ASPECTOS HISTÓRICOS DA PEDAGOGIA, SUA TRAJETÓRIA NO
ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO: CRIAÇÃO DAS FAFIS NO
CONTEXTO PARANAENSE
VERGOPOLAN, Roseli – FAFIUV1
[email protected]
Eixo Temático: História da Educação
Agência Financiadora: não contou com financiamento
Resumo
Este texto é parte integrante da dissertação de mestrado intitulada Reconstrução Histórica do
Curso de Pedagogia da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de União da
Vitória PR (FAFI/UV): 1956-1971. O objeto da referida pesquisa é o curso de Pedagogia,
dessa instituição de ensino superior. Para tanto, tem como objetivo delinear os aspectos
históricos do ensino superior, cenário em que foi cunhado o curso de pedagogia e, também,
onde se configurou as relações estabelecidas nos diferentes momentos históricos, entre elas a
criação das FAFIs. Com efeito, aqui apresentaremos apenas os pontos principais ao que se
refere aos aspectos históricos da pedagogia, sua trajetória no ensino superior brasileiro e
contexto da criação das FAFIs no contexto paranaense. O estudo ora apresentado segue uma
abordagem qualitativa e de cunho bibliográfico, que posteriormente contará com os seguintes
instrumentos de coleta de dados: análise documental a partir de fontes primárias e
secundárias, entrevista semi-estruturada, conversas informais e registro da memória
educativa. O estudo contribui para a compreensão da complexidade da história da educação
nacional, sendo tema constante de diversos estudos particularizados. Como tal insere-se na
História das Instituições Escolares e na História da Educação Brasileira paranaense. Percebeuse que a cidade de União da Vitória tinha importância, pois, era um município emergente na
região sul do Paraná. À época havia a necessidade social de se instituir um curso superior.
Com o apoio do governador do Paraná, foi criada a referida faculdade estadual isolada no ano
de 1956; no entanto, só efetivou-se em 1960. As práticas pedagógicas seguiram a legislação
brasileira e determinaram a formação de professores para toda a região. É importante destacar
que essa pesquisa está em andamento.
Palavras- Chave: História da Educação Paranaense. Ensino Superior. Curso Pedagogia.
1
Pedagoga. Professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, junto à rede pública de União da Vitória - PR.
Professora do Colegiado de Pedagogia da FAFI/UV. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da
Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação: teoria e prática
(GEPE). E-mail: [email protected] .
5233
Introdução
Esta pesquisa tem como tema aspectos históricos da Pedagogia, sua trajetória no
ensino superior brasileiro: criação das FAFIS no contexto paranaense.
Entendemos que uma instituição escolar origina-se a partir de uma necessidade
humana, em que os homens em busca de trabalho, também procuram um lugar para seus
estudos e de sua família. Investigar a história da criação do curso Pedagogia, pois, significa
averiguar a necessidade social que o criou e o manteve em longa atuação; significa, ainda,
verificar suas mudanças e permanências, além de revelar as funções sociais que exerceu.
A opção pelo tema deu-se pelo fato da Faculdade Filosofia Ciências e Letras de União
da Vitória PR, que abriga o Curso de Pedagogia, haver completado 50 anos de existência em
2010, e ainda não ter um estudo relativo ao curso de Pedagogia, principalmente durante seu
período de implantação.
Como podemos ressaltar em coaduno com Saviani (2007, p.25) o estudo acerca de
uma instituição escolar envolve diversos aspectos de suma importância “a tradição
(memórias), a bibliografia selecionada, a prefiguração (planejamento) das ações, os modelos
pedagógicos, os estatutos, o currículo e a disposição dos agentes”. São estes elementos que
buscaremos capturar e encadear no desenvolvimento de nossa pesquisa.
O recorte temporal escolhido que vai do ano de 1956 a 1971, se deu pelo fato do curso
de Pedagogia passar por período de intensos debates em busca de sua identidade, deste modo
ocorreram várias tentativas para sua efetivação, culminando em implementações de leis e
decretos e pareceres para superar o impasse. Neste período foram hasteados os pareceres
251/62, o qual se organizou o esquema 3+1 e reforma universitária a Lei 5540/68, onde
aconteceram muitas mudanças no ensino superior. Alvitra então o parecer 252/69, onde
estabeleceram as habilitações técnicas.
