modernas (DIAS & JANEIRA, op. cit.).
No auge desta crise, os demais saberes não científicos, outrora subjugados, agora
passariam a ganhar destaque, como atesta Leff (2005). Este contexto é o marco do início da
popularização das etnociências (COTTON, 1996; MARTIN, 1995) a qual engloba, por
exemplo, a etnobotânica (CUNNINGHAM, 2001; MINNIS, 2000), a etnozoologia, a
palaeoetnobotânica, zooetnoarqueologia, etnoecologia (NAZAREA, 1999), etnoagronomia
(ALTIERI, 1993), etnopedologia (WINKLERPRINS & SANDOR, 2003), e outras áreas
relacionadas como a etnoclimatologia (ORLOVE et al., 2002), a etnoastronomia (FABIAN,
2001), etnomedicina (NICHTER, 1992), ou etnofarmacologia e nutrição (PIERONI &
PRICE, 2005); assim como na matemática (D‟AMBROSIO, 1999; HUYLEBROUCK, 2005),
ou seja, as „etno abordagens‟ estão tornando-se mais disponíveis (RIST & DAHDOUHGUEBAS, 2006).
Ao invés de desagregar as práticas encontradas nos modos de vida de agricultores,
mercadantes, artesãos e xamãs [assim como outros grupos tradicionais], empacotando-as em
disciplinas altamente especializadas da ecologia, agronomia, botânica, medicina, entre outras;
as etno-abordagens estão adotando uma visão mais compreensiva focada sobre as mais
37
variadas dimensões culturais subjacentes (ATRAN, 1991; NAZAREA, 1999; POSEY &
PLENDERLEITH, 2002; RIST & DAHDOUH-GUEBAS, 2006; WINKLERPRINS &
BARRERA-BASSOLS, 2004). Isto reflete apenas a questão de que outras culturas, e não
apenas a ocidental, tem gerado um conhecimento confiável acerca dos fenômenos naturais, o
que convida a exploração da atividade que outras culturas possam ter diferentes “ciências”
(POMEROY, 1992).
Para Rist e Dahdouh-Guebas (2006) as etnociências podem desempenhar um
importante papel no avanço da transdisciplinaridade e desenvolvimento sustentável, uma vez
que o principal desafio para os estudos transdisciplinares consiste em encontrar modos de
encorajar o diálogo e cooperação entre grupos heterogêneos de atores sociais com diferentes
formas de conhecimento, ao invés de impor uma visão ampla e coerente do mundo por meio
de um discurso hegemônico que silencia todos os outros discursos pelo posicionamento destes
fora das questões tratadas.
Este ponto certamente constitui um avanço das discussões sobre o papel da ciência e
das interações estabelecidas por esta com outros saberes considerados não científicos. Por
suas características, a ciência ocidental moderna foi [ou quase sempre o foi] considerada
como sendo a única capaz de descrever o mundo e de dar a ele um sentido lógico (COSTANETO, 1999c). Seus princípios, métodos e técnicas foram levados para todos os recantos do
mundo e tomados como universais. Nessa perspectiva, qualquer hipótese ou interpretação de
fatos que não afinem com as idéias vigentes era ignorada; qualquer tentativa de incluir
explicações criadas fora do rigor científico ocidental, que fuja da objetividade, era banida dos
templos acadêmicos (Ibdem).
Dentre as etnociências, a etnobiologia merece uma atenção especial por envolver a
análise de classificação de sistemas sobre a natureza e por ter uma profunda ligação com os
temas da botânica, zoologia e ecologia (MOURÃO et al., 2006). Embora não haja uma
definição universal de etnobiologia podemos considerar clássica a que afirma: “o estudo do
papel da natureza no sistema de crenças e de adaptação do homem a determinados ambientes,
relacionando-se, nesse sentido, à ecologia humana, além de dar ênfase às categorias e
conceitos cognitivos utilizados pelos povos em estudo” (POSEY, 1986). Benthall (1993)
define a etnobiologia como um novo ramo da ciência a qual une duas áreas do conhecimento
humano – a etnologia, o estudo de culturas, e a biologia, o estudo da vida. A etnobiologia
abrange as mais diferentes áreas da botânica, zoologia, ecologia, etc., mas que no saber
indígena [ou local], estão integradas formando um amálgama de plantas, animais, atividades
de caça e coleta, horticultura, espíritos, mitos, cerimônias, ritos, reuniões, energias, cantos e
38
danças e que não se enquadram nas categorias e subdivisões que são definidas dentro das
Ciências Biológicas [grifo meu] (COSTA, 2002). Valendo-se dos paradigmas e da
epistemologia da ciência moderna, a etnobiologia, desta maneira, fornece um arcabouço
teórico para interligar diferentes áreas das ciências sociais e naturais com outros sistemas de
conhecimentos não-acadêmicos (SANTOS-FITA & COSTA-NETO, 2007).
De acordo com Diegues et al. (1999), este ramo das etnociências ainda está
construindo seu método e sua teoria a respeito da maneira pela qual os povos classificam os
seres vivos, seu ambiente físico e cultural. Ainda segundo estes autores, pressupõe-se que
cada povo possua um sistema único de perceber e organizar as coisas, os eventos e os
comportamentos. Begossi et al. (2002), definem a etnobiologia de forma semelhante a
Diegues (2000), onde esta “busca entender os processos de interação das populações humanas
com os recursos naturais, com especial atenção à percepção, conhecimento e usos (incluindo o
manejo de recursos), contribuindo para esclarecer diferenças culturais e analisar a diversidade
ou heterogeneidade cultural”.
No entanto, estas definições não compreendem os aspectos epistemológicos e
metodológicos questionados, de modo que a etnobiologia pode ser confundida ou sobreposta
a alguns enfoques teórico-metodológicos mais recentes, como é o da etnoecologia (SOUZA,
2004). Ela caracteriza-se como um enfoque ou abordagem teórico-metodológica no estudo da
relação sociedade-natureza onde enfatiza o papel da cognição no comportamento humano,
apresentando-se como uma ferramenta útil para analisar problemas relacionados com o
manejo, sustentabilidade, conservação e direito de propriedade intelectual (Ibdem).
Estudos inseridos neste contexto antecedem o século XIX; a designação etnobotânica
foi datada academicamente em 1890 (FEWKES, 1896; HARSHBERGER, 1896) e
etnozoologia foi o nome dado por Mason nos Estados Unidos, em 1899, para definir a
“zoologia da região como exatamente descrita por indígenas” (MOURÃO et al., 2006).
Posteriormente, a etnociência assume um caráter multidisciplinar, ramificando-se em diversas
áreas do conhecimento como, por exemplo: etnopedologia, etnofarmacologia, etnozoologia,
etnoentomologia, entre outras. (VALLE, 2007)
De modo muito similar a Toledo (1992), Marques (1995), define a etnoecologia como:
“(...) o estudo das interações entre a humanidade e o resto da ecosfera,
através da busca da compreensão dos sentimentos, comportamentos, conhecimentos
e crenças a respeito da natureza, característicos de uma espécie biológica (Homo
sapiens) altamente polimórfica, fenotipicamente plástica e ontogeneticamente
dinâmica, cujas novas propriedades emergentes geram-lhe múltiplas
descontinuidades com o resto da própria natureza. Sua ênfase, pois, deve ser na
39
diversidade biocultural e o seu objetivo principal, a integração entre o conhecimento
ecológico tradicional e o conhecimento ecológico científico”.
Para Toledo (op. cit.), a etnoecologia está integrada em três dimensões em seu
universo de estudo: o complexo cosmos – corpus – práxis. O cosmos se refere aos sistemas de
crenças, mitos e rituais que englobam uma relação com o meio ambiente (CABRERA et al.,
2002). O corpus refere-se, no enfoque etnoecológico, a todo o repertório de conhecimento que
se enquadram dentro das mentes dos produtores e que geralmente não são escritos, ao passo
que dentro da esfera da práxis, encontra-se todo o conjunto de práticas produtivas que tomam
lugar durante a apropriação dos recursos naturais (Ibdem).
As definições de etnobiologia e etnoecologia mostradas aqui podem, segundo
Bandeira (2001), nos levar a concluir que estas têm aspectos em comum e estabelecem como
enfoque principal dessa disciplina, as relações sociedade-cultura-natureza. Para Descola
(1996), a etnobiologia busca entender basicamente os mesmos problemas centrais de outras
disciplinas, enfoques, tradições e escolas, como a etnoecologia, a ecologia humana, dentre
outras. As dificuldades de se delimitar epistemologicamente o campo científico da
etnobiologia e da etnoecologia estão fundadas em sua natureza interdisciplinar e em seu
recente desenvolvimento teórico-metodológico. Portanto, as ferramentas de que dispõem
pertencem a diferentes campos científicos (antropologia, botânica, zoologia, ecologia,
história, geografia) (Souza, 2004).
Segundo Bandeira (2001), essa sobreposição é o resultado do rápido desenvolvimento
da etnobiologia, assim como a proliferação de escolas, enfoques e tendências teóricas, o que
caracteriza o estado atual de desenvolvimento de disciplinas. Na verdade, a etnobiologia e a
etnoecologia estão intimamente associadas, haja vista que ambas possuem como essência de
estudo o Conhecimento Tradicional (CT) ou Conhecimento Ecológico Tradicional (CET) dos
mais variados povos.
1.3.2 O Conhecimento Ecológico Tradicional
O estudo do conhecimento humano é tão antigo quanto à história da humanidade. O
Conhecimento Ecológico Tradicional integra complicados vínculos entre os seres humanos e
os recursos naturais (EYSSARTIER et al., 2008). Esta construção tem sido definida como o
conhecimento adquirido através das gerações, que compreende um amplo espectro de povos
os quais incluem modos materiais, espirituais e culturais, tais como a agricultura, a caça e
práticas medicinais.
40
As sociedades tradicionais possuem um conhecimento apurado sobre o ambiente onde
vivem o que lhes permite adaptarem-se às condições desse ambiente (COSTA-NETO, 1999c).
A questão do conhecimento tem sido um tema central da filosofia e da epistemologia desde o
período grego. Contudo, não se tem alcançado um consenso em relação a uma definição geral
da palavra. Nos anos recentes o conhecimento começou a ganhar uma nova onda de atenção.
(RAHMAN, 2000).
Apesar destes esforços e avanços, ainda existem muitas propostas para a definição do
Conhecimento Tradicional (CT), mas segundo alguns autores (e.g., BERKES, 1993;
BERKES & HENLEY, 1997; JOHNSON, 1992; McCORKLE, 1994; QUIROZ 1996) todas
são incompletas, pois o conceito é relativamente novo e ainda está sendo construído.
Entretanto, alguns deles são marcantes e nos permite obter um mínimo de compreensão
pertinente a este termo.
De acordo com Wenzel (1999), Kimmerer (2002) e Mourão et al. (2006), o
conhecimento sobre o mundo natural os quais as pessoas detêm através das gerações é
usualmente denominado de “local” ou “tradicional”. Esse tipo de conhecimento caracteriza-se
por responder à cosmovisão de sua cultura e, portanto, o tipo de conhecimento tradicional
detido por cada povo ou comunidade local, difere um do outro. (GERMAN-CASTELLI,
2004). Não obstante, o termo conhecimento tradicional, em virtude de sua pluralidade de
conceituações, caracteriza-se por igual diversidade de sinônimos, onde podemos destacar:
“Conhecimento Ecológico Tradicional (CET)” ou (TEK do inglês Traditional Ecological
Knowledge) (DREW, 2005; GUIMARÃES & MOURÃO, 2006; HUNN, 2007; KNUDSEN,
2008), “Conhecimento Ecológico e Sistemas de Manejo Tradicionais (CETSM)” (GERMANCASTELLI, 2004), “Conhecimento Local (CL)” ou (LK do inglês Local Knowledge)
(BEGOSSI & SILVANO, 2008; PEDROSO-JÚNIOR, 2002), “Conhecimento Indígena (CI)”
ou (IK do inglês Indigenous Knowledge) (EL-HANI & BANDEIRA, 2008), “Conhecimento
Comunitário (CC)” (do inglês Community Knowledge) (JOHANNES, 1989), “Conhecimento
dos Habitantes Rurais (CHR)” (do inglês Rural Peoples‟ Knowledge) (THOMPSON &
SCOONES, 1994) e “Conhecimento dos Produtores (CP)” ou (FK do inglês Farmers‟
knowledge) (ETTEN, 2004).
Todos os termos acima são utilizados para expressar o mesmo tipo de conhecimento
que, segundo Kimmerer (2002), é racional e confiável tendo sido desenvolvido através das
gerações por meio do íntimo contato de povos nativos com suas terras. A transmissão do CET
é essencialmente distinta da transmissão do conhecimento científico que se dá por métodos
predominantemente vinculados à escrita. Símbolos, fonemas, narrativas, rituais, músicas e
41
danças são impressos nas mentes das pessoas como memes, constituindo as principais formas
de transmissão do CET (MOURÃO et al., 2006).
No tocante aos memes, segundo Waizbort (2003), estes seriam replicadores de uma
natureza diferente. A informação de sua origem não está inscrita em fitas de DNA, mas em
substâncias muito mais tênues. De acordo com este autor, como os genes, os memes poderiam
ser compreendidos se prestarmos atenção: 1) ao processo hereditário pela qual as informações
culturais se reproduzem em populações de cérebros humanos (horizontal e verticalmente), 2)
ao processo que faz com que as informações culturais variem, e 3) ao processo de seleção de
informações culturais, dado o número limitado de cérebros e uma virtual infinidade de idéias,
fragmentos destas, bem como complexos delas.
Grandes expoentes dos estudos acerca da memética, Richard Dawkins e Susan
Blackmore, exprimiram definições valiosas a respeito dos memes. Em 1976, Richard
Dawkins defendeu pela primeira vez essa estranha idéia:
[O meme é] uma unidade de transmissão cultural, ou unidade de imitação.
“Mimeme” vem da raiz grega adequada, mas quero um termo que soe mais como
“gene”... Também se pode pensar que ele está relacionado com “memória” ou com a
palavra même, do francês (DAWKINS, 1976)
Em The meme machine, publicado nos EUA em 1999, Susan Blackmore defendeu que
a história evolutiva do homem tem sido perversamente guiada pela lógica de unidades
culturais de imitação chamadas memes. Basicamente, estes são idéias e/ou informações, que
se reproduzem de mente para mente, de ser humano para ser humano: memes são “instruções
para realizar comportamentos, estocadas no cérebro (ou em outros objetos), e passada adiante
por imitação” (BLACKMORE, 1999, p. 43)
Torna-se evidente que o conhecimento ecológico tradicional, em suas mais variadas
dimensões, constitui uma representação menemônica intrinsecamente associado à Biologia.
Conseqüentemente, os enfoques da memética associadas ao estudo do conhecimento
tradicional são recentes, sendo esta relação frequentemente citada a partir do final da década
de 1980 e com mais ênfase somente no começo deste século (e.g., ARAUJO et al., 2005;
BARBOZA et al., 2007; MOURA, 2002; MOURÃO et al., 2006).
Compreender as mais diversas interações estabelecidas entre os povos tradicionais ou
locais com os recursos que os cercam, bem como a transmissão do conhecimento ecológico
tradicional através das gerações, constitui uma demonstração da interdisciplinaridade
estabelecida entre as ciências humanas e naturais na construção dos estudos etnoecológicos.
42
Este tipo de conhecimento, como afirma Mourão et al. (2006), é o objeto de estudos
etnocientíficos, onde o prefixo etno refere-se ao sistema de conhecimento e cognição que são
típicos de cada cultura. O aumento da apreciação das etnociências, antigas e contemporâneas,
como afirma Berkes (1999), pavimentou o caminho da aceitação da validade do conhecimento
tradicional em uma variedade de campos e alguns estudos demonstram como o Conhecimento
Ecológico Tradicional é uma ferramenta que deve ser considerada na elaboração de planos de
manejo, seja em casos onde as práticas tradicionais são positivas ou mesmo quando
impactantes, a exemplo daquelas que favorecem o desmatamento como em Loma Alta,
Equador (ver BECKER & GHIMIRE, 2003).
A compreensão das interações estabelecidas entre as comunidades locais e os biomas
que os cercam é de fundamental importância para estabelecimento de um plano de manejo
adequado e participativo, haja vista que o envolvimento de comunidades locais e a garantia
dos direitos de grupos pobres e marginalizados no manejo sustentável de recursos naturais é o
tema central na assistência internacional para o desenvolvimento (DINAMARCA, 2007).
Neste âmbito, destaca-se o fato de que no Brasil o manejo de recursos é comumente imposto
sobre as comunidades locais pelo Governo Federal (SILVANO & BEGOSSI, 2005).
Relativo à Caatinga, inventariar e/ou disseminar o conhecimento tradicional das
comunidades locais está inserido na perspectiva de geração de conhecimento e na formação
de recursos humanos para políticas públicas em recente identificação de áreas e ações
prioritárias para a conservação deste bioma (ver TABARELLI & SILVA, 2003).
1.3.3 As Caatingas dos Sertões Paraibanos
De forma a retratar com mais fidelidade o cenário multidiverso em que os secos
Sertões nordestinos e paraibanos se desvendaram a designação “as Caatingas” foi aqui
adotada da mesma forma com que Andrade-Lima (1966) já havia apontado, usando este termo
no plural, ao se referir das várias e diferentes fisionomias de vegetação, bem como de
numerosas fácies, denominadas por Sampaio (1995) de mosaicos de vegetação.
Historicamente, o processo de ocupação das Caatingas brasileiras e, principalmente, as
dos Sertões paraibanos por colonos europeus caracterizou-se por meio da pecuária extensiva a
qual foi inserida no Nordeste pelos portugueses no final século XVI onde se valiam de uma
mão-de-obra livre e barata (AB‟SABER, 2003; ANDRADE, 2005; DIÉGUES JÚNIOR,
1960; PIERSON, 1972; RIBEIRO, 1995). Em favor da preeminência dos Engenhos
açucareiros na Zona da Mata e da crescente demanda da população pelo gado, o qual além de
43
oferecer suporte motriz e de carga; artefatos a base de couro e suprimento alimentar, estes
rebanhos já não encontravam mais o espaço necessário ao seu desenvolvimento. De acordo
com Ribeiro (1995), o contraste da condição de vida dos engenhos açucareiros,
possivelmente, tornou a criação de gado mais atrativa para os brancos pobres e para mestiços
dos núcleos litorâneos. Sendo assim, tendo como ponto de referência o Rio São Francisco,
grandes boiadas foram sendo conduzidas cada vez mais ao interior da região Nordeste, onde
depararam-se com grandes obstáculos como a escassez hídrica e de alimentos, as altas
temperaturas além dos fervorosos conflitos com os povos indígenas dos Sertões.
Segundo Andrade (2005), uma série de mudanças ocorreu nos últimos tempos, tanto
no que tange a configuração espacial desses Sertões quanto ao patrimônio comportamental
das populações que nele habitam. Devido às primitivas sesmarias, a sucessão hereditária
nessas áreas por meio das consecutivas divisões de terra fez com que se constituísse uma
grande população de pequenos proprietários latifundiários. Todavia, apesar de ter existido um
componente comum (a criação de gado) que tornou possível o processo de ocupação humana
do Mediterrâneo Nordestino, não se pode dizer que há nessa região uma “uniformidade
perfeita e completa” (DIÉGUES JÚNIOR, 1960).
Na Paraíba, dada a gradual estabilização das populações no processo de povoamento,
novos elementos de fixação e, por conseqüência, novas atividades apareceram, marcando com
traços próprios os modos de vida que se fundaram. Surgiu, então, uma diversidade de
aspectos peculiares dentro da unidade fundamental em que se desenvolveram as populações
dos Sertões paraibanos (ANDRADE, 2005; DIEGUES JÚNIOR, 1960). De acordo com
Andrade (2005), as intervenções governamentais feitas na região semi-árida reproduziram o
sistema de exploração colonial de áreas em processo de ocupação, relegando-se, a um
segundo plano, os indígenas e os caboclos, antigos ocupantes da terra. O autor ainda destaca
que, a partir da década de 1960, introduziu-se, sobretudo, no Sertão do São Francisco, a
agricultura voltada à exportação.
Para Vilaça e Albuquerque (2003), em meados da segunda metade do século XIX, o
processo de ocupação demográfica e produtiva dos interiores semi-áridos do Nordeste, e
destacadamente da Paraíba, embora ainda rarefeita, já apresentava grosseiramente, a sua atual
configuração. Dessa forma, o “modus vivendi” dos povos e trabalhadores sertanejos nas áreas
de caatinga até quase nossos dias vem se tecendo (ANDRADE, 2005).
44
1.3.3.1 Característica Etimológica e Geográfica da Caatinga
A etimologia da palavra caatinga é de origem tupi e sua formação lexical significa
KAA (floresta, mata) e – TINGA (um sufixo que significa “branco”, “claro”) (AMANCIO
ALVES, 2007), referindo-se ao aspecto da vegetação durante a estação seca, quando a
maioria das árvores perde as folhas e os troncos esbranquiçados e brilhantes dominam a
paisagem (PRADO, 2003)
A despeito das várias definições existentes, a caatinga compreende basicamente um
mosaico de arbustos espinhosos e florestas sazonalmente secas que cobre a maior parte dos
estados do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe, Bahia
e a parte nordeste de Minas Gerais, no vale do Jequitinhonha. Estendendo-se por cerca de
735.000 km2 a 800.000 km2 (CASTELLETTI et al., 2003; LEAL et al., 2005; PRADO, 2003).
Este bioma representa 70% da região Nordeste e 11% do território nacional Bucher
1
(1982) apud Castelletti et al., (2003). Com características físicas e biológicas únicas, a
Caatinga no Nordeste brasileiro consiste de formações áridas e semi-áridas heterogêneas
rodeadas por mais formações mésicos-fitogeográficos, possuindo limite crítico da Caatinga
segue aproximadamente o da isoieta de 1000 mm, na qual extende-se a pouco mais de 3°-16°
de latitude Sul e de 35°-45° longitude Oeste (MARES et al., 1985; PRADO, 2003) (Figura 2).
No caso específico do Estado da Paraíba, 92% de toda sua área está inserida no Bioma
Caatinga (IBGE, 2004).
Figura 2. Isoieta de 1000m, parâmetro
de limite da região semi-árida da
caatinga nordestina. Em azul os limites
terrestres da Região Nordeste e em
amarelo os limites da isoieta de 1000mm
1
BUCHER, E.H. 1982. Chaco and caatinga – South American arid savannas, woodlands and thickets. Pp. 48-79
in: B. J. Huntey & B. H. Walther (eds.) Ecology of tropical savanas. Springer-Verlag, New York.
45
1.3.3.2 Características Físicas
O principal e mais característico componente físico do bioma Caatinga é seu clima,
onde, segundo a classificação de Köppen, é do tipo semi-árido BSh (ANDRADE-LIMA,
1981). Temperaturas médias anuais muito elevadas é outra característica marcante das
Caatingas (REIS, 1976), com valores entre 26 a 28ºC (NIMER, 1972). Entretanto, todas as
áreas superiores a 250 m de altitude têm temperaturas médias mais baixas (20 – 22ºC)
(PRADO, 2003).
De acordo com Arruda (1997), a região Nordeste se caracteriza por apresentar
temperaturas elevadas e ser a região mais seca do país. A sua variabilidade espacial e
temporal de precipitação é elevada, o que é característico de climas semi-áridos. Os índices,
de um ano para outro, apresentam desvio de até 200%. A análise climatológica sugere que a
semi-aridez é causada por mecanismos da circulação geral da atmosfera, conhecida como
circulação de HADLEY-WALKER. A interação das células de HADLEY e WALKER
determinam a variabilidade e a intensidade de aridez (SILVA, 1980).
Esse clima apresenta precipitação anual de baixa a moderada, variando de 300 mm na
maioria das regiões áridas até mais de 1600 mm nas regiões de platô elevado os quais
recebem chuvas orográficas (MARES et al., 1985). Cerca de 50% da área recebe menos de
750 mm, enquanto certas regiões localizadas têm menos de 500 mm, tais como o raso da
Catarina, juntamente com uma grande área central dos Estados de Pernambuco e Paraíba
(PRADO, 2003). O semi-árido nordestino possui uma longa estação seca, onde as chuvas são
caracterizadas como torrenciais e irregulares, havendo períodos de extrema deficiência
hídrica, denominados de seca, que têm ocorrido com freqüência irregular a cada 10 a 20 anos
(RODAL et al., 1992).
Relativo aos solos, a origem geomorfológica e geológica das Caatingas têm resultado
em vários mosaicos complexos com características variadas mesmo dentro de pequenas
distâncias (SAMPAIO, 1995). Talvez a classe de solos mais comum seja a dos marrons sem
cálcio (BAUTISTA, 1986; BEEK & BRAMAO, 1968), freqüentemente variando de Vérticos
com características intermediárias a vertissolos (FIGUEIREDO-GOMES, 1981), com um
horizonte B textural e pedras e pedregulhos característicos na superfície. Dada a natureza
desta região, entissolos e, particularmente, latossolos são muito abundantes, derivados de
rochas-mãe sob ação do clima. Afloramentos extensivos de rochas são regionalmente
chamados de “lajedos”, que atuam ecologicamente como meios desérticos e como locais onde
apenas plantas suculentas são encontradas. Em muitas áreas, a base rochosa é exposta como
46
acumulações de grandes rochas que se encontram em algumas áreas suficientemente extensas
surgindo como cordilheiras montanhosas baixas localmente conhecidas como serras (MARES
et al., 1985).
1.3.3.3 Características biológicas
As caatingas, segundo Prado (2003), podem ser caracterizadas como florestas arbóreas
ou arbustivas, compreendendo principalmente árvores e arbustos baixos muitos dos quais
apresentam espinhos, microfilia e algumas características xerofíticas. De acordo com este
autor, algumas das espécies lenhosas mais típicas da vegetação das Caatingas são: Amburana
cearensis (Fr.All.) A.C. Smith, (“imburana de cheiro”, Fabaceae –Papilionoideae),
Anadenanthera colubrina (Vell.) Brenan var. cebil (Griseb.) Altschul (“angico”, Fabaceae –
Mimosoideae), Aspidosperma pyrifolium Mart. (“pau-pereiro”, Apocynaceae), Caesalpinia
pyramidalis Tul. (“catingueira”, Fabaceae-Caesalpinioideae), Cnidoscolus phyllacanthus
(Müll. Arg.) Pax & Hoffm. (“faveleira”, Euphorbiaceae), Commiphora leptophloeos (Mart.)
Gillet (“imburana”, Burseraceae, também conhecida como Bursera leptophloeos Mart.),
várias espécies de Croton (“marmeleiros”e “velames”, Euphorbiaceae) e de Mimosa
(“calumbíes” e “juremas”, Fabaceae-Mimosoideae), Myracrodruon urundeuva Fr. All.,
(“aroeira”, Anacardiaceae), Schinopsis brasiliensis Engler (“baraúna”, Anacardiaceae), e
Tabebuia impetiginosa (Mart. ex A. DC.) Standley (“pau d‟arco roxo”, Bignoniaceae).
Apesar de ser a única grande região natural brasileira cujos limites estão inteiramente
restritos ao território nacional, pouca atenção tem sido dada à conservação da variada e
marcante paisagem da Caatinga, e a contribuição da sua biota à biodiversidade extremamente
alta do Brasil tem sido subestimada (SILVA et al., 2003). Tradicionalmente descrito como um
ecossistema pobre em espécies e endemismos, agora tem sido demonstrado a importância
deste bioma para a conservação da biodiversidade brasileira (LEAL et al., 2003, 2005).
Já foram registradas 932 espécies de plantas vasculares (380 endêmicas) (GIULIETTI
et al., 2004), 187 de abelhas (ZANELLA & MARTINS, 2003), 240 de peixes (ROSA et al.,
2003), 167 de répteis e anfíbios (RODRIGUES, 2003), 62 famílias e 510 espécies de aves
(SILVA el al., 2003). O nível de endemismo varia de 3% nas aves (15 das 510 espécies;
SILVA et al., 2003) a cerca de 7% para mamíferos (10 de 143) (OLIVEIRA et al., 2003) e
57% em peixes (136 de 240) (ROSA et al., 2003).
No tocante a fauna de mamíferos da caatinga esta tem sido geralmente reconhecida
como depauperada, representativa de apenas um subconjunto da fauna de mamíferos do
47
cerrado, bioma esse mais extenso e mais úmido (ver MARES et al., 1981, 1985). Essa
proposição, no entanto, está longe de ser verdadeira (OLIVEIRA et al., 2003). Já foram
registradas 148 espécies de mamíferos, mas o número total para a Caatinga pode ser maior,
uma vez que alguns registros de roedores e de morcegos não foram comprovados no nível
específico e, portanto, foram excluídos da contagem final (Ibdem). A insuficiência amostral
mostra-se ainda consideravelmente agravada, dada à falta de informações sobre a comunidade
de mamíferos adequadamente levantados na região (OLIVEIRA, 2004).
