Comemoração dos 40 Anos das
Engenharias na Universidade de Coimbra!
Coimbra, 19 de Dezembro de 2012, Auditório da FCTUC
Sessão comemorativa - Programa!
!
!
Sessão de Abertura!
Reitor da Universidade de Coimbra
Ministro da Educação e Ciência
Presidente da Câmara de Coimbra
Bastonário da Ordem dos Engenheiros
Diretor da Faculdade de Ciências e Tecnologia da
Universidade de Coimbra
!
A criação das Engenharias na Universidade de Coimbra
– uma perspetiva histórica:!
Prof. João Manuel Cotelo Neiva
Prof. José Veiga Simão
Prof. José Simões Redinha
!
A criação das Engenharias na Universidade de
Coimbra: 40 anos ao serviço do país:!
Prof. Carlos Artur Trindade de Sá Furtado
!
Momento musical!
Cocktail de encerramento
1
Discursos Apresentados na
Sessão Comemorativa!
!
Prof. Doutor Luís José Proença de Figueiredo
Neves!
!
N.: Covilhã, 24 de Março de 1961.!
Doutor em Mineralogia, Petrologia e Geoquímica, Faculdade de Ciências
e Tecnologia, Universidade de Coimbra, 1991.!
Professor Catedrático do Departamento de Ciências da Terra da
Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra desde
2005.!
Director da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra desde 2011.!
!
Luís Neves
Há 40 anos o Decreto Lei n.º 259/72, de 28 de Julho, dispunha no
seu artigo 1.º: “A Faculdade de Ciências da Universidade de
Coimbra passa a denominar-se Faculdade de Ciências e
Tecnologia”; no Art.º 2.º “Na Faculdade de Ciências e Tecnologia
serão professados, além dos actuais cursos da Faculdade de
Ciências, também os cursos de Engenharia Civil, Engenharia
Mecânica, Engenharia de Minas, Engenharia Electrotécnica e
Engenharia Química, conforme os planos de estudo a fixar por
decreto; e no Art.º 3.º “A Faculdade compreende, quer no ramo da
ciência, quer no ramo da tecnologia, departamentos e serviços
científicos cujo número e funções serão especificados no seu
regulamento”.!
Nestes 3 artigos podemos encontrar, com redacção simples e
clara, a missão e a estrutura organizacional da actual Faculdade
de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Não
obstante duas importantes revisões estatutárias, em 1994 e em
2008, estas permanecem no essencial inalteradas, o que
comprova a visão e alcance com que o processo foi tratado em
1972.!
Ao longo destes 40 anos, perto de 11.000 profissionais
graduaram-se em cursos de Engenharia na Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, prestando um
contributo relevante à região e ao país, num tempo marcado por
grande aceleração do desenvolvimento (tabela 1). Orgulha-nos a
distinção de membro honorário que a Ordem dos Engenheiros
nos entendeu atribuir por ocasião do seu 75.º aniversário, e que
2
simboliza de forma clara o contributo prestado na formação de
profissionais qualificados na área da Engenharia.!
Actualmente permanecem na FCTUC os Departamentos de
Engenharia Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Minas,
Engenharia Electrotécnica e de Computadores e Engenharia
Química, os quais, em colaboração com os restantes seis
Departamentos de Ciências, asseguram a frequência de 33
cursos de licenciatura, mestrado e doutoramento, frequentados
por 4.000 alunos – mais de 50% do total de estudantes da
FCTUC e 1/6 do total de alunos da UC.!
Os Departamentos de Engenharia integram 215 docentes, mais
de 90% dos quais doutorados, distribuídos por uma dezena de
unidades de investigação reconhecidas pela FCT e avaliadas por
painéis internacionais com classificações de topo - 5 das quais
com Excelente. !
A excelência da investigação realizada é aliás bem traduzida num
ranking internacional, o Essencial Science Indicators, no qual
apenas são listadas 1% das melhores instituições mundiais em
cada área do conhecimento. Trata-se de um ranking de natureza
estritamente objectiva, o qual apenas entra em linha de conta com
o impacto dos trabalhos publicados em revistas internacionais,
aferido pelas suas citações. Neste ranking, e na área das
engenharias, a FCTUC surge na posição 346 entre as 1200
escolas listadas, as quais, reforço, correspondem já de si a
apenas 1% das existentes a nível mundial. !
No que respeita à inovação e transferência de conhecimento, tem
sido igualmente muito relevante o papel das Engenharias. Para
além de inúmeros contratos de prestação de serviços e projectos
de apoio a empresas que decorrem na Instituição, a actividade da
Universidade de Coimbra, e em particular das suas Engenharias,
contribuiu certamente para que a Região Centro tenha
recentemente integrado o mapa das mais inovadoras a nível
europeu e que a incubadora do Instituto Pedro Nunes atingisse
lugar cimeiro em rankings mundiais de base científica e
tecnológica. Para além da transformação do tecido empresarial da
região, são já vários os exemplos de empresas nascidas na
influência da Universidade que se notabilizaram a nível nacional e
internacional.!
Da esquerda para a direita: Sá Furtado,
Simões Redinha, Veiga Simão
São resultados de que globalmente nos podemos orgulhar,
obtidos em condições muito adversas. De facto, a crise chegou às
universidades há bastante mais tempo do que ao resto do país, e
a rentablização de recursos materiais e humanos não é novidade
na nossa acção. Na última década, a FCTUC reduziu em 20% o
seu corpo docente e em 50% o corpo não docente, ao mesmo
tempo que incrementou significativamente as actividades de
investigação e de transferência de conhecimento, bem como o
3
número total de alunos, agora com a exigência que decorre da
maior proporção dos que frequentam segundos e terceiros ciclos. !
Este esforço, contudo, começa a ficar limitado pelo significativo
envelhecimento do corpo docente, cuja idade média se situa já
nos 50 anos, o mesmo acontecendo no caso dos não docentes.
Situação, aliás, transversal às Instituições de Ensino Superior
nacionais. A renovação dos quadros no contexto da crise
económica que nos afecta é um desafio complexo, mas
certamente tanto mais difícil de vencer quanto mais tardiamente
for enfrentado. Desta renovação depende também a capacidade
do nosso país ultrapassar o desafio de transformar um tecido
económico ainda em boa parte baseado na mão de obra
desqualificada, num outro suportado pelo conhecimento avançado
e pela inovação. !
As Engenharias e a Universidade estarão seguramente à altura
deste desafio.!
O Director da FCTUC, !
Luís Neves!
Tabela 1 – Licenciados pré-Bolonha e Mestres de Bolonha
graduados na FCTUC entre 1972 e 2012.!
Curso
N.º graduados
Eng.ª Civil
3079
Eng.ª Electrotécnica/
Electrotécnica e
Computadores
2525
Eng.ª Mecânica
1655
Eng.ª Informática
1130
Eng.ª Química
1087
Eng.ª Geológica, Eng.ª
de Minas e Eng.ª
388
Geológica e de Minas
Eng.ª Biomédica
236
Eng.ª Física
221
Eng.ª Geográfica
203
Eng.ª do Ambiente
158
Eng.ª de Materiais
93
Eng.ª e Gestão Industrial
48
!
4
!
Prof. Doutor João Manuel Cotelo Neiva!
N.: Porto, 18 de Fevereiro de 1917.!
Doutor em Ciências Geológicas pela Universidade do Porto, em
Novembro 1944.!
Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de
Coimbra em 1949.!
Fundador da Sociedade Geológica de Portugal (1941), que dirigiu
durante alguns anos.!
Diretor do Museu e Laboratório Minerológico e Geológico (1950 – 1974).!
Diretor do Centro de Estudos Geológicos do Instituto de Alta Cultura
(1950 – 1975).!
Diretor da Faculdade de Ciências (1963 – 1971).!
Reitor da Universidade de Coimbra (1971 – 1974).!
Durante o seu reitorado ocorreu a transformação da Faculdade de
Ciências em Faculdade de Ciências e Tecnologia (1972).!
Membro efectivo da Academia de Ciências de Lisboa!
João Manuel Cotelo Neiva
!
!
Ex.mo Senhor Diretor !
da Faculdade de Ciências e Tecnologia Universidade de Coimbra!
17/12/2012!
Agradeço o convite de V. Exa. para participar na sessão
comemorativa dos 40 anos das Engenharias na Universidade de
Coimbra. É-me impossível estar presente por me encontrar
doente há perto de meio ano. Tenho muita pena de não poder
participar pessoalmente.!
Envio um pequeno texto com algumas considerações sobre a
criação das Engenharias na Universidade de Coimbra.!
Durante anos, trabalhei com vários Engenheiros Civis, pois de
1952 a 2004 fui geólogo consultor de diversas companhias
hidroeléctricas, depois fundidas na Electricidade de Portugal,
E.D.P., de companhias hidroeléctricas ultramarinas e dos Serviços
Hidráulicos, tendo efectuado reconhecimentos e estudos
geológicos dos terrenos de fundação de dezenas de barragens e
dos terrenos atravessados por grandes túneis de derivação em
Portugal, Ilha de S. Miguel, Angola, Moçambique e Espanha. Fui
também colaborador do Laboratório Nacional de Engenharia Civil
de 1962 a 1964.!
Trabalhei também com Engenheiros de Minas no estudo de
jazigos minerais, pois fui colaborador do Serviço de Fomento
Mineiro de 1945 a 1963.!
Dessas experiências de trabalho de colaboração surgiu-me a
ideia da criação dos cursos de Engenharia na Universidade de
5
Coimbra, pois então só existiam os cursos preparatórios, tendo os
alunos de ir frequentar os últimos anos no Instituto Superior
Técnico em Lisboa ou na Universidade do Porto.!
Como fui Diretor da Faculdade de Ciências da Universidade de
Coimbra de 1963 a 1971, pretendia fortalecê-la. A criação dos
Cursos de Engenharia era importante para esta Faculdade, para a
Universidade de Coimbra e para o País. Portanto, lutei pela sua
criação que se efectuou em 1972, quando eu era Reitor,
transformando-se a Faculdade de Ciências em Faculdade de
Ciências e Tecnologia. Foram criados os cursos de Engenharia
Civil, Engenharia Electrotécnica, Engenharia Mecânica,
Engenharia de Minas e Engenharia Química.!