Em 1971 reformou-se então a LDB 4024/61 e
consagrou-se a Reforma de Ensino de 1º e 2º graus a Lei n. 5692/71, a qual influenciou todo
sistema de ensino brasileiro, por mais de duas décadas.
A pesquisa ora apresentada segue uma abordagem qualitativa e de cunho
bibliográfico, que posteriormente contará com os seguintes instrumentos de coleta de dados:
análise documental a partir de fontes primárias e secundárias, entrevista semi-estruturada,
conversas informais e registro da memória educativa.
5234
Este trabalho será dividido em dois momentos onde serão pontuadas as seguintes
proposições: no primeiro momento apresentaremos alguns marcos, que contribuíram para a
gênese do ensino superior no Brasil, e como adveio a criação do curso da Pedagogia no
cenário educacional; em seguida se elencará motes relevantes do surgimento das FAFIs, no
Estado do Paraná, e no município de União da Vitória, este fato se deu concomitantemente
com a criação da Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras e o Curso e Pedagogia.
Aspectos históricos da Pedagogia, sua trajetória no ensino superior brasileiro
Ao encetarmos este estudo pretendemos apresentar o histórico do curso de Pedagogia,
no cenário brasileiro desde sua gênese, com esta finalidade recuperaremos seis marcos
importantes do ensino superior em nosso país, embasados por Cunha (1986), Bissoli da Silva
(2006) e Saviani (2008).
O marco inicial da educação superior no Brasil, bem como a criação dos primeiros
cursos não teológicos na Colônia, ocorreu quando da transferência da família real portuguesa
para o Brasil, tendo D. João VI instalado a sede do império de Portugal, na Colônia, em 1808,
situada na província do Rio de Janeiro. Tal fato é demarcador da necessidade de se criar
condições para que os filhos da nobreza e de senhores feudais abastados, que dantes
encaminhavam seus filhos para o estudo na Corte Portuguesa e Europa, pudessem no Brasil
iniciar e concluir o ensino superior nas áreas consideradas distintas para aquele contexto
histórico: Medicina, Engenharia e Direito. Houve necessidade de mudar o sistema
educacional para adequação da corte real. Entretanto, o investimento fora relevante na área do
ensino superior, com professores estrangeiros que formavam para área da medicina, advocacia
e engenharia.
Assim, inicialmente os cursos superiores brasileiros formavam médicos, engenheiros e
advogados. Cunha (1986, p. 175) pontua que:
Os profissionais liberais eram formados por acréscimo a essas funções principais. Os
engenheiros, os médicos, os advogados, os arquitetos, os agrônomos, os químicos,
etc... podiam se estabelecer e vender seus serviços a quem os procurasse [...] De
1891 até 1910, foram criadas no Brasil 27 escolas superiores: 9 de Medicina,
Obstetrícia, Odontologia e Farmácia, 8 de Direito, 4 de Engenharia, 3 de Economia
e 3 de Agronomia.
5235
No ano de 1834 conforme o artigo 10º do ato adicional da Constituição Imperial
competia às províncias o direito de legislar sobre a instrução pública exceto no ensino
superior que ficou a cargo do poder central.
Outro marco na educação brasileira foi à criação do Colégio D. Pedro II no ano de
1938 que tinha objetivo de servir de modelo para os demais colégios no Brasil. Fischer (2006)
expõe que o ensino superior brasileiro nos primeiros anos da República foi caracterizado pela
falta de zelo do poder central e pela presença da iniciativa privada, sobretudo para facilitar a
sua ampliação o que era um universo descontínuo disperso pelo território nacional.
Pode ser considerado o terceiro marco, a constituição do ensino superior e de
indivíduos capazes de discutir e criar as ideologias brasileiras foram genitoras de movimentos
e idéias renovadas. Assim, a década de vinte foi marcada por diversos fatos relevantes na
história da educação brasileira tais como a Semana de Arte Moderna (1922), congregadoura
de intelectuais como Lourenço Filho, Anísio Teixeira, Francisco Campos, Fernando de
Azevedo, Mario de Andrade, entre outros.
O sistema educacional brasileiro, com o refletir a profundidade e as inconsistências
das mudanças sociais e econômicas ocorridas no país, a começar de 1930, expandiu-se por
pressão de uma demanda efetiva. Essa expansão, no entanto, não refletiu as necessidades reais
do desenvolvimento, já que, de um lado, foi insuficiente e, de outro, caminhando em sentido
inverso ao das necessidades criadas, acabou por acentuar profundamente a defasagem
existente entre a educação e esse desenvolvimento.