De acordo com Oliveira (2004), a mastofauna das Caatingas pode ser dividida em três
grupos principais: (1) espécies endêmicas ou que apresentam grande parte da distribuição
neste bioma, somando 19 espécies; (2) espécies amplamente distribuídas em outros biomas,
mas que apresentam registros esporádicos na Caatinga, 18 espécies; e, (3) espécies
amplamente distribuídas na Caatinga e em outros biomas, todas as demais.
Inserido na biodiversidade deste bioma, estão os mamíferos da ordem Xenarthra, a
qual é representada atualmente pelos tatus, preguiças e tamanduás (ENGELMANN, 1985;
NOWAK, 1991). Dentre os animais desta ordem encontrados na caatinga do Nordeste do
Brasil, estão o a preguiça comum - Bradypus variegatus Schinz, 1825, o tamanduá-bandeira Myrmecophaga tridactyla Linnaeus, 1758, o tamanduá-mirim - Tamandua tetradactyla
(Linnaeus, 1758), o tatu-bola - Tolypeutes tricinctus (Linnaeus, 1758), o tatu-de-rabo-mole –
Cabassous tatouay (Desmarest, 1804), o tatu-de-rabo-mole - Cabassous unicinctus (Linnaeus,
1758), o tatu-verdadeiro - Dasypus novemcinctus Linnaeus, 1758, o tatu-mirim Dasypus
septemcinctus Linnaeus, 1758 e o tatu-peba - Euphractus sexcinctus (Linnaeus, 1758), das
quais apenas C. tatouay e D. septemcinctus não ocorrem no semi-árido paraibano (ver IUCN
EDENTATE SPECIALIST GROUP, 2004).
Os tatus-peba (E. sexcinctus) e verdadeiro (D. novemcinctus), em especial, indicam ser
aqueles de maior distribuição na caatinga (ver Oliveira et al., 2003) e estão entre os animais
mais caçados no semi-árido nordestino (ALVES, 2009; MOURÃO et al., 2006; VALLE,
2007). Este tipo de interação é um dos motivos que levam a necessidade de realização de
estudos para conhecer o nível de percepção de moradores locais com os xenarthras.
1.3.3.4 Sobre a mastofauna da Caatinga
Estudos realizados até o presente sobre os mamíferos da Caatinga têm revelado uma
mastofauna relativamente depauperada, com uma baixa incidência de endemismos e
representativa apenas de um subconjunto da fauna de mamíferos do cerrado, bioma esse mais
48
extenso e mais úmido (MARES et al. 1981, 1985; OLIVEIRA, 2004). Essa baixa diversidade
e a ausência de adaptações fisiológicas para as condições áridas da região entre os pequenos
mamíferos mais ubíquos, também levaram a Mares et al. (1985) a concluir que a fauna de
mamíferos da Caatinga consiste, em sua maior parte, em um subconjunto da fauna do Cerrado
(OLIVEIRA et al., 2003). Essas constatações têm contribuído para a hipótese de que a maior
parte das áreas de caatinga registradas na atualidade seja relativamente recente em formação,
e possivelmente derivada de pequenos refúgios durante períodos mésicos do Pleistoceno,
quando as florestas tropicais ter-se-iam expandido consideravelmente através do Nordeste do
Brasil (SARMIENTO, 1975).
Quanto ao conjunto de mamíferos da Caatinga tal proposição, no entanto, está longe
de ser verdadeira (MONTEIRO DA CRUZ et al. 2005; OLIVEIRA et al, 2003; OLIVEIRA,
2004) e contrastam diametralmente com amostras de levantamentos prévios (FREITAS, 1957;
WILLING & MARES, 1989), indicando que não só o número de espécies características da
Caatinga é maior, como também os registros que têm suportado a hipótese do surgimento
recente do bioma são em um número relativamente pequeno frente ao número total de
espécies presentes. Este número pode ainda ser maior, uma vez que alguns registros de
roedores e de morcegos não foram comprovados ao nível específico e, portanto, foram
excluídos da contagem final (Ibdem). Outro exemplo foi à exceção dada aos registros de
Dasypodidae (Xenarthra), listados a partir de Santos (1993), cujo inventário foi realizado
principalmente a partir de entrevistas (OLIVEIRA, 2004).
Até a metade do século passado os mamíferos dos Sertões nordestinos eram analisados
segundo amostras bastante reduzidas. Pesquisa pioneira, porém restrita, sobre a fauna de
mamíferos dessa região, ficou a cargo do extinto Serviço Nacional da Peste (SNP), entre os
anos de 1952 e 1955 (FREITAS, 1957). Os dados foram coletados em cerca de 40 dos então
187 municípios do “polígono das secas”; e cerca de 60 mil espécimes de pequenos mamíferos
não voadores estão depositados no Museu Nacional (UFRJ). Outro levantamento realizado no
bioma através do projeto “Ecology, evolution and zoogeografy of mammals” por
pesquisadores do Carnigie Museum of Natural History, entre 1975 e 1978, na Chapada do
Araripe, resultou em uma lista limitada a 80 espécies, indicando uma fauna relativamente
pobre em riqueza, endemismo e adaptações (WILLING & MARES, 1989).
Os registros referentes aos tatus (Xenarthra, Dasypodidae), a partir de entrevistas,
incluem pontos através de toda a Caatinga. O tatu-de-rabo-mole (Cabassous sp.) estaria
representado em pelo menos 108 municípios, apesar de uma revisão baseada nas amostras de
34 coleções, incluindo as maiores brasileiras (WETZEL, 1980), não ter relacionado sequer um
49
indivíduo para a Caatinga. Não foi possível, portanto, com base nas informações consultadas,
concluir a espécie ou espécies a que pertencem os registros de Cabassous do domínio da
Caatinga. Dasypus novemcinctus está listado, por entrevistas, em 189 municípios, mas
representado por material testemunho ou observação direta em apenas 18 Dasypus
septemcinctus foi relacionado por entrevistas em 54 e Euphractus sexcinctus em 191
municípios. O tatu-bola, Tolypeutes tricinctus consta das entrevistas em 76 municípios, mas
de apenas sete são os registros bibliográficos e de museus. (OLIVEIRA et al., 2003).
1.3.4 A Ordem Xenarthra
1.3.4.1 Características gerais, origem e filogenia
Previamente o termo Xenarthra ser estabelecido, a nomenclatura Edentada (cujo
significado é sem dentes), fora cunhada por Cuvier (1758) sendo comumente usada por
diversos autores para designar os tamanduás, tatus, preguiças, pangolins e aardvarks, sendo
melhor aplicado como sinônimo das ordens Pholidota e Tubulidentata (GLASS, 1985).
Porém, somente em 1872 o pesquisador Huxley achou melhor retirar os pangolins e aardvarks
da ordem Edentata. Posteriormente, após o século XVIII, foram aderidas à ordem Edentata
grupos de fósseis tais como preguiças terrícolas em 1796 e gliptodontídeos em 1838
(SIMPSON, 1945).
Dentre os xenarthros, os tamanduás são os únicos representantes que não possuem
dentes. Por outro lado os tatus e as preguiças do gênero Bradypus, possuem dentes molares e
as preguiças do gênero Choloepus, possuem dentes caninos e molares. Deste modo, Glass
(1985) considerou o nome Xenarthra (xenon = estranho + athros = articulação) como legítimo
e descritivo, para tamanduás, tatus e preguiças, sejam eles viventes ou fósseis. O uso deste
termo como nomenclatura da ordem, ao invés de Edentata, reconhece que os seus integrantes
são portadores de articulações adicionais entre as vértebras lambares chamadas de
“xenártricas”, “xenarthrales” ou “xenarthrous process”, que são estruturas ósseas que em
conjunto com o crânio formam o esqueleto axial, característica sinapomórfica do subfilo
Vertebrata, no qual os xenartros, assim como os outros mamíferos, aves, répteis, anfíbios e
peixes estão inclusos. Os membros também possuem articulações do ísquio com a coluna
vertebral, incorporando a vértebra sacral, que nos demais mamíferos pode compor elementos
caudais (GLASS, 1985). Estas articulações extras conferem maior resistência e flexibilidade
ao esqueleto axial que, em conjunto com membros terminados em garras fortes e robustas,
50
facilita a realização de tarefas que exigem grande desgaste do esqueleto como a escavação
para os tatus, quebra de cupinzeiros para os tamanduás e a rotação do corpo em até 180° para
as preguiças arborícolas (MENDEL, 1985). Na escápula, os processos coracóide e acrômio
apresentam-se muito bem desenvolvidos, em relação aos outros mamíferos. Apresentam
dentição homodôntica, ou seja, a completa perda dos dentes (GLASS, 1985).
Outras peculiaridades anatômicas desta ordem são: (1) a presença de veia cava
posterior dupla enquanto a maioria dos mamíferos tem somente uma; (2) o número de
vértebras cervicais varia de seis a nove dependendo da espécie, enquanto na maioria dos
outros mamíferos há sete vértebras cervicais e (3) as fêmeas têm um ducto comum para os
tratos urinário e genital e os machos têm testículos internos (NOWAK, 1999; DICKMAN,
2001). Mesmo apresentando tais caracteres esqueléticos e fisiológicos comuns a todos os
membros desta ordem, a designação Edentata ainda continua sendo empregada erroneamente.
(BERGQVIST et al., 2000; GLASS, 1985; NOWAK, 1999; WETZEL, 1985a,b).
Todos os animais que fazem parte da superordem Xenarthra (tatus, tamanduás e
preguiças) apresentam temperaturas corporais mais baixas (média = 34,1ºC, amplitude = 32,7º
a 35,5ºC) do que os demais mamíferos placentários que regulam suas temperaturas entre 36º e
38ºC (McNAB, 1985; MEDRI, 2008). Além disso, os tatus, tamanduás e preguiças
apresentam taxas basais de metabolismo mais baixas do que o esperado para suas massas
corporais. Nos tatus, o hábito de utilizar tocas traz consigo alguns problemas como o
superaquecimento do corpo durante a escavação, e a troca insuficiente de gases entre a toca e
o ambiente externo. Entretanto, a taxa basal de metabolismo mais baixa nestes animais pode
contribuir para a redução destes problemas (McNAB, 1985; MEDRI, 2008).
Sobre os atributos sistemáticos e filogenéticos dos xenarthras, muito pouco se tem
documentado (DELSUC et al., 2001) e ainda há muitas lacunas na classificação taxonômica
para serem resolvidas, o que tem provocado um grande interesse no estudo desse grupo (ver
AMRINE-MADSEN et al., 2003; BARROS et al., 2003; De JONG et al., 1985; DELSUC et
al., 2001, 2002, 2003, 2004; EIZIRIK et al. 2001; ENGELMANN, 1985; MURPHY et al.,
2001a, b; SARICH, 1985). Segundo Gardner (2005a, b) os xenartros passam a ser divididos
em duas ordens: Pilosa [com o corpo recoberto por pelos] – onde estão inseridos os
tamanduás e preguiças arborícolas e Cingulata [com o corpo recoberto por osteodermos] –
compreendidos pelos tatus. Sendo assim o “status” taxonômico de Xenarthra foi elevado em
função das novas discussões sobre relações filogenéticas, tema este que não é mérito de
discussão desse trabalho.
51
Estudos mostram que essa superordem é de grande importância para a compreensão da
filogenia dos mamíferos como atesta McKenna (1975) e Delsuc et al. (2001) onde os mesmos
destacaram que os Xenarthras representam o grupo irmão a todos os outros eutérios viventes
(antes chamados Epitérios), enfatizam que muitos pesquisadores moleculares têm usado os
seus representantes baseados na raiz filogenética dos eutério.
Vários estudos vêm utilizando técnicas bioquímicas e moleculares desde a década de
60, e estas tiveram significativo desenvolvimento trazendo contribuições para o
esclarecimento de diversos aspectos da biologia, ecologia, biogeografia e evolução, sendo
atualmente reconhecidas como ferramentas fundamentais para a aquisição de novos
conhecimentos a respeito dos indivíduos dessa ordem bem como de todas as outras.
Inserida na filogenia dos mamíferos placentários da infra-ordem Eutheria, as relações
filogenéticas da ordem Xenarthra ainda não estão completamente definitivas. Com objetivo de
verificar tais relações De Jong et al. (1985), utilizaram em experimento laboratorial um
exemplar de Bradypus variegatus (preguiça) e um exemplar de duas espécies de tamanduás
diferentes (Tamandua mexicana e Myrmecophaga tridactyla). Nesta experimentação os
pesquisadores isolaram e seqüenciaram os aminoácidos de uma proteína do cristalino, a αcristalina destes espécimes e os resultados mostraram uma origem monofilética das preguiças
e dos tamanduás, e posicionaram a ordem como um grupo-irmão de Eutheria.
Conclusões semelhantes sucederam em outro experimento laboratorial com isolamento
e seqüenciamento de dezoito genes (quinze nucleares e três mitocondriais), onde Murphy et
al. (2001a), trabalhando com uma extensa abordagem filogenética em 64 espécies de
mamíferos placentários, concluíram que os dados obtidos permitiram distribuir as espécies em
quatro grandes agrupamentos: Afrotheria [constituído por Sirenia, Proboscidea, Hyracoidea,
Tubulidentata, Terencidae e Macroscelidea]; Xenarthra [tatus, tamanduás e preguiças];
Euarchontoglires
[Rodentia,
Lagomorpha,
Scandentia,
Dermoptera e Primates];
e
Laurasiatheria contemplando todos os outros mamíferos placentários. Ainda de acordo com os
dados obtidos pelos autores a ordem Xenarthra apresentou forte indicativo de origem
monofilética, no entanto organizou-se em dois subgrupos: Pilosa [tamanduás e preguiças] e
Cingulata [tatus].
A filogenia mais completa da ordem Xenarthra foi inferida por Delsuc et al. (2001), a
partir das seqüências de três genes nucleares. Este estudo mostra as relações filogenéticas
dentro da ordem Xenarthra, evidenciando a monofilia dos agrupamentos Vermilingua
(tamanduá) e Folivora (preguiças). Estes dois agrupamentos formam a infra-ordem Pilosa, a
qual se separa da infra-ordem Cingulata, família Dasypodidae (tatus) pela deleção de genes
52
específicos do seqüenciamento gênicos desses grupos. Esta família se subdivide em três
tribos: Dasypodinae, Tolypeutinae e Euphractinae, que se caracterizam pela deleção de quatro
genes do tipo (aa) do gene ADRA2B e três (aa) do gene BRCA1. Vale-se ressaltar que as
relações entre as espécies de Tolypeutinae e Euphractinae ainda não foram completamente
resolvidas
1.3.4.2 Distribuição
Segundo Engelmann (1985), grande parte dos fósseis de Xenarthra foi encontrada na
América do Sul e a especialização dessa ordem é posterior a separação entre África e América
do Sul, onde se desenvolveram com total isolamento da grande maioria dos mamíferos
placentários no Paleoceno Superior. Durante este momento geológico, a mastofauna sul
americana permaneceu separada, o que propiciou a estruturação, a adaptação e o
estabelecimento de novos modelos de mamíferos, capazes de colonizar os nichos presentes
neste ambiente (BERGQVIST et al., 2000).
Com esse acontecimento, de maneira geral, os xenarthros adquiriram formatos
legitimamente neotropicais, quando da junção das plataformas da América do Norte com a
América do Sul, estes migraram para o norte, mas não conseguindo se estabelecer nesse novo
continente (Ibdem). Segundo Couto (1973) um dos primeiros documentos escrito sobre os
xenarthros fósseis foi publicado em 1907 na Revista do Museu Paulista pelo paleontólogo
argentino Ameghino. Descobertas de fósseis de Xenarthras foram documentadas também por
Couto (1973) no Estado de São Paulo.
De acordo com Eisenberg (1981) e Bergqvist et al. (2000), entre o Paleoceno e o
Plioceno sucedeu a irradiação dos xenarthros e que, neste período, os indicativos fósseis
mostram a constituição de quase todas as formas principais que hoje estão vivas, exceto as
preguiças arborícolas. Para Couto (1973), do final do Pleistoceno até a contemporaneidade, o
clima na região Neotropical vem sofrendo alterações de uma tendência semi-árida e de baixa
pluviosidade para um regime úmido e de boa precipitação pluvial, o que pode ter contribuído
para a extinção de algumas espécies como as preguiças gigantes (megaloniquídeos,
megaterídeos, milodontídeos e nototerídeos) e os tatus gigantes (pampatérios e
gliptodontídeos) ou a migração para locais de clima favorável à sobrevivência.
A ordem Xenarthra contém 31 espécies vivas distribuídas em 13 gêneros, possui
representantes cuja origem e distribuição geográfica são restritos à região Neotropical, e
ocorrem predominantemente na América do Sul (FONSECA & AGUIAR, 2004; MEDRI,
53
2008), com exceção da espécie Dasypus novemcinctus sendo o único a ocorrer na América do
Norte (McKENNA & BELL, 1997) . Dezenove dessas espécies, distribuídas em dez gêneros e
quatro famílias, podem ser encontradas no Brasil (FONSECA et al., 1996). Esta ordem está
substancialmente ligada à história evolutiva dos mamíferos (FONSECA, 2001) e é
potencialmente uma ramificação basal dos primeiros mamíferos placentários (MURPHY et
al., 2001a). Apesar da sua importância ecológica e da necessidade de destacar-los em
programas de conservação, os Xenarthros são muito pouco estudados, quando comparados a
outros mamíferos mais conhecidos (FONSECA, 2001).
A família Dasypodidae possui 14 gêneros e aproximadamente 30 espécies (FERRARI
et al., 1998), sendo cerca de 20 delas viventes (PEREIRA JUNIOR et al., 2003), praticamente
todas distribuídas pela região tropical da América (FERRARI et al., 1998).
54
1.4
Resultados e discussão
1.4.1 Aspectos socioeconômicos das populações estudadas
As áreas estudadas englobam os municípios de Campina Grande (mesorregião do
Agreste), municípios de Monteiro e Sumé (microrregião do Cariri Ocidental paraibano) e os
municípios de São Mamede e Sousa (Sertão paraibano). Todas estas localidades se
caracterizam por ter seu modo de vida e seus conhecimentos tradicionais passados de geração
a geração até os dias atuais.
De modo geral a idade dos entrevistados variou de 16-77 anos. A faixa etária dos
entrevistados para cada localidade estudada variou entre 19-65 anos (mulheres) e 16-77 anos
(homens) em Campina Grande; 28-62 (homens) em Monteiro; 25-51 (homens) em São
Mamede; 33-38 (mulheres) e 21-59 (homens) em Sousa e finalmente 21-64 (homens) em
Sumé. Quanto a distribuição por faixa etária, em Campina Grande a maior parte dos
entrevistados se concentrou na faixa de até 29 anos (40,4%). Em Monteiro 44,4% dos
entrevistados apresentavam idade entre 30-39 anos. Em São Mamede se distribuíram quase
igualmente entre 30-39 anos (34,78%) e 40-49 anos (43,47%). Em Sumé 32% dos
entrevistados tinham entre 40-49 anos, ao passo que em Sousa 43,7% se enquadraram nessa
categoria de idade (Tabela 1). Em todas as localidades, a maioria dos entrevistados era casada
oficialmente ou apresentava união estável com seu respectivo cônjuge.
Tabela 1. Perfil socioeconômico dos entrevistados
Municípios
Feminino
Masculino
Até 29
30- 39
40 – 49
50 – 59
60 – 69
70 ou mais
Campina
Grande
(nTotal=109)
(%)
30.27 (n=33)
69.73 (n=76)
40,4 (n=44)
17,4 (n=19)
15,6 (n=17)
9,2 (n=10)
11,9 (n=13)
5,5 (n=6)
Monteiro
(nTotal=18)
(%)
0
100 (n=18)
5,6 (n=1)
44,4 (n=8)
27,8 (n=5)
11,1 (n=2)
11,1 (n=2)
0
São Mamede
(nTotal=23)
(%)
0
100 (n=23)
17,39 (n=4)
34,78 (n=8)
43,47 (n=10)
4,34 (n=1)
0
0
Casado
União Estável
Solteiro
56,88 (n=62)
11 (n=12)
24,77 (n=27)
66,66 (n=12)
0
16,66 (n=3)
73,91 (n=17)
4,34 (n=1)
21,73 (n=5)
Parâmetros
Sexo
Idade
Estado Civil
Sumé
(nTotal=32)
(%)
0
100 (n=32)
12,5 (n=4)
32 (n=10)
18,75 (n=6)
25 (n=8)
12,5 (n=4)
0
81,25
(n=26)
0
18,75 (n=6)
Sousa
(nTotal=32)
(%)
12.5 (n=4)
87.5 (n=28)
15,6 (n=5)
43,7 (n=14)
25 (n=8)
15,6 (n=5)
0
0
84,37
(n=27)
0
15,62 (n=5)
55
Viúvo
3,66 (n=4)
0
0
0
0
Divorciado/separado
Agricultor,
pecuarista e
relacionados
Caçador
Profissão
Comércio e Serviços
Outras ocupações
Sem ocupação
Menos de 1 salário
mínimo
Entre 1 e 2 salários
mínimos
Entre 3 e 4 salários
Renda
mínimos
Entre 4 e 5 salários
mínimos
Não declarou
Analfabeto
Semi-analfabeto (lê
ou escreve com
dificuldade)
Ensino Fundamental
Grau de
Escolaridade Incompleto
Fundamental
Completo
Médio incompleto
Médio completo
3,66 (n=4)
16,66 (n=3)
0
0
0
63,30 (n=69)
14,67 (n=16)
2,75 (n=3)
16,51 (n=18)
2,75 (n=3)
61,11 (n=11)
0
38,88 (n=7)
0
0
69,56 (n=16)
0
21,73 (n=5)
8,69 (n=2)
0
59,37
(n=19)
15,62 (n=5)
18,75 (n=6)
6,25 (n=2)
0
65,62
(n=21)
9,37 (n=3)
12,5 (n=4)
12,5 (n=4)
0
6,42 (n=7)
16,66 (n=3)
0
54,12 (n=59)
66,66 (n=12)
73,91 (n=17)
9,37 (n=3)
65,62
(n=21)
3,12 (n=1)
78,12
(n=25)
73,76 (n=15)
16,66 (n=3)
17,39 (n=4)
25 (n=8)
6,25 (n=2)
0
25,68 (n=28)
0
0
0
0
0
8,69 (n=2)
0
0
0
0
6,25 (n=2)
6,25 (n=2)
0
20,18 (n=22)
22,22 (n=4)
8,69 (n=2)
18,75 (n=6)
64,22 (n=70)
77,77 (n=14)
69,56 (n=16)
25 (n=8)
59,37
(n=19)
13,76 (n=15)
1,83 (n=2)
0
0
0
0
12,5 (n=4)
3,12 (n=1)
0
Própria
Alugada
53,21 (n=58)
18,43 (20)
83,33 (n=15)
0
86,95 (n=20)
4,34 (n=1)
12,5 (n=4)
3,12 (n=1)
0
84,37
(n=27)
6,25 (n=2)
Outra situação
28,44 (n=31)
16,66 (n=3)
8,69 (n=2)
9,37 (n=3)
6,25 (n=2)
0
0
68,75
(n=22)
0
31,25
(n=10)
Habitação
75 (n=24)
A maior parte dos entrevistados (82,7%) nesse estudo correspondeu a indivíduos do
sexo masculino uma vez que estes eram os mais acessíveis a diálogos e aproximações, além
de terem círculos de amizade voltados a pessoas do sexo o que permitiu indicações a outros
indivíduos de seus convívios do mesmo sexo.
Em relação a profissão, 63,5% dos entrevistados são primordialmente agricultores,
pecuaristas ou desempenham atividades relacionados a estas práticas. Em São Mamede,
69,56% dos entrevistados enquadraram-se nesta categoria. O exercício da atividade de caça
como profissão, de um modo geral, foi baixo nas localidades estudadas, com maior índice
para a cidade de Campina Grande (14,67%). Tais indicativos não devem figurar tal realidade
uma vez que esta pratica está direta ou indiretamente associada aos hábitos e culturas desses
povos, além de provocar receio e desconfiança aos que conhecem da ilegalidade dessa
atividade. A renda dos entrevistados é baixa, visto que 148 deles alegaram possuir renda de
56
até 2 salários, sendo que destes, 136 afirmaram que a renda pessoal também coincidia com a
renda integral da família.
O nível de escolaridade é baixo. Dee uma amostra de 210 individuos, 98,1% eram
constituídos de semi-analfabetos, fundamental incompleto ou completo. Esses dados estão em
concordância com Alves e Nishida (2003), os quais destacam que o abandono dos estudos e a
inserção no mundo do trabalho resultam do contexto social e econômico em que essas
comunidades estão inseridas, no qual o exito na escola, por membros de seu grupo social,
constitui uma exceção.
Considerando estudos anteriores sobre uso de recursos faunísticos, é possível afirmar
que os fatores acima, em especial a renda e escolaridade baixas, contribuem para que esses
moradores das áreas estudadas possuam uma dependência de recursos faunísticos região para
fins de subsistência, medicinal ou mesmo recreacional (ver ALVES & ROSA, 2007b;
CHARDONNET et al., 2002; OMS, 2005). Surgik (2007), por exemplo, relacionou a baixa
renda com o aumento da probabilidade da prática de caça na Amazônia.
Obviamente, a diminuição da fauna e flora do Nordeste, assim como da flora é
agravada devido aos impactos antrópicos, em função da ocupação agrícola, urbana e,
sobretudo pela pobreza acentuada de boa parte da população, que busca sua fonte de
alimentação e de renda nos recursos naturais ali existentes (ALVES et al., 2008).
Sabendo-se que algumas espécies de animais do semi-árido nordestino sofrem
impactos derivados da caça, atividade vinculada quase sempre estimulada pela realidade
socioeconômica local, é de presumir que a solução desse problema certamente envolverá a
disponibilidade de fontes alternativas de renda e subsistência para a população local (THE
NATURE CONSERVANCY DO BRASIL/ASSOCIAÇÃO CAATINGA, 2004), assim como
o provimento de um sistema educacional de qualidade aos moradores da região.
1.4.2 Percepções gerais dos entrevistados quanto às espécies de tatus estudadas
Inserida na ordem Xenarthra a família Dasypodidae é a mais diversificada em número
de espécies e distribuição geográfica, com 20 espécies ocorrendo do sul da América do Sul
até o sul dos Estados Unidos (GARDNER, 1993 apud BONATO, 2002). Esta família engloba
os gêneros de tatus atualmente existentes: Cabassous, Chaetophractus, Chlamyphorus,
Dasypus, Euphractus, Priodontes, Tolypeutes e Zaedyus (ITIS, 2008; FONSECA &
AGUIAR, 2004). Dentre as espécies de tatus que ocupam o território americano, duas são as
mais importantes do ponto de vista de distribuição e número de indivíduos no bioma caatinga:
57
o tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus) e o tatu-peba (Euphractus sexcinctus) (FONSECA
& AGUIAR, 2004).
De acordo com os entrevistados 47,66% (n = 102), sobre quantidade de espécies de
tatus que habitam as regiões estudadas, estes afirmaram existir apenas um único tipo de tatu, o
chamado tatu verdadeiro (Dasypus novemcinctus), não considerando a outra espécie
(Euphractus sexcinctus) como sendo da mesma “família” dos tatus uma que este não
apresenta a tenacidade, resistência e velocidade típica dos D. novemcinctus, mas sim por
apenas compartilhar uma relação de parentesco com o tatu verdadeiro (na ótica das
populações locais estudadas) como se pode ver em alguns depoimentos relatados.
“Só existi um tipo de tatu, que é o verdadeiro. O peba é o falso por
isso que só existe de tatu o verdadeiro. O tatu verdadeiro é o único que corre
e pula mais”. (Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de
Sousa)
“Eu só conheço o nome “tatu” pro verdadeiro. O peba não tem “tatu”
não. Todo mundo só conhece por peba mermo (...) O verdadeiro corre, o
peba não.” (Sr. Inácio Laureiro, 47 anos, residente da zona rural de Campina
Grande.”
“Tatu é uma coisa, peba é outra. Tatu mermo só existe o verdadeiro”.
(Sr. Lúcio Claudio, 36 anos, residente da cidade de Monteiro
“O peba não é tatu. O peba é parente....é o mermo que ser primo. São
de famílias diferentes”. (Sr. José louro, 41 anos, residente da zona rural de
São Mamede)
Aos que consideraram haver dois tipos de tatus obteve-se um percentual total de
38,75% (n = 83). Para estes, o emprego exclusivo da palavra “peba”, referindo-se ao E.
sexcinctus, não o colocaria aparte da família dos tatus, mas sim por se tratar de uma alcunha
opcional para os indivíduos dessa espécie, podendo ou não empregar o termo “tatu” precedido
do nome popular, como em “tatu-peba”. Além dessa consideração, muitos dos entrevistados
afirmavam que as semelhanças externas entre as duas espécies, como por exemplo a presença
de uma carapaça contendo listras e unhas fortes para cavar, eram mais evidentes que suas
diferenças, por tanto, padronizá-los como tatus foi algo habitual sendo passado de forma
menemônica através das gerações. Tal suposição encontra-se de acordo com a literatura uma
vez que a carapaça é uma estrutura dérmica comum a todos os tatus, importante na proteção
contra predadores e que minimiza os danos causados pelo atrito com a vegetação bem como
unhas extremamente fortes usadas em escavações e na perfuração de cupinzeiros
(MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003).
