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Augusto Malta, a versão mecânica do flâneur
Ricardo de Hollanda *
Foto: Augusto Malta
Vista aérea do Morro da Gamboa - Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
*
Jornalista, Doutor em Ciência da Informação pela UFRJ e Professor da FCS-UERJ. Pós-graduado em
Fotoperiodismo pela Escola de Doctorado da Universidade Autônoma de Barcelona, Espanha. E-mail:
[email protected].
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Resumo – Neste artigo, abordam-se as relações entre fotografia e cidade pela ótica do
fotodocumentarismo urbano. Destaca-se a figura de Augusto Malta, considerado o
mais expressivo fotógrafo que registrou a cidade do Rio de Janeiro durante as três
primeiras décadas do século XX.
Palavras-chave: fotografia urbana; fotografia documental; Augusto Malta; Rio de
Janeiro.
A imagem fotográfica é, possivelmente, o modo dominante de comunicação e
sua posição, estabelecimento e integração entre textos tradicionais ocupam
devidamente o pensamento de estudiosos e pesquisadores. Graças a isso, o material
histórico está passando por uma investigação semelhante. Existe um interesse de
explorar suas possibilidades e examinar sua integração como evidência do passado e
como registro sistemático do presente.
A relação da fotografia com a cidade resulta de uma convergência latente, ela
é o elo de uma modernidade; a cidade é um tema privilegiado da tradição fotodocumentária, uma de suas obsessões mais características, um vetor de seu
desenvolvimento, ao ponto de a “paisagem urbana” ser considerada como um gênero
fotográfico propriamente dito. Neste sentido, dentre os diversos nomes expressivos na
fotografia documental urbana, podemos destacar o de Augusto Malta, no Rio de
Janeiro, como o mais importante fotógrafo de sua época.
Natural de Paulo Afonso (Alagoas), Augusto César de Campos Malta
nasceu em 14 de maio de 1864. Segundo duas das instituições públicas que detêm a
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maior parte das imagens do artista, o Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro e o
Museu da Imagem e do Som, foi quem mais produziu fotografias sobre a cidade.
Contratado como fotógrafo da antiga Prefeitura do Distrito Federal, na gestão do
prefeito Pereira Passos, em 1903, documentou o Rio de Janeiro durante três décadas,
só tendo parado ao se aposentar, em 1936. O valor e a relevância da obra fotográfica
de Augusto Malta podem ser percebidos por meio do relato do historiador C. J.
Dunlop, abaixo transcrito:
O major da Guarda Nacional, Augusto César Malta de
Campos, ou melhor o fotógrafo Augusto Malta como é
geralmente conhecido, é o profissional mais antigo do Rio de
Janeiro. Possui ele um arquivo completo dos acontecimentos
mais importantes desta cidade, nos últimos trinta anos, com
todas as realizações da Prefeitura em mais de 30.000 chapas
que exprimem essa documentação preciosa. (Dunlop, 1963,
p.73)
A importância de sua contribuição foi ainda ressaltada em texto introdutório
da edição de álbum comemorativo, na gestão do prefeito Marcos Tamoyo, em 1976,
segundo a qual Malta teria feito mais de trinta mil fotografias, tendo a maior parte
delas se perdido com a ação do tempo e a falta de preservação adequada. i Muitas
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foram reproduzidas nos livros de Noronha Santos, José de O. Reis. de C. J. Dunlop e
jornais e revistas de época.
Antes de assumir suas atividades em fotografia,
Malta participou, como
republicano, dos acontecimentos de 15 de Novembro que resultaram na Proclamação
da República. Seguiu à frente da multidão como porta-estandarte do Centro
Republicano Lopes Trovão, dirigindo-se ao Paço Municipal onde foi um dos
signatários da Ata da Proclamação. Chegou a alcançar o posto de Major da Guarda
Nacional. Por volta de 1894, abriu seu próprio escritório de guarda-livros na Rua do
Ouvidor, tendo um prejuízo de vinte contos de réis oito meses mais tarde. Ao mudar
de profissão, torna-se um comerciante de tecidos finos, usando uma bicicleta para
visitar sua freguesia que se constituía de famílias da alta sociedade da época.
