Arquivos Catarinenses de Medicina
ISSN (impresso) 0004- 2773
ISSN (online) 1806-4280
RESUMO EXPANDIDO
Reconstruções Microcirúrgicas: Estudo Retrospectivo de uma Série de Casos.
Microsurgical Reconstructions: A Retrospective Study of a Series of Cases.
Ciro Paz Portinho1, Carlos Francisco Jungblut, Lívia Zart Bonilha, Daniel Deggerone, Marcus Vinícius Martins Collares
Resumo
were done late. The most common reconstruction was
free-flap based (81%). Most of the procedures (88%)
were done in university hospitals. At last, referrals were
done mainly from head and neck departments, followed
by ENT and plastic surgery departments. In conclusion,
the presented sample demonstrates a predominance of
oncological cases.
A microcirurgia reconstrutiva é uma ferramenta
fundamental na cirurgia reparadora. Os especialistas
destas áreas geralmente trabalham em combinação
com outras áreas cirúrgicas. Contudo, deve haver
estrutura institucional adequada e profissionais bem
treinados. O objetivo deste estudo é apresentar uma
série sequencial de casos, realizados no período de
janeiro de 2011 a fevereiro de 2014. Foram realizadas
46 cirurgias (46 pacientes, 25 homens). A idade média
era de 47,8 +/- 18,7 anos. A etiologia mais frequente
(76%) foram os tumores. A maioria das reconstruções
foi tardia. A reconstrução mais frequente foi
aquela com retalhos livres (81%). A maioria dos
procedimentos (88%) foram feitos em hospitais
universitários. Por fim, a especialidade que mais
encaminhou casos foi a cirurgia de cabeça e pescoço,
seguida da otorrinolaringologia e da cirurgia plástica.
Em conclusão, a amostra apresenta uma reconstrução
com predominância de casos oncológicos.
Keywords: plastic surgery, microsurgery, head and neck
neoplasms, facial paralysis
Introdução
A microcirurgia reconstrutiva é uma ferramenta
fundamental na cirurgia plástica reparadora (1).
Nela, os especialistas trabalham frequentemente
com interação direta com outras áreas cirúrgicas.
É possível aplicar as técnicas de reconstrução
em diversas especialidades, como: cirurgia de
cabeça e pescoço (CCP); otorrinolaringologia (ORL);
neurocirurgia; ortopedia; cirurgia vascular periférica;
cirurgia do aparelho digestivo; transplantes. Vários
estudos demonstraram que a relação custo-benefício
da reconstrução microcirúrgica é melhor do que
métodos não-microcirúrgicos (2,3). Uma das principais
desvantagens é a necessidade de recursos institucionais
e de experiência das equipes médicas. O treinamento
dos cirurgiões exige dedicação e domínio técnico,
devendo ser iniciado em laboratórios (4). Idealmente,
um serviço de microcirurgia deveria ter dois a três
microcirurgiões (1). Os profissionais necessitam de um
conhecimento anatômico aprofundado. Além disso,
várias reconstruções combinam técnicas de cirurgia
plástica, cirurgia craniomaxilofacial, cirurgia de cabeça
e pescoço, cirurgia vascular e ortopedia. A reconstrução
microcirúrgica é a primeira escolha para muitas
reconstruções, como as falhas mandibulares acima
de 5 cm, por exemplo (5). Infelizmente, a realidade
brasileira para a microcirurgia reconstrutiva situa-se
Descritores: cirurgia plástica, microcirurgia,
neoplasias de cabeça e pescoço, paralisia facial
Abstract
Reconstructive microsurgery is a fundamental
tool in reconstructive surgery. Specialists in such
area usually work straightly with other surgical areas.
Nevertheless, there must be adequate institutional
resources and technical expertise. The aim of this study
is to present a sequential series of cases of microsurgical
reconstructions made from Jan. 2011 through Feb.
2014. We have performed 46 surgeries (46 patients, 25
males). Age was 47.8+/-18.7 years. The most common
etiology (76%) was tumors. Most of the reconstructions
1. Cirurgião Plástico - Médico Contratado do Hospital de Clínicas de Porto Alegre - RS.
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Reconstruções Microcirúrgicas: Estudo Retrospectivo de uma Série de Casos.
muito aquém daquela de países desenvolvidos. Há
falta de estrutura adequada, pessoal treinado, tempo
de centro cirúrgico disponível e remuneração pouco
estimulante por parte dos convênios e do setor público.
Mesmo serviços oncológicos, onde há uma grande
necessidade de microcirurgiões para reconstruções
frequentes, têm carência destes profissionais.
baixa e desestimulante, o que faz praticamente inexistir
reconstruções microcirúrgicas sob estas condições
mercadológicas. A principal especialidade solicitadora
de serviços microcirúrgicos foi a CCP (55%), como
esperado. As reconstruções tumores nesta área são a
demanda mais frequente por retalhos livres (1), que
também é o nosso principal tipo de reconstrução.