58
“(...) por aqui nóis encontra tanto o tatu-peba como o tatu verdadeiro
(...) eu só conheço esses dois mermo”. (Sr. João Mendes, 28 anos, residente
na zona rural de Galante do município de campina Grande)
“(...) o peba também é um tatu só que tem gente que pensa que é outro
bixo (...) todos os dois tem “casco” nas costas (...) as unhas dos dois são
muito forte e pode cortar a pele se não segurar ele com cuidado”. (Sr.
Leonidas Duarte, 59 anos, residente na cidade de Sumé)
Considerando o menor percentual dos entrevistados encontramos cerca de 13,55% (n =
29) dos que afirmaram conhecer mais de 2 tipos de tatus na região. O caso mais notório diz
respeito à presença de espécies raras de tatus nos municípios de São Mamede e Sumé como
pôde ser observado com o tatu-bola (provavelmente Tolypeutes tricinctus); a maioria
expressiva dos entrevistados acredita que esta espécie já não exista mais ou deixou de existir a
muitas décadas no local. Segundo um dos entrevistados uma carcaça em bom estado de
conservação de T. tricinctus esteve por muitos anos de posse de um vaqueiro, porém o mesmo
já não o teria mais; outros entrevistados afirmaram que, ocasionalmente, avistavam rastros
desse animal durante as caçadas em locais de difícil acesso; e ainda um jovem caçador que
relatou já ter pego três bolas, mas que é extremamente difícil encontrá-los ou mesmo capturálos. Por esses relatos pode-se inferir que, provavelmente, a população de tatus-bola nesses
locais de presença da espécie deve estar extremamente reduzida, o que em curto prazo pode
significar o desaparecimento deste animal no local, como já supõe alguns moradores
ratificando, inclusive, situação semelhante com o tatu verdadeiro (D. novemcinctus).
“eu nunca vi não, penso eu que já deve nem existi mais, mas um
vaqueiro do sítio de meu pai tinha um casco inteirin do bixo [tatu-bola], mas
já faz muito tempo que ele vendeu”. (Sr. Belizario Santos, 34 anos, residente
da zona rural de Sumé)
“eu mermo já peguei três tatu-bola, mostrei a outros caçador e disseram
que era bola”. (Adelino Dantas, 23 anos, residente da zona rural de São
Mamede)
Segundo Monteiro da Cruz et al. (2005), em analise as variações da biodiversidade do
bioma caatinga, diagnosticaram através de relatos fornecidos por comunidades locais que o
tatu-bola (Tolypeutes tricinctus) desapareceu em vários pontos dos Sertões paraibanos,
cearenses e pernambucanos. Porém, Valle (2007) em seu estudo sobre os vaqueiros da
comunidade de Lagoa Grande - PE e os mamíferos nativos das caatingas pernambucanas
documentou a ocorrência dessa espécie nessa localidade, inclusive sendo relatada como quase
59
extinta, porém sendo usada para diversas finalidades inclusive medicinalmente e de forma
mágico-religiosa.
1.4.2.1 Epítetos folk das espécies
De acordo com o Dicionário Houaiss (2004), a etimologia da palavra “peba” tem
origem do tupi “pewa” ou “bewa” e quer dizer: chato, achatado, plano, liso, largo, podendo
também ser empregada gramaticalmente como adjetivo comum de dois gêneros possuindo os
mesmos significados mencionados. Mas também ela pode ser uma palavra presente em
regionalismo do Nordeste do Brasil, nesse caso assumindo um significado de: sem valor e/ou
importância, reles, ordinário. Exemplos do emprego desta palavra podem ser vistos em
jargões populares paraibanos como: “cara de peba”; “tudo que não presta é peba”; “gordo
feito um peba”; “come feito um peba”; “leso como um peba”, etc (CLEROT, 1959). Em
relação ao Dasypus novemcinctus, para Smith e Doughty (1984) a palavra “Dasypus” é de
origem Grega e quer dizer "coelho". Combinando-se Novem (nove) com cinctus (banda, faixa,
cinta) forma-se a palavra "coelho de nove-bandas". Segundo o mesmo autor, retirando-se a
carapaça do tatu de nove bandas [ou tatu verdadeiro como é mais conhecido na Paraíba] o
mesmo se assemelharia a um coelho.
A designação dos nomes populares para ambas as espécies estudadas foi bastante
diversa nessa pesquisa, principalmente em relação ao Euphractus sexcinctus (tatu-peba),
sendo a maioria destes vernáculos empregada de forma pluri-nominal. Algumas das
nomeações encontradas estão de acordo com as poucas literaturas disponíveis para as
espécies.
Quadro 1. Epíteto folk de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido da Paraíba
ESPECIE
E. sexcinctus
D. novemcinctus
EPITETO FOLK
REFERÊNCIAS
Tatu-peba; peba; pebinha;
Alves et al. (2007), Alves et
tatu-peludo, tatu de seis -
al.
faixas, tatu papa-defunto,
Barboza et al. (2007), Costa-
papinha defunto.
Neto (2000a), Valle (2007)
Tatu-verdadeiro, tatu-galinha,
Alves et al. (2007), Alves
tatu cinza, tatu escuro, tatu de
(2009), Costa-Neto (2000a),
nove-faixas
Valle (2007)
(2008), Alves
(2009),
60
1.4.2.2 Sobre a disponibilidade das espécies nas localidades estudadas.
“O pebinha é mais fácil conseguir, o verdadeiro é muito difícil, tá quase
acabando”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural de Sumé)
“aqui mermo quem pega tatu-peba é os meninos (...) já faz muito tempo
que vi um verdadeiro”. (Sra. Enedina Maria, 58 zona rural da cidade de
Campina Grande)
“(...) tatu-verdadeiro aqui acabou-se...” (Sr. Arnaldo, 45 anos, residente
da cidade de São Mamede)
Ao serem questionados sobre a facilidade ou não de encontrar ambas as espécies em
cada localidade especifica os entrevistados esboçaram respostas bem semelhantes, sobretudo
denotando certo reconhecimento e preocupação no que tange o destino de uma das espécies
estudada. (ver Tabela 2).
Tabela 2. Porcentagem dos informantes que relataram a facilidade ou não de se encontrar as
espécies em cada localidade visitada.
CIDADES
Campina Grande
Monteiro
São Mamede
Sousa
Sumé
DISPONIBILIDADE AS ESPÉCIES
E.sexcimctus
D. novemcinctus
Sim (%) Não (%) Sim (%) Não (%)
44%
55,96%
23,85%
76,14%
100%
100%
100%
13,04%
91,3%
100%
15,62%
84,37%
100%
25%
75%
Os resultados obtidos mostraram que em quatro das cinco localidades estudadas 100%
dos entrevistados afirmaram ser bastante fácil encontrar os tatus-peba (E. sexcinctus) nas
localidades especificas, com ressalva para a cidade de Campina Grande onde 55,96% (n = 61)
alegaram ser muito difícil encontrá-los em sua zona rural. Uma possível explicação para este
fato pode ser devido as áreas de caatinga desse município apresentarem fragilidades
intrinsecamente alta, grau de alteração e pressão antrópica também alta (BRANDÃO et al.,
2004), o que justificaria uma significativa redução nas populações dessa espécie, assim como
de várias outras espécies da biodiversidade local.
De um modo geral, a facilidade de obtenção de E. sexcinctus pode ser explicada por
três motivos básicos: (1) Trata-se de uma espécies que permanece resistente aos distúrbios
humanos, (2) possui uma ampla distribuição (AGUIAR, 2004; HASS et al., 2003) e (3) dieta
caracteristicamente onívora (HASS et al., 2003), permitindo ampla ocupação de uma
variedade de habitats.
61
A cidade de Monteiro foi a única a qual obteve percentagem de 100% (n = 18) de
disponibilidade para ambas as espécies de tatus. Em relação ao tatu verdadeiro (D.
novemcinctus) a maior porcentagem em termos de dificuldade de encontrar essa espécie na
região foi da cidade de São Mamede onde 91,3% (n = 21) dos entrevistados alegaram
veementemente a escassez de encontrá-los na região. Em seqüência destacam-se as cidades de
Sousa, Sumé e Campina Grande, com respectivos 84,37% (n = 27), 75% (n = 24) e 76,14% (n
= 83) onde os entrevistados confirmaram a pouca disponibilidade dessa espécie na região. De
forma a se obter elucidações mais presumíveis quanto a real disponibilidade dessas espécies
em cada localidade estudada faz-se necessário pesquisas sobre dinâmica populacional, tema
este que não será abordado ao longo do trabalho.
1.4.2.3 Principais diferenças apontadas para ambas as espécies
De acordo com os moradores, quando questionados sobre a facilidade ou não de
diferenciá-los visualmente a resposta foi positiva e unânime para os 214 entrevistados, sendo,
portanto, um dos poucos itens do questionário aplicado (ver Apêndice) a qual obteve 100% de
universalidade das respostas. No âmbito das diferenças anatômicas meramente visuais entre
as duas espécies de tatus, de acordo com a literatura essas vão bem mais além daquelas
apontadas pelos entrevistados. Porém, vale ressaltar que os caracteres: tamanho corporal,
tamanho das orelhas, focinho, peso (kg), cor e presença ou não de dentição foram os itens
mais explicitados e caracterizados quando questionados sobre as principais diferenças
externas para ambas as espécies. Tal comparação pode ser melhor compreendida no quadro de
cognição comparada (ver Quadro 2, Figura 3).
62
Quadro 2. Cognição comparada das principais diferenças entre tatu-peba e verdadeiro
Informações dos entrevistados
Principais
Diferenças
Apontadas
TAMANHO
DO CORPO
Informações científicas
Tatu-peba
Tatu verdadeiro
E. suxcinctus
“ele é pouco
menor que o
verdadeiro...ele
mede mais ou
menos uns dois
palmos podendo
passar um pouco
(...) ele chega a
uns 40 – 50 cm
(...) as femi são
sempre
menorzinha”
(Sr. Vilmar dias,
64 anos
residente da
zona rural de
Sumé)
“é igual ao peba,
mais já peguei
uns que passavam
de meio metro de
cumprimento até
o rabo” (Sr.
Jurandir, 47
residente da zona
rural de Sumé)
Os adultos de
Euphractus
sexcinctus podem
medir mais de 40
cm de
comprimento
cabeça-corpo
(REDFORD &
WETZEL 1985)
Os tatus de novebandas são animais
de porte médio,
podendo chegar até
64,5 cm de
comprimento do
focinho a parte final
da calda. (SMITH &
DOUGHTY, 1984)
“ahh, mede uns
50 cm ou mais
(...) alguns bixo
são do mermo
tamanho do peba
senão maior” (Sr.
Arnaldo, residente
da cidade de São
Mamede)
Os tatus-peba
apresentam um
tamanho corporal
bastante relativo
podendo chegar
até 50 cm de
comprimento,
machos e fêmeas,
com tendência das
fêmeas serem
menores (MEDRI,
2008)
D. novemcinctus são
animais com
musculatura muito
bem desenvolvida
podendo variar de 50
cm a pouco mais de
60 cm. Machos
maiores que as
fêmeas
(HUMPHREY,
1974)
Animal com
carapaça em quase
todas as partes do
corpo, excetuando
Tem orelhas longas,
bem juntas no alto da
cabeça e coberta por
placas dérmicas
“dependendo da
idade o bixo
chega a mais de
meio metro do
fucinho ao rabo
(...) é do mesmo
tamanho que o
veradeiro”
(Inaldo lima, 27
anos, residente
da cidade de
Sousa)
“as veiz chega ao
tamanho do peba,
mais é menor (...)
os macho são
pouca coisa maior
que as fêmi” (Sr.
Edilvan, 36 anos,
residente na zona
rural de Campina
Grande)
D. novemcinctus
“é muito maior
que o
verdadeiro, nem
se compara.
Mede mais de
50 cm e mais de
um palmo de
largura (Sr. João
Batista, 32 anos,
residente na
zona rural de
São Mamede)
TAMANHO
DAS
ORELHAS
“ele tem as
orelhinhas bem
pequenininhas,
bem menor que
“é grande demais,
nem se compara
ao do Peba”.
(Idalina Sousa, 33
63
as do tatuverdadeiro”
(Sra. Maria de
Lurdes, 54 anos,
residente da
zona rural de
Campina
Grande)
“tem duas
orelhinhas bem
curtinhas (Sr.
Mario, 33,
residente da
cidade de
Monteiro)
FOCINHO
PESO (Kg)
“são muito
diferentes, a do
peba é mais
grossa e
pequena a do
verdadeiro não”
(Sr. Claudio, 44,
residente na
zona rural de
Campina
Grande)
“a cabeça é
grande e grossa
da ponta da
venta até o fim
da cabeça” (Sra
Enedina Maria,
residente da
zona rural de
Campina
Grande)
“é o mermo peso
do
verdadeiro...vari
a de 3,0 a 5,0 kg
(...) as fême são
menor um
pouco” (Sr.
Apolinário
Gusmão, 49
anos, residente
da cidade de
Sousa)
anos, moradora da
zona rural de
Sousa)
“E muito
cumprida, bem
mais que a do
tatu-peba. Até
parece cum orelha
de burro”. (Sr.
Jurandir, residente
da zona rural de
Sumé)
“o fucin é bem
afiladinho, bem
mais bunito que o
do peba” (Sr.
Damião, 58 anos,
residente da
cidade de São
Mamede)
“é bem cumprido
e tem a „ventinha‟
bem pequena e a
boquinha
também”
(Sr. José louro, 41
anos, residente da
zona rural de São
Mamede)
a parte ventral e as (TAULMAN &
orelhas e estas
ROBBINS, 1996)
apresentando
tamanho pequeno
em relação ao
porte (CARTER
&
ENCARNAÇAO,
1983)
Os tatus-peba são
distinguíveis dos
demais por
apresentarem
orelhas curtas,
cabeça achatada
tornando-se
triangular em
direção ao focinho
(NOWAK, 1999)
A cabeça é
triangular e o
escudo que a
cobre é composto
de muitas escamas
ósseas, deixando
de fora o focinho
de comprimento
curto e os olhos
pequenos
(MEDRI, 2008)
“tem bixo de todo
peso, mas penso
que eles tem peso
parecido...é 3 -4 5 kg...depende”
(Janilson,
residente da
cidade de
Campina Grande)
Os adultos de
Euphractus
sexcinctus podem
medir massa
corporal variando
de 3,2 a 6,5 kg
(REDFORD &
WETZEL 1985)
“é tudo igual pros
dois...já peguei
No habitat natural
pode chegar aos 5
kg, podendo
O comprimento da
trufa a occiptal
(focinho) é comprido
e afilado (LAYNE &
GLOVER, 1977)
Indivíduos machos
adultos podem pesar
cerca de 5,0 kg
(DALPONTE &
TAVARES-FILHO,
2004)
A variação média de
peso para os D.
novemcinctus é de
5,35 kg
aproximadamente,
64
“a base é a
merma pros
dois... é 3 – 4
kilo” (Fabio
Lacerda, 29
anos, residente
da cidade de São
Mamede)
“Já peguei um
que pesava 4,2
kg, mas em casa
eles sempre
engorda mais
porque tem mais
cumida né?” (Sr
Francisco, 51
anos, morador
da cidade de
Sousa)
“é meio
amarronzado,
mais tem deles
que é bem clarin
num sabe” (Sra.
Fátima, 65 anos,
moradora da
zona rural de
Campina
Grande)
PADRÃO
DE COR
“olhe, tem deles
que tem o couro
e o casco bem
amarelinho, mas
tem outros que
são vermelho
como barro” (Sr.
Vilmar dias, 64
anos residente
da zona rural de
Sumé
“ahh, depende
da terra que nois
encontra eles,
mas quando lava
na água fica bem
clarin‟
(Lindiberg
Dantas, 23 anos,
residente da
zona rural de
tanto do grande
como do pequeno,
o maior tinha
mais de 5 kilo”
(Sr. Leonidas
Duarte, 59 anos,
residente na
cidade de Sumé)
atingir valores
maiores tanto para
os machos como
as fêmeas
(MEDRI, 2008)
“são preto, tanto
no casco quanto
no couro” (Sr.
José de Lara, 35
anos, residente da
cidade de
Campina Grande)
Apresentam
carapaça de
coloração pardoamarelada a
marrom clara,
esparsamente
coberta com pêlos
esbranquiçados e
longos, e possuem
de 6 a 8 cintas
móveis (MEDRI,
2008)
“tem deles que
são branquinho,
mas tem deles que
tem o casco
preto” (Sr.
Damião, residente
da cidade de São
Mamede)
“eles tem cor de
chumbo....é um
cinza, bem
parecido com
cimento” (Inaldo
lima, 27 anos,
residente da
cidade de Sousa)
com variação para
menos no caso de
fêmeas
(MONTGOMERY,
1985)
Variação média de
3,0 a 5,0 kg
(DALPONTE &
TAVARESFILHO, 2004)
A coloração da
carapaça varia do
escuro ao brancoamarelado (SMITH
& DOUGHTY,
1984).
A grande maioria
dos D. novemcinctus
apresentam
colorações que varia
do cinza ao marrom,
dependendo do
substrato que tenham
A cor da couraça é
contato. (WILSON
amarelo& REEDER, 1993)
avermelhada, com
a pele fina que
une as peças de
cor enegrecida,
porém como está
sempre coberta de
terra parece de cor
parda assim como
os pêlos.
(CARTER &
ENCARNAÇAO,
1983
65
São Mamede)
“eles tem dente,
e se pegar no
dedo, tira sangue
mermo”
(Sr.
José Quirino, 45
anos, residente
na zona rural de
Sousa)
DENTIÇÃO
“os dente deles
são muito duro.
Eles
moi
(moem) até osso
de bixo morto se
encontrar”. (Sr.
Apolinário, 69
residente
da
cidade
de
Monteiro)
“esses
bixin
morde de mais.
Uma vez um me
mordeu e foi
tive que estancar
o
sangue
depois”
(Sr.
Severino Santos,
residente
da
zona
rural
Sumé)
“ahhh tem não,
eles não tem força
pra morder e
mastigar
não
mode o fucin se
bem estreitin” (Sr.
Genival Caldas,
50 anos, residente
da zona rural de
Sumé).
“tem dente não.
Pode colocar o
dedo dentro da
boquinha dele que
ele num faiz
nada” ( Maria de
Lurdes, 33 anos,
residente na zona
rural de Sousa)
“os dentinho são
miudinho
de
mais, tem deles
que nem tem.
Num
morde
porque não tem
força na boca”
(Denilson mota,
22, morador do
município
de
Campina Grande)
O E. sexcinctus é
o representante
dos tatus com a
maior e mais
poderosa dentição
dentre os tatus
ajudando-o a
macerar a e
triturar carnes,
peles e ossos
(TAVARESFILHO, 2006)
Os D. novemcinctus
não possuem
incisivos ou caninos
e os dentes são
enraizados
individualmente. Os
adultos não possuem
dentes esmaltados
(NOWAK, 1999)
De forma geral, os itens que mais ganharam destaque, estão de acordo ou muito
próximos com o que aborda as referências da literatura. Porém, vale ressaltar outras
características peculiares sobre as duas espécies complementando os depoimentos
apresentados.
De acordo com Nowak (1999), a cor da couraça dos E. sexcinctus varia de uma
tonalidade amarela a amarelo-avermelhada apresentando uma fina pele que une as peças
dérmicas de cor enegrecida, entretanto, como geralmente estão em contatos com os mais
diferentes tipos de substratos, é muito provável que ocorra variações de padrões de cor. Em
relação aos D. novemcicntus, Silva Júnior e Nunes (2001) afirmam que a maioria apresenta
colorações que vão do marrom ao cinza-escuro, apresentando pequeninos pelos
esbranquiçados. Quanto aos escudos dorsais, anterior e posterior, estes são compostas por
66
múltiplas pequenas peças as quais se apresentam soldadas entre si. Esses escudos estão
separados uns dos outros por 5 ou 6 faixas transversais móveis (tatu-peba) ou por 7 a 11
faixas (tatu verdadeiro), as quais funcionam como um elástico (comprimindo e expandindo)
quando preciso, e desse modo a pele se estica e as faixas se mexem, favorecendo ao corpo a
capacidade de virar-se e dobrar-se (LOUGHRY et al., 2002). A cabeça do E. sexcinctus
apresenta um formato triangular e o escudo que a cobre é composto de muitas escamas ósseas,
deixando de fora o focinho, os pequenos olhos e as orelhas que não são muito compridas
(MEDRI, 2008). A cauda não é muito extensa, é cônica e coberta por fortes escamas. As patas
são curtas e se apresentam com 5 fortes unhas. A parte inferior da cabeça, corpo e a região
interna das patas são cobertas por pele muito grossa, tuberculosa e provida de pêlos longos,
grossos, ásperos que nascem de verrugas ou tubérculos na pele. A parte exterior e posterior
das patas apresenta longas e abundantes cerdas (BEZERRA et al., 2001). Da mesma forma,
os D. novemcinctus possuem uma carapaça que recobre desde a cabeça até os pés, com
exceção dos olhos e a parte ventral a qual é recoberta por uma espessa camada de pele
(TAULMAN & ROBBINS, 1996). Esta carapaça é dividida em três secções: Um escudo
escapular, um escudo pélvico e uma série de faixas em torno da secção do meio.
(MONTGOMERY, 1985)
O Euphractus sexcinctus possui cinco dedos em cada membro, todos com garras,
sendo que o segundo dedo é o mais desenvolvido (POCOCK, 1924), por outro lado o D.
novemcicntus apresenta apenas 4 dedos nos membros dianteiros e traseiros, porém com garras
bem fortes e desenvolvidas (HUMPHREY, 1974). Ambas as espécies apresentam na região
dorsal da cintura pélvica 2 a 4 glândulas odoríferas na carapaça, tanto de machos como de
fêmeas (REDFORD & WETZEL, 1985). A secreção destas glândulas é provavelmente
utilizada para a demarcação de tocas, e também pode ser importante na identificação e na
informação da receptividade sexual dos indivíduos (McDONOUGH & LOUGHRY, 2003).
Segundo a literatura não há dimorfismo sexual evidente em ambas as espécies de tatus,
muito embora o sexo possa ser facilmente determinado pela observação das genitálias.
Ressalta-se que tal forma de diferenciação entre machos e fêmeas exclusivamente pelas
genitálias foi a única apontada pelos entrevistados. Os tatus machos apresentam um dos pênis
mais longos (proporcionalmente ao corpo) dentre os mamíferos, estendendo-se até cerca de
2/3 do comprimento do corpo em algumas espécies (McDONOUGH & LOUGHRY, 2001)
(Figura 4). A vida social deste grupo provavelmente é dominada pelo sentido do olfato, órgão
bastante desenvolvido, pois todas as espécies produzem secreções odoríferas em glândulas
anais, que são utilizadas para marcar trajetos, árvores ou objetos conspícuos. Estas secreções
67
são provavelmente ferormônios, utilizados para advertir a presença, e possivelmente a
condição sexual de cada indivíduo (DICKMAN, 2001). Esses animais usam tanto o sentido
do olfato para localizar o alimento e perceber os predadores bem como o sentido da audição,
complementando o sentido da visão uma vez que é pobre. (REDFORD & WETZEL, 1985)
A existência ou não de dentição, segundo os (n=203)/94,85% entrevistados afirmaram
contundentemente não haver presença de dentes para os D. novemcinctus uma vez que o
tamanho de sua boca bem como os componentes de sua dieta não o faria dependente dos
mesmos. Por outro lado, 5,14% (n = 11) alegaram acreditar na presença de dentes ou mesmo
em vestígios destes.
Segundo a literatura científica, o crânio do tatu verdadeiro é
caracterizado por um longo e estreito rostro. A parte posterior do crânio é expandida
lateralmente, chegando a medir até quatro vezes a largura transversal do focinho. Os Dasypus
novemcinctus são desprovidos de dentes incisivos e caninos, porém apresentam molares que
são arredondados e cada um possui uma única raiz (MCBEE & BAKER, 1982).
Quanto ao E. sexcinctus, 100% (n = 214) dos entrevistados alegaram possuir dentes,
inclusive destacando sua dureza. Segundo Nowak (1999) o crânio dos tatus-pebas é
relativamente pesado, apresentando poderosas mandíbulas. Mesmo sem a presença do esmalte
dos dentes, estes são realmente fortes, apresentando 9 pares de dentes no maxilar superior, e
10 pares no maxilar inferior.
68
A
C
B
D
Figura 3. Algumas diferenças visuais marcantes entre E. sexcinctus (3A e 3B) e D. novemcinctus (3C
e 3D) apontadas entre os entrevistados. Cor: E. sexcinctus – mais alaranjado; D. novemcinctus –
tonalidades de cinza. Orelhas: E. sexcinctus – pequenas e levemente arredondadas; D. novemcinctus –
finas e longas. Características do corpo: E. sexcinctus – largo e mais achatado do que D. novemcinctus.
Focinho: E. sexcinctus – pequeno e largo, D. novemcinctus – estreito e cumprido. Fotos: 3A e 3B,
zona rural de Campina Grande, por Raynner R. D. Barboza; 3C e 3D, município de São Mamede, por
Wedson M. S. Souto.
Figura 4. Foto: do Autor. E. sexcinctus com pênis parcialmente protuso disposto em uma mesa.
Município de Campina Grande.
69
1.4.3 Nicho Ecológico
No Brasil, os dasipodideos são animais bastante comuns, principalmente os da espécie
E. sexcinctus e D. novemcinctus, ocorrendo em vários biomas como Mata Atlântica,
Amazônia, Pantanal, Cerrado e Caatinga (FONSECA et al., 1996; WETZEL, 1985a). Estas
duas espécies se adaptaram muito bem ao bioma caatinga, onde encontraram pouca variação
sazonal e as várias fisionomias de sua vegetação promoveu-os uma gama de opções de
habitats. (OLIVEIRA-FILHO & RATTER, 2002; SILVA & BATES, 2002).
De acordo com os informantes, os locais de maiores ocorrência dessas espécies em
cada uma das localidades estudadas são em áreas de: várzea, baixio, serras e serrotes para o
E. sexcinctus (tatu-peba); e serras densas e fechadas para o D. novemcicntus (tatu verdadeiro)
como mostra a transcrição de alguns depoimentos:
“onde eles sempre tão é em alto de serra, em baixil de serra, alguns
em vázea, depende”. (Sr. Isaias, 30 anos, residente na zona rural do
Municipio de campina Grande”
“O peba você encontra em baixil e em serrote e o verdadeiro só em
serra alta mermo”. (Sr. Mario, 33, residente da cidade de Monteiro)
“eles faiz as toca em baixil de serra e em vázea (tatu-peba) (...) o
verdadeiro é mais difícil de encontrar (...) ele só vive em serra alta e
fechada” (Sr. Hildânio, 59 anos, residente da zona rural de Sousa)
“eles veve em serrote, baixil de serra e em vázea as veiz veim até o
quintal de casa” (Sr. Damião, 58 anos, residente da cidade de São Mamede)
O conhecimento sobre as áreas de vida dos tatus, principalmente as dos tatus-peba,
Euphractus sexcinctus, é bastante limitado. Destacam-se os trabalhos de Encarnação (1987)
como uma das poucas documentações onde foi abordada a ecologia de diversas espécies de
tatus no Parque Nacional da Serra da Canastra – MG, e a de Medri (2008) onde estudou a
Ecologia e História Natural do Tatu-peba no Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul.
Apesar desses estudos supracitados não tratarem diretamente o uso de hábitats do tatupeba ou tatu verdadeiro, pode-se encontrar em alguns poucos trabalhos informações sobre
esse tema, por exemplo: Bonato et al. (2008), Carter e Encarnação (1983), Hass et al. (2003),
Schaller (1983), Trolle (2003), Vizcaíno e Giallombardo (2001).
Para Medri (2008), o estudo do monitoramento de 20 exemplares de tatus-peba no
Pantanal da Nhecolândia, Mato Grosso do Sul, mostrou uma maior porcentagem de
localizações desses indivíduos em habitats com dossel de vegetação mais densa, como em
70
matas fechadas, campos cerrado, do que em áreas abertas como campos úmidos. Ainda para a
autora, diferenças podem ser encontradas quanto ao uso do hábitat dos E. sexcicntus devido às
características peculiares de cada região e de cada hábitat dentro destas regiões, como por
exemplo: diferentes disponibilidades de alimento, diversidade de características do solo (que
podem facilitar ou dificultar a escavação de tocas) e diferentes disponibilidades de parceiros
para a reprodução.