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, na visão da educação tornar-se o quarto
marco do ensino superior que preconizava uma educação, definida de acordo com a filosofia
de cada época. Destacava-se que, era necessária uma reforma integral, da organização e dos
métodos de toda educação nacional, dentro de um espírito onde o conceito estático por um
conceito dinâmico, valorizando a criatividade do aluno. No decorrer do manifesto
transpareceu três correntes distintas de pensamentos: os liberais elitistas liderados por
Fernando de Azevedo, os liberais igualitários (Anísio Teixeira), e os simpatizantes do
socialismo (Paschoal Lemes e Hermes Lima). Em seu bojo o manifesto mesmo com
contradições, preconiza a escola pública, obrigatória, leiga e impregnada dos ideais
pedagógicos escolanovista.
Em 1931 foi criado o Estatuto das Universidades Brasileiras, assim os institutos de
educação trazem uma nova estrutura para remodelar os serviços técnicos e administrativos,
5236
reorganizando o ensino profissional e normal em sintonia com o ideário renovador, desta
forma constituindo o quinto marco no ensino superior, juntamente com a criação da USP.
Ao ser criado a USP em 1934, definiu-se como espinha dorsal da nova instituição a
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, que na concepção de seus fundadores,
assumia o caráter de alma mater da universidade enquanto instituição integradora de
todos os conhecimentos humanos. Por ela deveriam passar todos os alunos para
adquirir sólidos conhecimentos que lhes permitiriam inserir-se na alta cultura como
base para obter a formação específica exigida pela carreira profissional que vissem
abraçar. (SAVIANI, 2008, p. 25).
A astúcia governamental percebe a nova atitude da sociedade e investe na melhoria
social e na qualidade educacional. Estratégia esta camuflada para permanência do governo
impositório. É nesse contexto que se dá a promulgação do decreto-lei nº 1.190, de 4 de abril
de 1939:
O curso de Pedagogia foi previsto como único curso da "seção", de pedagogia que,
ao lado de três outras os de filosofia, a de ciências e a de letras com seus respectivos
cursos, que compuseram as "seções", fundamentais da Faculdade. Como "seção"
especial foi instituída a de didática, composta apenas pelo curso de didática. Foram
fixados os currículos plenos e também a duração para todos os cursos. Para
formação de bacharéis ficou determinada a duração de três anos, após os quais,
adicionando-se um ano de curso de didática, formar-se-iam os licenciados, num
esquema que passou a ser conhecido "3+1". O graduando que concluísse o
bacharelado se quisesse faria mais um ano de didática e receberia o diploma de
licenciado. (BISSOLI DA SILVA, 2006, p.11-12)
Com dupla função de formar bacharéis e licenciados para várias áreas, inclusive no
setor pedagógico, institui-se então o padrão federal, onde os currículos das instituições se
adaptaram. Diante deste contexto percebe-se que o bacharel em Pedagogia não entra em sala
de aula, designado a ele a formação técnica. O conjunto que compunha a grade da didática
apresenta três disciplinas, cursada na formação do bacharel, por isso no último ano cursa
apenas duas disciplinas. “E os católicos movimentaram-se para criar suas próprias instituições
de ensino superior, do que resultou, em 1941, a fundação da PUC-Rio e, em 1946, da PUCSP.” (SAVIANI, 2008, p.40)
No ano de 1943 determina-se que para fazer parte do MEC o profissional deveria ser
bacharel. Nesse sentido, pode entender então que o currículo do curso de Pedagogia era de
natureza técnica e caráter generalista das disciplinas fixadas para sua formação. Na
5237
comparação bacharelado e licenciatura reflete-se o primeiro era centrado no conteúdo e
segundo se complementava no método.
Passado o período em que o Brasil vivia a ditadura getulista, e o final da segunda guerra
mundial e as ferramentas de controle, enfraquecidas, houve necessidade de novos rumos na
sociedade brasileira. Saviani (1983, p. 55) afirma, que “a expansão pela qual passou o ensino
superior brasileiro nos últimos anos, atingiu marcadamente o setor de Pedagogia”.