Em 1900, o crescente fascínio da sociedade da época pelo retrato fotográfico
impulsionou Augusto Malta a trocar a bicicleta por uma câmara fotográfica, dando
início às suas atividades como fotógrafo amador. Era o seu passatempo predileto,
como bem demonstra em depoimento à Revista da Semana:
(...) eu, no entanto, continuei a vender fazendas a pé. Quanto à máquina,
tomei gosto pela fotografia e, aos domingos, em companhia de um
amigo, também amador da arte, tirava vistas da cidade, grupos de
amigos etc. Confesso que sentia grande sensação quando via surgirem
no papel as belas e surpreendentes imagens que o sal de prata revelava e
o hiposulfito fixava a meus olhos, na câmara escura improvisada em
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minha casa. E vivia assim nesse ingênuo amadorismo (...). (Revista da
Semana, 1945, p.9)
Enquanto isso, a cidade passava por um período de fortes mudanças. Capital
federal de uma jovem república recém-liberta do império e da escravidão, a cidade
tinha pressa. Desejava se integrar às nações modernas. O avanço para a modernidade,
no entanto, se via impedido pelas ruas estreitas, pelas vielas sujas e calçadas
diminutas da cidade. O Rio de Janeiro necessitava de um prefeito dinâmico e, em
1902, o presidente Rodrigues Alves convidou Pereira Passos para executar seus
planos de transformar o Rio de Janeiro urbanisticamente.
Por meio de um amigo, fornecedor da prefeitura, Augusto Malta fotografou
algumas das obras do prefeito. Bastante entusiasmado com o trabalho, Pereira Passos
o convidou para ser o fotógrafo oficial da Prefeitura, tendo por missão a
documentação da execução e da inauguração de obras públicas, de logradouros que
seriam alterados na reforma urbanística da cidade, de instituições ligadas ao
município (escolas, hospitais etc.), de prédios históricos a serem demolidos, de festas
organizadas pela prefeitura e de flagrantes do cotidiano (ressacas, desabamentos,
enchentes etc.).
Era julho de 1903 quando passou a registrar prédios e ruas que seriam
reformados
e
quarteirões
que
seriam
derrubados.
Tudo
era
registrado
fotograficamente e a esse dossiê fotográfico Malta juntava anotações críticas que o
prefeito lia e considerava. Foi um solitário artesão de imagens, eficiente na prática de
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gravar na “matriz” – com tinta nanquim e uma pena – o nome do logradouro, a data,
o número da chapa e o seu próprio nome, resultado de anotações que fazia, enquanto
fotografava, em um caderno de papel finíssimo.
No período de 1903 a 1906, Malta fotografou, por exemplo, trechos de
algumas ruas que iriam ser alargadas, como a Carioca, a Uruguaiana, a Frei Caneca, a
Sete de Setembro, a Visconde de Inhaúma ou praças que eram ajardinadas ou
urbanizadas, como a José de Alencar, a XV de Novembro e a Praça da República.
Augusto Malta se distingue entre os pioneiros da fotografia documental urbana no
Brasil, sobretudo em razão de sua obsessão pela captação de flagrantes
representativos das mudanças que a cidade apresentava nos aspectos topográfico,
arquitetônico e urbano.
Pouco a pouco ampliou com o tempo seu universo de trabalho, passando a
registrar a cidade em atividades diversas, como o comércio, a indústria, os bailes e
festas populares, através de um relato visual sutil onde as implicações humanas
afloravam naturalmente, possibilitando uma interpretação sociocultural da época. Seu
relato visual era conciso. Soube, como poucos, transmitir, com propriedade, as
situações ambientais urbanas.
Figura notória na cidade, que percorreu por completo, sempre com sua
ancrônica gravata-borboleta, como a dos poetas românticos, e seus óculos com aros
de tartaruga. Conhecido como um homem culto e gentil, tornou-se amigo de
intelectuais, de artistas e políticos como Oswaldo Aranha e o barão do Rio Branco,
sobre o qual é autor de um raro e belíssimo ensaio fotográfico.