Em relação às áreas de habitat do D. novemcinctus nos biomas em que ele está
presente, pouco é documentado. Segundo Taulman e Robbins (1996), os habitats dos tatus
verdadeiros tendem a ser em áreas de florestas temperadas bem como de variedades de
regiões tropicais e sub-tropicias, com preferência a vegetação densa e fechada.
Para Humphrey (1974), os tatus, de um modo geral, habitam áreas de cobertura
vegetal densa e fechada como florestas arborícolas ou em regiões que apresentam feições de
caatingas hipo e hiperxerófilas, cujos componentes predominantes são árvores e arbustos com
dominância de poucas espécies.
Comparando os relatos dos entrevistados com a literatura disponível, pode-se dizer
que estes foram bem próximos dos resultados que já foram previamente documentados uma
vez que os locais de ocorrência de nicho ecológico das duas espécies de tatus são bem típicos
de cada localidade estudada e no caso específico da Caatinga paraibana, há escassez de
estudos quanto à ecologia e biologia dessas duas espécies.
Fato curioso constatado diz respeito ao emprego dos termos locais “baixio e várzea”,
por 80,84% (n = 173) dos entrevistados (em todas as localidades visitadas) designando locais
bem específicos de ocorrência e habitat dos tatus-peba (E. sexcinctus).
“nois anda pelos baixil porque é onde eles fica e é mais fácil de pegá
(...) baixil é como um campo descampado ou com capim alto”. (Sr. Severino
Santos, residente da zona rural de Sumé)
“tem muito é em vázea, e „serração‟. No mei de duas cerras daqui
tem uma grande (várzea) que sempre os meninos daqui vão” (Sra. Ana
Lucia, 34 anos, residente da zona rural de Sousa)
Segundo os informantes o “baixio” seria uma extensão de área plana que se conecta
com as bases de Serras e as “várzeas” seriam extensões de terra presente entre serras
desprovidas de arvores ou cobertas por gramas altas ou mesmo vegetação rasteira. De acordo
com Kalliola et al. (1993) os baixios são depressões, circundada por cumes de montes, onde
existem depósitos de águas subterrâneas e normalmente apresentam menor diversidade de
71
espécies quando comparadas a outras extensões de terra e abrigam animais e plantas
adaptados a condições hidrológicas sazonais. As várzeas são terrenos baixos e mais ou menos
planos, à margem de um rio ou ribeirão (SILVA et al., 1992).
Verifica-se que o uso de tais colocações bem como suas descrições para designar as
áreas de habitat dos tatus-peba (E. sexcinctus) está bem próximo com o que trata as
referencias científicas, no entanto, ainda de acordo com a literatura, tais localidades podem
abrigar córregos, rios e depósitos de água em suas áreas. Quando questionados se alguma das
duas espécies de tatus habitam ou podem habitar áreas que apresentem rios, córregos ou
açudes, 68,22% (n = 146) dos entrevistados alegaram que não. Os demais, 19,15% (n = 41)
afirmaram que esses animais podem habitar locais com presença de água, e apenas 12,61% (n
= 27) dos entrevistados afirmaram não saber.
1.4.3.1 Aspectos de comportamentos sociais
Em relação aos hábitos sociais dessas duas espécies as opiniões foram bem divididas
em cada localidade (Tabela 3).
Tabela 3. Percepção de moradores do semi-árido da Paraíba quanto aos hábitos sociais de D.
novemcinctus e E. sexcinctus
HÁBITO SOCIAL
CIDADE
Tatu-peba (E. sexcinctus)
Tatu verdadeiro (D.novemcinctus)
Campina
Grande
(n=109)
Monteiro
(n=18)
São Mamede
(n=23)
Sousa
(n=32)
Sumé
(n=32)
Sozinho
(%)
Casal
(%)
Grupos
(%)
Sozinho
(%)
Casal
(%)
Grupos
(%)
54,12%
(n=59)
37,61%
(n=41)
8,25%
(n=9)
72,47%
(n=79)
20,18%
(n=22)
7,33%
(n=8)
38,88%
(n=7)
86,95%
(n=20)
43,75%
(n=14)
59,37%
(n=19)
61,11%
(n=11)
13,04%
(n=3)
50%
(n=16)
28,12%
(n=9)
-
72,22%
(n=13)
91,30%
(n=21)
81,25%
(n=26)
78,12%
(n=25)
27,77%
(n=5)
4,34%
(n=1)
18,75%
(n=6)
21,87%
(n=7)
-
6,25%
(n=2)
12,5%
(n=4)
4,34%
(n=1)
-
De acordo com as percentagens gerais, conclui-se que a grande maioria dos
entrevistados afirmou que tanto o tatu-peba 55,60% (n = 119) quanto o tatu verdadeiro
76,63% (n = 164) apresentam hábito solitário. Porém, em relação ao convívio em casal,
37,38% (n = 80) e 19,15% (n = 41) dos entrevistados afirmaram que os tatus-peba e os tatus
72
verdadeiros (respectivamente), na maioria das vezes estão em companhia de sua(s) parceira(s)
e apenas 7% (n = 15) e 4,20% (n = 9) alegam que os pebas e os verdadeiros estão sempre
dispostos em grupos, porém se debandam muito rapidamente quando estão ameaçados.
Segundo Medri (2008), o E. sexcinctus apresenta hábito solitário, com ressalva para a
época reprodutiva onde as fêmeas com seu(s) filhote(s) estão juntos. Outras situações também
podem levar ao agrupamento ocasional desta espécie. Desbiez et al. (2006) registraram
comportamentos de perseguição em grupos envolvendo indivíduos dessa espécie no Pantanal,
porém muitos poucos estudos retrataram sobre esse raro fenômeno entre os tatus-peba e sua
função ainda é considerada bastante enigmática, porém há provas que este copmportamento
tenha haver com períodos de acasalamento. Tal caracteristica dá-se pelo fato de indivíduos
machos correrem um atrás dos outros em fileiras, percorrendo por várias distancias outros
grupos ou mesmo fêmeas.
Em relação ao D. novemcinctus, estes podem viver de forma solitária e nômade, ou em
pares ou mesmo em pequenos grupos de indivíduos (McDONOUGH, 1994). Conclusão
semelhante teve o pesquisador Clark (1951) em seu estudo sobre ecologia e história dos tatus
no Platô oeste de Edwards (Texas – EUA), onde afirmou a dificuldade de pesquisas sobre
mortalidades de D. novemcinctus devido suas freqüentes mudanças de moradias e hábito
solitário. McDonough (2000) ainda complementa que, nesta espécie, a permuta de moradias
entre machos e fêmeas proporciona a estes indivíduos interatuar e dividir o espaço demarcado
uns com os outros, dependendo da densidade de indivíduos.
Tratando-se do comportamento social com outros animais (nativos ou silvestres) os
quais compartilham do mesmo espaço físico, menos de 3% (n = 5) dos entrevistados
comentaram a respeito. De forma geral, essa questão ficou mais na suposição uma vez que os
momentos que depreendem maior atenção sobre a ecologia das duas espécies estudadas são
em oportunidade de caça, e como essa atividade sempre gera momentos de agitação e
estresse, muitos detalhes ecológicos são despercebidos nessa ocasião, principalmente quando
se refere ao D. novemcinctus, pois, segundo os informantes, o acesso ao seu nicho é muito
mais restrito quando comparado ao E. sexcinctus. De acordo com a literatura, aspectos sobre o
comportamento social da maioria dos tatus ainda não são totalmente conhecidos (CARTER &
ENCARNAÇÃO, 1983).
73
1.4.3.2 Atividades de Forrageio
O conhecimento que os informantes possuem sobre os horários de forrageio das duas
espécies de tatus estão quase sempre associadas aos horários de caça por parte dos praticantes
ou das informações que estes transmitem aos demais membros que os cercam, como os
indivíduos da própria família ou da comunidade. O período noturno ou crepuscular
correspondeu à maior porcentagem dos relatos como sendo o principal período de forrageio
para ambas as espécies de tatus (ver Tabela 4). Para muitos que praticam a atividade de caça,
esse horário é o preferível para a captura e/ou abate desses animais, pois a necessidade de
procurar alimentos força os tatus a saírem de suas locas, conseqüentemente, tornando-os alvos
fáceis aos cães, armas de fogo ou armadilhas preparadas.
“tudo que eles faiz é a noite (...) seja pra comer, beber, procriar e
morrer”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural de Sumé)
“a noite é hora que eles mais sai, tanto peba como o verdadeiro (...) o
verdadeiro sai lá pelas altas hora da madrugada e o peba sai mais cedo”
(Venâncio da silva, 27 anos, morador da zuna rural de Campina Grande)
“nois sempre caça a noite (...) entra na mata de noite e fica até o dia
raiá (...) as veiz eles (tatus) demora a sair (...) tem dia que num pega nada
(...) o verdadeiro é mais demorado poque ele só sai quase amanhecendo”.
(Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede)
Tabela 4. Horários de forrageio para as duas espécies de tatus (E. sexcinctus e D.
novemcinctus)
PERÍODO DIÁRIO
Cidades
DIURNO
VESPERTINO
NOTURNO/CREPUSCULA
2,80% (n = 6)
8,25% (n = 9)
43,92% (n = 94)
Monteiro
5,55% (n = 1)
5,55% (n = 1)
88,88% (n = 16)
São Mamede
21,73% (n = 5)
4,34% (n = 1)
73,9% (n = 17)
12,5% (n = 4)
87,5% (n = 28)
Campina
Grande
Sousa
Sumé
3,12% (n = 1)
-
96,87% (n = 31)
74
O quadro mostra que a grande maioria dos informantes, 86,91% (n = 186), atribui ao
horário da noite como o principal para as atividades de alimentação dos E. sexcinctus e D.
novemcinctus, e o menor índice de relatos foi em relação ao período diurno com 6,07% (n =
13).
Quando comparados com a literatura, notamos que a grande porcentagem de
informações fornecidas pelos entrevistados no que diz respeito aos horários de forrageio dos
E. sexcinctus serem preferencialmente noturnos são discrepantes, uma vez que a procura por
alimentos ocorre principalmente no período diurno, embora ocasionalmente podem estar
ativos à noite (REDFORD & WETZEL, 1985). Porém, em relação aos tatus verdadeiros (D.
novemcinctus), os dados obtidos estão de acordo com as referencias cientificas, uma vez que
os indivíduos adultos possuem hábito preferencial crepuscular e/ou noturno, mas também
podem ser ocasionalmente observados durante o dia, dependendo da temperatura ambiente.
No entanto vale destacar que os indivíduos juvenis têm o máximo de atividade durante a
manhã e no fim da tarde (MCDONOUGH & LOUGHRY, 2001).
Em relação aos componentes da dieta alimentar de ambos os tatus estudados, os dados
obtidos pelos informantes estão bem próximas com a literatura cientifica disponível. Estes
comumente destacavam a incrível capacidade e diversidade alimentar dos tatus-peba
comparando-os aos suínos, sendo essa habilidade, provavelmente, um dos motivos da
capacidade de criação e manejo dessa espécie em cativeiro, habito comum em muitos dos
locais estudados. Quanto aos tatus verdadeiros, os informantes relataram que, diferentemente
dos tatus-peba, este é bem mais seletivo em sua dieta, sendo, portanto, uma das características
que a maioria das pessoas creditam forçar a espécie a cobrir maiores áreas de domínio, e
assim, dificultar o acesso a seus habitats de remanescência. Alguns depoimentos podem ser
vistos e comparados com a literatura, como segue:
“O peba como de tudo, de tudo mermo; é mermo que vê um poico
[porco] (...) o verdadeiro só come bichinho miudinho, besoro, formiga”.
(Izoulda de Lurdes, 19 anos, residente da zona rural de Campina)
“(...) come de TUDO. Tudo que encontrar pela frente o bixo come; o
que colocar pra ele come também. Num tem diferença prum porco (...) o tatuverdadeiro num come porquera [porcaria] não, só rama de feijão, raiz de
batata, furmiga, besoro, aranha...”. (Sr. Jurandir, residente da zona rural de
Sumé)
75
“o verdadero é mais limpo que o peba porque só come raiz, fruitinha, e
bixo pequenininho; logo ele num tem dente pra morder como o peba que come
de tudo, ele tem que buscar essas cumida cada veiz mais longe”
“já vi o bixo [tatu-peba] cumer até uma carcaça de vaca morta...passei
por ela [carcaça] e vi um troço se bulino [mexendo] lá dento; pensei que era
inté um tejú, mais deixa que era um peba se intrufando [caminhando] dentro
da carniça...é um poico direitinho....come de tudo (...) o verdadeiro come esses
bixinho miúdo [pequeno]...é grilo, galfanhoto, barata, cupim, fuimiga, rama
de fejão, raiz de batata...”. (Sr. Genival Caldas, 30 anos, morador da zona rural
de Sumé)
De acordo com os relatos deve-se realçar o emprego da palavra “tudo” referindo-se a
dieta dos E. sexcinctus. O uso desse termo faz correlação com o que diz a literatura que
aponta os tatus-peba como sendo onívoros, alimentando-se de uma grande variedade de itens,
incluindo material vegetal (frutos de bromélias e palmeiras, tubérculos, etc.), invertebrados,
pequenos vertebrados e até mesmo matéria orgânica em decomposição (BEZERRA et al.,
2001; DALPONTE & TAVERES-FILHO, 2004; MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003;
REDFORD, 1985). Analises de tratos digestivos ou de fezes não foi realizado com nenhuma
das duas espécies de tatus nessa pesquisa, estudo este que seria de grande importância para
efeito de elucidações quanto às variedades de componentes alimentares das duas espécies.
Pesquisas sobre dieta alimentar dos E. sexcinctus foram realizadas por Dalponte e
Taveres-Filho (2004) que analisaram o trato digestivo de 74 exemplares encontrados mortos
em estradas e rodovias dos municípios de Ribeirão Preto, Luis Antonio e Pradópolis, região
nordeste de São Paulo. Além desses animais, mais 4 exemplares de E. sexcinctus foram
coletados em dois outros municípios de São Paulo (Guareí e São José do Rio Preto) e no Mato
Grosso (Cuiabá e Vila Bela), todos em estradas que cruzavam campos cultivados. Os
resultados obtidos mostraram que, pelo menos 21 itens alimentares estavam presentes nos
estômagos dos tatus-peba. Desses, itens como: sementes de milho, arroz, sementes e polpa de
laranja, cana-de-açúcar e outras sementes não identificadas faziam parte dos componentes
vegetal encontrado. Dentre os invertebrados foram encontrados: formigas, besouros, cupins,
larvas de borboleta, grilos e alguns aracnídeos. Algumas espécies de vertebrados também
foram registradas: alguns mamíferos, ofídios, aves e alguns outros vertebrados não
identificados. Tais resultados foram comparados aos estudos prévios feitos por Schaller
(1983) onde foram feitas analises de conteúdo estomacal de oito E. sexcinctus no Pantanal
Mato-Grossense demonstrando semelhança nas composições alimentares dessa espécie.
Baseando-se nos relatos obtidos, o termo “limpo” foi bastante empregado ao longo das
entrevistas para o tatu verdadeiro, colocando-o, muitas vezes, em preferência para o consumo
humano ao tatu-peba. Notou-se quase uma unanimidade entre os informantes das localidades
76
estudadas o fato de acreditarem que os D. novemcinctus não se alimentam de animais
(vertebrados) muito menos possuírem hábito saprófago. Pode-se inferir que este meme
poderia
estar
correlacionado
aos
testemunhos
de
indivíduos
que
presenciaram
comportamentos de forrageio dessa espécie em seu habitat natural ou mesmo quando houve
tentativa de criação da espécie em cativeiro possibilitando comparação direta com os E.
sexcinctus, uma vez que é bastante comum indivíduos dessa espécie serem mantidos em
cativeiro; ou mesmo pelo fato de acreditarem que os tatus verdadeiro são destituído de dentes,
portanto, não teriam capacidade de ingerirem itens com certa consistência. Segundo a
literatura os tatus verdadeiros são animais que consomem raízes de forma bem generalista e,
em relação à matéria animal, estão presentes em sua dieta invertebrados como: artrópodes,
minhocas bem como pequenos vertebrados a exemplo de repteis, anfíbios e até aves. O hábito
saprófago também está presente nos indivíduos dessa espécie, porém sendo uma característica
não muito marcante (SCHAEFER & HOSTETLER, 2003). Analises dos conteúdos
estomacais de mais de 800 indivíduos de D. novemcinctus revelaram quase 500 itens
diferentes, com componentes animais representando 90% de sua dieta em termos de volume
(DAVIS & SCHMIDLY, 1997). Os tatus-verdadeiros inclusive conseguem nadar e se
alimentar na água (PARERA, 2002).
Destaca-se que todos os itens alimentares abordados na literatura são encontrados nas
áreas de habitat das duas espécies de tatus estudadas. Suas distribuições são amplas e com o
passar dos tempos adaptaram-se da melhor forma possível a escassez hídrica, aridez e altas
temperaturas do semi-árido paraibano.
1.4.4 Locas, buracos ou fossados
Dentro do conhecimento dos entrevistados no que diz respeito à construção dos
buracos pelos tatus, estes o costumam denominá-los de “locas” e afirmam não apresentarem
muitas diferenças de construção de uma espécie para outra, no entanto, reconhecem a incrível
habilidade de escavação dos tatus-peba e a dificuldade de encontrar os buracos feitos pelos
tatus verdadeiros, sendo um dos motivos justificados na dificuldade de acesso aos locais de
ocorrência da espécie. Porém, quando questionados sobre os motivos pelos quais esses
animais constroem tais cavidades alegaram que serviria tanto para descanso, abrigo, proteção
e nascimento dos filhotes.
77
“já vi loca de todo tamanho e de toda fundura (...) eles tem as cria lá
e dormi Tb”. (Sr. Sebastião Deda, 47 anos, morador da zona rural de Sumé)
“cavar como o peba tem igual não (...) com dois minutu o bixo se
„entuma” [esconde] debaixo da terra e não tem cristão quem tire (...) o
verdadeiro cava mas né muito não (...) algumas loca são do mermo tamanho
outras são menor” (Sr. Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade
de Sousa)
“eles veve [vivem] lá dentro (...) come, bebe, se esconde, se protege
dos cachorro e tem as cria tudo lá” (Sr. Genival Caldas, 32 anos, morador da
cidade de Monteiro)
De acordo com Carter e Encarnação (1987) os buracos construídos pelos tatus, de um
modo geral, são usados para acolhê-los durante o sono; como local de nidificação; refúgio de
predadores; como local de procriação e como reservatórios de insetos a exemplo de formigas
e cupins. Em relação à nidificação, alguns adultos e jovens costumam recolher folhas secas e
capins e os trazem até suas tocas adentrando de costas até o fim do túnel. Além disso, podem
formar aglomerados de tocas em áreas abertas (LIMA BORGES & TOMÁS, 2004)
A atividade de escavar tocas é uma das características mais notáveis dos tatus, e em
relação ao E. sexcinctus, essa torna-se uma habilidade a parte. O hábito de escavar também
auxilia no processo de alimentação do tatu-peba. Em relação aos tipos de buracos construídos,
têm-se os “fossados” os quais são escavados com propósito de busca por alimento
(ANACLETO, 2006), e as “tocas” ou “locas” que são buracos típicos para refúgio e/ou abrigo
dos filhotes. Tanto os fossados como as locas podem chegar entre 1 a 2 m de profundidade
(NOWAK, 1999). Sabe-se que, ao contrário de algumas outras espécies de tatus, quando se
sentem ameaçados, cavam tocas para se esconderem de possíveis predadores, porém a
primeira reação de defesa do tatu-peba é correr, podendo morder quando capturado. Logo, tão
rápido encontre a toca mais próxima, o tatu-peba não hesita em entrar neste refúgio de modo a
livrar-se de qualquer situação de perigo (REDFORD & WETZEL, 1985).
Um dos fatos mais marcantes dessa pesquisa veio de depoimentos de moradores de 3
das cinco localidades estudadas (São Mamede, Sumé e Sousa), os quais afirmaram a presença
de cobras da espécie cascavel (Crotalus durissus) em buracos abandonados ou ocupados por
tatus-peba. Devido à falta de acesso a alguns locais de habitat das espécies de tatus estudadas
nessa pesquisa, tal relato não pode ser devidamente comprovado por filmagem ou fotografia.
“(...) quando os cachorros já tinha acuado ele (tatu-peba) dentro do
buraco, eu coloquei os troço no chão <instrumentos de caça> e comecei a
cavar (...) peguei ele pelo rabo e fui trazendo ele pra cima, assim que o bixo
saiu, saiu também uma cascavel grande, era quase da grossura do meu braço.
78
Larguei o peba e os cachorro começaro a latir em cima dela (..) matei a bixa
(cobra) e larguei o peba) (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São
Mamede)
“(...) quando abaixei e cutuquei o buraco ouvi um chiado. Pensei que
era o peba fungando, quando menos esperei saiu uma cascavel de dentro da
loca (...) nunca pensei que ali podia ter uma cobra (...) não, ela não fez nada
com o peba”. (Sr. Severino Santos, residente da zona rural Sumé)
“(...) pelo tempo que já cacei foi a primeira vez que eu vi um bixo
desse (cobra) dentro de uma loca de peba (...) quase me mordeu (...) nunca
mais ando sem „chibanca‟ <picareta> e lanterna” (Sr. Apolinário Gusmão,
49 anos, residente da cidade de Sousa)
Para os informantes que relataram ter visto tal acontecimento, nenhuma explicação
especial foi dada a não ser que esses dois animais (tatu-peba e cascavel) convivem
harmonicamente num tipo de proto-cooperação onde a cascavel, possivelmente, lhes trazia
segurança contra outros invasores e o tatu-peba abrigo em sua morada. Nenhum relato quanto
a episódio semelhante foi documentado em relação aos tatus verdadeiros (D. novemcinctus).
De acordo com a literatura, Medri (2008) afirma que as escavações feitas pelos tatus-peba
(Euphractus sexcinctus) também servem como refúgio para outras espécies de animais. A
autora ainda complementa que em sua pesquisa, realizado com 70 tocas de tatus-peba, a fauna
comensal encontrada consistiu em espécies de vespas, anfíbios e espécies de répteis como
lagartos e uma cobra venenosa, nesse caso uma boca-de-sapo ou jararaca, Bothrops
mattogrossensis Amaral, 1925.
Sabe-se que a temperatura corporal e o nível basal de metabolismo dos integrantes da
superordem Xenarthra (tatus, tamanduás e preguiças) são mais baixos do que os valores
esperados para mamíferos placentários com massa corporal semelhante (McNAB, 1985).
Estes animais possuem estratégias fisiológicas e comportamentais para contornar problemas
relacionados à exposição a temperaturas ambientais extremas. Desse modo, outra possível
conclusão para a construção de fossados e tocas pode estar provavelmente relacionada com a
termorregulação dos tatus, logo as temperaturas em seu interior propiciariam local adequado a
uma série de visitantes.
79
1.4.5 Percepção dos moradores quanto aos aspectos reprodutivos dos tatus-peba e
verdadeiro
“quando é o tempo deles procriá os peba fica tudo doido procurando
no mato as pebinha-femi. (...) os verdadeiro são do mermo jeito, só que é
mais complicado de vê mode [devido] eles são ligero [veloz] demais e corre
de vorta pras loca”. (Sr. Lucenildo, 52 anos residente da zona rural de Sumé)
“acho que eles pari o ano todo, principarmente o peba”. (Sra
Severina Carmo, 42 anos, residente da zona rural de Campina Grande)
“eles começa a procriar em Junho inté começo de Agosto, se a bixa
[a peba fêmea] vingá [garantir o cio] no máximo em Dezembro os bixin
[filhotes] já nasce. (...) é a merma coisa pro verdadero, o tempo é igual” (Sr.
Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede)
Dentro do universo de conhecimento dos informantes quanto ao tema reprodução,
pôde-se notar que a grande maioria mencionava meses específicos do ano onde ocorria o
inicio do processo reprodutivo [procura por fêmeas e acasalamento] e fim deste [gestação e
parturição] para ambas as espécies de tatus. Segundo a maioria dos informantes, tão logo as
fêmeas entrem no cio os machos ficam em estados de frenesi com saídas mais frequentes de
seus abrigos ou mesmo cobrindo áreas maiores em busca por fêmeas disponíveis. Para os
informantes, entre os meses de Julho a Setembro ou Junho a Agosto a busca de fêmeas por
machos inicia-se podendo durar entre um ou dois meses de investidas.
Os informantes ainda reiteram que este processo, o qual ocorre durante o período que
eles compreendem como reprodutivo, acontece em comum para ambas às espécies de tatus
estudadas. Dessa forma, tão logo termine o processo de procura por fêmeas férteis e copula, o
que geralmente leva de um a dois meses, os machos separam-se de suas parceiras e estas
ficam gestantes por períodos de 50 a no máximo 90 dias (na ótica dos entrevistados). Ainda
segundo os entrevistados, esse longo período de acasalamento é uma forma que os machos
têm de garantir a “prenhes” das fêmeas e de garantir que a futura prole seja bem sucedida.
Desse modo, os meses em que ocorreria o fim da gestação até a parturição seriam entre
Novembro a Fevereiro ou Dezembro a Março.
De acordo com o quadro (Tabela 5), os meses de Julho a Setembro apresentaram as
maiores citações por parte dos informantes em relação aos períodos de acasalamento dos
tatus-peba, com um percentual de 44,85% (n=96) contra 27,10% (n=58) para os meses de
Junho a Setembro. Em relação aos tatus verdadeiros, percebe-se que os meses de Julho a
Setembro novamente se destacaram, com percentual 53,27% (n=114) contra 34,57% (n=74).
80
Tal fato pode ser justificado pelos numerosos relatos obtidos pelos informantes onde a
reprodução de ambas as espécies ocorria em sincronia.
Destacam-se ainda os percentuais de 20,09% (n=43) e 3,73% (n=8) para os
informantes que afirmaram ocorrer atividades reprodutivas para ambas as espécies de tatus (E.
sexcinctus e D. novemcinctus respectivamente) ao longo de todo o ano. Uma pequena parcela
dos informantes, 7,94% (n=17) [tatu-peba] e 8,41% (n=18) [tatu verdadeiro], os quais
afirmaram não saber ou não ter certeza.
Comparando-se os dados com os da literatura cientifica, estes apresentaram bastante
coerentes. Durante o período de acasalamento dos tatus verdadeiro (D. novemcinctus) estes
são bastante ávidos em seguir as fêmeas de modo a estabelecerem contatos mais próximos e
forragearem juntos por vários dias (MCDONOUGH & LOUGHRY, 2003). De acordo com
Guimarães (1997) uma fêmea adulta de tatu verdadeiro sendo perseguida por dois machos
adultos da mesma espécie foi documentada. Segundo o autor, os machos desta espécie
mostraram comportamento agressivo uns com os outros, seja se interpondo na frente da fêmea
e expulsando outros intrusos ou mesmo pulando em cima e rolando pelo chão.
De acordo com Enders (1966) o tempo de ovulação das fêmeas de D. novemcinctus
pode variar espacialmente e temporalmente de acordo com as condições ambientais. Esse tipo
de variação é bem exemplificado pelos dados de pesquisas feitas no Texas – EUA. Hamlett
(1932) atribuiu o dia 15 de Julho como sendo a data média do acasalamento, porém, Talmage
& Buchanan (1954) consideraram que o período de ovulação poderia apenas se aproximar aos
meses de junho a agosto. Dessa forma, seguindo o modelo do ciclo reprodutivo generalista de
Enders (1966), o estro ocorreria de Junho a julho. Notou-se que a maioria das fêmeas
multíparas ovularam no mês de Setembro comparando com o mês de novembro para os
indivíduos nulíparas.
Em relação aos E. sexcinctus, Desbiez et al. (2006) registraram, em duas ocasiões, o
comportamento de perseguição envolvendo três e oito indivíduos da espécie, na região do
Pantanal do Mato Grosso do Sul. Durante estes eventos os tatus-peba correram uns atrás dos
outros, formando fileiras. Suspeitava-se que este comportamento de perseguição estivesse
relacionado com a reprodução da espécie. Esta suspeita foi confirmada com observações
posteriores, também no Pantanal, onde foi constatada a cópula após esses momentos de
perseguição. Os povos pantaneiros locais acreditam piamente que essas perseguições
envolvendo os machos de tatus-peba (E. sexcinctus) em busca das fêmeas realmente ocorrem
motivadas pelo período de estro das fêmeas, desse modo, as perseguições poderiam ser uma
forma de competição dos machos por fêmeas. Atualmente muito pouco se tem documentado
81
sobre esse tipo de comportamento dos E. sexcinctus, desse modo, para uma melhor
compreensão dessa característica peculiar, uma série de informações precisariam ser
levantadas tais como sexo, idade e estado reprodutivo dos indivíduos envolvidos. O período
de gestação registrado em cativeiro para a espécie foi de 60 a 64 dias, com os nascimentos
ocorrendo ao longo do ano.