Essa estrutura prevaleceu até a aprovação da 1ª LDB, a Lei n.4.024. Mas,
paralelamente, o campo da educação foi desenvolvendo-se. A criação, em 1938, do
Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos INEP, hoje Instituto Nacional de Estudos
e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira; a fundação da Capes, em 1951; e do
CBPE,em 1955, juntamente com os CRPEs (Xavier, 1999), são espaços que
mantiveram oxigenado o campo educacional, tendo reflexos positivos nos espaço
acadêmico da pedagogia. (SAVIANI, 2008, p.41)
Com um currículo voltado a formação do bacharel em três anos e um ano mais
dedicado para a disciplina de didática, permanecendo neste esquema 3+1 até a década de
1960. Evidenciando a multiplicação do curso de forma quantitativa em nível expressivo
atingindo o aspecto qualitativo sendo necessária uma nova reestruturação do mesmo. Ao
estabelecer um currículo muito amplo, impossibilitando o curso de Pedagogia em definir seus
objetivos e fortalecer sua importância dentro das universidades.
As idéias tecnicistas deste período foram sendo incorporadas imperceptivelmente
diante de indefinição do curso de pedagogia ao defenderem que num determinado momento
os alunos passassem a fazer suas opções curriculares conforme o que pretendiam
desempenhar dentro das possibilidades determinadas pela grade curricular.
Com a aprovação Lei federal nº 5.540, de 28 de novembro de 1968, o sexto marco do
ensino superior foi a Lei da Reforma Universitária, onde triunfam os princípios da
racionalidade, eficiência e produtividade no trato do ensino superior. Diante do imposto as
universidades que lutavam contra o regime, perderam as forças e foram aprisionadas na rede
de intenções, proposta pela lei maior a Reforma Universitária. No curso de pedagogia através
do parecer n.252/69, que apresenta um novo momento aos profissionais da educação fixa os
conteúdos mínimos do currículo e a duração para o curso de Pedagogia. (BISSOLI DA
SILVA, 2006).
Percebe-se a reforma de estrutura curricular do curso onde são criadas as habilitações
para formação de profissionais específicos, fragmentando a formação do pedagogo.
5238
Com intenção de designar o destino profissional dos egressos de pedagogia atinge o
objetivo principal do governo que estabeleceu a educação tecnicista que acabou por
gerar outras questões e problemas para a educação brasileira. A partir desta
concepção o curso de Pedagogia vai se estruturando em duas partes: uma comum,
constituída por matérias básicas a formação de qualquer profissional na área, e uma
diversificada, em função das habilitações específicas. (BISSOLI DA SILVA, 2006,
p.26-27).
Observa-se, no entanto que na base curricular existem matérias que se repete
necessitando de pouca adaptação para habilitações, ou seja, mais uma vez o curso de
pedagogia dá muitas voltas para retornar ao mesmo. Essa prática torna obrigatória prevista no
artigo 3º da resolução n.2/69, “desta forma, essa expectativa confirmou-se, pois esse parecer
permaneceu em vigor por mais de 30 anos” (BISSOLI DA SILVA, 2006, p.36).
A autora evidencia que o novo documento, n.252/69 ao qual se fundamentou a
trajetória do pedagogo iniciada com o decreto lei 1.190/39, onde se institui o curso não
alterou o verdadeiro objetivo de seus egressos, ou seja, a imprecisão.
Brzezinski (1996) complementa afirmando que o curso de pedagogia foi reformulado
pelo parecer 252/1969, provocando mudanças estruturais que aprofundaram ainda mais a
indefinição de sua identidade ao fragmentar a gênese do pedagogo em habilitações técnicas
efetivadas na graduação.
Em face dos seis marcos apontados no decorrer da pesquisa, entendemos que estes
são a base da trajetória do curso superior no Brasil. Ao apresentarmos o surgimento do curso
de Pedagogia
dentro deste delineamento, percebe-se a tentativa desde sua gênese em
estruturar-se em função de atender os ditames políticos inerentes deste período.
Criação das FAFIs no contexto paranaense
Primeiramente, faz-se indispensável, considerar a conjuntura em que as Faculdades de
Filosofia, Ciências e Letras, foram criadas, no estado do Paraná. Para se entender com nitidez
a criação dessas instituições, este estudo passará brevemente de seu processo histórico.
Sintetizando o contexto estadual, em que foram cunhadas as FAFIs, pontuando a gênese do
município de União da Vitória e o trajeto da fundação desta instituição de ensino superior,
dando ênfase em especial ao Curso de Pedagogia.