Outros cursos de Engenharia foram criados posteriormente, como
a Engenharia Geológica cerca de 1980, a Engenharia Informática
e a Engenharia Física por volta de 1983, a Engenharia dos
Materiais cerca de 1990, a Engenharia Biomédica e Engenharia
do Ambiente por volta de 2001.!
Cerca de 2000, o Curso de Engenharia Electrotécnica mudou o
seu nome para Engenharia Electrotécnica e de Computadores.
Em 2001, os cursos de Engenharia Geológica e de Engenharia de
Minas foram fundidos num só curso.!
Durante estes anos, vários mestrados em Engenharia foram
efectuados e realizaram-se vários doutoramentos e provas de
agregação em Engenharia. O empenho dos docentes e das
autoridades académicas permitiram o fortalecimento da maioria
dos Cursos de Engenharia. Contudo, com a entrada do modelo de
Bolonha, em 2007, cessaram os primeiros ciclos em Engenharia
Geográfica, Engenharia Geológica e de Minas e Engenharia de
Materiais, que existem apenas como segundos ciclos e
doutoramentos.!
Os Departamentos de Engenharia possuem boas instalações e
estão equipados para as actividades docentes e de investigação
serem bem desenvolvidas.!
Desejo que todos os cursos de Engenharia existentes consigam
permanecer. Estou certo que a investigação científica em
Engenharia trará progresso para a nossa Faculdade,
Universidade de Coimbra e País.!
Relembro a necessidade dos Departamentos da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra contratarem
docentes jovens talentosos, pois o rejuvenescimento dos
Departamentos é essencial para o progresso do ensino e
investigação científica.!
Desejo a todos as maiores felicidades.!
6
!
!
!
Prof. Doutor José Simões Redinha!
N.: Condeixa, 19 de Outubro de 1927.!
Doutor em Química (Ph.D.) pela Universidade de Londres em 1958.!
Doutor em Ciências Físico-Químicas pela Universidade de Coimbra em
1959.!
Professor da Faculdade de Ciências e Faculdade de Ciências e
Tecnologia.!
Diretor da Faculdade de Ciências (1972 – 1974). Foi durante o período
em que esteve como Diretor da Faculdade que foram criados os cursos
de Engenharia e a Faculdade de Ciências passou a designar-se
Faculdade de Ciências e Tecnologia.!
Presidente do Conselho do Departamento de Química (1980 – 1984 e
1991 – 1994)!
!
José Simões Redinha
!
Nos quarenta anos da criação dos cursos de engenharia na
Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade de
Coimbra!
!
J. Simões Redinha!
!
[email protected]!
Agradeço ao Senhor Director da Faculdade o convite que me
dirigiu para proferir nesta sessão algumas palavras sobre a
história da criação dos cursos de engenharia na Universidade de
Coimbra.!
O Decreto-Lei 259/72, de 28 de Julho, fundou a Faculdade
Ciências e Tecnologia (FCTUC) na Universidade de Coimbra em
substituição da Faculdade de Ciências criada pela reforma
universitária de 1911. Com esta reforma a FCTUC passou a
dispor de cursos dedicados ao estudo da engenharia a par dos
cursos de ciências básicas a que se vinha dedicando desde o
últimos quartel do séc.XVIII. A FCTUC foi organizada em dez
departamentos, unidades de ensino e investigação, cada um
deles dedicado a uma determinada disciplina científica. Esta
organização administrativa conferia à Faculdade a capacidade
para selecionar as matérias a lecionar sem, limites de fronteira
imposto pelas áreas disciplinares convencionais. Os cursos
poderiam, deste modo, ser melhor adaptados à evolução da
7
ciência, ao interesse dos alunos e às necessidades da região e do
País.!
Esperava-se ainda que o regime experimental contribuísse para
estender a investigação a áreas de interesse prático mais
imediato, incentivasse a investigação da mais teórica à mais
aplicada e ao mesmo tempo definir uma política científica mais
útil. Efetivamente, a colaboração dos vários departamentos
pertencentes à mesma faculdade incentivaria os estudos mais
teóricos pela aplicação prática que lhes era dada e os mais
aplicados pelo aprofundamento da base científica em que
assentavam. Daqui resultaria ainda naturalmente a polarização da
atividade científica em torno de tópicos de maior interesse
nacional. Estas foram as linhas gerais do pensamento que levou
ao planeamento da FCTUC.!
!
Até aos finais de 1920, o ensino na Faculdade de Filosofia e
posteriormente na Faculdade de Ciências era marcado pela
erudição. Não havia investigação científica e as aulas eram a
transmissão de ciência feita contida nos compêndios. Esta era,
aliás, a característica da Universidade da sociedade agrária e
comercial do séc. XIX. Na segunda metade da década de
1920-30 gerou-se na Faculdade de Ciências da Universidade de
Coimbra um movimento de inconformismo contra o atraso da
ciência e o estado de abandono a que as universidades foram
votadas. O mais ativo do pequeno grupo de professores que
reclamavam condições de trabalho dignas para a sua faculdade
foi o professor de química, Doutor Egas Ferreira Pinto Basto. !
Estas, passavam pela aposta na investigação científica, o único
meio, dizia ele, capaz de tirar a Universidade daquele estado de
penúria e transformá-la numa instituição prestigiada. Os seus
relatórios enquanto Director da Faculdade de Ciências de 1927 a
1930 dirigidos ao Reitor, Domingos Fezas Vital, são peças
valiosas da história da ciência em Portugal. !
A acção de Pinto Basto não se limitou à fala e à escrita, deu o
exemplo pondo em prática o programa que advogava, ao enviar
para Inglaterra um assistente de física e outro de química que aí
se doutoraram. Um outro preparava já o seu doutoramento em
Paris. !
Este movimento teve origem na Faculdade de Ciências de
Coimbra e propagou-se a outras faculdades e universidades
portuguesas. Para mim, esta iniciativa foi das maiores
contribuições que a Faculdade de Ciências deu ao progresso da
ciência em Portugal, porque dele nasceram os primeiros centros
de investigação científica que se foram propagando pelo País.!
In memoriam de Pinto Basto, escreveu, em 1937, Eusébio
Tamagnini, Professor da Faculdade de Ciências da Universidade
de Coimbra e Ministro da Educação, o seguinte: Quando um dia
se fizer a evolução dos estudos superiores em Portugal se
8
apreciará devidamente o alcance das suas propostas para o
eficiente desenvolvimento da investigação.!
Trinta anos volvidos, após a publicação dos relatórios de Pinto
Basto, a Faculdade de Ciências dispunha de sectores com bom
nível científico, com centros de investigação dinâmicos que
atraíam os mais novos e que aí recebiam preparação para a sua
profissão e para seguir uma carreira de investigador. A
Universidade de Coimbra, teve, assim, uma ação relevante na
transição da universidade-ensino para a universidadeinvestigação.!
!
A Segunda Guerra Mundial deu um grande impulso à tecnologia.
A necessidade de inventar novas armas e aperfeiçoar as já
existentes, a necessidade de suprir a falta de matérias-primas
provenientes de territórios ocupados pelo inimigo, proporcionaram
grandes avanços tecnológicos. Terminada a guerra, uma pujante
tecnologia passou a estar, em grande parte, ao serviço de uma
sociedade próspera, consumista, empenhada na construção de
um mundo novo. Estávamos no auge da sociedade industrial, na
qual a universidade foi chamada a participar na primeira linha da
produção de bens. Ao lado do capital e de uma tecnologia com
recurso ao emprego de máquinas e de técnicos com formação
superior. O centro de gravidade da universidade passou para a
Faculdade de Ciência. !
As universidades não estavam preparadas para uma mudança
tão rápida e todos nos lembramos bem dos movimentos de
contracultura que incendiaram os maravilhosos anos de 60.!
No que diz respeito à Faculdade de Ciências da Universidade de
Coimbra, estes tempos encontraram-na com vários sectores de
bom nível científico, como já dissemos, mas não dispunha de uma
estrutura adequada aos novos tempos. Faltava-lhe um sector
mais voltado para a aplicação da ciência. !
A Faculdade ministrava na altura o ensino dos cursos
preparatórios para admissão às faculdades de engenharia. Findos
os preparatórios, que tinham duração de três anos, os alunos
tinham que ir para Lisboa ou para o Porto para aí completarem o
curso. E muitos, por vezes os melhores, ficavam na cidade onde
se formavam ou nas áreas de influência desta, perdendo o
contacto com Coimbra e com a região Centro. Coimbra acusava
já um menor ritmo de crescimento de profissionais de engenharia
relativamente a Lisboa ou Porto e até mesmo às regiões
limítrofes. !
Esta situação de escola preparatória estava a prejudicar a
Universidade, ao ponto de sentir dificuldades em recrutar os
melhores diplomados como assistentes. Os alunos naturais da
região centro, provenientes de famílias com menores recursos
económicos e que desejassem cursar engenharia, viam-se
impedidos de o fazer por não terem possibilidades económicas de
ir viver para longe da família.!
9
Apesar das desvantagens, o número de alunos que frequentavam
os “Preparatórios” de engenharia era elevado. Efectivamente, no
ano lectivo de 1971/1972, matricularam-se pela primeira vez na
Faculdade de Ciências 472 alunos, destes, 102 destinavam-se
aos cursos de ciências (matemática, física, química, geologia e
biologia) e 360 aos cursos de engenharia. Isto é 78% dos alunos
que se inscreveram pela primeira vez na universidade naquele
ano pretendiam vir a ser engenheiros. Estes números provam o
interesse despertado pela engenharia nessa altura e o peso que
estes alunos representavam na frequência da Faculdade. !