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É difícil imaginar algum tema que tenha escapado ao seu olhar. Fotografou o
entardecer em Copacabana, os casebres na zona rural, os ambulantes do centro, as
fábricas, as lojas, as regatas na enseada de Botafogo, as festas da alta sociedade, as
batalhas de flores, o carnaval, os passeios na floresta da Tijuca e tudo que envolvesse
o cotidiano carioca.
A obra de Augusto Malta guarda muitas relações com a cidade do Rio de
Janeiro, pois através desta vasta e eclética documentação fotográfica, desenvolvida no
primeiro terço do século XX, percebe-se toda a dinâmica da cidade moldada em um
universo de informações único, configurando um retrato representativo, de expressão
e estética, da belle époque tropical. Nenhum recanto da cidade do Rio de Janeiro
escapou à sua visão aguda de documentarista.
Ao examinarmos a produção de Augusto Malta à luz das imagens guardadas
em coleções e acervos públicos e particulares, verificamos que o seu percurso foi
oposto ao de outros fotógrafos da época. Ele não começou pelas panorâmicas, tão em
voga no final do século XIX e no início do século passado, mas sim através de um
trabalho que visava atender aos projetos urbanísticos desenvolvidos pela gestão do
prefeito Pereira Passos.
A partir disso, Augusto Malta passou a desenvolver uma atitude particular e
original de perceber a cidade provocada pelo exercício visual intenso que praticava
com paixão. Não é exagero afirmarmos que esta singularidade se torna nítida tanto
pelas observações em relação ao conjunto de imagens quanto pela organização que
ele próprio impunha em seu trabalho .Este cuidado, no registro dos acontecimentos
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oficiais e não oficiais, permitiu-lhe estabelecer uma narrativa rica e variada daquele
período. É pertinente a citação de parte de sua entrevista concedida ao vespertino O
Globo, em 1936:
(...) uma obra como aquella, um homem como aquelle, não mereciam a
falta de respeito de uma ‘tapeação’. Entusiasmado, dediquei-me de
corpo e alma à nova função. Diante do nada de fotografia que eu sabia
esforcei-me para conquistar o muito que agora sei. Embora uma função
secundária e lateral, eu me orgulhava em dar minha cooperação para a
glória da grande obra. Ella precisava de uma documentação fiel e
indiscutível que só as boas fotografias poderiam proporcionar (...). (O
Globo, 1936, p.11).
Sua situação funcional exigia o acompanhamento das iniciativas pelo poder
público. Extrapolam essa exigência os retratos de negros ex-escravos, dos velhinhos
asilados, de crianças, de homens e mulheres dos diversos segmentos da sociedade
carioca, de prostitutas, operários, e comerciantes, entre outros. Malta fotografa a
Avenida Central (atual Rio Branco) com paixão, registrando o footing e o carnaval
representado pelos corsos.
Nas ruas, nas ruelas, nas ladeiras, nos largos, nas praças e nas escolas, as
crianças e os adultos posavam reunidos. Grupos se formavam junto às casas, aos
quiosques e esquinas que iriam desaparecer. Com seu equipamento fotográfico, Malta
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eternizou as faces dos marginalizados e dos privilegiados, o lazer e o trabalho, a
expectativa e a indiferença, o decadente e o nouveau, o que se fazia e o que se
apreciava na cidade.
Nada escapou ao olhar sensível de Augusto Malta, o mais importante
fotodocumentarista urbano do país, considerado pela extensão e qualidade do acervo,
como o primeiro fotógrafo a perceber a importância da fotografia como veículo de
informação e de comunicação com linguagem própria. Ainda que vinculado a uma
prática documental no registro de visita de personalidades aos logradouros para
verificarem o andamento das obras, este fotógrafo subia morros e favelas, focalizando
caminhos estreitos e conjuntos musicais. Imagens que demonstram o seu interesse
pelo humano.
Foi Malta quem iniciou a reportagem ilustrada, cedendo fotos de
acontecimentos importantes aos jornais e revistas da época e tornando-se autor de
“furos jornalísticos”. Seu percurso pela cidade é de tal ordem que inaugura a crônica
visual junto com o jornalista e cronista Paulo Barreto, o “João do Rio”.
Regularmente, podia-se encontrar fotografias de sua autoria impressas em revistas
como a Fon-Fon, Kosmos ou a Revista Ilustrada.