82
Tabela 5. Percepção dos moradores locais quanto aos períodos de reprodução a parturição de D. novemcinctus e E. sexcinctus
PERIODOS DE REPRODUÇÃO A PARTURIÇÃO
CIDADES
E. sexcinctus
JUL-SET1
NOV-FEV2
JUN-AGO1
DEZ-MAR2
D. novemcinctus
ANO
TODO
NÃO
SABE
JUL-SET1
NOVFEV2
JUN-SET1
DEZMAR2
ANO
TODO
ÑÃO
SABE
Campina
Grande
52,29% (n=57)
11,92% (n=13)
21,10%
(n=23)
14,67%
(n=16)
60,55% (n=66)
33,02% (n=36)
-
6,42%
(n=7)
Monteiro
22,22% (n=4)
44,44% (n=8)
33,33%
(n=6)
-
33,33% (n=6)
38,88% (n=7)
-
27,77%
(n=5)
São
Mamede
39,13% (n=9)
34,78% (n=8)
26,08%
(n=6)
-
56,52% (n=13)
30,43% (n=7)
8,69%
(n=2)
4,34%
(n=1)
Sousa
28,12% (n=9)
50% (n=16)
18,75%
(n=6)
3,12%
(n=1)
37,5% (n=12)
34,37% (n=11)
12,5%
(n=4)
15,62%
(n=5)
Sumé
53,12% (n=17)
40,62% (n=13)
6,25%
(n=2)
-
53,12% (n=17)
40,62% (n=13)
6,25%
(n=2)
1
Período de acasalamento
2
Final da gestação e parturição
-
83
De maneira geral, todos os itens abordados pelos entrevistados, no que diz respeito à
reprodução das duas espécies de tatus, tiveram coerência com o que aborda a literatura
científica. Ao longo das pesquisas notou-se que a variação da quantidade de filhotes obtidos
por ninhada, de acordo com a visão dos informantes, ou eram de 2, entre 2 e 4 ou mais que
quatro filhotes para ambas as espécies de tatus. Dessa forma, destacam-se percentuais de
65,42% dos informantes que relataram a quantidade de 2 a 4 filhotes para o tatu verdadeiro
(D. novencicntus) e de 65,88% para os que afirmaram ninhadas de apenas 2 filhotes para a
espécie tatu-peba (E. sexcinctus) (Tabela 6). Estas percentagens mostram que os informantes
possuem, de um modo geral, um conhecimento bastante concordante com a literatura uma vez
que, para ambas as espécies, a quantidade de filhotes pode variar de um a três
(GUCWINSKA, 1971; McDONOUGH, 2000). Dentre os relatos obtidos, destaca-se a forma
de conhecimento e percepção por parte dos informantes quanto à reprodução dos tatusverdadeiros. Alguns afirmaram veementemente que sua prole era composta por dois ou quatro
filhotes e que ao nascerem, todos são de um mesmo sexo. Tal afirmação pode ser assim
conferida:
“...a fêmi do verdadero só pari de par. E tem mais, se um deles for
macho, o resto todo é macho, se um deles for fêmi, o resto tudin é femi
também” (Sr. Severino Santos, residente da zona rural Sumé)
“é muito difícil de ver eles parindo [tatu-verdadeiro], mas uma vez
eu vi quatro tatuzinho saindo da toca e cheguei perto eles correro pra dento,
a mãe num tava por perto, coloquei a mão e tirei todos 4...era tudo machinho
(...) divia ter uns 2 meis mais ou meno” (Sr. Arnaldo, residente da zona rural
de São Mamede)
“o peba só pari de dois e o verdadeiro é de quatro. E tudin é de um
mermo sexo. Se for macho os irmão vão ser macho, se for femi, tudin é femi
também,” (Sr. Jurandir, residente da zona rural de Sumé)
Analisando os relatos apontados, tal particularidade, percebida apenas com o tatu
verdadeiro (D. novemcinctus), é conhecida cientificamente como o fenômeno da
poliembrionia. A poliembrionia é o sistema reprodutivo que se caracteriza pelo
desenvolvimento de mais de um indivíduo a partir de uma única célula-ovo, sendo este
sistema relatado no gênero Dasypus (GALBREATH, 1985; PRODÖHL et al., 1998).
De acordo com Benirschke et al. (1964), análises com transplante de pele foram
realizadas nessa espécie (Dasypus novemcinctus) de modo a confirmar a existência de
diferenças entre os filhotes de uma mesma ninhada. Os animais transplantados apresentaram
quadros de rejeição (na região do transplante ocorreu aumento da atividade imunológica para
84
expulsar o tecido de origem desconhecida), o que mostrou haver diferenciação entre os
indivíduos de mesma ninhada, provavelmente devido a estímulo do ambiente intra-uterino,
uma vez que cada indivíduo da ninhada é gestado na sua própria placenta. Outro fenômeno
associado à poliembrionia é a chamada “Implantação Tardia”, que consiste no retardo do
processo de desenvolvimento da célula-ovo e sua implantação na parede uterina por certo
período de tempo (PRODÖHL et al., 1998). Portanto, para Nowak (1999), na espécie
Dasypus novemcinctus demora aproximadamente quatro meses para suceder à implantação no
útero e reiniciar o ciclo de desenvolvimento. Especula-se que a implantação tardia seja a
causa da poliembrionia, todavia não há argumentos científicos a favor desta hipótese.
Em relação aos tatus-peba (E. sexcinctus), constatou-se que muitos dos depoimentos
obtidos são baseados em modos de criações próprias (cativeiro) ou convívio com pessoas as
quais fazem manejo dessa espécie, o que reflete em conhecimentos detalhados e específicos
para estes indivíduos. Quanto aos tatus verdadeiros (D. novemcinctus), mesmo sendo a
espécie com mais ressalvas apontadas (segundos os entrevistados) quanto a sua ecologia e
biologia, ainda sim os relatos demonstraram coesão quando comparados a literatura cientifica.
Aspectos bem singulares a ambas as espécies como: cuidado parental, tempo de
maturidade sexual, presença de rituais de cortejos e monogamia ou poligamia, foram
respondidas pelos informantes com uma ampla margem de fidedignidade com o que se tem
documentado. Para o tatu-peba (E. sexcinctus) tem-se que as fêmeas em geral parem quatro
crias, apesar de que pesquisadores já tenham detectado a presença de 2-6 embriões, e muito
embora que alguns fetos possam morrer no decurso da gestação. Ao nascerem, os filhotes
pesam cerca de 85 gramas e têm uma carapaça rosada e muito fina. As crias crescem
rapidamente, aos 60 – 80 dias já se tornam independentes, apesar de serem amamentados até
os 3 meses, visto que os membros da mesma ninhada permanecem juntos durante varias
semanas antes de iniciarem uma vida solitária. Com cerca de 16 meses de idade, as fêmeas e
os machos alcançam a maturidade sexual, embora o seu desenvolvimento físico venha a estar
completo por volta dos 3-4 anos (CARTER & ENCARNAÇAO, 1983; GUCWINSKA, 1971;
HASS, 2003) . Em cativeiro, o período de gestação registrado para a espécie foi de 60 a 65
dias, o nascimento dos filhotes ocorreu ao longo do ano, com prole de um a três filhotes de
sexos iguais ou diferentes, de massa corpórea entre 95 e 115 g (GUCWINSKA, 1971). Os
filhotes atingiram a maturidade em torno de nove meses (GUCWINSKA, 1971). Em
cativeiro, um indivíduo desta espécie viveu por 18 anos e dez meses (NOWAK 1999, p. 160).
Para o tatu verdadeiro (D. novemcinctus), sabe-se que as fêmeas dão a luz a filhotes
muito precoces. Os nascituros apresentam uma massa de aproximadamente 85 – 113g
85
(McDONOUGH et al., 1998; STORRS, 1967). Os olhos se abrem ao nascer e os indivíduos já
se tornam ativos desde então. Os jovens assemelham-se aos adultos, porém suas carapaças
permanecem com consistência macia até certo tempo de vida, em seguida adquirem textura
rígida. Alguns dados foram verificados com indivíduos mantidos em cativeiro experimental:
entre 20 e 22 dias de nascidos, os filhotes, machos e fêmeas de D. novemcinctus, começaram
a sair dos ninhos, entre 21 e 25 dias já bebiam água, de 35 – 42 dias consumiam alimento
solido; entre 71 e 74 dias começaram a incluir invertebrados em sua dieta; e entre 82 a 140
dias para fêmeas e 89 a 160 dias para os machos, acontece o desmame (McDONOUGH,
2000). Em habitat natural Os jovens começam a acompanhar suas mães fora dos buracos por
volta dos 2 – 3 meses e começam a se tornarem auto-suficientes entre os 3 – 4 meses de idade.
De acordo com Talmage e Buchanan (1954) os machos adquirem maturidade sexual por volta
dos 6 meses de idade, porém McCusker (1985) encontrou espermátides em machos com
idades variando de 7-12 meses. Em relação às fêmeas não há muito consenso entre os
pesquisadores quanto à idade propicia a gerar a primeira ninhada. Estimam entre 1
(TALMAGE & BUCHANAN, 1954) a 2 anos de idade (GALBREATH, 1980; GAUSE,
1980).
Em relação à ocorrência ou não de rituais de cortejo entre os indivíduos das duas
espécies de tatus estudados, notam-se percentuais bem próximos para os informantes que
negaram a existência desse comportamento (55,14% e 56,54%) e os que não souberam
(44,85% e 41,12%) para o D. novemcinctus e E. sexcinctus respectivamente (Tabela 6). A
ausência ou desconhecimento de rituais de acasalamento dessas espécies já foi anteriormente
afirmada Desbiez et al. (2006) e McDonough e Loughry (2003), embora não haja consenso
nessa questão.
Quanto à presença de monogamia ou poligamia nas duas espécies estudada, os
informantes destacaram a característica poligâmica presente entre os indivíduos de tatus com
79,43% e 82,24% das citações para os tatus-peba e verdadeiro, respectivamente (ver Tabela
6). De acordo com Peppler et al., (1986) o processo de acasalamento entre os tatus, de forma
geral, é do tipo poligâmico, uma vez que a maioria dos reprodutores machos procuram se
emparelhar com mais de uma fêmea durante esse período, muito embora as fêmeas prefiram a
monogamia. A poligamia é uma forma de competição dos machos por parceiras e uma forma
de garantir o sucesso reprodutivo da espécie.
86
Tabela 6. Cognição comparada do conhecimento dos entrevistados em função do conhecimento científico sobre aspectos reprodutivos de
tatus-peba e verdadeiro.
CARACTERÍSTICAS
Informações dos entrevistados
D. novemcinctus (tatu verdadeiro)
E. sexcinctus (tatu peba)
2 filhotes
(n=52)
2-4 filhotes
(n=140)
+4 filhotes
(n=22)
buraco no
chão, oco de
árvore
morta; em
loca, toca,
embaixo de
pedra, perto
de cupinzeiro
24,29%
Apenas a
fêmea
(n=195)
Ambos
(n=19)
Quanto ao período de 2 – 4 (meses)
(n=140)
cuidado parental
+4
(meses)
(n=74)
Quanto ao tempo para 4 – 10 meses
(n = 129)
se atingir a
91,12%
Quanto ao nº de
filhotes nascidos
Quanto ao local onde
as fêmeas parem
Cuidado Parental
65,42%
10,28%
100%
8,87%
65,42%
34,57%
60,28%
2 filhotes
(n=141)*
2-4 filhotes
(n=47)
+4 filhotes
(n=24)
buraco no
chão, oco de
árvore
morta; em
loca, toca,
embaixo de
pedra, perto
de cupinzeiro
65,88%
Apenas a
fêmea
(n=191)
Ambos
(n=23)
2 – 4 (meses)
(n=181)
+4
(meses)
(n=33)
4 – 10
Meses
89,25%
21,96%
11,21%
100%
10,74%
84,57%
15,42%
55,60%
Informações científicas
D. novemcinctus (tatu
E. sexcinctus (tatu peba)
verdadeiro)
Sabe-se que algumas espécies
o nascimento dos filhotes
podem dar a luz a mais de 1
ocorre ao longo do ano, com
filhotes e alguns outros variar
prole de um a três filhotes
entre 1 – 3 (McDONOUGH, de sexos iguais ou diferentes
2000)
(GUCWINSKA, 1971)
Os buracos de tatus, além de
A construção dos buracos
servirem de abrigo contra
ou fossos são lugares idéias
incêndio e predadores ainda
para as fêmeas derem a luz a
abrigam as ninhadas. Desde que
salvo dos predadores.
bem protegidos podem usar
(CARTER &
outros locais como aberturas de
ENCARNAÇÃO, 1983)
rochas e cavernas (TALMAGE
& BUCHANAN, 1954;
TAULMAN & ROBBINS,
1996)
O cuidado parental é trabalho
As fêmeas passam a
exclusivo das fêmeas
amamentar e cuidar de sua
(McDONOUGH &
prole (MEDRI, 2008)
LOUGHRY, 2001)
A partir dos 3-4 os filhotes
iniciam a independência
(STORRS, 1978)
Com 4 meses de idades os
filhotes já se alimentam por
conta própria
(ENCARNAÇÃO, 1987)
Machos adquirem idade sexual
por volta dos 6 meses, podendo
Os indivíduos machos
atingem a maturidade por
87
(n=119)
maturidade sexual
Quanto à presença de
corte de acasalamento
pelos machos
> 10 meses
(n=85)
39,71%
> 10 meses
(n=95)
44,39%
Sim
(n=5)
2,33%
Sim
-
Não
(n=118)
Não Sabe
(n=96)
Quanto à monogamia Monogâmico
(n=4)
ou poligamia durante
o período reprodutivo Poligâmico
(n=170)
Não Sabem
(n=40)
55,14%
44,85%
1,86%
79,43%
18,69%
(n=0)
Não
(n=121)
Não Sabe
(n=88)
Monogâmico
(n=13)
Poligâmico
(n=176)
Não Sabem
(n=25)
56,54%
41,12%
6,07%
82,24%
11,68%
chegar até os 12 meses, e as
volta dos 9 meses de idade
fêmeas entre 1 e 2 anos.
quanto as fêmeas pode
(McCUSKER,1985;
variar entre um ano ou mais.
TALMAGE & BUCHANAN,
(GUCWINSKA, 1971)
1954)
Apesar de o macho forragear
Não há evidencias claras de
junto à fêmea por dias durante o cortejo entre os indivíduos
período de acasalamento não há
(DESBIEZ et al., 2006)
indícios característicos de corte
como é aparente em outros
mamíferos (McDONOUGH &
LOUGHRY, 2003)
Tanto a poligamia como a
Tanto a poligamia como a
monogamia podem estar
monogamia podem estar
presente na maioria dos
presente na maioria dos
dasipodideos (PEPPLER et al., dasipodideos (PEPPLER et
1986)
al., 1986)
88
1.5 Conclusões
Os moradores das 5 localidades estudadas (Campina Grande, Monteiro, São Mamede,
Sousa e Sumé) apresentaram um significativo conhecimento sobre as espécies de tatus
estudadas (E. sexcinctus e D. novemcinctus) o que inclui aspectos da taxonomia, biologia,
hábitat, ecologia, disponibilidades, reprodução e várias características comportamentais
típicos de cada uma das espécies.
Verificou-se uma grande quantidade de nomes populares para cada uma das espécies,
dessa forma considera-se que tanto o tatu-peba como o tatu verdadeiro estão dentre as
espécies endêmicas da fauna da Caatinga intimamente associados à cultura local de cada
região.
Apesar das amplas áreas de habitat as quais essas duas espécies de tatus se adaptaram
tão bem, constatou-se que a espécie D. novemcinctus (tatu verdadeiro) foi tida como a mais
difícil de encontrar e a mais requisitada para fins gastronômicos. Tal situação de escassez foi
mencionada pelos entrevistados como preocupante para o futuro dessa espécie devido à superexploração que a mesma vem sofrendo. Porém, o tatu-peba (É. Sexcinctus) foi tido como o
mais fácil de captura e localização.
Questões relacionadas aos horários de forrageio e de reprodução dessas duas espécies
estão diretamente ligadas às condições favorecidas para cada local de habitat a qual estão
inseridas, podendo estas condições influenciar na biologia e comportamento dos animais,
além de serem percebidas de múltiplas formas pelas pessoas que caçam ou fazem algum uso
dessas espécies em cada região. Constatou-se uma grande correlação com a literatura quanto
aos períodos de acasalamento e parturição relatados pelos informantes.
O perfil socioeconômico dos moradores das localidades estudada revela que a grande
maioria dos entrevistados possui como profissão atividades ligada a agricultura e pecuária,
porém com condições precárias de educação e renda. Essas condições contribuem de forma
direta para que esses moradores dependam dos recursos faunísticos da região
socioeconômicos aliadas ao conhecimento empírico devem ser levadas em consideração no
estabelecimento de planos e leis de manejo.
89
1.6 Referências
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113
CAPÍTULO II
A caça e usos tradicionais de tatus (Dasypus novemcinctus e
Euphractus sexcinctus) no semi-árido do Estado da Paraíba
114
2.1 Introdução
As relações entre humanos e os outros animais remonta aos primordios da história de
nossa espécie. Mesmo antes da domesticação desses, a base de subsistência da espécie
humana era a caça e a coleta (BLAIN, s.d.; GUPTA, 2004). Como Holland (1994) destacou,
sociedades pré-históricas usaram animais e seus produtos para diversas finalidades,
especialmente com propósitos de alimento. Animais silvestres e partes de seus corpos ou
subprodutos são usados em uma ampla variedade de modos por sociedades contemporâneas:
como recursos alimentares, como pets, em atividades culturais, em propósitos mágicoreligiosos, como roupas e ferramentas (ALVES & ROSA, 2008; BENNETT & ROBINSON,
1999; NARANJO et al., 2004; ROCHA et al., 2008).
Os vários usos de recursos faunísticos tem sempre estimulado a caça, a qual persiste,
em menor ou maior escala, nos dias atuais (AYRES & AYRES, 1979; CALOURO, 1995;
SMITH, 1976) e que pode representar um impacto negativo sobre as populações silvestres
(ALVARD, 1994; ALVARD et al., 1997; BODMER, 1994; PERES 1990). Em ambientes
Neotropicais, povos rurais tem historicamente usado a vida selvagem primariamente para
propósitos de subsistência, religião e comércio (BARRERA-BASSOLS & TOLEDO, 2005;
MONTIEL et al., 1999; QUIJANO-HERNÁNDEZ & CALMÉ, 2002; RAMÍREZ, 1992;
SCHENCK et al., 2006).
A persistência de atividades ilegais de caça está amplamente associada a questões
culturais e pelo fato de que animais têm importância nutricional para famílias de baixa renda
as quais não obtêm recursos protéicos suficientes da criação (ALVES et al., 2009) ou compra
de animais. No Nordeste do Brasil aspectos socioeconômicos e culturais específicos atuam
como elemento catalisador no estímulo a atividades cinegéticas e estas, por sua vez,
desempenham um importante papel nas formas de obtenção de alimentos e remédios, além de
constituir meios de obtenção ou complementação de renda (ver ALVES, 2009; ALVES et al.,
2009; COSTA-NETO, 2000). Na caatinga, grande parte da população rural é extremamente
pobre e os longos períodos de seca diminuem ainda mais a produtividade da região,
aumentando o sofrimento da população (SAMPAIO & BATISTA, 2004), desse modo a caça
de animais juntamente com práticas extrativistas e agropecuárias insustentáveis constituem as
principais ameaças aquele bioma (LEAL et al., 2005).
No entanto, questões relacionadas à prática de atividades cinegéticas e sua importância
entre as populações tradicionais brasileiras têm sido desconsideradas no manejo das Unidades
115
de Conservação e na elaboração de políticas de conservação do país (ANDRIGUETTOFILHO et al., 1998). No caso específico do bioma caatinga isto é particularmente importante
uma vez que ela tem o menor número e a menor extensão protegida dentre todos os biomas
brasileiros (LEAL et al., 2005) e poucos são os programas de manejo e conservação
desenvolvidos nessa área do Brasil que englobem de maneira participativa comunidades
locais.
Compartilhando com a visão de Holmern et al. (2004), a conservação exige uma
perspectiva que se estende para os limites de áreas protegidas e necessita envolver programas
que afetam a subsistência de comunidades locais. Dessa maneira, conforme apontado por
Trinca e Ferrari (2006), conhecer quais espécies são escolhidas e quais as finalidades de uso
estão entre os aspectos fundamentais para compreender a forma de uso e grau de ameaça da
caça sobre cada espécie silvestre.
Neste contexto, os tatus, em especial o peba (E. sexcinctus) e verdadeiro (D.
novemcinctus), são espécies-chave no universo cultural nordestino. Atividades cinegéticas
com propósito de usos dessas espécies para fins alimentares (ALVES et al., 2009; VALLE,
2007) e medicinais (ALVES & ROSA, 2006; ALVES & ROSA 2007a,b; ALVES, 2009;
BARBOZA et al., 2007) já foram registrados no Nordeste do Brasil. Estes estudos podem ser
considerados indicativos de como essas espécies desempenham uma relevante importância
para as populações locais.
Especificamente no semi-árido da Paraíba não há praticamente nenhum estudo das
interações estabelecidas entre as comunidades locais com essas espécies de tal forma que se
torna uma questão de extrema importância determinar quais são as principais formas de
pressões antrópicas e impactos sobre elas. Essa realidade também se estende ao continente
americano onde poucos estudos foram realizados a respeito da dinâmica atual e importância
das práticas de uso da vida silvestre (como parte das estratégias de subsistência) que diferem
em magnitude e são muito diversas em formas e propósitos (LEON & MONTIEL, 2008). Isto
ressalta a importância de abordagens ecológicas, sociais e locais, para avaliação do uso da
fauna silvestre em contextos regionais específicos, sobretudo onde o desenvolvimento e a
implementação de programas de manejo e conservação da vida selvagem são necessários (a
exemplo do bioma Caatinga).
Mediante isto, nosso estudo teve como objetivo principal identificar quais as técnicas e
principais finalidades da caça do tatu verdadeiro (D. novemcinctus) e do tatu-peba (E.
sexcinctus), espécies popularmente caçadas no semi-árido nordestino e paraibano, porém
pouco estudadas do ponto de vista etnoecológico e de percepções de moradores locais, em
116
relação ao futuro das populações dessas espécies. Nossos dados poderão ser utilizados na
elaboração de programas de manejo sustentável de D. novemcinctus e E. sexcinctus, visando a
manutenção dos estoques populacionais desses tatus.
Nossa análise é baseada em uma abordagem metodológica mista envolvendo
questionários aplicados com caçadores de tatus. Usando uma análise qualitativa e quantitativa
registramos a caça tradicional de tatus-peba e verdadeiro no semi-árido paraibano, assim
como os tipos principais de finalidades de predação, objetivando contribuir para inserção
desses dados em futuras políticas públicas que visem à conservação dessas espécies.
117
2.2 Objetivos
2.2.1 Geral

Analisar as atividades cinegéticas e finalidades da caça do tatu verdadeiro (D.
novemcinctus) e do tatu peba (E. sexcinctus) em cinco municípios do semi-árido
paraibano;
2.2.2 Específicos

Descrever as técnicas e estratégias de caça usadas por caçadores de tatus;

Identificar os diversos usos de Dasypus novemcinctus e Euphractus sexcinctus
empregados pelos moradores dos municípios estudados;

Registrar eventuais tabus relativos aos usos das espécies citadas;

Verificar a percepção dos moradores locais em relação ao status das populações de
tatu peba e tatu verdadeiro;
118
2.3 Material e Métodos
Os dados referentes aos aspectos da caça aos tatus-peba e verdadeiro foram coletados
em dois momentos: O primeiro deles foi de janeiro a março de 2008, onde os dados foram
coletados no município de Sousa. O segundo ocorreu de outubro de 2008 a abril de 2009, no
qual os foram coletados nos demais municípios. Em ambos os casos a freqüência de visita à
área de estudo foi quinzenal com permanência de quatro dias, normalmente das quintas-feiras
aos domingos.
2.3.1 Procedimentos das coletas dos dados
Foram aplicadas entrevistas semi-estruturadas com residentes locais, incluindo aqueles
identificados como especialistas. Nesta aplicou-se um questionário semi-estruturado (ver
Apêndice A) que englobava aspectos de caça e comércio dos tatus-peba e verdadeiro, além da
finalidades de uso dessas espécies. Turnês guiadas foram conduzidas com especialistas
nativos em trilhas escolhidas por eles mesmos, quando foi possível fazer registros
fotográficos e identificar in loco as espécies de tatus estudadas, além de podermos constatar
parte das interações estabelecidas destas pessoas com esses animais.
O universo de entrevistados foi determinado principalmente por meio da técnica de
bola de neve (snow ball – em inglês) (BERNARD, 1988), de tal maneira que a partir da
seqüência de indicação(ões) feita(s) por moradores da área estudada, foi possível reconhecer os
indivíduos culturalmente competentes em relação as atividades de caça e/ou finalidades de usos
de D. novemcinctus e E. sexcinctus. As entrevistas individuais ou coletivas ocorreram tanto na
zona urbana quanto na zona rural dos municípios estudados. Muito embora os tempos de cada
sessão tenham sido variados, quase sempre, as entrevistas tiveram duração superior a 40
minutos. A amostra total foi de 214 indivíduos, 177 homens e 37 mulheres, assim distribuídos
por municípios onde residem: 109 de Campina Grande (76 homens e 33 mulheres), 18 de
Monteiro (18 todos homens), 23 de São Mamede (23 todos homens), 32 são de Sousa (28
homens e 04 mulheres) e 32 de Sumé (32 todos homens). A média de idade dos entrevistados
foi de 40,1 anos.
119
2.3.2 Procedimentos de análises dos dados
Utilizou-se um conjunto de técnicas qualitativas e quantitativas para a análise dos
dados. Nós utilizamos o modelo de união das diversas competências individuais (HAYS,
1976), onde toda informação pertinente ao assunto pesquisado é considerada para a análise e
interpretação dos dados. Em virtude do n de entrevistados ter sido relativamente grande
(ntotal>100), em função do tempo, optou-se por realizar a confirmação das informações de
maneira sincrônica, procedimento que, segundo Maranhão (1975), consiste em perguntas
idênticas feitas a indivíduos diferentes em tempos muito próximos.
A fim de determinar quais as principais finalidades de usos locais de D. novemcinctus
e E. sexcinctus no semi-árido paraibano, a parte quantitativa foi analisada por meio do cálculo
do Nível de Fidelidade (FL) de Friedman et al, (1986), adaptado por Mahawar e Jaroli (2007),
que demonstra a porcentagem de entrevistados que afirmaram usar um determinado animal
para um propósito específico, e foi calculado como:
𝑭𝑳 % =
(𝑁𝑝 𝑥 100)
𝑁
Onde: Np é o número de entrevistados que afirmaram fazer uso de D. novemcinctus ou
E. sexcinctus para uma finalidade particular e N, neste trabalho, é o número de entrevistados
que usaram das espécies para um propósito qualquer.
2.3.3 Identificação das espécies
Semelhante ao procedimento realizado por Alves e Rosa (2006), os animais serão
identificados das seguintes formas: 1) análise dos espécimes doados pelos entrevistados; 2)
fotografias ou 3) através dos nomes vernaculares, com o auxílio de taxonomistas
familiarizados com a fauna das áreas de estudo do Departamento de Sistemática e Ecologia da
Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
120
2.4 Resultados e Discussão
A vida silvestre é um importante recurso para muitos povos na América Latina, os
quais se beneficiam destes para diversos propósitos, embora a alimentação e obtenção de
renda sejam os mais comuns (FANG et al., 1999; FRAGOSO et al. 2004; OJASTI, 1996;
PRESCOTT-ALLEN & PRESCOTT-ALLEN, 1982; ROBINSON & BENNET 2000a;
SILVIUS et al. 2004). Muitos estudos mostraram que a caça de subsistência tem um forte
impacto sobre as populações selvagens, geralmente acarretando extirpações locais (CULLEN
et al., 2004; BENNET & ROBINSON, 2000; ROBINSON & BENNET, 2000b). Além do
mais, quando há uma relação conflituosa e estreita entre os povos locais e a vida silvestre, o
desafio está em encontrar um equilíbrio entre as necessidades desses e a conservação da
biodiversidade (ALTRICHTER, 2006). O papel da biodiversidade na vida desses povos
locais, contudo, é amplamente variável, refletindo diferenças sócio-econômicas, ambientais e
culturais.
No Brasil, de um modo geral, a caça de tatus para diversos fins tais como alimento,
animal de estimação ou criação e uso de partes especificas como suvenires e adornos é uma
prática comum (ver MEDRI, 2008; MEDRI et al., 2006). Nas áreas de caatinga, a caça é um
conhecimento passado de forma transgeracional e é parte da cultura dos povos locais (ALVES
et al., 2009) e, por meio dela, estes obtêm alimentos protéicos, remédios zooterapêuticos e
para outros fins. Nessa região é popularmente difundida a captura de Euphractus sexcinctus e
Dasypus novemcinctus tanto como fins de subsistência, comércio ou lazer.