Uma reforma da Faculdade que pudesse oferecer licenciaturas
em engenharia, era necessária. Mas não só necessária, como
também a sua criação se revestia de grande urgência. Na
verdade, além das razões científicas e de desenvolvimento
regional apontadas, estava em marcha uma reforma das
faculdades de engenharia que viria a originar graves prejuízos
para a Faculdade e para a Universidade. Neste projeto de
reforma, concretizado no decreto 540/70, de 10 de Novembro, a
duração da licenciatura era encurtada de seis para cinco anos e
os preparatórios dados nas faculdades de ciências passavam de
três para dois. No terceiro ano dos novos cursos, além de
algumas disciplinas de ciências, havia outras para serem
leccionadas já nas faculdades de engenharia. A frequência dos
alunos de engenharia em Coimbra iria decrescer, pelo menos em
um terço, a avaliar pelo número de anos agora destinados aos
preparatórios. Mas a quebra seria com certeza muito maior,
porque era natural que um aluno se interrogasse sobre se
justificaria a ida para Coimbra apenas por dois anos, em vez de ir
logo directamente para a cidade onde tencionava terminar o
curso. Era, pois, importante não deixar enfraquecer a corrente de
alunos que procuravam Coimbra e dar aos que frequentavam o
segundo ano a garantia de aqui poderem continuar até à sua
formatura. O momento era crítico e exigia uma acção imediata.!
!
Dois modelos podiam ser seguidos para integrar os cursos de
engenharia na Universidade e dos quais havia exemplos pelo
mundo fora relacionados com a época em que as escolas foram
criadas e o modo como surgiram. Num deles, os cursos de
engenharia estavam agrupados numa faculdade própria. Este
modelo fora adotado numa época recuada em que ciência e a
tecnologia se encontravam separadas no tempo. As descobertas
científicas que iam surgindo ficavam a aguardar algum tempo até
serem aplicadas para fins práticos. Ciências e engenharia eram
duas unidades separadas e hierarquizadas cujos conteúdos iam
sendo combinados para resolver os problemas levantados pelo
avanço da sociedade. Um outro modelo consistia na existência da
engenharia e das ciências numa faculdade única que coordenava
os dois domínios. Era uma visão moderna por deixar de haver
razão para distinguir os fundamentos e as aplicações da ciência.
10
A separação passara a ser meramente convencional e a sua
coexistência fortalecia qualquer deles.!
Nunca houve qualquer hesitação quanto à preferência por esta
última solução. Além das razões de natureza pedagógica e
científica apontadas, havia outras que a recomendavam como a
maior flexibilidade na estrutura e o menor custo de instalação e
manutenção. Os laboratórios serviriam para os vários tipos de
cursos, a aparelhagem podia ser utilizada por alunos e
investigadores quer de ciências quer de engenharia.!
!
Desde logo se teve a noção que o problema da inserção das
ciências e engenharia na mesma faculdade dava uma dimensão à
FCTUC que obrigaria, mais tarde ou mais cedo, a uma revisão da
inserção desta numa universidade com a rigidez administrativa e
constituída por sectores com interesses muito heterogéneos,
como a Universidade de Coimbra. A dependência da Faculdade
da Universidade não podia retirar àquela a visão da evolução
científica, a sensibilidade para se aperceber dos problemas e a
agilidade para os resolver com rapidez. Um novo modelo de
gestão da Faculdade, aliás previsto no decreto, era necessário e
urgente.!
!
Em Setembro de 1970, a Faculdade dirigiu ao Ministério
da Educação Nacional, um pedido para a criação dos cursos de
engenharia integrados na Faculdade de Ciências, fundamentando
o pedido nas vantagens que adviriam para a Universidade, a
Faculdade, a região centro do País e para os alunos naturais
desta região. Juntavam-se argumentos sobre a assinalável
capacidade científica de que a Faculdade dispunha para acolher
os novos cursos. !
O processo administrativo foi decorrendo normalmente e por Abril
de 1972 o projeto de decreto-lei estava concluído. Foi longo o
tempo que mediou entre a conclusão do texto da reforma e a
publicação em decreto o que só veio a acontecer a 28 de Julho de
1972. Esta demora criou-nos algumas preocupações, apesar da
confiança que depositávamos no Ministro da Educação, sempre
atento aos problemas da Faculdade. Mas havia compromissos
morais de várias ordens com os alunos e com professores que
haviam sido contactados para vir para a Universidade de
Coimbra. Com o ano lectivo prestes a terminar, vivemos esse
tempo sob uma certa ansiedade. Finalmente no último conselho
de ministros antes das férias grandes o decreto foi aprovado e
publicado.!
Por feliz acaso a criação da FCTUC pode ser tomada como ato
comemorativo da Reforma Pombalina. Pelas datas, os dois
acontecimentos podiam ser correlacionados. De facto os novos
estatutos da célebre reforma foram entregues à Universidade na
Sala dos Actos em 29 de Setembro de 1772 pelo Marquês de
Pombal nomeado Visitador por carta régia, e o decreto que criou a
11
FCTUC foi publicado a 28 de Julho, duzentos anos depois. Ambos
se enquadram no mesmo espírito, o de assegurar as condições
para a atualização da ciência. Não haveria, portanto, forma mais
digna de lembrar a memorável reforma universitária.!
Criada a FCTUC, um grande número de problemas teriam que ser
resolvidos em escassos três meses: recrutamento de pessoal
docente, aquisição e montagem de laboratórios, procura de
instalações provisórias e local para a instalação definitiva da
Faculdade, entre muitos outros. Tempo demasiado curto, tarefas
pesadas e delicadas a exigirem atenção redobrada. Não devemos
esquecer que os erros cometidos na fase de arranque de uma
instituição podem ter reflexos que afetam a sua vida por muito
tempo, senão mesmo comprometer os objectivos que levaram à
sua fundação. !
Uma das tarefas era a de conseguir pessoal docente para a área
da engenharia. O plano que foi traçado apostava na preparação
de assistentes que revelassem qualidades, qualificá-los em
universidades portuguesas e estrangeiras e introduzi-los no
quadro do professorado. Não parecia aconselhável recorrer ao
convite de professores de outras universidades, já em fase
adiantada de carreira, para levar a cabo a reforma porque nessas
condições e idade as pessoas não manifestam entusiasmo por
alterações de rotina. Todavia, era necessário um professor para
cada especialidade para lhe entregar as tarefas de instalação e
orientação científica do respetivo departamento. E por aí nos
ficaríamos na fase inicial.!
Um influente professor americano, na viragem do séc. XIX para o
séc. XX, Bancroft, dividiu os professores universitários em dois
grupos: “diligent accumulators” e “ inspired guessers”.
Desejaríamos trazer para Coimbra, nesta fase de arranque do
projeto, um professor para cada departamento de engenharia,
mas que fosse uma pessoa voltada para o futuro e não alguém
que procurasse instalar uma faculdade moldada pelo passado.
Em boa verdade, alguns dos que foram chamados realizaram um
excelente trabalho num período curto.!
!
No ano lectivo de 1972/73, o terceiro ano de engenharia
foi frequentado por 247 alunos, com a seguinte distribuição:
engenharia civil 73, mecânica 46, eletrotécnica 91, química 36 e
minas 1. Durante este ano lectivo, procedeu-se à aquisição de
equipamento e instalação de laboratórios didáticos. A faculdade
ficou colocada neste aspeto dentre as escolas melhor
apetrechadas em equipamentos de engenharia, quer em
quantidade, quer em qualidade. Logo nesse ano, funcionaram
dois projetos de investigação científica do Instituto de Alta Cultura,
um em engenharia química, outro em engenharia mecânica.
Alguns assistentes tinham já o processo de equiparação a
bolseiro organizado para a sua especialização em escolas
estrangeiras.!
12
Um outro problema complexo e que se revestia da maior
importância para o futuro da escola, era o da instalação da nova
faculdade. Os departamentos da Faculdade de Ciências estavam
a ser instalados no complexo universitário da Alta de Coimbra.
Alguns edifícios foram construídos de raiz, outros foram
adaptados, os da Física e Química aguardavam a conclusão. Não
havia espaço disponível para instalar a engenharia, nem o local e
os edifícios se adequavam às exigências destes cursos que
necessitavam de espaços especiais para estaleiros, oficinas,
instalações piloto, etc.!
A teimosia em implantar as ciências na cidade universitária da
alta, contra a opinião de professores atentos à evolução da
ciência, foi altamente prejudicial à Universidade, por tornar
impossível ampliações para fazer face às exigências que
inevitavelmente iriam surgir pela evolução científica.!
Era imprescindível que a nova faculdade fosse implantada num
único espaço como dissemos. Por isso, este aspeto esteve no
pensamento da direção desde que surgiu a ideia de estender a
sua ação à engenharia. Com a ajuda de Costa Lobo, Professor do
IST, pessoa ligada à Faculdade de Ciências onde o avô e o pai
foram professores e que na altura era diretor do plano de
urbanização de Coimbra, chegámos à conclusão de que o lugar
ótimo para a instalação da faculdade seria a Quinta da Portela.
Este plano acolheu a aprovação do Senado. Iriam começar as
diligências para a aquisição naquela área de 40 hectares de
terreno.!
O programa que se pensava seguir era o de iniciar a construção
dos edifícios necessários ao ensino dos cursos especializados de
ciências e de engenharia e dos laboratórios de investigação. A
parte propedêutica manter-se-ia na Alta, até chegar a sua vez de
ser transferida para a Portela. Com a ajuda, direi providencial, do
Ministro da Educação, os cursos de engenharia foram
provisoriamente instalados na Quinta da Nora, em edifícios
destinados ao Instituto Superior de Engenharia, tendo-se
procedido à construção de mais dois pavilhões custeada pela
Faculdade.!
A preocupação de não retirar unidade à Faculdade, levou-nos a
escrever no “Prospecto da Faculdade de 1973/74” o seguinte: na
impossibilidade de ficarem junto dos departamentos da faculdade
já existente, os departamentos de engenharia foram instalados na
Quinta da Nora, no Calhabé, e aí terão de funcionar até ser
possível a sua mudança para local adequado e com dimensão
suficiente, não só para este sector, como ainda para os demais
serviços que a Faculdade venha a necessitar.!
Ciência e tecnologia caminhavam para uma íntima aproximação,
deixando de haver distinção entre si, o que estava a dar uma
outra feição ao mundo. Uma nova sociedade era já anunciada por
filósofos e sociólogos no dealbar dos anos setenta, a qual foi
caracterizada por Daniel Bell, Professor da Universidade de
Harvard, no seu livro “The Coming of Post-Industrial
13
Society”,publicado em 1973. Na Sociedade Pós-Industrial, a
economia está dependente das ideias, o lugar do capital passa a
ser ocupado pelo conhecimento, o da fábrica pela escola, o da
experimentação e empirismo pela teoria. O mercado deixou de
estar confinado a espaços protegidos e passou a ser um mercado
globalizado.!