Seu estilo fortaleceu a linguagem fotojornalística. Praticamente foi o único
fotógrafo a ser identificado nas imagens que eram impressas, devido ao cuidado que
sempre teve em assinar no próprio negativo. Pelo seu trabalho contínuo de registro
fotográfico, abordando temas como a derrubada do morro do Castelo, o carnaval e o
footing, por exemplo, podemos considerar que Augusto Malta foi o precursor do
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ensaio fotográfico que, anos mais tarde, seria consagrado nas revistas O Cruzeiro e
Realidade. Em 19l0, uma das edições da Revista da Semana referiu-se ao trabalho de
Malta da seguinte maneira: “este homem conhece toda a história da República, não
por ouvir dizer, mas por ser testemunha de vista dos acontecimentos”. (Revista da
Semana, 1910, p.6)
Essa busca de criação de uma memória que condiciona a leitura da cidade é
algo que a sociedade moderna já não permite. A memória esforça-se por recuperar a
cidade esvanescente e repete, em símbolos, o que já foi rejeitado e esquecido. O
flâneur aqui constitui o primeiro herói a se arriscar a navegar pelo deserto dos
homens, o primeiro expert na ciência da exploração urbana. Possivelmente, a versão
contemporânea do flâneur seja a do fotógrafo; ligado visceralmente à existência da
cidade, este moderno passante observa e aceita esse universo em constante
transformação. A descoberta de que a fotografia poderia comunicar o real
e
comentar, ao mesmo tempo, levou o fotodocumentarismo a um segundo estágio: a
câmara como um espelho voltado para a sociedade.
Impregnado pela atmosfera que se alterava em uma dinâmica progressiva,
impulsionada pelas obras que iriam mudar significativamente o cenário urbano do
Rio de Janeiro, Malta desenvolveu sua percepção através da busca incessante de
informações visuais e sempre motivado por um cotidiano intenso e mutante. A
fotografia representa, neste caso, o mito dinâmico da retenção da memória, do tempo
e de um certo domínio sobre a realidade por apropriação, através de sua imagem.
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Ao sair diariamente para colher e registrar os aspectos cotidianos que a cidade
oferecia, logo percebeu a possibilidade de roteirizar a cidade fotograficamente, pela
apreensão de cenas privadas e públicas. Por isso, é visto como a versão mecânica do
flâneur, um atributo consagrado aos fotógrafos documentaristas urbanos.
A modernidade apresentada por Augusto Malta estava na capacidade de
apreensão no que a cidade oferecia e o vínculo com a fotografia. Para ele, a cidade e a
fotografia apresentavam uma identidade única: uma predileção congênita pelos
fragmentos e pelos registros que constituíam e constituem os ingredientes da
experiência humana e de suas divergências. As circunstâncias que o envolviam no
ofício diário permitiam minúcias, critérios, apreendidos pelo olhar.
As fotografias de Augusto Malta sugerem, com facilidade, uma viagem ao
passado, de construção de uma cidade. Descrever suas imagens é um desafio, pois
ainda é um código interno a ser descoberto, permitindo detectar o fio condutor de sua
idéia sobre o Rio de Janeiro. O repertório de imagens fotográficas é rico e é definidor
dos percursos que fazia pela cidade, nos quais organizava mentalmente as realidades
descontínuas para a elaboração de uma verdadeira narrativa visual.
Desse modo, o Rio de Janeiro de Augusto Malta se tornou um território
imagístico por excelência, de estocagem e multiplicidade de imagens. O aspecto
seqüencial dos negativos produzidos e a edição de seus álbuns, provavelmente
seriados, são um guia de leitura e entendimento da cidade que simboliza e sintetiza
parte do universo documental desse fotógrafo.
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A história visual do Rio de Janeiro percebida pelo fotógrafo Malta ainda está
para ser desenvolvida, e não podemos afirmar que sua produção esteja traduzida. A
identificação e a localização já são possíveis, mas para entender o que Augusto Malta
documentou é necessário, antes de tudo, um estudo detalhado de sua obra,
notadamente, para o aspecto seqüencial de seus negativos – todos assinalados –,
impondo à sua atividade a marca de uma disciplina.