A captura desses animais seja entre jovens e adultos é realizada por meio de
diferentes técnicas que são adaptadas a diferentes situações. Nesse âmbito, nosso primeiro
objetivo é descrevê-las a fim de obter uma maior compreensão dos impactos das técnicas
usadas pelos caçadores nesta atividade.
2.4.1 Técnicas e estratégias de caça aplicada aos tatus usados por caçadores do semiárido paraibano
2.4.1.1 Armas de fogo
De acordo com Alves et al. (2009), as armas de fogo constituem a ferramenta básica
dos caçadores do semi-árido paraibano, mesmo quando elas não são usadas diretamente para
121
abater a presa. Em nosso estudo 25,23 % de um total de 214 entrevistados afirmaram fazer
uso freqüente desse recurso durante as caçadas de tatus-peba e verdadeiro.
As armas de fogo usadas pelos caçadores podem ser artesanais ou industriais, desse
modo as armas do tipo “sovaqueira” (Figura 5A e B), também conhecidas como “soqueiras”
ou “soca-soca”, são aquelas frequentemente apoiadas abaixo das axilas e caracterizadas por
serem fabricadas artesanalmente com partes de outras armas e cujo corpo é predominante de
madeira. Para este tipo de instrumento a munição utilizada é composta exclusivamente de
pólvora com pequeninas esferas de chumbo, sendo necessário o auxilio de uma vareta de ferro
para prensar a pólvora no interior do cano. Já as “garruncheiras” (Figura 6) são armas do tipo
espingardas, podendo ser conhecidas localmente como “cartucheiras” ou “carabinas”; são
industrializadas podend apresentar cano longo ou curto de acordo com a preferência de cada
caçador. Este tipo de instrumento é preparado para receber munição de cartuchos (múltiplos
projéteis) ou balas (projéteis individuais).
A
B
Figura 5. (A) Seu Olegário, antigo caçador de tatus da zona rural do município de Campina Grande
empunhando uma arma do tipo “sovaqueira”. (B) Detalhe da sovaqueira destacando seu caráter
artesanal. Fotos: do autor.
-
-
122
Figura 6. Seu Vander (azul) e companheiro de caçadas José (amarelo) empunhando uma arma tipo
garruncheira empregadas para abater tatus-peba ou verdadeiro. Local da Foto: Sumé, PB.
Constatou-se que todos os entrevistados que desempenhavam atividades de caça
tinham preferência por estas armas (de maior porte) àquelas de uso pessoal e de pequeno
porte, conhecidas como pistolas ou revólveres. Possíveis explicações para este fato deve-se a
alguns motivos, tais como: manutenção barata, munição de fácil acesso e de baixo custo, além
do hábito tradicional do uso e porte desses instrumentos. Ressalta-se que, mesmo as
espingardas confeccionadas de modo artesanal, estão sob suspensão de uso e porte, sendo
possíveis de aplicação penal (Lei Federal 9.437/97).
Outros estudos já constataram que o uso de armas de fogo é uma prática quase
universal (ALMEIDA et al., 2002), além de ser uma técnica que tem favorecido muito na
facilidade de captura da fauna local (MENA et al., 2000; STEARMAN, 2000). No caso
especifico dos caçadores entrevistados, esta técnica indica ser uma das formas mais
impactantes empregada, uma vez que, em um determinado período de tempo, ela possibilita o
abate de mais espécimes caçados quando comparados a outras estratégias de caça. Tal fato é
confirmado por outros autores, como Bennett e Robinson (2000), os quais afirmam que a
mudança de armas tradicionais para o uso de armas de fogo, como método primário de caça
pela tribo Huaorani do Equador, acarretou num aumento de 15% em número de animais e
biomassa capturados.
Pôde-se perceber que tal estratégia não é uma técnica exclusiva aos tatus, visto que os
caçadores das áreas estudadas empregam também essa modalidade no abate de outros
animais, a exemplo de répteis como a cascavel Crotalus durissus e o tejuaçu Tupinambis
merianae, mas principalmente para mamíferos de pequeno ou médio porte, como o mocó
123
Kerodon rupestris; a ticaca Conepatus semistriatus; o tamanduá-mirim Tamandua
tetradactyla; o gato maracajá Leopardus tigrinus, o gato vermelho Puma yagouaroundi, a
raposa Cerdocyon thous e do preá Cavia aperea.
2.4.1.2 Caça com cães
Muito embora ninguém saiba exatamente quando os cães foram domesticados,
arqueólogos constataram que várias culturas ao redor do globo começaram a tratar os cães
como membros de suas tribos por volta de 14.000 anos atrás. Esta aliança com os cães foi tão
profunda que em muitos cemitérios antigos, esqueletos desses animais foram encontrados
enterrados em mesmas sepulturas que seres humanos (CAMPBELL, 1997; GUPTA, 2004;
PONTING, 1995).
Inúmeros informativos resumem a domesticação do cão no Oriente Médio e dão
detalhes desse processo de desenvolvimento no relacionamento estabelecido entre seres
humanos neolíticos e o Canis sp. selvagem daquela região. A maioria destes cenários sugere o
fato de que uma ou mais subespécies de lobos do sudoeste asiático (C. lupus pallipes, C.
lupus arabs) seriam os canídeos que provavelmente se envolveram neste processo. Por
conseguinte, este contato inicial foi seguido pela rápida dispersão destes seres humanos
primitivos e seus "cães-lobos" para fora do Oriente Médio, se movendo para o sul em direção
a África, e para o leste, atravessando a Índia em direção ao sudoeste asiático (BRISBIN &
RISCH, 1997). No entanto, ainda existe uma notável carência de informações sobre as
características destes cães-lobos, precocemente domesticados, e sobre seu relacionamento
durante o desenvolvimento do vínculo homem-cão. (Ibdem).
As raças caninas, como atualmente são conhecidas, só vieram a se estabelecer de
maneira organizada há aproximadamente 200 anos. Mas antes disso o homem já selecionava
os cães para funções específicas como pastoreio, companhia, guarda de territórios e a caça em
sua associação (LANTZMAN, 2000).
Neste estudo, dentre as técnicas de caça empregada para captura e abate dos tatus
observou-se durante as visitas nas localidades estudadas que os cães são os aliados mais
importantes aos caçadores nessa atividade, e em consórcio com as armas de fogo, as chances
de êxito durante as caçadas são bem maiores quando comparadas àquelas sem o auxilio de um
desses meios.
No que diz respeito a algumas excepcionais modalidades de caça profissional
permitidas por lei no Brasil (Lei N° 5197/67), o auxilio de cães de raça é mandatório e
124
essencial. Nas áreas pesquisadas constatou-se que a grande maioria 85,98% (n=184) dos que
praticam ou afirmaram já ter praticado atividades de caça utilizaram, preferencialmente, cães
sem raça-definida ou com alguma consangüinidade com possíveis raças típicas de caça
(brasileiras ou estrangeiras) (Figura 7). Esses cães, tidos como sem raça-definida, são
habitualmente conhecidos pelos caçadores como: vira-latas; crioulos; pé-duros ou bragados
(Figura 7). Para tal, mesmo trazendo em seus nomes populares significados de cunho
pejorativo como: ordinário, sem valor, de cor escura ou desbotada, nota-se um grande apreço,
por parte daqueles que caçam, a estes cães. A primazia por esses animais seguem contextos
simples, tais quais: a rusticidade e obstinação para adaptar-se a diversas condições de
sobrevivência; a não necessidade de cuidados veterinários constantes, o baixo custo de
mantimento; a facilidade de acondicionamento e adestramento para atividades de caça, e o
alto valor comercial que podem atingir.
O treinamento desses cães por parte dos caçadores de tatus segue técnicas de
condicionamento bem simples, sendo iniciado a partir do terceiro mês de vida, onde o filhote
participa de brincadeiras estimulativas com animais mortos ou vivos, colocados em sacolas ou
amarrados em troncos de árvores, em alturas alternadas com o decorrer do treinamento. Aos 5
meses, estes já participam de caçadas junto a outros cães já condicionados. Segundo os
caçadores, o contato com esses cães experientes é o fator mais importante para o cão iniciante,
e será através desses momentos que revelará ao caçador se o cão jovem terá aptidão natural ou
não para desempenhar a caça.
Nem todos os cães tidos como vira-latas trazem aptidão natural para a caça dos tatus,
segundo os informantes. Os mais valorizados são aqueles que descendem de animais cuja
qualidade e tenacidade são conhecidas e reconhecidas na comunidade. De acordo com os
entrevistados essa é a justificativa para o fato desses animais poderem atingir altíssimos
valores de venda. Segundo alguns informantes, valores já pagos por caçadores a bons cães de
caça variavam de R$500,00 a 5.000,00.
Numa das visitas a cidade de Sumé (microrregião do Cariri paraibano), pôde-se
acompanhar uma caçada noturna realizada por dois jovens caçadores e com cães emprestados
de outros caçadores da região. Percebeu-se que essa prática, além de comum, mostra
coletividade ao grupo das pessoas que praticam esse tipo de atividade. As caçadas de tatus
com cães, normalmente conduzidas à noite e com a presença de mais de um homem, foi
previamente documentada por Mourão et al. (2006) e Alves et al. (2009). Trinca e Ferrari
(2006) registraram que este tipo de caça é o segundo mais usado por moradores de um
assentamento em Novo Horizonte, Amazônia mato-grossense.
125
Durante as pesquisas nas áreas estudadas, notou-se que os caçadores não têm
preferência por cães machos ou fêmeas nas caçadas, porém, durante as turnês guiadas (survey
– em inglês), percebeu-se que os cães os quais nos acompanhavam estavam em casal. Tal
justificativa foi pelo fato de alegaram a maior atenção das fêmeas e a agressividade dos
machos para as presas. O intuito da caçada era exclusiva para tatus (E. sexciinctus ou D.
novemcinctus) e pôde-se observar o vigor físico e a obstinação dos cães quando em atividade
de atenção, perseguição e estresse.
-
B
A
D
C
Figura 7. Cães de caça usados na captura de tatus no semi-árido da Paraíba. (6A) Um exemplo de cão
de raça (Neste caso, Pointer alemão); (6B, C e D) Cães sem raça definida (“vira-latas”). (6C e D) Cães
sendo estimulados por caçador a morderem um exemplar de tatu-peba.
126
2.4.1.3 Tatuzeira, Pebeira ou Cachorro-de-Arame
Outra modalidade de captura de tatus é o uso de armadilhas preparadas em locais
estratégicos de ocorrência dessas espécies. Verificou-se que o uso dessas armadilhas como
técnicas de caça não são as preferenciais aos caçadores uma vez que é preciso mais tempo e
paciência quando comparado ao emprego de armas de fogo e cães. Tal preferência não é
restrita apenas ao semi-árido nordestino, uma vez que Johnson et al. (2003) constataram que
armas de fogo são as opções mais comuns e oportunas para a captura de animais silvestres em
uma área tropical protegida no Laos na Indochina.
A origem e a forma de confecção desses dispositivos possivelmente remontam a
longas datas e estariam associadas às culturas e tradições locais de cada região. Essas
armadilhas são conhecidas popularmente como tatuzeiras e/ou pebeiras, podendo também ser
chamadas de “cachorro-de-arame”, e são confeccionadas de forma artesanal de madeira ou
ferro (Figura 8A, B e 9A, B). Linguisticamente, apesar da palavra pebeira sugerir seu uso
especifico para os tatus-peba (E. sexcinctus) e o termo tatuzeira aparentar ser especifica para
os tatus verdadeiros (D. novemcinctus), tais dispositivos podem ser usados indistintamente
para essas espécies.
Segundo os caçadores, o mecanismo de funcionamento desses dispositivos é bastante
simples e funcional, sendo o local de disposição dessas armadilhas dentro dos próprios
buracos dos tatus. Tanto na pebeira como na tatuzeira existe uma porta de entrada numa das
extremidades e esta se fecha tão logo o animal adentre a armadilha, desse modo a sua saída
fica impossibilitada. Esta técnica requer dos caçadores retornos mais constantes aos locais
onde as mesmas foram armadas uma vez que dependem dos oportunismos de captura desses
animais em seus abrigos. Percebe-se que, em relação aos caçadores que não possuem
condições de desempenhar atividades de caça com cães ou que possuem receio de apreensão
civil ou federal por porte indevido de armas, a utilização dessas armadilhas torna-se uma
opção atrativa e de baixo custo. Porém dependendo do tamanho da tatuzeira, seu impacto pode ser
agravado, uma vez que pode ocasionar a captura apenas de indivíduos jovens.
De acordo com Alves et al. (2009) uma outra modalidade de armadilha artesanal foi
apontada por caçadores do semi-árido nordestino como útil na captura de E. sexcinctus,
conhecida por “Arataca”. Esse tipo de dispositivo de ferro consiste em duas "queixas"
(mandíbulas) impelidas por uma mola extremamente forte e sob grande tensão. Quando
armada, as queixas ficam abertas e uma isca é colocada no centro das mesmas de modo a
127
atrair a presa. Quando o animal pisa no gatilho perto da base da arataca o mecanismo funciona
e prende, geralmente, as patas do animal entre as duas queixas.
Figura 8. Tatuzeira de madeira. (A) Vista lateral e superior, (B) Tatuzeira armada. Local: São
Mamede, Paraíba. Fotos: do autor
A
B
A
B
Figura 9. Tatuzeira de ferro. (A) Visão Geral, (B) Comparação de uma tatuzeira, encontrada em posse
de entrevistado no município de Campina Grande, com um tatu-peba adulto. Fotos: do autor.
2.4.1.4 Balde com água
A mais simples das técnicas relatadas diz respeito ao uso de um recipiente (bacia ou
balde) repleto de água a qual é entornado sobre os buracos de tatus. Essa modalidade de uso
pode ser empregada para ambas as espécies estudadas facilitando suas capturas uma vez que a
água torna o meio onde estão abrigados impróprio para sua permanência, pois provocaria
afogamento, logo são forçados a subir a superfície onde são rapidamente capturados. A
técnica de balde pode ser utilizada em associação com as tatuzeiras ou pebeiras garantindo
128
maiores chances de captura desses animais vivos, porém é raramente utilizada uma vez que a
água utilizada normalmente deriva de localidades com estoques ou córregos e está associada a
proximidade desses locais aos buracos dos tatus ou em épocas do ano em que o período de
chuvas é mais intenso como no inverno (meses de Maio a Agosto) onde o acumulo de água
nessas áreas é maior.
2.4.1.5 Ferramentas utilizadas na caça
De acordo com os entrevistados, além das principais técnicas da caça aos tatus, o uso
de outras instrumentárias é essencial aos caçadores de modo a garantir o sucesso da captura
e/ou abate dos animais ou mesmo para segurança dos próprios caçadores. Itens como:
Enxadeco (meia picareta); cavador (semelhante ao enxadeco, mas com a base reta em relação
ao corpo da ferramenta), bisaco (sacola); lanterna ou lampião; perneiras (proteção para as
pernas feitas de couro); gancho (ferramenta de ferro usada para “içar” o tatu da toca ou de
locais onde o mesmo procura refúgio durante uma perseguição de caçada), facas e fósforos
estão sempre presentes aos caçadores (Figuras 10 e 11).
“Nois num pode ir pra mata sem a lanterna, o enxadeco, os cachorro,
e o bisaco. Se for pra uma mata fechada ainda levo as pernera mode picada
de cobra”. (Sr. Francisco José, 44 anos, residente na zona rural de Sousa)
“(...) tem enxadeco, lampião ou uma boa lanterna, o bisaco pra levá
os fosfro [fósforos] e outros troço menor. Tudo isso tem que levá”. (Sr. Paulo
Amaral, 29 anos, residente do Município de Campina Grande)
Dentre os entrevistados que ainda praticam a caça aos tatus (21,02%, n=45) ou que já
caçaram (64,95%, n=139), afirmaram ter preferência por desempenhar essa atividade em
associação com um ou dois companheiros. Esse hábito, além de caracterizar uma forma de
coletividade e cooperação entre os praticantes, assegura uma divisão de tarefas durante as
caçadas. Tomando como exemplo a caça noturna, a qual é a mais comum, normalmente um
dos caçadores que segue a frente da trilha conduz a lanterna e os cães e os demais, os
instrumentos de caça. Não raro, crianças e adolescentes podem estar presentes durante as
caçadas, e na maioria das vezes estas desempenham funções de “carregadores” de pequenos
objetos ou ferramentas. É comum parentes como irmãos, primos ou sobrinhos seguirem os
caçadores mais velhos durante as caçadas, evidenciando que a atividade de caça surge
precocemente na vida das crianças as quais estão sempre ávidas e imperativas quando são
convidadas a acompanhar os caçadores.
129
-
(4)
(2)
(1)
(1)
(5)
(3)
Figura 10. Instrumentos usados por caçadores de tatus-peba e verdadeiro. Da esquerda para direita:
(1) Bisaco, (2) Lanterna artesanal (lampião), (3) Espingarda do tipo sovaqueira, (4) Faca, (5)
Enxadeco. Local da foto: município de Sumé, cariri ocidental do Estado da Paraíba. Foto: do autor.
(2)
(1)
(3)
(5)
(4)
130
Figura 11. Instrumentos usados por um caçador de tatus no município de São Mamede, Paraíba. Da
esquerda para direita: (1) Lâmina do Enxadeco, (2) Lanterna elétrica, (3) Cavador, (4) Gancho, (5)
Bisaco. Detalhe para o tatu verdadeiro Dasypus novemcinctus capturado pelo caçador, Seu “A” na
noite do dia 18 de abril de 2009. Data da foto: 19 de abril de 2009. Foto: Wedson de Medeiros S.
Souto
Tal fato já é disseminado no imaginário popular dessas crianças que encaram a
atividade como sinônimo de aventura ou diversão.
“as veiz vai primo ou subrinho de 10 – 11 anos....eles vão
carregando alguma coisa, as veiz faiz o fogo e esquenta o café lá na mata”.
(Sr. Galdino Ferreira, 36 anos, morador da zona rural de Souza)
“tem caçador que gosta de ir de escoteiro [solitário] e tem deles que
vão em grupo de dois a três. As veiz um ou dois mininote [meninos]
acumpanha só pra ele [caçador] não ir só” (Sr. Sebastião, morador da zona
rural de Monteiro).
Os períodos e horários de caça não são pré-estabelecidos por regras ou princípios.
Cada caçador ou praticante decide qual melhor momento pretende caçar, apesar de que os dias
e horários estão, na maioria das vezes, associados a percepção e conhecimentos dos caçadores
aos hábitos de cada animal. No caso especifico da caça aos tatus estudados (E. sexcinctus e D.
novemcinctus), o horário preferencial praticado na atividade de caça inicia-se a noite e
transcorre até o inicio da manhã seguinte, muito embora horários diurnos ou vespertinos
possam ocorrer livremente.
Nas caças noturnas de tatus (peba e verdadeiro), observamos que as fases lunares
podem influenciar as atividades de caça, sendo associadas a benefícios ou dificuldades. Para
31,77% (n=68) as melhores caçadas ocorrem durante as fases de lua Cheia, uma vez que a
quantidade de luz resplandecente da lua possibilita aos caçadores e os cães (quando
acompanhados) maiores dinamismos, melhor alcance de visão bem como maiores percursos
de áreas em locais de vegetação alta e fechada, a exemplo de serras. Para 45,32% (n=97) dos
informantes, as caçadas durante luas Minguante e Nova são ideais, pois favorece uma maior
liberdade de saída dos tatus de seus refugios. Segundo os informantes, o mínimo de
luminosidade da lua garante aos animis forrageios mais longos e distantes, conseqüentemente,
tornando-os alvos mais vulneráveis as perseguições dos cães e as investidas dos caçadores. E
para 22,89% (n=49), estes alegaram que o maior ou menor sucesso de caçadas independe das
fases lunares, uma vez que o grau de experiência dos caçadores bem como da qualidade dos
cães são suficientes para conseguir capturar ou abater os tatus.
131
“Eu sempre caço nos dia de lua cheia porque dá pra vê tudo
inclusive onde eles tão intumado [entocado]...tem veiz que eu pego peba inté
sem cachorro, só tirando os bixo com a mão. (...) os verdadeiro, os cachorro
corre mais fácil e consegue pega”. (Sr Arnaldo, residente da zona rural de
São Mamede)
“(...) só presta quando tá quase sem lua ou com muitas nuve
[nuvem], assim os bixo sempre sai atraiz de cumida ou das parceras (...) e
devagarinho nois pega eles de surpresa”. (Sr. Jurandir, 47 anos, residente da
zona rural de Sumé)
“(...) eu acredito que num faiz diferença não, meus minino desde
quando vão caçar, outros homens perto daqui vão também e num faz questão
de lua não” (Sra. Enedina Maria, 58 anos, zona rural da cidade de Campina
Grande)
Similarmente ao verificado nessa pesquisa, as influências das fases lunares estão
presentes nas formas de percepção e cultura não apenas de caçadores do semi-árido
paraibano, mas também nos pescadores do litoral do referido Estado, os quais são regidos por
condições de tempo e amplitude de marés bem como as fases lunares, como apontado por
Nishida et al. (2006)
Dentre as inúmeras características da atividade de caça aos tatus, foram obtidos relatos
e testemunhos relacionados às crenças a deidades regionais, as quais fazem parte do ideário
popular nas áreas pesquisadas, e representam sinônimos de respeito e temor. Os seres mais
relatados foram a “Mãe do Mato”, e a “Cumade Florzinha”, que segundo as definições
relatadas, parecem tratar-se dos mesmos seres, relacionados com a proteção das matas e dos
animais, temidos por perseguir os caçadores e seus cães, e conhecidos por possuírem os
hábitos de fumar e assobiar. Foi relatado que, para certos momentos, de modo a quebrar o
encanto da “Cumade Florzinha” sobre os cães quando estes estão acuados, latindo e não se
consegue enxergar nada, (acredita-se que esta entidade esteja por perto) batem-se dois ferros
(o exadeco com o cano da espingarda) e o feitiço é cortado. Muitos moradores acreditam na
existência dessas entidades, porém outros não, e embora não acreditem pelo fato de nunca
terem presenciado nenhum episódio, mesmo assim temem seus encantos. Os entrevistados
também relataram fazer uso de alguns amuletos oriundos de partes das espécies de tatus (E.
sexcinctus e D. novemcinctus). As partes citadas foram patas, unhas ou rabos, as quais podem
estar presentes na indumentária pessoal de cada caçador. Segundo eles, é sempre
recomendável levar consigo um desses itens de modo a garantir uma boa caça ou livrar-lhes
de algum eventual confronto com alguma das deidades supracitadas.
132
“quando caço, tenho que levar, seja um pouco de fumo ou amarrar
no meu cinto um rabo de peba ou verdadero pra num ter pobrema com
“cumadi flozinha”. (Sr. Luiz Albino de Sousa, 39 anos, residente da zona
rural de Sumé)
“no tempo que eu caçava já ouvi muitos gritos de cachorros levando
pisas da Mãe do Mato, e já ouvi muito assobio que me arrupiava da cabeça
pus [aos] pés. É sempre bom levar arguma oferenda a ela mode deixar uma
boa caçada”. (Sr. José Santo, 70, residente da zona rural de Sousa)
“se ouvir ela assubiar pode para no canto que você está e esperar, se
os cachorro começarem a latir, é certeza que ela tá perto. Coloque o que
você trouxe [oferencda] no chão e faça uma prece, se os cachorro ainda
continuarem a latir, pegue o enxadeco e bata no cano da garrucha e depois
pode ir andando normalmente” (Sr. Inácio Laureiro, 47 anos, residente da
zona rural de Campina Grande)
De acordo com a literatura, a cultura popular tem como cerne o imaginário, o qual
configura uma riqueza incomensurável, e é nesse cenário fértil que o imaginário popular atua,
revelando sentimentos que desabrocham em lendas, mitos, contos, crendices, superstições e
em outras belezas que retratam a nossa cultura (LÓSSIO, 2006). Há de se considerar, que as
lendas são narrativas que enriquecem e caracterizam o lugar, acompanhadas de mistérios,
assombrações e medo. Elas acompanham fatos e acontecimentos comuns, ilustradas por
cenários exóticos e de curta extensão. Muitas vezes são fatos verídicos acrescentados de
novos dados ou até mesmo recriados, podendo ser muitas vezes confundidas com os mitos
(LÓSSIO, 2006). As crenças religiosas são componentes importantes da cultura (HONGMAO
et al., 2002) e todas as principais religiões do mundo são sensitivas a importância do ambiente
natural e da biodiversidade (DAVID & JOY, 1998; HAMILTON, 1993; MCNEELY, 2000;
PUSPA, 1996) estabelecendo com elas conexões interativas positivas ou negativas,
dependendo de cada cultura regional. Compreender essas crenças torna-se uma questão chave,
possibilitando a inserção de um elemento memético na multidimensionalidade de planos de
manejo e conservação de espécies silvestres contemporâneas.
2.4.2 Finalidades de usos de D. novemcinctus e E. sexcinctus por moradores do semi-árido
da Paraíba: Compreensões e perspectivas
133
A Tabela 7 resume os dados relativos aos Níveis de Fidelidade das categorias de uso
de D. novemcinctus e E. sexcinctus. Considerou-se como categorias essenciais o uso dessas
espécies para: a alimentação, medicinal, mágico religioso, caça esportiva e comércio. Todas
essas categorias necessitam da caça aos tatus, motivo pelo qual fizemos uma abordagem
prévia das técnicas empregadas na captura de D. novemcinctus e E. sexcinctus. A categoria
“caça esportiva” corresponde aquela onde os tatus são capturados com propósito principal
recreacional, muito embora nesta atividade o consumo e a venda desses animais possam
ocorrer como uma prática derivada.
Tabela 7. Nível de Fidelidade das categorias de finalidades de usos de D. novemcinctus e E.
seecinctus.
Os dados indicam um Nível de Fidelidade elevado do uso de D. novemcinctus e E.
Categorias de usos
Espécie
D. novemcinctus
ALIMENTAÇÃO
MEDICINAL
MÁGICORELIGIOSO
CAÇARECREACIONAL
COMÉRCIO
Nº de
Nº de entrevistados
entrevistados que que citaram a espécie
citaram a espécie para a categoria de
para algum uso
uso
214
214
Nível de
Fidelidade (%)
100,00
E. sexcinctus
214
214
100,00
D. novemcinctus
214
32
14,95
E. sexcinctus
214
81
37,85
D. novemcinctus
214
28
13,08
E. sexcinctus
214
65
30,37
D. novemcinctus
214
35
16,36
E. sexcinctus
214
52
24,30
D. novemcinctus
214
44
20,56
E. sexcinctus
214
40
18,69
sexcintus para alimentação (NF=100% para ambas), para uso medicinal (NF=14,95% para D.
novemcinctus e 37,85% para E. sexcintus) e mágico-religioso (NF=13,08% para D.
novemcinctus e 30,37% para E. sexcintus). Contudo, por razões a serem discutidas a
posteriori, D. novemcinctus tem uma importância maior para fins comerciais do que para fins
medicinais ou mágicos.
A importância desses tatus para a subsistência dos moradores da área estudada é
evidenciada nas próprias declarações deles, ao passo que afirmam, em variados graus, a
dependência que exercem dos tatus-peba e verdadeiro:
134
“Nós sai pra pegar o tatu e peba quando não tem mistura [termo
popular usado para se referir a qualquer tipo de carne] (...) nós prefere pegar
o tatu, mas ele é mais difici, aí se tiver um peba ou outro bicho como a
rolinha nós pega” (Maza, 28 anos, caçador no município de Sumé)
“teve de tempo que a única coisa que nois comia em casa era o que
vinha das caçada e no tempo que tinha muito peba, era o que nois comia
mais” (Lourivaldo Agripino, 77 anos, morador do município de Campina
Grande)
Verificamos que, apesar de constante, a caça de subsistência ocorre mais intensamente
durante determinados períodos, tais como épocas de secas prolongadas. Amir (2006)
encontrou similar situação na Somália, onde constatou que a caça de subsistência é mais
freqüente em épocas de escassez de chuvas ou condições de sazonalidade intensa, e a cadeia
de consumo é extremamente simples e frequentemente envolve apenas o caçador e sua família
(WCS & TRAFFIC, 2004). Por subsistência, nesse estudo, englobamos tanto os usos dos
tatus-peba e verdadeiro para fins alimentares bem como para propósitos medicinais e mágicoreligoso, uma vez que estes itens simbolizam necessidades essenciais aos seres humanos bem
como de elementos arraigadas no repertorio culturais de certos povos. A seguir nós
descrevemos o uso e importância de D. novemcinctus e E. sexcinctus como fontes de alimento
e remédios, incluindo os registros dessas espécies como finalidades mágico-religiosas.