A FCTUC dispunha de potencialidades científicas para poder
progredir mais rapidamente do que lhe prometiam os projetos
financiados pelo Instituto de Alta Cultura e o escasso número de
professores do quadro docente da altura. O desenvolvimento da
investigação científica era uma diligência fundamental para que a
faculdade pudesse manter a posição de vanguarda que
alcançara. Na verdade a ligação da universidade moderna à
atividade económica fazia com que os meios postos à sua
disposição passassem a ficar na dependência da riqueza da
região em que se inseria. Coimbra encontrava-se já em perda de
importância económica relativamente não só a Lisboa e Porto,
cidades universitárias importantes, como até a outras cidades
com instituições universitárias recentes. Havia, sem demora, que
dar concretização a potencialidades que a faculdade possuía nos
vários sectores científicos.!
Do plano de modernização a levar a cabo fazia parte a criação de
um instituto interdisciplinar de investigação que tinha como
objetivo promover e coordenar a investigação nos sectores mais
ativos da faculdade e participar em atividades de pós-graduação.
O instituto passaria a dispor de uma quadro de investigadores
qualificados que conjuntamente com os professores da Faculdade
que nele viessem a tomar parte o tornariam num polo científico da
maior importância para a Universidade de Coimbra.!
O “Instituto de Investigação na Radiação e Matéria”, como fora
designado na proposta de estatutos que haviam sido submetidos
a aprovação superior, chegou a figurar nos planos de
investimento do Instituto de Alta Cultura. O projeto foi esquecido
após a revolução de 1974.!
!
Os resultados que se conseguiram num tempo relativamente
curto só foram possíveis mercê de fatores favoráveis e da ajuda
de instituições e pessoas que aqui quero lembrar.!
O governo de 1970-74 acreditava realmente no papel que a
educação desempenha no progresso económico-social da
população. Merece ser incluído na pequena relação dos governos
que tiveram esta visão ao longo da nossa história e o único que
conheci durante os sessenta e um anos que levo de vida
universitária. A educação era, nessa ocasião, tema de discussão
a nível da Assembleia Nacional, das escolas e do público em
geral. Gerou-se, como nunca, um clima favorável ao
desenvolvimento da educação. No ensino superior criaram-se
novas universidades, escolas orientadas para a melhoria de
ensino e de apoio à tecnologia. Das várias ações que foram
14
tomadas, saliento o investimento feito na ciência com a criação de
projetos de investigação e formação de investigadores. Em dois
anos 70-72 o investimento em I&D passou de 0,26 para 0,38% do
PIB. Nesta atmosfera favorável, a Faculdade pode ainda contar
com a ajuda do Professor Veiga Simão, Ministro da Educação e
distinto professor da Casa. Cotelo Neiva foi sempre um entusiasta
da reforma que apoiou como professor e como reitor da
universidade. Também o Subdirector da Faculdade, Dr. Ribeiro
Gomes, foi sempre um colaborador leal e que nos prestou uma
valiosa ajuda e o conselho escolar de então sempre deu sempre o
seu apoio incondicional às medidas que foram tomadas. !
É ainda de salientar a admirável integração dos professores que
vieram para Coimbra e o trabalho assinalável que aqui realizaram.
Portugal atravessava um período de progresso económico. O
crescimento a partir dos anos sessenta era notável, atingindo em
1970 o valor de 7,9% do PIB, o mais elevado de todos os países
da Europa Sul. A época era de esperança. Cheguei a sentir inveja
dos que então iniciavam a sua carreira, mal sabendo o que lhes
estava reservado.!
Quando eclodiu a Revolução de 74, decorria o quarto ano dos
cursos de engenharia. A reforma ia no seu segundo ano, vivia-se
ainda a azáfama de instalação de laboratórios e as aulas
decorriam normalmente e com bom nível científico. Muitos se
lembrarão da agitação política e social que se verificou em todo o
País. O populismo invadiu a Universidade, paralisando a sua
atividade científica durante três anos. Os cursos que estavam a
ser ministrados na “Quinta da Nora” deixaram as instalações e
vieram para a Alta, partilhar com as ciências o espaço disponível.!
A destruição foi ao ponto do Ministro da Educação do 1º Governo
saído da Constituição de 1975 afirmar que a tarefa que o
aguardava era a de construir um edifício em ruínas. !
Para pôr ordem no funcionamento da universidade o ministro
tomou as seguintes medidas: demitiu o Reitor Teixeira Ribeiro em
Setembro de 1976 e, por despacho de 26 de Abril de 1977,
mandou suspender as aulas da Faculdade de Ciências e
Tecnologia, encarregando a direção desta de tomar as medidas
necessárias para assegurar o normal funcionamento da escola.
Como esta se mostrou incapaz de o fazer, o ministro encerrou
todas as instalações universitárias a 13 de Maio, a fim de
proceder a uma consulta por escrito aos estudantes. Perante a
resposta destes, exprimindo o desejo de ver a Universidade a
funcionar dentro das normas legais, esta foi reaberta a 16 de
Junho. Os cursos de engenharia passaram, pois, por uma prova
de fogo e só conseguiram sobreviver por estarem integrados
numa faculdade suficientemente forte para resistir aos
desmandos.!
!
A vida escolar regressou a um estado de normalidade sob o ponto
de vista formal, mas sem capacidade para se libertar daqueles
que tanto mal lhe haviam causado e que se mantiveram a ocupar
15
lugares de gestão, adaptando-se à evolução do tempo, até
porque as obrigações académicas pouco os atraíam. Entretanto,
não ouvimos falar mais do Instituto de Investigação nem de novas
instalações. Só em 1980 se começou a pensar nisso. Mas estas
destinavam-se exclusivamente à engenharia e os departamentos
de ciências iriam permanecer na Alta. Cremos que a influência de
professores da engenharia na reitoria de então tê-la-iam levado a
esta decisão. E a agravar esta mudança de rumo, acresce ainda
que, não tendo conseguido uma verba especial para as
construções, a Reitoria destinou o PIDDAC de toda a Faculdade
para esse efeito. A química não tinha sido apetrechada aquando
da sua entrega e assim se manteve pelos anos fora com graves
reflexos para o nível do ensino.!
Os departamentos de engenharia foram-se transferindo para o
Pólo II durante os anos de 1990, o último deles foi o de
Engenharia Química, em Março de 1999. As Ciências e a
Engenharia estavam separadas, e para vincar bem a separação,
os primeiros constituíam o Pólo I e os últimos os Pólo II. A
orientação inicial do projeto sofrera uma alteração radical. A
ligação entre os dois pólos é fraca e do que me apercebo não vai
muito além da vinda de alguns professores de ciências (Pólo I)
para dar aulas de disciplinas básicas no Pólo II. Naturalmente
criaram-se problemas complicados com laboratórios,
equipamentos e colaboração científica.!
Os recursos científicos da FCTUC são grandes. Nos dez anos
que decorreram entre 2002 e 2012 os departamentos da FCTUC
publicaram 8407 trabalhos em revistas internacionais de grande
exigência científica, dando lugar a 73.513 citações, ou seja, 8,74
citações por trabalho. É um capital valioso em qualquer parte,
precioso para Portugal e merecedor da maior atenção por parte
dos governantes. !
Mas se a produção científica é de per si indicadora do elevado
nível de cada departamento, ela não tem o mesmo impacte na
vida do País como se resultasse da colaboração entre vários
departamentos. Aos realizados nos de ciências puras,
faltar‑lhes‑á direção para lhes dar utilidade mais imediata, aos
produzidos na engenharia faltar-lhes-ão raízes que os tornem
potencialmente mais fortes. Compete à Faculdade dar-lhe estas
feições. E o melhor meio de o fazer é através do entrosamento
dos vários departamentos.!
Tenho a certeza de que o Director da Faculdade e o Reitor da
Universidade não deixarão de envidar todos os esforços para
resolver os problemas que se forem levantando como dignos
portadores das credenciais que lhe foram entregues por uma
instituição com os pergaminhos que tem a Universidade de
Coimbra.!
!
16
Prof. Doutor José Veiga Simão!
José Veiga Simão
N.: Guarda, 13 de Fevereiro de 1929.!
Doutor em Física Nuclear (PhD), Univ. de Cambridge, Cavendish
Laboratory, 1957.!
Doutor em Ciências Físico-Químicas, Faculdade de Ciências, Univ. de
Coimbra, 1957.!
Professor Catedrático da Univ. de Coimbra, desde 1961, até à sua
jubilação em 1992.!
Reitor da Universidade de Lourenço Marques, Moçambique, 1963 a
1970.!
Presidente do Laboratório Nacional de Engenharia e Tecnologia Industrial
- LNETI, de 1978 a 1983 e 1985 a 1992.!
Governador da Agência Internacional de Energia Atómica das Nações
Unidas, 1982.!
Doutor Honoris Causa pela Universidade de Witwatersrand,
Johannesburg, África do Sul, pelo Lesley College, Cambridge, USA e
pelas Universidades de Aveiro e Minho.!
Presidente do Conselho de Avaliação da Fundação das Univ.
Portuguesas, 1993 a 1997.!
Ministro da Educação Nacional, 1970 a 1974.!
Embaixador de Portugal nas Nações Unidas, 1974 a 1975.!
Ministro da Indústria e Energia, 1983 a 1985.!
Ministro da Defesa Nacional, 1997 a 1999!
!
!
COMEMORAÇÕES DOS 40 ANOS!
CURSOS DE ENGENHARIA!
FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA!
UNIVERSIDADE DE COIMBRA!
São passados 40 anos após a criação dos cursos de Engenharia
Civil, Engenharia Mecânica, Engenharia de Minas, Engenharia
Electrotécnica e Engenharia Química na Faculdade de Ciências,
que passou a designar-se por Faculdade de Ciências e
Tecnologia. Introduziu-se pela primeira vez nessa Faculdade a
estrutura departamental. !