Diante do exposto, alguns pontos que foram elencados, para um melhor
entendimento. Como aconteceu a história, do povoamento e quais foram os sujeitos da
política do Estado do Paraná, desde sua fase elementar. E os combates travadas pelo direito de
5239
manter seu espaço, e suas influências na conjuntura paranaense, como a Guerra do
Contestado. Na seqüência se ilustrará como o Município de União da Vitória apresentou
relevância como cidade emergente, do sul do Paraná. Dentro deste contexto de pujança , como
se deu a criação das Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, no Paraná e em União da
Vitória, concomitantemente o estabelecimento do Curso de Pedagogia.
Em sua gênese o Paraná, como outras regiões das terras brasileiras, fora descoberto,
pelos portugueses, no final do século XVI. Quando da procura dos indígenas fugitivos, pela
capitania vicentista que se deu via mar descobre-se então o litoral paranaense, a entrada pela
mata se fez pelos bandeirantes paulistas, avançando em busca do território das missões
jesuítas, deparando com os campos gerais. Já era sabido na província paulista que nestas
reduções encontravam-se índios catequizados e adestrados pelos sacerdotes para o trabalho
rural e doméstico, com isso facilitando a captura dos mesmos. (BALHANA, 1969).
O Paraná na ocasião se estabelecia como Comarca da Província Paulista.
Historicamente este Estado, passa por diversos movimentos, como: inserção das reduções, as
bandeiras, extinção dos diferentes povos indígenas, o início e final da escravidão, a chegada
dos imigrantes, a descoberta do caminho entre os Campos Gerais e São Paulo, da
emancipação da província paranaense, pelos das descobertas das riquezas naturais da região, a
construção da estrada de ferro. O povoamento se alarga com a influência destes fatores
pontuados, e de amalgamação de diversos povos, onde houve a predominância do imigrante
europeu.
Em 1920, às margens da Estrada de Ferro São Paulo - Rio Grande (e além dela), já
existiam cento e setenta e quatro serrarias no Estado do Paraná. Quanto à educação,
apenas seiscentos e quinze (615) paranaenses freqüentavam escolas públicas, os
cursos de primeiras letras, sendo a grande maioria situada no litoral. (FISCHER,
2006, p.55)
Com o advento da guerra do Contestado, fenômeno que modificou a vida, de
paranaenses e catarinenses, combate por um acordo político, mal resolvido, e incitado por
interesses de organismos religiosos e capitalistas em obter o lucro da matéria prima entre os
limites dos Estados (pinheiros, terras, imbuídas, entre outros), não importando pelo massacre
das pessoas e pelo sofrimento do povo sulino. “O movimento do Contestado foi estudado e
tido como um movimento popular milenarista e messiânico de rebeldia fanática e irracional”
(TONON, 2010, p. 23).
5240
As guerrilhas do Contestado abarca muitos atores que vão, desde os latifundiários
pastoris, posseiros que o mesmo sistema excluía e acabavam praticando apenas lavoura de
subsistência e criando poucos animais. Outra parte a zona da mata era contestada por
ervateiros e madeireiros. Os caboclos sujeitos disperso pela mata constituíam um grupo
numeroso de miseráveis sem terra, que tinha que embrenhar nas matas mais densas para fazer
sues casebres, sendo perseguido pelos grandes proprietários e coagidos pela policia do
governo este sempre do lado da elite. Sendo alvo fácil dos fanáticos religiosos que tinham
grande poder em torná-los seus seguidores, revoltados eles batalham até a morte por espaço
num território tão rico e ao mesmo tempo cobiçado.
Sendo assim assinado o acordo de paz, entre os Estados pelos meados do ano de 19171918, os municípios envolvidos então passam a enfrentar um nova fato, de adaptação dos
setores públicos, e privados e residências que outrora, eram de determinados Estados, teriam
que se adaptar a nova realidade territorial, política e social, abalizadas pelo a divisão
territorial.
A partir de 1930, a tendência predominante na política imigratória paranaense foi o
desligamento da ação governamental direta, sendo a colonização efetuada através de
organizações particulares e por instituições internacionais de imigração.
A chegada dos colonos gaúchos e madeireiros em busca de terras, para criação de
gados e para extração de madeira. Sendo empenhadas pelo período do governo de Getúlio
Vargas (1930-1945), não se pode deixar de mencionar a influência da segunda guerra mundial
que se deu neste momento histórico.