ORL e CIP aparecem em segundo lugar com 15%
de encaminhamento de casos. A revascularização
de membros pode ser feita em conjunto com outras
equipes, principalmente a cirurgia vascular periférica
e a ortopedia. Os reimplantes são cirurgias que
necessitam de conhecimento ortopédico, o que gera a
necessidade de ser ou de se ter na equipe um cirurgião
de mão. A mesma situação se aplica às reconstruções
do plexo braquial, em que se deve ter conhecimento
tanto para abordar e reconstruir o plexo em si, quanto
para fazer transferências tendinosas que permitam o
reestabelecimento de algum grau de função motora
no membro superior afetado. Por fim, o microcirurgião
pode atuar em equipes de transplantes pediátricos,
onde o calibre dos vasos leve a microanastomoses
(6). É de praxe em alguns centros de referencia que se
tenha um especialista assim em caso de previsão de
dificuldade na colocação do órgão no paciente receptor.
A experiência em reconstruções é importante também
para os casos de complicações. O microcirurgião
precisa estar familiarizado com o diagnóstico e o
manejo de várias delas. Na cavidade oral, as fístulas são
uma complicação importante, que pode levar à perda
de retalhos livres, especialmente nas osteoplastias
mandibulares (7).
Objetivo
Apresentar uma série de casos de reconstruções
microcirúrgicas.
Metodo
Realizamos um estudo retrospectivo de uma série
de casos, coletada no período de janeiro de 2011 a
fevereiro de 2014. Foram incluídos sequencialmente
todos os pacientes operados por técnicas de
microcirurgia, pelo autor sênior (C.P.P.), no período
supracitado. A análise dos dados foi montada na forma
de frequências absolutas e relativas.
Resultados
Foram realizadas 46 cirurgias no período de janeiro
de 2011 a fevereiro de 2014. Destes, 25 pacientes
eram do sexo masculino. A idade média era de 47,8
+/- 18,7 anos. A etiologia mais frequente (76%) foram
os tumores, malignos ou benignos (Figura 1). A maioria
das reconstruções foi tardia, isto é, realizada após o
tratamento da etiologia (Figura 2). A reconstrução mais
frequente foi aquela com retalhos livres (81%) (Figura
3). Em relação ao convênio, 44% eram do sistema
único de saúde (SUS), 28% do convênio UNIMED
e 28% particulares (o que poderia corresponder
a convênios/seguros com reembolso) (Figura 4). A
maioria dos procedimentos (88%) foram feitos em
hospitais universitários (Hospital de Clínicas de Porto
Alegre, Santa Casa de Porto Alegre e Hospital São José
de Criciúma) (Figura 5). Por fim, a especialidade que
mais encaminhou casos foi a CCP, seguida da ORL e da
cirurgia plástica (CIP) (Figura 6).
Conclusão
Discussão
2.Grotting JC, Urist MM, Madoox WA et al.
Conventional TRAM flap versus free mirosurgical
TRAM flap for immediate breast reconstruction.
Plast Reconstr Surg 1989; 83(5): 828-41.
A reconstrução microcirúrgica foi
principalmente para casos de tumores.
realizada
Referências
1. Wei FC, Suominen S. Principles and techniques
of microvascular surgery. In: Mathes SJ. Plastic
surgery. Philadelphia: Saunders; 2006. p. 507-38.
O sistema de atendimento da maioria dos pacientes
(56%) foi em caráter de medicina privada. Muitas
variáveis podem influenciar a estatística apresentada.
Entre elas, destaca-se falta de tempo de sala em
centros cirúrgicos, principalmente nas reconstruções
imediatas. Além disso, a remuneração pelo sistema
público, sem vínculo empregatício, é extremamente
3. Kroll S, Evans G, Goldberg D. A comparison of
resource costs for head and neck reconstruction
with free and pectoralis major flaps. Plast Reconstr
Surg 1997; 99(5): 1282-6.
4. Lima DA, Galvão MSL, Cardoso MM et al. Rotina
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Reconstruções Microcirúrgicas: Estudo Retrospectivo de uma Série de Casos.
de treinamento laboratorial em microcirurgia do
Instituto Nacional do Câncer. Rev Bras Cir Plast
2012; 27(1): 141-9.
5. Portinho CP, Ohana BMB, Sbalchiero JC et al. Ressecção
e reconstrução mandibular: análise de 85 casos. Rev
Bras Cir Cabeça Pescoço 2010; 39(2): 113-6.
6. LaQuaglia M, Upton J, May JW Jr. Microvascular
reconstruction of major arteries in neonates and
small children. J Ped Surg 1991; 26(9): 1136-40.
7. Portinho CP, Sbalchiero JC, Souza THS et al. Manejo
das fístulas em reconstruções
Endereço para correspondência
Rua Mostardeiro,5 – 1009 - Moinhos de Vento
CEP 90430001 - Porto Alegre – RS - BR
5199983979 / 5132112117
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