Esta criação, em 1972, integrou-se nos princípios da Reforma
Educativa dos anos 70, sujeitos a debate nacional no ano de 1971
e teve lugar logo após medidas estruturais relacionadas com as
carreiras docente e de investigação universitárias, a equiparação
de doutoramentos obtidos em universidades estrangeiras, o novo
regime de doutoramento e reformas de planos curriculares, de
entre os quais os das engenharias, das ciências, da economia e
das ciências sociais. !
Antecedeu, assim, diplomas globais relacionados com a Reforma
do Sistema Educativo e, em particular, com o Ensino Superior,
designadamente a Lei de Bases do Sistema Educativo e o
17
decreto-lei da Expansão e Diversificação do Ensino Superior
publicados em 1973. O projecto de Decreto-Lei de Orientação do
Ensino Superior que definia o modelo orgânico e o modelo de
governo das Universidades foi enviado para a Presidência do
Conselho de Ministros em 16 de Março de 1974; mas não chegou
a ser aprovado, sendo motivo de controvérsia.!
Era difícil compreender que na Universidade de Coimbra nos
anos 70 não se cultivassem, entre outros, cursos de Engenharia,
de Economia e Ciência Sociais, de Administração e Gestão, e,
bem assim, cursos de Psicologia e de Ciências da Educação e de
Educação Física… Ao contrário muitas das universidades
congéneres europeias nascidas no e após o Século XIII já
ministravam esses e outros cursos. !
Cotelo Neiva, Reitor em 1972 e um dos maiores reitores da
Universidade de Coimbra, numa carta que me escreveu em 21 de
Janeiro de 1986 fez uma resenha das realizações concretizadas
entre Outubro de 1971 e 25 de Abril de 1974 e das iniciativas em
vias de conclusão como a Faculdade de Psicologia e Ciências da
Educação e a Escola Superior da Educação Física.!
O ano de 1972 ficou marcado pela criação dos cursos de
engenharia e da economia.!
Para a criação desses cursos, como Ministro da Educação
Nacional contei com o apoio inteligente e competente do Reitor
Cotelo Neiva, protagonista de um processo dinâmico e coerente
de modernização da nossa Universidade, acompanhado de
realizações sociais de vanguarda. No caso dos cursos de
engenharia o Reitor foi secundado pelo então director da
Faculdade de Ciências, Doutor Simões Redinha, meu
companheiro na licenciatura em Ciências Físico-Químicas,
distinto obreiro da Universidade de Lourenço Marques, estrénuo
defensor da nova Faculdade de Ciências e Tecnologia, de que
veio a ser o primeiro director. Após um percurso com avanços e
recuos a Ciência e a Tecnologia passou a ter na Universidade de
Coimbra uma componente imprescindível de ensino e
investigação, directamente relacionados com o desenvolvimento,
satisfazendo assim uma velha aspiração do Conselho da
Faculdade de Ciências e do Senado.!
As razões para a decisão política são conhecidas. O preâmbulo
do Decreto-Lei menciona que o nosso País necessita em vários
domínios de cientistas e técnicos altamente qualificados para
satisfazer as necessidades emergentes do seu desenvolvimento
económico e social e realça que já eram professados na
Faculdade de Ciências os dois primeiros anos de engenharia,
obrigando os alunos a terminarem os cursos na Universidade do
Porto e na Universidade Técnica de Lisboa, cujas escolas já
estavam superlotadas. Os cursos eram, também, essenciais ao
18
cumprimento de objectivos de política e desenvolvimento
regionais.!
Nesse âmbito a criação dos cursos de engenharia foi acolhida
com grande júbilo pela cidade de Coimbra, dando origem a uma
moção de regozijo da Câmara Municipal da cidade e a
pronunciamentos de apoio de várias entidades sociais, culturais e
económicas do centro do País.!
Acontece, porém, que, ao contrário do que se pode julgar, nem
tudo foram facilidades, sendo o projecto de Decreto-Lei objecto de
contestação por ilustres professores de reconhecido prestígio da
nossa Universidade, levando mesmo a que alguns escrevessem
cartas ao Presidente do Conselho protestando não abertamente
contra a criação dos cursos de engenharia mas contra a sua
organização departamental, considerada como nefasta à gestão
da Universidade, ao mesmo tempo que se aproveitava a
oportunidade para condenar a experiência da Universidade de
Lourenço Marques em relação à participação estudantil em
órgãos do governo universitário. A organização departamental era
considerada como prenúncio dessa participação.!
É justo recordar ainda os depoimentos marcantes dos alunos de
engenharia desta Faculdade por altura das comemorações dos 25
anos; e é grato constatar em 2012 que a criação da Faculdade de
Ciências e Tecnologia se traduziu num inequívoco sucesso,
apresentando hoje uma das mais atractivas e qualificadas ofertas
formativas a nível de licenciaturas, mestrados e doutoramentos e
uma intensa actividade de investigação em múltiplas áreas do
conhecimento. !
Ao mesmo tempo não devemos esquecer que o nascimento da
Faculdade de Ciências e Tecnologia ficou, em grande parte, a
dever-se à visão dos mestres de uma Escola Moderna da Ciência,
de que foram activos intérpretes Couceiro da Costa, Andrade
Gouveia, Almeida Santos, Cotelo Neiva e Pinto Coelho, e, bem
assim, à influência do modelo anglo-saxónico e da variante
americana no binómio ensino-investigação e aos frutos colhidos
na experiência de aposta na juventude obtendo doutoramentos
nas melhores universidades europeias e americanas, programa
que foi ensaiado com notável êxito na Universidade de Lourenço
Marques.!
Registe-se que no período pós-Abril não deixou de haver
tentativas, felizmente frustradas, para a extinção dos cursos de
engenharia.!
O equilíbrio entre a tradição e a modernidade nunca foi de fácil
gestão na sociedade portuguesa.!
!
19
Meus Caros Amigos: !
E agora? O ano de 72 e o ano de 2012 são naturalmente
diferentes na natureza e na dimensão dos problemas para os
quais o “engenho” dos portugueses procurou ou procura
soluções. Ambos se identificam como prelúdios de mudanças
políticas, económicas e sociais no nosso País. E, se nos
restringirmos ao ensino superior o ano de 72 caracteriza-se como
ano preliminar de uma expansão e diversificação significativas,
resultantes de estudos sócio-económicos e de planeamentos
integrados em Planos de Fomento que permitiram equacionar e
escolher decisões fundamentadas.!
!
No seguimento de um debate nacional, de análises comparativas
internacionais e de pronunciamentos de personalidades de
grande prestígio, foi definida em 1973 uma rede de universidades,
institutos politécnicos e escolas normais superiores, colocados
estrategicamente em diversas regiões. Os “pacotes curriculares” e
os seus conteúdos eram elaborados por comissões instaladoras
representativas do poder académico e das comunidades
circundantes, pretendendo-se evitar sobreposições que não se
justificassem por estudos prospectivos do desenvolvimento
económico e cultural. !
!
O abandono destes princípios e o predomínio da “iniciativa
voluntarista” sobre a “iniciativa estratégica” determinou uma
“explosão descontrolada de instituições e cursos” que, por razões
múltiplas, - demográficas, económicas, sociais e culturais –
necessitam de uma racionalização através de fusões, de alianças
estratégicas, de consórcios ou de acordos protocolares. Um
desafio que só poderá ter uma solução sustentada e sustentável
se houver uma “visão estratégica” para o futuro do nosso País.!
As Universidades e as instituições do ensino superior devem
assumir a liderança neste processo, em articulação com outras
instituições da sociedade civil, de modo que o “economicismo
político” não se sobreponha ao “humanismo de vidas dignas de
serem vividas”, num ordenamento do território que equilibre o
Homem e a Natureza. É, pois, altura de dar maior visibilidade aos
princípios da Magna Carta das Universidades Europeias.!
Mas então, qual é o impacto deste desafio para a Universidade de
Coimbra, para a Faculdade de Ciências e Tecnologia e, em
particular, para as ciências de engenharia? A resposta a esta
pergunta leva-nos a outras: “Qual acontribuição que poderão dar
os cursos de engenharia para o desenvolvimento do País na
sociedade do conhecimento? Qual o seu peso na
interdisciplinaridade dos saberes e da inovação aberta? Quais os
20
reflexos para o desenvolvimento da região Centro, sem esquecer
a universalidade e internacionalização do conhecimento? Afinal,
que se pode fazer perante a crise? !
Para responder a estas questões encontrei uma oportuna
reflexão, proclamada na Sala dos Capelos da nossa Universidade
pelo Prof. Doutor Bernardino Machado em 16 de Outubro de
1904, na sua oração de sapiência. Disse ele: Lá fora vai a
derrocada financeira? Dissipam-se improdutivamente os
impostos, acumulam-se só deficits sobre deficits no Tesouro, e o
dinheiro não chega para o mais pequeno melhoramento, para
acudir às necessidades públicas mais instantes, nem sequer à
indigência, à orfandade, como o deve fazer toda a nação, em
massa, e como o exigem os sentimentos compassivos do coração
português, que, por mais paciente que seja, não pode ver
desperdiçados os nossos bens e em perigo a saúde e o futuro
dos nossos filhos sem que o atravessem irreprimivelmente os
rebates da revolta e da raiva?!
E continua: Pois tão pouco há cá dentro (da Universidade)
dinheiro bastante para nada, e biblioteca, gabinetes e museus,
laboratórios, observatórios, jardim botânico, hospital da nossa
Universidade, debatem-se, quando mesmo não agonizam, na
mais tormentosa penúria?!
A resposta, é dada por Bernardino Machado: Uma Universidade é
um laboratório, uma oficina modelo, onde professores e
discípulos, como verdadeiros operários e aprendizes, não têm por
ocupação consumir ideias, mas produzi-las.!
Nesta altura de uma crise no País, quase de sobrevivência, a
Universidade, e em particular a Faculdade de Ciências e
Tecnologia, devem produzir ideias que sejam sementes de
esperança.!