Em 1934, o governo de Ribas iniciava seu plano rodoviário, visando a ligação dos
portos do litoral com os principais centros produtores e foram reconstruídas as estradas de
rodagem. No entanto também se preocupou com a construção de um sistema escolar, a qual
praticamente não existia no Estado.
Na ótica de Lazier (2003), Lupion no seu governo incentivou o Paraná abarcar a
industrialização que emergia no cenário nacional. Segundo a autora, desde o início, do seu
governo Moises Lupion elegeu, quais seriam as prioridades de seu governo para a educação,
sendo a edificação de novas escolas, investimento no padrão das já existentes, melhoria no
ensino particular e aperfeiçoamento no ensino médio, principalmente nas escolas agrícolas.
Pelos idos do final do século XIX, as disputas por demarcação de terras pelos
bandeirantes, acabaram por descobrir vários campos, no estado do Paraná. As expedições
5241
adentravam pelo território dos índios Botocudos e Kaingangs, nesse período não havia
qualquer núcleo de povoamento no espaço que hoje é a cidade de União da Vitória. Somente
era utilizada como atalho, pois ao se descobrir a passagem do Vau encurtava o caminho,
entre as cidades de Palmas e Palmeira. (SEBBEN, 1992)
Entretanto, vindo de Palmas, no ano de 1880 para exploração das terras ás margens do
Iguaçu, “O Coronel Amazonas trouxe de São Francisco do Sul 24 famílias alemãs.”
(SEBBEN,1992, p.22 ). O Coronel Amazonas de Araújo Marcondes e os colonos alemães
podem ser considerados, fundadores da cidade de União da Vitória. A partir de então inicia a
navegação a vapor, com objetivo de transportes de mercadorias e pessoas através do rio
Iguaçu. Com isso estabeleceram-se diversas indústrias, principalmente na exploração da ervamate e madeiras.
Com a chegada dos imigrantes italianos, poloneses, ucranianos, austríacos e russos,
provocando transformações no aspecto cultural e na agricultura, introduzindo o plantio de
trigo, centeio, uva, cevada e o linho. Diversificando a gastronomia local, as vestimentas, o
transporte, e aprimorou as condições habitacionais, dando um maior vigor a cidade.
(SEBBEN, 1992)
Importunou a edificação de hospedarias em suas adjacências e “provocando á sua
volta a criação de hotéis, centro comercial e praça” (SEBBEN,1992, p.32). Os operários da
ferrovia surgem como uma nova classe na região, cumprindo um papel relevante nas
determinações sociais e políticas. Sendo inaugurada em 1905 a estação ferroviária alterando o
panorama sócio-cultural da cidade.
Com o final da guerra do Contestado em 20 de outubro 1916, é assinado o acordo de
limites, sendo que Santa Catarina fica com a maior parte contestada. Com o desmembramento
da região em duas cidades, Porto União-SC, e União da Vitória-PR, há necessidade uma nova
reestruturação das cidades gêmeas já que anteriormente a cidade era uma só e pertencia ao
Estado do Paraná.
Sob a ótica de Lazier (2003), a construção da estrada de rodagem e ponte do arco em
1944, aumentou o transporte rodoviário e diminuiu o transporte fluvial, que foi de grande
valia para o desenvolvimento das cidades gêmeas, sendo extinto no ano de 1953.