Augusto Malta faleceu em agosto de 1957, aos 93 anos de idade, algumas
décadas que antecederam ao fenômeno da pós-modernidade tão evocada nos dias
atuais, onde tudo ou quase tudo está ligado às questões urbanas. Nunca se estudou
tanto sobre a cidade e seus efeitos no homem; autores são revisitados com
instensidade, tais como Walter Benjamin, Nestor Canclini, Paul Virílio, Le Goff,
entre tantos. Na fotografia o mesmo fenômeno ocorre, com a revalorização de
fotógrafos urbanos como, por exemplo, Eugène Atget (século XIX) e sua obra
monumental sobre a cidade de Paris.
Hoje, mais do que nunca, nos valemos das imagens de Augusto Malta para
compor um cenário possível do Rio de Janeiro do início do século XX. O passado,
como todos sabemos, se apresenta mais remoto quando de difícil acesso ao olhar.
Como nos ensina Machado de Assis:
(...) há certas memórias que são como pedaços de gente, em que não
podemos tocar sem algum gozo e dor, mistura de que se fazem
saudades (...) (1982, p.64)
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Sua larga produção se constituiu em um acervo fotográfico expressivo que, ao
longo do tempo, se dispersou e se perdeu, principalmente, pela falta de cuidado na
preservação do material fotossensível.
Essa perda talvez justifique a distribuição de sua obra em diversas instituições
culturais, na forma de negativos de vidro ou em cópias fotográficas. Ela pode ser
encontrada no Arquivo da Cidade, com cerca de 2.249 negativos de vidro; no Museu
da Imagem e do Som, aproximadamente 2.600 negativos de vidro, 400 negativos
panorâmicos e cerca de 80.000 cópias em papel; no Museu Histórico Nacional, com
73 negativos de vidro; no Museu da República, com 82 negativos de vidro; na
Fundação Biblioteca Nacional, com 53 negativos de vidro e 3 álbuns com 246
fotografias em papel; no Gabinete de Fotografia do Museu de Arte Moderna do Rio
de Janeiro, com 87 fotografias em papel fotográfico; Museu da Cidade do Rio de
Janeiro, estimado em 4.000 negativos de vidro (a coleção está sendo identificada e
classificada); no Instituto Cultural Moreira Salles, com 1.500 imagens entre negativos
de vidro e cópias fotográficas e na Light, cuja coleção não foi estimada.
A produção fotográfica de Augusto Malta permite a construção de uma
narrativa visual urbana, seja pelo aspecto seqüencial na numeração dos negativos,
seja pela ampla cobertura de assuntos cotejados por este fotodocumentarista,
oportunidade em que podem aflorar pequenas cidades dentro de uma grande
metrópole como o Rio de Janeiro.
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Costuma-se enfatizar o compromisso da fotografia com a beleza em
detrimento de seu caráter de documentação; Augusto Malta é, sobretudo, o
profissional da informação e da memória urbana da cidade do Rio de Janeiro.
Foto: Augusto Malta
Instantâneo na Rua do Ouvidor - Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro.
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Revista da Semana, maio de 1910, n.4, ano VIII.
Abstract – This article deals with the relationship between photography and the city
of Rio de Janeiro under the focus of urban photo-documentation. The outstanding
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personality of Augusto Malta is highlighted and considered the most expressive
photographer who ever depicted the city of Rio de Janeiro, during the first three
decades of the XXth century.
Keywords: urban photography; documentary photography; Augusto Malta; Rio de
Janeiro.
Resumen – En este ensayo, se plantean las relaciones entre fotografía y ciudad en el
marco del documentalismo fotográfico urbano. Se señala la figura de Augusto Malta,
quien se considera el más expresivo fotógrafo a registrar la ciudad de Rio de Janeiro
en las tres primeras décadas del siglo XX.
Palabras-clave: fotografía urbana; fotografía documental; Augusto Malta; Rio de
Janeiro.
i
Ver: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro. Álbum Comemorativo. Rio de Janeiro: Imprensa da
Cidade, 1976.
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Augusto Malta, a versão mecânica do flâneur