A Faculdade de Ciências e Tecnologia está numa posição
invulgar: apresenta hoje realizações na vanguarda da sociedade
do conhecimento oferecendo condições para a dinamização de
Hélices Triplas que associem Instituições Públicas, as Empresas
e a Universidade (em sentido lato) em espaços de cooperação,
abandonando práticas redutoras de esferas de competência. Na
verdade são altamente significativos e de grande mérito o roteiro
de “spin offs” da Universidade e Coimbra, a qualidade promissora
das patentes, o culto de inovação aberta e do empreendedorismo,
deixando-nos a sensação de que uma cooperação mais intensa
dos saberes intra-muros, projectaria a Universidade de Coimbra
para um papel de inquestionável liderança.!
Como está a cidade a reagir a este desafio e como as políticas
públicas regionais constrangem ou facilitam estratégias
21
empresariais inovadoras? É um assunto a merecer análise
aprofundada enquadrado numa perspectiva territorial mais ampla.!
Meus Caros Amigos:!
Apesar dos regionalismos naturais penso que estão criadas
condições para um diálogo entre a Universidade de Coimbra, a
Universidades de Aveiro e a Universidade da Beira Interior, os
Institutos Politécnicos de Viseu, da Guarda, de Castelo Branco e
de Leiria e para que em conjunto, possam desencadear um
Programa que associe o litoral ao interior e contribua de forma
significativa para o desígnio nacional de aumentar o grau de
orientação exportadora do nosso País dos actuais 36% do PIB
para valores similares aos dos países de idêntica dimensão da
União Europeia, que variam entre 50 e 80%. Trata-se de um
desafio para uma década, determinante do futuro para o Estado
Social em Portugal.!
Tenho confiança no papel desta nossa Faculdade e da
Universidade de Coimbra.!
!
!
Prof. Doutor Carlos Artur Trindade de Sá
Furtado!
N.: Vila Nova de Paiva, 30 de Junho de 1934.!
Licenciado em Engenharia Electrotécnica pela Universidade do Porto
(1957).!
Doutor em Física (D. Phil) pela Universidade de Oxford (1971).!
Professor Catedrático Jubilado da Universidade de Coimbra.!
Presidente do Conselho Directivo da Região Centro da Ordem dos
Engenheiros (1992 – 1995).!
Eleito Presidente do Conselho Diretivo da FCTUC, em 1 de Fevereiro de
1996.!
Actualmente, desempenha o cargo de Director da ARCA – EUAC (Escola
Universitária das Artes de Coimbra).!
!
Carlos Sá Furtado
A evolução das Engenharias na Universidade de Coimbra: 40
anos ao serviço do País!
Carlos Sá Furtado!
A FCTUC quis hoje, em sessão solene, comemorar os 40 anos da
sua criação. Decidiram, e muito bem, o seu Diretor Doutor Luís
José Proença de Figueiredo Neves, a quem agradeço a subida
distinção do convite para usar da palavra, acompanhado pelos
restantes órgãos da Faculdade, que assim se fizesse. A
22
Faculdade guarda a sua memória, honra-a reflectindo sobre ela, e
neste rememorar se fortalece e retempera para dar resposta às
dificuldades e incomodidades dos tempos presentes e garantir a
continuidade segura dos caminhos do futuro. Bem vai a instituição
que se recorda, se analisa e se avalia, sinal da sua fortaleza,
certeza e confiança nas suas virtualidades, nas suas
potencialidades. Acredita em si que é condição de pôr os seus
méritos e capacidades ao serviço dos outros, da Comunidade de
que faz parte.!
Na caminhada segura e fecunda destes 40 anos, muitos foram os
que deram um contributo valioso para o êxito alcançado. A todos
presto o meu preito de homenagem e apreço. É, porém, a todos
os títulos, justo e apropriado, ninguém o poderá contestar,
destacar três vultos que emergem, destacados, pela sua visão
criadora, pela sua iniciativa ponderada, pela sua diligência
inteligente, pelo seu cuidado sagaz. São eles, todos o sabemos: o
Doutor João Manuel Cotelo Neiva, o Doutor José Veiga Simão, e
o Doutor José Simões Redinha. Nunca é demais elogiá-los e
mostrar-lhes a nossa muita consideração e reconhecimento. Aqui
o faço, exprimindo-lhes o preito da minha muita admiração e
respeito.!
Com brevidade, ensaiarei uma digressão histórica, temperada
com algumas reminiscências. Espero não desmerecer da
confiança que o Senhor Diretor da Faculdade Doutor Luís Neves
em mim depositou, dirigindo-me o honroso convite de proferir uma
evocação a propósito da feliz efeméride que comemoramos e que
aqui nos reúne.!
A Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de
Coimbra vai buscar as suas raízes bem longe no tempo, através
de uma evolução continuada, concertada com as exigências
culturais e sociais da Universidade de Coimbra e da Sociedade
Portuguesa. !
A fusão, resultante do decreto com força de lei de 19 de Abril de
1911, das Faculdades de Filosofia e de Matemática, nascidas da
Reforma do Marquês de Pombal, fez nascer a Faculdade de
Ciências da Universidade de Coimbra. Os cursos preparatórios
para admissão na Faculdade de Engenharia do Porto, os
chamados Preparatórios de Engenharia, são instituídos e
regulamentados pelo Decreto n.º 24396, de 22 de Agosto de
1934. Até então, a Faculdade ministrava cursos que habilitavam
para a frequência posterior da Faculdade Técnica do Porto e do
Instituto Superior Técnico de Lisboa. !
A necessidade de uma Faculdade de Engenharia na Universidade
de Coimbra é, pela primeira vez, exposta em Conselho Escolar da
Faculdade de Ciências, a 27 de Abril de 1960. Os professores
membros do Conselho encontram-se divididos: uns defendem a
23
criação de uma Faculdade de Engenharia, ao passo que outros
advogam a integração dos cursos de Ciências e Engenharias
numa só Faculdade. !
Foi, todavia, necessário esperar mais de uma década, até 1972.
De novo, a polémica atrás referida veio à baila. No seio do
Conselho Escolar, vieram a terreiro argumentos e contraargumentos, não foi pacífica a escolha do tipo de estrutura a criar.
Uns defendiam uma Faculdade de Engenharia, a exemplo da
Universidade do Porto, outros a integração dos novos cursos
numa única entidade. Ganhou esta tendência, consagrando assim
esta ideia nova e frutuosa da junção numa só unidade orgânica
dos cursos de Ciências e de Engenharia, o que entre nós
constituiu iniciativa pioneira. !
A carta, a bula instituidora foi o Decreto-Lei nº 259/72, publicado
no Diário do Governo de 27 de Julho de 1972. Os seus grandes
impulsionadores foram o Doutor José Veiga Simão, então Ministro
da Educação, o Doutor João Manuel Cotelo Neiva, Reitor da
Universidade de Coimbra e o Doutor José Simões Redinha,
Diretor à época da Faculdade de Ciências. Foram decidida e
decisivamente apoiados pelo Conselho Escolar, órgão supremo
de governo da Faculdade, sendo, de entre os seus membros,
justo destacar pelo seu envolvimento o Subdiretor Doutor António
Ribeiro Gomes.!
Revisitemos o Decreto-Lei nº 259/72, de 28 de Julho de 1972. No
seu artigo 1º, estabelece: A Faculdade de Ciências da
Universidade de Coimbra passa a denominar-se Faculdade de
Ciências e Tecnologia. Deste modo estava criada a FCTUC. O
Artigo 2º dizia que “Na Faculdade de Ciências e Tecnologia serão
professados, além dos actuais cursos das Faculdades de
Ciências, também os cursos de Engenharia Civil, Engenharia
Mecânica, Engenharia de Minas, Engenharia Electrotécnica e
Engenharia Química, conforme os planos de estudo a fixar por
decreto”.!
Foi inovador este decreto-lei por juntar Ciências e Engenharias na
mesma unidade orgânica universitária, o que, entre nós, constituiu
uma novidade, e por, pela primeira vez legalmente introduzir o
conceito e instituir o departamento, unidade, e cito, onde se
processa o ensino e a investigação científica de um dado ramo de
conhecimento.!
Os cursos criados foram os das engenharias consagrados entre
nós, juntando-nos como terceira faculdade do País, depois da
Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto e do Instituto
Superior Técnico, da Universidade Técnica de Lisboa, a ministrar
os cursos de Engenharia Civil, Engenharia Eletrotécnica,
Engenharia Mecânica, Engenharia Química e Engenharia de
Minas.!
24
A caminhada da FCTUC tem sido um êxito, alicerçado no esforço,
no trabalho, na persistência e devoção de várias gerações. Nisso
firmemente acredito e defendo como pretendo a seguir evidenciar.
Se o não conseguir a mim inteiramente se deve, podem crer,
falhar no cometimento!
Criados, como já dito, os cursos nos finais de julho de 1972,
começaram a ser ministrados no Outono seguinte. Ora, milagres
ninguém os faz…. Isto só foi possível graças a uma programação
atempada e a diligências que ao tempo tinham já sido iniciadas.
Se muitos deram o seu contributo e esforço para este sucesso,
estes conseguimentos, justo e elementar é destacar a dedicação
e esforços do Doutor José Simões Redinha. !
A Direção da Faculdade preocupou-se e encontrou as formas de
dar resposta às exigências essenciais e programáticas dos
departamentos de Engenharia, lançando desde logo os seus
alicerces, as suas linhas de desenvolvimento. Estabeleceu e deu
realidade a um plano de formação de doutores, futuros
professores, contratando jovens e talentosos licenciados que,
sem detença, foram preparar as suas teses para centros
universitários estrangeiros de qualidade. Confiou a gestão
corrente dos departamentos a professores qualificados, com
delegação de competências bastantes e adequadas ao
desenvolver das actividades e dos planos estabelecidos.
Encontrou instalações na Quinta da Nora que, na transitoriedade
assumida da sua ocupação, foram adaptadas às necessidades
lectivas mais instantes. Equipamento, livros e revistas
começaram, desde logo, a ser adquiridos. Com o recrutamento de
pessoal administrativo, técnico e auxiliar estavam preenchidas as
condições que possibilitaram a afirmação e o desenvolvimento
dos Departamentos.!
Arrancaram assim as aulas em instalações, ainda em arrastada
construção, destinadas ao Instituto Industrial de Coimbra e que
seriam transitoriamente ocupadas. !