Nesse âmbito o governador Moisés Lupion, efetiva a criação de faculdades isoladas
pelo território paranaense, entre elas a Faculdade Estadual de Filosofia Ciências e Letras de
União da Vitória, no ano de 1956, com o amparo legal da Lei de Francisco Campos,
5242
determinada no ano de 1931 a chamada lei da universidades. Conforme observamos em
Fischer (2006, p.72) que:
Destaca-se, aqui para efeito do nosso estudo que neste governo foram criadas e
autorizadas quatro faculdades, reconhecidas no Governo Pimentel. São elas:
a) Fundação Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá –
FUNFAFI: criada em 13.08.56 — Lei Estadual 4.114; autorizada em 19.01.60 —
Decreto Federal 47.667; reconhecida em 03.11.64. — Decreto Federal 54.355;
b) Fundação Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de União da
Vitória — FAFI: criada em 22.12.56, — Lei Estadual 3.001; autorizada em
19.01.60 — Decreto Federal 47. 666, reconhecida em 31.07.67 — Decreto
Federal 61.120;
c) Fundação Faculdade Estadual de Filosofia, Ciências e Letras de Jacarezinho —
FAFIJA: criada em 17.06.59 — Decreto Estadual 23.829; autorizada em 12.01.60 —
Decreto Federal 47.612; reconhecida em 19.01.65 — Decreto Federal 57.424;
d) Fundação Faculdade Estadual de Ciências Econômicas da Apucarana – FFECEA:
criada em 17.11.59 — Decreto Estadual 26.298; autorizada em 22.06.60 — DOU
02.07.60 — Decreto Federal 48.376; reconhecida em 03.01.68 — DOU 05.01.68 —
Decreto Federal 62.041. (grifo nosso)
Desta maneira o município de União da Vitória, uma cidade com economia
emergente na época, dentro do contexto paranaense vê desabrochar um novo cenário
educacional, contando com uma unidade de ensino superior, com Curso de História e
Pedagogia, com afinco de atender os jovens da elite união-vitoriense e adjacências
abrangentes. Entretanto, desde sua origem, muitos caminhos labirínticos, foram percorridos,
para que se efetivasse o alicerce do Curso de Pedagogia, o que detalharemos com mais
profundidade em nosso trabalho de dissertação já mencionado.
Considerações finais
Em presença das proposições elencadas ao decorrer deste texto, buscamos segui-las a
fim de compreender os aspectos históricos que permearam o recorte temporal, ao qual
propomos pesquisar, os anos de 1956 a 1971, resultando em seis marcos históricos
importantes, que viabilizaram na história da educação brasileira e paranaense, a criação e
consolidação das Faculdades Estaduais de Filosofia, Ciências e Letras, distribuídas pelo
território nacional.
Cabe nos considerar ainda que a cidade de União da Vitória, Estado do Paraná tinha
relevância, pois, era um município emergente na região sul do Paraná. À época havia a
necessidade social de se instituir um curso superior, em prol da formação de qualidade e
5243
especializada de cidadãos da localidade e entorno. Com o apoio do governador do Paraná,
Moises Lupion, foi criada a referida faculdade estadual isolada no ano de 1956; no entanto, só
efetivou-se em 1960.
As práticas pedagógicas norteadoras do Curso de Pedagogia, que nesse interstício se
configurou, seguiram a legislação brasileira e determinaram a formação de professores para
toda a região. É importante destacar que essa pesquisa está em andamento e que dados mais
aprofundados serão publicados posteriormente a defesa.
REFERÊNCIAS
BALHANA, A. P.; MACHADO, B. P.; WESTPHALEN, C. M. História do Paraná.
Curitiba-PR: Cultural, 1969.
BISSOLI DA SILVA, C. S. Curso de Pedagogia no Brasil: História e Identidade. 3. ed.
Campinas: Autores Associados, 2006.
BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº. 4.024/61. Brasília, 1971.
Disponível em: www.mec.gov.br
________Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº. 5.692/71. Brasília, 1971.
Disponível em: www.mec.gov.br
_______. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei nº. 5540/68. Brasília, 1968.
Disponível em: www.mec.gov.br
BRZEZINSKI, I. Pedagogia, Pedagogos e Formação de Professores: Busca e movimento.
Campinas: Papirus, 1996.
CHAUÍ, M. S. Escritos sobre a universidade: São Paulo: UNESP, 2001.
CUNHA. L.A. A universidade temporã. Da Colônia à Era de Vargas. 2.ed. Rio de Janeiro:
Francisco Alves, 1986.
FISCHER, M. S. História e Ensino Superior: A Criação da Faculdade Estadual de
Filosofia, Ciências e Letras de União da Vitória (PR) e seu Desenvolvimento. (Dissertação
de Mestrado) Caçador: UNC, 2006.
ROMANELLI, O. O. História da Educação no Brasil. 6 ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1987.
SAVIANI, D. História da Pedagogia no Brasil. Campinas-SP: Autores Associados, 2008.
SEBBEN, U. A. O Estudo da História de União da Vitória. União da Vitória-PR:
UNIPORTO, 1992.
TONON, E. Monges do Contestado: permanências, predições e rituais no imaginário.
Palmas-PR: Kaygangue, 2010.
Download

aspectos históricos da pedagogia, sua trajetória no ensino superior