2.4.2.1 Os tatus (peba e verdadeiro) como iguaria gastronômica e seus tabus alimentares
Nois cria peba aqui mermo e abate ainda cedo
A carne é bem macia e é do caba lambê os dedo
Nois limpa e tempera ele cum tempero especiá
Amoqueia numa vazia, tampa bem pra mode descansá
Coloca numa chapa quente no nosso fogo de lenha
Cum manteiga da terra é que faiz a diferença
Serve cum pirê de mandioca, arroi branco e pirão de queijo
Vinagrete, feijão verde e a proteção de São Pedro.
(Cantiga popular do tatu-peba na culinária
narrada pelo Sr. Apolinário, município de Sousa, Paraíba).
Nos últimos anos temos assistido a uma tendência para a exploração excessiva da vida
selvagem nos trópicos, especialmente na África e América do Sul (EVES & RUGGIERO,
2001; MILNER-GULLAND et al., 2003; PERES, 2000; ROWCLIFFE et al., 2005;
SCHENCK et al., 2006; WILKIE et al., 2001). Em conjunto com intensas transformações de
habitat, estas super-explorações representam uma das principais ameaças à biodiversidade
135
mundial e para as pessoas que dependem dos animais silvestres para sua sobrevivência
(BARRERA-BASSOLS & TOLEDO, 2005; BODMER, 1995; ESCAMILLA et al., 2000;
MILNER-GULLAND et al., 2003; PERES, 2000; ROWCLIFFE et al. 2005).
Nessa pesquisa, observamos a unanimidade das respostas 100% (n = 214) para
apreciação das duas espécies de tatus na culinária regional, com maior preferência a carne dos
tatus verdadeiros (D. novemcinctus) 60,28 % (n=129) em relação aos tatus-peba (E.
sexcinctus) 39,71% (n=85). Foi constatado que esse destaque preferencial aos tatus
verdadeiros deve-se ao fato da população local vincular a qualidade da carne desse animal aos
seus hábitos de alimentação mais seletivos quando comparados aos tatus-peba, de habito mais
generalista, desse modo, acredita-se que estes animais são destituídos de quaisquer tabus
alimentares quando preparados para consumo.
Entre os entrevistados que consumem carne dos tatus-peba (E. sexcinctus) muitos
capturam o animal ainda vivo e os mantêm em cativeiro por períodos de cevagem, os quais
costumam também chamar de “engorda” (Figura 12). Nesse período costumam fornecer
alimentos selecionados e de fácil absorção por prazos que variam entre 30 a 90 dias,
dependendo da idade ou condição física do animal. Além de garantir um maior aumento de
massa aos animais que vão ser abatidos, os informantes alegaram que esse procedimento de
engorda traz melhorias ao sabor da carne e menores efeitos colaterais quando consumidos
uma vez que o conhecido hábito saprófago da espécie provoca a chamada “remosidade” ou
“carne carregada” típica dos tatus-peba.
“eu prefiro carne do verdadeiro do que o peba mode ela ser mais
limpa e mais gostosa. O peba é bom também, mais a do verdadeiro sempre é
mais gostosa” (Sr. Apolinário Gusmão, 49 anos, residente da cidade de
Sousa)
“Carne de peba é boa mais tem que ter cuidado com ela, porque o
bixo é sujo e come de tudo que vê pela frente. É muito remosa, mas
engordando ele por uns 2 a 3 meis [meses] ela fica melhor e mais limpa”
(Sra Severina Carmo, 42 anos, residente da zona rural de Campina Grande)
136
“eu prefiro mais a carne do tatu-verdadero, mas como de peba
também quando nois caça (...) as veis me dá furunco [furunculose] e coçera
pelo corpo, mas depois passa” (Sr. Arnaldo, residente da zona rural de São
Mamede)
Figura 12. Tatus-peba criados em tonéis por um entrevistado do município de Campina Grande.
A prática popular de criação desses animais é impactante, visto que são coletados espécimes da
natureza e mantidos em cativeiro até o abate, sem reposição ao ambiente natural.
Durante as pesquisas na cidade de Campina Grande, foi possível presenciar in loco
todos os preparativos para abate e trato culinário de um exemplar de E. sexcinctus por um
caçador veterano onde, na ocasião, dispunha deste animal em cativeiro por cerca de 50 dias de
engorda. Os materiais utilizados são bastante comuns e de simples acesso tais como: bastão de
ferro ou madeira e facas de médio e grande porte (Figura 13A)
A técnica de abate do animal ocorre com fortes pancadas deferidas na região da cabeça
acarretando morte por traumatismo craniano (Figura 13B). Segundo o informante, este
método além de neutralizar e imobilizar o animal imediatamente garante uma morte mais
rápida quando comparado outros métodos tais como perfuração de artérias ou órgãos, os quais
deixariam os animais em estados agonizantes. Muito embora os relatos obtidos soassem de
forma fria e tranqüila, notou-se a intenção do respeito pela vida do animal mesmo que seja
destinado ao consumo humano. Logo após esse procedimento o animal é perfurado na região
da artéria aorta de modo a jorrar o sangue que está no seu corpo. Uma vez expelido grande
quantidade de sangue, iniciar-se a limpeza do animal a partir da desobstrução das glândulas
odoríferas que estão presentes na região dorsal da cintura pélvica da carapaça tanto de machos
como fêmeas desta espécie (Figura 13C). Lava-se em água corrente a fim de remover parte do
substrato a qual fica aderida na pele e casco, em seguida um grande recipiente contendo água
fervente é preparado onde o animal é submergido de modo a retirar a pele e as placas
137
dérmicas do casco, sendo finalizado com um rápido contato com fogo (nesse caso, fogão a
gás) onde pêlos remanescentes são eliminados (Figura 13D e E).
Em seguida, cabeças, patas e rabo são cortados e separados para algum fim medicinal
ou mágico-religioso ou simplesmente descartados (Figura 13F) e inicia-se a limpeza interna
do animal onde todo o trato digestivo e tecido adiposo sobressalente é descartado ou guardado
para utilizações especiais como em propósitos mágico-religiosos. Depois de totalmente limpo,
o animal pode ser preparado a gosto tanto de forma assada, torrada ou guisada, e servido com
outros acompanhamentos, caracterizando uma iguaria gastronômica regional. Tal preparo
segue o mesmo padrão para os tatus verdadeiros (D. novemcinctus), sendo estes degustados
com mais apreciação quando comparados aos tatus-peba (E. sexcinctus).
Fato curioso relacionado aos tatus-peba está nos tabus alimentares apresentados pelos
informantes das localidades estudadas quando questionados da liberdade de consumo da carne
deste animal por qualquer individuo. A grande maioria 85,04% (n=182) dos informantes,
além de enfatizarem a capacidade de acarretar problemas de saúde após a ingestão da carne,
endossa que pessoas as quais apresentam certas características imunológicas ou físicas
estariam de sobreavisos para o consumo. Problemas como: infecções diversas, cortes,
arranhões, ferimentos, doenças venéreas, inchaços, rouquidão; hepatite, lumbago e mulheres
de resguardo ou no período menstrual estariam inseridos no quadro de restrições para aqueles
que pretendem ingerir dessa iguaria. E apenas uma pequena parcela 10,74% (n=23) afirmou
não haver qualquer restrição para o consumo da carne do tatu-peba, no entanto para outra
minoria 4,2% (n=9) as ressalvas existem para ambas as espécies de tatus.
Constata-se que esses tabus alimentares testemunhados ao longo das visitas nas
localidades estudadas têm origem devido ao hábito onívoro e saprófago dos E. sexcinctus. No
entanto essa característica também pode acontecer aos D. novemcinctus, porém não é
predominante (SCHAEFER & HOSTETLER, 2003). Relatos de óbitos por pessoas que
ingeriram exclusivamente da carne de tatus-peba foram raros, porém presentes 2,8% (n=6).
“um cumpadre meu morreu cinco depois que cumeu um peba (...)
sentiu umas dores nas costas e na bucho [estômago] e num agunetou” (Sr.
Francisco de Pádua, 64 anos, residente da zona rural de Sumé)
138
A
B
C
D
[email protected];
E
F
Figura 13. Registro do preparo de um tatu-peba na culinária do semi-árido paraibano. (A)
Ferramentas usadas no abate e “trato” do animal. (B) Exemplar morto por traumatismo
craniano – detalhe do bastão de ferro usado para abater o animal (C) Limpeza das glândulas
odoríferas, (D) Imersão em aguar fervente, (E) Retirada de pêlos remanescentes através de
fogo, (F) Animal “tratado” e pronto para cozimento. Foto: do autor.
De acordo com a literatura, um modo a justificar esse meme atribuído aos possíveis
efeitos colaterais acometidos aos indivíduos que consomem a carne desses animais ou aos
casos de óbitos humanos relacionados à ingestão desta, têm-se que os Xenarthras de maneira
geral são hospedeiros de alguns protozoários hemoflagelados como, Leishmania sp.
139
(protozoário causador da leishmaniose) o Trypanosoma cruzi (protozoário causador da doença
de Chagas) e Endotrypanum sp. (SHAW, 1985). Para Dias (2006) a ingestão de carne crua ou
mal cozida dos tatus-peba ou verdadeiro é, inclusive, uma das principais formas de
transmissão de T. cruzi, além disso, em indivíduos sujeitos a fatores imunossupressores a
ingestão desse tipo de carne pode transmitir a toxoplasmose, a zoonose capaz de provocar
aborto ou lesões fetais (NAIFF et al., 1986). Em relação aos tatus (E. sexcinctus e D.
novemcinctus) como são animais de vida livre, estes também podem se infectar com a
leptospirose, doença presente nos roedores, principalmente na ratazana de esgoto, um
importante reservatório. Como a leptospirose penetra pela pele, o simples fato de manusear o
animal já pode transmitir a doença a qualquer individuo (SHAW, 1985).
Dasypus novemcinctus e Cabassous centralis são hospedeiros e/ou reservatórios
naturais de alguns fungos patogênicos dimórficos, como por exemplo, o Paracoccidioides
brasiliensis (agente etiológico da Paracoccidioidomicose ou Blastomicose sul-americana,
micose sistêmica, que acomete principalmente os órgãos linfáticos e pulmões), cujo
isolamento ambiental é difícil, sendo o tatu a única espécie onde se consegue obter o
isolamento deste fungo, facilitando o estudo de sua forma saprofítica (ambiental) (BAGAGLI
et al, 1998; CORREDOR et al., 2004). O tatu verdadeiro, atualmente, é um animal que serve
de modelo experimental para infecção com bacilo de Hansen (Mycobacterium leprae) e há
estudos mostrando que 17% dos indivíduos possuem os anticorpos específicos
(McDONOUGH, 1997), pois a doença se apresenta da mesma maneira que a observada em
humanos, com formação de hansenomas. Pelo fato do bacilo de Hansen não ser cultivável em
laboratório, os tatus são usados experimentalmente para multiplicação desses patógenos,
possibilitando a obtenção de material biológico para o diagnóstico e a pesquisa de vacina para
a doença.
Constatamos que o hábito de caçar e consumir a carne de tatus é bastante comum nas
localidades estudadas. Isto corresponde a uma atividade rotineira nos sertões do Brasil uma
vez que mamíferos terrestres sofrem a pressão de caça, ainda que essa atividade seja ilegal no
país há mais de 35 anos (COSTA et al., 2005). No Nordeste e especificamente no semi-árido
paraibano os tatus-peba e verdadeiro estão entre os animais presentes nos hábitos alimentares
das populações rurais mais apreciados (ver ALVES et al., 2009; MOURÃO et al., 2006;
SILVA, 1993). Muito embora o acesso à carne desses animais seja quase sempre por meio da
caça de subsistência, esse costume está arraigado na cultura dos sertanejos e permanece
tradicionalmente até os dias atuais (PAIVA, 1995; SILVA 1993). Este panorama insere-se na
tendência atual de destruição e sobre-exploração dos recursos biológicos (LUGO-MORIN,
140
2007), onde as estruturas das comunidades de animais silvestres se tornam afetadas de forma
negativa (GUEVARA et al., 2005; LUGO, 2001; MARES, 1986; MARES & OJEDA, 1984;
MOLINA & BARROS, 2005; OLIVERO et al., 1995; RUIZ, 2004; WHITMORE, 1997;
ZAPATA, 2001).
Além de questões de riscos sanitários, a contínua exploração de animais silvestres para
fins alimentares vem sendo apontada como uma das causas de extinção ou declínio
populacional de várias espécies da fauna silvestre (ALTRICHTER, 2005; CHIARELLO,
2000; FACHÍN-TERÁN et al., 2004; CALOURO & MARINHO-FILHO, 2005; NARANJO
et al., 2004; PERES, 1996; 2000; 2001; REDFORD, 1997; ROBINSON & BODMER, 1999;
THIOLLAY, 2005; THOISY et al., 2005). Nesse âmbito, nós sugerimos que este tipo de
prática venha a ser considerada na perspectiva de planos de manejo e conservação de Dasypus
novemcinctus e E. sexcinctus, já que o consumo gastronômico dessas espécies indica ser uma
atividade culturalmente disseminada no semi-árido do Estado da Paraíba e, muito
provavelmente, nas demais áreas do semi-árido Nordestino onde esses tatus ocorrem.
2.4.2.2 Os tatus como seres medicinais e mágico-religiosos na percepção dos povos do
semi-árido paraibano
“já usei banha de tatu [E. sexcinctus] pra tratar asma de um minino
meu e ele recupero-se bem” (Sr. Arnaldo, 46 anos, residente na zona rural de
São Mamede)
“rabo de peba ou de verdadeiro é muito bom pra cutucar ouvido com
moquidão (...) inveiz [ao invés] de colocar pumada ou remédio de farmácia
pode colocar o rabinho dentro do ouvido e deixá por uns 3 minuto que
passa” (Sra. Fátima, 65 anos, moradora da zona rural de Campina Grande)
“em casa tem uns rabo de peba pendurado (...) é bom pra espantar
qualquer tipo de inseto [inseto aqui é apontado como todo e qualquer
animal peçonhento]” (Sr. José Quirino, 45 anos, residente na zona rural de
Sousa)
Diferentes povos têm usado a fauna ao longo dos séculos para fornecer carne, roupas,
medicamentos tradicionais e ornamentos, além de os abaterem para uso na proteção de
plantações e rebanhos (HAPPOLD, 1995). Documentos sobre o uso medicinal de animais
começaram a surgir juntamente com a invenção da escrita. Arquivos, papiros, e outras fontes
de registros históricos onde abordaram a pratica médica mostraram que os animais, e suas
partes ou subprodutos, eram comumente utilizados como remédios (LEV, 2003).
141
Atualmente, os recursos faunísticos desempenham um papel significante nos processos
de cura e em rituais mágicos em todos os continentes (COSTA-NETO & MARQUES, 2000).
As populações tribais ou rurais têm uma ampla farmacopéia composta de plantas e animais
silvestres e, mesmo atualmente, elas dependem [em maior ou menor grau] do sistema
tradicional de cura para seus cuidados primários da saúde (JAIN et al., 2007). Nesse contexto,
a Organização Mundial da Saúde estima que 80% das pessoas no hemisfério Sul fazem uso da
medicina tradicional (ALCORN, 1995; WHO, 1993).
A cura de doenças humanas por meio do uso de remédios derivados de animais ou
partes deles é conhecida como zooterapia (COSTA-NETO, 2005). Nas sociedades modernas
esta prática constitui uma importante alternativa entre muitas outras conhecidas e praticadas
no mundo (ALVES & ROSA, 2005). Não obstante, o uso de animais para fins medicinais tem
sido mais frequentemente estudada nos últimos anos no Brasil (ver ALVES & ROSA, 2006,
2007a, b, ALVES et al., 2007; ALVES, 2009; BARBOZA et al., 2007; MOURA &
MARQUES, 2008). Pelo menos 290 animais são explorados para propósitos terapêuticos no
país (ALVES, 2008), sendo que na região Nordeste, 250 animais foram registrados para estes
fins (ALVES, 2009).
Na farmacopéia brasileira os tatus (peba e verdadeiro) foram previamente registrados
tanto para uso medicinal quanto mágico-religioso (ver ALVES & ROSA, 2006, 2007a,b;
ALVES, 2009; BRANCH & SILVA, 1983; COSTA-NETO, 1999a,b, 2000). Em nosso estudo
constatamos que o uso de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins medicinais e mágicoreligioso nas áreas estudadas foi de significativa importância, correspondendo, no caso
específico do tatu-peba, as categorias de exploração mais importantes após o uso para
subsistência (ver Tabela 7).
D. novemcinctus e E. sexcinctus são usados para o tratamento de 10 condições ou
doenças: Asma, dor de ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas
de insetos, reumatismo, varizes e verrugas. Houve ainda registros significantes do uso dessas
espécies para dois fins mágico-religiosos: proteção contra “mau olhado” e como oferendas a
deidades em atividades de caça
A Tabela 8 sumariza os usos medicinais e mágico-religiosos do tatu-peba e verdadeiro
nas localidades estudadas. Com o objetivo de dimensionar quais tipos de doenças ou usos
mágicos são mais empregadas as espécies citadas, separamos as informações por município e
Nível de Fidelidade de cada uso. Quanto maior o Nível de Fidelidade, maior a importância o
uso de uma espécie para aquela finalidade particular.
142
Destacando-se os níveis de fidelidades para cada localidade, os dados demonstram que
tanto o rabo de E. sexcinctus (Figura 14) quanto o de D. novemcinctus são frequentemente
usados no tratamento de mouquidão, exceto em São Mamede e em Sousa. Nas cidades de
Campina Grande e Sumé o NF para o uso do rabo de tatu-peba para tratar esta enfermidade
foi extremamente alto, 60 e 65,22%, respectivamente. Outros autores igualmente registraram
o emprego dessas espécies como terapêuticas para esta condição, a exemplo de Alves e Rosa
(2007a), Alves et al. (2007), Costa-Neto (1999a, b), o que indica que este uso possivelmente é
disseminado em todo o Nordeste brasileiro.
Embora ainda não documentado na literatura, o uso de banha/sebo desses tatus no
tratamento de reumatismo foi significante, sobretudo em Campina Grande e Sumé, onde as
banhas de D. novencinctus e de E. sexcinctus foram bastante lembradas pelos moradores
locais (NF=46,67% e 47,83%, respectivamente) (Figura 15). Outros registrados que não
haviam sido previamente documentados foi o uso de banha de D. novemcinctus para
tratamento de furunculoses e obstrução nasal; a utilização da banha de E. sexcinctus para
picadas de insetos, além do sangue deste animal empregado no tratamento de varizes e
verrugas no município de São Mamede. À maioria dos entrevistados (n=87) que usam tatuspeba e verdadeiro como zooterapêuticos alegaram que esses correspondem a fontes de
medicamento eficazes no tratamento das enfermidades por eles listadas, a exemplo das
declarações abaixo:
“A banha do pebinha é o melhó remédio pra quando um bicho
[inseto] morde a pessoa” (Sr. Josafá, 57 anos, morador do município de São
Mamede).
“Pra junta dura [reumatismo] não tem outra. Derrete a banha do
peba e passa em cima” (Sr. Antônio Domiciano, 62 anos, morador do
município de Monteiro).
“A banha do verdadeiro só é boa mesma pra furuncú [furúnculos]”
(Sr. Jakson Moura, 46 anos, residente na zona rural do muncípio de Sousa)
143
Figura 14: Rabo de um tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé para
tratamento de mouquidão.
Figura 15: Amostra do sebo tatu-peba (E. sexcinctus) usado na medicina popular de Sumé
para tratamento de várias enfermidades, sobretudo para reumatismo
144
Tabela 8. Usos medicinais e mágico-religiosos de E. sexcinctus e D. novemcinctus
Município
Nº total de informantes
que usam a espécie
para fins medicinais
Espécie
Finalidades de
usos
Partes usadas
Nº de informantes
E. sexcinctus
MOUQUIDÃO
RABO
36
60,00
REUMATISMO
BANHA
24
40,00
ASMA
BANHA
16
MAU OLHADO
RABO
26
43,33
MOUQUIDÃO
RABO
29
48,33
REUMATISMO
BANHA/SEBO
28
46,67
ASMA
BANHA
9
15,00
MAU OLHADO
RABO
34
56,67
REUMATISMO
BANHA
5
38,46
MOUQUIDÃO
RABO
7
53,85
FURUNCULOSE
BANHA
2
ASMA
BANHA
2
15,38
MAU OLHADO
OFERENDA A
ENTIDADES
RABO
7
53,85
RABO
1
7,69
REUMATISMO
BANHA
1
7,69
MOUQUIDÃO
RABO
4
30,77
FURUNCULOSE
NARIZ
ENTUPIDO
BANHA
3
23,08
BANHA
2
15,38
MAU OLHADO
OFERENDA A
ENTIDADES
RABO
6
46,15
RABO, PATAS
4
30,77
CAMPINA
GRANDE
D. novemcinctus
E. sexcinctus
60
13
NF (%)
26,67
15,38
MONTEIRO
D. novemcinctus
145
E. sexcinctus
MOUQUIDÃO
RABO
15
65,22
ASMA
NARIZ
ENTUPIDO
BANHA
6
26,09
BANHA
3
REUMATISMO
PICADA DE
INSETO
PROTEÇÃO
MAU OLHADO
BANHA/SEBO
11
47,83
BANHA
8
34,78
RABO; UNHAS
12
52,17
23
13,04
SUMÉ
D. novemcinctus
E. sexcinctus
SÃO MAMEDE
MOUQUIDÃO
NARIZ
ENTUPIDO
RABO
9
39,13
BANHA
4
17,39
REUMATISMO
BANHA
9
39,13
FERIMENTOS
PROTEÇÃO
MAU OLHADO
USO COMO
OFERENDA
SEBO
2
8,70
RABO; UNHAS
8
34,78
RABO
8
34,78
MOUQUIDÃO
RABO
3
16,67
ASMA
NARIZ
ENTUPIDO
BANHA
5
27,78
BANHA
5
27,78
REUMATISMO
PICADA DE
INSETO
DOR DE
OUVIDO
BANHA
5
27,78
BANHA
8
44,44
SEBO/BANHA
8
VARIZE
SANGUE
11
61,11
VERRUGA
SANGUE
11
61,11
FURUNCULOSE
BANHA
2
11,11
18
44,44
146
D. novemcinctus
E. sexcinctus
SOUSA
D. novemcinctus
PROTEÇÃO
MAU OLHADO
RABO
14
77,78
ASMA
BANHA
2
11,11
REUMATISMO
BANHA
4
22,22
MOUQUIDÃO
RABO
4
22,22
FURUNCULOSE
BANHA
1
5,56
MAU OLHADO
RABO
7
38,89
OFERENDA
PATAS
4
22,22
MOUQUIDÃO
RABO
4
17,39
REUMATISMO
BANHA
7
30,43
ASMA
BANHA
2
8,70
FURUNCULOSE
SEBO/BANHA
5
FERIMENTOS
SEBO
8
34,78
MAU OLHADO
RABO
21
91,30
MOUQUIDÃO
RABO
2
8,70
REUMATISMO
BANHA
3
13,04
ASMA
BANHA
1
4,35
MAU OLHADO
RABO
8
34,78
OFERENDA
RABO/PATAS
5
21,74
23
21,74
147
É importante notar que por trás da eficácia desses medicamentos percebida pelos
usuários, a popularidade dos remédios derivados de animais é influenciada por aspectos
culturais, e as relações entre humanos e a biodiversidade na forma de práticas zooterapêuticas
é condicionada por relações sociais e econômicas entre humanos (ALVES et al., 2008).
Confirmando este fato, percebe-se que a renda de todos os entrevistados nesse estudo é
considerada baixa e a maioria (n=76) declararam que tinham acesso precário aos sistemas
públicos de saúde. Aliado a essa questão sabe-se que os tatus são popularmente caçados no
Brasil para diversos fins, além de serem parte do imaginário cultural de vários povos
americanos (cf. COSTA-NETO, 2000; MEDRI, 2008) o que possivelmente favorece a
exploração de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins medicinais.
Do ponto de vista farmacológico, é necessário destacar a importância da validação
científica dos efeitos desses remédios antes que eles possam ser recomendados para o uso.
Mais pesquisas são essenciais para estabelecer se tais usos medicinais de D. novemcinctus e
E. sexcinctus tem complicações adversas em longo prazo. Por outro lado é importante o
registro do conhecimento do uso de animais medicinais, uma vez que de acordo com a ONU
(2002) mais da metade das drogas modernas do mundo são derivadas de recursos biológicos,
ao passo que substâncias derivadas de 90 espécies são usadas mundialmente.
Além do papel na cura, produtos naturais frequentemente têm significância mágicoreligiosa, refletindo as diferentes visões de saúde e doença que existem dentro de diferentes
culturas (ALVES et al., 2008), ou mesmo expressando simbologicamente as relações dos
indivíduos com divindades de diferentes credos. O uso do rabo de tatus como amuleto de
proteção contra “mau olhado” foi algo constantemente registrado em todos os municípios
estudados (Figura 16A e B). De alguma maneira, esse fato aparenta estar associado com a
cultura local o que justifica um Nível de Fidelidade elevado em todos os municípios, sempre
acima de 30% e atingindo 91,30% em relação ao uso de E. sexcinctus para este fim no
município de Sousa. Alves e Rosa (2006, 2007a) constataram que o rabo de tatu peba é
considerado como amuleto na proteção de “olho gordo” no Estuário do Rio Mamanguape,
Paraíba e no município de Raposa, Maranhão. Outro uso mágico foi relatado em todos os
municípios, exceto em Campina Grande, foi o uso de patas e do rabo como oferendas para
“cumadre fulozinha” (Figura 17) uma deidade da cultura do Nordeste brasileiro, considerada
protetora da fauna e da flora. As oferendas são realizadas antes do início da atividade de caça
dos tatus, almejando uma boa captura das espécies.
148
A
B
Figura 16. Rabos de tatus-peba e verdadeiros usados na proteção de residências contra “mau
olhado”. (A) Fotografia do telhado de uma casa de um entrevistado no município de
Monteiro. (B) Fotografia de rabos de peba e verdadeiro presos a um móvel doméstico, local:
Campina Grande, Paraíba. Fotos: do autor.
Figura 17. Patas de tatu-peba usados em oferendas a deidades (“cumadre fulozinha”). Local
da foto: município de Sumé, foto: do autor.
149
A observação anterior está em concordância com as fornecidas por Alves et al. (2007)
o qual apontou que a medicina tradicional brasileira está frequentemente associada com
sistemas de crenças locais de simpatias e, estas crenças podem ter diferentes implicações na
maneira pela qual as espécies animais são usadas e as tradições da comunidade.
De acordo com Mello e Souza (1975), a magia, a medicina, as simpatias, a invocação
divina, a exploração da fauna e da flora e os conhecimentos agrícolas fundem-se de modo
único em um sistema que abrange, na mesma continuidade, o campo, a mata, a semente, o
animal, a água e o próprio céu. Aqueles autores ainda afirmam que “dobrado sobre si mesmo
pela economia de subsistência, encerrado no quadro dos agrupamentos vivinais, o homem
aparece ele próprio como segmento de um vasto meio, ao mesmo tempo natural, social e
sobrenatural”.
Paradoxal é a importância das espécies de animais usadas para fins medicinais ou
mágico-religiosos, na descoberta de novas drogas ou na elaboração de terapias que
possibilitem a cura ou bem-estar das pessoas, desse modo o uso de recursos faunísticos tem
consequências diretas sobre a conservação da biodiversidade. Das espécies zooterapêuticas
utilizadas na medicina tradicional brasileira, 71 estão listadas na Lista Vermelha da IUCN e
outras 54 estão ainda listadas na CITES. No caso específico de D. novemcinctus e de E.
sexcinctus, embora estes não estejam sobre risco preocupante de extinção, faz-se necessário
que este tipo de prática seja inserido em estratégias que visem a um uso sustentável dessas
espécies nas áreas estudadas, visto que a medicina tradicional é um dos importantes usos da
biodiversidade (CELSO, 1992) e pode contribuir para que espécies silvestres se tornem
ameaçadas (cf. ALVES et al., 2007; ASHWELL & WALSTON, 2008; FENG et al., 2009).
De acordo com os entrevistados, sempre que se fizesse uso de um tatu-peba ou
verdadeiro para fins medicinais o espécime era morto a fim de se extrair a parte do animal
com interesse na produção do remédio almejado. Segundo Alves e Rosa (2006) os impactos
de práticas zooterapêuticas sobre as populações da área estudada deve ser cuidadosamente
avaliadas, particularmente nessas condições onde a obtenção de produtos deriva de animais
mortos. Nesse contexto, Almeida e Albuquerque (2002) apontam para a necessidade do
aumento da sensibilização acerca da utilização sustentável dos remédios tradicionais
derivados de animais.