Na estratégia adotada, destaco pelo seu acerto e lucidez, a
decisão de cometer a responsabilidade dos cursos e o
lançamento dos departamentos a personalidades criteriosamente
escolhidas. Foi assim que à testa da Engenharia Civil ficaram o
Engenheiro Laginha Serafim e o Doutor Vítor Graveto, da
Engenharia Mecânica o Engenheiro Janeiro Borges, da
Engenharia Química o Doutor Tavares da Silva, da Engenharia de
Minas o Doutor Carmona da Mota e da Engenharia Eletrotécnica
este vosso amigo que agora está no uso da palavra. !
Assim se fez, e logo se iniciaram as aulas, a tempo e a horas, há
40 anos, nesse ano de 1972/73, que hoje rememoramos.
Matricularam-se no 3º ano das engenharias, o ano escolar que
correspondia à real existência, em Coimbra, dos cursos de
25
Engenharia os seguintes alunos: Engenharia Civil, 83; Engenharia
Eletrotécnica, 102; Engenharia Mecânica, 54; Engenharia
Química, 27; e Engenharia de Minas,1. No total, 267 alunos. O
curso de Engenharia Metalúrgica também foi criado, mas
descontinuado em 1974/75, por falta de frequência. !
O período subsequente à Revolução de 25 de Abril foi palco de
transformações profundas em toda a sociedade portuguesa Os
mais velhos o recordam. A instituição universitária foi, porventura,
onde as mutações ideológicas com reflexo a nível do poder e dos
comportamentos tiveram maior alcance e amplitude. A isso não
ficou incólume a nossa Faculdade, com profunda perturbação no
seu funcionamento. Assim, muito naturalmente, os planos
estabelecidos para os departamentos nascentes das Engenharias
foram questionados e alterados. !
Muitos foram os que pensaram que os cursos de Engenharia,
onde em grande parte se situaram as perturbações intra-muros
vivenciadas, não sobreviveriam. Alguns chegaram a pensar em
terminar com eles. Responsáveis, e importantes, houve que, por
ser, assim o diziam, Coimbra uma universidade tradicional,
porventura tradicionalista, alguns diziam humanista para
fortalecerem a sua oposição e má-vontade, a que, como
argumento à mão, acresciam a inexistência de indústria
significativa à sua volta, sem esquecerem as circunstâncias
recentes da agitação, defenderam pôr termo a essas
excrescências que eram as Engenharias. Que sim, que estas
deveriam acabar. Para concretizar tão nefando intento, houve,
então, propostas de um numerus clausus de zero. Nenhum novo
aluno deveria entrar. Cortava-se o mal pela raiz. Cauteloso e
avisado foi o ministro de então, Doutor Sottomayor Cardia, que a
tanto não chegou e por isso agora o recordo. Prudentemente
fixou, em 1977/78, veja-se a Portaria nº 634-A, de 4 de Outubro,
um numerus clausus global de 50 para todos os cursos de
Engenharia.!
Ora, certo é que se enganaram e redondamente, dando razão aos
fundadores nas esperanças que puseram na nossa FCTUC. Se
não vejamos. Estamos em 1974 e foi decidido abandonar as
instalações da Quinta da Nora, por serem destinadas ao Instituto
Industrial de Coimbra, hoje ISEC. Os cursos de Engenharia e os
respectivos departamentos nascentes foram generosamente
acolhidos nos edifícios da Alta, sediados por departamentos das
Ciências, nomeadamente os da Física e da Química. O programa
de formação dos doutorados sofre alguma perturbação, não
tardando, todavia, a ser retomado e reforçado.!
Ultrapassados os tempos convulsos pós-Revolução de Abril, a
Faculdade e os departamentos de Engenharia iniciaram uma
normalidade sustentada, que sempre significou progresso e
desenvolvimento, sempre continuados e permanentes. Momentos
26
houve, iniciativas, realizações tiveram lugar com cunho marcante,
representando transições que importa mencionar. Destaco duas
ocorrências a ser assinaladas nesta trajetória de 40 anos. A
primeira, altamente significativa pelo que representa de confiança
e esperança no futuro, o que se encontra demonstrado à
saciedade: a criação do Departamento de Engenharia Informática,
em 1995, por iniciativa de professores oriundos do Departamento
de Engenharia Eletrotécnica. A segunda, refere-se à adaptação
necessária, imposta por imperativo de afirmação e de qualidade
que foi o de, na reestruturação orgânica da FCTUC, criar o
Departamento de Ciências da Terra com inclusão aí da
Engenharia de Minas. !
Uma breve síntese diacrónica farei agora para evidenciar o muito
que foi andado, iniciado, desenvolvido, nestes 40 anos que são
passados.!
Novas instalações eram imprescindíveis. Mesmo antes da criação
da FCTUC, o Reitor Cotelo Neiva e o Conselho Escolar da
Faculdade sob a égide do Diretor Simões Redinha pensaram e
tomaram a iniciativa de encontrar um amplo terreno, com 40
hectares, para expansão da Faculdade. Depois, logo em 1978,
iniciativas dos órgãos da Faculdade tiveram acolhimento junto do
Reitor Férrer Correia para se iniciar o processo de identificação
da localização e ulterior compra dos terrenos, com a
indispensável inscrição orçamental. Tal só veio a acontecer com o
Reitor Rui de Alarcão, seguindo-se a adjudicação de projectos e
construção dos edifícios dos departamentos das Engenharias, no
que veio a ser o Pólo II. Tal se tornava imperioso para a afirmação
e expansão dos departamentos de Engenharia, e do mesmo
passo para a libertação de espaços imprescindíveis ao correto e
justo desenvolvimento dos departamentos do Pólo I, na Alta,
entretanto diminuídos de áreas que lhes eram indispensáveis.!
A partir dos finais da década de 70, a evolução dos
departamentos de Engenharia realizou-se em todas as suas
componentes de modo firme e continuado. !
Os departamentos de Engenharia, primeiro como estruturas
informais, depois formal e estatutariamente, foram
acompanhando, ao longo dos anos, os figurinos e funcionamentos
desenhados pela mutante legislação. Até Abril de 1974, a sua
gestão foi da responsabilidade da Direcção da Faculdade. Logo a
seguir ao 25 de Abril, o seu governo foi confiado a uma Comissão
de Gestão constituída por docentes, alunos e funcionários, que
passa, em 1976, a ser regulado pelo Decreto-Lei n.º 781-A/76, de
28 de Outubro, sob a forma de secções autónomas. Mais tarde
pelo Decreto-Lei n.º 66/80, de 9 de Abril, foram criados, a partir de
1981, legal e formalmente os departamentos de Engenharia.
Posteriormente, no seguimento da Lei da Autonomia Universitária
e da aprovação dos Estatutos da Universidade de Coimbra e do
27
Regulamento da Faculdade, foram, em 1994, publicados os
regulamentos dos departamentos. Presentemente, a gestão está
definida pela Lei nº 62/2007, de 10 de Setembro de 2007 (Regime
Jurídico das Instituições do Ensino Superior).!
A evolução foi assinalável, pode-se dizer sem exagero nem
vaidade. Começo por olhar ao número e qualificações dos
professores. Inicialmente, já o referi, os departamentos de
Engenharia iniciaram a sua actividade com um número muito
reduzido de doutorados. Não podia ser doutro modo; não existiam
sequer em todo o Portugal em número suficiente. Nos primeiros
anos, contando bem, haveria nos cinco departamentos de
Engenharia, ora criados, quatro doutorados. O ensino era
assegurado praticamente por assistentes não doutorados com o
contributo valioso dos professores dos departamentos de
Ciências, que muito generosamente ministraram muita da carga
letiva. Paulatina e seguramente, a formação de pessoal docente
foi assegurada e impulsionada, o que possibilitou alcançar-se o
número de hoje de 205 doutores. Assistentes não existem
presentemente em três dos cinco departamentos, havendo 8 num
e 1 noutro.!
Em 1980, havia 14 professores e 90 assistentes; em 2000, os
números eram de 125 professores e 118 assistentes; agora são
225 e 9, respetivamente. Em percentagens crescentes, os
professores preenchem 13%, 51% e 96% dos postos letivos. A
política de recrutamento e formação do corpo docente, sólida e
bem estruturada, com o envio de jovens e promissores
licenciados para reputadas Universidades estrangeiras, de início
gizada e executada, resistiu, e bem, às convulsões próprias da
Revolução de Abril e à perspectiva posterior da extinção das
Engenharias em Coimbra. A semente e o chão eram bons e
propiciaram uma progressão permanente e segura.!
!
Os alunos eram, nos primeiros tempos, nos cinco anos dos
cursos de Engenharia, à roda dos 1700, registando-se um
crescimento significativo, que se cifra actualmente à roda dos
3700, mais do dobro do início.!
Em 1972/73, ano da fundação, iniciaram-se 6 cursos de
licenciatura: os cinco correspondentes aos departamentos, mais
ainda o de licenciatura em Engenharia Metalúrgica, não previsto
no decreto-lei fundador. Teve este vida curta, por falta de procura,
não chegando a haver licenciados. Em 1974/75, saem os
primeiros licenciados, que nos primeiros anos foram de uns 170
engenheiros. Este número foi crescendo, sendo ultimamente à
roda de 360, mais do dobro do inicial, o dos engenheiros
formados. O total dos diplomados em Engenharia, desde o início
até hoje, foi superior a 10 000. !
28
Os departamentos de Engenharia englobam uma variedade de
áreas tecnológicas cada vez mais essenciais ao bem-estar da
sociedade e ao desenvolvimento do País. Em todos estes
sectores tem-se verificado uma evolução tecnológica acentuada,
o que se traduz na necessidade de preparar os futuros
engenheiros não só com a capacidade de dominar o presente
estado do conhecimento, mas também de ter conhecimentos
profundos em áreas de base - em particular de Matemática e
Física - que lhes permitam ir fazendo uma atualização progressiva
de conhecimentos ao longo da sua carreira profissional. Os
planos de estudos sucessivamente adotados procuraram, em
cada momento, atender à inclusão dos avanços tecnológicos mais
recentes, dando lugar cimeiro à consolidação da preparação nas
áreas básicas. !
Nunca os cursos de Engenharia deixaram de acompanhar, tantas
vezes liderar, as transformações, oficial ou socialmente
recomendadas e de modo a adaptá-los às tendências modernas
das especialidades. Foi o que, recentemente em 2007/2008, de
novo aconteceu com a adoção dos mestrados integrados para
seguir as determinações legais emergentes do processo de
Bolonha. Os propósitos, os objectivos iniciais foram mantidos,
aliando os cursos a exigência de uma sólida formação teórica a
uma segura capacidade de intervenção no concreto. !
!
Falarei agora de investigação e desenvolvimento experimental.
Naturalmente que, nos primeiros anos, a investigação não poderia
institucionalizar-se, pela óbvia e simples razão de não haver
professores doutorados em número suficiente. Mas a política de
formação de doutorados, a política das pedras vivas de que falava
António Sérgio, foi desde a primeira hora, como já disse, rota de
rumo, prioridade das prioridades. E, muito naturalmente, deu os
seus frutos. Em 1980, 8 anos não eram passados após o
lançamento das Engenharias, foi oficialmente reconhecido e
criado o primeiro centro de investigação do INIC, a que os demais
em breve se vieram juntar. Nunca os professores deixaram de se
organizar e colaborar nas instituições de investigação, com
diferente estatuto e orgânica, que as políticas nacionais definiam
e possibilitavam. Poderei afirmar, julgo sem o risco de ser
contestado, que nunca houve atrasos nem demoras em colher
das circunstâncias e das oportunidades vigentes o melhor que
poderia servir uma actividade fecunda, consequente e de máxima
oportunidade e vantagem para a afirmação e prestígio da
Faculdade e da Universidade. Os resultados aí estão, claros e
iniludíveis: no momento presente, os professores das
Engenharias exercem o seu mester de investigadores em muitas
unidades de investigação e associações para a inovação em
ciência e tecnologia. São em número de 16 estas instituições de
investigação, onde, poder-se-á afirmar, todos os grandes temas
29
de Engenharia são abordados e tratados. Aí são desenvolvidos
projetos financiados por empresas, organismos públicos nacionais
e pela Comunidade Europeia. Estes projetos, que envolvem
alunos finalistas, de doutoramento e de pós-graduação, têm
proporcionado excelentes oportunidades para realizar trabalhos
de nível avançado como resposta às necessidades do mundo
empresarial. A crescente internacionalização dos projetos de
investigação e desenvolvimento que envolvem os nossos alunos
aparece também como urna oportunidade estratégica para lhes
proporcionar uma experiência potencialmente útil para a carreira
futura. !
Em consequência da crescente capacidade de investigação,
conquistada e reconhecida, são publicadas, em 1983, portarias
que permitem a atribuição do grau de doutor nas diversas
Engenharias. Os primeiros doutoramentos, baseados em
orientação e trabalho internos ocorrem em 1985. Gradualmente, a
formação pós-graduada de assistentes no estrangeiro foi
perdendo expressão, para passar a ter lugar maioritariamente
entre nós. Também, neste domínio a afirmação se foi
robustecendo e alargando. Presentemente, estão inscritos para
doutoramento nas diversas Engenharias 356 alunos, 264 no 3º
ciclo (regime de Bolonha) e 92 no regime pré-Bolonha, o que bem
patenteia o extraordinário progresso verificado. !
Nos incertos e inquietantes tempos que vivemos, esperemos bem
que haja a clarividência, a lucidez, a visão de os decisores
políticos para que seja continuado e intensificado o esforço
nacional em investigação e desenvolvimento experimental, que
haja o mínimo de bom senso e de desígnio patriótico para ser
seguido o único caminho capaz de pôr o País no trilho do
desenvolvimento humano sustentado, o único que há, que é o da
Ciência e da Tecnologia.!
O Ensino e a Investigação praticados pelas Engenharias
alcançaram um elevado patamar de internacionalização, que
beneficia e propicia em muito a sua reconhecida qualidade.
Portugal é membro desde 1986 da União Europeia. Esta
realidade, a que se junta a livre concorrência de produtos e bens,
fez com que o mercado de trabalho dos engenheiros se tivesse
progressivamente internacionalizando, o que incentiva a ajustar
os nossos níveis de ensino aos níveis das melhores escolas
europeias. !
Os nossos alunos têm tido igualmente um envolvimento crescente
nos programas de mobilidade de estudantes da União Europeia
(ERASMUS, SÓCRATES, LEONARDO). É gratificante verificar o
excelente desempenho dos nossos alunos quando frequentam
universidades europeias de prestígio, que se tem traduzido na
obtenção de elevadas classificações. Igualmente animador tem
sido, por parte das instituições onde os nossos alunos trabalham
30
e estagiam, o reconhecimento da qualidade da sua formação. A
propósito, faço votos, no que certamente todos estão de acordo,
de que o programa ERASMUS não seja descontinuado, antes
reforçado, pela Comunidade Europeia.!
A participação em projectos internacionais de I&D, em redes de
cooperação internacionais e em programas de intercâmbio de
estudantes garantem uma evolução progressiva dos
departamentos de Engenharia, aproximando-os de escolas
congéneres no estrangeiro. !
O envolvimento dos alunos em actividades de formação inseridas
em redes internacionais, através do Board of European Students
of Technology (BEST), contribui também para a recolha de
experiências importantes e positivas.!
Ainda, uma faceta a destacar, a merecer encarecimento e realce
é atestada pelos muitos prémios nacionais e estrangeiros
atribuídos a docentes e alunos.!
O terceiro grande tema que me proponho tratar respeita à Ligação
e Serviços á Comunidade. Multímoda e polivalente tem sido a
afirmação dos departamentos e professores de Engenharia nos
diferentes e variados aspectos que informam as suas
intervenções e cooperações sociais.!
Desde logo, permito-me referir uma, que embora marginal à sua
missão específica, cabe na sua contribuição como parte da
Universidade. É o do impulso importante que deram à expansão
urbanística de Coimbra. A construção do Pólo II representa uma
extensão significativa e de qualidade da zona urbana da Cidade.
Acresce, o que não é coisa de pouca monta, os propósitos que
houve e há, o bom exemplo de construir Universidade e Cidade
interligadas, harmoniosamente entremisturadas, seguindo o
modelo conseguido das antigas cidades universitárias europeias
entre as quais Coimbra se encontrava. Ainda, aspeto a
reconhecer, plano de pormenor e edifícios exibem a assinatura de
grandes arquitetos portugueses contemporâneos, que merecem
atenção no mundo da arquitetura internacional.!
Regressando ao que é específico, próprio da essência da
instituição universitária. Os professores das Engenharias têm
dado contributo visível e útil nas suas intervenções pública e
cívica, seja a nível nacional seja a nível internacional. Tem
constituído uma mais-valia a realçar, sobretudo quanto à
satisfação de exigências e necessidades da Região. Participam,
através da gestão, da consultoria e do projeto, numa imensa
variedade de setores a nível do Estado, das autarquias, das
empresas e organizações, em muito contribuindo para a
afirmação da Universidade e da Região, em vertentes que, de
outro modo, ficariam sem qualquer expressão, pois que, é de
31
todos bem sabido, a Engenharia propicia contributos para a
Sociedade que são insubstituíveis. Não vai sem referir os muitos
congressos e conferência internacionais levados a cabo sob a
égide das Engenharias que trouxeram prestígio, visibilidade e
ganhos para a Universidade e para a Cidade.!
Importa dar especial e elevado relevo à criação de empresas por
parte de professores e diplomados das Engenharias, as
denominadas “spin-offs”. Muitas foram aquelas que saíram deste
ambiente de trabalho, de formação para a vida e de espírito
empreendedor. A revitalização do tecido empresarial que se vem
afirmando em Coimbra, é em grande parte resultante desta
realidade.!
Neste domínio, o Instituto Pedro Nunes, cuja incubadora em
actividade desde 1996 alcançou, recentemente (2010), o 1º Lugar
no concurso mundial “Best Science Based Incubator Award”,
muito justa e naturalmente se destaca. A sua criação e gestão
muito deve, embora não só, ao espírito de iniciativa e de
empenhamento dos professores das Engenharias.!
Até 2010, o IPN apoiou a criação e desenvolvimento de mais de
170 projectos de base tecnológica ou inovadora com resultados
nacional e internacionalmente reconhecidos, destacando-se uma
taxa de sobrevivência das empresas criadas superior a 80%. Em
2010, o volume de negócios foi superior a 75 M€, dos quais 35%
exportações, e o emprego direto, muito qualificado, era superior a
1600 postos de trabalho.!
Está a Faculdade seguramente atenta a que o desenvolvimento
futuro das Engenharias é, por um lado condicionado pela
evolução tecnológica e por outro lado pela globalização dos
mercados, seja do emprego, seja dos produtos manufacturados.
São, pois, exigentes os tempos que correm e os que estão para
vir. Daqui, não deixar de ser preocupante a falta continuada de
recrutamento de novos professores. Na Faculdade, de 2000 a
2011, o decréscimo de professores foi de 20%. Durante os
próximos 15 anos, 202 professores atingirão o limite de idade. Só
para repor o número actual de professores, será necessária uma
contratação média de 14 professores por ano. Este desiderato é
um imperativo nacional, se quisermos manter a esperança de um
futuro digno.!
Eis, pois, neste meu descolorido e desgracioso esquisso, o que
foi a vida dos departamentos de Engenharia desde a sua
fundação. Muito mais, e seguramente melhor, se poderia dizer
sobre o que foram estes 40 anos das Engenharias em Coimbra.
Procurei apontar o que de mais significativo me pareceu. Ficaram,
certamente por referir acontecimentos, pessoas, êxitos e também
desilusões. Que não me levem a mal e me perdoem.!
32
Afirmar que não houve evolução, que a resposta da Universidade
de Coimbra às exigências dos tempos e da Sociedade foi de
paralisia é, julgo estar patente no que relatei, negar o Sol em dia
de Agosto. O sonho alicerçado pelo realismo, a ambição
perseverante estruturaram uma realidade forte, viva, os
departamentos de Engenharia, que, apesar das muitas
vicissitudes desfavoráveis continuam firmes e decididos a dar o
seu contributo para o desenvolvimento, engrandecimento e
dignidade de Portugal.!
33
Download

Engenharias na FCTUC - Universidade de Coimbra