150
2.4.2.3 Caça Recreacional
A caça de lazer ou recreacional possui uma diversidade de sinônimos. Segundo a
IUCN (2006), há dois grupos básicos de caça recreacional: a primeira representada por termos
como “caça de conservação”, “caça turística” e “caça de troféu” que se distingue de uma
segunda categoria cuja caça é estritamente voltada para o amadorismo com pouca
infraestrutura formal, essa sendo objeto deste estudo.
As relações entre caça de lazer e conservação da biodiversidade são alvos de polêmica.
A caça de lazer intensa pode perturbar populações silvestres, ameaçando sua sobrevivência
(DURIEZ et al., 2005; KEANE et al., 2005; TAMISIER et al., 2003); pode ser fonte de
contaminação (GRANDLIC et al., 2006; GUITART et al., 2002; MATSUDA, 2003) e pode
motivar a introdução de espécies exóticas invasoras (JESCHKE & STRAYER, 2006;
ZACCAGNINI, 2002). Por outro lado, a caça de lazer é uma forma de manejo de populações
abundantes (BONINO, 1986; DAVIDSON & FRASER, 1991) e dessa maneira motivou a
criação de áreas protegidas, refúgios de vida silvestre e aporte de fundos para programas de
conservação (GRAF & WADSACK, 2002; OLDFIELD et al., 2003).
Pessoas têm a caça como um esporte há milênios (CHARDONNET et al., 2002) e,
ainda hoje a caça recreativa tradicional desempenha um papel importante em muitos países
(KALCHREUTER, 1984). Em diversos lugares como a África, a Europa e a América do
Norte esta atividade adquiriu um grau avançado de exploração e, nestes locais esta atividade é
um sub-setor da indústria do turismo e desempenha um importante papel para alguns países e
sociedades, enquanto sofre oposição em outras (CHARDONNET et al., 2002). No Brasil,
entretanto, a caça para fins recreacionais ainda padece de investigação (GUADAGNIN et al.,
2007). Tal atividade não é claramente regulamentada neste país, sendo necessária, talvez, uma
revisão da legislação, sobretudo na lei 5197/67 a qual dispõe no artigo 1º -§ 1º e no artigo 11
de brechas para a execução da prática da caça recreacional, amadorística ou esportiva.
Embora não permitida por lei, constatamos que a caça recreacional de D.
novemcinctus e E. sexcinctus é uma prática relativamente comum nas áreas estudadas e, para
esta última espécie, é uma atividade exploratória a qual é superada, baseado no nível de
fidelidade (Ver Tabela 7), pelo uso da caça para fins alimentares, medicinal e mágicoreligioso. Os depoimentos abaixo mostram como a caça de tatu é uma atividade considerada
lúdica e frequente para os caçadores:
151
“pra mim eu gosto de caçar mode [porque] eu disopilo (...) tem
muito tatu difícil de pega, esses eu ainda guardo ou o rabo ou o casco” (Sr.
Arnaldo, residente da zona rural de São Mamede)
“quando dá eu vou caçar numas terras [propriedades particulares]
por ali e só volto depois de achar uns bixos [tatus] bons de peleja
[perseguição]. (Sr. Severino Santos, residente da zona rural de Sumé)
“antigamente, todo fim de semana eu ia caçar com um irmão e um
primo e nois sempre competia pra quem pegasse o primeiro verdadeiro
(Edvânia Gurjão, 19 anos, residente na zona rural de Campina Grande)
A maioria dos entrevistados (n=48) afirmou preferir caçarem sozinhos ou com no
máximo outro colega a fim de evitar possíveis conflitos na distribuição dos benefícios da
caça, como demonstrado nos depoimentos abaixo:
“Nois caça de dois ou três, e sempre parente ou colega” (Sr. Claudio,
44, residente na zona rural de Campina Grande).
“Quem caça só prefere caçar em dupla ou só. Quando caçava só era
sozinho porque sempre acontecia de se desentender na hora de dividir” (Sr.
Genival Caldas, 50 anos, residente da zona rural de Sumé).
“Eu só caço só (...) eu fico mais à vontade pra pegar o bixo que
quiser e quantos eu quiser” (Sr. Mario, 33, residente da cidade de Monteiro)
Idêntica situação foi registrada por Léon e Montiel (2008) em estudo sobre a caça na
península de Yucatán, México. Altrichter (2006), constatou que os caçadores rurais da região
do Chaco, semi-árido argentino, geralmente caçam sozinhos ou com membros de sua família
de maneira amadoristica e quando não dispunham a caça no local de abate à carne da mesma
era partilhada pelo caçador e seus dependentes. Justificar o porquê grande parte dos caçadores
de tatus dão preferência a realizar a caça recreacional (11,21%, n=24) sozinhos ou com
poucos companheiros adentra em outra esfera: a caça comercial. O fato de capturar poucos
exemplares de tatus após uma caçada recreacional pressupõe a divisão dos lucros da venda de
espécimes de E. sexcinctus e D. novemcinctus. Torna-se difícil precisar quando uma caça é
apenas recreacional, para a subsistência, ou ainda para fins comerciais. Mas de um modo
geral, quando são capturados mais de um tatu em uma caçada, um exemplar é degustado pelos
participantes da “aventura”, ao passo que o outro é levado para a comunidade/cidade onde é
vendido a terceiros, ou mesmo mantido em cativeiro para venda posterior. A questão da caça
comercial de tatus é marcante, em especial a caça de D. novemcinctus o qual, devido às
152
dificuldades de captura, possui um preço de venda superior ao de E. sexcinctus, sendo uma
espécie cobiçada por caçadores do semi-árido do Estado da Paraíba.
2.4.2.4 A Caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins Comerciais
“por aqui tem como comprar fácil. Se você quiser um peba eu
consigo, se você quiser um verdadeiro eu consigo também” (Sr. Josias
Caldas, 46 anos, residente do Município de Sousa)
“tem caçador por aqui que aceita encomenda e vende pro pessoal aí
(...) antigamente o povo encontrava inté nas feiras, mas hoje é proibido (...)
quem quer basta ter interesse e dinheiro na mão” (Sr. Francisco Luis, 52
anos, residente da cidade de Monteiro)
Nos últimos anos, houve uma progressiva e importantes transições das atividades
cinegéticas de subsistência para aquelas com propósitos comerciam, essencialmente devido ao
aumento da densidade populacional humana, a modernização das técnicas de caça e uma
maior acessibilidade as remotas áreas silvestres (FA & GARCÍA YUSTE, 2001; WILKIE &
CARPENTER, 1999). De acordo com Bisbal E. (1994), a caça para obtenção de alimento
diário deriva a caça comercial. Esta pode ser de diferentes formas e escalas, desde o ganho
excedente proveniente de uma caça para a subsistência, até a exploração comercial organizada
de certas espécies para a obtenção de carne, peles, chifres, ou mesmo animais vivos
(CHARDONNET et al., 2002).
A caça de D. novemcinctus e E. sexcinctus para fins de comércio nas áreas estudas é
considerada pelos caçadores da região como uma forma de obtenção de renda complementar
para os mesmos e seus dependentes.
“tem gente que caça aqui pra ajudar a inteirar o mês sabe [renda
extra ao salário]. Em época de muito peba, tem muitos [caçadores] que
vende e no tempo que tem pouca gente caçando mode [devido] a
fiscalização vendem caro. (Sr. Alcides José, 65, residente da zona rural de
Campina Grande).
“quando eu pego de dois ou três eu sempre fico com um e vendo
os dois, ou crio em casa, engordo e vendo (...) O verdadeiro é sempre mais
pedido” (Sr. Maza, 27 anos, residente do município de Sumé).
A caça comercial de tatus-peba e verdadeiros mostrou ser uma prática oportunística e
crescente uma vez que, segundo declarações dos próprios entrevistados, a carne desses
animais possui uma excelente aceitação entre os sertanejos, e nesta perspectiva, os tatus
verdadeiros são tidos, segundo 129 entrevistados (60,28%), como os mais requisitados para
153
consumo. Este cenário torna-se particularmente preocupante, uma vez que, segundo Fa et al.
(1995) a caça comercial oferece um significativo incentivo monetário à população rural e,
desta maneira, exerce uma gradual pressão sobre as populações das espécies estudadas.
O real valor comercial de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido paraibano é
de difícil cômputo devido ao grande mercado informal e ilegal desses animais assim como a
inexistência de registros confiáveis de tal atividade. Associado a esta questão, percebeu-se
durante a atividade de campo que muitos moradores locais realizaram ou realizam o comércio
de tatus, mas esquivaram-se de ceder mais informações com receio de serem punidos por
órgãos como IBAMA. É provável que a prática comercial desses animais seja superior ao
hábito de uso delas para fins medicinais, apesar de que, em vias gerais, nossos resultados (ver
Tabela 7) não indiquem isso.
Adicionalmente, Reading et al. (1998) destaca que as análises sobre existência de
comércios clandestinos fornecem apenas uma indicação aproximada do que possa existir
atualmente. De acordo com estes autores, as atividades de caça podem muito bem ter
variações de ano para ano, sendo assim, a demanda por animais pode acompanhar períodos de
abundância ou escassez.
Contudo, foi possível determinar variações de valores comerciais para ambas às
espécies em cada localidade, como mostra a tabela abaixo.
Tabela 9. Valores para comércio de tatus-peba e verdadeiro registrados em cada localidade
Cidade
Campina Grande
Monteiro
São Mamede
Sousa
Sumé
E. sexcinctus
Preço (R$)
Mínimo
Máximo
R$ 15,00
R$ 25,00
R$ 10,00
R$ 30,00
R$ 15,00
R$ 20,00
R$ 15,00
R$ 20,00
R$ 20,00
R$ 25,00
D. novemcinctus
Preço (R$)
Mínimo
Máximo
R$ 15,00
R$ 40,00
R$ 20,00
R$ 40,00
R$ 15,00
R$ 40,00
R$ 20,00
R$ 50,00
R$ 20,00
R$ 35,00
Baseado nos dados acima percebe-se que tanto E. sexcinctus quanto D. novemcinctus
são importantes na obtenção de renda extra por parte dos moradores dos municípios
avaliados, sobretudo o tatu verdadeiro, cujo preço médio sempre foi acima do preço cotado
para o tatu-peba e, segundo 44 entrevistados, o valor para venda do tatu verdadeiro era acima
de R$ 40,00 o que, em junho de 2008, correspondia a quase 10% do valor do salário mínimo
brasileiro vigente a época (R$ 465,00). Relacionando esta informação ao perfil
socioeconômico dos entrevistados, percebe-se a significativa importância desses números,
154
uma vez que a maioria (n=148) possuía renda de até dois salários mínimos no período de
realização do presente estudo e, muitas vezes, essa quantia correspondia a própria renda
familiar.
Os dados anteriores corroboram com o estudo realizado por Freitas et al. (2006) sobre
o tráfico de animais no Brasil, onde constata que comércio ilegal de animais silvestres está
associado a problemas culturais, de educação e pobreza e à falta de opções econômicas. Esta
prática é a terceira maior atividade ilícita do mundo, sendo suplantada apenas pelos tráficos de
armas e de drogas (RENCTAS, 2003).
Mediante o exposto, sugerimos que as análises sobre as atividades de caça comercial
podem fornecer uma oportunidade para pesquisas onde tragam indicadores de tendências reais
de populações silvestres ou endêmicas, além de sugerir quais espécies requerem análises mais
rigorosas sobre suas densidades populacionais. Os resultados indicam que há uma necessidade
ampla de elaboração de estratégias alternativas de geração de renda para aqueles que praticam
o uso comercial de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido paraibano.
2.4.3 Implicações para um manejo sustentável de D. novemcinctus e E. sexcinctus
Devido o crescimento populacional, as melhorias nos sistemas de transporte, a
exploração descontrolada da biodiversidade, as práticas de caça para subsistência e o consumo
de carnes de animais silvestres, o comércio de animais têm aumentado consideravelmente a
qual acompanha essa demanda acarretando níveis insustentáveis (BAKARR et al., 2001),
mesmo em âmbito local.
No caso específico do D. novemcinctus e E. sexcinctus ambas as espécies são listadas
como “LC” Least concern na Lista vermelha da IUCN (IUCN, 2008), ou seja, são espécies
que não se encontram ameaçadas. A justificativa fornecida para esta baixa preocupação de
ameaça dessas espécies está na ampla área de distribuição das mesmas, a tolerância de
alterações de habitat e a suposta ausência de declínio da população desses animais (AGUIAR,
2004; IUCN, 2008). Contudo, isto não impede que em nível local D. novemcinctus e E.
sexcinctus estejam sofrendo impactos severos podendo acarretar extinções em áreas
específicas. Não obstante, os entrevistados desse estudo afirmaram que o tatu verdadeiro é,
atualmente, de difícil obtenção, não sendo mais encontrado em determinados áreas dos
municípios de Monteiro e São Mamede. Esta realidade foi constatada localmente em visitas
realizadas nas áreas de estudo com caçadores nativos.
155
“Tatu verdadeiro por aqui tá muito difícil de encontrar. Acho que
esses bixos tão perto de se acabar” (Sr. Mario, 33, residente da cidade de
Monteiro).
“(...) tá difícil de conseguir verdadeiro por aqui. Quem pega anda
muito e quem tem pra vender é muito caro” (Sr. Damião, 58 anos, residente
da cidade de São Mamede)
A exploração tradicional dessas espécies certamente foi intensificada após a ocupação
européia no Brasil, haja vista que os tatus, considerados como uma das melhores “caça do
mato”, eram pratos muito apreciados e constituíam importante fonte de proteínas para os
brancos, porque a abundância deles supria a falta dos diversos tipos de gado cuja criação
começava a ser implantada (MESGRAVIS & PINSKY, 2000). A intensificação da caça
desses animais também ocorreu pelo fato de que os europeus trouxeram dois elementos que
aumentaram a eficiência [impacto] da caça a qual foram também assimilados pelos indígenas:
o uso de cães e as armas de fogo (MELATTI, 1994).
Semelhante ao estudo de Alves et al. (2009) sobre as técnicas usadas por caçadores no
município de Pocinhos, Estado da Paraíba, independente do método usado na captura das
espécies de xenarthras aqui estudadas, a maioria das atividades de caça implicam no uso de
armas de fogo. O uso difundido desse tipo de artefato, o qual é mais eficiente que outros
métodos tradicionais são ainda mais impactantes, pois não é seletista quanto ao tamanho e ao
tempo de vida da presa.
A crescente dificuldade de se capturar os tatus (acima citados), em especial D.
novemcinctus, pode estar refletindo apenas os impactos locais que as populações desses
animais têm sofrido ao longo de séculos. Torna-se necessário, portanto, a realização de
estudos precisos de dinâmica populacional de D. novemcinctus e E. sexcinctus no semi-árido
paraibano.
Similar aos resultados obtidos por Kellerts (1978), porém contrapondo-se aos
impactos gerados, os caçadores entrevistados nesse estudo exibiram certo interesse e afeição
pela vida silvestre, assim como uma preocupação quanto à possibilidade de desaparecimento
de tatus verdadeiro nas áreas estudadas:
“Daqui a uns tempo, encontrar tatu nessas banda [região] vai
ser como uma gota d‟água no mar (Elenildo J. Torres, 25 anos,
município de Sumé-PB)
156
A conservação necessita envolver programas que afetem o sustento das comunidades
locais (HOLMERN et al., 2004). Considerando que pouca atenção tem sido dada ao uso social
da biodiversidade no Brasil, estudos que englobam o conhecimento tradicional a respeito do
uso de animais e sua importância para os grupos humanos devem ser realizados de modo a
conduzir mais adequadamente a exploração dos recursos naturais e, desta forma, contribuir
para sua conservação e para que as futuras gerações possam conhecê-los e gerenciá-los
(COSTA-NETO, 1999a).
Nessa perspectiva, nosso estudo, a qual abordou tanto a percepção dos povos do semiárido paraibano sobre a etnoecologia dos D. novemcinctus e de E. sexcinctus (primeira parte),
quanto o conhecimento local sobre a caça tradicional dessas espécies (segunda parte),
constituem ferramentas que devem ser inseridos em futuros programas de manejo sustentável
desses animais. Como exemplo a ser seguido, sugerimos o trabalho desenvolvido por Maass
(1999) na Guatemala, onde o conhecimento ecológico tradicional de caçadores locais foi
utilizado juntamente com o conhecimento científico na elaboração de um calendário
indicando as restrições temporais para as práticas de caça. Ainda segundo este autor,
integrando as informações sócio-econômicas com as ecológicas para combinar dados
qualitativos e quantitativos, pode fornecer novas perspectivas sobre a conservação da natureza
e usos sustentáveis de seus recursos.
No caso especifico de E. sexcinctus, há ainda possibilidades da criação dessa espécie
em cativeiro, uma vez que estes indivíduos apresentam: capacidade de se reproduzir em
cativeiro, hábito gregário, poligamia, prolificidade, precocidade, docilidade, período de
gestação curto e outros atributos biológicos desejáveis à domesticação, tornando-se possível
mitigar os efeitos da intensa exploração da mesma.
Uma sugestão seria transformar caçadores em criadores devidamente credenciados e
registrados. Tomando como exemplo um manejo de cutias atualmente realizado do Estado do
Rio Grande do Norte, onde o CEMAS em parceria com a AACC (Associação de Apoio às
Comunidades de Campo), uma organização não-governamental, estão fornecendo aos colonos
um par de matrizes e um macho de cutias, para serem criadas em cativeiro e estes, por sua
vez, se comprometem após um ano a devolverem o mesmo número de animais, de modo a se
tornar rotativo o empréstimo das matrizes e do reprodutor de cutias.
Os modelos acima apenas ilustram apenas algumas das ações prioritárias que
poderiam ser aproveitadas nas áreas em questão, no entanto, outros modelos foram sugeridos
por Velloso et al. (2004) para o bioma caatinga, as quais incluem: o incentivo à implantação
de criadouros comunitários (cooperativas) de animais silvestres (exemplos: caititu, preá,
157
arribaçã, mocó, ema, peixes e outros escolhidos a partir de estudos); Identificação de
atividades alternativas como fonte de proteína e de renda, assim como a capacitação das
comunidades para executá-las. Nesse diapasão, esses exemplos são amostras de o quão
possível é interagir conhecimento tradicional dos moradores locais com seus modos de
subsistência e a caça de animais silvestres. Motivo pelo qual poderão prover uma base na
elaboração de um futuro plano de manejo local dos tatus-peba e verdadeiro no semi-árido da
Paraíba.
158
2.5 Conclusões
A riqueza do conhecimento local foi notadamente demonstrada ao longo de toda a
experiência de campo, revestida por detalhes intrínsecos as atividades cinegéticas, e que em
alguns casos não podem ser corroborados com o conhecimento científico, por falta de
informações na literatura. O emprego de armas de fogo em associação a cães foi à técnica de
caça mais relatada e empregada pelos caçadores das cinco localidades estudadas, e com maior
índice de eficácia quando comparado a outras técnicas de caça como as armadilhas.
Verificou-se uma supervalorização aos cães destinados a caça especifica de tatus (peba
e verdadeiro) os quais podem chegar a valores de venda bastante elevados, o que pode,
inclusive, sugerir um comércio clandestino desses cães. Os caçadores exercem um
treinamento intenso com os cães desde muito jovens, o que condiciona esses animais a terem
aptidões para a caça mais rapidamente.
Tanto o tatu-peba (E. sexcinctus) como o tatu verdadeiro (D. novemcinctus) possuem
consideráveis finalidades de usos por moradores do semi-árido da Paraíba, onde se destaca o
maior Nível de Fidelidade dessas duas espécies na gastronomia local com (NF=100% para
ambas as espécies) para uso medicinal (NF=14,95% para D. novemcinctus e 37,85% para E.
sexcintus) e mágico-religioso (NF=13,08% para D. novemcinctus e 30,37% para E. sexcintus).
Além disso, essas duas espécies são usadas para o tratamento de 10 condições ou doenças:
Asma, dor de ouvido, ferimentos, furunculoses, mouquidão, nariz entupido, picadas de
insetos, reumatismo, varizes e verrugas. Bem como proteção contra “mau olhado” e como
oferendas a deidades em atividades de caça.
Apesar da noção das proibições de porte ilegal de armas de fogo e para o exercício da
caça de animais silvestres no Brasil, constata-se que, na maioria das vezes, os caçadores não
cumprem as normas ou leis para exercerem a caça nas regiões estudadas. Tal pratica ocorre de
livre vontade por parte daqueles que usam dessas atividades cinegéticas, seja para subsistência
ou para comércio. A caça para subsistência foi à principal justificativa para o desempenho
desta atividade, e no que se refere ao comércio desses animais, esta se destaca como sendo
uma forma complementar de renda aos que caçam os tatus (peba e verdadeiro) ou mesmo para
os que capturam e criam-nos em condições de cativeiro. Identificou-se, inclusive, registros de
práticas voltadas à caça recreativa, o que implica, necessariamente, no aumento das pressões
antrópicas exercida as populações desses animais nas áreas de ocorrência.
159
2.6 Referências
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173
APÊNDICE
174
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO SEMI-ESTRUTURADO
ROTEIRO DAS ENTREVISTAS
1 – Quais tipos de Tatus existem na região?
2 – Como você os chama? Quais seus nomes?
3 – É fácil diferenciá-los?
( ) SIM
( ) NÃO
4 – Quais são as principais diferenças entre
eles?
a) Tatu peba
* TAMANHO
* PESO
* COR
* DENTIÇÃO
b) Tatu Verdadeiro
* TAMANHO
* PESO
* COR
* DENTIÇÃO
5 – É fácil encontrá-los na região?
( ) SIM
( ) NÃO
6 – São animais solitários ou vivem em
grupos?
( ) SIM
( ) NÃO
ALIMENTÇÃO
1–De que se alimentam
a) Tatu Peba:
os
Tatus?
b) Tatu verdadeiro:
2 – É verdade que o “tatu-peba” come carniça
ou defunto?
( ) SIM
( ) NÃO
3 – Quais são os horários que eles saem para
suas atividades de alimentação? Por quê?
(
) manhã/matutino/diurno
(
)
tarde/vespertino
(
)
noite/noturno/crepúsculo
HABITAT
1 – Quais os locais que comumente
encontramos os tatus na região?
a) Tatu Peba
b) Tatu Verdadeiro
2 – Eles vivem perto de locais que tenham
água?
( ) SIM ( ) NÃO ( ) açude, rio, riacho,
ribeirão, poços, outros...
3 – Que tipo de vegetação eles vivem?
a) Tatu Peba
b) Tatu verdadeiro
4 – Convivem bem com outros animais ou são
ariscos?
( ) SIM convivem ( ) NÃO convivem ( )
SIM+ ariscos
REPRODUÇÃO
1 – Qual época/estação/mês do ano ocorre à
reprodução dos tatus?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
2 – Quantos filhotes em média as fêmeas
parem?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
3 – Em que local as fêmeas dão a luz?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
4 – Quem cuida dos filhotes?
a) Tatu Peba: ( ) só o macho ( ) só a
fêmea ( ) os2
b) Tatu Verdadeiro: ( ) só o macho ( )
só a fêmea ( ) os 2
5 – Como eles cuidam?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
6 – Com que idade (tempo de vida) os pais
deixam de cuidar dos filhotes?
a) Tatu peba:
b) Tatu verdadeiro:
175
7 – Com que idade os tatus já são adultos e
prontos pra reprodução?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
8 – Existe algum tipo de ritual/dança/corte de
acasalamento do macho para a fêmea ou viceversa? Como seria?
a) Tatu Peba: ( ) SIM ( ) NÃO
b) Tatu Verdadeiro: ( ) SIM ( ) NÃO
9 – Os machos acasalam e vivem com apenas
1 única fêmea ou várias?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
10 – Um tatu de um tipo pode
acasalar/reproduzir com de outro tipo? Por
quê?
( ) SIM
( ) NÃO
USO DAS ESPÉCIES
GASTRONOMIA
1 – Quais dos dois tipos de tatus pode-se
comer?
( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( )
Ambos ( ) Nenhum
2 – Qual dos dois é mais saboroso?
( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( )
Ambos ( ) Nenhum
3 – Como se costuma tratá-los (prepará-los)?
4 – Algum deles possui a carne
carregada/remosa?
( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( )
Ambos ( ) Nenhum
5 – Qual(s) a(s) contra-indicação(s) para se
consumir tal carne?
6 – Com que freqüência você consome carne
de tatu?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro
CAÇA
1 – Existe muita caça/caçador (ainda) na
região?
( ) SIM
( ) NÃO
2 – Qual dos tatus se costuma caçar mais? Por
quê?
( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) os
dois
3 – Qual a finalidade da caça?
( ) consumo pessoal (familiar) ( ) venda
(comércio, demanda) ( ) esporte
4 – Qual dos dois é mais fácil ou difícil de
capturar ou abater? Por quê?
( ) Tatu Peba ( ) Tatu Verdadeiro ( ) os
dois
5 – Qual época/estação/mês do ano é melhor
para caçá-los?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
6 – Qual melhor horário para caçálos/capturá-los?
a) Tatu Peba: ( ) manhã/matutino/diurno
(
) tarde/vespertino
(
)
noite/noturno/crepúsculo
b)
Tatu
Verdadeiro:
(
)
manhã/matutino/diurno
(
)
tarde/vespertino
(
)
noite/noturno/crepúsculo
7 – As fazes da Lua interferem para uma boa
caçada? Qual é a melhor?
( ) SIM
( ) NÃO
( ) NOVA ( ) MINGUANTE ( ) QUARTOCRESCENTE
( ) CHEIA
8 – Crianças participam das caçadas? A partir
de que idade?
( ) SIM
( ) NÃO
IDADE: __________
9 – Quais as armas ou ferramentas os
caçadores utilizam para caçar os tatus?
a) Tatu Peba:
b) tatu Verdadeiro:
176
10 – Quando capturados vivos, onde o
caçador guarda esses animais?
a) Tatu Peba
b) Tatu Verdadeiro
18 – Qual tem melhor aceitação de mercado?
Por quê?
( ) fêmea ( ) macho ( ) ambos
11 – Há condições de criar esses animais em
casa?
MEDICINAL/MÁGICO-RELIGIOSO
1 – Qual o uso medicinal que se faz com
alguma das espécies de tatus?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
12 – Quais os procedimentos antes de sair
para caçar?
2 – Que ou quais partes são utilizadas?
13 – Costuma-se engordar/cevar esses
animais em casa? Quanto tempo de engorda?
( ) SIM
( ) Não
Tempo:
3
–
O
caçador
tem
algum
ritual/crença/preparação antes, durante ou
depois da caça? Qual?
14 – O que costumam comer em cativeiro?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
15 – Como o caçador lida com seus cães antes
e depois da caça?
a) ANTES:
b) DEPOIS:
16 – Os cães usados para caçar os tatus são de
alguma raça definida ou “raceados”? Qual?
( ) SIM definida ( ) NÃO raceado
12 – Como se faz o adestramento dos cães?
17 – É comum a venda de cães (filhotes ou
adultos) com predisposição a caça ou já
adestrado para caça de tatus?
a) ( ) SIM - ( ) ADULTO ( ) FILHOTE ( )
ADESTRADO ( ) NÃO-ADESTRADO ( )
TODOS
b) ( ) NÃO
15 – Qual o valor de mercado desses cães?
COMÉRCIO
1 – Os tatus podem ser encontrados vivos ou
abatidos em feiras-livres?
( ) SIM
( ) NÃO
( ) só o tatu peba ( ) só o tatu verdadeiro (
) ambos
2 – Qual o valor de mercado destes animais?
a) Tatu Peba:
b) Tatu Verdadeiro:
3 – Quais têm melhor aceitação de mercado?
Por quê?
a) Tatu Peba: ( ) Macho ( ) Fêmea ( ) ambos
b) Tatu Verdadeiro: ( ) Macho ( ) Fêmea ( )
ambos
4 – Os Preços diferenciam se vivos ou mortos?
Por quê?
a) Tatu Peba
b) Tatu Verdadeiro
5 – É fácil adquirir/comprar nas feiras ou sob
encomenda?
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TATU PEBA
Encomenda
a) (
) SIM: ( ) Feira ( )
b) ( ) NÃO
TATU VERDADEIRO
a) ( ) SIM: ( ) Feira ( )
Encomenda
b) ( ) NÃO
6 – O IBAMA atua de forma eficaz na região?
( ) SIM
( ) NÃO
VISÃO DO ENTREVISTADO
1 – Em sua opinião existem bastantes ou
poucos tatus na região?
a) Tatu Peba: ( ) MUITOS
( ) POUCOS
b) Tatu Verdadeiro: ( ) MUITOS ( )
POUCOS
2 – Em sua opinião nos tempos dos seus pais
ou avós existiam mais tatus, menos ou a
quantidade é igual a de hoje em dia? Por quê?
a) Tatu Peba: ( ) MAIS ( ) MENOS ( )
IGUAL
b) Tatu Verdadeiro: ( ) MAIS ( ) MENOS (
) IGUAL
3 – O que poderá acontecer com os tatus
durante os próximos 20 anos ou mais?
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clarindo da silva